(Deep Purple) Discografia Comentada V11.2

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O Eremita apresenta

Discografia Comentada do

Os discos de estúdio

Versão 11.2 - Agosto de 2023


Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Discografia Comentada do

Os discos de estúdio

Texto, edição, fotos, recortes e gafes: O Eremita.

Colaboraram: Alexandre Gibin Neto, André Luiz


“Heavy”, Marcelo Soares, Marco Aurélio “Olhos de
Lince” Valentoni, Reinaldo Alves, Roberto Silva e Souza,
Sérgio de Carvalho e Anderson Frota.

Versão 11.2 – Agosto de 2023 (337 páginas).


Mudanças em relação à anterior: só um acabamento fino,
com polimento.

Contatos: [email protected]

Distribuição gratuita, via internet:


www.arquivosdoeremita.com.br

Esta edição não é protegida por nenhuma medida legal de


direitos autorais ou intelectuais. Qualquer reprodução de
conteúdo sem autorização prévia do autor será
considerada muito esquisita.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

“Minha Ferrari é vermelha não é à toa”, declarou o comunista.

O Eremita

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Dedicatórias

Este mui modesto trabalho não poderia deixar de ser dedicado a outrem que não aos músicos do Deep
Purple (a todos, menos um!) e também aos seus fãs, por serem pessoas de gosto apurado. Existem os
que têm um gosto ainda mais apurado, pois, além de fãs do Deep Purple, são palmeirenses.

Sempre cabe mais uma lembrança e uma homenagem a dois de nossos heróis que deixaram os palcos
cedo demais: Ronnie James Dio e Gary Moore.

Em julho de 2012 tivemos o falecimento de Jon Lord. Uma grande pessoa, um grande músico e um
grande ídolo, a quem esta versão, muito modestamente, é especialmente dedicada. Ainda como
homenagem, foi colocada na Internet uma compilação de entrevistas d’O Maestro (veja no item A.9
do Apêndice).

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Sumário
Apresentação (página 06) Capítulo 14: Perfect Strangers (175)

PARTE I – Contexto (09) Capítulo 15: The House Of Blue Light


(183)
Capítulo 1: Cena Rockeira no Brasil nos
Capítulo 16: Slaves And Masters (193)
anos 70 (09)
Capítulo 17: The Battle Rages On (202)
Capítulo 2: Uma breve história do Deep
Purple - origem e personagens (26)
Capítulo 18: Purpendicular (209)
PARTE II – Núcleo (51) Capítulo 19: Abandon (217)

Capítulo 3: Shades Of Deep Purple (55) Capítulo 20: Bananas (224)

Capítulo 4: The Book Of Taliesyn (66) Capítulo 21: Rapture Of The Deep (232)

Capítulo 5: Deep Purple (74) Capítulo 22: Now What?! (240)

Capítulo 6: Concerto For Group And Capítulo 23: Infinite (252)


Orchestra (82)
Capítulo 24: Whoosh! (263)
Capítulo 7: In Rock (90)
Capítulo 25: Turning to crime (275)
Capítulo 8: Fireball (106)
PARTE III – Outras coisas (290)
Capítulo 9: Machine Head (114)
Capítulo 26: Balanço dos conceitos e
Capítulo 10: Who Do We Think We notas (290)
Are (131)
Capítulo 27: Discografia complementar
Capítulo 11: Burn (141) (296)

Capítulo 12: Stormbringer (151) Capítulo 28: Bibliografia (305)

Capítulo 13: Come Taste The Band Apêndice (322)


(162)
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Apresentação

Se você está lendo este texto, foi por um de dois caminhos: um deles é
por ser meu amigo ou conhecido, a quem indiquei o endereço. Neste caso,
não há muito que falar – você já deve estar sabendo o que esperar daqui
para frente. O segundo caminho seria utilizando um site de busca,
provavelmente com o nome “Deep Purple” e, após passar por um monte
de outras referências, acabou abrindo este arquivo. A este raríssimo
segundo tipo de leitor é que esta apresentação é direcionada.

Por que eu resolvi fazer mais um texto sobre esta banda, cuja história já
foi relatada tantas vezes? Os motivos são vários: (1) um passatempo –
gosto de escrever sobre o Deep Purple e esta não é a primeira vez que faço
isso; (2) um gesto de reconhecimento e gratidão – uma banda que me
proporcionou tantos momentos de deleite merece uma retribuição como
esta, ainda que simples; (3) a facilidade da Internet – não estou fazendo
mal a ninguém ao produzir e colocar à disposição este texto. São apenas
alguns trilhões de bits, que podem ser baixados gratuitamente, sem
consumir papel nem muita energia. É, portanto, um texto sustentável.
Desculpe se o termo parece deslocado, mas eu não podia deixar de usar
“sustentável” em algum lugar – está tão na moda!; (4) repartir alguns
conhecimentos, documentos (de que servem essas coisas guardadas?) e
opiniões com os fãs da banda, ainda que estas eventualmente gerem a ira
de alguns.

Este texto não foi escrito por um jornalista, nem por um escritor
profissional ou por um músico. Sou um apreciador de boa música, com
uma predileção por Rock, particularmente pelo Deep Purple, por razões
expostas mais à frente. Também sou Engenheiro e tenho no sangue (ou
melhor, na massa cinzenta) a tendência muitas vezes irritante de
racionalizar as coisas e querer quantificar aquilo que só deveria ser
qualificável. Esse cartesianismo estará presente em várias partes do texto.
O mínimo que devo fazer é pedir sua paciência. Recomendo um truque –
pule as partes chatas e vá em frente!
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Qual é afinal o objetivo deste texto? Resposta: comentar os discos de


estúdio, faixa a faixa. Só isso. Fazem parte do trabalho alguns textos
complementares, como um breve panorama a respeito da cena Rockeira
no Brasil e outro sobre a história do Purple. Uma das vantagens da
Internet é a total liberdade de expressão que ela oferece. Tirei proveito
disso, produzindo este texto, que é um mero registro de impressões e
opiniões pessoais e, por que não, algumas brincadeiras inconsequentes. É
muito provável que ao ler algumas dessas opiniões você pense: “esse cara
tá louco!”. Discordâncias são inevitáveis, ainda mais em um assunto tão
apaixonante como música. A minha defesa, nesse caso, é que absurda ou
não, irrelevante ou não, cada opinião aqui expressa foi carregada de
sinceridade e sem segundas intenções.

Ainda em cima das polêmicas e discordâncias, este texto traz ao final uma
crítica. Eu explico melhor. Coisas importantes como novos livros, discos
ou filmes são criticados por especialistas e essas opiniões saem na mídia,
ajudando as pessoas a se decidir se consomem ou não aquele produto. No
caso deste pobre e humilde opúsculo, se poucos perderão seu tempo para
lê-lo, contar que alguém fosse criticá-lo, sem chance. Por causa disso, foi
encomendada uma análise a um crítico e que já vem incorporada a este
texto (veja no Apêndice, seção C). Dessa forma, garantiu-se a publicação
de ao menos uma crítica a este trabalho. Para aquele que se interessar em
ler a crítica, antecipo algumas palavras ao meu favor: o crítico não
recebeu nenhum tipo de pagamento pelo seu texto e pessoas próximas a
ele me informaram que tal indivíduo andava em um mau humor
constante devido aos fracassos seguidos do seu time do coração. Duvido
que essas coisas tenham sido abstraídas na hora de fazer a crítica.

Esta é a décima-primeira versão da Discografia. Correções foram feitas


em todas as versões. Sempre vão escapar um ou outro erro de
concordância e de digiçãota, não tem jeito. O texto, que começou com
199 páginas e tem agora mais de 299, recebeu a devida atualização após
dois fatos importantes na história da banda: o lançamento do “Turning to
Crime” e a substituição de Steve Morse por Simon McBride, além das
revisões de sempre e algumas inclusões de coisas relevantes.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Um penúltimo alerta sobre o texto é que nele o leitor não encontrará o


adjetivo “extraordinário” e nem metáforas futebolísticas, pois se tratam
de recursos linguísticos e oratórios de uso exclusivo de um certo ex-
presidente e ex-presidiário.

Para finalizar, as palavras finais de encerramento, terminando, fechando


e concluindo este prefácio de apresentação introdutória inicial: espero
que este modesto trabalho lhe seja satisfatório, de alguma forma.

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PARTE I - Contexto

Capítulo 1
Cena Rockeira no Brasil nos anos 70

É preciso muito cuidado hoje em dia para se escrever sobre qualquer


coisa. O cidadão pode simplesmente parar a leitura e consultar
instantaneamente o Google, Wikipédia ou coisa que o valha para conferir
se aquela informação está certa. É a democratização do conhecimento –
uma das maravilhas da Internet. Estou convicto que, em sua essência, um
dos sustentáculos da democracia é o acesso à informação. Deve ter algum
filósofo que falou essa mesma coisa com outras palavras e seria chique
citá-lo aqui, mas a verdade é que não sei nada sobre filosofia e lendo certos
textos, na “Folha de S. Paulo” principalmente, fica me parecendo que
essas citações são mera exibição de erudição e não uma preocupação em
transmitir ideias. Nossa, desviei muito do assunto, não? Bem, foi só um
desabafo.

Vamos para os anos 70. Não havia computador pessoal, muito menos
Internet. Também era uma época onde não havia democracia no Brasil e,
como uma de suas consequências, havia pouca informação. A que era
acessível, era controlada. Tendo nascido em 1961, cresci e cheguei à
maioridade em um regime ditatorial. Sabe do que me lembro desses
tempos? Em termos políticos, de pouca coisa. Minha família era de classe
média. Bem média, se é que isso pode ser considerada uma definição. Não
falávamos de política. Não era só em casa. Em todo meu convívio – escola,
parentes, amigos da rua – ninguém discutia o que estava acontecendo.
Minha geração viveu na ignorância e cresceu apolítica. Os pais não
falavam sobre o tema – pessoas estavam sendo presas, torturadas e mortas,
muitas delas nas ruas; havia censura, que decidia o que poderíamos ver,
ler ou ouvir – e ninguém tocava no assunto, como uma forma de preservar
a saúde dos filhos e continuar mantendo-os por perto. Uns, não discutiam
política por medo. A repressão militar era violenta e onipresente. Outros,
como eram o meu caso e o dos colegas, vizinhos e amigos da mesma idade,

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

por ignorância. As notícias simplesmente não chegavam. Havia total


manipulação da informação. Os telejornais concentravam seu conteúdo
em desgraças externas (guerras, terremotos, furacões e tragédias em geral)
como uma forma pouco disfarçada de incutir a ideia na população de que
lá fora era ruim, aqui era bom, exaltando as qualidades internas. As
principais revistas e jornais eram obrigados a hospedar em seus escritórios
censores do governo, que tesouravam (quase que literalmente) as notícias
que fugiam da linha de pensamento dos militares. Uma das lembranças
que tenho sobre a mídia daqueles tempos era o programa do repórter
global Amaral Neto, cujo ofício era fazer uma descarada propaganda pró-
ditadura, mostrando as obras do governo, sempre em tom
escandalosamente ufanista, citando coisas como “esta usina será a maior
do mundo”, “esta indústria é a maior fornecedora de carros de combate
do Ocidente”, ou ainda “tal estrada será a que baterá todos os recordes
mundiais de acidentes” e patacoadas afins. De fato, tínhamos o que
comemorar. Éramos campeões mundiais de desrespeito aos direitos
humanos, em corrupção, em concentração de renda, em desmatamento,
na taxa de juros e em outros recordes lamentáveis, que, ainda bem, foram
todos resolvidos desde que nos tornamos um país desenvolvido e justo,
onde ninguém mais passa fome, todos moram decentemente e escovam
os dentes três vezes ao dia. Lembro-me, ainda, que na escola também
éramos manipulados. Cantávamos aquele maldito jingle de Dom & Ravel
“Brasil, eu te amo” toda hora. Havia um álbum de figurinhas que tinha
entre os cromos a reprodução de frases do governo como “Brasil, ame-o
ou deixei-o” e outras propagandas nada subliminares.

Todos esses anos de regime repressivo ditatorial deixaram uma herança


no nosso comportamento. Perdemos o hábito de refletir e de protestar,
principalmente quando não nos são oferecidas coisas que são obrigações
do Poder Público, como saúde, educação, moradia e transporte dignos. O
que se nota nas manifestações públicas atuais é que não há
espontaneidade – a maioria é armação, com pessoas sendo pagas para
defender alguma questão político-partidária. Acabamos nos acostumando
com a manipulação e a pilhagem das ratazanas que se imiscuem no Poder
Público e que vem se aproveitando até hoje da docilidade e passividade da
população. Algo absolutamente surreal ocorreu em 2020 – manifestações

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pedindo o retorno da ditadura militar e, o que é que mais extrapola o


surreal – a volta do AI-5! Reivindicação por algo que vai contra os
próprios reivindicandos! Só mesmo no Brasil, onde o governo virou algo
intocável. Aceitamos sua desonestidade placidamente. Ainda assim,
vivemos melhor do jeito atual, na democracia. A democracia é como um
amigo verdadeiro: às vezes ele pode te irritar, mas muito mais importante
é preservá-lo. Mas, até aonde eu vou com esse discurso meio fora do
contexto? Até aqui. De volta ao Rock.

No final dos anos 60 e início dos anos 70, o Rock era moda em São Paulo.
Isso quer dizer que a grande maioria dos jovens seguia as tendências do
Rock. Usavam as roupas no modelo dos artistas de Rock. Deixavam o
cabelo comprido e ouviam Rock. Alguns até mesmo gostavam de Rock.
Poucos eram, de fato, Rockeiros. Ou seja, Rockeiros no sentido de que
gostavam do Rock pelo que ele representava e não para acompanhar a
moda.

A situação era um tanto estranha. O Rock, que na Europa e Estados


Unidos, entre outras coisas, era um dos principais veículos para a
contestação política contra as guerras e os regimes totalitários, era
encarado mais como uma trilha sonora pesada para a molecada Rockeira
brasileira. Não havia o caráter engajado. Isso ficou mais para o final dos
anos 60. No meio dos anos 70, em plena ditadura, o que fazia a cabeça da
galera eram o peso do som e as alusões ao satanismo e à bruxaria do Black
Sabbath, do Uriah Heep e congêneres. Pelo menos, era isso o que eu via
e vivia. Como citei, éramos uma geração ignorante em termos políticos,
pois ninguém contava direito o que estava acontecendo à nossa volta.

A onda do Rock passou. Veio a era disco. A maioria entre aqueles que
ouviam Rock passou a ouvir Disco. Entre a minoria que não (e nunca)
abandonou o Rock estava eu. Não sei bem o porquê, mas aquela história
de inconformismo do Rock e outras coisas do pensamento hippie, como
não se apegar tanto às aparências ou dar valor excessivo aos bens materiais
ou, ainda, ter mais respeito com a natureza me fisgaram e eu me mantive
fiel a esses ideais até hoje. Eu nunca fui um hippie, só seguia alguns de
seus ideais. Entre vários outros hábitos, um dos que eu nunca segui, ainda

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

bem, foi prolongar os períodos entre os banhos. Mas, não era fácil. Não,
não a questão do banho! O que não era fácil era ser Rockeiro sem
dinheiro. Eu era um adolescente que só estudava (classe média bem
média, certo?). Sem grana não dava para levar aquele estilo de vida
idealizado do Rockeiro. Aquele que se via nos filmes – contestação, vida
alternativa, liberdade, moto, jaquetas de couro, festas na praia nos fins de
semana, curtindo a natureza...Essas coisas tinham que ser pagas. O que é
pior, sem dinheiro não dava nem mesmo para comprar discos! Os discos
eram muito caros. Pouca gente tinha condição de ter muitos discos.
Comprar um LP, pelo menos no meu ambiente, era um acontecimento.
A gente anunciava: “tal dia, eu vou comprar um disco!”. Diante da
dificuldade, uma das coisas que eu e meus amigos procurávamos fazer era
comprar discos diferentes uns dos outros, para ampliar a gama de sons
disponíveis.
Juntando a falta de grana, a censura, o mercado consumidor pequeno
(discos de Rock não vendiam quase nada, comparado aos de MPB, por
exemplo), a falta de informação geral (vida sem Internet!), lembro, de
novo, que não era mesmo fácil ser Rockeiro naquelas eras.

As mídias: primeiro, os discos

Além dos discos serem caros, havia outros problemas. As gravadoras não
estavam nem aí. Os discos de Rock não eram atrelados a nenhum critério
de continuidade ou integridade, ou seja, as discografias das bandas nunca
eram completas e as capas frequentemente eram mutiladas. Às vezes, o
próprio disco era mutilado (vários discos originalmente duplos saíram
simples por aqui, como no caso do álbum “Focus 3”). Para finalizar, havia
a má qualidade do vinil, que tornava os discos infestados de chiados e
pipocados lá pela terceira audição.

Também não havia divulgação dos lançamentos. Em São Paulo devia


haver milhares de lojas de discos. No centro da cidade, era praticamente
uma por quadra. Naqueles tempos, a gíria “garimpar” fazia sentido,
porque os discos de Rock tinham tiragem muito baixa e, por isso, nem
todas as lojas recebiam todos os lançamentos. Sem a divulgação, nem
sempre era possível saber se um LP tinha sido editado no Brasil. A saída

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

era entrar em todas as lojas e olhar em todas as seções, pois cada lojista
tinha seu jeito particular de classificar os discos. Um LP do King Crimson
poderia estar na seção de “música jovem” ou um do Rory Gallagher em
“cantores americanos”.

A opção era comprar discos importados. Talvez “opção” não seja a melhor
palavra, porque os importados custavam, no mínimo, três vezes o preço
dos nacionais. Existiam poucas lojas que tinham importados. As melhores
eram as da extinta cadeia “Museu do Disco”, cujo nome enganava os
consumidores de primeira visita, pois estes achavam que lá seria possível
encontrar raridades e/ou antiguidades, coisa que não acontecia, exceto
pelos importados.

O que começou a facilitar um pouco a vida dos Rockeiros foi o


surgimento do complexo de sebos vinílicos no centro de São Paulo,
conhecido como “Grandes Galerias”, ponto de encontro e concentração
das lojas que viviam de fornecer raridades aos amantes do Rock, hoje
conhecida como “Galeria do Rock”. A Internet deu uma desaquecida na
Galeria, pois hoje em dia não há mais raridades, nem de informações, nem
de imagens e tampouco de músicas.

Para os colecionadores dos discos do Deep Purple os dias de hoje são de


fartura para quem sabe selecionar, pois são incontáveis os lançamentos
pelo mundo, alguns muito apetitosos, outros (a maioria) totalmente
dispensáveis. Para os que colecionam tudo, os chamados “completistas”,
eu vejo dois caminhos: frustração (pela impossibilidade de atingir o
objetivo – coisas novas saem todos os dias) e pobreza (pelos gastos
próximos ao infinito).

Imprensa

Um breve relato do cenário relativo à mídia impressa foi incluído no texto


da história da SBADP (explicações mais à frente), aqui reproduzido, com
algumas adaptações. Em termos de imprensa, revistas sobre música
surgiam e desapareciam a todo o momento. A maioria não chegava a
completar 10 números e eram difíceis de serem encontradas. Não

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

recebiam grande destaque nas bancas e acabavam vendendo pouco.


Tivemos a versão brasileira da “Rolling Stone” (que voltou a ser editada
no Brasil há uns anos); a revista “Rock, a História e a Glória” (durou por
volta de 30 números) e outras menos famosas. A que mais tempo ficou
no mercado foi a “Geração Pop”, da Editora Abril, que tinha uma
qualidade sofrível. Era uma espécie de “Contigo”, só que com algumas
matérias sobre música entremeadas com coisas do tipo “como fazer um
casamento pop” e outras bobagens.

A alternativa então era comprar as revistas importadas. As mais fáceis de


se conseguir, apesar do preço salgado, eram as americanas “Circus” e “Hit
Parader”. Em São Paulo, nas bancas do centro, também era possível
encontrar as revistas argentinas “Pelo” e “Roll”, que tinham uma
qualidade gráfica medonha e abusavam da ‘gilete-press’, apelido que se
dava para as revistas que eram feitas a partir de matérias traduzidas das
publicações estrangeiras, incluindo cópias das fotos. Tudo sem
autorização, é claro.

Na década de 80 começaram a surgir as revistas


japonesas, que, por serem importadas, também
custavam os olhinhos puxados da cara, com a
desvantagem de trazerem o texto todo em japonês.
Compensavam pela qualidade do papel e das fotos.

Após um hiato de alguns anos sem revistas de editoras grandes, surgiram


a “Somtrês” (Ed. Três) e a “Bizz” (Ed. Abril), que dedicavam um razoável
espaço ao Rock e foram as principais fontes de informação por um bom
tempo para o grande público.

Para os Rockeiros mais inteirados, as informações mais quentes e


completas vinham dos fanzines. Estes sofriam do mesmo mal que as
primeiras publicações: descontinuidade, falta de divulgação, vida breve.
Alguns cumpriram o papel de confirmar a regra e viraram as honrosas
exceções, sendo o principal exemplo a “Rock Brigade”, que nasceu em
1981 e existe até hoje (www.rockbrigade.com.br), tendo completado mais
de 200 edições, algo espantoso e que merece todo respeito. Como uma

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

informação adjacente e provavelmente inútil, lembro que produzi alguns


textos sofríveis (ou seja, este aqui não é uma exceção!) durante pouco
tempo tanto para a “Rock Brigade” quanto para a “Somtrês” (outros
detalhes na ref. A.6 do Apêndice).

Fanzine do jornalista
Valdir Montanari

Capas da edição 264 da Rock Brigade e do fanzine Musical Box, número 7

A revista “Rolling Stone” merece um comentário à parte: foi lançada em


português em fevereiro de 1972 e trazia a maioria de seu conteúdo
traduzido da versão original, americana. Aparentemente, era uma versão
não autorizada pela matriz e após algumas dezenas de números, sua
publicação foi suspensa. Algum tempo depois (ainda em 1972) voltou às
bancas, trazendo uma inscrição “Pirata” (veja reprodução) junto ao
tradicional logotipo.

Como quase tudo que envolve o mundo do Rock,


com o passar do tempo, a revista americana acabou
se tornando um mero produto de consumo. A partir
de 2006 a “Rolling Stone” voltou a circular no
Brasil, no formato de revista. Hoje em dia, seu foco
é mais amplo: o entretenimento, de um modo geral,
o que explica capas com Gisele Bunchen e Ronaldo
Fenômeno.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Recentemente, o jornal “Folha de São Paulo” pôs à disposição na Internet


todas as suas edições em formato digital. A pesquisa feita pelo Eremita
com o nome “Deep Purple” confirmou o pouco espaço que a banda
recebia da imprensa. Descontadas as menções à música que deu origem
ao nome da banda e a um cavalo homônimo que frequentou as páginas de
turfe nos anos 50, pouca coisa se falou sobre o Purple. De qualquer forma,
a pesquisa foi útil para descobrir dados referentes aos anos de lançamento
de alguns dos discos e para constatar a falta de preparo dos jornalistas,
especialmente no início dos anos 70, que escreviam absurdos sobre as
bandas de Rock, como, por exemplo, as críticas ao “Fireball”, descrito
como “Rock espacial” ou do “Machine Head”, em que o Purple é
considerado um “dos melhores representantes do Rock da costa oeste
americana”. Outra publicação que colocou
todo seu acervo à disposição em formato
digital na Internet foi a revista “Veja”.
Novamente o Eremita fez uma pesquisa
sobre o Deep Purple e encontrou
pouquíssima coisa. De relevante, só a
crítica ao “Burn”.

Rádio

E em São Paulo, o que mais rolava? No rádio, pouca coisa. Havia rádios
“jovens” como a “Excelsior” e a “Difusora”, que tocavam muita música
internacional, mas elas eram concentradas na vertente Pop. Vez por outra
escorregava algum Rock na programação. A primeira grande exceção foi
o programa “Kaleidoscópio”, do Jacques, que rolava à noite em uma rádio
AM, cuja dona era a Igreja Católica e que ficava perto do Metrô Vila
Mariana. Lembro-me que uma vez eu e uns amigos tentamos falar com o
Jacques durante o programa. Fomos até a rádio e ele estava na porta,
fumando com umas garotas. Ficamos com vergonha (coisa de garotos) e
fomos embora. Mas o Jacques tocava realmente coisas de primeira. Muitas
bandas eu e meus amigos conhecemos ouvindo o “Kaleidoscópio”.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Televisão

Na TV as opções eram reduzidas, para variar. Havia um quadro diário no


“Jornal Hoje”, da Globo, com o apresentador “Big Boy”, que trazia
algumas novidades sobre o que acontecia na Europa e Estados Unidos e,
eventualmente, rolava um clipe ou parte de. Ele exibiu o clipe de Never
before (na verdade, uma montagem de imagens – está no DVD sobre a
história do “Machine Head”). Outra opção que surgiu um pouco depois
foi o programa “Sábado Som”, que foi sucedido pelo “Rock Concert”,
ambos na Globo. Nesses programas ocorreram vários momentos especiais
para os Rockeiros brasileiros. Em particular no caso do Purple, lembro-
me de três absolutamente marcantes: a participação do Purple no
“California Jam” (parcial, apenas. Space truckin’, com Blackmore
incendiando o palco, foi aparecer algum tempo depois, no “Fantástico”);
a apresentação com Bolin no Japão, que depois sairia em VHS com o
título “Rises over Japan”, sendo que a Burn foi ao ar depois, de novo no
“Fantástico” e, finalmente, um programa especial sobre a banda, em
1977, que conteve uma raríssima filmagem de uma apresentação da MK
II em Nova Iorque, tocando Smoke on the water, Strange kind of woman
e Space truckin’. Essa apresentação de Smoke é, até hoje, o único registro
em vídeo dessa música tocada ao vivo pelo primeiro reinado da MK II.
Uma pena é que é editada, tendo sido cortado o solo de Blackmore. Na
época não existia videocassete e era impossível rever aquele programa, ao
menos se a emissora o reprisasse, o que nunca aconteceu. Muitos anos
depois, um fã brasileiro (conhecido do Eremita) que colecionava vídeos,
conseguiu uma cópia dessa apresentação e essa fita rodou o mundo. Isso
é citado no encarte que acompanha o DVD “Live In Concert 1972/1973”,
que contém essa mesma filmagem. Esse DVD foi lançado no Brasil. É um
item indispensável àquele que se considera um apreciador da banda e, por
que não, do Rock bem tocado.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Afora os programas da Globo, havia duas opções: o programa “Som Pop”,


da TV Cultura, que tinha um acervo de vídeos limitado, baseado em
clipes fornecidos pelas gravadoras, com pouca coisa de shows ao vivo.
Durou muitos anos. Outra opção, que teve vida bem mais breve, foi o
“Concerto de Rock”, da Bandeirantes, que passou algumas coisas do Don
Kirshner. Um show inesquecível exibido em um desses programas foi o
da banda Renaissance.

Reprodução da capa do
DVD e do trecho do encarte
onde é citada a cópia
brasileira da apresentação do
Purple MK II tocando
Smoke on the Water

Ao vivo

Quanto aos shows internacionais, o Brasil era um deserto. Passavam-se


anos sem que houvesse um show de um grande nome. Peço desculpas
pelas imprecisões daqui para frente, mas me parece que o primeiro grande
nome que tocou por aqui foi o Santana, em pleno santuário futebolístico
do Parque Antártica. Também veio o Mungo Jerry, que tocou no Clube
Athlético Ypiranga! Não sei se eles vieram antes ou depois do Alice
Cooper. Com um enorme hiato entre eles, tivemos Rick Wakeman, Joe
Cocker, Genesis e Van Halen (o único desses todos ao qual assisti).

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Relíquias cedidas por


Roberto Silva e Souza

Na falta de shows internacionais, as opções eram as apresentações das


bandas brasileiras, entre elas as que tocavam no clube Círculo Militar
(justo lá!), em São Paulo, nos domingos à noite. Nesses shows (ou como
constava no letreiro oficial do clube, “brotolândia dançante”) se
apresentavam bandas que hoje seriam chamadas de “cover genérico”, pois
tocavam seleções de músicas de grupos de fora. Lembro-me bem que
minha preferida era a “Zappa” (talvez a grafia não fosse bem essa, poderia
ter um “h” depois do “z”, mas aí já é exigir demais de minha pobre
memória), onde tocava o guitarrista Faíska. Esse cara era demais,
reproduzia os solos de Blackmore perfeitamente.

O que mudou tudo foi o “Rock in Rio”, que revelou à mídia que o Rock
era uma mercadoria lucrativa. De lá para cá, grandes e pequenos nomes
incluíram o Brasil em suas “World Tours”. O próprio Deep Purple é um
deles, pois já veio ao Brasil mais de dez vezes.

A opção pelo Deep Purple

Era comum no meio Rockeiro certa “paixão clubística” por uma banda.
Muitos se tornavam fãs sem saber exatamente a razão e defendiam sua
banda preferida como se fosse o seu time de coração. Não foi o meu caso.
A escolha pelo Purple foi, em um primeiro momento, apenas
“vulcaniana”, lógica. Existia uma leve rivalidade entre os fãs do Purple e
do Led Zeppelin. Eu evitava entrar em discussões desse tipo, porque eu
também gosto do Led. Tenho os quatro primeiros CDs, que eu considero
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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

muito bons. Mas, a verdade é que certas coisas sobre o assunto até hoje
me irritam um pouco, especialmente a deferência com que a mídia trata
o Zeppelin. Não posso deixar de registrar que em minha comparação
racional entre Purple e Zeppelin, este último leva muitas desvantagens. O
Zeppelin produziu menos e seu desempenho ao vivo deixou a desejar. Foi
uma grande decepção assistir ao filme “The Song Remains the Same”,
sabiamente batizado no Brasil com o esclarecedor título “Rock é Rock
Mesmo”. O que eu vi? Uma banda com desempenho ao vivo muito
distante do registrado no estúdio, com Plant cantando tons abaixo em
relação aos discos, Page atravessando os solos e a banda deixando buracos
que nas versões em estúdio eram cobertas pelos “overdubs”. Ultimamente
tenho tido desilusões com o Zep devido à sequência de processos de plágio
que a banda vem sofrendo e perdendo. Uma rápida busca na Internet
permite constatar mais de dez músicas claramente copiadas de outrem,
como, por exemplo, Dazed and confusion; Black mountain side; Baby,
I’m gonna leave you e até mesmo Whola Lotta love. A realidade é que,
quando se fala sobre Rock, seja no jornal, na TV ou na Internet, é raro
alguém não citar o Zeppelin, assim como é raro alguém citar o Purple. O
Deep Purple sempre foi uma espécie de “patinho feio” para a mídia, não
sei ao certo o porquê. Também não sei se esse desfavorecimento era em
termos mundiais ou só no Brasil. Por aqui, era muito difícil uma aparição
sobre a banda nas poucas mídias que abriam espaço ao Rock.

Como a maioria dos Rockeiros, eu comecei curtindo as bandas de som


mais acessível. Meus três primeiros discos foram comprados com uma
grana longamente guardada e juntada com uma recebida de presente de
Natal: dois LPs do Slade e um compacto do Grand Funk (The
Locomotion). Este é o único dos três que tenho até hoje. Isso foi em 1973.
Outra coisa da qual me lembro é que os discos ficaram um bom tempo de
pé, na minha estante, aguardando a oportunidade de serem tocados, pois
eu ainda não tinha um aparelho de som. A escolha por esses nomes para
os primeiros discos foi trivial. Quase todo mundo começa assim, ouvindo
as bandas de apelo mais fácil, que fazem um Rock mais simples, o que não
significa que não sejam boas. Até hoje ouço Slade e Grand Funk.

20
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

O entusiasmo pela música do Deep Purple não veio de um estalo. Foi um


processo.

Por causa do custo e tudo o mais que foi dito, comprar um disco era uma
decisão difícil. A coisa era racionalizada. A escolha tinha que ser sobre
aquele que oferecesse o melhor custo-benefício, ou seja, a maior
quantidade de faixas legais dentre as ofertadas. Portanto, não dava para
comprar um disco que não tivesse pelo menos uns 80% de faixas boas. Os
LPs acabavam sendo dissecados, do primeiro ao último centímetro de
sulco. As capas também, esquadrinhadas em todos os seus detalhes.

Foi aí que o Deep Purple ganhou este fã. Era a banda que oferecia o
melhor custo-benefício! Não foi a propaganda (que, aliás, não existia),
não foi nenhum truque de imagem, como o satanismo do Sabbath ou o
hippie-ismo (bem, acho que essa palavra não existe) do Zeppelin. Foi um
gosto adquirido pela qualidade da produção musical, pura e
simplesmente. O Deep Purple praticamente não produzia aquele tipo de
música que serve só para completar o disco (aquilo que os ingleses e
americanos chamam de “fillers”). Isso pode ser comprovado pelo exposto
na Parte II, onde todos os discos são comentados, faixa a faixa.

Comecei a ouvir o Deep Purple por volta de 1973 e não parei mais.
Ajudou muito o fato de um belo dia eu ter conseguido, ou melhor, ganho
dos meus pais, um aparelho de som. Passamos a ouvir Deep Purple sem
parar. Digo “passamos” porque morando em uma casa não muito grande,
com o volume sempre um tanto alto, toda a família compartilhava as
minhas longas audições dos clássicos púrpuras, muitas e muitas vezes. Vez
por outra eu ouvia meu pai, fã de ópera, assobiando Sail away. É incrível,
mas ainda ouço Purple com praticamente a mesma frequência que ouvia
quando era adolescente. Será que isso é alguma patologia?

De todo modo, acho que a humanidade não ouviu Deep Purple o


suficiente.

É claro que eu não gosto somente de Deep Purple. Durante um bom


tempo, acabei me tornando um radical – praticamente só ouvia Deep

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Purple. Achava que o resto estava sempre abaixo em termos de qualidade.


Evidentemente isso foi mudando com o passar dos anos. Hoje, olhando
para minha modesta coleção de CDs, vejo que das cinco gavetas, uma é
dedicada ao Deep Purple e derivados, outra ao Blues, a terceira e quarta
às demais bandas de Hard-Rock e a quinta aos Progressivos. Ou seja, 20%
do acervo têm a ver com o Purple e 60% ao Hard Rock. Outra
curiosidade, é que, provavelmente, 85% da coleção são de discos lançados
há mais de trinta anos.

A carência na obtenção de fatos sobre a banda e a injusta falta de


reconhecimento do Deep Purple pela nossa mídia foram dois dos motivos
para que eu e o Roberto Silva e Souza, inspirados no fã-clube inglês (*),
fundássemos a “Sociedade Brasileira dos Apreciadores do Deep Purple –
SBADP”, que editou o apologético fanzine “Into the Purple”. A história
da SBADP, intitulada “Como trabalhar de graça, perder dinheiro e ainda
se divertir” está disponível na Internet, assim como as edições
digitalizadas dos cinco números da “Into the Purple” (Apêndice – refs.
A.1 e A.3).

Para ilustrar como era difícil obter


informações sobre a banda quando fundamos
a SBADP, relato um fato que aconteceu
comigo e que o Roberto testemunhou.
Acabou ficando de fora do texto na história da
SBADP. No centro de São Paulo tem um
bairro chamado Liberdade, que é reduto da
colônia japonesa. Nesse bairro existem várias
livrarias dedicadas à importação de revistas
japonesas. Eles importavam tudo que é revista,
inclusive as de Rock, que, por sinal, deixavam
os Rockeiros paulistanos malucos, pois
traziam muitas fotos inéditas, coloridas e impressas em papel de primeira.
As principais eram a “Music Life” e a “Burrn” (desse jeito, com dois “r”).
Em uma dessas revistas eu vi um anúncio de dois livros, um sobre o Deep
Purple e o outro sobre o Blackmore. Fui à uma das livrarias da Liberdade
e encomendei os dois, mesmo o preço sendo bem salgado. Passados uns

22
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

dias, recebi o aviso que os livros haviam chegado. Lá fui eu buscar. O


Roberto estava comigo. Ao receber os dois livros, quase caí de costas.
Eram dois livros de bolso, com duzentas páginas, com umas três fotos e
um looongo texto. Todo em japonês! Tentei devolver os livros, o que,
evidentemente, a dona da livraria não aceitou. Lembro-me dela dizendo
umas palavras em japonês para seu marido, que deveria ser alguma coisa
como “esse trouxa quer que eu fique com esses livros invendáveis”. No
fim, depois de muita negociação, ela acabou dando um desconto e os
extremamente úteis livros estão até hoje comigo (a capa de um deles está
reproduzida aí em cima). Agruras de um fã.

Um hábito que existia entre os fãs era montar pastas com os recortes sobre
a banda de sua preferência. Não havia muito que guardar, caso a coleção
se limitasse à mídia nacional. O que a garotada fazia
era comprar uma edição de uma revista importada,
tirar as páginas que citavam sua banda preferida e
trocar (ou vender) as demais com os fãs dos outros
grupos que apareciam. A SBADP reuniu um monte
dessas pastas. Parte dos recortes está sendo
gradativamente socializado na Internet, na página
“Arquivos do Eremita” (veja a ref. A.6 do
Apêndice). Por sinal, esta é outra atividade que não
é mais possível nos dias de hoje – “colecionar Vejam só! Angela
mídia”. São tantas as fontes ao redor do mundo e, é Merkel já foi fã do
Purple! (Folha de S.
claro, tem a Internet. Provavelmente, ninguém Paulo, 20.nov.16).
monta mais as tais pastas.

Esse foi um apanhado geral. Deve ter ficado de fora muita coisa, porque
foi tudo baseado na memória do Eremita, que vem sendo implacavelmente
afetada à medida que os anos avançam. Tenho tentado uma terapia que
me ensinaram, à base do consumo regular de cerveja e gorgonzola. Até
agora não deu bons resultados, mas esse é o tipo do tratamento de longo
prazo.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(*) DPAS, ou Deep Purple Appreciation


Society, de Simon Robinson. A DPAS
produz, entre outras muitas coisas, o
fanzine “Darker than Blue (DTB)”,
reproduzido a seguir (capa
autografada pelo Nick Simper, para o
purplemaníaco Reinaldo Alves).
Detalhes podem ser obtidos na
Bibliografia e nas referências A.1 e B.3.

Aproveitando o asterisco, cito outros


fanzines não tão célebres quanto o DTB,
mas que também merecem destaque:

- More Black than Purple: dedicado ao


Blackmore. Existe desde 2006 e tem 38
edições (outras informações no item B.8 do Apêndice);

- Hush Magazine: publicação espanhola do “Clube de Adictos a Deep


Purple”, iniciada em 1994, comandada por Carlos Fernando. Está na
edição 37 (http://www.cadp-hushmagazine.com);

- Deep Purple Forever: editado pelo fã clube sueco, em sua língua natal
(!). Foi publicado entre 1991 e 2002 (32 edições);

- Machine Head: produzido em japonês (!!), todo em preto e branco,


publicado entre 1998 e 2005 (25 edições).

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 2
Uma breve história do Deep Purple - origem e
personagens

A figura central deste trabalho é uma das bandas mais queridas do mundo,
ativa há mais de 40 anos. Já vendeu mais de 100 milhões de discos.
Existem centenas de sites e fã-clubes ao redor do planeta que tratam de
cultuar essa banda, que tem uma produção musical impressionante,
composta de 21 discos de estúdio e um número incerto de gravações ao
vivo, que surgem a toda hora no mercado, sejam recentes ou antigas,
resultado da qualidade e competência que seus músicos sempre levaram
ao público em seus shows. Estes até hoje geram interesse por qualquer
registro, seja ele de ensaios ou a oficialização de antigas edições piratas.

Existem vários relatos sobre a história do Deep Purple. Alguns deles


podem ser verificados na Bibliografia deste texto. Portanto, não há a
necessidade de se recontar tudo. Principalmente se considerarmos a
desigualdade da condição de alguém, no Brasil, conseguir reunir mais
dados do que fãs ou jornalistas residentes no país de origem da banda. O
que segue é uma visão resumidíssima da história do Purple, procurando
destacar alguns pontos que nem sempre receberam a devida atenção.

O primeiro ponto a se destacar é que o Deep Purple não teve o início


típico das bandas da década de 60. Naquela período, o Rock ainda estava
construindo seus ritos da profissionalização. O comum era que amigos,
vizinhos ou colegas de escola se juntassem e montassem uma banda, para
ver se conseguiam muitas garotas e, de quebra, algum dinheiro. Com o
Purple não foi assim. O grupo foi um produto de empresários, com o
objetivo de investir uma grana na carreira dos músicos e com isso
conseguir um bom retorno financeiro, com a vantagem de poder circular

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

por um mundo mais glamoroso do


que aquele normalmente frequentado
por pessoas comuns.

Quem começou a montar a banda foi


o baterista Chris Curtis, que
pertenceu ao The Searchers, grupo
Pop que emplacou um hit nas
paradas, uma versão da canção de
Jackie DeShannon Needles and pins.
Curtis convenceu uma dupla de
empresários, Tony Edwards e John
Coletta, a investir em seu projeto de
Tony Edwards e Jon Lord
banda. Posteriormente, à dupla se
juntou o vendedor de carros usados Ronald Hire. Das iniciais dos três
sobrenomes surgiu a HEC Enterprises. HEC também era a sigla do ógão
inglês “Health Education Council” (ou “Conselho de Educação em
Saúde”). A HEC se tornou, a rigor, a dona da banda Deep Purple. Coletta
e Edwards logo compraram a parte de Hire. John Coletta morreu em
09.jul.2006. Tony Edwards faleceu em 11.nov.2010, aos 78 anos, de
causa não revelada.

Um pequeno intervalo para comentar um pouco sobre o lado social da


banda. Anos de convivência fizeram com que Tony Edwards e Jon Lord
se tornassem amigos. Ele é padrinho de Sara, filha de Lord. A esposa de
Lord, Vicky, foi namorada de Glenn Hughes. Vicky tem uma irmã gêmea,
Jackie, que se casou com Paice. Hughes casou com Karen Ulibarri, que
havia sido namorada de Bolin. Fim da coluna social.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Lord, Paice e esposas, as gêmeas Vicky e Jackie.

Voltando à história, Curtis conheceu Jon Lord e, assim como fez com
Tony Edwards, também convenceu o tecladista a fazer parte de seu
projeto, o Roundabout. A ideia do Curtis, o bom de lábia, era montar um
carrossel (que em inglês pode ser traduzido como “roundabout”) no
palco, onde ele ficaria no centro, com sua bateria. Os demais músicos
girariam em volta. Ambos já haviam visto Blackmore em ação e o
convidaram. Durante as negociações para viabilizar a banda, Curtis sumiu
de forma misteriosa. A essa altura os novos empresários tinham se
entusiasmado com o negócio do show-business e a HEC não desistiu. A
ideia de investir em uma banda de Rock, o ainda incipiente projeto
Roundabout, foi em frente, só que, evidentemente, sem a maluquice do
carrossel no palco. Depois de algumas audições, Rod Evans, Nick Simper
e Ian Paice foram recrutados e o Deep Purple nasceu, em março de 1968.
Em abril desse ano fizeram seus primeiros shows, ainda sob o nome de
Roundabout. Manter esse nome foi uma ideia de Lord. A primeira
excursão do grupo foi pela Escandinávia, aproveitando a experiência que
seu grupo anterior, The Artwoods, teve fazendo shows por lá pouco
tempo antes. Caso a banda não desse certo, era só enterrar o nome

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Roundabout e partir para outra. Tudo correu bem e ainda durante a turnê
eles assumiram o nome Deep Purple, seguindo sugestão de Blackmore.
Em julho, apenas cinco meses após os músicos se conhecerem, o Deep
Purple já tinha seu primeiro disco exposto nas prateleiras das lojas dos
Estados Unidos.

Foto publicada na revista


americana Hit Parader em
1971. Nela a banda aparece
recebendo um disco de ouro
pelas vendas do “Fireball” na
Alemanha. Quem está entre
Glover e Lord é John Coletta.

O fato de ter sido formada com o espírito de ser um investimento, ou seja,


algo para dar lucro, influenciou fortemente os caminhos percorridos pela
banda. O Deep Purple mudou de músicos muitas vezes, sempre buscando
manter a máquina de fazer dinheiro produzindo. A banda teve nove
formações diferentes (apelidadas na Inglaterra como “Mark”, de
abreviatura “MK”, sendo que a MK II existiu durante três momentos
distintos de sua história), com passagem de 14 músicos ao longo de seus
54 anos de atividade (1968 – 2022, ano da décima-primeira edição deste
trabalho). Músicos entraram e saíam conforme as circunstâncias, sem
causar traumas de quebras de vínculos de velhas amizades, afinal, tudo
era uma questão de administração de contratos, de carreiras, royalties,
agendas de shows. Enfim, negócios. Um fato sintomático da crueza dessa
realidade é que o único músico que nunca esteve ausente desde a Mark I
até a MK IX é o baterista Ian Paice. Hoje, com todos na casa (ou
beirando) dos 70 anos, é um belo exemplo de vida que eles mantenham a
disposição de continuar na ativa, tocando ao vivo e gravando discos.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Chris Curtis (29.ago.41 – 28.fev.05)

O Quadro I, a seguir, traz a composição das nove formações da banda e o


período de atividade de cada uma delas. Só foram considerados os discos
oficiais de estúdio lançados enquanto a formação estava em atividade, o
que explica a ausência de vários discos ao vivo (só foram relacionados os
principais) e das coletâneas. As datas referem-se aos lançamentos na
Inglaterra.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Período Denominação Músicos Discos lançados

Jon Lord (Teclados - T)


Mar/1968-
Ritchie Blackmore (Guitarra - G) Shades Of Deep Purple (1968)
Jul/1969 Mark I
Ian Paice (Bateria - B) The Book Of Taliesyn (1969)
(MK I)
Rod Evans (Vocal - V) Deep Purple (1969)
17 meses
Nick Simper (Contrabaixo - C)
Concerto For Group And Orchestra (1970)
Jul/1969- Jon Lord
In Rock (1970)
Jun/1973 Ritchie Blackmore
Fireball (1971)
MK II Ian Paice
Machine Head (1972)
Ian Gillan (V)
Made In Japan (1972)
48 meses Roger Glover (C)
Who Do We Think We Are (1973)
Jon Lord
Jun/1973-
Ritchie Blackmore
Mai/1975 Burn (1974)
MK III Ian Paice
Stormbringer (1974)
David Coverdale (V)
23 meses
Glenn Hughes (C)
Jon Lord
Jun/1975-
Ian Paice
Mar/1976
MK IV David Coverdale Come Taste The Band (1975)
Glenn Hughes
10 meses
Tommy Bolin (G)
Jon Lord
Abr/1984-
Ritchie Blackmore Perfect Strangers (1984)
Abr/1989
MK II Ian Paice The House Of Blue Light (1987)
Ian Gillan Nobody´s Perfect (1988)
60 meses
Roger Glover
Jon Lord
Dez/1989-
Ritchie Blackmore
Ago/1992
MK V Ian Paice Slaves And Masters (1990)
Roger Glover
32 meses
Joe Lynn Turner (V)
Jon Lord
Ago/1992-
Ritchie Blackmore
Nov/1993 The Battle Rages on (1993)
MK II Ian Paice
Come Hell or High Water (1994)
Ian Gillan
16 meses
Roger Glover
Jon Lord
Nov/1993-
Ian Paice
Jul/1994
MK VI Ian Gillan Não lançou nenhum disco
Roger Glover
9 meses
Joe Satriani (G)
Purpendicular (1996)
Ago/1994- Jon Lord Abandon (1998)
Set/2002 Ian Paice Live at Olympia (1996)
MK VII Ian Gillan Total Abandon: Australia 99 (1999)
Roger Glover Live at The Royal Albert Hall (2000)
98 meses Steve Morse (G) Live at The Rotterdan Ahoy (2000)
Australasian Tour 2001

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Bananas (2003)
Set/2002- Rapture Of The Deep (2005)
Jul/2022 Ian Paice Live at Montreux 2006 (2007)
Ian Gillan Live at Montreux 2011 (2011)
MK VIII Roger Glover Now What?! (2013)
Steve Morse Live Tapes (2013)
Don Airey (T) Infinite (2017)
168 meses Whoosh! (2020)
Turning to Crime (2021)

Ian Paice
Ian Gillan
Jul/2022-
MK IX Roger Glover Ainda não lançou discos.
hoje
Don Airey
Simon McBride (G)

Quadro I – As formações do Deep Purple

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

A primeira formação do Purple lançou três discos em menos de dois anos.


Nesse início de carreira, as datas dos lançamentos americanos e ingleses
não coincidiam. Quando o terceiro LP do Purple foi lançado na
Inglaterra, Evans e Simper já haviam deixado a banda. O Quadro II traz
uma linha do tempo com a sequência dos fatos na Inglaterra e nos EUA.

Quadro II – Linha do tempo com a comparação entre as datas de


lançamento dos primeiros discos da banda nos Estados Unidos e Inglaterra

Uma coisa que o Purple não teve em comum com muitas das maiores
bandas da história foi que seu primeiro disco não causou um grande
impacto, ao contrário do que aconteceu com o Black Sabbath e o Led
Zeppelin, só para ficar com os exemplos mais manjados. Na verdade, todo
fã sabe que o verdadeiro som da banda começou no quinto disco. Por mais
boa vontade que se tenha com o som do Deep Purple no início de carreira,
o fato é que se não houvesse surgido a MK II e o “In Rock”, a banda teria

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

virado, no máximo, uma banda “cult”, no mau sentido, ou seja, uma


representante daquele tipo de culto àquilo que não fez muito sucesso
porque não era fora do comum, mas tem lá suas qualidades. Nesse tipo
de culto, o fato da pessoa dizer que conhece tal banda ou artista ou
escritor ou cineasta obscuro faz dela alguém com um gosto diferenciado,
que não segue a onda da maioria. No mundo do Rock está cheio disso,
gente que comenta que “curte muito certa banda tailandesa que só gravou
um disco e que é raríssimo, mas, nossa, é um puta som! Pena que você
não conhece!”.

De volta aos negócios. Como a MK I não teve o retorno esperado, apesar


de produzir um sucesso considerável – a regravação de Hush, que
frequentou as paradas americanas –, foi necessário mexer nos recursos
humanos, principalmente no vocal. Rod Evans não se encaixava no perfil
de profissional que a banda precisava. Segundo palavras de Jon Lord, ele
era “uma mistura de Tom Jones com Engelbert Humperdinck”. Evans e
Simper saíram e chegaram Gillan e Glover. Essa foi a mudança
fundamental para a fama do Purple e a fortuna dos empresários (aqui
também incluídos gravadoras, promotores de shows etc). Ela também
iniciou a tradição de troca de integrantes, que, com a exceção de Joe Lynn
Turner, mostrou que os músicos do Purple desenvolveram um ótimo
instinto para escolher os substitutos dos que partiram.

Com a entrada de Gillan e Glover houve um encontro raro – cinco


músicos acima da média, capazes de compor, improvisar e executar seus
papéis como poucos no cenário do Rock, produzindo música de excelente
qualidade. Ritchie Blackmore é um guitarrista criativo e técnico, capaz de
executar solos que unem sensibilidade e velocidade, com um estilo
personalíssimo. É um daqueles guitarristas que se reconhece à audição
das primeiras notas. Ian Gillan tem uma rara extensão vocal, indo das
notas graves para as agudas com grande facilidade, além de ter a
capacidade de emitir gritos inimitáveis. Pelo seu talento, comportamento
e até mesmo aparência (esta, a menos importante das três), Gillan foi
durante muito tempo o epítome do vocalista de Rock. Sua entrada no
Purple teve, ainda, outro efeito, nem sempre destacado – ele trouxe um
pouco mais de bom humor à banda, tanto pelo comportamento, como

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

pelas suas letras. Para mim, ambos são os maiores de todos os tempos em
suas especialidades. Ninguém supera Blackmore na guitarra e Gillan
como vocal. Hendrix? Zappa? Plant? Rodgers? Todos eles são grandes,
incontestáveis e merecem todo respeito. Para mim, no entanto, os
maiores são mesmo Gillan e Blackmore, nesta ordem. Questão de opinião
e, ainda bem, que a sua, provavelmente, é diferente.

Assim como ocorre com Blackmore, Ian Paice é um músico com um


estilo pessoal, o que não seria algo muito especial se não se tratasse de um
baterista, cujo instrumento não dá muita margem para marcar um estilo.
Tanto é verdade que poucos no mundo do Rock têm esse diferencial:
Bruford, Powell, Bonham e poucos mais. Paice é detentor de algumas
outras peculiaridades, como conseguir acompanhar uma banda de Rock
das mais barulhentas usando um kit mínimo na bateria. Em boa parte da
carreira da banda sua bateria era composta por um bumbo, um tontom e
dois surdos (veja a foto à frente). Outro detalhe no estilo do baterista é
conseguir mesclar o peso e com a sutileza. Jon Lord é um tecladista que
reina sozinho no mundo do Rock pesado. Músicos com sua habilidade e
técnica normalmente migram para o Rock Progressivo. Lord tinha
bagagem para isso, conforme pode ser comprovado ao longo de sua
carreira-solo. Roger Glover não é apenas um músico – é um artista:
compositor, produtor, além de ser um baixista talentoso. Talento que é
um tanto mais demorado para ser identificado, pois tradicionalmente os
baixistas são desfavorecidos nas mixagens dos discos de Rock. Em um
trecho de uma entrevista contida no livro de Poppof (veja detalhes no
Capítulo 26: Bibliografia) Paice compara os estilos de três baixistas
conhecidos: “quanto menos notas o baixista toca, mais notas eu posso
tocar. Roger deixa vazios para que eu possa fazer coisas. Glenn tocava de
um jeito diferente, seu estilo era o de preencher mais os vazios com notas.
Não quero dizer que um seja melhor do que o outro, mas apenas que têm
estilos diferentes e eu devo me adaptar a eles. Toquei algumas vezes com
Paul McCartney e ele tem o mesmo estilo de Roger, ele deixa os vazios”.
Estes dois, Paice e Glover, formam a melhor “cozinha” (ou seja, a parte
da banda responsável por segurar o ritmo) do Rock de todos os tempos.
Essa é a minha opinião, compartilhada por milhares de pessoas mundo
afora.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Talvez fosse possível reunir outros cinco músicos com características


semelhantes, mas não daria na mesma coisa – não foram apenas as
habilidades que formaram o som da banda. Houve uma combinação
química rara, um fenômeno de probabilidade infinitesimal de se repetir.
Imagino que seja possível provar isso cientificamente. Basta contabilizar
a quantidade de bandas profissionais de Rock que surgiram nos anos 70
e os discos lançados e ver quantas delas conseguiram obter sucesso. É
verdade que nem sempre o sucesso comercial é proporcional à qualidade
do artista. Mas, evidentemente, não é o caso do Purple. Concorrência não
faltava, mas, apesar de inúmeras tentativas, nenhuma outra banda de
Rock conseguiu reunir tantas qualidades em termos de repertório,
desempenho ao vivo e em talentos individuais como o Deep Purple.

Voltando à história, como a maioria dos empresários, a HEC não teve a


necessária visão estratégica de longo prazo e deixou a ganância falar mais
alto, o que quase matou sua galinha dos ovos de ouro. O Deep Purple
com a MK II estourou, vendeu discos aos milhões ao redor do mundo e
foi explorada ao máximo. Excursionavam sem parar. Chegaram a fazer
quatro turnês pelos EUA em 1973. Os discos, com exceção do “Machine
Head”, eram gravados em sessões entre as excursões, de forma
fragmentada. Isso criou um grande desgaste interno. Os músicos
padeciam com doenças e com o estresse do entra e sai de hotéis e palcos.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Um exemplo desse desgaste aconteceu no último show de uma turnê pelo


Reino Unido. Glover não conseguiu ir até o fim da apresentação devido a
fortes cólicas no estômago, algo que ele sofria há vários meses em vários
graus. O baixista Chas Hodges, da banda de abertura Heads, Hands &
Feet, entrou para tocar o encore (Lucille). O sempre piedoso Blackmore
não perdeu a chance de comentar que eles deveriam incorporar a doença
de Roger Glover no ato. Seria um final espetacular do show se ele pudesse
cair morto e permitir que seu corpo fosse cremado no palco!

Todo esse contexto acabou gerando atritos internos e os dois maiores egos
tiveram que se separar. Gillan foi embora e Blackmore ficou.

Uma amostra esdrúxula da falta de domínio da HEC sobre as técnicas


empresariais foi a tentativa de lançar um papel de parede com a grife
“Deep Purple”. Eu não escrevi errado – “papel de parede”! Por sorte, eles
expuseram a ideia à banda antes de fechar o negócio e os músicos,
evidentemente, os fizeram deixar de lado tal empreitada, enterrando,
prematuramente, uma ideia revolucionária em termos de merchandising
no Rock, só superada pela grife de caixões lançada décadas depois pelo
Kiss.

