Este documento analisa os elementos utilizados pelos jornais sensacionalistas Super Notícia e Aqui na elaboração de suas capas. Ele discute como esses jornais abordam notícias de forma a atrair leitores, analisando especificamente os títulos, temas e apresentação visual das capas desses veículos. O documento busca entender se esses jornais realmente podem ser considerados sensacionalistas.
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FABIANO SILVEIRA FRADE
A ATRAO DOS JORNAIS SENSACIONALISTAS:
Uma anlise dos elementos utilizados pelos jornais Super Notcia e Aqui na elaborao de suas capas
Belo Horizonte
2006
FABIANO SILVEIRA FRADE
A ATRAO DOS JORNAIS SENSACIONALISTAS: Uma anlise dos elementos utilizados pelos jornais Super Notcia e Aqui na elaborao de suas capas
Monografia apresentada ao Curso de Comunicao Social, do Centro Universitrio de Belo Horizonte UNI-BH, como requisito parcial para obteno do ttulo de bacharel em J ornalismo.
CAPTULO 1 - A IMPRENSA E O SENSACIONALISMO...........................................06
CAPTULO 2 - O SENSACIONALISMO NOS J ORNAIS BRASILEIROS E OS J ORNAIS SUPER NOTCIA E AQUI................................................................................22
CAPTULO 3 - ANLISE DOS J ORNAIS SUPER NOTCIA E AQUI..........................37
Entende-se que o interesse pela narrao dos fatos, utilizando meios variados, est intimamente associado prpria histria da humanidade e dos usos da linguagem. Nesse sentido, o jornalismo destaca-se ao mobilizar cdigos e signos lingsticos, tornando-se, portanto, uma prtica discursiva. Todos os tipos de jornalismo impresso ou televisivo- apresentam caractersticas que variam conforme os objetivos dos diferentes jornais. Dentre esses, alguns se destacam pelo apelo sensacionalista. Em geral, o termo sensacionalismo refere-se s aes e narrativas que buscam provocar sensaes, e no jornalismo, especificamente, indica audcia, irreverncia e, muitas vezes, a inverso da realidade, no que diz respeito emisso e tratamento das notcias. Considerando essa forma de expresso jornalstica, o trabalho apresentado tem como objetivo verificar o processo de construo dos elementos textuais, temticos e grficos na elaborao das capas dos jornais impressos Aqui e Super Notcia, ambos considerados publicaes sensacionalistas. O Super Notcia, publicado pela Sempre Editora, surgiu no ano de 2003, e prope linha editorial que privilegia manchetes atrativas, notcias reduzidas, assuntos como esporte e violncia, alm da prestao de servios pblicos. J o jornal Aqui, publicado pelo grupo Associados Minas, publicao mais recente, cujo surgimento est ligado ao sucesso do Super Notcia, apresentando, portanto, caractersticas equivalentes quanto forma e o contedo. Sua primeira edio deu-se no ano de 2005 e, desde essa ocasio, circula diariamente em Belo Horizonte e na regio metropolitana. 5 O interesse pelo estudo de tais publicaes baseia-se na importncia de desvendar as prticas jornalsticas adotadas por esses jornais, em princpio, capazes de promover a aceitabilidade do pblico-leitor e atingir nveis elevados de venda, em comparao performance atual de jornais tradicionais. Em razo dos seus formatos e das formas de veiculao das notcias, o Super Notcia e o Aqui tm sido considerados publicaes sensacionalistas pela opinio corrente. A pesquisa em questo tem por finalidade averiguar a exatido desse pressuposto e, a partir disso, estabelecer a discusso de aspectos subjacentes a ele. Nessa perspectiva, sero considerados, principalmente, os ttulos presentes nas capas, sua relao com o texto, a apresentao esttica do jornal, assim como a forma de abordagem dos assuntos e os critrios de noticiabilidade. Alm disso, a importncia desta pesquisa relaciona-se necessidade de conhecer veculos de natureza diferenciada e compreend-los, de modo a romper com julgamentos pr- concebidos. O sucesso quanto vendagem e circulao dos jornais referidos tambm foi fator determinante na escolha do tema e dos objetos a serem trabalhados nesse estudo. No que diz respeito apresentao, esta pesquisa encontra-se organizada em trs captulos, sendo eles: A imprensa e o sensacionalismo; O sensacionalismo nos jornais brasileiros e os jornais Super Notcia e Aqui e o captulo Anlise das capas dos jornais Super Notcia e Aqui. Por fim, na concluso, sero apresentadas as impresses gerais obtidas por meio da pesquisa, no que diz respeito s caractersticas dos jornais em questo e ao suposto sensacionalismo praticado por eles.
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1 A IMPRENSA E O SENSACIONALISMO
O jornal configura-se, dentre os meios de comunicao diria, como um dos veculos de maior aceitabilidade. As pessoas recorrem aos jornais em busca de informaes sobre assuntos distintos: poltica, economia, educao, esporte, lazer, dentre outros. Embora o projeto da modernidade tenha possibilitado a criao de formas miditicas de diversas naturezas, a modalidade impressa de jornal ainda de grande apelo popular, constituindo-se como um dos principais instrumentos de comunicao da imprensa nacional. Ao longo dos anos, as prticas jornalsticas se modificaram e atualmente podem ser identificados modelos jornalsticos diferentes. Alm disso, de acordo com Muniz Sodr (1996), a imprensa foi, paulatinamente, assumindo posies de poder, seja pela possibilidade de denunciar ocultamentos e irregularidades na sociedade ou pela capacidade de suscitar ou defender causas pblicas. Contudo, entende-se que este poder da imprensa apresenta caractersticas de natureza intrnseca, haja visto o seu compromisso moral com a verdade pblica. Segundo o referido autor, esse aspecto interno da imprensa supera o poder advindo dos vnculos dos veculos de comunicao com a estrutura de poder estabelecida socialmente. A imprensa nunca foi o nico meio a servio das causas exclusivamente pblicas, e as linhas editoriais dos jornais, em grande parte, se aliaram aos interesses daqueles grupos econmicos ou polticos a que apoiavam. Mesmo assim, a partir do sculo XIX, a imprensa j se apresentava como um elo fundamental entre a sociedade e o Estado. A legitimidade jurdico-racional do Estado tipo bsico adequado, segundo Max Weber, ao Estado liberal era reafirmada na sociedade civil por uma mentalidade tipogrfica, que priorizava o uso racional das faculdades mentais e estimulava formas objetivas de discusso pblica. (SODR, 1996:68)
7 A condio da imprensa moderna, portanto, cria uma relao especfica dos veculos de comunicao com o Estado e a sociedade. Apresentando-se como instrumento de livre circulao das idias e opinies, a imprensa passa a ceder espao para outras foras de poder, alm da estatal. Ela, ento, informa a sociedade civil sobre as omisses e as corrupes do Estado, mas, concomitantemente, expe esse mesmo pblico aos mecanismos de controle do Estado. Os meios de comunicao de massa podem ser descritos como o lugar ideal para a construo de uma realidade ou para a tentativa de moldagem ideolgica do mundo, fazendo- o de maneira relativamente autnoma. A relativa autonomia produtiva dos media e as singulares estratgias de negociao simblica que mantm com seus pblicos no os deixam tornar-se mecnicas caixas de ressonncia das empresas e Estado. Mediaes complexas intervm na elaborao de seus cdigos tecnoculturais. (SODR, 1996: 72)
Contudo, Sodr (1996) considera que o acesso informao est intimamente associado situao econmica do usurio. Em qualquer discurso, a informao um produto venda, uma estratgia avanada de atribuio de valor. Ento, na sociedade contempornea, a mdia e as indstrias culturais podem estimular o consumo de informaes em massa, criando a expectativa de que por meio deste caminho alcanar-se- a democracia social. De acordo com Clvis Barros Filho (1995), as atuais formas de elaborao do contedo jornalstico rompem com aquelas produzidas no passado. At a dcada de 1920, no era usual o questionamento quanto objetividade jornalstica. Entretanto, com o advento de grandes revistas e do jornalismo dito interpretativo, passou-se a discutir as intenes de se retratar fielmente a realidade. Nessa mesma ocasio, surgem as tcnicas do lead e da pirmide invertida 1 , que serviam como meios para destacar o fato jornalstico, buscando, a princpio, melhor interao com o leitor, chamando sua ateno.
1 Segundo Luiz Amaral (1987) o lead definido, tradicionalmente, como a abertura, a parte mais importante da matria jornalstica; trata-se do pargrafo sinttico, que deve procurar responder s tradicionais perguntas: o qu?, quem?, quando?, onde?, como? e por qu? J a pirmide invertida a tcnica de redao dominante no 8 Para Barros Filho (1995) a escolha do tema, do lxico, e o posicionamento diante da temtica, na hierarquia das informaes, representam risco para aqueles sujeitos envolvidos na produo miditica. Dessa forma, o uso de tcnicas precisas de descrio do real, ao retirar do jornalista parte do seu poder de manobra como codificador, retira-lhe tambm parte de sua responsabilidade. No o reprter quem fala ou escreve, e sim a realidade por ele espelhada. (BARROS FILHO, 1995:25)
Neste sentido, torna-se vlido destacar a crena na objetividade como forma de emisso de mensagem, que, s vezes, tem seu sentido associado ao conceito de informao. Contudo, a idia de informao, bem como a de comunicao, permitem muitas abordagens. A palavra informao, na lngua portuguesa, polissmica e possui pelo menos trs significados diferentes, sendo eles: os dados, as notcias jornalsticas e o saber numa perspectiva geral. Na concepo de Barros Filho (1995), a comunicao implica o ato de sugestionar uma produo composta de subjetividade, e a informao, por sua vez, diz respeito ao contedo propriamente dito. Para o autor, essa diferenciao marginaliza a subjetividade inerente construo da mensagem no processo comunicativo e supe que a informao, entendida como a materialidade da mensagem, seja desprovida de subjetividade. Outra distino, entendida pelo autor como pertinente, aquela relacionada ao conceito de factualidade e imparcialidade. Ele apresenta a factualidade como os aspectos cognitivo-informativos, enquanto que a imparcialidade se mantm no nvel dos aspectos avaliativos. Dessa observao, surgem trs medidas previstas pela objetividade informativa: o valor da informao, a legibilidade informativa e a checabilidade.
jornalismo h mais de 100 anos, que consiste na hierarquizao das informaes das mais para as menos importantes.
9 O valor da informao est ligado densidade, ou seja, proporo de aspectos informativos relevantes em relao totalidade de informaes; proporo quantitativa entre o nmero de diferentes aspectos citados e o total de possibilidades, profundidade, referente aos elementos mencionados que podem auxiliar a explicao dos pontos bsicos. J a legibilidade diz respeito ao grau de redundncia de um texto, de acordo com dois critrios: o da incidncia dos fatos e o da clareza da exposio desses acontecimentos. Com isso, a legibilidade garante a clareza junto ao destinatrio, ou seja, quanto maior for a especificidade, melhor ser o processo de decodificao. A checabilidade, por sua vez, diz respeito quantidade de unidades informativas em um texto. Acredita-se que quanto maior elas forem, mais factual e objetiva ser a produo textual. A objetividade , aparentemente, a caracterstica preponderante do texto informativo em razo da estrutura, da escolha lexical, dos limites da produo e da sua posio entre os demais produtos miditicos. Assim, clareza na exposio, elaboraes estruturais simples, limitao lexical e atualidade dos temas so algumas das caractersticas do jornalismo informativo, as quais, supostamente, lhe conferem o efeito desejado. Contudo, A contemporaneidade do tema em relao ao produto comea a justificar sua presena e, de certa forma, ajuda a camuflar o processo arbitrrio de seleo. Para o receptor o tema foi abordado, entre outras razes, porque atual e no porque foi eleito pelo editor entre outros temas atuais possveis. (BARROS FILHO, 1995: 75)
As formas de divulgao das notcias e o contedo de um veculo definiro a real pretenso de um veculo. O compromisso do jornalista em relao confeco da informao jornalstica, e a forma como ela se encontra inserida no jornal, pode, de certa forma, demonstrar o posicionamento tico do veculo. Os critrios de elaborao da notcia, expostos at aqui, marcam a produo jornalstica ideal. Percebe-se, entretanto, que muitos produtos jornalsticos, sobretudo os de natureza popular, adotam linha editorial repleta de exageros na divulgao das notcias e 10 utilizam outros recursos para atingir o pblico, tais como o apelo ao entretenimento, ao assistencialismo, s denncias, prestao de servios, violncia, ao sexo e superexposio das pessoas envolvidas em determinadas notcias, configurando, assim, a prtica do sensacionalismo na imprensa. Etimologicamente, o termo sensacionalismo significa: S. m. 1. Divulgao e explorao, em tom espalhafatoso, de matria capaz de emocionar ou escandalizar. 2. Uso de escndalos, atitudes chocantes, hbitos exticos, etc., com o mesmo fim. 3. Explorao do que sensacional (3), na literatura, na arte, etc.
O sensacionalismo pode ser entendido como uma produo noticiosa que vai alm do real e superdimensiona o fato e, por isso, muitas vezes, tem a credibilidade discutvel. No nvel da linguagem, adota-se um tom coloquial exagerado, que alm de negar a busca neutralidade, incita o leitor a se envolver emocionalmente com o texto. A prtica jornalstica sensacionalista instituiu-se primeiramente em pases como a Frana e os Estados Unidos, sendo que, no final do sculo XIX, parte da imprensa desses pases apresentava caractersticas prprias s das chamadas imprensa amarela, veiculando manchetes escandalosas, uso abusivo de ilustraes, entrevistas falsas e a imprensa marrom, que diz respeito quelas publicaes que adotam procedimentos no-confiveis na divulgao das notcias. Na Frana, os jornais populares, os quais apresentavam apenas uma pgina, eram chamados decanards 2 . De acordo com Mrcia Franz Amaral (2006), os de maior repercusso eram aqueles que narravam histrias de catstrofes e de atos de violncia, sendo que os primeiros jornais franceses, lanados entre 1560 e 1631, tais como Gazette de France e Nouvelles Ordinaires, apresentavam caractersticas similares s dos jornais sensacionalistas atuais e traziam informaes fantsticas. Ainda segundo a autora, em 1836, dois jornais inauguraram, de fato, a imprensa popular francesa: o La Presse e o Le Sicle.
