Lição Transformação Do Músculo em Carne, Influência Na Qualidade Da Carne

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LIÇÃO

TRANSFORMAÇÃO DO MÚSCULO
EM CARNE, INFLUÊNCIA NA
QUALIDADE DA CARNE

Silvina Ferro Palma

INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA


ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA

Beja, 2017
LIÇÃO

TRANSFORMAÇÃO DO MÚSCULO
EM CARNE, INFLUÊNCIA NA
QUALIDADE DA CARNE

Lição apresentada no âmbito das Provas Públicas de Avaliação de Competência


Pedagógica e Técnico-Científica na área disciplinar de Ciência e Tecnologia da
Carne, área CNAEF das Indústrias Alimentares, para efeitos de admissão à
categoria de Professor Coordenador (Despacho Nº 64/PIPB/2017) do Instituto
Politécnico de Beja, para a Escola Superior Agrária, publicado no D.R. 2ª série
nº111 de 8 de Junho de 2017, Com o Despacho nº 5147/2017, e de acordo com o
estipulado n.º 5 do artigo 8.º-A do Decreto-Lei n.º 207/2009, de 31 de Agosto na
redacção dada pela Lei n.º 7/2010, de 13 de Maio, o disposto nos n.os 8 a 11 do
artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 207/2009, de 31 de Agosto na redacção dada pela Lei
n.º 7/2010, de 13 de Maio, o disposto nos artigos 21.º a 24.º-A do Decreto-Lei n.º
207/2009, de 31 de Agosto, que aprovou o Estatuto da Carreira do Pessoal
Docente do Ensino Superior Politécnico, o disposto no artigo 2.º do Regulamento
das Provas Públicas de Avaliação de Competência Pedagógica e Técnico-Científica,
homologado em 19 de Março de 2012 e aprovado na reunião n.º 58 do Plenário do
Conselho Técnico Científico do Instituto Politécnico de Beja, em 18 de Janeiro de
2012,
LIÇÃO

TRANSFORMAÇÃO DO MÚSCULO
EM CARNE, INFLUÊNCIA NA
QUALIDADE DA CARNE
JÚRI
Presidente
Professor Doutor João da Silva Boavida Canada,
Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Beja

Membros efectivos
Professora Doutora Aida Maria Gonçalves Moreira da Silva,
Professora Coordenadora do Instituto Politécnico de Coimbra

Professor Doutor António José Faria Raimundo,


Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Santarém

Professora Doutora Edite Maria Relvas das Neves Teixeira de Lemos,


Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Viseu

Professor Doutor Jorge Alberto Guerra Justino,


Professor Coordenador Principal do Instituto Politécnico de Santarém

Professor Doutor Luís Pedro Mota Pinto de Andrade,


Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Castelo Branco

Membros suplentes
Professor Doutor Carlos Dias Pereira,
Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Coimbra

Professora Doutora Raquel de Pinto Ferreira Guiné,


Professora Coordenadora do Instituto Politécnico de Viseu
INDÍCE
INDÍCE ...............................................................................................................................................................i

Apresentação ............................................................................................................................................... iii

I – 1ª PARTE - Enquadramento........................................................................................................ 1

1 – Enquadramento pedagógico da Lição ....................................................................................... 1

2 – Recursos e estratégias científico-pedagógicas ..................................................................... 3

II – 2ª PARTE – Lição .............................................................................................................................. 5

1 – Transformação do músculo em carne....................................................................................... 5

2 – Alterações da qualidade da carne .............................................................................................18

2.1 – Espécie .................................................................................................................................18

2.2 – Raça .......................................................................................................................................18

2.3 – Músculos .............................................................................................................................19

2.4 – Stresse ante-morte .........................................................................................................19

2.4.1 – Carnes PSE.......................................................................................................19

2.4.2 – Carnes DFD .....................................................................................................21

2.5 – Aplicação do frio post mortem..................................................................................22

2.5.1 – Encurtamento pelo frio (cold shortening) .......................................23

2.5.2 – Rigor da descongelação (thaw rigor) .................................................24

3 – Maturação - proteólise post mortem ........................................................................................25

4 – Consequências da maturação sobre a qualidade organoléptica da carne .............40

III - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................47

ANEXOS

ANEXO 1 ...................................................................................................................................................... I-1

ANEXO 2 .................................................................................................................................................... II-1

ANEXO 3 ................................................................................................................................................... III-1

ANEXO 4 ................................................................................................................................................... IV-1

i
INDÍCE FIGURAS

Figura 1 – Organização da fibra muscular. .................................................................................. 6

Figura 2 – Esquema elaborado a partir de microfotografia electrónica


apresentando a organização do músculo esqueléptico, desde a estrutura
macroscópica a nível molecular. ........................................................................................................ 7

Figura 3 – Consequências da paragem de circulação no tecido muscular.…………..11

Figura 4 – Evolução do pH e CRA no músculo. ........................................................................ 12

Figura 5 – Alterações bioquímicas e mecânicas no músculo post mortem. ............... 13

Figura 6 – Variação do pH nas 24 horas post mortem. ........................................................ 21

Figura 7 – Representação esquemática das proteínas miofibrilares e principais


componentes do sarcómero. ............................................................................................................. 30

Figura 8 – Diagrama do citoesquelecto do sarcómeroda fibra muscular esquelética


dos mamíferos. ........................................................................................................................................ 31

Figura 9 – Diagrama relacionando os resultados da transformação do musculo em


carne e características organolépticas e tecnológicas reultantes. ………………………40

Figura 10 – Compostos aromáticos na carne. ......................................................................... 44

INDÍCE TABELAS

Tabela 1 – Factores sugeridos como responsáveis pelas modificações físicas,


bioquímicas e/ou estruturais características da transformação do músculo
esquelético de mamífero em carne ................................................................................................ 38

ii
Apresentação

O presente trabalho visa, dar cumprimento, no âmbito das Provas Públicas


de Avaliação da Competência Pedagógica e Técnico-Científica para acesso à
categoria de Professor Coordenador, no disposto nos n.os 8 a 11 do artigo 6.º do
Decreto-Lei n.º 207/2009, de 31 de Agosto na redacção dada pela Lei n.º 7/2010,
de 13 de Maio, da carreira docente do ensino Superior Politécnico. O oponente ao
concurso de provas públicas para professor coordenador tem de apresentar uma
lição no âmbito da área científica para que concorre.

Este documento, encontra-se organizado em duas partes, sendo a primeira


relativa ao enquadramento pedagógico da Lição e, a segunda, respeitante ao
desenvolvimento detalhado da matéria ministrada na mesma.

O tema seleccionado para esta lição “Transformação do músculo em carne,


influência na qualidade da carne”, deve-se, à permanente actualidade do tema,
reflectindo na tecnologia da carne a importância que representa, e ainda no facto
do tema ser leccionado no conteúdo de unidade curricular do curso de 1º ciclo de
Ciência e Tecnologia dos Alimentos da Escola Superior Agrária do Instituto
Politécnico de Beja.

iii
iv
I – 1ª PARTE - Enquadramento

1 – Enquadramento pedagógico da Lição

A lição é adaptada a uma “aula didáctica” de 60 minutos, prevista no


Regulamento das Provas Públicas do Instituto Politécnico de Beja aprovado em
reunião de Conselho Técnico Cientifico de 18 de Janeiro de 2012 e Homologado
pelo Presidente do IPB a 19 de Março de 2012,
(https://www.ipbeja.pt/RepositorioDocumentosOficiais/Lists/Regulamentos/Att
achments/72/Regulamento%20de%20Provas%20P%C3%BAblicas%20de%20Av
alia%C3%A7%C3%A3o%20de%20Competencias%20e%20Tecnico-
Cientifica%20do%20IPBEJA.pdf) enquadrada na Unidade Curricular (UC) de
“Tecnologia da Carne e do Pescado”, do curso de Ciência e Tecnologia dos
Alimentos, 1º ciclo de estudos conducente ao grau de licenciado, ministrado na
Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja, com o registo DGES R/A-
Cr 29/2013, acreditado para cinco anos desde 15/03/2013.
A lição intitulada “Transformação do músculo em carne, influência na
qualidade da carne” é leccionada na quarta aula de Tecnologia da Carne e do
Pescado, com descritor anexo (Anexo 1), sendo apresentada de acordo com o Plano
de Estudos da UC “Tecnologia da Carne e do Pescado” (Anexo 2).
Em contexto real, fazem ainda parte desta aula uma ficha de trabalho e a
aula prática a realizar em laboratório. Por fim deve ser seguida de uma visita ao
matadouro.
Nesta lição relacionam-se os aspectos teóricos e práticos da tecnologia da
carne, incidindo na composição do músculo esquelético e nas suas transformações.
São definidos os pré-requisitos, os objectivos específicos a atingir em
termos de conhecimentos e competências e os materiais pedagógicos utilizados.
No plano da lição apresentam-se os conteúdos, as didácticas e os tempos
(aproximados) atribuídos a cada um dos tópicos abordados. (Anexo 3)
No fim da aula o estudante deve responder à ficha de trabalho. (Anexo 4)
Este desafio é complementado com a elaboração do relatório da aula
prática.
Com estes elementos o estudante tem a opção de uma avaliação contínua.

1
Como nota gostaria de realçar que no regulamento destas provas “o
candidato apresentará uma lição de 60 minutos”, em aula real a planificação e as
estratégias propostas tem aproximadamente 120 minutos de duração. Contudo
tendo esta prova uma condição específica, onde não existe turma com a qual se
estabeleceria uma interacção com os alunos, com esclarecimento de dúvidas e
questões, considero possível nos 60 minutos focar os aspectos mencionados.
O grande desafio dos docentes não consiste na transmissão dos
conhecimentos, mas sim no desenvolvimento de um espírito crítico acerca dos
problemas e essa capacidade crítica é claramente potenciada pelo confronto das
ideias de vários autores.

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2 – Recursos e estratégias científico-pedagógicas

A execução pedagógica da Lição suportar-se-á numa metodologia


expositiva, com recurso a computador/data show/vídeo, acentuando e retendo os
aspectos mais importantes da matéria e propiciando a participação dos estudantes,
estimulando as potencialidades e fragilidades do conhecimento base que constitui
o objecto da Lição.

PRÉ-REQUISITOS - Antes da aula os estudantes deverão:


 Conhecer composição do músculo-esquelético
 Conhecer a histologia do músculo
 Conhecer a fisiologia da contracção muscular

OBJETIVOS - Após a aula os estudantes deverão:


 Conhecer a bioquímica da transformação do músculo em carne
 Compreender a influência da tecnologia do abate na qualidade da carne
 Factores que influenciam a instalação do rigor mortis
 Compreender a influência do stresse ante morte
 Identificar carnes PSE
 Identificar carnes DFD
 Compreender a influência da aplicação do frio post mortem
 Compreender o fenómeno da maturação da carne e as suas alterações
organolépticas

METODOLOGIA DE ENSINO
 São apresentados aos estudantes materiais de apoio, para efeitos da
didáctica demonstrativa, que consistem numa ficha de trabalho, protocolos
de trabalhos laboratoriais e os diapositivos de apoio à lição.
 São ainda disponibilizados os textos de apoio à lição e a bibliografia
apresentada, que para além do normal objectivo associado à descrição das
fontes utilizadas na preparação da lição, visa em grande medida facultar ao
aluno fontes para o arranque de uma eventual investigação acerca do tema
e desenvolver a sua capacidade crítica mediante o confronto de diferentes
teses.

