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SUICÍDIO: UMA ANÁLISE HUMANISTA EXISTENCIAL FENOMENOLÓGICA

MALISZEWSKI, Régis. 1
NARDES, W. B. 2
POTULSKI, Lavínia Tauany. 3
MARTINI, Fabieli de. 4

RESUMO

Introdução: O suicídio é considerado uma das formas que o ser humano usa para expressar-se, como a única saída frente
a dor. O sofrimento que essa experiência, é de uma grande dor e angústia, de tal modo, não há mais sentido para
permanecer vivo, e a morte é vista como a única alternativa para sua existência. Objetivo: O presente artigo visou trazer
alguns dados referente ao suicídio, bem como, dispor informações, trazendo concepções de diferentes autores em relação
a este fenômeno. Tem como principal, objetivo compreender o suicídio através da perspectiva humanista, existencial e
fenomenológica, a pessoa enquanto organismo em direção positiva, o indivíduo como problema existencial, e como
relação sujeito-objeto. Metodologia: A pesquisa foi realizada através de um estudo bibliográfico, de caráter explicativo,
e de abordagem qualitativa e análise dedutiva. Considerações finais: É necessário sempre considerar que cada ser
humano é dono de suas escolhas e potencialmente constituído por uma capacidade latente ou manifesta de compreender
a si mesmo e resolver os próprios problemas, escolhendo sempre o melhor diante do sofrimento e das circunstâncias
percebida através de seu campo fenomenológico. Não cabe julgar de forma alguma qual for a decisão do outro, pois só
sabe da dor quem a experiência, contudo, é necessário que o ser humano tenha o suporte psicológico e profissional
necessário para que se desenvolva e amplie seu campo fenomenológico, ademais, encontrando sentido para sua existência.

PALAVRAS-CHAVE: Suicídio, Rogers, Humanista, Fenomenologia, Existencial.

1. INTRODUÇÃO

Segundo dados do ministério da saúde o suicídio é um fenômeno que ocorre no mundo todo.
Por ano, mais de 800 mil pessoas cometem suicídio, quando se refere a adultos, a cada morte cometida
20 pessoas são afetadas e tentam contra própria vida. Esse fenômeno é complexo e com causas
multifatoriais. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), “o suicídio representa 1,4%
de todas as mortes no mundo, tornando-se, em 2012, a 15ª causa de mortalidade na população geral
e a segunda entre os jovens de 15 a 29 anos” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, §1).
As tentativas de suicídio e o fato propriamente dito vem sendo motivo de pesquisas nas
últimas décadas nos campos de Psicologia e Psiquiatria, e este é considerado um período de tempo
recente, tendo em vista que esse fenômeno se dirige paralelamente a mudança e desenvolvimento
humano (DUTRA, 2000).

1
Mestre em Psicologia Clínica: Régis Maliszewski. E-mail: [email protected]
2
Acadêmico do oitavo período de Psicologia: Wellynton Nardes de Bairros. E-mail: [email protected]
3
Acadêmica do oitavo período de Psicologia: Lavínia Tauany Potulski. E-mail: [email protected]
4
Acadêmica do oitavo período de Psicologia: Fabieli de Martini. E-mail: [email protected]

Anais do 17º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2019


ISSN 1980-7406
O objetivo deste artigo é apresentar uma análise acerca de um fenômeno constantemente
discutido desde a antiguidade até os dias atuais. O principal intuito é entender o suicídio pela
perspectiva humanista, existencial e fenomenológica. Entende-se que cada uma dessas abordagens
teóricas têm uma visão própria sobre este fenômeno, contudo, em determinados pontos se
relacionam.
Este trabalho tem suma importância para o desenvolvimento da compreensão do suicídio tanto
para os profissionais da área da saúde que se deparam com tal situação, como também para os
acadêmicos, futuros profissionais que irão lidar com sujeitos que percebem o fim da vida prontamente
como a solução de seus conflitos. Seria esse mesmo uma solução? Aquele que atenta a própria vida,
o faz por que? O que está buscando? O que o motiva? Será essa uma das formas de apropriar-se de
sua existência?
O presente trabalho foi desenvolvido por acadêmicos do curso de Psicologia do 8° de uma
universidade do Oeste do Paraná. Os autores do artigo, realizam estágio na clínica escola a qual atende
a comunidade de forma gratuita. As atividades visam atender a comunidade e auxiliar os acadêmicos
na prática clínica na referida instituição. Nas páginas seguintes deste artigo, o fenômeno suicídio será
discutido através de alguns teóricos humanistas, existenciais e fenomenológicos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ASPECTOS GERAIS DO FENÔMENO

De acordo com Durkheim (2000), existem numerosos tipos de morte, entretanto algumas delas
compartilham aspectos em comum e o principal deles é o de ser cometida pela própria vítima.
Acontece por exemplo, de o sujeito morrer por recusar-se a se alimentar ou de forma mais fatal como
atirar em si mesmo, independente se o ato é imediato ou não, a natureza é a mesma. “Chama-se
suicídio todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato, positivo ou negativo,
realizado pela própria vítima e que ela sabia que produziria esse resultado.” (DURKHEIM, 2000, p.
14).
O suicídio é considerado como uma forma humana de expressão, um modo que o sujeito vê
como única saída e/ou forma de lidar com a dor, uma maneira de fugir do sofrimento que naquele
momento é viver. É a forma que a pessoa dispõe de acabar com a vida que lhe é insuportável em um
dado momento (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2013).

