CAPÍTULO 4 Psiquiatria Essencial Depressão
CAPÍTULO 4 Psiquiatria Essencial Depressão
CAPÍTULO 4 Psiquiatria Essencial Depressão
Capítulo 4
DEPRESSÃO
Introdução
O transtorno depressivo é uma condição clinica comum tendo uma prevalência
de 15% ao longo da vida na população geral. Sua incidência na atenção primaria chega a
10%, em pacientes internados esta taxa sobe para 15% e em pacientes com câncer este
índice pode chegar a 47%. A idade média de início na população geral fica em torno
de 27 anos, sendo que 40% relata o primeiro episodio antes dos 20 anos, 50% entre
20 e 50 anos e 10% após os 50 anos. A depressão é duas a três vezes mais frequente
em mulheres do que em homens e é mais comum em áreas rurais do que urbanas. A
prevalência deste transtorno do humor não difere entre raças.
A depressão foi estimada como a quarta causa específica nos anos 1990 de
incapacitação através de uma escala global para comparação de várias doenças. A
previsão para o ano 2020 é a de que será a segunda causa em países desenvolvidos e a
primeira em países em desenvolvimento. Quando comparada às principais condições
médicas crônicas, a depressão só tem equivalência em incapacitação às doenças
isquêmicas cardíacas graves.
Chama atenção o fato de apesar de prevalente e impactante, estudos demonstram
que médicos não-psiquiatras têm dificuldade em reconhecer e diagnosticar a depressão.
Em serviços médicos gerais 30 a 50% dos pacientes com depressão não recebem o
diagnóstico e, de modo geral, apenas 35% dos doentes são diagnosticados e tratados
adequadamente.
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Etiologia
Atualmente considera-se que a depressão resulta de uma complexa interação
entre processos biológicos (resposta ao estresse, fatores neurotróficos), psicológicos
(personalidade e relacionamentos pessoais), ambientais (dieta, álcool, ritmo biológico)
e genéticos.
Do ponto de vista fisiopatológico, a teoria das monoaminas é a mais consolidada
e postula que a depressão esta ligada a falta ou desequilíbrio dos neurotransmissores
noradrenalina, serotonina e dopamina no sistema límbico.
Embora seja teoricamente possível o envolvimento de uma desregulação
particular de um eixo neuroendócrino na causa do transtorno do humor, as
desregulações nestes eixos refletem com mais probabilidade um distúrbio cerebral
subjacente fundamental. Neste contexto, observa-se uma associação entre alterações
do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e depressão. Especula-se que o estresse crônico
levaria a hiperativação deste eixo, o que tornaria o individuo mais sensível aos
eventos vitais. Também é relatado na literatura a correlação entre a hipersecreção
de cortisol e a depressão. Cerca de 50% dos pacientes deprimidos têm níveis de
cortisol elevados.
Associação entre alterações do ritmo circadiano e transtornos do humor foi
descrita há muito tempo. Na pratica clinica esta associação reflete-se na depressão
sazonal, que é classicamente descrita como secundaria a períodos insuficientes de
luz, e na observação de que a regularização do ritmo biológico beneficia o paciente
deprimido. Esta associação possui embasamento no fato de a síntese e/ou secreção de
neurotransmissores esta sob influencia do ritmo circadiano, especialmente na ritmicidade
do transportador de dopamina e à monoamino-oxiadase A.
Atualmente se aceita que fatores genéticos têm um papel significativo no
desenvolvimento de transtornos do humor. No entanto, este padrão de herança genética
é complexo e a contribuição de múltiplos fatores genéticos na manifestação da depressão
é estimada em 40 a 50%, sobrando espaço para fatores socioambientais.
O uso de substancias psicoativas (álcool, inibidores de apetite) destaca-se como
um fator de risco ambiental para depressão. Sabe-se que eventos adversos precoces
(perda parental, percepção de falta de carinho dos pais, baixo suporte social e abuso
físico e/ou sexual na infância) também configuram um fator de risco ambiental.
