(OK) rccs-689
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80 | 2008
Epistemologias do Sul
Epistemologias do Sul
Maria Paula Meneses
Edição electrónica
URL: https://journals.openedition.org/rccs/689
DOI: 10.4000/rccs.689
ISSN: 2182-7435
Editora
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Edição impressa
Data de publição: 1 março 2008
Paginação: 5-10
ISSN: 0254-1106
Refêrencia eletrónica
Maria Paula Meneses, «Epistemologias do Sul», Revista Crítica de Ciências Sociais [Online], 80 | 2008,
publicado a 01 outubro 2012, consultado a 10 fevereiro 2023. URL: http://journals.openedition.org/
rccs/689 ; DOI: https://doi.org/10.4000/rccs.689
Epistemologias do Sul
1
Boaventura de Sousa Santos (1995), Toward a New Common Sense: Law, Science and Politics in
the Paradigmatic Transition. New York: Routledge.
2
Vejam-se vários dos artigos que integram os livros organizados por Boaventura de Sousa Santos,
nomeadamente Conhecimento prudente para um futuro decente: ‘Um discurso sobre as ciências’
revisitado (Porto: Afrontamento, 2003) e Semear outras soluções: os caminhos da biodiversidade e
dos conhecimentos rivais (Porto: Afrontamento, 2004). E ainda, a título de exemplo, Walter Mignolo
“Citizenship, Knowledge, and the Limits of Humanity”, American Literary History, 18(2), 2006,
312-331; Huish, Robert, “Logos a Thing of the Past? Not So Fast, World Social Forum!”, Antípode,
38(1), 2006, 1-6.
| introdução
Uma das batalhas políticas mais importantes do século XXI é travada, sem
dúvida, em torno do conhecimento. O desafio à hegemonia cultural resultou
numa abertura à diversidade de saberes. A preocupação com uma abertura à
diversidade epistémica tem sido um dos temas de referência em vários projec-
tos em curso no CES. Com este número temático pretende-se questionar a
possibilidade de diálogos entre várias realidades históricas, entre experiências
presentes e as suas memórias, as quais apontam continuidades e descontinui-
dades de poder nas marcas herdadas das relações coloniais.
Os cenários pós-coloniais têm-se desenvolvido no mundo de formas distin-
tas, como os ensaios que integram este número testemunham. As realidades
que são hoje designadas como pós-coloniais não podem ter como referencial
uma bitola única. A diversidade da “América Latina” é distinta da que ocorre
em África ou nos contextos europeus. E, dentro de cada um destes macrocos-
mos, existe uma infinidade de microcosmos, todos infinitamente distintos
entre si. Contudo, se esta diferença espácio-temporal apela para a diferença
dentro do Sul, a experiência colonial comum permite a constituição de um Sul
global, onde a condição pós-colonial se impõe cada vez mais na análise e carac-
terização das condições políticas específicas.
A presença de diferentes lógicas e diferentes formas de pensar, exige a
possibilidade de diálogo e de comunicação entre culturas. A tradução inter-
cultural, como proposta metodológica, revela o Sul global como um conjunto
de epistemologias, extremamente dinâmicas.
Novos actores, novas experiências têm vindo a ser reveladas e discutidas,
alargando a base dos debates produzidos pelas críticas da modernidade à
herança colonial. Neste ponto, destaco duas questões fundamentais. A primeira
refere-se ao questionamento interno do papel da racionalidade moderna na
persistência das diferenças imperiais e coloniais existentes no Norte global;
a segunda diz respeito ao impacto das propostas pós-coloniais na produção,
reprodução e apropriação de conhecimentos quer numa interacção com a ciên-
cia moderna, quer para além desta.
Os artigos recolhidos neste número percorrem uma vasta gama de tópicos,
coerentes entre si na procura de outros saberes. De forma consistente, contri-
buem para reforçar um diálogo sobre as políticas do conhecimento, propondo
pistas para outras cartografias de experiências e saberes.
O índice deste número temático aponta para a complexidade dos debates
epistemológicos na actualidade. A abertura cabe a Boaventura de Sousa Santos,
com o título sugestivo de “Para uma epistemologia do Sul: filosofias à venda,
douta ignorância e a aposta de Pascal”. A proposta teórica deste artigo assenta
na recuperação dos saberes e práticas dos grupos sociais que, por via do capi-
talismo e do colonialismo, foram subalternizados, transformados nos ‘damnés’
| introdução