Artigo - Lic. História - Robson

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5

AS CEBOLEIRAS DE ALMESCÉGAS: O TRABALHO COMO


CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE ESTIGMATIZADA.

Robson Reynaldo Oliveira de Sousa1

Viviane Prado Bezerra2

RESUMO

O presente artigo estabelece um estudo sobre a formação do estigma de ceboleiras relacionado às


mulheres vendedoras de verduras da comunidade de Alméscegas, no município de Acaraú, Ceará.
Toma-se como paralelo sociedades historicamente situadas em que foram marcadas por diferentes
estigmas que atuaram como instrumento simbólico de superioridade e dominação do outro por meio
do discurso. O texto busca desenvolver um novo olhar sobre o trabalho praticado por essas
mulheres, desmistificando símbolos e imagens inferiorizadas construídas sobre as mesmas e sua
localidade. Para tão grande desafio o artigo se utiliza da metodologia de História Oral e de um
referencial teórico sobre o conceito de estigma.
Palavras-chave: estigma, ceboleira, identidade, Alméscegas, Acaraú – CE.

ABSTRACT

This paper provides a study on the formation of ceboleiras of stigma related to the selling of
vegetables from women Alméscegas community in the municipality of Acaraú, Ceará. Take as
parallel societies historically situated that were marked by stigmas which acted as a symbolic
instrument of superiority and domination of others through discourse. The text seeks to develop a
new look at the work performed by these women, demystifying symbols and images inferiorizadas
built on them and their locality. For as challenging the article uses oral history methodology and a
theoretical framework on the concept of stigma.
Keywords: stigma, ceboleira, identity, Alméscegas, Acaraú - CE.

Robson Reynaldo Oliveira de Sousa

1
Graduando em Licenciatura em História pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú-UVA.
[email protected]
2
Mestre em História Social pela UFC e professora substituta da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.
6

AS CEBOLEIRAS DE ALMÉSCEGAS:

O trabalho como construção de uma identidade estigmatizada.

Trabalho de conclusão de curso apresentado no Curso de


Licenciatura em História, da Universidade Estadual do
Vale do Acaraú – UVA como requisito parcial à obtenção
do título de licenciatura em História.

Orientador (a): Viviane Prado Bezerra.

SOBRAL

2015

ROBSON REYNALDO OLIVEIRA DE SOUSA


7

AS CEBOLEIRAS DE ALMÉSCEGAS:

O trabalho como construção de uma identidade estigmatizada.

Relatório final apresentado à Universidade Estadual do


Vale do Acaraú - UVA, como parte das exigências para a
obtenção do título de licenciatura em História.

Sobral, ______de __________________de____________

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________________

Prof. Viviane Prado Bezerra

___________________________________________________________________________

Dr. Francisco Denis de Melo

___________________________________________________________________

Ms. Igor Alves Moreira

AGRADECIMENTOS
8

A Deus, em primeiro lugar, por ter me dado a saúde, a força, a sabedoria de enfrentar as
adversidades que surgiram pelo caminho.

A minha família, amigos e professores que sempre me apoiaram nessa longa trajetória
que hoje chega ao fim.

A Universidade Estadual do Vale do Acaraú –UVA, seu corpo docente, sua direção e
administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um horizonte superior, eivado pela
acendrada confiança na ética e mérito aqui presentes.

A minha orientadora Viviane Prado Bezerra, pela paciência, confiança, disponibilidade


e conhecimento proporcionado na construção desse texto e de minha formação acadêmica.

A todos, muito obrigado.

1. Representações históricas sobre o conceito de estigma e sociedades estigmatizadas.


9

No decorrer do século XX a historiografia passou por um processo de forte renovação que


resultou em uma incrível ampliação da noção de fonte histórica, de sofisticação e complexidade
conceitual além, claro, do aumento de objetos e métodos que compõem o conhecimento histórico,
tanto do amadurecimento da disciplina enquanto ciência, quanto das próprias transformações sociais
que esse mesmo século trouxe para essa área do conhecimento.

Naquilo que se convencionou chamar de “Escola Metódica” o conhecimento histórico


derivava e era delimitado por um conjunto de fontes consideradas fidedignas para a consulta do
historiador, geralmente os documentos ditos oficiais, tidos como verdades inquestionáveis. Dessa
forma, acreditava-se que a partir de um método histórico a disciplina passaria a intitular-se como
ciência, haja vista que esses fatos se desenham no fim do século XIX, momento de forte busca do
reconhecimento da história como ciência e, de acordo com essa perspectiva, um método de pesquisa
seria essencial na consolidação científica da mesma.

O século XX trouxe emergentes transformações nas searas conceituais e metodológicas,


nova interpretação acerca do papel do historiador, como também ampliou a representação de fonte
histórica, expandindo e clareando sombras até então intocadas pelos historiadores. A revista
Annales liderada por Marc Bloch e Lucian Fevbre que surge no final da década de 1920 na França
representa o início de um novo olhar sobre a história, ampliando e fazendo surgir uma nova
interpretação sobre os sujeitos, objetos e metodologias a serem trabalhadas pelo historiador dentro
do processo de construção da pesquisa histórica.

Partindo dessa assertiva faz-se necessário reportarmos a terceira geração dos Annales onde
eis que surge a micro-história cujo principal representante é o micro-historiador italiano Carlo
Ginzburg que irá se destacar com o seu livro O queijo e os vermes. Nessa obra, o autor italiano
narra o cotidiano, a vida e o julgamento inquisitorial de um moleiro de Montereale, zona italiana do
Friuli. Domenico Scandella, conhecido por Menocchio que havia sido perseguido pela Inquisição
por disseminar suas ideias heréticas ao povo de sua aldeia. A obra situa-se no século XVI, momento
de agitadas transformações sociais devido a Reforma Protestante e a difusão da imprensa. Ginzburg
faz um estudo da história cultural e das mentalidades, numa prática de micro-história, que revela as
classes subalternas e acaba desenrolando numa hipótese geral sobre a cultura popular, na qual o
autor trata da influência mútua entre as culturas popular e erudita.
10

De forma suscinta, a Micro-História parte da micro-análise de um acontecimento particular e


isolado, na tentativa de estabelecer laços com os aspectos sociopolíticos e culturais dentro de sua
contemporaneidade, numa perspectiva do micro encontrar o macro, observando situações e fatos
que dentro de uma análise maximizada não seriam sentidas, percebidas pelo historiador. Como
afirma José D’Assunção Barros em seu artigo Sobre a feitura da micro-história:

A ideia de que, em muitos casos, a Micro-História examina um campo ou um aspecto


reduzido para enxergar mais longe, ou para perceber elementos que escapariam à macro-
perspectiva tradicional, merece alguns esclarecimentos adicionais. Poderíamos utilizar aqui
uma nova metáfora: a de que o micro-historiador examina “uma gota d’água para enxergar
algo do oceano inteiro”, contanto que tenhamos uma compreensão muito precisa sobre que
esta imagem significa.3

Refiro-me a micro-história, no momento em que entendo a criação de estigmas sobre a


identidade das ceboleiras de Alméscegas, como algo que longe de ser um fato isolado em sua
localidade, ultrapassa fronteiras simbólicas e revela processos culturais bem presentes na história da
humanidade: a estigmatização4 da identidade do outro.