Saíram Gillan e Glover. Chegaram Coverdale e Hughes. Duas escolhas


perfeitas. Um problema apenas – Hughes era o vocal de sua banda
anterior, Trapeze. Ele chegou ao Purple dizendo que não se conformaria
em ficar só como vocal de apoio. Essa situação só se sustentou no começo
porque Coverdale era um novato, o Purple foi sua primeira banda
profissional. A história de Coverdale é impressionante. Um cantor
amador, que ganhava a vida como balconista de butique em uma
cidadezinha da Inglaterra e que, de repente, se tornou o vocalista de uma
das maiores bandas do planeta. Dez meses após ele ser integrado, o Purple
se apresentou no California Jam. Ele teve que subir ao palco e cantar para
mais de 200.000 pessoas na sua primeira vez fora da Europa. É preciso ter
peito, hein? Coverdale não é um sobrenome muito comum, então é
possível que David tenha como ancestral Myles Coverdale, conhecido por
ter feito a primeira transcrição completa para o inglês moderno da Bíblia,
em 1535.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Uma prova da força de vendagem do Purple – neste recorte de outubro de 1973


o Deep Purple aparece com três discos entre os 20 mais da revista americana
Circus.

Com o passar do tempo, o fato de Hughes aumentar sua participação


como vocal nos discos e, principalmente nos shows, foi gerando um
incômodo. Coverdale ficava muito tempo ausente do palco durante as
apresentações ao vivo, boa parte disso devido à tradição de longos
improvisos instrumentais nos shows da banda. Gillan deu um jeito de
reduzir sua ausência nos vocais tocando congas. Coverdale não tocava
nenhum instrumento e o problema de passar muito tempo nos bastidores
dos shows se agravou na era Bolin, pois, além das improvisações, Hughes
cantava algumas faixas sozinho. O descontentamento de Coverdale foi
aumentando gradativamente, fato que, somados aos problemas de Bolin
com as drogas e à falta de uma liderança, precipitou o fim da banda, em
1976. A vinda de Bolin para o lugar de Blackmore, que saiu por diferenças
musicais, em 1975, foi mais uma das escolhas acertadas da banda,
considerando apenas a questão do talento. Bolin era um guitarrista com
aquela qualidade rara – tinha um estilo pessoal de tocar, reconhecível às
primeiras notas. Também era um compositor prolífico. Ao entrar na
James Gang, também substituindo um guitarrista famoso, Joe Walsh,
compôs quase todas as faixas do álbum seguinte, “Bang”. No Purple, foi
a mesma coisa. Bolin é autor ou coautor de nove das 10 faixas do “Come
Taste The Band”. Um talento até hoje subestimado. Entretanto, o lado
pessoal de Bolin tinha um complicador, pois ele era usuário de drogas
pesadas, que o levou a ser mais um na lista de Rockeiros mortos por
overdose, pouco tempo após a dissolução do Purple em 1976. Não ajudou
39
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

nada na autoestima de Bolin a má recepção


do público inglês, que não aceitava um
americano na banda. Que bela amostra de
idiotice. As ironias que poderiam ensinar
lições aos fãs ingleses não foram poucas: a
banda que acompanhou Blackmore em seu
disco solo ao sair do Purple era composta
por quatro americanos, todos do grupo Elf,
do vocalista Ronald Padavona, que depois
adotou o nome de Ronnie James Dio,
inspirado em Johnny Dio, um mafioso da
Florida que ele acabou conhecendo. Os
dois guitarristas que sucederam Blackmore
são americanos e, o mais doloroso exemplo
– o vocal que um dia sucedeu Gillan Blackmore no California Jam
também é yankee.

Túmulo de Bolin

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Anúncio e foto (tirada pelo Eremita) do show em São


Paulo da 1ª turnê no Brasil, em 1991.

O Purple ficou inativo até 1984, quando uma bolada oferecida pela
Polygram juntou a MK II novamente. A química foi restabelecida e a
banda gravou um disco clássico, “Perfect Strangers”. Em pouco tempo, as
velhas faíscas entre Gillan e Blackmore reapareceram e lá se foi o
vocalista, de novo. Para substituir Gillan pensaram em muitos nomes,
como o recém-falecido Brian Howe, da segunda formação do Bad
Company ou James Jamison, do Survivor (The eye of the tiger, lembram?)
e alguns outros, todos bem longe de honrar a tradição de boas escolhas.
Ao final, prevaleceu a opção de Blackmore e veio o lamentável ex-
companheiro de Rainbow, Joe Lynn Turner. Com essa formação (MK V)
41
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

o Purple veio pela primeira vez ao Brasil, em 1991. Não foi possível
continuar com Turner. A banda e, mais contundentemente, a gravadora,
pressionaram Blackmore a aceitar Gillan de volta. Ele veio e escreveu as
letras para o LP de 1992, “The Battle Rages On”. Segundo palavras de
Gillan, ele fez aquilo como um mero trabalho, não por amor.

Conforme declarou Lord no vídeo “Come Hell Or High Water”, Gillan e


Blackmore “não têm condições de conviver na mesma cidade, quanto
mais na mesma banda!”. Na mudança seguinte, quem saiu foi o
guitarrista. Para suprir a ausência de Ritchie, trouxeram outro americano,
o virtuose Joe Satriani. Este excursionou com a banda, mas não gravou.
Para seu lugar veio Steve Morse. Americano, de novo!

O Purple passou por várias crises de liderança, o que refletiu na sua


carreira, com muitos altos e alguns baixos. Por ter sido o cofundador da
banda, ao lado de Curtis, Lord assumiu naturalmente a condição de líder
do Purple nos primeiros anos de vida. A partir do “In Rock”, esse papel
foi assumido por Blackmore, guitarrista fabuloso e de gênio complicado.
Quando Blackmore saiu da banda, o Purple ficou sem um líder. Tommy
Bolin não repôs essa liderança e o Purple não sobreviveu. Após muitas
idas e vindas, as duas últimas formações do Purple revelaram seu terceiro
líder, Ian Gillan. Este, estranhamente, acabou herdando alguns
comportamentos de Blackmore. Em uma matéria na revista “Classic
Rock” de junho de 2006 sobre uma apresentação do Purple é citado que
Gillan usou um camarim só para si, enquanto o resto da banda ficava em
outro. Um detalhe no encarte do CD “Rapture Of The Deep” me chamou
a atenção, pelo seu caráter blackmore-primadoniano: na formação da
banda, como sempre, vem grafado o nome do músico e o respectivo
instrumento (por exemplo:
Roger Glover – bass), mas, no
caso do vocalista, vem apenas
“Ian Gillan”, como se fossem
desnecessários mais detalhes.

Aparentemente, a ausência de Blackmore estabilizou a banda. As últimas


formações do Purple foram as mais duradouras (MKs VII e VIII). Steve

42
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Morse tomou de Blackmore o título de guitarrista com mais apresentações


pelo Deep Purple. Em julho de 2022, Steve anunciou que precisaria sair
da banda para cuidar de sua esposa, em tratamento contra o câncer. Os
períodos prolongados que os shows e as atividades de estúdio demandam
impediriam que ele desse o suporte familiar que a situação requer.

Foi então recrutado o irlandês Simon McBride, conhecido dos que


acompanham as atividades da Família Purple, pois ele participou da Don
Airey Band, que acompanhou Gillan em uma excursão pelo leste europeu
em 2019 e que rendeu três discos/vídeo ao vivo. Essa mesma banda gravou
o álbum solo de Don Airey, One of a Kind, de 2018.

O Quadro III, a seguir, traz os nomes completos, as datas e locais de


nascimento de todos os músicos que integraram o Purple. Na versão 4.0
foi corrigido o nome do meio de Blackmore. Segundo o site “More Black
than Purple” (veja item B.8 do Apêndice), não é “Harold”, como consta
em quase todas as fontes, mas sim “Hugh”. Sobre as datas, é curioso notar
que Bolin e Turner nasceram com apenas um dia de diferença.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Quadro III – Os músicos

Ian Anderson Paice


29.jun.1948
Nottingham
Inglaterra

Jonathan Douglas Lord


09.jun.1941 - 16.jul.2012
Leicester
Inglaterra

Richard Hugh Blackmore


14.abr.1945
Weston-super-Mare
Inglaterra

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Roderick Evans
19.jan.1947
Edimburgo
Escócia

Nicholas Simper
03.nov.1945
Southall
Inglaterra

Ian Gillan
19.ago.1945
Hounslow
Inglaterra

Roger David Glover


30.nov.1945
Brecon
País de Gales

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

David Coverdale
22.set.1951
Saltburn-on-Sea
Inglaterra

Glenn Hughes
21.ago.1952
Cannock
Inglaterra

Thomas Richard Bolin


01.ago.1951 - 04.dez.1976
Sioux City
Estados Unidos

Joseph Artur Mark Linquito


02.ago.1951
Hackensack
Estados Unidos

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Joseph Satriani
15.jul.1957
San Francisco
Estados Unidos

Stephen J. Morse
28.jul.1954
Hamilton
Estados Unidos

Donald Smith Airey


21.jun.1948
Sunderland
Inglaterra

Simon McBride
09.abr.1979
Belfast
Irlanda do Norte

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

O nome Deep Purple

A versão oficial da escolha do nome é das mais


conhecidas: era esse o título da música predileta da avó
do Blackmore. Ela foi composta em 1933 por Pete
DeRose e era instrumental. A primeira gravação é de
1934 por Paul Whiteman and his Orchestra. As letras
foram inseridas somente em 1938, por Mitchell Parish
(When the deep purple falls over sleepy garden walls and Partitura da
canção “Deep
the stars begin to twinkle in the sky...). Mas a primeira Purple”
versão a fazer grande sucesso foi a de Larry Clinton and
His Orchestra, gravada em dezembro de 1938, tendo no vocal Bea Wain.

Por coincidência, Deep Purple era também o


nome de um alucinógeno famoso que circulava
pelos Estados Unidos no final dos anos 60.
Quando a banda começou sua primeira turnê
americana, acabou atraindo o pessoal “doidão”,
pelo nome “maneiro”. O Purple então abriu duas
frentes de mercado – a parada Pop, com o êxito de
Hush e junto ao circuito underground, por causa do nome.

Esse nome, hoje tão famoso, também foi usado em três livros. Um deles
é do escritor inglês de histórias de espionagem, Ted Allbeury, já falecido,
que lançou em 1990 o grande clássico da literatura contemporânea “Deep
Purple” (seguem reproduções de duas de suas várias capas). Outros livros
a usar o mesmo nome da banda foram os romances de Parris Afronbond
e da mundialmente aclamada autora de textos eróticos Mayra Montero.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Os logotipos

O Deep Purple foi uma das poucas bandas famosas que não consolidou
um logotipo. Isso é algo impensável para os grupos de hoje em dia, que,
antes de qualquer coisa, criam seu logotipo. Dependendo do estilo de
Rock que a banda faça, conseguir ler o que diz o logotipo é um grande
desafio.

O primeiro logotipo utilizado pelo Deep Purple foi o formado pela fonte
usada na edição do “Shades” original, reproduzida no bumbo da bateria
do Paice durante certo tempo. Depois disso, só foi surgir uma nova
logomarca na capa do “Stormbringer”. Esta foi a que mais agradou aos
fãs. Quando o Purple retornou, em 1984, foi criado o logo do “P” dentro
do “D”, que não é exatamente um primor em termos de estética e
criatividade. Outras tentativas surgiram, como as presentes no disco ao
vivo em Montreux e na turnê da segunda edição do “Concerto”.

Primeiro logotipo da banda, usado durante algum tempo na bateria de


Paice

49
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Nenhuma delas prosperou. Até hoje, a mais usada é mesmo a criada para
o “Stormbringer”, até mesmo para identificar álbuns das MK em que
Gillan participa. Seguem algumas ilustrações sobre o “caso do logotipo”.

Acima: o logo mais legal de todos, em


minha opinião e da maioria dos fãs. Na
linha de baixo, à esquerda: o criado para o
“Perfect Strangers”, largamente utilizado
pela mídia e no merchandising da banda.
Se esse logo já não era lá essas coisas, ficou
ainda pior da forma que foi usado na capa
do “House Of Blue Light”. Ao lado dele, o
que ilustrou a capa do Book Tour da
segunda edição do “Concerto”. À
esquerda, o que apareceu na capa do CD
“Live In Montreux 1996”.

Em suas raríssimas viagens, o Eremita só se


hospeda em hotéis como esse, cujo logo se
parece com os do Deep Purple.
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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

PARTE II – Núcleo

Esta parte traz a discografia comentada, faixa a faixa, dos LPs de estúdio
do Deep Purple. O “Concerto For Group”, embora seja um disco gravado
ao vivo, foi incluído porque tem um repertório próprio, não presente em
outros discos de estúdio.

No início de cada capítulo há um quadro com a reprodução da capa, a


lista de faixas e a ficha técnica do disco comentado. Os dados
correspondem às versões inglesas: capa, código da gravadora, data de
lançamento e informações sobre a gravadora. Também são ingleses os
dados sobre os compactos. Até o “Come Taste The Band”, os dados da
gravadora e a divisão das faixas são os que constavam nos discos em vinil.
A partir do “Perfect Strangers” os dados citados são os das versões em
CD.

O critério das notas e conceitos

Os discos são apresentados faixa a faixa. Ao final do comentário de cada


faixa foi atribuída uma nota, entre zero e 10. A pontuação das faixas foi
baseada no Quadro IV. O critério de atribuição das notas é absolutamente
pessoal e, portanto, subjetivo, o que, provavelmente, me tornará
impopular entre os exíguos fãs da banda que lerem este texto. Paciência.
Cabe um comentário sobre as notas atribuídas. É impossível deixar de
lado certa relatividade entre as notas e as composições. O que quero dizer
é que se a música Burn recebeu nota dez, para outra composição também
obter a mesma nota, deve ser tão boa quanto. Isso fez com que certas
faixas não recebessem dez, ou mesmo nove, apesar de ser uma das minhas
(ou das suas) preferidas. Outro efeito dessa “relatividade”, consequência
direta da criatividade e competência da banda, é que, muitas músicas, se
estivessem em discos de outros grupos, poderiam receber notas mais altas.

O total de pontos foi dividido pelo número de faixas para se obter a média
do disco. Essa média aparece no início de cada capítulo, ao lado da

51
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

reprodução da capa, logo abaixo da identificação da formação (“Mark”)


que gravou o disco em questão.

Nota Qualificação Grupo


10 Obra-prima, irretocável
9 Excelente
Faixas clássicas
8 Ótima
7 Boa
6 De regular para boa Faixas que, em sua maioria, serviram
para completar o disco, mas que mesmo
5 Regular assim agradam parte dos fãs. Algumas até
chegaram a ser executadas ao vivo,
4 De regular para fraca
outras entraram em coletâneas.
3 Fraca
2 Muito fraca
Faixas que não precisavam ter sido
1 Abaixo da crítica gravadas
Desonrou o nome da
0
banda

Quadro IV – critério das notas para as músicas

Vale destacar que as notas entre 10 e 7 estão agrupadas como “Faixas


clássicas”, considerando um conceito particular do que seja um clássico
do Rock. A expressão “Classic Rock” vem sendo usada de uma forma um
tanto leviana. De uns tempos para cá, Rock antigo, ou seja, gravado no
século passado – veja bem, qualquer um – virou “Classic Rock”.
Discordo.

Sem querer repetir cacoetes de outras gerações, que costumavam sempre


citar coisas do tipo “bom mesmo era na minha época”, o Rock de
qualidade teve sua produção concentrada nos anos 70. Dali em diante,
evidentemente, foram compostas grandes músicas e discos, mas,
proporcionalmente, a qualidade caiu muito. Todavia, nem tudo que foi
produzido nos anos 70 merece esse rótulo de “clássico”. Muita coisa ruim
foi produzida naquele período. Afinal, o que é “Classic Rock”? Para mim:

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

música tão bem feita que permanece atual e que você escuta milhares de
vezes e não enjoa. Poderia ser uma definição com palavras mais bem
escolhidas, mais erudita, para, quem sabe, ser citada futuramente em
compêndios Rockeiros, mas, não tenho essa ambição. Outro jeito de saber
se temos ou não um clássico é ouvir um (ou “uma”? Nunca sei) cover.
São raríssimos os casos em que a cover de um Rock Clássico fica melhor
do que o original. Isso inclui versões regravadas pelos próprios autores.

Voltando à organização deste trabalho que tens na tela de seu


computador, além das faixas, as capas dos discos do Purple também foram
aqui avaliadas. O espírito foi o mesmo, ou seja, um julgamento
meramente qualitativo. Neste caso, em vez de notas, foram aplicados
conceitos, de A a D, conforme mostra o Quadro V.

Conceito Qualificação
A Capa atraente e criativa
Boa ideia, mas que poderia ter sido mais bem executada ou boa
B
ideia, mas sem ser candidata a constar em uma antologia de capas
C Capa discreta, que não arranca grandes suspiros
D Capa infeliz

Quadro V - critério dos conceitos para as capas

O Capítulo 26 apresenta um balanço das médias dos discos e uma


classificação das melhores músicas e capas.

Não foram incluídos os detalhes sobre as edições brasileiras, apenas


algumas das datas de lançamento. Os detalhes sobre os discos em vinil
lançados no Brasil podem ser obtidos em outra maravilhosa e retumbante
publicação: a “Discografia Brasileira do Deep Purple”, disponível na
Internet (Apêndice – ref. A.2). Segue uma pequena amostra do conteúdo
dessa obra tão dispensável.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 3
Shades Of Deep Purple

A
1. And the address (4:36) Produção: Derek Lawrence
2. Hush (4:11) Gravação: Pye Studio, Londres
3. One more rainy day Engenheiro: Barry Ainsworth
(3:15)
4a. Prelude: happiness Capa: Les Weisbrich (*)
(2:45)
4b. I’m so glad (4:53) Lançamento: setembro de 1968
B Gravadora/Selo/Código: EMI/Parlophone/PCS 7055
5. Mandrake root (5:55) Lançamento no Brasil: 1977
6. Help (5:45)
7. Love help me (3:34) (*) creditado na edição americana. Não tenho
8. Hey Joe (7:38) informações sobre o crédito da versão inglesa.

Visão geral

O primeiro disco do Deep Purple, assim como os três seguintes, não


trouxe o som que tornou a banda famosa. Minha primeira audição do
disco foi tardia, por ocasião do seu lançamento no Brasil, em 1977, e
acabou sendo decepcionante. É certo que o DNA do som da banda está
presente, concentrado mais no desempenho dos músicos do que nas
faixas. Paice aparece muito bem. Lord e Blackmore já exibem suas
técnicas como solistas. Lord é quem prevalece, com Blackmore em
segundo plano. O som da guitarra não é ainda aquele que o consagrou,

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

pois nos primeiros discos (até em algumas faixas do “In Rock”) ele usava
uma Gibson. Por sorte ela fez parte do acordo de separação entre
Blackmore e sua primeira esposa, o que o fez passar a usar a Fender, de
som bem mais agradável.

A pressa de fazer o investimento da HEC render era tanta que a banda,


formada em março de 1968, em julho do mesmo ano já tinha o primeiro
disco lançado nos EUA. Curiosamente, só saiu na Inglaterra em
setembro. Entretanto, no seu país de origem, a vendagem foi um fiasco.
Isso pode ser explicado pelo fato de, como um todo, o disco carecia de
atributos. O nome, a capa e, principalmente, o repertório não tinham
nenhum diferencial que destacasse a banda em meio a um ambiente que
passava por uma revolução criativa, com o lançamento de discos cheios
de novas ideias como “The Piper At The Gates Of Dawn” do Pink Floyd
ou “Are You Experienced”, de Jimi Hendrix, entre muitos outros.

Como o som do grupo ainda estava indefinido, o disco é uma reunião de


apostas em várias direções e estilos. Temos canções Pop, um pouco de
Rock progressivo, instrumentais e, pela falta de tempo para criar um
repertório próprio, o disco foi preenchido com várias covers. Ficou uma
colcha de retalhos, sem uma identidade. Por sorte dos empresários, uma
das apostas deu certo. O compacto com a regravação de Hush fez sucesso
nos EUA, atingindo o 4o lugar na lista da Billboard, o que não era pouca
coisa. Isso tornou a banda conhecida na América e rendeu muito dinheiro
ao Purple e a seus empresários. O surpreendente desempenho do
compacto puxou as vendas do LP, que atingiu a 24a posição na lista dos
mais vendidos nos Estados Unidos. Na sua pátria de origem, não pontuou.

Outro fator que pesou para que o disco não obtivesse um grande impacto
no público inglês foi a produção. O produtor Derek Lawrence foi indicado
por Blackmore, que o conhecia de suas andanças como músico de estúdio.
Um artifício usado por Lawrence foi inserir como ligações entre as faixas
vinhetas extraídas de um banco de efeitos sonoros. Isso deixou o disco
datado e nada acrescentou em termos artísticos. A sonoridade também
poderia ser melhor. O som em geral tem brilho demais, principalmente o
da bateria, que ficou muito destacada e “seca” na mixagem. O som do

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

baixo ficou um pouco mais “duro” do que o desejável. Ôpa! Para quem
queria tornar os comentários os mais objetivos possíveis, esses adjetivos
ladeados por aspas poderiam ser considerados imperdoáveis. Peço perdão
por isso. Ainda em relação ao trabalho do Sr. Lawrence, considero que a
produção neste disco resultou conservadora, quando comparada a
algumas de suas contemporâneas.

Pela sonoridade, arranjos e presença dos solos, fica claro que nesse início
era Lord quem liderava a banda. Essa liderança foi gradativamente
enfraquecendo, diante da personalidade mais forte de Blackmore. A
mudança do som, que se materializou no “In Rock”, foi atendendo aos
desejos do guitarrista, que passou a conduzir a banda dali em diante.

Título

Trocadilho, aproveitando a referência cromática do nome da banda


(“Púrpura profunda”). Então, com o acréscimo de “Shades Of” ficou algo
como “tonalidades de um púrpura profundo”. Meio depressivo e,
portanto, pouco indicado para um disco de estreia.

Capa

A original trazia uma foto terrível da banda, com um previsível fundo


roxo. Os músicos estão vestidos feito janotas e exibindo uns penteados
bufantes, feios de doer. A versão americana é um pouco melhor. A mesma
foto é reproduzida várias vezes, em dégradé de roxo, buscando refletir a
ideia do título. A versão japonesa acabou sendo a melhor das três,
mostrando somente os rostos dos músicos. A capa da versão brasileira,
com uma guitarra emergindo, tendo o sol ao fundo é de uma reedição,
que fez parte de uma série batizada de Heritage pela EMI inglesa.
Conceito: D.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capas das versões americana, japonesa e da reedição de 1977.

As faixas

And the address


Blackmore/Lord

Primeiro disco de uma nova banda, sendo que um dos componentes é um


vocalista e logo a faixa de abertura é instrumental? Não foi uma boa
escolha. O número não é dos mais fortes, ainda mais se levarmos em conta
que se trata da abertura do disco. Foi uma das primeiras composições da
dupla Lord-Blackmore.
Nota: 5

Hush
Joe South

Foi a mais bem sucedida musicalmente entre todas as covers presentes no


disco, pois as outras tiveram registros difíceis de serem batidos (Beatles,
Hendrix, Cream…). É uma composição do premiado compositor,
guitarrista e cantor americano Joe South, falecido em 2012, aos 72 anos.
Sua autoria mais conhecida no Brasil é Rose garden (teve mais de 100
versões gravadas, uma delas pelos Fevers – intitulada Mar de rosas). A
primeira gravação da Hush foi a do americano Billy Joe Royal, em
setembro de 1967, que atingiu o 52º posto na Billboard. A versão do
Purple fez muito, muito sucesso nos EUA. Em 2010 eu estava assistindo
ao filme “Uma vida sem limites” (“Beyond the sea”), que conta a biografia
de Bobby Darin. Tem uma cena em seu apartamento em que ele recebe

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

uma visita. O ano é 1968. No toca-discos rola Hush e a capa do LP (a


original inglesa) pode ser vista na estante, ao fundo. Tommy Bolin ao
entrar para o Purple disse que só conhecia duas músicas da banda: Smoke
on the water e...Hush! O Purple gravou uma nova versão em estúdio (ela
frequentemente aparece no repertório dos shows da banda), que saiu
como single associado ao álbum ao vivo “Nobody’s Perfect”. Mais
recentemente, Hush foi incluída, assim como Kentucky Woman (cujo
trecho tocado tem entre um e dois segundos), na trilha sonora de “Era
uma vez em Hollywood” (“Once upon a time...in Hollywood”), filme de
2019 de Quentin Tarantino. O fato de ter sido um sucesso trouxe
vantagens e desvantagens. As vantagens são as óbvias: sucesso = dinheiro
+ mulheres. Mas a principal desvantagem foi ter indicado que o caminho
da banda poderia ser o de produzir sucessos Pop, o que foi repetido no
disco seguinte.
Nota: 7

One more rainy day


Evans/Lord

Canção com forte apelo Pop, melodiosa, com vocais suaves e andamento
lento. A única sem solos. À primeira vista (ou ouvida), é a que teria mais
chance de virar sucesso, maior mesmo do que a Hush, mas, não estourou.
Nota: 6

Prelude: happiness
Blackmore/ Evans/Lord/Paice/Simper

Rápido número instrumental, mais para o progressivo, dominado por


Lord, que incluiu nele algumas citações da obra clássica Scheherezade de
Rimsky-Korsakov. Nos dois discos seguintes esse formato seria repetido,
com uma faixa dividida em partes “a” e “b”, sendo a primeira uma
introdução instrumental. Aqui surge a primeira mostra de algo que se
tornaria frequente ao longo da carreira da banda – a influência da música
clássica nos arranjos. Às vezes, a música clássica surge na forma de
composições próprias, como neste caso. Outros exemplos aparecem nos
dois discos seguintes, em uma tendência crescente que culminou com a
composição do “Concerto”. Lord sempre teve o hábito de fazer citações
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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

de trechos de obras de outros compositores no meio das músicas, como


fez na Hey Joe e muitas outras comentadas ao longo deste texto.
Blackmore também tinha esse hábito.
Nota: 6

I’m so glad
Skip James

A segunda cover do disco e o primeiro dos três casos em que a regravação


executada não conseguiu bater a original (ou, nesse caso específico, a
versão mais conhecida). Esta também foi gravada pelo Cream, que
conseguiu um resultado bem melhor. Foi uma sugestão de Paice e Evans,
pois I’m so glad também fazia parte do repertório de sua banda anterior,
The Maze.
Nota: 4

Mandrake root
Blackmore/Evans/Lord

Vou começar registrando uma ideia maluca,


cretinamente de minha autoria. A raiz de
mandrágora, tradução do título, era um
ingrediente associado à bruxaria, na idade
média. Todo mundo se lembra daquelas
histórias nas quais a bruxa preparava a famosa
torta de escaravelho, que levava aqueles
ingredientes improváveis como perna de
cachorro e olho de lagarto. No final, só para
dar um saborzinho, a bruxa tascava lá uma raiz The mandacaru
de mandrágora. Aliás, esse era um segredo das
bruxas gourmet, descoberto recentemente em uma pesquisa bancada pela
National Geographic. A ideia maluca é que, para mim, esse termo,
mandrake root, chegou ao Nordeste brasileiro e acabou se transformando
em “mandacaru”, som que a expressão em inglês tem, se dita
rapidamente. A base científica dessa minha suposição é exatamente
nenhuma e o Houaiss dá outra etimologia para a palavra. Mas, se
engoliram aquela história de for all virar forró, por que não especular?
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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Voltando às questões musicais, o que temos? A faixa começa bem, sendo


a que tem mais elementos do futuro som Purple do disco. De cara um
bom riff, seguido pela parte cantada. Há uma ruptura um pouco antes da
metade e o ritmo muda, entrando os solos de Lord e Blackmore. A
transição do solo do primeiro para o segundo é feita usando um fraseado
que passou a ser utilizado com a mesma função nos longos improvisos ao
vivo, até muitos anos depois, como na versão de Space Truckin’ do “Made
In Japan”, por exemplo. A Mandrake Root cumpria esse mesmo papel, ou
seja, de ser a introdução aos improvisos nos shows dos primeiros anos do
Purple, se estendendo muitas vezes por mais de meia hora. O Deep Purple
sempre foi uma banda especial de se assistir. Uma das marcas nas
apresentações ao vivo surgiu nos primeiros shows, o já comentado hábito
de citar de trechos de outras músicas, fossem elas clássicas, populares, de
desenho animado, do folclore, qualquer coisa que viesse à mente de
Blackmore e Lord no momento dos longos solos e improvisos.

Quem quiser ter uma boa ideia do que eram as tantas vezes citadas
limitações vocais de Evans em relação aos futuros planos musicais da
banda é só ouvir esta mesma faixa com o Gillan, em versão ao vivo, como
as que constam nos discos “Scandinavian Nights” e “In Concert”. Outra
curiosidade: “Mandrake Root” era o nome da banda que Blackmore tinha
antes de entrar no Purple.

Em 2012 surgiu no YouTube um vídeo com a música Lost soul, creditada


a Bill Parkinson, um guitarrista e compositor pouco conhecido, autor de
uma canção que chegou ao segundo lugar da parada de compactos inglesa
em 1971 (Mother of Mine, que recebeu em 1977 uma versão dos – eles,
de novo – Fevers, rebatizada para Mãe). No YouTube, Lost soul é
reproduzida tendo o tempo todo uma foto (que aparenta ser relativamente
recente) de Bill segurando uma guitarra. Segundo o texto que acompanha
o vídeo, essa composição surgiu quando o guitarrista acompanhava o
cantor americano P.J. Proby e era usada na abertura dos shows.
Posteriormente, Bill entrou para a banda de Screaming Lord Sutch, cujo
então baterista Carlo Little (falecido em 2005) acabou usando Lost soul
como introdução ao seu solo. Ainda segundo Bill, Ritchie conheceu o riff
de Lost soul por meio de Carlo e o usou em Mandrake Root. A polêmica

61
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

não acaba aí. Bill afirma que pouco depois ficou sabendo da apropriação
de Ritchie, interpelou os empresários do Purple, que lhe pagaram para
que não entrasse em juízo e ele aceitou. Para completar, ele alega que no
final da música há uns compassos que também foram copiados por Ritchie
para compor o riff de Smoke on the Water! Ouvindo a gravação do
YouTube, duas coisas são inegáveis: o riff é MUITO parecido mesmo com
o de Mandrake Root e no final realmente há os tais compassos que são
semelhantes à da Smoke. Bill Parkinson está certo? Bem, é difícil
comprovar. Não consegui localizar um registro oficial de Lost soul. Há
apenas o arquivo do YouTube, que, embora tenha sonoridade de uma
gravação antiga, pode ter sido produzido em qualquer tempo. Outra coisa
que chama a atenção é por qual motivo Bill Parkinson só se pronunciou
tantos anos depois?
Nota: 7

Help
Lennon/McCartney

Uma releitura curiosa da música dos Beatles, em andamento lento e tom


melancólico. Segundo consta nas biografias dos Beatles, essa era a ideia
original, que combinaria mais com o sentido da letra, que trata de alguém
com problemas, pedindo ajuda. Mas, apesar da boa ideia, a execução do
Purple não é muito entusiasmante. Exageraram um pouco na
dramaticidade, especialmente Evans, que tinha essa tendência, algo que
deve ter contribuído para sua saída da banda. De novo o problema que se
repetiria muitas vezes nos dois primeiros discos: perde muito quando se
compara com a versão original. A gravação de “covers” era também uma
característica da banda americana Vanilla Fudge, cujo som claramente
influenciou o Purple na fase inicial. Cabe aqui um comentário sobre
“covers”. O caso da Help eu reputo como uma tentativa válida, a de
regravar uma música tentando acrescentar algo ou modificar a versão
original, dando uma nova roupagem. O Vanilla Fudge também criava
novos arranjos para suas versões. Isso é aceitável. De que adianta regravar
uma música, repetindo-a nota por nota? Isso, infelizmente, é a situação
mais comum que encontramos. Nos anos noventa houve uma onda de
discos tributo, quando músicos variados se reuniam para gravar covers de

62
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

bandas ou artistas famosos. Em geral, as covers eram simples repetições


dos arranjos originais, sem nenhuma novidade. Qual é o valor artístico
disso?
Nota: 5

Love help me
Blackmore/Evans

Outra faixa mais para o Pop. Poderiam tê-la colocado em outra posição
no disco. Ficou esquisito, uma faixa intitulada Help seguida de uma
chamada de Love help me. Os solos de Blackmore usando o pedal wah-
wah não acompanham bem o clima da música. Nessas horas é que é
importante a participação do produtor, indicando ou sugerindo as
intervenções mais adequadas dos músicos. Esta é a única faixa do disco
em que só há um solista.
Nota: 4

Hey Joe
Billy Roberts

Outra versão. Esta perde feio para a do Hendrix, em parte pela


interpretação excessivamente dramática de Evans e em parte pelo arranjo
muito rebuscado. O início é baseado na música The Miller’s Dance que
faz parte de uma trilha sonora para balé de Manuel de Falla, chamada
“The three-cornered hat”. Obviamente minha cultura musical não é
assim tão vasta a ponto de conhecer tal obra (ainda mais sendo para
balé!). Na verdade eu li, ôps, pesquisei – é um termo melhor, dá uma
pinta mais séria à coisa toda – essa informação em um dos livros-fonte.
Nota: 5

Complementos

Extraídas das versões do LP, as faixas Hush/One more rainy day


compuseram o primeiro compacto da banda e antecederam o lançamento
do álbum na Inglaterra em alguns meses. Esse compacto saiu no Brasil!
Para mais detalhes sobre isso, consulte a “Discografia Brasileira do Deep

63
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Purple” (Apêndice, ref. A.2). Apesar do sucesso que fez nos Estados
Unidos, esse compacto nem ao menos pontuou na parada inglesa.

Uma das muitas provas da qualidade da obra musical do Deep Purple é


que os seus discos de estúdio vêm sendo relançados em edições especiais
comemorativas dos 25, 30, 35 (e por aí vai) anos de lançamento do
original. Mesmo sem se constituírem no filé do legado do Purple, os
primeiros discos também foram objeto de relançamentos, seguindo o
padrão que se tornou rotineiro nesse tipo de projeto – faixas extras e
encarte com muitos dados e fotos históricas.

A reedição especial do “Shades” fez parte de uma série de CDs lançadas


em 2000 (no Brasil também) que reuniu os três primeiros discos sob o
título de “The Original Deep Purple Collection”. Ela trouxe cinco faixas
extras, três delas sendo versões diferentes das presentes no disco original.
A faixa Love help me aparece em versão instrumental. Isso se mostrou
muito legal no caso da edição especial do “Fireball”, que trouxe a faixa-
título desse modo, sem o vocal. Além de mostrar a competência da
cozinha Paice-Glover, também pode ser usada como karaokê! No caso da
Love help me, é pouco provável que alguém tenha se aventurado a isso.
Há, ainda, uma faixa inédita, Shadows, que foi excluída do disco original.
De uma forma geral, faixas extras não são grande coisa - se ficaram de
fora é porque a banda julgou que não eram melhores do que as que foram
para o disco. Outra coisa a se considerar é o contexto: uma coisa é ficar
de fora do “Shades”, outra é ser excluída do “Machine Head”. No caso
em questão, essa faixa inédita realmente não acrescenta nada de relevante
à obra da banda. A reedição vale pelo encarte.

Existe outra edição especial em CD chamada “The Early Years”,


coletânea contendo 14 faixas da MK I, algumas em gravações diferentes
das originais. Neste, cinco são do “Shades”, quatro em versões remixadas.
Também vale pelo encarte, cujo texto interno repete uma sutil tendência
presente em todas as reedições da MK I em sobrevalorizar a qualidade
desses discos. O CD do “Shades” referente à “Original Deep Purple
Collection” é de 2000, recebendo no Brasil o código de catálogo EMI
7243 4 98336 2, da EMI Music. O “Early Years” é de 2004, também teve

64
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

lançamento brasileiro, sob código 07243-596611-2-4, pela mesma EMI


Music (capas reproduzidas a seguir).

Uma curiosidade final envolve o Purple, o produtor Lawrence e o


Wishbone Ash. Essa banda inglesa, que eu gosto bastante, abriu para o
Purple em uma de suas turnês e certa vez rolou uma jam deles com
Blackmore. Este os indicou à Derek Lawrence, que conseguiu um
contrato com a gravadora MCA e acabou produzindo os primeiros discos
do Wishbone, incluindo o indispensável “Argus”.

Acima, as capas das edições especiais


citadas no texto. Ao lado: as gravadoras
estão exagerando na exploração! A caixa
do anúncio traz 5 discos: os três da MK I,
sendo que os dois primeiros vem em duas
versões, mono (!) e estéreo. Sério, quem
vai achar novidade em gravações mono?

65
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 4
The Book Of Taliesyn

A
1. Listen, learn, read on (4:02) Produção: Derek Lawrence
2. Wring that neck (5:15) Gravação: De Lane Lea Studio, Londres
3. Kentucky woman (4:43) Engenheiro: Barry Ainsworth
4a. Exposition (2:52) Capa: John Vernon Lord
4b. We can work it out (4:14) Lançamento: Julho de 1969
B Gravadora/Selo/Código: EMI/Harvest/SHVL
751
5. Shield (6:00) Lançamento no Brasil: 1975
6. Anthem (6:29)
7. River deep, mountain high
(10:05)

Visão geral

“The Book Of Taliesyn” chegou às lojas dos Estados Unidos apenas


quatro meses após o primeiro disco. Tanta ansiedade em lançar um novo
álbum foi provocada pelo sucesso inesperado de Hush. Em tão pouco
tempo, não havia como a banda evoluir muito musicalmente. O disco
acabou seguindo a fórmula do anterior: algumas covers, uma possível
candidata à sucessão da Hush e uma misturada de estilos. A produção
também foi a mesma, de Derek Lawrence. Apesar do pequeno lapso, é
possível notar ligeiras melhoras na produção e na qualidade das

66
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

composições próprias. Onde houve uma queda foi na qualidade das


regravações. As três presentes neste disco são fracas. A vendagem do
álbum foi inferior à de seu antecessor, atingindo apenas a 54a colocação
nas paradas americanas. De novo, nada no ranking britânico.

Seja por superstição ou mera coincidência, o “Book” inaugurou o formato


de sete faixas por disco, ainda que a quarta faixa tenha sido dividida em
duas partes, fato que ocorreu nos três discos da MK I. A inclusão de sete
faixas por disco foi interrompida no “Concerto”, mas permaneceu até o
“Who Do We Think”.

Título

Segundo uma pequena nota presente na contracapa da edição americana,


Taliesyn era um bardo da corte do Rei Artur. Cada faixa seria uma forma
que a banda encontrou para interpretar sete diferentes sentimentos, sob
inspiração do tal Taliesyn. Então tá. Que tal esta outra forma de ver a
coisa: “Estamos em 1968. As bandas mais modernas e famosas estão
fazendo discos conceituais. Vamos nessa”. Apenas a primeira faixa tem
relação com o Taliesyn. As demais são faixas de estilos variados, sem
conexões com bardos medievais, sendo o caso mais claro Kentucky
woman.

Este disco foi o lançamento que inaugurou o selo Harvest (cujo logotipo
é de autoria de Roger Dean), divisão da EMI dedicada às bandas de
vanguarda, especialmente os progressivos. Obviamente, uma
concorrência ao selo Vertigo. Foram lançados grandes discos via Harvest,
como os do Renaissance, Pink Floyd e Flash, entre outros. No Brasil o
“Book” também saiu com esse selo, como mostra a reprodução da
publicidade, mais à frente.

Falando em Harvest e no tal bardo, me lembrei que eu tive um LP do Soft


Machine, chamado “Softs” (saiu no Brasil, mais um do selo Harvest), que
tinha uma faixa chamada “The tale of Taliesin” (desse jeito, com “i”, em
vez de “y”). Fico me perguntando qual seria a relevância desta minha
última observação.

67
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capa

Mistureba de estilos medieval e psicodélico, executada por um quase xará


do Jon Lord, John Vernon Lord, que era um ilustrador de livros infantis.
Desta vez prevaleceu o bom senso e não foi colocada foto dos músicos na
capa. A arte final é muito influenciada pelo estética psicodélica, o que a
deixou datada. Está muito longe de ser de mau gosto, mas, também não é
daquelas que entrariam em uma dessas listas de melhores capas de discos
de Rock. Na verdade, não entraria nem na lista das melhores capas do
Purple – e olhe que a concorrência é bem pequena.

A edição inglesa inaugurou outra tradição: capas duplas (os ingleses a


chamam de “gatefold”), o que também durou até o “Who Do We Think”,
a exemplo da questão das sete faixas por disco, comentada dois itens atrás.
A capa americana saiu simples, sendo que a contracapa era totalmente
diferente da inglesa. Outra variação apareceu na Wring that neck, que na
edição americana foi rebatizada como Hard Road, embora a gravação seja
idêntica à inglesa. Aparentemente os americanos acharam que o título
original (algo como “torça esse pescoço”) era muito violento. De fato,
tratava-se de uma gíria entre os músicos, com o sentido de “debulhar” o
braço (“neck”) do instrumento.
Conceito: C.

Reprodução das contracapas das edições inglesa (à esquerda) e americana do LP. À direita, compacto
americano com Hard Road (o lado A é Kentucky woman)

68
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas

Listen, learn, read on


Blackmore/Evans/Lord

Uma das coisas que mudou com a MK II foram as faixas de abertura dos
discos, sempre arrasadoras. Na MK I era o contrário – três discos, três
faixas de abertura fracas. Esta traz Rod Evans declamando (rap?) a letra,
com bastante efeito de eco. O refrão é repetido muitas vezes, tornando a
faixa um pouco enfadonha. Na verdade, a música toda parece não fazer
muito sentido.
Nota: 5

Wring that neck


Blackmore/Lord/Paice/Simper

Número instrumental, na linha do Jazz, com um tema de abertura que


serve também para fazer a ligação entre os solos de Blackmore (usando
sua Gibson) e Lord. Fez parte das apresentações ao vivo durante muito
tempo, situação em que funcionava melhor. Acabou se tornando um
clássico da banda, embora, confesso, de tanto ouvir ao longo dos tempos
acabei enjoando um pouco dela, o que contradiz o conceito de “clássico”.
Nota: 7

Kentucky woman
Neil Diamond

Tentativa de repetir o exito de Hush. Não foi tão bem, chegando apenas
no 38o lugar das paradas americanas. Cover de um original do Neil
Diamond, um cantor não famoso até então e que depois virou um artista
de sucesso, fazendo o tipo do caretão extremo, bem longe do espírito do
Rock. Uma canção americana demais para uma banda inglesa, não
ajudando em nada no esforço dos rapazes em emplacar em sua terra natal.
Foi feito o possível no arranjo para torná-la irressistível – até foi incluída
uma marcação com palmas. Tem bons solos de Blackmore e Lord, mas
nada disso fez com que ela repetisse o surpreendente feito de sua
antecessora. Esta é mais uma prova de que o mercado da música Pop é

69
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

uma caixinha de surpresas. Aliás, alguém sabe ou já viu o que é uma


“caixinha de surpresas”? A coisa mais perto disso que eu conheço são
aqueles ovinhos de chocolate com um brinquedinho dentro, que eu
comprava de vez em quando pro meu filho. Conforme citado
anteriormente, foi incluída, assim como Hush, na trilha sonora de “Era
uma vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino.
Nota: 5

Exposition
Blackmore/Lord/Paice/Simper

Mais uma amostra da confusão musical daquilo que era a banda. Depois
de uma canção Pop deslavada, um número instrumental progressivo,
baseado em uma peça de Tchaikovsky. Coisas de Lord.
Nota: 5

We can work it out


Lennon/McCartney

Depois de ter chegado aos ouvidos da banda que Paul McCartney gostou
da versão da Help, eles se animaram – vamos fazer outra cover dos
Beatles! Novamente a banda registrou uma regravação que ficou àquem
da original. Muito àquem. O início até que ficou legal, com as
intervenções de Blackmore pontuando o final dos versos. No refrão é que
a coisa desanda, devido à excessiva carga dramática que Evans colocou
(mais uma vez) na interpretação.
Nota: 5

Shield
Blackmore/Evans/Lord

Na versão americana do disco, o título saiu como “The shield”, o que é


uma informação fundamental, especialmente para mostrar o quão
bestamente detalhista pode ser um fã. Nesta faixa temos uma subida de
nível. Bela canção própria, de clima meio místico, com um andamento
cadenciado, um riff deslizante de Blackmore, autor de um belo solo, tendo

70
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Lord ao fundo fazendo uma espécie de percussão nos teclados do


Hammond.
Nota: 7

Anthem
Evans/Lord

Outra composição própria, mais Pop do que a anterior, lembrando um


pouco a One more rainy day, mas com um arranjo mais sofisticado. No
meio da música entra uma seção de cordas, antecedendo os solos de Lord
e Blackmore. Um prenúncio do que depois redundaria no “Concerto”.
Nota: 7

River deep, mountain high


Jeff Barry/Ellie Greenwich/Phil Spector

Esta cover de uma canção que fez grande sucesso na gravação da dupla
Ike & Tina Turner tem uma longa introdução instrumental, inspirada na
obra clássica Also Sprach Zarathustra, de Richard Strauss. Típico
daquelas eras. De novo, o Purple embarcava na onda do que rolava
naquele momento, em que as bandas e artistas mais avançados do Pop e
do Rock buscavam quebrar as barreiras que separavam os estilos musicais,
juntando tudo numa mistura criativa. O que torna uma faixa um
“clássico”? Uma definição exata é difícil, mas, seguramente não é aquela
música que apenas segue uma tendência. É preciso, antes de mais nada,
ser uma obra de grande qualidade, que permaneça sendo apreciada dali
em diante, independentemente do passar dos anos. Não foi o caso, neste
caso. O resultado foi um pastiche. Outra escolha infeliz da banda, que
nem de longe rivalizou com a gravação mais famosa da música. Um
detalhe: ainda bem que o Evans se lembrou de adaptar a letra, que na
versão original começa com “when I was a little girl, I had a rag doll...”.
Nota: 4

Complementos

Das músicas que compõem o LP, as escolhidas para o lançamento em


compacto foram Kentucky woman (lado A) e Wring that neck. A
71
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

primeira é fácil de explicar, considerando que eles estavam em busca de


um novo sucesso americano. A escolha da segunda reflete bem a falta de
orientação musical da banda. De um lado uma canção Pop e do outro
uma instrumental com pouquíssima chance de frequentar as paradas. Na
Inglaterra, realmente não ranqueou, nem pelo lado A, nem pelo B.

A última faixa da MK I a fazer certo sucesso nos Estados Unidos foi River
deep, mountain high, que teve uma versão editada lançada como lado A
de um compacto (Listen, learn, read on no lado B) e que alcançou o
quinquagésimo-terceiro (*) lugar das paradas.

A edição especial em CD referente ao “Book” que compõe a “The


Original Deep Purple Collection” é a que traz as faixas extras mais
relevantes, pois quatro são inéditas: Oh no no no; It’s all over; Hey bop a
re bop e Playground. A primeira é mais uma cover, desta feita de uma
gravação de Ben E. King. Ninguém sabe a origem de It’s all over, a faixa
seguinte. Segundo as notas do encarte, possivelmente ela fez parte das
primeiras apresentações ao vivo. É uma balada, até que interessante, bem
no estilo Elvis. Na verdade, não se sabe se ela lembra as baladas de Elvis
porque Evans o imita ou se é o contrário, isto é, o jeito natural de Evans
cantar é que faz lembrar o Elvis. Esta e a próxima são gravações em fase
de pré-produção, de modo que a qualidade do som está bem abaixo da do

Publicidade reproduzida da revista “Rock, a história e a glória” (1975)

72
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

disco de estúdio. Hey bop a re bop é uma versão em desenvolvimento do


que viria a se tornar a Painter, do terceiro LP. Playground é uma
instrumental que não desperta muito entusiasmo, cuja base é parecida
com a da Hush. No Brasil a edição em CD é de 2000, com o código de
catálogo EMI 7243 5 21608 2, pela EMI Music.

Na coletânea “The Early Years” foram incluídas cinco faixas deste disco,
sendo duas versões alternativas para Kentucky woman e Wring that neck.

Vale ainda o registro – como em todas as reedições de discos do Purple,


o encarte é muito bom, com texto completo e muitas ilustrações.

(*) uma ação efetiva a favor da campanha “preservemos o uso dos ordinais por
extenso”.

Capa da edição argentina. Como aconteceu


em outros casos, o título foi traduzido,
tentando manter a arte original

73
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 5
Deep Purple

A
1. Chasing shadows (5:31) Produção: Derek Lawrence
2. Blind (5:24) Gravação: De Lane Lea Studio, Londres
3. Lalena (5:02) Engenheiro: Barry Ainsworth
4a. Fault line (1:45) Capa: adaptação de tela de H. Bosch
4b. The painter (3:51) Lançamento: Novembro de 1969
B Gravadora/Selo/Código: EMI/Harvest/SHVL 759
5. Why didn't Rosemary Lançamento no Brasil: não foi lançado
(5:02)
6. Bird has flown (5:31) em vinil, somente em CD,
7. April (12:06) em duas edições diferentes.

Visão geral

O Deep Purple prosseguia em seu esforço para se tornar uma banda de


primeira linha. Excursionava, principalmente pelos Estados Unidos, e
tratava de gravar. Este era seu terceiro disco em menos de um ano. Trazia
alguns resultados do amadurecimento que uma banda tão trabalhadora
naturalmente teria que alcançar. Das sete faixas, apenas uma era
regravação (Lalena). As composições próprias continuavam mostrando
evolução. Porém, como fato novo, não havia nada. O produtor ainda era
o mesmo, assim como os músicos. A música era a mesma, ou seja,
continuava indefinida. Afinal, o que era o Purple? Uma banda
perseguindo o sucesso nas paradas Pop ou um grupo buscando ser
74
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

reconhecido no circuito alternativo inglês graças aos seus


experimentalismos? Pelo que era registrado nos discos, tínhamos um bom
conjunto de músicos, mas uma banda ainda em busca de sua vocação.

Apesar da leve melhoria geral na qualidade do disco, este foi o que teve o
pior desempenho em vendas, pontuando em um longínquo e
desconsiderável centésimo sexagésimo segundo lugar nas paradas dos
Estados Unidos (*). Assim como os dois anteriores primeiros, este não
alcançou as paradas na Inglaterra.

(*) mais uma ação a favor da importante campanha “preservemos o uso dos ordinais
por extenso”.

Título

Com o passar dos anos, o mercado fonográfico do Rock foi criando alguns
padrões. Normalmente após alguns álbuns de estúdio a banda lançava um
disco ao vivo. Mais uns anos de estrada e saía uma coletânea. No caso dos
nomes dos discos, a maior parte recebia o nome da faixa mais importante.
O primeiro disco da banda não tinha um nome específico. Era batizada
com o próprio nome da banda. Foi assim com o Zeppelin e o Sabbath, só
para ficar com as usadas como exemplo anteriormente. Pois então, por
que diabos o terceiro disco do Deep Purple chamou-se “Deep Purple”?
Isso só gerou confusão. Custava dar um nome diferente? Poderiam ter
chamado de “The Eremite”, por exemplo. Nome legal, não? Quem
mandou eles não me consultarem?

Capa

Hieronymus Bosch foi um pintor flamengo (provavelmente da região


onde hoje é a Bélgica) de quem não se tem muitas informações. Estima-
se que ele tenha nascido por volta de 1450. Ele era doidão, um marginal
da cultura. Muitos de seus quadros traziam um conjunto de referências à
bruxaria, ritos pagãos e alegorias sexuais. Uma de suas obras foi o tríptico
(quadro composto de três partes separadas) “O Jardim das Delícias”, que
pertence ao Museu do Prado, de Madri (*). Foi pintado por volta de 1500

75
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

e é composto por “Paraíso Terrestre”, “Jardim das Delícias” e “O Inferno


Musical”. Essa última parte foi usada pelo Purple como capa do LP, só
que com duas diferenças: foi reproduzida em preto e branco e os cinco
músicos foram inseridos entre os simbolismos de Bosch. Essa escolha
acabou me despertando a curiosidade em torno da obra de Bosch, que
realmente é um artista diferenciado em relação aos que costumam ser
cultuados como pintores clássicos. Mas, como capa do disco, o fato de ser
uma reprodução em preto e branco fez com que grande parte da força da
arte original fosse perdida. A parte interna da capa dupla só trazia a ficha
técnica e pequenos textos sobre cada faixa (semelhante ao que foi feito
no “In Rock”), sem fotos ou ilustrações, desperdiçando espaço. Duas
curiosidades: a banda americana Pearls Before Swine havia tido a mesma
ideia de ilustração para a capa de seu álbum de estreia, “One Nation
Underground”, lançado em junho de 1967 (anterior ao do Purple,
portanto). A outra curiosidade é incrível: a capa do Purple foi banida para
exposição nas lojas dos EUA. O motivo foi a existência de figuras nuas!
Detalhe: o quadro original de Bosch havia sido exposto durante muitos
anos no Vaticano, antes de ir para a Espanha.
Conceito: B.

(*) Bosch, Volume 39 da coleção Gênios da Pintura, Ed. Abril, S. Paulo, 1968.

76
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Acima e ao lado, reprodução do trípico “Jardim das Delícias” e uma


ampliação do “Inferno Musical”, de H. Bosch. Abaixo: matéria sobre o
banimento da capa e o álbum do grupo Pearls Before Swine.

As faixas

Chasing shadows
Lord/Paice

A faixa de abertura manteve a tradição dos discos anteriores: fraca.


Número basicamente percussivo, com a voz de Evans muito ao fundo,
parecendo sair de um megafone. Nesses primeiros tempos Blackmore
exagerava do uso do pedal wah-wah, presente também no solo desta faixa.
Nota: 4

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Blind
Lord

Balada romântica com um toque clássico, dominada por Lord, que usou
um teclado Harpsicord, dando um ar medieval à música. Novamente
Blackmore faz o solo usando o wah-wah. Paice passa boa parte da faixa
quebrando a marcação. Música cativante, mais criativa do que a média
das composições próprias até então.
Nota: 7

Lalena
Donovan Philips Leitch

Outra balada, com uma bela melodia (cover de


Donovan, às vezes grafada como Laleña - a
original está no disco ao lado) e um arranjo de
muita sensibilidade por parte do Lord. O
produto final poderia ser um pouco menos
arrastado. A forma com que Evans interpretava
certas músicas, como neste caso, acentuando a
dramaticidade da composição, deixava o clima
mais depressivo do que o necessário. Bom solo de Lord.
Nota: 6

Fault line
Blackmore/Lord/Paice/Simper

Faixa instrumental com uns efeitos que parecem ser gerados pela
reprodução de uma fita passada de trás para frente. Uma base simples de
Simper e um solo ao fundo de Blackmore. Experimentalismo deslocado,
ainda mais porque emenda em uma faixa pouco expressiva.
Nota: 5

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

The painter
Blackmore/Evans/Lord/Paice/Simper

Faixa que mais lembra o som dos discos anteriores. Bom desempenho dos
músicos, com os solos de Lord e Blackmore tomando a maior parte da
gravação. Mas, em termos de composição, pouco tem a dizer.
Nota: 5

Why didn't Rosemary


Blackmore/Evans/Lord/Paice/Simper

A inspiração para a letra de Evans veio do filme “O bebê de Rosemary”


(ele pergunta, de uma forma que poderia ser entendida como uma
amostra de bom humor – “Por que ela não tomou a pílula?”). É um Rock
simples, mas simpático, contendo um longo e explêndido solo de
Blackmore. O arranjo não segue tanto a estética psicodélica, muito
presente em outras faixas, o que a torna agradável de ser ouvida até hoje.
Nota: 7

Bird has flown


Blackmore/Evans/Lord

Música que tem uma levada bem parecida com Mandrake root, com
Ritchie usando no riff e no solo o seu inseparável (naqueles tempos) wah-
wah. O refrão é mais um caso de Evans emulando Elvis. A melhor parte
da música é quando para tudo e apenas Lord prossegue, fazendo um solo
muito característico. Um destaque especial para a letra, que tem a singela
citação: “o eremita, em sua caverna solitária”. Valeu, Evans.

Em 1980 foi lançado no mercado inglês o compacto “New, Live & Rare
– Vol. 3”, que trazia uma gravação desta música com a MK II, originária
da mesma sessão na qual foi registrada a Hallelujah. Comparar as versões
com Evans e Gillan é mais uma forma de entender o porquê a banda tinha
que mudar de vocalista.
Nota: 6

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

April
Blackmore/Lord

Longa faixa (12 minutos), dividida em três partes. Na primeira, uma


performance instrumental, só com a banda. Começa com um teclado
solene de Lord, seguido de uma rara passagem em que Blackmore usa a
guitarra acústica. A música evolui bem, em um admirável desempenho
de todos, com solos suaves e adequados, com um bonito
acompanhamento de um coro ao fundo. Sem dúvida a faixa mais bem
produzida entre as presentes nos três primeiros discos. Abruptamente há
uma interrupção, quando começa a segunda parte, com orquestra de
sopros e cordas, executando uma peça clássica, composta e arranjada por
Lord. Aqui ocorre uma prévia do que acontece no Concerto – a parte
clássica funciona por si só, independente das intervenções da banda. Novo
corte abrupto, entra a bateria iniciando a terceira parte, que não tem nada
a ver com a anterior e é executada pela banda toda. Nitidamente nessa
faixa se configura a linha evolutiva que começou com a Anthem, passou
pela April e resultou no disco seguinte, o “Concerto For Group And
Orchestra”.
Nota: 7

Complementos

Este foi o único entre os LPs de estúdio da


banda gravados nas décadas de
sessenta/setenta que nunca foi lançado no
Brasil. Como para que compensar a falta
deste disco em vinil, a EMI lançou no
Brasil duas versões diferentes em CD. A
primeira é de 1989, tendo como código
de catálogo 7 92409 2. A segunda é a
que faz parte da série “The Original
Deep Purple Collection”, tendo como
código EMI 7243 5 21597 2, pela EMI
Music. Nessa reedição existem cinco faixas extras:
duas versões diferentes de Emmaretta, além de gravações alternativas para

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Bird has flown, Lalena e The painter. Como sempre, traz encarte de
grande qualidade. Na coletânea “Early Years” foram inseridas quatro
faixas deste LP, sendo as novidades uma remixagem de Blind e uma versão
instrumental de Lalena.