2 Segundo Mrcia Franz Amaral (2006), esse termo significa conto absurdo ou fato no-verdico. 11 Nos Estados Unidos, o primeiro jornal, surgido em 1690, cujo nome era Publick Occurrences, j apresentava caractersticas sensacionalistas. Mas foi no final do sculo XIX que o sensacionalismo se efetivou na imprensa, com a popularizao dos jornais por intermdio do aperfeioamento das tcnicas de impresso, da expanso do telgrafo e das redes de cabos submarinos, do desenvolvimento do telefone e do surgimento dos anncios. Com o telgrafo, passou a ser possvel que o jornal publicasse as notcias do dia. A criao do sistema de ensino pblico tambm foi importante para criar um pblico leitor de jornais. (AMARAL, 2006:17)
Nesse pas, muitas publicaes que se dedicavam cobertura de assuntos relacionados poltica passaram a tratar de temas como relatos detalhados de feitos reais, crimes e dramas de famlia. Os jornais buscavam, assim, retratar o cotidiano da populao. O slogan do jornal Publick Occurrences dizia que aquela era uma publicao que brilhava para todos e que se destinava aos mecnicos e s massas em geral. (AMARAL, 2006:17) No entanto, o marco do jornalismo sensacionalista norte-americano foi a dcada de 1880, a partir do lanamento dos jornais New York World e Morning Journal. Esses publicavam manchetes escandalosas, evidenciadas pelo corpo tipogrfico, informaes distorcidas, falsas entrevistas e artigos superficiais. Amaral (2006) destaca que, no Brasil, as primeiras caractersticas de sensacionalismo so percebidas a partir de 1840, nos folhetins 3 . Para os estudiosos do tema, a expresso polmica. Amaral (2005) considera que o sensacionalismo pode ser considerado um conceito errante, tanto por suas insuficincias, quanto por suas generalizaes (AMARAL, 2005: 5). Segundo ela, o sensacionalismo tem sido utilizado para caracterizar vrias estratgias de mdia, como a superexposio do interesse pblico, a explorao do sofrimento humano, a simplificao, a deformao, a banalizao da violncia, da sexualidade e do consumo, a ridicularizao das pessoas
3 Segundo Nincia Ceclia Ribas Borges Teixeira (2005), o folhetim era o espao plural, na forma impressa, que abrigava uma srie de textos voltados ao entretenimento, tais como crnicas, romances e contos.
12 humildes, o mau-gosto, a ocultao de fatos pblicos relevantes, a fragmentao e descontextualizao do fato, o denuncismo, dentre outras. Em geral, o sensacionalismo est ligado ao exagero, intensificao, valorizao da emoo, explorao do extraordinrio, valorizao de contedos descontextualizados, troca do essencial pelo suprfluo ou pitoresco e inverso do contedo pela forma. So muitas as formas de popularizao da mdia costumeiramente tratadas sob o rtulo de sensacionalista. ( AMARAL, 2006: 21).
Para Amaral (2006), habitualmente, o rtulo sensacionalista est relacionado aos jornais e programas que destacam a violncia. Contudo, a autora salienta que o sensacionalismo pode ser processado de diversas formas. Ela afirma que todo jornal , em parte, sensacionalista, uma vez que visa atrair a ateno do leitor e, por conseginte, alcanar boa vendagem, lanando mo, muitas vezes, dos recursos identificados com a prtica sensacionalista. O jornalista Alberto Dines, citado por Amaral (2006), tambm destaca que o processo sensacionalista ocorre em toda a imprensa, lembrando que o prprio lead se mostra como um recurso dessa prtica, por realar os elementos mais instigantes da notcia, na busca da ateno do leitor. Ele divide o sensacionalismo em trs grupos: o grfico, o lingstico e o temtico. O primeiro ocorre quando h distanciamento entre a importncia do fato e o destaque dos elementos visuais; o segundo baseia-se no uso de determinadas palavras, e, por fim, o temtico caracteriza-se pela busca de emoes e sensaes, sem levar em considerao o compromisso social da matria jornalstica. J Rosa Nvea Pedroso (2001) considera que o sensacionalismo consiste em um modo de produo discursiva das informaes definido por critrios de intensificao e exagero grfico, temtico, lingstico e semntico, contendo em si valores e elementos desproporcionais, destacados, acrescentados ou subtrados no contexto de representao e construo do real social (PEDROSO, 2001:122). 13 Segundo a autora, o discurso do jornal sensacionalista se transforma em discurso de seduo, haja vista a ambivalncia do significado das palavras empregadas e a forma de utilizao da linguagem jornalstica. Pedroso (2001) comenta ainda que as estratgias sensacionalistas utilizadas na construo do fato seguem o critrio de seleo de aspectos plausveis da vida, para assim suscitar o interesse e estimular a ateno do leitor. Esse modo de cativar/seduzir/encantar o leitor buscado no efeito de fantstico, que inspira admirao, medo, curiosidade pelo real exagerado e engendrado discursivamente como extravagante, mas verossmil. Isso permite a prtica do absurdo no jornalismo, porque o consumo do discurso exige que o fato esteja preso a uma iluso mesmo que imperfeita e enganosa da realidade. (PEDROSO, 2001:112- 113).
Se em termos gerais, toma-se o jornalismo sensacionalista como aquele que representa e possibilita a explorao dos temas de forma exagerada, Danilo Angrimani (1995) destaca que o termo sensacionalismo comumente o principal adjetivo utilizado por um leitor para condenar um jornal. Nesse sentido, a palavra sensacionalista tomada, muitas vezes, para inferiorizar ou at mesmo ridicularizar uma publicao jornalstica. O autor ressalta que o sensacionalismo refere-se s situaes julgadas como exageradas, alm de representar no apenas audcia, irreverncia e questionamento, como tambm equvoco na apurao dos fatos, distoro da realidade e agressividade. Alguns temas so freqentes e supervalorizados nos veculos sensacionalistas. Assim, tem-se a morte, utilizada como assunto de capa e um meio de valorizao editorial da violncia. De acordo com Angrimani (1995), a representao desse discurso, na imprensa, d- se mediante a apropriao do valor simblico do sangue. As publicaes que aderem a esse discurso percebem que a violncia e a morte interessam a todas as pessoas, independentemente do nvel cultural e econmico. Sendo assim, compreende-se que tanto o leitor do jornal sbrio, quanto aquele que prefere o sensacionalismo, se interessa pelo crime, pelo rapto, pelo acidente, pela catstrofe. O que vai fazer com que o mercado se divida e haja um pblico exclusivo para o veculo sensacionalista a linguagem, a linguagem editorial 14 que a forma de se destacar uma foto, tornar o texto mais atraente, enfim, a busca de um equilbrio entre ilustrao e texto, alm da preferncia por matrias originadas de fait divers, em detrimento de temas poltico- econmico-internacionais que servem como estmulo predominante ao jornal informativo comum. (ANGRIMANI, 1995:54)
Portanto, um dos aspectos importantes que difere o jornal sensacionalista de outros informativos no s a valorizao editorial da violncia como a forma de trat-la. O assassinato, o suicdio, o estupro, a vingana, a briga, as situaes de conflito, a agresso sexual e a tortura so acontecimentos que ganham destaque nesse tipo de jornal. Outro aspecto priorizado pelo sensacionalismo diz respeito s formas de abordagem de comportamentos sexuais e prticas desviantes. Assim, so temas marcantes, na produo sensacionalista, o homossexualismo, tratado de maneira preconceituosa, marginalizante, ofensiva e retrgrada, e o fetiche, traduzido na banalizao da figura feminina e na explorao de determinados cones a ela ligados. Podemos considerar que, subjacente a tudo isso, existe ainda nessas publicaes o estmulo ao voyerismo 4 . Quanto ao homossexualismo, Angrimani (1995) destaca que a abordagem editorial sobre o homossexual, vtima de crime, a da inverso, ou seja, por mais que este tenha sido assaltado, roubado, estuprado, assassinado, a culpa ainda recai sobre ele, que visto como anormal, transgressor e degenerado. J a fetichizao da mulher assume papel relevante no jornal sensacionalista, servindo, muitas vezes, como recurso que favorece o processo de vendagem. Nesse tipo de publicao, coloca-se, preferencialmente, a mulher, de maneira estratgica, na capa, associando-a a uma manchete escandalosa. Contudo, a figura feminina caricaturizada e fetichizada. A esse respeito, Angrimani (1995) comenta que
4 Segundo o documento eletrnico Brevirio de las Definiciones Sexuales, disponvel em http://usuarios.lycos.es/doliresa/index-25.html , o voyerismo diz respeito prtica em que a mulher ou o homem excita-se em ver ou assistir a outras pessoas em roupas sensuais, ntimas, em contato ertico ou sexual, preferencialmente em locais pblicos. Trata-se, portanto, de um transtorno psicossexual em que o sujeito obtm a excitao e o prazer ertico observando, clandestinamente, as pessoas que esto despidas ou os pares durante a prtica de atos sexuais. 15 A mulher fetiche do jornal sensacionalista vem envolta em lingerie, sapatos de salto alto e adereos (chapus, capas, luvas). Sob essa cobertura de smbolos flicos, essa mulher _ que no mais a mulher _ engedra uma inverso perversa: est numa posio de idolatria, mas nessa investidura no mais um indivduo, e sim aquilo que falta, pea sobressalente, aparelhagem. Objeto de culto de uma religio privada, a mulher fetiche deslocada do real. Perde contato com o social e se transfere para o imaginrio, onde passa a existir como relquia, coisa sagrada, no limite esquizofrnico, onde os espaos da realidade e da representao parecem se juntar promiscuamente. (ANGRIMANI, 1995: 73)
Assim, a nudez de certas partes do corpo, veiculada pela exposio de uma modelo, capaz de conduzir o leitor ao prazer visual. Neste sentido, Angrimani (1995) considera que o jornal sensacionalista mantm o vnculo do exibicionismo com o voyerismo. Entende-se, portanto, que os temas supervalorizados pelos veculos sensacionalistas esto associados expectativa da espetacularizao, atrao pelo chocante, pelo diferente, pelo bizarro, alm do apelo sexual. Para Guy Debord (1997), a sociedade de consumo criada pelos meios de comunicao de massa transformou-se em sociedade do espetculo. Assim, segundo o autor, o espetculo refere-se multiplicao de cones e imagens, processada pela via dos meios de comunicao bem como dos rituais polticos, religiosos, dos hbitos de consumo, exaltando tudo o que falta vida real do homem comum, a saber: celebridades, atores, polticos, personalidades, gurus, mensagens publicitrias. Isso favorece a sensao de aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. J Muniz Sodr (1975) discute a ocorrncia de influncias escatolgicas na cultura de massa por meio da apropriao do grotesco chocante 5 . Sodr (1975) lembra que existe uma tradio popular que tem fascnio por aquilo que extraordinrio e pelas aberraes. Para estudiosos como Rosa Nvea Pedroso (2001), o jornalismo sensacionalista apresenta-se como o produto da diviso entre a grande imprensa e a imprensa popular. Tal observao baseia-se na forma de apresentao do gnero: a explorao do fascnio do leitor
5 De acordo com Muniz Sodr (1975), o grotesco chocante relaciona-se divulgao de fatos exacerbadamente atrativos, tais como fatos medinicos, flagelaes, dentre outros. 16 pelo extraordinrio, pelo desvio, pela aberrao e pela aventura. Dessa maneira, este gnero jornalstico apresenta-se como aquele que apela para as emoes do leitor, apresentando os fatos dotados de caractersticas pouco comuns, msticas, sdicas, idealsticas ou monstruosas. O jornalismo sensacionalista, pela maneira prpria de engedramento discursivo, estrutura, representa e permite o acesso ao mundo da liberdade pela explorao dos temas agressivos, homicidas e aventureiros, que no podendo realizar-se na vida cotidiana, submetida lei e censura, tendem a realizar-se, projetivamente, na leitura. Isto , na realizao da construo da representao dessa realidade pelo jornal. (PEDROSO, 2001: 51)
Na tentativa de adequar a informao jornalstica s temticas e linguagens de natureza mais popular, os jornais sensacionalistas do menor espao e dedicam cobertura superficial aos temas ligados ao exerccio da cidadania, como, por exemplo, as eleies presidenciais do ano 2006 e os acontecimentos associados a elas. Em entrevista realizada com a editora do Dirio da Tarde, Leiliane Corra 6 , esse fato foi confirmado com o exemplo da compra de um dossi, supostamente comprometedor do candidato da oposio, Geraldo Alckmin. De acordo com a avaliao da entrevistada, esse acontecimento, de projeo nacional, no teve espao nos jornais Super Notcia e Aqui pelo fato de no se constituir como assunto de interesse popular. Segundo Amaral (2006), em funo da variedade de publicaes que se auto- qualificam como populares, no recomendvel fazer generalizaes, mas possvel afirmar que elas apresentam um discurso baseado no mundo do leitor. Os jornais populares constroem sua legitimidade de outros parmetros, relacionando-se de uma forma peculiar com o mundo do seu pblico leitor. Precisam falar do universo do seu pblico leitor. Precisam falar do seu pblico-alvo, adotam uma esttica pragmtica, sem levar em conta se as informaes so do mbito do privado ou do entretenimento. Alm disso, so obrigados, por interesses mercadolgicos, a utilizar determinados recursos temticos, estticos e estilsticos deslocados do discurso jornalstico tradicional. (AMARAL, 2006:57)
Aqueles jornais auto-intitulados populares baseiam-se na valorizao dos assuntos cotidianos, passveis de fruio individual, exacerbadores do sentimento e da subjetividade.
