E Bookmulheresnegrasresistem
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VERA RODRIGUES
RAÇA/COR ARIADNE RIOS
MONA LISA DA SILVA
E GÊNERO
TERRITÓRIO,
VERA RODRIGUES
ARIADNE RIOS
MONA LISA DA SILVA
(ORGANIZADORAS)
TERRITÓRIO,
Copyright © Vera Rodrigues, Ariadne Rios, Mona Lisa da Silva, Janainna Pereira, Joice
Lima, Sara Oliveira e Suellem Cosme.
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, transmitida
ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras.
Vera Rodrigues, Ariadne Rios, Mona Lisa da Silva, Janainna Pereira, Joice Lima, Sara
Oliveira e Suellem Cosme.
Mulheres Negras Resistem: território, raça/cor e gênero. São Carlos:
Pedro & João Editores, 2020. 77p.
ISBN Nº 978-65-5869-041-2
CDD - 410
www.pedroejoaoeditores.com.br
2020
dedicatória
“Dedicamos esse livro à mulheres negras que, de alguma forma, fazem
o protagonismo feminino negro ser a re-existência de sua caminhada.
Mulheres negras avós, mães, filhas e netas. Todas juntas, continuamos
o caminhar de nossas ancestrais na luta contra o racismo, machismo e
todo tipo de opressão. Sigamos resistindo e existindo!”
agradecimentos
O projeto “Mulheres Negras Resistem”, surgiu do luto e foi à luta.
Do momento de dor de uma perda ao surgimento de sementes e
protagonismo. Marielle Franco, quando foi brutalmente assassinada,
despertou e ainda propaga que a luta e as vozes de mulheres negras
nunca poderão ser interrompidas. Inicialmente nossos agradecimentos
são à ela, e toda sua família. Em seguida, destacamos as parcerias com
outras mulheres negras que caminham conosco até os dias atuais,
plantando e colhendo sementes. Então agradecemos, à Professora
Zelma Madeira, por apoiar desde o início a proposta do curso. Da mesma
forma agradecemos as nossas primeiras professoras formadoras:
Rosalina Tavares, Carolina Bernardo e Luana Antunes, as quais disseram
“Sim, estamos com vocês” e continuam ensinando e encantando nossas
cursistas. E por falar delas, sim, nossos sinceros agradecimentos
à todas elas, desde 2018 até hoje, são elas que fazem nosso projeto
“curso de extensão” ter sentido. E as atuais professoras formadoras:
Matilde Ribeiro, Joanice Conceição, Lara Silva, Denise Costa, Aurelia Rios
e Silvania de Deus, por aceitarem nosso convite para contribuir com
ações de protagonismo feminino e negro. À todas mulheres negras (e
não negras, antirracistas), que de uma forma ou de outra, contribuíram
do ínicio até hoje, nos atos de intervenção e outras ações que foram
realizadas. Também agradecemos à Escola Porto Iracema das Artes,
a qual tem sediado nosso projeto. Por fim, agradecemos às nossas
ancestrais que dão todo o sentido da palavra: “nossos passos vêm de
longe”. Sigamos!
Fotografia de Isabela Kassow
sumário
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
REFERÊNCIAS
apresentaçÃo
⁴ Arte elaborada por Mona Lisa da Silva, mestra em antropologia (Ufc/Unilab), escritora
e integrante da equipe de coordenação.
Os módulos foram nomeados com base no contexto sócio-político
de luta das mulheres negras, atentando para expressões de ativismo
e produção de conhecimento. Esse cuidado visa que cada cursista e
formadora se reconheça nesse processo formativo e que isso faça
sentido em suas trajetórias coletivas de vida. No dia 14 de maio de 2018
demos início ao primeiro módulo e o encerramento se deu em novembro
com a cerimônia de entrega simbólica de certificados.
Em cada módulo, também estava previsto atos de intervenção. Esses
momentos se constituem em ações que ocorrem em espaços públicos e
podem ter formatos diversos: roda de conversa, sarau, cine-debate, etc.
Tanto os módulos quanto os atos de intervenção são pensados de forma
a estimular o protagonismo das cursistas em diálogo com um público
externo, formado em sua maioria por outras mulheres negras.