O TDM pode ser desencadeado por fatores psicossociais, por exemplo, perda
do emprego, de um ente querido ou separações.
Quadro clinico
Nem sempre os pacientes com depressão procuram espontaneamente o
tratamento. Isso ocorre não só em quadros grave e incapacitantes, mas também em
quadros leves a moderados porque esta doença geralmente cursa com um sentimento
de apatia e desesperança. Neste contexto, sabe-se que cerca de 50% dos pacientes
neguem sentimentos depressivos e não parecem estar particularmente deprimidos,
sendo conduzidos por pessoas próximas para o tratamento devido à reclusão social
e redução generalizada da atividade. Desta forma, é importante que o profissional de
Psiquiatria – O essencial 53
saúde assuma uma postura ativa na investigação dos sintomas uma vez que identifique
indícios de um transtorno depressivo.
Os sintomas fundamentais da depressão são humor depressivo, anedonia
(prejuízo da capacidade de sentir alegria e prazer) e fatigabilidade. Pode predominar
apatia e indiferença a tudo ou sofrimento com angustia e desespero.
Sintomas ansiosos são muito comuns podendo atingir até 90% dos pacientes
deprimidos. O pensamento costuma ter seu curso lentificado, dificultando o raciocínio,
a capacidade de concentração, a atenção e, consequentemente, a memória. Estas
alterações são comuns e clinicamente são facilmente observadas através da latência de
resposta e relato de “brancos” no raciocínio. No conteúdo do pensamento predominam
ideias congruentes com o humor depressivo, por exemplo, de pessimismo, culpa, falta
de sentido, ruína, fracasso, desesperança, menosvalia, doença, morte, suicídio. Estas
ideias tornam-se verdadeiros tormentos e caracterizam-se por um constante de ir e vir
durante o dia, sendo chamadas de ruminações depressivas.
A lentificação da psicomotricidade também é um sintoma bastante comum.
Classicamente o paciente com depressão demonstra uma postura encurvada, sem
movimentos espontâneos e com o olhar desviado para baixo. No entanto, também
podem ser observadas inquietação ou agitação psicomotora, especialmente na depressão
com sintomas ansiosos ou na depressão bipolar. A falta de energia chega a ser relatada
por 97% dos pacientes e se refletem em queixas como fatigabilidade, preguiça, sono,
necessidade de mais esforço para realizar atividades e mau desempenho na escola ou
trabalho. Independente da redução de energia, prejuízos na volição ficam evidentes
por meio da diminuição da vontade, do ânimo, e da falta de iniciativa para realizar
atividades habituais.
Por volta de 80% dos pacientes reclamam de dificuldade com o sono,
especialmente despertar precoce na madrugada (insônia terminal) e múltiplos
despertares durante a noite. É comum relatarem uma variação dos sintomas ao longo
do dia, com aumento da gravidade pela manhã e redução dos sintomas à noite. Podem
ocorrer sintomas físicos ou dolorosos, além de diminuição ou perda do desejo sexual,
disfunção erétil ou ejaculação rápida. Alterações no apetite e peso podem ocorrer tanto
para mais como para menos.
Cerca de dois terços dos pacientes deprimidos cogitam o suicídio, e 10 a 15%
cometem-no. Em alguns casos, pacientes deprimidos podem apresentar ideação suicida,
mas devido à falta de motivação e energia não são capazes de planejar e cometer o
suicídio. Isso pode tornar-se um problema nos casos em que, na medida em que o
tratamento progride, o paciente recupera a energia e motivação, mas mantem ideação
suicida (como discutiremos em maiores detalhas no tratamento).
Na maioria dos casos, o paciente deprimido costuma manter a critica acerca da
doença, ou seja, ele identifica que seu atual estado não corresponde ao seu “normal”.
