Salomão Rovedo-Diários Do Facebook (IV)
Salomão Rovedo-Diários Do Facebook (IV)
Salomão Rovedo-Diários Do Facebook (IV)
Diários do
63
facebook (IV)
Rio de Janeiro
2020
Ano da pandemia do Covid-19
Introdução
UM
Amor. Como vai? - Estou bem. - Está só? - Sim, sozinha. - Tem vinho? -
Sim, muito. - Levarei queijos e frios. Tem muita comida aí? - Até o fim do
mundo. - Vamos quarentenar juntos? - Na hora! - Bota a vodca no freezer.
Tem álcool gel? - Sim. - Levarei camisinhas. Daqui a pouco estarei aí. -
Não demora. - Ciao. - Beijos.
DOIS
Nesta hora como vale ter um cabide para pendurar as saudades. Ter um
amigo a quem lembrar mesmo que ele tenha te esquecido. Principalmente
um amor para rememorar, mesmo que ela não te ame mais e viva para lá e
para cá com um cara barbudo. Tenha em conta não perder o tato, o paladar,
o olfato, a forma arredondada das vergonhas das mulheres.
TRÊS
Sabe aqueles parentes que nem se lembram mais de você? Tire de letra, dê
uma bandeira: continue gostando deles e delas. Faça de conta que o mundo
é lindo e nada fará diminuir essa belezura
QUATRO
Sempre tenha à mão um amor disponível, dos tantos que semeou. Um amor
é sempre um amor, mesmo que não frutifique lágrimas. Nem precisa falar,
basta um whatsapp, messenger ou instagram, e de novo o milagre se fará,
das cinzas o amor renascerá, morou?
CINCO
Oba! O sol apareceu. As nuvens dispersam os ares. O calor chegou. A
poluição até diminuiu. A pandemia acabou! Todos para a praia! Bota a
cerveja para gelar, sal grosso na picanha, batucada no quintal. Vamos tirar a
diferença, velocidade, velocidade, vamos correr à mil. Calma gente,
devagar, menos, não é tanto assim, é Primeiro de Abril!
SEIS
Declaração: — Morro de Covid por você, amor. E você? Morre também por
mim? Não importa que não morra. Eu também menti.
SETE
Nunca as janelas foram assim habitadas. Longe do temor e dos costumes,
desdenham o tédio, afloram risos nervosos, desafiam decretos. Seios à
mostra, nudezas desfraldadas, pássaros revoam: são anjos sem medo de
disseminar o amor. Esvoaçam pequenos anjos que tudo sabem da paixão
sem temor.
OITO
Carta-declaração feita aos meus netos: — Queridos netos, me perdoem, por
esta merda de Planeta Terra que deixo como herança para vocês. (Dê um
Ctrl+C / Ctrl+V e compartilhe).
NOVE
Se eu tivesse o dinamismo dos 20 anos — com Covid-19 ou sem ele — não
deixaria passar em branco o laser cósmico com que teus olhos feriram
minha retina cansada.
DEZ
Por tanto tempo andei pendurado nas pernas dela, beijei as unhas pinicadas
de esmalte Coty, sofri com as joelhadas, os requebrados que me atiravam
longe, deixando hematomas e contusões, lambi a boca roxa de batom
Natura. Até que um dia a perdoei.
meo
as vago
Em outra nota dada em alguma página usei a expressão “no cu do mundo”,
à qual me apresso a explicar e corrigir. hospedado na pousada Caburé, nos
Lençóis Maranhenses, outrora região inóspita, imenso mar de areia, deserto
com bolsões de água doce (um cu de mundo belíssimo), o gerente me
mostra o Livro de Visitas, para dizer — a contragosto — que o Nélson Piquet
passou ali. A irritação era porque Piquet escreveu no livro: “Estou aqui, no
cu do mundo” — e seguiu a nota por aí afora. Tentei acalmá-lo: “Não fique
chateado, o Nélson Piquet sempre foi assim, irreverente e mal educado”.
Falando com um pescador local, conversa vai, conversa vem, ele me diz:
“Quando eu cheguei aqui, era o começo do mundo!” Ele quis dizer que o
local era árido, de natureza ingrata, difícil e improdutiva para a vida
humana, como no começo do mundo. Nélson Piquet e eu estamos errados:
tanto aquele homem que resolveu plantar família no centro de um juncal
quanto o pescador de Barreirinhas vivem, não no cu do mundo, mas no
advento da natureza, no princípio do universo — no começo do mundo!
meo
as vago
Também escolhi o pior programa de TV 2014. Parada dura. Saí da área
comercial, onde só assisto noticiários e esportes, para ficar na TV dita a
cabo (às vezes, de cabo a rabo). O Oscar tá dividido entre o programa “Arte
em Movimento”, apresentado por Gisele Kato no canal Artel, cuja sinopse
anuncia “tudo o que acontece em todas as artes: música, literatura, teatro,
dança, artes visuais, cinema e fotografia”. O cocô que estraga o canal Artel
é esse: juntou num saco de gatos tudo que flutua no ar, sob a égide da Arte,
comprimido para gente engolir. Ademais, Gisele Kato tem timbre de voz
mais alto que soprano — grita em vez de narrar. Outro programa mais ruim
de 2014 é “Oficina Motor”, do canal G+ em que “três apaixonados por
carro: uma pilota (sic) (Michelle de Jesus), um jornalista especializado
(Henrique Koifman) e um jornalista fanático (Lipe Paíga) vão receber toda
semana um convidado ilustre: o carro”. O programa consiste em viajar
mundo afora, pegar o carro, dar umas voltas, e elogiar — todos são perfeitos,
excelentes! Até uma velha camioneta Rural Willys entrou na dança! Então,
os caras viajam, se hospedam, comem, bebem — sabe-se lá mais o quê — na
boa e entulha a TV com essa tralha! Não me interessa. Em bom paulistanês:
nunca tirei carta, para não furar semáforo ou ser assaltado no farol em
pontos de alagamento.
Comunico que estou me desligando das atividades profissionais de
Despachante Aduaneiro, iniciadas em 1962. Agradeço aos companheiros e
profissionais que conheci ao longo dessa trajetória, dos quais muitos se
tornaram amigos. Especial agradecimento ao Franklin Machado, Paul
Charlier e Ângela Alvaro (AzSolutio), gente que gosta do mar, apaixonados
por portos e aduanas. Estarei assumindo o posto de Guarda de Jardins e
Praças, designado para o Jardim do Méier, onde ainda tem banda de coreto,
lambe-lambe, pregação do evangelho, baralho, dama e xadrez nos fins de
semana.
meo
as vago
Todos os erros e incompetências do Criador chegaram ao clímax no
homem. Como peça de um mecanismo, o homem é o pior de todos;
comparados com ele, até um salmão ou um estafilococo são máquinas
sólidas e eficientes. O homem transporta os piores rins conhecidos da
zoologia comparativa, os piores pulmões e o pior coração. Seus olhos,
considerando-se o trabalho a que são obrigados desempenhar, são menos
eficientes do que o olho de uma minhoca; o inventor de tal aparato ótico,
capaz de fabricar um instrumento tão cambeta, deveria ser surrado por seus
fregueses. Ao contrário de todos os animais, terrestres, celestes ou
marinhos, o homem é incapaz, por natureza, de deixar o mundo em que
habita. Precisa vestir-se, proteger-se e armar-se para sobreviver. Está
eternamente na posição de uma tartaruga que nasceu sem o casco, um
cachorro sem pêlos ou um peixe sem barbatanas. Sem sua pesada e
desajeitada carapaça, torna-se indefeso até contra as moscas. E Deus não
lhe concedeu nem um rabo para espantá-las”. H. L. Mencken - O livro dos
insultos.
NEGOSHID OO
Para onde estará indo essa turma, meu Deus” Primeiro o Valdir, disse que ia
comprar cigarros. Um dia chegou aqui: — Como é, tem aquela mineira? Não
eu não tinha, mas achei um resto de Vodca Kovak: — Ah, aqui tem, ainda dá
um tapa. Botei meio copo americano, ele cheirou, virou, estalou a língua: —
Tem mais? Depois o Luiz Barriga deitou. Eu chegava ao Bar Riga: — Luiz,
minha mulher fugiu com o Ricardão e eu estou duro! — Então veio ao lugar
certo! Botava duas genebras geladinhas, uma para mim outra para ele. Para
gripe era meladinha: cana, mel e limão. Sempre aos pares. Lá na outra
banda, o Zeca nunca mais voltou a São Bento. O Zeca era invisível,
marcava presença com regalos deixados à porta de parentes e amigos. O
Mercado São Francisco, a mesa rodeada de amigos, o morro de camarão
seco, dúzias de cerva. E o Silva, que parava no Bar do Messias? Foi o
primeiro a adotar a Itaipava Litro. Como bebia e fumava o Silva, cantando
amores possíveis —. Anita e Claudia que o digam. Para onde foram os caras,
gente? E o Quincas? João Bala? Saloca? O Quincas tá vivinho da silva
lambiscando grogues no Boteco. João Bala anda catando madeira por aí. E
Saloca tá secando garrafas de Heineken no Egídio e depois vai mijar na
estátua do Orlando Silva, no Cachambi!
Tem primos e primos. Ter primos é uma fortuna como qualquer outra. Os
primos se acomodam graus acima — os mais velhos —, degraus abaixo —
mais jovens — por isso a querência é soberbamente aproveitada. Dessa
maneira, de todos os lados que os primos surgem chegam trazendo uma
gama de experiências de inexprimível santidade. E as primas? Ah, as
primas reacendem toda a espetacular e fulgurante luminosidade que se
achava recôndita, escondida nas dobras plissadas da vida. De repente o dia
se torna mais cintilante, o sol radioso — não importa os 45º à sombra —
espraia raios pela areia e cintila como pedra preciosa. Expliquei claramente
o bem que fazem as primas? Mas os primos também tornam o dia mais
jubiloso, quando num lapso magnificente, de notável e soberba majestade,
presenteia com a esplêndida tiquira de Santa Quitéria e um belo quilo de
camarão seco de Tutóia. Obrigado Antônio Nicolau Júnior, bem honra o
nome do teu velho pai ao agir como um sábio, quando teve a ideia de
presentear este pobre rei desterrado tão suntuosos mimos.
“eco
Rb Vagos
O Brasil é privilegiado? Cerca de 10% da água doce do planeta estão aqui.
É o dobro da Austrália e Oceania, 42% da Europa e 25% da África. O
Brasil recebe chuvas abundantes durante todo o ano. O Brasil é um país
privilegiado? Porra nenhuma! Falta e irá escassear água nas maiores
cidades do país. Por tabela, falta energia elétrica também. O que isso
significa? Nosso sistema engloba o uso da água potável em quatro vias de
consumo: 1) indústria; 2) eletricidade; 3) uso humano; 4) desperdício. A
produção da “energia limpa” é sustentada por hidrelétricas, barragens e
represas que estão secando. O lucro é grande, por isso montante de
construção se agiganta igual Ciclopes: 206 hidrelétricas, 3 nucleares, 30 de
gás natural, 4 óleo e carvão, 1.300 termelétricas! Claro, a termelétrica é a
usina que mais polui, agrava o aquecimento global. E dá mais lucro! A
construção de hidrelétricas, barragens, térmicas, eólicas e represas (que vão
inundar terras produtivas, cidades e represar muita água), irá também
causar uma farra de dinheiro público. Cresce a todo instante a lista de obras
e os Empresários que roubam a Petrobras, saqueiam a transposição do São
Francisco, Refinarias de Petróleo, Plataformas e outras obras, são os
mesmos que tocam a construção das usinas.
Assisti hoje à final da Copa da África 2015 entre Costa do Marfim e Gana.
O locutor anuncia a presença no estádio de altas autoridades, inclusive os
Presidentes dos países finalistas, da Fifa, da CAF e também da nação
anfitriã, a Guiné Equatorial. Preside o país desde 1979 o Ditador Teodoro
Obiang, cuja fortuna ultrapassa US$ 600 milhões. Futebol também é
cultura: o narrador do jogo diz que Obiang é o presidente mais rico da
África, porque colocou todos os bens do país em seu nome — “para evitar a
corrupção!” Em visita à África, a primeira parada de Lula no continente
africano foi na Guiné Equatorial onde se encontrou com Obiang. Por tudo
que se vê no noticiário brasileiro, parece que aqui também se quer colocar
o PIB sob tutela única — ainda que sob o manto da corrupção. Será que o
PT trouxe a fórmula de lá? Ah, a campeã foi Costa do Marfim, 9-8 nos
pênaltes. PS: Nós que já rimos da Venezuela por importar papel higiênico,
nós que já rimos da Argentina por carregar uma inflação guaçu, rimos e
debochamos porque perdemos a humildade. A Argentina é aqui — a
Venezuela é aqui! Como diria o Tião: “Nóis tamo é fudido, mermão!”
meo
as vago
No que estou pensando? No Holocausto de Dresde que está fazendo 70
anos, vitima do humor britânico de transformar uma cidade em cinzas
exatamente na quarta feira de cinzas de 1945, e no qual foram vitimas
fatais de bombas incendiárias inglesas e americanas, em vinte minutos de
bombardeio, cerca de 200.000 civis e refugiados, em uma cidade histórica
que havia se mantido longe da guerra e sem valor estratégico. Magnífica
ideia de Churchill! (Guilherme von Calmbach)
Isso foi um absurdo histórico que ninguém até hoje reparou. USA e
Inglaterra (mais França, Dinamarca, Jordânia), na chamada Coalizão (não
será Quadrilha), cometeram mais “crimes contra a humanidade" do que
Hitler, os porraloucas do Tolimir, Mladic, Houssein, Khadaf e outros tais.
Esse Tribunal Penal Internacional tem caralho para condenar a Coalizão?