Sobre a configuração e descoberta do outro, Todorov desenvolve uma análise sistemática do


encontro entre o europeu com o outro exterior a si mesmo: o “indígena”. Sustenta a tese de que se
cada um dos outros é um eu sujeito como eu, aquilo que, de fato, efetiva e constrói a separação e
distinção de mim com o outro é o meu ponto de vista. Dessa forma, o indivíduo conceberia o outro
sobre dois aspectos: uma abstração de ordem psíquica de todo indivíduo como outro em relação a
mim ou como um grupo social que existe ao qual eu não pertenço. O que se evidencia, portanto, a
estigmatização do outro sendo um pressuposto das imagens e concepções de estranheza que o eu
possui de tudo aquilo que considera fora e distante de sua cultura, moral e história.

Do ora exposto corrobora-se com a ideia da importância da micro-história, ao passo que seu
objeto de pesquisa revela essas tessituras menores fundamentais na construção do tecido histórico,
sendo que dentro de uma pesquisa dos grandes fatos e personagens históricos hão de ser
sombreadas e omitidas na produção do saber.

O estudo micro-histórico sobre o processo construtivo de estigmas sobre a identidade das


trabalhadoras rurais de Alméscegas, revela um processo de cristalização de uma ideia –

3
BARROS, José D’Assunção Barros. Sobre a feitura da micro-história. OPSIS, vol. 7, nº 9, jul-dez 2007 Pg. 170.
4
Processo de construção de estigmas sobre a identidade de um povo, de uma cultura.
TODOROV, T. A conquista da América – a questão do outro. Paris, Seuil, 1982.
11

rebaixamento cultural da comunidade e de seus habitantes – que permeia a opinião pública das
outras localidades:

É comum as pessoas do centro do Acaraú ou até mesmo as pessoas da Juritianha, do Curral


Velho, do Cauaçú e de outras localidades quando passamos com a bacia de cebolas na
cabeça ficarem tirando sarro. Também quando as pessoas de Alméscegas saem aos
domingos para jogar bola em outros lugares, toda vez que a gente chega lá eles ficam
chamando a gente de ceboleiro, ceboleira com qualquer um, não importa se é homem ou
mulher. Quando eles ficam falando mal de Alméscegas falam que lá só tem cebola, que o
povo só sabe fazer disso, que tem muita mulher que trai o marido, falam que lá não tem
ninguém que preste, chamam o povo daqui de valente, brigador.

Entrevista de Rita de Cássia de Sousa, ceboleira de Alméscegas, 44 anos, 22 de abril de


2015.

É importante destacar, ao compreender melhor esse depoimento, o quanto o estigma se


estende por outras áreas; o excerto nos traz visões que permeiam o pensamento local: Alméscegas é
uma comunidade sem valores morais. As mulheres são infiéis, os homens são violentos e, em sua
maioria, ignorantes.

Nessa perspectiva, no processo histórico de consolidação de uma ideia, quais os mecanismos


utilizados pelo homem para sua efetivação como um pensamento comum, sem obstáculos a outras
interpretações? Como se desenvolve a formação de um discurso que inferiorize grupos e exalte
outros acerca de aspectos culturais, étnicos, econômicos entre outros? Essas questões permeiam os
estudos estabelecidos nesse artigo quando procura explicar historicamente como discursos de poder
são criados por meio da utilização de estigmas sociais.

É possível dizer que a separação entre ser humano e ser animal é feita por uma película
tênue tecida, principalmente, pela trama cultural. Mas o que é ser humano e o que é ser animal
numa sociedade? Jacques Derrida (1930-2004) em seu livro o Animal que logo sou,5 de forma bem
sucinta define o humano como uma identidade que subordina aquele que aos olhos dele se torna, de
imediato, um animal. Humano, então seria uma identidade primária que distanciaria o homem de
sua essência animal. O faz esquecer que é um ente de natureza comum aos outros animais. Nessa
relação que institui quem é humano e quem é animal nem percebe que o humano é um animal tão
semelhante ao animal que o olha, o humano se considera soberano. Como afirma Jacques Derrida
(1930-2004) nessa cena primitiva de um teatro insensato, aquele que é chamado de animal se torna
completamente o outro ao meu olhar.
5
DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou. 2ª ed. São Paulo: UNESP, 2011a.
12

Com Derrida podemos evidenciar que a identidade do “humano”, em muitas situações faz o
homem se colocar em uma condição de superioridade a outras formas de vida, no momento em que
é visto como uma identidade que emana poder e vê qualquer dessemelhança uma vida inumana. Sob
essa perspectiva esse era o olhar que definia as sociedades estigmatizadas anteriormente – os
“bárbaros”, os autóctones americanos, os judeus – sociedades inumanas. Dessa forma, segundo
Derrida é o homem quem institui o outro como inumano dentro das relações sociais, é ele quem
estabelece os paradigmas que devem orientar a forma como o outro deve ser para constituir-se
como normal, logo, aceitável pelo grupo social. Constrói assim a identidade do outro. A partir de
interpretações totalmente presas a subjetividade do homem que constrói a identidade do outro é
percebida e cristalizada.

Para compreendermos melhor sobre o sistema de identidades é necessário recorrer aqui a


Kathryn Woodward em seu livro Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual 6. Para
a autora a identidade envolve reinvindicações essencialistas sobre quem pertence e quem não
pertence a um determinado grupo, nas quais a identidade é vista como fixa e imutável. Pela leitura
da autora conclui-se que o humano, como identidade do ser, foi “coagulado”. Nessa linha de
raciocínio a identidade coagulada do humano decide no lugar do outro quem pode falar de si. Como
meios de persuasão utilizados pelo humano temos os discursos. É por meio dos discursos que são
construídos os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais
podem falar. As identidades dos grupos humanos são criadas assim, por meios dos discursos
cristalizados dos outros sobre nós. Quando coagulada em nosso ser, essa identidade adquire caráter
de verdade, caracterizando-nos, as carregamos como sombras para onde quer que vamos.

O discurso materializa as identidades condicionadas pelo desejo de poder. Como afirma


Michel de Foucault (1926-1984) em A ordem do discurso7 o discurso não é simplesmente aquilo
que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo pelo que se luta, poder do qual
queremos apoderar.

No início da colonização americana os europeus criaram sobre o indígena uma imagem


simbólica, o autóctone americano era tido como raça humana menos desenvolvida, bárbara,
animalesca e demoníaca. Esse discurso que se inicia com Colombo legitimava a ação

6
WOODWARD, Kathyrn. Identidade e Diferença: uma introdução teórica e conceitual, In: SILVA, Tomaz Tadeu da,
(Org) Identidade e Diferença: A perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2009.
7
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2009. 19 ed.
13

cristianizadora. “Denegrindo-os estava justificada a escravidão” 8. Constroem-se discursos de


dominação, discursos que visam não somente informar algo, mas provocar aquele que lê a aceitação
de tudo aquilo que se praticava sobre essas populações. Não somente os indígenas, mas também os
germânicos, os negros africanos e os judeus foram vítimas da deterioração de suas identidades
quando foram criadas sobre elas estigmas que lhes imputaram caráter de inferioridade, logo
passíveis da subordinação, dominação ou extermínio por meio da força.

