Alves, 2006
Alves, 2006
Alves, 2006
Resumo
Esta é a crónica de um jornalismo anunciado, como diria o mestre Gabriel García
Márquez. Há décadas, vislumbrava-se a possibilidade de as novas tecnologias amea-
çarem grave ou mortalmente os meios de comunicação tradicionais. Quando a World
Wide Web surgiu, na última década do século XX, dando formas gráficas à rede mun-
dial Internet, que já tinha mais de vinte anos de idade, o jornalismo encontrou-se
finalmente de forma definitiva com a Revolução Digital. Os últimos dez anos foram
marcados por um esforço de transformar eventuais ameaças aos meios de comunica-
ção tradicionais em oportunidades de criação de um novo jornalismo digital, que há
tempos já se esperava.
de rádio e televisão e as revistas seguiram mais ou menos esse mesmo modelo, quando
criaram seus sítios na web.
Em vez de ver a web como um novo meio, com características próprias, as empresas
tradicionais a encararam como uma nova ferramenta para distribuir conteúdos, origi-
nalmente produzidos em outros formatos. Na melhor das hipóteses, via-se a presença
na Internet como uma extensão ou um complemento do produto tradicional. Assim,
esta primeira década do jornalismo digital foi caracterizada por este pecado original:
a simples transferência do conteúdo de um meio tradicional para outro novo, com
pouca ou nenhuma adaptação. Nos Estados Unidos, este processo ficou conhecido
como shovelware, um termo que acabou sendo pejorativo, por demonstrar a preguiça
e a falta de visão das empresas que se lançavam muito timidamente à web.
Mas é justamente isto que tem havido de sobra no jornalismo digital desta primeira
década: preguiça das empresas de apostar na Internet como um novo meio capaz de
garantir sua sobrevivência numa era que se impõe de forma avassaladora. No fundo,
o jornalismo digital tem sido muito tímido no que se refere à criatividade e à inovação.
O medo de canibalizar o meio tradicional e a preocupação em obter lucros imediatos
limitaram bastante o ímpeto inovador, mesmo quando os problemas iniciais de acesso
(velocidade das conexões, por exemplo) foram sendo eliminados. A utilização de nar-
rativas que aproveitassem o hipertexto e a multimídia foi deixada de lado, enquanto
se optava por ficar com o mais fácil: tomar emprestada uma linguagem mais simples,
baseada principalmente em texto e na reciclagem de material já usado em outro meio,
desperdiçando-se as novas possibilidades narrativas que a Internet oferecia.
Quando começou a trabalhar com videotexto para a cadeia de jornais americana
Knight Ridder, no final dos anos 70, Roger Fidler logo se deu conta de que os com-
putadores eram o futuro meio de distribuição dos jornais. Não os computadores da
época, mas os tablets ou painéis que seriam inventados, segundo aquele visionário.
Mas esses flat panels ou tablets, na visão de Fidler reproduziriam as páginas dos jor-
nais, de maneira praticamente idêntica. Até hoje, ele trabalha com essa hipótese: de
que os jornais vão apenas mudar de plataforma, mas continuar com organização simi-
lar, turbinada pela multimídia e outras vantagens do meio digital.
Uma das maiores contribuições acadêmicas de Fidler, no entanto, desde que seus
projetos de videotexto foram atropelados pela web, foi o livro no qual faz uma interes-
sante análise do processo de surgimento de novos meios no século XX e que ele bati-
zou de midiamorfose. Fidler observou que o nascimento de um novo meio de comu-
nicação causa uma espécie de terramoto no ambiente midiático. Durante esse abalo,
os meios tradicionais passam por uma metamorfose para se adaptar à nova realidade.
Assim, depois do terremoto e das falsas profecias de que os velhos meios desaparece-
rão, o meio novo, que a princípio simplesmente reproduzia o que se fazia nos meios
tradicionais, encontraria sua própria linguagem, ou seja, o seu código comunicacional
(Fidler, 1996).
A primeira década do jornalismo digital guarda uma impressionante semelhança
com a midiamorfose descrita por Fidler. Assim como o rádio, em seus primórdios,
era o “jornal falado” e a televisão era “o rádio com imagem”, os meios tradicionais
simplesmente levaram para a Internet os seus códigos comunicacionais ou linguagens
e, principalmente, a linguagem do jornal diário. Se este mesmo processo valesse outra
vez, estaríamos diante daquele mesmo terramoto midiático do passado, num processo
que nos permitiria hoje prognosticar a sobrevivência dos meios tradicionais já modifi-
cados e adaptados. Estaríamos assim no meio de mais um processo de midiamorfose.