Dois compactos foram lançados na Inglaterra em 1969:


Emmaretta/Wring that neck, em fevereiro e Hallellujah/April Part I, em
julho. Emmaretta inaugurou a tradição da banda em lançar compactos
com faixas não incluídas no disco. Por estar presente somente nesse
compacto, ela se tornou uma certa raridade durante muito tempo, o que
levou as gravadoras mundo afora a incluí-la em um monte de coletâneas,
mesmo sendo uma faixa fraca. O lado A do outro compacto trouxe
Hallellujah, a primeira canção gravada pela MK II, uma composição de
terceiros. O lado B trouxe a indicação “Part 1”, uma forma que
encontraram para justificar a redução feita de modo que coubesse no
disco.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 6
Concerto For Group And Orchestra

A
1. First movement: Produção: Edwards-Coletta
Moderato – Alegro (19:05) Gravação: De Lane Lea Recording Mobile
Unit
2. Second movement: Engenheiros: David Siddle e Martin Birch
Andante – Part 1 Capa: Castle, Chappell & Partners Ltd.
B Lançamento: Janeiro de 1970
3. Second movement: Gravadora/Selo/Código: EMI/Harvest/SHVL
767
Andante – Conclusion (19:00) Lançamento no Brasil: 1976
4. Third movement:
Vivace – Presto (15:24)

Visão geral

O objetivo desta Discografia é comentar os discos de estúdio. O


“Concerto” é um disco ao vivo, o que seria uma boa justificativa para não
citá-lo. Outra razão é que ele não é bem um disco do Deep Purple. Se os
três primeiros não representam o verdadeiro som da banda, o que dizer
então deste? Mas, audaciosamente ele será aqui discutido, mesmo com
todas as dificuldades que envolvem escrever sobre essa obra, que é,
conforme diz o nome, um concerto para orquestra sinfônica, interrompida
por algumas intervenções de uma banda de Rock.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Um ponto importante: este disco registra o início da gloriosa segunda


formação, a MK II. Neste momento Blackmore também passava à MK II
em sua longa série de casamentos, que chegou à MK V com a Candice
Night. Haja desconto no holerite, com tanta pensão... Outra marca
importante é o início do trabalho de Martin Birch com o Purple. Birch
teve sua parcela de colaboração para o sucesso da banda, primeiro como
engenheiro de som, depois como produtor. Infelizmente, Birch faleceu
precocemente, aos 71 anos, em agosto de 2020.

O disco pode ser


encarado como um dos
produtos de uma
grande jogada de
marketing da HEC,
que viu no evento uma
excelente chance para
promover a banda.
Afinal, não era todo
dia que uma banda de
Rock se apresentada
com a Royal
Philharmonic
A banda e Sir Malcom Arnold Orchestra, conduzida
pelo seu titular, o conceituado maestro (e Sir) Malcolm Arnold e, ainda
por cima, no tradicionalíssimo Royal Albert Hall. Houve grande
cobertura da imprensa inglesa, o que serviu para, finalmente, chamar a
atenção para a banda, que ainda era obscura em sua terra natal. A
badalação não refletiu no sucesso do LP, embora finalmente tenha levado
à banda às paradas inglesas, com um honroso 26º lugar. Nos Estados
Unidos, não foi muito melhor do que o anterior, atingindo um pouco
comemorável 149o lugar.

Em entrevista publicada no blog de Andrew Darlington em julho de 2012,


Lord disse que sua inspiração para compor o Concerto veio do disco

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

“Bernstein Plays Brubeck Plays Bernstein”, de


1961, com o Dave Brubeck Quartet e a New
York Philharmonic, conduzida por Leonard
Bernstein. O lado A contém a obra de Brubeck
Dialogue for Jazz Combo and Orchestra. Lord
pensou: “não seria legal fazer algo parecido com
uma banda de Rock?”.

O LP serviu para aumentar a confusão sobre qual era a identidade musical


da banda. Era um grupo underground ou um frequentador das paradas?
Seu som era psicodélico, progressivo, pop ou uma mistura de tudo? A
partir do “Concerto”, entrou mais uma vertente – seria um grupo de
música clássica? De qualquer forma, a tática deu certo, a banda estava na
mídia. Era só acertar o próximo passo e a Inglaterra estaria conquistada.

Título

O título do disco é objetivo: usa o nome da obra de Lord. Não há erro de


ortografia: “Concerto” é o nome em italiano para a obra, como se costuma
usar nas composições clássicas, Da mesma forma, os movimentos
receberam nomes em italiano: “moderato”, “presto” etc.

Capa

A capa mostra a banda no interior do Royal Albert Hall vazio, resultando


em um belo visual. Os títulos destacam os nomes da banda, orquestra e
condutor. O nome da obra vem em letras pequenas. Capa dupla, com
texto interno de Lord, comentando os três movimentos e a ideia geral de
suas composições, além de uma cutucada nos críticos que, segundo ele,
levaram a coisa toda muito a sério, pois a principal ideia era que aquele
24 de setembro de 1969 fosse apenas uma noite divertida o que, segundo
ele, acabou acontecendo. A tradução completa das notas da capa pode ser
encontrada na quarta edição do fanzine Into the Purple (Apêndice, ref.
A.3).
Conceito: C.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Somente na Versão 11.1


deste opulento trabalho que
consegui a prova de que o
“Concerto” foi lançado pela
Tetragrammaton, conforme
mostram as reproduções dos
selos ao lado.

Três capas curiosas: a da banda Opeth, sobre a qual


não sei absolutamente nada, exceto que eles
também gravaram um disco no Royal Albert Hall e
que usaram o mesmo lay-out do “Concerto”; a
seguinte traz mais um caso de adaptação feita em
uma edição argentina, com a tradução do texto
frontal. Por fim, a reprodução da capa da versão
especial para rádios.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas

First movement: Moderato-Alegro


Lord

Second movement: Andante


Lord (letras: Gillan)

Third movement: Vivace-Presto


Lord

A primeira abordagem sobre o disco é ao mesmo tempo polêmica e


inócua, parecida com a questão sobre qual teria sido a primeira Ópera
Rock: “seria esta obra de Lord a tentativa pioneira em unir orquestra e
banda de Rock?”. Na verdade, isso pouco importa. A audição mostra que
as participações da banda e da orquestra de fato não se amalgamaram. No
primeiro movimento isso é proposital. Nos demais, mesmo quando grupo
e orquestra tocam juntos, não há liga. Nunca ouvi nenhuma opinião de
um expert em música clássica sobre a qualidade do “Concerto” em relação
à estética ou ao nível de dificuldade que envolve esse tipo de composição.
O fato é que para um leigo, a obra de Lord tem melodias e momentos
bastante agradáveis aos ouvidos no que diz respeito à parte orquestrada.
A participação do Purple é correta, embora existam alguns exageros,
principalmente na presença de um solo de Paice, perfeitamente
dispensável no contexto. Na verdade, para mim, solos de bateria são
sempre dispensáveis. Viraram uma obrigatoriedade nos shows de Rock,
mas são uma chatice. Só me lembro de ter ouvido mais de uma vez dois
solos de bateria: do próprio Paice, no “Made In Japan” e o do Cozy Powell
no Rainbow, quando ele solava acompanhando a Abertura 1812, de
Tchaikovsky. De volta ao “Concerto”. Friamente. No caso de um fã
recém-fisgado, este deve ser um dos últimos discos a ser incorporados à
coleção. Vale, é lógico. Tem algumas belas melodias de Lord, solos de
Blackmore e o Gillan cantando no segundo movimento, mas, certamente,
é o disco do Purple que eu menos ouvi. Existia um mito de que o Gillan
teria escrito a letra horas antes do ensaio para o show, fato que ele
confirmou à SBADP em entrevista exclusiva (ref. A.1 do Apêndice),
lembrando que anotou os versos à mesa de um restaurante italiano. Após
essa experiência, Lord continuou exercitando sua verve clássica. Em
86
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

seguida ao “Concerto” compôs mais duas obras semelhantes: “Gemini


Suite” e “Windows”.
Nota: 5

Complementos

O espetáculo daquela noite foi dividido em três partes. O início foi


somente com a Royal Philharmonic Orchestra, conduzida por Malcolm
Arnold e interpretando uma sinfonia de autoria do maestro. Em seguida
o Deep Purple executou, sem a orquestra, três músicas: Wring that neck,
Hush e a até então inédita Child in time. Elas foram gravadas e
posteriormente incluídas na compilação “Powerhouse”, lançada em
1977. A terceira parte foi a apresentação do “Concerto”, que foi filmada
e lançada em VHS e depois em DVD, que todo fã do Purple já deve ter
assistido, ao menos uma vez.

Uma das versões em vinil do “Concerto” é muito rara, pois pertence ao


selo da Tetragrammaton, gravadora americana cujo proprietário era o
comediante Bill Cosby e que lançou por lá os três primeiros discos do
Purple. Acontece que essa gravadora faliu por volta da data de
lançamento desse disco nos Estados Unidos. As cópias americanas do
“Concerto” são, quase todas, da Warner, que assumiu o catálogo do
Purple desde então.

Ao contrário do que foi citado na Versão 1.0 desta Discografia, o CD com


o “Concerto” saiu no Brasil, em 2002 (EMI 07243 541006 2 8) e em
uma edição caprichada, duplo e com sobrecapa. Nessa mídia o Second
movement: Andante não tem a interrupção que ocorre no LP. No encarte
da primeira edição do CD inglês (bem simples, nada comparável aos das
demais reedições) existe uma saborosa história sobre o “Concerto”,
contada pelo Simon Robinson, que vale a pena reproduzir: poucas
semanas após o “Concerto”, o Deep Purple teve um show comum, só da
banda, agendado em um clube chamado “Stoke on Trent”. O dono era
um fã apaixonado e estava consternado por não ter contratado uma
orquestra para acompanhar o grupo naquela noite, pois sua expectativa
era ver o “Concerto” apresentado em seu clube. Porém, havia uma seção

87
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

de metais que fazia parte da banda local e eles toparam acompanhar os


músicos do Purple. Nas palavras literais de Simon: “a uma audiência
estimada em cinquenta pessoas foi oferecido o provavelmente mais
estranho show do Deep Purple de todos os tempos”. A edição em CD de
2002 traz um encarte bem completo, ao nível das demais reedições
(incluindo aí a versão brasileira), mas essa história ficou de fora.

Além dessa apresentação, o “Concerto” foi executado, em versão


resumida, mais uma vez, na primeira excursão da MK II pelos Estados
Unidos. Foi em agosto de 1970, no Hollywood Bowl. Lord tem más
lembranças desse show, pois a orquestra não estava muito contente em
tocar com uma banda de Rock e o resultado não foi dos melhores. Mas o
pior ocorreu no retorno à Londres, quando as partituras originais do
“Concerto” se perderam.

O Deep Purple só voltaria a apresentar o “Concerto” quase 30 anos


depois, em setembro de 1999, novamente no Royal Albert Hall. Isso
graças a Marco de Goeij, um holandês que havia escolhido recriar a
partitura da obra de Lord como tese de seu curso de música. Ele
encontrou Lord em Rotterdam e lhe mostrou o que havia conseguido
reescrever do First movement, em grande parte por meio de incontáveis
observações do vídeo do “Concerto” original, extraindo as notas a partir
da posição dos dedos do violinista. Lord e Marco, com a ajuda de outro
fã, o maestro Paul Mann, conseguiram recuperar integralmente a obra.
Foi então montada uma turnê de comemoração dos 30 anos do
“Concerto”, que passou pelo Brasil em setembro de 2000. O Eremita teve
a felicidade de assistir a um dos espetáculos. Novos CD (duplo) e DVD
foram lançados, com o registro dos shows da Inglaterra.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Ao lado: reproduções das edições


brasileiras em CD (sobrecapa) e DVD
(capa) do “Concerto”, primeira versão.
Seguem: cópias do ingresso, da capa do
Book Tour e de publicidade da turnê
brasileira (shows de São Paulo) em
setembro de 2000, quando a banda
apresentou o “Concerto” acompanhada
pela Orquestra Jazz Sinfônica. Para o
restante do show havia outros
convidados, entre eles, Ronnie James
Dio.

Ao lado: reprodução do selo de um raro


compacto promocional lançado pela
Warner Bros para divulgar o “Concerto”
nas rádios americanas com um minuto de
duração!

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 7
In Rock

A Produção: Deep Purple


1. Speed king (5:53) Gravação: IBC; De Lane Lea e Abbey Road Studios
2. Bloodsucker (4:13) Engenheiros: Andy Knight; Martin Birch
3. Child in time (10:18) e Philip McDonald; respectivamente
B Capa: Edwards Coletta Productions/
4. Flight of the rat (7:55) Nesbit Phipps & Froome
5. Into the fire (3:29) Lançamento: Junho de 1970
6. Living wreck (4:31) Gravadora/Selo/Código: EMI/Harvest/SHVL 777
7. Hard lovin’ man (7:10) Lançamento no Brasil: 1973

Visão geral

Este disco marca o início de uma carreira que tornou o Deep Purple uma
das bandas mais adoradas, conhecidas e lucrativas do planeta. Deram um
basta nas canções Pop. Pararam com o psicodelismo. Encerrado o ciclo
de orquestrações. Nada mais de imitações de segunda do Elvis e, ainda
bem, o início de novos cortes de cabelo. A já referida química entre os
cinco músicos começou a fazer efeito e eles produziram uma obra de
altíssima qualidade, um dos melhores discos da história do Rock.

À parte da questão musical, o “In Rock” iniciou um padrão que foi


mantido até o “Who Do We Think”: sete faixas por disco (até mesmo no
“Made In Japan”, um álbum duplo e ao vivo!); créditos das músicas

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

divididos entre os cinco componentes (Blackmore, Gillan, Glover, Lord,


Paice – desse modo, seguindo a ordem alfabética); capas duplas e a
ausência de covers. Estas eventualmente surgiam nas apresentações ao
vivo, como Lucille, por exemplo.

Na parte musical, a banda finalmente achou seu rumo, seu estilo, sua
identidade, sua vocação: o Rock pesado, conhecido internacionalmente
pelo consagrado rótulo de “Hard Rock”. Essa era a direção musical que
Blackmore buscava e, a partir desse momento, ele assumiu a liderança da
banda.

Parte do sucesso do Deep Purple vem de seus discos que, de um modo


geral, apresentam repertórios fortes, com composições de qualidade acima
da média e interpretadas por músicos muito acima da média (a outra parte
vem do desempenho da banda ao vivo). Uma coisa sempre me chamou a
atenção: as músicas que compõem os discos do Deep Purple, ao contrário
do que acontece com muitas bandas, não são amarradas em um esquema
que vai se repetindo com o passar das faixas, diferenciadas por leves
variações. Nos discos do Purple, as faixas não se parecem umas com as
outras, embora sejam facilmente associadas à banda após alguns segundos
de audição. Isso acontece mesmo no “In Rock”, um disco de faixas
pesadas, baseadas na estrutura padrão desse tipo de música, ou seja:
riff/estrofe/refrão/solo/riff/estrofe/refrão. Esse tipo de esquema tende a
deixar as composições um tanto enfadonhas e previsíveis. Exceto, é claro,
quando se trata, acima de tudo, de boa música, feita com talento e
criatividade, que podem ser aplicados mesmo dentro de padrões batidos.
O “In Rock” contém vários clássicos, entre eles Child in time, canção
emblemática para Gillan. Já recebeu mais de 30 regravações por artistas
diversos (entre eles, o próprio Gillan). Apesar disso, não é a campeã de
regravações entre as composições da banda. Highway star também está na
casa das 30 versões. A campeã disparada é Smoke on the water, com mais
de sessenta registros.

Embora o “In Rock” seja um clássico do estilo, não foi o Purple que
inventou o Rock pesado. Em junho de 70, quando o “In Rock” surgiu, já
haviam saído os dois Leds e o primeiro do Sabbath, além de muitos outros

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

discos de outras bandas representantes do estilo. O que torna este disco


indispensável para os que gostam de Hard Rock é o conjunto da obra –
todas as suas sete faixas estão entre as músicas que melhor exprimem a
essência do estilo.

Com este disco finalmente a banda ficou conhecida na Inglaterra. Foi um


sucesso de vendas, chegando ao quarto lugar nas paradas britânicas. Nos
Estados Unidos, por ironia, não foi tão bem, no início. Todos os demais
detalhes sobre este disco podem ser encontrados no livro “Wait for the
Ricochet”, apresentado mais à frente, no Capítulo 26 (Bibliografia).

Este álbum traz a segunda colaboração de Martin Birch, ainda como


Engenheiro de Gravação, nas faixas que foram registradas nos estúdios
De Lane Lea, mesmo lugar onde fora gravado o terceiro disco. A nota que
consta na parte interna da capa, dedicando a Hard lovin’ man a ele é
sintomática: “para Martin Birch, catalisador”. Foi citada a química entre
os integrantes da banda. Birch fez a catálise, acelerando a reação e o
resultado está registrado nos grandes discos do Purple.

O citado De Lane Lea mudou de endereço, deixando todos os


equipamentos para trás. Gillan acabou comprando as instalações. Foi um
dos investimentos que ele fez ao sair do Purple em 1973. Ele o rebatizou
como Kingsway Recorders (“Kingsway” é o nome da rua onde o estúdio
se localizava). Nesse estúdio Gillan gravou vários de seus trabalhos solo.
Nele também foram gravados o primeiro disco solo do Coverdale e o
“Butterfly Ball”, entre outros. Mais informações sobre o Kingsway estão
no livro “Ian Gillan: Vida-Discos-Vídeos” (ver Anexo).

Apesar do disco ter sido gravado aos pedaços, em três estúdios diferentes,
com meses de espaçamento entre as gravações, isso não afetou sua
qualidade. A moçada estava se conhecendo e estavam todos
entusiasmados com o novo som. Essa forma de trabalhar foi repetida em
dois dos três discos seguintes e, nesses casos, acabou refletindo de forma
danosa no produto final.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Título

Trata-se de um trocadilho. “In Rock” tem o duplo sentido: estão “na


pedra” (tradução literal de “in rock”), referência à ilustração da capa e
também estão no Rock. É um recado: partiram de vez pro Rock.

Capa

Uma boa ideia, mais para truque de marketing do que para uma
preocupação com a concepção artística. O modelo foi o famoso
monumento americano, o Monte Rushmore, esculpido em pedra nas
montanhas de Keystone, Dakota do Sul. Nessa obra do escultor Gutzon
Borglum, que levou 15 anos para ser concluída, estão os rostos de quatro
presidentes americanos (Washington, Jefferson, Roosevelt e Lincoln –
não confundir com o ataque da Portuguesa de 2008). O estúdio que fez a
capa para o “In Rock” teve que dar um jeito de inserir um quinto rosto.
No caso, foi o do Paice, que ficou em uma posição que não consta na obra
original.

O Monte Rushmore não inspirou apenas os empresários do Purple.


Existem várias outras capas baseadas nesse monumento, mostradas nas
imagens a seguir, todas de lançamentos posteriores ao “In Rock”.

Cary Grant em cena do filme “Intriga Internacional” (“North by Northwest”, 1959), de Alfred
Hitchcock, que tem parte da trama em um cenário que reproduz o monumento do Monte
Rushmore, visto ao fundo.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

A arte do disco é razoável. A reprodução das feições dos músicos foi


realista, mas o resto da paisagem ficou um pouco grosseiro. Juntamente
com o céu chapado, sem nuvens ou nuances de cor, infantilizaram o
desenho. Com um pouco mais de capricho, o efeito seria bem melhor. A
fonte das letras usada para compor os títulos da capa foram criadas
especialmente para o disco pelo estúdio (o mesmo que produziu a capa de
“Burn”). Internamente o disco traz a ficha técnica, fotos dos músicos e as
letras. Deste disco em diante, todos do Purple foram acompanhados das
letras.
Conceito: B.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Algumas capas curiosas derivadas do “In Rock”. A primeira à esquerda


foi extraída do livro “Wait for the Ricochet” e é do disco do guitarrista
japonês King Curlee. No centro, obra de um certo Harvezt, mostrando
sua visão traseira da capa. Na direita, disco tributo da banda sérvia
Cactus Jack, duplo ao vivo gravado em 2002. Apesar de ter usado a
capa do “In Rock”, só Speed King do disco original foi regravada (e o
single Black Night). As demais faixas são covers de clássicos de outros
discos do Purple. Na coluna abaixo, capas de outros discos que se
inspiraram no mesmo monumento. Ao seu lado esquerdo, a capa
(horrível!) de mais um dos infindáveis lançamentos caça-níqueis
envolvendo o Purple. Este foi lançado no Brasil em 2014. Trata-se de
CD triplo, reunindo faixas de artistas variados, todas com alguma
ligação com o Purple, como músicas de discos-solo ou de bandas
derivadas. Este espaço não é reservado à críticas de discos, mas vamos
lá: alguns itens até que são interessantes e de acesso mais difícil
(embora, a rigor, a Internet acabou com essa história de discos e faixas
raras), como as covers que o Funky Junction fez de clássicos púrpuras
ou a interpretação supercanastrônica do William Shatner (sim, o
Capitão Kirk, de “Jornada nas Estrelas”) para Space Truckin’, com
Paice na bateria. Tem algumas forçadas de barra, como a inclusão de
River deep, mountain high, com Ike & Tina Turner, só pelo fato de ter
sido regravada pelo Purple. Caça-níquel, sem dúvida. Mas, fazer o quê?
Vem escrito “Deep Purple” na capa. Então eu comprei. Fã é tudo besta.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Um pouco de humor, juntando grandes


cartunistas, sátiras divertidas ao Mont Rushmore
e à capa do “In Rock”. Abaixo, cartum de um dos
artistas preferidos d’O Eremita, Gary Larson, com
os 3 Patetas no lugar dos presidentes; ao lado, capa
do disco com arte baseada nos Simpsons. Abaixo
dele, uma possível versão para a contracapa, também
extraída do livro “Wait for the ricochet”. Essa arte pode
ter sido plagiada (ou inspirada?) nos cartuns de outro
dos preferidos d’O Eremita, Don Martin (MAD N o
163), ao final da página.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

O artista brasileiro Flávio Albino fez a obra acima, aperfeiçoando a ilustração original.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas
Todas por Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice

Speed king

Mais uma marca registrada foi inaugurada com Speed king. A partir dela,
as faixas de abertura dos discos do Purple passaram a ser (quase) sempre
arrasadoras. A música inicia com a banda abrindo a caixa de ferramentas
– guitarra distorcida, bateria solando, uma barulheira muito, muito alta.
Tão alta que essa introdução foi cortada na edição americana do LP.
Depois da extravagância, entra um som de teclado bem calminho por
alguns segundos e...tome porrada! Gillan anuncia com seus gritos: “eu
sou o rei da velocidade!” O solo é um dos muitos exemplos da
versatilidade dos músicos. O ritmo muda bruscamente e começa um
duelo jazzístico entre Lord e Blackmore. Gradativamente Glover e Paice
vão acelerando o andamento e o volume da base. Um grito daqueles do
Gillan retoma a pauleira. Antes de terminar, um dos versos do refrão é
interrompido por uma risada sacana. Quantos queixos caíram ao ouvir
essa música pela primeira vez...
Nota: 10

Bloodsucker

Os queixos continuavam caídos quando a segunda faixa começava. Outra


faixa poderosa, com os vocais de Gillan dominando, com aqueles gritos
que depois seriam sua marca registrada, ao final de cada estrofe. No solo,
de novo Lord e Blackmore se alternam, para um final impressionante.
Gillan balbucia os versos finais, em uma espécie de gritaria ao mesmo
tempo insana e contida.
Nota: 10

Child in time

Todo o mundo Rockeiro sabe: o começo da Child


in time é copiado da música Bombay calling (tem
um DVD do Purple com esse nome), faixa do
primeiro LP, de 1969, da banda americana It’s A

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Beatiful Day. Lord nunca escondeu o fato. Na


verdade, apenas a introdução é parecida. Os
desenvolvimentos dos restantes das duas
músicas são completamente diferentes. O It's A
Beautiful Day levou o caso numa boa. Houve
até uma espécie bem-humorada de “troco”, pois
eles usaram o riff de Wring that neck para
compor Don and Dewey, faixa do LP “Marrying
Maiden”. Essa polêmica levou a mãe (!) de Jon Lord a se pronunciar em
um jornal de sua cidade, defendendo o filho contra uma insinuação
maldosa feita por um leitor (veja no Cap. 26 essa citação dentro do
comentário sobre o livro “Wait for the Ricochet”). O controverso e
apaixonante tema “O Deep Purple e os plágios” é novamente discutido
nos “Complementos”, quando é tratado o caso Black night e alguns
outros.

Child in time é uma obra que tem um começo marcante, com as famosas
notas emprestadas por Lord, segue com um canto suave de Gillan,
interpretando uma das poucas letras do disco que tem algum sentido, para
depois entrarem dois momentos consagradores: gritos inigualáveis e um
dos grandes solos de Blackmore. Só mesmo Gillan para cantar Child in
time do jeito que ficou imortalizada neste disco. O impressionante é que
ele repetia a proeza ao vivo! Tem um pirata do Purple, chamado “Live In
Kopenhagen 75” (provavelmente gravado durante o show do dia 20.
mar.75), que registra Coverdale cantando Child in time! Rolou durante
a execução de Space truckin’, momento em que a banda dedicava aos
improvisos. Só que ele cantou apenas a estrofe, sem entrar na parte dos
gritos.

A primeira cover que se tem notícia desta


música está em um disco holandês de 1972 que
tem o título de “Child in Time” e é uma
verdadeira salada (ou talvez, uma torta
holandesa). São cinco faixas, de três bandas
diferentes. A cover de Child in time é a segunda

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

do lado A e foi gravada ao vivo pela banda Pugh’s Place (com 11’20” de
duração!).
Nota: 10

Flight of the rat

Este não é somente um disco de grandes faixas. É também um álbum em


que todos os músicos brilharam. Dependendo da faixa um deles se
sobressai um pouquinho. Nesta, é a vez do Paice, especialmente pelas
variações percussivas, ora acompanhando Blackmore, ora Lord, ora
sozinho, no final.
Nota: 9

Into the fire

Outro riff matador. A gravação tem uma sonoridade curiosa. Existe uma
distorção que dá a impressão que os alto-falantes estão rachados. A forma
como Gillan berra o título da música ao final de cada estrofe é marcante.
Nota: 9

Living wreck

Outra faixa em que Paice arrebenta, quebrando a batida o tempo todo.


Bela interpretação de Gillan, em uma letra levemente irônica. Na
reprodução das letras na parte interna da capa, só constam as duas
primeiras estrofes das três cantadas por Gillan. Embora não seja das mais
comentadas, é uma das minhas preferidas do disco.
Nota: 9

Hard lovin’ man

O começo parece um pouco com o da Speed king. Depois de uma abertura


pesadona, uma acalmada só com o baixo de Glover marcando o ritmo e
então entra o Hammond de Lord, fazendo um som que lembra um gato
selvagem. O riff de guitarra é daquele tipo que foi apelidado por aqui de
“cavalgada” (não fui eu quem inventou esse nome!). A parte vocal, para

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

variar, é um dos pontos altos. O primeiro solo de guitarra é dobrado, em


parte, o que não é muito comum no Purple (Na Highway star isso também
acontece). Vão querer minha cabeça por isso, mas, acho que a faixa ficou
pouca coisa mais longa do que deveria.
Nota: 8

Complementos

Black night, uma das músicas mais conhecidas do Deep Purple pertence
às mesmas seções de gravação do “In Rock”, mas não foi incluída no LP.
Foi lançada em compacto, com Speed king do lado dois. Esse compacto
saiu no Brasil e também vendeu bem por aqui (Apêndice, ref. A.2). Na
Inglaterra, esse compacto (lá chamado de “single”) foi lançado no dia
05.jun.1970 e alcançou o segundo lugar nas paradas.

Uma das duas discussões preferidas entre Rockeiros é sobre plágios (a


outra é sobre as listas com as preferências de cada um – os cinco melhores
discos de todos os tempos e coisas do gênero). Deve-se ter cuidado em
diferenciar “plágio” de “inspiração”. Um exemplo para ilustrar a diferença
é o caso da Mistreated. Blackmore declarou em uma entrevista à Guitar
Player (traduzida na Into the Purple 3 – Apêndice, ref. A.3) que ela havia
sido inspirada na Heartbreaker, do Free. Poucas pessoas fizeram a
associação entre as duas músicas até que a entrevista fosse publicada.
Depois, passou a ser óbvio – as músicas têm um mesmo jeitão, mas são
muito diferentes. Existem muitas teorias sobre os plágios. Uma vez, em
uma dessas enriquecedoras conversas de bar, após algumas cervejas, um
fã do Purple me falou que Smoke on the water havia sido plagiada de uma
música do Tom Jobim! (mais detalhes no comentário sobre esse caso mais
à frente, no Capítulo do “Machine Head”). Devemos lembrar que o artista
reflete seu ambiente e é carregado de influências. A segunda música
criada na Terra foi influenciada pela primeira. A mesma coisa acontece
nas outras artes. O meu texto, por exemplo, tem influências diversas,
algumas claramente identificáveis, como Shakespeare e Carlos Zéfiro,
autores de inquestionável relevância. É inevitável. Por isso devemos ter
cuidado com essa história de plágios. Nada de menosprezar boas criações,
só porque alguém levantou uma suspeita do tipo “ah, essa música aí?

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Cópia de uma que saiu na trilha sonora de um filme albanês do final do


século XIX”.

Toda essa argumentação é por causa da Black


night. O encarte da edição de aniversário do “In
Rock” (comentado mais à frente) cita que
Blackmore teria “emprestado” as notas da
Summertime, na versão de Ricky Nelson para a
música de Gershwin/Heyward. O próprio
Blackmore confessa isso. Mas, ouvindo a (We ain’t
got) nothing yet, da banda The Blues Magoos, lançada em 1966 e que fez
sucesso nos EUA (mas não na Inglaterra) é possível afirmar que ela e
Black night são escandalosamente parecidas (se puder, confira!).
Parecidas a ponto de não poder não ser um plágio. Nunca li isso em lugar
nenhum, mas tenho a convicção que a HEC deve ter feito um acordo
velado com os Blues Magoos, recompensando financeiramente os rapazes
para não virem a público desmascarar nossos heróis.

Existem outras músicas do Purple que são tachadas como plágio (acho
que todas foram tratadas em pontos diversos desta Discografia). Nada que
se compare ao Led Zeppelin de Jimmy Page, o recordista em plágios.
Blackmore, ao contrário de Page, divulgou várias de suas fontes, como,
por exemplo, Speed king, que foi baseada em Stone free de Jimmi Hendrix
e Lazy, inspirada em Steppin’ out, do Cream. Resumindo a questão:
existem músicas que podem ser consideradas plágios no repertório do
Purple. Duas, ao meu ver: Black night e Fireball. As demais citadas eu
considero inspirações. Pontos de partida, centelhas, com resultados
totalmente distintos de quem derivaram.

Existe, ainda, um fenômeno que deve ser considerado no caso de se


avaliar (ou acusar) como plagiarismo uma composição musical, chamado
de criptomnésia. Segundo a Wikipedia, “ocorre quando uma memória
esquecida retorna sem ser reconhecida como tal pelo sujeito, que acredita
ser algo novo e original. É um viés de memória pelo qual uma pessoa pode
se lembrar falsamente de gerar um pensamento, uma idéia, uma música,
um nome ou uma piada, que não se envolve deliberadamente em plágio,

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

mas que experimenta uma memória como se fosse uma nova inspiração”.
Foi a criptomnésia que me fez pensar que a frase “penso, logo existo”
havia sido minha criação, conforme registrei orgulhosamente em uma
redação na segunda série do colegial.

O “In Rock” foi o primeiro dos discos do Purple a receber uma edição
especial de aniversário. Foi em 1995, portanto, 25 anos depois do
lançamento original. Essa edição foi muito caprichada, com uma
embalagem diferenciada, trazendo a reprodução dos autógrafos dos
músicos na tampa da caixa do CD e um encarte transbordando de
informações. A parte musical também tem seus encantos. Além das faixas
normais do LP, trouxe uma inédita (John Stew), conversas de estúdio e
três remixagens de Roger Glover. Um dos responsáveis pelo pacote foi
Simon Robinson, que teve acesso aos arquivos da gravadora e pôde
manipular as fitas dos registros originais, onde encontrou os itens extras
incluídos nessa edição comemorativa.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Do lado esquerdo, recorte do jornal “O Globo”, de 23 de julho de 1970, que mostra que Black night
também frequentou as paradas no Brasil, atingindo o 6º lugar, apenas três posições abaixo do ... Waldick
Soriano! Em primeiro lugar podemos ver que estava Brasil, eu te amo, em versão com a banda Os incríveis,
comentada no início deste texto. Do lado direito, capa da versão portuguesa do compacto da mesma Black
Night, adequadamente ilustrada com uma foto da MK I (!). Esses nossos patrícios... Embaixo, capa da
versão brasileira em fita cassete, que não deixava sombra de dúvida sobre ter sido gravada em estéreo. Ao
lado, capa de compacto original da coleção d’O Eremita, em mais uma homenagem dos ingleses às cores
do Brasil.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Abaixo: capa, contracapa e selo da edição argentina. Como é usual, os títulos das músicas estão traduzidos.
“Chico pontual” é a tradução para, isso mesmo, Child in time! Abaixo, edição especial em LP lançada pela
revista alemã Horzu, com o fundo da capa alterada para branco. Outra diferença é a abertura para o disco,
que fica do lado oposto ao normal, uma coisa bem prática, que faz com que seja obrigatório abrir a capa
para colocar ou tirar o vinil. No detalhe, o selo. Ao lado, o CD comemorativo de 25 anos do lançamento
original.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 8
Fireball

A
1. Fireball (3:25) Produção: Deep Purple
2. No no no (6:50) Gravação: De Lane Lea e Olympic Studios
3. Demon’s eye (5:15) Engenheiros: Martin Birch; Lou Austin e
4. Anyone’s daughter (4:40) Alan O’ Duffy
B Capa: Castle, Chappel and Partners Limited
5. The mule (5:20) Lançamento: Setembro de 1971
6. Fools (8:15) Gravadora/Selo/Código: EMI/Harvest/SHVL
793
7. No one came (6:25) Lançamento no Brasil: 1972

Visão geral

Nesse momento da carreira, nossa banda predileta era um sucesso.


Finalmente eram ídolos em seu país. Seus discos vendiam muito bem e a
agenda de shows ia crescendo. Não era hora de repetir erros do passado.
Um deles seria tentar gravar um novo “In Rock”, como o que aconteceu
com o “Book” em relação ao “Shades”. Essa mancada a banda não deu.
Este é um disco bem diferente do “In Rock”. Ao contrário do que se
esperaria, ou seja, confortavelmente se apegar ao estilo do anterior e
realizar um disco inteiro pesado, abriram espaço para o experimentalismo,
tentando vários novos caminhos, chegando até a gravar um country! Do
outro erro, eles não escaparam – assim como no “In Rock”, a gravação
do disco foi fragmentada, com seções sendo agendadas e interrompidas

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

para dar espaço aos shows. Com isso, não houve a concentração desejada
dos músicos no projeto do novo disco. O reflexo foi que o “Fireball”,
embora seja um de seus álbuns clássicos, não foi tão espetacular quanto
seu antecessor. Apesar disso, conseguiu melhores posições nas paradas,
empurrado pelas vendas do “In Rock” (que após mais de um ano de seu
lançamento ainda constava na lista dos mais vendidos) e pelo êxito da
Black night. O álbum foi um dos dois de inéditas do Purple a atingir o
primeiro lugar na Inglaterra (o outro foi o “Machine Head”) e chegou ao
32º posto nos EUA. Sintomaticamente, poucas de suas músicas
integraram o repertório dos shows. A faixa-título e Anyone’s daughter
permaneceram pouco tempo e as demais nem entraram. A única que
ficou um pouco mais foi The mule, por ser aquela em que Paice fazia seu
solo. Nesse momento, o ambiente interno começava a apresentar os
primeiros sinais de desgaste, com o choque de egos entre Gillan e
Blackmore, este cada vez mais consolidado como o líder da banda.

Título

Pela primeira vez foi usado o nome de uma faixa como título do disco,
fato que se repetiu algumas outras vezes e que é algo que não dá campo
para comentários muito longos. Umas três linhas, no máximo.

Capa

Cinco rostos com torsos improváveis inseridos em uma espécie de


cometa, que descreve um caminho ainda mais improvável, saindo de um
planeta em uma trajetória em espiral. Aparentemente, Glover é o culpado
pela ideia, pois dois de seus esboços para a capa foram reproduzidos no
livreto que acompanha a edição de aniversário do “Fireball”. A parte
interna do LP original traz a ficha técnica e uma foto de cada integrante,
pequenas e em preto e branco. As letras vieram em um encarte avulso. O
Purple seguia honrando sua tradição de não ter capas antológicas.
Conceito: C.

107
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas
Todas por Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice

Fireball

O primeiro som que se ouve é a gravação do ar condicionado do estúdio


sendo ligado. Uma bateria avassaladora, com Paice usando dois bumbos,
inicia a música, que tem um riff simples, mas muito pesado e rápido, um
grande vocal de Gillan e um solo incomum, executado por Glover em seu
baixo Rickenbaker. Estabeleceu-se a tradição de faixas de abertura arrasa-
quarteirão dos discos do Purple, iniciada com a Speed king. Para mim, a
melhor atração da edição comemorativa do “Fireball” é a versão
instrumental desta música. Ouvir somente a base é um jeito diferente e
surpreendente de apreciar a música, pois detalhes antes encobertos pelos
solos e pelo vocal são revelados. É mais uma mostra que a competência
da banda começava pela sua “cozinha”. Em janeiro de 2014 fiquei
sabendo pelo “Ritchie Blackmore Channel” no Youtube de algo que me
deixou um tanto quanto chateabundo: tem uma faixa chamada Rock star
da obscuríssima banda canadense Warpig que tem a mesma base da
Fireball. Rock star é de 1970, portanto anterior à do Purple. A hipótese
da coincidência pode ser afastada considerando que o engenheiro de som
Tom Brennand trabalhou com ambas as bandas naquele período.
Nota: 9

No no no

O que eu gosto nesta música: os solos, principalmente o de Lord. Ele faz


referência à Abertura 1812, de Tchaicovski. Sem querer perpetrar o
displante de retocar uma música do Purple, eu, mui modestamente,
sempre achei que ela perdeu um pouquinho da força por ter ficado um
tiquinho mais longa do que deveria. Que venham as porradas!
Nota: 8

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Demon’s eye

Em um disco com muitas novidades, esta faixa é das mais convencionais,


em termos de estrutura. Os atrativos são os próprios músicos, que
mandam bem, como sempre. Não é um dos ápices da banda.
Nota: 7

Anyone’s daughter

Quem diria que o Purple gravaria um country? E que country! Se todos


fossem assim, eu seria fã do estilo. Bela melodia, com uma interpretação
que faz pensar que eles eram especialistas nesse tipo de música. Letra
divertida de Gillan. Pode ter causado algum choque no lançamento do
disco, mas logo se tornou um clássico. Foi a primeira a ser composta para
o álbum, uma clara indicação da busca por novos caminhos.
Nota: 9

The mule

Esta tem uma história muito curiosa, que está presente no livreto da
edição comemorativa do disco. Vale a repetição, pois nem todos o leram.
Durante uma experiência no estúdio, com fitas sendo tocadas de trás para
frente (técnica que foi usada para gerar aqueles sons estranhos que
aparecem no final da No one came), um dos engenheiros,
inadvertidamente, fez uma gravação por cima de parte do canal da bateria
da versão já finalizada da The mule. Quando perceberam o erro, metade
do que havia sido gravado fora perdido. Paice deveria, então, regravar
aquela parte. Porém, o kit da bateria já tinha sido despachado para o local
do próximo show. Paice teve então que usar a bateria disponível no
estúdio e não foi possível igualar o som das duas. Os ouvidos mais
sensíveis podem perceber que há uma diferença entre o som da bateria a
partir da metade da música, aproximadamente. Outra das faixas do disco
que não seguem o padrão Hard Rock, apresentando um clima bem
peculiar, sombrio. Paice é quem prevalece, conduzindo a música com
uma espécie de riff de bateria. Paice declarou que se inspirou na forma
que Ringo tocou a bateria em Tomorrow never Knows (do álbum

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

“Revolver”). The mule passou a ser o momento do solo de bateria nos


shows na fase MK II. Assim como em Place in line, Gillan se inspirou em
um conto de ficção científica para escrever a letra (de Isaac Asimov, neste
caso). Paice tem sua própria interpretação, entendendo que os versos
iniciais “no one sees the things you do, because I stand in front of you,
but you drive me all the time” (“ninguém vê o que você faz, porque eu
fico na sua frente, mas você me conduz o tempo todo”) foram dedicados
a ele. Nos segundos finais da versão de estúdio, a impressão que se tem é
que gravaram o som de um caminhão despejando bumbos, pratos e caixas
no meio da rua, tudo de uma vez, tamanha a força da percussão do nosso
caro baterista.
Nota: 7

Fools

Continuando nas experimentações e climas estranhos, a faixa tem um


começo calmo, levado pelo teclado de Lord e a marcação de Paice no aro
da caixa. De repente, entra o peso, juntamente com os versos cantados
com raiva por Gillan. Esta faixa é a que apresenta o famoso solo de
Blackmore que muita gente acreditava ter sido feito em um violoncelo ou
com um arco de violino aplicado na guitarra. Na verdade, o efeito foi
obtido pela variação no botão de volume da guitarra. Mesmo porque basta
uma rápida análise para se concluir que não é possível tocar a guitarra
com um arco, como se fosse um violino. Neste, as cordas são dispostas
em alturas diferentes, de forma que o arco pode atingir uma corda de cada
vez. Na guitarra todas estão no mesmo plano, de modo que o arco acaba
deslizando por todas as cordas simultaneamente. Independentemente
disso, o solo de Blackmore é belíssimo, solene, valorizado pela marcação
seca e precisa de Paice, que parece um metrônomo. Uma das minhas
preferidas do disco.
Nota: 9

No one came

Bom, esta é a minha preferida deste disco. Para mim é uma música
subestimada pelos fãs. Mais recentemente o Purple começou a inclui-la

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

nos shows. Existe uma memorável gravação ao vivo no disco “Live At


Olympia”, com a participação de um naipe de metais que, juntamente
com uma base mais balançada, deram-lhe uma roupagem nova,
valorizando muito a música. É outra das faixas do “Fireball” não
convencionais em relação ao repertório de uma banda de Hard Rock,
principalmente pelo modo como Gillan declama a maior parte da letra,
em vez de cantar normalmente (se fosse hoje em dia, ele seria acusado de
estar fazendo um “rap”). A letra, por sinal, é uma das melhores do Gillan,
descrevendo suas angústias como superstar do Rock.
Nota: 9

Complementos

O “Fireball” tem uma história peculiar. Depois de Black night, o plano


foi tentar outro compacto de sucesso. Daí surgiu Strange kind of woman,
que não foi incluída no LP, da mesma forma que a Black night. A
gravadora americana resolveu incluir Strange... no LP e a inseriu no lugar
de Demon’s eye. Até aí, tudo bem. Se eu fosse escolher uma faixa para
retirar, faria a mesma opção. O problema é que não corrigiram a capa e
nem o selo. A gravadora brasileira foi na onda da americana. Durante
anos e anos o “Fireball” brasileiro trouxe o nome errado da música, tanto
na capa, quanto no selo.

O compacto com Strange kind of woman tinha I’m alone do lado B. Foi
lançado em fevereiro de 1971 e atingiu o 8º lugar das paradas inglesas.
Em outubro do mesmo ano saiu outro compacto, desta vez com faixas
extraídas do disco: Fireball/Demon’s eye, que não foi tão bem nas vendas,
atingindo o 15º posto. Este compacto também saiu no Brasil. Foi o
terceiro e último compacto da banda por aqui (outros detalhes – ref. A.2
do Apêndice).

O “Fireball” também teve sua edição comemorativa do 25o aniversário.


Uma das melhores, por sinal. O livreto interno, além das dezenas de fotos,
traz um longo depoimento de Roger Glover. Na parte musical, tem a já
citada versão instrumental da Fireball, que permite um divertido karaokê-
solo (seja gentil e só tente dublar o Gillan quando não houver ninguém

111
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

por perto, por favor) e outros petiscos, sendo o principal uma faixa
inédita, Slow train.

À direita, recorte de revista desconhecida


comentando o lançamento do Fireball e que,
curiosamente aplica “burn” na manchete;
abaixo, imagem extraída das sessões de fotos
para a capa do “Fireball” (fonte: revista Classic
Rock) e lá no rodapé capa de EP da banda
americana Wargasm, que em 1994 gravou uma
cover ao vivo da Fireball (ficou tão boa quanto
o nível da arte da capa).

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No sentido horário, a partir do alto: disco argentino, que


saiu com capa simples e com o verso impresso em preto e
branco; por outro lado, contém, corretamente, a Demon’s
eye, em vez de Strange kind of woman; display de papelão,
artifício que foi usado pelos americanos nos primeiros anos
do CD para aumentar a visibilidade da nova mídia nas
prateleiras das lojas; capa do CD da edição comemorativa
de 25 anos do lançamento original; recorte com a
publicidade do álbum em jornal belga especializado em
música e cópia do encarte do LP original, que continha as
letras.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 9
Machine Head

A
1. Highway star (6:05) Produção: Deep Purple
2. Maybe I’m a Leo (4:51) Gravação: Rolling Stones Mobile Unit,
Montreux
3. Pictures of home (5:03) Engenheiro: Martin Birch
4. Never before (3:56) Capa: Roger Glover e John Coletta
B Lançamento: Maio de 1972
5. Smoke on the water (5:40) Gravadora/Selo/Código: EMI/Purple/TPSA
7504
6. Lazy (7:19) Lançamento no Brasil: 1973
7. Space truckin’ (4:31)

Visão geral

Após dois discos gravados nas brechas entre turnês, o Purple resolveu
reservar um tempo exclusivo para o álbum seguinte. Escolheram gravar
na Suíça, na cidade de Montreux, às margens do lago Geneva, no local
em que, em 1816, Mary Shelley escreveu “Frankenstein”. O
planejamento inicial foi por água abaixo, ou melhor, por fogo acima (ai...)
quando o local inicialmente planejado, o Casino, foi destruído por um
incêndio. Para saber detalhes desta história, favor consultar a letra de
Smoke on the water. Nela está registrado aquele estresse que sempre
rolava com a banda durante a gravação dos discos: “to make records with
a mobile, we didn’t have much time...” Depois de uma série de problemas,

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

foram obrigados a gravar de forma improvisada, em um hotel fechado


durante o inverno, mais ou menos como na história d’ “O iluminado”.
Toda confusão para encontrar um lugar para gravar e o posterior
isolamento imposto pelo hotel acabou gerando um clima dos mais
favoráveis. A audição do disco revela um clima de grande descontração
entre os músicos, o que foi altamente benéfico no processo criativo,
resultando em um grande sucesso de vendas, atingindo o primeiro lugar
na parada inglesa e o sétimo na americana.

O “Machine Head” foi o primeiro LP da banda a sair pelo selo Purple


Records (PR) mais um tentáculo de Tony Edwards e companhia bela no
ramo do show business. A criação da PR seguiu a tendência dos Beatles,
Stones e outros grupos que fundaram seu próprio selo, com a intenção de
ter um controle maior sobre sua produção. O primeiro lançamento do
selo foi o disco-solo de Jon Lord, “Gemini Suite”, que saiu em outubro de
1971, com o código inaugural de catálogo TPSA 7501. Mais sobre a PR
na Bibliografia.

Título

Existem duas possibilidades para o título. A oficial ou, pelo menos a que
consta nos livros, diz que “Machine Head” foi escolhido por Blackmore,
baseado nos mecanismos que esticam as cordas no braço da guitarra
(chamadas no Brasil de “tarraxas”), o que é reforçado duplamente: pela
foto de um braço de baixo na contracapa do LP e pelo depoimento de
Glover no DVD sobre a história do disco (veja em “Complementos”).
Outra possibilidade, de fonte não confiável, já que se trata de mera
especulação d’O Eremita, é que o nome tenha sido sugerido por Lord, que
participou de uma banda chamada Santa Barbera Machine Head.

Capa

Seguindo o clima do disco, a capa é simples e criativa. Martelaram em


uma lâmina metálica os moldes das letras e depois fotografaram o reflexo
dos rostos dos músicos na folha de metal, que ficaram distorcidos, mas
plenamente reconhecíveis. Com um pouco de esforço, dá para ver a

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

silhueta do fotógrafo Shepard Sherbell na capa, acima das cabeças do


Glover e do Lord. A parte interna foi preenchida por uma série de
pequenas fotos dos músicos e do ambiente que cercou as gravações, além
da ficha técnica. As letras vieram em um longo encarte (70 cm), dobrado
em três partes.
Conceito: B

As faixas
Todas por Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice

Highway star

Alguém consegue imaginar uma abertura melhor para um disco ou para


um show do que Highway star? Riff simples e perfeito. Glover faz uma
entrada pesadíssima, que é acentuada pela bateria de Paice. Gillan surge
gritando e declara: eu não sou apenas o rei da velocidade, eu sou a estrela
da estrada! Não bastasse o brilhantismo do conjunto
riff+melodia+interpretação do Gillan, temos dois solos marcantes. O de
Lord tem inspiração oriental. Ele mostrou seu apreço por esse tipo de
música em muitas outras oportunidades. A melhor mostra está no disco
solo “Sarabande” (meu, ouça!). O solo de Blackmore está entre os
preferidos dos fãs. Nessa altura, Blackmore estava em seu pico criativo e
muitos de seus solos passaram a ter uma estrutura. O que eu quero dizer
com isso? Apesar de Blackmore nunca repetir ao vivo os solos dos discos,
alguns tinham uma linha básica, cuja ideia passava a ser incorporada à
música. Ou seja, muitas vezes ele compunha os solos. É o caso do solo de
Highway star, que tem como corpo principal arpejos baseados em Bach.
Blackmore revelou essa inspiração em entrevista à revista Guitar Player,
na edição de setembro de 1978 (dê uma espiada na tradução que está na
Into the Purple No 3. Como conseguí-la? Veja o Apêndice, ref. A.3!).
Outro elemento decisivo para a sonoridade final da música é a base que
Lord faz no Hammond. Isso acontece em muitas músicas. Lord conseguia
extrair do teclado um som próximo ao da guitarra de Blackmore,
segurando sozinho a base, deixando Ritchie livre para tocar o que
quisesse.
Nota: 10

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Maybe I’m a Leo

Ao se escrever sobre o “Machine Head” é preciso se policiar para não


repetir “riff brilhante, música idem” para todas as faixas. O que destacar
nesta música brilhante, além de seu riff brilhante? Temos a bateria de
Paice, que faz a marcação entremeando leves rufadas na caixa. Temos,
também, outro exemplo da base que Lord faz com o Hammond, como se
fosse outra guitarra. Temos, ainda, aquele componente indescritível,
inexplicável, intangível e, portanto, inominável, que faz com que sua
presença possa tornar uma música muito muito boa, como é o caso desta
e, na sua ausência, termos uma muito muito ruim, apesar de,
basicamente, ambas terem os mesmos elementos e estrutura. Os
meticulosos devem ter reparado que nas fotos internas da capa aparece
uma ficha de gravação com o título “Just before midnight”. Não é
nenhuma música inédita, que acabou se perdendo. É o título provisório
de Maybe I’m a Leo.
Nota: 9

Pictures of home

Uma faixa que tem solos de todos. A entrada de Paice é um pequeno solo.
Temos o de Lord, seguido pelo de Glover. Um merecido destaque para
um músico relativamente subestimado na história do Purple. Glover é um
grande artista, cuja sensibilidade permite a ele transitar por vários campos
do mundo da música: compõe, bola as capas, produz discos e, entre outras
coisas mais, toca baixo extremamente bem. Ainda no terreno dos solos
(êpa!), o de Blackmore nesta música também tem que ser citado, porque
é um daqueles antológicos. Permito-me agora uma pequena digressão,
para expor uma ideia que dificilmente alguém concordará, mas, como eu
sou meu próprio editor, beleza, vou em frente. A ideia em questão é a do
“ataque”. Esse termo é usado para outra coisa na teoria musical. Resolvi
usar assim mesmo, por ser o mais próximo que encontrei para exprimir
aquilo que eu já vou explicar, calma! O “ataque” é o início do solo. É a
nota ou a sequência de notas escolhidas pelo guitarrista para fazer a
transição entre o riff ou a base e o começo do solo. Um solo de guitarra,

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

um bom solo, não é só um monte de notas tocadas da maneira mais rápida


possível. Um bom solo não tem duração determinada. Pode ser curto ou
muito longo. Mas o “ataque” é fundamental. Um bom solo sempre
começa com um bom “ataque”. E nisso o Blackmore também era mestre.
Uma prova é o começo do solo da Pictures of home. É só ouvi-lo e o
conceito do “ataque” ficará mais claro (fim da digressão).
Nota: 10

Never before

Se alguém chegar até esta parte, lendo desde o começo, eu já estarei feliz.
Entretanto, há uma boa chance de, daqui a pouco, o paciente leitor parar
a leitura e dar um “del” definitivo neste texto escrito com tanto esforço,
por causa do que será citado nas próximas frases. Não entendo certas
coisas. Eu gosto mais de Never before e, portanto, a considero melhor, do
que Black night e Strange kind of woman. Para mim, é inexplicável que
ela não tenha feito o mesmo sucesso. Tem de tudo nessa música. Começa
com uma levada meio funk, a base é um belo riff pesado, na hora do refrão
tem um teclado honky tonky, tudo apimentado com quebradas contínuas
de bateria. Subestimada, isso é que ela foi.
Nota: 9

Smoke on the water

Um fato curioso envolve a letra da música mais famosa do Purple. No


encarte que acompanhou o LP veio grafado erroneamente “Funky &
Claude was running in and
out”, dando a impressão que
se tratavam de duas pessoas
(veja reprodução). Na
verdade, o correto seria
“Funky Claude”, uma
referência a Claude Nobs,
que se tornou mais conhecido por ser o organizador do tradicional Festival
de Jazz de Montreux. Claude teve papel importante nesta história, não só
por ter ajudado a retirar parte do público do incêndio do Casino, mas

118
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

também por ter se desdobrado em conseguir um local para a gravação do


disco. Com isso, ganhou uma dupla homenagem: a citação na letra e a
foto na parte interna da capa. Nobs pode ser visto dando uma canja com
o Purple tocando gaita durante a execução de Smoke, no festival de
Montreux de 1996 - está registrado em DVD (saiu no Brasil!).

Funky Claude em dois momentos: em 1972 (foto interna do “Machine Head”) e em 2006 (foto
tirada da Internet).

O riff da Smoke é tão conhecido que acaba sendo um dos primeiros que
os candidatos a guitarristas tentam aprender. Uma cena do filme “Escola
de Rock” é um exemplo disso. O professor, interpretado por Jack Black,
mostra ao aluno o riff. Só que de forma diferente da que Blackmore toca.
Para entender melhor, sugiro a leitura do artigo “Análise técnica: Ritchie
Blackmore”, escrito por Rodrigo Rosas Fernandes especialmente para o
saudoso e expectorante fanzine Into the Purple, edição 5 (disponível na
Internet, grátis – veja o a ref. A.3 do Apêndice).

Esse detalhe é uma das muitas amostras da


qualidade e da inventividade dos músicos do
Purple. Quando se tem criatividade e talento para
a coisa, até mesmo algo simples pode ter sua dose
de inovação e de personalidade. Outro caso, na
mesma linha: o acompanhamento do baixo.
Glover não se limitou a fazer o convencional, que
seria repetir as notas do riff da guitarra. Em 1989, Gillan participou de
um movimento para arrecadar fundos para as vítimas do terremoto da
Armênia (Informativo ItP No 2, encontrável via ref. A.3 do Apêndice).
119
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Uma das fontes de recursos foi a venda de um single com Smoke, gravado
por uma série de celebridades do Rock, como Paul Rodgers, David
Gilmour, Bruce Dickinson e Brian Adams (êpa!). O baixo ficou a cargo
de Chris Squire. O que aconteceu? A linha de baixo saiu como se
esperava, ou seja, seguindo o riff e não à la Glover.

