Samuel Alves Sena
Samuel Alves Sena
Samuel Alves Sena
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares, que nunca mediram esforços, amor e carinho para
me proporcionar as melhores oportunidades.
PÁGINA DE APROVAÇÃO
RESUMO
ABSTRACT
To present monograph it evidences the legal aspects doctrinal and grammatical that
influence the creative process of interpretation of the norms of Tributary Right. The
analysis of the subject holds incursions in the seara of the publish and private rights.
In a first moment, it was necessary to define the basic concepts, starting points for
the understanding of the employed terms along the work. The meaning was defined,
for the work, of interpretation, integration and application of the juridical norms, of
antinomia among norms, of correction of the Right and of juridical hermeneutics. The
used methodology is essentially bibliographical and indirect, being used of books,
scientific goods, data obtained through Internet and orientations legal guidelines for
the courts. Established the meaning of the employed word-key in elapsing of the
book, started for the analysis of the legal constants rules of the articles 107 to 112
and 118 of the National Tributary Code In that chapter, it was sought not only to
evaluate that forms they influence the interpreter in the interpretation's process of the
other tributary norms, as well as to supply the best interpretation of those norms. The
third chapter is layed hold to the understanding of the several methods or
interpretation procedures condensed by the Science of the Right and of the premises
that influence the interpretation of the tributary laws. Basically traced a parallel
among what said the theory and the practical application of those concepts in the
field of the Tributary Right. It closes up the book doing a general of the interpretation
process, for later to end that the interpreter, in spite of enjoying of freedom in the
creative process of interpretation of the norms of Tributary Right, has your activity by
the legal rules, concerning to the interpretation, foreseen in the National Tributary
Code, besides not being able to the same to stand back of the basic premises, of the
beginnings, of the methods or interpretative procedures condensed by the Science of
the Right, because true juridical interpretation doesn't exist out of the established
values for the ordenament.
AG - Agravo
ART. - Artigo
CF - Constituição Federal
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
COFINS - Contribuição para Financiamento da Seguridade Social
CPC - Código de Processo Civil
CTN - Código Tributário Nacional
DJU - Diário da Justiça da União
ITBI - Imposto de Transmissão de Bens Imóveis
LICC - Lei de Introdução ao Código Civil
Min. - Ministro
1ª T. - Primeira Turma
Rel. - Relator
RP - Representação
REsp. - Recurso Especial
RExt. - Recurso Extraordinário
STF - Supremo Tribunal Federal
STJ - Superior Tribunal de Justiça
TRF4 - Tribunal Regional Federal da 4ª Região
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................13
1.2.1 Lacuna.............................................................................................................21
CONCLUSÃO... ........................................................................................................78
INTRODUÇÃO
pois, despir-se das velhas teorias que pregam a permanente utilização das máximas:
a favor do fisco ou a favor do contribuinte, pois constituem uma inadmissível
limitação do processo lógico representado pela interpretação da lei.
Defende-se, portanto, a liberdade do intérprete. Não a liberdade
decorrente da aleatória análise da letra da lei, pois as palavras são símbolos e, como
tais, ficam sujeitas a determinadas opções que se dão em função de uma atitude
psicológica e valorativa do intérprete. A liberdade defendida nesta monografia terá
como limites os métodos e sistemas condensados pela ciência jurídica, através da
hermenêutica.
Os conceitos operacionais, na definição de Miguel Reale, devem distinguir-
se em três conceitos técnicos distintos: interpretação, integração e aplicação da lei.
Para aplicar o Direito, precisa-se, antes, interpretá-lo. “A aplicação é um exercício
condicionado a uma prévia escolha entre as várias interpretações possíveis”.1
Denomina-se aplicação da lei a atividade pela qual o caso concreto é
enquadrado em uma norma jurídica adequada. “É fazer com que a relação da vida
2
real se subsuma à determinada regra existente na ordem normativa.” No direito
tributário a aplicação se dá, seja mediante atividade dos contribuintes no sentido de
cumprir a lei, seja pela ação do Fisco e dos Tribunais às violações das normas. A
primeira é a aplicação voluntária do direito tributário, a segunda, a forçada.
