Química e Química Verde no Quotidiano

A Química é a ciência que estuda as propriedades e estrutura das

substâncias e materiais, analisando como estes se comportam durante reações
químicas. É um ponto de partida para outras ciências importantes, como a
Bioquímica, e um ponto de ligação entre outras ciências, como a Física, a
Matemática e a Biologia. Hoje em dia, toma um papel fulcral no
desenvolvimento tecnológico, pois a sua aplicação permite a obtenção de
novas substâncias, ao mesmo tempo que, através da Química Verde, se
preocupa com a exploração sustentável do meio ambiente e dos seus recursos.
Uma das grandes vantagens da Química é a grande quantidade de
produtos que dela conseguimos obter, que estão presentes no nosso dia-a-dia.
Produtos como fertilizantes (adubos), produtos de limpeza (lixívia), plásticos,
produtos de higiene (acetona), medicamentos (aspirina), entre muitos outros,
não seriam possíveis sem o contributo da química. Através destes produtos, é
possível, por exemplo, aumentar a produtividade agrícola, fabricar roupas
(fibras de nylon ou poliéster), desenvolver fármacos e analisar os seus efeitos
(o que, por conseguinte, leva ao desenvolvimento da Medicina) e desenvolver
fontes de energia alternativas, como é o caso da energia nuclear. Deste modo,
esta ciência tem incontáveis vantagens.
Mas todas estas vantagens não vêm sem algumas grandes
desvantagens. A maior desvantagem da Química é que muitos dos seus
processos acarretam perigos ambientais, quer seja devido aos reagentes e
catalisadores usados, devido aos produtos da reação, ou devido ao processo
em si. Um desses tais perigos advém do uso de substâncias tóxicas, que, ao
serem libertadas, quer para a atmosfera ou para os ecossistemas, podem ter
impactes na saúde humana e causar desequilíbrios ambientais.
Um dos mais flagrantes casos que demonstram este facto é o acidente
na usina nuclear de Chernobyl, que aconteceu na década de 80, na Ucrânia.
Neste reator, produzia-se energia nuclear através da decomposição radioativa
do urânio. Este processo tinha que ser realizado num ambiente controlado e
todos os resíduos do mesmo tinham que ser tratados como lixo radioativo, não
podendo, de maneira nenhuma, ser libertados para o ambiente. Quando, em
1986, o reator explodiu, urânio foi libertado para o ecossistema, causando uma
libertação enorme de radiação, cujos efeitos foram sentidos, não só no local,
onde o ambiente ficou inabitável para qualquer ser humano e animal, mas
também em toda a Europa. Outros exemplos podem ser a formação de
subprodutos como óxidos de enxofre e nitrogénio nos processos químicos de
produção de fertilizantes, que são gases extremamente poluentes da atmosfera
e causadores do efeito de estufa, contribuindo para o aquecimento global.
Mais desvantagens da Química podem ser o contacto dos trabalhadores
da indústria com ácidos ou outras substâncias corrosivas e/ou tóxicas e os
acidentes que podem acontecer devido à utilização de equipamento, como os
reatores a alta ou baixa pressão e os fornos a temperaturas muito elevadas.
E é sobre a mitigação destas desvantagens, mais especificamente, as
ambientais, que atua a Química Verde. A Química Verde é uma subdivisão da
Química que procura, segundo o International Union of Pure and Applied
Chemistry (IUPAC), “a invenção, desenvolvimento e aplicação de produtos e
processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias
perigosas”, substâncias estas que causam impactes a nível ambiental e na
saúde do Homem e dos animais. Para além disto, visa criar processos que
maximizem a integração dos átomos dos reagentes no produto final da reação
e aumentem o rendimento da reação, minimizando a formação de resíduos
indesejados (economia atómica). Este ramo da Química opera sobre 12
princípios, sendo os três principais os seguintes:
- É melhor prevenir resíduos do que tratar ou limpar os resíduos depois
de criados.
- Sempre que possível, os métodos sintéticos devem ser projetados para
usar e gerar substâncias que tenham pouca ou nenhuma toxicidade para a
saúde humana e o meio ambiente.
- As fontes energéticas devem ser sempre limpas e renováveis. Os
métodos sintéticos devem ser conduzidos à temperatura e pressão ambiente.
Desta forma, no nosso dia a dia podemos encontrar variados exemplos
de materiais e produtos que são produzidos através de processos que seguem
os princípios da Química Verde:
De modo a reduzir todo o impacte ambiental devido às grandes
quantidades de plástico inorgânico (não biodegradável), que é um dos maiores
poluentes no nosso planeta, muitos cientistas e empresas têm trabalhado de
forma a criar plásticos biodegradáveis, que possam substituir o plástico
proveniente do petróleo, que é usado para produzir, entre outros itens, garrafas
de água, recipientes e sacos de plástico. Um dos exemplos de avanços nesta
área é empresa Nature Works. Esta empresa transforma gases causadores do
efeito estufa (como o dióxido de carbono) em ácido lático, produzindo uma
gama de materiais sustentáveis chamada Ingeo.