Quem irá escrever a poesia sobre teu corpo? Não eu; antes mesmo que as
palavras se insinuem, chegarei a teus pés, boneca de porcelana, que beijarei
sem sofreguidão e assim, navegando em calmaria, dobrarei o cabo dos
joelhos, rumo às coxas desérticas; antes que a primeira sílaba se ofereça lá
estarei intrincado na lisura cremosa de tua vergonha, tão alta, lisa e cerrada,
como contou Caminha, a bunda maçã; antes mesmo de ter o papel nas
mãos, despejarei em teu umbigo gentil a safra recolhida no pomar de tuas
pernas, deixarei com a barba teus seios lavrados, as calhas rosadas, não,
não descreverei os mamilos diminutos; ali sulcarei analfabeto entre peles,
em graça vampirarei a tua carótida sem pingar lágrima de sangue; pelas
costas, enfim, exausto, banhado em óleos, não descartarei três ou quatro
letras da intensa jornada; venha moça, bem novinha, gentil, cabelos claros
compridos, vergonha alta, cerradinha, limpa da cabeleira; não usarei
palavras para inscrever ode sobre teu corpo, tudo na travessia de jeito
simples terá sido burilado; os olhos verdes e os lábios sem mácula, a hóstia;
não, na e não, pois afoito nada me governa o relatar; quem gravará o
encanto sobre teu corpo? Eu não.
meo
as vago
Acabou o Carnaval. Desci para comprar pão e o jornaleiro já estava
deixando O Globo na portaria. Na página principal, mais uma Propina
descoberta. Já se vê que Propina é como jogo de bicho — não acaba nunca.
Então vamos legalizar!
Artº 1º - Fica instituída a Propina em todo o país.
a) a Propina fará parte das licitações e contratos administrativos de obras,
serviços, compras, alienações e locações da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios - e estará isenta do Imposto de Renda;
b) estão obrigados à Propina os órgãos da administração direta, fundos
especiais, autarquias, fundações públicas, empresas públicas, o Congresso
Nacional, sociedades de economia mista e entidades controladas pela
União, Estados, DF e Municípios - e estará isenta do IOF;
c) a Propina será obrigatoriamente incluída no custo das obras, serviços,
publicidades, compras, alienações, concessões, permissões e locações,
quando contratadas com terceiros - e estará isenta do INSS;
d) no acerto entre o gestor público e os particulares, em que haja acordo
para a formação de quadrilha e obrigações recíprocas, a Propina não será
inferior a 10% do valor do contrato, incluídas as alterações futuras - e
estará isenta de taxas bancárias;
Artº 2º - Em homenagem ao inventor da Propina Moderna Oficial,
“Monsieur "'Ambassadeur Dix Pour Cent”, esta norma se chamará Lei
Delfim Neto. Publique-se e foda-se! Pronto, tá resolvido.
“eco
Rb Vagos
Alguém soube? Durante o Carnaval foi realizado o Rio de Janeiro Open, do
calendário da AtpWorlTour e WTA. Detalhes: 1) As partidas começavam às
12:00hs, com 50ºC ou mais de temperatura; 2) Patrocinadores: Claro, Itaú,
Samsung, Fast, RJZ, Cyrella, Tokyo Marine, Artefacto, Peugeot, Cerveja
Corona, AMIL, TAM. E, pasmem: Correios, Light, Secretaria de Esporte e
Lazer, Governo do Estado, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 3) Para
que tanto patrocinador em evento da bilionária ATP e WTA, que tem os
próprios financiadores? E por que entidades estatais — que se proclamam
falidas — botam dinheiro público nisso? O fato de tenistas serem obrigados
a jogar debaixo de 50ºC causou muita reclamação, sabendo-se que o
Ginásio Maracanãzinho, coberto, com ar condicionado, está lá ocioso.
Participantes desmaiando, suando às bicas, exaustos, sem forças para
levantar a raquete. Maria Ester Bueno, hoje comentarista da SporTV,
silenciou ante esse absurdo. Agora ela é parte do sistema. A estrela da
competição, Rafael] Nadal, caiu na semifinal para o italiano Fabio Fognini —
que na primeira rodada esteve a pique de ser eliminado! Ah, sim,
adivinhem porque o RJ Open foi realizado durante o Carnaval? Hem?
Hem? Quem falou Propina acertou! O Carnaval distraiu e a grana rolou.
Ainda mais se tem o Jóquei Clube no meio.
A gente vê todo dia na TV, a mesma coisa se repete, a todo minuto, pensa: —
nunca irá acontecer comigo. Enfim, um dia sucede e você não acredita.
Eram dois, chegaram com uniforme e crachá da Telemar, novinhos, para
reparar um defeito no telefone. Quem iria desconfiar? Ainda bem que eu
estava sozinho, como ando ultimamente, abandonado quenem cão sarnento
— menos pior, né? Até eu me lembrar de que a Telemar não existe mais, que
virou Telegang e depois Oi (mas continua prestando os mesmos serviços
ruins), até chegar aí — já era, estava tudo dominado! Sabiam o que queriam,
conheciam o ambiente, os detalhes, tinham me levantado direitinho. Um
ficou comigo e o outro agindo. Olhei assim, o cabra era meio magro, dava
para encarar, um catiripapo no pé do ouvido. O outro, mais gordinho,
exigia um bico no saco para arriar de quatro. Enfim, reparei que a arma não
era fabricada pela Estrela e resolvi não arriscar. O chefão chegou lá de
dentro: — Encontrei, tá limpo, rumbora! E para mim: — O senhor fica
caladinho aí, sei tudo sobre sua família, conheço sua sogra, a amante —
melhor ficar caladinho. Levaram o camarão-seco e a tiquira que Toni
Nicolau trouxe para mim.
NEC CSVID OL
Olá Secretaria da CBX
Vejo que não fui bem entendido.
1) Em nenhum momento reclamei das taxas de inscrições dos torneios.
Reclamei da ANUIDADE cobrada pela CBX e da discriminação entre
jovens e idosos. Enquanto aqueles têm 50% de desconto na ANUIDADE,
nós - os idosos - pagamos o valor integral. Da mesma forma que o jovem
tem limitações financeiras, o idoso — em sendo profissional já inativo -
também as tem.
2) Reclamei porque a anuidade é cobrada de Janeiro a Dezembro e não
POR doze meses corridos - isto é - março a fevereiro - abril a março, etc.,
como deveria ser. Isso para evitar que alguém que queira jogar um torneio
em outubro - digamos - pague o valor integral da ANUIDADE para
usufruir apenas três meses da inscrição. É uma prática injusta.
3) Essa mesma reclamação - nos mesmos termos - fiz há anos a outras
diretorias da CBX e obtive a mesma resposta, embora com outras palavras.
O que não obtive resposta foi quanto ao pedido justo de redução da
ANUIDADE para o idoso, bem como a mudança de critério na cobrança da
mesma.
4) Por fim, é politicamente INCORRETO a própria CBX estimular a “jogar
torneios sem participar da Confederação". O meu número de inscrição na
CBX é 789 e me orgulho de ser inscrito na mesma e de já ter, fazendo parte
da Diretoria, colaborado com a entidade e com o xadrez brasileiro. Grato,
Salomão Rovedo.
“éso
ga Vagor
Alguém precisa me fazer compreender por que Angelina Jolie, rica,
instruída, inteligente, bonita, tomou a atitude de automutilação, totalmente
absurda para o índio que aqui vos fala. Angelina Jolie criou um pavor
jamais visto em relação à perspectiva de ter câncer. Fui olhar na internet
algo sobre a tal alteração genética que incutiram na cabecinha dela. Logo
de cara li o seguinte: “A ocorrência de câncer em uma única família pode
estar relacionada a mutações que aumentam o risco de ter a doença. São
conhecidos genes que, quando alterados, aumentam o risco de câncer de
mama, ovário, cólon, melanoma, próstata e uma variedade de tumores
raros. Estima-se em5% a 10% os tumores malignos de origem
hereditária”. Vejam só o uso da expressão “pode estar” ali no meio da
frase. Depois, adiante, o “risco” e “quando alterados”. Para finalizar:
“Estima-se em 5% a 10%” a origem hereditária. Pô meu, isso é motivo
para tirar aqueles peitinhos tão lindos e outras peças orgânicas? Será que
artistas, quanto mais ricas, mais burras serão? E o viadinho do marido,
bonitão, não fala nada? Ah, Angelina, tua sorte é não ter casado com um
paraibano.
“eco
Rb Vagos
Alguém soube de notícia de acidente na estrada dizendo: “A causa do
acidente foi o mal estado de conservação da estrada, sem acostamento, sem
guard-rails, sem iluminação, sem placas de sinalização”? Ou, então: “A
causa do acidente foi a má conservação do veículo”? Nunca. Nem irá ver.
O mesmo ocorre — guardada a diversidade — com acidentes aéreos. Em
ambos os casos, porém, a causa é sempre “erro humano”. A aeronave da
Air France que caiu a caminho da Europa, o avião da Air Asia que caiu
entre Indonésia e Cingapura, o Airbus da Germanwings que caiu nos Alpes
— tiveram causas similares: mau tempo, defeito em equipamentos, pilotos
não autorizados a fugir do manual. Cadê a Liberdade de Expressão que irá
dizer a verdade? Foi sufocada pelos $$$ das publicidades. É como notícia
de “efeito colateral” — a morte de inocentes esperada pelo Estado — a vítima
é considerada heroína: assim se anestesia a dor da família, se evita
indenizações e acusações. Ontem, um ataque da “Coalizão” contra o Isis
matou mais de 45 refugiados que estavam sob a proteção da ONU.
Governo, Estado, Coalizão - são figuras anônimas criadas para fugir da
responsabilidade dos ataques à nossa vida. Aqui no completo do alemão
diríamos: — Estamos dominados!
O xadrez é jogo digno, regido por regras nobres? Ledo engano. Apesar do
xadrez ser notável pelo que acrescenta ao praticante, é impossível evitar a
aderência do ambicioso, do vaidoso, do egoísta, cuja atitude provoca a
quebra da ética xadrezista. Não costumo jogar pelo livro ou teoria, sou
afeito ao estilo romântico, busco a beleza do sacrifício, da posição tática.
Praticando xadrez conheci muita gente cujo nível social não conta: frente
ao tabuleiro todos são iguais. Mas sempre haverá no ambiente a figura do
Jogador profissional, para quem o xadrez é um vício, um meio de apostar e
ganhar dinheiro. Seu prazer está em destroçar o pato, o capivara, o jogador
ingênuo, ruim, pouco habilidoso e com isso arrancar algum trocado.
Jogador de xadrez tem o vício de passar rasteira e usar artimanhas, é
punguista e ilusionista. Tive o prazer de jogar e reencontrar amigos, mas
esbarrei com essa turma — reclama da sorte: tsk, tsk, tsk; tira a
concentração; pede para ver a planilha; esquece-se de anotar lance. E em
posição inferior, oferece empate! Joguei mal, é verdade — passar tempos
sem contato com o xadrez é fatal. Levei duplo, caí em ciladas, deixei
forquilhas, levei garfo, dei peça pendurada, Rei sem defesa, peões no ar.
Joguei pedras! E quando consegui algo caí na lábia, nas peças envenenadas,
nas armadilhas para pegar capivaras dos malandros do tabuleiro.
Si hemos de salvar o no
De esto naides nos responde
Derecho ande el sol se esconde
Tierra adentro hay que tirar
Algún día hemos de llegar
Después sabremos adonde.
* Trad.
NEC CSVID OL
Hoje é domingo. Pede cachimbo. Pede rede, cadeira de balanço, pede praia.
Antes irei fiscalizar a feira, função para a qual estou autonomeado. Vou ver
se o ovo está oval, a vermelhidão do tomate, se a alface está verde, provar a
água do coco, essas coisas que todo fiscal faz. Pego a vinagreira que
encomendei, compro o queijo meia-cura, irei a padaria comprar pão massa
grossa. Conheço esta feira faz mais de quarenta anos. São duas
tapioqueiras, quatro vendas de caldo de cana e pastel, seis peixarias! Três
barracas vendem farinha d'água, bolacha, canjiquinha. Quatro ou cinco
vendem pimenta e temperos, especiarias preparadas, à moda oriental, igual]
aos mercados populares do mundo inteiro. Tem frutas e verduras de toda
qualidade! Carnes, frangos, miúdos — fígado, o tripeiro tem. As barracas
são hereditárias — a preta que faz bolo puba e tapioca já traz sua bisneta
para aprender. Sempre levei os filhos para feira — depois a vítima foi meu
neto: Mostro e dou nome a frutas, verduras, raízes. Na segunda-feira
minhas meninas gêmeas fazem aniversário — prontas (como meu garoto),
para viver quando eu estiver perpetrando minha temporada no purgatório.
nésogo vago de
Jamais irá acontecer de novo. Um dia pensei assim, mas não foi bem isso
que a vida quis. Lá pelas tantas, de repente, tudo se repetiu. Isso dito desse
jeito parece até coisa corriqueira. Até parece Mas a natureza das coisas não
respeita tempo, rugas, nem cabelos brancos. A outros heróis já ocorreu:
Picasso, Drummond, Chaplin, Vinícius, Henry Miller, Rubem Braga. Ela
me recebeu de braços abertos, lascou aquele abraço arrochado que enlaça a
própria alma, os cabelos loiros chicotearam meu rosto, seios e coxas se
encaixando como peças de puzzle, depois me atacou com um beijo
gosmento que não deixa dúvidas, o pescoço lambusado de colônia ou
almíscar, as axilas sorrindo pousadas sobre meus ombros, o corpo justo, de
curvas ascendentes e descendentes, côncavo e convexo, para nivelar o olhar
subiu os pés nos meus pés, tão confortável como se esivesse deitada numa
rede, como quem quer ficar assim para sempre, quem não quer? até eu
gostaria, aí ela se afastou para ficarmos cara a cara, os olhos verdes
faiscaram determinação, confiança inabalável, olhos verdes como faróis
que libertam. Sim, meus amigos, a paixão é um inferno.