Olhar o os povos germânicos pelos olhos romanos é entendê-lo como povo sem cultura, sem
lei, sem história, é válido salientar – os muros do Império faziam essa diferenciação – não participar
da cultura greco-romana era ser apregoado como bárbaro, em contrapartida os romanos como revela
o fragmento de texto a ser citado eram por vezes vistos como bárbaros pelos gregos, conforme nos
mostra Montaigne, ao relatar a impressão de Pirro, rei da região grega de Épiro, ao entrar na Itália e
se deparar com a formação de um combate do exército romano: “Não sei que espécie de bárbaros
são estes, mas a formação de combate, que os vejo realizar, nada tem de bárbaro.”9

É evidente, portanto, que a cultura greco-romana fazia essa diferenciação e construía o


paradigma de civilização para toda a humanidade, estar fora dessa seara cultural era ser visto como
estranho e inferior. Na realidade aqui temos uma continuidade de outro estereótipo muito mais
antigo e que se mescla ao dos escandinavos: a imagem do bárbaro. Originalmente criada para
diferenciar os povos de línguas estranhas ao mundo clássico, com o tempo transforma-se em
identificação com todos aqueles que não eram cristianizados e, portanto, colocavam-se fora dos
ideais de civilidade e comportamento 10

Da citação de Montaigne desprende-se a ideia de bárbaro atribuída àquele que não possui
organização, lei que oriente a sociedade e, por conseguinte, é válido salientar que o termo não se
referia a um povo específico, mas ao comportamento que algum grupo social apresentava, o qual
era desprezado e identificado como incorreto, inaceitável.

Esse estigma se sustenta através do discurso que cristaliza uma simbologia sobre os
germanos, instituindo sobre o medo e a aversão a esses contingentes humanos. Nessa análise, o
discurso criado e propagado pelos romanos faz nascer uma representação sociocultural daquele
8
SOUZA, Laura de Mello e. O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. São
Paulo: Companhia das Letras, 1986. Pág.
9
MONTAIGNE. Ensaios. São Paulo, Abril Cultural 1972, p. 104
10
RAMINELLI, Ronald. Bárbaros e colonizadores. In: Imagens da colonização: a representação do índio de Caminha a
Vieira. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.
14

povo que o diferencia e, por conseguinte, o exclui do plano da normalidade, fazendo com que este
não seja aceito por aqueles que comungam da cultura romana.

Os indígenas brasileiros, autóctones americanos foram exterminados pelos cristãos europeus


dentro de uma ideologia de dominação que se pautou num primeiro momento na superioridade
sobrenatural do cristão, sendo posteriormente modificada com o advento das descobertas
científicas. Nesse momento, a teoria da seleção natural e da sobrevivência do mais apto veio
sedimentar o discurso que conferia supremacia e civilidade da cultura branca sobre as demais. Não
somente na América, mas onde o europeu “civilizador” imperializou houve casos de extermínio em
massa de etnias tribais que segundo a ciência branca não evoluíram. Dessa forma, o homem branco
teria que carregar o “fardo” de levar a civilidade àqueles que não possuíam uma cultura considerada
normal, nem aceitável pelos paradigmas europeus de cultura. Grupos humanos foram dizimados por
possuírem uma cultura própria, que invisível ao olhar ganancioso do conquistador, tornou-se o alvo
de suas investidas civilizadoras.11

Em seu livro Ensaios, Montaigne referindo-se aos povos indígenas encontrados nas novas
terras chega à seguinte conclusão:

Não me parece excessivo julgar tais atos de crueldade, mas que o fato de condenar tais
defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos. Estimo que é mais bárbaro comer um
homem vivo do que o comer depois de morto; e é pior esquartejar um homem entre
suplícios e tormentos e o queimar aos poucos, ou entrega-los a cães e porcos, a pretexto de
devoção e fé, como não somente o lemos mais vimos ocorrer entre nossos vizinhos nossos
conterrâneos; e isso em verdade é bem mais grave do que assar ou comer um homem
previamente executado [...] Podemos portanto qualificar esses povos como bárbaros em
dando apenas ouvidos à inteligência, mas nunca se os compararmos a nós mesmos, que os
excedemos em toda a barbaridade.12

O autor, mesmo que se crie uma qualificação de barbárie para as práticas culturais daqueles
povos sobre os prisioneiros de guerra, alerta para a superação do problema do etnocentrismo, pois
este fortalece a configuração dos estigmas sociais: o discurso etnocêntrico indica que o erro está no
outro, o estranho é o outro, o bárbaro é o outro. A ideia que foi construída sobre a barbaridade
daquele que observamos, nasce do fato de considerarmos nossos atos, valores, códigos de conduta e
moral corretos aceitáveis mesmo que se assemelhem aos das tribos indígenas, o que prevalece é a
ideologia etnocêntrica do branco.

11
LINTON, R. Estudos del hombre. México. Fondo de Cultura Econômica. 1942, p. 69.
12
MONTAIGNE. Ensaios. São Paulo, Abril Cultural, 1972.p. 104-107
15

Na relação estabelecida em que o europeu se veste de uma identidade com trajes de


superioridade e cria assim uma identidade estigmatizada para os indígenas americanos, reporto uma
passagem do livro de Jacques Derrida, O animal que logo sou, em que o autor nos lembra que é
próprio dos animais estarem nus sem saber. Eles não estariam nus porque são nus, nenhum animal
jamais imaginou se vestir. Logo, pelo que afirma Derrida, é possível imaginar que o romano se
veste de uma identidade dita superior para se tornar príncipe de si mesmo e com seu poder
dominador e discursivo como Foucault analisa em seu livro A ordem do discurso, dominar aquele
que ele considera nu de uma identidade superior ou semelhante a sua, por conseguinte estigmatiza a
identidade das sociedades apontadas como inferiores para dominá-las ou repudiá-las.

Durante a primeira metade do século XX a crença na eugenia, a ideia da existência de uma


raça humana superior – a ariana – pelos alemães, sustentada pelo discurso do darwinismo social foi
responsável por um dos maiores genocídios que a história viu: o holocausto. O cântico dos militares
nazistas expressa o grau de violência e ojeriza que se tinha contra os judeus, “Afiai vossas longas
facas na calçada! / Temperai-as na gordura dos corpos judeus! / O sangue deve correr em espessos
jorros...”.13

Desprende-se do ora exposto, o compartilhamento de uma ideia seguida de desejo que deve
ser ratificada pelo extermínio dessa raça indigna ou como os nazistas consideravam “vidas que não
valiam a pena serem vividas.”14 O extermínio significava além de limpar a população dos
“impuros”, a união dos arianos, estabelecendo a ordem da raça acreditada superior. Dessa forma, de
fato a uma caracterização construída pelos discursos oficiais do governo nazista que plantam uma
ideia clara e simples: os judeus tidos como raças inferiores e impuras, representam um mal para a
união da raça alemã. A identidade estigmatizada do judeu é tecida pelo discurso da inferioridade.15

A digressão sobre algumas sociedades estigmatizadas se faz pertinente ao passo que é


necessário dialogar com o fato que ocorre na comunidade de Alméscegas para compreender como
as tessituras sociais e culturais levam a esses processos conjunturais de inferiorização e domínio de
umas sociedades sobre as outras como ocorreu nos casos supracitados. Quais os mecanismos
utilizados impregnaram essa simbologia sobre esse povo? Como o estigma transcende o universo do

13
Lionel Richard, op. cit. pag. 153.
14
Projeto da eutanásia nazista que englobava povos como os eslavos, os judeus, os ciganos, comunistas, homossexuais
etc.
15
MOURA, Clóvis. O racismo como ideológica de dominação. Princípios, p. 32.
16

trabalho das ceboleiras e alcança a comunidade? Acerca da identidade estigmatizada da


comunidade, como se deu e como os moradores locais percebem esse estigma?