6 Entrevista realizada na sede dos Associados Minas em Belo Horizonte no dia vinte e trs (23) de setembro de 2006.
17 Os aspectos tradicionais de interesse pblico so, geralmente, ignorados; o mundo percebido de maneira personalizada e os fatos so singularizados ao extremo (AMARAL, 2006:57). Alm da linguagem peculiar, os jornais considerados sensacionalistas se apropriam daqueles contedos mais sedutores para um pblico popular. Enquanto na imprensa referncia 7 o jornalismo , sobretudo, uma forma de conhecimento, na esfera popular ele apresenta, tambm, a funo de entretenimento. Muitas vezes, o ideal da objetividade ignorado e a credibilidade instaurada por meio de parmetros alternativos, como a proximidade com o leitor e o testemunho concedido por ele. Na concepo de Amaral (2006), as notcias so frmulas similares s narrativas ou histrias marcadas pela cultura da sociedade a que pertencem. A forma de apresent-las, no entanto, est ligada aos pblicos aos quais esto direcionadas. Os acontecimentos, para se transformarem em notcias e fazerem sentido para algum, devem estar enquadradas no universo do pblico. Toda notcia uma narrativa, sejam notcias hards (importantes) ou softs (leves ou interessantes). Ambas so narrativas sobre a realidade e utilizam-se de diversos valores culturais para contar uma histria. A forma como a notcia relata o fato muda conforme o pblico para quem o veculo dirigido. (AMARAL, 2006:70)
Alguns jornais-referncia, ainda que se apropriem de recursos de popularizao similares aos populares, consideram seus leitores, pelo menos em parte, como sujeitos polticos que merecem conhecer o mundo para atuar sobre ele. J outros jornais, de carter sensacionalista, acreditam que seus leitores se interessam, exclusivamente, por histrias extraordinrias, fotos de cadveres, matrias chulas sobre sexo, notcias sobre celebridades, fofocas televisivas e prestao de servio, em detrimento do mundo poltico. Para Amaral (2006), a maioria dos jornais do segmento popular constri um leitor que depende de seu assistencialismo e que se sente atrado pelo fato de ter o seu rosto e a sua fala publicados no jornal. Segundo a autora, esses jornais se baseiam no pressuposto de que o
7 Mrcia Franz Amaral (2006) utiliza o termo referncia para designar as publicaes de carter tradicional. Esse termo ser utilizado com o mesmo sentido nessa monografia. 18 pblico necessita de muita prestao de servio, entretenimento e intermediao com o poder pblico, mediante uma concepo domstica do mundo. Contudo, para se transformar em notcia, todo acontecimento submetido ao julgamento dos jornalistas e deve apresentar determinadas caractersticas, conhecidas como valores-notcia. Os valores-notcia no se apresentam como valores fixos e se constituem como forma de organizar acontecimentos que sero transformados em notcias em cada jornal, num contexto espao-temporal especfico. Segundo Amaral (2006), na imprensa considerada como referncia, um fato apresentar a possibilidade de se converter em notcia quando: envolver indivduos representativos; causar impacto sobre a nao; implicar no envolvimento de muitas pessoas; promover relao com polticas pblicas; possibilitar o direito de exclusividade. J na imprensa popular, a autora conclui que um fato ter a probabilidade de ser noticiado se: apresentar capacidade de entretenimento; apresentar proximidade geogrfica ou cultural com o leitor; puder ser simplificado; apresentar a possibilidade de ser narrado dramaticamente; for til. Torna-se importante destacar que, entre esses, a autora destaca o entretenimento, a proximidade e a utilidade como os valores-notcia mais importantes da imprensa popular. Em termos gerais, o sensacionalismo como gnero jornalstico popular mostra-se bastante especfico e dotado de particularidades. 19 (...) esses jornais sangrentos e sensacionais so substitutos forados dos jornais que no podem ser verdadeiramente populares; (...) Como recurso para provocar sensaes fortes, sejam elas visuais, semnticas ou ideolgicas, o sensacionalismo processa-se atravs do exagero grfico, lingstico e temtico da mensagem elaborada. (DINES,1970:1421)
Os veculos adeptos desta elaborao jornalstica valorizam acontecimentos de cunho agressivo, carregados de valor emotivo, realando aspectos trgicos, cmicos e excepcionais, destacando o fabuloso, o macabro, o aberrante, o subversivo, o grotesco, o estranho, o fantstico, o ridculo, o vulgar. Um recurso muito importante nos jornais de cunho sensacionalista refere-se aos ttulos das notcias, principalmente daqueles que ocupam as capas dos jornais. Neles, os aspectos anteriormente referidos so explorados ao mximo. Os ttulos funcionam como uma forma de enunciado da lngua e das notcias, sendo a marca mais forte da articulao do jornal, j que ocupam uma regio-chave no impresso. Alm de apresentarem a funo de anunciar e classificar a notcia, eles desencadeiam uma seqncia semntica, de carter restritivo ou explicativo de uma dada informao, o que os torna sentenas autnomas. Nessa perspectiva, os ttulos podem ser compreendidos como um recurso de publicidade da edio, firmando-se como o primeiro elemento que estabelece a comunicao entre o jornal e o leitor, a qual completar-se- na leitura integral. Assim, o ttulo propicia o anncio e a classificao de um dado fato, instituindo a primeira ligao do jornal com o leitor. Contudo, uma forma de enunciao que no diz tudo, instigando a curiosidade do pblico. Desta maneira, os ttulos assumem grande representatividade nos veculos de natureza sensacionalista. Nota-se, nos ttulos das publicaes dessa natureza, o uso regular do recurso de ocultao de palavras e da ambigidade da mensagem que, alm de aumentar a curiosidade do leitor, instiga a leitura interna do jornal. Pedroso (2001) observa que o ttulo, por se apresentar 20 muitas vezes atrativo e apelativo, superficial, uma vez que, feita a leitura integral dos textos, ele perde, muitas vezes, a relao com as razes que levaram o leitor a l-lo. Percebe-se ainda, na elaborao dos ttulos de jornais sensacionalistas, uma opo de construo discursiva que privilegia um vocabulrio que faz uso de generalizaes, ambigidades e aluses a fatos conhecidos do grande pblico. Alm disso, nota-se a preferncia por palavras de sentido conotativo, em que se usa uma palavra referenciando outra por meio de uma relao ambgua. Rosa Nvea Pedroso (2001) chama a ateno para o fato de que o efeito discursivo dos ttulos produzido mediante o uso e a valorizao de critrios semnticos e lingsticos, sendo eles: a ambigidade, definida pela insinuao de um elemento que apresenta relao de contigidade com outro; a omisso, que produz o efeito de curiosidade do leitor, geralmente relacionada a uma situao ertica; a simetria de sentido, instituda por meio da utilizao ambgua dos elementos, atos ou estigmas humanos, e o jogo lingstico 8 , que produz um efeito sonoro por meio de rimas que atribuem melodia aos ttulos. De acordo com Pedroso (2001), os ttulos, nos jornais sensacionalistas, so elaborados mediante a articulao argumentativa, explicativa ou restritiva e no apresentam a preocupao em indicar provas daquilo que revelado no texto. Isto , a denncia da surpresa do texto no se prova nos ttulos, mas basta reunir todos os ndices para que a evidncia da surpresa ou falsidade dos ttulos justifique-se (PEDROSO, 2001:109). A autora considera que a construo dos ttulos nos jornais sensacionalistas, em relao ao jogo semntico-lingstico-tipogrfico, faz com que o efeito de reconhecimento ertico-chocante se imponha imediatamente. Com esse ideal de seduo, os ttulos se
8 A autora cita como exemplo desses recursos utilizados no jornal Luta: Bichas ansiosas com a troca do trambulheto por popoca; Viuvinha perdeu no palitinho (PEDROSO, 2001:77)
21 colocam, de forma intencional, flexveis livre fruio do leitor, uma vez que este se depara com o jornal exposto na banca e l a manchete. Desse modo, acreditamos que, por meio da anlise das caractersticas especficas de alguns ttulos dos jornais Super Notcia e Aqui, expostos nas capas das publicaes, torna-se possvel pensar sobre a suposta prtica sensacionalista das referidas publicaes. Todos os assuntos tratados pelos veculos de tal natureza esto, de uma forma ou de outra, veiculados elaborao dos ttulos, primeiro chamariz do pblico. Passaremos agora a tratar, especificamente, do jornalismo sensacionalista no Brasil e dos jornais em questo, para, em seguida, proceder anlise dos ttulos nas capas das edies selecionadas.
22 2 O SENSACIONALISMO NOS JORNAIS BRASILEIROS E OS JORNAIS SUPER NOTCIA E AQUI
Os jornais em questo so vistos como aqueles destinados s classes B, C e D e, por serem entendidos como jornais populares, recebem o rtulo de sensacionalistas. Essa denominao est ligada, principalmente, preferncia desses veculos, em destacar determinados temas sexo e violncia, por exemplo de forma superdimensionada, conforme vimos no captulo I. Contudo, Amaral (2006) diz que todo jornal sensacionalista, pois busca prender o leitor para ser lido e, conseqentemente, alcanar uma boa tiragem" (AMARAL, 2006:20). O sensacionalismo se manifesta em diferentes graus. Segundo Amaral (2006), caracterizar um jornal como sensacionalista afirmar, de maneira imprecisa, apenas que ele se dedica a provocar sensaes (AMARAL, 2006:22). De acordo com a autora, so vrios os rtulos concedidos aos produtos jornalsticos populares, entre os quais os de mau gosto, praticantes de distores nos fatos que se constituem como meras mercadorias. Para Amaral (2006), grande parte das crticas acerca da imprensa popular apia-se no argumento de que so jornais feitos usando unicamente o mercado. Contudo, ela refuta essa premissa e afirma que qualquer jornal produzido para um mercado especfico, seja ele popular ou de elite; alternativo, de oposio ou sindical; que vise ao lucro ou no. De acordo com a autora, o que acontece que o pblico-leitor dos jornais-referncia apresenta um nvel de escolaridade e de exigncia mais alto, o que permite que esses jornais tenham maior qualidade. Em contrapartida, a autora comenta que, nos jornais populares, os princpios tradicionais do jornalismo so mais facilmente desconsiderados, uma vez que eles so feitos para um pblico de menor escolaridade e so, tambm, mais vulnerveis ao mercado 23 publicitrio j que no contam com a distribuio por meio da dinmica de assinaturas. Com isso, a imprensa popular busca, constantemente, satisfazer os leitores. Portanto, seus produtos jornalsticos precisam estabelecer conexo com seu pblico, pois so dependentes de um mercado bastante mutvel. muito mais difcil vender jornal para quem tem baixo poder aquisitivo e pouco hbito de leitura (AMARAL, 2006:52). O jornalismo de referncia fala, sobretudo, com o leitor interessado no mundo pblico. preciso compreender que todos os grandes jornais movem-se pelos interesses comerciais, mas os jornais de referncia, para terem sucesso comercial, precisam antes de tudo ter credibilidade e prestgio perante os formadores de opinio. E por isso ainda obedecem a certos padres ticos. A cobertura de poltica no vende jornal, mas o que seria de um jornal auto-intitulado de qualidade, dirigido a formadores de opinio, que ignorasse o mundo do poder? (AMARAL, 2006:55)
Por outro lado, as prticas sensacionalistas podem significar tanto o uso de artifcios inaceitveis para a tica jornalstica, como uma estratgia de comunicabilidade com seus leitores. Assim, para Amaral (2006), o sensacionalismo utiliza diversas estratgias, e por essa razo no vivel defini-las em um nico conceito. Desta forma, a autora garante que mais adequado caracterizar esse segmento da imprensa como popular do que como sensacionalista. Na concepo de Amaral, o que se percebe que o jornalismo convencional dedica-se produo de conhecimentos sobre o cotidiano e os jornais populares privilegiam tambm os sentimentos das pessoas sobre o mundo, mas no se restringem produo de sensaes por meio de matrias policiais. Alm disso, ela considera que, atualmente, esses jornais se preocupam com que o leitor se sinta integrado a uma determinada comunidade, percebendo que o jornal faz parte do seu mundo. Assim, de acordo com a autora, o sensacionalismo ainda existe, principalmente por meio da exacerbao dos fatos relatados, mas um conceito insuficiente, uma vez que generalista e despreza caractersticas importantes dos novos jornais populares. O fato de os jornais considerados sensacionalistas necessitarem sobreviver mercadologicamente entre um pblico de baixa escolaridade e com pouco hbito de leitura 24 exige desses grande aproximao com os leitores. Para atender a essa premissa, so utilizados, nessas publicaes, recursos que provocam distanciamento grfico, lingstico e temtico da imprensa considerada de qualidade ou de referncia. Segundo Amaral (2006), um aspecto importante do jornalismo popular conhecer o seu pblico-alvo, tal como ocorre nos jornais-referncia. Contudo, essa identificao do leitor no implica, necessariamente, em subordinar-se completamente aos seus interesses. Dessa forma, fazer jornalismo popular requer vigilncia por parte do profissional que produz a notcia, o qual deve pensar sempre em seu possvel leitor. De acordo com a autora, a inteno no deve ser a de noticiar apenas aquilo que, aparentemente, interessa ao leitor, mas a de ser simples, didtico, utilizando linguagem prxima da populao que constitui seu pblico. De acordo com Amaral (2006), desde a dcada de 1980, a imprensa vem sofrendo transformaes em meio s quais a tecnologia se mostrou decisiva. Muitas estratgias de marketing so adotadas com o objetivo de aumentar as vendas. Com isso, o pblico-leitor passa a ser entendido como consumidor e, nesse momento, surge, dentre outras estratgias, a distribuio de brindes. No entanto, a necessidade de aumentar a circulao dos jornais sobrepe-se, geralmente, ao compromisso de exercer o papel social da imprensa e por isso que se concebe a idia de que um suposto interesse do leitor priorizado em relao ao interesse pblico. O contedo desses jornais se faz de textos curtos, com prestao de servio e entretenimento. Ao aproximar-se de um pblico com baixo poder aquisitivo e pouco hbito de leitura, esses jornais, freqentemente, desprezam o dito bom jornalismo para, simplesmente, agradar ao leitor. Na maioria das vezes, optam por agregar valor s notcias e reportagens e se dedicam s estratgias de marketing tais como a distribuio de brindes e ao destaque ao 25 entretenimento e fofocas televisivas. Muitas dessas publicaes caracterizam-se, ainda, pelo assistencialismo, partindo do princpio de que o leitor popular no tem interesse pelos temas polticos e econmicos, e, outras vezes, por uma relao demaggica ou populista com o leitor. Segundo Amaral (2006), grandes grupos de comunicao, proprietrios de redes de jornal, rdio e televiso, apostaram no segmento popular da imprensa, como o Grupo Folha de S. Paulo (Agora So Paulo), a Infoglobo (Extra e Dirio de S. Paulo), o Grupo Estado (Jornal da Tarde) e a Rede Brasil Sul (Dirio Gacho). Neste sentido, no cenrio brasileiro, vrios jornais marcaram suas trajetrias pela relao que estabeleciam com os setores populares. Dentre eles, podemos destacar: Folha da Noite (So Paulo, 1921-1960), ltima Hora (Rio de J aneiro, 1951-1964), O Dia (Rio de janeiro, 1951 at os dias atuais), Luta Democrtica (Rio de J aneiro, 1954-1979) e Notcias Populares (So Paulo, 1963-2001). De algum modo, estes veculos serviram como intermdio entre o povo e o governo, faziam propagandas polticas e publicavam reivindicaes populares. Dentre esses jornais, torna-se relevante ressaltar o Notcias Populares. Amaral (2006) afirma que, em seu surgimento, o Notcias Populares apresentava mais interesses polticos do que econmicos. Tal publicao apostava na atrao por meio das manchetes, destacando acontecimentos dos bairros. Paulatinamente, passou a priorizar as editorias de polcia e de esportes. Dentre as inovaes institudas por esse jornal, destaca-se a cobertura da vida de artistas, da economia popular e do cotidiano paulista. Contudo, aps o golpe militar, tornou-se desnecessrio manter como arma poltica um jornal que oferecia prejuzo econmico, o que promoveu a transformao do mesmo. A partir da sua venda ao grupo paulista que j mantinha um jornal popular, o Folha da Manh, o Notcias Populares comeou a adquirir um formato em que se privilegiavam os 26 casos de polcia, o esporte e matrias relacionadas ao sexo. Foi, portanto, esse novo projeto jornalstico que resgatou a aceitabilidade do jornal. No ano de 1971, o jornal comeou a apresentar caractersticas de comicidade, enquanto divulgava, com tom exagerado, fatos ligados ao crime e ao sexo. J na dcada de 1990, mostrava-se bastante diferente, interessado em prestao de servios, bem como na economia popular, o que no o isentou do rtulo de sensacionalista, embora as matrias inventadas ou de carter duvidoso tivessem sido proibidas. Nessa ocasio, o Notcias Populares comeou a adaptar modelos televisivos, dando total prioridade para a combinao sensacionalista de sexo e fofoca. Nesse sentido, torna-se importante destacar algumas manchetes divulgadas nesse jornal: Churrasco de vagina no rodzio do sexo, Mulher mais bonita do Brasil homem, Mulheres mostraram de tudo no carnaval, Broxa torra o pnis na tomada, A morte no usa calcinha, Kombi era motel na escolinha do sexo, Milene engravida na 1 bimbada, Eu transei com o Ronaldo na 5 feira. Aos poucos, o leitor comeou a rejeitar os exageros mantidos pelo jornal, preferindo reportagens de servios, obrigando a publicao a se transformar em meio de divulgao contra a corrupo, cobertura de eleies e prestao de servios, como sees de direitos trabalhistas, sade e sexo. No ano de 1998, o jornal Extra lanado pelas Organizaes Globo, do Rio de J aneiro, e o Grupo Folha, que at ento mantinha o Notcias Populares, cria o Agora So Paulo. Em concorrncia com o Agora, o Notcias Populares abordava economia popular, cidade, esporte e fofocas televisas, mas acabou sendo abandonado pelo Grupo Folha. A justificativa para tal deciso foi publicada na ltima edio do Notcias Populares, em 20 de janeiro de 2001: Obrigado, Leitor Voc est recebendo a ltima edio do Notcias Populares. A empresa que edita os jornais Agora So Paulo e Notcias Populares decidiu concentrar seus esforos editoriais em somente um produto popular, o Agora So Paulo, que a partir de amanh passa a circular em todo o Estado. 27 Lanado em 15 de outubro de 1965, o Notcia Populares viveu muitas glrias em seus 37 anos de vida. Foi a marca registrada do jornalismo popular brasileiro. Revolucionou com assuntos polmicos, textos curtos, uso de grias, ttulos e fotos grandes. O sucesso dessa frmula de jornalismo foi parcialmente copiado e transferido para a TV em telejornais como o Aqui Agora e at em programas de auditrio com grande audincia, como os do Ratinho, Gugu e Fausto. As informaes que o leitor pagava para ler no jornal passaram a chegar gratuitamente em sua casa, pela TV. O Notcias Populares teve uma queda significativa em suas vendas, o que praticamente inviabiliza hoje a elaborao de um produto com qualidade que voc, leitor, merece ter. O projeto editorial do NP, baseado na denncia da violncia na periferia da Grande SP, nas informaes sobre sexo e nas fotos de mulheres em poses provocantes, hoje ultrapassado para um jornal impresso.
