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Resumo:
Abstract:
This work highlighted the political and intellectual contributions in the construction of
national identity during the Vargas Era. The formation of the Brazilian national identity has
the contribution of intellectuals and the press, in addition to state that strives in the
preparation of authentic Brazil, singular, far from European standards. Intellectuals acted as
mediators in the creation of identity and national memory, the state played an active role in
this process using aspects of popular culture, such as the radio, football and samba, to create
the feeling of national unity. It is during the 1930s that the state turns its attention to sports
practice that had gained the masses. Football goes then to be seen as a symbol of Brazilian
nationalism, element reaffirming the Brazilianness.
1
Trabalho de Iniciação Científica – VIC orientado pelo prof. Dr. Carlos Eduardo Souza de Carvalho, professor
do Curso de História, Universidade Federal de Mato Grosso.
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Keywords: National identity; Politicians- intellectual; Soccer.
O nacionalismo não nasce no Brasil, ele tem suas origens na França revolucionária.
Em fins do século XVIII a França era um país multirracial, com múltiplas línguas, no qual só
a menor parte da população falava o francês padrão. Este não era um problema político
urgente na visão dos reis, contudo os revolucionários de 1789 acreditaram que não se poderia
criar uma comunidade democrática sem misturar os povos e torna-los uma massa nacional.
Para homogeneizar a população francesa foram criados ambiciosos programas educacionais
com objetivo de erradicar as diferenças regionais, principalmente na linguagem. Estes
programas educacionais buscavam a criação de uma comunidade nacional coesa e unida.
2
Dicionário das Ciências Sociais, 2ª Edição. Editora: Fundação Getúlio Vargas, 1987. p.802.
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sua definição passa, então, a estar associada ao fruto do pensamento intelectual e
político de cada época da história dessa comunidade.3
Stuart Hall5 (2003) ao citar Benedict Anderson (1989) argumenta que as identidades
nacionais não estão naturalmente ligadas a questões da origem do indivíduo, mas são
construídas e modificadas de acordo com a representação da cultura nacional da qual este
sujeito participa e se sente participante.
3
GIACON, E. M. (novembro de 2011). Discussões sobre o conceito de identidade. AVE PALAVRA, p. 1.
4 Octavio Ianni (1992) aponta dois períodos, além da Independência, em que o “[...] Brasil foi pensado de modo
particularmente abrangente”: na Abolição e proclamação da República, e na Revolução de 30. Segundo ele, na
passagem do império para a República, o debate sobre “questões sociais” como a forma de governo mais
adequada para o país (monarquia ou república) e o abolicionismo estava colocado pelo menos duas décadas
antes dos acontecimentos propriamente ditos. Neste período circulavam também entre os intelectuais as ideias
positivistas e evolucionistas. Neste caldeirão de efervescência política e cultural – e a partir dele - é que atuam
personagens como Joaquim Nabuco, Clóvis Beviláqua, Rui Barbosa, Machado de Assis, Sílvio Romero, Nina
Rodrigues, Tobias Barreto e outros. Especialmente no final do século, a República e a Abolição da escravatura
colocaram desafios ao reordenamento político e social [...] Mais do que nunca a literatura torna-se instrumento
de ação política, o meio de difundir os ideais laicos, progressistas e liberais, função social que exerce
abertamente, rompendo com o que restava de Romantismo subjetivista, lírico e idealizado, que deveria ser
substituído pela retórica da ciência, ou pela dos salões literários e políticos (Madeira, Veloso, 1999: 77). Mais
uma vez o movimento concomitante entre renovação política e cultural, com finalidade última criar a nação
brasileira, está presente na elite intelectual. Este ideal não deixará de existir no início do XX, marcado, mais uma
vez, pela discussão da questão nacional.
5 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
6 ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 5ª Ed., 9ª reimpressão 2006.
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construído, portanto, a identidade nacional é uma comunidade imaginária, uma representação,
um discurso.
Contudo não é irreal, o sentimento de pertencer a esta comunidade imaginária nos faz
agir, por várias vezes, em coletivo. Partindo da discussão teórica, abordamos neste trabalho a
construção da identidade nacional como um elemento discursivo associado a criação da
comunidade imaginária que gera no individuo o sentimento de consciência de grupo, isto é, o
nacionalismo.