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II – 2ª PARTE – Lição

Sumário: Transformação do músculo em carne

Alterações da qualidade da carne

Maturação-proteólise post mortem

Consequências da maturação sobre a qualidade organoléptica da carne

1 – Transformação do músculo em carne

A carne é um alimento procedente da musculatura dos animais. A conversão


do músculo em carne é o fundamento do processo que começa no animal vivo até à
sua transformação em alimento. A operação central deste processo é o sacrifício do
animal, contudo esta operação não está isolada do maneio e do processo posterior.
À que fazer a distinção entre os termos músculo e carne. O que consumimos
como carne depende fundamentalmente da natureza estrutural e química dos
músculos no seu estado post mortem e difere dos mesmos numa série de alterações
bioquímicas e biofísicas que tem início no músculo ao morrer o animal.
Somente com a compreensão dos eventos bioquímicos que ocorrem no
tecido muscular vivo foi possível saber que a carne, como organização complexa de
músculo esquelético, tecido conjuntivo e gordura, resulta de uma série de reacções
físico-químicas que ocorrem no tecido muscular a partir do abate, ou mesmo antes,
e que determinam a qualidade final do produto (Judge et al.,1989, citado por
Rübensam e Monteiro, 2000).
O tecido muscular esquelético representa 40 a 50% do peso corporal. É
formado por feixes de células muito longas (até 30 cm), cilíndricas e
multinucleadas, com um diâmetro que varia de 10 a 100µm, chamadas fibras
musculares esqueléticas. Num músculo, os feixes de fibras musculares estão
organizados em feixes envolvidos por uma membrana externa de tecido
conjuntivo, o epimísio. Do epimísio partem septos muito finos de tecido conjuntivo,
que se dirigem para o interior do músculo, dividindo-o em fascículos. Esses septos
são chamados de perimísio. Cada fibra muscular, por sua vez, é envolvida por uma
camada muito fina de fibras reticulares, formando o endomísio. (Mantese, 2002)
A fibra muscular é delimitada por uma membrana, o sarcolema, e o seu
citoplasma apresenta-se preenchido principalmente por fibrilas paralelas, as

5
miofibrilas. As miofibrilas são estruturas que apresentam um diâmetro de 1 a 2µm
e correm longitudinalmente à fibra muscular, preenchendo quase completamente
o seu interior (Figura 1). Ao microscópio electrónico aparecem com estriações
transversais, pela alternância de faixas claras e escuras, banda I e banda A,
respectivamente. No centro de cada banda I aparece uma linha transversal escura,
a linha Z. A estriação da miofibrila é devida à repetição de unidades iguais,
chamadas sarcómeros. Cada unidade é formada pela parte da miofibrila que fica
entre duas linhas Z sucessivas e contém uma banda A, separando duas semibandas.
Uma observação mais atenta da banda A revela a presença de uma zona mais clara
no seu centro, a banda H. A disposição dos sarcómeros coincide nas várias
miofibrilas da fibra muscular, formando um sistema de estriações transversais
paralelas. Essa disposição dos sarcómeros é devida principalmente à presença de
dois tipos de filamentos, dispostos longitudinalmente ao eixo mais longo das
miofibrilas e organizados numa distribuição simétrica e paralela. (Mantese, 2002)

Figura 1 – Organização da fibra muscular (Geneser, 2000)

As miofibrilas do músculo estriado contêm pelo menos quatro proteínas


principais: miosina, actina, tropomiosina e troponina.

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Figura 2 – Esquema elaborado a partir de microfotografia electrónica apresentando a
organização do músculo esquelético, desde a estrutura macroscópica a nível
molecular. (A) músculo esquelético, (B) feixe muscular, (C) uma fibra muscular
com miofibrilas, (D) miofibrila e sarcómero, (E) sarcómero com miofilamentos,
(F-I) secção transversal com miofibrilas no sarcómero. (J) moléculas de actina
G, (K) filamento de actina F, (L-M) filamento de miosina, (N) meromiosina
(Forrest, 1979)

7
A miosina é a mais abundante das proteínas miofibrilares. Tem alto
conteúdo de ácido glutâmico e ácido aspártico e de aminoácidos dibásicos, por isso
tem alta afinidade por iões cálcio e magnésio. A miosina é formada por duas
subunidades: L e H-meromiosina, leve e pesada, respectivamente. A H-
meromiosina contém ATPase e possui propriedades de se combinar com a actina,
que está situada na periferia dos filamentos de miosina.
Outra proteína importante na miofibrila é a actina, que existe em duas
formas: G-actina, uma molécula relativamente pequena, e a F-actina, cujas
unidades globulares são agregadas formando uma dupla cadeia. A G-actina
polimeriza-se dentro da F-actina na presença de sais e pequenas quantidades de
ATP. É esta F-actina que se combina com a miosina para formar actomiosina, que é
contráctil no músculo vivo ou em pré-rigor e não é elástica no músculo em rigor
mortis. (Figura 2)
A troponina é composta por duas unidades que estão intimamente
relacionados com o processo de contracção: o factor sensível ao cálcio, a troponina
A, e um factor inibidor, a troponina B.
A troponina promove a agregação da tropomiosina e previne a formação de
actomiosina; a α-actinina promove a associação lateral da F-actina; a β-actinina
inibe a polimerização da L-meromiosina mas não da H-meromiosina. (Mantese,
2002)
A contracção muscular não ocorre pelo encurtamento dos filamentos, mas
sim pelo aumento da zona de sobreposição entre os filamentos. Inicia-se na banda
A, onde os filamentos finos e grossos se sobrepõem. Durante o ciclo de contracção
a actina e a miosina interagem da seguinte forma: durante o repouso o ATP liga-se
à ATPase das cabeças da miosina. Para atacar a molécula de ATP e libertar energia
a miosina necessita da actina como cofactor. No músculo em repouso, o complexo
troponina-tropomiosina, fixado sobre um filamento de actina F, não permite a
associação da miosina com a actina. (Mantese, 2002)
Quando há disponibilidade do cálcio (Ca++), o qual é libertado com a
despolarização da membrana do retículo sarcoplasmático, causada pelo estímulo
nervoso, a molécula de tropomiosina é deslocada, permitindo a ligação actina-
miosina. Nesta fase, há activação do complexo miosina-ATPase e o ATP é
convertido em ADP, Pi e energia. Ocorre uma deformação da cabeça da miosina

8
que promove o deslizamento do filamento de actina sobre o filamento de miosina.
À medida que as cabeças de miosina movimentam a actina, novos locais para
formação das pontes de actina-miosina aparecem. As pontes antigas de actina-
miosina só são desfeitas depois da miosina se unir à nova molécula de ATP. Esta
acção determina também a volta da posição primitiva da cabeça da miosina,
preparando-se para um novo ciclo. A actividade contráctil continua até que os iões
Ca++ sejam removidos e o complexo troponina-tropomiosina cubra novamente o
local de combinação da miosina. Os iões Ca++ são transportados activamente (com
consumo de energia - ATP) para dentro do retículo sarcoplasmático quando cessa
a despolarização.
Após a morte (sangria), há interrupção do fluxo sanguíneo e, com isto, é
interrompido, também, o aporte de nutrientes e a excreção de metabólitos. (Figura
3). O tecido muscular, assim como outros tecidos, continuam exercendo suas
funções metabólicas, provavelmente na tentativa de manter sua homeostase.
(Mantese, 2002)
Os processos bioquímicos do músculo após o abate são, principalmente,
processos de degradação e ressíntese de ATP. Como consequência da morte, três
fontes de energia tornam-se disponíveis: ATP, creatina fosfato (CP) e o glicogénio.
Tanto o ATP como a CP estão presentes em pequenas quantidades no músculo,
fazendo com que o glicogénio seja a principal fonte de energia para a glicólise.
O glicogénio pode ser degradado tanto por via aeróbia como anaeróbia. A
degradação anaeróbia (glicólise) produz ácido láctico a partir do ácido pirúvico.
Na via aeróbia, o ácido pirúvico entra no ciclo de Krebs, formando CO 2 e H2O para
que o ADP seja fosforilado e transformado em ATP (mediante a redução do NAD).
Além da fosforilação glicogénica e da fosforilação oxidativa, o músculo dispõe de
uma fonte de rápida mobilização energética, a creatinafosfato (CP), que se
encontra armazenada em quantidade suficiente. Por actividade da
creatinafosfoquinase a CP transfere seu grupo fosfato a um ADP, produzindo ATP.
Com a interrupção do aporte de oxigénio, a síntese de ATP realiza-se
exclusivamente por via anaeróbia (fosforilação glicolítica) a partir da creatina-
fosfato e por acção da adenilato quinase muscular, o que ocorre quando as
reservas de CP se esgotam e mantém esta via por um curto espaço de tempo. Em
condições anaeróbias, o ácido pirúvico é reduzido a ácido láctico ao invés de ser

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metabolizado a acetil coenzima A e entrar na cadeia respiratória, como acontece
por via aeróbia.
A formação de ácido láctico fornece energia para a “reabilitação” da creatina
fosfato, permitindo a contracção muscular. Como não há mais fluxo sanguíneo, o
ácido láctico produzido acumula-se no músculo. Consequentemente há uma
descida do pH no músculo post mortem essencialmente ligado à quantidade de
glicogénio presente no músculo no momento do abate. Outro factor que contribui
para a alteração do pH no músculo post mortem é o facto de que as enzimas da
cadeia respiratória, que atuam como receptoras de iões hidrogénio, não deixam de
estar activas.
A queda do pH causa uma diminuição no metabolismo anaeróbio porque
afecta as enzimas do sistema Embeden-Meyeroff, já que o pH está afastado do valor
óptimo da sua actividade. (Farraia da Graça, 1987)
A descida do pH causa inactivação gradual do complexo troponina, levando
a um aumento da actividade da miosina-ATPase e acelera a hidrólise do ATP
(Prändl, 1994).
O facto de haver uma paragem circulatória leva consequentemente a uma
paragem da respiração celular. A falta de oxigénio leva à transformação da
oximioglobina em mioglobina (perda de oxigénio), que por sua vez se transforma
em metamioglobina, promovendo a alteração da cor. (Figura 3)
Sendo o teor em ATP praticamente inexistente e considerando que a
existência de ATP inibe a junção dos filamentos de actina, a actina e a miosina
ligam-se, então definitivamente, no complexo actomiosínico e por consequência, há
contracção isométrica (sem variação do comprimento).
A consistência do músculo torna-se firme, ficando os iões Ca++ retidos
electricamente no complexo actomiosínico. Para haver relaxamento, o Ca ++ teria de
ser bombeado para o retículo sarcoplasmático mas, devido à ausência de ATP, a
bomba não funciona.

10
Figura 3 – Consequências da paragem de circulação no tecido muscular (Lawrie, 1998)
adaptado

A descida de pH e a formação do complexo actomiosínico provocam


modificações nas cargas eléctricas, pois vai actuar o mecanismo que fixa uma
fracção de iões Mg++ e Ca++ sobre as proteínas, camuflando uma parte das cargas,
havendo igualmente uma modificação na configuração das proteínas. Assim, vai
haver uma diminuição do potencial redox de 250 para -50 mV e uma agregação das
proteínas, pois perto do seu ponto isoeléctrico (pH 5,5; note-se que o pH desce
para 5,5 – 5,7) as cadeias proteicas têm tendência a agregar-se, de tal modo que

11
diminui o espaço disponível para as moléculas de água, provocando uma
exsudação, e passando a haver uma menor capacidade de retenção para a água
(CRA). (Figura 4)

Figura 4 – Evolução do pH e CRA no músculo (López et al., 2001)

A libertação dos iões Ca++ e o aparecimento do ATP no decurso da


transformação do músculo em carne, reduz igualmente a água retida por
capilaridade; os iões Ca++ e Mg++ em solução (não fixados no retículo
sarcoplasmático por falta de ATP) formam ligações com as moléculas proteicas
para dar uma estrutura fechada que expulsa a água retida pelo complexo proteico
inicial.
A quebra do glicogénio não ocorre de maneira uniforme em todos os
estágios após o abate. Segundo Bate-Smith (citado por Price, 1971) parece haver
um aumento progressivo na velocidade da glicólise até atingir o pH que
corresponde ao momento em que as membranas perdem a resistência. Neste
momento, o músculo perde a sua capacidade de contracção e há livre passagem de
iões pelas membranas. Disto resulta uma rápida equalização do pH em todo o
tecido. A partir deste ponto, a glicólise vai diminuindo até que as reservas de
glicogénio estejam esgotadas ou até que o pH seja tão baixo a ponto de inibir
completamente as enzimas glicolíticas (pH <5,4).