Entretanto, para a aplicação de uma norma jurídica a um caso concreto, é
necessário, primeiro, determinar-se seu conteúdo e alcance, através da
interpretação. Interpretação, na visão de MACHADO:
3
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 20 ed. São Paulo: Malheiros,
2002. p. 92.
4
CARVALHO, Paulo de Barros apud RIBEIRO, op. cit. p. 225-226.
5
ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Financeiro e Tributário. 16 ed.
Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 464.
6
K. ENGISCH apud TORRES, Ricardo Lobo. id. ibid. p. 25.
7
PAULICK apud TORRES, Ricardo Lobo. id. ibid. p. 25.
8
SAVIGNY apud TORRES, Ricardo Lobo. id. ibid. p. 25.
16
9
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19 ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001. p. 1.
17
10
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991. p. 31-32.
11
CARRAZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 16ª. Ed. São
Paulo: Malheiros, 2001. p. 35-46.
12
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição, Código Tributário e Lei de
Execução Fiscal à luz da doutrina e da jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2002. p. 606.
13
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 98.
18
14
Ibidem, p. 90.
15
Ibidem, p. 98.
16
MORAES apud RIBEIRO, Maria de Fátima,1998, p. 227.
19
especial o art. 5° o qual estabelece que o Juiz, na aplicação da lei, atenderá os fins
sociais a que ela se destina e às exigências do bem comum. Conforme adiante
veremos, essa norma encerra o método teleológico, ao mandar observar a finalidade
para a qual foi elaborada a lei. 18
17
SOUZA apud RIBEIRO, Maria de Fátima,1998, p. 231.
18
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 673.
19
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 58.
20
ou os classifica sob o ponto de vista fiscal. Tais empréstimos são, por vezes,
indispensáveis, posto que o Direito Privado mais antigo, na sistematização de regras
escritas e lógicas, tem maior perfeição técnica e dispõe, por isso, de maior riqueza
de instrumentos. Enquanto que o Direito Público, em especial o Constitucional, é
infinitamente mais novo e menos aprimorado pela doutrina. 21
20
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 104.
21
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 681.
22
BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. O Planejamento Fiscal e a Interpretação no Direito
Tributário. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 131.
23
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 678.
21
1.2.1 Lacuna
24
CARVALHO apud PAULSEN, Leandro, 2002, p. 607.
25
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 46-47.
26
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 15ª. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2003, p. 434.
27
KELSEN apud DINIZ, Maria Helena, 2003, p. 435.
22
28
KELSEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, Tradução Luís Carlos Borges, 2ª
ed., São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 436-437.
29
SOUZA apud TORRES, Ricardo Lobo, 1991, p. 53.
30
XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil, 5ª ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2002, p. 44.
23
31
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 15ª. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2003, p. 445.
32
Proibição ao non liquet.
33
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 15ª. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2003 p. 447.
34
CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento Sistemático e Conceito de Sistema na Ciência
do Direito. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,1996, p. 145.
35
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 43.
24
36
Ibidem, p. 44; “a contratio sensu”: argumento lógico utilizado no processo de
interpretação. Significa “presume-se, mediante oposição, uma solução contrária à legal para
o que não está expresso no texto normativo” (Campaz, p. 34).
37
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 678.
38
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro, p. 462; RIBEIRO, Maria de Fátima, p. 240.
25
39
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 48-50.
40
CARVALHO, Paulo de Barros, apud PAULSEN, 2002, p. 607.
41
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, p. 678.
42
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 50.
43
a fortiori: argumento axiológico de interpretação que “representa a passagem de uma
proposição para a segunda, para a qual devem valer as mesmas razões da primeira e ainda
com maior força. A razão subjacente não é a semelhança, (...) mas sim o fundamento de
mérito ou a identidade de razões entre as hipóteses. Tal argumento está expresso no dito
popular segundo o qual ‘quem pode o mais, pode o menos’.” Campaz, 36.
26
44
Nogueira salienta que os momentos de integração são muito raros no
Direito Tributário, porque as peculiaridades desse ramo do Direito, como direito de
intervenção no patrimônio de particulares, levou o Estado de Direito a dar muito
maior importância ao texto legal.
