Cort Ada
Cort Ada
Cort Ada
Introdução
Você já observou a diversidade de grupos que compõem a sociedade em que vivemos?
Já se perguntou sobre a infinidade de relações culturais que resultam dos contatos entre esses
grupos? Agora, imagine toda essa diversidade associada ao espaço da sala de aula, por exemplo.
Como gerir essa gama de teias de significados nesse universo, é um desafio que todo
professor/educador enfrenta na sua prática diária. É nesse sentido que a Antropologia pode
contribuir na compreensão dos fenômenos educacionais. O professor/educador precisa ter um olhar
antropológico sobre o seu espaço de atuação. Esse olhar o auxiliará a lidar com os conflitos e as
contradições que surgem do confronto e do contato entre os diferentes grupos sociais, contribuindo
para uma prática docente relativizadora.
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A palavra Antropologia, etimologicamente, vem do grego antrophos – homem/ pessoa e logos –
razão/ pensamento e significa Estudo do homem.
Como você pode observar, é bastante amplo o campo de investigação dessa ciência.
Alguns autores divergem sobre essa divisão, porém ela é um recurso didático para que possamos
compreender a especificidade da Antropologia. Roberto DaMatta (1997, p. 28-9), por exemplo,
entende que “[...] a Arqueologia é uma subdisciplina da Antropologia Geral, e mais especificamente,
da Antropologia Cultural (ou Social), já que seu objetivo é chegar ao estudo das sociedades do
passado”. A linha que demarca essas áreas é bastante tênue e, muitas vezes, fazemos uso de
conceitos que estão presentes em mais de uma delas.
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O ponto comum desse diálogo é o conceito de cultura que veremos detalhadamente na
próxima aula, mas que, aqui, representa o aparato necessário ao homem para viver a vida,
diferenciar os mundos da cultura e da natureza, bem como construir um saber que envolve
processos de aprendizagem e socialização. Poderíamos citar uma série de exemplos de diversidades
sociais e várias situações pedagógicas que só seriam compreendidas se relativizadas.
A luta pelos interesses no mundo cultural afirma a existência concreta dos diferentes
grupos humanos que transitam na antropologia e na educação. Essa luta implicou uma série de
aspectos como a dominação, a espoliação, enfim, situações que muitas vezes obstruíram a produção
cultural de vários grupos, em favor de uma cultura hegemônica. Gusmão (1997) explica que
[...] a antropologia nasce de relações historicamente constituídas entre os homens
e, por sua natureza, busca compreender o outro diferente de si – de seu mundo de
origem, a Europa do século XIX – dialogando com outras formas de conhecimento,
tendo por base e pressuposto central o mundo da cultura, as relações entre os
homens e a construção do saber.
Essa autora afirma, também, que “vivemos uma época em que é preciso resgatar e
redimensionar o mundo das diferenças e da diversidade, o que exige renovar a visão de mundo e das
coisas” (GUSMÃO, 1997). Daí a necessidade de aproximar esses dois campos do conhecimento para o
avanço dos debates sobre a diversidade cultural e suas implicações para o processo de
aprendizagem.
Poderíamos ficar enumerando uma série de pontos de contato entre a antropologia e a
educação, mas, ao longo de todas as aulas, essa temática será recorrente e irá sendo melhor
esclarecida. Mas, até aqui, você já percebeu a importância de se estabelecer um diálogo entre essas
áreas do conhecimento, se quisermos compreender melhor o ser humano em seu universo cultural e
as dimensões do ensino.
UNIDADE 2: BASES CONCEITUAIS SOBRE A CULTURA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO
Introdução
Você já ouviu alguém dizer “Nossa! Fulano é tão culto” ou “Sicrano não tem um pingo de
cultura”? Essa é uma maneira de pensar em cultura, comum a um grande número de pessoas.
Cultura entendida dessa maneira refere-se ao nível de conhecimento, à sofisticação e educação que
uma pessoa tem. Será que quanto mais cultura tem os membros de uma sociedade, mais civilizada
ela é? Será que cultura é só isso? O conceito de cultura é bem mais complexo que uma simples
hierarquização entre cultos e incultos ou entre mais e menos civilizados.