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As particularidades da rigidez cadavérica (rigor mortis) ainda não são
totalmente conhecidas. Prändl (1994) divide os processos bioquímicos que
ocorrem até a instalação do rigor mortis em duas fases:
1) A flexibilidade e a elasticidade do músculo permanecem inalteradas. A
carne é macia e elástica. Esta fase tem uma duração variável, de 1 a 20 horas,
dependendo das reservas de glicogénio e CP, assim como da temperatura do
músculo. A hidrólise do ATP aumenta como consequência da queda progressiva do
pH, porém é compensada pela ressíntese de ATP.
2) A capacidade de extensão e a elasticidade diminuem rapidamente, em 2 a
3 horas, e como consequência da menor concentração de ATP, diminuem até
desaparecer completamente, ou seja até ao rigor mortis.
A figura 5 representa de forma esquemática as alterações dos principais
parâmetros em função do tempo. O tempo não se apresenta quantificado de forma
a ser aplicado a diferentes espécies e diferentes músculos.

Dureza (% valor final)

pH

Creatina-P(CP)

ATP

Dureza

Tempo post mortem

Figura 5 – Alterações bioquímicas e mecânicas no músculo post mortem


(Roncalés, 2001)

O endurecimento muscular ocorre quando a concentração de ATP não é


suficiente para manter as miofibrilas em estado de relaxamento. Neste ponto,
actina e miosina interagem formando o complexo actomiosina de maneira
irreversível, responsável pelo endurecimento muscular. O encurtamento
provocado pelo rigor mortis difere da contracção normal porque se formam mais

13
pontes cruzadas de actomiosina. Durante a contracção normal ligam-se somente
20% dos sítios de ligação possíveis, durante o rigor mortis, praticamente todos os
sítios de ligação entre actina e miosina são utilizados, fazendo com que ocorra um
significativo encurtamento do sarcómero. (Mantese, 2002)
O tempo de instalação do rigor mortis depende de factores internos e
externos. Os factores internos mais importantes são as reservas de glicogénio e CP.
Quanto maior é o conteúdo de glicogénio e CP no momento do abate, mais tarde
aparece o rigor mortis e vice-versa. Como factores externos pode citar-se como o
mais importante a temperatura. A glicólise e, consequentemente, a queda do pH
ocorre mais lentamente quanto menor for a temperatura da carne. Com o
arrefecimento rápido da carne os processos post mortem são retardados e o rigor
mortis aparece mais tardiamente do que quando a temperatura da carne é mais
alta. (Felício, 1993).
Os processos bioquímicos são quase completamente interrompidos quando
a carne é congelada antes do aparecimento do rigor mortis. Neste caso, o rigor só
se completará após o descongelamento da carne.
O rigor mortis começa a aparecer cerca de 9 a 12 horas após a morte
(sangria), atingindo um máximo em 20 a 24 horas, para sofrer um progressivo
declínio. (Mantese, 2002)
Em suínos, o rigor começa a ocorrer 3 a 4 horas após o abate. Muitas vezes o
rigor mortis e a queda do pH acontecem uma hora após o abate. Nestes animais a
resolução do rigor pode ocorrer em 12 horas.
Quando o rigor mortis está completo (momento que coincide com o
esgotamento do ATP) começa a haver ruptura da linha Z e de outras proteínas do
citoesqueleto. A estrutura miofibrilar também começa a sofrer uma progressiva
degradação, porém sem que se desfaçam as pontes de actomiosina. Esta
degradação é diferente entres as espécies animais de talho e pode ser responsável
pelas diferenças de qualidade da carne das mesmas.
A resolução ou final do rigor mortis é indicada pela tenrura das massas
musculares e resulta de alterações causadas por degradação da ultraestrutura da
fibra muscular. Até este momento, dois fenómenos são de extrema importância na
transformação do músculo em carne: a queda do pH muscular e a resolução do

14
rigor mortis. Do ponto de vista tecnológico, considera-se carne o músculo que
tenha passado pelo rigor mortis.
O valor final do pH da carne influi na conservação e em propriedades
tecnológicas da carne. Uma acidificação adequada da carne corresponde a valores
de pH entre 5,4 e 5,8. Neste intervalo muitos microrganismos são inibidos,
principalmente os proteolíticos. Valores finais de pH superiores podem
comprometer a conservação da carne e diminuir sua capacidade de retenção de
água. (Mantese, 2002)
Além do valor final de pH, também é muito importante a velocidade de
queda do pH. Quando esta é muito rápida após a morte, a carne torna-se
defeituosa, conhecida como carne PSE (pale-soft-exsudative).
A aceleração do processo de degradação do glicogénio (causa de variações
no rigor mortis e na acidificação da carne) por causas endógenas ou exógenas está
frequentemente associada a alterações na qualidade da carne. Estas alterações são
conhecidas como carne PSE de suínos e carne DFD de bovinos e suínos. Também o
inadequado arrefecimento das carcaças, antes da instalação do rigor mortis, pode
causar o fenómeno conhecido como encurtamento pelo frio (cold-shortening)
observado em carne de ovinos e bovinos.
Se os fenómenos correspondentes à entrada em rigidez são hoje bastante
conhecidos, o mesmo já não se verifica para os fenómenos que acompanham a
maturação e, em particular a melhoria da tenrura e a evolução da cor. Os
mecanismos de acção das enzimas responsáveis da oxidação da mioglobina, bem
como os mecanismos de acção das enzimas proteolíticas actuando sobre a tenrura,
estão ainda para ser mais profundamente esclarecidos.
Rigidez cadavérica e maturação são fenómenos assépticos. No entanto, a
evolução post mortem das carnes faz-se geralmente em presença de
microorganismos e, salvo no caso de carnes esterilizadas por um ou outro
processo, os germes que contaminam inevitavelmente as carcaças a seguir ao
abate são susceptíveis de se multiplicar e de estar na origem de alguns problemas.
A refrigeração sistemática de carcaças com temperaturas vizinhas de 0 0C, retarda
a evolução post mortem do músculo, sem todavia modificar a histoquímíca do
processo, permitindo contudo limitar a multiplicação microbiana que, com
temperaturas de congelação inferiores a - 10°C, cessa totalmente, estabilizando-as.

15
Depois do abate a evolução post mortem do músculo, pode ser dividida em
três estados distintos:
 Estado palpitante ou de contractura;
 Estado rígido;
 Estado tranquilo ou de relaxamento.

O estado palpitante é uma fase de excitabilidade muscular, em que sobre a


carcaça se observam contracções musculares desordenadas, mais ou menos
violentas, sob a acção de estímulos externos, tais como correntes de ar, vapor de
água e tracções de vários níveis.
A temperatura no músculo pode ser superior à que tinha o animal.
A duração deste estado é função da qualidade da carne (daqui deriva a
importância do ATP) e da temperatura.
Este estado prolonga-se mais que os outros no caso do animal
anteriormente ao abate não ter sofrido excitação nervosa (stress). No caso de esta
excitação existir passa-se rapidamente ao estado seguinte havendo uma
acidificação post mortem promovendo nas carcaças uma menor CRA.
O período considerado de latência, apresenta valores de extensibilidade do
músculo iguais ao apresentado no momento do abate e permanece constante ao
longo deste período.
Esta fase varia com:
 reservas energéticas do músculo. Aparece tanto mais rapidamente
quanto mais pobre está o músculo em ATP;
 estado de fadiga do animal no momento do abate. Quanto maior a
fadiga, mais rápido é o aparecimento desta fase;
 temperatura ambiente.
Se as reservas estão esgotadas dá-se um decréscimo rápido da
extensibilidade, acabando esta por se anular totalmente. Os músculos tornam-se
rígidos.
A rigidez cadavérica instala-se numa ordem determinada (Lei de Nysten):
começa pelo músculo cardíaco e diafragma para se estabelecer depois nos
músculos da carcaça, começando pelos da cabeça, seguindo-se os do pescoço e

16
tronco e por último os dos membros, primeiro nos anteriores e depois nos
posteriores. (Farraia da Graça, 1987)
No rigor instalado o músculo apresenta-se inextensível. Estas três fases
encontram-se interligadas, processando-se o mecanismo do seguinte modo:
 Com o esgotamento das reservas energéticas há a passagem de uma
estrutura aberta a uma estrutura fechada (por ligações de iões Ca ++ e
Mg++, em solução, às moléculas proteicas).
A ausência de circulação sanguínea impede o aprovisionamento do músculo
em glicogénio e fosfocreatina, matérias-primas essenciais para a existência do ATP.
Segue-se um estado tranquilo, o músculo “envelhece ou amadurece”, há a
resolução da rigidez. As massas musculares amolecem e libertam um exsudado
mais ou menos abundante; tornam-se vermelho carregado na superfície e ao corte
são mais claras e húmidas. É o inicio da maturação as propriedades organolépticas
começam a desenvolver-se: tenrura, sabor e suculência.
Os fenómenos de autólise que estão na base desta evolução consistem numa
digestão da carne por ela mesma. Os agentes em causa são as enzimas contidas nas
células musculares, que provocam uma lenta degradação dos constituintes
celulares, sem agir sobre os tecidos conjuntivos e as fibras elásticas.
A maturação não resulta de uma dissociação das ligações estabelecidas
entre a actina e a miosina, mas, antes, da desunião dos filamentos de actina da
estria Z, sob influência de modificações iónicas e de enzimas – catepsinas –
provenientes dos lisossomas libertados pelo abaixamento do pH.
É o momento óptimo para consumo da carne. A partir daqui a carne começa
a ser sede de reacções de degradação – química ou microbiana – libertando
produtos desagradáveis e algumas vezes perigosos.

17
2 – Alterações da qualidade da carne

As modificações que se verificam no músculo com o desenvolvimento do


rigor mortis e a subsequente maturação determinam em grande parte a qualidade
da carne, sensorial, higiénica, nutricional e a sua aptidão tecnológica. Os factores
que influem o rigor mortis influenciam a qualidade directamente, são variados e
numerosos no entanto podemos considerar os 5 principais: a espécie, a raça, o
músculo, o stresse ante morte e por fim a temperatura, como factor post morte.

2.1 – Espécie

A espécie apresenta uma grande variedade na capacidade bioquímica de


cada músculo devido à quantidade de enzimas e substratos que possuem. Em
condições normais o intervalo de tempo necessário para que se instale o rigor
mortis apresenta grandes diferenças entre espécies. Em condições consideradas
normais de refrigeração das carcaças podemos predizer o tempo de instalação do
rigor mortis para: (Roncalés, 2001)
Aves e coelhos – 1-3 h
Suínos – 4-12 h
Ovinos – 12-24 h
Bovinos – 15-30 h

Para efeitos práticos, nos matadouros considera-se alcançado o rigor mortis


às 24h, este intervalo de tempo deve cumprir a legislação vigente, em que a
temperatura da musculatura da carcaça deve atingir os 7 0C para ser manipulada e
comercializada.