Assim, são aplicadas técnicas que aliem a experiência vivenciada
enquanto mulheres negras com referencial teórico-político que permita
reflexão e aplicação do conteúdo desenvolvido. Por conta disso fazemos
uso de leituras seguidas de debates, dinâmicas de grupo, elaboração
e produção de material audiovisual com depoimentos das cursistas e
produção de textos. Para fins de registro e sistematização das atividades
mantém-se dados atualizados sobre o desenvolvimento do curso e suas
etapas nas redes sociais; compartilhamento e participação em ações de
redes e coletivos de mulheres negras e questionários de autoavaliação
ao final de cada módulo.
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Texto na íntegra disponível em: https://www.geledes.org.br/vivendo-de-amor/
2.3 identidade visual E DEPOIMENTOS
Para mim, foi uma experiência única. Primeiro, por eu ter sido uma
das escolhidas. Segundo, por estar entre mulheres negras, de tamanha
grandeza e potência, no qual aprendi muito sobre nós. A forma de como
devemos nos fortalecer, e não desistir de lutar. E terceiro, entendi que,
“uma sobe e puxa a outra”. Sou muito grata a todas que participaram
desse projeto lindo. Obrigada e PARABÉNS!
Joelma Vieira, turma 2019.
[1] A lei se refere a “Reserva aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas
nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no
âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das
empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União.” Acesso
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12990.htm
hoje: Corponegra[2]. Esta performance, que foi criada em 2018, já foi
apresentada por Larissa em diversos espaços e mostras culturais de
Fortaleza, incluindo o encerramento do MNR de 2019. Nela, a ex cursita
fala por meio da dança sobre o corpo negra, como o título já diz, sobre
a vivência de mulheres negras na área da performance. As leituras e
trocas vividas pelas mulheres negras no curso, de acordo com Larissa,
influenciaram seu processo de criação da performance.
Durante sua participação no Projeto Larissa também participou
do Coletivo Natora, onde trabalhou de 2016 a 2019, desenvolvendo
atividades principalmente nos bairros Carlito Pamplona e Pirambu, mas
também em outros lugares de Fortaleza. Ela destaca que passou a levar
suas vivências no curso para as ações desenvolvidas pelo Coletivo: “na
época que eu estava no projeto eu também atuava com o Coletivo Natora.
Então eu caminhava junto com essas duas coisas, o que eu vivia no curso
eu também trazia pras ações que eu fazia.”
Nerice Carioca é comunicadora e hoje exerce sua profissão em uma
ONG que trabalha com questões relacionadas aos Direitos Humanos. Ela
ressalta que pauta questões de raça e gênero em sua atuação profissional
e que está tendo uma experiência positiva por ter a possibilidade de
abordar algumas questões com maior autonomia. Entretanto, pontua os
desafios de abordar determinados temas: “Trabalhar com comunicação,
prestando serviço para alguém é desafiador quando falamos em tocar
em questões como racismo, machismo dentre outros tipos de violência.
Mas o racismo é ainda mais complexo, porque as pessoas têm medo de se
posicionar.” Nerice ressalta também a importância que a participação no
curso teve na sua trajetória profissional e pessoal: “O curso foi de extrema
importância na minha vida, estar junto com outras pretas lendo mulheres
pretas é transformador.”
Uma das ideias primordiais do Projeto Mulheres Negras Resistem, de
ser de, para e com mulheres negras, é um ponto comum destacado pelas
cursistas, que ressaltam a importância de um espaço como este, que traz a
possibilidade de se trocar experiências, aprender e ensinar mutuamente,
fortalecendo mulheres negras, potencializando mais ainda suas ações
e inspirando novos movimentos. Como Lara Denise ressalta, no curso
“Compartilhávamos dores, lutas, mas também possibilidades e desejos.”
O processo formativo, que alia teoria e prática política, nos atravessa,
fortalecendo nossas bases teóricas e dando sustento para nossas
práticas cotidianas. E conhecer por meio de leituras e das formadoras
o protagonismo feminino e negro é transformador. Fernanda Medeiros
ressalta a importância do conhecimento coletivo: “Uma das maiores sedes,
é o conhecimento, e ele tem sentidos e significados, portanto é potente, é
mobilizador, é fortalecedor quando tem qualidade e é socializado, e isso
o Mulheres Negras Resistem representa e faz concretamente.”