Nessa análise, remete-se a um estudo sobre o conceito de estigma e sua construção enquanto
conceito simbólico negativo sobre o indivíduo. Os mecanismos de criação e solidificação do
conceito de ceboleira. Para esse diálogo utiliza-se de alguns estudiosos como Ervin Goffman, Pierre
Bordieu, entre outros.

1.2 Alméscegas e as ceboleiras: histórias que se entrelaçam.

Alméscegas está localizada na zona rural da cidade de Acaraú. O nome Alméscegas vem de
uma planta que era abundante na região onde hoje fica a localidade. Localizada a aproximadamente
sete quilômetros do centro da cidade a comunidade tem como principais atividades econômicas a
agricultura e venda de verduras, legumes e o artesanato de renda de bilros. Não existe
documentação oficial sobre o surgimento e desenvolvimento inicial da localidade. As informações
que narram e tecem sua história vêm de moradores antigos. A memória dos anfitriões foi tida como
principal fonte na elaboração desse estudo. As entrevistas feitas dizem de uma ocupação
desordenada do território, casas de taipa eram erguidas em diferentes pontos da localidade segundo
diz Benedito Julião de Sousa:

Aqui onde a gente mora agora não tinha nada, era só mato. Tinha a casa do Venancim ali
pra cima, lá perto do córrego tinha o Ciço, o véi Itargim morava lá onde hoje é a
Alméscegas Velha. Quando cheguei aqui em 70 já tinha esse povo morando aqui. As casas
eram feitas de barro e de pau e a gente cobria com palha de coqueiro.

Entrevista realizada com Benedito Julião de Sousa, 22 de março de 2015.

Os primeiros moradores da localidade tinham como principais atividades econômicas a


plantação de feijão, milho, mandioca e a criação de animais. Aos domingos era comum matarem
gado pela madrugada para se vender no dia seguinte. O comércio de outras comidas como o peixe
era feito nas praias mesmo. O percurso era feito a pé, como afirma Apoliano Domingues de Sousa:

Muitas vezes os homens saiam aos bandos deixando suas mulheres em casa para ir, lá pra
Ilha dos Coqueiros ou Espraiado comprar peixe. Se saíssem uma hora voltavam lá pelas
cinco. Quando eles chegavam a mulher ainda ia preparar a comida que só seria pronta lá
pelas oito horas. Eram tempos difíceis aqueles.

Entrevista realizada com Apoliano Domingues de Sousa. 22 de março de 2015.

A vida nessa época, segundo as entrevistas realizadas, era iluminada pelas lamparinas e
lampiões alimentados por querosene. A televisão, à bateria e em preto e branco, era regalia. Poucos
17

tinham. Durante a noite os mais velhos faziam uma fogueira e ali conversavam. Enquanto isso, as
crianças se divertiam correndo para lá e para cá em brincadeiras de todos os tipos até chegar a hora
de dormir.

No aspecto cultural a comunidade possuí tradições que aos poucos estão sendo esquecidas,
dado o contato com uma nova dinâmica social proporcionada pelos avanços tecnológicos. Uma
cultura superior de massa aos poucos se sobrepões aos costumes telúricos.

Um processo comum ao que E.P. Thompson narra sobre a resistência teimosa da chamada
“Pequena Tradição” da plebe, num momento de forte exigência de “reforma” cultural pautada em
normas superiores vinda de cima no século XVIII 16. Todavia, o desenvolvimento dos estudos sobre
o folclore plebeu, investigando seus os ritos e costumes “que subsistem nos recantos obscuros de
nosso país, ou que sobreviveram à marcha do progresso na nossa agitada existência urbana” 17,
serviriam para ratificar a permanência desses costumes em refúgios distantes no interior da
Inglaterra. Em meio as grandes transformações sociais e econômicas, costumes da terra sobrevivem
num período de transição de culturas semelhante ao que ocorre atualmente na localidade de
Alméscegas.

Toda sexta-feira da semana santa no calendário cristão, a maioria dos homens da localidade
dirigiam-se para um campo de futebol que fica longe da localidade, no meio do matagal e ali era
feito um campeonato que só terminaria no fim do dia. Meninos, jovens e adultos participavam dessa
confraternização. Durante a noite os mesmos saíam pela localidade apelidando aqueles moradores
mais “encabulados”. Num clima de diversão e euforia, a baderna era geral na comunidade,
terminando às vezes com tiros de espingarda, gritaria e correria. No dia seguinte tudo voltava ao
normal. José Venâncio de Oliveira lembra que:

Eu achava aquilo muito bom, num vou menti. A gritaria, as carreira. Brinquei muito quando
era moço... apelidava mesmo. Mas hoje, hoje o povo num brinca mais não. Hoje tá difícil, o
povo num se anima pra isso não. Quere sabê é de bêbe e frescar. Na minha época se juntava
um monte e ia jogar lá no Pau d’Arco. Cedim a gente se reunia aqui, levava uns grude e
água e passava o dia lá jogando. Parece que botaram cerca no campo lá agora. Ai ninguém
mais vai. Tempo bom aquele.

Entrevista realizada com José Venâncio de Oliveira, 22 de março de 2015.

Na organização do trabalho, era importante ter muitos filhos para ajudar nas tarefas da roça.
O homem saía para trabalhar no roçado – brocar, plantar, capinar, colher – eram tarefas diárias

16
THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
17
P. H. Ditchfield. Old English customs extant at the present time (1896), Prefácio.
18

obrigatórias. Enquanto isso a mulher ficava em casa fazendo renda de bilros cuidando dos filhos
menores e da casa.

Essa relação trabalhista familiar aos poucos começa a se modificar. Um dos principais
condicionantes para essa alteração explica-se pela necessidade econômica. A localidade não
dispunha de outras atividades remuneradas para as mulheres, exceto o artesanato. A vendedora de
verduras Maria Alves de Oliveira salienta que:

Eu comecei a vender com minha mãe. Cedo, aos 15 anos eu já coloquei uma bacia de
cebola na cabeça. Era o jeito. Eu já tinha um filho pra criar, precisava de dinheiro, só a
renda num dava então eu comecei a ir mais minha mãe.

Entrevista realizada com Maria Alves de Oliveira, 22 de março de 2015.

