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Mexe esse rabo


gordo, pá!
Álvaro Magalhães

Mexe esse rabo gordo, pá!


Mexe esse rabo gordo, pá!
Picasso & Van Gogh, gato e cão, vivem em casa de uma pintora e nem se dão mal.
Van Gogh é um cão ingénuo e generoso e Picasso um gato gordo e pachorrento,
que sonha com uma vida sossegada, sem ontem nem amanhã. Mas isso era se
não houvesse no mundo tantos Duas Patas (somos nós, as pessoas). Mas há.

Álvaro Magalhães
Picasso está muito ocupado a descansar, não quer investigar o misterioso
desaparecimento do retrato do pai, e nem Van Gogh o consegue convencer.
Mas quando ele descobre, no forro da almofada, o mapa de um tesouro
escondido, arrisca sair de casa e viver uma aventura – a sua primeira aventura!

www.portoeditora.pt
72702.11 1 1

9 789720 727022
ISBN 978-972-0-72702-2 O Ilustração de Carlos J. Campos Oo

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Mexe esse rabo
gordo, pá!
Álvaro Magalhães
Ilustração de Carlos J. Campos

Oo

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Picasso acordou da sesta
e espreguiçou-se. Há dias e dias
que sonhava o mesmo sonho,
em que, depois de uma aventura
arriscada, encontrava uma
despensa secreta cheia de
deliciosa comida para gatos:
mousse de peixe, biscoitos
de salmão, queijo da Serra…

Quando ia
deitar-lhe
o dente,
acordava
com água
na boca
e a barriga
a dar horas.

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“Grandes aventuras arriscadas? Só em sonhos!”, pensou ele,
a caminho da cozinha. O mundo estava tal e qual como ele o tinha
deixado antes de adormecer. Vinha aí um dia como outro qualquer,
e ainda bem. Para um gato, melhor do que isso não há: tudo repetido
e no seu lugar, um dia igual ao que passou e ao outro que virá.

Na cozinha, o prato dele estava vazio, o que o levou ao ateliê da Sofia,


para reclamar. Ela estava a pintar e não lhe deu atenção. Então, ele
recorreu a umas turrinhas de interesse nas pernas, enquanto
pensava: “ Tanta coisa por causa de uns míseros
biscoitos de má qualidade, feitos de aparas e restos.
Ao que um gato caseiro tem de se sujeitar.”

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A Sofia virou-se de repente e salpicos de tinta
caíram-lhe no pelo. Andava sempre com manchas
de tinta no pelo, pintado, pois havia tinta e
quadros acabados de pintar por todo o lado.
Começou a lamber-se e sentiu o sabor da tinta.
Azul. Cada cor tinha o seu sabor, e o do azul
nem era dos piores. O problema era que se
arriscava a um banho. Mais valia passar fome
do que ser mergulhado em água e esfregado
com champô barato. Levava
semanas a sair o cheiro.
Por isso, apressou-se a sair dali
e regressou à almofada, que
ainda estava quentinha.

Foi então que deu pela falta


de qualquer coisa. Não sabia o quê,
mas tinha de descobrir. Uma coisa
fora do sítio podia ser uma ameaça.
O sinal de uma mudança geral,
de uma revolução.

E isso, não!

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Apareceu a cabeça do
Van Gogh, o jovem cão que
vivia numa casota, no jardim,
no parapeito da janela.
– Tudo bem aí dentro?
– perguntou.

Picasso estava muito


ocupado, a limpar a tinta,
e não respondeu. Há quem
pense que gatos e cães e outros animais não falam; e não, não falam a
língua das pessoas, mas falam a língua deles e comunicam uns com os
outros na perfeição. Entender as pessoas é que eles não conseguem.
Não há nada a fazer. E se nem as pessoas entendem as pessoas, como
haveriam eles de as entender?
– Tudo bem aí dentro? − repetiu Van Gogh.
– Nem por isso − respondeu Picasso. − Desapareceu qualquer coisa,
mas não sei o quê. Estou a conferir tudo, como fazia o meu pai, este
que está aqui no retrato...

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– Olha! É isso que falta, o retrato
do meu falecido pai – continuou
Picasso. – Estava aqui, na parede,
por cima da almofada, e, agora,
não está em lado nenhum.
− Terá fugido? − raciocinou
Van Gogh.
− Os retratos não fogem.
Alguém o roubou, é o que é.
− Ó diabo, é melhor avisares a
nossa dona − disse Van Gogh.
− Os gatos não têm donos, pá.
Fala por ti. Eu chamo-lhe a Sofia.
E chega.

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− Está bem, avisa
lá então a Sofia − insistiu
Van Gogh. − Queres
que eu ladre?

− Não, obrigado,
eu também sei ladrar,
quer dizer, miar.

Picasso pôs-se a miar muito alto e a Sofia


lá acabou por aparecer, com um pincel na
mão a pingar tinta.

− O que foi agora?


− perguntou ela.
O pobre gato bem se explicou,
mas nada, ela não o percebeu; nem fez
um esforço para perceber.
Desesperado, ele pôs-se a saltar
na parede e só ganhou mais uns
salpicos de tinta azul. Depois,
a Sofia voltou ao ateliê,
a resmungar.

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− Estás a ver? − queixou-se Picasso. − Não adianta. É preciso esperar que
ela abra os olhos e veja. E qual é o melhor sítio do mundo para esperar?
Van Gogh regressou à guarda do jardim e Picasso enroscou-se na
almofada, onde batia o sol da manhã. Às tantas, começou a sentir coisas
cheias de calor, adormeceu e caiu naquele sonho maravilhoso em que
encontrava uma despensa secreta cheia de deliciosa comida para gatos:
mousse de peixe, biscoitos de salmão, queijo da Serra. Quando ia deitar
o dente à mousse de peixe, foi acordado por um grito da Sofia.

− O retrato do Matisse desapareceu!


− dizia ela, a olhar para a parede vazia.

Depois, procurou o retrato


por toda a casa e, no final,
regressou ao mesmo sítio e disse:
− Não está em lado nenhum.
Isto não é normal.
− Até que enfim! −
murmurou Picasso,
a espreguiçar-se.
− E eu é que
vejo mal…

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Mexe esse rabo
gordo, pá!
Álvaro Magalhães

Mexe esse rabo gordo, pá!


Mexe esse rabo gordo, pá!
Picasso & Van Gogh, gato e cão, vivem em casa de uma pintora e nem se dão mal.
Van Gogh é um cão ingénuo e generoso e Picasso um gato gordo e pachorrento,
que sonha com uma vida sossegada, sem ontem nem amanhã. Mas isso era se
não houvesse no mundo tantos Duas Patas (somos nós, as pessoas). Mas há.

Álvaro Magalhães
Picasso está muito ocupado a descansar, não quer investigar o misterioso
desaparecimento do retrato do pai, e nem Van Gogh o consegue convencer.
Mas quando ele descobre, no forro da almofada, o mapa de um tesouro
escondido, arrisca sair de casa e viver uma aventura – a sua primeira aventura!

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ISBN 978-972-0-72702-2 O Ilustração de Carlos J. Campos Oo

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