O Antropólogo, quando usa esse conceito, o compreende como peça fundamental de
seu estudo sobre um grupo humano qualquer. Além disso, tal conceito contribui para a compreensão
das diferenças culturais, fundamental, por exemplo, para você, futuro professor, que lidará com elas
o tempo todo no universo escolar.
Esse conceito de Tylor, elaborado em 1871, foi bastante inovador para sua época e
abarcava todas as possibilidades de realização humana, enfatizando um caráter de aprendizagem da
cultura, em oposição aos determinismos biológico e geográfico que defendiam uma aquisição inata.
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Assim, no cotidiano dos diferentes grupos humanos, seja em uma tribo indígena ou
numa metrópole, “todas as situações entre pessoas, e entre pessoas e a natureza, mediadas pelas
regras, símbolos e valores da cultura do grupo, têm em menor ou maior escala a sua dimensão
pedagógica” (BRANDÃO, 1995, p. 20). Todos os que convivem no grupo, aprendem, seja da sabedoria
dos seus integrantes, seja da norma dos seus costumes, o saber que os torna aptos, pessoalmente e
socialmente, para a convivência social, para o trabalho, para a guerra, para o amor.
Esse autor destaca outro aspecto importante nessa relação da cultura com a educação.
Trata-se do processo de endoculturação, por meio do qual um grupo socializa, em sua cultura, seus
membros como sujeitos sociais. Todo o conhecimento que existe em uma cultura e que é adquirido
pela experiência pessoal com o mundo e com os outros membros dela, tudo o que se aprende
independente de como se aprende, faz parte desse processo, e a educação é o seu campo mais
importante.
Quando uma mãe corrige seu filho para que fale corretamente a língua do grupo, ou
quando explica à filha as regras sociais para ser mulher, ou quando o pai ensina o filho a fazer uma
flecha, ou quando os guerreiros saem com os mais novos para ensiná-los a caçar, a educação aparece
como resultado de formas sociais de condução e controle nesse processo de ensinar e aprender.
Até aqui falamos do ensino informal, aquele que não está restrito a um lugar específico
nem a um corpo técnico especializado que aplica as teorias educacionais e no qual o espaço
educacional não é o escolar. Ele se refere ao saber da comunidade, àquilo que todos conhecem de
alguma maneira e que envolve situações pedagógicas interpessoais familiares e comunitárias, porém
destituídas de técnicas pedagógicas escolares.
Mas as sociedades se complexificam e a cultura se transforma e, mesmo as mais
primitivas, acabam desenvolvendo hierarquias que passam a distribuir desigualmente o
conhecimento. Isso pode vir a reforçar as diferenças, ao contrário do saber anterior, que afirmava a
comunidade. É o começo da separação entre os que sabem e os que fazem, os que planejam e os que
executam. É o momento em que a educação se transforma em ensino e inventa a pedagogia, a teoria
da educação. Mas, o que isso significa? Brandão (1995, p. 28) explica que
significa que, para além do saber comum de todas as pessoas do grupo e
transmitido entre todos livre e pessoalmente, para além do saber dividido dentro
do grupo entre categorias naturais de pessoas (homens e mulheres, crianças,
jovens, adultos e velhos) e transferido de uns aos outros segundo suas linhas de
sexo e idade, por exemplo, emergem tipos e graus de saber que correspondem
desigualmente a diferentes categorias de sujeitos (o rei, o sacerdote, o guerreiro, o
professor, o lavrador), de acordo com a sua posição social no sistema político de
relações do grupo.
Significa, também, o surgimento do ensino formal, momento em que a educação se
sujeita à pedagogia e passa ao espaço escolar, estabelece suas regras e tempos, produz seus
métodos e constitui seus especialistas que cumprirão uma missão: ensinar. Aparecem, nesse cenário,
a escola, o aluno e o professor. Novas relações se estabelecem com a cultura.