Agora, a questão do plágio. É muito fácil encontrar na Internet a citação


de que o riff de Smoke on the water é copiado/plagiado de Maria Moita,
música, em geral, atribuída a Tom Jobim. Uma coisa saudável nestes
tempos de fake news é fazer uma pesquisa, evitando a procriação de
bobagens. Maria Moita tem música de Carlos Lyra e letra de Vinícius de
Moraes e está contida no disco “Pobre Menina Rica”, de 1964, pelo selo
CBS, que o relançou em 1972. Ainda em 1964 Maria Moita recebeu
regravações de Nara Leão, Flora Purim, Vanja Orico e Sergio Mendes,
esta somente instrumental. Ouvindo todas essas versões, é possível
confirmar que a única delas que começa com as notas realmente parecidas
com o riff de Smoke é a original, do “Pobre Menina Rica”. As demais têm
arranjos diferentes, com introduções diferentes, que não lembram o
famoso riff. Em 1972 – só lembrando – quando a Internet não era nem
um sonho, qual seria a chance de um músico inglês ouvir um disco
lançado em 1964 apenas no Brasil e que, mesmo por aqui, é relativamente
desconhecido? Pode ter acontecido, é claro - Blackmore pode tê-la ouvido
em algum lugar (talvez na casa do Claude Nobs, um amante do Jazz e,
possivelmente, da bossa nova), mas as chances são irrisórias.

Que novidade mais se pode dizer da música que


tem o riff mais conhecido do Rock, com mais de
100 versões gravadas? Em todo caso, pesquisei e
selecionei alguns fatos curiosos e que podem ser
menos conhecidos. O primeiro: o título não é
inédito – existe uma música homônima anterior,
composta por Earl Nunn e Zeke Clements e
gravada em 1944 pelo cantor country Red Foley.
Segundo: Blackmore usou as mesmas notas, em outra sequência, é claro,
em Man on the silver mountain. O terceiro: essa é a música do Deep
Purple que mais tem citações no cinema e na TV. Alguns exemplos: (1)

120
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

a já citada cena de Jake Black, no filme “Escola de Rock”; (2) é


mencionada como a favorita de Tony Soprano; (3) é cantada por Bill
Murray no filme “Rock the Kasbah” (no Brasil, “Rock em Cabul”, 2015);
(4) Jake, da série “Two and a half men”, toca Smoke na guitarra (e uma
vez no piano, com a língua!) em três episódios diferentes, sendo que na
segunda vez é acompanhado por um garoto tocando celo!; (5) a série
“Better Call Saul” tem, pelo menos, três citações ao Purple. Saul (o
advogado pilantra de “Breaking Bad”) é grande fã da banda. Smoke
encerra o episódio final da primeira temporada. No episódio 7 da terceira
temporada, ele está em uma loja de instrumentos, aponta para uma
guitarra e cita “Ritchie Blackmore, Deep Purple”. No episódio seguinte
ele toca (muito mal) Smoke na guitarra que ele apontou anteriormente e
acabou comprando; (6) em “Bates Motel”, terceira temporada, episódio
“Convencimento”, o personagem Caleb arranha o riff enquanto canta os
primeiros versos adaptando a letra à situação em que se encontra, às
margens de um lago nos EUA; (7) a cinebiografia do DJ americano
Howard Stern mostra que, em sua estréia no rádio, a primeira música que
ele tocou foi Smoke; (8) faz parte da trilha sonora do filme “Caçadores
de Emoção” (“Point Break”), em gravação da banda Loudhouse (presente
no disco “For Crying Out Loud”, de 1991); (9) em um episódio da
“Grande Família” Lineu faz uma performance antológica tocando bateria
enquanto emula o vocal de Gillan; (10) em uma coletiva de imprensa em
Cingapura (registrada em vídeo), Gillan disse que uma stripper brasileira
(!) gravou Smoke em ritmo de samba! Ela lhe deu o CD, que ele tem até
hoje; (10) trata-se do único Rock que se tem notícia adotado como hino
oficial de uma cidade. Aconteceu em Mhentyha, cidade ao norte do
Azerbaijão. O prefeito de lá, Plunka Bysmurt, é um dos grandes fãs do
grupo e conseguiu convencer o parlamento da cidade que, na falta de um
hino, porque não escolher um clássico? Ganhou a parada. Aliás, lá, em
todas as paradas e jogos oficiais, a banda da cidade toca Smoke, regida
orgulhosamente por Ian Blackdale Bysmurt, filho do prefeito Plunka. Por
fim, falando em homenagens nos nomes, existe um cearense que adora
tanto essa música que batizou seu filho como Smokeonthewater
Raimundo da Silva! É verdade! Visite Atimboru, no sertão cearense e
pergunte pelo velho Ismôque. Todos o conhecem por lá.
Nota: 10

121
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Uma das muitas versões de


Smoke on the water foi feita pela
banda Forcefield, que teve entre
suas várias formações Cozy
Powell, Ray Fenwick, Graham
Bonnet e mais vários outros
membros do “clube”. À
esquerda, capa do single com a
citada versão e à direita
contracapa do primeiro álbum
da banda, de 1986, de onde foi
extraído o single.

A cena acima é de um vídeo que está no YouTube, gravado pelo Robert Fripp e sua esposa Toyah, às
margens de um lago. Para passar o tempo durante a reclusão provocada pela pandemia, eles resolveram se
divertir tocando clássicos do Rock. No caso, a dupla, com Toyah em seu uniforme de cheer leader,
interpreta Smoke on the water. Mais um exemplo da fonte inesgotável de bizarrices que é a Internet.

Lazy

Esta, provavelmente, é a música que melhor reflete o clima da banda ao


gravar o disco. Lazy é quase uma jam, com pitadas de Jazz, Blues e Rock,
descontraída, com longos e belos solos de Lord e Blackmore e a primeira
aparição em disco de Gillan tocando gaita. Assim como aconteceu com
Highway star, Smoke on the water e Space truckin’, passou a ser presença
obrigatória em shows e coletâneas – até hoje!
Nota: 10
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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Space truckin’

Riff simples e refrão banal (“come on, let’s go, space truckin’”). É como
feijão com arroz. Tem o normal, que nem todo mundo aprecia. Tem
aquele que eu fiz uma vez, que gerou um mandado judicial pedido pela
minha família para que eu nunca mais cozinhasse. Tem aquele com um
tempero especial, que torna esse prato simples em algo delicioso, de ficar
repetindo. É assim com Space truckin’. Um Rock feijão com arroz, só que
temperado com especiarias que só os grandes chefes conhecem,
transformando um prato comum em uma peça irresistível. Tá bom,
reconheço que essa metáfora culinária ficou esquisita. Porém, como eu
havia me comprometido a não usar as futebolísticas, foi o que deu para
arranjar. Space truckin’ durante muito tempo foi a música reservada aos
improvisos nos shows, ocupando o lugar que foi de Paint it black e
Mandrake Root. Nela temos Gillan tocando as congas, o que ele também
fazia ao vivo. Isso que permitia que ele se ocupasse de alguma coisa
enquanto Lord e Blackmore desembestavam nos solos. O solo de bateria
no final foi feito em overdub. Paice gravou a base e depois inseriu o solo
por cima.
Nota: 9

Complementos

Depois de dois grandes sucessos de vendas, desta vez o compacto extraído


do LP, como diriam em Itatiba, não virou. Never before foi escolhida
como lado A e do B foi incluída uma extra-LP, When a blind man cries.
Esta, belíssima. Foi lançado um pouco antes do LP (março de 1972),
sendo o primeiro disco da banda sob o selo Purple Records, mas só atingiu
o 37º posto nas paradas inglesas.

Uma curiosidade sobre o Machine Head é a existência de uma edição


quadrifônica. “Quadrifônico” foi um sistema de reprodução de discos que
pretendia ser uma evolução do estéreo. Em vez de dois, eram quatro
canais de reprodução. Isso exigia, é claro, quatro caixas de som. A ideia é
que o ouvinte se posicionasse no centro, rodeado pelas quatro caixas,

123
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

aumentando o realismo da reprodução.


Para tocar nesse equipamento especial, os
LPs deveriam ser gravados com essa
tecnologia. Não tenho ideia de quantos
discos quadrifônicos foram lançados. Além
do “Machine Head” e do “Stormbringer”,
lembro que o “Atom Heart Mother” e o
“Dark Side” do Pink Floyd tiveram sua
versão quadrifônica. Foi uma invenção que
durou pouco. De qualquer forma, a versão
quadrifônica do “Machine Head” tem alguns detalhes de gravação
diferentes. Nada que seja notável, exceto o solo de guitarra de Maybe I’m
a Leo, que é distinto do que saiu na versão em estéreo. Essa edição só saiu
nos Estados Unidos e pode ser identificada por um selo especial inserido
no canto inferior esquerdo da capa, conforme mostra a reprodução.

A edição dos 25 anos de lançamento do “Machine Head” foi a mais


caprichada em termos gráficos. Acompanharam o CD duas sobrecapas!
O pacote incluiu também dois livretos, um com a história do LP, como
sempre minucioso no texto e com várias fotos inéditas, além de,
novamente, trazer um depoimento de Glover. O outro foi um
comemorativo dos 100 anos da EMI. Engraçado que nessa publicação, o
“anfitrião” do encarte, o Deep Purple, um grande vendedor de discos,
recebeu apenas uma rapidíssima menção, enquanto que o Queen e o Pink
Floyd ganharam um espaço bem maior. Mais uma amostra da má vontade
da mídia com o Purple, citada no Capítulo 1.

Não sobrou material gravado das sessões do “Machine”, de modo que não
há faixas inéditas no CD. Apesar disso, ele é duplo: o CD 1 traz as sete
faixas do LP + When a blind man cries remixadas. O chamariz deste caso
é que as faixas foram reproduzidas até o final da gravação. Nas músicas
em que o final tem seu volume reduzido gradativamente (fade out) os
remixes avançam um pouco mais do que o registrado no disco original.
No CD 2 as faixas foram remasterizadas (pense bem – há uma diferença
entre remixar e remasterizar. Só não me peça para explicar!). No segundo
CD as músicas têm a mesma duração do LP original, mas tem duas faixas

124
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

a mais, pois foram incluídas Lazy e Maybe I’m a Leo da versão


quadrifônica do LP.

Em 2002 a ST2 lançou um DVD sobre o “Machine


Head”, dentro da série “Classic Albums”, que
tinha vários outros títulos, como, por exemplo, o
“British Steel”, do Judas Priest e o “Aja”, do Steely
Dan. Trata-se de um documentário, contendo
entrevistas com alguns dos principais envolvidos:
os cinco músicos e Martin Birch. Só faltou o
Claude Nobs. Quem se considera fã da banda não
pode não ter esse DVD! O documentário traz
depoimentos sobre cada faixa (estranhamente,
apenas Lazy não foi comentada). Parte dos comentários está nos extras,
que inclui o clipe de Never before, citado anteriormente. As partes mais
legais são aquelas que Glover e Birch apontam detalhes das faixas em
frente a uma mesa de som em um estúdio, levantando o volume dos canais
específicos do instrumento ou do vocal mencionado na conversa. Por fim,
uma constatação – pelos comentários do Glover, dá para ver que ele é um
dos maiores fãs de Blackmore. Esse DVD saiu no Brasil, tanto em edição
normal, pela ST2, como por um lançamento especial, em bancas, pela
extinta revista Bizz.

Os fãs do Purple são uma


fonte inesgotável de lucros
para as gravadoras. A gana
de ganhar a grana dos fãs é
tamanha que muitas vezes,
como neste caso, isso fica
demonstrado de forma
ridícula. Tiveram o
descaramento de lançar uma
caixa comemorativa dos 40
anos do “Machine Head”
com nada menos do que
cinco discos! Desses cinco

125
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

discos, apenas um não é alguma versão remixada ou remasterizada ou


reengambelada das mesmas gravações! Resultado: quatro vezes o
“Machine Head”! O único disco com conteúdo diferente é uma versão (lá
vamos nós) remixada do “In Concert”, da parte gravada em 1972. De
realmente novo apenas o livreto de 64 páginas que acompanha a caixa,
que deve trazer algum material interessante, o que não foi o suficiente
para me fazer ir atrás dessa edição. Sou fanático, mas sou são, ainda.

Em 14.mai.14 foi publicado no Youtube um vídeo denominado “oficial”


da Smoke on the water. Apesar dos 41 anos de atraso, ainda vale a pena.
Aquilo que seria o clip de um dos mais conhecidos Rocks do planeta traz
cenas das mais interessantes para os fãs da banda. Mostra, por exemplo,
o escritório da Purple Records, o Casino antes e depois do incêndio e
fragmentos das gravações do disco. Em uma delas dá para ver,
rapidamente, Martin Birch. Há uma narração no início do clipe (não
consegui identificar de quem é a voz), que cita a manjada fuga dos
impostos ingleses (todas as bandas daquele momento reclamavam disso)
e que levou a banda a procurar um local alternativo para gravar. No caso,
Montreux, que tem cenas da paisagem da cidade daqueles dias inseridas
no clip.

Ainda em relação à tragédia do Casino, uma curiosidade revelada por


Popoff (“The Chain of Events...” – ver Bibliografia) é que a unidade de
gravação dos Rolling Stones escapou por pouco do incêndio. Ela estava
estacionada na lateral do Casino, em uma área meio lamacenta. No meio
do corre corre, ninguém sabia da chave. Os roadies então tiveram que
quebrar um dos vidros do caminhão, desbrecá-lo e assim retirar o estúdio
móvel da zona de perigo na base do empurrão.

Algo que notei recentemente é que no encarte do CD “To the Rising


Sun”, de 2015, a editora musical de Smoke on the water é a Henrees
Music Co, ao invés da tradicional HEC Music, que detém os direitos de
todas do Deep Purple desde o início da banda até o “Come Taste the
Band”. Não sei ainda o que ocorreu, mas, especulativamente, eu diria que
a HEC vendeu os direitos dessa música à tal Henrees. Pesquisarei e
informarei.

126
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em cima, outro lançamento especial da revista alemã Horzu, trazendo como curiosidade a ausência da
moldura preta, mostrando a superfície na qual a chapa de metal estava apoiada na hora da foto frontal.
Assim como no caso do “In Rock” a abertura para a retirada do LP é pela parte interna da capa. Ao lado,
a reprodução do selo desse disco. Embaixo: a contracapa e o selo da muito mutilada versão uruguaia, que
também traz os títulos das músicas traduzidos. Highway Star, por exemplo, aparece como La estrela del
camino (o curioso é que na versão uruguaia do “Made In Japan” a mesma música é traduzida como
Camino a las estrellas). Este e todos os demais discos uruguaios citados neste texto pertenceram ao
Ricardo Topalian, grande Purplemaníaco e torcedor do Peñarol, que os vendeu por uma quantia
simbólica ao Eremita. No centro de tudo, publicidade para o single de Never before que, pela abominável
qualidade gráfica, certamente não ajudou em nada a aumentar as vendas do disco.

127
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No alto, à esquerda: cópia do encarte original com as letras que acompanhava o LP; ao lado, reprodução da
seção “Datas”, da Revista Veja, de 16.jan.13, que trouxe a notícia da morte de Claude Nobs, uma pessoa
importante não só para os fãs do Purple, mas para a música de um modo geral. À direita, as sobrecapas da edição
comemorativa dos 25 anos. Embaixo, à esquerda, a capa da edição brasileira em fita cassete. Por fim, capa do
tributo realizado em 2001 pela famosíssima Out of Phase, de quem não tenho nenhuma referência.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em agosto de 2012 a revista inglesa “Classic Rock”


lançou uma edição especial para comemorar os 40
anos do lançamento do “Machine Head”.
Acompanhava a revista o CD “Re-Machined”, um
tributo com a participação de Glenn Hughes,
Santana, Steve Vai, Iron Maiden, Metallica e
outros, que apresentaram suas versões para as
faixas do ”Machine Head”. Quer mais detalhes?
Seja corajoso e consulte o “Rock Brado”
(Apêndice, item A.4). Posteriormente o CD passou
a ser vendido separadamente. Essa excelente edição
trouxe entrevistas, fotos raras e curiosidades sobre
o álbum. Entre elas, destaco o disco polonês (capa
acima), que, conforme conta Simon Robinson, foi
lançado para driblar a censura que a cortina de ferro
impunha ao Rock. O lado A traz uma gravação de
jazz da banda polonesa estampada na capa. No lado
B foram inseridas faixas do “Machine Head”! Item
raríssimo. Por último, obra de Roger Glover
retratando o famoso incêndio no Cassino.
Podemos, maldosamente, dizer que o destino lhe foi
bondoso em inclinar sua careira para a música e não
para as telas.

129
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Aqui a reprodução da parte gráfica do laser-disc


japonês com o vídeo “Machine Head Live”, já
comentado nestas gloriosas páginas. Esse tipo de
mídia durou pouco tempo, apesar de sua
qualidade de reprodução. Para quem não chegou
a ver, foi um pré-DVD, mas o disco tinha o
tamanho de um LP.

Aproveitando o espaço, um pouco de


merchandising, para aliviar tanto os custos de
produção deste trabalho, quanto as suas dores de
cabeça – comprimidos de Blackmores!

130
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 10
Who Do We Think We Are

A
1. Woman from Tokyo (5:50) Produção: Deep Purple
2. Mary Long (4:25) Gravação: Rolling Stones Mobile Unit,
3. Super trouper (2:56) em Roma e Frankfurt
4. Smooth dancer (4:10) Engenheiro: Martin Birch
B Capa: Roger Glover e John Coletta
5. Rat bat blue (5:23) Lançamento: Março de 1973
6. Place in line (6:31) Gravadora/Selo/Código: EMI/Purple/TPSA
7508
7. Our Lady (5:12) Lançamento no Brasil: 1973

Visão geral

Este seria um disco, por definição, difícil. Como manter o nível de


“Machine Head”? Para piorar as coisas, o clima era péssimo. Gillan estava
demissionário. As gravações foram feitas de forma esparsa, entre turnês,
em uma fórmula que já se mostrara esgotada. O produto final acabou
refletindo essa conjuntura. Embora seja também um grande disco, tem
certos detalhes que mostram uma banda desgastada e que precisava de
um tempo. Uma prova disso podia ser conferida no repertório dos shows:
apenas Mary Long chegou a ser tocada ao vivo e por pouco tempo. Outro
sintoma: Blackmore sola relativamente pouco - três das sete faixas não
tem solos de guitarra.

131
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As vendas por ocasião do lançamento não foram decepcionantes: chegou


ao 4º lugar das paradas inglesas e ao 15º nos EUA. Alguns têm a mania
de dizer que este é um disco “injustiçado” do Purple. Outros
“injustiçados” seriam o “Stormbringer” e o “Come Taste The Band”.
Nada a ver. Em uma análise isolada, ou, em comparação com a média dos
discos de Rock do período, todos são grandes álbuns. O problema é
quando comparados ao “In Rock” ou ao “Machine Head”. Aí, não tem
jeito, ambos ficam mesmo em um patamar abaixo. No fundo, essa
discussão só reforça a categoria da banda, que tem uma produção de tão
alto nível que mesmo seus discos não tão brilhantes são adorados por
muitos.

Novamente a produção do álbum ficou a cargo do próprio Purple,


novamente tendo Martin Birch como piloto dos botões. Uma
característica deste e dos dois discos anteriores que deve ser destacada é
a excelente qualidade do som. A engenharia de Birch sempre conferiu aos
discos certas propriedades que ajudaram muito na apreciação da música
da banda, principalmente a divisão clara dos instrumentos e o
balanceamento perfeito dos níveis de gravação. Por isso, coube a ele um
papel muito importante no sucesso do Purple.

Título

Um dos melhores. Criativo, cínico e bem-humorado. A ideia de usar


como título do disco a frase “Quem a gente pensa que é” (sem o ponto de
interrogação) saiu de uma entrevista de Paice ao Melody Maker em julho
de 1972, quando ele citou: “recebemos pilhas de cartas apaixonadas,
tanto a favor como contra a banda. As mais raivosas em geral começam
com ‘quem o Deep Purple pensa que é?’”.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em 2021 a banda inglesa de Rock progressivo


Caravan, também nascida em 1968, lançou uma
modesta compilação de sua obra em uma caixa
com míseros 37 discos! Fiz as contas: se alguém
aguentar ouvir a banda por 8 horas seguidas, vai
levar mais de 4 dias para passar por tudo. Vai
gostar assim de Caravan lá em Itatiba! Tal
mastodonte é xará do álbum do Purple, não sei
se propositalmente ou por uma dessas estranhas
coincidências do destino.

Capa

Não acertaram, de novo. A ideia era produzir um efeito tridimensional,


com as bolhas flutuando sobre o fundo, o que, obviamente, não deu certo.
O resultado final foi uma capa que, certamente, não ajudou a vender o
disco. Para mim, essa capa sempre teve algo de “natalino”, por causa das
bolhas, que me lembravam bolas de Natal. Assim como o antecessor, a
capa não tem nenhuma relação com o título. O Purple prosseguia sem
um logotipo. Na parte interna, uma série de reproduções de matérias de
jornais sobre a banda. As letras vieram reproduzidas no envelope do LP.

A versão brasileira trouxe as inscrições em


amarelo, seguindo a capa original inglesa. Na
versão americana, o fundo teve o tom
ligeiramente modificado, ficando um pouco mais
claro e azulado. Nos textos, o amarelo foi
substituído pelo azul (reprodução ao lado).
Conceito: C.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas
Todas por Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice

Woman from Tokyo

Mantida a tradição da faixa forte de abertura, apesar de não ser tão pesada
como as três anteriores. O começo é muito marcante, com a entrada
gradativa dos instrumentos, até culminar no riff. Outro destaque é o piano
tocado no estilo honky tonky no final. O coral ao final teve Lord e Glover,
em raríssima participação vocal. Uma dúvida que sempre tive: teria sido
uma estratégia de marketing de Gillan, cantar sobre sua mulher de Tokyo
ainda antes que o Purple fizesse sua primeira excursão para o Oriente?
Nota: 9

Mary Long

Blackmore toca, se minha esquálida memória não estiver falhando, pela


primeira vez o bottleneck em disco. Ótima letra de Gillan contra a
hipocrisia moralista da época. Essa é uma das características deste disco:
o nível das letras, de um modo geral, é acima da média em relação aos
demais da discografia da banda.
Nota: 8

Super trouper

O título faz referência a um tipo de refletor, usado em shows. A letra,


triste, traz um desabafo de Gillan sobre sua condição de artista e o preço
que se paga pela fama. A primeira frase já marca o espírito da letra: “I was
young man when I died...”. Foi aplicado durante o refrão um efeito
especial (conhecido como phasing) que, em minha opinião, é
desnecessário.
Nota: 8

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Smooth dancer

Outra entre as melhores letras de Gillan. É um recado direto para


Blackmore. Uma análise completa e brilhante sobre essa letra e seu
contexto pode ser obtido de forma graciosa na Into the Purple No 5, seção
“Interpretação de Letra”, de autoria do Puplemaníaco Rodrigo Rosas
Fernandes (Apêndice, ref. A.3). A faixa reflete o clima geral entre os
músicos. Não só pela letra, mas pela produção (ficou um pouco mais
longa do que deveria), o que tirou um pouco da força da música. Apesar
disso tudo, ainda é um clássico.
Nota: 8

Rat bat blue

Grandes riffs de guitarra e de bateria(!). Outra faixa que poderia ter


rendido mais, caso tivesse uma produção diferente. Faltou o solo de
guitarra. Dobrar a velocidade de parte do solo de Lord, a meu ver (ou
seria a meu ouvir?), foi um erro. Deixou o solo artificial, deslocado do
contexto e quebrou um pouco o desenvolvimento da faixa.

Logo após soltar a Versão 9 deste trabalho


conheci a música Watch your step, gravada pelo
seu autor, Bobby Parker, e lançada como single
em julho de 1961. Não sei como os detetives do
plagiarismo deixaram escapar esta, mas o fato é
que os riffs das duas músicas são muito parecidos,
quase gêmeos. Com um pouco mais de esforço, dá
para incluir I feel fine, sim, deles, também na lista
de, ahn, “possíveis apropriações”

O título não é traduzível, pois é uma onomatopeia de uma virada de


bateria. Não tem nada a ver com a letra. Mesmo assim, nossos hermanos
insistiram na mania de traduzir todos os títulos das músicas e geraram
“Murcierlago triste”.
Nota: 8

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Place in line

Para mim, a melhor do disco. Bluesão rasgado, com grandes participações


de Gillan, Lord e Blackmore. A letra, inspirada no conto “In the Queue”
de Keith Laumer, é uma crítica ao conformismo e traz a história de um
cara que está há “nove longos anos” em uma fila que não leva a lugar
nenhum e ele não se importa.

Novamente Blackmore criou um solo estruturado, que tem um tema


inicial e que vai se desenvolvendo até o clímax, calcado na frase do início.
Depois vem o solo de Lord, também brilhante. O solo de cada um foi
gravado somente em um dos canais do estéreo, deixando o outro para o
acompanhamento. É muito divertido ouvir os dois solos deixando o botão
do balanço todo virado para o canal no qual não está o solista. Dá para
apreciar a sutileza dos acompanhamentos de Lord e Blackmore e ver
como eles complementam com precisão os solos um do outro. Outro
destaque é a amostra que Gillan dá de sua extensão vocal, flutuando do
grave ao agudo com uma habilidade impressionante.
Nota: 10

Our Lady

Nunca entendí como o Purple pode ter gravado uma canção carola como
essa. Nada contra o tema, mas, como diriam em Itatiba, não orna com o
resto do disco, com o repertório do grupo, com o espírito do Rock, ou
seja, não orna com nada! Quando o Gillan veio pela primeira vez ao
Brasil, nós, da honorável mas extinta SBADP (*) perguntamos a ele o
porquê deles terem gravado essa música. Pela sua reação deu para notar
que ele não gostou da pergunta. Mas, respondeu mesmo assim, dizendo
que simplesmente eles acharam que ela deveria ser gravada. Uma
especulação: seria um pedido de ajuda de uma banda desorientada? Outra
das faixas que não tem solo de guitarra. Que me perdoem aqueles que
gostam desta música, mas, para mim, ela deveria ter dado lugar à Painted
horse, que não tem nada de sensacional, mas é melhor do que Our Lady.
Nota: 3

136
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(*) SBADP – Sociedade Brasileira dos Apreciadores do Deep Purple. A história da SBADP
está disponível – veja o Apêndice, ref. A.1.

Complementos

Este foi o primeiro disco de estúdio que não foi acompanhado pelo
lançamento de compactos na Inglaterra, apesar do potencial que Woman
from Tokyo teria nas paradas. Mais um fato que mostra como as coisas
estavam turbulentas.

A edição comemorativa em CD não saiu em 1998, como era esperado,


para homenagear os 25 anos de lançamento. Acabou saindo em 2000,
com uma produção mais modesta do que a do “Machine Head”, sem
sobrecapa. Como sempre, veio acompanhada de um livreto muito bem
elaborado, contendo mais um longo depoimento de Glover. A única
bronca em relação a esse e a todos os demais livretos das edições especiais
em CD é a fonte usada, minúscula, incompatível com a acuidade visual
de boa parte dos fãs, como O Eremita, que não é mais nenhum garoto...

A despeito da parte gráfica menos elaborada, o conteúdo da reedição


(batizada de “remaster”) tem lá suas atrações. Trouxe a faixa Painted
horse, que ficou de fora do álbum e que havia aparecido no LP
“Powerhouse”, mas ainda não tinha sido lançada em CD (pelo menos em
edições mais comuns). Duas me chamaram mais a atenção: uma delas é
uma série de gravações da criação da Rat bat blue. Pena que dure só um
minuto. A outra é a última faixa do CD, batizada como First Day Jam,
que traz um longo improviso instrumental de Lord, Glover e Paice, mais
uma amostra do talento dos músicos tanto no domínio dos instrumentos
como na improvisação. Conforme consta no livreto, durante a pesquisa
para essa edição remaster foram descobertas gravações dos músicos se
divertindo, cantando covers (um deles com Lord no vocal). Lord pediu
que elas não fossem incluídas nessa edição, para não depreciar o álbum
como um todo.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em cima: capa e contracapa da versão uruguaia, com as traduções de


praxe, incluindo o título do disco e pérolas como “Señora censura”
para Mary Long e “Super actor” para Super Trouper. Embaixo: capa
do CD da edição comemorativa e encarte original do LP, com as
letras. Ao lado, recorte da revista americana Circus, explicando o
que é o tal “super trouper”; embaixo: livro onde consta o conto que
inspirou Place in line e duas publicidades do álbum.

138
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Para fechar a parte que enfocou a MK II, fotos das capas de alguns dos compactos originais da época e que
fazem parte da coleção d’O Eremita. Primeira linha, da esquerda para a direita: edição inglesa com
Fireball/Demon’s eye; o mesmo par de músicas em versão alemã; também alemão é o exemplar que traz
Strange kind of Woman/ I’m alone. Segunda fila: compacto alemão com duas versões de Smoke on the
water, de estúdio do lado A e ao vivo no B; ao lado, mais um exemplar germânico (nenhuma predileção,
mas foram os que apareceram para mim), desta vez com Woman from Tokyo e Black Night, esta, ao vivo;
o mesmo conteúdo, mas com capa diferente, em disco francês. Na terceira fileira, dois representantes da
série de três EPs ingleses (mas do tamanho de um compacto) sob o nome de “New, Live & Rare”. O
Volume 1, de 1977, cuja capa eu não tenho, traz Black night (ao vivo), Painted horse e When a blind man
cries; o Volume 3, de 1980, é o item mais interessante de todos desta página. No lado A, uma versão ao
vivo, até então inédita, de Smoke on the water, das sessões do “In Concert” e do lado B, Bird has flown,
com Gillan e Glover, e, ainda, Grabsplatter, instrumental. Ambas originárias de sessões na BBC. Por fim,
compacto de 1980, que tem na capa o resultado da civilizada reação do público japonês no Budokan, em
show de 1973, que contém Black night/Speed king. Esta, também, até então, em versão ao vivo inédita.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

140
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 11
Burn

A
1. Burn (6:00) Produção: Deep Purple
2. Might just take your life Gravação: Rolling Stones Mobile Unit,
(4:36)
3. Lay down, stay down (4:15) em Montreux
4. Sail away (5:48) Engenheiro: Martin Birch
B Capa: Nesbit Phipps & Froome
5. You fool no one (4:47) Lançamento: Fevereiro de 1974
6. What’s goin’ on here (4:55) Gravadora/Selo/Código: EMI/Purple/TPS
3505
7. Mistreated (7:25) Lançamento no Brasil: 1974
8. “A” 200 (3:51)

Visão geral

Quando este disco saiu no Brasil eu tinha meus 13, 14 anos. Já era fã
apaixonado do Purple. Citei em algum lugar que não havia “paixão
clubística” envolvida nisso, mas, de certa forma, eu menti. Digo o porquê.
Quando eu soube que o Gillan tinha saído, simplesmente me recusei a
ouvir o “Burn”. Demorei um tempão para dar confiança aos comentários
da galera que o disco estava muito bom. Até o dia em que ouvi. E ouvi e
ouvi e ouvi. Ainda ouço, direto. Ouvi ontem. Grande disco, contendo
grandes mudanças.

141
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Vamos às mudanças. Com a inclusão de Hughes, pela primeira vez o


Purple passou a ter dois vocalistas, embora Coverdale fosse o principal.
Voltando ao tema da “paixão clubística”, me solidarizo com o comentário
de Pete Makowski da edição especial da “Sounds” sobre a banda (veja na
Bibliografia): “precisaram arrumar dois vocalistas para substituir o
Gillan”. Outras duas novidades importantes: (1) os créditos das
composições passaram a ser atribuídos aos autores e não mais criações
coletivas, como ocorria com a MK II. Coverdale é coautor em sete das
oito faixas. De início Hughes não recebeu créditos como compositor (ver
“Bibliografia”); (2) Jon Lord aderiu de vez ao sintetizador, usando-os em
larga escala no disco. Outras mudanças aconteceram em detalhes que só
interessam aos fãs pentelhos como eu: desde o “Book Of Taliesyn” que
todos os discos vinham com sete faixas e capa dupla. “Burn” veio com
oito faixas e capa simples.

Cinco de suas faixas passaram a fazer parte do repertório dos shows, o que
é uma prova da força do disco. A vendagem também refletiu essa força,
chegando ao terceiro lugar na lista dos mais comprados na Inglaterra e em
nono nos Estados Unidos.

Hughes tem participação efetiva nos vocais em seis das faixas. Uma das
composições é instrumental (outra coisa que não acontecia desde o “Book
Of Taliesyn”) e em Mistreated Coverdale canta sozinho. Nos dois discos
seguintes, Hughes foi aumentando sua participação nos vocais. No
“Stormbringer” ele canta uma sozinho e no “Come Taste The Band”
duas.

Outro aspecto que vale ser abordado, embora controverso, é a queda na


qualidade das letras. Gillan costumava produzir letras com conteúdo
muito acima da média para o meio do Rock. São vários os exemplos, como
No one came, Place in line e Super Trouper, só para ficar na fase da MK
II. Na era Coverdale/Hughes as letras raramente saíam dos temas padrão
do meio. O assunto é polêmico porque a importância das letras no Rock
é relativa. Evidentemente que uma boa música é valorizada com uma boa
letra. Mas, em geral, o que conta é o casamento entre as duas coisas.
Quando o conjunto letra+música casa bem, quem se importa com a letra?

142
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em outras palavras: quem está preocupado demais com as letras deve


comprar um livro do Fernando Pessoa e não ficar esperando coisas muito
além de “eu tenho muitas mulheres” ou “eu tenho muitos carros” nas
composições Rockeiras.

Título

Se todos os discos tivessem como título o nome da primeira faixa, este


item não teria sido incluído na estrutura desta discografia. Afinal,
comentar o quê? O título é o nome da primeira música do disco e pronto.
O que daria para fazer é aproveitar a deixa para tirar mais uma onda com
os nossos hermanos, que traduziram o título para “Quemar”! Até fizeram
uma imitação tosca da arte do original (confira nos “Complementos”).

Capa

Não se pode dizer que colocar as velas na capa tenha sido uma ideia
brilhante, mesmo querendo forçar um trocadilho. Em todo caso, quando
decidiram que a capa seria formada por velas com as caras dos músicos,
podiam ter caprichado um pouco mais. Tudo bem, não deve ser muito
fácil esculpir em velas, mas os caras ficaram irreconhecíveis. Dá para
saber quem é o Blackmore por causa da cartola. A vela com o que seria o
rosto do Hughes ficou a cara da Dona Mirtes, uma vizinha minha quando
eu morava em São Paulo. A coisa toda ficou tão esquisita que lançaram
uma fumacinha (roxa, é claro) para encobrir parte do cenário. A
contracapa traz uma foto das mesmas velas, já queimadas. Originalmente
só foram fabricados os cinco exemplares usados para a produção da capa.
Mas, como muito fã do Purple é doente a ponto de querer comprar
réplicas das tais velas, depois de muitos anos e atendendo aos pedidos,
comercializaram um lote das velas. É mole? Eu não quis comprar. Sou fã,
mas aí já é demais. Daqui a pouco vão querer vender perucas com
penteados iguais aos usados na capa do “Shades”.
Conceito: B.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas

Burn
Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Uma das mais devastadoras faixas de abertura de um disco de Rock de


todos os tempos. Tudo perfeito: riff grudento; vocais poderosos de
Coverdale; Blackmore de volta com um solo estruturado, nada menos que
fantástico; Lord explorando bem os recursos do sintetizador, usando
várias camadas de teclados sobrepostos e...o Paice, hein? Não quis saber
de marcar o tempo e ficou solando durante as estrofes. Blackmore
confessou que o riff veio de um de seus vários empréstimos. Desta vez foi
de uma música de Ira & George Gershwin, chamada Fascinating Rhythm,
facilmente encontrada em discos das chamadas “Big Bands” (Benny
Goodman, Glen Miller e companhia bela).
Nota: 10

Might just take your life


Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Blues suingado, conduzido pelo teclado de Lord. Novamente Paice brilha


na bateria, quebrando a marcação o tempo inteiro. É a primeira chance
de ouvir o contraste entre as vozes de Coverdale e Hughes. O início
lembra um pouco o da Jessica, da banda americana Bloodrock.
Nota: 9

Lay down, stay down


Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Outro Blues suingado. Novamente Paice brilha na bateria, quebrando a


marcação o tempo inteiro. É a segunda chance de ouvir o contraste entre
as vozes de Coverdale e Hughes. Humm...algo está monótono neste texto.
É claro que as músicas não são parecidas, como se poderia supor pelo meu
comentário. Aliás, em discos do Purple, normalmente, não se encontram
músicas parecidas. O lugar comum é se afirmar que a MK III trouxe uma
roupagem mais funk para a música da banda. Mas, nesta faixa percebe-se
um leve toque latino no solo de Blackmore. Uma última observação:

144
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

falando em coisas parecidas, o riff é muito parecido com o de Blood on


the sun, do Mountain.
Nota: 8

Sail away
Blackmore/Coverdale

Ôpa, esta eu adoro! Baladão pesado, com interpretações carregadas de


emoção de Coverdale (principalmente) e Hughes. A música tem um
clima especial, resultante da sonoridade diferente da guitarra de
Blackmore e dos teclados de Lord, que ora faz um fundo com seu
Hammond, ora solta umas frases curtas com o sintetizador, de onde extrai
um belo solo.
Nota: 9

You fool no one


Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Claramente inspirada em Still I’m sad, música que Blackmore deve gostar
muito porque gravou duas versões diferentes dela em discos do Rainbow.
Muitas vezes ele misturava as duas na introdução da You fool no one nas
versões ao vivo. De novo, Paice é um dos destaques. Aquela leve (eu disse
leve) pitada latina, já citada, aparece de novo, em parte devido ao tempero
especial que Lord aplica com seu Hammond. Mais um dos solos
memoráveis de Blackmore.
Nota: 9

What’s goin on here


Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Faixa menos marcante do disco. A letra, que descreve um porre daqueles,


e a sonoridade combinam bem, transmitindo um clima descontraído.
Destaque para o piano de Lord prevalecendo, com o estilo honky tonky
reaparecendo em seu solo.
Nota: 7

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Mistreated
Blackmore/Coverdale

Ao lado da faixa título, um dos pontos altos do disco. Uma das melhores
músicas do Purple em todas as suas fases. Coverdale, ainda no início de
carreira, canta a plenos pulmões, mais na base da garra e da emoção do
que na técnica. O solo final de Blackmore é, para mim, o melhor já
registrado por ele em discos. Curiosamente, é raro Mistreated aparecer
em coletâneas. Mesmo na mais bem sucedida delas, a “Deepest Purple”,
que chegou ao primeiro lugar das paradas britânicas em 1984, Mistreated
não está presente. Recentemente foi lançada uma edição comemorando
os 30 anos dessa coletânea, na qual foram
acrescentadas algumas faixas em relação à original,
mas Mistreated permaneceu de fora. Por outro lado,
Blackmore, Coverdale e Hughes a incluíram no
repertório de seus shows em suas carreiras solo. Em
2015 George Lucas a escolheu como parte da trilha
sonora da animação “Strange Magic”. No desenho o
montro vilão canta Mistreated dando a ela uma nova
versão, resumida, acompanhado por uma banda de
monstrinhos. Muito legal.
Nota: 10

“A” 200
Blackmore/Lord/Paice

Faixa instrumental, o que é esquisito quando se têm dois vocalistas na


banda. Parece mais um veículo para que Lord se divertisse com os
recursos do sintetizador. O solo de Blackmore é mais um daqueles que
ajudaram a construir a sua fama. O título foi extraído do nome de um
remédio contra chatos (no caso, estamos falando do inseto que se instala
na região pubiana dos homens menos seletivos – se existisse remédio
contra o outro tipo de chato, a humanidade estaria condenada).
Nota: 7

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Complementos

Na Inglaterra houve apenas um compacto extraído do álbum: Might just


take your life/Coronarias redig, lançado em 4 de março de 1974. O lado
B é praticamente instrumental, contendo um pequeno trecho com vocal
de fundo por Coverdale e Hughes, semelhante ao “aaaah” do final das
estrofes de You fool no one. Este compacto não pontuou na parada
inglesa.

Em 2004 saiu a edição comemorativa dos 30 anos do lançamento original


do “Burn”. Item muito aguardado. Porém, o produto final foi um pouco
frustante, por não trazer nenhum material inédito. O pacote trouxe uma
sobrecapa, um CD simples e um livreto. Este último, o melhor de todo o
conjunto, com uma enorme quantidade de informações, começando
descrevendo a transição da Mark II para a III, passando pelos detalhes
criativos das composições e trazendo fotos e reproduções diversas de
material promocional, seguindo o padrão das edições comemorativas
anteriores, incluindo o uso da fonte em tamanho microscópico. O CD
traz a remasterização do álbum original, o que lhe deu um ganho de
qualidade, pois o som ficou mais cristalino, mas, sejamos realistas:
imperceptível para quem houve música no carro ou via tocadores de MP3.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No sentido horário: compacto alemão, com Coronarias redig do lado B; capa da fita
cassete brasileira. Logo abaixo: selo do LP uruguaio, em que “Burn” virou “Arde”,
e a reprodução de sua contracapa, que recebeu uma tonalidade azulada. Ao seu
lado, a contracapa de uma das edições argentinas, que saiu em preto e branco. Na
última linha: reprodução do encarte original do LP, que trazia as letras do disco, a
sobrecapa do CD comemorativo de 30 anos do disco. Por fim, o fisósofo Glenn
Hughes em ensaio musical, analisando as influências transcendentais de Bob Dylan
e Bruce Dickinson.

148
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em cima: capa e contracapa da edição colombiana, apresentando uma


estranha coloração amarelada. Abaixo, a reprodução dos selos dos LPs
colombiano (esquerda) e argentino. Mais embaixo: duas edições argentinas
– notem que foram duas tentativas de reproduzir a arte do título. Como
sempre, traduzido. As traduções argentinas deste disco são curiosas. Eu
traduziria Burn como “Queime”. O infinitivo do verbo, o tal “Quemar”,
seria “To burn”. Mas, esta não é a maior pérola. You fool no one que, no
meu limitado inglês seria “Você não engana ninguém”, segundo a escola
argentina de tradução significa “Tonto como ninguno” (o selo do disco traz
as demais traduções). Ao lado, recorte do jornal “O Globo”, de março de
1974.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 12
Stormbringer

A
1. Stormbringer (4:03) Produção: Deep Purple & Martin Birch
2. Love don’t mean a thing Gravação: Musicland Studios, Munique
(4:23)
3. Holy man (4:28) Engenheiro: Martin Birch
4. Hold on (5:05) Capa: Joe Garnett e John Cabalka
B Lançamento: Dezembro de 1974
5. Lady double dealer (3:19) Gravadora/Selo/Código: EMI/Purple/TPS 3508
6. You can’t do it right (with the Lançamento no Brasil: 1975
one you love) (3:24)
7. High ball shooter (4:26)
8. The gypsy (4:13)
9. Soldier of fortune (3:14)

Visão geral

A questão da “injustiça” que acompanha este disco já foi comentada no


capítulo dedicado ao “Who Do We Think”, portanto, não é o caso de
repetir. Entre o “Stormbringer” e o “Burn” existem diferenças tão grandes
nas produções musicais que nem parece que só se passaram dez meses
entre os dois lançamentos (ambos são de 1974). Durante esse período, à
medida que aumentava a influência de Hughes, caía o interesse de
Blackmore em continuar com o grupo. É patente essa transição no disco,

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

com pelo menos duas faixas no mais puro estilo Hard Rock que consagrou
a banda (Stormbringer e Lady double dealer) e ao menos duas altamente
influenciadas por Hughes e sua admiração pelo Soul e Funk. Blackmore,
após longo tempo, deixou de aparecer como coautor (Hold on). Depois
deste disco ele saiu do grupo reclamando das novas influências musicais.
Um depoimento de Hughes é curioso: ele achou engraçado Blackmore
deixar o grupo dizendo que não gostava de Black Music tendo tocado sua
guitarra tão bem, de um modo tão funky quanto ele fez no disco. Toda
essa perturbação refletiu também na vendagem: a 6ª posição obtida na
Inglaterra foi a mais baixa desde o “In Rock” (nos EUA atingiu o 20º
lugar). A crescente influência de Hughes é notada de várias formas. A
mais evidente é na sonoridade de algumas faixas, mudando o estilo da
banda. Outras duas: sua presença como compositor em seis das nove
músicas e como cantor solo em uma faixa.

No meu pouco especializado conceito, um dos problemas que o álbum


enfrentou foi decorrente da ordem em que as faixas foram distribuídas
pelo disco. O “Stormbringer” foi lançado na era do LP. De um modo
geral, os produtores usavam a seguinte tática para distribuir as faixas: as
três melhores músicas, ou seja, as mais fortes (ou mais comerciais) eram
colocadas como primeira e segunda do lado A e como primeira do lado B.
Dessa forma, eram deixados ganchos para fisgar o ouvinte. No caso do
“Stormbringer”, a segunda faixa foi mal escolhida. Há uma disparidade
muito grande entre a música de abertura e a sua sequência, o que causou
um choque nos fãs. Se fosse eu o produtor (pretensão ainda não paga
imposto, então me deixem aproveitar), eu teria escolhido outra ordem. A
faixa de abertura, é claro, eu manteria. Como segunda faixa, colocaria
Lady Double dealer. Na terceira, High ball shooter. Do lado B, iniciaria
com Hold on e manteria Soldier of fortune como última faixa, para fechar
o disco brilhantemente. A ordem das demais faixas não faria diferença.
Evidentemente que o surgimento do CD acabou com toda essa estratégia
de marketing. Essa questão da ordem das faixas também pode ter afetado
o “Come Taste The Band”, conforme exposto no capítulo seguinte.

Finalmente um debate sobre a questão: ‘A influência da Black Music no


“Stormbringer”’. Esse é um debate que não tem sentido, pois, a rigor, o

152
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Purple sempre foi influenciado pela Black Music: o Blues e o Rock’n’Roll.


Ambos os estilos têm a mesma origem na música dos afrodescendentes
americanos. A “White Music”, se é que se pode chamar assim, também
esteve presente no som do Purple, nas influências da música clássica na
formação musical de Blackmore e, principalmente, Lord. O que mudou
em “Stormbringer” foi que aumentou o leque de possibilidades, injetando
um pouco mais do balanço da “Soul Music” (outra vertente da chamada
“Black Music”) via Hughes, que já fazia essa combinação com resultados
muito bons nos seus tempos de Trapeze, principalmente nos álbuns
“You’re the music, we’re just the band” e “Medusa”.

Título

A exemplo do disco anterior, o título vem da faixa de abertura.


Comentário do Lord a respeito do nome: “Stormbringer? Mas, afinal, o
que seria isso?”. A inspiração poderia ter vindo de um dos livros de
Michael Moorcock, escritor inglês de livros de fantasia. A obra, lançada
em 1965, tem como título o nome de uma espada com poderes mágicos,
chamada “Stormbringer”. Dessa vez, achei a tradução argentina bem
legal: “Traetormentas”.

Existe um álbum anterior com o mesmo


nome, ladeado por aspas e
acompanhado de um ponto de
exclamação. Trata-se do terceiro disco
do cantor inglês de folk John Martyn
(acompanhado pela esposa Beverly),
que saiu em 1970. Aparentemente a
inspiração para o nome veio de outra
fonte e não da obra de Moorcock.

Capa

Finalmente uma bela capa do Deep Purple! A melhor de todas, com


produção de arte caprichada. É uma capa típica de Rock pesado, baseada
em um tema épico e/ou mitológico. Curioso que justamente este não

153
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

esteja entre os discos mais pesados da banda. Foi baseada em uma foto de
um tornado, tirada em 1927 em Jasper, Minnesota, por Lucille Handburg.
Pela época e pelo fato de ter sido tirada no interior, é provável que a
original seja em preto e branco. Essa foto também foi usada no disco
“Tinderbox”, da Siouxie and the Banshees. Mais comentários sobre a
capa nos “Complementos”.

Reprodução da foto do
tornado que inspirou a
capa do Stormbringer e,
posteriormente, a do disco
da Siouxie (1986).

Existem duas tonalidades de capa: na original inglesa, à qual a edição


brasileira segue, prevalecem os tons de amarelo. A versão americana tem
uma tonalidade azulada. Eu prefiro esta última (veja reprodução ao lado).

Outros fatos a comentar: a


ausência dos músicos na capa,
algo que não acontecia desde o
“Book Of Taliesyn” e,
finalmente, surgiu um logotipo.
Apesar de não ser nenhuma
inovação revolucionária nas
artes gráficas, acabou ficando
bonito e agradou. Com o passar
dos anos e de outras tentativas
de logo, esse parece ser aquele
que os fãs mais gostam até hoje.
Conceito: A.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas

Stormbringer
Blackmore/Coverdale

Magnífica! A tradição de faixas fortes na abertura dos discos foi mantida


com um clássico. Faixa de clima épico, bem capturado na ilustração da
capa. O solo de Blackmore é mais um daqueles de arrepiar, com uma
sobreposição intermediária entre o slide e o dedilhado. Segundo
declarações de Hughes, foi inspirada em Going down, música de Don Nix
que o Purple costumava tocar durante os encores dos shows da MK III.
Nota: 10

Love don’t mean a thing


Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Como já foi dito, esta não poderia suceder a Stormbringer, porque tem
uma levada relaxada, que causa um choque comparada ao peso da
anterior. Parece que são músicas de bandas diferentes. De qualquer
forma, trata-se de uma faixa singular, pois é um raro caso de uma música
sem refrão no repertório do Purple. Nela aparece algo que se repete em
várias oportunidades no álbum e que serve para valorizar as músicas: o
contraste entre a voz grave de Coverdale e a aguda de Hughes. Apesar de
fora do contexto do som tradicional da banda, é uma música bem
agradável e adorável.
Nota: 7

Holy man
Coverdale/Hughes/Lord

Esta é difícil. Muita gente adora esta música, o que põe em risco minha
saúde, pelo que citarei daqui para frente. É uma balada, cantada apenas
por Hughes, que o faz com a usual competência, embora, para meu gosto,
às vezes exagere nas inflexões vocais na tentativa de dramatizar a
interpretação. Não é uma das faixas que mais me agrada. Dá a impressão

155
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

que foi uma tentativa de emplacar um single nas paradas, pois tem um
arranjo mais para o Pop do que para o Rock.
Nota: 5

Hold on
Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Blackmore não aparece nos créditos, o que é estranho, porque este é um


Rock’n’Roll de primeira, bem ao seu estilo, embora não seja dos mais
pesados. Tem uma levada cheia de suingue e nuances. A parte
instrumental tem um arranjo em um nível de sofisticação comparável ao
Steely Dan (que, registre-se, gosto muito), considerado por muitos como
inatingível. Há um “causo” envolvendo o solo de guitarra. Blackmore
estava no auge do descontentamento e não gostou muito da música. Foi
cumprir sua obrigação, inserindo o solo de guitarra na base já gravada.
Diz a lenda que ele se sentou, plugou sua guitarra, fez o solo em uma só
tomada e foi embora. Em se tratando de Blackmore, sabemos que isso é
possível. O incrível é que saiu um solo magnífico, com a guitarra limpa,
um dos seus melhores. Esta música traz mais um dos momentos em que
as alternâncias entre as vozes de Coverdale e Hughes dão um toque de
classe extra à execução.
Nota: 9

Lady double dealer


Blackmore/Coverdale

Purple puro: pesado, rápido e bem tocado. Riff, bases, solo, tudo
honrando a tradição musical da banda. Interpretação vigorosa de
Coverdale, complementada por um efeito de eco bem adequado.
Nota: 9

You can’t do it right (with the one you love)


Blackmore/Coverdale/Hughes

A mais funky de todas, embora não seja por isso que eu a considero a
mais fraca do disco. Com a qualidade de seus vocais, a habilidade, a
experiência e a sensibilidade dos músicos, o Purple consegue tornar

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

qualquer música audível, suportável e decente. Até se eles se meterem a


tocar polca é provável que agradem. Portanto, não temos aqui uma faixa
insuportável, mas que destoa das demais. Quais são os problemas? Um
deles é a repetição excessiva do refrão, que, por sinal, não é dos mais
felizes. A variação entre as vozes de Hughes e Coverdale funciona aqui
também, mas, não consegue salvar a música da mediocridade, no bom
sentido (isto é, uma música mediana, nada mais).
Nota: 5

High ball shooter


Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Em um disco com escassez de músicas pesadas, esta acabou se


sobressaindo por ser uma das poucas a fazer algumas cabeças
chacoalharem, apesar de faltar a ela um tanto de energia. Faixa atribuída
aos cinco integrantes, mas que não deve ter exigido muito de cada um.
Nota: 7

The gypsy
Blackmore/Coverdale/Hughes/Lord/Paice

Música identificada por um riff marcante e exótico de Blackmore. Nunca


foi uma das minhas preferidas (lá vem mais pedrada!). Não sei bem o
motivo. Talvez ela pareça inacabada, terminando logo após o solo mínimo
de Blackmore. As versões ao vivo mostraram que ela rendia mais nos
shows.
Nota: 7

Soldier of fortune
Blackmore/Coverdale

Ah! Que maravilha! As obras-primas são sempre as mais difíceis de


descrever. Lindíssima balada. Uma rara (até então) gravação de
Blackmore tirando um som acústico. Lord faz uma “cama” de fundo com
seus teclados, tudo adornando perfeitamente a interpretação apaixonada
de Coverdale.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Uma bela e inusitada versão em português,


denominada O andarilho, foi gravada pela
banda maranhense de reggae Tribo de Jah em
seu álbum “In Version”, de 2004. O mesmo
disco inclui a faixa Fogo em Montreux, versão
cuja origem é fácil de sacar. Esta ficou legal,
mas não tanto quanto à de Soldier.
Nota: 10

Complementos

Na Inglaterra não houve single extraído deste disco. Assim como no caso
do “Machine Head”, houve também uma versão quadrifônica do
“Stormbringer”. O vinil dessa edição é relativamente difícil de ser
encontrado. Já o conteúdo é fácil de ser obtido, pois faz parte da edição
comemorativa do 35º aniversário de lançamento do álbum. Quando essa
edição chegou ao mercado eu postei um comentário sobre ela no meu
blog (o “Rock Brado”, endereço no Apêndice, ref. A.4), o que me
facilitou um pouco as coisas agora, porque é só dar o famoso crtl C + crtl
V e pronto. Pena que não estou ganhando por lauda... O pacote (da edição
comemorativa) é composto por um CD, um DVD e um livreto. Este
último segue o padrão dos demais relançamentos, ou seja, é excelente.
Longo texto, com muita informação e ótimas ilustrações. O DVD é
apenas áudio (!), trazendo a versão quadrifônica do LP, que havia saído
somente nos EUA. É esquisita essa história de ter um DVD só para o
áudio, ainda mais nesse caso, de diferenças mínimas entre a gravação
apresentada e a original, em estéreo. Para não dizer que não há imagem
nenhuma, durante a exibição de cada faixa a tela fica fixa em uma das
fotos do encarte. No CD tem outras novidades, que não são muitas. A
gravação original foi remasterizada, deixando o som sensivelmente
melhor, com mais nitidez. Além das nove faixas do disco normal, foram
colocadas mais cinco, sendo que quatro trazem versões remixadas por
Glenn Hughes, que, é claro, valorizou o som do baixo nesse trabalho. Das
extras, duas merecem destaque. Hold on tem os vocais diferentes da
versão original. Portanto, utilizaram outro registro, retirado das sessões
de gravação. A desigualdade é pequena, apenas detalhes na entonação,

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

mas não deixa de ser curioso. A última faixa do CD é um pouco mais


atraente. Uma versão instrumental de High ball shooter, que traz um solo
do Blackmore no lugar do original, criado por Lord.

Uma curiosa história foi revelada por Coverdale e publicada no site


Blabbermouth.net. Ele conta que em 1974 o Purple voou até a Austrália
para um show (um único show! Naquela época os empresários não eram
grandes planejadores) no Sunbury Festival, nos arredores de Melbourne,
que quase foi cancelado por conta de uma violenta tempestade de verão
(Coverdale lembra a ironia da situação quando relacionou o problema ao
título do disco que promoviam). A coisa foi em frente, com as atrações
tocando para um público atolado na lama. A enorme quantidade de capas
plásticas da audiência trouxe a imagem à Coverdale de uma imensa
convenção de camisinhas! Após a apresentação, a banda e equipe
entraram em seus carros para deixar o evento, quando música alta
começou a ser ouvida saindo do sistema de som que o Purple havia
deixado no palco. Os roadies voltaram e se depararam com uma banda
aproveitando o equipamento para se apresentar clandestinamente. Os
autores da molecagem foram nada menos que os músicos do então
iniciante grupo local AC/DC, que foram gentilmente convidados a se
retirar do palco pelos delicados roadies do Purple. Querem algo mais
Rock’n’Roll do que isso?