A revista Seleções de Reader's Digest tinha uma seção chamada “Meu tipo
inesquecivel” em que autores relembravam alguém que havia
impressionado ou influenciado. O meu tipo inesquecível é o cronista
sãobentuense Quincas Oliveira. Éramos parentes de encontros casuais ou
temáticos - aniversários, féretros, casamentos. Depois, já na terceira idade
(eu na 2º e meia), quis o destino que nos vissemos mais amiúde. “Temos
uma tardia mas bela amizade” - disse-lhe certa vez. É verdade. Pelo menos
uma vez ao ano ele vinha ao Rio de Janeiro, cidade que conhece becos e
praias, brindados com belas crônicas. Curtimos juntos edições e
publicações de livros. Com Quincas Oliveira e Ceres Costa Fernandes
passei uma semana inesquecível na FLIP em Paraty. Cambaleando na visita
à rua das cachaçarias, escorreguei nas pedras lodosas. Quando visito São
Luís, Quincas abre as portas do raríssimo bar e da adega climatizada
habitados por ótimas cachaças, tiquiras, uísques, vinhos chilenos,
alentejanos e franceses. Muitas conversas e trocas de ideias. À lembrança
do pão com manteiga trouxe a lata de Manteiga Real, original de Varginha,
de primeira qualidade. Deixei-o de olhos arregalados ao lambuzar o pão
com generosas porções da iguaria. Faz tempo que não vejo o Quincas
Oliveira, meu tipo inesquecível. Mas sei que ele vive homiziado em
Calhaus onde é conhecido pelo codinome de Joaquim Itapary. Saudades,
primo.
NEGOSHID OO
Vendo-se pelo lado religioso não dá para entender o namoro entre as igrejas
evangélicas e o estado de Israel. O judaísmo moderno já optou de vez pela
inexistência de Deus, pelo fundamentalismo do Torá e - em parte - pelo
descarte da espera pelo Messias. O que seria um insulto, visto que para os
evangélicos, Cristo (e não o pastor Edir Macedo) não só é o filho de Deus,
como também o esperado Messias. Apesar do Papa Bento XVI ter
anunciado a “isenção do povo judeu” pela morte de Jota Cristo, sabe-se
bem que é um perdão de araque. Os judeus foram duas vezes responsáveis
pela morte de Cristo: primeiro quando escolheram o agitador Barrabás para
ser perdoado por Pilatos; segundo quando chamaram para si a
responsabilidade do julgamento e a condenação ao calvário. O governador
Pôncio Pilatos, vendo que se tratava de questão interna, sem interesse para
Roma, lavou as mãos e foi beber um vinho. Isso é fato histórico, coisa que
de tempos em tempos os políticos e poderosos tentam mudar escamoteando
aqui e ali, como quem diz: - Não houve ditadura. - Não houve holocausto. -
Não houve genocídio. Tudo conversa mole para boi dormir Então, por que
esse agachamento de quatro aos judeus? Se não é fato teológico, nem
político, nem econômico - por que será?
NEGOSHID OO
Acabo de assistir e abandonar pelo meio o documentário “Vinicius”, que
pretende narrar trajetória do poeta, a vida pessoal, as paixões, os
casamentos, as amizades. Trabalho de três anos do cineasta Miguel Faria
Jr., imagens e depoimentos ilustram a vida e obra de Vinicius de Moraes
com intenção de emocionar e mostrar as múltiplas facetas do poeta sem
estereótipos. Infelizmente interceções infelizes botam por terra a intenção
do diretor. O documentário é intercalado por um show horroroso: Camila
Morgado e Ricardo Blat se mesclam a cantores, convidados e parentes,
declamam alguns poemas de Vinicius - e tudo se esfarela no ar. Parei. Saí.
Vinicius de Moraes foi o últtimo dos poetas brasileiros a viver como poeta -
viver dentro da paixão, imerso na emoção. Sem medo do lirismo no
entremeio das paixões amorosas, ele desafiou o modernismo, enterrando
premissas e teorias fágicas e antropofágicas. Tonia Carrero desvelou a
áurea da paixão que movia o poeta; as filhas Georgiana e Luciana
pressentiam a alma destroçada pelas paixões, a ânsia desenfreada por novas
explosões; JoãoCabral de Melo Neto decretou: - Se não for por amor, ele
não vive. Atento aos problemas sociais e políticos, Vinicius de Moraes
viveu, comeu, bebeu e fodeu à farta. Melhor que Mário de Andrade, que
João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade, melhor que
Ferreira Gullar - Vinicius de Moraes foi o maior poeta brasileiro do Século
20!
“eco
Rb Vagos
Estava este escriba praticando (segundo Sigmund Freud e Alfredo Santos)
sua perversão favorita - o voyeurismo - quando foi surpreendido por
cintilante cometa, na figura de uma loiraça com potencial para botar
Marilyn Monroe no chão. Desculpe a turma mais nova: não apareceu ainda
nenhuma referência clássica que possa confrontar a beleza da loirice de
Marilyn. Só que aquela visão era um pouco mais, digamos, gordinha. Seria
assim como uma Wilza Carla adolescente. Não sabe quem é, seria, foi ou
será, Wilza Carla? Ah, não enche: tá no Google ou na Wikipédia Bom
meus amigos, era carne de botar inveja ao frigorífico da Friboi ou da Sadia.
A distinta passou rápido pela sala como quem vai à copa ou à cozinha,
deixando atrás um rasto de safadice. Vestida de nada, a pele alva
resplandeceu como um relâmpago. Usando apenas o que a natureza me deu
sem mais tecnologias, fiquei de olho para presenciar o retorno daquele
bólide prateado. Limpei as lentes dos óculos, arregalei os olhos em alerta
máximo, como bom mosqueteiro que nunca fui. Ela voltou deslumbrante.
Quando chegou ao meio da sala (tenho certeza) ela olhou para mim, botou
as mãos debaixo dos peitos vastos e apontou os dois farois, atingindo direto
meus olhos. Quer dizer, não posso afirmar tudo isso porque esta merda de
óculos velhos que uso só me dá prejuízo e vexame!
nésó ga vagar
10,80 Sr ROS SÊ 9Eot
meo
as vago
Acabo de chegar do Bando do Brasil. Fui renegociar minha dívida. Foi
outra foda. Passou-se o seguinte: depois que adquiri a gastrite tendo como
brinde H. Pilory, pensei: o velho Saloca não dura muito, tá bichado, vai
vestir paletó de madeira, tá com o pé na cova, vai para terra dos pés juntos.
Afinal, quem não morre não vê Deus. Depois, a preparação para a morte
inclui - entre outras coisas - algumas medidas imorais: 1) fazer as pazes
com o Capeta; 2) receber extrema-unção; 3) pedir dinheiro emprestado.
Quando vi a propaganda do BB na TV, oferecendo empréstimo com toda
facilidade, fui, peguei. Aí, meu chapa, deitei e rolei: gastei no Bar do Oscar,
no Evandro's, no pé-sujo do Carlitinho, no Pagode da Tia Gecy, na Rua São
Gabriel, onde todo domingo tem samba-de-roda e jongo. Depois das festas
de fim de ano, vestido de bermuda e camiseta, me deitei à espera da
indesejada. Sonhei que me divertia com a turma, comemorando o calote no
banco. Mas, qual nada. Acordei vivinho. Não morri. Aí, meus amigos, em
janeiro o banco caiu de pau na minha aposentadoria, sem dó nem piedade.
Não adiantou dizer que era amigo do Manoel Da Cruz Evangelista, não
resolveu me ajoelhar e implorar, nem falar que conheço o Mario Julio
Carvalho Ribeiro desde moleque no Filipinho. Nada. A porrada veio com
juros, cascudo, correção monetária e bisca. Só de sacanagem, comprei um
pote de vaselina e dei de presente ao gerente que me atendeu.
1050 Er A SP DB 08
O repórter Pedro Andrade, do Bom Dia Rio (que assisto todas as manhãs),
declarou que o marido dele ficou zangado por ele ter dito que iria passar
um feriadão em Angra. Se o jornalista Roberto Marinho - que era espada -
estivesse vivo, O rapaz seria promovido a fazer cobertura no Complexo da
Maré. Mas a descendência dos Marinhos é chegada a “Todas as Formas de
Amar”, como agora é chamada a série Malhação, direcionada a público
adolescente. Quer dizer que a viadagem tomou conta da programação da
Globo? Não. Ainda é uma emissora que tem núcleos temáticos nos quais a
opção sexual não interfere nem faz diferença. Mas é justo que o espectador
diário do Bom Dia RJ exija definição do que é o programa informativo. A
direção do BDRJ promove a vinheta na qual espectadores mandam tubes
com o slogan “Bom dia Fachel - o Bom dia Rio volta já”! Grande parte dos
vídeos é apresentado por crianças, cuja opção sexual não aflorou tão
prematura quanto a do Pedro Andrade. Outra opção é fazer o BBB do Bom
Dia Rio e proclamar também a opinião do marido (ou mulher) do Fachel; o
que o marido (ou mulher) de Priscila irá almoçar; ouvir as opiniões
esportivas do marido (ou mulher) do Lofredo - e assim por diante. Mas o
marido do Pedro tem razão: afinal o que ele (Pedro) iria fazer em Angra
dos Reis sozinho num feriadão?
NEC CSVID OL
“eco
Rb Vagos
Esclarecendo: 1) Quando eu estiver tomando banho, limpando as unhas, as
orelhas, os pés, etc. não gosto de ser interrompido. Todo mundo tem direito
a privacidade quando trata da higiene pessoal. Existe liturgia até para
limpar a bunda. Então, mesmo com boa intenção, não interrompa o
momento com cafunés, carinhos, beijinhos. Não é a hora apropriada. 2)
Quando eu deitar para dormir, é para dormir mesmo. Não costumo fingir
que estou dormindo. Durmo de verdade e pretendo dormir até acordar. Não
interrompa o sono ainda que seja por glorioso motivo, como matar baratas.
É para você, não para mim. Assustar-se por barata, mariposa, lambisgóia,
não é motivo para me acordar. Será que ninguém pode tacar o chinelo num
miserável inseto? 3) Quando vier falar comigo, fale como adulto. É ridículo
o jeito imitativo de criança que todos fazem para se dirigir a mim. Não sou
mais criança! Recolham os brinquedos que servem para enganar, não faz
efeito algum. Eu cresci, entendam, eu cresci! 4) Quando estiver deitado no
sofá para ver o futebol, ouvir a boa música clássica, quero ficar
concentrado na beleza. Sem Michael Jackson, Zeca Pagodinho, Madona ou
aquela gorda do funk. Deixe-me em paz com Mahler, Strauss, Verdi,
Cherubini. Por fim: 5) Gosto de comer carnes e algumas frutas.
Pouquíssimos enlatados. Não sou vegano. Gosto de atum, peru defumado,
picanha, peito de frango, lonbo sem gordura. Para beber, água ou suco.
Nada de cerveja da Ambev, tenha dó! Estando combinados assim, nossa
vida será pacífica. Assinado: O Gato.
“eco
Rb Vagos
Uma história que me impactou foi a vida da violoncelista inglesa
Jacqueline Du Pré. Ela começa a tocar aos sete anos de idade. Aos 16 anos,
com o aval de Rostropovich, foi reconhecida como a mais virtuosa cellista
do seu tempo. Não é a carreira fulgurante (Jacqueline parou aos 28 anos
por esclerose múltipla), que me espanta e sim a vida pessoal. Certa época
os jovens músicos Jacqueline Du Pré, Daniel Barenboim, Itzhak Perlman,
Zubin Mehta e Pinchas Zukerman, juntos começam a brilhar no cenário da
música de câmara. Estão por perto, entre muitos, os jovens pianistas
Martha Argerich e Nelson Freire. Encontros e viagens são frequentes.
Daniel, garanhão latino de cabelos e costeletas vistosas, logo se enfeitiça
por Jacqueline, loira anglicana, olhos azul-zé-verdes, que atraca o cello
com as coxas alvas e fortes. Jacqueline era um furacão com fama de
ninfomaníaca e a paixão domina o casal. Daniel, que não pode se unir a
góy, sequestra a lady, leva-a Jerusalém, converte-a ao judaísmo e se casam.
De repente a tragédia chega: Jacqueline começa a perder a sensibilidade, é
advertida para a doença, mas opiniões leigas atrasam o diagnóstico.
Atrelada à cadeira de rodas, a doença se agrava devido a fortes emoções: o
garanhão Daniel já vive com a pianista Elena Bashkirova. Jacqueline, o
retrato vivo do desamparo, apesar de ingênua, mentalidade pura e acreditar
em tudo e todos, descobre a traição. Silenciosa ela cumpre sua via crucis
até vir a falecer. O viúvo herdou os cellos Stradivarius de 1673 e 1712, cujo
valor estimado era de £ 1 milhão cada. É ou não é uma história de arrepiar?
A vida é foda, meus amigos — e não está na Wikipédia.
Trabalhei certo tempo na Gás Butano. Era na rua que vai do Ferro de
Engomar até o Mercado Central. [Foi meu segundo emprego, antes
trabalhei com Augusto e Virgílio e depois na na Casa Inglesa, perto da
zona. Não pude recuperar o tempo, isso prejudicou minha aposentadoria].
Certa vez eu e o contador Evilazio fomos a Caxias e Coroatá trocar
representação. Pegamos o teco-teco direto para Caxias. Lá tudo correu
bem. Na hora de Coroatá o Evilazio me deixou sozinho. Fui de trem.
Quando vi Coroatá pensei nas cidades do farwest. Até o padre andava com
um 38 na cintura. Mas eu e o meu anjo da guarda fizemos amizade com a
filha do Prefeito! Fui apresentado ao cara pelo próprio Prefeito e depois ao
Padre, ao Tabelião. Estava garantido! O trabalho correu bem. De posse de
gorda promissória voltei ao hotel. À noite senti alguém empurrando a
janela. Meu cu ficou pequenininho, não passava um fio de cabelo. Deu
coragem, peguei a tranca e escancarei a janela: era uma vaca se esfregando.
Quando fui me despedir do cara, chegaram quatro jagunços armados até os
dentes. Ele me ofereceu: - Os amigos estão indo pro Entroncamento. Quer
carona? Agradeci: - Já estou com a passagem de trem e alguém me espera
em São Luís. Antes de voltar saí com a filha do Prefeito. Não comi: Quem
tem cu tem medo.
“eco
Rb Vagos
Vi Jô Soares magro. Assisti Didi bater falta e a bola virar folha-seca. Vi
Laerte vestido de homem. Ouvi Vinícius declamar que seja eterno enquanto
dure. Com Olício Gadia, conheci Boris Spasski no Aeroporto do Galeão.