O Estado teve seu papel como ativo neste processo de construção da identidade
recorrendo a aspectos da cultura popular, como por exemplo, o rádio, o futebol e o samba,
para criar o sentimento de unidade nacional. O movimento de construção da identidade
nacional passa pela criação de símbolos nacionais, algo que comprove/fortaleça a existência
de um Estado. Uma nação deve apresentar um conjunto de elementos simbólicos e materiais:
uma história, que estabelece uma continuidade com os ancestrais mais antigos; uma série de
heróis, modelos das virtudes nacionais; uma língua; monumentos culturais; um folclore;
lugares importantes e uma paisagem típica; representações oficiais, como hino, bandeira,
7
HANNA, Fábio Tadeu Vighy, Caio Padro Jr. E Oliveira Vianna: Interpretações do Brasil e Projetos Políticos
para a modernização brasileira. AKRÓPOLIS – Revista de ciências Humanas da UNIPAR.
8 Mônica Pimenta Velloso afirma que “A relação dos intelectuais com o sistema de poder tem sido
extremamente imbricada e complexa, uma vez que, ao longo da história, eles frequentemente se atribuíram a
função de agentes da consciência e do discurso”. (VELLOSO, Mônica Pimenta. Os intelectuais e a política
cultural no Estado Novo. In: O Brasil Republicano 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013. 146-179).
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escudo; identificações pitorescas, como costumes, especialidades culinárias, animais e
árvores-símbolo9.
É neste contexto histórico que são formuladas pela primeira vez, no regime
republicano, as políticas culturais na ótica de preservação e criação do nosso patrimônio
histórico. Há um processo de incorporação de valores culturais populares nos símbolos
nacionais por parte dos grupos hegemônicos. Ao destacarmos a participação dos intelectuais
com o projeto invenção do Brasil devemos nos atentar para a propaganda política e a
educação no governo Vargas, em especial do Estado Novo. Os intelectuais, ao apresentarem-
se como o grupo mais lúcido da sociedade buscava “educar” o povo. Englobando essa
“educação” da coletividade reconhecemos como estratégia de atuação Departamento de
Impressa e Propaganda (DIP).
9
THIESSE. Anne-Marie. La création des identités nationales. Europe XVIIIe - XXe siècle. Paris: Editions du
Seuil, 1999, p. 14.
10
VELLOSO, Monica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. In: Brasil Republicano 2.
Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: 2013, p. 153.
11
CURY, Cláudia Engler. C949p Políticas culturais no Brasil: subsídios para lembrar construções de brasilidade
/ Cláudia Engler Cury. – Campinas, SP: [s.n.], 2002.
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Em 1937, por meio constitucional a impressa passa a ser subordinada ao poder
público, acredita-se que com essa subordinação o Estado iria garantir a comunicação direta
entre governo e sociedade sem a necessidade de “intermediários nocivos ao progresso”. No
projeto educativo proposto pelo Estado Novo, o Estado aparece como único interlocutor
legítimo para falar com e pela sociedade. Fica claro então, o empenho do governo no sentido
de utilizar as manifestações da cultura popular como canal de disseminação da ideologia
oficial. Comenta Velloso:
Durante a Era Vargas foram criados diferentes instrumentos de educação coletiva com
intuito de promover o ensino de bons hábitos. O indivíduo no novo Estado Nacional passa a
ser “educado” pelo rádio, cinema, esporte, música popular. A cultura popular é usada para
singularizar o Brasil, um aspecto relevante no projeto cultural estado-novista é a
reconceituação do popular e a exaltação do sentido positivo de popular. De acordo com
Velloso:
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brasileira. E a sociedade, pelos olhares intelectuais, é um corpo fragmentado e conflituoso.
