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REVISTA ELETRÔNICA DISCENTE HISTÓRIA.

COM
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA
CENTRO DE ARTES, HUMANIDADES E LETRAS

Ó PÁTRIA AMADA, SALVE, SALVE: REFLEXÕES SOBRE NAÇÃO,


IDENTIDADE NACIONAL E JUVENTUDE BRASILEIRA

Carlos Eduardo da Silva Moraes Cardozo1

Resumo

O presente artigo pretende uma reflexão teórica que articula o conceito de nação descrito
por Benedict Anderson com o fenômeno social, que se identifica entre as juventudes
contemporâneas, dada a partir da reconfiguração e reteritorialização dos jovens brasileiros
e sua articulação com sua “presença” nas esferas das redes sociais. A reflexão que brota
dessa intersecção conceitual nos aponta uma interessante abordagem para pensar o
conceito de nação, com isso a identidade nacional e o envolvimento político social, que
emerge no mundo contemporâneo. Essa “presença” dos jovens brasileiros nas redes sociais
reconfigura espaços, tempos e territórios e, consequentemente, seu sentido de pertença à
nação.

Palavras-Chave: Nação. Identidade nacional. Juventude. Redes sociais.

1. Introdução

Certo dia andando pelo metrô, da cidade do Rio de Janeiro, observo ao meu redor
uma cena do cotidiano que me causa espanto: todos os jovens, todos mesmo, estavam com
seus i-phones ou celulares conectados, dentre outras coisas, em redes sociais, sobretudo, no
facebook. Mudando o cenário, a mesma cena se repete, Fui me dando conta que esta cena
era cada vez mais comum e estava presente seja nos bares, na fila de espera do cinema,
nos parques, jovens e mais jovens conectados em redes sociais mesmo com pessoas presentes
ao seu lado. Os dedos não param. Deslizam sem parar pela tela do “touch screen” e curtem
fotos, compartilham idéias, deletam comentários indesejados, vêem e são vistos.
Essa “i-phonização” da cultura juvenil no Brasil ganha outros contornos ao se refletir
esta questão com o tema das culturas, identidade e o sentido de estado e nação entre os
jovens brasileiros.
Com isso, o presente artigo pretende uma reflexão teórica que articula o conceito de
nação descrito por Benedict Anderson com o fenômeno social, que se identifica entre as

1
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro – PPGCS-UFRRJ. E-mail: [email protected]
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juventudes contemporâneas, dada a partir da reconfiguração e reteritorialização dos


jovens brasileiros e sua articulação com sua “presença” nas esferas das redes sociais. A
reflexão que brota dessa intersecção conceitual nos aponta uma interessante abordagem
para pensar o conceito de nação, com isso a identidade nacional e o envolvimento político
social, que emerge no mundo contemporâneo.
O percurso analítico constituído aqui neste artigo tem como ponto de partida uma
obra de referência nos estudos de nação e nacionalismo: “Comunidades Imaginadas” de
Benedict Anderson (2008). Com base nesta obra, realizei uma pesquisa bibliográfica que
teve o mérito de expandir a rede de sentidos e significados em cada uma das perspectivas
aqui confrontadas com aspectos identificados como relevantes em cada um dos conceitos
implicados. Algumas questões que surgiram no percurso nos indicaram desdobramentos em
outras áreas do conhecimento, como a geografia cultural, tornando esse empreendimento
mais enriquecedor do que havia imaginado no início deste trabalho.
Assim, é possível identificar entre a juventude contemporânea uma ressignificação
do sentido de pertença à nação, sinalizando um fenômeno social mais profundo, que se
revela por uma nova configuração do conceito de nação entre os jovens a partir de uma
identidade nacional cambiante e, em muitos casos, desterritorializada. Assim, o conceito de
desterritorialização, em sua compreensão contemporânea, permeará a discussão como
forma de compreensão de algumas práticas juvenis.

2. Pensando o conceito de nação

Podemos pensar a nação, de per si, como um sistema classificatório, através do qual
se evidenciam categorias que ligam, imediatamente, o Estado a seus membros e estes entre
si. O território e a língua são categorias que sustentam um sentimento de pertencimento e
lealdade entre os membros de uma nação, assim como a ideia de uma “tradição cultural”
comum. Essa ligação realiza-se através de representações simbólicas, ou como afirma
Benedict Anderson através das comunidades imaginadas2. O conceito de nação
desenvolvido por Anderson propõe uma análise dos sistemas culturais que precederam o
aparecimento do nacionalismo em fins do século XVII. As comunidades religiosas e o reino
dinástico estabelecem seus laços referenciais pelos quais as comunidades eram imaginadas
antes das nações modernas, através das línguas sagradas e de um sistema político único (a
monarquia).