Ouvi o Guru Luiz Carlos Maciel. Vi Janis Joplin de topless na Barra
bebendo Cointreau no gargalo. Assisti vaudeville com a vedete Brigite
Blair. Vi a Martha Rocha ser Miss Brasil. Estava em aula quando a
professora falou que Getúlio Vargas tinha se suicidado. Passei e vi
Drummond na praia de Copacabana. Assisti desfile de Carnaval com o
General da Banda. Noitevaguei muito na Lapa e adjacências. Vi no
Maracanã o Pelé marcar milésimo gol e pedir pelas criancinhas (que hoje
são políticos, milicianos e traficantes). Bebi cerveja no Zicartola. Saí na
Banda de Ipanema. Vi o Garrincha fazer o Brito de Mané. Consolei o
Mário Mururu a chorar por causa do amor eterno. Vi o discurso de Jango na
Central. Fui ao Maracanã no Jogo da Rainha. Vi o biquinho do peitão da
Jayne Mansfield em Copa. Visitei Ferreira Gullar em Copacabana. Falei
com Fafá de Belém pensando que era fake de Fafá de Belém. Vi o Victor
Korchnoi na Hebraica. Olhei em close os olhos verdes de Júlia. Saí no
Simpatia é Quase Amor. Fiz jornalismo na ABI. Meu primeiro texto saiu no
Jornal O Povo. Vi o Ano Novo nascer escornado nas areias de Copacabana.
Andei nos bondes Canto da Viração e Alto da Boa Vista. Vi Almir morto no
calçadão da Galeria Alaska. Assisti Vidas Secas no Cine Pérola. Fui
freelancer na Última Hora e Correio da Manhã. Vi filme de Luz del Fego
nua na Ilha das Pedras. Sentei à mesa do Pixinguinha no Gouvea. Trabalhei
no Interzonal de Xadrez do Rio de Janeiro. Atravessei os Arcos da Lapa no
estribo do bondinho. E mais, muito mais vi e muito mais verei
meo
as vago
À turma aqui em casa tem o hábito de assistir programas tipo Mondo Cane.
Um desses programas é de um médico esteticista que ficou rico
consertando a merda que médicos inescrupulosos fazem. Meu amigo, é
cada desastre, cada catástrofe, cada merda que fazem com o corpo dos
outros que dá pena. Passou por lá um rapaz brasileiro, bonito, musculoso,
bem afeiçoado, do tipo que o Sérgio Cardoso gosta. O doutor o examinou,
tirou o peso, medidas, enfim, deduziu que ele não precisava fazer nada: era
jovem, saudável e bonito. O médico, criterioso, não aceitou mexer no
rapaz, mandou embora, certificando que ele não precisava fazer nada que
aprimorasse a aparência. Pois, segundo a plateia daqui, o rapaz não se
conteve, foi a outro “especialista” e se fudeu. Sim, morreu nas mãos de um
açogueiro com diploma de doutor. Dos desastres que vi, um me chamou a
atenção: uma morena que deveria ter sido bonita algum dia, deixou que
mexessem tanto no seu corpo que foi estragando, estragando e ficou uma
merda! Não só o corpo, mas principalmente o rosto. Coitada, coitada, três
vezes coitada. Comparando o rosto da menina com fotos anteriores é que se
vê o tamanho da catástrofe. Eu ia dizer que o rosto da menina ficou mais
parecendo uma bunda do que outra coisa, mas no caso dela a comparação
não serve. Aliás, serve sim. Ficou parecendo a bunda da Yoko Ono. Vocês
já viram a bunda da Yoko Ono? As fotos antigas que ela tirou nua com o
Lennon dão algumas dicas Pois bem é isso.
meo
as vago
Afinal, o que as mulheres querem mais? Começaram por exigir sair da
cozinha para a sala. Concedido. Depois, de casa para as ruas. Permissão
dada. Queriam fumar, beber, votar, dirigir. Tudo bem, nada a opor. Se pode
votar, pode ser eleita para as câmaras municipais, estaduais, federais. Tá
certo, tá certo. Vamos generalizar logo de uma vez: ser eleita Prefeita,
Deputada, Senadora, Presidenta, o escambau! Aí quiseram estudar em
universidades. Também concordamos. Exigiram o direito de trabalhar.
Concedemos, mas com salário menor. Queriam servir nas forças armadas.
Perfeito. Pilotar avião militar e comercial. Todos concordam. Querem ir
para a guerra? Pois que vão todas e levem a sogra. Querem assumir cargos
de direção nas empresas. Tá bom. Tudo a elas foi permitido com muito
amor, carinho, porrada e feminicídio. Aí começou a extrapolar: liberdade
sexual. Pôxa! Mas tudo bem: transgênero, transformers, transisso,
transaquilo. Ter o direito de usar certos objetos contundentes na cama do
casal. Peraí! Peraí! Pimenta no cu dos outros é refresco. Francamente. E
começaram a encher os estádios para torcer pelo nosso time! Frequentam
nossos bares, bebem nossa cerveja, nossa caipirinha. Saem no nosso bloco
de carnaval e já têm bloco próprio. E — o cúmulo dos cúmulos — pegaram
todas as nossas mulheres! Minha gente, aonde isso vai chegar?
“éso
ga Vagor
TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O COVID-19 MAS TEM
VERGONHA DE PERGUNTAR: 1) O Covid não tem cheiro, cor ou sabor
— é como a água da CEDAE; 2) O Covid é politicamente correto: dá em
branco, preto, pardo, índio, transgênero, laertes, político, LGBTI, etc.; 3)
Sexo sem camisinha? Não: o Covid adora sacanagem; 4) Mas sabe aquela
chupadinha? Só higienizando com álcool gel; 5) O Covid pula, mas apenas
li metro, depois cai. Fique longe, quando ele cair, chute!; 6) Para
reconhecer o Covid: é colorido, tem espinhas na cara, é nerd, assexuado,
não usa óculos, não fala brasileiro; 7) O Covid detesta sal grosso e calor: se
a picanha estiver com Covid, sal grosso e braseiro nela; 8) O Covid não
tem religião e não crê em Deus — ele acha que é Deus!; 9) O Covid adora
gente junta: nada de sexo grupal; 10) O Covid é surdo e mudo, mas se
quiser falar com ele tem que ser em Mandarim; 11) O Covid é livre: para
ele não existe fronteira, nem da Venezuela; 12) O Covid é inimigo do
Herpes, H. Pylori, HIV e iguais: quem está bichado tem mais chance; 13)
Contra o Covid se testa vacina de álcool e diamba: alcoólatra e bagulheiro
ficariam imunes, mas tem que manter; 14) Os sintomas do Covid são: dor
de garganta, febre, cu pequeninho, cagaço e diarreia; se sentir algo assim,
corra pro SUS e comece a rezar.
Nos tempo de coronavírus eu quero a paisagem que vejo daqui: a Serra dos
Pretos Forros ou Serra Grajaú-Jacarepaguá. Porque é paisagem mutáve]
como a vida: já esteve careca de vegetação e numa chuvarada as pedras
rolaram e mataram centenas de moradores. Fizeram um projeto honesto e a
serra hoje está cabeluda, verdinha, mas as construções dos sem medo se
espalham e prenunciam para depois novas tragédias. É mutável a paisagem
porque, quando o tempo ameaça virar, as nuvem encapelam os morros,
esticando-se até o Sumaré e transforma numa vista bonita: o branco e o
verde contrastam com os cirros escuros que trazem trovões, raios e chuvas
na desordem fractal que é a natureza. Por detrás daqueles morros que avisto
daqui estão muitos amigos que eu amo: no Alto da Boa Vista, na Praça
Sáenz Pefia, no Maracanã e redondezas. Ali sempre foi território de feliz
danação. Pessoas inesquecíveis que ainda estão lá, que muito raramente
vejo, mas guardo a beleza de ontem. Então nos tempos de coronavírus não
serei mesquinho nem avaro. Escolherei o melhor queijo, o melhor vinho, os
melhores patês, as torradas, o pão australiano, picles de pepino. Serei farto
em tudo que meu paladar pedir e meu bolso permitir nestes tempos de
coronavírus. E assim degustando essas alegrias pensarei nos meus amigos e
amores.
nésogo vago de
O Japão e o Covidl9: No dia seguinte ao que a bomba de urânio “Little
Boy” foi lançada pelos Estados Unidos da América do Norte (USA) sobre
os habitantes de Hiroshima (6/8/1945), o poeta Hãdo Fakku, que morava
nos arredores, escreveu um haicai para sua amada Hani Kanto, que vivia
em Nagasaki:
Dias depois o poeta Hãdo Fakku recebeu um cesto cheio de flores e frutas
com o bilhete da amada Hani Kanto: “Vem amado. Aqui as cachoeiras
explodem em águas claras, as ameixeiras estão em flor e o aroma do chá
perfuma todo o ambiente. Vem. Vem”. O poeta Hãádo Fakku viajou e foi
recebido com o mais amoroso abraço da sua querida Hani Kanto, seguido
pela explosão da bomba de plutônio “Fat Man”, lançada pelos Estados
Unidos da América do Norte (USA) sobre os moradores de Nagasaki em
9/8/1945. Nos dois ataques só no primeiro dia morreram mais de 300 mil
civis. A tragédia não provocou tanta comoção quanto o Covidl9. É por aí,
oras
“eco
Rb Vagos
As duas irmãs Lousadas! Secas, escuras e gárrulas como cigarras, desde
longos anos, eram elas esquadrinhadeiras das vidas, espalhadoras das
maledicências, tecedeiras das intrigas, na desditosa cidade de Brasília. Não
existia nódoa, pecha, bule rachado, coração dorido, bolso arrasado, janela
entreaberta, poeira a um canto, fronte enfeitada a chifre, vulto na esquina,
roupa estreada na missa, bolo encomendado nas Evelines, que os olhinhos
penetrantes de azeviche sujo não descortinassem — e que a língua ferina,
entre os dentes ralos, não comentasse com malícia estridente! Delas urdiam
as cartas anônimas que infestavam as Quadras Norte e Sul. As pessoas
consideravam Penitência as visitas, em que elas durante horas galravam,
agitando os braços escanifrados, entre o biscoito e o gole de café. Sempre
por onde passassem ficava latejando o vulto da desconfiança e receio. Mas
quem ousaria rechaçar as irmãs Lousadas? Filhas do decrépito, venerando e
reformado General Lousada, da Banda dos Fuzileiros do Lago Paranoá;
amigas das filhas e dos filhos do Senador Todo-Feio; glorificadas nas
crônicas semanais do Quincas Oliveira; parentas do Pastor da Igreja
Espacial; poderosas na poderosa Confraria dos Passeios do DF. De
castidade tão rígida, tão antiga e tão ressequida, por elas espaventosamente
alardeada, que o Marculino, do Jornal Digital do Povo, as alcunhara de as
Duas Mil Virgens. Quem não conhece as Lousadas?
João me apresentou à moça: Meu irmão está de visita. Não aguenta mais a
cerveja daqui. Me pediu para ir a um lugar que servisse vinho bom.
Lembrei de você. Ela me pegou pela mão. Vem conhecer a minha casa. O
quiosque, maior que o normal, com porta de vidro fumê, ar condicionado e
mezanino. Amplo bar, geladeira, freezer, toalete e cozinha (do lado de
fora). E nada ao redor! Impressionante! Tem preferência por algum vinho?
Com esse calor, o vinho branco geladinho cai bem. Ela arrumou a mesa na
areia e trouxe vinho branco, italiano, tinindo de gelado. Este serve? Meu
Deus! O que acha? Um Frascati 1970? Serviu em taça apropriada e disse:
Acompanha bem mariscos brancos: vôngole, sururu, ostras. Traga, traga
tudo e venha brindar com a gente. De passagem João pediu: Me prepara um
digestivo? Não foi um milagre? Sábado ensolarado, um quiosque deserto, o
Frascati gelado, pés descalços nas areias brancas de alguma praia em São
Luís. Veio o digestivo do João: cara, um bagulhão igual aos que o Bob
Marley queimava na Jamaica! Seu João, fume mais longe um bocadinho.
Cada baforada parecia que o céu estava nublado. Para mim trouxe um
charuto Suerdieck, curto, fumo preto, ponta redonda. Que sábado! Anos
depois soube que a PF fechou aquele paraíso. Que injustiça!
meo
as vago
Já que a pandemia é inevitável, procuro viver a vida que Deus me deu.
Deito na rede, pito um cigarro de palha de Arapiraca. Com bares fechados,
nada gasto com birita. Se estivessem abertos também não: ando numa
dureza infinda. Mas vivo feliz, os amigos e parentes resistem bravamente.
Isso é bom. Toco a viola de papo pro ar. Escrevo, ouço música (o vizinho
toca Roberta Miranda), leio e toco punheta. De vez em quando dou bicadas
nas sobras de licor (Baileys e Amarula), com prazo de validade vencido. O
Baileys é horrível, o Amarula parece cocô de bebê. Saudades do Licor de
Jenipapo do Buna. Fazer o quê? Quando quero me dopar ligo para
farmácia. Peguei “A ilustre casa de Ramires”, de Eça de Queiroz, sem
entender por que Machado de Assis esculhambou o galego. É romance do
tipo pátria amada. Todo escritor fez, menos, o Machadinho. Para quê vida
melhor? As igrejas fechadas ligam Deus ao Whatsapp, Instagram,
Snapchat, Messenger ou rede social (que, aliás, anda muito anti-social).
Calma gente! Se ficar brabo, peça ao Pai Joaquim de Angola, gente fina,
meu vizinho de Rua, que atende online. Assisto, via Youtube, Vimeo e
Netflix, porradas de filmes russos. Todos têm opção de legenda para dez
idiomas — exceto o brasileiro. Vou de espanhol. Tem uns muito bons e dá
para ver filmes dos vizinhos: Finlândia, Noruega, Dinamarca e Suécia. E os
filmes indianos de Bollywood? Pelamordedeus! Dos hermanos gosto dos
filmes argentinos, venezuelanos, chilenos. Os filmes colombianos parecem
feitos em Miami. Mas tudo passa e o Covid-19 não deixará saudades
Soneto
co LEVADO
The art of blackmail
Answer:
Do you know someone who has NOTHING TO LOSE IN LIFE? At 79
years of age, H. Pylori in the stomach, facing Covid-19, unemployed, full
of debts, who lives on $200/month of government aid? This is me. So fuck
it!