Algumas mulheres então, se reúnem e começam a vender verduras em bacias, tais como,
cebola de palha, alface, coentro, pimentão no centro de Acaraú e cidades adjacentes. Aos poucos
esse trabalho começa a envolver todos os membros da família. A feitura de canteiros, torna-se uma
atividade comum entre os moradores que cada vez mais utilizam-se de conhecimentos naturais no
cultivo da horta. Estrumes naturais como o “paú”, folhas em estado de decomposição que se
encontra em algumas plantas da caatinga são utilizadas como fertilizantes nos canteiros. 18

A mobilização na preparação das verduras e feitura dos “móis” envolve toda a família.
Zulene Militão de Sousa em entrevista afirma que “na hora de ajeitar a cebola pra vendê, todo
mundo lá em casa me ajuda, cedo os meninos agúam a cebola, arranca, limpa e a gente prepara os
mói. Graças a Deus que deles eu não tenho o que reclamar”. A venda de verduras torna-se então a
maior fonte de rendas da localidade, sendo que entre cada dez casas pesquisadas, na atualidade, sete
possuem plantação de verduras.19

Aos poucos, essa atividade comercial passou a reger o cotidiano das pessoas na localidade.
Surgiram então dois mercados na venda das verduras. O primário acontecia na própria localidade,
onde as verduras eram compradas pelas ceboleiras. No mercado secundário as ceboleiras
revendiam, como ainda revendem, essas verduras nos centros urbanos. A história de localidade e
das vendedoras começa a se entrelaçar à medida que o reconhecimento da localidade nos centros
urbanos começa a se desenvolver mediante o trabalho das vendedoras rurais.

18
Porção vendida pela ceboleira, contém cebola e coentro.
19
Informações coletadas a partir de um levantamento de dados feito por Robson Reynaldo Oliveira de Sousa,
envolvendo 200 casas na localidade de Alméscegas.
19

Sobre a comunidade cria-se uma simbologia que envolve verduras e ceboleiras. “Quando
escuto falar de Alméscegas só lembro de cebola e quando alguém fala em cebola por aqui todos
frescam perguntando se a pessoa é de Alméscegas.”20 Esse pensamento é compartilhado por muitos
outros habitantes da cidade de Acaraú. Um amálgama entre história da localidade e ceboleiras se
forma. O peso da bacia não é preenchido apenas por legumes, mas por uma cultura, um povo, uma
história viva e que merece ser reconhecida. Os discursos feitos por essas mulheres apresentam esse
sentimento, de pertencimento e valorização de sua cultura e tradição.

As maiores mudanças estruturais locais surgem na década de 1990. Nesse ano é construída a
estrada, a escola EEIF João Domingues de Sousa, até então as escolas existentes ficavam numa
outra localidade conhecida como Juritianha, distante 7 quilômetros. Evidencia-se um cenário de
dificuldades diversas de acesso ao processo de escolarização. Torna-se fácil, então, compreender o
porquê do grande número de analfabetos funcionais existentes na localidade. A grande maioria da
população adulta e idosa não terminou o ensino fundamental.21

A energia elétrica chega no ano de 1995. Esse fato traz uma significativa mudança para o
cotidiano. Aos poucos as fogueiras, as reuniões à noite, à beira do fogo, cessam. As conversas
começam a diminuir. Um mundo novo começa a surgir. Informações através da televisão roubam a
atenção de todos. Se antes, o jantar era à mesa entre todos, a sala agora passa a ser o local da janta,
tudo para não ficar desconectado da TV.

Os fins de semana na localidade são marcados pelos torneios de futebol entre localidades
rurais diferentes. Os homens, em sua maioria, enchem os bares. As mulheres, pela tarde, passam na
estrada de piçarra levando seus filhos nos braços ou segurando na mão. Os perfumes se confundem,
as roupas e os batons coloridos expressam a necessidade que possuem de serem notadas. O destino?
A casa de alguma amiga. Ali, as risadas e as gargalhadas saem espontaneamente. O assunto é fácil
de se descobrir: a vida dos outros. Para que assunto melhor?

O trabalho na plantação se modifica. Agora, utilizam-se instrumentos de irrigação que


acelera e aumenta a produção de verduras. O trabalho laboral diminui. Não se faz necessário
carregar a bacia de verduras na cabeça, o carro passa à porta ou as próprias verdureiras possuem os
seus automóveis. Lúcia Maria de Oliveira Alves ressalta:

20
Entrevista de Jefferson Breno Silveira Alves, estudante da localidade de Juritianha, 21 de março de 2015.
21
Dados coletados pro Robson Reynaldo Oliveira de Sousa
20

Hoje, comparado com antigamente tá muito bom. Se antes a gente andava um tempão com
uma carga dessa na cabeça, agora tem carro. A maioria do povo tem carro. Agora é melhor
né? Graças a Deus. A Lúcia, a Neta, o Militão tem carro. Eles passam aqui em casa e levam
a gente para onde a gente vai vender.

Entrevista realizada com Lúcia José Alves de Oliveira Alves, 22 de março de 2015.

Conforme a perspectiva atual, Alméscegas é uma localidade em que a maior fonte de renda
de seus habitantes gira em torno da venda de verduras. Nos últimos anos, os homens tem adentrado
na profissão, realçando sua abrangência dentro da localidade. As ditas ceboleiras, em sua maioria,
conseguiram estabilizar sua situação econômica, sendo que a maioria possui casa própria e
automóveis para auxiliar em seu trabalho. Mesmo com todas as transformações técnicas possíveis,
ao caminhar pelo centro de Acaraú, Itarema, Cruz, Bela Cruz e Marco é muito fácil se deparar com
o trabalho manual dessas mulheres no mercado, nas esquinas dessas ruas lotadas.

1.3 Identidade estigmatizada: construção e desenvolvimento acerca do trabalho de


ceboleira.

O trabalho das “ceboleiras” de Alméscegas22, localidade rural de Acaraú, é visto como prática
rudimentar de comércio, assim como reflexo da pobreza de um povo que não tendo outros meios
para construir sua condição financeira, engajou-se na venda de cebolas nos centros urbanos das
cidades locais. O trabalho, por conseguinte, será estigmatizado pela sociedade, identificado como
depreciativo e vergonhoso, tem seus valores culturais e econômicos suprimidos quando rotulado
como indigno. Como podemos observar no depoimento da vendedora de verduras Leila Pereira de
Sousa:

Muitas vezes a gente oferece as verduras e as pessoas diziam que não eram nem camaleão
para comerem folhas e também assim quando alguém anda com dinheiro só em moedas
eles brincam falando que essa pessoa tava era vendendo cebola, só porque o dinheiro está
em moedas, querendo dizer que nós ganhamos pouco dinheiro.

Entrevista realizada com Leila Pereira de Sousa, 21 de março de 2015.

Segundo Zélia Maria de Melo em seu artigo: Os estigmas: a deterioração da identidade


social23, alguém que demonstra pertencer a uma categoria com atributos incomuns ou diferentes é
pouco aceito pelo grupo social, que não consegue lidar com o diferente e, em situações extremas, o
converte em uma pessoa má e perigosa, que deixa de ser vista como pessoa na sua totalidade, na sua

22
Vendedoras de cebolas de palha da localidade de Alméscegas, na cidade de Acaraú. Agricultoras que se deslocam
para as cidades da região para venderem verduras nos centros urbanos.
23
MELO, Zélia Maria de. Os estigmas: a deterioração da identidade social. Disponível em:
<http://www.sociedadeinclusiva.pucminas.br/anaispdf/estigmas.pdf>. Acesso em: 04 de maio de 2011.
21

capacidade de ação e transforma-se em um ser desprovido de potencialidades. Esse sujeito é


estigmatizado socialmente e anulado no contexto da produção técnica, científica e humana.