2
Cf. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

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São, no entanto, a decadência do latim e da legitimidade da monarquia, a


expansão comunicativa das línguas vulgares, assim como uma nova concepção de tempo –
o qual permite a ideia de simultaneidade transversal e não mais longitudinal - os fatores
que propiciam a ideia de “um organismo sociológico”, de uma nação. O aparecimento do
jornal e do romance fortalece essa nova maneira de imaginar o mundo: a imprensa
possibilita, dessa forma, a comunicação em massa e a consciência do extenso e diversificado
campo linguístico existente, o que Anderson classifica como “o embrião da comunidade
nacionalmente imaginada”3. Assim, a nação imaginada é limitada e também soberana,
pois o poder de liberdade depende do Estado, o que antes era atribuído a religião (2008,
p. 38).
Partindo dessas considerações, o nacionalismo e seus produtos culturais comungam
através da língua, a qual não é o símbolo de uma nação, mas o modo pela qual ela é
imaginada. Enquanto a nação é um sistema classificatório que define as relações entre o
Estado e seus membros e estes entre si, o nacionalismo é a utilização do símbolo “nação”
para a realização de um projeto político, o que, segundo Hobsbawm (2011, p.172) o
fundamenta. Como um discurso homogeneizador dos sentidos da nação, o nacionalismo
controla os sentimentos que unem e diferenciam determinados grupos entre si.
Tendo como ponto de partida a abordagem que concede atenção particular as
transformações do conceito, Hobsbawm delimita sua posição4. Utiliza o terno nacionalismo
como fundamental para o sustento da unidade política e nacional; a nação não vem antes
do Estado e do nacionalismo, estes é que geram a nação. A questão nacional está ligada
aos estágios econômicos e tecnológicos. Utiliza um princípio de dualidade, o alto como o
governo, os ativistas dos movimentos nacionalistas, e o do baixo, formado pelas pessoas
comuns, que são envolvidas em propagandas, e por último, ele segue a divisão que Hroch
(apud HOBSBAWM, 2011, p. 21) faz dos movimentos nacionais: fase a) puramente cultural,
fase b) política, e fase c) sustentação de massa.
Hobsbawm considera os anos 1918 e 1950 como anos do apogeu do nacionalismo,
pois foi o final da Primeira Guerra oferece uma excelente oportunidade para compreender
as limitações e o potencial da nacionalidade e de estado-nação. Ele “destaca que as
economias nacionais têm sido questionadas por uma nova divisão internacional do
trabalho que inclui organizações supranacionais acima do controle dos governos causando
novos problemas relacionados a nacionalidade"5.

3
Ibid. p. 54
4
Cf. HOBSBAWM, Eric. Nações e nacionalismo desde 1780. São Paulo: Paz e terra, 2011.
5
Ibid. p. 54, p. 162.

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Esses conceitos empreendem pensar, sobretudo, que o modo como o conceito de nação
ou os ideais de nação são desenvolvidos impactam diretamente sobre a produção de identidades
nacionais. É importante delimitar bem tais conceitos para nos ampliar a visão concernente a
juventude brasileira.

3. Nação e Identidade Nacional

As culturas nacionais não devem ser pensadas somente como sistemas unificados,
mas como sistemas constituídos por divisões profundas calcadas em diferenças, sejam elas,
étnicas, sociais ou culturais. Por isso, é preciso pensar num conjunto que emerge com a
reflexão do conceito de nação e suas representações e, como se dão no bojo da nação, as
identidades nacionais.
A representação da cultura nacional dá-se por um sistema simbólico significante, o
qual podemos chamar de processo cultural, capaz de estabelecer identidades a partir de
“relações de poder”. O simbólico e as relações inconscientes são de grande importância para
o processo de formação da subjetividade, quando o papel do outro esta sempre presente.
Assim, a identidade cultural e o resultado de uma “costura” das diferenças através de
formas diversas de poder cultural. Esse poder cultural está, assim, ligado a identidade e a
diferença através da representação.
Stuart Hall6 aborda as transformações que o conceito de identidade cultural vem
sofrendo de acordo com as mudanças estruturais da sociedade, principalmente com o
processo de globalização, salientando o afrouxamento dos laços imaginários que ligam o
sujeito a determinado território e cultura nacional ao longo da história. Apesar da força
narrativa da nação, através do poder cultural, fica cada vez mais difícil pensar a nação
como um sistema de representação homogêneo, produtor de identidades unificadas.
A narrativa da nação enunciada nas literaturas, nas histórias nacionais, constroem
imagens recorrentes de uma tradição, possibilitando a formação de uma identidade
nacional marcada pelos mitos de origem. Edward Said7 aborda essa invenção de uma
tradição nacional, salientando a elaboração das imagens puras através do esquecimento
de elementos culturais indesejáveis. A partir das leituras e reinterpretações de Eric
Hobsbawm, Said mostra como as imagens da civilização grega, ao longo do século XIX,
foram remodeladas como berço da cultura ariana, apagando seu passado híbrido de raízes
semitas e africanas. Igualmente aconteceu com as imagens da autoridade europeia, e