Se um dia você ficar como os cariocas ficaram, bebendo cloaca com Covid-
19 por muito tempo, certamente se obrigará a instalar em casa um filtro ou
purificador de água. A minha filha pesquisou, pesquisou, pesquisou e optou
por comprar o “PURIFICADOR DE ÁGUA PBEO4BF PHILCO
BIVOLT”. Uma bosta! Um elefante branco. Um Belo Antônio! O aparelho
é baseado em duas leis científicas, que devem funcionar juntas: 1º) A Lei de
Newton - “Todo corpo continua em estado de repouso ou de movimento, a
menos que seja forçado a mudar, por forças aplicadas sobre ele”. 2º) A
Teoria das probabilidades, de Cardano: “Toda residência deverá ter pressão
hidráulica entre 103 kPa a 517 kPa”. Então, se não tiver a pressão
hidráulica determinada, não funciona, como ocorreu aqui. E mais: não tem
instalador; não tem Assistência Técnica; o filtro trabalha a água em mão
única; não tem botão ou indicador liga-desliga; não tem controle de
temperatura; não tem galão de água; não tem painel de controle; e, por fim,
não tem proteção anti-bactéria. Como o produto deu problema, tentamos
resolver com a Britânia Eletrodomésticos, mas pelo visto o prazo de
garantia vai passar e não se resolve nada. Então fica a dica: NÃO
COMPRE A BOSTA DO “PURIFICADOR DE ÁGUA PBEO4BF
PHILCO”, e tenha cuidado com produtos da Britânia Eletrodomésticos.
ApmAmas
MUMIMSTRLTITO, MERCANTIL
meeermiad
Provincia ée Persas
1877
Nas páginas do primeiro Almanak da Província do Paraná de 1877
encontrei o registro do Rovedo ancestral que largou a região de Como
(Itália) para se aventurar na colônia na Ilha Superágui, arrendada ao cônsul
e empresário suíço Carlos Perret Gentil, que vivia pelo Brasil exercendo
diversas atividades, apadrinhado pelo Senador Vergueiro. Em 1851 publica
o livro “A Colônia Senador Vergueiro: Considerações”, em que relata a
experiência do autor com o trabalho livre. Nesta terra que começava a
inventar a livre-iniciativa, Perret trabalhou com método: “Na descrição do
núcleo ideal de colônia, recomenda a participação de muitas famílias;
distribuição de lotes aos colonos; proibição do engajamento dos colonos
nos ofícios de caserna”. Mas Giovanni Rovedo — que depois se
abrasileirou para João — não emigrou para o Brasil para plantar batatas: na
relação dos ocupantes da “Freguezia do Senhor Bom Jesus de
Guarakessava” está relacionado como um dos quatro taverneiros da ilha.
Como se vê, o meu histórico de biritagem vem de longe.
“eco
Rb Vagos
Julinha mandou recado: “Primo, a gente precisa se abraçar”. Sábia, a
Julinha. O Brasil todo precisa se abraçar. Mas comigo está perdida: eu
abraço de com força, como o sapo abraça a jia. Também sou uma das
maiores autoridades em abraço no mundo. Acredite, tenho um abraço
poderoso, aconchegante, dominador, terno, amoroso, empolgante,
carinhoso, cósmico — como ela nunca viu. Num evento na Calouste
Gulbenkian, vou de encontro à outra poeta e amiga. Abro os braços como
quem quer abarcar o Cachambi inteiro. Ela pousa no meu tórax enroscada
como uma jibóia. Durante a conjunção murmura: “Que abraço gostoso”.
Ouvi muitas coisas assim. Quando visito os irmãos dou abraços apertados
como a dizer que é bom vê-los, lembrar que crescemos juntos, divergindo,
brigando, sorrindo, brincando. Abracei Thália depois de tempos sem vê-la,
ela estranhou: “O que há? Você não está legal”. Eu curtia um perrengue dos
que a vida manda para mostrar que não somos infalíveis, nem imortais.
Como ela soube? Pelo abraço acochado ela sentiu o vácuo abaixo da
cintura, coisa que jamais acontecia. Moira também: quando nos revimos
depois de anos ela ficou me abraçando como quem tivesse nascido em meu
abraço. Dar abraço assim, de corpo e alma, tem riscos: alegre e feliz por
rever um amigo exagerei no abraço e ele ficou de pau duro. Aí não! Não
pode ficar de pau duro, por mais gostoso que seja o abraço. Portanto,
Julinha, te prepara. Aproveito a pandemia para treinar meu super-abraço:
deslumbrado, enlevado, afetuoso, extasiado, amável, meigo, caricioso. E
quando o Covid partir estarei pronto para proporcionar a você uma das
maiores emoções da vida. Espera só um bucadinho.
Meu olho esquerdo só dá vexame, quando mais preciso, ele falha. Foi este
o primeiro olho que começou a turvar a visão. Aliás, acho que já nasceu
defeituoso. É também o olho mais temperamental: ao primeiro sinal de
emoção fica lacrimoso. Sou dado a surtos emotivos, que me fazem parar
para respirar, tomar fôlego e me recuperar. Nessa ocasião a vista esquerda
me faz ver o céu cheio de nuvens. Por causa dele passo vergonha a
qualquer hora e lugar. Num velório me emocionei e o olho soltou lágrimas.
À viúva me perguntou: — Você só chora num olho? Meu olho esquerdo me
paralisa na rua quando dá espelhamento — a vista é um imenso reflexo. Não
consigo ver nada, aí paro tudo, me apoio em algum lugar, até voltar ao
normal. É como se tivesse um lago suíço no olho. Às vezes a vista fica
desfocada, tridimensional. Meu olho esquerdo é o mais rabugento e
remelento. Se reparar bem, ele tem um desvio para o lado. Filmes, série ou
novela água com açúcar faz meu olho esquerdo chorar e por mais que o
reprima o teimoso lacrimeja. Sinto que meu velho olho esquerdo fenece e
em breve me abandonará. Cobre a pupila um véu alvo como a névoa branca
que cai sobre a Serra Grajaú-Jacarepaguá nesta noite fria.
NEGOSHID OO
No dia 24 de agosto de 1954 as atividades da Escola Governador Archer,
do Filipinho, foram interrompidas e os alunos liberados: o Brasil estava de
luto pela morte de Getúlio Vargas. Jornais saíram em edições extras, rádios
noticiaram o fato a meio da programação costumeira: o País estava um
rebuliço. No final do ano era tempo de fazer Exame de Admissão, tipo de
vestibular para a série seguinte. Eu fui o único aluno da escola a passar,
graças à redação Nota 95, que não chegou aos 100 pontos por falta de uma
vírgula. Foi o que me disseram. Aos 12 anos de idade sofri a primeira
comoção política e inaugurei a carreira literária. Conto essa história porque
entramos maio de 2020 em ebulição: política braba, xingamentos, ameaça
de guerra civil, etc. e tal. Amigos que sobrevivem ao Covid-19 me enchem
de paulada porque ignoro política; no bairro me desconvidam quando o
papo é sobre essa profissão maquiavélica. Mas não fugi do assunto no
prédio onde moro. Quando me perguntaram sobre a conturbada reunião
palaciana de Brasília, seguida da intervenção vingativa no Rio de Janeiro,
lembrei de 1954: — Falta vírgula em Brasília, meu amigo. Faltam muitas
vírgulas em Brasília!
NEC CSVID OL
“eco
Rb Vagos
Mas tudo estava previsto em três livros: 1) O Apocalipse — “Revelação de
Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos servos coisas que
brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a
João seu servo e irmão”. Livro esotérico e profético, o Apocalipse de João
revela acontecimentos que atingirão inevitavelmente a humanidade: “E
olhei um cavalo amarelo, e o que estava montado sobre ele tinha por nome
Morte; e o Inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte
da terra, com espada, fome, peste”. “Mas, quanto aos tímidos, e aos
incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos que se prostituem, e
aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no
lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte”. 2) As
Profecias de Nostradamus — são compostas em 10 conjuntos de versos de
100 quadras cada. O livro — publicado em 1555 — foi escrito em 4 línguas:
Francês Arcaico, Latim, Grego e Occitano Provençal, por Michel de
Nostradamus, médico e alquimista francês da Renascença, logo ficou
famoso pela sua capacidade de pôr em evidência os desastres da
humanidade. 3) “A Doutrina Secreta”, publicado em 1888. O livro de Elena
Blavátsky, apesar de escrito em linguagem complexa, causa perplexidade e
perturbação. É a súmula do pensamento científico, filosófico e religioso
universal. “A Doutrina Secreta” está dividida em duas partes: 1 -
Cosmogênese, A Evolução do Universo; II - Antropogênese, A Origem e
Evolução da Humanidade.
“eco
Rb Vagos
O Coliseu reabriu, mas apenas para moradores de Roma, dando chance aos
nativos de fazer turismo em casa, já que em época normal são impedidos
pela da multidão de turistas que invadem a cidade. O Coliseu tinha
capacidade para 80 mil espectadores que assistiam diversas atividades:
combate de gladiador, espetáculo circense, simulação de batalha, caça a
animais selvagens, encenação de dramas mitológicos. No começo do
cristianismo, para esconder da população a verdadeira crueldade, as
festividades intercalavam execuções de cristãos. Autoridades se deliciavam,
bebendo cerveja e vinho, comendo e faziam todo tipo de safadeza enquanto
os leões devoravam famílias de seguidores de Cristo. Com a chegada da
pandemia do Covid-19 assistimos diretamente de Brasília espetáculo
semelhante. Enquanto o povo, a população favelada e mais pobre é
engolida pelo Coronavírus, o Governo, o Congresso e o Judiciário —
bebendo cerveja, uísque e vinho, comendo ricos acepipes e recebendo
gordos salários — se faz de cego para não ver o leão devorar as crianças, as
famílias. Encena espetáculos vergonhosos, xinga, fabrica crises, ataca,
inventa discussões, ameaça, tudo para ocultar a crueldade, o crime causado
pela falta de hospitais, de teste, de leitos, de respiradores, roupas de
proteção, tudo enfim que poderia amenizar a tragédia, o sofrimento, a
morte, trazidos pela pandemia.
NEGOSHID OO
NEGOSHID OO
Depois que fiz tratamento contra gastrite sinto que ganhei muita coisa e
perdi outro tanto: mas o que mais sinto falta é da minha azia. Tenho
saudade daquela sensação de queimação que inicia no umbigo, passeia
entre as costelas e vai até a garganta arrasando tudo. Sinto falta daquela
indisposição pós-feijoada com caipirinha, do estômago cheio de
churrascaria rodízio, que dificulta o trabalho esofágico e impele a comida
num vai-e-vem entre o esôfago e a garganta. A minha azia era tão poderosa
que vinha mesmo após tomar altas doses de Sal de Frutas, Sonrisal, Alka
Seltzer. Nada disso dava jeito na bichinha. Nunca fiz quimioterapia, não
tenho deprê nem osteoporose, só pressão alta. Segundo doutor Mário, vai
ser difícil ter de volta aquela azia. Ainda assim, tenho saudades dela. Não
me importa o esôfago irritado, as eructações ruidosas do estomago, os
arrotos e peidos excessivos, a azia de vinho rascante me faz falta. Não
importa o gosto de vinagre subindo à boca, as ardências da super-acidez, a
ânsia de vômito — quero de volta a azia das caipirinhas geladas. Por
recomendação deixei de lado o chocolate, a pimenta malagueta, cebola
crua, a picanha, o mocotó, a rabada, a costela ao bafo. Larguei as comidas
gordurosas e apimentadas, as frutas cítricas (com vodka), a hortelã e o
tomate cru com vinagre e sal. Quero de volta tudo que perdi: a sensação de
ardor que vem da barriga ao peito, o desconforto indefinido na parte de
cima do abdome, o ardor quente do estômago, a regurgitação, o gosto
amargo na boca, a língua pastosa, as náuseas, a ânsia de vômito. Quero
minha azia de volta!
NEGOSHID OO
O Cume
nésogo vago de
Depois de meu ídolo, o herói da antiguidade Alexandre, o Grande, ter
decepcionado ao ser declarado Papa Gay, minha filha plantou sérias
dúvidas sobre a masculinidade de outro super-homem de minha juventude:
Ben-Hur. A imagem de Charlton Heston, 1.90m de altura, forte, herói da
telona, dos filmes épicos e das passeatas por direitos civis, está em perigo.
Passo noites de insônia com a interrogação martelando a cabeça: Seria Ben-
Hur gay? Oh dúvida atroz! Revi o filme de bilheteria bilionária e muitos
prêmios, inclusive Oscar e Globe. Não consigo me convencer, não aceito. A
filha que botou minhoca na minha cabeça me chamou: “Olha aqui, pai. O
seu ídolo Ben-Hur trabalha na TV Globo! É lindo! Fortão. Musculoso. O
homem ideal para qualquer mulher”. Não sou muito chegado a admirar
macho, mas dei uma olhada: de fato, o cara é um pão, tipo Charlton
Heston! Uso a expressão dos anos 1970, como sinônimo de bonito, para
concordar com ela. Meus filhos estão fora de moda: as mulheres gostam de
homens, o macho gosta de fêmeas — por isso ficam sujeitos a sofrimentos e
decepções. Em tempo de pandemia as informações correm velozes como a
ventania que deu ontem no Cachambi: em 24h a euforia dela foi por água
abaixo: “Pai, sabe o Ben-Hur? — disse com voz tristonha — entrei no
Instagram e vi várias fotos dele aos beijos e abraços com O namoradO p?
Visita
Salomão Rovedo
Rio de Janeiro, Cachambi, 27 de junho de 2020.
Ano da Pandemia Mundial do Covid-19
Como poucos, posso afirmar que a minha sogra — alagoana de Palmeira dos
Índios — deixou uma lacuna: ela era grandona e pesava quase trezentos
quilos. Onde chegasse dona Áurea impregnava o ambiente com o riso
gordo. Fui a Friburgo visitar o Orlando Hugenin, pintor e enxadrista, ele
me disse: Salomão você não pode ter o sonho que tive com minha sogra.