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Quando a pessoa pensa em tirar a própria vida ela está certamente em sofrimento. O suicídio
é considerado como a única saída para cessar o sofrimento quando esse é insuportável e
incompreensível. De maneira geral “o termo ‘suicídio’ significa “morte de si mesmo” (CASSORLA,
2018, p.11).

2.2 ÍNDICES DE SUICÍDIO NO BRASIL E NO MUNDO

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2000), o suicídio é um problema com causas
multifatoriais no qual aspectos psicológicos, culturais, genéticos, ambientais e sociais interagem entre
si, dessa forma, não existe apenas uma razão que o justifique.
Segundo dados da OMS, as tentativas de suicídio são cometidas em maior número por
mulheres, porém de acordo com os índices, a população masculina é a que mais consegue tirar a
própria vida (OMS, 2000). Quanto a idade as pesquisas apontam que acontecem de forma mais
acentuada em dois ciclos de vida, em jovens entre 15 e 35 anos e em idosos que possuem acima de
75 anos. “Pessoas divorciadas, viúvas e solteiras têm maior risco do que pessoas casadas. As que
vivem sozinhas ou são separadas são mais vulneráveis.” (OMS, 2000, p.11).
O suicídio é um fenômeno percebido desde a antiguidade até os dias atuais. De acordo com
Silva, Alves e Couto (2016), no Brasil, ocorreram 11.821 mortes por suicídio no ano de 2012, o país
se encontra na oitava posição dos números registrados de suicídio, o fenômeno tornou-se um
problema de saúde pública no Brasil. No mundo todo, a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria
vida.

2.3 SUICÍDIO NAS PERSPECTIVAS HUMANISTA EXISTENCIAL E FENOMENOLÓGICA

2.3.1 O suicídio para existencial

Durante sua existência o ser humano passa por diversas situações no mundo e a experiência
de maneira particular. Dentre essas, podem ocorrer experiências que propiciem sentimentos positivos
de auto realização, em contrapartida, existem situações nas quais não se encontram condições que
levem a auto-atualização e desenvolvimento. Diante disso, a ausência desses aspectos leva o sujeito
a perder o sentido da vida e a desmotivar-se, isso contribui para um vazio existencial causando
sofrimento e desespero. Na presença desses sentimentos negativos, o ser humano se convence que a

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única saída para sua dor é a morte, “um alívio para a sua existência, isto é, encontra no suicídio uma
alternativa para a vida” (SILVA, ALVES & COUTO, 2016, p. 185).
Segundo Ferreira (2004), cada caso em que o suicídio é visto como solução é único, e possui
um sofrimento existencial particular. Para abordagem humanista a pessoa que tenta suicídio encontra-
se em uma fase existencial cinzenta e carregada. Considera-se que o sujeito é livre para fazer escolhas,
seja ela qual for em relação a própria vida, apesar de que essa é sempre considerada uma má escolha,
e é feita em um momento em que é vista como a única alternativa encontrada para aliviar um
sofrimento impossível de suportar, sofrimento esse experimentado em uma fase existencial
específica. “A tentativa de suicídio seria não somente uma manifestação de autodestruição, mas
também uma forma atribulada de conservar a imagem do eu que estaria vulnerável com esta
incongruência vivida” (FERREIRA, 2004, p. 15).
A auto atualização é um dos pontos principais da abordagem humanista-existencial. Sendo
que essa tendência consiste em ir em busca do melhor que se pode em um dado momento ou situação
no qual o sujeito se encontra, portanto, quando se refere ao suicídio, esse é visto como a última
alternativa desesperada do ser humano a atualizar-se (FERREIRA, 2004).

No caso do suicídio, ou na tentativa de suicídio, esta escolha, mesmo que distorcida pelas
circunstâncias psicológicas em que se encontra o sujeito, foi a melhor que ele conseguiu
encontrar para si e o máximo que ele pôde fazer na tentativa de manter a sua dignidade frente
a sua existência. (FERREIRA, 2004, p. 15)

O sentido que a pessoa dá para a vida, é o que a motiva a manter o vínculo com ela e com a
atualização de sua existência. De certa forma a pessoa sabe o que ainda quer produzir ou realizar, mas
quando isso não acontece, quando não há convicção do que se quer realizar, quando não há planos,
perde-se o sentido de estar vivo, e experienciar a vida dessa maneira causa um grande vazio. Segundo
Frankl (1990 apud FERREIRAS, 2004, p. 23), “a dúvida na possibilidade de sentido sinnhaftigkeit
da existência humana, porém, leva facilmente ao desespero. Esse desespero apresenta-se como uma
decisão para o suicídio.”
A vida humana é determinada por cada sujeito, e parte desse suas decisões e escolhas. Uma
pessoa pode sentir-se desesperada e não encontrar uma solução em qualquer momento de sua
existência. O ápice dessa situação é quando o sujeito desespera de si mesmo. Em diversas situações
para sair dessa crise existencial pode-se recorrer a algumas formas de cessar esse desespero, como
por exemplo, através do vício em alguma substância e do suicídio. Dessa forma, o suicídio é visto