A cultura de uma sociedade reúne significados comuns aos diversos grupos que
pertencem a ela, ou seja, existe uma unidade cultural. Porém, essa cultura geral não se restringe ao
conjunto das subculturas dessa mesma sociedade. As pessoas vivem as culturas de seus grupos, as
subculturas, que também estão imbuídas dos significados comuns à sociedade, mas elas não
conseguem experimentar toda a cultura dessa sociedade.
Síntese da unidade
Nesta aula, você conheceu o conceito de cultura e o seu desenvolvimento histórico nas
principais teorias antropológicas como o evolucionismo, o funcionalismo, o estruturalismo e a
antropologia da interpretação. Também compreendeu as relações entre a cultura e a educação
informal e escolar. Observou a importância dos conceitos de socialização e endoculturação como
norteadores dessa compreensão. Certamente percebeu a importância de um olhar antropológico
para observar as diferentes subculturas que convivem no espaço escolar e ter uma conduta de
respeito a essa pluralidade cultural que nos rodeia.
UNIDADE 3: MULTICULTURALISMO E IMPLICAÇÕES EDUCATIVAS
Introdução
No ocidente moderno, consideramos crianças de doze ou treze anos de idade, muito
novas para se casarem, porém, em algumas culturas, casamentos entre crianças dessa idade são
vistos como algo natural. Os judeus não comem carne de porco, e os indianos não comem carne de
vaca. No ocidente, comemos ostra, por exemplo, mas não comemos gatinhos ou cães de estimação;
no entanto, ambos são considerados iguarias no mercado chinês. Esses diversos traços de
comportamento, segundo Giddens (2005, p. 40), “são aspectos de amplas diferenças culturais que
distinguem as sociedades umas das outras”.
As sociedades mais simples tendem a ser monoculturais, ou seja, culturalmente mais
uniformes. O Japão, embora sendo uma sociedade moderna e industrializada, tem-se mantido
bastante monocultural. No entanto a tendência, em sociedades mais complexas, é tornarem-se cada
vez mais diversas culturalmente ou multiculturais. Essa perspectiva tem ampliado o debate sobre o
diferente e trazido à discussão novos conceitos como o de multiculturalismo que veremos a seguir.
Pré-requisitos
Para um bom entendimento desta aula, você precisa retornar à unidade dois e reler o
tópico que discute as relações da cultura com a educação e o surgimento da escola. Sugerimos,
também, que você leia o texto Cultura escolar: quadro conceitual e possibilidades de pesquisa, que
será utilizado como referência nesta unidade. Nele, você encontrará o desenvolvimento do conceito
de cultura escolar, bem como a indicação dos campos de pesquisa nessa área.
Introdução
Folheando a revista Por um Triz: cultura e educação, encontramos um relato bastante
ilustrativo de nossa aula. Com o nome Alterações na rotina, o texto aborda a implantação dos cantos-
atividade e do café-da-manhã de uma creche em São Paulo. Antes da implantação, a entrada das
crianças era bastante tumultuada, pois a educadora ficava recepcionando os pais, enquanto elas
ficavam ociosas no parque. O café-da-manhã não oferecia às crianças autonomia na escolha, pois
elas dependiam dos adultos para servir-se. Não havia organização apropriada do espaço nem troca
de afetividade. Imagine a bagunça! Depois da implantação, a porta de entrada fica aberta e as
educadoras esperam suas crianças nas salas com os cantos-atividade, nos quais são colocados
brinquedos e jogos aos quais elas têm livre acesso e livre escolha para brincar, e fazem isso até a
hora do café. Nele, foi implantado um sistema de self-service, com mais de uma opção de alimentos
para as crianças. Como o refeitório é também uma sala de aula, as educadoras fazem um
revezamento de turmas para não prejudicar a rotina das atividades em cada sala. Mas e o que isso
tem a ver com cultura escolar? Tudo, pois ela pode ser entendida “como um conjunto de práticas,
normas, ideias e procedimentos que se expressam em modos de fazer e pensar o cotidiano escolar”
(FRAGO citado por SILVA, 2006). Exatamente ao que se refere o relato. Vamos nos aprofundar mais
nessa definição?