Discorda-se, no entanto, desse posicionamento. Justifica-se que, apesar do
Sistema Tributário Brasileiro ser eminentemente positivista, diante de imposições
tributárias, para todas as demais questões, ele está aberto à possibilidade de
integração, conforme adiante exposto.
1.2.3.1 Analogia
Ferrara afirma que “analogia não é criação de Direito novo, mas descoberta
de Direito existente.” Realmente, apesar do Direito Positivo não apresentar
disposições específicas para todos os casos, ele contém força intrínseca, bem como
os germes de uma série infinita de normas não expressas, mas latentes no sistema.
Se de uma só norma ou de um grupo de normas se deduz um princípio jurídico
amplo, forçoso é concluir que tal princípio possa ser aplicado a um caso particular
não regulado, uma vez que a ordem jurídica o aprova em sua generalidade. 45
A analogia consiste na aplicação de um princípio jurídico que a lei põe para
certo fato a outro não regulado, mas semelhante ao primeiro. Diante de casos que o
legislador não cogitou, o intérprete busca regulá-los no sentido em que o legislador
os teria decidido se neles tivesse pensado.
46
Ferrara diz que a analogia pode ser de dois tipos: analogia legis, quando
decide-se um caso não regulado segundo uma norma que rege um caso afim, trata-
se de aplicação por semelhança (indução) e analogia juris, quando inexiste essa
disposição afim, mas ela é construída a partir da combinação de várias normas que
44
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 99.
45
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 56.
46
Ibidem, p. 51.
27
47
WARAT, Luiz Alberto. Introdução Geral ao Direito. v. 1. Porto Alegre: Fabris, 1994., p.
302.
48
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 53.
49
WARAT, Luiz Alberto,1994 p. 301, 303. “trata-se do poder capaz de impor significações
como legítimas, dissimulando as relações de força que estão no fundamento da própria
força.” O emissor, no caso, o intérprete, exerce no receptor poder de controle: o receptor
conserva as suas possibilidades de interpretar, mas age conforme o sentido determinado
pelo emissor. Na verdade, o emissor neutraliza as alternativas de ação do receptor, fazendo
com que as suas alternativas não contem, não sejam levadas em consideração. (Warat, p.
276)
50
Ferrara, p. 51.
51
No FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder,
2002, p. 100.
28
52
CAMPAZ, Walter. Direito: Interpretação, Aplicação e Integração. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2001, p. 64.
53
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 55.
54
CAMPAZ, Walter. Direito: Interpretação, Aplicação e Integração. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2001, p. 62.
55
Onofre cita Holanda, Bélgica e Japão, p. 149.
56
NOGUEIRA, Rui Barbosa, apud PAULSEN, 2002, p. 608.
57
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 99.
29
intérprete e aplicador do direito (Paulo Elias Sá – a lei pode ser mais sábia que o
legislador). Nesse sentido, Torres confirma:
Rui atribui que os princípios gerais de direito tributário são aqueles que
resultam de todo o sistema jurídico tributário brasileiro, sendo que muitos estão na
58
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 65.
59
BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. O Planejamento Fiscal e a Interpretação no Direito
Tributário. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 144-145.
60
Ibidem, p. 149-152.
30
61
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 102.
62
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19ª. Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 241.
63
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 49.
64
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19ª. Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 465.
31
67
Segundo Balleiro , a utilização dos princípios de Direito Tributário e de
Direito Público é a seguinte: os princípios de direito tributário “consistem na primeira
base do método sistemático, pela qual os pontos silentes, obscuros ou contraditórios
duma lei do imposto (talvez do tributo) se completam, esclarecem-se ou se corrigem
pelas leis de outros tributos ou pelas regras básicas do CTN.” 68
Já os princípios gerais de direito público reservam uso prudente, para os
casos novos ou excepcionais. 69
Eliana70 diz que os princípios gerais de direito público tem origem na
Constituição e menciona alguns deles, como a vedação da utilização de tributo com
65
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 15ª. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2003, p. 459.
66
RIBEIRO, Maria de Fátima. Legislação tributária in NASCIMENTO, Carlos Valder do
(coord.). Comentários ao Código Tributário Nacional. 3ª. Ed. Rio de Janeiro, Forense,
1998, p. 243.