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como uma das maneiras encontradas para livrar-se do desespero presente em algum momento da
existência humana (SILVA, ALVES & COUTO, 2016).
Ainda de acordo com Silva, Alves e Couto (2016), a sociedade atual contribui para que o ser
humano passe por momentos de desespero existencial. Sentimentos de solidão, angústia, tristeza,
contribuem para o surgimento de crise existencial e perturbam a grande maioria das pessoas, portanto
muitas vezes o suicídio é visto como uma saída e uma possibilidade para sua existência. “Diante do
desespero que emerge do contexto psicossocial, a morte é percebida como uma saída do sofrimento,
um alívio para a dor, uma possibilidade para a solidão existencial que despedaça a vida” (SILVA,
ALVES & COUTO, 2016, p.186). O suicídio é visto como uma forma de eliminar a angústia. O ser
humano não considera viver de outra forma, de tal modo que vê o suicídio como uma forma de
apropriar-se da vida e de si mesmo, ainda que eliminando-o, isso vai de encontro com o destino de
todo ser humano que é o de existir para a morte.

2.3.2 O suicídio para a fenomenologia

Conforme Ceccon (2017), a psicologia fenomenológica busca dar um significado para a


existência e experiências vividas pelo ser humano, a autora também destaca que a fenomenologia é
um método que tem como objetivo entender essas experiências e suas significações para o indivíduo,
ainda ressalta, que a vivência pode ser realmente compreendida quando relatada por quem a
experimentou. Sendo assim, priorizando tanto o sujeito quanto suas práticas e experiências.
Para se ter conhecimento sobre um fenômeno é necessário fazer com que o indivíduo tenha
compreensão a respeito do significado da experiência que está vivendo. Com isso, a fenomenologia
vem tratando o luto e a morte como fenômenos naturais do homem, atentando-se a revelar as
experiências no mundo (CECCON, 2017).
Existem diversos questionamentos acerca do suicídio, é tido como incompreensível uma
pessoa decidir tirar a própria vida. Em contrapartida, no ponto de vista fenomenológico, é um
fenômeno frequente na vida humana e que necessita de uma atenção ao olhar para a representação e
as consequências do suicídio, não apenas para quem tenta, e que pode ter êxito, mas também para as
pessoas próximas (ROCHA, BORIS & MOREIRA, 2012).
Segundo Campos (2013), a morte muitas vezes é a possibilidade de autenticidade para o ser-
aí, que é uma tradução da palavra alemã “Dasein” citado por Heidegger, com o sinônimo de
existência. O ser-aí vê a morte como autêntica, pois é o sentido mais legítimo de fim, onde o indivíduo

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procura por libertar-se do que lhe causa sofrimento. A partir disso, o indivíduo, sendo um ser-no-
mundo se reconhece como cuidador de si, e com sua existência depara-se com possibilidades e
escolhas, porém não existe a resposta correta para tais pelo fato de construir-se a partir de suas
escolhas. “Essa condição torna o viver humano um constante angustiar-se, já que está sempre imerso
em inúmeras possibilidades” (CAMPOS, 2013 apud HEIDEGGER, 1987). Portanto, se defrontar
com escolhas e incertezas causa aflição para o indivíduo.
Para Angerami (1997), ao buscar o suicídio como alternativa para aliviar suas angústias, o
indivíduo passa por um sofrimento emocional de níveis insuportáveis, desta forma, busca pelo
comportamento autodestrutivo, pois é o tempo todo estimulado e já pode estar condicionado a tal ato.
O suicida escolhe privar-se de ser-para-morte de forma natural, vê o suicídio com a única
possibilidade para acabar com o sofrimento perante uma existência a qual não encontra sentido
(CAMPOS, 2013).
Sartre (1970 apud Angerami, 1997) determina que “essencial não é aquilo que se fez o
homem, mas aquilo que ele fez daquilo que fizeram dele”. Desta forma, pode-se dizer que o suicida
faz algo com o que fizeram dele (CAMPOS, 2013).

Somos a realidade de nossos fenômenos em tanto quanto o observamos na consciência. Dessa


maneira a autodestruição é uma manifestação humana, mas não como afirmam alguns
teóricos “inconsciente” e “obscuro”, ao contrário, assumida pela condição de liberdade. O
homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e no entanto
livre, porque uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer (SARTRE,
1970 apud. CAMPOS, 2013).

Muitas pessoas ao falar sobre um suicida, por vez podem acabar por reduzir o ato a conceitos
patológicos, a fim de encontrar um motivo que justifique tal comportamento, não se atentando a
considerar que há uma existência “angustiada” levada por escolhas e experiências nas quais o suicida
não encontra sentido (ROCHA, BORIS & MOREIRA, 2012). Portanto, consequentemente, por não
ver possibilidades o que importa para o indivíduo é dar fim a situação que o angustia, prefere deixar
de existir, tendo como projeto de existência a autodestruição, sendo levado por essa escolha, pois é
um ser livre para realizar suas escolhas (CAMPOS, 2013).