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Acima, matéria sobre o “causo” AC/DC. À


direita, capa de livro de RPG inspirado na
obra de Moorcock, ilustrada por Michael
Whelan. Essa ilustração foi posteriormente
utilizada pela pouca recomendável banda
Cirith Ungol em capa de um de seus discos.
No meio, capa do muito incensado disco de
1970 de Miles Davis. Diz a lenda que alguns
daqueles que reverenciam esse disco de fato
o ouviram. Dá para notar que a ilustração
que percorre a diagonal do centro para o
canto superior esquerdo é o nosso velho
amigo tornado. Ao lado, single alemão,
trazendo Stormbringer do lado A e Love
don’t mean a thing do B. Ao final, capa da
versão russa do “Stormbringer”.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Ao lado: sobrecapa da edição


comemorativa de 35 anos do
lançamento original. Abaixo, edição
argentina, com o título traduzido para
“Traetormentas”. A contracapa foi
horrivelmente alterada, com as letras
das músicas suprimidas e um fundo em
preto e branco pintado de forma
infantil. Mas, podia ser pior – é só ver o
exemplo mais abaixo, da edição
uruguaia, em que a contracapa não tem
ilustração alguma e nem ficha técnica,
apenas os títulos das faixas.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 13
Come Taste The Band

A
1. Comin’ home (3:52) Produção: Deep Purple & Martin Birch
2. Lady Luck (2:45) Gravação: Musicland Studios, Munique
3. Getting’ tighter (3:36) Engenheiro: Martin Birch
4. Dealer (3:49) Capa: Castle, Chappel and Partners Ltd.
5. I need love (4:22) Lançamento: Novembro de 1975
B Gravadora/Selo/Código: EMI/Purple/TPSA
7515
6. Drifter (4:01) Lançamento no Brasil: 1976
7. Love child (3:05)
8a. This time around (3:11)
8b. Owed to “G” (2:56)
9. You keep on moving (5:18)

Visão geral

Se a saída de Gillan já tinha torcido incontáveis narizes dos fãs ao redor


do mundo (e, no meu caso, isso significa algo muito sério, em se
considerando meu avantajado nazo), agora tinha saído o Blackmore! Para
piorar, ele foi substituído por um americano! Todavia, o Deep Purple
havia se tornado uma banda que aprendera a escolher bem os novos
integrantes. Tommy Bolin foi uma decisão magistral: um músico
talentoso como guitarrista e como compositor, um cara diferenciado, que
tinha contribuições a dar e não apenas se limitar a ser uma emulação do

162
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Blackmore. Há quem questione sua técnica, pois Bolin usa pouco o dedo
mindinho da mão esquerda (ao contrário de Blackmore). Como não
músico, considero isso um aspecto irrelevante. Basta lembra que Django
Reinhardt, guitarrista de jazz francês de origem cigana, considerado um
gênio e ídolo de muitos músicos do Rock (entre eles Blackmore), tocava
com apenas dois dedos da mão esquerda, pois tinha uma limitação
decorrente de queimaduras sofridas quando tinha 18 anos.

O produto da inclusão de Bolin no Purple foi um disco surpreendente.


Não seguia a sonoridade associada aos discos anteriores, mas, ao mesmo
tempo, tinha qualidade musical suficiente para agradar aos ouvidos bem
acostumados dos fãs.

Este também frequenta a lista dos discos “injustiçados”. Parte disso podia
ser comprovado pela vendagem obtida em seu lançamento. Não foi um
sucesso de vendas. Obteve a 19ª colocação nas paradas inglesas e 43ª nas
americanas, números aquém das marcas anteriores. Para piorar as coisas,
a banda se desfez apenas quatro meses após o lançamento do disco.
Registrando aqui, de forma pretensiosa, a verdade: o “Come Taste The
Band” nada tem de injustiçado. Ocupa um lugar de honra na discografia
do Purple e do Rock em geral.

De volta, insistentemente, à minha “teoria da ordem das faixas”, temos


mais um caso: a segunda faixa do álbum foi justamente a sua mais fraca.
É impossível apurar o quanto essa escolha interferiu no sucesso do disco.
Caso fosse eu o escolhedor da ordem das faixas, poria Love child como
segunda do lado A.

Outros fatos relevantes a comentar: Hughes seguia ampliando seu espaço.


Desta vez, ele apareceu como cantor exclusivo em duas faixas. Bolin
também dá uma palinha, cantando uma estrofe em Dealer.

Título

Segundo a bibliografia, o título veio de uma frase do Bolin, cantarolada


em um dos ensaios, durante um porre, enquanto Lord tocava um trecho

163
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

da trilha sonora de “Cabaret” ao piano. Algo como “come see the band,
come taste the band…”. De qualquer forma, o título é uma boa sacada,
um convite aos fãs mais renitentes após a saída de Blackmore para que
conheçam a nova sonoridade da banda.

Capa

Depois de dois álbuns com capa simples, estava de volta a dupla. Os rostos
dos músicos reapareceram na capa, coisa que não ocorreu mais em
nenhum dos discos de estúdio que se seguiram. O tema escolhido foi
baseado no título: uma fotomontagem de uma taça de vinho, com as caras
dos músicos inseridas. Hughes andava tão chapado de cocaína que não
foi possível tirar sua foto na mesma sessão dos demais, tendo sido usada
uma antiga. Na contracapa, a taça vazia, com uma marca de batom. Nada
muito sutil, não? A tradição do pragmatismo da banda no que se refere
às capas estava mantida.

Pela obscuridade da banda, é pouco


provável que o Purple tenha se
baseado no conceito da capa do
disco “The Alchemist”, lançado em
1973 pelo grupo inglês Home (de
onde guitarrista, Laurie Wisefield,
saiu para integrar o Wishbone Ash).
De todo modo, existe uma levíssima
semelhança entre as duas.

164
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As incansáveis pesquisas d’O Eremita resultaram em mais duas possíveis


inspirações para a capa do Purple. Vejam a semelhança – artistas dentro
de taças. Dada a relevância de ambos para a música internacional, não
preciso me dar ao trabalho de identificá-los.
Conceito: C.

As faixas

Comin’ home
Bolin/Coverdale/Paice

Faixa mais fraca de abertura, considerando o período pós-MK I. Mesmo


assim, paradoxalmente, é uma faixa forte. A competição é que é dura
(Speed King, Burn etc). O solo de Bolin é uma amostra bem característica
do seu estilo e, quando o disco saiu, gerou comentários do tipo: “ei, o cara
é bom…” (eu fui um dos tais comentaristas). Hughes declarou que
quando o disco saiu ele estranhou: “ué, que música é essa?”. Por estar
fora de órbita durante boa parte das gravações, não participou dessa faixa.
Bolin fez o baixo.
Nota: 8

Lady Luck
Cook/Coverdale

Escolha infeliz para uma segunda faixa, pois esta é a mais fraca do disco.
Uma quebrada forte na sequencia iniciada relativamente bem com
Comin’ home. Em Lady Luck já era possível perceber que a influência
soul e funk do disco anterior prosseguia. Jeffrey Cook foi parceiro de
Bolin em seu primeiro trabalho solo, o disco “Teaser”. Foi Bolin quem
apresentou a música ao grupo, embora não se lembrasse da letra.
Coverdale escreveu nova letra, tornando-se coautor. O último álbum em
que alguém de fora da banda recebia crédito por uma música havia sido o
“Deep Purple” (o terceiro). Foi incluída em alguns shows no início da
carreira do Whitesnake e acabou rendendo um pouco melhor ao vivo.
Nota: 6

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Getting’ tighter
Bolin/Hughes

Não era só Blackmore que se inspirava em composições de outrem. O riff


desta música lembra muito o de uma composição de Joe Walsh (Funk #
49). Falando em funk, esta é mais uma amostra da fusão que Hughes
promoveu com o Hard Rock da banda. Desta vez, com ótimo resultado.
É a primeira de duas do disco em que Hughes canta sozinho. Tornou-se
o momento dos improvisos nos shows, o que fazia com que Coverdale
ficasse mais de dez minutos fora de cena.
Nota: 8

Dealer
Bolin/Coverdale

Ironicamente, a letra trata dos problemas com drogas. Àquela altura um


assunto interno. Bolin aparece cantando a estrofe final, aquela que
começa com “in beggining all you wanted...”. Música com uma estrutura
mais convencional do Hard Rock, com um dos melhores solos de Bolin
no disco.
Nota: 7

I need love
Bolin/Coverdale

Música valorizada pela interpretação de Coverdale, que canta muito nesta


faixa. Bolin aparece com inserções de slide. A música tem duas mudanças
de andamento inusitadas, dominadas pela guitarra de Bolin. Tudo isso a
torna um pouco superior às suas vizinhas. As três formam um bloco com
certa similaridade, um pacote de Rocks de muita classe.
Nota: 8

Drifter
Bolin/Coverdale

Outra que segue a linha da música baseada no riff inicial, mas com alguns
temperos especiais, como as frases de guitarra em overdub ao longo de

166
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

toda a faixa e uma passagem calma quase ao final, antes de um


encerramento pesado.
Nota: 7

Love child
Bolin/Coverdale

Purple pesado dos velhos tempos. Belíssimo riff, instrumental denso,


nervoso, com Paice brilhando nas viradas. Poderia ter um solo de
Hammond em lugar do sintetizador. Aí ficaria perfeita. Tem uma música
das Supremes com o mesmo nome, fato que não tem a menor importância
neste contexto.
Nota: 9

This time around


Hughes/Lord

Nossa! Uma das músicas mais lindas que o Purple produziu. Lord compôs
a melodia encantadora e arrepiante e toca todos os instrumentos (até o
som de baixo é produzido no teclado). Hughes canta sozinho e o faz de
maneira sublime. Na era da música analógica, quando tínhamos que lidar
com uns troços esquisitos chamados toca-discos e fitas cassete, a
demonstração de habilidade era conseguir dar o “pause” no gravador
separando a primeira da segunda parte, sem deixar aparecer nenhum
resquício do toque de bateria que iniciava a seguinte.
Nota: 10

Owed to “G”
Bolin

Uma faixa em duas partes, algo que não aparecia desde o terceiro disco.
Blues instrumental, em que Bolin é o destaque. O “G” é uma homenagem
a Gershwin. Segundo consta no encarte da edição comemorativa do
álbum, quase que esta se chamou “Win” e a anterior “Gersh”, compondo
o nome do músico. Ai, ai. Bom, temos que dar um desconto porque na
época as drogas rolavam soltas...
Nota: 7

167
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

You keep on moving


Coverdale/Hughes

Já foi citado em algum lugar deste singelo trabalho que uma das
qualidades do Purple era a capacidade de compor músicas que, embora
criadas em conjunto e no mesmo período, preenchiam um disco sem que
elas parecessem umas com as outras. Esta música, uma das minhas
preferidas, vai além - é a que menos se parece com qualquer coisa gravada
pelo Purple até então. O inicio sombrio do baixo, os vocais grandiosos de
Coverdale e Hughes e os solos de Bolin e Lord formam uma composição
inusitada e exótica. Assim como aconteceu no álbum anterior, este fecha
de forma impecável.
Nota: 9

Complementos

O single extraído do disco, You keep on moving/Love child apesar de


conter duas de suas melhores faixas, não pontuou nas paradas inglesas,
algo que só o contexto perturbado da banda naqueles tempos pode
explicar.

Antes de iniciar os ensaios para o disco, o que ocorreu na Alemanha, a


banda se instalou nos Estados Unidos. Boa parte desses ensaios foi
gravada e muito tempo depois (mais precisamente em 2000) foram
lançados dois CDs com o produto desses encontros. É incrível, mas fã do
Purple compra até gravações dos ensaios! Eu não posso falar muito,
porque comprei um deles. Existe uma lenda que o dentista de Coverdale
também tinha o hábito de gravar todas as suas consultas e que ele estaria
preparando uma compilação dos melhores momentos (ou das melhores
consultas) do vocalista, para colocar no mercado. Perguntado a respeito,
ele disse: “Por que não? Esses caras compram qualquer coisa! E, além
disso, duvido que ele tenha gritado em algum show do jeito que ele gritou
naquele dia em que fiz o canal do molar inferior dele”. Caso esse disco
saia e venda bem, o Dr. Fatfinger, proctologista, já revelou que também

168
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

tem planos para lançar umas gravações reveladoras de seu cliente mais
famoso, Joe Lynn Turner.

Em 2010 saiu a edição comemorativa dos 35 anos do lançamento do


original, trazendo um CD duplo. Como sempre, o encarte é um dos
pontos fortes, com aquele monte de informações novas e velhas de
sempre. Um dos CDs traz a remasterização da fita original. O outro vem
com a remixagem de Kevin Shirley. Quando comprei o disco, pensei
“Kevin quem?”. Depois descobri (via Internet, é claro) que se trata de um
produtor sul-africano que ganhou reputação em trabalhos com o Iron
Maiden. Recentemente ele foi o produtor dos CDs do Black Country
Communion, banda de Glenn Hughes (os dois primeiros discos do BCC
foram lançados no Brasil no final de 2011). Tanto um disco como o outro
valem o investimento, por mostrarem nuances da gravação que estavam
encobertas na versão original. Mas têm duas coisas que precisam ser
destacadas. Uma é que, do mesmo modo do que ocorreu com a edição
comemorativa do “Machine Head”, as faixas que terminam com o volume
de gravação sendo abaixado (o chamado “fade out”), como é o caso de I
need love, por exemplo, foram reproduzidas até o final do que foi gravado,
com extensão um pouco maior do que na versão original. Algo bem
curioso. A outra é a presença de duas gravações inéditas, ambas no CD
2. Uma chama-se Same in L.A. e não é das mais entusiasmantes. A outra
é a Bolin/Paice Jam e é algo simplesmente abestalhante. Quase seis
minutos de improvisos de guitarra, acompanhados somente pela bateria
de Paice. Um transbordamento de talento. Vale o disco.

Recentemente consegui uma cópia de uma entrevista de Blackmore à


revista “Guitar”, edição de abril de 1974. Uma das perguntas do
entrevistador foi a respeito das antigas incursões de Ritchie pelo Jazz e se
ele continuava gostando do gênero. Ele respondeu que não, que o negócio
dele era mesmo o Rock. Além disso, citou que o Jazz não combinava mais
com seu estilo de tocar, que é o de ligar as notas. Aí vem uma citação que
pode ser entendida como uma coincidência, uma curiosidade,
especulação ou uma descoberta de minha parte. Continuando na
resposta, Blackmore cita que “agora há um bom guitarrista por aí que faz
isso (N. E.: ou seja, consegue tocar Jazz sem separação entre as notas ),

169
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

cujo nome é Tommy Bollan”. O disco que


projetou Tommy Bolin, “Spectrum”, do
Billy Cobham, é de outubro de 1973,
meses antes da entrevista. Até então, Bolin
estava em uma fase mais para o Jazz do que
para o Rock, com sua banda Energy. A
revista era inglesa e naquela época Bolin
ainda era pouco conhecido na Europa.
Portanto, é bem possível que o repórter
tenha grafado o sobrenome erradamente
como “Bollan”. Além disso, não existe
nenhum guitarrista minimamente
conhecido com esse nome. Há, portanto,
uma possibilidade de que Blackmore, enquanto ainda estava no Purple,
tenha elogiado seu sucessor! Isto é o quê? Uma coincidência, uma
curiosidade, especulação ou uma descoberta?

170
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Reprodução do
encarte da versão
italiana da coletânea
“Mark I & II”,

171
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Acima: incrível! Na onda de livros de colorir para


adultos que aconteceu anos atrás, até o Purple foi
atingido (CreateSpace Publishing, 2017, 36 pags.),
Ressalto que não é algo simples para se colorir, pois
as figuras estão todas em inglês! Ao lado, as duas
capas dos CDs contendo a gravação dos ensaios
iniciais da MK IV. Na última linha: sobrecapa da
edição comemorativa (saiu no Brasil!) e o encarte
original com as letras que acompanhava o LP.

172
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No alto, capa, contracapa e selo da


versão uruguaia, em que o título foi
traduzido para “Vini y proba la
banda” (as reproduções das capas
uruguaias não ficam muito boas
porque são cobertas por dentro e por
fora com um plástico irremovível, a
exemplo das antigas “capas
sanduíche” que havia no Brasil).
Abaixo, o verso (originalmente em
preto e branco) e o selo de uma das
edições argentinas, na qual o título
do disco foi mantido, mas todo o
resto foi traduzido e, por fim,
reproduções de duas das 28 páginas
de uma publicidade do disco em
forma de revista. Foi uma
publicação especial da “Record
World” de 5 de junho de 1976. Uma
cópia foi impressa em tamanho
menor e encartada no obrigatório
DVD “Phoenix Rising”, que enfoca
a história da MK IV. Esse DVD saiu
no Brasil em novembro de 2011 e
contém esse encarte. A foto
utilizada na propaganda do álbum
foi usada como capa do pirata “On
the Wings of Rusian Foxbat” (ver
Capítulo 26). Abaixo, um recorte da
coluna do “Big Boy” no jornal “O
Globo”, de 9 de dezembro de 1975.

173
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Mais uma grande perda. O inglês Martin Birch, tão familiar aos
Purplemaníacos, morreu aos 71 anos (27.dez.48 - 09.ago.20). A
causa da morte não foi revelada. O primeiro trabalho de Martin
como Engenheiro de Som foi para o álbum “Then Play On”, do
Fleetwood Mac (1969). Poucos dias depois, ele trabalhou no
“Concerto”. Encerrou a carreira em 1992, após o registro de "Fear
of the Dark", do Iron Maiden. A foto no topo registra Martin com
Ritchie no estudo móvel, durante as sessões que deram origem ao
“Machine Head”.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 14
Perfect Strangers

1. Knocking at your back door Produção: Roger Glover & Deep Purple
(7:00)
2. Under the gun (4:35) Gravação:Vermont, EUA, com “Le Mobile”
Unit
3. Nobody’s home (3:55) Engenheiro: Nick Blagona
4. Mean streak (4:20) Capa: George Corsillo; logo por Craig
Sprovach
5. Perfect strangers (5:23) Lançamento: Outubro de 1984
6. A gypsy’s kiss (4:40) Gravadora/Selo: Polygram/Polydor
7. Wasted sunsets (3:55) Código (CD): 823 777-2
8. Hungry daze (4:44) Lançamento no Brasil: 1984
9. Not responsible (4:36)

Visão geral

Desde a dissolução do Purple, notícias sobre a volta da banda surgiam o


tempo todo na mídia. Em 1984, o sonho dos fãs se realizou. Não só
voltavam às atividades, como vinha com a formação mais querida, a MK
II. Na publicidade do novo disco, o slogan escolhido foi “O destino os
uniu. Novamente”. A frase apareceu até na capa do LP brasileiro. Por
“destino”, podemos entender “cinco milhões de dólares”, ou seja, uma
milha per capita. Blackmore estava meio descapitalizado em razão de um
de seus vários divórcios e a grana veio em boa hora, o que fez com que
esquecesse as dificuldades que ele via na reunião da banda e topasse a
175
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

volta. Todos os demais, menos resistentes, também concordaram em


rever os velhos colegas e...zás! A química voltava a agir e o resultado
esteve muito longe de decepcionar. Pelo contrário, eles gravaram um
disco clássico, à altura das expectativas e alegrando milhões de fãs ao
redor do mundo.

Algumas coisas mudaram: a gravadora não era mais a EMI, mas a


Polygram. Martin Birch não estava na pilotagem da mesa de gravação,
mas Nick Blagona. Este fez um trabalho correto, preservando o som
característico da banda e por isso recebeu um “engenheirado
criativamente” nos créditos. (desculpe, sei que não existe “engenheirado”
em português, mas, que outra palavra usar nesse caso?). Estávamos na
fase de transição entre o LP e o CD (no Brasil, o “Perfect Strangers” só
saiu em LP). O novo disco foi gravado aproveitando a tecnologia digital
disponível, que também foi utilizada ao vivo. Pela primeira vez havia uma
produção de shows mais encorpada, com efeitos de laser em algumas das
músicas. Outra mudança foi na forma de atribuir os créditos das
composições. A política de creditar todas à todos foi abandonada. Os
créditos ficaram com os criadores das faixas: Blackmore, Gillan e Glover.
Somente Nobody’s home foi creditada aos cinco músicos. Outros padrões
da primeira fase da MK II foram abandonados: oito (ou nove, no caso do
CD) faixas, LP de capa simples e sem os rostos dos músicos na ilustração
frontal.

Uma coisa, porém, não mudou: estava de volta o velho Purple. Ou seja,
a garantia de músicas e shows de primeira qualidade. O retorno teve
grande destaque na mídia e foi acompanhado de uma longa turnê
mundial. Isto é, quase mundial, pois Brasil e Paraguai ficaram de fora.

Todo o alvoroço pela volta, as expectativas correspondidas por um disco


marcante e a intensa série de shows tiveram sua contrapartida na
vendagem do Perfect Strangers: bateu no quinto lugar nas paradas
inglesas e ao 17º na americana, números muito expressivos pela
conjuntura musical da época.

176
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Naqueles dias do final do ano de 1984 tanto nas ruas de Assuncion, como
naquela remota vila rural de Tacoma ou nos acampamentos aos pés do
K2; nas praias rochosas das ilhas Faroe, nas estradas poeirentas de
Melbourne ou, ainda, em um discreto sobrado na rua Costa Aguiar
(bairro do Ipiranga, São Paulo) havia um pensamento comum: o Rock
acabava de ganhar uma sobrevida. No caso da casa do Ipiranga, ouviu-se
muito por lá a expressão “ôrra, meu, que puta disco!”.

Título

Novamente um título extraído de uma das faixas. Gillan costumava


brincar nos shows da turnê da volta, citando que esse nome era uma
homenagem ao time “Perfect Street Rangers”, ou seja, “Perfect St.
Rangers”.

Capa

Essa tradição foi mantida: mais uma capa que não provoca nenhum “uau”
de admiração. Simples e convencional. O logotipo que domina a capa foi
muito criticado pela falta de originalidade.
Conceito: C.

As faixas

Knocking at your back door


Blackmore/Gillan/Glover

Eu me lembro bem disso: oito anos esperando os caras voltarem e, até que
enfim, iria poder ouvir um disco novo do Purple. O “Perfect Strangers” é
retirado da capa e colocado no toca-discos. O prato gira, o disco se move,
a agulha encosta no vinil, alguns pipocos estalam nos falantes e aí entra
um teclado solene, seguido de uma marcação forte do baixo. Depois vem
a bateria e explode mais um daqueles riffs sensacionais, tão característicos
da banda que eu adorava há tantos anos: eu estava feliz – eles voltaram e
voltaram muito bem. O disco tão esperado começava com uma música
perfeita. Gillan em plena forma (pena que em alguns shows da turnê sua

177
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

voz esteve prejudicada), assim como todos. Ritchie faz um solo


intrincado, um pouco fora do seu estilo, que, em geral, é mais fluído, mas
que soa bem, de qualquer forma. Refrão de letra explicitamente pouco
sutil .
Nota: 10

Under the gun


Blackmore/Gillan/Glover

Uma das cinco faixas executadas ao vivo na turnê da volta (as outras
eram: Knocking at your back door, Perfect strangers, Nobody’s home e
Gypsy’s kiss), mas, algo inexplicável, é a que eu menos gosto do disco.
Não vejo nada de errado nela. Talvez eu tenha desenvolvido alguma cisma
com as segundas faixas, sei lá. No meio do solo de Blackmore tem uma
brevíssima reprodução de Pompa e circunstância, obra do compositor
clássico inglês Elgar.
Nota: 7

Nobody’s home
Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice

Quando perguntado sobre a presença de Coverdale no Purple, Gillan


costumava responder que era como ver sua mulher com um amante.
Talvez influenciado por essa imagem eu acabei associando a letra dessa
música a um recado de Gillan ao Coverdale. Parece um comentário sobre
a queda artística do “amante”. De onde tirei essa ideia maluca? De frases
como “a legend is dying”, “nobody’s home”, “you’re not burning bright”
e, principalmente, “you talk about love and affection”, pois uma das
músicas do Whitesnake tinha esse título (Love and affection). É lógico
que essa teoria tem 99,9% de chance de ser uma piração minha,
principalmente pelo fato de que em 1984 o Whitesnake tinha lançado um
de seus discos mais bem sucedidos em termos de vendagem, o “Slide It
In”. Pirações à parte, Nobody’s home é mais uma adição da banda à
galeria de faixas clássicas de sua obra.
Nota: 9

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Mean streak
Blackmore/Gillan/Glover

Riff de primeira, instrumental impecável, grande vocal, um refrão


daqueles que pegam, solos competentes, clima “pra cima”. Estamos
falando de mais um clássico do Hard Rock. É mais uma música puro
sangue Purple.
Nota: 8

Perfect strangers
Blackmore/Gillan/Glover

Noite de sábado. Um grande salão na Zona Leste de São Paulo. Centenas


de pessoas pagam ingresso para ouvir Rock. Não é um show. O som que
rola vem de um toca-discos ligado a uma potente aparelhagem, que fica
tocando os clássicos do Hard Rock sem parar. Algumas luzes saídas de
refletores no teto se alternam, como se fosse um baile. Os Rocks clássicos
vão rolando e o público dançando. Uma bela hora começa a tocar Perfect
strangers. A galera se anima ainda mais. Carlos, o dono do baile olha para
mim e avisa: “presta atenção agora” e corta o som após o verso “a
thousand oceans I have flown”. Eu ouço um “ououou” vindo de todas
aquelas pessoas. Foi de arrepiar. Quando me lembrei daquilo para
descrever aqui, arrepiei de novo. Rock’n’Roll.
Nota: 10

A gypsy’s kiss
Blackmore/Gillan/Glover

Outra porrada. Exuberante e irresistível. Pesada e gloriosa. Nada além de


um Hard Rock honesto e despretensioso. Só que feito pelos caras certos,
vira algo que mesmo ouvido centenas de vezes continua a agradar os
ouvidos, o corpo e a mente. Ou, como citou Gillan na letra: “mind, body,
heart and soul, we got Rock’n’Roll”.
Nota: 9

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Wasted sunsets
Blackmore/Gillan/Glover

Desde When a blind man cries que a MK II não esculpia algo tão belo.
Balada emocionante, intensificada pela interpretação da banda e pelo solo
de Blackmore, simples e encantador. Outro menos experiente e sensível
enfileraria umas 500 notas no mesmo trecho.
Nota: 9

Hungry daze
Blackmore/Gillan/Glover

A letra é uma celebração da volta. Gillan cita a virada de mesa em 1969,


quando ele e Glover (o “Stinking Hippy” citado na letra - algo como
“Hippie fedido”) se juntaram ao grupo. Mantém o alto padrão de
qualidade do do disco.
Nota: 8

Not responsible
Blackmore/Gillan/Glover

Música que não entrou no LP, somente na versão em CD. É uma das
minhas preferidas. Simpatizei de cara com a primeira frase: “achei uma
grana em uma velha jaqueta preta”. Também gosto muito do final em
crescendo, com o solo de guitarra misturado aos gritos do Gillan.
Nota: 9
Complementos

O Purple ficara inativo desde 1976. Nesse período a exploração comercial


do Rock foi se especializando. As fontes de captação de dinheiro se
ampliaram. Não era mais só uma questão de lançar o disco e vender
ingressos. Havia os produtos paralelos, como os “Books Tour”, ou seja,
revistas coloridas com fotos e textos sobre a turnê, vendidas na porta dos
shows, além das camisetas, moletons, bonés e outras tranqueiras. Discos
também entravam no esquema, com lançamentos de faixas inéditas,
remixes, vinis em formatos especiais, tudo para morder o fã. No caso do
Perfect Strangers tivemos duas faixas extras: a Not responsible e a Son of

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Alerik. Esta última é uma instrumental de dez minutos (cravados), de


andamento mais para o lento do que para o pesado. É praticamente uma
“jam”. Uma fascinante e obrigatória, para os fãs, “jam”. No mais, a
reboque do LP, teve de tudo: bottom, book tour, boné, pôsteres etc,
sempre com o novo e questionável logo. Knocking at your backdoor (68º
lugar) e Perfect strangers (48º) saíram como singles, sem grande sucesso
na parada inglesa.

Outra peça de merchandising que surgiu


enquanto a banda esteve desativada foi o
videoclipe. Filmes promocionais de artistas
existem desde os anos 50, mas nos anos 80
eles ganharam muita importância, alguns
com produções caras, pois se constatou que
eles ajudavam nas vendas dos discos. O
Purple lançou quatro videoclipes derivados
deste disco: o da faixa-título, Knocking at
your back door, Nobody’s home e Under
the gun. O clipe de Perfect strangers é uma
compilação de imagens feitas durante a
gravação do disco, dentro e fora do estúdio
em Vermont. O de Under the gun é parecido. A música se estende um
pouco além do que foi gravado no disco e, ao final, Gillan, de bandana
vermelha, troca umas palavras com o diretor. O clipe de Nobody’s home
mostra a banda tocando a música ao vivo e o de Knocking... é o único que
tem alguma produção, com um enredo de ficção-futurístico-catastrófico
à la Mad Max.

181
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No sentido horário: capa do Book Tour (o


conteúdo pode ser visto na Internet – confira na
ref. A.8 do Apêndice); frente e verso de um
“Picture disc”, edição inglesa, item popular na
Europa nos anos oitenta. Este é no formato de um
compacto simples e traz a faixa Son of Alerik do
lado B; encarte original do LP, com as letras; capa
da fita cassete brasileira e um catálogo de
merchandising, aproveitando o retorno da banda
para dar uma mordida extra nos fãs.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 15
The House Of Blue Light

1. Bad attitude (5:04) Produção: Roger Glover & Deep Purple


2. The unwritten law (4:54) Gravação: Vermont, EUA, com “Le Mobile”
Unit
3. Call of the wild (4:48) Engenheiro: Nick Blagona
4. Mad dog (4:36) Capa: Icon Studios. Direção de arte: Andrew
Ellis
5. Black and white (4:39) Lançamento: Janeiro de 1987
6. Hard lovin’ woman (3:25) Gravadora/Selo: Polygram/Polydor
7. The spanish archer (5:31) Código (CD): 831 318-2
8. Strangeways (7:36) Lançamento no Brasil: 1987
9. Mitzi Dupree (5:05)
10. Dead or alive (5:00)

Visão geral

Nas palavras de Glover: “nós (a MK II) costumamos fazer um grande


disco seguido de um disco confuso”. É isso. “The House Of Blue Light”
é mais um dos álbuns que sucederam um disco brilhante e que
provavelmente integram listas de “injustiçados”, a exemplo do já
comentado caso do “Who Do We Think” e outros. O que aconteceu?
Bem, a MK II já havia se separado da primeira vez devido aos atritos
internos ou, mais especificamente, por colisões frontais entre os egos de
Blackmore e Gillan. Após uns anos separados, algumas coisas foram
deixadas de lado, as mangas arregaçadas e as malas preparadas: vamos
183
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

gravar e excursionar, como nos velhos tempos. Da mesma forma, como


nos velhos tempos, a longa e forçada convivência reavivou as diferenças
pessoais e teve início uma nova crise. O tal “disco confuso” reflete, outra
vez, o momento da banda. Ele tem partes excitantes e outras nem tanto.
No geral, é um disco que me agrada, embora seja um dos mais fracos – ou
melhor, menos fortes – entre os gravados pela MK II.

O pacote de produção é o mesmo do “Perfect”. Local de gravação,


unidade móvel e engenharia de som repetindo a fórmula exitosa do disco
anterior. As novidades ficaram no uso de sintetizadores e outros efeitos
eletrônicos nos demais instrumentos e não apenas nos teclados. Neste
disco começa, ainda que de forma tênue, uma mudança fundamental na
produção dos discos – no som! A qualidade do som começou a se
distanciar do padrão estabelecido por Martin Birch, algo que sempre havia
sido um componente marcante na obra da banda até então.

Quando houve o lançamento deste disco no Brasil, a Sociedade (SBADP)


estava em pleno crescimento. Nosso endereço saiu no encarte da edição
nacional! Mais detalhes podem ser vistos na história da SBADP – ref. A.1
do Apêndice. Outro fato curioso que aconteceu foi que fomos convidados
a fazer a crítica deste disco para a Somtrês, que, a menos desse deslize, era
uma revista bastante respeitada. Eu e o Roberto nos deixamos levar pelo
entusiasmo do momento e, confesso, acabamos por fazer uma crítica um
pouco tendenciosa, favorável demais ao disco (mea culpa, mea culpa!).
Lembro-me de um episódio estranho que aconteceu logo após a
publicação da revista. Estava eu conversando em uma loja na Galeria do
Rock, quando entrou um cara desconhecido e, sei lá de que jeito,
percebeu quem eu era e começou a me malhar, dizendo algo do tipo
“como você teve coragem de elogiar esse disco etc etc”, referindo-se à
crítica na Somtrês. Fiquei pasmo com o jeito e o nervosismo gratuito da
figura e, no fim, acabei deixando para lá. Bem, hoje, relendo a matéria,
sou obrigado a dar razão àquele maluco e reconhecer que havia um pouco
de paixão demais naquele texto, como pode ser comprovado na
comparação entre aquela crítica (disponível no Apêndice, ref. A.6) e os
comentários que seguem sobre as faixas.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Outra curiosidade, ainda, sobre o lançamento do disco no Brasil. Por


aqui, assim como no caso do álbum anterior, só houve a edição em LP.
Como o CD tem maior capacidade de duração em relação ao LP, algumas
faixas (aquelas que terminavam com o volume de gravação sendo
reduzido gradativamente) tinham duração um pouco maior na versão
digital. Provavelmente a gravadora brasileira usou o CD como matriz para
gerar o LP, de modo que o vinil nacional também tem as faixas estendidas.

Em termos internacionais, o disco foi relativamente bem: atingiu o 10º


lugar na parada inglesa e o 34º na americana.

Título

Glover declarou que, normalmente, o título do disco era definido durante


as gravações e isso servia como uma espécie de norte para os trabalhos.
Nesse caso, o disco já estava pronto e o nome ainda não havia sido
escolhido. Não houve nenhuma inspiração especial para a determinação
do título do álbum. Ele foi pinçado de uma lista elaborada por Glover e
pelo Gillan e veio de uma frase extraída da letra de Speed King, que, por
sua vez, cita um trecho da letra de Good Golly Miss Molly, de Little
Richard, um dos ídolos da banda. Esse também era o nome do bordel que
onde acontecem algumas cenas do filme “Easy rider” (no Brasil, “Sem
Destino”).

Capa

Um título como esse pelo menos permitia um bom número de ideias para
uma capa. A escolhida foi um tanto quanto previsível. Uma luz azul
aparecendo pela fresta de uma porta. Foi contratado um estúdio para
realizar a capa, que preparou uma maquete da porta e fez as fotos. Glover,
que sempre palpitou nas capas, sugeriu que a porta fosse parecida com
uma que ele havia visto na Alemanha, que tinha uma série de entalhes.
Decidiram então que os entalhes seriam de símbolos que representariam
cada um dos músicos (sim, todos já vimos isso antes – capa do Led IV).
Blackmore escolheu a coruja; Gillan o foguete, como lembrança de um
de seus pseudônimos no começo de carreira (Garth Rockett); Glover

185
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

ficou com o arco e flecha, baseado em seu signo (ele é sagitário); a opção
de Lord foi pelas máscaras teatrais, pois ele havia sido um ator iniciante e
Paice adotou o par de braços, simplesmente por ser baterista. Depois da
porta-maquete pronta, Blackmore mandou um recado – não havia
gostado da coruja. Foi feita uma mudança, só que as capas do CD já
estavam prontas. Na versão em LP a coruja foi trocada. Portanto, existem
duas capas, sutilmente diferentes.

Em cima: reprodução das duas capas existentes. A da direita é a do LP, com a coruja modificada a pedido
do Blackmore. A das esquerda é a primeira versão, que só saiu nas primeiras tiragens do CD. Dá para
notas algumas diferenças entre as duas (além da coruja, é claro), pois as fotos foram tiradas em momentos
diferentes. Abaixo, ilustração que só apareceu no encarte do CD. Ao lado, reprodução do encarte e com
as fotos internas do “In Rock” sobrepostas, à direita.

186
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No encarte do LP foi incluída uma coluna de fotos individuais dos


músicos, em um arranjo parecido com o que saiu na parte interna da capa
do “In Rock”. Proporcionou uma interessante comparação entre os dois
momentos, separados por 17 anos.
Conceito: C.

As faixas

Bad attitude
Blackmore/Gillan/Glover/Lord

A abertura do disco é das mais auspiciosas. Teclado meio fúnebre, meio


cerimonial de Lord, antecedendo um riff poderoso, nitidamente inspirado
em Onwer of a lonely heart, do Yes. O vocal de Gillan, como no restante
do disco, mostra que ele estava em grande forma. O solo de guitarra tem
uma sonoridade diferente, devido ao uso do sintetizador por Blackmore.
Nota: 9

The unwritten law


Blackmore/Gillan/Glover/Paice

Música bem diferente do que se esperaria do Purple, contrastando muito


com a faixa anterior. Após um começo empolgante, com Gillan
duplicando as notas da guitarra de Blackmore, entra uma marcação meio
tribal, reforçada pelo som de palmas. O refrão é muito bom e é quando a
bateria faz uma marcação de Rock. No fim, o produto soa bem, apesar de
estranho. Poderia ser um sinal de uma banda experimentando novos
caminhos, tentando se descolar do Hard Rock. Mas, pelo menos neste
disco, foi uma derivação isolada.
Nota: 7

Call of the wild


Blackmore/Gillan/Glover/Lord

Claramente, uma tentativa de emplacar um single de sucesso. Até teve


apoio de um videoclipe. Começa bem, mostrando certo potencial,
lembrando algumas coisas do Rainbow pós-Dio. O refrão é um pouco

187
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

chato. No fim, a aposta não foi bem sucedida. O título brinca com o livro
homônimo de Jack London, sendo que, no caso da música, a “chamada”
(“call”) refere-se a uma mera ligação telefônica.
Nota: 5

Mad dog
Blackmore/Gillan/Glover

A receita é basicamente a mesma: riff, estrofe, refrão, solo. O que impede


de dar sempre certo? Os ingredientes, ou seja, não são quaisquer riff ou
refrão que dão liga. Obviamente, também entram a sensibilidade e a
criatividade dos chefs. Tem que saber usar bem os bons ingredientes e
dosar os temperos certos. Neste caso, o resultado é um prato dos mais
deliciosos. Ei, de novo a metáfora culinária? Bom, agora já foi. Certa vez,
tomei um susto por causa desta música. Estava eu zapeando os canais da
TV quando, ao chegar na Globo, estava passando o Chacrinha. Tudo
como sempre: as chacretes dançavam, enquanto ele falava aqueles seus
velhos bordões. Que música tocava ao fundo? Sim, sim, Mad dog!
Nota: 9

Black and white


Blackmore/Gillan/Glover/Lord

Uma surpresa à primeira audição: Gillan surgia de volta com sua gaita. O
comentário sobre esta música pode ser considerado para todas as
seguintes, exceto à Mitzi Dupree. São músicas que agradam. Se estivessem
em discos de outras bandas de menor bagagem, talvez chamassem mais a
atenção. O Deep Purple estabeleceu um nível muito alto em sua carreira,
de modo que músicas que sejam somente boas, ou seja, corretas, bem
construídas e interpretadas, não despertam grandes paixões nos fãs. É
preciso que tenham alguma coisa especial, algo que as tornem clássicas.
Não é o caso desta, nem das que completam o disco, a menos da já citada
exceção.
Nota: 7

188
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Hard lovin’ woman


Blackmore/Gillan/Glover

Música pouco inspirada, a começar pelo título. Como tem um andamento


rápido, foi aproveitada nos shows (além dela, no set list da turnê
promocional do álbum, só entrou Bad attitude e, ocasionalmente, Dead
or alive).
Nota: 6

The spanish archer


Blackmore/Gillan/Glover

Tanto esta como a próxima tem uma isca especial: Blackmore sola muito,
nos dois sentidos (quantidade e qualidade). São faixas mais elaboradas
que as restantes, com riffs e desenvolvimento mais trabalhados do que a
média do álbum e valem pelo desempenho geral da banda. Caem naquela
questão citada na Black and White.
Nota: 7

Strangeways
Blackmore/Gillan/Glover

“Strangeways” é o nome de uma prisão inglesa onde eram executados os


condenados à pena de morte. Portanto, não traduza o título para
“caminhos estranhos”. É a faixa mais longa do disco e, conforme dito no
comentário anterior, tem Blackmore esbugalhando a guitarra. As
harmonias vocais, especialmente belas nesta música, foram feitas pelo
próprio Gillan, em overdubs, assim como todas as outras presentes em
discos da MK II. O riff tem um quê de oriental. Blackmore está sempre
de ouvidos abertos às músicas exóticas e costuma se inspirar nelas para
criar seus riffs. Entretanto, nesta faixa, a repetição excessiva do riff cansa
um pouco.
Nota: 7

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Mitzi Dupree
Blackmore/Gillan/Glover

Música especialmente simpática, pelo clima e pela letra, curiosa, que


conta uma história verídica acontecida com Gillan em seus tempos de
Sabbath. Em uma prova dos ares que novamente rodeavam a banda, a
versão que foi para o disco não está totalmente acabada, pois Blackmore
se recusou a refazer a gravação. O que temos é ainda uma versão demo,
um pouco rústica, mas de ótimo resultado.
Nota: 8

Dead or alive
Blackmore/Gillan/Glover

Outra faixa que, pela rapidez, funcionava um pouco melhor ao vivo. Vale
mesmo é pelo admirável duelo Lord/Blackmore que ocupa praticamente
todo o terço intermediário. O riff é um retrabalho em cima do usado em
Spotlight kid, do Rainbow. Isso é típico do Blackmore. Quando a coisa
apertava, ele pegava um antigo riff e adaptava. São inúmeros casos. Outro
exemplo aparece na Perfect strangers: tem um trecho que foi
reaproveitado da música Makin’ love, do Rainbow. A estratégia foi
ficando mais frequente com o passar dos anos, conforme citado nos
comentários dos demais discos.
Nota: 7

Complementos

O desânimo interno se estendeu aos complementos. Não houve faixas


extras ao CD. Quando o álbum ao vivo que sucedeu os dois LPs pós-volta
foi lançado (“Nobody’s Perfect”) surgiu uma nova regravação da Hush,
que não causou grande impacto. No mais, os subprodutos habituais:
compactos, book tour e videoclipes. As músicas escolhidas para os clipes
foram Bad attitude e, conforme menção anterior, Call of the wild. O
primeiro traz a banda dublando a música em estúdio. O clipe da segunda
tem um, ahn, enredo. Começa mostrando a recusa dos cinco integrantes
em gravar um vídeo. Aí temos o que seria uma audição de candidatos a
dublê dos músicos, que não passa de um amontoado de tipos-clichês
190
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(padre, anão etc). Não ajuda muito para valorizar a música e tampouco é
original, pois tem um clipe do Talking Heads que é muito parecido. Não
me lembro sobre qual música é o clipe, mas também não importa. Na
verdade, agora já sei qual é a música: é Wild wild life, do disco “True
Stories”, que foi lançado meses antes do “House of...”. Essa informação
eu devo ao Anderson Frota, um (acreditem!) leitor desta perineal obra. O
single com Call of the wild teve um desempenho muito modesto: 92º
lugar na Inglaterra.

Em cima: equipe de designers do estúdio londrino Icon, dirigida por dois ex-
homens da Hipgnosis, Richard Evans e Andrew Ellis, que produziu a capa
do “The House of Blue Light”. A maquete da porta usada para as fotos da
capa aparece ao fundo. Ao lado, selo externo promocional da versão
americana do LP.

191
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em cima: reprodução da edição colombiana.


A capa teve sua parte inferior cortada na
reprodução e a contracapa saiu em preto e
branco. Embaixo: reprodução da edição
americana do compacto Call of the
wild/Strangeways, esta, em versão estendida.
Existe uma versão do single de Call of the
wild que tem Dead or alive no lado B. Ao
lado, capa do Book Tour, cujo conteúdo pode
ser visto na Internet na referência A.8 do
Apêndice. Ao lado: capa da versão brasileira
em fita cassete.

192
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 16
Slaves And Masters

1. King of dreams (5:30) Produção: Roger Glover


2. The cut runs deep (5:42) Gravação: Orlando, EUA, Greg Rike
Productions
3. Fire in the basement (4:43) Engenheiro: Nick Blagona
4. Truth hurts (5:14) Capa: Therry Thompson
5. Breakfast in bed (5:16) Lançamento: Outubro de 1990
6. Love conquers all (3:47) Gravadora/Selo: BMG/RCA
7. Fortuneteller (5:45) Código (CD): PD 90535
8. Too much is not enough (4:19) Lançamento no Brasil: 1990
9. Wicked ways (6:35)

Visão geral

Todo mundo já fez alguma coisa na vida da qual se arrepende. É aquele


tipo de lembrança que quando surge na mente traz primeiro um
sentimento de raiva, por não ter agido ou falado naquele instante como
gostaria. Em seguida vem o esforço para ocupar o pensamento com outra
coisa, para não se martirizar. Acho que quando alguém toca no nome
desse disco para um músico do Purple (exceto o Turner, é claro),
acontece algo parecido – o lance do arrependimento. “Slaves And
Masters” foi a grande pisada de bola do grupo.

193
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Tudo começou quando, pelos mesmos motivos da primeira vez, a


incompatibilidade Blackmore-Gillan fez com que este último deixasse a
banda novamente. Só que desta vez, a substituição foi desastrosa.
Blackmore trouxe seu antigo companheiro da fase decadente do Rainbow,
o americano Joe Lynn Turner. Ele é um cara legal, tem gente que o
considera um bom cantor etc etc, mas, definitivamente, não tem o perfil
para o Purple. O resultado foi um disco fraco. O pior de todos. Entre
outros traumas, este álbum contradisse o Teorema de Glover: “um grande
disco seguido de um confuso”. Este foi o disco muito confuso após o disco
confuso. A parte instrumental cumpre seu papel com competência. Os
problemas são as composições e a interpretação de Turner.

Para nós, brasileiros, foi quando, finalmente, a banda tocou por aqui. Foi
ótimo, apesar do Turner.

As vendagens do disco refletem o descontentamento do público: chegou


somente ao 45º lugar na Inglaterra e ao 87º nos Estados Unidos, o pior
desempenho desde o Concerto, uma decepção para a nova gravadora (a
3ª na vida do Purple), a BMG.

Título

O título do disco foi esclarecido pelo próprio Glover, na coletiva de


imprensa que ele deu na primeira visita do Purple ao Brasil e na qual o
Eremita estava presente. O que segue é a reprodução de parte do texto
“Como trabalhar de graça, perder dinheiro e ainda se divertir - a história
da Sociedade Brasileira dos Apreciadores do Deep Purple”, disponível
gratuitamente na Internet (ver Apêndice, ref. A.1): “Outra pergunta foi
sobre o título do álbum. Perguntei se tinha alguma coisa de
sadomasoquismo ou se era mera coincidência, já que os termos ‘escravos’
e ‘mestres’ são usuais nessas práticas sexuais bizarras. A tradutora se
enrolou e não consegui traduzir minha pergunta. Curiosamente, o Glover,
mesmo sem a tradução, sacou o termo e respondeu que sim e que, embora
o título fosse referência à forma de processamento do som das gravações
(todo mundo já deve ter ouvido falar nas fitas ‘master’, o que gera a
‘remasterização’, outro termo manjado), existia mesmo uma relação

194
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

sadomasoquista em ser músico de uma banda famosa. O artista acaba


ficando preso à execução das músicas que o público quer ouvir, ou seja,
se torna um escravo do repertório de sucessos. O público é o mestre, que
exige que toquem em todos os shows Smoke on the Water e Highway
Star, por exemplo. Foi um desabafo surpreendente e muito sincero e que
dá o que pensar”.

Capa

Neste quesito ninguém pode


reclamar que houve mudança
– o nível continuou o mesmo
de sempre, ou seja, baixo. Bola
de cristal na capa? Deve haver
uma dezena de discos com essa
mesma ideia, se bem que só me
lembro de um: “Crystal Ball”,
do Styx. Conforme citado no
caso do “Come Taste the
Band”, minhas pesquisas
ininterruptas sobre a banda
revelatam mais uma fonte de
inspiração para capas. Claramente foi o disco “Quien Sera?” que serviu
de base para a ilustração do “Slaves and Masters”. Ou seja, mão bastasse
a falta de uma boa ideia, a arte também deixa a desejar, pois não tem a
menor personalidade. Perde até para a do álbum de Nelson Pinedo. Ou
seja, no “Slaves and Masters”, nem a capa escapa.
Conceito: D.

As faixas

King of dreams
Blackmore/Glover/Turner

Não é um começo de todo mau. Passa longe em termos de impacto em


relação às aberturas dos discos anteriores, mas poderia ser mais apreciada

195
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

se não fosse pela letra. Novamente recorro ao sensacional texto “Como


trabalhar de graça, perder dinheiro e ainda se divertir - a história da
Sociedade Brasileira dos Apreciadores do Deep Purple”, onde a história
desta letra é citada, no relato da já referida coletiva: “Uma das nossas
perguntas foi se King of dreams era uma resposta à Smooth dancer.
Turner afirmou que sim, que era uma réplica em favor do Blackmore.
Glover ainda complementou, confirmando o que foi dito pelo colega, o
que achei certa trairagem, afinal a letra da Smooth foi composta pelo
Gillan e, ao que constava, os dois eram amigos. Do Turner esse tipo de
puxa-saquismo era aceitável, uma vez que foi o Blackmore quem
arrumara os dois últimos empregos para ele”. Para maiores informações
sobre a letra de Smooth dancer, novamente sugiro a leitura da matéria da
seção “Interpretação de letra”, do também sensacional fanzine Into the
Purple, edição 5, também encontrável via Apêndice (ref. A.3).
Nota: 7

The cut runs deep


Blackmore/Glover/Lord/Paice/Turner

De um modo geral, esta e as demais faixas do disco seguem um padrão:


estão mais para o tipo de música que o Rainbow fazia na fase Turner, ou
seja, aquele som que, apesar de Rock, não é muito pesado e é melodioso
na medida para entrar na programação das FMs americanas. Embora eu
odeie esse rótulo, porque não tem muito sentido, vou citá-lo aqui porque
acabou virando referência para classificar esse tipo de música: é o que os
jornalistas de Rock batizaram de AOR, termo em inglês para “Rock
destinado aos adultos” (Adult Oriented Rock). Embora o instrumental
esteja correto, principalmente os solos, todo o restante, ou seja, os
arranjos, as letras e o vocal de Turner enquadram as músicas no padrão
comentado.
Nota: 6

Fire in the basement


Blackmore/Glover/Lord/Paice/Turner

Esta faixa foge um pouco do padrão citado na anterior, pois é mais


apimentada, o que a torna uma das melhores do disco. Exceto esta e a
196
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

faixa de abertura, todas as letras de Turner são românticas, o que também


contraria o espírito da banda, sempre lembrando a importância apenas
relativa que as letras têm no Rock, conforme exposto em algum outro
ponto deste texto.
Nota: 7

Truth hurts
Blackmore/Glover/Turner

Desta vez, Blackmore não se limitou a retrabalhar um riff, mas a música


inteira. Esta faixa é um clone mal sucedido da Perfect strangers. Como a
origem é uma obra-prima, sua derivada tem parte de suas qualidades, mas,
assim como eu, imagino que todo mundo prefira a matriz.
Nota: 5

Breakfast in bed
Blackmore/Glover/Turner

Uma das mais fracas do disco. Não sei se influenciado pelo título, mas eu
classificaria essa música como “sonolenta”.
Nota: 5
Love conquers all
Blackmore/Glover/Turner

Uma das piores coisas gravadas pelo Purple. Pensando melhor, é a pior.
Consta que Barry Manilow desistiu de gravá-la por achá-la melosa demais.
Para aumentar a dose de simpatia que os fãs tinham por ele, Turner fazia
questão de incluí-la no repertório dos shows.
Nota: 0

Fortuneteller
Blackmore/Glover/Lord/Paice/Turner

Lembra muito a Breakfast in bed. Ou seja, sonolenta.


Nota: 5

197
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Too much is not enough


Greenwood/Held/Turner

Desde os discos da MK I que o Purple não gravava uma cover (Lady Luck
não vale, pois é uma coautoria). À primeira vista, pela distinção dada,
deveríamos ter aqui uma música de outro planeta. Vale lembrar que a
recusa em incluir uma cover no “Stormbringer” foi um dos motivos que
levou Blackmore a sair da banda (no caso, Ritchie queria regravar Black
sheep of the family). Contudo, a faixa em questão não tem nada de mais.
É outra no estilo faixa-chinfrim-pra-tocar-em-FM.
Nota: 3

Wicked ways
Blackmore/Glover/Lord/Paice/Turner

Uma das três que se salvam no disco por ainda lembrarem os bons tempos,
embora nenhuma delas seja exatamente empolgante. Vale pela parte
intermediária, com belos solos de Blackmore e Lord.
Nota: 7

Complementos

Existem duas faixas extras deste disco: uma foi incluída na trilha sonora
de um filme homônimo estrelado por Roger Moore, chamado “Fire, ice
and dynamite”. Outra, Slow down sister, saiu como lado B da Love
conquers all. Este single atingiu o 57º posto na parada inglesa. Melhor do
que o de King of dreams, com seu 70º lugar. Nada que valha a pena correr
atrás (lembremos que são faixas que ficaram de fora do “Slaves And
Masters”...).

Foram produzidos dois videoclipes: King of dreams, que mesclava


imagens da banda dublando a música e de um romance entre dois
adolescentes em um parque de diversões (opa, este caso seria um exemplo
de T.O.R., ou seja “Teenage Oriented Rock”? Existe isso? Espero que
não!) e Love conquers all. O tema deste último são os sonhos românticos
de uma moça (uma modelo), baseados em quadros famosos (por exemplo,
aquele do beijo entre dois encapuzados, “The Lovers”, do Magritte) e seu
198
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

amante, papel desempenhado pelo Turner. Produção de moda


caprichada: anéis, pulseiras, colar e cabelos cuidadosamente penteados,
balançando ao vento. Bem, estou me referindo ao Turner. A modelo
também estava toda produzida. Existe ainda um clipe “incendiário” que
emenda Fire in the basement com Fire, ice and dynamite, composto por
imagens de bastidores durante a gravação do disco.

O que marcou mesmo nessa época, pelo menos para os brasileiros, foi a
turnê da banda por aqui em 1991. Foram sete shows: quatro em São Paulo
e mais Rio, Curitiba e Porto Alegre, com direito aos efeitos especiais de
laser e tudo mais.

À esquerda, foto tirada pelo Eremita


em São Paulo, na primeira turnê do
Deep Purple pelo Brasil, em 1991.
Acima, o cartaz dos shows, cortesia de
Marcelo Soares.

199
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Mais fotos tiradas pelo Eremita


em São Paulo, durante a
primeira turnê do Deep Purple
pelo Brasil. As fotos maiores da
banda em ação foram tiradas
nos shows no Olympia. A
menor é da montagem dos
equipamentos para a primeira
apresentação no Ginásio do
Ibirapuera.

200
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Nesta página e na anterior,


mais fotos tiradas pelo Eremita
durante a apresentação do
Purple. No final, capas de CDs
duplos piratas, trazendo a
gravação dos shows que
aconteceram no Brasil. O da
esquerda é francês e o da direita
tem o curioso nome de “Smoke
and Samba”.

201
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 17
The Battle Rages On

1. The battle rages on (5:56) Produção: Roger Glover & Thom Panunzio
2. Lick it up (4:00) Gravação (Engenheiro): Bearsville Studios, N. York
3. Anya (6:32) (Bill Kennedy);
4. Talk about love (4: 07) Red Rooster Studios, Alemanha (Hans Gemperle);
5. Time to kill (5:50) Greg Rike Studios, Orlando (Jason Corsaro)
6. Ramshackle man (5:34) Capa: Reiner Design Consultants, Inc.
7. A twist in the tale (4:17) Lançamento: Julho de 1993
8. Nasty piece of work (4:36) Gravadora/Selo: BMG/RCA
9. Solitaire (4:42) Código (CD): 74321 15420-2
10. One man’s meat (4:38) Lançamento no Brasil: 1993

Visão geral

Naquele meio de ano de 1992, Turner atingiu o auge de sua popularidade:


os músicos da banda (exceto Blackmore) queriam sua saída; os fãs
queriam a sua saída; a gravadora queria a sua saída. As bases das
composições para o novo disco já estavam gravadas, que já seria sem o
Turner. Pensaram em vários nomes para substituí-lo. Blackmore sugeriu
Mike di Meo, do Riot, que chegou a gravar algumas das músicas do álbum
que sucederia o malogrado “Slaves And Masters”. Ao final, por pressão
dos demais componentes, Gillan retornou. Ele reescreveu todas as letras
e gravou os vocais sobre as bases existentes. Disco lançado, a turnê

202
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

comemorativa do aniversário de 25 anos agendada, a banda voltou à


rotina. Incluindo aí a rotina de brigas entre Blackmore e Gillan.
Blackmore deixou pela segunda vez o Purple, após um show em
Helsinque, em novembro de 1993. Para completar a turnê foi contratado
Joe Satriani, outro americano, que ficou até julho de 1994, sem participar
de nenhum álbum de estúdio.

O produto de toda essa perturbação é um disco irregular, com picos e


vales. Uma mudança importante que ocorreu foi na produção. Desde os
discos da MK I que não havia a presença de um produtor “externo” (as
aspas são porque Martin Birch não pode ser considerado um cara de fora).
As pequenas mudanças na sonoridade das gravações, que despontaram no
“The House Of Blue Light”, ficaram marcantes neste disco. A qualidade
da gravação deixa a desejar, principalmente no som da bateria. O registro
do som da caixa ficou muito seco – dá a impressão que Paice está batendo
em um pedaço de madeira. Esse problema tem sua parcela no
comprometimento do resultado final, embora o maior fator esteja mesmo
na qualidade das composições. Não era uma fase particularmente
brilhante de Blackmore. Na falta de novas ideias para riffs, ele abusou da
reciclagem de alguns antigos, conforme citado a seguir nos comentários
das faixas.