Com esta declarao, o grupo anuncia o fim do Notcias Populares e convida os leitores para lerem o Agora So Paulo, que, na verdade tinha, a proposta editorial bastante semelhante ao NP. Enquanto no ano de 2001 se encerrava o ciclo da publicao popular com uma histria permeada pelo sucesso e por polmicas, um ano antes surgiu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o Dirio Gacho, publicado pela Rede Brasil Sul. No que diz respeito circulao, pode-se dizer que se trata do maior jornal popular de todos os tempos, perdendo apenas, nos dias teis, para a publicao carioca Extra. Grande parte do jornal tem o objetivo de estabelecer vnculo com as camadas populares. Assim, seus leitores so, preferencialmente, pertencentes s classes B, C e D e se constituem na principal fonte de informao. As pautas mais freqentes dizem respeito cobertura do atendimento sade, ao mercado de trabalho e segurana pblica. O Dirio Gacho polmico pelo seu assistencialismo e populismo, pelos textos pequenos e pelo fato de no informar aos seus leitores sobre vrios debates nacionais importantes. O jornal se apresenta em formato tablide e, da mesma forma que a maioria dos jornais populares, tem como uma de suas estratgias de atrao a realizao de promoes. Por meio dessas, o leitor junta os selos publicados na capa, rene-os numa cartela e os troca por brindes. 28 O Dirio Gacho criou uma frmula particular de abordar o mundo do leitor, cedendo um espao especfico fala do pblico, instituindo um tom demaggico e se afastando das regras do bom jornalismo ao priorizar o entretenimento e o assistencialismo. A histria do jornalismo dito popular em Minas Gerais bastante recente. Atualmente, circulam, diariamente, os jornais Super Notcia e Aqui, os quais tm um sistema de distribuio em vrias cidades. Esses se constituem como publicaes populares, haja vista seus formatos e as formas de propagao das notcias. Dentre as principais caractersticas desses veculos, destaca-se a apropriao de uma linguagem editorial que faz uso do exagero, de relaes ambgas no anncio das notcias veiculadas e a simplicidade na elaborao das notcias. O Super Notcia, surgido no ano de 2003, foi influenciado pelo sucesso do Dirio Gacho, no que diz respeito linha editorial. Trata-se de publicao da Sempre Editora, que tem alcanado altos nveis de vendagem, segundo a empresa, atingindo mdia diria de circulao de 79.379, configurando-se como o mais vendido no estado de Minas Gerais. O tablide, que veicula informaes variadas e manchetes vibrantes, prope matrias curtas, destacando o noticirio esportivo, os assuntos da capital mineira e aqueles referentes s celebridades, alm de espao reservado comunidade. De acordo com a jornalista responsvel pelo surgimento do Super Notcia, Liliane Corra, a proposta editorial do jornal era avanada, em todos os sentidos, mas a proposta empresarial no o era. Ocorre que a publicao nunca foi valorizada pela Sempre Editora como algo que pudesse conquistar mercado. Segundo Liliane Corra, faltava, inicialmente, uma proposta de marketing mais agressiva que permitisse s pessoas o reconhecimento da existncia do jornal. A publicao encontrava-se voltada para as classes populares e, aos poucos, ia conseguindo adequar-se realidade mineira, mesmo havendo barreiras impostas 29 pela administrao do jornal, que pretendia instituir o mesmo padro assumido pelo Dirio Gacho. Corra acredita que o perfil do leitor se modifica de acordo com o estado ou regio. Segundo ela, o fato de uma publicao ser sucesso em um lugar no certeza de que seja em outro. Ela ressalta que, em relao criminalidade, por exemplo, o leitor mineiro recrimina fotos em que h sangue exposto. Em contrapartida, ele gosta de saber sobre todos os detalhes srdidos ou no do fato. A empresa responsvel pelo Super Notcia acreditava que o simples fato de um formato ter obtido xito no Rio Grande do Sul era suficiente para que tambm o fosse em Minas Gerais. Entretanto, alm dos aspectos relacionados ao formato editorial, o fato de se trabalhar para pblicos diferenciados acarretou algumas adaptaes quanto forma e ao contedo. A busca pela descoberta do que o pblico das camadas populares mineiras tem interesse em encontrar em um jornal fez com que se instaurasse um processo, definido pela jornalista Liliane Corra como tentativa e erro. Alm dessa busca pelo reconhecimento do perfil do pblico de Minas Gerais, por meio da experimentao da linha editorial, tinha-se a dificuldade relativa aos procedimentos de distribuio. Liliane recorda que o jornal circulou durante dois anos com tiragem diria de menos de dois mil exemplares. Existia a dificuldade da Sempre Editora em acreditar na possibilidade de crescimento de tal publicao. De acordo com a jornalista, faltava investimento nas estratgias de marketing e circulao. Em 2005, o Associados Minas, grupo mantenedor do Dirio da Tarde, o qual j atendia parte do pblico pertencente s camadas populares, decide lanar uma publicao similar ao Super Notcia, batizada de Aqui . Para isso, a empresa de comunicao optou pela contratao da jornalista idealizadora do projeto editorial do Super Notcia, Liliane Corra, 30 que aceitou a proposta e se encarregou da estruturao de sua equipe, em sua maioria vinda do mesmo jornal que a jornalista. Curiosamente, aquilo que poderia ser entendido como concorrncia, e de certa forma o era, contribuiu tambm para o fortalecimento do Super Notcia, em termos de visibilidade. A estratgia de divulgao intensa, utilizada pelo Associados Minas no lanamento do Aqui, contribuiu para o aquecimento do mercado dos jornais populares de Minas Gerais, uma vez que o Super Notcia foi obrigado a otimizar suas estratgias de insero no cenrio jornalstico. A primeira modificao refere-se ao valor monetrio do jornal, que at ento custava cinqenta centavos, passando a ser comercializado pela quantia de vinte e cinco centavos, igualando, assim, ao preo de lanamento estipulado pelo Aqui. Torna-se importante ressaltar que, no segundo semestre de 2006, o Aqui passou a ser comercializado por quarenta centavos. A partir desse processo de conquista do pblico, os dois jornais apresentam novas formas de distribuio, uma vez que as bancas no so os nicos postos de venda e vrios vendedores trabalham nas ruas da cidade. Alm disso, os veculos em questo buscam alternativas de incentivo ao leitor, como premiaes por meio de sorteios e promoes viabilizadas pela coleo de selos includos no jornal. No Super Notcia, bem como no Aqui, a coleo de selos o requisito bsico para que o pblico seja premiado com itens variados. Tais prmios variam desde utenslios domsticos at imveis. importante lembrar que essa prtica de premiao recorrente em outras publicaes, como, por exemplo, o Dirio Gacho. Nota-se nos jornais analisados que os fatos noticiosos relacionados violncia recebem destaque. O jornal editado de maneira a apresentar a violncia como o principal atrativo do pblico. Os fatos que envolvem crimes, homicdios e acidentes ganham grande destaque nessas publicaes. 31 As capas desses jornais so elaboradas de maneira a promover a atrao pelo leitor. Os jornais trazem, freqentemente, em suas capas, fotos de modelos, atrizes e cantoras. As fotos abusam da sensualidade e buscam despertar o interesse do pblico. Tanto as fotos quanto o texto que as acompanham remetem a um contedo sexual, supostamente detalhado nas matrias. Para Liliane Corra, a capa , obviamente, o grande atrativo de um jornal, e, nas publicaes em questo, no seria diferente. A forma pela qual os ttulos e as fotos so dispostos pode contribuir, significativamente, para que a pessoa adquira o jornal. O atual editor do Super Notcia, Rogrio Maurcio Pereira 9 , tambm considera que a capa, certamente, tem bastante representatividade no processo de atrao dos leitores, principalmente daqueles que no tm o hbito de ler jornal diariamente. Segundo ele, essa premissa se constata por meio de relatos do setor de Circulao do jornal de que determinadas manchetes alavancaram as vendas. De acordo com o editor, geralmente, esses fenmenos so recorrentes quando os assuntos tratados nas capas so relacionados ao esporte ou ao crime. Os jornais permitem a participao do pblico por meio de uma seo exclusiva, ora cedendo espao s sugestes e crticas, ora como um meio de divulgao profissional e de interesses afetivos. As duas publicaes disponibilizam sees especficas para a participao do pblico. O Super Notcia possui a seo permanente Venda seu peixe. Nessa, as pessoas podem divulgar seus interesses profissionais na busca de um emprego. J o Aqui institui a participao do pblico por meio do espao A voz do povo, em que os assuntos tratados pelo jornal so discutidos pela populao. Nessa seo, os leitores tm a oportunidade de fazer reclamaes sobre variados problemas da cidade. No que diz respeito s capas dos respectivos jornais, observa-se que as principais manchetes so elaboradas, na maioria das vezes, por meio de textos curtos, sendo que a
9 Entrevista realizada por e-mail no dia dezoito (18) de setembro de 2006 32 matria principal vem sempre acompanhada de uma fotografia. As notcias mais recorrentes nas capas so aquelas referentes ao esporte, especialmente o futebol, e a criminalidade, alm da foto de uma mulher em trajes sensuais. No espao dedicado participao dos leitores, o Super Notcia apresenta a coluna Al, Redao, cujo objetivo a concesso de oportunidade para que as pessoas participem por meio de crticas e sugestes ao jornal. J no Aqui, a seo com essas mesmas caractersticas nomeada Fale Aqui, a qual vem acompanhada dos destaques dirios, Cardpio Popular e Santo do Dia. O primeiro apresenta o cardpio do dia do Restaurante Popular da capital mineira; o segundo, conta a histria do santo homenageado na data de cada edio. Geralmente, esses jornais adotam fontes que assumem funo testemunhal para atribuir autenticidade ao acontecimento ou gerar sensao. Assim, tais publicaes se apropriam da fala do leitor popular como fonte jornalstica, embora seu discurso no tenha o papel de explicar os acontecimentos do mundo, servindo, muitas vezes, como mera estratgia comercial do jornal. No jornal Super Notcia, os fatos noticiosos de Belo Horizonte e aquelas notcias relacionadas ao crime so publicadas na mesma editoria, denominada Cidades. No Aqui, nota- se uma diviso das editorias Polcia e Cidades, que tratam separadamente das informaes referentes a cada uma dessas. Embora os dois jornais sejam publicaes regionais, eles apresentam a editoria Gerais, em que so publicadas as notcias de domnio nacional sobre poltica, economia e curiosidades nacionais. O espao dedicado vida dos famosos recebe destaque em ambos os jornais, sendo que no Super Notcia esta editoria intitulada Variedades e, no Aqui, recebe o nome de Lazer e Cia. As sees seguintes trazem palavras cruzadas, numerologia, astrologia, resumo de novelas, horscopo, programao das televises abertas e simpatias. Os bastidores, o trabalho 33 e a vida de pessoas famosas tambm so destaques nessa editoria. No Super Notcia, essa pgina se chama Menina, nem te conto! e, no Aqui, denominada Te Contei?. Essas pginas privilegiam o mundo dos famosos, com a participao de colunistas especializados no assunto. A pgina dedicada s atividades culturais, nessas publicaes, d destaque s apresentaes, valorizando e selecionando os eventos culturais por preo. Assim, no Super Notcia, tem o nome de Lazer do tamanho do seu bolso, e no Aqui, Roteiro Cultural. As publicaes divulgam os eventos culturais da capital mineira, fazendo-o em forma de classificados, dividindo os eventos por faixa de preo. A editoria de esportes dos dois jornais dedica-se a noticiar modalidades esportivas diversas, como o basquete, o vlei, frmula 1 e o futebol, privilegiando este ltimo. Os dois jornais apresentam nessa editoria uma espcie de tribuna para a discusso do futebol, com direito a representantes dos trs principais clubes de futebol de Minas Gerais: Atltico, Amrica e Cruzeiro. No Super Notcia, esses representantes so apresentados na coluna A voz da arquibancada, em que os envolvidos utilizam pseudnimos e usam desenhos que fazem referncia aos mascotes das equipes. No Aqui, tal coluna denominada Bancada Democrtica e representada pelos participantes de um programa televisivo, o Alterosa Esporte. Nessas colunas, as opinies parciais dos torcedores geram discusso e polmicas em torno da rivalidade entre os clubes. Segundo Liliane Corra, a idia desta publicao era trazer a Belo Horizonte um formato ainda no experimentado na cidade e um jornal voltado para as classes C, D e E. Para comear o trabalho, foram feitas visitas para conhecer o trabalho do Dirio Gacho, modelo de sucesso em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A orientao da diretoria-executiva do jornal era de que se copiasse a idia da publicao porto-alegrense. Segundo Liliane, a 34 empresa acreditava que se o modelo havia dado certo em um lugar, certamente o mesmo fenmeno ocorreria em Belo Horizonte. De acordo com a jornalista, a adoo da mesma linha editorial no garantiria a aceitabilidade do pblico pelo jornal, mas a adequao ao modelo de circulao e da estratgia de marketing do Dirio Gacho foi bastante significativa para o crescimento da publicao mineira. Para Liliane Corra, os novos jornais populares so antigloblizadores. Assim, o destaque dos jornais so os acontecimentos regionais, o que pode ser percebido nas prprias capas. Sobre o fato de as publicaes serem sensacionalistas, Liliane Corra acredita que todo jornal sensacionalista e o que diferencia os jornais populares de outras publicaes o apelo. Segundo ela, se o apelo dos grandes jornais a poltica e a economia, o do jornal popular o futebol, os casos de polcia e a mulher. Os jornais atribuem pouco destaque aos fatos polticos e econmicos, o que para Corra s uma questo de estrutura. Ela afirma que esses jornais tm redaes muito enxutas, ou seja, so publicaes que contam com a participao de poucos profissionais