6
HALL, Stuart. Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006. 11.ed.
7
SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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também com os povos colonizados, os quais tiveram seus passados remodelados através de
rituais, cerimônias e tradições inventadas (1995, p.46-47). Said enfatiza, dessa forma, “o
poder de mobilização das imagens e tradições apresentadas e seu caráter fictício ou, pelo
menos, fantasiosamente tingido de cores românticas” (1995, p. 48).
Assim, percebemos que a tradição age como estratégia de unificação entre um
passado historicizado (seletivo), as vezes mítico, e um presente ativo para a construção de
uma identidade nacional. A tradição exerce suas forças a favor de uma hegemonia
cultural (1995, p. 111-123), fundamentando a identificação entre os membros de uma nação.
Williams8 critica o pensamento cultural marxista que entende a tradição como uma
superestrutura, um segmento inerte ligado somente ao passado. Ao contrário disso, define
tradição como uma força ativa e modeladora do presente, salientando sua ação
radicalmente seletiva. A tradição não deixa de ser um processo de seleção daquelas
práticas e significados que se quer conservar a favor de um interesse de dominação de
determinada classe. Nas palavras de Raymond Williams:
O que temos, então, a dizer sobre qualquer tradição e que nesse sentido ela é um
aspecto da organização social e cultural contemporânea, no interesse do domínio
de uma classe específica. É uma versão do passado que se deve ligar ao presente e
ratificá-lo. O que ela oferece na prática e um senso de continuidade predisposta9.

Portanto, a identidade nacional é dependente desse sistema unificador das


representações culturais, o qual é negociado no interior das culturas através das tradições.
A necessidade de afirmação de uma identidade nacional vincula-se a uma ideia de
preservação e pertencimento.
Benedict Anderson atrela a origem do conceito de nação, em grande parte, ao
sucesso do capitalismo editorial, surgida no século XVI. O autor agrega um valor grande à
edição, impressão e distribuição do jornal na formação da consciência coletiva da nação
pela possibilidade da percepção do tempo enquanto simultaneidade e identificação do
indivíduo numa comunidade imaginada.
No mundo contemporâneo temos assistido a uma “crise do jornalismo impresso”
que, de acordo com Meyer10, é caracterizada por dois principais fatores: a redução de
circulação e do número de leitores e a queda de participação dos jornais no total do
dispêndio publicitário em meios de comunicação. Essa crise está sendo causada, sobretudo,
pela incorporação do espaço virtual como espaço de divulgação de conhecimentos, notícias
e, também, como locus de socialização, sobretudo, das novas gerações, os jovens.

8
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
9
Ibid, p. 119.
10
MEYER, Philip. Os jornais podem desaparecer? Como salvar o jornalismo na era da informação. São Paulo:
Contexto, 2007.

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4. Redes sociais e crise do jornal impresso

A Web 2.011 significa, por princípio, interatividade, e, como consequência, geração de


conteúdo também pelo usuário. Isso significa que o leitor, aqui entendido como sujeito
internauta, também mudou.
Observam-se também alterações sociais, com um novo perfil de usuário
telespectador em tempos de cibercultura e cibersociedade. A personalização da fruição
informativa torna-se plenamente possível através dos agregadores de conteúdo e de
ferramentas como RSS, que canalizam diretamente para as telas e caixas-postais dos
usuários apenas notícias sobre os assuntos que lhes despertam interesse. Neste caso,
compete ao leitor a função de “atualizar”, tradicionalmente associada com os profissionais
da imprensa.
São práticas e tendências que demonstram que o Brasil desponta no cenário
mundial como destaque nesse mercado web 2.0. É uma ruptura do predomínio do polo de
emissão, com um impacto que vai além da inclusão de um novo suporte e meio de
distribuição. É um cenário que se descortina propiciando uma ampla discussão sobre os
preceitos de comunicação de massa e de jornalismo massivo, a luz do crescimento
exponencial das redes sociais.
Cenário diverso constata-se nas mídias e redes sociais, onde o Brasil é expoente
mundial, líder em tempo de navegação domiciliar, na leitura diária de blogs e na
atualização de páginas de redes sociais.
Segundo o Ibope/NetRatings12, os brasileiros lideram o tempo de navegação
domiciliar desde 2005 (aproximadamente 24 horas mensais), em leitura diária de blogs
(52% contra 31% da média mundial), atualização de páginas de redes sociais (57% contra
31% da média mundial) , além de uploads de vídeos (68% dos internautas brasileiros já
realizaram uploads). A pesquisa evidencia que de cada dez internautas brasileiros, oito
utilizam redes sociais. O relatório de março de 2009 conclui ainda que as redes sociais e os
blogs estão em quarto lugar no ranking de popularidade da Internet, à frente, inclusive dos
serviços de e-mail13.
Estima-se que da receita total dos grandes jornais apenas 25 % sejam custeados
pelos leitores, entre vendas avulsas e assinaturas. O restante cabe à publicidade comercial
(50%) e aos classificados (25%). No caso específico dos impressos, a participação no total das