Há uma riqueza de detalhes que o relato nos revela sobre o que foi discutido até aqui,
nesta aula. O espaço da sala de aula, lugar privilegiado da transmissão de conhecimentos, se
transformou num espaço de vivências que proporcionou tanto situações de aprendizagem como de
construção de valores e responsabilidades. Uma série de situações culturais foi sendo criada à
medida que as práticas iam sendo desenvolvidas, por intermédio de ações altamente
compartilhadas.
Vários atores se envolveram, os alunos, a professora, a diretora, os familiares, dando
significado aos fazeres, à medida que “aprendiam a participação e a organização, o respeito pela
palavra do outro e a lutar pelo direito à palavra, a argumentar, a persuadir, a fazer alianças, a criar
estratégias para enfrentar problemas” (GARCIA, 1999, p. 60).
Estamos diante do que afirmava Frago citado por Silva (2006), já citado anteriormente,
sobre a cultura da escola como modos de pensar e atuar que proporcionam aos seus componentes
estratégias e pautas para desenvolver-se tanto nas aulas como fora delas e integrar-se na vida
cotidiana das mesmas.
Assim como a cultura de um grupo social ou uma sociedade que, por meio de suas
práticas, cria ritos e rituais, a cultura da escola, da mesma forma, também produz os seus. Como
exemplos de ritos sociais, temos o casamento, o baile de debutantes, o chá de panela, a corrida de
toras entre os KraHô . Como exemplos de rituais na escola, temos o conselho de classe, o
planejamento, o recreio, entre outros. Vejamos o ritual do conselho de classe.
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Síntese da unidade
A cultura da escola ou cultura escolar é um campo novo de investigação nas pesquisas
das várias áreas do conhecimento. Ela pode ser entendida como modos de pensar e fazer, atitudes,
rituais, mitos, discursos e práticas, amplamente compartilhados pelos seus vários atores,
professores, alunos, familiares e gestores, que orientam uns e outros a desempenhar suas tarefas
diárias. Esta cultura da escola é compreendida através do estudo dos ritos e rituais, das práticas, dos
discursos que ocorrem no universo escolar. Vários autores se destacam nos estudos dessa cultura,
entre eles, Dominique Julia, André Chevel e Frago. Tais estudos contribuíram para que se
evidenciasse a escola como produtora de uma cultura própria que é dinâmica e interfere no contexto
mais amplo da cultura geral da sociedade.
UNIDADE 5: ETNOCENTRISMO E IDENTIDADE CULTURAL NA ESCOLA: INCLUSÃO E EXCLUSÃO
Introdução
Aprendemos, nos meios de comunicação, na mídia, nos filmes, revistas e jornais, nos
livros, a idealizar algumas características humanas como as representantes legítimas e naturais do
que seja ser humano. Aprendemos este preconceito relativo ao que seja um ser humano ideal e
quando nos deparamos com nossos alunos reais ou abrimos mão dessa idealização ou passamos a
exercer nosso racismo, machismo, etnocentrismo; passamos a estigmatizar e tornar invisível a
realidade que nos cerca (TRINDADE, 2003).
Ao agirmos dessa forma, perpetuamos as situações de exclusão em nossa sociedade e
continuamos a reproduzir a desigualdade, seja ela social, econômica ou cultural.
Daí a importância de conhecermos os conceitos de etnocentrismo e identidade cultural,
enfocando a realidade da inclusão e exclusão como situações presentes na escola. Além disso,
conhecer o processo de construção da identidade cultural na instituição escolar, pois ela é um espaço
em que as diferenças se encontram e as culturas se cruzam.
5.2 O Preconceito
Você já se perguntou: existe preconceito em nossa sociedade? E a escola como encara o
preconceito? Os alunos, como agem diante de um caso de preconceito? São algumas indagações
dentre muitas existentes. O racismo, por exemplo, é um tipo de preconceito presente em nossa
sociedade, que desperta nas pessoas indignação e discussões.