engajados em sua elaborao, muitas vezes por uma questo empresarial. Uma vez que o jornal tem o preo de capa muito baixo, ele no pode gerar muito custo, dificultando a possibilidade de prestao de servios especializados. Liliane Corra ressalta que o texto curto e o uso de palavras simples sejam os maiores chamativos para essas publicaes. Ela acredita que umas das melhores ferramentas para editar um jornal popular o dicionrio de sinnimo, para contribuir com a simplificao das palavras. Ou seja, para a facilitao do processo de leitura. Segundo Rogrio Maurcio Pereira, as estratgias lingsticas utilizadas pelo Super Notcia relacionam-se ao uso de linguagem simples e facilitaes no processo de 35 interpretao, como colocar entre parnteses palavras menos conhecidas. Isso porque parte do princpio de que o jornal atinge, principalmente, uma faixa da populao que teve menos acesso escola ou que no estava habituada leitura de peridicos. Rogrio Pereira ressalta tambm que as principais caractersticas para o sucesso na vendagem da publicao so: formato fcil de manusear, textos enxutos, preo acessvel e promoes atrativas. Quanto aos critrios de noticiabilidade, o editor assegura que o jornal trata, prioritariamente, de assuntos ligados comunidade de maneira geral, polcia, esportes, acidente, prestao de servios, variedades e lazer (TV, novelas, cinema, teatro, fofoca, horscopo, cruzadas, humor), oportunidade de empregos e cursos. De acordo com ele, so esses tipos de assuntos que vendem jornal, principalmente o Super Notcia, j que ningum compra um jornal dito popular para saber sobre poltica ou economia. O fato de o Super Notcia e o Aqui se apresentarem como modelo jornalstico praticado no segmento popular da imprensa contribui para que tais publicaes sejam consideradas sensacionalistas. Segundo Liliane Corra, o jornal em questo merece tal denominao se todos os jornais existentes tambm forem considerados sensacionalistas. Com relao aos ttulos, que pretendem atribuir sensao notcia, a jornalista lembra que, s vezes, uma manchete sensacionalista at pelo espao disponibilizado pelo diagramador para que essa seja redigida. Ela destaca que uma coisa sensacionalizar um fato real e outra inventar o acontecimento. Assim, a partir de seu ponto de vista, os jornais populares instigam o leitor por meio de um fato verdico, que pode ganhar notoriedade a partir de uma manchete ou ttulo vibrante. Para Rogrio Maurcio Pereira, o Super Notcia tambm no se constitui como publicao sensacionalista, j que, na divulgao de notcias, no h acusaes sem provas, e quando algum acusado, h a preocupao, por parte do jornal, em ouvir todas as partes envolvidas, obedecendo aos critrios bsicos do jornalismo moderno. Segundo o editor, as 36 pessoas, comumente, pensam que o Super Notcia sensacionalista em razo das manchetes que costumam dar um passo adiante do fato para atrair a ateno dos leitores, mas, para ele, isso apenas uma questo de criatividade. No captulo seguinte, faremos, portanto, a anlise de ttulos nas capas dos dois jornais, na expectativa de verificar a existncia da prtica do sensacionalismo pelos veculos.
37 3 ANLISE DOS JORNAIS SUPER NOTCIA E AQUI
Neste captulo, faremos a anlise dos elementos utilizados pelos jornais Super Notcia e Aqui na elaborao de suas capas, de modo a refletir sobre o suposto sensacionalismo praticado por tais publicaes. Sendo assim, sero consideradas caractersticas apresentadas nas capas, tais como a construo dos ttulos e a relao desses com o texto, as temticas desenvolvidas e forma de abordagem, o tamanho das fontes utilizadas, as cores e as fotografias. Para o cumprimento dessa anlise, foram selecionadas edies de dois perodos distintos do Super Notcia e do Aqui. O primeiro perodo, referente ao primeiro semestre de 2006, compreende os dias 27, 28, 30, e 31 de maio e 2 de abril. J o segundo perodo refere-se ao segundo semestre do mesmo ano, destacando os dias 16, 17, 19, 20 e 22 de outubro. Nas pginas seguintes, apresentamos os quadros em que so referenciados aspectos apresentados nas capas dessas edies, sendo eles as manchetes principais, os ttulos da capa e as fotos.
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42 Conforme ressaltado nos captulos anteriores, o termo sensacionalista pode ser atribudo a um veculo quando esse faz abordagem das notcias alm do real, superdimensionando os fatos. Devido a essa conduta, os veculos sensacionalistas podem apresentar problemas no que diz respeito credibilidade. Porm, percebe-se, por parte dos jornais Super Notcia e Aqui, tendncia em noticiar fatos verdicos; contudo, o fazem de maneira exagerada, buscando a atrao do pblico. Essa premissa se confirma na manchete do Super Notcia (31.03.06): Mulher que jogou filha na Lagoa normal. Trata-se de um caso de projeo nacional, inclusive de destaque nos principais jornais televisivos do pas, em que a me, supostamente em estado de loucura, atirou a filha recm-nascida na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Todavia, a notcia em questo refere-se, precisamente, ao laudo mdico em relao s condies psquicas da mulher. Assim, a postura assumida pela publicao foi comum a muitos outros veculos de comunicao. A diferena, portanto, est na forma peculiar da articulao discursiva definida pelo jornal, causando impacto sobre o leitor, sobretudo no destaque dado palavra normal, grifada entre aspas. Nota-se que esse recurso foi utilizado para, de certa forma, ironizar o fato de o laudo mdico considerar normal o estado psiquitrico da mulher que atirou a prpria filha na lagoa. O mesmo se procede no jornal Aqui (20.10.06), por meio da manchete Assalta e cai no Arrudas. A referida manchete destaca um assalto na capital mineira, que resultou na queda de um dos assaltantes no Rio Arrudas. O fato noticiado no se trata de inveno; o que ocorre a supervalorizao editorial do acontecimento. Ao comparar os jornais Super Notcia e Aqui, ditos populares, com o jornal Estado de Minas 10 - EM-, que se trata de publicao jornalstica tradicional no cenrio mineiro, foi possvel identificar diferenas em relao seleo de notcias de capa. No que diz respeito
10 Publicao dos Associados Minas, empresa que tambm edita o Aqui. 43 notcia acima, sobre o assaltante que caiu no rio, por exemplo, enquanto o Aqui apresentou o fato como manchete principal, o Estado de Minas divulgou apenas uma nota no Caderno Gerais. Em contrapartida, nesse mesmo dia, o destaque do Estado de Minas foi J ustia quebra sigilo de ex-segurana de Lula, fato que no foi mencionado pelo Aqui. Com isso, percebemos que, sendo a notcia um recorte no espao e no tempo em relao a processos sociais mais amplos, os limites desse recorte so definidos pelas perspectivas distintas de jornalismo, as quais resultam em critrios de noticiabilidade. Assim, cada publicao define os seus prprios valores-notcias conforme a proposta editorial. Nesse caso, o Super Notcia e o Aqui apresentam escolhas semelhantes entre si e distintas do jornal referncia Estado de Minas, conforme destacado no exemplo acima. Segundo Amaral (2006), na imprensa popular, os fatos a serem noticiados so priorizados conforme a capacidade de entretenimento, a proximidade geogrfica ou cultural do leitor, a possibilidade de simplificao e o grau de identificao dos personagens com os leitores. J na imprensa considerada referncia, a possibilidade de um acontecimento se transformar em notcia est condicionada ao grau de importncia das pessoas envolvidas, ao impacto sobre a nao, ao envolvimento de muitas pessoas, gerao de desdobramentos importantes, relao com as polticas pblicas e possibilidade de ser divulgado em carter de exclusividade. A constatao dessa premissa recorrente tambm em outras edies do jornal Super Notcia, como na edio do dia 17 de outubro de 2006, em que tal publicao apresentou como manchete de capa Menores no crime e, no Aqui do mesmo dia, Armas de mentira, crime de verdade. Tais manchetes referem-se de modo simplificado a um assalto cometido por cinco garotos na faixa etria de quatorze anos. Nessa mesma ocasio, o Estado de Minas veiculou como principal manchete Oposio vai ao TSE contra a operao abafa-dossi. 44 Nesse caso, de maneira reincidente, a notcia que foi destaque nos jornais ditos populares no se apresentou no jornal-referncia. Ainda nessa perspectiva, no dia 19 de outubro de 2006, os jornais Super Notcia e Aqui tiveram as manchetes principais dedicadas a um mesmo assunto. Trata-se da ocorrncia de um homicdio, supostamente praticado por um senhor contra o irmo de uma menina de dez anos que foi vtima de abuso sexual pelo provvel homicida que a ofereceu uma quantia em dinheiro. No Aqui, a manchete em destaque na capa foi Assdio e morte por R$ 1 e, no Super Notcia, Bobeirinha de R$ 1 termina em morte. Em comparao entre os jornais analisados e o Estado de Minas notamos, novamente, que o principal destaque nos jornais considerados populares no referenciado no EM, o qual veicula como manchete principal J ustia barra verba eleitora de R$1,5 bi (19.10.06). Diante disso, podemos considerar que, a partir das capas, possvel compreender que h diferenas significativas no plano editorial entre as publicaes tomadas como populares e aquela dita referncia. Esta comparao torna-se importante uma vez que ela evidencia que as preferncias pelos assuntos que fazem parte das capas dos jornais Super Notcia e Aqui indicam a natureza sensacionalista desses veculos. Esses demonstram total interesse pelo crime e o esporte, representado, quase que na totalidade, pelo futebol mineiro. Observa-se, portanto, que a preferncia por tais editorias, obviamente, reflete a escolha da manchete principal. Nota-se que, entre a grande relevncia de um assunto futebolstico e de um assunto que envolva criminalidade, a prioridade o futebol. Pela importncia dada ao futebol nas publicaes analisadas, os editores percebem, mesmo que intuitivamente, a centralidade desse esporte na vida brasileira. Os estudos realizados por pesquisadores sobre esse tema revelam que o futebol representa algo mais que uma prtica esportiva, compondo parte significativa de nossa cultura e identidade. 45 Segundo o antroplogo Roberto DaMatta, " foi o futebol que juntou hino e povo, que consorciou camisa e bandeira, que popularizou a idia de ptria e de nao como algo ao alcance do homem comum e no apenas do doutor ou do homem mando (...) Em todo grupo de naes que escapam e destoam do padro de desenvolvimento modelado pelo ocidente, tem sido o futebol o promotor dessa notvel aproximao dos smbolos da sociedade (e da cultura) e os do Estado nacional." (DAMATTA, 2006:111) Assim, o critrio de seleo para o destaque principal do jornal para um tema ou outro se d pela importncia do cenrio esportivo do dia. Exemplo disso pode ser identificado nas publicaes no dia 02.04.2006. O Super Notcia destaca na manchete principal dia de Campeo, j no Aqui, Hora da Verdade. As manchetes abordam a importncia da deciso do campeonato mineiro, que consiste em um grande evento do esporte no estado. Constata-se que, nesse mesmo dia, as outras chamadas de capa das publicaes destacam um outro acontecimento. No Super Notcia, Me e filhos executados no J ardim Alvorada. Sobre o mesmo assunto, o Aqui destaca: Pai mata mulher na frente da filha. Entretanto, mesmo com a gravidade desse fato ou de qualquer que fosse o crime ocorrido, no seria centro da manchete principal, uma vez que esse espao foi ocupado pelo futebol. Isso ocorre pelo fato de que por mais que os acontecimentos criminais sejam de grande dimenso, o futebol sempre consegue destaque nas manchetes principais, de acordo com o evento esportivo do dia. Assim, os jogos dos clubes so destacados nos jornais tanto nas vsperas quanto nos resultados. Contudo, quando o cenrio esportivo no apresenta jogos dos clubes mineiros, os crimes so os assuntos privilegiados pelas publicaes. No Aqui (31.03.06), tem-se a manchete principal Caa aos linchadores. Tal notcia refere-se busca da polcia pelos acusados de espancar um suposto estuprador. Nessa mesma edio, o nico destaque de capa dedicado ao futebol diz respeito final do Campeonato Mineiro: Venda de ingressos para a 46 deciso comea hoje. Com isso, podemos perceber que o destaque ao crime prevaleceu em relao ao esporte, visto que no se tratava de um dia de jogo de futebol. J no Super Notcia (28.03.06), a manchete principal - Polcia tira pedfilo de circulao- garantiu o destaque criminalidade. O futebol no foi sequer citado nessa edio, j que no havia nenhuma partida programada, confirmando, assim, a premissa quanto hierarquia entre a editoria de polcia e de esporte. Percebe-se, ainda, que o superdimensionamento da notcia de capa nos jornais populares em questo est voltado, especialmente, para as editorias de esporte e de polcia. Se o jornalismo, em geral, uma prtica passvel de causar sensaes nos leitores, e a capa o espao em que essas sensaes so criadas e reforadas, pode-se dizer que os jornais Super Notcia e Aqui, a partir dos temas referidos, tratados na primeira pgina, buscam provocar o aumento de tais sensaes. Conforme mencionado no captulo anterior, tanto o Super Notcia quanto o Aqui so publicaes que aproveitam o contedo do jornal-referncia da empresa de comunicao a que pertencem, O Tempo e o Estado de Minas, respectivamente. O fato de utilizarem as informaes que foram coletadas por um reprter de um outro veculo, mesmo que da mesma organizao, pode ser algo suscetvel a algumas anlises crticas. Podemos destacar que o simples fato de a publicao editar o contedo de outro jornal pode propiciar o superdimensionamento do fato, uma vez que a edio vai tender a valorizar determinadas informaes em detrimento de outras, e no apenas repeti-las. Percebe-se ento que o fato, certamente, ser apresentado de maneira varivel entre uma publicao e outra. Assim, possvel observar que, por vezes, os principais destaques do Super Notcia e do Aqui aparecem meramente como pequenas notas ou s vezes nem so citadas no jornal tido como referncia. 47 No Super Notcia (19.10.06), uma das manchetes - Preso pego com biscoito de maconha- apresentada como um dos principais destaques do jornal. No Estado de Minas, o acontecimento ganhou pequena nota, com cerca de 10 linhas. As capas do Super Notcia e do Aqui sugerem o superdimensionamento dos fatos trabalhados por essas publicaes, mas no possvel afirmar nesta anlise que os jornais apresentam problemas graves em relao credibilidade. Observa-se que tais publicaes selecionam aqueles assuntos que acreditam ser de maior interesse do pblico para o qual esto sendo direcionadas as notcias, em geral, o futebol, o crime e a mulher. Contudo, ao contrrio do que ocorria com alguns dos jornais considerados sensacionalistas no Brasil, como o jornal Notcias Populares, o Super Notcia e o Aqui no apresentam notcias inventadas ou sem fundamento, do ponto de visto jornalstico. Alm disso, os fatos expostos na capa e em todo o contedo dos jornais considerados so tambm, na maioria das vezes, divulgados em outras publicaes, no apenas as locais, como a imprensa, de forma geral, mesmo que o tratamento seja diferenciado. O Notcias Populares se tratava de jornal popular que, embora publicasse fatos verdicos, noticiava tambm acontecimentos inventados que eram continuamente divulgados durante uma seqncia de edies. O caso mais famoso na histria do NP foi o do Beb Diabo. A criana que nunca existiu foi motivo de uma srie de manchetes exageradas, como Nasceu o diabo em So Paulo, Beb Diabo inferniza o padre do ABC e Mais 7 viram o Beb Diabo. Outras invenes tambm marcaram a trajetria do NP, como o caso da Loira Fantasma e o do Beb Atmico 11 . O primeiro fazia referncia a uma suposta alma que aparecia para as pessoas e um exemplo de manchete dedicada a esse assunto foi Eu fui estrangulado pela Loira Fantasma. J o segundo caso referia-se a mais um nascimento de