11
Termo cunhado por Tim O’Reilly, em 2004, referindo-se à interatividade e a colaboração participativa
propiciada pela segunda fase dos aplicativos, ferramentas e sites disponibilizados na Web.
12
Disponível em www.b2bmagazine.com.br/web/interna.asp?id_canais=digital. Acesso em 4 ago. 2012.
13
Nas primeiras colocações, estão os buscadores, portais e, em terceiro lugar, serviços de download de
software.

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verbas alocadas nos diversos suportes baixou de 28% em 1995 – início do webjornalismo no
Brasil – para 15%, em julho de 200914.
Para Meyer (2007), o formato da notícia-factual, disponibilizando na manhã
seguinte o que televisão, rádio e Internet já deram ao longo de todo o dia anterior, pode
ter se rompido para os jornais impressos, levando à busca de nova identidade para o
jornalismo praticado em papel.
Essa crise dos jornais impressos atropelados pela interatividade das redes sociais tem
um impacto impressionante na vida dos jovens brasileiros.
A CISCO15 divulgou os resultados da edição 2011 do estudo Connected Technology
World Report. Realizada em 14 países, com adolescentes e jovens, de 14 a 30 anos, a
pesquisa mostra como esse público se conecta à tecnologia. Entre os resultados: muitos dos
entrevistados revelaram que seus celulares são mais importante tecnologia das suas vidas;
70% dos que trabalham se tornaram “amigos” dos seus chefes e colegas de trabalho no
Facebook; dois em cada cinco estudantes não compraram um livro físico (exceto escolares)
nos últimos dois anos; e, como era de se esperar, a maior parte dos participantes, 92% dos
participantes, revelaram ter uma conta no Facebook e checam pelo menos uma vez por
dia.
Entre os brasileiros, três em cada cinco entrevistados disseram que a internet passou
a ser tão necessária quanto água, comida e moradia. Espantosamente, 72% dos
universitários do país preferem navegar na internet a namorar, ouvir música ou até sair
com os amigos. Entre os que trabalham, 75% afirmaram não conseguir viver sem internet.
Isso vem revelando grandes mudanças de paradigma no comportamento da juventude
brasileira como aprofundaremos a seguir.

5. Juventude, redes sociais e desterritorizalização

O sociólogo italiano Alberto Melucci16 afirmou que os jovens são a ponta de um


iceberg que, se compreendida, pode explicar as linhas de força que alicerçarão as
sociedades no futuro. Hoje, os jovens possuem um campo maior de autonomia frente às
instituições do denominado “mundo adulto” para construir seus próprios acervos e
identidades culturais. Há uma rua de mão dupla entre aquilo que os jovens herdam e a
14
Pesquisa consolidada de julho/2009 do Projeto Intermeios. Disponível em
http://www.projetointermeios.com.br/relatorios/rel_investimento_3_0.pdf. Acesso 25 jul 2012.
15
Disponível em http://www.cisco.com/en/US/solutions/ns341/ns525/ns537/ns705/ns1120/CCWTR-Chapter1-
Report.pdf. Último acesso em 12 de agosto de 2012.
16
MELUCCI, Alberto. Juventude, tempo e movimentos sociais. In: Juventude e Contemporaneidade - Revista
Brasileira de Educação, n. 5 e 6, ANPED, p. 9, 1997. e MELUCCI. A invenção do presente: movimentos sociais
nas sociedades complexas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
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capacidade de cada um construir seus próprios repertórios culturais. Este maior campo
simbólico que os jovens possuem para se fazerem sujeitos, a partir de escolhas não
determinadas pelos adultos e pelas instituições, é fonte de muita tensão nos ambientes
familiares e escolares17.
Ao longo dos últimos 15 anos, no Brasil, o tema da juventude vem ganhando relevo
e destaque em diferentes âmbitos da vida social e especialmente nos estudos acadêmicos.
Nos meios de comunicação, assistiu-se ao surgimento de novos veículos de informação
(páginas na internet e revistas, por exemplo) voltados para o tema, algumas importantes
matérias e programas foram realizados e lançaram luz sobre problemas sociais que afetam
os jovens (tais como o desemprego, a violência e a dificuldade de acesso à educação de
qualidade). A pluralidade de identidades juvenis nos territórios das cidades também
ganhou destaque nas mídias. Jornais e revistas abriram espaços para cadernos e seções
teens, programas de TVs foram criados – ao estilo MTV – pensando no público jovem, ou
ao menos em torno de determinadas representações dominantes sobre os jovens. Rádios
jovens – não necessariamente “feitas” por jovens – ocuparam mais espaços no cenário
cultural e comercial voltando-se para o “segmento” jovem consumidor dos produtos diretos
e indiretos da indústria fonográfica.
No âmbito das ciências sociais, vários estudos têm contribuído para ampliarmos
nossa compreensão sobre o ciclo de vida que chamamos de juventude18. Abordagens
teóricas e investigações de base empírica permitem que tomemos contato tanto com a
diversidade de formas e conteúdos culturais produzidos, como também com os processos
que configuram condições desiguais de acesso a bens culturais e simbólicos que limitam a
capacidade de expressividade cultural dos jovens e das jovens no Brasil e no mundo.
Uma das limitações para o entendimento sobre o real significado da vida na
juventude está na insistência de muitos em considerar os jovens apenas como sujeitos da
transição para a vida adulta. Nesta perspectiva, o tempo da juventude passa a ser tão
somente um momento de espera e preparação para a vida pra valer que é o “ser adulto”.