Este processo começa através do uso de plantas para fixar o carbono
atmosférico, transformando-o em glicose. Após extrair este açúcar das plantas,
a glicose é convertida em dextrose, através da hidrólise. Esta dextrose, por sua
vez, é transformada em ácido lático, através do processo de fermentação
lática, levado a cabo por micro-organismos.
Depois, através de um processo próprio, o ácido lático é transformado
em anéis de lactido, que é o núcleo para toda a plataforma personalizável de
químicos da empresa.
Por fim, por um processo de polimerização, os anéis são abertos e
ligados, formando polímeros poliláticos (PLA), chamados de Ingeo. Estes
polímeros são usados em produtos como cápsulas de café, copos de iogurte,
eletrónicos e outros.
A utilização destes materiais tem inúmeras vantagens ambientais. Para
além da energia não renovável poupada - a produção de polímeros Ingeo
utiliza menos 52% de energia não renovável do que a produção de outros
plásticos – diversos estudos comprovam que os produtos produzidos a partir
destes plásticos têm uma pegada ecológica menor que os produzidos a partir
de plásticos não biodegradáveis. A utilização destes plásticos também elimina
todo o tipo de desvantagens provenientes do uso de plásticos normais, como,
por exemplo, os microplásticos nos oceanos (que se infiltram nas cadeias
alimentares), o grande volume de lixo gerado e a poluição visual causada por
todos estes resíduos. Ainda para mais, após utilizados, os polímeros Ingeo
podem ser usados para a produção de composto, para digestão anaeróbia e
para reciclagem.
Em adição aos plásticos biodegradáveis, em 1997, Joseph DiSimone,
um investigador da NCSU (North Carolina State University), descobriu uma
forma sustentável de realizar o processo de limpeza de roupas a seco,
processo esse que, anteriormente, libertava gases perigosos para a saúde
humana. DiSimone descobriu um detergente cujas moléculas têm afinidade ao
dióxido de carbono (CO2) numa extremidade e a óleos e sujidade na outra.
Quando se imerge as peças de roupa numa solução de CO 2 líquido com esse
detergente, o detergente forma micelas, que capturam a sujidade presente nos
tecidos, eliminando-a. Ainda para mais, este processo quase não produz
resíduos. Os únicos resíduos produzidos são CO 2 líquido e detergente sujo,
sendo ambos recicláveis e inofensivos para o ambiente.
Os impactes positivos do uso deste processo resultam, sobretudo, da
substituição do processo tradicional de limpeza a seco por este novo. O gás
percloroetileno (tetracloroeteno), que é libertado durante o processo
convencional, causa náuseas e tonturas, se inalado em poucas quantidades, e
pode ser um agente cancerígeno, se inalado em maiores quantidades, durante
um longo período de tempo, o que pode ser um perigo, especialmente, para os
trabalhadores desta indústria. Esta substância também causa contaminação de
solos.
Por último, o pó de semente de tamarindo é uma substituição eficaz do
alúmen de potássio na purificação de águas residuais municipais ou industriais.
Este pó não é tóxico, é biodegradável e é eficiente a nível de custo, já que é
um resíduo da agricultura e pode ser comprado a preços extremamente
reduzidos. Num estudo, em que este pó foi comparado a 3 outros floculantes,
verificou-se que “a agregação do pó e das partículas suspensas mostrou-se
bastante porosa, o que permitiu a passagem da água”. Também foi possível
obter um maior volume de água límpida, já que o pó se tornou compacto
facilmente, ao contrário do amido, que é mais leve e menos poroso. Concluiu-
se que o pó tem potencial como floculante, tendo um desempenho comparável
ao do alúmen.
 Por sua vez, o uso de alúmen aumenta a concentração de iões
metálicos na água tratada, iões este que podem causar danos às células da
linha neurológica, originando doenças como o Alzheimer. Por isso, e já que o
pó de sementes de tamarindo é um resíduo das atividades agrícolas sem
nenhum perigo para a saúde, seria mais vantajoso usar esse pó como
floculante, em vez do alúmen.
Em suma, a Química tem uma grande presença no nosso dia a dia,
através dos vários produtos – como os medicamentos – que sem ela não
poderiam ter sido criados. Por outro lado, os perigos ambientais associados a
muitos processos desta ciência constituem uma grande desvantagem da
mesma. Felizmente, a Química Verde, através dos plásticos biodegradáveis, do
CO2 líquido na limpeza a seco, do pó de tamarindo como agente de purificação
de águas residuais e de muitos outros processos, tenciona reduzir os impactes
negativos que os processos químicos possam ter no ecossistema e na saúde
humana.
Webgrafia:
https://www.researchgate.net/profile/Parisa-Ziarati/project/Green-Chemistry-16/
attachment/5c4e9d0dcfe4a781a57a7dba/AS:719929116487680@1548655885719/
download/fileserve+%281%29.pdf?context=ProjectUpdatesLog
https://www.products.pcc.eu/pt/blog/o-que-os-12-principios-da-quimica-verde-nos-
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https://propeq.com/fertilizantes/
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https://brainly.com.br/tarefa/13436112
http://quimicaparatodosuevora.blogspot.com/2013/02/a-quimica-vista-por-daniel-
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