11 Os exemplos foram retirados do livro Nada Mais que a verdade - A extraordinria histria do jornal Notcias Populares (JUNIOR et.al, Carrenho Editorial:2002) 48 beb fora dos padres, e a manchete dedicada ao assunto foi Beb Atmico nasceu em SP. Contudo, da mesma forma que o caso do Beb Diabo, as explicaes para esse incidente eram absurdas. Para se ter uma idia, o Notcias Populares creditava um super poder ao beb considerado atmico. O jornal divulgou que a capacidade de dominar raios teria vindo do pai, um pedreiro que teve contato com uma pistola de raios alimentada por urnio enriquecido. Todavia, tais invenes ganharam tanta repercusso que o prprio jornal era obrigado a criar meios de desmenti-las. Nesse caso, nota-se a apropriao do grotesco, destacada por Sodr (1975), como forma de atrair o pblico por meio daquilo que de natureza extraordinria. Contudo, essa no uma estratgia utilizada pelos jornais Super Notcia e Aqui, os quais adotam uma linha editorial desprovida de tendncias grotescas ou escatolgicas. Se, por um lado, os jornais analisados no so adeptos da prtica de inveno de notcias, por outro, tais publicaes utilizam o recurso da ocultao de palavras nos ttulos. Essa prtica faz com que o leitor no tenha dados concretos acerca daquilo que ao certo ocorreu em relao ao fato noticiado e, possivelmente, busque mais informaes no contedo interno do jornal. No Super Notcia, as seguintes manchetes no trazem nenhuma informao sobre o fato ocorrido: Mistrio em morte de atriz global(27.03.06) e Sobrinho de cantor assassinado(30.03.06). Essas informaes s podem ser conferidas integralmente no contedo interno do jornal, mas apostam no interesse dos leitores pela vida dos famosos. Dessa forma, a ocultao funciona como forma de despertar o interesse e a curiosidade do leitor em relao ao mistrio referenciado e ao reconhecimento do artista cujo sobrinho foi morto. Torna-se importante salientar que, nesse caso, como na maioria, o ttulo realmente a nica informao grfica para o leitor. Ou seja, no foram utilizadas fotos para contribuir com o entendimento do que est sendo noticiado. 49 Nota-se, portanto, que no so apenas as temticas envolvendo famosos, por exemplo, que apresentam a ocultao de palavras nos ttulos. No Super Notcia, a manchete Criana morre e PM acha mais 7 em total abandono (02.04.06) no apresenta detalhes sobre o fato ocorrido. A ocultao mais uma vez contribui para que o leitor tenha curiosidade em ler a matria. No entanto, o discurso de seduo, institudo nos ttulos das capas, no se limita exclusivamente prtica de ocultao de palavras. O Super Notcia e o Aqui abusam da criatividade para diversificar os ttulos por meio da forma direta, ora utilizando a ocultao de palavras, ora buscando um recurso de aproximao com outros elementos na suposio de que esses atraiam o leitor. A manchete do Aqui (16.10.06) - Degolado depois da sinuca- um exemplo de que a forma direta de anunciar um assunto tambm funciona como estratgia de atrao na capa. No Super Notcia (17.10.06), a manchete Menores no Crime um exemplo de fato apresentado em linguagem extremamente direta e simplificada. Torna-se importante ressaltar que, em muitos casos, a palavra escolhida contribui para a construo estilstica do ttulo e tambm para que este seja atrativo. Ainda nessa publicao, a manchete principal - Dia de caos - (20.10.06), com trs palavras, veicula a informao de que em algum lugar o dia no foi bom. Etimologicamente, a palavra caos significa grande confuso e desordem e se trata de um vocbulo que possui sentido especfico, com valor semntico em si mesmo, independentemente do contexto de uso. Nas manchetes dedicadas ao esporte, a linguagem direta tambm tem grande destaque. Seja para anunciar uma partida, para informar sobre derrota ou vitria, o ttulo critica ou glorifica uma equipe. No Super Notcia (27.03.06), a manchete principal, A revanche, e no Aqui (27.03.06), Raposa e Tigre na final, fazem meno disputa pelo ttulo do campeonato Mineiro entre Cruzeiro e Ipatinga. 50 Pode-se dizer que, na maioria das vezes, a forma com que os ttulos das capas so redigidos emite a mensagem de forma direta ao leitor. Na manchete do Aqui (28.03.06), Abuso de Menores, tem-se a impresso de que por mais que o leitor leia com ateno o bigode 12 , a principal mensagem veiculada pelo ttulo de capa induz crena de que o tema ser tratado genericamente, quando, na verdade, est sendo noticiado um acontecimento de violncia sexual de um determinado menor. Percebe-se, frequentemente, nos ttulos dos jornais Super Notcia e Aqui que o tom apelativo e a pouca informao contribuem para um considervel grau de superficialidade no tratamento de determinados temas. Tal constatao pode ser observada em uma das manchetes de capa do Super Notcia (20.10.06) - J ovem Fuzilado por segurana de shopping - e no Aqui (27.03.06), PM acusado de atentado com bomba no centro. Tem-se ainda a incidncia de ttulos superficiais no Super Notcia (31.03.06), como Mais seis falsrios presos em BH, e no Aqui (19.10.06): Detento descoberto com maconha em biscoitos, em que a informao apresentada ao leitor sem muitas explicitaes sobre o fato noticiado. A superficialidade aparece na construo dos ttulos de forma a privar o leitor da informao detalhada sobre um determinado assunto noticiado. Nilson Lage, citado por Pedroso (2001:80), afirma que a manchete como o primeiro lugar de manifestao dos sujeitos do discurso, e como primeiro relato de aparncias codificadas, designa o ponto de passagem ou a mediao dos ttulos com o texto. Sendo a manchete o local onde os efeitos discursivos esto concentrados, o fornecimento de informaes fragmentadas pode permitir que a compreenso seja parcialmente autnoma, ou seja, o leitor tem a incumbncia de deduzir boa parte do enunciado. Portanto, o que se observa como superficialidade nas
12 Segundo o Dicionrio de Comunicao ( tica, 1987) o termo bigode diz respeito frase explicativa que vem abaixo do ttulo. 51 manchetes dos jornais Super Notcia e Aqui o fato de ocultarem informaes no espao mais atrativo de um jornal, a sua capa. Constata-se ainda que os ttulos das publicaes analisadas apresentam ambigidade e que a utilizao de trocadilhos est relacionada tentativa de aproximar a notcia da realidade do leitor, fazendo referncias aos seus hbitos de lazer e diverso. Com isso, freqente a ocorrncia de ttulos remetendo a uma publicidade, a um filme ou mesmo criando um jogo de palavras. A manchete principal do Super Notcia (16.10.06), Velozes e Furiosos, que destaca a notcia sobre mortes ocorridas nas estradas de Minas Gerais, apropria-se do nome de um filme de sucesso nos cinemas para chamar a ateno para o fato no jornal. No Aqui (17.10.06), a manchete j citada nessa anlise, Arma de mentira, crime de verdade, um bom exemplo de jogo de palavras e trocadilhos. Ainda em relao aos ttulos, pode-se considerar que esses propiciam a atrao do leitor pelo assunto, mas nem sempre o alarde sugerido na manchete condiz com a extenso e abrangncia do discurso apresentado no contedo interno do jornal. Neste sentido, uma manchete principal de capa, por exemplo, pode causar a impresso de que a publicao fixar- se- em detalhes mnimos sobre o fato ocorrido. Esse pressuposto se confirma nos jornais Super Notcia e Aqui, freqentemente pelo fato de essas publicaes no apresentarem matrias jornalsticas, propriamente ditas. Assim, o que se observa um apanhado de notas sobre assuntos diversos. No Aqui (31.03.06), a manchete Caa aos linchadores ocupa grande espao na capa e, no entanto, no contedo interno, apresenta apenas trs pequenas colunas, com um pouco mais de mil caracteres. J no Super Notcia (28.03.06), o contedo da notcia anunciada pela manchete - Polcia tira pedfilo de circulao - ainda mais reduzido do que a citada acima no Aqui. Nessa perspectiva, torna-se importante ressaltar que, 52 quando muito, o desenvolvimento da manchete ocupa no interior do jornal apenas uma pgina. No que diz respeito ao projeto grfico, Mrcia Franz Amaral (2006) considera que esse definido por especialistas no assunto. Contudo, importante salientar que ele , tambm, decorrente do planejamento editorial, ou seja, encontra-se associado aos objetivos do projeto editorial e realidade do pblico-leitor. Assim, de acordo com a autora, identidade e legibilidade so dois conceitos importantes para a elaborao de um bom projeto grfico (AMARAL, 2006:116). Em relao identidade, dois aspectos so importantes. O primeiro, refere-se ao fato de que o leitor deve identificar-se com o planejamento esttico do jornal; o segundo implica na necessidade de a publicao ser facilmente reconhecida nas bancas. J a legibilidade de um texto depende de aspectos como a forma e o tamanho das letras, comprimento e entrelinhamento das linhas, largura das colunas e disposio dos espaos brancos, cor, uso de sees, selos, fotos e ilustraes. Os jornais analisados buscam identidade por meio de capas que chamam a ateno, nas bancas e nos demais lugares onde so vendidos, pelas cores e pelo formato. No Super, essa identidade estaria na linguagem direta ou simplista dos ttulos das notcias, associada s fotos que, pelo recurso da imagem, buscam emitir diretamente determinado contedo. De acordo com Amaral (2006), a manchete de um jornal popular, em geral, apresenta corpo de letra maior e utiliza duas linhas, enquanto os jornais de referncia usam apenas uma linha. Para a autora, a boa manchete, para estes jornais, aquela que tem verbo no presente e exata na definio do assunto. O Super Notcia (28.03.06) apresenta a manchete principal Polcia tira pedfilo de circulao, em que so utilizadas trs linhas e, no Aqui, (16.10.06) Degolado depois da sinuca que ocupa duas linhas. 53 Os jornais Super Notcia e Aqui so bastante semelhantes no que diz respeito linguagem editorial e aos elementos grficos. Ambos se apropriam do recurso de utilizao, na capa, de uma manchete de destaque, alm de outras que funcionam basicamente como chamada, que, aliada s fotos, contribuem para o destaque visual dessas publicaes. Neste sentido, as cores e a forma com que os ttulos so disponibilizados so responsveis pela grande atrao visual dos leitores para com as referidas publicaes. Apresentados em formato de tablide, essas publicaes utilizam cores que variam a cada dia de circulao, mas se percebe que h certo padro de cores na diagramao das capas. Assim, o fundo azul com ttulo branco utilizado para destacar os fatos que envolvem o Cruzeiro, time de futebol da cidade, e fundo preto com letras brancas para falar do Atltico, outro grande clube de futebol de Belo Horizonte. As cores verde, laranja, marrom e cinza so utilizadas como pano de fundo de determinada parte da capa, enquanto o ttulo, por sua vez, ganha uma variedade de cores. Comumente, possvel observar a predominncia da manchete principal em letras amarelas, como ocorre no Super Notcia de28.03.06 - Polcia tira pedfilo de circulao - ou a manchete principal, alternando cores conforme percebido no Super Notcia (16.10.06), Velozes e Furiosos, sendo o termo Velozes e colocado em branco e o furiosos, em amarelo. Percebe-se, nas publicaes analisadas, que a manchete principal da capa, apresentada em cor preta - uma conveno do jornalismo convencional - tem pouca incidncia e que so mais freqentes os ttulos em cores brancas, aproveitando um fundo de cores variadas, o que caracterizaria a busca de identidade especfica para tais publicaes. Torna-se importante ressaltar que apenas a manchete principal, localizada no centro da capa do jornal, tem variaes de cores e se apropria de recursos de letras e tamanhos diferentes. As outras manchetes dos jornais so colocadas em tamanho bem reduzido, em comparao com a 54 manchete principal. Nesses casos, os ttulos so colocados, na maioria das vezes, em cores pretas. Nas capas, so verificadas muitas informaes alm das manchetes jornalsticas. As propagandas, as fotos variadas e os diferentes lugares utilizados nas capas para a disposio dos ttulos fazem desse espao um verdadeiro mosaico de informaes. As capas do Super Notcia e Aqui apresentam-se como um mural, ou seja, adotam cores e informaes diversificadas. Percebe-se, ainda, que a quantidade excessiva de elementos grficos dispostos no pouco espao da capa dos tablides faz com que as capas sejam atrativas, mas, por outro lado, as capas so esteticamente sujas, destoando das tendncias grficas mais atuais, adotadas por grandes jornais do Brasil 13 , o que visualmente pode implicar em uma imagem demasiadamente carregada. Porm, o jornal aposta que, para o seu pblico, isso no deixa de ser uma forma de chamar a ateno. Observando diferentes dias de veiculao dos jornais, percebe-se que a formatao da capa se modifica continuamente, ora reinventando, ora repetindo formas j utilizadas nos jornais. Assim, uma estratgia de diagramao utilizada num determinado dia pode no aparecer no outro dia, mas, certamente, reutilizada em outra publicao. No h um padro de disponibilidade dos itens nas capas. Mesmo mostrando-se freqentes, eles so diversificados na disposio. Neste sentido, as fotos de mulheres, por exemplo, so constantes tanto no Super Notcia quanto no Aqui, mas so dispostas de diferentes maneiras e em diferentes lugares, sem obedecer a um padro de tamanho. Alis, a divulgao de fotos de mulheres nas capas um caso a se destacar nesses jornais. O Super Notcia e o Aqui destacam em suas capas mulheres consideradas smbolos sexuais, acontecimentos supostamente picantes e fatos envolvendo essas mulheres que