67
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 191.
68
O próprio CTN estatui a aplicação de regras de um tributo a outros, como por exemplo,
arts. 74 e 75.
69
RIBEIRO, Maria de Fátima. Legislação tributária in NASCIMENTO, Carlos Valder do
(coord.). Comentários ao Código Tributário Nacional. 3ª. Ed. Rio de Janeiro, Forense,
1998, p. 243.
70
ALVES, Eliana Calmon, 4 ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2007, p. 463.
32
1.2.3.4 Eqüidade
71
RIBEIRO, Maria de Fátima. Legislação tributária in NASCIMENTO, Carlos Valder do
(coord.). Comentários ao Código Tributário Nacional. 3ª. Ed. Rio de Janeiro, Forense,
1998,, p. 244.
72
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 682.
73
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 15ª. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2003, p. 245.
74
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 59.
33
Salienta ainda que a eqüidade de integração não é muito importante para o Direito
Tributário, pois somente atua quando há “conceitos indeterminados, cláusulas
gerais, discricionaridade administrativa ou judicial, consciente ou inconscientemente
colocadas pelo legislador” 75, o que são raras dentro de um campo que prima pela
utilização de conceitos determinados e enumerações taxativas.
Já a eqüidade como forma de correção do direito surge no art. 172, IV do
Código Tributário Nacional, em que a autoridade administrativa é autorizada a emitir
juízo de eqüidade com relação às características pessoais ou materiais do caso e
conceder remissão, abrandando a letra fria da lei. 76
E continua o autor a dizer que a eqüidade atua não só como forma de
integração e correção, mas como forma de interpretação, o que influi na
interpretação de qualquer norma do Direito Tributário, em especial, nas penalidades
fiscais previstas no art. 112 do Código. 77
Conclui que, sendo a eqüidade do art. 108, forma de preenchimento de
lacunas, certamente não poderia haver dispensa de tributo (§ 2°). No caso de a
eqüidade visar a correção, autorizada no art. 172, IV, CTN, poderá resultar na
dispensa do tributo devido. 78
79
Diniz , ao contrário, fala que eqüidade é forma de integração, ainda que
vise corrigir o texto legal, porque considera que a inadequação dos dispositivos
legais às circunstâncias seria forma de lacuna a ser suprida.
Na verdade, a divisão de Torres80 é bastante esclarecedora, embora não se
tenha encontrado outros autores que se preocupassem em diferenciar, com tamanha
clareza, como a eqüidade age em cada campo: na interpretação, na integração e na
correção. Os diversos autores consultados ocupam-se somente em tratar a eqüidade
como forma de supressão de lacunas. Alguns autores consideram lacuna a
inadequação da lei ao caso concreto e outros apenas a admitem enquanto na
supletiva de lacunas e a consideram imprestável quando dispensa de tributos,
embora se ressalve o art. 172, IV.
75
Ibidem, p. 59-60.
76
Ibidem, p. 61.
77
Ibidem, p. 58-59, 68.
78
Ibidem, p. 68.
79
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 15ª. Ed. São
Paulo: Saraiva, 2003, p. 465-470.
80
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 103-104.
34
81
DINIZ apud RIBEIRO, Maria de Fátima,1998 p. 249.
35
Geraldo Ataliba, citado por RIBEIRO 82. Se o legislador não dá esse tipo de abertura,
não caberá ao intérprete aplicar a analogia (vedação § 1º, art. 108, CTN) para
adequar uma norma dita ultrapassada.
Os conceitos acima, muito repetidos pelos doutrinadores, são vazios se
desvinculados da prática. Dessa forma, importante mencionar aqui o julgamento do
Superior Tribunal de Justiça, do ano de 2000, onde restou decidido que a Cofins não
incide sobre bens imóveis, uma vez que "mercadoria", conceito de direito privado
83
adotado pelo legislador tributário, é bem móvel . Se o legislador instituidor da
Cofins quisesse que esta incidisse também sobre bens imóveis, teria tipificado a sua
incidência. O raciocínio da Administração, ao interpretar a lei e visar sua aplicação,
tanta alcançar os negociantes de imóveis, e os conduz à categoria de mercadores
de imóveis. Como se viu, essa tentativa foi frustrada, uma vez que já assentado no
direito privado que mercadoria é bem móvel.