17
Cf. CARRANO, Paulo. Educação de Jovens e Adultos e Juventude: o desafio de compreender os sentidos da
presença dos jovens na escola da “segunda chance”. REVEJ@ - Revista de Educação de Jovens e Adultos, v. 1,
n. 0, p. 1-108, ago. 2007.
18
Dentre os autores mais significativos, cito as obras: BOURDIEU, P. A “juventude” é apenas uma palavra. In:
BOURDIEU, P. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. p. 112-121. PAIS, J. M. Buscas de si:
expressividades juvenis. In: Culturas jovens: novos mapas do afeto. Maria Isabel Mendes de Almeida, Fernanda
Eugenio (orgs.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. p. 7-24. NOVAES, R. Jovem brasileiro, quem é ele?
Palestra no evento Juventude, participação e cidadania: que papo é esse? IBASE, 2007. (Acessado na internet
http://www.multirio.rj.gov.br/sec21/chave_artigo.asp?cod_artigo=3189, em 02/07/2012). PERALVA, A. e
SPOSITO, M. P. (orgs.) Juventude e contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, Anped,
ns. 5/6, 1997. p. 37-52. ABRAMO, Helena W. Condição juvenil no Brasil contemporâneo. In: ABRAMO, Helena
Wendel; BRANCO, Pedro Paulo Martoni (org.). Retratos da Juventude Brasileira: análise de uma pesquisa
nacional. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo: 2005, pg. 37-72.

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As representações que enxergam os jovens enquanto sujeitos da falta (apenas seres em


transição para a vida adulta), ou como “sujeitos problemas”, criam barreiras efetivas para
reconhecer os jovens como indivíduos autônomos, ainda que em formação, como sendo
capazes de criar, de utilizar de maneira saudável o corpo, o tempo livre e produzir cultura.
Uma perspectiva interessante que surge nos estudos está no reconhecimento de que
a juventude não é uma fase homogênea, mas que existem diferentes percursos de chegada
à idade e trajetórias múltiplas de vivência dos espaços e tempos da juventude. Prestar
atenção nestes muitos modos de viver a juventude é uma das chaves para a compreensão
dos jovens como sujeitos coletivos que se expressam em distintos grupos culturais juvenis.
Para fugir das homogeneizações, é preciso reconhecer os distintos modos de inserção
dos jovens na vida social e cultural, que estão caracterizados pela diversidade de
sociabilidades. A juventude, enquanto geração, surge “socialmente dividida em função de
seus interesses, das suas origens sociais, das suas perspectivas e aspirações” (PAIS, 2006, p.
33). Compreender a juventude é também reinterpretá-la a partir de outros referenciais
distintos daqueles dominantes, que tendem a perceber apenas homogeneidade e aspectos
problemáticos no “mundo jovem”. Desse modo, o convite que fazemos é para a
compreensão da juventude como um conceito em aberto, que necessita ser
permanentemente inventariado pela busca da identificação e da interpretação dos
símbolos que emanam das experiências culturais juvenis.
Esta busca por novos modos de enxergar os jovens e a juventude pode nos permitir
reconhecer não apenas a diversidade cultural, mas também formas desiguais de acesso e
apropriação de bens materiais e simbólicos. Se quisermos compreender o que é ser jovem e
como se vive a juventude hoje devemos estar atentos aos próprios jovens, uma vez que só
quem é jovem sabe o que é viver a juventude (NOVAES, 2007). Podemos interpretar este
“saber” no sentido de sabor, ou seja, de provar, experimentar corporalmente. Assim, é
preciso criar estratégias para entender os jovens a partir deles mesmos: sobre como
enxergam a sociedade que o mundo adulto lhes apresenta, sobre quais valores organizam
o seu agir individual e coletivo, sobre os significados ocultos que organizam as identidades
que se expressam em seus corpos e em suas páginas de relacionamos virtuais. São nestes
“espaços” que a criatividade juvenil demonstra sua vitalidade, driblando as barreiras
materiais da falta de infra-estrutura material, da ausência de apoio para práticas culturais
e das múltiplas violências físicas e simbólicas que se manifestam, principalmente, nas
periferias das cidades e que têm, na maioria das vezes, os jovens como alvos.
Segundo Willis,
as mídias culturais onipresentes da era eletrônica fornecem um leque de recursos
simbólicos que são um poderoso estimulante para o trabalho simbólico e criativo
dos jovens. (...) Os jovens não apenas aprenderam seus códigos, mas aprenderam

