Oral Português.
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No mês de Junho de 2022, assistimos à trágica notícia da morte de quarenta e seis pessoas,
encontradas abandonadas numa estrada remota dentro de um caminhão frigorífico, em San
Antonio, na fronteira do Texas com o México.
De acordo com New York Times as vítimas pertenciam a um grupo de imigrantes ilegais que
tentaram cruzar a fronteira do México com os Estados Unidos clandestinamente. Infelizmente
essa notícia trágica, é uma de muitas histórias de pessoas que, em busca de melhores
condições de vida, se colocam em situações de risco em uma jornada cheias de perigos.
Por isso, a imigração ilegal têm sido objeto de preocupação por vários países e organizações
não governamentais. Isso porque provoca receios nos países sobre a segurança interna,
colocando em xeque a capacidade política de controle migratório, gerando instabilidade social,
concorrência pelos poucos empregos e o aumento de sentimentos xenófobos.
E é exatamente a história de um emigrante ilegal que este livro vai relatar. Ismael é o grande
protagonista do livro, este nasceu em Marrocos e até aos seus quatorze anos, a sua família
dependia da pesca. Num dado momento, os pescadores mais experientes começam a
perceber que algo de diferente estava a acontecer com o mar, usando mesmo a expressão
“doente”. O mar estava então, segundo uma citação do livro, “a água tornou-se escura e
parada, mudando de cor continuamente”. Isto é obviamente uma consequência de poluição
fabril, ou seja, todo o lixo químico era expelido no mar afetando todos os organismos que lá
vivem. Logo o alimento de toda a aldeia ficou ameaçado, quando o peixe principalmente
começou a ficar impróprio para ingerir.
Havia cada vez menos peixes na costa o que fazia com que os pescadores fossem cada vez
mais longe há procura dos peixes que haviam fugido daquele mar negro. Num desses dias,
como se temia, os barcos navegaram ainda mais longe e formou-se uma tempestade que
consequentemente resultou no desaparecimento de diversos barcos e pessoas, uma dessas
sendo o pai de Ismael.
Face a esta situação de ânsia, que muitos emigrantes devem enfrentar, Ismael viu-se no dever
de arranjar trabalho para sustentar a sua família, que agora era composta pela sua mãe e duas
irmãs. Infelizmente por ser muito novo ninguém o queria empregar, e como o principal trunfo
da aldeia era agora escasso, não havia onde arranjar trabalho.
Nisso o nosso protagonista decide embarcar numa viagem clandestina para a Itália, levava
consigo apenas o número do dono de um restaurante da sua aldeia, que avisaria a sua mãe do
seu estado e 500 doláres, que era o preço para sair do país ilegalmente. Uma citação que eu
considero importante no livro está relacionada com os homens que conduzem estas lanchas
ilegais e que foram comparados com tubarões e um personagem diz: “Também a estes lhe
cheira a sangue”.
Ismael ficou numa praia há espera do barco que havia de o levar para Itália, há sua volta
estavam centenas de pessoas, velhas e novas, sozinhas ou acompanhadas pela família.
O ápice da história ocorre com Ismael já no barco, e então ele relata tudo o que acontece
durante aquela viagem que duraria uma noite e um dia. Ele relata a apatia do “tubarão” que
conduzia a lancha, como ninguém ousava perguntar nada e como não cabiam todos no barco
então tinham que se agarrar bem às bordas. Num certo momento ocorre uma tempestade e
há medida que as ondas vão ficando maiores, cada vez mais pessoas são atiradas para o mar e
lá acabam por falecer. Esta parte é muito lamentável, por ser tão descritiva e realista, junto há
costa vão se empilhando corpos de pessoas que tentaram ir atrás de algo melhor do que
tinham.
Ismael sobrevive, acaba por ser resgatado pela polícia que vigia a fronteira e nem chega a
Itália de facto, mas sim a uma ilha italiana. Durante 2 meses ficou lá, no primeiro esteve
internado num Hospital a receber tratamento médico e no segundo foi dirigo a uma “Centro”
onde os emigrantes ilegais são repatriados, ou seja, devolvidos à sua terra de origem.
Nesse centro conhecemos personagens numa situação semelhante à de Ismael, sendo que o
que muda é a razão pela qual fugiam: pobreza, crise política e finalmente a guerra. A história
que é mais detalhada é a de Baptiste, que teve a sua aldeia destruíada e a sua família
assassinada por conflitos entre povos. Este é o único personagem no livro que conta a
experiência de um emigrante a trabalhar, trabalhos cansativos e prejudiciais para a saúde
física, que só davam direito a três goles de água por dia e com quase nenhuma remuneração.
Ismael acaba por ser então repatriado, e quando chega a sua aldeia estava quase
irreconhecível. Os seus cabelos estavam brancos. Recusa-se a contar a qualquer pessoa da
aldeia e até à sua família o que aconteceu, pois não entende porque ele, entre tantos, saiu
vivo. No final do livro essa dúvida é respondida, passo a citar: “Sobrevivi só para mais tarde
poder contá-lo”, e com isso o livro termina.
Achei este livro muito fácil de ler, por ter apenas 157 páginas e ser muito direto. Apesar de ser
curto, carrega uma mensagem muito importante que mostra o que acontece realmente
durante uma emigração ilegal, pois o que chega a nós são estas páginas de jornal a dizer
quantos foram os que faleceram e a dúvida de “como podemos ajudar?”.