Ela montou no meu pescoço e não saía de jeito nenhum. Contigo não pode
acontecer isso À culinária de minha sogra tinha espetacularidades: Lagarto
Assado emprenhado com paio português; Bolo Podre (de massa puba);
Cuscuz com gema de ovo e coco ralado; Doce de goiaba em calda. Era
católica, mas em Padre Miguel só encontrou a Igreja Batista e como o Deus
era igual dentro em pouco estava cantando com as irmãs. Tinha a voz
maviosa, sem pecados. Sabia todos os cantos religiosos das romarias do
nordeste. Quando vinha me visitar, sentávamos para o bate papo curto e
muitas histórias do nordeste, que me deram base para escrever “Quilombo,
um auto de sangue”, festejo que ela representou muitas vezes na meninice.
Depois eu pedia que cantasse as ladainhas das procissões do nordeste —
sabia todas. Assim canonizado, embebido na lembrança das procissões,
enterros, autos e tambores da minha infância, chorávamos sem lágrimas as
nossas recordações. E pensar que dona Áurea foi vítima da barbaridade e
machismo dos coronéis de merda que grassam no nordeste: ao ficar viúva
com três filhos, teve toda a herança saqueada pelos cunhados, os
Albuquerques, Calheiros et caterva, bosta de gente que inda hoje apodrece
por lá. Tudo filho da puta!
NESSES OA
Falei outro dia nas comidas da sogra. Pois entrei num grupo chamado “Eu
amo o Líbano”, meu amigo, os “brimos” só sabem botar fotos e mais fotos
e mais vídeos de coisas no mínimo apetitosas. Como o libanês aprecia um
garfo, mesas fartas, comilança. Esqueçam o charutinho, o quibe de seu
Mané, os “hama” isso e “hama” aquilo. É tudo conversa mole para boi
dormir. Quem quiser conhecer a cozinha libanesa, entre nesse grupo Mas
nem era sobre isso que eu queria falar: o meu pai, paranaense de
Paranaguá, de vez em quando aparecia lá em casa com uma lata redonda
enorme. Era o famoso paio conservado na banha de porco, acho que era
produzido pela Sadia. Rapaz, fala sério. O velho abria a lata na ponta do
facão e quando levantava a tampa, era paio para o que der e vier. O bicho
enfeitava qualquer panela, não era só feijão, não. E o cheiro? Nem te
conto. A banha feita para conservar o paio, tomava todos os espaços da lata
e assumia completamente o gosto e temperos da conserva. Acabava o paio,
mas seu espírito — a banha — sobrevivia nos bifes, nos ovos estalados, nas
tortas, na galinha ao molho, nos feijões, nas sopas. Em tudo a banha do
paio dava sabor especial. Agora eu me amarrava mesmo era no pão: cortava
o pão ao meio, empanturrava as bandas na banha e botava na frigideira ou
na chapa. Só imagina, só imagina. E para arrematar, um chibé de farinha
d'água e refresco de caju
Por ser censurado nas narrativas históricas, poucos sabem que foi o
conjunto das conquistas portuguesas que criou o primeiro e mais grandioso
Império Global da História. Até hoje Portugal é considerado o mais antigo
e durável colonizador europeu, cujo domínio abrangeu quase seis séculos
de existência. Começou com a conquista de Ceuta em 1415 e terminou com
a devolução da Macau à China em 1999, espalhando-se por 53 países
diferentes. A dúvida é: será que a ilha chinesa de Taiwan foi colonizada por
portugueses? Vejam esta notícia: impedido de operar durante a pandemia
do corona-vírus, o aeroporto de Songshan oferece aos viajantes voos para
lugar nenhum! O passageiro faz o check-in, passa por controle de
segurança, recebe visto no passaporte, passa pela imigração, recebe cartão
de acesso, é vacinado e embarca num Airbus A330 da China Airlines (a
maior companhia aérea de Taiwan), estacionado na pista. Já a bordo, os
comissários se apresentam, conversam, ensinam métodos de prevenção do
corona-vírus, servem comida, bebida, lanche, tudo junto com a transmissão
de filmes, espetáculos e documentários — mas o voo simplesmente nunca
parte! Não parece coisa de português? Mais de 100 mil pessoas se
inscreveram para “viajar”, por isso outros voos semelhantes já estão lotados
para os próximos meses. E uma “viagem” (em todos os aspectos) muito
mais eficaz do que tirar férias em Atibaia. Já me inscrevi
Se bem lembro, foi nos anos 1960 que a série de Sissi passou no Cine
Éden, em Cinemascope, tendo como cenário a Áustria imperial. Os três
filmes (CSissi”, 1955, “Sissi Imperatriz”, 1956 e “A vida de Sissi”, 1957),
deram fama a Romy Schneider. Produtores, apoiados pela mãe da atriz, iam
continuar a série com “Sissi dá a bunda”, mas a atriz recusou. Mudou-se
para a França, em 1958 fez “Senhoritas de Uniforme”, que conta histórias
de lesbianismo em colégios femininos. Depois que filmou “Christine”, se
apaixonou por Alain Delon, e ficaram juntos até 1963. Luchino Visconti
mudou de vez a trajetória de Schneider, dando em “Boccaccio 70” um
papel digno da grande atriz. Acabo de assistir “3 dias em Quiberon”, de
Emily Atef (2018). O filme pega fragmentos da vida de Romy Schneider
em 1981 na vila francesa de Quiberon, onde fantasmas velhuscos
infernizam a atriz: quando a reconhecem nas ruas é chamada de Sissi. A
arte, essa longa estrada sem fim, transforma a vida dos artistas em dramas e
episódios que nenhuma cena, por mais destreza e habilidade que se ponha
consegue elidir. Não tem método, nem prática, nem técnica que faça
alguém percorrê-la incólume. Romy Schneider morreu aos 43 anos de
idade em Paris. Causa oficial: parada cardíaca, quem sabe causada pela
visita soturna da enrugada senhora, a Imperatriz Sissi.
meo
as vago
Deu no jornal. Pelo menos uma pandemia chegou ao fim: a febre dos
patinetes elétricos. Um fim que contraria o fio da história: com a chegada
da pandemia do Covid-19, o patinete elétrico seria o ideal para a retomada
das andanças pra lá e pra cá. Assim dizia o marketing: “Patinetes elétricos
são veículos ideais para transporte diário. Fuja do trânsito! Economize
tempo e dinheiro usando o mais moderno veículo de mobilidade urbana!
Não gaste com gasolina e estacionamento”. Mas qual foi a vacina que
exterminou o vírus do patinete elétrico? Foi outro vírus: o da corrupção,
para o qual não tem nem terá vacinas. Sem norma específica, no princípio a
base regulatória para uso do patinete foi a Resolução 465, do CONTRAN:
“Os patinetes devem seguir as normas aplicadas aos equipamentos de
mobilidade individual autopropelidos. Assim, não podem exceder a
velocidade máxima de 6 km/h em áreas de circulação de pedestres e de 20
km/h em ciclovias e ciclofaixas. O uso de indicador de velocidade,
campainha e sinalização noturna — dianteira, traseira e lateral — é
obrigatório”. Já era demais a exigência de velocímetro, campainha e pisca-
pisca. Mas para as autoridades competentes não foi suficiente: criaram
milhares de leis, exigências e multas, enxotando o usuário, as empresas de
aluguel e venda de patinetes. Agora as bem remuneradas autoridades
podem enfiar as leis e multas no buraco mais fedorento do corpo
“éso
ga Vagor
Para atenuar os efeitos da Covid-19, ao invés de um respirador, cloroquina
e azitromicina, ou um vinho chileno, minha irmã me mandou livros e no
bolo veio “Felicidade Conjugal”. Parece obra de auto-ajuda, mas o nome de
Leo Tolstoi é garantia de qualidade. A narradora é a personagem principal,
Maria. História de amor, casamento, família: moça da “roça” — que toca a
Sonata "Quasi una fantasia” de Beethoven — casa-se com Serguiei, próspero
homem da cidade, o casal se muda para a metrópole, a esposa se enfeitiça
com luzes, brilhos, músicas, bailes, amizades, tudo é alegria e
prosperidade. Anos depois, o fogo do amor esmaece, a lamparina perde o
óleo, se apaga. Ao tempo tudo se esgota, sentimentos extenuados forçam a
volta à “roça”. A casa vazia, móveis silenciosos, o piano amortalhado, tudo
começa a renascer. Chega a primavera, muda o ambiente, o verde, os
pássaros, as flores: a natureza reinicia o ciclo agora com a presença
humana. O ambiente, o aroma de flor e mato, a paisagem delicada, o piano
simples, o amor descomplicado, tudo transfigura o casal. A euforia da
cidade, a paixão fugaz, a faísca das pedras preciosas, a namoro efêmero —
hoje é um hiato inanimado. Tudo se resume a: “Ele é sempre o mesmo,
apenas se tornou mais funda a ruga que tem entre as sobrancelhas”. “Eu
sou a mesma, porém não há em mim amor, nem desejo de amor”. Os
sentimentos se reciclam, ao piano Maria repete o mesmo andante da Sonata
nº 13, cujos acordes Serguiei ouve oculto e em profundo silêncio. Nasce
outra felicidade.
meo
as vago
Um tranquilo e sereno entardecer
(Moda sem viola)
DIÁLOGOS E MONÓLOGOS
(COM BARBARA MAIDEL)
“o, So da RS, Pr 92 at
Oi, Salomão! Pude perceber que escreve muito bem, também, o que é algo
um tanto raro nesses dias (nos dias passados, não sei: não estava lá e a
internet não existia para expor tanto o péssimo texto das pessoas).
Agradeço a leitura dos meus blogs, que ainda têm poucas postagens, mas
vão em frente, aos poucos. Nos últimos dias tenho estado ausente porque
estou fazendo uma disciplina de estágio e porque tenho lido muito sobre
evolução (um tema que me interessa muito e que preciso entender — vou
estudando de forma autodidata, que é meu jeito preferido, apesar de
algumas dificuldades inerentes ao método). Quando possível, escreverei
mais. Uma postagem sobre o valor dos livros está programada para logo.
Veja bem, eu entendo que algumas pessoas não têm condições de comprar
livros mensalmente, mas é preciso pensar que muitas têm e não compram
(e saem por aí reclamando que livros são caros), outras não têm, mas não se
esforçam. Veja você que um livro é o trabalho árduo de alguém, é um
conhecimento precioso pelo qual você paga, sei lá, uns R$50, por exemplo.
Então alguém diz que um livro desse valor é inacessível. A mesma pessoa
muitas vezes gasta esse valor em uma refeição feita num restaurante fancy
no fim de semana (Barbara Maidel)
CCE OD Do
meo
as vago
Sobre veganismo, eu sugiro que acompanhe meu blog paralelo "Questões
veganas”. Lá, aos poucos, vou esclarecendo algumas questões sobre o
assunto. Outro site muito bom e que já é bem completo sobre veganismo é
o Vista-se. É uma causa pela qual eu realmente sinto prazer de informar e
pesquisar para poder informar sempre de modo mais correto. Comer
somente vegetais não gerará desequilíbrio biológico. Nós comemos animais
de criação, e não animais que estão "sobrando" na natureza. Parar de comer
carne é fazer com que as indústrias parem de forçar animais a se
reproduzirem para a morte diária de milhões deles a fim de satisfazer
caprichos do paladar. Além disso, o ambiente em que vivemos só
melhoraria se as pessoas deixassem de comer carne. A pecuária é altamente
responsável pelo desmatamento, pelo efeito estufa, pela poluição das águas.
Um estudante de criação animal já dizia na internet: um porco em idade de
abate alimenta 37 pessoas. Se os vegetais que foram utilizados para
alimentá-lo durante a vida fossem para o nosso prato, seria possível
alimentar mais de 300 pessoas. Se quiser e se puder, sugiro que assista a
dois documentários sobre o assunto: A carne é fraca e Terráqueos. Os dois
estão disponíveis no Youtube. :) Obrigada pelo contato, Um abraço,
(Barbara Maidel).
Bárbara. Cheguei até você via “não gosto de plágio” e acabo de ler o que
está na pauta de seus blogs, ou seja: Questões Veganas e Editoras. É a
primeira vez que leio essa expressão, vegana, embora tenha notícia da parte
da população que defende o mesmo modo de vida, a defesa de uma
existência menos agressiva contra outros seres. Interessante também a
análise sobre a filosofia de Gary Yourofsky, as dúvidas e equívocos, como a
sermos “herbívoros”. Em um livro que li faz tempo sobre jejuar, de um
hindu cujo nome não lembro (para mim são todos iguais), ele afirmava que
“o homem é um animal frugivero”. Outros ampliam o foco para
“vegetariano” que abrange ambos Pois você pegou um tema tipo via crucis,
mas para quem gosta de uma boa batalha é prato feito. Eu poderia levantar
aqui quilos e quilos de questões, técnicas, morais, religiosas, mas de que
serviria? Não é justo pôr pedras no caminho só pelo prazer de assistir ao
tropeço. Outro texto que li é Editoras, ambos são textos excelentes, bem
escritos, parabéns. Você é escritora, arranje uma editora para expandir o
que você escreve para outros lados e gentes. Uma coisa que você não se
preocupou em analisar — serve para ambos os temas — é sobre o poder de
posse das pessoas, tanto para comer como para ler. Eu mesmo — ah meu
Deus! — quantos livros gostaria de ler, de ter nas mãos! Mas não tenho
poder aquisitivo para tal. Para quem não pode ter um livro de R$ 50, é
glorioso ler o “mesmo” livro adquirido a R$ 5 num sebo ou na rodoviária. A
sede de saber ataca a ricos e pobres. Sobre o comer, atente que estão
proliferando ideias sobre alimentar-se de insetos, pelo teor de proteínas que
têm — isso no mundo ocidental que tem asco a esses bichos. É mais trabalho
para você, mais uma batalha que virá. Por outro lado fico imaginando o que
seria de nossa pequena Terra se nos alimentássemos apenas de vegetais e
seus frutos — não resultaria em enorme desequilíbrio biológico? Ah,
Bárbara, esse é um mundo imenso em que você se meteu. Mas por uma
causa justa alguém terá que sujar as mãos, entregar a vida, não é? Desejo
sorte a você, mas examine também outros temas sobre ideais humanos
onde possa descarregar esse imenso poder criativo que você tem, a valente
capacidade de lutar — que resulte positivo para seu vizinho, por exemplo.