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a recriar formas, a inter-relacionar a mídia com sua própria estética de base. Eles
acrescentam e desenvolvem novos significados. Os jovens são os mais sofisticados
leitores da mídia de todos os grupos da sociedade19.

O Núcleo Jovem investigou a fundo os jovens brasileiros de 15 a 24 anos que utilizam


redes sociais, resultando em um estudo20 bem interessante e atualizado. As redes sociais
fazem parte da vida do jovem de uma forma tão intensa que 10% ou mais deles não
conseguiriam ficar sem acessar as redes e cerca de 10% só conseguiria ficar desconectado
por um dia. Estes ambientes são importantes para os jovens porque é neles que os jovens se
atualizam e interagem com os seus pares.
Abaixo seguem dois gráficos que apresentam os temas de interesses e as principais
atividades nas redes sociais. Com isso, é possível identificar que há um novo pertencimento
nesses espaços.

19
Willis, 1990, p. 30. Apud Orofino, 2005, p. 132.
20
Esta pesquisa foi realizada em 2011 com jovens de 15 a 24 anos, com um universo de 1211 participantes,
realizada via web pela Editora Abril. Pesquisa completa pode ser encontrada em
http://issuu.com/njovem/docs/sondagemredessociais. Último acesso em 28/07/2013.

Carlos Eduardo da Silva Moraes Cardozo Página 10


Interessante observar que “ler notícias e atualizar-se” aparece em primeiro lugar
como principais atividades nas redes sociais, sendo que aparece aqui o maior percentual de
jovens de 19 a 24 anos com 84%. Isso constata as considerações do Meyer (2007) sobre a
crise do jornal impresso. As novas gerações têm outros canais de estar conectados aos fatos,
não pela via do tradicional jornal impresso. Interessante notar que “acessar vídeo e foto dos
amigos” aparece em segundo lugar. Revela que as redes sociais são esses novos espaços de
socialização e construção de relações interpessoais.
Isso implica ainda outra consideração importante na reflexão que nos propomos a
fazer. No início do artigo lembramos Said (1995) e a reflexão que ele faz sobre a memória
na construção das identidades nacionais. Hoje, observa-se, com esses acessos, uma grande
mobilidade dos jovens no que tange a relação com o passado e o presente. Torna-se mais
fácil, e até aconselhável, “apagar o histórico” da trajetória do internauta pela rede.
O conceito de sociabilidade enquanto “forma lúdica de sociação” (SIMMEL, 2006,
21
p.65) , no sentido de uma categoria sociológica, nos possibilita vê-la engendrada pelas
juventudes no espaço virtual como um jogo em que se fazem presente interesses diversos
(vide os gráficos acima), como “sensoriais, ideais, momentâneos, duradouros, conscientes,
inconscientes, causais ou teleológicos”, perfilando “a base da sociedade humana”, conforme
Simmel (2006, p.61).
Essa eclosão de mecanismos que possibilitam falas e encontros de maneira
instantânea gera sociabilidades até então desconhecidas. Se fora da rede precisa-se marcar
encontros físicos, em lugares específicos, tangíveis, para haver uma interação social legítima,
com o advento dessa tecnologia, o mesmo encontro pode ser feito em qualquer lugar, a
qualquer hora. Encontrar independe estar, ou melhor, de onde se está.
Nas palavras de Lévy22, isso se chama desterritorialização da própria presença, e
atual geração de jovens apresenta essas características de não pertencimento geográfico.
Assim, tanto a configuração espaço-temporal quanto as concepções de mundo são
afetadas pelas redes sócias.
No argumento de Anderson (2008) nação está relacionado intrinsecamente com
imprensa. A imprensa mudou significativamente seu papel social com a disseminação das
redes sociais. Logo, isso acarreta efeitos sobre a construção dos ideais de nação e, portanto,
de identidade nacional. Neste momento de nossa reflexão, faz-se necessário definir bem
como essa inserção vai impactando sobre desterritorizalização e identidade nacional dos
jovens brasileiros neste contexto.