Um pouco do que (in)surge desse processo de partilha, de meses de
construção coletiva, está expresso nas experiências relatadas pelas ex-
cursistas da edição de 2018 e compartilhado aqui. São mulheres negras
que acessam cada vez mais a academia e os serviços público e privados,
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Para saber mais sobre o trabalho de Larissa Paiva: https://mapacultural.fortaleza.
ce.gov.br/files/agent/21405/corponegra2.pdf
levando suas demandas e pautas que lhes são essenciais, debatendo
políticas públicas, invertendo uma lógica branca e colonial, possibilitando
um giro epistemológico ao trazer autoras negras para suas pesquisas e
por serem em si corpos negras ocupando estes espaços.
Somos mulheres negras nos movimentando, contribuindo para o
movimento de outras, honrando as que vieram antes de nós, abrindo
caminhos para as que virão. Não é à toa o fato de muitas considerarem
o encontro no MNR como divisor de águas em suas trajetórias diversas.
Trajetórias-águas, que ao se encontrarem crescem.
EdiçÃo 2019
EdiçÃo 2020
Agora iremos conhecer um pouco sobre os projetos, atividades e outras
ações desenvolvidas pelas cursistas da edição 2020, e é importante
salientar que durante a elaboração desta comunicação e a coleta
de dados para este levantamento a formação do MNR ainda estava
ocorrendo. Esta informação é crucial para compreender que algumas
ações ainda estão em planejamento ou em estado de lapidação inicial,
e por aqui nós celebramos o nascimento de novas ideias que buscam
promover melhorias na vida da população negra.
Eu, Joice Lima elaboro parte desse capítulo dedicando meus esforços a
contemplar todas as minhas colegas do MNR de maneira justa, mas com
a plena certeza de que possíveis equívocos podem ocorrer.
No caminhar do texto iremos observar a pluralidade e a potência
criativa de nossas cursistas que dão base para o nosso protagonismo
negro e feminino nas mais variadas areas da capital Fortaleza e de
outros municipios do estado do Ceará, levando em consideração que
as informações contidas aqui são apenas uma pequena parcela de tudo
que diz respeito ao nosso protagonismo.
Mesmo com muitas dificuldades enfrentadas neste cenário pandemico,
nessa reta final contamos com vinte cursistas e uma grande variedade
de ações e propostas criadas, desenvolvidas e executadas mesmo em
meio ao caos. Com informações levantadas por meio de formulário
eletrônico, email e outros modos de interação virtual tentarei expor aqui
os desdobramentos dos projetos elaborados.
As temáticas que integram e estruturam os projetos e/ou ações
desenvolvidas pelas cursistas ao longo da formação são bem
diversificadas, dentre os principais objetivos estão: partilhar os
ensinamentos recebidos durante a formação entre mais pessoas negras,
conhecer a realidade de muitas outras mulheres negras que ainda
seguem em anonimato, levantar dados sobre a realidade da mulher
negra cearense, contribuir para que outras semelhantes também tenham
a possibilidade de enxergar o próprio protagonismo, contar a nossa
própria história, fortalecer a nossa identidade individual e coletiva, e
tantos outros que visam articular a teoria a nossa vivência enquanto
pessoas negras.
Nossas cursistas que também são professoras, formularam tanto
projetos como atividades que estão intimamente ligadas ao espaço
educador, a crianças e jovens com foco na troca aluno-professor e
também entre os colegas de trabalho para aquelas que atuam na escola,
compartilhando novas referências, metodologias e lançando novas
propostas de ensino. Para além da ocupação desse espaço e o desejo
de transformação do mesmo , essas mulheres também se interessam em
adotar novas práticas de ensino dentro de casa, em suas comunidades,
e todo lugar que ocupam. Diretamente do bairro Bom Jardim em
Fortaleza, a professora-cursista Lorena Vieira que também trabalha com
reforço escolar garantindo o suporte nas atividades escolares de crianças
da sua comunidade disse o seguinte:
GRILO, Nathalia. A arte do Ventre. 1ª Edição revista DiCheiro. Bahia, Maio de 2020.
RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro. São Paulo: Cia das Letras,
2018.