O exemplo clássico da utilização de institutos privados no Direito Tributário é
a questão da compensação dos tributos que personifica todo o art. 109 do Código
Tributário.
Desde a edição do Código Tributário Nacional, que a compensação é
classificada como forma de extinção do crédito tributário. Entretanto, o art. 170, do já
citado diploma, impõe a necessidade de lei para fixação das condições e garantias.
De forma que, embora o legislador tributário houvesse buscado o instituto da
compensação no direito privado, não se podia aplicar à compensação tributária os
artigos 1.009 e seguintes do Código Civil, mesmo na ausência da regulamentação
preconizada pelo art. 170, CTN. Essa tese foi vencedora em todos os tribunais, já
que o legislador, mesmo quando se utiliza do conceito de direito privado, pode impor
restrições, que afetem os efeitos tributários.
A regulamentação do art. 170, CTN só veio a acontecer 25 anos depois, com
o art. 66, Lei nº 8.383/91, redação da Lei nº 9.069/95. De acordo com o próprio art.
170, CTN, há necessidade do crédito do contribuinte contra a Fazenda ser líquido e
certo. Desse modo, conforme § 4º do art. 66 da Lei 8.383/91, tanto a Secretaria da
82
RIBEIRO, Maria de Fátima. Legislação tributária in NASCIMENTO, Carlos Valder do
(coord.). Comentários ao Código Tributário Nacional. 3 ed. Rio de Janeiro, Forense,
1998. p. 233. 82 REsp 179723/MG, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJU, 02/05/2000,
p. 131.
83
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp. 179723/MG, Diário de Justiça da União.
Rel. Min. Francisco Peçanha Martins. Brasília 02 de maio 2000, p. 131.
36
84
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp. 143201/SP. Diário de Justiça da União.
Rel. Min. José Delgado. Brasília 24 de Agos.1998 , p. 14.
85
CARRÁ, Bruno Leonardo Câmara. Aplicação de Conceitos de Direito Privado em
Direito Tributário. Disponível em <http://www.fesac.org.br/revist01_art12.html> Acesso em:
15 de jul. 2008.
37
A decisão citada acima diz respeito à Lei nº 7.789/89, que tentou dar uma
alcance maior à expressão "folha de salários", contida no art. 195, I, a, da
Constituição Federal, ao dizer que os autônomos contratados pelas empresas teriam
seus serviços satisfeitos, através da folha de salários e, via de conseqüência,
86
TRIBUTÁRIO. ARTIGO 110 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. O artigo 110 do
Código Tributário Nacional apenas impede que, modificando a natureza do instituto de
Direito Privado, o legislador usurpe competência que a Constituição Federal reservou a
outrem; essa norma não tem qualquer aplicação, quando se trata de lei federal dispondo
sobre o lucro de pessoa jurídica, que é fato gerador de imposto federal (se a lei abandonou
o conceito de lucro adotado no Direito Privado, sua validade deve ser aferida à luz do artigo
109 do Código Tributário Nacional). Recurso especial não conhecido. REsp. 173.240/PR,
Rel. Min. Ari Pargendler, DJU 07/06/1999, p. 93.
87
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RExt. 94580/RS. Diário de Justiça da União. Rel.
Min. Djaci Falcão. Brasília 07 de Jun.1985, p. 8890.
38
Paulo de Barros Carvalho faz severa crítica ao dispositivo, pois diz que não
se pode lançar mão, isoladamente, da técnica de interpretação literal, sob pena de
não se apreender o verdadeiro conteúdo da norma. 91
88
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RExt. 94580/RS. Diário de Justiça da União. Rel.
Min. Djaci Falcão. Brasília 07 de Jun.1985, p. 8890..
89
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RP 1211/RJ. Diário de Justiça da União. Rel. Min.
Octavio Gallotti. Brasília 05 de Jun.1987, p. 11112.
90
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RExt. 116121/SP. Diário de Justiça da União. Rel.
Min. Marco Aurélio. Brasília 25 de maio 2001, p. 17.