21
SIMMEL, Georg. Questões fundamentais de sociologia: individuo e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
22
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34,1999.
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6. Construção e desconstrução de territórios

O território constitui-se em um dos conceitos-chave da ciência geográfica, tendo


surgido na geografia para designar o espaço apropriado por um determinado grupo
social23, coincidindo com a consolidação dos Estados-nação. Esta concepção de território fez
com que por muito tempo o mesmo fosse identificado com o território nacional, que
deveras nasceu com base na noção de território. Contudo, as novas configurações exigem
uma revisão do termo, transformando o território em uma categoria de análise muito
além dos limites dos Estados-nacionais.
Para Tuan (apud SOUZA, 2001) o território sugere uma apropriação simbólica, na
qual estão intrínsecos valores relativos à identidade do indivíduo que estabelece um
vínculo afetivo com o lugar. A esta concepção de território dá-se a denominação de
topofilia. Em consonância Mesquita24 faz alusão à territorialidade como projeção da
identidade do indivíduo, possuindo o território uma significação individual e social que
abrange desde sentimentos de pertencimento a um lugar até o uso político do território:
[...] a territorialidade que comumente vivenciamos assume, tenhamos ou não
consciência disso, feições de uma territorialidade familiar, quando no território
atualizamos pela nossa identidade com ele, antigos sentimentos de emulação,
competição ou solidariedade vividos no território familiar. Pode assumir também
uma feição sintetizada como territorialidade senhorial quando se atualizam e
expressam raízes de posse [...] fundamentando não só o sentimento de pertença
territorial, como ainda condutas direcionadas a um uso político do território. Esta
territorialidade senhorial freqüentemente vale-se de [...] uma identidade
contrastiva em que os outros são os diferentes que não pertencem ao nosso
território, mesmo que este “nosso” não configure uma propriedade coletiva, mas
apenas de alguns [...]25.
Porém, como coloca Claval26, a identidade dos grupos sociais já não é mais
fundamentada exclusivamente no território. Por conseguinte o território não possui apenas
significação simbólica, ele é essencial à sobrevivência do grupo social que o apropria. O
contexto que estamos analisando da juventude brasileira inserida nessas redes sociais, este
conceito aplica-se bem, pois a construção das identidades juvenis passa também por
espaços não apenas territórios físicos.

23
SOUZA, Marcelo J. Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO,
Iná Elias de et al. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p. 77-116.
24
MESQUITA, Zilá. Do território à consciência territorial. In: MESQUITA, Zilá & BRANDÃO, Carlos R. (org.).
Territórios do cotidiano: uma introdução a novos olhares e experiências. Porto Alegre/Santa Cruz do Sul: Ed.
Universidade/UFRGS/UNISC, 1995, p.76-92.
25
MESQUITA, 1995, p.86
26
CLAVAL, Paul. A geografia cultural. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.
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Para Haesbaert27 território é resultado da interação entre as relações sociais


estabelecidas em determinado espaço e o controle deste espaço. Não obstante, as relações
de poder mencionadas abarcam tanto as relações de dominação, quanto às de
apropriação, pois conforme o autor, o território não é unicamente político, nem apenas
econômico ou cultural e nem mesmo somente natural.
O autor entende a construção dos territórios como a “[...] imbricação de múltiplas
relações de poder, do pó der mais material das relações econômico-políticas ao poder
mais simbólico das relações de ordem mais estritamente cultural”28.
Segundo Haesbaert a desterritorialização indica o enfraquecimento do controle
exercido sobre o espaço, como a mobilidade de pessoas, bens materiais, capitais ou
informações. O autor destaca ainda que a desterritorialização pode ocorrer na
imobilidade. Justifica sua argumentação no fato de que os limites e as relações sociais de
um determinado território podem não ser definidos pelo grupo que o apropria, mas por
outro grupo que o domina.
A desterritorialização pode supor, por conseguinte, tanto a exclusão do grupo que
anteriormente apropriava aquele espaço, quanto o “[...] desenraizamento daqueles cuja
cultura foi arrasada [...]” (HAESBAERT, 2004, p.31). Em contrapartida, o processo de
desterritorialização já traz em seu bojo o processo de reterritorialização, que sugere a
incorporação de novos territórios, ou seja, a construção de uma nova territorialidade por
parte do grupo desterritorializado.
Já Raffestin29 discute estes conceitos inclusos no que denomina de "ecogênese
territorial" - entendida como um processo de tradução e transformação das formas
espaciais a partir de uma esfera semiotizada (semioesfera), ou seja: um processo de
semiotização do espaço, causado pela rapidez da informação que responde pelo
desaparecimento de centro e periferia uma vez que ela hoje homogeiniza o invólucro
espaço-temporal.
Ele considera que no passado, na ecogênese territorial dos países ditos desenvolvidos,
os territórios materiais concretos eram amplamente "regionalizados", ou seja, a regulação
intra-societária ainda fazia sentido. Nessas condições a territorialidade era ainda marcada,
pelo menos em parte, por relações que faziam dos lugares fontes de identidade. Em suas
palavras: "Havia uma coerência entre território e territorialidade porque havia uma