Eu percebo que eles olham pra gente como se a gente fosse coitada, a forma como eles
olham faz a gente perceber isso. Muitas vezes quando a gente chega no mercado eles dizem
– as ceboleiras já chegaram. Eles podem levar isso como brincadeira, mas sei que no fundo
eles pensam o nosso trabalho como um trabalho de coitadas, de quem não tem o que fazer e
vai fazer aquilo. Não vou mentir, a gente se dói de vez em quando, se dói sim, mas eu me
orgulho do meu trabalho. Todas as ceboleiras já passaram por isso, se elas dizem que não é
mentira, as pessoas frescam com a gente e com qualquer pessoa da Alméscegas. Quando
alguém diz que é da Alméscegas eles frescam logo com esse negócio de cebola. Eles
pensam que na Alméscegas o povo só sabe vender cebolas, e vivem falando que o povo de
lá só come cebola. Eu escuto isso demais na rua, meus filhos falam demais que isso
também acontece com eles.

Entrevista com Zulene Militão de Sousa, 21 de março de 2015.

O estigma reveste o indivíduo, impedindo o outro de olhá-lo sem entendê-lo como pessoa
comum, consciente de sua condição e profissão além, claro, de possuir plena capacidade de
construir sua vida. O que fica preso à retina é a interpretação que o estigma cria para aquele corpo,
dessa forma, o caráter predominante é adjetivo de desvalorização ou uma imagem distorcida sobre o
sujeito e o ambiente em que vive.

Nessa perspectiva, o corpo e o estigma carregados denotam uma memória do que são. As
“marcas” proclamam o pertencimento deste ao grupo, como se uma voz dentro dele reverberasse e
fizesse com que os outros escutassem e nunca esquecessem “És um dos nossos e não te esquecerás
disso.” O estigmatizado é decodificado e, a partir daí, entra num processo de exclusão social.
GOFFMAN em Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada24 lembra que a
origem da palavra estigma provém dos gregos, sendo uma marca de um corte ou uma queimadura
no corpo e significava algo de mal para a convivência social. Podia simbolizar a categoria de
escravos ou criminosos, um rito de desonra etc.

Era uma advertência, um sinal para se evitar contatos sociais, no contexto particular e,
principalmente, nas relações institucionais de caráter público, comprometendo relações comerciais.
Dessa forma, o estigma tinha a intenção de identificar aquele que era marcado, caracterizando-o
socialmente como indivíduo indesejável, à medida que praticara alguma falta moral.

24
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1980.
22

Dessa forma o estigmatizado é colocado como aquele que não se encaixa nos padrões sociais
e culturais que a sociedade coloca como o correto, como aceitável. Partindo desse pressuposto cita-
se Eudenia Barros quando em sua monografia Estigma e processos identitários: um estudo sobre a
campanha de Vanessa Vidal a deputada estadual nas eleições de 2010 25 afirma que: “Quanto mais o
indivíduo se afasta da identidade social virtual – identidade construída através das expectativas
sociais –, mais sua identidade social real é demonstrada, e seu estigma evidenciado.”

Nessa dinâmica o trabalho que se desenvolve nas feiras e mercados pelas ditas ceboleiras,
com o passar do tempo tornar-se-á cada vez mais estranho e excluído pela sociedade por representar
o velho, arcaico e estranho em uma sociedade que avança e privilegia o moderno e o tecnológico.

Acho que eles falam mais do nosso trabaho por causa da forma como trabalhamos. Nós
fazemos os móis de cebola e coentro e levamos em uma bacia na cabeça. A gente vende ou
lá no mercado ou na rua mesmo, oferecendo as verduras as pessoas, essa é a coisa mais
assim difícil, oferecer as verduras.

Entrevista realizada com Lúcia José Alves de Oliveira, 22 de março de 2015.

Os indivíduos considerados normais, segundo GOFFMAN, são aqueles que justamente se


encaixam nas expectativas criadas pela sociedade. No entanto, a indiferença se faz quando o
indivíduo não alcança os padrões pospostos pelo grupo, sendo concomitantemente colocado à
margem da normalidade e aceitação. O autor reflete, “assim, deixamos de considerá-lo criatura
comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é um estigma,
especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande.”26

As normas que se estabelecem socialmente para bem conduzir a sociedade a uma educação,
por assim dizer institucionalizada, organizam os corpos numa sociedade e constroem identidades
para serem seguidas. Entretanto, no momento em que esses não satisfazem os paradigmas, os
modelos pospostos pelo senso comum acabam por tornarem-se estrangeiros em suas terras,
levando-os a uma depreciação e estigmatização da sua forma de agir.

Georges Canguilhem, filósofo e médico francês, especialista em epistemologia e história da


ciência afirma em seu livro O normal e o patológico 27 que ser normal é se fazer adequar a uma
exigência arbitrária e imposta à existência. O que se evidência é o caráter de obrigatoriedade que

25
BARROS, Eudenia Magalhães. Estigma e processos identitários: um estudo sobre a Campanha de Vanessa Vidal a
deputada estadual nas eleições de 2010. Fortaleza, 2012.
26
GOFFMAN, op. Cit. p. 12.
27
CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Tradução de Maria de Threza Redig de C. Barrocas e Luiz
Octávio F. B. Leite. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, 307 p.
23

condiciona o corpo a aceitar e promover determinado comportamento, haja vista que o mesmo
corrobora com os padrões veiculados pela sociedade e que se fazem essenciais para a inserção no
grupo e a construção de um respeito e normalidade sobre o indivíduo.

GOFFMAM afirma que o descrédito acerca do estigmatizado se acentua através dos


contatos mistos, momento no qual a “normalidade” convive com a “anormalidade” de forma muito
próximas. No contexto social das “ceboleiras” isso se desenha, à medida que seu trabalho se
desenvolve nas esquinas ou nos mercados das cidades, à sombra de lojas que reverberam, anunciam
modernidade e tecnologia. A disparidade que irrompe, minimiza o trabalho laboral da vendedora de
verduras, inferiorizando-o e rotulando-o como bucólico e ultrapassado frente aos ditames de uma
sociedade que se moderniza e que exala a beleza hoje acreditada para atrair seus clientes em meio a
disputadíssima concorrência.

Além dos atributos maldosos que recaem sobre as ceboleiras, entre os quais, “fedorentas”,
“cabeças-verdes”28, as tachando de campestres e fora dos paradigmas aceitos construídos pela
sociedade. Faz-se importante indagar se somente o fato de o trabalho das agricultoras mostrar-se
inapto e inadequado para uma comunidade social, dita moderna, é que sustenta o descrédito e
pormenorização da profissão? Existem outros olhares cristalizados sobre aquele trabalho que
impedem as pessoas de vê-lo como um trabalho digno e mantenedor de uma cultura que permanece
viva?