2.2 – Raça

A raça apresenta um efeito menor que o factor espécie. A excepção é nos


suínos, onde existe grande variabilidade entre indivíduos e raças. Devido à distinta
sensibilidade ao stresse os suínos apresentam um metabolismo post mortem que
resulta na hidrolise do glicogénio muscular, factor determinante para a qualidade

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da carne suína fresca, que está relacionado com dois genes, o gene halotano (Hal) e
o gene rendimento napole (RN) afectando drasticamente a cinética do
abaixamento do pH muscular. (Rübesensam e Monteiro, 2000)

2.3 – Músculos

Os músculos apresentam pequenas diferenças entre si devidas à


concentração de glicogénio e à actividade enzimática. Os músculos brancos tem
maior quantidade de glicogénio e tem um pH final de 5,5 – 5,6 enquanto os
músculos vermelhos tem menor quantidade de glicogénio e tendem para um pH
final de 5,6 – 5,8. (Roncalés, 2001)

2.4 – Stresse ante-morte

O stresse é a resposta do organismo a situações excitantes negativas. A


sensibilidade ao stresse não é igual em todas as espécies. Os suínos são os mais
sensíveis em comparação com outras espécies. Mesmo dentro da espécie suína
determinadas raças, com alterações genéticas, são especialmente sensíveis.
(Roncalés, 2001)
Em animais submetidos ao stresse, ou cujas reservas de glicogénio sejam
baixas, a descida do pH faz-se com maior rapidez, muito embora o grau de
acidificação atingido não seja tão acentuado quanto o que se dá quando as reservas
de glicogénio são elevadas, consequentemente, a contracção do músculo é máxima
e a capacidade de retenção de água diminui o que, aliado a um pH mais elevado,
proporciona um meio mais favorável para o desenvolvimento bacteriano.
O stresse ante morte tem como resposta o desenvolvimento anómalo do
rigor mortis dando lugar ao aparecimento de carnes tidas como defeituosas as
carnes PSE e DFD. (Roncalés, 2001)

2.4.1 – Carnes PSE

Estas carnes são caracterizadas por serem pálidas, flácidas e exsudativas


(pale, soft, exsudatives). Este defeito é relacionado com o genótipo de

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determinadas raças suínas, principalmente naquelas que sofreram intensa
selecção para melhor conversão alimentar e produção de carcaças magras. Estes
animais são muito susceptíveis ao stresse e à hipertermia causada por ele. Nestes
animais ocorre uma rápida degradação do glicogénio, principalmente após o
abate, o que faz com que o pH atinja valores inferiores a 5,8 uma hora após o
abate.
Em suínos sensíveis ao stresse a quantidade de iões cálcio libertados das
mitocôndrias em anaerobiose é, aproximadamente, o dobro da libertada em
suínos resistentes ao stresse, além da incapacidade do retículo sarcoplasmático
de reter estes iões. Somado a isto, em músculos PSE tem-se encontrado elevada
actividade ATPásica e de enzimas glicolíticas. No soro destes animais encontram-
se maiores conteúdos de creatinafosfoquinase, que coincide com o facto de que no
momento do abate o conteúdo de creatina fosfato nestes animais diminuí. Isto
significa que a utilização do glicogénio começa antes em músculos PSE, levando a
uma rápida queda do pH (Prändl, 1994).
A combinação do baixo pH e da elevada temperatura destas carnes, causa
uma maior desnaturação das proteínas miofibrilares nas carnes PSE. Estas carnes
apresentam um pH cerca de 5,5, muito próximo ao ponto isoeléctrico das
proteínas miofibrilares. Neste pH, as proteínas, ao terem cargas positivas e
negativas em igual quantidade, apresentam uma aproximação máxima dos
filamentos, grossos e finos, fazendo com que o espaço entre eles diminua ou
mesmo desapareça, impossibilitando a ligação destas moléculas com a água,
reduzindo a estabilidade e a capacidade de retenção de água (CRA). A água fora
das células e a estrutura proteica extremamente fechada provocam reflexão da luz
incidente fazendo com que as carnes PSE sejam extremamente pálidas. O maior
defeito da carne PSE é a exsudação. Nestas carnes, a água encontra-se pouco
ligada às proteínas e também as membranas celulares são mais permeáveis. A
exsudação também pode ser explicada pela desnaturação das proteínas.
Este defeito das carnes suínas tem grande impacto económico, uma vez
que estas carnes são inadequadas para a industrialização, e tem um aspecto
desagradável ao consumidor. Além disto, os principais músculos afectados são os
de maior valor, o lombo e o pernil. (López et al., 2001)
A rápida detecção de carnes PSE é de grande importância dentro de uma

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indústria. O método mais utilizado é a aferição do pH das carcaças aos 45 minutos
após o abate e ao final do arrefecimento (24h). (Figura 6)

Figura 6 – Variação do pH nas 24 horas post mortem (López et al.,2001)

2.4.2 – Carnes DFD

São carnes de aspecto escuro, firme e seco (dark, firm, dry), também
denominadas carnes de corte escuro (dark cutting beef) em bovinos. Em carne
bovina apresenta superfície de corte pegajosa. Em suínos a carne pode parecer
muito escura, dando um aspecto vitrificado. Como nas carnes PSE, parece haver
uma ligação hereditária. Aparece em animais sensíveis ao stresse, associado a
altas temperaturas ambientais, esforços e forte excitação.
Entre outros motivos, cita-se como principal causa, o stresse prolongado
antes do abate, com esgotamento total das reservas de glicogénio, não permitindo
a acidificação do músculo após o abate. Nestas carnes, para a identificação do
problema usa-se a medida do pH final (após o arrefecimento das carcaças o pH
permanece acima de 6,0). Nestas condições, a carne tem uma vida-de-prateleira
muito reduzida pois, devido ao elevado pH, as proteínas miofibrilares apresentam
máxima capacidade de retenção de água, o que favorece a proliferação bacteriana.

21
2.5 – Aplicação do frio post mortem

O arrefecimento rápido das carcaças é desejável para ter redução de perdas


de peso, de desnaturação de proteínas e de proteínas e de proliferação de
microorganismos, conferindo-lhe a cor vermelho vivo. O abaixamento rápido da
temperatura dos músculos, no inicio do desenvolvimento do rigor mortis, pode
provocar o endurecimento da carne. (Felício, 1997)
A instalação do rigor mortis é fortemente dependente da temperatura de
armazenamento post mortem. As temperaturas altas permitem uma elevada
actividade enzimática e uma elevada velocidade de crescimento microbiano. Entre
os 38 0C e os 10 0C a velocidade de hidrólise diminui de um modo mais ou menos
constante.
A partir dos 0 0C (temperatura a que a carcaça vai ser submetida) há uma
aceleração da hidrólise do ATP.
Com temperaturas superiores a 15 0C a miosina ATPase tem um papel de
destaque, abaixo de 15 0C o que se demonstra é que a taxa de Ca++ livre aumenta no
sarcoplasma seguido de um enfraquecimento no poder de captação deste ião pelo
retículo sarcoplásmico e mesmo pelas mitocôndrias. Isto leva à entrada em
actividade ATPásica da actomiosina e a um aumento da capacidade global d a
hidrólise do ATP.
Alguns estudos demonstram que, de modo geral, a combinação entre altas
temperaturas durante o pré-rigor (≥ 35 0C), associadas à queda brusca do pH,
resulta em redução do potencial de proteólise durante o processo de maturação e
consequentemente afecta a tenrura da carne. Tal processo é conhecido como heat
toughening. Contudo, o mecanismo exacto pelo qual baixos valores de pH
associados às elevadas temperaturas afectam o processo de tenrificação da carne
está longe de ser completamente esclarecido. O heat toughening refere-se à
redução da tenrificação da carne, ou seja, a carne oriunda de músculos que
sofreram o heat toughening pode vir a apresentar a tenrura comprometida em
relação àquelas oriundas de músculos que não estiveram expostos a estas
temperaturas.
Tem sido sugerido que a redução da tenrura da carne devido ao heat
toughening ocorre em virtude da redução da actividade e/ou inactivação de

22
sistemas enzimáticos que promovem a fragmentação miofibrilar durante o período
post mortem (Paulino e Duarte, 2014).

2.5.1 – Encurtamento pelo frio (cold shortening)

Em carne de bovinos e ovinos, quando armazenada a uma temperatura


inferior a 14 0C tem inicio o processo post mortem e quando o pH ainda é superior
a 6,8, apresenta uma forte predisposição à contracção muscular intensa. Este
fenómeno é chamado de encurtamento pelo frio ou cold shortenig. É tanto mais
intenso quanto mais próxima esteja a temperatura de arrefecimento do ponto de
congelação. Esta carne, quando cozida, apresenta-se extremamente dura.
No interior de grandes massas musculares este fenómeno é menos intenso.
A musculatura vermelha é mais susceptível a este processo que a musculatura
branca.
Nestes músculos há libertação mais rápida e em maiores quantidades de
iões cálcio pelo retículo sarcoplasmático estimulada pelo frio excessivo. Outra
causa pode estar ligada à paralisação da bomba de cálcio devido ao frio excessivo,
impedindo que o retículo sarcoplasmático retire o cálcio do sarcoplasma, mesmo
na presença de ATP suficiente.
A maneira mais usual de evitar este processo é controlar a temperatura de
arrefecimento das carcaças, de modo a evitar que a carne alcance temperatura
o
igual ou inferior a 10 C nas primeiras 10 horas após o abate de ovinos e bovinos.
Considerando isto, é importante ressaltar que se deve reduzir a
temperatura das carcaças logo após o abate de modo a retardar ao máximo a
queda do pH e, principalmente, o desenvolvimento do rigor mortis, evitando a
formação excessiva da actomiosina, assegurando a tenrura da carne. As carcaças
suínas são mantidas com a pele e, portanto, a gordura subcutânea serve como
isolante térmico, podendo ser submetidas a temperaturas de arrefecimento mais
baixas, permitindo a utilização de choque térmico com o objectivo de evitar o
aparecimento de carnes PSE.

23
2.5.2 – Rigor da descongelação (thaw rigor)

A congelação das carcaças em pré-rigor interrompe os processos


bioquímicos do músculo post mortem. A quando da descongelação, estes tecidos
apresentam uma intensa e repentina libertação de iões cálcio. Também ocorre uma
intensa actividade ATPásica e, em consequência disto, uma forte contracção, com
grande encurtamento das fibras musculares, que pode chegar a 80% do
comprimento original, além da intensa perda de líquidos (até 30-40%).
A maneira mais simples de prevenir este fenómeno, também conhecido
como thaw rigor, é proporcionar a descongelação lenta das carnes congeladas em
pré-rigor. As alterações bioquímicas que desencadeiam estas “carnes anormais”
deixam claro a importância do descanso regulamentar a que devem ser
submetidos os animais antes do abate, de modo a garantir adequada reposição do
glicogénio muscular, assim como a importância da tecnologia de arrefecimento das
carcaças, garantindo a refrigeração ideal para cada espécie. Ainda se deve
considerar que o estado de saúde do animal também é importante, visto que a
carne de animais febris ou doentes crónicos tende a apresentar reacção alcalina
logo após a morte. Também animais cansados, de trabalho, geralmente com idade
mais avançada, apresentam desenvolvimento do rigor mortis mais rapidamente,
não ocorrendo a glicólise por falta de reposição do glicogénio muscular. (Mantese,
2002)
O estímulo eléctrico aplicado logo após a sangria (90V) ou dentro da
primeira hora após o abate (500 a 1000 V), acelera a glicólise post mortem fazendo
com que o pH caia rapidamente até 6,2. Ocorre libertação de iões cálcio,
provocando uma intensa contracção muscular. Entretanto, o retículo
sarcoplasmático está apto a recapturar estes iões devido às concentrações de ATP
e ADP serem suficientemente altas, permitindo o relaxamento do sarcómero neste
momento.