Botei meu email lá para te acompanhar. PS: Tenho também um blog, mas
não sobre temas de sua área de atuação: salomaorovedo.blogspot.com.br
(Salomão Rovedo)
NEC CSVID OL
No mais, como está? Passeia muito por aí ou fica em casa? Uma pergunta
totalmente fora do contexto: já foi assaltado? Gostei do trecho do seu diário
que me enviou :). O que acho interessante é que você escreve como alguém
do Rio de Janeiro (ou como suponho que pessoas do Rio tendem a
escrever). Tem alguma coisa bem diferente nos cronistas daí e nos cronistas
de São Paulo ou mineiros, por exemplo. Reconhece isso ou discorda? Acho
que não só pelos temas e ambientações, mas tem algo no modo. Já leu João
Ubaldo Ribeiro? Não lembro (acho que já perguntei): já leu Fim da
Fernanda Torres? Ficou chateado com a morte do João Gilberto ou não
ficou nem aí? Eu no momento estou lendo pilhas de revistas semanais —
Época, Superinteressante — que foram se acumulando na minha casa.
Quando terminá-las, voltarei aos livros. (Barbara Maidel)
“eco
Rb Vagos
Filme: A late quartet - de Yaron Zilberman. Nenhuma das críticas enfatiza
o ponto crucial: os últimos quartetos de Beethoven (no caso o Op. 131),
que apontam claramente para o Jazz e para os conjuntos (quartetos) de rock
modernos. Feliz 2019 para você e todos os seus. Boas leituras, boas
viagens, boas escritas. Teu último blog, A crise das livrarias, está perfeito.
Em todas as épocas, em todos os governos, os livreiros e editores são o
único ramo econômico que não tem perdas. Porque sempre tem aquela
“aquisição” dos governos federal, estadual e municipal que mantém o lucro
deles. Tenho parentes que são professores que estão entulhados de livros
distribuídos pelas secretarias de educação, alguns dos quais nada tem a ver
com o ensino, com a cultura, com o Brasil, enfim. O livro é sempre bom,
mas quando o objetivo são escolas há que escolher. Não me cansa te dar
parabéns. Um abraço do fã. PS. Te mando um romance inédito de RCF,
escritor contemporâneo de Brasília, que botou o livro na internet para
leitura aberta. Está sem revisão, como verás. Talvez sirva para estudo, ou
não (Salomão Rovedo)
“eco
Rb Vagos
Eu ia te escrever antes para responder outro e-mail, mas fui deixando,
deixando, deixando E demoro mesmo, muitas vezes, para responder e-
mails, coisa que quem me conhece já toma como hábito e nada pessoal :)
Passou bem dormindo na virada? Eu lembro de uma vez que eu disse que
passei vendo um filme com o Jack Lemmon (The old couple, 1968), e você
disse que passou dormindo, como muitas vezes fazia. Só não passo
dormindo porque meia-noite não é horário que eu já esteja dormindo, mas
não vejo nenhuma graça em fogos. Quando era criança fingia que gostava
porque todo mundo ficava nessa “vem ver, vem ver!", e eu pensava "deve
haver algum problema comigo para não gostar disso aí que as pessoas
adoram", haha! Pôr do sol é zilhões de vezes melhor de se ver. Quanto aos
livros, editoras e livrarias se colocam objetivos muitos grandes. Quando
não conseguem dar conta do que se propuseram a fazer, há algum tipo de
“crise”. Ora, vão passo a passo em vez de querer dar saltos. (Barbara
Maidel)
meo
as vago
Como está sua saúde? Depois vou dar uma olhada no romance do Ronaldo.
É teu amigo? Continuo escrevendo, você sabe, mas daquele jeito lento.
Quando tiver um capítulo pronto, sabe-se lá de que parte do livro, posso te
mandar, se tiver interesse. Eu disse "não sei se vai gostar” (e você disse
“nhé, isso é tão burrinho"), mas não é firula, é questão de estilo. Imagino
você perguntando "para que escrever desse jeito?, para que fazer o leitor
buscar o dicionário?". Putz, eu acho que estamos com falta de literaturas
modernas que façam os leitores buscarem dicionários e outras referências!
Estou lendo um excelente livro da editora Todavia chamado " Afiadas”, de
uma jornalista chamada Michelle Dean. Fala sobre diversas mulheres
escritoras (principalmente americanas) e é uma delícia de ler, acho que
você iria gostar. Tem capítulo sobre a Mary McCarthy, a Sontag, a Dorothy
Parker, a Arendt Um ótimo 2019 para você na medida do que for possível
:). PS. Não me lembro: você assiste a filmes no Netflix? Há um chamado
"Perfectos desconocidos" (2017) — versão espanhola da versão italiana (a
versão espanhola é melhor, a comicidade combinou mais com a história do
que a versão dramática italiana) — que recomendo. Obrigada pela constante
leitura e um grande abraço! (Barbara Maidel)
Barbara. Desta vez foi minha falta. Simples, esqueci-me de responder o teu
e-mail. Coisa de velho. Virei o ano, sim, dormindo. Tranquilo. Você tem
razão: estás muito nova para dormir à meia-noite. Você não deve perder
muito tempo com a indústria do livro. Sei que és bibliotecária e o livro é
teu pão. Mas é uma indústria em transformação- como todas — e não se
sabe o que irá acontecer com o livro, como agora o conhecemos. Veja só.
Enquanto reclamas que uma ou outra biblioteca parece um lixão, você deve
saber que houve mais de um caso em que o lixo virou biblioteca. Isto é,
alguém começou a pegar livros no lixo, encheu a uma garagem abandonada
e chamou a população periférica para ler. É assim E quando um trabalho
assim se torna ganha-pão, meio de vida, é lógico que o funcionário (que um
dia sonhou ser piloto de astronave) se tome um bibliotecário preguiçoso,
desinteressado e com desapreço pelos livros. Perguntas pela minha saúde.
Pois bem. Fiz o tratamento indicado para a tal Helicobacter pylori — enchi a
cara de antibióticos. Melhorei, é verdade, mas a penitência irá além de
padre-nosso é ave-maria: não posso mais beber cerveja. Fiz um “teste” e
me dei muito mal. Você que gosta de cerveja pode avaliar. Essa maldita
bactéria deixou meu estômago arrasado. Além do mais, eu que o diga, ele
jamais será o mesmo. Estou prestes a me tornar vegano! (Salomão Rovedo)
Ai, Barbara. Ocorre que o e-mail foi sem te falar sobre a Netflix. Minhas
filhas assistem filmes de lá, mas eu ainda não peguei jeito. Vou lembrar da
versão do filme que vc. recomendou. Isso de versão é alguma coisa assim,
vamos dizer, da arte pela arte, arte em transformação. A turma dos USA é
dona em remixar filmes europeus e transformá-los em norte-americanos.
Às vezes em pior versão, ou em versão para satisfazer o “gosto” local
(USA), que não é o nosso. Acompanhei uma série inglesa (melhor dizer:
britânica) - Mad Dogs - simplesmente espetacular, ágil, dinâmica. Pois os
yankees fizeram versão própria ambientada em Belize e Puerto Rico (ainda
não entendi como Puerto Rico virou 'estado-membro' ou sei lá o quê: agora
é USA?. Pois assisti às duas versões e posso dizer que os americanos
estragaram a série. Assisti também a uma reprise de Morte em Veneza
(Luchino Visconti, 1971 - vc. deve conhecer), filme excelente em que a
imagem, a música e a atuação estão casadas em total harmonia com a
história. Perfeito. Tem uma cena em restaurante do hotel que se vê um
festival de chapéus como era moda na época. Aí você lembra que teve um
trabalho da figurinista merecedor do Leão de Prata. Lembro-me também de
um filme italiano que recebeu aqui o título "Com o diabo no corpo”, que
também recebeu versões inferiores. É isso. Beijos, branquela (rs). Xau.
(Salomão Rovedo)
“eco
Rb Vagos
Migalhas: (A) Como vai a ermitã de Blumenau? Em paz, espero. E isso é
suficiente. Andei lendo “O caso do aborto no Brasil” — que serviu de tese
de mestrado — e foi aprovada??? Meu deus, o mundo está perdido. Mas
reconheço que a tarefa foi difícil. Tantas armadilhas você teve de enfrentar:
“o feto é uma vida digna de amparo”; “a lei está aí para nos servir”; “a lei
manifestadamente injusta”; “proteger a vida de quem não tem consciência
de si nem sentidos”; etc. Se você não tivesse escrito a tese açodada pelo
tempo veria que cabe revisão rigorosa (razão das interrogações acima). Mas
é como disse: foi aprovada e agora tem força de ciência Quando o artista
aborta os filhos no mundo não é mais dono deles — isso serve para
escritores. O que mais reparei foi justo o ponto que você não tocou — acho
que nem cabe a não ser de modo retrospectivo: “gestantes pobres que
carregam filhos indesejados”; “a mulher que não queria filhos”;
“engravidou por falha de método contraceptivo”; “a evolução relegou
[delegou] à mulher a tarefa de gerar outro indivíduo”; “métodos
contraceptivos nem sempre eficientes geram gravidezes não planejadas”;
etc. Gravidezes? Não precisava exagerar, mas ficou bem. Mas “filhos
indesejados”?
“eco
Rb Vagos
(C) Mais algumas armadilhas: “A mulher deva ser soberana do seu corpo”;
“ela e não o Estado decida”; “o Estado pratique a laicidade pela qual julga
ser guiado”. Isso é puro Maquiavel. Ou George Orwell. Estado é Estado
porque impõe, controla, submete, escraviza. A Globalização é o mesmo
Estado tentando controlar o mundo. A Coalizão. A primavera árabe que se
transformou em inferno. Impor aos pigmeus o way of life nova-iorquino.
Agora, para encerrar, o que acho o pior de tudo: "toda vez que o STF
legislar". Nunca pensei que você fosse dar aval a um político muito menos
a um Rodrigo Maia. Essa frase é ideológica, insidiosa, má e corporativa.
Está incorporada na atual rixa que discute, de modo teatral, a interferência
entre poderes. A atribuição dos três poderes está definida de modo
inequívoco na Constituição. Você agora faz parte de um desses poderes e na
primeira atuação debaixo do manto judicial dá uma mancada dessas
(D) Barbara, a primeira lição é: não escute os políticos. Tudo que você
estudou e aprendeu para dar luz à sua vida profissional está na contramão
da política. Deixe a política para a escritora, não para o seu cargo (que
ainda não sei qual é). Sabendo-se que o judiciário não faz leis, a frase "toda
vez que o STF legislar" mostra que o desejo de interferir em outro poder
vem é do Legislativo, que está debaixo do vulcão da corrupção que assola o
nosso país. Os STF como Corte não legisla, julga. Julga quando é instada a
isso, jamais de ofício, justo para evitar ingerência. O resultado do
Julgamento não se transforma em lei, mas sinaliza para outras sentenças.
No julgamento ordinário viram súmulas — uma aberração do Direito, pois
cada caso é um caso. Súmula é engessante, preguiçosa, malévola para o
próprio Poder Judicial. É um complicador adotado por aqueles que
quiseram levar o judiciário ao caos em que está agora.
NEGOSHID OO
Barbara! Que alegria neste fim de domingo. Como vês estou vivinho da
silva. O meu suicídio é na verdade “suicídio”, de brincadeira. Poeta que
não se suicida até os 25 anos perdeu o bonde. Então você estava se
divertindo. Que bom. Depois de se descompensar (retornar é sempre
descompensar) e de descansar da viagem escreva. Não tenha pressa.
(Salomão Rovedo)
redigó rag
so COI
mese
ga vagotr
Fico meio receosa em julgar seu amigo que diz que nada mais presta na
literatura porque tudo que é bom já foi escrito. Às vezes penso que ele pode
ser um frustrado. Veja, certa época em que pensei "desisto, não escrevo
nenhuma história realmente boa" também comecei a ter esse pensamento
de que tudo que é bom já foi escrito. Até perceber que isso era prepotência
minha — “como não consigo escrever, não há mais nada para ser escrito” — e
inclusive certa forma de inveja, uma inveja que queria poder impedir os
outros de tentarem escrever já que eu tinha fracassado na escrita. Parei de
pensar isso. E também não desisti de escrever. No momento, acho que já
falei, estou tentando escrever contos. Vamos ver no que dá. Estou indo com
muita lentidão e cautela. (Barbara Maidel)
meo
as vago
Estou terminando de ler Os fatos: a autobiografia de um romancista, do
Philip Roth. Bom, mas muito curto. Gosto do jeito que ele escreve e acho
que uma autobiografia deveria ser muito maior e abranger muitas outras
épocas. Já leu algo dele? É bem conhecido pelo O complexo de Portnoy (de
que gosto muito). Vi o filme baseado no livro O grupo, da Mary McCarthy.
Dirigido pelo Sidney Lumet. Não se compara ao livro — clichê! —, mas foi
um pouquinho interessante. Um pouquinho. Valeu pela experiência. Tem
lido alguma coisa? Espero que esteja bem :). (Barbara Maidel)
“eco
Rb Vagos
Oi Barbara. Aqui no Cachambi tudo bem, flutuando na imensidão negra
que atravessa nosso país. Quantas crises já engoli e sobrevivi. Não será esta
que irá me levar Estás em Blumenau? Então alles blau, certo de que você
enfeita a cidade. Baratas? Muita coincidência: aqui no Rio elas aparecem
no calorão também. Estava aqui sozinho escrevendo e vupt passou uma em
voo rasante e pousou na cortina. Olhei ela e pensei: dane-se Samsa vá
encher o saco de outro. Ela continuou o voo e não sei onde foi parar. Quem
parou o que estava escrevendo fui eu e inventei um negócio, um
divertimento chamado “Gregor Samsa passou aqui” Botei no meu blogspot.
Mas não tinha nenhum gato caçador e Samsa escapou de boa. Mas nunca
pensei que em Blumenau fizesse calor. Não será calor igual ao de Teresina
ou Cuiabá, as duas cidades mais quentes que já visitei! (Tenho que
assimilar cuidados com Exclamações e Vírgulas — estou traumatizado).