No entanto, a realidade passa a ser vista de uma ótica pessimista e em seus relatos
predominam eventos passados com emoções negativas (mesmo os eventos positivos
são relatados de forma a desvalorizá-los), o presente é marcado pela incapacidade
de mudança e o futuro visto com desinteresse ou como um cenário de ruina. Estas
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Diagnóstico
Segundo o Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais 5ª. Edição (DSM-5) os
transtornos depressivos são classificados em uma serie de subtipos, como: transtorno
depressivo maior, transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico
pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância ou medicação, transtorno
depressivo devido a uma condição medica, entre outros.
Neste capitulo daremos maior ênfase ao o transtorno depressivo maior, o qual
tem seus episódios caracterizados pelos critérios diagnósticos a seguir:
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1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por
relato subjetivo ou observações feitas por terceiros (em crianças e adolescentes
pode ser humor irritável).
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as
atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato
subjetivo ou por terceiros)
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta ou diminuição ou
aumento do apetite quase todos os dias.
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
5. Agitação ou retardo psicomotor, quase todos os dias (observáveis por outros,
não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser
delirante) quase todos os dias.
8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou indecisão quase todos os
dias (por relato subjetivo ou por terceiros).
9. Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer) ideação suicida
recorrente sem um plano especifico, tentativa de suicídio ou plano especifico
para cometer suicídio.
D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por Transtorno
Esquizoafetivo, Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno
Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
Comorbidades:
Dentre as comorbidades psiquiátricas prevalentes com o TDM destacam-se os
transtornos ansiosos e abuso de substâncias.
É importante que o clínico tenha em mente os transtornos do humor podem
estar associados a alguma condição clinica e realizar a investigação clínica necessária.
Especialmente em idosos a associação de depressão com condições medicas é muito
frequente. Sabe-se que o tratamento da depressão nestes casos pode melhorar o curso
da condição medica subjacente, inclusive o câncer. Entre as condições clínicas mais
frequentemente associadas a quadros depressivos temos:
Tratamento e prognóstico
Curso do Episódio Depressivo Maior:
Sem tratamento um episodio depressivo leve a moderado dura de 4 a 30 semanas
e um grave de 6 a 8 meses. Esta doença possui um caráter predominantemente
crônico sendo que 25% dos deprimidos recidiva dentro de 6 meses, 58% em 5 anos
e 85% no período de 15 anos seguintes a uma recuperação. Além disso, deprimidos
que desenvolveram 2 episódios tem 70% de chance de apresentar um terceiro
episodio e estes passam a ter risco de 90% de nova depressão. Sabe-se também
que à medida que a doença progride, o intervalo entre os episódios se encurta e
a gravidade aumenta. Caso sejam corretamente diagnosticados e adequadamente
tratados, o prognóstico dos transtornos depressivos torna-se bom e as chances de
recuperação são maiores.
Planejamento do tratamento:
Quando se fala em tratamento antidepressivo é fundamental ter dois conceitos
bem claros: (1) “resposta” corresponde a uma melhora dos sintomas e (2) “remissão”
refere-se à eliminação completa dos sintomas. Existe uma evidência contundente
na literatura de que os antidepressivos são eficazes no tratamento da depressão
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aguda moderada e grave, quer exibindo uma resposta ou remissão dos sintomas.
Estudos controlados mostraram que psicoterapia cognitiva, psicoterapia interpessoal
e psicoterapia de solução de problemas são efetivas no tratamento dos episódios
depressivos leves a moderados.
O modelo predominante na literatura para o planejamento do tratamento
antidepressivo envolve a fase aguda, de continuação e de manutenção.
n Fase aguda: inclui os dois e três primeiros meses e tem como objetivo obter
uma resposta ou, idealmente, a remissão dos sintomas com o retorno do
nível de funcionamento pré-mórbido.