A Internet, no entanto, não é apenas um novo meio, como foram o rádio e a
TV, cada um acrescentando um canal sensorial à comunicação existente: o sentido da
audição, no caso do rádio, e o da visão, no da TV. A web representa uma mudança de
paradigma comunicacional muito mais ampla que a adição de um sentido. Ela oferece
um alcance global, rompendo barreiras de tempo e espaço como não tínhamos visto
antes. A indexação do meio digital permite a acumulação de conteúdo, rompendo os
paradigmas organizacionais que o jornalismo tinha criado. Além disso, a web oferece
um grau de interatividade que também nos era desconhecido. Trata-se de um meio
ativo, que requer constante interação com seus usuários, contrastando com a relativa
passividade que marca a relação do telespectador, ouvinte ou leitor com os meios tra-
dicionais.
O mais importante, porém, é o fato de a Internet ser apenas a ponta do iceberg de
uma revolução muito mais ampla e profunda do que foi o nascimento dos meios de
comunicação de massa. A Internet é apenas a parte mais visível e popular da Revolução
Digital que está criando a Sociedade da Informação. Em termos de manejo e de acesso
a informações, o único paralelo histórico que podemos encontrar para esta revolução
é a invenção do tipo móvel por Gutenberg em 1542, que transformou a humanidade
ao ampliar as possibilidades de disseminação do conhecimento. Estamos no começo da
nova revolução do conhecimento e estamos vendo o impacto inicial sobre o jornalismo,
assim como vemos suas conseqüências políticas, sociais e econômicas mais amplas.
Devido a essas proporções revolucionárias que assinalam o início de uma nova era,
além de pensar em midiamorfose, pensemos também em midiacídio – ou seja, a pos-
sibilidade de a ruptura tecnológica provocar a morte de meios tradicionais que não
tenham capacidade ou não saibam se adaptar ao novo ambiente midiático em gestação.
Esse midiacídio também incluiria a “morte” de carreiras (no caso de jornalistas que
não consigam adaptar-se à nova realidade) e de empresas de comunicação insensíveis à
necessidade de mudar seus modelos de negócio e suas linguagens (Alves, 2001).
A segunda década do jornalismo digital se inicia em meio a uma séria crise dos
meios tradicionais, agravada pela popularização da web, mas causada também por
motivos anteriores a ela. A televisão, por exemplo, sofre há tempos com a fragmen-
tação e o declínio da audiência. Os jornais, que foram o primeiro meio tradicional a
abraçar a Internet massivamente, parecem estar se transformando numa das principais
vítimas de uma ruptura tecnológica. Nos Estados Unidos, a penetração dos jornais
já vinha caindo há tempos (a proporção de adultos que liam jornais caiu de 81% em
1964 para 52% em 2004), mas o declínio da circulação tornou-se ainda mais agudo
nos últimos anos (Meyer, 2004).
A idéia de que o jornalismo digital poderia ser apenas um complemento dos jornais
predominou durante a primeira década de existência do novo meio, porém desde o
início da segunda década que existem sinais claros de que a difusão de notícias atra-
vés da Internet teve conseqüências negativas na circulação dos diários impressos em
papel. Durante os anos 90, o declínio de circulação ficou dissimulado, nos Estados
Unidos, por um crescimento dos lucros dos jornais. Desde que passaram, nos anos 80,
de empresas familiares a empresas públicas com ações na bolsa, os jornais cederam
às pressões de Wall Street para aumentar suas margens de lucro, mesmo às custas da
perda de qualidade e credibilidade. A Internet só veio complicar ainda mais uma situa-
ção já existente.
O maior problema dos jornais e do jornalismo das grandes redes de TV dos Estados
Unidos é o desinteresse dos jovens. Os noticiários tradicionais de televisão, por exem-
plo, têm atualmente uma audiência com idade média ao redor de 60 anos, enquanto
os jornais se esforçam, em vão, por atrair leitores da cobiçada faixa etária entre 18 e
34 anos. Os mais otimistas lembram que esse desprezo dos jovens pela leitura diária
de jornal aconteceu em gerações anteriores. Os jovens não liam jornais até entrar no
mercado de trabalho, ter uma carreira e uma família que cuidar, pois só então sentiam
mais necessidade de estar mais informados. A questão agora, porém, é que quando
isso acontecer, esses jovens já estarão acostumados a encontrar na Internet as informa-
ções jornalísticas que as gerações anteriores só podiam acessar através dos jornais.