O retorno de Gillan garantiu uma melhor vendagem na Inglaterra,


atingindo o 21º lugar na parada. Nos Estados Unidos, o terreno estava
mesmo perdido: obteve apenas o 192º lugar.

Título

Apesar de apenas repetir o título da faixa inicial, o álbum acabou sendo


batizado com uma frase bem irônica, refletindo o clima (uma batalha) que
quase sempre marcou os períodos de convivência entre Blackmore e
Gillan.

203
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capa

Um desastre. O que se salva? A ilustração não tem relação com o título,


a menos que seja claro para qualquer um que dois dragões daqueles que
se vê em catálogos de tatuadores, por estarem enroscados no logotipo,
indiquem que a batalha continua. Seria uma metáfora do relacionamento
Gillan/Blackmore? O logotipo, que já não era essas coisas, foi destruído
na ilustração. Aqueles traços imitando brilho são de doer. Tudo bem, o
disco não é um dos mais legais da banda, mas não precisava esculhambar
a capa desse jeito.
Conceito: D.

As faixas

The battle rages on


Blackmore/Gillan/Lord/Paice

A faixa inicial dá uma sensação de otimismo quanto a uma possível


recuperação do grupo em relação aos dois discos anteriores. Sensação que
não tem reflexo na letra da música, de tom bem pessimista, falando de
aniquilação e matanças. O Gillan tem disso, muitas vezes reflete nas letras
o momento que está passando. Um recurso recorrente em todo disco já
aparece nesta faixa – o vocal está dobrado (overdubs). O riff parece ter
sido extraído do início do solo de guitarra de Fire Dance, do Rainbow. De
qualquer forma, um começo de álbum digno e animador.
Nota: 8

Lick it up
Blackmore/Gillan/Glover

A sensação de otimismo lançada pela faixa anterior não dura muito. Esta
segunda faixa não segura o pique. Não tem brilho.
Nota: 6

204
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Anya
Blackmore/Gillan/Glover/Lord

Aqui temos um exemplo de outro dos recursos de Blackmore para compor


– a inspiração em músicas regionais. Com as turnês nos anos 80 e 90 indo
a países que até então estavam fora do circuito convencional, como
Hungria, Rússia e, é claro, Brasil, Blackmore aumentou sua possibilidade
de captar ideias. O riff de Anya pode ter surgido de alguma música
folclórica ouvida em suas viagens, pois é um tanto exótico (e belo). Uma
das melhores faixas do disco, com um começo acústico, até a entrada do
riff. Entre o início da parte cantada e o riff temos um trecho reciclado de
Stranded, do Rainbow. Um dos pontos altos entre as interpretações de
Gillan no disco, gravado em um período em que ele não estava no auge
de sua forma.
Nota: 9

Talk about love


Blackmore/Gillan/Glover

Outra faixa fraca, sem nada de especial a destacar. Tanto esta quanto Lick
it up são exemplos de algo que não costuma frequentar os álbuns do
Purple, as tais “fillers”, ou seja, faixas que servem apenas para completar
o disco, de onde não se espera nem se extrai muita coisa.
Surpreendentemente, entrou no repertório dos shows. Como em geral
acontece, ficou melhor ao vivo.
Nota: 6

Time to kill
Blackmore/Gillan/Glover

Outro caso de reciclagem. Esta faixa é muito parecida com Call of the
wild. Assim como aquela, esta também não funciona.
Nota: 4

205
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Ramshackle man
Blackmore/Gillan/Glover

Ainda no campo ecologicamente correto da reciclagem, temos um caso


em que a origem não é uma composição interna. A base desta música é
muito, mas muito, parecida com Green onions, número instrumental da
banda americana Brooker T. and the MG’s. Sintomaticamente, a Green
Onions entrou no repertório de alguns shows, como no DVD “To the
Rising Sun”, de 2015 e, em na faixa que encerra o “Turning to crime”.
Descontando a coincidênica, temos um dos picos do disco, com bom
desempenho geral e a volta de Gillan tocando sua gaita, ainda que em
participações tímidas.
Nota: 8

A twist in the tale


Blackmore/Gillan/Glover

Desta vez, temos uma re-reciclagem, pois o riff de Spotlight kid, já


utilizado em Dead or alive, voltou a sofrer uma adaptação. É um bom riff,
não há dúvida e acaba gerando músicas rápidas, que rendem bem ao vivo,
como é o caso desta. Entrou no repertório dos shows, ao lado de Anya,
como pode ser comprovado no CD “Come Hell Or High Water”.
Curiosamente, nesse CD o nome está grafado como “Twist in the tail”.
Ou seja, em vez de uma “mudança na história”, temos uma “torcida de
rabo”! Coisas que acontecem, até mesmo entre os ingleses (é só conferir
nas reproduções dos encartes dos dois CDs).
Nota: 8

206
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Nasty piece of work


Blackmore/Gillan/Glover/Lord

Uma das minhas preferidas do disco. Purple dos bons tempos. Tem uma
levada mais cadenciada, conduzida pelo Hammond e com intervenções de
Blackmore ao longo de toda música. E o que é melhor, não é reciclagem,
pelo menos não tão explícita como as demais (isso, lógico, baseado em
meu restritíssimo conhecimento musical).
Nota: 9

Solitaire
Blackmore/Gillan/Glover

Sinceramente, nunca conversei com ninguém a respeito desta música e


não sei a opinião dos fãs. Talvez muitos não gostem. É uma canção
estranha, meio balada, meio pesada, mas que me agrada. Tem um clima
melancólico, reforçado pela letra de Gillan. Achei curioso o termo
“solitaire” e fui pesquisar. Em inglês, ele é usado para designar aquele tipo
de anel que tem um único brilhante ou para o jogo de cartas que
conhecemos como paciência. O termo em inglês que indicaria solitário,
no sentido de sozinho, seria “solitary”. Ao terminar este parágrafo fiquei
imaginando o quanto esta última informação irá interferir na vida das
pessoas que lerem este texto...
Nota: 8

One man’s meat


Blackmore/Gillan/Glover

Última faixa, último caso de reciclagem. Desta vez o reaproveitamento foi


o riff de LA Connection, do Rainbow. A faixa mais fraca do disco, bem
abaixo do que a banda costuma produzir.
Nota: 4
Complementos

Além do CD, o outro produto importante desta fase do Purple, ou seja, a


terceira reunião da MK II, é o vídeo que tem o mesmo nome do disco ao
vivo lançado em 1993 – “Come Hell Or High Water”. O vídeo intercala

207
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

apresentações ao vivo com entrevistas com os músicos. Após cenas da


montagem do palco e curtas declarações de todos (menos Blackmore, é
claro), começa o show, com Highway star. Sem Blackmore, é claro!
Quando soube que o show seria filmado, Blackmore não gostou, mas
acabou aceitando, com a condição de que não houvesse câmeras no palco
(ele definitivamente não gosta de dividir espaço com câmeras – vide o
“California Jam”!). Contrariado, ele retardou a sua entrada, aparecendo
no palco somente na hora do solo de guitarra, que interrompe para jogar
um copo d’água em um câmera que estava logo atrás de Gillan. Típico
dele, mas lamentável. Nenhum dos músicos gostou, como mostram as
declarações inseridas após o final da música. Na seguinte, Black night,
Blackmore sumiu do palco na hora do duelo com Gillan. A demonstração
mais categórica da reprovação da banda às atitudes de Blackmore foi o
próprio lançamento do vídeo. Em condições normais, seria escolhida
outra apresentação para ser comercializada como um vídeo oficial.

Capa da edição brasileira


do vídeo (em VHS, 1994)
“Come Hell and High
Water”. Vale destacar a
grafia correta de Twist in
the tale.

208
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 18
Purpendicular

1. Vavoom: Ted the mechanic (4:16) Produção: Deep Purple


2. Loosen my strings (5:57) Gravação: Orlando, EUA, Greg Rike
Productions
3. Soon forgotten (4:47) Engenheiros: Darren Schneider
4. Sometimes I feel like screaming e Keith Andrews
(7:29)
5. Cascades: I’m not your lover (4:43) Capa: M.C.W. e Peter H. Bird
6. The aviator (5:20) Lançamento: Fevereiro de 1996
7. Rosa’s cantina (5:10) Gravadora/Selo: BMG/RCA
8. A castle full of rascals (5:11) Código (CD): 7 4321 33802-2
9. A touch away (4:36) Lançamento no Brasil: 1996
10. Hey Cisco (5:36)
11. Somebody stole my guitar (4:09)
12. The purpendicular waltz (4:45)

Visão geral

Com a saída de Joe Satriani, que preferiu voltar à sua carreira-solo, Steve
Morse foi convidado para o cargo de guitarrista. Steve vinha com uma
grande reputação, com seguidos prêmios de melhor do ano pela revista
Guitar Player, além de um trabalho consistente com suas bandas Dixie
Dregs e The Dregs. A entrada de Steve lembrou a de Bolin: além de
também ser americano e talentoso, participou diretamente das
209
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

composições do novo disco, que voltaram a ser creditadas aos cinco


músicos, como na primeira fase da MK II. A primeira apresentação ao
vivo de Morse com o Purple aconteceu na cidade do México, no Sports
Palace, em 23 de novembro de 1994.

Àquela altura da vida, estava na hora do Purple mudar um pouco de


estilo. Já eram todos cinquentões, os que ainda tinham cabelo mostravam
os muitos fios grisalhos e estava na hora de mudar um pouco o foco,
fazendo um som mais calmo. As velhas temáticas carros/garotas ficariam
um pouco anacrônicas partindo de uma banda tão madura. Felizmente,
foi isso que aconteceu. Após três discos opacos, “Purpendicular” se
revelou estupendo. O velho Hard Rock compareceu, mas em minoria,
rodeado de faixas acústicas e outras suingadas. A verve criativa estava de
volta, com faixas de sonoridade totalmente distintas uma das outras e
também quando comparadas às composições anteriores. Pena que os
discos seguintes não mantiveram essa linha.

Neste disco é possível sentir que todos estavam em ótimo astral. A saída
de Blackmore, a principal força criativa e locomotiva do grupo não foi
sentida. Certos detalhes mostram o bom clima como, por exemplo, o
desempenho de Paice, que voltou a se destacar com suas viradas e
quebradas de ritmo e, também, Lord, que teve mais espaço para seus solos.
Outra mudança foi no repertório dos shows. Muitas músicas que nunca
tiveram oportunidade de ser apresentadas ao vivo foram incluídas nas
turnês, algo que o público adorou. Um exemplo dessa vivacidade está
registrado no CD “Live At Olympia”. Nesse show a banda se apresentou
acompanhada de uma seção de metais, algo que Blackmore nunca
concordaria.

A qualidade da gravação do disco foi também um ponto positivo,


recuperando a sonoridade dos velhos tempos.

Embora seja um grande disco, não teve grande vendagem. Na Inglaterra


obteve apenas o 58º lugar da parada e nem pontuou nos Estados Unidos.

210
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Título

Um óbvio trocadilho com “perpendicular”. Segundo Gillan, esse nome já


fora tentado anteriormente – havia sido a sua escolha para o “Battle Rages
On” e só desta vez teve a chance de ser usado.

Capa

Mostra a trilha de um palito de fósforo sendo riscado e que,


aparentemente, quebra em um ângulo reto, ou perpendicular. Mais uma
capa sem graça. A parte gráfica do encarte também não ajuda, com os
nomes das faixas rabiscados e as letras das músicas com um tamanho
minúsculo.
Conceito: D.

As faixas
Todas por Gillan/Glover/Lord/Morse/Paice

Vavoom: Ted the mechanic

À primeira audição, torci meu nariz (conforme comentei em algum canto


do texto, isso é algo que exige certo esforço, devido ao avantajado
tamanho da “napa”). Esperava alguma coisa mais elaborada, mas, com o
tempo fui percebendo as qualidades da música. Alguns fãs mais radicais
acharam que o Gillan canta como se fosse um rap. Nada a ver. Sua forma
de cantar encaixa bem na música, a exemplo do que já havia rolado em
No one came. Outra daquelas músicas que funcionam bem ao vivo, tendo
sido usada como abertura em muitos shows. Com o passar do tempo,
passei a gostar mais e mais dela.
Nota: 8

Loosen my strings

A primeira de uma trinca de músicas com uma ambientação mais para o


acústico do que para o Hard. Todas as três têm belas melodias e foram

211
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

apostas acertadas em novos rumos, por quem sempre se caracterizou por


fazer boa música, acima de tudo.
Nota: 8

Soon forgotten

A menos agradável entre todas do disco. Lembra vagamente Demon


driver, da banda Gillan (disco “Magic”).
Nota: 6

Sometimes I feel like screaming

A letra fala da rotina das turnês e da saudade de casa. Misto de balada


com refrão pesado, com participação notável de Morse, em uma
combinação maravilhosa. Entrou de cara na lista de obras-primas da
banda.
Nota: 10

Cascades: I’m not your lover

Começa com um discurso balbuciado de forma incompreensível, sobre o


som maciço do teclado de Lord. Segue-se um Hard de primeira, com
interpretação marcante de Gillan.
Nota: 8

The aviator

Ao lado de Loosen my strings e A touch away compõe o trio de músicas


que dão um toque diferente ao disco, com sua roupagem semi-acústica.
Outra bela melodia.
Nota: 8

Rosa’s cantina

Música com um balanço delicioso, em que a melhor cozinha do mundo,


Glover e Paice, deita e rola (a música fala de uma cantina, então não

212
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

resisti em citar a cozinha – velho só pensa em comer...). Poderia passar


facilmente como uma gravação de uma banda funk classuda (aquele funk
dos anos 70, é claro).
Nota: 8

A castle full of rascals

Hard convencional, que fica meio perdido rodeado de músicas de estilo


mais inovador do repertório deste disco.
Nota: 7

A touch away

A mais bela das três semiacústicas.


Nota: 9

Hey Cisco

Outra em que a cozinha se diverte. A letra é baseada na série de TV da


qual, ao que parece, Gillan era fã. Não me recordo de ter visto essa série,
mas, me lembro que existia um Sr. Bernado na série Zorro. Coincidência
ou o Gillan fez confusão? Ou, ainda, que diferença faz?
Nota: 8

Somebody stole my guitar

Outro Hard convencional. Mas, assim como no caso da Castle, vai bem,
ainda mais se ouvida de forma isolada.
Nota: 7

The purpendicular waltz

Temos aqui uma música subestimada. Para mim, o outro ponto alto do
disco. Blues classudo, com interpretação soberba de todos. Gillan manda
bem na gaita e, principalmente, no vocal.
Nota: 10

213
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Complementos

As anotações dos músicos ao longo do ano de 1995 foram compiladas e


publicadas como “Purpendicular Yearbook” (segue reprodução da capa).
Traz um monte de fotos tiradas pelos próprios músicos e observações
sobre o desenvolvimento das canções, os primeiros shows com Morse e o
processo de gravação do disco. Pelo livreto (são 24 páginas) é possível
saber que foram compostas 16 faixas, sendo que 14 foram incluídas no
disco, ficando de fora The stallion e Don’t hold your breath. Esta última
foi inserida na edição japonesa do CD.

Será que cabe aqui um pequeno registro sobre essa história de faixas
extras nos CDs? Como já citei antes, essa é uma vantagem de ser seu
próprio editor – eu mesmo posso decidir! A desvantagem é que não tem
ninguém para dizer “oh, não, isso é besteira”. Vamos então ao caso do
CD. Quando ele surgiu como mídia, na hora de relançar discos de
catálogo, em geral as gravadoras simplesmente pegavam a matriz
analógica usada para o LP e a transformavam em CD, muitas vezes sem
sequer adaptar a parte gráfica (as músicas apareciam no encarte divididas
em lados “A” e “B”, por exemplo, como é o caso da edição que tive do
“Long Live Rock’n’Roll”). Com o passar do tempo, para incrementar o
interesse pelos CDs, as gravadoras começaram a inserir faixas extras,
como lados “B” de compactos, aproveitando a margem adicional de
gravação que essa mídia permitia (uns 30 minutos, aproximadamente).
No Japão, como o preço do CD é muito alto e acaba recebendo
concorrência dos importados, para valorizar o produto “Made In Japan”
as gravadoras acabam pedindo aos artistas que insiram faixas extras
exclusivas nos discos novos, criando uma distinção em relação aos
lançados no resto do mundo, como foi o caso do “Purpendicular”, com
Don’t hold your breath e muitos outros exemplos mais.

Com o avanço da divulgação de músicas e vídeos pela Internet (e, no caso


do Brasil, da pirataria), as vendas dos CDs passaram a cair rapidamente e
a representar uma parcela cada vez menor na receita dos artistas e
gravadoras. O próprio videoclipe perdeu prestígio, não recebendo mais
investimentos tão pesados como nas décadas de 80 e 90. Existe um único

214
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

clipe referente ao álbum “Purpendicular”, de Sometimes I feel like


screaming.

Os DVDs apareceram como mídia alternativa de receita e o Purple aderiu,


lançando vários shows da fase Morse. São muitos os títulos, entre eles
“Bombay Calling” (1995), “Live at Montreux 1996”, “Total Abandon”
(1999), “In Concert with The London Symphony Orchestra” (1999) e
“Perihelion” (2002).

Ao lado: reproduções
de capas de edições
brasileiras de três dos
DVDs citados.
Abaixo: uma das
poucas fotos que
encontrei do Deep
Purple com Joe
Satriani. O cabeçudo
que aparece ao pé da
foto (ou melhor, ao pé
do Gillan) é o senhor
Rolando Lero.

215
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em cima: capa do “Purpendicular


Yearbook”, versão de bolso (tem
uma versão maior, para os
hipermétropes). Embaixo: anúncio
em jornal dos shows do Purple em
São Paulo; reprodução do ingresso
da apresentação em Curitiba e
notícia publicada na Veja São
Paulo, sobre a mesma turnê, de
1997.

216
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 19
Abandon

1. Any fule kno that (4:27) Produção: Roger Glover & Deep Purple
2. Almost human (4:49) Gravação: Orlando, EUA, Greg Rike
Productions
3. Don’t make me happy (4:45) Engenheiro: Darren Schneider
4. Seventh heaven (5:29) Capa: Vivid Images Worldwide
5. Watching the sky (5:57) Lançamento: Maio de 1998
6. Fingers to the bone (4:53) Gravadora/Selo: EMI
7. Jack Ruby (3:47) Código (CD): 495 306-2
8. She was (4:17) Lançamento no Brasil: 1998
9. Whatsername (4:11)
10. ’69 (5:13)
11. Evil Louie (4:50)
12. Bludsucker (4:29)

Visão geral

O Deep Purple voltava à sua primeira gravadora, a EMI. Passada a


excitação da chegada de Morse, vinha o primeiro disco com a MK VII
estabilizada. Como o disco anterior tinha sido brilhante, caso o Teorema
de Glover ainda estivesse válido, este seria um álbum confuso.
Novamente o Teorema mostrou–se robusto. “Confuso”, neste caso, seria
um eufemismo para “mais ou menos”. Lamentavelmente a banda
abandonou (êpa!) os bons caminhos tomados no disco anterior, de
217
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

registros mais balançados e acústicos, voltando ao Hard, puro e simples.


Faltou inspiração. O disco não traz nenhuma música que seria selecionada
para uma coletânea séria. As músicas estão relativamente niveladas, mas
em um patamar um pouco abaixo do que se espera de um álbum do
Purple. Tem seus bons momentos, mas nada de arrebatador.

Nesta altura cabe um comentário sobre Blackmore. Apesar de suas


manias, antipatia e outros defeitos, é inegável que se trata de um
guitarrista fora de série, tanto pelos seus solos quanto por sua criatividade.
Vejamos a comparação com o Steve Morse. Este é um talento
reconhecido mundialmente. Sua prova de fogo foi este segundo disco. No
anterior, além do entusiasmo da chegada, ele contribuiu com sua coleção
de ideias em estoque, esperando para ser desenvolvidas, coisa que
normalmente acontece com um músico recém-chegado. Neste
“Abandon”, a tarefa de compor começava do zero. Resultado: um disco
pouco criativo. Algumas faixas até são parecidas entre si, pecado raro em
termos de Purple. Os solos também não são tão variados como os de
Blackmore. Não quero dizer com isso que Steve não seja um grande
guitarrista. Quem sou eu para dizer isso? A verdade é que eu acho que
sua guitarra apita demais. Neste disco, o timbre em quase todas as faixas
é o mesmo, o que cansa um pouco caso seja ouvido do início ao fim. Na
comparação com Blackmore, para mim, ele perde feio, embora seja, de
fato, um grande (e risonho, o que é legal) guitarrista.

Naquela época o Purple já vivia dificuldades com as vendagens. O disco


ficou apenas em 76º lugar na parada inglesa e foi mais um a não entrar
na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos, à semelhança do que
ocorreu com o “Purpendicular”. A vendagem de ingressos para os shows
também não ia bem, principalmente na América, o que levou os
empresários a buscar outra estratégia, tentando explorar novos mercados,
como Índia e Turquia, por exemplo.

Título

Um trocadilho esperto de Gillan, usando a palavra que, em inglês, tem


como um dos significados “se entregar, renunciar” e, ao mesmo tempo

218
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

pode ser fragmentada em “A band on”, ou seja, algo como “uma banda
seguindo em frente”.
Capa

Depois de muitas tentativas em acertar na capa, resolveram contratar um


estúdio gráfico. A capa seguiu o estilo da Hipgnosis, com uma
fotomontagem bem trabalhada de um sujeito mergulhando de cima de um
prédio. Visualmente ficou bonito, mas houve quem lembrasse que há uma
capa parecida do Def Leppard, em que aparecia um sujeito (suponho que
seja outro, pois ninguém aguentaria uma queda daquelas) mergulhando
em uma piscina vazia. Muitos anos depois, a banda prog Airbag (sou eu
ou esse nome é bem bobo?) usou o mesmo tema na capa da sua obra de
2011, “All Rights Removed” (bom disco, por sinal).

Houve, ainda, comentários irônicos sugerindo que a capa ilustrava a


reação de alguns fãs após ouvirem o disco. O que, venhamos, é um pouco
de exagero.
Conceito: B.

Ao lado as capas dos


discos citados: Def
Leppard (1981) e Airbag.

As faixas
Todas por Gillan/Glover/Lord/Morse/Paice, exceto (*)

Any fule kno that

Há décadas (nossa!) um disco do Deep Purple não começava de forma


tão fraca. Desta vez não dá para defender – é uma tentativa de modernizar
o som da banda, fazendo alguma coisa que lembra vagamente o rap. O riff

219
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

de guitarra remete bandeirosamente a Bloodsucker. É tão fraca que pouco


foi usada em shows. Quando o Purple esteve no Brasil com a orquestra,
um ano e meio após o lançamento deste disco, abriu com Ted the
mechanic. Aliás, a única que entrou no repertório daquele show foi
Watching the sky.
Nota: 6

Almost human

Composição típica deste disco. Tudo certo: bem interpretada,


aparentemente nada fora do lugar. Mas não provoca nenhum impacto, ou
seja, não funciona! Faltou aquele detalhe indescritível que distingue uma
faixa clássica de uma comum. Triste constatação que se repete em quase
todas as demais músicas.
Nota: 6

Don’t make me happy

Ah, a exceção! Belo Blues lento, um bonito solo de Morse. Esta sim, vai
para a lista de clássicas da banda. Curiosamente, consta que ela foi
reproduzida em mono, pois houve um problema de sincronização dos
canais na fita master. Essa informação veio de uma das fontes consultadas,
porque eu, sinceramente, não havia percebido o problema.
Nota: 8

Seventh heaven

Como quase todas as suas colegas do disco, na sua dissecação achamos


peças interessantes aqui e ali. O começo é legal, assim como o solo do
meio. Só que as partes que sobram não entusiasmam.
Nota: 6

220
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Watching the sky

Às primeiras notas parece que estamos ouvindo Battle rages on! O que
vem em seguida? Oh, não, mais um pseudo-rap! Lembra a música de
abertura.
Nota: 6

Fingers to the bone

Traz momentos que remetem ao disco anterior. Pena que é contaminada


pela insistência de Morse em colocar um peso desnecessário no
acompanhamento da guitarra. Mesmo assim, é uma das mais agradáveis
do disco, com uma bela (e breve) passagem intermediária de piano e gaita.
Nota: 7

Jack Ruby

Informação enciclopédica: Jack Ruby foi o cara que assassinou Lee


Harvey Oswald, após ele ser preso, acusado de matar John F. Kennedy.
Faixa com pouco a salientar, seguindo na toada do disco. Salva-se o solo
de Lord.
Nota: 5

She was

Outra das melhores do disco, com um bom riff e uma inventiva mudança
de ritmo na hora do solo, com um breve duelo Lord-Morse. Não se deve
dar atenção à letra.
Nota: 7

Whatsername

Assim como as demais (e poucas) boas faixas do disco, esta é valorizada


quando ouvida isoladamente. O único problema é o refrão, quando a
música perde um pouco de força.
Nota: 7

221
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

’69

A letra faz referências a locais e situações vividas pela banda em 1969,


ano em que Gillan e Glover ingressaram no Purple. Música rápida,
daquelas que podem render bem ao vivo. No disco não funcionou muito
bem.
Nota: 5

Evil Louie

Lembra um pouco a Whatsername. É melhor, com um refrão mais forte.


Nota: 8

Bludsucker
(*)Blackmore/Gillan/Glover/Lord/Paice

Na Parte II deste texto, eu citei que dificilmente a cover de um Rock


Clássico supera a versão original. Aqui está mais um exemplo. Eu não
entendo que vantagem existe em se regravar uma música tentando
reproduzir a original em detalhes. A primeira versão sempre vai ter mais
valor justamente por ter sido a primeira. A regravação só teria sentido se
desse uma nova roupagem à música, como em With a little help from my
friends, dos Beatles, que Joe Cocker transformou, deixando-a muito
melhor. Outro exemplo vem do próprio Deep Purple, quando regravou
Help, mudando totalmente o arranjo, embora sem ter sido tão bem
sucedido quanto Cocker. A regravação do Purple para um clássico de seu
próprio repertório é incompreensível. Por que regravar esta música? Por
que manter o mesmo arranjo original? Por que mudar a grafia do título?
Foi uma ideia infeliz e mal executada. Gillan, quase 30 anos depois, não
tem como alcançar os mesmos agudos da gravação presente no “In Rock”.
Não há nenhum demérito nisso. A voz não é algo que se pluga em uma
tomada e, graças à energia e aos circuitos elétricos, sempre soa de forma
idêntica. A voz vai se deteriorando, acompanhando o que acontece com
o resto do corpo, conforme a idade avança. Para piorar, Gillan nunca foi
de se cuidar muito. Era fumante, por exemplo. Natural que sua voz não
esteja no mesmo grau que estava na década de 70. A saída para isso?

222
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Evitar certas armadilhas, como querer repetir os gritos super agudos de


outrora. Ele (e a banda) preferiu enfrentar a tarefa e o resultado foi
constrangedor, praticamente uma autoparódia.
Nota: 1

Ingresso e um folheto dos shows em São


Paulo da turnê do Purple no Brasil em
1999, na difícil missão de promover o
álbum “Abandon”

223
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 20
Bananas

1. House of pain (3:34) Produção: Michael Bradford


2. Sun goes down (4:10) Gravação: California, EUA, Royaltone Studios
3. Haunted (4:22) Engenheiro: Michael Bradford
4. Razzle dazzle (3:28) Capa: Ioannis, Vivid Image Design
5. Silver tongue (4:04) Lançamento: Agosto de 2003
6. Walk on (7:03) Gravadora/Selo: EMI
7. Picture of innocence (5:11) Código (CD): 7243 5 91042 8
8. I got your number (6:01) Lançamento no Brasil: 2003
9. Never a word (3:46)
10. Bananas (4:50)
11. Doing it tonight (3:28)
12. Contact lost (1:31)

Visão geral

O novo disco trouxe novas mudanças. Jon Lord, um de seus fundadores,


deixou a banda, esgotado com a sequência de turnês e pensando em se
dedicar aos trabalhos solo. A escolha do substituto de Lord foi óbvia –
Don Airey, que sempre frequentou o círculo de grupos próximos ao
Purple, especialmente o Rainbow, além de dezenas de outros. Airey já
havia substituído Lord no Purple. Foi um pouco antes da saída de Lord,
quando este teve problemas de saúde. Lord fez seu último show com seu

224
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

velho grupo em 19 de setembro de 2002, em Ipswich, ocasião em que


dividiu o palco com Airey. Era o início da MK VIII.

A entrada de Don Airey não afetou de forma significativa o som da banda.


Isso era previsível. Airey, cujo talento e versatilidade não se discutem, é
um músico sem um estilo muito personalizado. Passou por vários grupos,
de várias vertentes, como Blues, Jazz Rock e, principalmente, Hard Rock,
mas nunca chegou a deixar sua marca. Não se pode dizer que sua
participação no Purple interferiu na música na mesma medida que
ocorreu com a integração de outros músicos, como Bolin ou mesmo
Morse. Por outro lado, sua condição técnica permitiu que o Purple
seguisse em frente sem reduzir o nível que vinha apresentando.

O “Bananas” é melhor do que o anterior, sem dúvida. É um disco mais


variado, não tão preso ao Hard Rock e sem tentar acompanhar modismos
como o “Abandon”. Por outro lado, é fato que a fase que conta com Morse
(MK VII e VIII) deixou somente dois discos realmente criativos, o
“Purpendicular” e o “Now What?!”. Os demais podem ser considerados,
no máximo, bons discos, com algumas faixas de destaque. Nada que se
compare aos melhores trabalhos da banda.

Outra mudança que ocorreu no “Bananas” foi na produção. Desde a MK


II que o Purple produzia seus discos, diretamente ou, pelo menos, com a
coprodução de Glover. Desta vez a produção ficou a cargo de Michael
Bradford, que também foi o engenheiro de gravação. Bradford, um grande
fã da banda, ofereceu-se para o trabalho. Seu currículo como produtor e
compositor não indicava que ele seria talhado para a função, pois até
então esteve envolvido mais com grupos e cantores que misturavam Rock
e Rap. Mas, após conversas com os músicos e equipe, ele conseguiu a
produção.

As duas novidades finais foram um músico externo nos créditos das


músicas (no caso, do produtor Bradford) e a participação de convidados
na execução de duas faixas (em Haunted e Walk on). Com exceção do
“Concerto”, este último caso nunca havia acontecido em discos do
Purple.

225
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

A baixa vendagem do disco continuou mostrando que se o Purple quisesse


arrecadar tinha mesmo que excursionar, algo que fazia intensamente,
explorando os anteriormente chamados mercados alternativos, que, na
verdade, se tornaram o grande filão do grupo, como Ásia e América
Latina. Nos antigos nichos principais a tendência de queda nas vendas se
manteve: o disco obteve apenas o 85º lugar na lista inglesa e, novamente,
não pontuou na americana.

Título

Os ingleses têm uma expressão, “going bananas”, usada no sentido do


cara que perdeu o controle, ficou louco. A ideia do título veio de uma
brincadeira de estúdio, quando foi citado que Morse saiu de si (“going
bananas”) em um duelo com Don Airey. O nome depois serviu para
batizar uma das músicas do disco. Roger Glover deu outra versão em uma
entrevista. Contou ele que folheava um jornal durante um vôo na
Austrália e, na seção de viagens, viu uma foto de um vietnamita
empurrando uma bicicleta onde ele carregava uma enorme quantidade de
bananas. Ele virou para o Gillan e disse: “esta é a foto da capa. O álbum
podia chamar ‘Bananas’”. Gillan respondeu “Brilhante!”. Glover ainda
tentou esclarecer: “estou brincando”! No fim, seguiram com a ideia, com
outra foto na capa. A da bicicleta foi usada na contracapa.

Capa

A foto da capa foi tirada por Bruce Payne,


gerente da banda, aparentemente na Índia. As
demais fotos também parecem tiradas de países
asiáticos, incorporados às novas rotas de shows
do Purple. Se a foto não é nenhuma obra de
arte, pelo menos tem certa originalidade e
evitou o lugar comum de associar a fruta ao
falo, algo bastante explorado e já desgastado no
mundo do Rock.

226
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

A banda inglesa Charlatans teve uma ideia semelhante para ilustrar a capa
de seu álbum “Between 10th and 11th”, de 1992. Também não ficou lá
essas coisas.
Conceito: B.
As faixas

House of pain
Bradford/Gillan

Longe de ser um clássico, mas um bom começo para o disco. Faixa


divertida, com um vocal de apoio legal e um solo de teclado onde Airey
soa como Lord, fato que se repete no restante do disco.
Nota: 7

Sun goes down


Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

Esta parte da discografia é complicada para um fã comentar. Os dois


últimos discos trazem boa música. Se não fossem do Deep Purple, é bem
provável que eu os comprasse assim mesmo. Em uma comparação com a
média geral dos discos de Rock e, de forma muito especial, com o som
que se faz atualmente, ambos têm um conjunto de músicas bem
consistente. O problema é a confrontação com os grandes discos da
banda, como “Machine Head” e “In Rock”. Por uma questão de justiça e
honestidade com o legado do Purple, essa comparação não pode ser
deixada de lado. Por essa óptica, poucas faixas deste e do próximo disco
podem ser consideradas como novos clássicos. São faixas regulares, de um
modo geral, como esta. Se ela tivesse surgido na década de 70, não
entraria nem como lado B de um compacto, pois não tem nada de
especial.
Nota: 6

Haunted
Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

Balada que traz uma novidade – um vocal de apoio ao Gillan. Até esta
gravação, Gillan sempre tinha feito as harmonias vocais dobrando sua voz

227
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

em estúdio. Aqui temos a participação de Beth Hart fazendo o vocal de


fundo. Há também um arranjo de cordas, de Paul Buckmaster. Tentativa
de incrementar a vendagem do disco com uma faixa de apelo mais
comercial. Foi a única deste álbum que saiu como single, em 2003. Esta
música foi apresentada ao vivo em uma das aparições da banda na TV
brasileira, no Programa do Jô.
Nota: 6

Razzle dazzle
Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

A mais fraca do disco. Sem nada de especial. Se há um exemplo de faixa


dispensável, só para preencher o disco, é esta aqui. Existe uma música
homônima gravada pelo Bill Haley & The Comets. A expressão do título
é uma gíria que pode ser traduzida como “agitação”. Estas duas últimas
sentenças são como a faixa, ou seja “fillers” de texto.
Nota: 4

Silver tongue
Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

Lembra um pouco a Ted the Mechanic, mas sem o mesmo brilho.


Nota: 6

Walk on
Bradford/Gillan

Ponto alto do disco. Música com uma pulsação maciça baixo–bateria, ao


estilo da Stratus (disco “Spectrum”, de Billy Cobham), só que com uma
pegada mais blueseira. Brilhante interpretação, com destaque para Gillan.
Outra participação especial – o produtor e coautor Bradford toca guitarra.
Incursão por um tipo de música fora do padrão Hard Rock, no qual a
banda podia se dar bem se tentasse mais vezes, pela qualidade de seus
músicos.
Nota: 9

228
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Picture of innocence
Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

O início da música é animador, indicando que a música poderia evoluir


por algum caminho diferente. Pena que logo entre a parte pesada, fazendo
com que seja perdida boa parte da graça.
Nota: 6

I got your number


Airey/Bradford/Gillan/Glover/Morse/Paice

De novo, o início é muito bom, mas o desenvolvimento, nem tanto. Tem


uma bela parte intermediária.
Nota: 7

Never a word
Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

Outra das melhores – é praticamente uma faixa progressiva, com


belíssimas texturas acústicas de Morse. Outra fuga do padrão Hard Rock
e, novamente, o resultado é muito bom.
Nota: 8

Bananas
Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

Ótima música. Foge um pouco do padrão prevalecente nos dois discos


anteriores. Como não sou músico, não sei precisar, mas dá para perceber
que ela tem um compasso um tanto quanto incomum. Tem um bom duelo
entre Morse e Airey. A gaita de Gillan está presente, preenchendo as
passagens entre os versos.
Nota: 8

Doing it tonight
Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

Tecnicamente, tudo certo com esta música: a parte construtiva, os solos,


a dinâmica, a variação de ritmo. Só que é uma daquelas que, se ficar muito
229
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

tempo sem ouvir o disco, será difícil lembrar como que ela é. Não tem
muita “personalidade”.
Nota: 6

Contact lost
Morse

Esta instrumental tem uma história. Kalpana Chawla era o nome de uma
astronauta fã da banda e que fazia parte da equipe de uma das missões da
nave Columbia. Durante os treinamentos, a música usada para acordar os
astronautas foi Space truckin’, por influência de Kalpana. Infelizmente,
em fevereiro de 2003, a missão da Columbia teve um final trágico, quando
a nave explodiu no seu retorno à Terra. Steve compôs a música – uma
bela e sensível melodia – em homenagem aos tripulantes mortos.
Nota: 7

Complementos

As versões anteriores desta Discografia nem traziam esta seção, pois


pouco ou nada havia a complementar sobre o “Bananas”. Posteriormente
me lembrei de algo que havia deixado escapar: a edição nacional do CD
veio com um software embutido para reprodução do conteúdo, como se
fosse um Windows Media Player exclusivo. Aparentemente seria uma
forma de proteger a obra da pirataria (há um texto em português no
encarte sobre o tema). Negócio esquisito, ainda mais porque o CD roda
no próprio Media Player, sem problemas.

Existem músicas que surgiram nas sessões de gravação do “Bananas” que


não integraram o disco. A mais conhecida é Well dressed guitar, tema
instrumental de Morse, que passou a fazer parte dos shows daí em diante.
Apareceu depois na edição limitada do “Rapture of the Deep”. Há ainda
Long time gone, que permanece inédita em disco até hoje, tendo sido
tocada pouquíssimas vezes ao vivo e Up the Wall, que fez parte de alguns
shows, sendo um deles o do dia 22.fev.2002, no Hammersmith Apollo,
em Londres, que saiu em disco, inclusive no Brasil, graças à honorável
Shinigami Records.

230
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Acima: detalhe do rodapé do verso da capa da edição


nacional do CD, que informa sobre o dispositivo
“Cópia Controlada” e, abaixo, reprodução de parte
do encarte onde consta o texto anti-pirataria. Ao
lado, anúncio de show ocorrido em 2003.

Abaixo: capa e contracapa do single


Haunted, que traz a versão de
estúdio e uma remixada, mais curta.
Ao lado, a capa do CD duplo que traz
o registro da Up the wall ao vivo.

231
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 21
Rapture Of The Deep

1. Money talks (5:34) Produção: Michael Bradford


2. Girls like that (4:04) Gravação: California, EUA, Chunky Stile
Studios
3. Wrong man (4:55) Engenheiro: Michael Bradford
4. Rapture Of The deep (5:57) Capa: Tom Swick
5. Clearly quite absurd (5:27) Lançamento: Outubro de 2005
6. Don’t let go (4:35) Gravadora/Selo: Edel/Essential
7. Back to back (4:06) Código (CD): 016554 ZERE
8. Kiss tomorrow goodbye (4:22) Lançamento no Brasil: 2005
9. Junkyard blues (5:34)
10. Before time began (6:32)

Visão geral

O décimo-oitavo disco do Purple seguiu o esquema do anterior: mesma


formação, mesmo produtor/engenheiro, mesmo nível de composições,
com faixas médias e uma ou outra mostrando algum brilhantismo. Se eu
não tivesse prometido não usar analogias futebolísticas, diria que a
estratégia neste caso foi “não se mexe em time que está empatando”.

Nestes anos de agonia do CD como mídia, este disco teve uma pontuação
fraca (81º lugar) no ranking inglês. No americano, nada.

232
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

O Purple esteve no Brasil na época de seu lançamento, em uma de suas


muitas excursões pela pátria amada e idolatrada. Estiveram no Casseta e
Planeta e no programa do Jô, quando deram ao apresentador uma edição
limitada do disco, em versão dupla, com uma capa especial e conteúdo
expandido (ver “Complementos”).

Título

O título, cuja tradução poderia ser “a euforia da


profundidade”, é uma expressão usada no
mergulho. A partir de certa profundidade, existe a
possibilidade do mergulhador sentir uma espécie
de narcose, resultante da pressão excessiva. Essa
narcose pode gerar uma euforia, que pode trazer
grave risco ao mergulhador.

Como a expressão contém a palavra “deep” e tem


uma sonoridade incomum, acabou sendo uma
escolha esperta como nome do disco.
Acima, capa de livro
homônimo, do autor americano
L.A. Meyer, lançado em 2009.
Seria ele fã do Purple?

Capa

A capa traz uma ilustração do, até então, não muito conhecido cartunista
americano Tom Swick. Glover a viu em um jornal e quis aproveitá-la.
Não tem muita relação com o título, mas acabou formando com o restante
da parte gráfica um conjunto bem acabado.
Conceito: B.

233
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas
Todas por Airey/Gillan/Glover/Morse/Paice

Money talks

Começo fraco. Nenhuma novidade na melodia, que lembra um pouco o


tipo de sonoridade das faixas do “Abandon”, incluindo o vocal declamado.
Letra cínica de Gillan, declarando que o dinheiro lhe dá tudo que ele
precisa. Declara também que ele costumava mostrar alguma emoção.
Sinal dos tempos.
Nota: 6

Girls like that

Sessentões narrando suas cantadas em garotas? Não cola. A melodia tem


uma levada semelhante à uma música do disco “Naked Thunder”, do
Gillan.
Nota: 6

Wrong man

O riff lembra muito o da Ready an’ willing. Outra que


compõe a longa série de “faixas mais ou menos para o
nível do Purple, mas que seriam pontos fortes do
repertório de grupos de menor reputação”. Fez parte
de algumas apresentações ao vivo, como em 2006, em
Mountreux. Tem o mesmo título de um dos célebres
filmes de Hitchcock. A letra trata do mesmo tema do
filme, ou seja, alguém acusado injustamente de ter
feito algo errado. Gillan cita na letra “Oh yes - this is
a DSF”, sigla cujo significado não faço a menor ideia. Alguém sabe?
Nota: 6

234
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Rapture of the deep

Para fazer valer seu status de faixa título, esta é um pouco mais
trabalhada. Um dos destaques, em um disco não muito inspirado. Nesta
altura, ao escrever estas bem traçadas linhas (graças ao computador, que
não permite linhas mal traçadas), bate uma angústia. Ao decidir colocar
um comentário sobre cada música nesta discografia, não imaginei que
poderia estar criando uma auto-armadilha. Não é agradável escrever
palavras não elogiosas à banda mais querida de sua vida. Por outro lado,
não dá para ser desonesto com a própria consciência. Os fatos
incomodam. É o Purple, mas, a produção musical está muito aquém do
que foi criado nos dias gloriosos. Não dá para dizer que este e alguns
outros discos estão à altura das suas principais obras. É evidente que têm
qualidade, ainda mais quando comparados à média do que a maioria das
bandas produz hoje. Pontuar um disco como este com média inferior a
7,0 é algo que incomoda. Porém, como fica a comparação com o
“Machine Head”?
Nota: 7

Clearly quite absurd

Bela balada. Esta e a anterior, como já foi escrito, são exemplos de


composição em que eles deveriam focar o seu trabalho. Não que uma ou
outra música mais pesada não cairia bem, mas chegou a hora de
desacelerar. Sem, é claro, deixar de produzir boa música.
Nota: 8

Don’t let go

Outra que lembra o tipo de som presente no “Naked Thunder”. Tem uma
boa levada, que deve cair bem ao vivo (não me recordo dela ter entrado
no repertório dos shows). Outra das melhores do disco. Assim como na
anterior, belo trabalho de Airey.
Nota: 7

235
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Back to back

Típica “filler”. Nenhum destaque, em uma faixa meio sem graça. Morse
repete pela enésima vez o mesmo solo. Um indicador do quanto essa faixa
me chamou a atenção é que quando fui repassar o disco para escrever este
texto, olhei na capa, li o título e não tinha a mais vaga ideia de como era
a música.
Nota: 6

Kiss tomorrow goodbye

Outra faixa que nunca vai entrar em uma coletânea da


banda, embora tenha feito parte de algumas
apresentações ao vivo. Assim como a anterior, tem sua
dignidade, mas não desperta grandes emoções. Tem o
mesmo título de um filme noir dos anos 50, estrelado por
James Cagney, que no Brasil virou “O amanhã que não
virá”.
Nota: 6

Junkyard blues

Um pouco melhor do que suas sucessoras. Novamente Airey é o destaque,


com seu solo. Continuamos aguardando alguma coisa mais excitante.
Nota: 6

Before time began

A-ha! Eis que no final há uma recuperação! Música com um jeitão de


Rock Progressivo, onde o grupo mostra muita classe.
Nota: 7

236
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Complementos

Conforme citado no início, existe uma versão com dois CDs (batizada,
seguindo um velho truque de marketing, de “edição limitada”), trazendo
algumas faixas extras. Esta edição foi lançada no Brasil em agosto de 2011
pela gravadora (e loja) paulista Hellion Records (HEL 0801AB) e é
destinada aos colecionadores “ultra-fanáticos-que-não-deixam-escapar-
nada” e que já compraram as outras coisas bem mais legais que têm por
aí, como, por exemplo, os lançamentos do selo brasileiro “Biplane
Records” (ver ref. B.5 do Apêndice). Eu não me considero um “ultra-
fanático etc”, mas acabei comprando o disco. Um dos motivos foi
prestigiar a iniciativa da gravadora brasileira. O CD “limited edition” traz
a faixa MTV no disco 1. O disco 2 é composto por cinco faixas ao vivo
gravadas em Londres, no Hard Rock Café, em 2005. São elas: Rapture of
the deep, Wrong man, Highway star, Smoke on the water e Perfect
strangers. Completam o disco 2 uma versão diferente da Clearly quite
absurd e mais a inédita Things I never said, que faz parte do repertório do
CD e do DVD “Live At Montreux 2006”, e, ainda, a versão de estúdio da
instrumental The well-dressed guitar.

237
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Acima, anúncio publicado em jornal


sobre os shows em São Paulo da turnê
brasileira em 2005. Ao lado,
reprodução da capa da versão
especial do “Rapture”. Além do
CD extra, existem pequenas
diferenças na parte gráfica em
relação à edição original.

238
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em 2011 o Deep Purple fez nova turnê pelo Brasil,


com shows em Belém (segue reprodução da
publicidade), Fortaleza, Campinas, São Paulo,
Belo Horizonte e Curitiba. As demais reproduções
são sobre a apresentação em São Paulo em 10 de
outubro: ingresso, duas fotos do show (fonte:
UOL) e recortes de jornal.

239
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 22
Now What?!

1. A simple song (4:39) Produção: Bob Ezrin


2. Weirdstan (4:11) Gravação: Tennessee, EUA, The Tracking
Room
3. Out of hand (6:10) Engenheiro: Justin Cortelyou
4. Hell to pay (5:11) Capa: Antje Warnecke
5. Bodyline (4:26) Lançamento: Abril de 2013
6. Above and beyond (5:30) Gravadora/Selo: Edel/Ear Music
7. Blood from a stone (5:18) Código (CD): 0208486ERE
8. Uncommon man (6:59) Lançamento no Brasil: 2013
9. Après vous (5:26)
10. All the time in the world (4:21)
11. Vincent Price (4:46)

Visão geral

“Now What?!” é o terceiro registro de estúdio da fase mais longeva entre


todas as formações do Deep Purple, mesmo somando os três períodos da
MK II. Nesta altura, o time está junto há mais de nove anos ininterruptos.
Steve Morse é o guitarrista que mais tempo esteve na banda.

O primeiro disco que ouvi do Purple foi o “Who do we think we are”,


ainda em 1973, meses após o lançamento no Brasil. Peguei

240
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

imediatamente o vírus púrpura desde então. Quando saiu o “Burn” eu


simplesmente me recusei a ouvi-lo, contrariado pelo fato de que o Gillan
não era mais o cantor da banda. Com isso, o primeiro disco que eu ouvi
assim que chegou às lojas brasileiras foi o “Stormbringer”. Desde então,
cada novo disco lançado era acompanhado de um grande frisson (um
frisson macho, que fique bem claro), sempre naquela expectativa:
“quantas novas obras-primas terá esse disco novo?”. Confesso que, com
o passar dos anos e dos lançamentos, a tensão pré-audição foi caindo. Os
discos mais recentes foram bons, mas não muito emocionantes. A coisa
mudou com a aproximação da data em que o “Now What?!” estaria
disponível. Foram vários os motivos para isso: a produção de Bob Ezrin;
o tempo decorrido desde o disco anterior (oito anos – um prazo tão longo
só havia acontecido entre o “Come Taste the Band” e o “Perfect
Strangers”) e, principalmente, a audição prévia de All the time in the
world.

A produção do Bob Ezrin fez diferença. Bob é um produtor com larga


experiência e grande currículo. O primeiro disco que produziu foi “Love
it to Death”, do Alice Cooper, em 1971, quando ele tinha a mesma idade
dos caras da banda. Aprendeu rápido o ofício e foi responsável pela
produção dos álbuns seguintes de Mr. Cooper, entre eles três discaços,
que eu adoro: “Killer”, “Billion Dollar Babies” e “Muscle of Love”. Daí
em diante produziu dezenas de bandas de primeira linha e virou
celebridade. A escolha dele para produzir o novo Purple foi uma aposta
certa. O disco tem uma excelente produção. Como é frequente em seus
trabalhos, Ezrin participou na composição das músicas, sendo creditado
como co-autor em todas as onze faixas do CD.

Algumas linhas gerais que definem o disco: predominância do teclado de


Airey nas execuções; algumas introduções longas; uma variação maior no
tipo de composição (o Hard Rock está presente, como em A Simple Song
e Hell to Pay, mas existem pitadas de outros estilos aqui e ali) e poucos
overdubs (Ezrin declarou que as gravações são praticamente “ao vivo” no
estúdio).

241
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

A característica principal é que existe um conjunto de músicas fortes, que


fazem com que este disco seja o melhor desde “Purpendicular”. O público
inglês gostou, a ponto dele chegar ao 19º lugar em vendagens. Se bem,
que à esta altura, o conceito de paradas de sucessos, refletindo a vendagem
de mídia física já estava descaracterizado com o surgimento das músicas
via streaming.

Título

Quando soube o nome do novo disco do Purple um velho amigo meu


correu na internet para tentar fazer o download. Tomou um susto ao ouvir
as primeiras notas. O susto aumentou quando entrou um vocal feminino!
Ele foi apressado. O disco ainda não tinha saído e ele acabou baixando o
arquivo de um álbum homônimo da Liza Marie Presley. Ela mesmo, a
filha do rei.

O nome do álbum do Purple que, conforme visto, não é original, foi


escolhido pelo Gillan. Eles se reuniram para gravar um disco e aí pintou
o famoso “e agora?”. Acabou sendo essa a escolha. Depois de “Bananas”,
qualquer nome vale.

Capa

A responsável pela capa e por todo o planejamento gráfico das mídias


envolvidas no lançamento do novo disco foi a artista alemã Antje
Warnecke, que faz trabalhos para a gravadora Edel. Ela também trabalhou
na capa do EP “Who cares” de Ian Gillan e Tony Iommi. Um bom
trabalho. A capa tem um grafismo despojado, mas bem marcante. Um
único porém é que ela lembra a de uma coletânea do New Order, de 2008
(abaixo, à esquerda) e, de forma menos próxima, a do álbum de estréia da
banda inglesa Gracious (1970).
Conceito: B

242
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

As faixas
Todas por Airey/Ezrin/Gillan/Glover/Morse/Paice

A simple song

Uma calma introdução instrumental, com uma linda participação de


Morse. Gillan surge de forma impactante, cantando “o tempo não
importa, mas é tudo o que temos para pensar”. Em seguida entra a bateria
e, principalmente, o teclado e a aí a música explode. Uma faixa de
abertura que retoma as tradições dos antigos discos da banda. Uma das
grandes composições dos últimos tempos em termos de Hard Rock.
Nota: 10

Weirdstan

Contraste forte em relação à antecessora. Lembra a maioria das faixas dos


discos anteriores, ou seja, está tudo lá, certinho, composição, execução,
solos corretos etc, mas não empolga. Das onze, a mais fraca.
Nota: 4

Out of hand

Uma que poderia ter feito parte do “Abandon”. Vale aqui o comentário
anterior, com a diferença que esta tem um refrão mais agradável.
Nota: 5

243
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Hell to pay

Hard Rock clássico, escolha correta para promover o disco. Tudo certo:
bom riff, bom refrão, solos bem colocados, boa letra. Ela fala de um
revolucionário dos dias de hoje, que quer ir para as ruas defender suas
posições, embora com um tanto de dificuldade em fazer as pessoas
entenderem seus motivos (ei, acho que isso me lembra alguma coisa que
rolou por aqui!). Assim como em todo o disco, Airey tem participação
destacada. Gillan está muito bem.
Nota: 8

Bodyline

Faixa mais balançada, onde a cozinha Glover/Paice deita e rola.


Descontraída e gostosa de ouvir. Morse poderia dar um pouco menos de
peso no riff.
Nota: 7

Above and beyond

No encarte deste disco tem uma dedicatória a Jon Lord, com uma frase
pinçada da letra desta faixa, algo como “almas, quando tocadas, para
sempre se entrelaçam”. É uma homenagem digna, tanto pela lembrança,
quanto pela qualidade da música. A letra representa uma espécie de
mensagem de Jon aos demais companheiros de banda.
Nota: 8

Blood from a stone

Sempre é muito difícil traduzir em palavras uma música. Mesmo assim,


vou tentar. As notas do baixo no começo lembram a introdução de You
keep on moving. O clima, viajandão. O som do teclado lembra Doors.
Gillan canta em um tom grave, só elevando a voz no refrão. O efeito final
é muito bom e apesar das semelhanças citadas, é uma música que tem sua
identidade.
Nota: 7

244
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Uncommon man

Airey é um fã do compositor americano Aaron Copland, autor de


Fanfarre for the common man, regravada pelo Emerson, Lake & Palmer
no disco “Works”. Após uma longa introdução instrumental entra o riff
the teclado de Airey, claramente inspirado na obra de Aaron, assim como
o título da faixa. Uma música com um toque progressivo, em um disco
bem variado. Uma versão instrumental foi incluída no EP de Time for
bedlam, lançado em 2017.
Nota: 6

Après vous

Uma daquelas músicas que não arrancam suspiros. Entretanto tem um


ponto forte na parte intermediária, durante os solos.
Nota: 5

All the time in the world

Uma pena que o estilo de composições do “Purpendicular” não se


estendeu aos discos subsequentes. Apesar de ter gostado muito de Hell to
pay e, principalmente de A simple song, sempre achei que o Purple
poderia se concentrar mais em composições de um estilo mais livre, sem
tanta preocupação em fazer coisas pesadas. Nada melhor do que esta
música para provar a teoria. Ela (a música, não a teoria) é simplesmente
brilhante. O vocal de Gillan está perfeito, com mais uma amostra de como
é fácil para ele alternar do grave para o agudo com uma naturalidade que
poucos possuem. A parte instrumental é igualmente fúlgida. A letra, de
novo, fala sobre o tempo. Gillan e Glover estão com 68 anos. Airey e
Paice têm 65. O “caçula” da banda é Morse, que está com 59. Não é a
toa que preocupações com o futuro, com o tempo que resta e inquietações
metafísicas do gênero rondem a cabeça desses senhores. Eu sempre me
pergunto se, caso eu chegue aos 68, terei um pique como o deles.
Voltando à faixa, a letra também é fulgurante. Tem uma frase que gostei

245
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

em particular: “às vezes em um dia bonito eu sento e penso. Às vezes eu


apenas sento”. Para fechar simbologicamente a música, Paice faz no
bumbo o som das batidas de um coração. Mais um feito retumbante dos
meus heróis.
Nota: 10

Recorte extraído da edição de 22 de


julho de 2020 do jornal Folha de São
Paulo em que é citado o paradoxo de
Zenão (ou Zenon, para os torcedores
do Guarani) a respeito da corrida entre
Aquiles e a tartaruga. Esse paradoxo é
citado na letra de All the time in the
world. Quem, além de Ian Gillan, iria
inserir algo assim em um Rock?

Obs.: Repararam que eu consegui me


conter e não terminar o texto com o
clichê “Rock também é cultura?”.
Estou orgulhoso de mim.

Vincent Price

Grande faixa de encerramento, climática e surpreendente. Uma bem


humorada homenagem ao ator americano de filmes de terror. Esta não é
a primeira conexão dele com o Purple. Em 1975 ele esteve no Royal
Albert Hall fazendo a narração da apresentação ao vivo da obra “Butterfly
Ball”, de Roger Glover. Fiquei imaginando se na versão argentina do disco
virá, como de costume, as traduções dos nomes das músicas e se nesta
eles colocariam algo como “Vicente Preço”.
Nota: 8

246
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Complementos

O mais recente álbum do Purple teve toda uma estratégia de marketing,


instigando ainda mais os fãs que esperaram longos anos pelo novo disco.
Começou pelo site da banda, que passou a exibir um contador regressivo
para o lançamento (veja reprodução). Depois houve a divulgação de duas
faixas (All the time in the world e Hell to pay) um pouco antes da data
oficial de lançamento do disco. Os americanos chamam essa técnica de
“teaser” (poderia ser traduzida como “provocação”), ou seja, dar uma
amostra antecipada da obra para ir criando um clima para o lançamento
oficial e completo.