24
3 – Maturação - proteólise post mortem

Após a resolução do rigor mortis, a carne retoma as suas características,


voltando a ser tenra e suculenta. São muitos os factores que influenciam a tenrura
da carne, podendo ser divididos em factores ante mortem e factores post mortem.
Os factores ante mortem incluem características genéticas e fisiológicas, maneio e
alimentação. Os factores post mortem são o tempo e temperatura de
armazenamento após o abate (maturação, congelação, etc.), o modo como a carne é
cortada, a adição de agentes amaciantes e os métodos de cozimento. (Mantese,
2002)
A tenrificação progressiva da carne durante certos períodos de
armazenamento em refrigeração (maturação da carne) tem sido objecto de
estudos que datam do século XIX (Lawrie, 1974). Desde 1917, Hoagland et al.
(citados por Koohmaraie, 1994) já afirmavam que o amaciamento post mortem da
carne era consequência da proteólise. Porém, somente com o advento da
eletroforese em gel foi possível demonstrar as mínimas, mas significativas,
alterações que ocorrem no músculo esquelético.
Davey (citado por Lawrie, 1974), constatou que na carne, armazenada por
algum tempo em temperatura acima do ponto de congelação, os filamentos de
actina desprendiam-se da linha Z. Para Davey & Gilbert, 1969 (citados por Lawrie,
1974), o processo é iniciado pela libertação de iões cálcio do retículo
sarcoplasmático para o sarcoplasma. Eles observaram também que
etilenodiaminotetracetato (EDTA), agente quelante de cálcio, evitava que
ocorressem mudanças na linha Z durante a maturação. Goll et al. (citados por
Lawrie, 1974), formularam a hipótese de que o rompimento das miofibrilas, ao
nível da linha Z, era de natureza enzimática devido às semelhanças encontradas
entre as alterações estruturais das proteínas miofibrilares ocorridas durante a
maturação e aquelas causadas pela digestão das mesmas com tripsina. Além disso,
postularam que as mudanças sofridas pelas proteínas musculares, que resultavam
no amaciamento da carne, poderiam ocorrer por uma proteólise limitada, com
rompimento de poucas ligações proteicas, mas importantes do ponto de vista
estrutural.
Segundo Koohmaraie (1994), após o abate várias alterações ocorrem no

25
músculo esquelético, algumas das quais resultam na perda da integridade do
tecido, explicando o amaciamento da carne. São elas:
1) Degradação da linha Z que leva à fragmentação das miofibrilas;
2) Degradação da desmina que leva à fragmentação das miofibrilas,
provavelmente através da ruptura das ligações transversas entre as
miofibrilas;
3) Degradação da titina (cujos filamentos unem os filamentos de
miosina ao longo do seu comprimento da linha M até a linha Z) que
pode causar o afrouxamento da miofibrila;
4) Degradação da nebulina. Como a localização da nebulina ainda não
está bem definida, não se sabe ao certo o quanto sua degradação
afecta a tenrura.
5) Desaparecimento da troponina T e aparecimento simultâneo de
polipeptídeos, indicando proteólise;
6) Aparecimento de polipeptídeos de peso molecular diferente dos
anteriormente citados, também indicando proteólise;
7) Talvez a mais importante observação é que as principais proteínas
contratem, actina e miosina, não são afectadas.
Claramente, as alterações descritas acima são resultado de proteólise e,
portanto, as alterações responsáveis pelo amaciamento da carne são produzidas
por proteinases endógenas.
Enquanto a teoria da proteólise é aceita pela maioria, a questão de
quais as proteinases que estão envolvidas ainda gera controvérsia
(Koohmaraie, 1994). As proteinases devem possuir algumas características
para serem consideradas como possíveis “candidatas” a induzir as
alterações responsáveis pela tenrificação da carne post mortem:
1- Estarem localizadas no interior da célula muscular;
2- Terem acesso ao substrato;
3- Terem habilidade para degradar as mesmas proteínas que são
degradadas na maturação da carne.
Os sistemas proteolíticos com potencial envolvimento na proteólise post
mortem incluem: catepsinas lisossomais, complexo proteinases-multicatalíticas

26
(em inglês, “MCP”) e as calpaínas. Muitas experiências sugerem que as catepsinas
lisossomais não exercem um papel significativo na proteólise post mortem pois a
proteólise post mortem não tem acção sobre actina e miosina, no entanto, estas
proteínas miofibrilares são os principais substratos destas enzimas; estas
catepsinas estão dentro dos lisossomas, devendo, portanto, ser libertadas para
terem acesso às miofibrilas. Mesmo que se considere que os lisossomas são
degradados durante o armazenamento post mortem, não há evidências que
confirmem esta hipótese. Ao contrário, uma experiência com base nesta hipótese
observou que, mesmo após a estimulação eléctrica e 28 dias de maturação, as
enzimas lisossomais ainda permanecem no interior dos lisossomas (La Court,
1986, citado por Koohmaraie, 1994).
Em 1992, Koohmaraie verificou que as MPC possuem actividade máxima de
proteólise em pH 7,5 a 8,0 a 45 0C e que as proteínas miofibrilares são substratos
muito pobres para estas proteinases. Ao contrário das outras duas “candidatas”,
numerosas pesquisas têm evidenciado que as calpaínas são as principais
proteinases responsáveis pela tenrificação post mortem da carne (Goll et al. e
Busch et al. (citados por Taylor et al.,1995a).
Koomaraie (citado por Rübensam & Monteiro, 2000) verificou que em carne
armazenada sob refrigeração a actividade enzimática das catepsinas permaneceu
inalterada durante a maturação de três músculos da carcaça de um mesmo animal,
enquanto a actividade proteolítica das calpaínas sofria declínio conforme diminuía
a força de cisalhamento. Em outra experiência usando o índice de fragmentação
miofibrilar e eletroforese das proteínas musculares em gel de
dodecilpoliacrilamida de sódio (SDS- PAGE) como controle da degradação proteica,
Koomaraie (citado por Rübensam & Monteiro, 2000) em trabalho com carne ovina,
observou que, em presença de EDTA e EGTA (quelantes de cálcio), a actividade das
calpaínas foi inibida enquanto a actividade das catepsinas permaneceu inalterada,
não ocorrendo aumento da fragmentação miofibrilar. Porém, em presença de
cloreto de cálcio, houve aumento da fragmentação das miofibrilas com
correspondente declínio da actividade das calpaínas, mas sem alteração da
actividade das catepsinas lisossomais. O autor também observou um aumento
significativo da tenrura da carne de carcaças ovinas que receberam infusão de
cloreto de cálcio. Na carne destas carcaças a actividade das catepsinas não

27
apresentou diferença em relação ao grupo controle, ao contrário das calpaínas,
cuja actividade sofreu declínio. Por outro lado, a infusão de carcaças ovinas com
solução de cloreto de zinco, potente inibidor das calpaínas, impediu o
amaciamento da carne durante o armazenamento em refrigeração, comprovando
que o efeito proteolítico das calpaínas foi inibido pelo cloreto de zinco, como havia
sido demonstrado por outros autores, enquanto a actividade das catepsinas
permanecia inalterada.
Goll et al. (citados por Taylor et al.,1995b) resume algumas das evidências
de que as calpaínas sejam as principais responsáveis pela tenrificação post mortem:
1 - Mínima degradação da actina e miosina ocorre durante as primeiras 72
horas de armazenamento a 2-4 oC (Bandman e Zdanis, 1988). No entanto, a maior
parte do amaciamento ocorre neste período.
a) As calpaínas são as únicas enzimas proteolíticas que não degradam
actina e miosina.
b) Sabe-se que as catepsinas degradam actina e miosina.

2 - Mínima degradação da α- actinina, a principal proteína da linha Z, ocorre


durante as primeiras 72 horas de maturação (Hwamand e Bandman, 1989).
a) Muitas catepsinas e muitas outras proteinases, como a tripsina,
degradam a linha Z, e esta degradação é acompanhada pela
degradação da α- actinina; as calpaínas, porém, são as únicas que
degradam a estrutura da linha Z, mas libertam a α- actinina desta
estrutura sem a degradar.
b) A degradação da miosina, actina e α- actinina ocorre durante o
armazenamento a 37 oC e esta pode ocorrer por acção das
catepsinas.

3 - Há uma mínima proteólise das proteínas musculares durante o


armazenamento sob refrigeração.
A estrutura do sarcómero permanece praticamente intacta, com excepção
da perda da linha N2 e de pequenas perdas na integridade da linha Z (Stromer et
al., 1967).
a) Actomiosina e α- actinina funcionais podem ser isoladas de músculo
esquelético após 13 dias de maturação.

28
b) Muitos estudos têm falhado em identificar aumento de aminoácidos
livres após longos períodos de maturação (Parrish et al., 1969).

4 - Importantes estudos têm mostrado que aumentar a concentração de


cálcio no músculo resulta em aumento da tenrura (Penny et al., 1974; Koohmaraie
et al.,1988; Koohmaraie & Shackelford, 1991).
a) Nenhuma das catepsinas nem as proteases multicatalíticas são
activadas por cálcio (Koohmaraie, 1992).

5 - Muitos estudos têm mostrado que uma maior tenrificação, por um


grande período de maturação, ocorre em músculos que contêm grandes
quantidades de calpaínas (principalmente, µ-calpaína) ou baixa actividade de
calpastatina. Baixa actividade de calpastatina está directamente associada com
maior tenrura post mortem (Koohmaraie et al 1988, 1992; Wheeler et al., 1990).
Um grande número de investigadores sugere que a degradação da linha Z é
o principal factor do amaciamento post mortem. Esta conclusão relaciona com a
actividade das calpaínas com o amaciamento post mortem, devido a sua capacidade
em degradar a linha Z.
Porém, o período da maturação em que ocorre o maior amaciamento da
carne não coincide com o período em que se observam alterações da linha Z.
Stromer et al. (citado por Taylor et al., 1995c) diz que poucas alterações da linha Z
são detectadas durante os 3 primeiros dias da maturação, e que poucas alterações
nesta estrutura são verificadas, somente após 13 dias ou mais a 2 – 4 oC. A respeito
disto, tem-se argumentado que somente poucas linhas Z, provavelmente menos de
5% do total, precisariam ser degradadas para produzir grandes efeitos na tenrura
e que pode haver dificuldades para observar estas pequenas alterações por
microscopia electrónica (Koohmaraie et al., 1988, 1992; Wheeler et al., 1990).
Huff-Lonergan et al. (1995), mostram que a degradação de 2 proteínas
miofibrilares, titina e nebulina, por acção de calpaínas está relacionada com o
amaciamento que ocorre nos 3 primeiros dias de maturação. Estas 2 proteínas
estão presas pela extremidades na linha Z e estendem-se através da banda I e
dentro da banda A. Assim, a degradação delas pode resultar em perda da linha Z.
Outras estruturas, as proteínas dos costameros, que ocorrem
periodicamente ao longo da miofibrila, ao nível de cada banda I no músculo

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esquelético ou linha Z no músculo cardíaco, são, também degradadas pelas
calpaínas. Estas proteínas prendem as miofibrilas ao sarcolema,
consequentemente, a sua degradação pode resultar em afrouxamento da estrutura
do músculo.
Mesmo sendo um processo conhecido e utilizado há muitos anos, somente
agora se comprovou cientificamente as transformações que ocorrem durante a
maturação. No entanto é aparente que a acção de vários complexos enzimáticos na
proteólise de proteínas estruturais é determinante na tenrura final (Kemp et al.,
2010). De acordo com os mesmos autores, a maciez final da carne depende do grau
de alteração das proteínas estruturais associadas ao músculo, especificamente as
miofibrilas citoesqueléticas e proteínas dos costameros, tais como titina, desmina e
vinculina, actina e miosina (Figura 7 e 8 ).

Figura 7 – Representação esquemática das proteínas miofibrilares e principais


componentes do sarcómero (Sousa, 2012) Adptado de (Kemp et al., 2010)

Taylor et al., (1995b) referem que as estruturas dos costameros são


perdidas durante as primeiras 24 a 72 horas da maturação, paralelamente à
perda das linhas N2. Assim, a perda destas duas estruturas, que pode ser
mimetizada pelo tratamento de músculos com calpaínas, ocorre no mesmo
período em que ocorre o maior amaciamento da carne.