n Fase de continuação: corresponde ao quarto e sexto meses que seguem ao
Refratariedade ao tratamento:
Quando um paciente não reage ao tratamento, a recomendação é revisar os
fatores relacionados a não resposta:
Introdução
Transtorno bipolar tipo I (TAB I) é uma condição menos frequente do que o
TDM, no entanto ainda apresenta uma prevalência significativa acometendo 1% da
população ao longo da vida. Tipicamente o TAB tipo I pode ter inicio desde a infância
até os 50 anos de idade, sendo a média de apresentação em torno dos 30 anos. O TAB
tipo I tem prevalência igual entre homens e mulheres, os episódios depressivos são
muito mais frequentes do que os maníacos do modo geral, mas os episódios maníacos
são mais comuns em homens e os depressivos mais comuns em mulheres. O transtorno
bipolar possui uma incidência maior que a média em classes socioeconômicas mais
altas. Também, é mais recorrente entre as pessoas que não concluíram ensino médio,
o que pode indicar a idade precoce de início do transtorno.
Vale ressaltar que o transtorno bipolar vai além do tipo 1 e que o DSM-5 engloba
dentro do transtorno bipolar uma serie de subtipos, como: TAB tipo I, TAB tipo II,
transtorno ciclotimico, TAB induzido pelo uso de substancias ou medicamentos, TAB
devido a uma condição medica, entre outros.
Neste capitulo daremos maior ênfase ao TAB tipo I, TAB tipo II e transtorno
ciclotimico.
Etiologia
Assim como na depressão, existem diversas alterações endócrinas, neurológicas,
metabólicas descritas em pacientes com TAB I, assim como diversas teorias psicológicas,
porém nenhuma delas mostrou-se totalmente capaz de explicar as manifestações e o
curso desse transtorno.
Dentre os fatores etiológicos já descritos como envolvidos no TAB I podemos
destacar alterações neuro-endócrinas como alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal,
alterações no eixo tireoidiano (presença de níveis aumentados de anticorpos anti-tireóide),
anormalidades na arquitetura do sono e na regulação do ritmo circadiano, alterações em
hemisfério cerebral direito (principalmente lesões pós-AVC acometendo essas regiões).
O transtorno bipolar tipo I possui um fator genético significativo em seu
desenvolvimento. O componente genético exerce um papel mais importante no
transtorno bipolar tipo I do que na depressão, porém o padrão de herança é bem
complexo. Cerca de 50% dos indivíduos bipolares possui um parente com transtorno
de humor. Se um dos pais tem transtorno bipolar tipo I existe chance de 25% de que
qualquer filho desenvolva um transtorno de humor. Se os dois pais tem esse transtorno,
a chance aumenta para 50-75%.
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Quadro clinico
O transtorno afetivo bipolar tipo I é caracterizado por um curso clínico com
um ou mais episódio de mania. Por vezes, há episódios depressivos maiores, mas não
são fundamentais para o diagnóstico (isto é, o episódio de mania é o quadro chave
para se diagnosticar TBI).
Grosso modo, na mania observa-se características opostas àquelas observadas
na depressão. Sendo o humor elevado, expansivo ou irritável a característica principal
do episódio maníaco.
Didaticamente, as manifestações do episódio maníaco podem ser divididas em
alterações do humor, da cognição e do comportamento (psicomotricidade e funções
vegetativas).
O humor, como dito, é inicialmente elevado, expansivo, podendo manifestar
irritação e agressividade quando contrariado. Labilidade e incontinência afetiva são
comuns, isto é, variações para extrema tristeza e retorno rápido para humor expansivo.
Com o passar do tempo, o paciente pode evoluir para sentimento de desconforto, disforia
(mal-humor), raiva e sentimentos depressivos, com sensações de pânico e desesperança.
Em relação à esfera cognitiva, há inicialmente grandiosidade, auto-estima e auto
confiança exageradas, pensamento e fala rápidos. Há pressão de discurso, ou seja, não
se consegue interromper a fala do paciente. O interesse por diferentes atividades está
aumentado, principalmente por temas sexuais, religiosos e atividades prazerosas e arriscadas.