91
CARVALHO, Paulo de Barros, apud PAULSEN, p. 615.
39
92
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 99.
93
Vide capítulo seguinte, sobre interpretação literal e sua utilização como ponto de partida
na interpretação das normas jurídicas.
94
Vide capítulo seguinte, tópico referente à interpretação declarativa.
95
Detalhes no capítulo posterior, no subitem pertinente.
96
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 109.
97
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 102-103.
40
Ocorre que o elemento literal, como por nós várias vezes afirmado, é
absolutamente insuficiente. Assim, a regra do art. 111 do Código
Tributário Nacional há que ser entendida no sentido de que as
normas reguladoras das matérias ali mencionadas não comportam
interpretação ampliativa nem integração por eqüidade. Sendo
possível mais de uma interpretação, todas razoáveis, ajustadas aos
elementos sistemático e teleológico, deve prevalecer aquela que
mais se aproximar do elemento literal. O elemento literal é de
pobreza franciscana, e utilizado isoladamente pode levar a
verdadeiros absurdos, de sorte que o hermeneuta pode e deve
utilizar todos os elementos da interpretação, especialmente o
elemento sistemático, absolutamente indispensável em qualquer
trabalho sério de interpretação, e ainda o elemento teleológico, de
notável valia na determinação do significado das normas jurídicas. 98
Para Onofre, Maria e Nogueira, esse artigo quer dizer que as normas que
outorgam benefícios fiscais não admitem interpretação extensiva, muito menos
interpretação analógica, devendo prevalecer o sentido mais próximo da literalidade
99
da lei. Onofre frisa que esse entendimento vem ao encontro do tratamento dos
benefícios fiscais pela CF/88 a qual, no art. 150, § 6º, agrava o princípio da
legalidade e exige lei específica para veicular normas desagravadoras. Nogueira
menciona as disposições do próprio CTN, arts. 97, VI, 113, § 2° e 176.
Na verdade, o dispositivo não restringe apenas a interpretação extensiva, o
emprego da analogia e da eqüidade, pois assim prescreveria, caso quisesse. O
objetivo do artigo foi, sem dúvida, o de afastar os demais métodos e processos de
interpretação, e prevalecer o método literal. Ocorre que, nem sempre, a leitura do
texto interpretado propicia a sensação de se obter do texto tudo o que o legislador
quis dizer100. Nesse caso, o dispositivo não veda o recurso a outros métodos
interpretativos, desde que, das interpretações possíveis, prevaleça aquela que o
101
mais adequado relacionamento guarde com a interpretação literal. E entende-se
98
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 12ª. Ed. São Paulo: Malheiros,
1997, p. 82.
99
Onofre,2002 p. 142; Ribeiro,1998 p. 252; Nogueira,1999 p. 90.
100
Sobre interpretação literal, ver capítulo seguinte.
101
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 3 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1999, p. 469.
41
a rigidez do legislador, posto que, o rol constante dos incisos traz matérias de nítido
cunho excepcional. 102
A isenção tributária, por exemplo, revela conveniência política, busca a
concretização de interesses econômicos e sociais, beneficia e estimula
determinadas situações merecedoras de tratamento privilegiado. Por esse motivo, é
insuscetível de controle, por parte do Poder Judiciário, que deve abster-se de
estender os benefícios fiscais às situações não abrangidas pela norma. 103
Enquanto exceção ao princípio constitucional de que todos são iguais
perante a lei, a isenção constitui-se exceção, razão pela qual o intérprete deve ater-
se exclusivamente dentro dos limites de sua letra. Daí a regra do art. 177, CTN, a
dispor que, salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é extensiva às taxas,
à contribuição de melhoria e aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão.
104
Com relação às obrigações acessórias, vê-se que o art. 175, parágrafo único
do CTN vem ao encontro do inciso III mencionado acima, ao estabelecer que a
isenção ou anistia - formas de exclusão do crédito tributário - não dispensam o
cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo
crédito seja excluído, ou dela conseqüente. Isso quer dizer: somente a lei poderá
dispensar o cumprimento de obrigações acessórias, ainda que a obrigação principal
tenha sido excluída ou suspensa. Nem mesmo a imunidade dispensa o cumprimento
de obrigações acessórias e do dever geral de colaborar com a fiscalização (arts. 14,
III e 194, parágrafo único, CTN). 105
Deve-se observar que, na prática dos Tribunais, o disposto no artigo em
estudo é, por vezes, flexibilizado. Fenômeno característico e muito discutido ocorreu
com o alargamento das hipóteses de suspensão do crédito tributário, previstas no
próprio Código Tributário Nacional, art. 151, anteriormente à edição da Lei
Complementar 104/2001.