2.3.3 O suicídio para o humanismo

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O humanismo se caracteriza por um movimento cultural surgido no século XIV, ligado a
renascença. Este movimento propõe colocar o homem no centro, em contrapartida com o
sobrenaturalismo medieval da época, no qual havia um fervor em relação aquilo que é divino e eterno,
menosprezando o que é humano, como consequência a vida do presente não havia valor algum, “as
coisas do mundo são transitórias e um cenário passageiro para as coisas eternas.” (AMATUZZI, 2008.
p. 13). O humanismo vem para revalorizar o humano, o crescimento deste são coisas importantes a
serem levadas em consideração, devendo ser cuidado. Já a psicologia com o viés humanista de acordo
com Ponte (2010), surge entre os anos 50 e 60 nos Estado Unidos, com as primeiras publicações de
Abraham Maslow, e em seguida por outros autores como Rollo May, Gordon Allport e Carl Rogers
(que será abordado neste tópico). Esta psicologia tem como uma de suas características a visão
positiva do humano, atribuindo uma maior ênfase em suas potencialidades, crescimento e auto-
realização, em contraposição aos enfoques behavioristas e psicanalíticos.
Após essa breve fundamentação sobre o surgimento do humanismo e da psicologia humanista,
iremos prosseguir com o tema suicídio através da perspectiva rogeriana, que se enquadra dentro dos
parâmetros de uma psicologia humanista.
Ribeiro (2006), afirma que em certas ocasiões de nossas vidas, se deparamos com situações
em que não encontramos formas de enfrentamento, não há criatividade ou habilidade para confrontar.
Desejar que este momento passe ou desapareça em um toque de mágica é normal, o chocante é quando
o sujeito tira a própria vida para não ficar mergulhado nesta escuridão. Na opinião de Rocha, Boris e
Moreira (2012), o suicídio em um primeiro momento pode até parecer algo absurdo e irracional, no
entanto, é um fenômeno digno de aproximação sob um olhar mais afundo do que este representa, seja
para o sujeito que tenta o suicídio ou para as pessoas que estão ao seu redor. Na perspectiva destes
autores, a inabilidade de lidar com o sofrimento, parece colocar o sujeito na posição de resolver seus
problemas através da eliminação destes juntamente consigo, ou seja, resolvendo com a própria morte.
Diante da tentativa de suicídio, a pessoa se depara com um problema existencial significativo, no qual
se questiona: “qual é o valor da minha vida?”.
Para Dutra (2000), a morte não é um fim em si mesmo, a morte é desconhecida, mas se
apresenta como uma saída do sofrimento, da solidão existencial, “o self ou a experiência não encontra
lugar no tempo que é vivido. Então o desespero e o tempo de um não ser se instala.” (DUTRA, 2000,
p. 194). O suicídio é uma das formas de lidar com a angústia, de se apropriar da vida, assumir o seu
destino, mesmo que sendo através da própria eliminação, mas que, no entanto, caracterizada por uma
incapacidade de instituir um jeito novo de existir. No que se refere ao modo de existir no mundo,

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Ribeiro (2006) afirma que, em oposição dos motivos que viabilizem a auto realização e crescimento,
o suicídio se caracteriza por um sintoma de uma existência não saudável.
Dutra (2000) afirma que através da articulação entre as experiências profissionais e os estudos,
observou que o suicídio sob o olhar do self necessita de um maior alcance de visão. Para o autor, o
modo inautêntico de se viver (por conta de um processo incorreto de simbolização, um desacordo
entre a experiência) pode resultar em escolhas existências inadequadas, devido a incompatibilidade
com o seu ser verdadeiro, levando ao fracasso fatal na tentativa de preencher o vazio em que o sujeito
se encontra.
Fonseca e Lôbo (2015) ao investigar a tentativa de suicídio por meio da perspectiva centrada
na pessoa (ACP), afirma que este fenômeno estaria ligado ao que Rogers descreveu como desacordo
entre a estrutura de self e a experiência global do organismo. Ademais, os autores afirmam que o
psicólogo ao considerar a tendência atualizante (pressuposto básico da teoria de Rogers) como força
motriz da diferenciação do self, irá desvelar os valores sociais e pessoais que influenciam o modo
como o sujeito formou a sua ideação suicida. Em adição a isso, Santos (2005) afirma que a relação
terapêutica da ACP possui como objetivo restabelecer um possível acordo entre a experiência
consciente do self do sujeito e a sua experiência total, para que assim este possa amadurecer. Os meios
para atingir tal maturação, seria através da criação de condições na relação que favorecem a rescisão
das barreiras que dificultam a expressão do potencial construtivo, que possuem como consequência
negativa o desajustamento social e o desequilíbrio psíquico.
O conceito self citado anteriormente, trata-se de uma estrutura que se forma através da
interação com o ambiente. Valores constituintes do self são experimentados diretamente pelo
organismo ou através da introjeção por meio de outras pessoas, passando a valorizar as experiências
que percebe como aperfeiçoadora, e concedendo um valor negativo as experiências ameaçadoras,
como na situação a seguir, que é exemplificada através do modo como a criança experiencia a ameaça:

Mas, então, surge uma séria ameaça ao self da criança. Ela experimenta palavras e ações de
seus pais com relação a esses comportamentos satisfatórios, e com as palavras e ações vem
o sentimento de que "Você é ruim, o comportamento é ruim, e você não é amada ou digna de
amor quando se comporta dessa maneira". Isto constitui uma profunda ameaça à estrutura
nascente do self. O dilema da criança poderia ser esquematizado nestes termos: "Se eu admitir
à consciência as satisfações desses comportamentos e os valores que apreendo nessas
experiências, isto será incoerente com meu self como sendo amado ou digno de amor".
(ROGERS, 1992, p. 568).