13 A Folha de S.Paulo lanou no dia 21 de maio de 2006 um novo projeto grfico. O objetivo desse novo visual esttico da publicao, mais limpo e com menos textos escritos, facilitar a leitura da mesma. (Folha Online- Disponvel em <http://www1.folha.uol.com.br/>. Acesso em 14 de novembro de 2006) 55 estimulam, de vrias maneiras, o imaginrio masculino. Em conformidade com a estratgia dos jornais, em alguns casos os contedos das matrias no correspondem completamente quilo que anunciado pelos ttulos e pelas insinuaes das fotos. Como exemplo, tem-se uma ocorrncia no Aqui (17.10.06) em que apresentada foto de uma modelo semi-nua, junto ao ttulo Viviane Arajo tira a roupa para edio especial da Playboy. Esse recurso contribui para a expectativa de que no contedo interno do jornal o leitor encontre mais fotos e uma matria sobre o assunto. Na verdade, o jornal dedicou parte de uma pgina mesma foto da capa, fazendo apenas um anncio publicitrio da referida revista masculina. As mulheres representadas como deusas nas capas do Super Notcia e Aqui, quase na totalidade, esto vestidas em trajes mnimos e em algumas oportunidades esto semi-nuas. Na maioria das vezes, esses jornais aproveitam-se de fotos tiradas por essas mulheres para outras publicaes, como revistas especializadas em boa forma, sites especializados em fotografar famosas e at mesmo revistas masculinas. A utilizao de fotos ampliadas, em que as mulheres esto em poses sensuais, recorrente nas capas das publicaes. A mulher se configura permanentemente nas capas dessas publicaes como objetos de desejo. Os ttulos que acompanham as fotos das mulheres nas capas contribuem para chamar a ateno do leitor. Alm das fotos, tem-se alguma notcia sobre a mulher, ou seja, uma chamada. A foto da apresentadora de televiso Anglica, no Super Notcia (02.04.06), em que a mesma se encontra vestida com um top e uma cala, vem acompanhada do ttulo Anglica tem novo programa, dando destaque para a nova produo televisiva que contar com a participao da artista. No Aqui (02.04.06), tem-se a chamada da foto de uma outra artista de televiso: A atriz Lucero a estrela de Laos de Amor, a nova novela do SBT. Nessa foto, a atriz se apresenta em trajes pretos, calando botas longas e com as pernas mostra. Nos dois casos citados, temos exemplos de que as fotos foram acompanhadas por algum tipo de informao, alm da inteno da fetichizao. Todavia, a divulgao de uma 56 figura feminina na capa ultrapassa as prticas jornalsticas que buscam, simplesmente, destacar o mundo das beldades. Isso porque a incidncia e a freqncia das fotos femininas, rotineiramente publicadas, permitem concluir que, ao lado dos temas freqentes - o futebol e a violncia-, a mulher outro grande destaque na primeira pgina das publicaes. Torna-se importante lembrar que, muitas vezes, a notcia veiculada sobre a mulher, aliada sensualidade da foto, restringe-se pura erotizao. Exemplo disso encontrado na capa do Aqui (17.10.06), em que a foto de uma modelo semi-nua, em pose sensual e o ttulo que a acompanha, informa Viviane Arajo tira a roupa para edio especial da Playboy. O mesmo procede no Super Notcia (16.10.06), em que a foto da mulher, em trajes mnimos, acompanhada da seguinte manchete: Nova garota morango procura de namorado. Podemos pensar que o fato de associar a figura feminina a uma fruta carregada de simbolismo, aliado disponibilidade afetiva da modelo, teve o propsito de alimentar nos leitores a fantasia da conquista, sugestionando-os como pretendentes a serem escolhidos pela modelo. Compreende-se que o Super Notcia e o Aqui no so inovadores na forma e na linguagem, mas repetem, com sucesso, formas que deram certo em outras publicaes populares. As capas das publicaes populares de Belo Horizonte so idnticas ao do jornal Dirio Gacho. J as fotografias de mulheres nas capas eram fartamente utilizadas pelo extinto Notcias Populares, em uma seo chamada Mquinas do NP. Torna-se importante salientar que, a exemplo do NP, que comeou reproduzindo fotos de divulgao e de agncias, passando a fazer produes prprias, atualmente, o Super Notcia inicia a realizao de concursos para candidatas ao ttulo de garota do jornal.
57 4 CONCLUSO
Pode-se dizer que a discusso em torno do tema sensacionalismo bastante complexa. De uma maneira geral, todo e qualquer tipo de sensao provocada por meio do tratamento dado s notcias por um veculo pode causar a impresso de que esse seja sensacionalista. Conforme apresentado no captulo I, o rtulo sensacionalista est associado aos jornais e programas que privilegiam, principalmente, a violncia e o sexo. Durante a realizao desse trabalho, foram comuns as indagaes de pessoas, seja da rea de comunicao ou no, questionando a qualidade dos jornais Super Notcia e Aqui, afirmando a condio sensacionalista dos mesmos. Torna-se importante ressaltar que tal constatao apresenta carga significativa de preconceitos e um sentido pejorativo. Todavia, em relao s acusaes de sensacionalismo, deve-se ressaltar que, desde a consolidao da imprensa como meio de comunicao, setores da sociedade sempre se queixaram da preferncia por aquelas informaes capazes de provocar sensao. Constantemente, na histria da imprensa, ouviram-se crticas informao acusada de imprecisa, distorcida, com culpa ou dolo e ofensiva contra os objetivos fundamentais do jornalismo. Devido a essa forma de condenao, os responsveis pelos jornais, que por vez recebem o rtulo de jornais sensacionalistas, no aceitam a possibilidade de suas publicaes serem consideradas como tal. Liliane Corra, criadora do Super Notcia e do Aqui, acredita que essas publicaes funcionam como estratgia de estmulo leitura. Ela afirma que a linguagem fcil, os temas escolhidos e a forma de abordagem contribuem para que muitas pessoas criem o hbito de ler. Rogrio Maurcio Pereira, editor do Super Notcia, tambm contrrio denominao sensacionalista para as publicaes. Segundo ele, o jornal no 58 inventa notcias e tem o compromisso de dar informao correta aos leitores, e lembra que isso no sensacionalismo. Nota-se que o fato das publicaes analisadas, aparentemente, no se apresentarem adeptas prtica de inveno de notcias, indica a possibilidade de que essas no sejam propriamente sensacionalistas. Por outro lado, muitas outras caractersticas apontam para a categorizao desses jornais como aqueles que se apropriam de elementos que buscam a proximidade com o leitor por meio de um processo de seduo. Dentre os aspectos priorizados, tanto pelo Super Notcia quanto no Aqui, cabvel destacar o superdimensionamento dos fatos. Nas edies selecionadas, foi possvel observar a ocorrncia de notcias apresentadas de forma exagerada em que pequenos acontecimentos ganham repercusso nas capas dos jornais. Os principais temas abordados pelas publicaes, ou seja, futebol, violncia e a mulher, so tratados por meio de linguagem simples, com a inteno de atingir mais facilmente o pblico. Neste sentido, o futebol, como paixo popular, o assunto de maior destaque nas duas publicaes e permite aos jornais a utilizao de discurso mais direto, que economiza informaes e facilita a decodificao para o leitor. Associado a isso, tem-se a criatividade utilizada na elaborao das capas por meio de um discurso sedutor e da disposio das fotos relacionadas ao fato noticiado. No que diz respeito s notcias de violncia, constata-se que essas so dotadas de elementos que evidenciam formas sensacionalistas, visto que usada uma linguagem coloquial exacerbada, e que a seleo para a manchete principal se faz basicamente de crimes brbaros e absurdos, os quais despertam a curiosidade do pblico. As mulheres nas capas se constituem como importante atrativo visual nos jornais Super Notcia e Aqui, que diariamente mantm espao cativo para a erotizao e a fetichizao. Nesta perspectiva, baseando-se nas consideraes feitas por Danilo Angrimani 59 (1995), os jornais discutidos se adequam ao trinmio escndalo-sexo-sangue. Segundo o autor, essa trade revela o maior enfoque de um jornal sensacionalista, fazendo da moral, do tabu, da represso sexual e das tendncias sdicas do leitor o respaldo sociopsicolgico desse tipo de jornalismo. Considerando essas caractersticas apresentadas, podemos destacar os jornais Super Notcia e Aqui como sensacionalistas. Entretanto, torna-se vlido salientar que algumas ressalvas relativizam tal constatao, se compararmos os jornais analisados s publicaes jornalsticas de quatro dcadas atrs, consideradas sensacionalistas. Enquanto nos jornais analisados o indcio de sensacionalismo o enaltecimento e a supervalorizao de um fato real, nos jornais sensacionalistas do passado, como era o caso exemplar do Notcias Populares, at mesmo suposies baseadas em crendices populares eram privilegiadas. A respeito disso, Amaral (2006) comenta que A noo de sensacionalismo, que por anos pairou como explicao da estratgia dos produtos populares, est agora ultrapassada. Os novos jornais, ampliadores dos ndices de leitura em segmentos populares, so fundados em diversas caractersticas que devem ser abordadas de maneira no generalista. O sensacionalismo um modo de caracterizar essa imprensa, uma maneira de explicar o que ocorria na mdia num determinado momento, mas no sinnimo de imprensa, revista ou programa popular. (AMARAL, 2006:21)
Sendo assim, fundamental a compreenso de que existe, certamente, entre os jornais analisados e outros de natureza diferenciada, como o NP, diferena na forma de tratamento concedido s notcias, sobretudo no que diz respeito aos ttulos das capas, especialmente a manchete principal. O jornal Notcias Populares no poupava o uso de termos chulos e construes ambgas. Como exemplo de manchetes, tem-se: Aumento de merda na poupana, Churrasco de vagina no rodzio do sexo e Quem tem KU-AIT tem medo. Com isso, percebe-se que a linguagem vulgar tinha espao garantido na primeira pgina do jornal. 60 Da mesma forma, o jornal carioca Luta apresentava manchetes vibrantes, que apontavam para a sua condio de veculo sensacionalista, mas, ao contrrio do NP, segundo Pedroso (2001), a linguagem utilizada pelo Luta no facilitava a compreenso da mensagem transmitida, por valorizar termos no pertencentes ao vocabulrio corrente do pblico-leitor. Algumas manchetes exemplificam tal constatao: Viuvinha perdeu no palitinho, Cenoura excita a p da r, Peroba louca botou a boca no trombone. Assim, torna-se possvel afirmar que as manchetes do Super Notcia e do Aqui, conforme discutido nesta pesquisa, ainda que sejam elaboradas a partir de recursos que estimulam a atrao, no se equivalem, em termos de explorao vocabular, ao Notcias Populares e Luta. Todavia, ressaltamos que preciso entender que se trata de pocas diferentes e que atualmente h o esforo de determinadas empresas para que jornais populares sejam lanados e mantidos no pas. Durante esta pesquisa, comumente, foi utilizada a expresso jornalismo popular para caracterizar as publicaes direcionadas s classes consideradas populares, seja pelo grau de escolaridade ou pela situao social. Observa-se que o Super Notcia e o Aqui so publicaes que, por todas as caractersticas mencionadas e discutidas nesta pesquisa, tm como objetivo alcanar as classes populares, mas, por outro lado, afastam-se, parcialmente, do esteretipo dos jornais sensacionalistas do passado. Os jornais em questo poderiam no ser sensacionalistas como afirmam seus editores responsveis, mas a busca pela consolidao como veculos populares permite que o Super Notcia e o Aqui pratiquem uma forma de jornalismo popularesca, podendo, assim, receber o rtulo de jornais sensacionalistas, independentemente da inteno de seus idealizadores. Em termos gerais, podemos concluir que h variao de intensidade do sensacionalismo nos jornais discutidos. Baseando-se nesta pesquisa, percebe-se que o Super Notcia e o Aqui, na busca pela afirmao como jornais populares, ficam divididos em relao 61 prtica jornalstica a ser assumida. Desta forma, esses jornais demonstram, por um lado, postura mais agressiva e exagerada, assemelhando-se nesses aspectos a outros veculos notoriamente reconhecidos como sensacionalistas e, por outro, repetem frmulas consagradas por jornais-referncia, como o Estado de Minas, na medida em que se dispem a noticiar fatos verdicos, passando a projetar credibilidade e ficando a meio caminho entre essas publicaes. Portanto, entende-se que os jornais populares Super Notcia e Aqui necessitam de amadurecimento editorial para se firmar como veculos populares e no-sensacionalistas.