Com a evolução do quadro, o pensamento pode acelerar-se ainda mais, sendo que não se
entende mais o que o paciente fala. Ele passa a escolher as palavras por semelhança de
sons e não de conteúdos. Ainda, com a progressão do episódio, o pensamento pode se
tornar totalmente desorganizado, incompreensível, podem surgir delírios e alucinações,
por vezes com conteúdo chamado congruente com o humor (ou seja, de grandiosidade,
habilidades especiais, ter elaborados teorias místicas, etc), podendo existir sintomas psicóticos
incongruentes com o humor, semelhantes aos vistos num surto de esquizofrenia.
Em relação às alterações comportamentais, observa-se aumento da atividade
psicomotora, direcionada a objetivos específicos, como estudos, trabalho, esportes, como
também dirigida a prazeres, com gastos excessivos, uso excessivo de álcool, cigarro,
cafeína e drogas. A fala é rápida A diminuição da necessidade de sono é o sintoma físico
mais comum, sendo que o paciente sente-se bem disposto com menos de 5 horas de
sono, às vezes passando dias sem dormir. Muitas vezes, como o paciente está eloquente
e o discurso é inteligível no inicio do quadro, o paciente é capaz de convencer o médico
de que não há nada errado, devendo sempre procurar obter-se a história com familiares
e pessoas próximas. Com a evolução do quadro, a agitação se intensifica, podendo haver
comportamentos explosivos, agressivos e bizarros.
Diagnóstico
O diagnóstico de Episódio Maníaco segundo o DSM-5 segue os critérios abaixo:
objetivos que perdura por, pelo menos, uma semana (ou qualquer duração
se a hospitalização for necessária).
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou
atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é
apenas irritável) estão presentes em um grau significativo e representam
uma notável mudança do comportamento usual:
(1) auto-estima inflada ou sentimentos de grandeza
(2) diminuição da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado após
apenas três horas de sono)
(3) mais falante do que o usual ou pressão por falar
(4) fuga de idéias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão
correndo
(5) distração (ou seja, a atenção é facilmente desviada para estímulos externos
insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado.
(6) aumento na atividade dirigida a objetivos (ou sociais, no trabalho ou na
escola, ou sexualmente) ou agitação psicomotora
(7) envolvimento excessivo em atividades prazerosas que têm um alto
potencial para consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em
compras desenfreadas, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros
tolos).
C. A perturbação do humor é suficientemente severa para causar prejuízo
acentuado no funcionamento social ou ocupacional ou para exigir a
hospitalização para evitar danos a si ou aos outros, ou existem características
psicóticas.
D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância
(por exemplo, uma droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou
a outra condição médica.
Tratamento e prognóstico
Para facilitar o raciocínio clínico, dividimos o tratamento destes quadros de
acordo com a ordem que deve ser observada quando nos deparamos com o paciente:
Hospitalização:
O primeiro passo no tratamento de um paciente com TAB I com um quadro
de mania, misto ou depressivo é verificar se ou tratamento pode ser feito de maneira
ambulatorial ou se existe a necessidade de internação hospitalar. Critérios gerais que
indicam necessidade de hospitalização:
n Risco de suicídio;
n Risco de homicídio ou agressividade a outros;
integridade pessoal;
n Crítica diminuída do próprio estado, que impeça a tomada de medicação e o
n Complicações clínicas;
Em caso de presença dos critérios acima, com crítica sobre o próprio estado
diminuída ou ausente, a internação involuntária está indicada.
Investigação clínica
O segundo passo frente a um quadro maniforme ou misto é a investigação
da presença de substâncias ou causas orgânicas que possam estar relacionadas ao
quadro. A falta de história pregressa e familiar de transtorno de humor, idade de
início atípica e psicopatologia não usual tornam a hipótese de etiologia orgânica mais
relevante. Na presença de um quadro depressivo, a investigação deverá orientar-se
pelos diagnósticos diferencias clínicos discutidos anteriormente.