Acredito que outra representação social que recai sobre aquele trabalho que o faz ser
inaceitável pela sociedade é o fato dele refletir a condição de pobreza de um povo, dele mostrar que
é feito por pobres. Desse modo, existe o preconceito de que todos aqueles que praticam o dito
trabalho são pobres, e por isso mesmo, o trabalho se cristaliza como um trabalho desvalorizado.
Corrobora-se com a opinião de Ryanne Freire Monteiro Bahia que em seu artigo Entre O
“Estigma” E A “Distinção”: A Representação dos Pobres na Literatura do Século XVIII E XIX
acredita que “Por contar com um capital cultural menos privilegiado, o pobre é vítima de uma
estigmatização”.29

28
“Eu já ouvi muitas vezes, quando a gente chegava na Bela Cruz o pessoal do açougue dizer: lá vem as cabeças-verdes,
por causa que a gente levava a bacia de cebola na cabeça.” Entrevista de Elza Felício de Almeida, acarauense,
vendedora de cebola da localidade de Alméscegas, zona rural de Acaraú, 72 anos, 21 de março de 2015.
29
BAHIA, Ryanne Freire Monteiro. Entre O “Estigma” e a “Distinção”: A representação dos pobres na literatura do
século XVIII e XIX. Revista Ameríndia– v.8, n.1, maio de 2010.
24

Para consolidar sua posição sobre o estigma criado sobre o pobre, a autora cita o livro de
Pierre Bourdieu A Distinção: crítica social do julgamento30 afirma que para o sociólogo francês:

O social é um campo de tensões onde os sujeitos que ocupam a posição de dominantes


visam, através de suas práticas, ideologias e discursos, sustentar essa posição prestigiosa.
Essa sustentação ocorre principalmente pela desclassificação do outro.

Sobre as mulheres e a sociedade de Alméscegas foi criada uma simbologia sobre sua
identidade, um estigma que prevalece nas bocas e se cristaliza como ideia fixa que olha para esses
objetos sociais de forma obtusa. Os valores criados sobre esse povo e sobre o seu trabalho estão
cercados de simbologias criadas pelos discursos daqueles que se utilizam de um desenrolar de
signos verbais para materializar os conceitos de verdade sobre algo ou alguém e que devem ser
aceitos como tais.
Quando alguém diz que “na Alméscegas só tem cebola e que o povo de lá só come cebola” 31,
é necessário que compreendamos que quem fala é alguém que conhece a localidade por ouvir falar.
Quem se utiliza dessas afirmativas para suscitar o povo de Alméscegas fala sem conhecer a
comunidade, pois de tanto escutar discursos e chacotas que são utilizadas contra as ceboleiras,
apoderou-se da ideia da localidade enquanto desprovida de pessoas que possam se desenvolver em
outras áreas senão na venda de verduras.

Uma vez eu estava na escola e na minha sala havia uma disputa pra ver quem tirava nota
mais alta. Aconteceu que na disciplina de inglês eu tirei um dez enquanto que um cara que
morava no centro do Acaraú e fazia cursinho de inglês tirou um nove. Ele ficou indignado.
Quando ele veio falar comigo perguntou de onde eu era e eu disse que era da Alméscegas
ele não acreditou e perguntou se eu estava brincando, pois ele não acreditava que tinha
perdido para um cara de lá. É muito comum quando a gente, eu e meu amigo, falamos que
somos da Alméscegas as pessoas não acreditarem só porque a gente faz faculdade. Eles não
acreditam. Dizem: e lá tem gente assim que gosta de estudar?”
Entrevista realizada com Francisco Nilton Pessoa, estudante da UVA. Cursa faculdade de
Ciências Contábeis, 25 anos, 20 de março de 2015.

A representação do pobre ao longo da história sempre partiu do olhar, discurso das elites, à
medida que apenas estas tinham acesso ao conhecimento dos livros, e por isso mesmo construíam a
imagem do pobre a maneira que satisfizesse seus interesses. No cotidiano atual, ser pobre significa,

30
BOURDIEU, Pierre. A distinção: a crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2007.
31
Entrevista de Lúcia Jose Alves de Oliveira, acarauense, vendedora de cebolas da localidade de Alméscegas, 53 anos
25

não somente a falta de condição monetária, mas se estende como pressuposto de inferioridade e
marginalização.
Outro emblema que recai sobre a condição de pobreza é o entendimento da incapacidade
intelectual de perceber sua condição e tentar transformá-la. As pessoas não percebem, talvez por
não conhecerem sua história, que o trabalho praticado por elas se (re)significa adquirindo conotação
de prazer e valorização de uma cultura perpassada por suas mães e que lhes deu a possibilidade de
criar seus filhos. Ressaltam-se as palavras de Lúcia Oliveira, vendedora de cebolas de Alméscegas,
que quando entrevistada afirmou o orgulho de seu trabalho:

Me orgulho do meu trabalho, sei que foi ele quem me deu a condição de hoje ter minha
casa e ter criado os meus filhos. No início tinha vergonha, até porque quando comecei a
trabalhar era muito nova e minha mãe já me levava mais ela para Bela Cruz, mas hoje me
sinto bem indo trabalhar. Sei que existem aqueles que olham torto para a gente, mas não me
importo com isso.

Entrevista realizada com Lúcia José Alves de Oliveira, 22 de março de 2015.

O diálogo com as ceboleiras por meio de entrevistas tornou perceptível a clara valorização
do trabalho que executam. Suas falas são entrecortadas por sorrisos que refletem satisfação
garantida pelo seu trabalho, principalmente, quando lembram que foram suas mães quem deixaram
aquilo como herança. É comum ao lembrar de suas mães ficarem emocionadas, lançando um olhar
que nada busca, pois é a mente quem trabalha naquele instante remontando lembranças saudosas de
tempos outros. A autoimagem criada por elas, revela mulheres felizes e orgulhosas de sua condição,
antagônico a concepção criada por aqueles que olham de fora.
A história oral, enquanto metodologia de pesquisa, possibilitou um contato com outro lugar,
outra geração32, rememorada e apresentada pelas “ceboleiras”. As suas falas realçam sentimentos
de pertencimento e autoconfiança pelo que fazem e são. Etienne François nos lembra que o
diferencial da história oral é justamente essa abordagem que dá preferência a ‘história vista de
baixo’, que atenta mais às maneiras de ver e de sentir, às estruturas ‘objetivas’ e às determinações
coletivas, prefere às visões subjetivas e os percursos individuais, numa perspectiva decididamente
‘micro-histórica’33.”
Romper com o dito, e encontrar o não-dito, oculto nos gestos e nos silêncios, para daí chegar
a uma conclusão imediata -- o que se olha nem sempre é o que se vê. A imagem de si e de seu
trabalho não é a afetada pelo que os outros pensam. O que de fato se mostra é uma autoimagem de
32
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992, p. 44.
33
FRANÇOIS, Etienne. “A fecundidade da história oral” em Marieta M. Ferreira; Janaína Amado (orgs.), Usos e
abusos da história oral, Rio de Janeiro. Fundação Getúlio Vargas, 1996, p. 4.
26