Sendo assim, os intelectuais são o cérebro capaz de fazer funcionar de forma correta e
harmônica o organismo social. Se até então o nacionalismo era uma preocupação das elites
intelectuais, agora ele (nacionalismo) passa a ser também uma tarefa do Estado. Nota-se
então uma união entre as elites intelectuais das mais diversas correntes de pensamento e as
elites políticas. Vargas argumentava que somente a partir da década de 1930 é que teria sido
operada a “simbiose necessária entre homens de pensamento e de ação”15.
O ponto notável nesta simbiose entre pensamento e ação pode ser caracterizado com
fusão entre cultura e política. Além de pensar o Brasil os intelectuais passam a fazer parte do
processo de formação deste Brasil ocupando cargos-chave na burocracia do Estado. Nomes
como Lúcio Costa (Arquiteto indicado para direção da Escola Nacional de Belas Artes, em
1930) passam a integrar o governo, podemos citar também Manuel Bandeira (Convidado em
1931 para presidir o Salão de Belas Artes).
15
VELLOSO, Monica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. In: Brasil Republicano 2.
Civilização Brasileira. Rio de Janeiro: 2013 p. 178.
16
GRAHAM, R. Grã-Bretanha e o início da modernização no Brasil: 1850-1914. São Paulo: Brasiliense, 1973.
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O futebol sofre o declínio de sua elitização somente nos anos 1930, consequentemente
aderindo o profissionalismo, antes disso ele é praticado pela elite. Na trajetória inicial do
futebol no Brasil dificilmente o esporte teria a chance de ser popularizado, pois, os ingleses
faziam parte da elite carioca e/ou paulista, além disso, é necessário considerar também que os
materiais usados no jogo eram em sua maioria importados, o que tornava o jogo uma
atividade esportiva para a alta sociedade inglesa – residente no Brasil e para a os brasileiros
ricos.
A partir do movimento de criação de clubes o futebol “cai nos pés do povo”, deixando
de ser um mero divertimento de ingleses e seus descendentes. Os seguidores sem colarinho e
gravata propuseram formar sua própria equipe e fundar seus próprios clubes, por vários
caminhos o futebol “cai na graça do povo”, se tornando uma prática popular. Passa a ser cada
vez mais comum o futebol de várzea, no subúrbio e até nas fabricas, rompendo as barreiras
geográficas e sociais.
Devemos evidenciar que este processo de elevação das práticas culturais a símbolos
nacionais aconteceu ao longo do governo de Getúlio Vargas. O futebol havia se tornado a
maior paixão entre as camadas populares, e antes de sua regulamentação, em abril de 1941,
ele sofre várias interferências do Estado. O maior interesse de Getúlio no esporte era a
17
CALDAS, Waldenyr. Pontapé inicial: Memória do futebol brasileiro. São Paulo: Ibrasa, 1990.
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influência que o futebol tinha sobre as massas, a popularidade do esporte se apresentava como
um novo meio para propagar a ideologia oficial. Segundo Drumond (2009, p. 234) 18
O esporte atuaria então como mais um elo de contato entre o governo e as massas.
Atuando junto ao sentimento nacional, ele projetaria uma imagem de sucesso
internacional da “raça” pátria. O sucesso da Copa de 1938 fez o governo enxergar os
fracassos de 1932, 1934 e 1936 e perceber o potencial simbólico a ser aproveitado.
Getúlio Vargas fez uso do futebol com ferramenta de propagação de ideais políticos
entre as massas. Podemos notar que a impressa foi um importante veículo de propaganda e
controle das massas utilizado por Vargas, e serviu também para popularizar a ideia do Brasil
como o “país do futebol”. Na formação da identidade nacional e do nacionalismo durante o
governo getulista o futebol é apresentado nos jornais como uma unidade em harmonia, sem
conflitos e sendo um esporte coletivo. O esporte das massas torna-se o reflexo da unidade que
se buscava no Brasil durante a Era Vargas. O futebol e a política se entrelaçam neste período
e a imprensa – controlada pelo Estado – tem o papel de disseminar o “país do futebol”
autêntico, singular e com identidade própria.
Considerações finais
18
DRUMOND, M. Vargas, Perón e o esporte: propaganda política e a imagem da nação. Estud. hist. (Rio J.)
vol.22 no.44 Rio de Janeiro July/Dec. 2009
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