30
Os costameros também são completamente destruídas dentro das
primeiras 72 horas a 4 oC. Consequentemente, devido ao importante papel
desempenhado por estas estruturas na estabilidade da fibra muscular, a
degradação destas poderia contribuir significativamente para a tenrificação na
maturação.
Os costameros (do latim costa, costela, e do grego meros, parte) são
estruturas filamentosas transversais responsáveis pela ligação das linhas Z das
miofibrilas ás placas transmembranárias do sarcolema (Figura 7) Embora pareça
que a estrutura e a composição proteica básica dos costameros são semelhantes
às placas de adesão focal dos fibroblastos (complexo proteico de integrina –
talina – vinculina – actinina α – actina) encontram-se-lhe associadas outras
proteínas (desmina, distrofina, anquirina espectrina, actina α e claritina) (Figura
8). Um segundo conjunto de estruturas filamentosas transversais do tipo
costameros são responsáveis pela ligação das linhas M das miofibrilas ao
sarcolema. (Prates, 2000a)

Figura 8 – Diagrama do citoesqueleto do sarcómero da fibra muscular esquelética dos


mamíferos (Prates, 2000a)

Taylor et al., (1995b), concluíram que o amaciamento post mortem envolve,


pelo menos, a interacção de 3 factores:
1. aumento do rigor seguido do relaxamento da interacção
actina/miosina, o que aumenta muito a maciez nas primeiras 24
a 72 horas.

31
2. ruptura ou relaxamento das conexões entre os filamentos finos
na banda I e na linha Z, principalmente devido à degradação da
titina e nebulina.
3. degradação dos costameros e ligações intermiofibrilares.

Dependendo do estado fisiológico do animal ao abate e das condições de


temperatura de armazenamento após o abate, qualquer combinação destes 3
eventos descritos pode ter um efeito predominante no amaciamento da carne. O
grande aumento no rigor observado nas primeiras 24 horas certamente ocorre
pela interacção actina/miosina. Não está claro se o decréscimo do rigor
observado entre 24 e 72 horas pelo relaxamento desta estrutura é devido aos
eventos 2 e 3 supracitados. O que se pode afirmar é que o relaxamento da
actina/miosina representa uma grande parte deste processo, e que os eventos 2
e 3 são responsáveis por uma parte dele, talvez 50%. A degradação das proteínas
desmina, titina, nebulina e vinculina poderia contribuir para a continuidade do
amaciamento, principalmente após 4 – 6 dias. A degradação destas proteínas no
período entre 24 e 48 horas é encoberta pelo efeito da actomiosina. Somente
após o relaxamento desta interacção é que se observa o efeito da degradação
destas proteínas.
A degradação da titina e nebulina, quase completa após 72 horas,
provavelmente resulta em um significativo relaxamento da interacção entre os
filamentos finos e a linha Z.
Os costameros também são completamente destruídos dentro das
primeiras 72 horas a 4 oC. Consequentemente, devido ao importante papel
desempenhado por estas estruturas na estabilidade da fibra muscular, a
degradação destas poderia contribuir significativamente no amaciamento
durante a maturação.
Este modelo de tenrificação post mortem proposto por Taylor et al., (1995b)
difere portanto, dos modelos que relacionam principalmente a degradação da linha
Z, mas não diminuem a importância central dos sistemas das calpaínas neste
processo, uma vez que os processos de degradação descritos são consequência da
acção das calpaínas.

32
Existem várias enzimas que estão envolvidas no processo proteolítico, entre
elas as catepsinas, proteossomas, calpaínas, calpastatinas e caspases. As catepsinas
são enzimas compostas a partir de exo e endopeptidases, formando três grupos:
Cisteínas (catepsinas B, H, L, X), Aspárticas (catepsinas D, E) e Serinas (catepsina
G) (Sentandreu et al., 2002). De acordo com Whipple et al. (1990), estas estão
pouco associadas à variação na sensibilidade da carne. No entanto, o efeito
proteolítico dessas enzimas é demonstrado em vários trabalhos com carne bovina
(Zamora et al., 2005; O’Halloran et al., 1997; Hopkins & Taylor, 2002).
Outras enzimas descritas na literatura como os proteossomas, estão
envolvidas no processo de maturação da carne por meio da degradação de
proteínas do citosol e do núcleo (Coux et al., 1996). De acordo com Robert et al.
(1999) tais enzimas são abundantes no músculo esquelético. Estes autores
mostraram que essas enzimas foram capazes de causar proteólise de proteínas
miofibrilares, incluindo a nebulina, miosina, actina e tropomiosina. Este efeito
também foi observado por Taylor et al. (1995b). Vários estudos estão a tentar
demonstrar que o sistema proteolítico calpaína desempenha um papel central na
proteólise post mortem e no amaciamento da carne. No músculo esquelético, o
sistema calpaína é composto em pelo menos três proteases, a µ-calpaína, m-
calpaína e calpaína 3, e um inibidor, calpastatina. Entretanto há controvérsias
sobre o envolvimento da calpaína 3 no processo proteolítico (Koohmaraie &
Gessink, 2006). Recentemente têm sugerindo que a família das caspases poderia
actuar durante a proteólise muscular (Ouali et al., 2006; Sentandreu et al., 2002).
Essas enzimas pertencem à família da cisteína proteases de aspartato, identificadas
por actuar durante o processo de apoptose ou inflamação, e podem ser divididas
em caspases iniciadoras e caspases efectoras (Kemp et al., 2010). Com tantos
factores envolvidos na determinação do amaciamento da carne, torna-se difícil a
compreensão geral acerca dos mecanismos responsáveis por este processo. A
partir disso, deve-se continuar a procurar ferramentas experimentais para elucidar
o envolvimento de todo esse complexo enzimático.
Calpaínas são enzimas proteolíticas presentes em todas as células
eucarióticas examinadas até o momento e também em células de animais
invertebrados. As calpaínas estão envolvidas em processos de proteólise de
proteínas musculares decorrentes de distrofia muscular de mamíferos e aves

33
estando, ainda, envolvidas na destruição dos tecidos sinoviais em artrites
reumatóides (Després et al. citado por Rübensam e Monteiro, 2000).
Estas enzimas são endopeptidases intracelulares, não lisossomais.
Apresentam-se sob 2 formas µ-calpaínas e m-calpaínas. Foram denominadas,
inicialmente, como factor de activação da quinase (em inglês “KAF”), factor
activado pelo cálcio (em inglês “CAF”), protease neutra activada pelo cálcio (em
inglês “CANP”) e protease dependente de cálcio (em inglês “CDP”). São
encontradas em homogeneizados de tecidos com seu o inibidor específico, a
calpastatina.
As calpaínas apresentam absoluta dependência de iões cálcio para
manifestarem a sua actividade proteolítica. O requerimento de iões cálcio para µ-
calpaínas varia de 5 a 45 µM e para m-calpaínas, de 200 a 1000 µM (Dayton et al.;
Koohamaraie, citados por Rübensam e Monteiro, 2000). No músculo, a
concentração de iões cálcio é suficiente para activar a µ-calpaína, responsável pelo
processo proteolítico que se instala na célula muscular (Goll et al., 1991;
Koohmaraie, 1992).
As calpaínas, em presença de cálcio, sofrem autólise, mesmo na presença de
substrato. A autólise tem um papel fisiológico importante pois a actividade
catalítica destas proteinases depende disso (Koohmaraie, 1994).
Uma das descobertas mais importantes em trabalhos que envolveram as
calpaínas é o facto de que, após a autólise, ambas as formas µ-calpaínas e m-
calpaínas, tornam-se sensíveis a concentrações mais baixas de cálcio. Somente a µ-
calpaína autolisada pode ter actividade proteolítica na concentração de 0,2 a 0,8
µM de iões cálcio existente na célula muscular. A isoforma milimolar de calpaína,
em solução de cloreto de cálcio 1mM, dissocia-se em duas subunidades, mas não
em cloreto de cálcio a 100 µM.
A actividade proteolítica das calpaínas é regulada pela calpastatina,
proteína que exerce acção inibidora específica. Quanto mais calpastatina na célula,
mais baixo é o requerimento de iões cálcio para a actividade das calpaínas. A
quantidade de calpaína que pode ser activada, mantendo a mesma concentração de
cálcio, é controlada pela concentração de calpastatina. Calpastatinas já foram
purificadas a partir de diferentes tecidos humanos e de várias espécies animais.
Como já foi visto anteriormente, o processo de conversão do músculo em

34
carne é complexo e envolve uma série de alterações no metabolismo celular, bem
como na estrutura proteica, que se caracteriza pelo rigor mortis, queda do pH,
glicólise, esgotamento das reservas de ATP, queda da temperatura do músculo,
aumento da concentração de iões cálcio no citosol, entre outras. A combinação
destes eventos resulta no aparecimento de novas condições intracelulares, muito
diferentes daquelas encontradas na célula muscular viva.
Não se sabe ao certo quanto estas modificações podem afectar os sistemas
enzimáticos intracelulares. Mas favorecem a actividade das calpaínas, resultando
no amaciamento da carne após o rigor mortis (Koohmaraie; Huff-Lonergan et al.,
citados por Rübensam e Monteiro, 2000).
Sabe-se que a actividade das calpaínas é inibida especificamente pela
calpastatina. Porém, a natureza desta regulação ainda não foi bem definida. A
velocidade de inactivação da calpastatina é altamente correlacionada com o
amaciamento durante a maturação da carne. Em geral, alta actividade de
calpastatina é relacionada a uma reduzida degradação das proteínas miofibrilares
nos músculos de bovinos, nos quais a actividade de calpastatina se sobrepõe à da
µ-calpaína (Koohmaraie et al.; 2000)
O grau de severidade dos fenómenos que acompanham a rigidez cadavérica
dependem do estado nutricional do animal na altura do abate e da temperatura à
qual as carcaças são tratadas. Num animal esfomeado ou submetido a stresse, a
reserva de glicogénio é pequena, após a morte segue-se uma descida rápida do teor
em ATP do músculo.
A maturação (aging), refere-se, ao processo pelo qual a carne fresca é
armazenada por vários períodos, sob condições controladas, para uma melhoria na
tenrura e no sabor.
O valor inicial do pH, no momento do abate é aproximado a 7,0, desce com o
ataque do rigor mortis e aumenta depois gradualmente, com armazenagem, a
temperatura de refrigeração ou com outras temperaturas e condições de
maturação. Como a refrigeração opõe-se ao desenvolvimento das bactérias
mesófilas e prolonga o tempo do rigor mortis, as catepsinas podem manifestar a
sua actividade e a sua autólise, daí resultando a maturação.
A melhoria na tenrura obtida durante a maturação é atribuída à resolução
da rigidez cadavérica e à proteólise autolítica, pois a carne que tenha sofrido a

35
maturação, comparada com a carne fresca, tem maior percentagem de azoto
aminado livre e creatina, mas menos proteína solúvel. (Koohmaraie et al., 2000)
A maturação da carne também pode ser conseguida, utilizando
temperaturas mais altas. Pode dizer-se que este é um processo rápido de
maturação, por se fazer durante um período de tempo muito mais curto. Constitui
um processo de maturação comercial, muito utilizado nos U.S.A., em que se
utilizam temperaturas de 20 0C, controlando-se a deterioração microbiana com as
radiações ultravioleta (processo Rentschler). A maturação a 0,5 0C para além de
duas semanas podem ser indesejável, contudo estas carnes por vezes são
procuradas e preferidas por gastrónomos.
A carne de vaca é mais frequentemente maturada do que a carne de porco,
vitela ou carneiro, devido ao facto desta carne ser naturalmente menos tenra. A
carne de vitela e porco são normalmente bastante tenras, é rara a sua maturação.
As carcaças de carneiro também se submetem a maturação como carcaças inteiras,
podendo ocasionalmente os lombos e as costeletas serem submetidas a um
período de maturação.
A duração do período de maturação é muito importante, pois se for muito
prolongado a carne pode tornar-se friável, bem como adquirir sabores e aromas
estranhos. No caso de a carne se destinar à congelação, o período de maturação
deve ser relativamente curto porque os períodos longos de maturação, oxidam
ligeiramente as gorduras, o que vai limitar o período de conservação em
congelação das carcaças.
Relativamente a alterações das fibras musculares sob a acção da maturação,
pouco se sabe, a não ser que a estrutura histológica é alterada, sobretudo a
estriação transversal, talvez por acção das enzimas autolíticas. O sarcolema
mantém-se intacto.
O tecido muscular esquelético contém inúmeras enzimas que actuam em
diversas vias metabólicas no tecido vivo e permanecem activos no músculo
esquelético no período post mortem e promovem alterações na qualidade final da
carne. Os sistemas enzimáticos catepsina, calpaína e caspase tem sido investigados
ao longo dos anos para determinação do papel desempenhado na proteólise post
mortem e tenrificação da carne, como temos visto.