valorização e reconhecimento de sua luta. Sem a história oral tudo isso não seria revelado, sentido
por aquele que observa de longe.
Norbert Elias 34
alerta para a clareza de que a autoimagem e/ou autoconsciência é a
resultante dos modos e das condições de vida na sociedade onde cada indivíduo está inserido - e não
está dependente apenas das capacidades de cada um - como também está condicionada ao estado de
conhecimento daquela sociedade, não sendo, portanto, algo natural e universalmente válido. A
autoimagem e/ou autoconsciência é um conceito relacionado aos modos como vemos e/ou
compreendemos a nós mesmos, às maneiras através das quais nos definimos no interior da
sociedade e na relação conosco mesmo, com a natureza e com os outros.
Ela não está dada a priori, nem mesmo é eterna e perene, ao contrário, altera-se - às vezes
radicalmente - conforme mudam as condições da vida social ao longo do processo civilizatório. De
fato, temos imagens diversificadas quanto a condição das mulheres ditas ceboleiras, quando
percebemos em suas entrevistas posicionamentos opostos a visão pública sobre as mesmas.
Apesar de uma autoimagem positiva de si mesmas, as “ceboleiras” carregam um estigma
criado sobre seu trabalho, quando o próprio nome “ceboleira” é utilizado nas praças de forma
pejorativa, acentuando o caráter de pobreza que o mesmo reflete. A utilização do vocábulo é feita
como sinônimo de trabalho humilhante feito por pobres da localidade de Alméscegas e que gera
pouca remuneração, o suficiente apenas para o sustento da família.
Outra situação interessante é que a cristalização do cognome ceboleira solidifica um
pensamento singular preconceituoso sobre o território e o povo da localidade que fazem parte. O
que se difunde nas outras localidades como já fora dito é que em Alméscegas só existe cebola, que
as mulheres são todas ceboleiras, que o povo não pratica qualquer outra profissão que não seja a
plantação dessa verdura. Em relação ao pensamento solidificado e transformado em verdade sobre a
localidade supracitada, destaca-se a lúcida reflexão de Bourdieu ao afirmar que “(...) a posição de
um agente no espaço social (campos) se exprime no lugar do espaço físico em que está situado” 35,
denotando as hierarquias e distâncias sociais características de nossas sociedades.

Segundo este autor, o espaço social – definido pela exclusão mútua (ou a distinção) das
posições que o constituem – se retraduz no espaço físico. Este espaço social inscreve-se, assim, nas
estruturas espaciais e nas estruturas mentais que são o produto da incorporação destas estruturas. O
espaço é um dos lugares onde o poder se afirma e se exerce sob a forma de uma violência simbólica

34
ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
35
BOURDIEU, op. Cit. p. 160
27

capaz de instituir imagens, discursos e práticas sociais definidoras de um lugar social atribuído aos
agentes ou da sua posição de classe, com efeitos de poder também sobre a produção das suas
autoimagens.

O que se constata é que a localidade por possuir demasiada produção e venda de cebola, foi
construída sobre si uma identidade estigmatizada presa ao trabalho braçal, considerado por muitos
como ultrapassado. O olhar que recai sobre o povo e território é configurado pela imagem que se
consolidou e que é reverberada nas ruas. A vendedora Lúcia José Alves de Oliveira afirma que:

A gente percebe que nem todos, mas a maioria quando falam de Alméscegas acreditam que
o povo de lá só sabe fazer aquilo, que não tem outros meios de vida. Meu sobrinho é assim
meio diferente, o jeito de se vestir, as coisas que ele gosta são essas músicas atuais e ele
cansa de me falar que o povo não acredita que ele mora em Alméscegas por que ele não
parece com o povo de lá. Quando ele pergunta o porquê os amigos dele só dizem que não
imaginam que lá tem gente assim.

Entrevista com Lúcia José Alves de Oliveira em 22 de março de 2015.

No entanto, o que mais fere as pessoas da localidade é ouvir o vocábulo “ceboleira” dito de
forma que queira rebaixar o morador da comunidade, numa forma clara de representar as pessoas
daquele lugar como inferiores ou incapazes de alcançar trabalhos mais condizentes dentro de nossa
sociedade atual de consumo. Nas ruas de Acaraú é comum a utilização desse cognome para
especificar as próprias trabalhadoras de Alméscegas, todos os moradores daquela comunidade e
também caracterizar um trabalho que rende pouco e não vale a pena ser executado, pois se faz
vergonhoso e sem lucros. Sobre a localidade recai então uma identidade estigmatizada que parte do
trabalho executado pelas ditas ceboleiras. Dessa forma percebe-se que a identidade e a
representação cultural daquele povo foram coaguladas por um processo de persuasão do discurso
que se fez sobre as trabalhadoras rurais.

Essa explanação sobre o conceito de estigma e suas representações sobre o trabalho que se
desenvolve nas ruas acarauenses pelas trabalhadoras de Alméscegas contribui para
compreendermos como, de certa forma, se desenvolve e sedimenta a identidade estigmatizada que
recai sobre elas e sobre a localidade em que vivem.

Por conseguinte, na possibilidade de entendermos as representações socioculturais


estigmatizadas que identificam aquele povo observa-se, ao perscrutar os vários olhares criados, que
o discurso dominante que é reverberado na sociedade, estabelece parâmetros e paradigmas que o
homem quando não se encaixa em seus ditames tornar-se-á estranho, diferente, e dessa forma,
28

excluído por representar algo que não deve ser seguido nem aceito pelo outro, concretizando o
processo de estigmatização e cristalização de uma simbologia, de uma identidade fragmentada.

FONTES ORAIS

Apoliano Domingues de Sousa. Acarauense, casado, aposentado, aposentado pelo INSS como
servidor público, 65 anos. Entrevista realizada na sua casa no dia 22 de março de 2015 na
localidade de Alméscegas.
Benedito Julião de Sousa, acarauense, casado, aposentado pelo INSS como agricultor, 75 anos.
Entrevista realizada em sua residência no dia 22 de março de 2015 na localidade de Alméscegas.
Elza Felício de Almeida, acarauense, ex-vendedora de cebola da localidade de Alméscegas, zona
rural de Acaraú, 72 anos. Entrevista realizada em sua residência na localidade de Alméscegas no dia
21 de março de 2015.
Francisco Nilton Pessoa, acarauense, estudante da UVA. Cursa faculdade de Ciências Contábeis, 25
anos. Entrevista realizada em sua residência no dia 20 de março de 2015 em Alméscegas.
Jefferson Breno Silveira Alves, acarauense, estudante da localidade de Juritianha, 19 anos.
Entrevista realizada na escola EEM Vicente de Paulo da Costa no 21 de março de 2015.
José Venâncio de Oliveira, acarauense, aposentado pelo INSS como agricultor, viúvo, 77 anos.
Entrevista realizada no dia 22 de março de 2015 em sua residência na localidade de Alméscegas.
Leila Pereira de Sousa, acarauense, vendedora de cebolas, possui 3 filhos, solteira, 40 anos.
Entrevista realizada no dia 21 de março de 2015 em sua residência na localidade de Alméscegas.
Lúcia José Alves de Oliveira, acaruense, vendedora de cebolas, casada, possui 4 filhos, 53 anos.
Entrevista realizada em sua residência na localidade de Alméscegas no dia 22 de março de 2015.
Maria Alves de Oliveira, acarauense, vendedora de cebolas da localidade de Alméscegas, 40 anos.
Entrevista realizada em sua residência na localidade de Alméscegas no dia 22 de março de 2015
Rita de Cássia de Sousa, acarauenese, tem como profissão a venda de cebolas. Casada, possui três
filhos e tem 45 anos de idade. Entrevista realizada em sua residência no dia 23 de março na
localidade de Alméscegas.
Zulene Militão de Sousa, acarauense, vendedora de cebolas, casada, possui 6 filhos,48 anos.
Entrevista realizada em sua residência na localidade de Alméscegas no dia 21 de março de 2015.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Vanessa Vidal a deputada estadual nas eleições de 2010. Fortaleza, 2012.
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30

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