As transformações no acesso e no gerenciamento de informações são muito mais
amplas do que parecem. As novas gerações não conheceram o mundo sem Internet e
sem os telefones móveis, que são outra ponta visível e popular do enorme iceberg que
é a Revolução Digital em curso. Para essas novas gerações, o mundo baseado em bases
de dados é a norma e não a exceção ou a novidade. As habilidades cognitivas dessas
novas gerações são diferentes e terão um impacto inevitável na sua relação com os
meios de comunicação.
Os meios de comunicação de massa sofrem, portanto, o efeito de inovações capazes
de romper os modelos que há pouco tempo pareciam consolidados. A possibilidade
de que jornais ou emissoras de TV, tal como os conhecemos, venham a desaparecer
(midiacídio) é tão real como a repetição do processo de midiamorfose descrito por
Fidler. A verdade é que vivemos um período de incertezas em relação ao futuro da
mídia. O próprio conceito de comunicação de massas precisa de ser reavaliado, pois
as tecnologias digitais permitem ao receptor das mensagens uma posição muito mais
ativa, com muitas mais opções para selecionar as mensagens que deseja receber. O
receptor não se senta passivamente diante da TV ou não abre simplesmente um jornal
ou uma revista para consumir as mensagens que os gatekeepers prepararam para ele
naquela edição ou naquela hora. O receptor agora tem o controle, o poder de acessar
uma infinidade de fontes, sem as barreiras de tempo e espaço que limitavam sua ação
até o advento da web.
Neste início da segunda década do jornalismo digital, estamos percebendo com mais
claridade essa extraordinária transferência de controle do emissor para o receptor. Isso
abre caminho para uma comunicação que poderíamos chamar de eu-cêntrica, pois está
baseada nas decisões individuais do receptor, diante do enorme leque de opções que a
Internet lhe abre. A comunicação se torna eu-cêntrica porque tenho acesso somente ao
que eu quero, na hora em que eu quero, no formato em que eu quero e onde eu quero.
Trata-se, sobretudo, de uma transferência importante de poder ou de privilégio,
que passa do emissor para o receptor, numa evidente ruptura dos modelos fechados
que se conheciam até agora. O que é o jornal tradicional senão um pacote de notícias
e informação selecionados por uma equipe de jornalistas (gatekeepers) num ciclo de
24 horas? O que é um noticiário de rádio ou de TV, senão um encontro marcado a
determinada hora para se ouvir (e ver) a apresentação de um número limitado de
notícias pré-determinadas pelos jornalistas (gatekeepers)? Na lógica que a Internet
está criando, não tem sentido que eu escute algo que não escolhi. Se vou escutar um
pacote de notícias, será um pacote que eu forme, de acordo com meus interesses, para
ser consumido na hora que eu quiser, onde eu quiser.
Ao transferir-se para a Internet, o velho jornalismo-produto se transforma num jor-
nalismo-serviço, um fluxo contínuo de informação que se acumula, indexada, no sítio
web, colocando-se à disposição dos usuários que queiram consumi-la. Esse processo
significa a desconstrução dos produtos jornalísticos que foram criados ou tiveram o
seu auge no século XX. As novas gerações parecem ter dificuldade em entender por
que razão devem receber um pacote fechado composto de informações produzidas na
véspera (jornal diário) ou na semana anterior (revista semanal) ou mesmo produzidas
nas últimas horas mas apresentadas apenas em determinado horário (caso dos noticiá-
rios de rádio e TV). O fluxo contínuo de informações relevantes indexadas e acumula-
das num sítio de Internet está na essência do jornalismo digital emergente.
A tecnologia digital, no entanto, oferece ao receptor das mensagens jornalísticas
ainda mais poder, ao abrir uma gama de possibilidades de busca e de reorganização
do material oferecido pelos meios de comunicação. O sistema RSS (Really Simple
Syndication), que se popularizou nos últimos meses na Internet, permite que uma pes-
soa sem nenhum conhecimento técnico de programação estabeleça um mecanismo
automático de seleção e busca de notícias das mais variadas fontes, criando uma
página pessoal constantemente atualizada, de acordo com critérios pré-estabelecidos.
Isto significa que até mesmo quando os meios “empacotam” suas informações nos
sítios web, o usuário tem a capacidade de desempacotá-las e acomodá-las segundo
seus parâmetros eu-cêntricos.