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O self, os afetos, as relações, os valores e humores do indivíduo têm um papel crucial na forma
como se percebe o mundo, e na orientação de sua conduta. O self é consciente, uma configuração
perceptual mutável constituída das percepções do organismo. As características que o organismo
considera como sendo parte de si, irá ser responsável tanto pelo desenvolvimento de condutas
saudáveis quanto do patológico, e ainda:

A função do self, além daquela de influenciar a percepção do mundo, constitui-se, acima de


tudo, como regulador da conduta, substituindo a avaliação organísmica que ocorria na fase
em que a criança assim funcionava, antes de se constituir como um eu separado dos pais ou
figuras significativas (DUTRA, 2000, p. 40).

Sendo então a percepção como determinante do comportamento em relação a interpretação


que fazemos da realidade e não uma realidade objetiva em si, uma situação percebida por um sujeito
como problema, pode ao mesmo tempo ser percebida como uma oportunidade de crescimento para
outro (VENTURELA, 2011).
Para que uma experiência ou um objeto sejam considerados como parte do self, depende em
grande medida que estes sejam percebidos como estando dentro do controle, ou seja, aquilo que se
encontra fora do controle é percebido como não fazendo parte do self, “por exemplo, um pé "que
dorme" por falta de circulação torna-se para nós um objeto, em vez de uma parte do self.” (ROGERS,
1992, p. 566).
Sobre a distorção ou negação destas experiências, podem ter como sintomas a sensação de
insegurança, angústia, ansiedade, uma tensão interna que se apresenta ao sujeito como aparentemente
desconhecida e descontrolada, levando o sujeito a comportamentos autodestrutivos. De acordo com
Rogers (1992), o sujeito que se vê como uma pessoa que não possui sentimentos agressivos, ela não
pode se satisfazer esse tipo de necessidade de uma forma direta, mas podem ser satisfeitas por meio
que sejam coerentes com seu self.

Por exemplo, um piloto que vê a si próprio como corajoso e relativamente livre de medos
recebe uma missão que envolve grande risco. Fisiologicamente, ele experimenta medo e uma
necessidade de escapar do perigo. Essas reações não podem ser simbolizadas na consciência,
uma vez que seriam muito contraditórias com seu conceito de self. A necessidade orgânica,
porém, persiste. Ele pode perceber que "o motor não está fazendo um barulho muito normal",
ou que "estou me sentindo mal e com o estômago enjoado" e, com base nisso, livrar-se da
missão (ROGERS, 1992, p. 577).

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A pessoa que vê a si própria como desprovida de sentimentos agressivos não pode satisfazer
uma necessidade de agressão de nenhum modo direto. As necessidades só podem ser satisfeitas por
meios que sejam coerentes com o conceito organizado de self.
A revelação da realidade se torna uma ameaça, o indivíduo pode se deparar a um jeito de ser
que a priori não acredita ser, surge uma ameaça a própria identidade, uma desarmonia entre o
autoconceito e a experiência (incongruência), em que pode se apresentar como uma das formas de se
defender a esta ameaça, pôr um fim a própria vida (VENTURELA, 2011).
O campo fenomenológico apresentado por Rogers (1992) é essencial para compreendermos a
situação do sujeito que intenta acabar com a vida. Este campo caracterizado por sua particularidade
sem igual para com os outros, contem experiências conscientes que são percebidas (ou não) pelo
organismo, no qual apenas uma pequena parte das experiências são conscientemente experimentadas.
No entanto, a experiência total é apenas algo potencial, não sendo possível, pois existem muitas
sensações e impulsos, que somente se tornaram conscientes sob determinadas condições. Neste
mundo de experiências tão particular, apenas o próprio sujeito é capaz de entender seu mundo de
forma autêntica e completa. Ao percebermos os comportamentos dos outros organismos como
“anormais” ou “sem sentido”, é viável pensarmos que estamos analisando tal fenômeno através de
uma ótica, uma estrutura que nos é própria. Compreender o outro estaria relacionado a compreender
a forma como o este sujeito percebe o mundo, a partir da estrutura de referência do outro, assim
poderíamos ir mais afundo sobre os seus comportamentos, porém isto é impossível de se alcançar,
sendo possível apenas até certo ponto. A reação do sujeito para com a sua realidade, se dá pela forma
como este experimenta a mesma, uma reação a percepção da realidade e não do absoluto. Um exemplo
disso pode ser verificado no caso exemplificado por Rogers (1992) no qual dois indivíduos escutam
um político (desconhecido) falar na rádio, um dos sujeitos percebe o político como falso profeta e
embusteiro, já o outro como líder do povo. O comportamento se adequa de acordo com a realidade
percebida.
Há uma tendência de preservação, de se defender perante a ameaças, mesmo quando as vias
usualmente estão bloqueadas, rumo a maturação, que neste caso não se dá de forma tranquila, o auto
aperfeiçoamento e crescimento se dá normalmente por meio de dores e lutas, e ainda, “para que a
menos que a experiência seja adequadamente simbolizada, a menos que sejam feitas diferenciações
apropriadamente acuradas, o indivíduo confunde comportamentos regressivos com comportamentos
de aperfeiçoamento do self.” (ROGERS, 1992, p. 558).

