A Formação de Uma Sociedade Escravista: Índios e Africanos

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A formação de uma sociedade escravista: índios e africanos

Novais, Fernando Antonio. “A crise do Antigo Sistema Colonial: 1. Estrutura e


dinâmica do sistema”. In: Novais, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do Antigo
Sistema Colonial (1777-1808). 7ª ed. São Paulo: Hucitec, 2001, p. 57-106.
Lopo Homem (com Pedro e Jorge
Reinel). Terra Brasilis, mapa do Atlas
Miller, 1515-1519
Frans Post. L’Ancien Fort Portugais des Trois Rois Mage Aupre du Rio Grande, 1638.
A adoção da escravidão como forma de trabalho
• Sociedades com escravos, sociedades escravistas (escravidão, escravismo)
(Finley, 1968)

• Teoria da Fronteira Aberta - Wakefield - Turner

• Formas compulsórias de trabalho (principalmente a escravidão) são adotadas


nas situações em que a proporção população/terra é baixa; por outro lado, são
abandonadas quando esta proporção é alta.

• Crítica de Orlando Patterson, 1977:


– empiricamente, a teoria não é universalmente válida
– em diversas circunstâncias históricas, adota-se a escravidão (mas não o escravismo)
sem que haja excesso de terras para falta de pessoas
– a adoção da escravidão, em geral, explica-se muito mais por variáveis sociais,
políticas e culturais do que econômicas
• Apesar das críticas, teoria da Fronteira Aberta é aceita como consenso no
Brasil.
A transição da escravidão indígena para a africana

• Inadaptação ao cativeiro (Gilberto Freyre, 1933)


• “tristeza” do índios x “energia moça, tesa, vigorosa do negro”
• Brusca transição do nomadismo para sedentariedade
• Atividade esporádica x contínua
• Índio: “trabalhador banzeiro e moleirão”

• Fraqueza do indígena (Boxer, Salvador de Sá, 1952)


• Negros já acostumados a formas de escravidão
• Política de oposição à escravidão indígena (jesuítas e Metrópole)

• Escravidão e tráfico como elementos estruturantes do Antigo Sistema Colonial


(F. Novais, 60’s)
• Acumulação fluía para a Metrópole
• É a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão africana
colonial, e não o contrário (p. 105)
• Problema: não ocorre transição pronta e acabada no início do XVII, pois
resiste nas zonas periféricas até final do XVIII (John Monteiro)
• Stuart Schwartz, Segredos Internos, 1988

• Importância da demografia para a compreensão da transição


• Mortalidade indígena
• Epidemias devastadoras do início da déc. 1560 (varíola e sarampo)

• Custos crescentes do apresamento


• Lucratividade do africano mais elevada, apesar do preço inicial maior

• Oferta de africanos
• “semelhança” da herança cultural (metalurgia do ferro e trato do gado)

• Transição: 1575-1625
• S. Schwartz & Russell Menard (Por que a escravidão africana? A transição
de trabalho no Brasil, no México e na Carolina do Sul, 1996)

• Pode-se entender a transição “se se pensar no Atlântico como um único sistema


econômico, mesmo que frágil e imperfeito, e também nas variações na composição da
força de trabalho entre as diferentes colônias e mesmo dentro de certas áreas coloniais a
partir da ótica da oferta e demanda de trabalho”

• Quando a demanda por trabalho (em geral, conectada com o aparecimento de uma
produção local voltada para o mercado mundial) aumenta muito em determinada região,
a oferta local de mão-de-obra é insuficiente para atender à demanda ---- solução:
recorrer ao “primeiro mercado de trabalho verdadeiramente mundial”, isto é, o tráfico
negreiro

• Comentário: centralidade do tráfico (Novais) e economismo


• Alencastro (O trato dos viventes, 2000)

• Compatibiliza Novais e Schwartz:


• Tráfico é essencial para o “aprendizado da colonização”
• Obstáculos para a montagem de redes de tráfico de escravos indígenas
• Dificuldade de navegação norte-sul
• Política de “ilhamento” dos enclaves lusos (intercâmbio direto entre
capitanias proibido entre 1549 e 1766)

• Não existia rede mercantil capaz de empreitar de maneira regular o negócio:


quem poderia fazê-lo seriam comerciantes lusos, justamente os envolvidos
com o tráfico africano.
• Comerciantes de índios recebiam em mercadoria, e não conseguiriam exportá-
la através de comerciantes negreiros.
• (Alencastro)

• Mesmo não sendo impossível, a acumulação proporcionada pelo trato de escravos


índios se mostrava incompatível com o sistema colonial, pois esbarrava:

• Na esfera mais dinâmica do capital mercantil (tráfico africano)

• Na rede fiscal da Coroa (acoplada ao tráfico atlântico)

• Na política imperial metropolitana (fundada na exploração complementar da


África e América)

• No aparelho ideológico de Estado (privilegiava a evangelização dos índios)

• Na epidemiologia tropical
O escravismo na América Portuguesa no quadro atlântico, séculos XVI-XVIII

William Clark, Ten Views In the Island of Antigua, in Which are Represented the Process of Sugar
Making.... From Drawings Made by William Clark, During a Residence of Three Years in the West Indies

(London,1823).
• 1) Onipresença do escravismo em todas as atividades da América Portuguesa

• 2) Papel central do tráfico


– Baixo custo (“mercadoria socialmente barata”, Manolo): todos os setores sociais
têm acesso à posse de escravos (Demografia Histórica)
– Importância da alforria / válvula de escape: não é negação da ordem escravista,
mas sim reforço

• 3) Papel da resistência escrava para a dinâmica da instituição


– Resistência indígena (santidades, derrotas paulistas em Mbororé, guerras dos
bárbaros) alavanca a escravidão africana
– Desafio de Palmares: mecanismos coercitivos e cooptativos extremamente bem
sucedidos
• Alencastro, Luiz Felipe de. O trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul,
séculos XVI-XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
• Blackburn, Robin. The making of New World slavery. From the baroque to the modern,
1492-1800. Londres: Verso, 1997.
• Boxer, Charles. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola, 1602-1686.São Paulo: Cia
Ed Nacional, 1973.
• Freyre, Gilberto. Casa grande & senzala.Brasília: Editora Universidade de Brasília,
1963.
• Gorender, Jacob. O escravismo colonial.São Paulo: Ática, 1988.
• Monteiro, John Manuel. Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São
Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
• Novais, Fernando. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808).
São Paulo: Hucitec, 1979.
• Patterson, Orlando. Slavery and social death. A comparative study. Cambridge, Mass:
Harvard University Press, 1982.
• Schwartz, Stuart. Segredos internos. Engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-
1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
• Schwartz, Stuart e Menard, Russel. “Por que a escravidão africana? A transição da força
de trabalho no Brasil, no México e na Carolina do Sul”. In: Szmrecsányi, Tamás (org.)
História econômica do período colonial. São Paulo: ABPHE-Hucitec-Edusp-Imprensa
Oficial, 1996.

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