A transferência dos segmentos noticiosos de televisão e de rádio para a web tam-
bém representa uma forma de desconstruir os programas jornalísticos, que antes só
eram acessíveis a determinadas horas e na seqüência previamente determinada pelas
emissoras. A ruptura da barreira temporal na difusão audiovisual de notícias e outros
conteúdos jornalísticos (e não jornalísticos) extrapolou os limites do computador, gra-
ças à proliferação do podcasting. Neste sistema que se torna mais popular a cada
dia, os provedores de conteúdo na Internet disponibilizam, aos assinantes, arquivos
digitais de áudio ou vídeo, que são capturados pelos computadores e repassados para
pequenos aparelhos reprodutores de mp3, como os iPods. O sistema vem sendo muito
usado até pelos jornais, que antes não se preocupavam com áudio ou vídeo (há pod-
casting de vídeo também).
O entendimento do alcance dessas transformações na mídia é fundamental para
a sobrevivência das empresas de comunicação tradicionais, que precisam se tornar
emissores multimídia. Todos nós já somos seres multimídia há muito tempo, pois con-
sumimos múltiplos meios de comunicação. A novidade é que temos à nossa disposição
um meio que tem a capacidade de absorver as características de todos os outros meios.
A Internet pode ser rádio, TV, jornal, revista, tudo ao mesmo tempo. Embora o uso
de programas, como o Flash, que permitem a produção de narrativas verdadeiramente
multimídia, ainda seja muito limitado, o jornalismo não deve mais se restringir aos
mesmos limites que os meios tradicionais tinham que respeitar. Os jornais que sobrevi-
verão serão aqueles que souberem fazer o melhor uso do vídeo e do áudio, assim como
as TV e as rádios precisam saber apresentar e misturar suas narrativas tradicionais
com outras, mais baseadas em texto e fotos.
A sobrevivência das empresas jornalísticas, no entanto, não depende apenas de uma
adaptação aos novos requerimentos de forma ou linguagem. Da mesma forma que os
jornalistas estão perdendo seu poder de gatekeeper, na medida em que os usuários têm
acesso a uma infinidade de fontes e dispõem de mais recursos de acesso e seleção, as
empresas jornalísticas estão perdendo poder para os anunciantes. Em ambos os casos,
há um evidente processo de desintermediação em curso, com graves conseqüências
para o modelo de negócio que tem financiado jornalismo de qualidade pelo mundo
afora. Abrem-se diante dos anunciantes, tradicionais financiadores dos mass media,
muitas possibilidades de comunicar-se diretamente com os consumidores, que antes só
lhes eram alcançáveis através da mídia tradicional.
Além dessa possibilidade de acesso direto, cada dia os anunciantes transferem para
a Internet mais dinheiro que antes era usado em publicidade nos meios tradicionais. Na
web, encontram preços mais baratos, mas também sistemas de controle de eficiência
dos anúncios mais eficazes e precisos. Para os meios de comunicação tradicionais, isto
significa uma perigosa redução em seu faturamento e a desestabilização do modelo de
negócio que sustenta suas operações jornalísticas. Um dos casos pontuais mais dramá-
ticos é o de anúncios classificados, que tem representado nos Estados Unidos cerca de
40% do faturamento dos jornais. Os sítios de Internet estão dizimando rapidamente
aquele mercado e mesmo os jornais que tiverem sucesso com criar suas operações de
classificados online verão sua renda drasticamente reduzida, pois na web os anúncios
são grátis ou muito mais baratos.
Uma das maiores vantagens da publicidade online é a abolição do desperdício que
os meios de comunicação de massas raramente conseguiam evitar. Esse desperdício
pode ser exemplificado no desabafo de um dos grandes anunciantes americanos que
uma vez lamentou-se dizendo algo assim: “Eu sei que jogo fora metade do dinheiro
que gasto em publicidade. O problema é que não sei qual metade é a que desper-
diço, portanto tenho que continuar.” Uma das principais características da Internet é o
Jornais dos Estados Unidos publicou uma estatística mostrando que o sítio de Drudge
ainda hoje tem mais visitas por pessoa num mês do que os sítios das maiores empresas
jornalísticas, como CNN.com ou MSNBC.com. O DrudgeReport.com (que conta com
três milhões de usuários únicos/mês) recebe uma média de 19,6 visitas por usuário por
mês, enquanto o sítio do New York Times, por exemplo, recebe em média apenas 6,4
visitas por pessoa.