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O terapeuta torna-se muito consciente de que a tendência de movimento para frente do
organismo humano é a base na qual ele se apóia de maneira mais firme e fundamental. Isto é
evidente não só na tendência geral dos clientes de moverem-se na direção do crescimento;
quando os fatores na situação estão claros, mas sobretudo em casos graves, quando o
indivíduo está à beira da psicose ou do suicídio. Nessa situação, o terapeuta tem profunda
consciência de que a única força com que pode contar é, basicamente, a tendência orgânica
na direção de um crescimento e aperfeiçoamento contínuos (ROGERS, 1992, p. 556).

De acordo com Rogers (1992), as necessidades ocorrem como tensões fisiológicas, que ao ser
experimentadas o organismo elabora comportamentos para reduzir essas tensões, preservando o
organismo, como exemplo “um homem no deserto fará tanto esforço para alcançar o "lago" que ele
percebe numa miragem como para chegar a um verdadeiro poço de água.” (ROGERS, 1992, p. 559).
Diante disso, é necessário compreendermos que embora as experiências passadas modulem o
significado das experiências percebidas no presente, o comportamento do organismo é motivado a
satisfazer necessidades ou diminuir as tensões que ocorre no instante atual. A intensidade da emoção
está ligada à importância atribuída ao comportamento para preservação e aperfeiçoamento. O pulo
que você dá para calçada com o intuito de escapar de ser acertado por veículo que se aproxima, será
acompanhado de uma emoção forte se acaso for percebida como um comportamento que irá diferir
entre a vida e a morte. Será então que os comportamentos administrados pelo sujeito no qual verifica-
se como consequência a morte, seria um movimento em direção ao salto para a calçada? Um
comportamento entendido como apaziguador da tensão, no entanto, anulação da vida.
Um outro ponto recorrente da teoria rogeriana é a tendência a atualização, que é inerente do
ser humano. A atualização intenta desenvolver as potencialidades do sujeito, assegurando a sua
conservação. Ela também procura alvejar o que o sujeito vê como enriquecedor ou valorizador, de
modo geral, o seu saber, sua felicidade, seu poder, seu prazer, seu talento, sua importância, isto é,
toda espécie de coisa que contribui para o desenvolvimento integral do sujeito. Como supracitado, a
tendência a atualização atinge aquilo que o sujeito percebe como enriquecedor, a ideia envolvida
nessa percepção é a noção do Eu, que seria uma estrutura perceptual, como exemplo a qualidade e
defeitos, atributos, capacidades e limites, entre outras características que a pessoa percebe como da
sua identidade. Enquanto a tendência atualizante seria um fator dinâmico, responsável pela energia,
a noção do Eu seria o fator regulador, aquele que dá a direção desta energia, sendo esse último
responsável pela eficácia ou não da atualização (ROGERS & KINGET, 1975).
Uma das noções chaves da concepção terapêutica rogeriana refere-se à capacidade latente ou
manifesta do ser humano de conseguir compreender a si mesmo e de resolver os próprios problemas,
caminhando no sentido do funcionamento adequado. No entanto, para que esta capacidade seja

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atendida é necessário um contexto de relações positivas, sem ameaças as concepções que o sujeito
faz de si mesmo (ROGERS & KINGET, 1975). Do ponto de vista de Santos (2005) a perspectiva
humanista presente na concepção da abordagem em questão, acredita no homem como sendo
motivado a construção, a se organizar, de se desenvolver em direção a autonomia, mas que no entanto,
as condições do meio podem dificultar o avanço do desenvolvimento, a atualização. Cabe ao terapeuta
criar condições através da relação, para que assim a pessoa possa ela mesma se reorganizar e encontrar
a sua direção, pois o poder do processo de mudança se encontra inerente na responsabilidade do
sujeito.
Sobre a orientação positiva da teoria rogeriana, se fundamenta no pensamento de que quando
passamos a compreender e aceitar efetivamente o outro, existe uma tendência a direção construtiva,
positiva, a auto realização, maturidade e socialização. Ou seja, quanto mais o sujeito é compreendido
e aceito, maior é a tendência a baixar suas defesas que utilizou durante a vida. É possível de perceber
tal perspectiva como sendo ingenuamente otimista da natureza humana, no entanto, Rogers afirma
que tem consciência de que pelo fato do sujeito ter que se defender de seus terrores, ele possa a vir a
comportar-se de uma forma destrutiva e regressiva. Rogers verificou que dentro do processo de
mudança, existe uma dinâmica, caracterizada pela passagem da fixidez que seriam concepções rígidas
que o sujeito possui de si, para um estado de fluidez, caracterizada pela possibilidade de mudança,
aceitação dos sentimentos e experiências, resultando na integração do funcionamento do organismo
(ROGERS, 1985/2009).