Por último, um adesivo foi colado na edição inglesa do CD, comparando


o novo lançamento ao encontro do “Made In Japan” com o “Perfect
Strangers”. Aí foi um evidente exagero (algo que poderia ser chamado de
over-marketing, se esta expressão existisse).

Além do CD normal, foram lançados três singles: um com All the time in
the world/Hell to pay, outro com Vincent Price e um terceiro com Above
and beyond. Este último traz ainda Things I never said e duas gravações
ao vivo: Space truckin’, gravada na Itália e Green onions/Hush, extraída
de uma apresentação na Suiça.

Foram produzidas também a versão em vinil e uma edição especial com


dois discos: um CD e um DVD (lançada no Brasil pela Helion Records,
sob código HEL 1016AB). Esta traz no CD uma faixa bônus, It’ll be me,
um cover de um antigo Rock’n’Roll composto por Jack Clement. Gillan
havia gravado essa canção no CD “Sole Agency and Representation”,
acompanhado por uma de suas bandas pré-Purple, The Javelins, reunida
em 1994 especialmente para a gravação do seu antigo repertório. Gillan
deve ter ouvido essa música na versão de Cliff Richards quando era
garoto. Existe também uma boa versão dessa música no dico “The Winter
of ‘88”, do Johnny Winter. O DVD que acompanha essa edição especial
do “Now What?!” traz uma entrevista de 20 minutos com a banda (áudio
e vídeo) e mais três músicas (só áudio): a versão para rádio (mais curta)
da All the time in the world e duas gravações ao vivo: Perfect strangers e

247
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Rapture Of The deep, sem citar em que shows elas foram registradas.
Uma edição dupla semelhante saiu no Japão, contendo três faixas a mais,
todas no CD: a versão para rádio de Hell to pay e duas ao vivo, Smoke on
the water e Wrong man.

Há ainda mais uma (boa) faixa extra, First sign of madness,


primeiramente lançada “com exclusividade” na Alemanha e incluída
posteriormente no single da Vincent Price.

Alguns meses após o lançamento do CD normal surgiu


mais um ao vivo, com gravações da nova turnê,
chamado “Live Tapes”. Uma edição dupla traz os dois
CDs: o de estúdio e o ao vivo, batizada de “Golden
Tapes”.

Foram produzidos três vídeos a partir do álbum. Para


Hell to pay e All the time in the world foram feitas
apenas animações, com as letras sendo reproduzidas
simultaneamente ao andamento das músicas, usando o
mesmo tipo de fonte da capa do CD, sobre um fundo fixo. Já Vincent
Price recebeu uma produção mais cara, com um divertido vídeo em preto
e branco, rodado em clima do filme de terror “B” “Museu de Cera”
(“House of Wax”), de 1953, típico daqueles em que o personagem-título
da música atuou aos montes.
Se ainda tiver sobrado algum dinheiro depois de tantos itens, caso alguém
queira todo o pacote (CDs, DVD e singles) há uma caixa que junta tudo
e traz ainda uma camiseta, um livreto, pôster e adesivo (veja reprodução
mais à frente).

O Purple voltou a excursionar, para promover o novo trabalho (com uma


passagem em 2014 pelo Brasil, conforme registrado no “Rock Brado”). Já
existe pelo menos um pirata da turnê, o “Mawazine Rabat”, gravado em
20 de maio de 2013, no Marrocos. As primeiras faixas têm som ruim, mas
depois a qualidade fica ótima. Pode parecer um pouco de preconceito com
nossos velhinhos, mas a audição completa revela que nas últimas faixas a
banda dá sinais de cansaço, perdendo um pouco do gás inicial. Do “Now

248
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

What?!” estão no repertório Vincent Price, All the time in the world (com
Gillan mandando bem) e Body line. O legal desse pirata (ôpa!) é o registro
do solo final do Glover, semelhante ao que ele fez no último show em São
Paulo. Um merecido momento de brilho isolado desse grande artista.

Reprodução da contagem regressiva para o nascimento do disco, exibida no site da banda.

249
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Reprodução do pacote de coisas ligadas ao


lançamento do “Now What?!” chamado de
“Limited Edition Boxset”; capa alternativa
para Vincent Price e coletânea que veio como
brinde na revista Classic Rock e que traz Hell
to pay, além de “uma cover da cover” da antiga
compilação “24 Carat Purple”.

Em setembro de 2022, a earMusic soltou o


“disco” ao lado, só disponível por streaming.
Como o título é auto-explicativo, vamos ao
conteúdo: (1) Hell to pay (editada para rádio);
(2) It’ll be me; (3) All the time in the world
(editada para rádio); (4) Fist sign of madness.
As quatro próximas são versões instrumentais:
(5) Uncommon man; (6) Above and beyond;
(7) Après Vous e (8) Hell to pay. (9) Green
Onions e (10) Hush fecham o pacote, ambas
ao vivo em Gaevle. De todas, somente as
quatro últimas podem ser consideradas
novidades.

250
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No sentido horário, a partir do topo: capas do recente pirata, do “Golden Tapes” e do “Live Tapes”,
mais dois discos ao vivo na carreira do Purple (quantos seriam até agora? Já perdi a conta!); edição
de julho de 2013 de uma revista distribuída por uma livraria de São Paulo, que destacou o lançamento
do Purple; ingresso para o show do Purple em São Paulo, em 12.nov.14, quando o Eremita tirou a
foto acima. Ao lado, publicidade dos shows em São Paulo dessa mesma turnê.

251
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 23
Infinite

1. Time for bedlam (4:35) Produção: Bob Ezrin


2. Hip boots (3:23) Gravação: Tennessee, EUA; The Tracking
Room
3. All I've got is you (4:42) and Anarchy Studios
4. One night in Vegas (3:23) Engenheiro: Justin Cortelyou
5. Get me outta here (3:58) Capa: Büro Dirk Rudolph
6. The surprising (5:57) Lançamento: Abril de 2017
7. Johnny's Band (3:51) Gravadora/Selo: Edel/Ear Music
8. On top of the world (4:01) Código (CD): 0211848EMU
9. Birds of prey (5:47) Lançamento no Brasil: 2017
10. Roadhouse blues (6:00)

Visão geral

Quatro anos depois do “Now What?!” o mesmo time se junta no mesmo


estúdio para gravar um novo álbum. Para aproveitar o trocadilho do
título, eu diria que o resultado foi ir-regular. Três grandes músicas são os
pilares desta nova obra da banda: Time for bedlam, The Surprising e Birds
of prey. No mais, seis músicas de bom nível (o que para esses senhores é
inevitável) e uma cover. Mais uma significativa contribuição para a boa
música do planeta, sem ser um disco dos mais brilhantes. Curiosamente

252
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

chegou ao 6º lugar da parada inglesa, um resultado


excelente. Como será que eles medem essa vendagem
atualmente? Nem lojas de discos tem mais! O álbum foi o
pretexto para “The Long Goodbye Tour”, excursão que
passou por dezenas de países ao redor do mundo, incluindo
aí o Brasil (cartaz ao lado), e que juntando todos os
elementos do contexto (o nome escolhido para a turnê;
idade e saúde dos músicos – lembrando que Paice teve um
AVC no meio da agenda; hiato de tempo entre os dois
últimos discos) dava toda pinta que seria a aposentadoria
de nossos bravos ídolos. Que nada, os velhinhos são
trabalhadores – novo álbum, “Whoosh!” e a volta aos palcos.

Título

Um título bem adequado, com mais de uma explicação. A contribuição


do Deep Purple ao Rock vai durar para sempre, é algo infinito, ou que vai
durar até o final dos tempos. Reforço esse pensamento cada vez que vejo
ainda hoje bandas de garotos de quinze anos tocando músicas do Purple.
O título também reflete as recorrentes preocupações metafísicas de Gillan
com o universo, o tempo e, suponho, a idade que avança.

Capa

Uma beleza. Rara em se tratando de capas do Deep Purple. O desenho no


gelo feito pelo USCGC Healy (WAGB-20), barco quebra-gelo da
marinha americana, é uma combinação das iniciais do nome da banda
com a lemniscata, a curva que representa o infinito. Todo o material
promocional foi baseado nesse visual ártico mostrado na capa, o que
resultou em um pacote elegante. Alguns caras mais chatos vão apontar
que ela se parece um pouco com a capa do “Sky Blue”, álbum do Devin
Townsend Project. Não devemos dar atenção a eles.
Conceito: A.

253
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Em cima: a lemniscata e a capa do Devin Townsend citada no texto.

As faixas
Todas por Airey/Ezrin/Gillan/Glover/Morse/Paice; com exceção de Roadhouse Blues

Time for bedlam

Grandiosa! Ritmo épico, início incomum com canto gergoriano, tem uma
vibração semelhante à Pictures of home. Irretocável. Uma constatação da
mais alta relevância é que esta é a primeira das faixas de abertura entre
todos os discos de estúdio do Purple cujo título não é citado na letra!
Importante isso, não?
Nota: 10

Hip boots

Esta faixa é um exemplo de várias outras que


povoam este disco. Boa música, sem dúvida,
interpretada de forma irreparável, mas que não
tem aquela fagulha, aquele brilho especial que a
destaque no imenso repertório da banda. O EP
“Time for bedlam” (contracapa ao lado) traz
uma versão instrumental com Paice em
primeiro plano.
Nota: 6

254
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

All I've got is you

Esta está um patamar acima da anterior. Tem um ritmo mais animado e


solos bem colocados de Airey e Morse. A letra poderia ser considerada
um tanto machista para estes nossos tempos esquisitos. Mas, como o
próprio Gillan cita no ultimo verso, I don’t give a fucking damn.
Nota: 7

One night in Vegas

Esta, assim como a seguinte, estão no grupo da Hip boots. A letra conta
uma das várias gandaias em que Gillan esteve metido em sua regrada vida.
Não empolga.
Nota: 6

Get me outta here

A bateria inicial lembra a de Body line, mas o prosseguimento é menos


entusiasmante. A curiosidade fica por conta de Gillan desejando “Bom
fim de semana” no final, em claro português, efeito do tempo que mora
em Portugal.
Nota: 6

The surprising

Aqui vemos o Purple indo por um caminho que eu


gostaria que ele frequentasse mais: o Rock
Progressivo. Que fique claro, não aquele tipo de
Prog com canções enormes, de solos
masturbatórios e partes desconexas, mas sim
aquele que esta exemplifica. Músicas elaboradas,
sem cair no exibicionismo, explorando sonoridades
mais variadas do que as limitadas pelo Had Rock.
Este, aliás, eles ainda fazem bem – e o exemplo está
em Time for bedlam. Mas, com todos na casa dos 70, não tem mais
sentido fazer Rocks rápidos contando “causos” de festinhas com a

255
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

mulherada madrugada adentro. Uma curiosidade que não tem nada a ver
com a música em si é que na versão “Gold Edition” (Ver
“Complementos”) houve um erro na grafia do título, saindo “The
surprisaing”. Esses alemães... O pior é que a versão brasileira foi na onda
e manteve o erro. Esta música gerou um saboroso vídeo, que a valoriza
mais ainda.
Nota: 9

Johnny's Band

Uma agradável canção Pop contando a história básica de uma banda de


Rock, com a formação inicial a partir da junção de amigos de
adolescência, seguindo pelo inevitável roteiro de shows em clubes e bares,
até que surjem as músicas de sucesso e, com ele, começa a decadência
(drogas etc). Gerou um clip bem humorado.
Nota: 7

On top of the world

A menos forte do disco (um jeito gentil de dizer que é a mais fraca).
Mostra a banda meio que indo no piloto automático. De novo a letra
relembra os tempos de festinhas descontroladas com primas. Nesta,
Gillan conta que as senhoritas serviram um prato à base de arroz. Ele
pegou no sono com um pouco na boca, que, devido ao porre, ficou meio
aberta. Ele acordou então com baratas se servindo, ali, na sua cara. O
sensível romantismo das palavras não chegam, entretanto, a salvar a
música.
Nota: 5

Birds of prey

Grande! Mesmo caso da Surprising. Riff, melodia, interpretação, clima,


solos, tudo funciona em encaixes perfeitos. Não lembra nada que o Purple
tenha feito antes. Majestosamente Prog.
Nota: 9

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Roadhouse Blues
J. Densmore/R. Krieger/R. Manzarek/J. Morrison

O caso não é avaliar o resultado final desta cover dos Doors. O resultado
não tem como sair ruim. Afinal, é o Purple. Acho que até seu eu fizesse
uma música e desse para o Purple tocar, ficaria boa (uau, isto é o que
chamo de um exemplo extremo!). Sempre existiram ligações do Purple
com os Doors, desde a época do Episode Six, que tocava Light my fire em
seus shows. O caso é: por que? Se fosse para incluir uma cover, seria
melhor alguma coisa menos conhecida, que não tivesse já tantas versões
(uma também muito boa é a do Status Quo). Bom ouvir Gillan de volta
à gaita (ou harmônica, para os defensores do termo). Talvez desse mais
jogo trocar com Paradise Bar, esta vindo para o álbum e Roadhouse para
o single.
Nota: 5

Complementos

São muitas as mídias derivadas do álbum principal. Temos singles, vídeos,


discos e um filme, além dos pacotes que juntam várias dessas coisas.
Fatiando:

(A) Discos

Existem três singles/EPs, por enquanto: Time for bedlam, All I got its you
e Johnny’s band. Cada um tem seus atrativos em termos de faixas
complementares, sendo que o de Time for bedlam traz a Paradise Bar. Em
termos de álbuns, a gravação ao vivo da apresentação do Purple no festival
francês “Hellfest” aparece como CD 2 da “Gold Edition” e no “Infinite
Live Recordings Vol.1”, este de belíssima capa. Não tenho ideia se haverá
o Vol. 2. A revista “Clasic Rock” anexou à sua edição 234 um CD bônus
dedicado exclusivamente ao Deep Purple, denominado “Limitless”. Ele
traz oito faixas, quatro ao vivo retirada de discos oficiais, mais quatro de
estúdio em que os destaques ficam para a versão editada para rádio da All
the time in the world e First sign of madness, faixa-extra do “Now
What?!”.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(B) Vídeos

Cinco vídeos foram produzidos: Time for bedlam (dois), All I got its you,
Johnny’s band e The surprising. O primeiro de Time for bedlam seguiu o
modelo adotado para o álbum anterior, com a exibição das letras enquanto
a música vai sendo executada. O segundo é uma espécie de documentário
mostrando a preparação para a sessão de fotos na temática ártica adotada
como elemento visual que cercou todo o projeto. O vídeo de All I got its
you tem como cenário o estúdio de gravação e mostra as movimentações
que ocorrem durante as gravações. Johnny’s band tem uma produção
maior, com figurantes fazendo o papel dos músicos da banda que vai
evoluindo conforme a descrição da letra. Tem pelo menos dois registros
“autobiográficos”: em uma rápida cena, um prato de macarronada é
enfiado por um dos músicos na cara de um companheiro de banda e, em
outro momento, a peruca encaracolada de um dos componentes é
arrancada de surpresa, já na fase em que todos estão mais velhos. Mas, o
melhor dos quatro é o feito para The Surprising. O filme é em animação
e mostra a banda no quebra-gelo, sob comando do capitão Gillan,
navegando por males gelados. Gradativamente são mostrados no filme
itens que identificam cada um dos álbuns de estúdio da banda. Dois
destaques: não identifiquei claramente a citação ao terceiro disco. Talvez
tenha sido um momento em que o tempo fecha, referenciando Chasing
shadows. Não tenho certeza sobre isso. O segundo destaque vai para a
cena em que eles entram em uma caverna e uma luz está emanando de
uma bola de cristal. Gillan e Glover cobrem os olhos com as mãos, em
um simbolismo nada sutil. Um grande vídeo para uma grande música.

(C) Filme

Foi lançado um Blu-ray intitulado “From here to Infinity” (trocadilho


com o título do filme “From here to Eternity”, que no Brasil foi batizado
como “A um passo da Eternidade”), trazendo um documentário e um
monte de extras, que somam um tempo maior do que a atração principal!
Não foi lançado no Brasil. Depois de muito tempo (2022), consegui meu
exemplar do filme, em DVD (tem menos material do que no Blu-Ray),
que acompanhou uma edição especial do CD. É um item envolvente. A

258
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

narração é de Rick Wakeman! As imagens mostram o dia a dia da banda


no estúdio em Nashville e a forma com que as músicas surgem, de um riff
ou uma melodia que alguém traz até a forma final, sempre sob os olhos e,
principalmente, ouvidos atententos do produtor Bob Ezrin. Este faz um
papel de um diretor de cinema, conduzindo os músicos e sugerindo
alterações que acabam se concretizando na versão da música que vai para
o disco. Três momentos pinçados do filme, que mostram o jeito informal
com que a banda e a equipe procuram amenizar a dura rotina das
gravações. Roger e Airey vão a um pub em Nashville e tocam com a banda
local, que fica perplexa com a presença dos dois. Roger dá a impressão de
ter se emocionado ao final da jam. No meio das sessões, um compromisso
social – o casamento do filho de Airey! Por fim, Ezrin vê uma banda de
garotos mandarem muito bem uma cover do Purple e os convida para o
estúdio, para tocar com a banda! Por outro lado, um tercho tocante:
Morse explica o problema que ataca sua mão direita (osteoartirite), que o
obrigou a adaptar seu jeito de tocar para poder suportar as dores. As
caretas que ele faz enquanto sola ao longo do vídeo ficaram explicadas.
Vendo o filme, a gente acaba gostando mais do disco.

(D) Pacotes

Aqui há grande variação, pois as gravadoras ao redor do mundo inventam


vários produtos para colocar as mãos em nossos bolsos. Assim como os
discos, esses pacotes saem a todo momento, de modo que não dá para
querer esgotar o assunto. A foto a seguir mostra um exemplo.

259
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Acima: capa do encarte e reprodução do DVD que


acompanha a edição dupla (CD+DVD) do
“Infinite”. Ao lado, disco lançado em 2022, só
disponível por download, que traz uma compilação
de faixas bônus e versões instrumentais de músicas
do “Infinite”. A maioria já estava disponível em
outras mídias.

260
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Acima: matéria sobre a apresentação do


Deep Purple em 13.dez.17 no repositório
da glória futebolística brasileira.
Embaixo:capa e contracapa do Blu-ray do
filme do Purple que fez parte do projeto
do álbum “Infinite”.

261
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Na primeira linha, capas dos 3 singles; na segunda linha,


capas do “Gold Edition”, do “Live Recordings” e a do CD
bônus da Classic Rock. À direita, um dos muitos “combos”
disponíveis com itens derivados do “Infinite” direcionados
aos não-assalariados. Abaixo, o navio quebra-gelo
americano protagonista da maior parte dos itens de
comunicação visual do projeto.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 24
Whoosh!

1. Throw my bones (3:40) Produção: Bob Ezrin


2. Drop the weapon (4:23) Gravação: The Tracking Room e
3. We’re all the same in the dark Anarchy Studios (Nashville);
(3:44)
4. Nothing at all (4:43) Noble Street Studios (Toronto) e
5. No need to shout (3:31) Henson Recording Studios (Los Angeles)
6. Step by step (3:34) Engenheiro: Justin Cortelyou
7. What the what (3:32) Capa: jekyll & hyde
8. The long away around (5:40) Lançamento: Agosto de 2020
9. The power of the moon (4:09) Gravadora/Selo: Edel/Ear Music
10. Remission possible (1:39) Lançamento no Brasil: Agosto de 2020
11. Man alive (5:35)
12. And the address (3:35)
13. Dancing in my sleep (3:54)

Visão geral

Novamente nossos decanos preferidos se reuniram com Bob Ezrin e


seguiram a estratégia dos dois álbuns anteriores. Dicas sutis dão a
entender que, este sim, seria o último disco de estúdio da banda. A mais
fácil de notar é a regravação da primeira música do primeiro álbum da
banda, que aparece como faixa final do “Whoosh!”, como que fechando
um ciclo. Outros toques, alguns claros, outros frutos da imaginação estéril

263
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

do Eremita, são citados adiante. Como qualquer obra que parta desse
grupo de músicos, temos música de alta qualidade. A diferença principal
é que, desta vez, não dá para citar alguma composição que seja fora da
curva. As letras, desta vez, ficaram mais a cargo do Gillan, muito
inspirado e, em parte delas, vemos o tema da defesa do planeta contra a
devastação imposta pelo homem. Não é um tema original, mas algumas
tiradas de Gillan são notáveis. Desde o disco “Abandon”, grande parte das
músicas são conduzidas por riffs sombrios da guitarra. Neste a coisa se
repete desde a primeira faixa. Como é característico dessa formação do
Purple, Morse segue variando pouco os timbres de sua guitarra, enquanto
Airey faz o contrário e, mais uma vez, sua participação é destacada.

O “Whoosh!” deveria vir ao mundo em 12 de junho, mas a pandemia


provocou um atraso e ele foi lançado no início de agosto (inclusive no
Brasil!). Outro efeito da pandemia foi o cancelamento da turnê
promocional do álbum. Em entrevistas recentes (ou seja, no final de
2020), os músicos deram indicações que, mesmo com todos os indícios,
este pode não ser o último disco. Afinal, eles estão há mais de um ano em
casa, as ideias vão se acumulando e… quem sabe?

Citações de várias músicas, and the adress, fechando um ciclo. The mule
perfect strangers etc estilo formado mark VIII riffs sombrios e condução
pelo teclado. Varia mais do que a guitarra. Fim de uma era? Disco em dois
atos.

Gillan se pronunciou quando do adiamento do lançamento com um cartaz que diz: “Tudo será logo
revelado..., assim como disse a stripper para sua ansiosa platéia. Seja paciente, por favor...Assim como
disse o médico. Felicidades!”. Ao lado, anúncio da Ear Music agradecendo a primeira colocação em
vendagens pela terceira vez seguida na Alemanha. Foi um “hat trick”! O Purple fez o mesmo que o atante
do Palmeiras Obina em 2009, contra o Corinthians, como bem lembrou o William Cook. Isso me fez
264
lembrar de outro “hat trick” contra o mesmo rival, em 2000, perpetrado pelo Alex.
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Título

“Whoosh” é uma onomatopéia de algo que passa muito rápido. Seria mais
ou menos como nossa expressão “num piscar de olhos”. Segundo Gillan,
o título reflete o caráter transitório da passagem do homem pela Terra.
Faz, portanto, a ligação com as preocupações ecológicas que conceituam
algumas das faixas do album. Toda a identificação visual seguiu esse tema,
simbolizado na figura que parece ser um astronauta extraterrestre. O
título vem acompanhado de um ponto de exclamação, confirmando a
influência do saudoso Roberto Avalone nos processos nominativos dos
discos da banda, já presente no “Now What?!”. Segundo Glover, a
primeira ideia era chamar o disco de “Fawlty Towers”, em homenagem
ao seriado cômico da BBC, produzido na década de 70, estrelado por John
Cleese (Monty Python). Depois, Gillan veio com a sugestão do
“Whoosh!”, que agradou mais. A primeira lembrança que me veio à
mente quando soube do nome foi o disco “Home”, do Procol Harum, que
tem lá um “Whoosh!” no meio da capa. A banda australiana The
Stroppies lançou um disco em 2018, com o mesmo título que,
curiosamente, abre com uma faixa chamada “Nothing at all”. Tenho
certeza que não houve plágio nesse caso, pois essa banda é desconhecida
até mesmo na Austrália. Desconhecidos até mesmo na rua onde eles
moram.

Capa dos discos do Procol Harum


e da famosíssima banda australiana
cujo nome me ainda me lembrarei
e, acredite se quiser, o falcão
peregrino é o animal mais rápido
do mundo, chegando a 200 milhas
por hora. Whoosh!

265
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capa

A arte principal do belo pacote gráfico (capa, letras, logotipo,


diagramação) foi feita pelo estúdio italiano jekyll & hyde (em minúsculo
mesmo). Eles são novos na área da música. Seu portfolio tem apenas mais
um disco, além do Purple. Uma daquelas curiosidades que só os fãs
doentes reparam é que este é o único disco de estúdio da banda que não
traz o título impresso na capa. O logotipo utilizado para o nome da banda
é uma reestilização do primeiro, utilizado em 1968. No site dos designers
italianos tem uma pequena animação mostrando a evolução de um para
o outro. Seria essa mais uma evidência do fim do ciclo?
Conceito: A

Astronautas em capas de disco não são novidade. Por exemplo, o mais novo disco de Rick Wakeman,
“The Red Planet” (jun.20) traz um. Indepententemente do tema não ser original, a execução da arte do
“Whoosh!” ficou muito boa. A capa do single, que traz uma ilustração frontal do astronauta, me lembrou
a do disco “You’re not Alone” (1978), do Roy Buchanan, excelente (tanto o disco quanto o Roy).

As faixas
Airey/Ezrin/Gillan/Glover/Morse/Paice, com exceção de And the address

Throw my bones

A primeira faixa resume a tônica do disco. Boa música, instrumental


perfeito, letras coerentes. Como estamos acostumados a faixas de abertura
fortes, esta fica um pouco aquém. O álbum vem separado em dois atos.
O Ato I vai da primeira até a sexta faixas (Step by step). O segundo ato
engloba as seis faixas seguintes (não inclui a bônus). Aparentemente, é só

266
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

um jeito de divider os lados A e B do vinil, pois não identifiquei nenhum


lógica por trás desse agrupamento.
Nota: 8

Drop the weapon

Aqui começa uma série de cismas d’O Eremita, que acha que algumas
faixas deste álbum fazem referência a músicas de outros discos, em uma
espécie de retrospectiva da obra da banda, ou seja, mais uma indicação
que o ciclo se fecha. Esta faixa, por exemplo, me lembra uma que o Gillan
já citou publicamente como uma de suas preferidas, Hazzle Dazzle. Entre
as duas, prefiro a mais recente. Uma letra desamarmentista de Gillan,
lúcida e sensata, ainda mais nestes tempos.
Nota: 7

We're all the same in the dark

Outra letra, digamos, política de Gillan, desta vez apontando para a


questão do racismo: todos somos iguais no escuro. A parte musical não
coloca esta entre as melhores do disco, embora, como as demais, tem suas
qualidades e pode acabar entre as preferidas de alguém.
Nota: 6

Nothing at all

Já citei diversas vezes que a banda sempre se dá bem quando envereda


para o lado do Rock progresssivo. Esta é mais uma prova. Um riff clássico,
que lembra os tempos de “Purpendicular”. O solo de Airey é brilhante.
Gillan encaixa na letra “platitudes and pleasantries” (banalidades e
gentilezas), conversando com a Mãe Natureza (The old Lady).
Ambientalismo, de novo. A melhor de todas.
Nota: 9

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No need to shout

A primeira nota emitida pelo teclado de Airey não pode deixar de ser uma
referência à Perfect Stranger, na minha banal opinião. Outra das
melhores do álbum. A cozinha segura um excelente riff. Airey saca bem
um solo de piano honky tonky, que contrasta com o restante da música.
A letra? Definitivamente política. Vejam reprodução abaixo:

Classic Rock 278 (CR) - Há algumas letras engraçadas nele (no


“Whoosh”). Em ‘No need to shout’, você canta: "Você fica aí em
seu palanque, destemido, pregando como um leiloeiro demente."

Gillan - É uma detonada nos políticos.

CR - Alguém em particular? Boris? Trump?

Gillan - Na verdade, não. Eles são todos inúteis. Eles vêm cheios de
idealismo e vigor e em cinco anos eles estão falando bobagem. É o
mesmo com músicos.

Outro trecho nada sutil em que Gillan demonstra sua admiração pelos
políticos está no verso “what a bunch of trash you got, exuding from your
ass” (algo como “que monte de lixo você tem, exalando da sua bunda”).
Nota: 9

Step by step

O andamento e a melodia lembram The Purpendicular Waltz (segue meu


devaneio com essa coisa das referências), só que desta vez, com
desvantagem em relação à antiga. Morse e Airey valorizam a música com
ótimos solos. Desta vez, não percebi mensagens na letra. Parece mais um
exercício do Gillan em ajeitar palavras que caibam na cadência da
melodia.
Nota: 7

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

What the what

Título indecifrável (dentro dos meus mirados conhecimentos de inglês),


para um Rock’n’Roll básico, cuja letra trata do momento em que o grupo
se reuniu com Ezrin para gravar o álbum. Uma das menos inspiradas do
disco
Nota: 6

The long way round

Lá vou eu, de novo – a melodia desta me lembra The mule. Outra: a letra
cita I would not get trashed again. Com todo respeito, boa música, mas a
gente sempre espera muito do Purple e esta não arrebata.
Nota: 6

The power of the moon

Outra com aura de Rock progressivo, outra bola dentro. Outra das
melhores. Levada tranquila, com belas harmonias vocais.
Nota: 8

Remission possible

Rápida (tanto no andamento quanto na duração) instrumental conduzida


pelo Hammond de Airey. Título interessante. Entretanto, sem muito a
entregar.
Nota: 6

Man alive

O início é muito bem arranjado, com Airey criando um fundo para o


dedilhado de Morse. Um daqueles riffs que eu chamo de sombrios. Pode
ser definida como a música central do disco, pois seu tema é o
esgotamento do planeta e a eminente extinção do homem (a Mãe

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Natureza adora um aspirador…, declama Gillan). A palavra final da letra


é o momento em que Gillan sentencia nosso destino: Whoosh.
Nota: 8

And the address


Blackmore/Lord

Ideia do Bob Ezrin, mais uma evidência que o recado é: chegamos ao


último álbum, é o fim de uma era gloriosa. A primeira faixa do primeiro
disco, do longínquo 1968 é regravada. A original já não era das mais
iluminadas e a regravação não fugiu muito do arranjo anterior. Mesmo
assim, Glover e Paice quebram tudo.
Nota: 6

Dancing in my sleep

Faixa creditada como bônus, mas que está em todas as mídias, tendo a
letra sido incluída no livreto que acompanha o disco. Airey usa um
sequencer (o efeito que faz o som inicial). Roger entra com um baixo bem
swingado. Uma música que busca certo ar de modernidade, lembrando
um pouco momentos de discos solo do Gillan. Não é daquelas que
decolam.
Nota: 6

Complementos

Assi como foi feito para o “Infinite”, resolvi separar os complementos por
tipo de mídia, tantos são os derivados desta nova obra do Purple:
(a) Discos

Existem várias versões do novo disco. Em CD são, basicamente, duas: a


normal e a chamada “Limited edition”. Aqui cabe um comentário sobre
o lançamento brasileiro: a Shinigami Records
(http://www.shinigamirecords.com.br) vem suprindo o mercado
brasileiro com vários lançamentos da família Purple, incluindo o
“Whoosh!”, que saiu por aqui no mesmo dia do lançamento mundial. A

270
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Shinigami colocou à disposição os dois tipos de CD, sendo que a “Limited


Edition” vale muito mais a pena. Além do CD normal, traz um DVD com
uma conversa entre Glover e Ezrin e o show de 2017 no Hellfest (veja
mais a seguir). A edição nacional é bem caprichada, no formato batizado
de “digipac” (imagino que todos saibam do que se trata), contendo um
livreto com as letras e fotos. Em termos de vinil, existem diversas versões,
incluindo discos coloridos que brilham no escuro! Três singles derivaram
do lançamento principal: Throw my bones; Man alive e Nothing at all.
Outro item que saiu como bônus em uma versão especial em vinil é a
gravação de três músicas extraídas de um show no Rio de Janeiro, em
2017.

(b) Vídeos

São vários os vídeos oficiais que a gravadora Edsel produziu. Três são clips
de faixas do álbum: Throw my bones; Man alive e Nothing at all. Os três
trazem a figura do astronauta alienígina que passeia pela Terra
contemplando a destruição do ambiente pelo homem. O de Nothing at all
tem um quê da iconografia da Hipgnosis, lembrando imagens típicas das
usadas pelo Pink Floyd. Mas, o recado ecológico é o mesmo. Tirante os
clips, temos mais seis vídeos: (1) um tutorial de como tocar Man alive na
guitarra, apresentado pelo Steve Morris, com discreta participação de seu
cachorro; (2) um entitulado “Creating the album”, com declarações dos
Ians sobre, adivinhem, a criação do álbum, sendo que Gillan aparece de
cartola (!), em uma possível provocação a Blackmore; (3) uma das sessões
de ensaio de Throw my bones, em um formato ainda preliminar, só
instrumental; (4) uma entrevista feita por meio de vídeo conferência em
duas partes com dois fãs da banda, um dinamarquês e um inglês, com a
presença simpática e bem humorada de Glover e Airey. Muito
interessante. Entre os muitos assuntos abordados, um que mais me
chamou a atenção é que o Glover disse que recentemente recebeu os
masters do “Rapture of the Deep” e que ele prentende remixá-lo, pois não
ficou contente com o produto final; (5) uma conversa em estúdio entre
Glover e Ezrin, em que eles repassam faixa a faixa o novo disco, às vezes
individualizando o áudio de um dos instrumentos (ou do vocal). Tem por
volta de uma hora de duração e é muito legal. Não tem legendas, nem em

271
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

inglês, nem em português, o que é uma pena. Este vídeo integra o DVD
que vem de bônus na já referida “Limited edition” do CD, assim como o
próximo; (6) finalmente, uma hora de show do Purple no Hellfest de
2017, na França. Parte desse show havia saído no Blu-ray do “Infinite”.
O Purple se apresenta durante o dia, em um palco enorme, bem distante
da plateia. Dá para ver que o público fica meio paradão quase o tempo
todo, apesar da grande apresentação da banda. Como sempre, aliás.

Imagens extraídas dos vídeos citados: Gillan com a cartola (possivelmente um


presente do amigo Ritchie) e Bob Ezrin, conversando no estúdio com Glover.
Ao lado, imagem de divulgação do vídeo de Nothing at all, com sua estética
“pinkfloydiana”.

272
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Ao lado, imagem extraída do


clip de Throw my bones;
abaixo, dois exemplos de como
explorar o merchandising ao
limite, com opções das mais
variadas para se adquirir o
álbum; segue também
reprodução do cartaz do
Hellfest 2017, origem do vídeo
que acompanha a edição dupla
em CD, conforme ilustração do
selo externo da embalagem,
mostrada ao final.

273
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No alto, anúncio no site da gravadora brasileira Shinigami Records, que lançou o álbum simultaneamente
ao resto do mundo (novamente, os fãs do Purple agradecem!); abaixo, capa da revista Classic Rock
italiana destacando o lançamento do “Whoosh!”. Na versão inglesa veio um CD de brinde (capa ao lado),
com Throw my bones; Birds of prey e Strange kind of woman, as duas últimas gravadas ao vivo no Rio,
em 2017. Por fim, uma das muitas imagens promocionais do álbum envolvendo a figura do astronauta.
Dizem que quem vestiu o traje todo o tempo foi o ministro Marcos Pontes, em uma colaboração anônima.

274
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 25
Turning to crime

1. 7 and 7 is (2:28) Produção: Bob Ezrin


2. Rockin’ Pneumonia and the Boogie Gravação final: Anarchy Remote Records
Woogie Flu (3:15) Engenheiros: Julian Shank e Bob Ezrin
3. Oh Well (4:21) Capa: jekyll & hyde
4. Jenny take a ride! (4:36) Lançamento: Novembro de 2021
5. Watching the river flow (3:02) Gravadora/Selo: Edel/Ear Music
6. Let the good times roll (4:22) Lançamento no Brasil: Novembro de 2021
7. Dixie chicken (4:43)
8. Shapes of things (3:40)
9. The battle of New Orleans (2:51)
10. Lucifer (3:45)
11. White room (4:53)
12. Caught in the act (7:49)

Visão geral

Apesar das várias pistas contidas em “Whoosh!”, ele não foi o último
disco do Purple. Em plena epidemia de Covid, com o mundo todo em
regime de confinamento, deram um jeito de gravar mais um álbum. Foi o
produtor Bob Ezrin quem instigou a coisa toda. Se, por um lado, a
tecnologia permite que cada músico grave sua parte separada e
remotamente, por outro, o modus operandi da banda tem sido o de gerar

275
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

as composições a partir de ensaios e trocas de ideias em conjunto,


reunidos em estúdio, o que era impraticável naquele momento. A saída
foi regravar músicas de outros. Cada integrante fez uma lista das suas
candidatas a receberem uma leitura “Purple”. A lista chegou a 50 e, com
a direção de Ezrin, chegaram ao repertório final, que rendeu 13 faixas.
Segundo Gillan, nenhuma das que ele listou entrou. Por meio de troca de
mensagens e arquivos, o processo de juntar as partes e dar o acabamento
final coube a Ezrin, tarefa que levou por volta de seis meses.

Eu já expressei minha opinião sobre a gravação de covers em outras


oportunidades, principalmente no randômico blog “Rock Brado”,
ocasiões em que comentei que não via muito valor em regravações que
seguiam à risca a versão original. Gillan, que entende um pouco mais de
música do que eu (atenção desatentos, isto é ironia!), soltou a seguinte
nota (tradução gaiata d’O Eremita): Não vale a pena fazer essas coisas se
você vai copiar os originais servilmente. Mas ao mesmo tempo, é
terrivelmente atrevido pensar que você pode melhorar os originais que
estão embutidos na mente de todos. Tocamos cada música com total
respeito e esperamos que nossa personalidade e estilo tenham se
desenvolvido a ponto de podermos dar a ela a identidade Deep Purple sem
tirar nada do nosso respeito pelo original (bilhete reproduzido a seguir).

Sabemos que gravar covers não é inédito na história da banda. Eles eram
numerosos no começo da carreira, quando gravaram versões muito boas
(Hush; Help!) e outras sofríveis (River deep, mountain high, por
exemplo) e foram escasseando com o passar do tempo, surgindo,
basicamente no repertório dos shows.

A escolha das músicas ficou dividida em covers improváveis e outros


manjados.

São nove músicas de origem americana e apenas três inglesas, fora o


medley. A “paternidade”, ou seja, quem foi o responsável por cada escolha
não ficou completamente definida, mas algumas foram declaradas.

276
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

No final, temos um disco extremamente agradável, mais uma


contribuição da
banda à boa
música e um
produto digno de
figurar na
discografia do
Purple.

Mais uma vez


cumprimento a
gravadora
Shinigami
Records, que
lançou a edição
brasileira
concomitantemente à Europa, com uma qualidade igual à produção
internacional.

Título

Qual seria o significado do título, “voltando-se para o crime” (ou coisa


assim)? Seria considerado um crime a banda mais criativa do Rock gravar
covers? Ou o crime foi lançar disco novo em plena pandemia? Ou, ainda,
uma mera brincadeira, que serviria bem a arranjos gráficos de arte e de
divulgação? Um título que dá margem a, pelo menos, três interpretações
é porque acertou o alvo. Em uma entrevista, Glover esclareceu tudo:
quando perguntou ao Gillan o que ele faria durante a quarentena, ele
respondeu “Sei lá, acho que vou entrar para o crime”.

Capa

Os americanos chamam as fotos de prisioneiros fichados de mug shots.


São os mug shots dos músicos a principal peça de divulgação do álbum e
que formaram a capa. Nas placas de identificação dos prisioneiros (fotos
ótimas!), algumas brincadeiras, como na do Gillan, que traz “Sing Sing”,

277
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

um dos vários trocadilhos e brincadeiras presentes nos detalhes do


encarte, como, por exemplo na ficha do Paice em que ele preenche à
pergunta “Nome:” “Sim, eu tenho um!”. Os rostos dos músicos voltaram
à capa, fato que não ocorria desde o “Come Taste the Band”.

O encarte não traz as letras, mas tem fotos e pistas humorísticas


interessantes para serem analisadas com atenção. A execução coube
novamente ao estúdio italiano jekill & hyde, que havia feito um ótimo
trabalho no “Whoosh!” e aqui repete a dose.
Conceito: B

As faixas

Por não serem criações da banda, não


atribui notas a cada faixa neste disco.

7 and 7 is
Arthur Lee

Nos anos 70 eram os jornais ingleses


Sounds e Melody Maker que guiavam a
moda musical, determinando quais
bandas ou músicos deveriam ser seguidos
pelos outras mídias e público, como se
tivessem um cetro e o usassem para
batizar os músicos: “de agora em diante e
pelo tempo que eu quiser vocês serão os
caras quentes do momento”. No Brasil,
respeitosamente, se abaixava a cabeça e a
ordenação era cumprida. Nos anos 2000,
a coisa do batismo continua, só que agora
são as revistas Uncut e Mojo quem têm o
cetro. E eles decidiram que a banda Love
entraria para o ranking dos “sons
maneiros”, sabe-se lá sob qual critério. Recorte extraído da revista Classic
Rock, com as capas dos singles
Pois bem, ao contrário de alguns servos originais das faixas regravadas pelo
Purple.

278
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

brasileiros, eu fui ouvir o Love. Não gostei. Isto é, pela expectativa criada,
achei que ia conhecer uma banda revolucionária e maravilhosa. O som
deles nada mais é do que Pop psicodélico, que é dureza de ouvir direto.
Uma ou outra música pinçada aqui ou ali, até que é digerível. A escolhida
para abertura do álbum pelo Purple é uma das que descem sem muito
esforço, muito mais pela interpretação da banda. Paice esmigalha. Ficou
muito melhor e, no fim, tornou a música muito mais interessante. Essa,
por sinal, é uma regra neste disco. Alice Cooper e Rush são dois que
também fizeram covers desta música. Como visto no início do Capítulo,
cada músico deu seus palpites sobre as canções que receberiam as versões.
Esta foi culpa do Glover. Foi a primeira a ser divulgada, em um clip em
que os músicos são filmados individualmente, cada um fazendo sua parte
em um estúdio diferente.

Rockin’ Pneumonia and the Boogie Woogie Flu


Huey “Piano” Smith

A segunda faixa foi uma escolha bem mais


divertida. Gravação dos anos 50, que já
recebeu vários covers, com destaque para o
gravado pelo Aerosmith, um pouco mais
pesado do que o do Purple, que seguiu mais de
perto o arranjo original, incluindo a presença
de metais. Airey faz um solo e tanto, soltando
um trechinho do riff de Smoke on the water no
final. Também teve um clip produzido, seguindo o espírito da música, ou
seja, bem divertido, contando a saga de um piano que tocava sozinho e
enxertando várias referências sobre a banda. O quadro do Glover sobre o
incêndio no Casino está nele. Exames atentos vão encontrar mais um
monte de alusões. Uma das melhores do disco.

Oh Well
Peter Green

Escolha de Steve. No já referido álbum ao vivo do Purple, no


Hammersmith Apollo, ele toca parte do riff em seu solo. Foi a primeira
música gravada pelo Fleetwood Mac e ela se tornou paticamente uma
279
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

instituição do Blues inglês. Muita responsabilidade regravá-la, ainda mais


que as várias covers registradas até então não conseguiram impregnar a
tensão e o contraste entre a suavidade do violão de Peter Green e o peso
da banda acompanhando depois. Só que a missão estava nas mãos de
mestres e, como sempre, não teve erro. Um tributo digno e honrado. Foi
a terceira a ser divulgada antes do lançamento do álbum e também foi
acompanhada de outro videoclipe bem humorado, com os cinco músicos
se passando por uma banda de mafiosos que saem roubando as músicas
dos outros, com participação de sósias de Ray Charles, Bob Dylan e dos
próprios Macs, na onda do conceito de “virando pro crime”. Podem
colocar esta também na lista das melhores.

Jenny take a ride!


Bob Crewe; Enotris Johnson; Richard Penniman

Uma das menos conhecidas do repertório, teve uma cover pelos irmãos
Johnny e Edgar Winter e é uma música curiosa. Na opinião deste leigo e
meigo escriba, ela é uma junção da tradicional C.C. Rider com Jenny
Jenny, de Little Richard (tanto que seu nome, Richard Penniman, foi
incorporado aos créditos). Foi gravada por Mitch Ryder & The Detroit
Wheels em 1965. Tem um solo matador de Don Airey, começando com
um boogie e emendando com um breve diálogo com o Morse. Versão
correta, bem executada, como não poderia deixar de ser, mas um ponto
médio do disco.

Watching the river flow


Bob Dylan

Outro registro que consta no agorafóbico blog “Rock Brado” é que eu não
consigo ouvir Bob Dylan por Bob Dylan. É óbvio que ele tem músicas
boas, mas seus arranjos e, principalmente, sua voz, me irritam com uma
força forte. Não é à toa que muitos covers de Bob Dylan ficaram muito,
muito melhores do que as gravações originais. Esta música foi escolha de
Glover, que gosta da versão que Leon Russel (ele produziu e participou
da gravação original) registrou anos mais tarde, mais puxada para o Blues.
A do Purple seguiu o andamento da primeira gravação, mais rápida. É
mais um exemplo de memória afetiva. Quando se aplica à música, surgem
280
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

casos como este, em que o valor estético em si é secundário. O que pesa


são as recordações e sentimentos que a música carrega na experiência
pessoal. Aparentemente, esse tipo de escolha é que orientou todo o disco,
pois algumas músicas não têm atrativos suficientes para recebem
regravações, como é o caso desta. Voltando à faixa: nem é preciso
comentar que ficou melhor do que as duas, mas vou comentar assim
mesmo - ficou melhor.

Let the good times roll


Fleecy Moore & Sam Theard

Esta é a música mais antiga entre as escolhidas para este álbum. A


primeira gravação é de Louis Jordan and His Tympany Five, em 1946.
Também é a que tem mais regravações, com mais de 180 covers, sendo o
mais conhecido a de Ray Charles, músico que é citado na letra da versão
original. A do Purple segue o primeiro registro, com acompanhamento de
metais e o mesmo andamento. Gosto muito de ouvir o Gillan cantar
músicas fora do contexto da família Purple, como neste caso. É mais uma
forma dele mostrar sua capacidade interpretativa. E ele deita e rola nas
inflexões. Os solos de teclado e guitarra não constam da versão original e
aqui são executados com perfeita adaptação ao restante do arranjo. Coisa
de gente com muita estrada nas costas.

Dixie chicken
Lowell George & Fred Martin

O Little Feat é uma banda curiosa. Tem ligações com Frank Zappa e
Captain Beefheart, mas seu som pouco lembra essas influências, embora
seja uma mistura de muitos elementos, com um
viés comercial, como é o caso desta música,
uma das suas mais conhecidas. Lá fora, porque
no Brasil o Little Feat nunca foi muito
comentado. Muitas de suas composições foram
regravadas por músicos de variados estilos.
Gillan não gravou nenhuma, mas incluiu Let it
roll no repertório de alguns de seus shows como

281
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

artista solo. Apesar disso, foi uma sugestão de


Morse. Não vejo nada de especial em Dixie
Chicken. Provavelmente mais uma escolha
por memória afetiva. Por outro lado, serve
como mais uma prova que os experientes
músicos do Purple navegam bem em qualquer
tipo de ritmo e conseguem sempre entregar um
produto agradável aos ouvidos, como neste
caso.

Shapes of things
James McCartey; Keith Relf & Paul Samwell Smith

Ao lado de White room, são as duas músicas mais conhecidas entre as


escolhidas (fora o medley). Shapes of things, primeiro sucesso dos
Yardbirds, tem várias versões, entre elas as de Gary Moore e do Rush.
Paice usou uma marcação mais direta, ao invés da batida marcial da
versão original, que procurava pontuar o caráter anti-bélico da letra (que
não era propriamente um exercício de clareza). Uma parte sensível seria
a guitarra, pois o solo de Jeff Beck na primeira versão foi muito marcante.
Mas Steve fez um grande solo, sem ficar devendo nada ao velho mestre.
A versão do Purple deu uma modernizada na gravação original, que ficou
um pouco datada.

The battle of New Orleans


Jimmy Driftwood

A batalha de New Orleans realmente aconteceu (1812) e foi entre os


Estados Unidos e a Inglaterra, que pretendia tomar um teco das terras
americanas. A música é bastante conhecida, os americanos costumam
usá-la em filmes e eventos esportivos. A letra e o ritmo tratam o assunto
com leveza. Curiosamente foi gravada por um representante do lado
derrotado, o inglês Lonnie Donegan, artista muito ouvido por Gillan e
Glover na adolescência (foi a gravação de Donegan que inspirou Gillan
a regravar No more cane on Brazos). A versão do Purple é rápida,
dançante e divertida. Traz um fato inusitado – Roger Glover é o vocal

282
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

principal, em sua primeira experiência nesse posto em sua história na


banda.

Lucifer
Bob Seger

Foi Morse quem a indicou. Provavelmente a


menos conhecida entre as músicas escolhidas
para este álbum. Tanto que a única regravação é
esta do Purple. Não é de se estranhar, ouvindo a
versão original. Não que seja algo intragável, mas
é uma música que não tem nada de especial. Não
chamaria a atenção nem se estivesse em uma
coletânea do próprio Bob Seger. Para comprovar,
dei uma verificada em quatro coletâneas oficiais dele e Lucifer não está
em nenhuma delas. Uma demão de tinta púrpura acabou por dar uma
impressão melhor à obra. Tinta fosca, não brilhante.

White room
Jack Bruce & Peter Brown

Competir com o Cream é uma tarefa para bravos. Nossos velhos ídolos se
saíram bem. Steve Morse segue Clapton no uso do wah-wah. O Cream
lançou White room em agosto de 1968. No mês seguinte, o “Shades” era
lançado. Por isso, não é de se estranhar que a produção supere a original,
pelo tempo decorrido entre os dois registros. Exceto por esse aspecto, a
versão do Purple é bem próxima da gravação original, o que é bom, porque
é difícil mexer em algo que está bem resolvido por todos os lados. Mais
uma que estava na lista de Glover.

Caught in the act


Don Nix (Going down); Stephen Cropper, Lewie Steinberg, Al Jackson Jr. & Booker T. Jones (Green
Onions); Gregg Allman, Howard Allman, Richard Betts, Claude Trucks, Raymond Oakley & Johnny
Johnson (Hot ‘Lanta); Jimmy Page, Robert Plant & Jake Holmes (Dazed and Confused); Stephen
Winwood, Muff Winwoof & Spencer Davis (Gimme Some Lovin’)

Antigamente esse tipo de faixa em que as músicas vão se conectando sem


interrupção era chamado de pot-pourri. Fica mais chique usar o termo

283
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

inglês, medley. Ou então, poderíamos tentar o equivalente português –


miscelânea. Enfim, esta faixa é uma espécie de oficialização dos encores
dos shows, quando a banda se deixa levar pelos improvisos instrumentais.
Going down começou a entrar no shows na época da MK III; Green
onions é outra que vira e mexe aparece nos improvisos ao vivo e, como
foi citado no comentário do “The Batlle Rages On”, serviu de inspiração
para Ramshackle man. Depois temos um trecho de uma música do
Allman Brothers, seguida de Dazed and confused, devidamente creditada
a Page, Plant e Jake Holmes, este último o verdadeiro autor da música,
apropriada pelo Led. O conjunto de músicas e o disco terminam com
capricho, com uma música que gosto muito, Gimme some lovin’, em
versão cantada.

Complementos

Seguindo a rotina dos últimos álbuns da banda,


o que não faltou foi uma batelada de itens
extras. A começar pela música (I’m a)
roadrunner, do trio de compositores Holland-
Dozier-Holland. A original teve algum sucesso
em 1966 com Junior Walker & The Allstars.
Essa faixa foi liberada de início para download
a quem havia se inscrito no site do Purple. Agora está disponível no
dispendioso e inacessível (pelo menos para eremitas) box-set, que traz o
álbum original dividido em cinco discos de vinil e o DVD “Locked Up”,
com um documentário sobre a confecção do disco.

Da mesma forma que ocorreu com “Now What?!”, foi inserido no site
oficial uma contagem regressiva para o lançamento do disco, iniciada em
03 de setembro de 2021. Além dessa, foram várias as ações de marketing,
como o uso intensivo de cartazes na Europa, em ônibus, estações de metrô
e táxis, lançamento de vídeos e até uma brincadeira de detetive, do tipo
“descubra as pistas e ganhe um prêmio”, que rolou no site da gravadora.

284
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Até onde pude acompanhar, não houve compactos derivados do álbum.


Algumas faixas foram divulgadas com antecedência, mas em forma de
vídeos.
Foram muitos os vídeos produzidos para instigar os fãs. Três trazendo
faixas do álbum e muitos como aperitivos do que viria pela frente. Os
vídeos produzidos a partir das músicas do disco foram, pela ordem, 7 and
7 is, Oh well e Rockin’ pneumonia and the boogie woogie flu.

Acima, propaganda da brincadeira


de detetive promovida pela
gravadora. Ao lado dela: a primeira
audição da Oh well foi liberada pela
gravadora no YouTube, ainda antes
do vídeo ficar pronto. No meio:
publicidade do novo álbum
envelopando um táxi; ao lado, cena
do Airey no vídeo de Rockin’
pneumonia. Ao final: publicidade
do vídeo de 7 and 7 is.
285
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capa da revista Classic Rock 295, que


destacou o Purple e seu novo lançamento
e que trouxe um CD encartado (“A Taste
of Crime”, contracapa acima), contendo 7
And 7 is ; Step By Step (versão
do “Whoosh!”); Pictures of
home e Bloodsucker em versões ao vivo.
Abaixo: pacoteira de itens derivados do
“Turning to Crime”.

286
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

A mais recente moda entre os veteranos do Rock para


defender um cachê e ainda se divertir: cruzeiros marítimos
com shows de Rock a bordo. O Deep Purple também aderiu,
como pode ser visto na propaganda acima. Ao lado,
publicidade da Shinigami Records, mostrando que o disco
novo vendeu bem por aqui. Abaixo dela, capa do DVD
“Locked Up”, ainda não assistido pelo Eremita. Vi apenas
um pitaco que foi postado no YouTube para instigar os fãs a
desembolsar mais uma grana (maldito marketing!). Abaixo,
um instantâneo da contagem regressiva postada no site
oficial da banda.

287
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

A saída de Steve Morse e a entrada de Simon McBride

Em julho de 2022 o Deep Purple anunciou a saída de Steve Morse. Ele


havia se afastado em março para cuidar de sua esposa, Janine, que está
em tratamento contra o câncer. Alguns meses depois veio a confirmação
de sua saída definitiva, pois o Purple iria partir em mais uma excursão
pelo mundo, o que exigiria que ele se mantivesse afastado da família por
um período muito longo. Steve foi o guitarrista de maior permanência no
Purple e sua intensa colaboração para a produção da banda foi um dos
fatores que manteve o grupo unido durante tanto tempo.

O substituto foi mais uma escolha natural, a exemplo do que aconteceu


com Don Airey. Simon McBride já era da turma, pois havia trabalhado
com Gillan e Airey, conforme citado anteriormente.

A banda voltou a excursionar. A primeira apresentação com o novo


guitarrista foi em Israel, em 22 de maio de 2022, na Menora Mivtachim
Arena (cartaz abaixo, ainda com Morse na foto).

288
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Acima: nota da revista “Classic Rock” sobre a saída


de Morse. Ao lado: cartaz de turnê inglesa, com a
mais recente formação. Abaixo: o Purple
novamente no Brasil, desta vez em 22 de abril de
2023, participando do “Monsters of Rock”.

289
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Parte III – Outras coisas

Capítulo 26
Balanço dos conceitos e notas

Muitas coisas da nossa realidade são inexplicáveis. A mania dos Rockeiros


por listas é uma delas. Listas são ótimas para alimentar discussões.
Ninguém concorda com uma lista alheia. Eu, como Rockeiro orgulhoso e
praticante, também gosto e faço minhas listas. Um texto como este, com
notas e conceitos, é uma usina de listas. Pois, vamos a elas.

As melhores músicas

A lista das que receberam nota dez neste texto, sendo consideradas obras-
primas irretocáveis, tem 20 músicas, conforme mostrado abaixo (em
ordem alfabética):

• All the time in the world • Pictures of home


• A simple song • Place in line
• Bloodsucker • Smoke on the water
• Burn • Soldier of fortune
• Child in time • Sometimes I feel like
• Highway star screaming
• Knocking at your back • Speed king
door • Stormbringer
• Lazy • The purpendicular waltz
• Mistreated • This time around
• Perfect strangers • Time for bedlam

290
Trinta e duas faixas receberam nota 9, ou seja, foram consideradas
excelentes. São elas (ordem alfabética, de novo):

• A gypsy’s kiss • Might just take your life


• Anya • Nasty piece of work
• Anyone’s daughter • Never before
• A touch away • Nobody’s home
• Bad attitude • No need to shout
• Birds of prey • No one came
• Fireball • Not responsible
• Flight of the rat • Nothing at all
• Fools • Sail away
• Hold on • Space truckin’
• Into the fire • The surprising
• Lady double dealer • Walk on
• Living wreck • Wasted sunsets
• Love child • Woman from Tokyo
• Mad dog • You fool no one
• Maybe I’m a Leo • You keep on moving

Temos, então, duas listas reunindo 52 dos melhores Rocks da história. Caso
uma gravadora decidisse fazer uma coletânea séria e representativa sobre o
Purple, teria que contemplar grande parte desse conjunto de músicas. Uma
curiosidade: das 52, foram compostas 29 pela Mark II (mais da metade). Cá
entre nós, que somos fãs, que outra banda tem um repertório desses, hein?