(Salomão Rovedo)
Não liga para meu amigo que diz que nada mais presta na literatura porque
tudo que é bom já foi escrito. Isso de já ter sido escrito é bobagem — porque
— quem irá ler ou escrever o que já foi escrito? Tudo que passa vira
labirinto, palavras, textos, enredos — ninguém conseguirá ler porque 1)
Ox
difícil e caro 2) tudo vira Camões, isto é, vira hieróglifo. Arte
ON
transformação. Tem outras alegações, mas não vou mexer nisso.
Eri
bobagem. Escreva contos, sim, para descobrir que é a mais exata expressão
literária. Do conto se pode partir para o romance, para o teatro, para a
poesia. O Philip Roth que você citou tem alguns contos. Já li alguma coisa
dele. Os irlandeses também são excelentes contistas. Acabei de ler O
teorema do papagaio, achei meio frustrante. Dá a impressão que o autor
não conseguiu realizar o que imaginou. Isso é a pior coisa para quem
escreve e a mais difícil também. Uma coisa é estar na cabeça, outra bem
mais demolidora é passar para o papel. Arre! — lá vai mais uma
exclamação. (Salomão Rovedo)
Falar nisso Barbara presta atenção: nós trabalhamos com uma língua; uma
linguagem; isso inclui uma gramática; um vocabulário; que está dividido
em 1) culto 2) popular 3) inculto (gíria, calão, etc).; que inclui: música,
poesia, folclore, história; que se modifica a todo instante; que passeia pelo
tempo indo ao passado remoto e imaginado no futuro distante; e por aí vai.
Portanto, se escolheste escrever Aqui eu ia dizer fuck-se, mas não farei.
Digo apenas: aprende a nadar, a respirar sob a terra, a ser astronauta do
cosmos (sem capacete). Discordo de: “Estou indo com muita lentidão e
cautela”. Isso é coisa de velho. Sabe de onde vem a tua dificuldade? Na
hora de escrever literatura você não consegue cortar o umbilical BM Page
II. No dia que conseguir se descolar vai ser fácil. Agora vou ali beber uma
cerveja Eisenbahn 5 anos que, diz o rótulo, é feita em Santa Catarina
(Salomão Rovedo)
meo
as vago
As respostas às críticas abaixo seguem na última postagem do blog, que
acabei de fazer :) Espero que não se chateie. Ítalo Calvino tem um livro
excelente chamado Por que ler os clássicos. Ocorre que não sei se a partir
de tudo que ele usa para definir um clássico poderíamos considerar Lolita
um clássico, mas popularmente a obra foi tomada como clássico, tanto que
é que configura em diversas coleções literárias de "clássicos". Dos tópicos
abaixo, acho que a parte do Kubrick é que eu devia ter consertado um
pouco, apesar de manter a crítica quanto à exploração da sensualidade de
Lolita (que não é assim tão exacerbada no livro). Eu devia até escrever isso
no blog, acho vou lá. Quanto ao restante, discordamos. E não há problema
nenhum nisso. Acabei de voltar de recesso, estava em SC. Nem comemoro
essas datas festivas. À meia-noite, estava com fones de ouvindo vendo Um
estranho casal (1968) no notebook. E por aí, como foram as festas? Abraço!
(Barbara Maidel)
“eco
Rb Vagos
Oi Barbara! Bem-vinda de volta! Que bom reciclar em casa, né? Fiz a
travessia do calendário dormindo. As festas no Rio são para turistas e
cariocas fanáticos. Para quem quer escrever contos, tem que ler contistas
brasileiros - que são excelentes! A correlação total ler-escrever é óbvia.
Dinah Silveira de Queirós, Dalton Trevisan (!), Lygia Fagundes Telles (!),
Brenno Accioly (!), João Antônio (!), Caio Fernando Abreu - eis alguns dos
melhores. Me mande o endereço do teu trabalho ou outro para que eu possa
te remeter livros do meu primo, que é cronista e escreve muito bem. Acho
que será ótimo como tema de estilo e para quem gosta de anotar palavras.
Joaquim Itapary - nome dele - escreve de acordo com a regra, ao contrário
de mim. Te mando anexo um escrito meu inédito. Está em fermentação. Eu,
ainda em 'transe de realização", não consegui traduzir o que ele significa.
Leia e se quiser criticar faça-o sem misericórdia. Feliz em te ter de volta.
(Salomão Rovedo)
Barbara, tive um trabalhão danado para reler a tua matéria, mas achei que
fui muito sucinto. Todos os temas tratados não costumam me atrair. No
caso da pedofilia, jogo tudo no colo de Freud — como a maioria dos tabus
sexuais. Assim me livro do peso e posso aspirar ao céu Passo adiante
algumas notas, também não tão profundas. Desculpe os erros de
interpretação. 1) Não sei se Italo Calvino consideraria o livro um clássico.
Ítalo Calvino entrou aí como quê? Dono da última palavra? Não precisava .
2) Engraçado, para mim isso não passa de pedofilia colocada em prática.
(Aqui vc. começa a fazer confusão entre ficção e realidade, que continua
até o final do artigo). 3) Vi também que Nabokov parecia considerar a
acusação de banalização da pedofilia coisa muito moralista. (Parecia
considerar; banalização da pedofilia. Pensamentos inconclusos que
misturam arte e realidade). 4) A arte tem dessas: faz com que crimes sejam
vistos como belos, suaves, porque com nova roupagem. (Crime pressupõe
lei condenatória. Mas muitos países não têm leis que tratam pedofilia como
crime. Alguns nem classificam “pedofilia”). 5) como um homem com filhas
pôde adaptar uma obra que brinca com a pedofilia. (Nova confusão entre
arte & realidade). 6) a literatura não obrigatoriamente tem que expurgar
dentro da própria trama os crimes que acontecem nela, num engajamento
severo, (Pronto! Aqui vc. faz o mea-culpa que retrata toda a confusão do
texto). 7) Mas personagens são pessoas, e, tal como as pessoas, recebem
Julgamentos. Qual é a motivação de um personagem para ser imoral?
(Peraí: personagens são pessoas? Personagens são personagens, ficções,
imitação da realidade, como tal não têm obrigação moral). 8) O papel da
arte também é nos causar ojeriza. Você não é obrigado a criar laços de
simpatia com qualquer protagonista vil que caia no seu colo. (Não mesmo.
Se vc. sentiu ojeriza, vontade de vomitar, reconheça que a arte foi bem
criada. E julgar um livro, criação ou arte, é censurar. Basta que sua posição
seja forte e a justiça se fará sozinha). 9) O que mais me assustou sobre os
depoimentos das mulheres não foi o teor, mas a idade que relatavam que
tinham quando foram assediadas pela primeira vez. Sete, oito, nove, dez
anos. Eram crianças sendo assediadas, alisadas, convidadas para fazer
alguma coisa sexual em troca de dinheiro ou doces. (Eis para que as leis
são criadas. Nesse conceito, dura Lex, sed Lex).
10) tendo como causador o coleguinha de mesma idade do sexo masculino
que não atinava muito bem sobre respeito. (Aqui vc. toca num ponto
importante: a pedofilia desaparece quando exercida entre crianças da
mesma idade?. 11) Para mim, tanto o pedófilo quanto o abusador, ao
colocarem em prática seus desejos, violando crianças, merecem ser
execrados. (Idem, idem, nota sobre a Lei). 12) Um pedófilo nem sempre
vai chegar a abusar de uma criança, apesar de desejá-la. Falam de pedófilos
famosos: Chaplin; Lewis Caroll (tive posse de um livro dele com fotos de
crianças, vizinhas, alunas, fotos essas autorizadas pelas famílias; Polanski;
Michael Jackson; Woody Allen; e até Mr. John Kennedy). A TV Globo fez
um especial sobre a precocidade sexual das crianças. Citou também aqueles
concursos infantis americanos, nos quais as mães vestem as crianças como
adultas. Na internet grassa site de pedofilia criminosa, mas do jeito que vc.
expôs ficou uma confusão danada. Prefiro mais o estilo “vegano” de
escrever. Lembre-se de que vc é (ou pretende ser) também uma artista: não
pode censurar nem se autocensurar. Tem que ler, ver e sentir tudo de
asqueroso que o mundo oferece. É a nossa sina! (Salomão Rovedo)
“eco
Rb Vagos
Rio de Janeiro, tempo chuvoso, gostoso, para te ler. Finalmente tens um fã
satisfeito, rindo à toa, com a última postagem sobre "A biblioteca esquecida
de Hitler". As últimas coisas que li de você sempre censurava: "Ah meu
Deus (apesar da tua não-fé) a Barbara está dispersa, escrevendo farofas,
parece uma turista das letras” Quando digo 'dispersar' é - por exemplo -
quando perdes tempo discutindo a existência de Deus. Ora bolas, que tal
deixar Deus, Papai Noel, Gnomos, ET, Almas - tudo isso em paz e cuidar
de sementes, árvores e frutos? Aliás, quero dizer que vc. é boa narradora de
viagens - leitura sobre viagens é sempre prazerosa e comercializável! O
ator escocês Alan Cumming, que é vegano, apresenta uma série
interessante sobre a Inglaterra e o Reino Unido no Canal Globo+. Acho que
está na hora de parar de falar das obras alheias e começar a construir a sua
própria. Não perca tempo. Como sempre, ando te semeando por aí
(Salomão Rovedo)
Acho que você se incomoda demais com a minha militância contra Deus.
Não sabia que era tão espiritual. Sugiro que pule essa parte no blog, porque
a tendência é que eu sempre faça algum ativismo nas postagens (seja sobre
ateísmo, veganismo, feminismo razoável, etc.). Fico muito feliz que tenha
gostado da postagem sobre Hitler e espero que um dia leia o livro. Demorei
um pouco para escrever, mas é porque tinha que selecionar os trechos que
valia a pena colocar (parece fácil, mas não é, principalmente quando se
trata de uma pessoa um tanto metódica com essas coisas quanto eu). Minha
mania seria a de sempre alterar as postagens posteriormente, mudando
palavras, acrescentando coisas que sejam mais esclarecedoras, mas acabo
deixando como está porque perfeccionismo — e perfeccionismo em um blog
— só me levaria à loucura. Também demorei um pouco para escrever a
postagem porque ainda estou me instalando em São Paulo e no meu
emprego em Campinas. Não é tão simples mudar de cidade após tantos
anos morando na mesma cidade com os meus pais! (Barbara Maidel)
Fora Deus, não sei o que mais você consideraria farofa. Percebi que eu
andei escrevendo muito sobre o PT (e colando textos de colunistas que
falam mal do PT). Não sei se considera isso ruim, mas achei necessário. E
tenho me segurado para não colar vários outros — até porque desse jeito
meu blog se tornaria uma colagem de textos alheios. Esses dias quase
coloquei lá uma breve e ótima coluna do Ruy Castro sobre a quantidade
absurda de ministérios neste país. Talvez eu coloque, é um texto muito
bom. Penso muito em escrever um livro (um romance ou livro de contos),
mas por enquanto ainda estou guardando palavras. Tenho um caderninho
aonde vou anotando palavras de que gosto e penso em usá-las no futuro.
Começar mesmo a colocar a ideia de escrever em prática, só quando eu
estiver trabalhando em São Paulo. Atualmente moro em São Paulo, mas
trabalho em Campinas, e todos os dias acordo muito cedo para pegar o
ônibus para o trabalho e volto muito tarde para casa Não há ânimo para
escrever algo sério desse jeito e também não me importo de esperar até que
esteja mais experiente na escrita.
Tenho receio de me apressar e escrever algo ruim ou “o mais do mesmo”.
Se Kant e Hitchcock só começaram a dar seu melhor para o mundo só após
avançada idade, não acho que preciso ter pressa de aos 25 ter que mostrar a
que vim no mundo literário :) Mas, como eu disse, é mais receio de
escrever algo que não preste. Ainda não me sinto preparada e com cabeça
para escrever uma boa obra. Provavelmente logo conseguirei trabalhar em
São Paulo e aí terei bastante tempo livre, aí pretendo treinar umas histórias.
Eu não sabia que o Alan Cumming era vegano! Depois vou procurar essa
série, obrigada pela dica. Uma das próximas postagens será sobre
Budapeste, que visitei em janeiro. E vamos ver se falo mais sobre livros no
blog, como foi essa resenha sobre A biblioteca esquecida de Hitler. Sinto
que exerço uma grande utilidade pública recomendando boas leituras.
Obrigada por me ler e por escrever :). Não sabia que era do Rio. Há um
amigo querido que está estudando na UFF (saiu de Blumenau para fazer
mestrado lá). Faz algum frio aí no inverno? Um abraço, (Barbara Maidel).
NEC CSVID OL
Barbara, deixe dizer-lhe uma coisa que passou em branco no último email.
Você me conta que escreve os capítulos aleatoriamente, ao tempo que vão
surgindo na criação. Ora, simplesmente esqueci que escrevi um romance
assim. O texto corria aleatoriamente — como no romance de Cortázar “O
jogo da Amarelinha” (suponho que o mesmo ocorreu a G. G. Márquez, em
“Cem anos de solidão”). Enfim, fui seguindo nessa toada até alcançar 50
capítulos. Aí sucedeu o desastre: não consegui montar o romance, embora
estivesse ele plantado em minha cabeça por completo. Chama-se “Geleia
de rosas para Hitler” e a trama se passa em Itaipava, anos correntes, mas
com flashbacks na fronteira França-Alemanha, onde maquis lutavam contra
o nazismo. Sabendo da preferência do casal Eva e Adolf por geleia de
rosas, a comunidade alsaciana resolveu “presentear” o casal com uma
produção especial envenenada. Ocorre um acidente no transporte e os potes
se quebram na estrada, contaminando o local. Mortes de animais silvestres
levaram a SS a descobrir a tentativa de assassinato. Filhos e netos dos
conspiradores fugiram para Petrópolis e montaram ali um núcleo secreto.
Bom é por aí. Mas o romance está perdido entre as folhas misturadas.
B
resdes tags»
50 Sa É Ss, Ez SE 2y
FIM
Perfil do autor na Wikipédia:
O Salomão Rovedo