3. METODOLOGIA

O trabalho em questão teve como objetivo a explicação dos fatores que causam ou contribuem
para que determinados fenômenos ocorram (suicídio) (GIL, 2002), através do método dedutivo, que
de acordo com Prodanov e Freitas (2013) analisa do geral para o particular, ou seja, de forma
decrescente. Os procedimentos adotados para a produção do trabalho foram através de artigos
científicos já publicados, dissertações, monografias e livros disponíveis, se enquadrando em uma
espécie de pesquisa bibliográfica, tendo como o tipo de abordagem a qualitativa, observando os
achados de outras pesquisas e fazendo uma interpretação desses dados por meio de uma análise
através das abordagens humanistas, existenciais e fenomenológicas, em específico a Abordagem
Centrada na Pessoa de Carl Ransom Rogers.

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3.1 PROCEDIMENTOS

Primeiramente foi pesquisado nas plataformas de artigos científicos Scielo, Pepsic, BVS-psi,
e do buscador Google Acadêmico, através das palavras chaves: Suicídio e Psicologia, Suicídio
Abordagem Humanista, Suicídio Abordagem Existencial, Suicídio Abordagem Fenomenológica, e
Suicídio Abordagem Centrada na Pessoa. Em seguida foi feito uma filtragem entre os livros e artigos
encontrados, ficando apenas os artigos que retratavam sobre o funcionamento psíquico do suicida ou
do fenômeno em si.

4. ANÁLISES E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Na visão fenomenológica somos seres conscientes e condenados a liberdade no sentido de ser


responsável por suas próprias escolhas e as consequências destas. A partir desta visão a morte é
observada como sendo um fenômeno natural do homem e quando se trata do suicídio, é tido como
uma escolha. Estes fenômenos são significados por cada indivíduo de uma forma. Com isso, perante
a sociedade, o suicídio não é a melhor solução, em contrapartida, para o indivíduo que tenta ou
comete, sim. Para ele existe um significado diferente, pois o nível de sofrimento é tão forte que o seu
campo fenomenológico se resume a uma única possibilidade, tendo a autodestruição como forma de
cessar essa angústia.
O suicida atenta para com a própria vida por não encontrar sentido em sua existência e não
conseguir ver outras possibilidades. Desta forma, há uma busca por liberdade, para ele a morte é o
sentido mais autêntico e legítimo de fim. Portanto, almeja pelo fim do que está lhe causando a
angústia, quer se libertar do sofrimento. Esta angústia que pode ser causada a partir de suas
experiências, trazendo o sofrimento para o ser-aí, que se vê como responsável por si mesmo,
deparando-se com escolhas e possibilidades, e se ver nesta posição pode afligir o indivíduo e então
vir à tona a autodestruição.
Pelo ponto de vista fenomenológico, o suicídio é uma das formas de apropriar-se de sua
existência, pois, o suicida escolhe se privar do ser-para-morte de forma natural assim escolhendo o
momento em que prefere deixar de existir.
Se tratando da ótica existencial, todo ser humano possui uma tendência a auto atualização,
logo, existe uma disposição constante a ir em busca do melhor que se pode ser diante do que está
sendo vivido pelo sujeito, desse modo, o suicídio é visto como uma última opção que o ser humano

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encontra para atualizar-se. A pessoa perde o sentido de estar viva, e experienciar a vida dessa forma
causa angústia e desespero, diante desse desespero existencial o suicídio é visto como solução.
Dentre as situações experienciadas existem aquelas que não proporcionam a auto atualização,
dessa forma causando sofrimento e perda do sentido da vida, o que contribui para uma existência sem
significado. Diante a esse desespero e sofrimento a única forma que o sujeito encontra para livrar-se
da dor é a morte, sendo assim o suicídio a única alternativa para a vida. Em todo caso que a morte é
vista como única saída, é vivenciado um sofrimento existencial particular. O ser humano é livre para
fazer escolhas em relação a própria vida, mesmo que o suicídio seja considerado uma opção ruim, ele
é cometido, pois, naquele momento é visto como única saída para a dor que se encontra na fase
existencial em que está experienciando.
Em um dado momento da vida o sujeito pode não encontrar uma solução para o que está
passando. O auge dessa situação é quando este desespera de si mesmo em algum momento de sua
existência. Portanto o suicídio é uma saída, e por vezes a única possibilidade para a existência. A dor
sentida pelo ser humano que a experiência causa tanto sofrimento que não existe outra saída ou outra
forma de viver, a tal ponto que morrer é visto como uma forma de apropriar-se da vida. Adiantando
o destino da vida humana, a morte.
Através da concepção rogeriana, que possui a filosofia humanista como viés de sua orientação,
podemos observar alguns aspectos sobre como se encontra a pessoa que idealiza o suicídio, que tenta
o suicídio ou que consegue. O sujeito nesta situação, enfrenta um desacordo entre o self e suas
experiências, o suicídio se apresenta como uma solução para lidar com a angústia, uma forma de
assumir as rédeas de sua vida, aniquilando a ameaça, mesmo que com o fim da vida, desta forma,
correspondendo com a tendência atualizante proposta por Rogers e Kinget (1975). E ainda, como já
discutido durante o percorrer do texto acima, por conta da tendência a preservação, o organismo
procura meios para se defender das ameaças que sofre, buscando modos para se libertar dessas
ameaças, para que assim possa continuar rumo ao aperfeiçoamento e funcionamento adequado.
Partindo do pressuposto de que o organismo responde ao ambiente através da forma como ele
percebe este (ROGERS, 1992), algumas situações podem ser percebidas como ameaçadoras a sua
concepção de self, gerando diversos conflitos entre o que ele experimenta e o que ele concebe como
fazendo parte de seu self, podendo haver uma distorção ou negação dessas experiências, tornando-se
cada vez mais complicada a tarefa de controlar de forma consciente, pois de um lado o organismo
luta para satisfazer as necessidades que não estão sendo conscientemente admitidas, podendo resultar