62 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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BAKHTIN, M. A Cultura Popular na Idade Mdia e no Renascimento: o contexto de Franois Rabelais. So Paulo: Hucitec, 1999
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RABACA, Carlos Alberto. Dicionrio de Comunicao. So Paulo: tica, 1987
SOARES, Ronaldo. Encolher para crescer. Revista Veja, So Paulo, p.92-93, abr.2006
64 SODR, Muniz. A comunicao do grotesco: introduo cultura de massa brasileira. 4.ed. Petrpolis: Vozes, 1975
SODR, Muniz. Reinventando a cultura: a comunicao e seus produtos. 2. ed. Petrpolis: Vozes, 1998
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VALENTE, Laura. Super o mais vendido. Minas gerais, Belo Horizonte, 18-24 maro. 2006. J ornal Pampulha.
65 ANEXOS
Data 27/03/2006
28/03/2006
30/03/2006
31/03/2006
02/04/2006 Manchete Principal A Revanche Cruzeiro elimina o Galo e reedita final do Mineiro contra Ipatinga, que passou pelo Coelho Polcia tira pedfilo de circulao Acusado de abusar de cinco garotos na Regio Noroeste prometia leva-los para treinar em times de futebol Cruzeiro e Tigre iguais Resultado obriga time celeste vencer em Ipatinga para ser campeo mineiro Mulher que jogou filha na Lagoa normal Exames mostram que Simone Silva pode responder por seus atos dia de Campeo Ney ou PC sair bicampeo hoje do Ipatingo na final Ipatinga X Cruzeiro Outros ttulos da capa Policiais frustram fuga de detentos em Venda Nova Tiroteio em baile funk fere seis e mata um Mistrio em morte de atriz global Mara, Mariana e Rafa esto na final Entrega de panelas um sucesso Quebra de sigilo de caseiro derruba Palocci PM apreende 300 kg de maconha em Igarap Quem vai levar R$1 milho BH ganha mais 205 bairros
Preso lder do trfico na Pedreira Sobrinho de cantor assassinado Professor detido com notas falsas Cai taxa de emprstimo a segurados Morena atrao da Vip de abril
Gil promete Cruzeiro mais ousado Ipatinga mantm cautela Atltico comea limpar elenco Herana motiva chacina em Itambacuri Mais seis falsrios presos em BH Presidente do BID vai favela Carolina Magalhes: Neta de ACM est jogando um bolo Mais uma escola arrombada
Astronauta brasileiro Marcos Pontes manda notcia Criana morre e PM acha mais 7 em total abandono Me e filho executados no J ardim Alvorada Anglica tem novo programa Descrio dos Fotos lance do jogo do Cruzeiro x Atltico Lance de jogo Ipatinga x Amrica ator Dado Dolabella atriz Samara Felippo participante do Big Brother propaganda
entrega de prmios do jornal trs participantes do Big Brother atriz Nvea Stelmann em pose sensual propaganda lance do jogo Cruzeiro x Ipatinga modelo Danielle Battistini em pose sensual um preso sendo colocado no camburo propaganda Carolina Magalhes em pose sensual cadeado arrombado propaganda tcnicos do Cruzeiro e Ipatinga astronauta Marcos Pontes na espaonave apresentadora Anglica propaganda
Quadro I - Capas analisadas do jornal Super Notcia no 1 semestre de 2006
Data 27/03/2006
28/03/2006
30/03/2006
31/03/2006
02/04/2006 Manchete Principal Raposa e Tigre na final Cruzeiro bate o Atltico no Mineiro e Ipatinga atropela o Amrica no Vale do Ao Abuso de menores Homem preso acusado de aliciar pelo menos cinco crianas com promessas de testes em clubes de futebol Tudo igual Cruzeiro e Ipatinga empatam em 1 a 1 no Mineiro e levam deciso para o Vale do Ao Caa aos Linchadores Polcia tenta identificar 30 acusados de espancar at a morte homem confundido com estuprador Hora da verdade Ipatinga e Cruzeiro fazem hoje, no Ipatingo, o jogo que vale o ttulo do Mineiro Outros ttulos da capa Ronaldo marca em goleada do Real sobre o La Corua nibus desgovernado invade loja na Floresta PM acusado de atentado com bomba no Centro Tinho est fora da disputa por R$ 1 milho Mineira Ana Beatriz Barros est entre as 10 mais sensuais Cruzeiro impe lei do silncio ao zagueiro Edu Dracena Walter Minhoca revela mgoas do passado na Toca da Raposa Atacante Ramon pede desculpas torcida do Galo Protesto na Sade mobiliza Pedreira Obra da Linha Verde cobre o Arrudas no Centro Thas Fersoza responde s perguntas dos leitores Nvea Stelmann arruma a casa na Vip
Chefe do trfico preso na Pedreira Prado Lopes Ex-lavrador conta viagem de bicicleta que j dura 35 anos Astronauta brasileiro decola no Cazaquisto Presa quadrilha que aplicava golpe de consrcio-fantasma Danielle Battistini: morenaa mostra suas curvas na Vip deste ms
Syang abre o jogo sobre sexo Moradores de Rio Manso executam ladro antes da chegada da PM Pagodeiro Belo procura emprego para gozar de regime semi-aberto Protesto de estudantes termina em confuso na Cmara Acidente com sete carros mata dois na BR-040 Demolies abrem caminho para a Linha Verde Venda de ingressos para a deciso comea hoje
Clssico entre Barcelona e Real fica no 1 a 1 Vlei do Minas perde e disputa vaga na capital Pai mata mulher na frente da filha Me presa por morte de criana de 1 ano A atriz Lucero a estrela de Lao de amor, a nova novela do SBT Descrio das Fotos Ronaldinho fenmeno comemorando gol nibus batido na porta de uma loja Tinho participante do Big Brother Ana Beatriz em pose sensual jogadores do cruzeiro comemorando gol lance do jogo Amrica x Ipatinga ministro Palocci de cabea baixa uma pessoa sendo presa e acompanhada pela polcia imagem de uma as pessoas de costa Atriz Nvea Stelmann em pose sensual
pessoa algemada um homem numa bicicleta modelo Danielle Battistini em pose sensual momentos de comemorao do Cruzeiro e do Ipatinga membros de uma quadrilha espaonave decolando Cantora Syang em pose sensual estudantes em protesto carro totalmente destrudo casa demolida jogador do cruzeiro correndo ator Vladimir Brichta um jogador do Cruzeiro e outro do Ipatinga atriz Lucero jogadores se cumprimentando em jogo na Espanha
Quadro II - Capas analisadas do jornal Aqui no 1 semestre de 2006
Data 16/10/2006 17/10/2006 19/10/2006 20/10/2006 22/10/2006 Manchete Principal Velozes e Furiosos Motoristas so apontados como responsveis pelo saldo de ao menos 31 mortos em MG no feriado
Menores no crime Aumenta a cada dia o nmero de crianas e adolescentes nas ocorrncias da polcia; em menos de 24 horas garotos entre 10 e 16 anos se envolveram em roubo, porte de arma e bebida alcolica Bobeirinha de R$1 termina em morte Acusado de assediar menina de 10 anos, no Petrolndia, barbeiro de 71 anos mata o irmo dela que foi tirar satisfao Dia de caos Chuva e imprudncia causam 10 mortes em seis graves acidentes na BRs 381, 356, 040 e 116, em Caet, Betim, Nova Lima, J uiz de Fora e Governador Valares Goleada, recorde e um p na 1 diviso Atltico bate Ava por 4 a 1 no Mineiro superlotado e se aproxima da Srie A do Brasileiro Outros ttulos da capa Camila Duran Nova garota morango procura de namorado Amrica vence e vice- lder na Taa MG Menor mata pai, me e irmo de 3 anos
Polcia Federal faz megaoperao contra a pirataria Musas do GP Brasil Confira estas e mais nove gatas que disputam o concurso de Miss em Interlagos Comea disputa por ingressos de mais um jogo do Galo Cruzeiro precisa de 7 vitrias para atingir Libertadores Acidentes mataram 35 nas estradas de MG Atriz da Record posa para o Paparazzo Caixa vai financiar casa prpria com desconto em folha
Preso pego com biscoito de maconha Golpe no trfico de travestis Descoberto bando de falsificao de documentos do Detran Galo pode bater recordes de vitrias Definida frmula do Mineiro 2007
Clo Pires Gata curte dia de folga em Ipanema J ovem fuzilado por segurana de shopping Ingresso para o jogo do Galo, s de geral Cruzeiro tem nova dupla de atacantes Chuva ameaa igreja em Ouro Preto Vacinao tenta conter rubola Paola Oliveira- Loira de O Profeta no quer cair no esteretipo de boa moa Confira o pster do gatinho de Malhao, Gian Bernini Acidente no Viaduto das Almasmata mais um Veja a lista dos ganhadores da promoo Show de Prmios Cruzeiro tem misso difcil no Pacaembu Coelho tenta a quarta vitria na Taa MG
Descrio das Fotos modelo Camila Duran em pose sensual comemorao de jogador do Amrica imagem do congestionamento na estrada propagandas propagandas
atriz Carla Regina em pose sensual carros passando na rodovia e uma moto cada senhor acusado de abuso sexual duas modelos em pose sensual quadrilha tampando os rostos propagandas caminho de cimento tombado carro virado aps acidente atriz Clo Pires de biquni propagandas
estdio Mineiro e torcida vibrando atriz Paola Oliveira propagandas
Quadro III - Capas analisadas do jornal Super Notcia no 2 semestre de 2006
Data 16/10/2006 17/10/2006 19/10/2006 20/10/2006 22/10/2006 Manchete Principal Degolado depois da sinuca Homem assassinado aps discutir com parceiro de jogo
Arma de mentira, crime de verdade Cinco garotos entre 10 e 14 anos assaltam com revlveres de brinquedo e so detidos Assdio e morte por R$ 1 Idoso oferece dinheiro para ter relaes sexuais com crianas e assassina irmo da garota que foi tirar satisfao Assalta e cai no Arrudas Dupla arromba carro e, em fuga desastrada, um bandido preso e outro despenca de uma altura de 11 metros no rio Melhor impossvel J ogando ao lado da massa, que quebrou recorde de pblico mais uma vez, Galo bate Ava no Mineiro e mantm liderana da Srie B Outros ttulos da capa Saiba tudo sobre carreira de J uliana Paes Encontro de bandas agita o domingo na Praa da Liberdade Feriado trgico nas estradas de Minas Polcia apreende 39 quilos de crack no J ardim Vitria Leitores do Aqui entrevistam a galera do grupo Hateen Marinho se prepara para voltar ao time Ipatinga vence Cricima fora de casa pela Srie C Carol Castro faz sua primeira vil em O profeta J onilson pode reassumir vaga no Cruzeiro
Fbio Pinto pode estrear no Cruzeiro Centro de Sade Ribeiro de Abreu arrombado Viviane Arajo tira a roupa para a edio especial da Playboy Massa alvinegra prepara outra invaso ao Mineiro Operao de combate pirataria pe 16 em cana Grafiteiros levam arte e cidadania para a zona Sul da capital Devotos festejam Dia de Santa Edwiges
Restaurante populares de BH do prmios no almoo Policial acusado de chefiar quadrilha de falsificadores Polcia Federal prende 1 acusados de levar travestis para a Europa Torcida do Galo garante 51 mil ingressos para sbado J onathas pode ganhar vaga no ataque do Cruzeiro Detento descoberto com maconha em biscoitos Pit bull ataca garoto de 3 anos Mariana Felcio concorre ao ttulo de mulher mais sexy do mundo
Na BR 381 uma bobina foi responsvel por 3 mortes Acidentes matam 11 nas estradas mineiras Galo a pouco mais de 2 mil ingressos do recorde nacional Belo Horizonte faz campanha de vacinao contra a rubola Rapper B. Nego mostra sua msica no Parque Municipal Schumacher tira onda com a cara de Barrichelo Oswaldo de Oliveira troca 5 jogadores e muda esquema ttico do Cruzeiro
Malhao e dieta saudvel deixam Stephany Brito em forma Homem sai da priso com plano pronto para matar Cruzeiro usa ataque da base contra Corinthians no Pacaembu Ipatinga busca seqncia de vitrias contra Brasil- RS Felipe Massa larga na frente na despedida de Schumacher Confira pster de Thiago Fragoso
Descrio das Fotos atriz J uliana Paes congestionamento nas estradas jogador do Atltico Marinho atriz Carol Castro em pose sensual
jogador do Cruzeiro - Fbio Pinto Viviane Arajo em pose sensual armas variadas material pirateado apreendido pela polcia Imagem deSanta Edwiges e devotos grafiteiros uma pessoa almoando no restaurante popular quadrilha escondendo os rostos policiais acompanhando um acusado senhor suspeito de ter cometido abuso sexual acompanhado por policial modelo Mariana Felcio em pose sensual bombeiros retirando o assaltante de dentro do Rio Arrudas caminho destrudo piloto Shumacher em Coletiva jogador do Cruzeiro - Kerlon ator Thiago Fragoso torcida atleticana acompanhando o jogo e jogadores comemorando homem sendo preso atriz Stephany Brito jogador do Cruzeiro
Quadro IV-Capas analisadas do jornal Aqui no 2 semestre de 2006
Construção Do Ethos de Resistência Jornalística Na Imprensa Alternativa Durante A Ditadura Militar Brasileira: Estudo Dos Depoimentos Do Projeto Resistir É Preciso
Nilton Hernandes - A Mídia e Seus Truques - O Que Jornal, Revista, TV, Rádio e Internet Fazem para Captar e Manter A Atenção Do Público-Contexto (2006)