Psiquiatria – O essencial 65
Tratamento Farmacológico
Depressão bipolar:
Não há consenso sobre o melhor tratamento da depressão bipolar. Os
antidepressivos NUNCA devem ser usados em monoterapia, sempre em associação a
estabilizadores de humor. Deve-se preferir inibidores seletivos da recaptação de serotonina
(ISRS) ou inibidores da monoamino oxidase (iMAO’s). O uso dos antidepressivos sempre
aumenta o risco para virada maníaca.
Outra estratégia é o uso de lamotrigina, isoladamente ou em associação com
outros estabilizadores de humor. O antipsicótico atípico quetiapina também é eficaz
em depressão bipolar.
O lítio possui propriedades antidepressivas e, também, é o único medicamento
que possui propriedades anti-suicidas. Assim, em pacientes com alto risco de suicídio,
o lítio deve ser usado, se não houver contra-indicações.
O uso de carbamazepina ou valproato isoladamente não apresenta bons
resultados.
Tratamento de manutenção:
Todos os pacientes com diagnóstico de TAB I devem realizar tratamento de
manutenção após resolução dos episódios maníacos, depressivos ou mistos para a
prevenção de novos episódios.
As medicações ditas estabilizadoras de humor são as drogas de escolha para
tratamento de manutenção: lítio, valproato e carbamazepina. Antipsicóticos atípicos
como a olanzapina também são aprovados para a manutenção do tratamento. Todas
essas medicações possuem maior capacidade de prevenção de quadros maníacos que
depressivos. O lítio possui maior capacidade de prevenção de quadros depressivos que
as outras drogas citadas.
A lamotrigina é eficaz como tratamento de manutenção, prevenindo episódios
depressivos. Contudo, ela não é capaz de prevenir episódios maníacos.
Até o momento, não existem evidências que o tratamento de manutenção possa
ser interrompido. Porém, as doses de manutenção podem ser mantidas em níveis mais
baixos caso o paciente mantenha-se em remissão dos sintomas.
Curso e Prognóstico
O TAB I apresenta curso recorrente. Inicia-se com episódio depressivo na
maioria dos casos, tanto em homens quanto em mulheres. Cerda de 10 a 20 % dos
pacientes apresentam somente episódios maníacos, sem episódios depressivos. Após
um episódio maníaco, cerca de 90% dos indivíduos terão um segundo episódio se não
tratados. Também, com a evolução do transtorno, o intervalo entre os episódios tende
a diminuir. O tratamento profilático tende a evitar esse processo.
O prognóstico do TAB I é, em geral, pior do que o transtorno depressivo. De
todos os pacientes com TAB I, 7% não tem recorrência de seus sintomas, porém até
40% podem ter um transtorno crônico. Cerca de 50 a 60% dos pacientes tem um bom
controle de seus sintomas com o lítio. O tratamento e profilaxia com lítio melhoram
o curso e o prognóstico do TAB I.
Psiquiatria – O essencial 67
Fatores de risco para um pior prognóstico: início muito precoce dos sintomas,
dependência de álcool, sintomas psicóticos, sintomas depressivos entre os episódios
maníacos, estado ocupacional pré-morbido ruim e sexo masculino.
Indicadores de bom prognóstico: maior idade de início do TAB, curta duração
dos episódios maníacos, poucas comorbidades psiquiátricas e clínicas e poucos
pensamentos suicidas.
TAB tipo II
O TAB II é caracterizado pela presença de episódios depressivos e pelo menos um
episódio hipomaníaco. Caso haja um episódio maníaco, o diagnóstico passa a ser de TAB I.
Critérios diagnósticos para episódio hipomaníaco, segundo o DSM-5:
Transtorno Ciclotímico
No DSM-5 e da CID-10 encontra-se descrito, ainda, uma outra categoria dentre
os transtornos de humor: o transtorno ciclotímico. Trata-se e uma forma atenuada do
TAB tipo II, na qual há a variação entre sintomas hipomaníacos e sintomas depressivos
leves, que não fecham critérios para um episódio depressivo maior.
REFERÊNCIAS