27
HAESBAERT, Rogério. O Mito da Desterritorialização: do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. 2. ed.
28
Ibid, p.79.
29
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

Carlos Eduardo da Silva Moraes Cardozo Página 13


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coerência entre a ação de uma sociedade e a semioesfera a qual ela se referia. Esta
relativa unidade se estilhaçou e o processo de territorialização-desterritorialização-
reterritorialização não é mais regulado do interior, mas do exterior. A territorialidade é
menos "espacializada" que "temporalizada" porque ela é comandada pela modernidade
em que 'a moda é o emblema' (Raffestin, 1993, p.8). E porque não dizer, ente os jovens,
também, a vida nas redes sociais. Ora, a modernidade se elabora somente em alguns
lugares que dispõem dos meios virtuais de uma difusão ultra-rápida. O território concreto
tornou-se menos significativo que o território informacional em matéria de territorialidade.
Também, há surgindo um novo modo de construção das identidades nacionais entre os
jovens. Esses fenômenos nos fazem reler também os conceitos clássicos de nação, identidade
nacional e consequentemente, de território.

7. À Guisa de Conclusão

Que reflexões podem suscitar o que foi até aqui exposto? Em resumo, neste trabalho
a proposta foi de examinar conceitos subjacentes às raízes de nação, identidade nacional e
territorialidade, discutindo as posições de alguns autores clássicos e contemporâneos.
Apresentou se ainda a inserção dos jovens no Brasil nas redes sociais como um exemplo em
que o processo desterritorialização foi potencializado a serviço de uma grande mudança
social, acionando-se um mecanismo de re-construção de um novo paradigma de
construção das identidades nacionais.
A base teórica que serviu de ponto de partida foi Benedict Anderson, associando
com o conceito de nação de Erick Hobsbawm. Ao longo da reflexão foi se fazendo
necessário agregar outros conceitos para além das ciências sociais, mas oriundos também
da geografia.
É evidente, conforme mostrou as pesquisas apresentadas neste trabalho, a inserção
dos jovens brasileiros nas redes sociais veiculadas na internet. Isso, consequentemente,
impacta na forma como estes jovens concebem o mundo.
Assim, conceitos clássicos das ciências sociais terão de ser relidos à luz desses novos
fenômenos. Conceitos como identidade nacional, nação e territorialidade se mesclam no
bojo dessas interações sociais no meio virtual. O conceito de nação atrelado a pertença ao
povo, doravante atrelado a um sentimento de nacionalidade, fortalecido, na visão do
Anderson, pelos jornais fica titubeante frente a uma juventude imersa numa suposta crise
do jornal impresso.

Carlos Eduardo da Silva Moraes Cardozo Página 14


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Em um texto clássico nos estudos de juventude, os jovens são tomados como sintoma
da cultura. Isso nos alerta a olhar e entender as manifestações juvenis que ali estão contidas
dinâmicas próprias da sociedade contemporânea.
Jovens que não são “problemas” nem “solução”, que vivem seu cotidiano e
procuram um espaço, um tempo, uma forma, uma linguagem para expressar seus desejos,
suas dores e alegrias, suas demandas e sentimentos, suas diferenças e diversidades,
buscando ser ouvidos, ou, simplesmente, ser visíveis. Que vivem e convivem com crianças,
adultos, idosos e constroem com eles os sentidos de suas narrativas e trajetórias de vida.
Que procuram espaços e tempos de autonomia, afirmação, resistência, entre as políticas e
os programas de controle e de “gestão da pobreza”, e a violência quotidiana com a qual
convivem. Espaços e tempos da pluralidade de sujeitos, experiências e trajetórias de vida.
Pluralidade que é, para Hannah Arendt, condição indispensável do agir político.

Carlos Eduardo da Silva Moraes Cardozo Página 15

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