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em certas tensões, possibilitando um desajustamento psicológico. Quanto mais o organismo
identificar as experiências como ameaçadoras, mais rígida sua estrutura de self irá se organizar.

Como uma boa mãe só poderia ser agressiva com seu filho se ele merecesse punição, ela
percebe boa parte do comportamento dele como sendo ruim, merecedor de castigo; dessa
forma, os atos agressivos podem ser consumados sem contrariar os valores organizados de
sua imagem de self. Se, sob grande tensão, ela chegasse a dizer ao filho "Eu te odeio", logo
se apressaria em explicar que "não sabia o que estava dizendo", que o comportamento ocorreu
mas estava fora do controle dela. "Não sei o que me fez dizer isso, porque claro que não é
verdade" (ROGERS, 1992, p. 581).

Antes mesmo de julgarmos determinados comportamentos emitidos pelos outros como sendo
anormais, estranhos, ou sem sentido, se faz necessário lembrar o que já foi comentado anteriormente,
de que, para que possamos compreender a situação do sujeito suicida, é preciso olhar o mundo através
de sua visão, tentar o máximo possível se aproximar da forma como se encontra seu campo
fenomenológico, como este percebe o mundo, e não através de nossa estrutura de referência.
Ademais, devemos ter em mente que a única pessoa com a capacidade de compreender a situação de
forma integral, é o próprio sujeito, ou seja, o único capaz de analisar os fatores envolvidos nesse
processo que o faz pensar em tirar a própria vida, e da resolução deste problema, é ninguém mais
ninguém menos do que aquele que está nesta situação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente trabalho foi possível ampliar o conhecimento a partir do fenômeno do


suicídio com base na visão das linhas teóricas já citadas, e também compreender as semelhanças e
diferenças entre cada uma das três. Estas que olham para o sujeito de modo que apenas ele é dono de
suas escolhas, e as fazem como sendo a única forma que encontra para atualizar-se dentro de seu
campo fenomenológico, que, no caso do suicídio encontra-se reduzido, além disso, a morte é vista
como a melhor solução para a existência no momento em que sua estrutura de self se encontra
ameaçada.
É notório o quanto o suicídio é um fenômeno que vem ganhando atenção, desde os primórdios
até os dias atuais, sendo esse um tema complexo e com inúmeras formas de ser considerado. Apesar
de existirem maneiras diferentes de se abordar ou discutir sobre o suicídio, essas abordagens podem
apresentar algumas semelhanças, como descrito por Ponte (2010) sobre as aproximações de
Kierkegaard e Rogers, na visão do humano como sendo fortemente marcado pela visão centrada no

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individual, a liberdade e a busca em relação a valorização da decisão que o sujeito faz por si mesmo,
ou então da redução fenomenológica que Rogers utiliza, mas que foi elaborado por Husserl. Holanda
(1997) defende a ideia de que há sim a existência de fenomenologia na corrente humanista,
considerando a totalidade do organismo, do modo mais ativo de relação entre cliente a terapeuta,
nisso estaria ligada fundamentalmente a ACP. Até mesmo Rogers afirma ter se sentido apoiado em
relação a sua nova abordagem, ao conhecer os escritos de Martin Buber e Kierkegaard (indicações de
seus alunos), percebeu que sua abordagem era "(...) um ramo de fabricação caseira da filosofia
existencial." (ROGERS & ROSENBERG, 1997, p. 203).
De fato, é pertinente buscar entender questões nas quais não se considere a morte apenas como uma
má escolha, ou uma escolha ruim, mas sim questionar-se quanto ao que leva o suicida a ter essa como
única saída para sua existência, para que, de algum modo sejam consideradas outras alternativas para
a vida, de maneira a não acabar com a existência de ser-no-mundo e sim ter a oportunidade de lidar
com os fenômenos e experiências que lhe causam angústia.
Por fim, cabe aqui propor aos novos pesquisadores a elaboração de materiais que contribuam
para que o conhecimento sobre esse tema seja ampliado. Dessa forma produzindo materiais que
colaborem com profissionais que se interessam por essas questões, assim também auxiliando os
acadêmicos da área que muitas vezes se deparam com dificuldades em encontrar referenciais teóricos
em relação a esse tema no campo da psicologia humanista existencial e fenomenológica.

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