Mas se nos anos 90 Drudge era apenas um fenômeno isolado, a proliferação dos
blogs abriu o caminho para a criação de milhões de sítios que contém links para notícias
e comentários sobre os mais variados temas. Os blogs se espalham em uma forma viral,
criando comunidades e audiências até mesmo em ambientes fora do alcance dos meios
de comunicação de massa, onde é difícil imaginar como uma pessoa poderia arregimen-
tar tantas outras. Não se trata, porém, de um fenômeno restrito aos Estados Unidos
e Europa. Os blogs se disseminam por todas as partes do mundo, inclusive em países
com regimes autoritários que passaram a reprimir e prender os blogueiros. Mesmo em
países em desenvolvimento, onde se pensava que a chamada brecha digital imporia
mais limitações para a Internet, o fenômeno dos blogs está se espalhando rapidamente.
No Brasil, por exemplo, o jornalista Ricardo Noblat, que começou sozinho, há poucos
meses, um blog de notícias políticas, afirma que já conta com mais de setecentos mil
usuários únicos por mês. Trata-se de um número impressionante num país onde a cir-
culação diária dos maiores jornais só chega perto deste número nos domingos.
Nos Estados Unidos, os blogs se tornaram os cães de guarda dos cães de guarda. Se
a imprensa americana sempre se vangloriou de ser o watchdog da democracia, agora
ela encontrou um cão de guarda a sua altura, que a vigia às vezes desde os pontos de
vista mais radicais da esquerda e da direita e às vezes a partir do conhecimento preciso
de especialistas das mais variadas disciplinas. Quem poderia imaginar que os blogs
poderiam ter tanta influência como tiveram nas eleições americanas do ano passado?
Ou que os blogueiros teriam força suficiente para derrubar o principal âncora da tele-
visão americana, Dan Rather, ou o presidente de notícias da CNN, Eason Jordan?
Os jornalistas inicialmente viam com desdém os blogs, mas foram aos poucos
entendendo que se tratava de um fenômeno importante, estreitamente ligado às trans-
formações impostas pelo jornalismo digital. Jornalistas e empresas jornalísticas preci-
sam entender que o blog é um apenas um instrumento. Com essa ferramenta nasceu,
de baixo para cima, a partir dos cidadãos comuns, uma nova linguagem, uma formata-
ção narrativa que pode muito bem servir para o jornalismo. Assim, em vez de ficarem
empancados na inútil discussão para determinar se blog é ou não é jornalismo, muitos
jornalistas e jornais adotaram seus próprios blogs, levando para eles os mesmos valo-
res que aplicam nas formas tradicionais de jornalismo. Uma das vantagens que encon-
traram neste novo formato foi o diálogo com os leitores. Dan Gillmor, um jornalista
tradicional que se transformou em blogger e em papa do jornalismo participativo na
Internet, diz que o jornalismo deixou de ser uma aula e passou a ser uma conversação.
Em seu livro We The Media, Gillmor conta que chegou à conclusão de que os leitores
em seu conjunto sempre sabem mais do que o jornalista, qualquer que seja o assunto.
lismo. Mas será necessário criar um novo jornalismo digital que conserve os elementos
fundamentais do jornalismo tão bem descritos no livro The Elements of Journalism,
de Bill Kovach e Tom Rosenstiel, mas que, ao mesmo tempo, desenvolva uma nova
linguagem, um novo código comunicacional adequado às características multimídia
da web e das outras plataformas digitais que existem ou venham a ser criadas.
Estamos navegando por águas nunca dantes navegadas. O jornalismo nunca viveu
uma era de tantas incertezas sobre o seu futuro. Mas uma década de jornalismo digital
ainda é muito pouco tempo. Estamos apenas começando nossa jornada pelo vasto
oceano virtual que a Internet nos oferece. Como diria Fernando Pessoa, “navegar é
preciso”.
Referências bibliográficas
Alves, R. C. (2001) ‘The future of online journalism: mediamorphosis or mediacide?’, Info: The journal of
policy, regulation and strategy for telecommunication, information and media, Vol. 3 #1, Cambridge:
Camford Publishing.
Fidler, R. (1997) Mediamorphosis, Thousand Oaks, Ca: Understanding New Media Pine Forge Press.
Kovach, B. & and Rosenstiel, T. (2001) The Elements of Journalism: What newspeople should know and
the public should expect, New York: Crown Publishers.