36
A fragmentação miofibrilar e de proteínas citoesqueléticas são resultado da
activação de sistemas enzimáticos proteolíticos. As principais proteínas deste
processo são as miofibrilas citoesqueléticas e proteínas dos costameros tais como
titina, desmina e vinculina como evidenciaram (Goll et al., 1992; Koohmaraie &
Geesink, 2006).
Na tabela 1 de acordo com vários autores, podemos observar os factores
responsáveis pelas modificações físicas, bioquímicas e/ou estruturais
características da transformação do músculo esquelético de mamífero em carne.
A qualidade microbiológica, tenrura e massa, têm que se conjugar para a
obtenção de um bom produto e com valor económico. Estes tratamentos actuam
muitas vezes em sentido oposto, pelo que se observa a tenrura da carne, a sua
qualidade bacteriológica e as perdas de massa durante a conservação e deste modo
é necessário chegar-se a um acerto, de maneira a obter um produto tão satisfatório
quanto possível.

37
Tabela 1 - Factores sugeridos como responsáveis pelas modificações físicas, bioquímicas
e/ou estruturais características da transformação do músculo esquelético de
mamífero em carne: adaptado de (Prates J.M. 2000b)

FACTORES E CONDIÇÕES DE ACTUAÇÃO CARNE REFERÊNCIA

1 - Factores físico-químicos

pH:
- Velocidade glicolítica Mamífero Ouali (1991)
- Potencial glicolítico Mamífero Watanabe et al. (1996)

Pressão osmótica:
- Acção isolada Mamífero Winger e Pope (1981)
- Sinergismo com as endopeptídases Mamífero Wu e Smith (1987)
Iões Cálcio:
- Teoria do cálcio para a tenrificação da carne Mamífero Takahashi (1996)
- Teoria do domínio PEVK da titina para textura da carne Mamífero Tanabe et al. (1997)
- Tenrificação da carne em maturações prolongadas Mamífero Takahashi (1996)
- Salting-in selectivo de proteínas miofibrilares (30mmol/l) Mamífero Taylor e Etherington (1991)

Processos oxidativos:
- Radicais livres de oxigénio Bovino Martunaud et al (1997)
- Oxido nítrico (fase inicial da maturação) Bovino Cook et al (1998)

2 – Enzimas sem actividade péptido hidrolásica

- Enzimas glicolíticas e ATPases Bovino Oísson et al (1994)

- Glicosidases lisossomais Bovino Nishimura et al (1998)


Suíno Takahashi (1996)

3 – Péptido hidrolases

Péptido hidrólases em geral:


- Acção sequencial das endo e exopepetidases Mamífero Roncalés et al (1998)
- Teoria dos filamentos de titina para tenrificação da carne Mamífero Locker (1987)

4 - Catepsinas

Catepsinas em geral:
- Acção isolada Mamífero Chambers et all (1994)
- Sinergismo com aa calpaínas Mamífero Roncalés et al (1995)
- Acção sequencial das calpaínas e catepsinas Mamífero Taylor et al (1995b)

Catepsina B
- Acção isolada Mamífero Noda et al (1981)
- Associação com a catepsina L (Teoria das linhas N2) Mamífero Valin e Ouali (1992)
- Associação com a catepsina H e a µ-calpaína Bovino Calkins e Seideman (1988)

38
FACTORES E CONDIÇÕES DE ACTUAÇÃO CARNE REFERÊNCIA

Catepsina L
- Acção isolada Mamífero Mikami et al (1987)
- Associação com a catepsina B (Teoria das linhas N2) Mamífero Valin e Ouali (1992)

Catepsina H
- Associação com a catepsina B e a µ-calpaína Bovino Calkins e Seideman (1988)

Catepsina D Alarcon-Roijo e Dransfiel


- Maturação da carne a +10 0C Bovino (1995)
- Armazenamento da carne entre +15 e +55 0C Bovino Zeece e Kalon (1989)
- Maturação de miofibrilas acidificadas a +5 0C Mamífero Sauderes (1994)
- Tenrificação da carne em maturações prolongadas (+4 0C) Mamífero Nishimura et al (1998)

5 – Calpaínas

Calpaína em geral:
- Teoria da linha Z para a tenrificação da carne Mamífero Robson (1995)
- Teoria de Taylor et al, (1995a) para a tenrificação da carne Mamífero Taylor et al (1995a)
- Teoria do costameros para a tenrificação da carne Mamífero Dransfiel et al (1995)
- Sinergismo com as catepsinas Mamífero Roncalés et al (1995)
- Acção sequencial das calpaínas e catepsinas Mamífero Taylor et al (1995b)

µ-Calpaína
- Acção isolada Bovino Thomson et al (1996)
- Associação com a m-calpaína Mamífero Dransfiel et al (1994b)
- Associação com as catepsina B e H Bovino Calkins e Seideman (1988)

m- Calpaínas
- Acção isolada Ovino Whipple e Koohmaraie (1991)
- Associação com a µ -calpaína Mamífero Dransfiel et al (1994b)
- Activação em carne adicionada de iões cálcio (10mmol/l) Bovino Wheeler et al (1997)

6 – Complexo endopeptidásico multicatalítico

CEM em geral Bovino Dutaud et al (1996)

CEM Coelho Otsuka et al. (1998)

7 – Outras endopeptídases musculares

Colagenase interesticial Mamífero McCormick (1992)

Endopeptídase desconhecidas Mamífero Whipple et al. (1990)

8 – Exopeptídases

Exopeptídases em geral Mamífero Feidt et al. (1998)

Sistema das aminopeptidáses Mamífero Nishimura et al (1996)

39
4 – Consequências da maturação sobre a qualidade organoléptica da carne

Os factores que influenciam a qualidade visual e gustativa da carne foram


divididos em duas categorias: os ante mortem, ou intrínsecos, (stresse, genética,
alimentação, idade) e os post mortem, ou extrínsecos (estimulação eléctrica,
aplicação do frio, maturação, métodos de cozedura). Na primeira categoria
encontram-se os factores vinculados ao genótipo dos animais e às condições
ambientais em que se desenvolveram. Na segunda estão aqueles que se confundem
com os procedimentos técnicos adoptados pelos matadouros-frigoríficos e demais
segmentos, até ao consumidor final. (Felicio, 1997)
As condições de maneio pré e pós-abate estão directamente relacionadas à
qualidade nutricional e sensorial da carne. A espécie, raça, sexo, peso corporal,
dieta, tempo de maturação e suas interacções são considerados como agentes
formadores do flavour e apresentam influência sobre a aceitabilidade do produto
pelos consumidores (Khan et al., 2015).
A figura 9 relacionando os resultados da transformação do músculo em
carne e características organolépticas e tecnológicas resultantes.

Figura 9 – Diagrama relacionando os resultados da transformação do músculo em carne e


características organolépticas e tecnológicas resultantes. (Lawrie, 1989;
Warriss 2000) adptado por Raimundo, 2009

40
O processo de conversão do músculo em carne, com diferentes graus de
degradação enzimática e desnaturação de proteínas, pode resultar em marcantes
variações nas propriedades da carne, como a capacidade de retenção de água, cor e
firmeza da carne fresca, tenrura, sabor e suculência da carne preparada para
consumo e capacidade de emulsificação das matérias primas, rendimentos de
processo e cor dos produtos processados. Estas últimas propriedades, referentes
ao processamento, são comumente agrupadas sob o termo “qualidade tecnológica
da carne”, principalmente porque as suas alterações atingem com maior
intensidade e frequência a carne da espécie suína. Embora existam alguns
factores, como a idade ou maturidade fisiológica e os métodos de cocção, que
influenciam as propriedades físicas da carne sem afectar o processo de conversão,
práticamente todos os outros causam alterações no processo, seja porque
modificam a curva de declínio de pH em função do tempo post mortem, seja porque
promovem ou permitem que ocorra o encolhimento das miofibrilas (estrutura
contráctil da célula muscular), em grau variável, durante o estabelecimento do
rigor mortis, ou, ainda, porque influenciam a velocidade ou a extensão da
proteólise enzimática, durante a maturação. (Felicio, 1997)
As características das quais depende a palatibilidade da carne são o sabor, a
cor, o aroma, a suculência e a tenrura. As pesquisas até hoje feitas para
correlacionar as propriedades físicas e químicas da carne, com as suas
características de palatibilidade estão ainda longe de serem convenientemente
interpretadas, pelo qua a apreciação organoléptica é ainda o resultado de testes
subjectivos. (Farraia da Graça, 1987)
Sucessiva e proporcionalmente, à medida que a carne envelhece a sua
dureza atenua-se e a textura após a cozedura melhora.
Um melhor conhecimento destes fenómenos permitirá orientá-los, num
sentido favorável, com intervenção ao nível da força iónica e do pH, etc.;
Constatou-se, por exemplo, que uma injecção de solução de sulfato de magnésio,
antes do abate, reduz a perda de líquido que acompanha a descongelação.
As enzimas proteolíticas endógenas do músculo não têm acção sobre as
miofibrilas, nem sobre o colagénio, excepto se o tecido for mantido à temperatura
de 37 0C, não se constatou, com efeito qualquer proteólise visível da carne durante
a maturação, a uma temperatura de 0 a 25 0C. (Whipple et al., 1990)

41
No caso da carne de vaca, a determinação da rigidez cadavérica demora 3 a
4 semanas a uma temperatura de -1,50C, 15 dias a 00C, 2 dias a 200C e 1 dia a 430C.
A atenuação da dureza é tanto mais acentuada quanto a rigidez inicial seja
menos severa.
A maturação da carne é acompanhada por outras reacções a oxidação dos
lípidos pode dar origem a odores indesejáveis. Pelo contrário, a formação de
nucleótidos e a formação de amoníaco, de hidrogénio sulfurado, de acetaldeído, de
acetilo, de acetona, dentro de certos limites – são favoráveis para o sabor e para o
aroma.

TENRURA

A carne, logo após o abate, é dura. O tratamento ao qual se submetem as


carcaças após o abate é muito importante no que respeita à sua posterior tenrura.
Um tratamento apropriado, como a estimulação eléctrica das carcaças, permite
atenuar as contracções no momento da entrada em rigidez, pois a contracção é
sinónimo de dureza.
Alguns autores interpretam a melhoria da tenrura, principalmente como
sendo devida ao amolecimento do colagénio. Outros são da opinião que as
modificações no tecido conectivo não explicam a tenrura produzida pela
maturação.
Do mesmo modo, uma ligeira despolimerização do colagénio, pode ser
observada no decurso da maturação e estar ligada à evolução da tenrura. Contudo,
a quantidade de colagénio e o seu grau de polimerização (que é função da idade do
animal), é sempre um factor limitante para a tenrura da carne. Retenha-se que com
o avanço da idade do animal, o tropocolagénio passa sucessivamente de termolábil
a termo estável, donde a sua transformação em gelatina pela cozedura tende a
diminuir. (Whipple et al., 1990)
Segundo Bernard et al. (2007), vários genes já foram associados à tenrura
da carne de bovinos, entre eles os mais estudados são aqueles relacionados ao
complexo calpaína/calpastatina, que é considerado o principal sistema
responsável pelo processo de amaciamento post mortem devido ao processo de
proteólise dos componentes estruturais da musculatura esquelética.