A classificação dos discos

Quais são os cinco melhores discos do Deep Purple? E o pior? Essas


perguntas que há tanto tempo atormentam a humanidade estão respondidas
a seguir, na lista em ordem decrescente das médias das notas atribuídas pelo
Eremita.
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

1º) Machine Head: 9,6


2º) In Rock: 9,3
3º) Perfect Strangers: 8,7
4º) Burn: 8,6
5o) Fireball: 8,3
6º) Purpendicular: 8,1
7º) Come Taste The Band: 7,9
8o) Who Do We Think We Are: 7,7
9o) Stormbringer: 7,6
10o) House Of Blue Light: 7,2
11o) Now What?!: 7,1
12o) The Battle Rages On, Infinite e Whoosh!: 7,0
15o) Bananas: 6,7
16o) Rapture of The Deep: 6,4
17o) Abandon: 6,0
18o) Deep Purple: 5,9
19o) Book Of Taliesyn: 5,6
20o) Shades Of Deep Purple: 5,4
21o) Concerto For Group And Orchestra: 5,0
22o) Slaves And Masters: 4,5

As melhores capas

Só três receberam o conceito “A”: “Stormbringer”, “Infinite” e “Whoosh!”.

Com conceito “B” temos nove capas, conforme a lista em ordem alfabética
a seguir:

• Abandon • In Rock • Rapture of the


• Bananas • Machine Head Deep
• Burn • Now What?! • Turning to
• Deep Purple crime

292
As listas e o gráfico

Uma banda com uma obra tão preciosa é um veio que produzirá ainda muito
dinheiro para os empresários do entretenimento. Uma das minas, contudo,
está secando. A agonia do CD está diminuindo gradativamente o derrame de
coletâneas no mercado. A exemplo dos discos ao vivo, coletâneas do Deep
Purple existem aos montes, mundo afora. Uma coisa interessante de se fazer
é comparar os repertórios das coletâneas com a lista das 50 músicas listadas
anteriormente. Isto é, interessante, mas não para eu fazer. Segue como
sugestão para aquela noite de insônia. Se a leitura deste texto não o fizer
dormir, o caso é grave. A última saída, então, é seguir minha sugestão e fazer
a comparação entre as coletâneas e o “Top 50” listado pelo Eremita. De cara,
pelo menos duas diferenças aparecerão: Black night e Strange kind of woman
não estão na lista, pois não fazem parte de nenhum LP, mas são
frequentadoras ponta-firme das coletâneas. Outras possíveis ausências:
Demon’s eye e Emmaretta. Ambas nem tanto pela qualidade. A primeira por
causa da substituição que os americanos (e brasileiros) fizeram no LP
“Fireball” e a segunda por ser lado B de compacto. A outra não pontuada
neste texto e que aparece em coletâneas é When a blind man cries. Esta,
entretanto, entra pelos dois motivos: qualidade e por ser lado B, não presente
em LPs oficiais.

O gráfico a seguir, batizado de “Quadro VI” para atender às normas da


ABNT de numeração de adereços em textos irrelevantes, traz outra linha do
tempo. Desta vez, temos o lançamento dos discos ao longo dos anos e a
respectiva pontuação atribuída de forma rigorosamente subjetiva pelo
Eremita. Dá para ver pelo gráfico como na maioria da vida do Purple o
Teorema de Glover funcionou, de fato. É um tal de sobe e desce o tempo
todo, exceto pelo final em que, infelizmente, a banda entrou em regime de
estabilidade em um nível intermediário. Conforme explicado, o “Turning to
Crime” ficou sem nota e, portanto, não aparece no gráfico.
294
Quadro VI – os discos ao longo do tempo e as respectivas médias das notas atribuídas pelo Eremita
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

O Deep Purple nas paradas


Mais uma lista? Calma lá! Desta vez só reuni e coloquei em ordem as
informações citadas no início de cada capítulo a respeito das vendagens e a
respectiva posição de cada álbum no índice inglês. Não deixa de ser curioso
constatar alguns dados, como, por exemplo, o caso do “Fireball” atingindo o
primeiro lugar nas vendas, o que o “In Rock” não conseguiu. De qualquer
forma, esses dados tem uma importância relativa, porque os resultados foram
obtidos sob circunstâncias e contextos completamente diferentes. Como
explicar o sexto lugar do “Infinite” se não existem nem mais as lojas físicas
pra comprar CDs? De todo modo, é uma lista, então pau nela!

Posição Título Ano Tipo


1 Fireball 1971 Estúdio
1 Machine Head 1972 Estúdio
1 Deepest Purple 1980 Coletânea
3 Burn 1974 Estúdio
4 In Rock 1970 Estúdio
4 Who Do We Think We Are 1973 Estúdio
5 Perfect Strangers 1984 Estúdio
6 Stormbringer 1974 Estúdio
6 Infinite 2017 Estúdio
10 The House of Blue Light 1987 Estúdio
12 Made in Europe 1976 Ao vivo
14 24 Carat Purple 1975 Coletânea
16 Made in Japan 1973 Ao vivo
19 Come Taste the Band 1975 Estúdio
19 Now What?! 2013 Estúdio
21 The Battle Rages on 1993 Estúdio
23 Live in London 1982 Ao vivo
24 The Mark II Purple Singles 1979 Coletânea
26 Concerto for Group and Orchestra 1970 Ao vivo
30 In Concert 1980 Ao vivo
38 Nobody's Perfect 1988 Ao vivo
39 Very Best of 1998 Coletânea
39 The Platinun Collection 2005 Coletânea
43 Very Best of 2008 Coletânea
45 Slaves and Masters 1990 Estúdio
50 The Anthology 1985 Coletânea
58 Purpendicular 1996 Estúdio
76 Abandon 1998 Estúdio
81 Rapture of the Deep 2005 Estúdio
85 Bananas 2003 Estúdio

295
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 27
Discografia complementar

Outro dos fatos inexplicáveis deste mundo é a mania do ser humano de


colecionar coisas. Existe algo mais inútil do que colecionar? Exceto se a
decisão for como a minha, de colecionar quadros da Mona Lisa (só falta
um!), como regra as coleções não têm muita utilidade e nunca são
completadas. Você que é colecionador, encare a realidade: você nunca terá
todos os chaveiros do mundo (além disso, para quê?) ou todos os selos ou
todas as bigornas já fabricadas. E o que acontece na remotíssima hipótese da
coleção ser completada? Começa outra? Mas, não adianta querer mudar a
esse aspecto ridículo da raça humana. Como os Rockeiros também fazem
parte da raça humana (assim imagino), sabemos que, além de listas,
adoramos colecionar material de nossas bandas favoritas, principalmente os
discos. No caso do fã do Purple, bem, esse está lascado. São discos e mais
discos e mais discos e mais alguns discos.

Conforme mencionado em algum lugar, este texto só abordou os discos de


estúdio. As coletâneas ficaram de fora porque são inúmeras e pouco
relevantes para os fãs. Os discos ao vivo, embora muito relevantes para os
fãs, também são inúmeros. Não bastassem os lançados regularmente pelas
gravadoras que detém contratos com o grupo, ainda temos as edições
especiais de gravadoras alternativas e, o que é quase incrível, a “oficialização”
dos discos piratas mais famosos. Os verdadeiros discos pirata, se é que se
pode chamar assim, também são em um número espantoso, contados na casa
das centenas. Até discos com ensaios foram lançados!

Desse modo, resolvi colocar neste capítulo apenas algumas curiosidades


sobre a discografia complementar, para ilustrar a diversidade de lançamentos
mundo afora, provando que a decisão de colecionar todos os discos do Deep
Purple é algo reservado apenas aos milionários.

296
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Quem tiver maior interesse ou quiser comparar sua coleção com a do


Eremita, pode conferir a “Discografia Brasileira do Deep Purple” onde estão
reunidos os discos em vinil lançados no Brasil, abrangendo tanto o Purple
como as bandas derivadas e carreiras-solo. Mais detalhes no Apêndice, ref.
A.2.

Coletâneas

Na já citada Into the Purple No 5 (o fanzine que bateu o recorde mundial de


encalhe, que pertencia à Into the Purple No 4) tem uma matéria sobre as
coletâneas do Deep Purple, enfocando as existentes na data da publicação.
Tal informação vital pode ser baixada completamente de graça via Internet,
seguindo as indicações do Apêndice (ref. A.3). Naqueles idos de 1988, no
final do século passado, quando o vinil ainda reinava, já existiam centenas
de coletâneas do Deep Purple, deixando os colecionadores malucos. Com a
chegada do CD, a coisa desandou. Moral da história: com a exceção das fotos
a seguir, o assunto coletâneas para por aqui.

297
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Alguns exemplos: coletânea


brasileira em CD; coletânea russa,
em vinil, com a lista de músicas
no detalhe; frente e verso da
edição uruguaia em vinil da
“Deepest Purple”, com um
acabamento incrivelmente pobre
(dois pequenos adesivos colados
em uma capa genérica); o verso
da edição uruguaia do
“Powerhouse” e a capa argentina
para “Simples: Los Lados
A&Bs”, ambos em vinil.

298
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Discos ao vivo

O sucesso de vendas e a qualidade do “Made In


Japan” mostraram ao público que o Purple era uma
banda que ao vivo rendia tanto ou até mais do que
em estúdio e surpreendia com seus improvisos e o
comportamento instável de Blackmore. Com isso,
os discos ao vivo do Purple vem sendo lançados
desde então, sem parar. Existem mais discos ao vivo
oficiais do que de estúdio, o que, provavelmente, é
um fato único no mundo do Rock.

O “Made In Japan” permanece imbatível como melhor ao vivo da banda e,


na minha suspeitíssima opinião, o melhor de todos os discos de Rock ao vivo
até hoje. Existem outros grandes discos ao vivo do Deep Purple. O Quadro
VII traz uma lista daqueles que considero os melhores de cada formação,
com um pequeno comentário:

Formação Nome do disco Pequeno comentário


Nunca ouvi este disco, mas certamente é o melhor
MK I Inglewood 1968 desta fase, pelo simples fato de ser o único ao vivo
disponível da MK I (capa em cima, à esquerda).
Um disco realmente ao vivo, sem acertos de estúdio.
MK II Made In Japan Na versão tripla, dá para ouvir Blackmore errando (!)
na introdução de Smoke on the water.
Último show de Blackmore com a MK III.
MK III Live In Paris 1975
Apresentação muito emocionante.
Live In California -
Bolin em grande forma, gravação de ótima qualidade
MK IV Long Beach Arena,
e repertório bem diferente do usual.
1976
MK V Não tiveram discos ao vivo lançados oficialmente, pelo menos por enquanto.
MK VI Como este mês não saiu ainda nenhum ao vivo novo, vai saber...
O destaque especial fica para o acompanhamento de
MK VII Live At Olympia um naipe de metais, principalmente em No one came,
que ficou sensacional.
Live At Montreux Vale tanto pelo desempenho da banda quanto pelo
MK VIII
2006 repertório variado, com faixas da fase mais recente.

299
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Quadro VII – os melhores discos ao vivo de cada fase do Deep Purple

Na linha superior: versão uruguaia do “Made


In Japan”, que deve ser a campeã mundial de
mutilações: a capa é diferente, o disco é
simples e a contracapa traz uma foto da MK I
(!); em baixo, o triplo do “Made In Japan”
(cada CD traz um dos shows daquela turnê).
À sua direita, o “Made In Japan”
remasterizado, que, a rigor, não traz nenhuma
diferença substancial em relação às versões
anteriores, uma vez que a qualidade sonora
original é excepcional para um disco ao vivo.
Ocorre que as gravadoras são insaciáveis em
seu objetivo de extrair o máximo de dinheiro
possível dos fãs. Um novo exemplo está aí ao
lado: uma edição “super de luxo”, com uma
nova rematerização (desta vez feita no “Abbey
Road”...) em um pacotão com cinco discos e
penduricalhos gráficos variados, tudo para
instigar aqueles fãs que não deixam passar
300 nada, mesmo sem que haja novidades para
ouvir, só para ver – e olhe lá (êpa!)!
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Na primeira linha, uma versão do “Made In Japan” pelo Dream Theater


em que até a capa é “cover” (humm...). No meio, mais um ao vivo do
Purple no Japão, só que desta vez com a MK IV. Este disco é simples e é
muito picotado. Nem mesmo os notoriamente honestos japoneses
escaparam de uma sacanagenzinha nos créditos: “Woman from Tokyo”
aparece na lista de músicas, mas apenas um pequeno trecho instrumental
é executado. Ao lado o CD com a versão completa do show (*) que gerou
o disco anterior e que tem uma lista de músicas mais séria. Na linha de
baixo, após toda essa coleção de discos no Japão, temos alguns da década
de 70 – “Live In Stockholm” e “Live In Paris” (*). Este traz o último show
de Blackmore antes de deixar a MK III. Na direita da segunda linha temos
o “The Final Concerts”, um CD duplo, que é uma expansão do “Made In
Europe”. Na última linha, o “Live And Rare”, que tem o mesmo conteúdo
do disco à sua direita, “Scandinavian Nights”. Só mudam a capa e o
formato – o primeiro é em CD e o segundo em LP. Este show tem várias
(*) Estes 3 discos faziam parte versões em CDs, com nomes diversos. A reprodução da capa e da
do catálogo da Biplane Records contracapa é da edição argentina em vinil . Os dois LPs vem em uma capa
– mais detalhes na referência simples. Um presente muito gentil do Gibin ao Eremita. Por fim, outra
B.5 do Apêndice. capa que homenageia um disco ao vivo do Purple, desta vez da banda
japonesa Hijokaidan, lançado em 2012.
301
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Discos pirata

Mesmo todas as opções de discos ao vivo oficiais não impediram que a banda
tivesse uma enorme quantidade de piratas editados pelo mundo afora. São
por volta de 300 as gravações piratas conhecidas do Purple. Um exemplo
forte do interesse que os fãs têm por discos ao vivo é que alguns piratas mais
célebres foram oficializados e são comercializados normalmente, sob o selo
de uma gravadora regularizada. São vários os exemplos, como o “H-Bomb”,
de 1970, um disco histórico, por ser o primeiro e um dos seus piratas mais
famosos. Ele foi reeditado várias vezes, com outros títulos (como, por
exemplo, “Darker than Blue” e “Space Vol. 1 & 2”) e em outras edições
piratas (a pirataria da pirataria!), até que saiu em edição oficial, sob o nome
de “Live In Aachen”. Outro caso semelhante, desta vez envolvendo a MK
III é o “Perks & Tit”, que virou o oficial “Live In San Diego”. As capas dos
discos citados estão reproduzidas a seguir, além de outros exemplos,
inclusive Made in Brazil.

Exemplos de discos piratas


que viraram discos oficiais:
“H-Bomb”, que agora pode
ser comprado com o título de
“Live In Aachen”, com
direito a capa e acabamento
gráfico de primeira (para boa
parte dos fãs, este é o melhor
pirata entre todos do Deep
Purple); “Perks & Tit”,
reeditado como “Live In San
Diego 1974” e o “On The
Wings Of Russian Foxbat”,
que recebeu o subtítulo de
“Live In California, 1976”.
Na coluna da esquerda, as
capas das edições piratas em
LP, típicas da época.
Consistiam em uma folha
com uma ilustração em preto
e branco, colada sobre um
envelope de papelão liso.
Com o passar do tempo, os
piratas foram ganhando
pacotes gráficos mais
elaborados, como mostram as
fotos dos discos pós-retorno
da MK II. Na coluna da
direita, as capas das edições
oficiais, todas em CD.
302
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Outras curiosidades da pirataria: na primeira linha, três exemplares brasileiros, todos lançados somente em CD. Os dois
primeiros saíram por duas “gravadoras” diferentes e trazem a mesma gravação ao vivo, de boa qualidade, da MK II. Era
vendido em lojas e supermercados, como se fosse um produto licenciado. O terceiro, um “legítimo pirata”, traz a gravação
de um dos shows em São Paulo em 1997 e foi produzido por Purplemaníacos paulistanos. Na segunda linha, mais um caso
de pirata lançado nas lojas por uma gravadora brasileira, vendido como se fosse oficial. O som foi extraído do DVD
“Bombay Calling”. Ao lado, outro caso de pirata que depois foi oficializado, o show em Knebworth. O da esquerda é o LP
pirata e o da direita, o CD oficial. Na última linha, o “Back In Action”, um dos muitos “bootlegs” da Perfect Strangers
Tour. Também dessa turnê é o de Oldenburg, vendido em outro tipo de mídia outrora usada pela pirataria, a fita cassete.
Na capa tem uma frase que não poderia ser mais irônica: “Não há quase nada no mundo que um homem não possa fazer
um pouco pior e vender um pouco mais barato. As pessoas que somente levam em conta o preço são as presas desse
homem”.

303
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Apresentações

O Eremita adora uma tabela. Então, lá vem mais uma. O que segue é uma
estimativa da quantidade de apresentações que cada formação da banda fez.
No começo da história da banda os registros não eram tão precisos como
hoje, de modo que é muito difícil se obter uma lista exata das vezes em que
eles subiram aos palcos.

Formação Primeira Última Apresentações


Duração
(Mark) apresentação apresentação realizadas

Mar/1968-Jul/1969 20 de abril de 4 de julho de


I 79
1968 1969
Jul/1969-Jun/1973 10 de julho de 26 de junho de
II 397
1969 1973
Jun/1973-Mai/1975 9 de dezembro 7 de abril de
III 107
de 1973 1975
Jun/1975-Mar/1976 8 de novembro 15 de março de
IV 56
de 1975 1976
Abr/1984-Abr/1989 27 de novembro 2 de outubro de
II 148
de 1984 1988
Dez/1989-Ago/1992 13 de dezembro 29 de setembro
V 62
de 1989 de 1991
17 de
Ago/1992-Nov/1993 21 de setembro
II novembro de 38
de 1993
1993
Nov/1993-Jul/1994 1 de dezembro 2 de julho de
VI 30
de 1993 1994
Ago/1994-Set/2002 25 de novembro 19 de setembro
VII 446
de 1994 de 2002
Set/2002-Jul/2022 20 de setembro 17 de fevereiro
VIII 1.103
de 2002 de 2022
Jul/2022-hoje 22 de maio de 20 de maio de
IX 74
2022 2023

Total = 2.540 apresentações realizadas até 20 de maio de 2023.

304
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Capítulo 28
Bibliografia

Conforme citado no início, este texto é uma coleção de opiniões d’O Eremita
sobre as faixas dos discos de estúdio do Deep Purple. Evidentemente que foi
necessário recorrer a arquivos e livros para detalhes como datas, locais e
outros fatos que, somente alguém com uma memória excelente poderia saber
de cor, o que está longe de ser o meu caso.

Foram consultadas várias fontes: as pastas de recortes montadas durante a


breve existência da SBADP, os encartes dos CDs das edições comemorativas
e as obras descritas a seguir.

Deep Purple Discography


Simon Robinson

Nenhuma organização, entidade, sociedade, seita, fã-


clube, seja lá que nome que se queira dar pode rivalizar
com a “Deep Purple Appreciation Society – DPAS”,
comandada por Simon Robinson, um inglês que é o cara
que mais sabe sobre Deep Purple no mundo. Desde a
década de 70 ele solta publicações para os fãs. Com o
passar do tempo ele se tornou referência máxima no
assunto – ele organiza e edita a maioria dos encartes dos
relançamentos dos álbuns do Purple e de todas as bandas
derivadas. É só verificar e constatar que o nome dele sempre aparece,
inclusive recebendo agradecimentos especiais do Charlesworth (referência
seguinte). Atualmente, entre outras atividades, ele detém os direitos da
Purple Records e está reeditando o acervo da gravadora (exceto as obras do
próprio Deep Purple). Em 1982 ele publicou a discografia do Deep Purple
(100 páginas, em preto e branco, capa reproduzida acima), compilando
dados sobre os discos ao redor do mundo, tanto de compactos, como LPs
regulares e coletâneas. Uma coisa engraçada na discografia é a advertência

305
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

que existe logo no início: “plágios indiscriminados não serão tolerados –


Japão, isto é destinado a vocês”. O endereço da DPAS está no Apêndice, ref.
B.3. Uma obra recente do Simon é o livro sobre a história do “In Rock”
(citado algumas páginas à frente).

Deep Purple: The Illustrated Biography


Chris Charlesworth

Entre os livros aqui citados, este é o meu preferido. A


edição é de 1983, pela Omnibus Press, Inglaterra (100
páginas) e não abrange, portanto, a fase do retorno do
Purple às atividades. Seus pontos fortes são vários: foi
escrito por um jornalista contemporâneo ao período de
maior sucesso da banda e, graças a isso, não é tão
baseado em compilações de entrevistas publicadas na
imprensa especializada como os demais; conforme o
nome diz, é abundantemente ilustrado, com fotos
simbólicas (como a que ilustra o comentário do “Concerto” deste trabalho),
além de reproduções de cartazes, recortes etc; traz todas as datas e locais dos
shows desde seu início e foi realizado com cooperação dos músicos,
empresários e equipe técnica, além do já citado Simon Robinson (boa parte
do material ilustrativo foi fornecida pela DPAS). Entre os vários documentos
importantes reproduzidos no livro, destaco duas cartas: a manuscrita por
Gillan em dezembro de 1972, onde ele informa ao empresário Tony Edwards
sua decisão de deixar a banda em junho do ano seguinte e a emitida pela
Deep Purple Overseas Limited à rede de televisão americana ABC, com um
pedido de desculpas e informando a disposição em pagar os danos causados
por Blackmore à uma das câmeras da emissora no “entusiasmo do
momento”, durante a apresentação no California Jam. Na pequena nota
introdutória, o Chris informa que, entre os músicos, o único que não
respondeu às suas várias cartas pedindo contato foi (fácil adivinhar) o
Blackmore e por isso seu livro é dedicado ao guitarrista, num gesto de “prazer
perverso”, nas palavras do autor.

306
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Sounds Fan Library No 7 - Deep Purple


Steve Gett & Pete Makowski

Revista de 48 páginas, escrita por dois jornalistas do


Sounds, famoso jornal inglês de música. Também é de
1983. Tem bom texto, contando a história da banda em
tom bem humorado e traz a discografia comentada. O
forte são as fotos, apesar de muitas serem em preto e
branco. Foi desta edição que a SBADP, ahn, como eu
diria, “emprestou” a foto usada na capa da Into the
Purple No 1. Após pagar uma fortuna pela licença, o
Eremita escaneou esta revista de cabo a rabo e a
colocou na Internet, para acesso geral. É só acessar o endereço que consta
no Apêndice.

Smoke On The Water - The Deep Purple Story


Dave Thompson

Livro editado em 2004, no Canadá, pela ECW Press


(402 páginas). Segue o padrão dos atuais livros de Rock,
ou seja, texto direto, sem fotos. Estas ficam em um bloco
central com algumas páginas. Neste caso, são 16 páginas
de fotos, todas em preto e branco. Tanto esta como as
duas seguintes são obras relativamente recentes, em boa
parte baseadas nas informações retiradas de entrevistas
publicadas na imprensa musical ao longo dos anos. Este
livro tem um texto um pouco rebuscado, o que tornou
mais dificultosa a leitura d’O Eremita, que não é nenhum especialista em
traduções. Um ponto a destacar é a discografia, bem completa, abrangendo
tanto o Purple como os seus filhotes.

307
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

The Complete Deep Purple


Michael Heatley

Não se pode acusar o autor pela falta de ambição. Olha


só o título: “complete”. Edição inglesa, de 2005, pela
editora Reynolds & Hern (256 páginas). Segue o padrão
do anterior, só que um pouco mais miserável nas fotos –
são apenas oito páginas, sendo que duas das fotos (do
Evans e do Simper) são as mesmas do concorrente
Thompson! Tem a seu favor o fato que a maioria delas é
colorida. O texto é em um inglês bem mais acessível. Não
traz a discografia, mas a sua parte dois é composta por
comentários dos discos de estúdio, faixa a faixa. Que droga, ele me copiou!
Por sorte, nossos comentários são totalmente diferentes, senão eu ia colocar
toda a agilidade e implacabilidade da Justiça brasileira atrás desse impostor.

Gettin’ Tighter Deep Purple: ’68 - ‘76


Martin Popoff

O autor é um fenômeno. Já escreveu mais de 25 livros


sobre Rock (ele não come?). Essa edição também é
canadense, de 2008, pela Power Chord Press (244
páginas). Ele conta a história da banda, como informado
no título, do início até a era Bolin, sendo cada capítulo
dedicado a um disco (onde é que eu já vi essa idéia?).
Meus cumprimentos pelo peito de colocar o Bolin em
uma capa de um livro sobre o Purple, coisa louvável e que
pouca gente faria. Não tem aquela seção de fotos
concentradas. Todas são em preto e branco e inseridas ao longo do texto, a
maioria de capas dos discos. O livro é baseado em depoimentos de músicos
(não só do Purple) concedidos ao autor, todos feitos neste século.

308
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Glenn Hughes: The Autobiography - from Deep Purple to Black


Country Communion
Glenn Hughes & Joel McIver

Ganhei este livro do amigo Purplemaníaco e jornalista


Marcelo Soares (valeu!), responsável pelo blog
“Purpendicular” (Apêndice, B.7). A publicaçao é da
editora inglesa Jaw Bone (2011, 256 páginas), que
caprichou na editoração: papel de primeira e um
trabalho gráfico dos mais agradáveis. O livro segue uma
narrativa linear. Depois que a história entra na vida de
Hughes como músico, o assunto predominante é o seu
envolvimento com as drogas. São raras as páginas em
que não há uma citação sobre cocaína ou estar chapado. Entre várias
curiosidades, o livro traz a explicação da omissão de Hughes nos créditos das
músicas do “Burn”: quando ingressou no Purple, ele ainda estava sob
contrato com outra editora musical, que controlava os direitos sobre a obra
do Trapeze. Os empresários do Purple propuseram a Hughes uma parcela
maior na vendagem do disco, desde que ele concordasse em não ser creditado
como compositor. Como muito dinheiro estava entrando e ele era muito
jovem e inexperiente, topou. Anos depois os advogados do músico
corrigiram esse arranjo e os créditos a Hughes passaram a constar nos discos,
como no caso da reedição do “Burn”.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

A Hart Life
Colin Hart & Dick Allix

Colin Hart começou como roadie do Purple em 1971.


Depois de alguns anos tornou-se o responsável pelas
turnês da banda. Fez a mesma função no Rainbow. “A
Hart Life” é um livro de memórias das suas aventuras na
estrada. Vale muito a pena para o fã, pelas curiosidades e
documentação apresentada. Entre uma pancada de fatos
de destaque, Hart relata episódios envolvendo o estranho
comportamento de Blackmore fora do palco, como, por
exemplo, instigar um dos seus roadies a brigar sem motivo
nenhum com um freguês escolhido ao acaso em um pub, só pelo prazer de
assistir aos dois se batendo. Há um registro sobre a primeira turnê no Purple
no Brasil (o texto a seguir foi traduzido mal e porcamente pelo Eremita):
“No mês seguinte, o Brasil nos recepcionou, muito bem. Foram grandes
shows, provavelmente porque ainda não tínhamos nos apresentado lá antes
e o país estava acordando para as grandes turnês de Rock. Bruce levou seu
melhor amigo, Bill Dill (seu nome verdadeiro, acredite), que falava
português fluentemente. A razão de termos levado Bill era que ele poderia
ficar de olho nos nossos promotores para ver se e como eles estariam nos
passando para trás, coisa que, sem sombra de dúvida, é o passatempo
nacional”. Bonito para nós, não? Que reputação! A fama dos nossos políticos
caiu sobre toda a população. O livro foi lançado no final
de 2011 e tem uma edição bem cuidada. Segundo a
editora, a sobrecapa e o livreto adicional (“Hart’s Life
1971-2001”, capa mostrada ao lado), que contém fotos
e reproduções de documentos do arquivo pessoal do
Colin só acompanhará as primeiras trezentas cópias do
livro (como diria Maxwell Smart, “o velho truque da
edição limitada para colecionadores”). Um dos itens

310
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

mais legais do “Hart’s Life” é a cópia do book tour do Burn (veja reprodução
da capa e de uma publicidade desse book tour na página seguinte). Uma das
muitas curiosidades reveladas no livro é que o maestro Paul Mann (veja o
Capítulo 6, “Concerto”) é sobrinho de Hart! Vejam só, há lugar para o
nepotismo até mesmo no mundo do Rock...

No alto, à esquerda: sobrecapa do livro; à direita,


um bilhete em que Colin apresenta as exigências dos
músicos em uma das turnês, citando um curioso
pedido de não colocar Ritchie em um quarto cuja
soma dos algarismos desse 13!; capa do book tour
do “Burn”; a banda em publicidade da Marshall,
que também faz parte desse book tour. A foto ao
lado está no livro principal e foi feita no casamento
de Ronnie e Wendy Dio! A foto é de sete de abril
de 1978. Da esquerda para a direita: Colin,
Raymond D’Addario; o garoto Danny Padavona; Sr.
e Sra. Dio; Bob Daisley, ajoelhado vemos um
sorridente e arrumadinho Ritchie e ao seu lado
Bruce Payne.

311
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Deep Purple Photos 1970-2006


Didi Zill

Dieter Zill é um fotografo alemão que


trabalhava para a revista germânica
Bravo, uma espécie de “Caras”, só que
voltada para a música. Desde o início
da MK II ele teve oportunidade de
fotografar a banda em diversas
ocasiões e acabou tornando-se amigo
dos músicos. Há alguns anos Didi
(quem diria, alemães também usam
apelidos) lançou um livro reunindo parte de suas fotos. Esse livro esgotou-
se rapidamente e virou uma raridade. Quando O Eremita soube do livro e
quis compra-lo só havia disponível por preços absurdos (coisa de mais de
400 dólares). Felizmente, foi feita uma reedição, na qual já pus as mãos.
Como não vi a primeira edição, não tenho como saber as diferenças entre as
duas, exceto que a capa traz outra foto. A versão que comprei é numerada e
autografada (o meu exemplar é o de número 516). O livro é esplêndido.
Deveria vir acompanhado de um babador. Centenas de fotos inéditas, com
reproduções e papel de primeira qualidade. São mais de 400 páginas – o livro
é um bocado pesado (pesado no sentido, ahn, “gravitacional” da coisa). Ele
é organizado em capítulos temáticos. Traz as várias fases da banda a partir
da MK II, passa por fotos nas casas dos músicos e termina com entrevistas
com os atuais componentes. Tem de tudo, desde grandes imagens de shows
e de estúdio, até cenas prosaicas do cotidiano dos integrantes da banda, a
maioria inédita. Exemplos: por um lado, tem registros dos ensaios no castelo
Clearwell (primeiros momentos da MK III) e das gravações do primeiro disco
do Rainbow. Por outro, Lord cozinhando e Blackmore jogando pebolim!
Didi esteve presente nas gravações do “Machine Head”. As fotos do encarte
da edição comemorativa dos 25 anos do disco são dele. A que está
reproduzida na página seguinte é do momento em que Gillan ouvia nos fones
a base da Smoke on the water e escrevia a letra! Didi também fotografou o

312
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

bloco com o manuscrito. Acho que isso dá uma boa ideia do que esse livro
representa para os fãs. Gostaria de ter colocado mais amostras, mas tem lá
um aviso que não se pode reproduzir as fotos sem autorização e, sabem como
é, não estou a fim de encarar um processo internacional, mesmo eu estando
aqui fazendo uma propaganda gratuita do livro.

313
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Revista Classic Rock


www.classicrockmagazine.com

Revista inglesa cujo título deixa bem claro do que


trata, embora o conceito de “Classic Rock” seja vago e
amplo. Certamente, o deles não bate com o meu. Ela é
vendida por aqui por um preço um pouco salgado (R$
60,00), mas, em geral, vale. Além de fotos históricas e
um time de redatores de primeira (muitos deles
egressos da “Into the Purple”), traz sempre um CD de
brinde. Dá suas pisadas de bola, como todo mundo.
Por exemplo, tem uma coluna fixa sobre moda (!) para
Rockeiros. O que poderia ser menos Rockeiro? Ela é mais um dos
representantes da mídia que coloca o Led Zeppelin acima das demais bandas.
A edição de agosto de 2014 foi a ducentésima (ah, os ordinais!). Em uma
página dupla, foram reproduzidas todas as capas. O primeiro número surgiu
em 1998. O Eremita fez uma contagem: as bandas (e seus derivados) que
mais apareceram foram o Led e, incrível, o Guns and Roses, com 18 capas
cada. Em segundo, o Black Sabbath, com 13. O Purple teve apenas duas
capas referentes à banda. As outras foram sobre matérias com o Blackmore
(uma capa), duas com o Coverdale e uma sobre a Black Country
Communion. Portanto, seis no total. Apenas uma capa a mais do que o...Bon
Jovi! Mais uma prova que o Purple não é o queridinho da mídia. Outra pisada
de bola: uma edição recente continha a reprodução de um cartaz que
anunciava a apresentação do “Concerto For Group And Orchestra”, só que
era falso! Coloquei isso no meu blog, o implacável e verdadeiro “Rock
Brado”, o que quase provocou o seu fim. Do blog e não da revista, é claro.
Extraí da edição 198 (julho de 2014) parte dos dados citados no comentário
sobre The mule. A capa aqui reproduzida é de outra edição, próxima à do
lançamento do “Now What?!”. A revista reflete perfeitamente a realidade
desta era de escassez de novos talentos no Rock, em que ainda se cultua o
que foi feito a partir do final dos anos 60: tem uma coluna obtuária fixa
trazendo um resumo da carreira dos músicos falecidos no mês! As fotos
atuais dos Rockeiros Clássicos provocam um misto de constrangimento e

314
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

risos devido à aparência dos nossos velhos ídolos: gordos, cheios de rugas e
cabelos brancos. Isto é, os grisalhos são uma parte deles, apenas, pois a
maioria está careca. Não se trata de crítica, obviamente. Como alguém no
bagaço, como O Eremita, ousaria criticar esse tipo de coisa? Nada mais
normal que envelhecer, afinal o tempo é algo essencialmente democrático –
trata a todos da mesma maneira.

Deep Purple - Wait for the Ricochet


Simon Robinson & Stephen Clare

Ele, o Simão, de novo. Não sei se ele ficou rico


explorando a mina púrpura. Pouco importa. O
fato é que ele solta novos produtos
regularmente. Outro fato é que normalmente os
produtos são atraentes e, na maioria das vezes,
com a qualidade que a banda e seus fãs
merecem. Este livro é mais um caso. Uma
publicação de 170 páginas inteiramente
dedicada a um único disco! O título usa uma
frase extraída da letra da Child in time que eu sempre admirei – espere pelo
ricochete!. É um dos muitos exemplos que Ian Gillan, além de abençoado
pela sua voz, ainda foi afortunado com um dom especial em lidar com as
palavras.

O conteúdo do livro é uma dissecação completa: traz o desenvolvimento das


músicas acompanhando a evolução nos shows e suas gravações. Os autores
tiveram acesso a verdadeiros tesouros, como as fitas originais dos três
estúdios nos quais o disco foi gravado (tudo está nelas, incluindo dezenas de
registros abandonados ou preteridos) e ao diário de Roger Glover (uma
reprodução de um fragmento dele é mostrado). Tudo isso, mais uma
extensiva pesquisa na imprensa resulta em uma precisão de dados
impressionante. Tudo que cerca o disco foi abordado: fotos dos estúdios,
instrumentos usados, lista dos shows do período e centenas de ilustrações, a

315
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

maioria inédita. Há uma ou outra falha de edição, principalmente nas


remissões às páginas e notas, algo incomum no trabalho do Simon. São
muitas as curiosidades, como a parte final em que são
mostradas várias capas de outros artistas
homenageando a do “In Rock” ou o recorte de jornal
em que a mãe do Jon Lord reclama de um leitor que
acusou seu filho de plágio – o velho caso da Child in
time/Bombay Calling (veja ao lado). Entre as muitas
novidades, uma das que mais me chamou a atenção
foi que em 28 de agosto de 1970 Blackmore teve
reação a uma vacina e não pode tocar no show
marcado para San Antonio, no Texas. Ele foi
substituído por um garoto de 19 anos, um tal
de...Christopher Cross!

The Deep Purple Royal Family – Chain of Events through ’79


Martin Popoff

Comprar esta edição foi uma nova experiência, pois optei


pela versão eletrônica (vulgo “e-book”), coisa que não
tinha feito ainda, pela simples resistência de comprar um
livro e não poder folheá-lo nem cheirá-lo. Trata-se de
mais um trabalho da usina de livros de Martin Popoff
(Power Chord Press, Canada,
2011, 289 páginas), que deve
estar chegando próximo ao 40º
título publicado! No fim, fiquei
feliz por ter escolhido a versão eletrônica, porque o
livro físico é muito caro, o que faz com que não
valha a pena quando comparado ao e-book.
Conforme o subtítulo já indica (“Cadeia de eventos
até 1979”), o texto é organizado cronologicamente,
tendo como capítulo inicial os fatos e datas

316
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

anteriores a 1960 que têm relação com a banda, como, por exemplo, o ano
de invenção do Hammond e as datas de nascimento dos músicos, até chegar
a 1979. Para cada ano abordado o autor lista alguns fatos históricos
relevantes sobre a banda e o contexto musical da época, além de trechos de
entrevistas dos músicos do Purple. O livro também cobre as bandas derivadas
e os trabalhos solo. Nesse aspecto ele não acrescenta muita coisa ao que já
está fartamente documentado em outras obras, algumas delas do próprio
Martin. O ponto forte são as ilustrações daquilo que se convencionou
chamar de memorabilia, como cartazes de shows, ingressos, capas de
compactos e publicidades, que ocupam a maior parte do espaço. Muitas são
curiosas e eram inéditas para mim, como a aqui reproduzida, que mostra
uma propaganda de 1972 de parte do elenco da Purple Records. Mas,
também muitas fotos e figuras são referentes à cena do momento, com itens
de bandas como Uriah Heep, Black Sabbath e outras que, embora
interessantes, poderiam dar lugar a textos/fotos do Purple ou derivados. Um
ponto fraco (ou melhor, muito fraco) é que não são dados os créditos das
ilustrações. Não ficamos sabendo qual é a origem das imagens mostradas,
como por exemplo, de quais revistas as peças de marketing foram extraídas
ou qual é o país de origem de alguns discos cujas capas foram reproduzidas.

Purple Records 1971 - 1978


Neil Priddey

O Deep Purple tornou seus empresários, Tony


Edwards e John Coletta caras muito ricos. Ao que
pode ser atribuído esse sucesso: ao tino comercial
da dupla ou a uma boa dose de sorte em assinarem
com uma banda de um talento gigantesco?
Considerando certos episódios da vida profissional
da dupla, eu tenderia a apostar mais na sorte. Um
dos episódios que mostra que eles não eram gênios
nos negócios foi a fundação da Purple
Records(PR). Para saber tudo sobre a gravadora, recomendo o e-book de

317
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Neil Priddey. Ele conta a história do selo, seu elenco e todos os discos por
ele lançados, desde maio de 1971 até o final das atividades, em 1978. O nível
de detalhe deste trabalho chega ao ponto de revelar a distribuição societária
da gravadora. A propósito: Blackmore, Glover, Lord e Paice eram sócios,
cada um com 6,5% do capital. Ian Gillan não quis fazer parte do
empreendimento (outro notório comerciante de mão cheia). O restante foi
dividido entre Edwards e Coletta. Foram produzidos álbuns de 15 artistas
diferentes (incluindo trabalhos solo dos músicos do Purple), em um total de
33 LPs.

Em 1973 a gravadora lançou um LP para promover o seu elenco. A coletênea


se chamou “Purple People” e contava com duas faixas do Purple (Smoke on
the water e When a blind man cries). As demais foram distribuídas entre
parte dos demais artistas da gravadora, a saber: Tony Ashton, Hard Stuff,
Rupert Hine, Yvone Elliman, Tucky Buzzard, Silverhead, Maldoon, Buddy
Bohn e Carol Hunter.

Capa e contracapa da coletânea “Purple People”. Ao lado, publicidade da EMI saudando o Deep Purple
(e, por tabela, a Purple Records) pela vendagem equivalente a 2,5 milhões de dólares australianos.

Do conjunto de álbuns lançados pela PR, apenas nove pontuaram na parada.


Todos eles do Deep Purple, do “Machine Head” até o “Come Taste the
Band”, mais coletâneas e discos ao vivo. Desse segundo grupo, o único a não
aparecer nas paradas foi o “Powerhouse”. No mais, nenhuma das produções
fez sucesso, mostrando que a escolha do elenco pelo selo não foi das mais
felizes. O mesmo se repetiu em relação aos compactos. Foram 34

318
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

lançamentos e os quatro que pontuaram também foram do Purple. Ou seja,


se não fosse por Gillan, Blackmore & Cia., a PR teria sido um grande fiasco.
Tudo que era possível fazer para popularizar o elenco foi feito pela dupla
Coletta-Edwards, como publicidade constante nos jornais musicais ingleses
e a colocação das bandas contratadas para abrir shows do Purple, como foi
o caso do Elf. A banda de Dio acabou rendendo grandes frutos, só que
posteriormente, quando fez parte da história do Rainbow. Este, também
estava nas mãos da dupla de empresários, mas sob outro selo, o Oyster. Além
deste, outros dois foram criados por eles: o Safari, por onde saiu o terceiro
disco do Elf e o Sunburst, que abrigou o Whitesnake no início de carreira.

Um exemplo da falta de direção da Purple Records é o disco da capa


ao lado (sim, estampando o símbolo nazista!). Trata-se da trilha
sonora de um documentário, evidentemente sobre a guerra, feito
pela BBC. Além da capa, outra coisa estranha e que deve ter
impulsionado muito a vendagem, é que o disco não tem músicas,
apenas efeitos sonoros do que acontece na guerra, ou seja,
explosões, ruídos de tanques se movimentando, tiros e outras coisas
alto-astral do gênero. Altamente recomendado para, ahnn,
ninguém!

Deep Purple: Complete UK Vinyl Discography 1968-1982


Neil Priddey

Mais um ótimo e-book do Neil, desta vez trazendo


os discos de vinil (LPs, EPs e singles) do Deep
Purple lançados no Reino Unido. Ou seja,
basicamente, as versões originais da discografia do
banda. É repleto de ilustrações das variações da
capas, dos selos e de publicidades. Contém
também textos trazendo detalhes de cada álbum,
com informações que só quem é conterrâneo dos
caras consegue obter. Pobre da minha versão da Discografia Brasileira do
Purple & Família... (devo destacar duas coisas: a do Eremita é anterior e tem

319
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

pelo menos uma vantagem – é de graça!). A ilustração abaixo, que ocupou


uma página inteira do jornal inglês Melody Maker em 18 de dezembro de
1971, é um exemplo do conteúdo da obra do Priddey.

The Complete Rock Family Trees – Books 1 & 2 in One Volume


Pete Frame

Apresenta-se aqui uma oportunidade de consertar a falha no 3.456 dos


escritos do Eremita. Tão consultada e nunca creditada por mim é a obra do
inglês Pete Frame. Ele se especializou em registrar graficamente a genealogia
de bandas e artistas, conhecidas como “Family Trees”. A forma como ele
realiza as árvores é um artesanato realmente artístico (ele faz tudo à mão),
com um planejamento de ocupação de espaços digno de prêmios e mais
prêmios de design (não sei se algum dia ele ganhou algum). Além da
evolução detalhada da carreira das bandas e artistas colocados

320
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

cronologicamente na vertical (da data mais antiga para a mais recente), ele
faz articulações para bandas derivadas e também árvores derivadas. Nos
espaços entre os “galhos” ele insere notas da carreira de quem está sendo
abordado, além de discografia e dados biográficos. A foto que está junto ao
comentário da Dixie Chicks, do “Turning to crime” foi copiada da
contracapa do livro aqui citado. Muita coincidência, não?

Em uma das edições da “Into the Purple” (espero que você já a conheça, a
esta altura) foi reproduzida a “Family Tree” do Deep Purple. Esta serviu de
base para um pôster que a SBADP fez para a Editora Três, que chegou às
bancas pouco antes da editora abrir falência. Sem que uma coisa tenha a ver
com a outra, é claro.

Um grande artista e historiador, esse Pete Frame.

321
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

Apêndice

Este apêndice está dividido em três seções: a primeira traz outras provas de
que deixar O Eremita ter acesso a um computador não foi uma boa ideia; a
segunda seção é dedicada à indicação de alguns sites interessantes e
importantes sobre o Deep Purple. A última seção apresenta uma crítica a
este trabalho, pelo implacável e desconhecido João Cucci Neto (quem ele
pensa que é?).

SEÇÃO A - O AUTOR E SUAS ESTRIPOLIAS NA INTERNET

Muita gente diz que a Internet tem muita coisa boa, mas outros alertam que
também tem muita coisa inútil. Eu ando me esforçando para dar razão ao
segundo grupo. Seguem alguns dos trabalhos citados ao longo deste texto.
Todos (exceto o blog, A.4) estão disponíveis gratuitamente no endereço:

www.arquivosdoeremita.com.br

(A.1) Sociedade Brasileira dos Apreciadores do Deep Purple - SBADP

Toda a história da aventura que foi fundar e curtir a


SBADP até o seu encerramento está registrada no
texto “Como trabalhar de graça, perder dinheiro e
ainda se divertir”. O Eremita recomenda, pois
existem atrativos mesmo para aqueles que não
conheceram a SBADP e pouco se importam em
conhecer, desde que, é claro, seja fã da banda.

322
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(A.2) Discografia Brasileira do Deep Purple

Durante seus raríssimos momentos de ócio o


Eremita organizou esta discografia, que reúne
os discos em vinil (somente em vinil)
lançados no Brasil. Ela abrange os discos do
Deep Purple e também das bandas derivadas
(Rainbow, Gillan, Whitesnake etc) e
trabalhos solo. Ela vem sendo atualizada
gradativamente, conforme o Eremita vai
descobrindo itens ou dados mais precisos. Ela
está longe de ser completa. Provavelmente
você tem algum item que não está citado nesta
Discografia. Colabore! A sua colaboração é
relativamente importante! Download gratuito
no site do Eremita.

(A.3) Fanzines Into the Purple

Quem já ouviu falar do fanzine “Into the Purple”? Ninguém? Bem, isso tem
conserto. Aqui está a oportunidade de preencher esse vazio na sua vida.
Todas as edições desse famoso e significante fanzine foram digitalizadas e
podem ser baixadas gratuitamente, assim como os informativos da SBADP,
no site informado no começo deste item.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(A.4) blog “Rock Brado”

O Eremita mantém um blog, o “Rock Brado”. Se você quiser se informar


sobre os últimos acontecimentos no mundo do Rock, procure um desses
sites que tem as últimas informações sobre o mundo do Rock. Agora, se você
quiser perder seu tempo lendo um monte de bobagens escritas por um cara
esquisito, acesse o endereço abaixo:

https://rockbrado.meusitenouol.com.br/

Os textos publicados entre 2007 e 2014 neste blog


foram compilados sob o título “As vãs pregações
d’OEremita”, um item absolutamente
indispensável na coleção de e-books de todos
aqueles que baixam qualquer arquivo, desde que
seja grátis. Disponível no site do Eremita
(aquele, lá do começo, lembra?).

324
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(A.5) Letras de Rock

Em seu site o Eremita colocou à disposição das pessoas seus arquivos de


letras de Rock. Uma das muitas manias do Eremita é a de fazer encartes para
os CDs, compilando as letras em um formato A4. Se você gostar de bandas
dos anos 70, como Aerosmtih, Thin Lizzy, Lynyrd Skynyrd e congêneres, dê
uma olhada no link fornecido. Como tudo até aqui, os downloads são grátis.
Também está disponível o “Livro de Letras do Rainbow”, mais uma vã
publicação da extinta SBADP.

(A.6) Recortes e Capas

Nesse comprovadamente abarrotado site d’O Eremita você ainda encontra


mais de cem recortes de revistas com notícias sobre o Purple, principalmente
dos anos 70. São reproduções das principais publicações internacionais
(Sounds, Record Mirror, Circus etc) e nacionais. Existe, ainda, um arquivo
só com capas. São reproduções das capas das revistas brasileiras que
destacam o Purple (e família). Também tudo grátis.

325
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(A.7) Portfolio

Também estão disponíveis reproduções dos artigos que O Eremita escreveu


para algumas editoras brasileiras não muito exigentes. Candidato forte ao
prêmio de arquivo menos baixado de toda a Internet.

(A.8) Books tour

Veja só, ainda é possível baixar gratuitamente vários Books Tour na íntegra,
graças ao altruísmo do Purplemaníaco Roberto Silva e Souza (O Eremita,
orgulhosamente, colaborou com algum material). Além de Books Tour do
Deep Purple citados neste texto, existem reproduções de exemplares do
Rainbow, Whitesnake e Gillan, entre outros.

326
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(A.9) Jon Lord

Esta publicação reúne entrevistas de Jon Lord extraídas de revistas nacionais


e estrangeiras. Uma pequena homenagem d’O Eremita.

(A.10) Roy Buchanan

Assim como no caso do Jon Lord, este texto traz uma compilação de matérias
sobre esse grande guitarrista e, também, a discografia comentada pelo
Eremita, além de outras informações.

327
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(A.11) Fan Library e Tommy Bolin

Recentemente compartilhei mais dois arquivos para download: reproduções


do encarte da compilação “The Ultimate” do Tommy Bolin e o conteúdo da
revista “Fan Library”, comentada na Bibliografia. Veja abaixo:

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(A.12) Ian Gillan: Vida - Discos - Vídeos

Em dezembro de 2019, finalmente, consegui editar um trabalho que era um


velho sonho: contar um pouco da carreira de Ian Gillan fora do Deep Purple.
Está disponível para download no site d’O Eremita de graça, como é o usual.
Como o subtítulo explicita, são três partes: uma com uma breve biografia,
outra abordando os discos e a terceira trazendo os vídeos lançados até então.
Torço para que três coisas bastante improváveis aconteçam: que você baixe
o arquivo; que você leia a publicação e que você goste. Necessariamente
nesta ordem.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(A.13) Linha do Tempo do Rock

Este trabalho surgiu da necessidade de ter mais clareza sobre a ordem em


que os discos e fatos mais marcantes do Rock surgiram. Abrange dos
primórdios do Rock’n’Roll até 1980.

330
Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

SEÇÃO B - SITES DECENTES RECOMENDADOS

Existem milhares de links na Internet sobre o Purple – uma busca no Google


dará mais de 40 milhões de resultados. Os que seguem são os alguns entre
os principais. Pena que desde a primeira compilação, alguns acabaram
desativados, mas foram mantidos nesta seção porque eu assim quis. Cada um
dos músicos que passaram pelo Purple tem sua página oficial na Internet,
que podem ser obtidas facilmente nos sites citados a seguir. Provavelmente
existem muitos outros, igualmente interessantes, e, desde já, peço desculpas
pelas omissões.

(B.1) Datas dos shows e lista dos discos piratas

www.deeppurpleliveindex.com

Organizado por Martin, traz todas as datas das turnês (quase todas - aceita
colaborações) e a lista dos piratas (na minha última consulta eram 293). Está
em reconstrução desde janeiro de 2019.

(B.2) The Highway Star

Site mantido pelos fãs, com um enorme conteúdo. Dá para navegar por dias
e dias.

www.thehighwaystar.com

(B.3) DPAS webpage

Site que é um braço da Deep Purple Appreciation Society, já citada na


Bibliografia. Se tiver algum dinheiro sobrando, o que não falta neste site são
itens tentadores para gastá-lo.

www.deep-purple.net

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(B.4) Site oficial do Deep Purple

www.deep-purple.com

(B.5) Biplane Records

Infelizmente, o site da Biplane Records não existe mais. Resolvi mantê-lo


aqui como uma forma de homenagear a iniciativa. A Biplane foi uma
gravadora fundada por um Purplemaníaco que permitiu o acesso a nós, fãs
brasileiros, de itens preciosos da discografia da banda e outros agregados.
Além dos três CDs duplos ao vivo citados no Capítulo 25, a Biplane lançou
coisas muito interessantes, como DVDs do Gillan e da banda Paice, Ashton
& Lord e, ainda, um sensacional CD acústico do Glenn Hughes.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(B.6) poeiraZine

Era, seguramente, a melhor revista de Rock em


circulação no Brasil. Criação do jornalista Bento
Araújo, que também é responsável pelo site, blog,
podcast e outros mídias afins. O Eremita teve a
honra de escrever umas coisinhas para o pZ
(Apêndice, ref. A.7). A edição 7 abordou o Deep
Purple (veja reprodução da capa) e pode ser
baixada gratuitamente no site abaixo.

www.poeirazine.com.br

(B.7) Wiki Purple

Uns anos atrás descobri o blog “Purpendicular”, do jornalista Marcelo


Soares. As versões anteriores deste texto traziam o endereço do
interessantíssimo blog. Infelizmente ele foi forçado a desativá-lo, porque um
certo site resolveu republicar suas matérias, sem citar a fonte. Ah, sim, o
“certo site” é o Whiplash (não deveria dignificá-lo, citando-o aqui, mas, é
bom deixar as coisas claras). Porém, O Marcelo ainda mantia o WikiPurple,
que era lotado de dados e fatos púrpuras. Lamentavelmente este também
saiu do ar. De qualquer modo, mantive o logo, como memória e como
homenagem.

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(B.8) Heavy Rock Hard Radio

Certo dia recebi um e-mail de André Luiz “Heavy”, que, muito gentil, disse
que acompanha os textos d’O Eremita desde os tempos de Rock Brigade
(sempre desconfiei que alguém tinha lido aqueles textos!) e que tinha um
canal no YouTube dedicado à divulgação do Rock de boa qualidade. O
André abriu um grande espaço para divulgação dos trabalhos d’O Eremita,
incluindo um programa com a seleção de 20 músicas escolhidas por mim.
Esta é uma modesta retribuição à atenção do André. O link para o programa
está logo aí, abaixo. Poucos dias antes de fechar esta versão fui surpreendido
com uma comunicação que ele deixou de produzir novos programas para se
dedicar a outras coisas. Quando isso acontece (e não é a primeira vez, vide
episódio da revista Somtrês), eu sempre fico preocupado com minha parcela
de culpa. Sorte que eu não sou supersticioso (êpa!), senão iria achar que
meu pé, além do já indefectível chulé, ainda é frio.

https://www.youtube.com/watch?v=6eya-6lmSKY&list=PLiAoLpw723B6dry4pF5rrCWEezyO1r23a

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

(B.8) More Black than Purple

Mais um site desativado. Este era do fanzine


citado no Capítulo 1. O responsável é Jerry
Bloom, autor de “Black Knight”, uma biografia
não autorizada de Blackmore. No site, além de
uma pancada de informações sobre o guitarrista,
havia detalhes sobre como obter o fanzine e
outros itens disponíveis para venda, como CDs
e camisetas. Atualmente o “More Black Than
Purple” só está disponível no Facebook. Fico
devendo o link porque eu não tenho página no
Facebook – nada supreendente vindo de um
Eremita, não?

(B.9) Museu do ingresso

Os ingressos reproduzidos abaixo foram extraídos do site “Deep Purple


Ticket Museum”, que tem mais de 600 exemplares, entre eles os históricos
“Concerto” (esquerda) e “California Jam”. O curador é Tony Steenhagen.
Outro site que estava fora do ar em minha última consulta (abril de 2020).

www.deep-purple-ticketmuseum.co.uk

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

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Discografia Comentada do Deep Purple (V11.2)

SEÇÃO C - CRÍTICA A ESTA “DISCOGRAFIA COMENTADA”

Achei que seria uma boa ideia encomendar uma crítica e já


incorporar ao texto. De outro modo, esta humilde obra nunca seria
criticada por ninguém. O que eu consegui está registrado a seguir.
Não é uma crítica positiva e isso não é bom. O que fazer, então? Sei
que existe em algum lugar neste mundo um livro de autoajuda com
uma frase perfeita para concluir este parágrafo, o que me conforta.

Onde já se viu, eu, um famoso crítico de Rock, que já criticou discos de


bandas importantes como Alvacast e Concrete Blonde sendo encarregado de
criticar um texto como este, que não passa de um desses registros de fãs
deslumbrados, que circulam aos montes nos blogs da vida. Às vezes dá raiva
da Internet... O que se pode esperar de mais um texto sobre o Deep Purple?
Já não bastam os que têm nas dezenas de sites e livros (de uns tempos para
cá livros de Rock e de futebol viraram moda)? Além do mais, quem vai se
importar e perder tempo lendo as opiniões de um cara desconhecido e ainda
por cima esquisito, que se autodenomina “Eremita”? Bom, é para criticar,
então vamos lá. Ossos do ofício. A proposta, se é que se pode chamar assim,
do livro, novamente “se é que se pode chamar assim”, é comentar as faixas
de todos os discos de estúdio do Deep Purple. E o discos ao vivo, por que
ficaram de fora? Foi preguiça ou o autor está nos ameaçando com uma
continuação?

Já perdi tempo demais com essa história. Meu resumo: não leia! Aproveite
seu tempo em coisas mais interessantes, o que, aliás, não é difícil de
encontrar. Até a leitura do discurso de abertura do congresso dos auditores
fiscais que estão em licença médica remunerada tendo seu salário pago às
nossas custas é mais interessante que o texto do tal Eremita. Como sou um
velho de coração mole, não consigo terminar sem citar pelo menos algo de
positivo. Sei lá, deve ter um lado bom nessa bagaça. Eu poderia dizer que
pelo menos é um texto curto, mas nem isso é, pois tem mais de duzentas
páginas. Ah, já sei: o texto é uma desgraça, mas pelo menos é de graça.
Críticos de categoria, como eu, fazem assim – sempre terminam os textos
com trocadilhos bem bolados...

João Cucci Neto,


um cara idôneo.

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