42
SUCULÊNCIA-ASPECTO

Estas duas qualidades estão ligadas à capacidade de retenção de água da


carne e portanto à evolução das proteínas miofibrilares. A maturação tem
tendência para aumentar ligeiramente a capacidade de retenção da água da carne
aumentando o número de cargas livres das proteínas. A capacidade de retenção de
água condiciona a suculência, especialmente durante os primeiros momentos da
mastigação. Também se encontra relacionada com a sensação de dureza e com a
percepção da cor. A capacidade de retenção de água é um parâmetro muito
importante na qualidade da carne, não só pela aparência e suculência mas também
pela influencia em processos de desidratação e difusão de sal no interior de peças
inteiras, como seja nos produtos de salsicharia.

FLAVOUR

A carne fresca em estado cru tem um sabor suave, difícil de avaliar e


descrever. A carne crua tem um " flavour" pouco pronunciado, É a cozedura que
permite o desenvolvimento dos "flavoures" característicos de cada carne. A análise
cromatográfica dos compostos voláteis libertados no momento da cozedura põe
em evidência um grande número de compostos orgânicos. As reacções de Maillard
(ácidos aminados-açúcares), podem ser tidas como responsáveis pelo
aparecimento de vários compostos. O "flavour" específico de cada carne, provém
da oxidação dos ácidos gordos desta carne, cuja natureza e proporção variam com
a espécie animal. Na realidade, é possível que os lípidos intervenham de duas
maneiras diferentes: (Baines e Milokiewics, 1984) (Figura 10)

1. Pela oxidação dos ácidos gordos livres insaturados, com libertação de


compostos carbonilicos (porco).
2. Pela presença nestas gorduras de compostos aromáticos lipossolúveis,
libertados no momento da cozedura (carneiro).
Parece que a idade, sexo e a raça dos animais não exercem tanta influência
sobre o “bouquet” das carnes. A dieta constitui um factor importante no
desenvolvimento de aromas e sabores desagradáveis na carne, contudo também
pode constituir um meio de manipular o “bouquet”, por exemplo encapsulando
suplementos alimentares. (Lawrie, 1984).

43
A utilização de embalagens a vazio para armazenamento em refrigeração e
congelação de carne, proporciona um meio eficaz de prolongar o tempo de
prateleira e no futuro próximo, as investigações apontam para a utilização de flora
microbiana da carne sobre o efeito do “bouquet” durante a conservação. (Lawrie,
1984).

Figura 10 – Compostos aromáticos na carne. (Baines e Milokiewics, 1984)

COR

A intensidade da cor da carne fresca reflecte a quantidade de mioglobina


(Mb) presente, o seu estado químico, a luminosidade e o estado físico da carne,
dependendo este do pH e da velocidade de descida do pH e estrutura das
proteínas. (Lawrie, 1974)
Os pigmentos heme são responsáveis pela cor da carne. A mioglobina (Mb)
é o seu principal pigmento, sendo que a hemoglobina, que é o pigmento do sangue,
é de importância secundária. A maior parte da hemoglobina é removida quando os
animais são abatidos e sangrados. Dessa forma, com o sangramento devido, a Mb
de tecido muscular é responsável por 90% ou mais da pigmentação. A quantidade
de Mb varia consideravelmente entre os tecidos musculares, sendo influenciada
pela espécie, idade, género e actividade física.

44
O teor de hemoglobina só influenciará a cor da carne se o processo de
sangria for mal executado. Aspectos como idade, sexo, músculo e actividade física
afectam a cor da carne. A cor natural e ideal da carne é um vermelho brilhante.
A evolução da cor no decurso da maturação está ligada às modificações da
mioglobina e também da estrutura da superfície reflectora. A mioglobina pode
existir, como já se referiu, sob três formas, em função do seu grau de oxidação.
Imediatamente após o abate, a mioglobina encontra-se sob a forma
reduzida.
No momento do corte, em contacto com o oxigénio do ar, transforma-se em
oximioglobina, adquirindo a carne uma cor agradável, vermelho vivo. No decurso
da maturação a globina é desnaturada (pH, temperatura...) sendo então a formação
de metamioglobina acelerada.
No caso das carnes exsudativas, a queda do pH provoca uma desnaturação
rápida da globina e a formação de metamioglobina, que conjugada com exsudação
importante, confere então à carne a cor escura acinzentada característica.
As Carnes que conservam um pH elevado e que retêm uma grande
quantidade de agua têm uma coloração escura carregada.
As carnes vermelhas são as principais fontes de proteínas de alto valor
biológico, minerais, ferro, zinco, fósforo e magnésio e vitaminas como tiamina,
riboflavina, niacina, B6 e B12, um alimento de alta densidade nutricional, e de
baixo valor calórico. (Felicio, 1997)
A qualidade da carne também é influenciada por vários factores nutricionais
da dieta animal. Uma das influências da alimentação é na tenrura da carne, que
está associada principalmente ao teor de gordura intramuscular da carcaça que
garante à carne mais suculência, aroma, sabor e tenrura, devido aos espaços
formados entre as fibras quando é cozida. A gordura também confere valor
nutritivo, como fonte de energia, de ácidos gordos essenciais e de vitaminas
lipossolúveis.

45
Que carne comeremos?
Será que o que acabámos de estudar é mais passado do que futuro?
Uma alternativa completamente diferente para produzir carne, têm sido os
esforços realizados para preparar carne artificial, a partir de fibras proteicas
isoladas utilizando células vegetais e microbianas com desperdícios dos
matadouros. (Lawrie, 1998).
A Carne cultivada, também conhecida como carne de laboratório, carne
de cultura ou ainda carne in vitro, é a carne que nunca foi parte de um animal
vivo completo. Muitos biologistas alegam que esta tecnologia está pronta para uso
comercial. Segundo estes, a produção de carne criada em laboratório poderia até
mesmo ser mais barata que a carne comum, considerando que na carne tradicional
os custos incluem o crescimento do animal e a protecção ambiental (salientando
que há poucos pontos negativos associados à carne in vitro).
Cientistas da Universidade de Maastricht, na Holanda, que produziram o
primeiro hambúrguer em laboratório do mundo, querem agora vendê-lo. De
acordo com os investigadores, a carne artificial será mais saborosa e barata do que
as carnes tradicionais vendidas actualmente. O hambúrguer foi sintetizado pela
primeira vez em 2013 e custou 250 mil euros.

46
III - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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55
56
ANEXOS
ANEXO 1
I–1
I–2
ANEXO 2
Plano da Lição

Tópicos Tempo aproximado de


exposição

Transformação do músculo em
10 minutos
carne - Introdução

Alterações na qualidade das


5 minutos
carnes

Stresse ante-morte 5 minutos

Carnes PSE 5 minutos

Carnes DFD 5 minutos

Aplicação do frio post morte 5 minutos

Encurtamento pelo frio


5 minutos
(cold shortening)

Rigor da descongelação
5 minutos
(thaw rigor)

Maturação-proteólise
10 minutos
post mortem

Consequências da maturação
sobre as qualidades 5 minutos
organolépticas da carne

II – 1
ANEXO 3
Ciência e Tecnologia dos Alimentos

Tecnologia da Carne e Pescado

PLANO SEMANAL

Semanas Aulas Teóricas Aulas TP /Práticas

Subsector da carne e do pescado em Portugal.


1 Estrutura do consumo em Portugal e na União -------
Europeia

A carne, estrutura histológica, química e Amostragem


2
bioquímica. pH%, %Cinza
Água na carne
A carne, estrutura histológica, química e
3 % de Humidade, CRA,
bioquímica – Contracção muscular
Aw
Transformação do músculo em carne, Compostos azotados
4
Rigor mortiz, maturação da carne %N

Qualidade da carne, principais factores que a


5 NNP
determinam

Microbiologia geral da carne e suas alterações e


6 NBVT
putrefacções.

7 Tecnologia geral dos produtos de salsicharia %GB e %GT


Índices de avaliação de
8 Tecnologia geral dos produtos de salsicharia gordura
IP, IA, II
9 Tecnologia geral dos produtos de salsicharia TBA

Pescado, estrutura histológica, química e


10 Cloretos
bioquímica

11 Pescado, conceitos de refrigeração e congelação Nitritos

Pescado, processos bioquímicos de alteração,


12 Fosfatos
índices de frescura

13 Aplicação do frio, métodos de congelação Ac. Ascórbico


Visita/Salsicharia/
14 Conservas de peixe
Matadouro
15 Bacalhau – Tecnologia de secagem Exame TP

III – 1
III – 2
ANEXO 4
CIENCIA E TECNOLOGIA DOS ALIMENTOS

TECNOLOGIA DA CARNE E PESCADO

2º Ficha de avaliação
Nome ________________________________________________________ Nº ________________

1 - Quais as 4 principais proteínas miofibrilares do músculo estriado


esquelético.

Resposta:

As quatro proteínas principais miofibrilares do músculo estriado são a


miosina, actina, tropomiosina e troponina.

2 - Após o abate, qual o papel do glicogénio no músculo.

Resposta:

Os processos bioquímicos do músculo após o abate são, principalmente,


processos de degradação e ressíntese de ATP. Como consequência da morte, três
fontes de energia tornam-se disponíveis: ATP, creatina fosfato (CP) e o glicogénio.
Tanto o ATP como a CP estão presentes em pequenas quantidades no músculo,
fazendo com que o glicogénio seja a principal fonte de energia para a glicólise.
A glicólise (degradação anaeróbia) produz ácido láctico a partir do ácido
pirúvico. Consequentemente desce o pH no músculo post mortem, dependendo do
glicogénio no momento do abate.

3 -Após a paragem da circulação sanguínea quais as 5 principais


consequências.

Resposta:

O facto de haver paragem circulatória leva consequentemente à 1-paragem


da respiração celular pois cessa o fornecimento de oxigénio. A falta de oxigénio
leva à 2-descida do potencial de oxidação-redução o 3- fim da regulação nervosa e
hormonal e o 4- equilíbrio osmótico é destruído 5- terminando o fornecimento de
vitaminas, antioxidantes etc.
IV – 1
4 - O stresse ante morte pode ser a causa de dois tipos de carnes,
consideradas anómalas, quais são e qual o parâmetro analítico que o
identifica.

Resposta:

O stresse ante morte tem como resposta o desenvolvimento anómalo do


rigor mortis dando lugar ao aparecimento de carnes tidas como defeituosas as
carnes DFD e PSE. O parâmetro analítico que o identifica o pH. A rápida detecção de
carnes PSE e DFD é de grande importância dentro de uma indústria. O método mais
utilizado é a aferição do pH das carcaças aos 45 minutos após o abate e ao final do
arrefecimento (24h).

5 – Diga o que entende por “Cold shortening” e explique porquê e como afecta
a qualidade da carne.

Resposta:

A carne de bovinos e ovinos quando armazenada a uma temperatura

inferior a 14oC, e quando o pH ainda é superior a 6,8 no inicio do processo post


mortem apresenta uma forte predisposição à contracção muscular intensa. Este
fenómeno é chamado de encurtamento pelo frio ou cold shortenig. É mais intenso
quanto mais próxima esteja a temperatura de arrefecimento do ponto de
congelação. Esta carne, quando cozida, apresenta-se extremamente dura.

6 – Nas diferentes teorias apresentadas para explicarem a maturação da


carne, todas concluem que é nas proteínas de uma das bandas do sarcómero
que se inicia a maturação. Qual?

Resposta:

Um grande número de investigadores sugere que a degradação da linha Z é


o principal factor do amaciamento post mortem. Esta conclusão relaciona com a
actividade das calpaínas com a tenrificação post mortem, devido a sua
capacidade em degradar a linha Z.

IV – 2

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