Em que pese o disposto no art. 111, I, no sentido de que a legislação
tributária deve ser interpretada literalmente quando se trata de causas de suspensão
102
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro, 1999, p. 469 e MACHADO, Hugo de Brito,1997, p. 82.
103
ESCOBAR, Des. Tânia, TRF 4a, acórdão março 2000, apud PAULSEN, p. 616.
104
ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Financeiro e Direito Tributário.
10ª. Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 432.
42
105
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição, Código Tributário e Lei de
Execução Fiscal à luz da doutrina e da jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2002, p. 616.
106
O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem
sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nessa Lei, fora dos quais não
podem ser dispensadas, sob pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua
efetivação ou as respectivas garantias.
107
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição, Código Tributário e Lei de
Execução Fiscal à luz da doutrina e da jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2002, p. 731.
108
Ibidem, p. 732.
43
109
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 12ª. Ed. São Paulo: Malheiros,
1997, p. 82.
110
ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Financeiro e Direito Tributário.
10ª. Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 433.
111
TORRES, Ricardo Lobo, p. 110-111; ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio, p. 433.
112
COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 3 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1999, p. 474.
113
RIBEIRO, Maria de Fátima. Legislação tributária in NASCIMENTO, Carlos Valder do
(coord.). Comentários ao Código Tributário Nacional. 3ª. Ed. Rio de Janeiro, Forense,
1998, p. 252.
44
114
Art. 97, CTN – Somente a lei pode estabelecer: (...) V – a cominação de penalidades para
as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela
definidas; (...)
115
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 83.
116
ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Financeiro e Direito Tributário.
10ª. Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 433
117
Art. 136, CTN – Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da
legislação tributária intedende da intenção do agente ou do responsável e da efetividade,
natureza e extensão dos efeitos do ato.
45
a teoria subjetiva, aquela que leva em conta a intenção (dolo) ou culpa do agente
para a consideração das penalidade e infrações. 118
Parece, no entanto, que o art. 136 não previu a responsabilidade objetiva,
sendo que o art. 112 só corrobora tal assertiva. Com efeito, o art. 136 não diz que a
responsabilidade por infrações independe de culpa, ele diz que independe da
119
intenção, e a intenção significa vontade, ou dolo de lesar o fisco. Daí porque o
art. 136 não prescinde a existência de culpa. Conseqüentemente, não se pode dizer
que existe infração à lei tributária se não há ao menos culpa. Apóia-se na lição de
Nogueira, a qual se transcreve:
Portanto, o que o art. 136, em combinação com o item III do art. 112,
deixa claro é que para a matéria da autoria, imputabilidade ou
punibilidade, somente é exigida a intenção ou dolo para os casos das
infrações fiscais mais graves e para as quais o texto de lei tenha
exigido esse requisito.
Para as demais, isto é, não dolosas, é necessário e suficiente um
dos graus de culpa. De tudo isso decorre o princípio fundamental e
universal, segundo o qual se não houve dolo nem culpa, não existe,
em nosso sistema, a arqueológica ‘responsabilidade objetiva’ ou
infração sem culpa. 120
118
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 111-112.
119
AMARO, Luciano, apud PAULSEN, 2002, p. 677.
120
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 106-107.
121
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 114.
46
122
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 1973.
123
CALMON, Sacha, apud ONOFRE, 2002, p. 118.
124
Validade, invalidade, nulidade, anulabilidade ou mesmo anulação judicial já decretada
dos atos jurídicos.
47
deixará de ter repercussões tributárias tanto que anulado, ou inversamente, que será
tributado se inválido mas eficaz.” 125
O inciso I ainda preconiza que a ilicitude dos atos praticados nada tem a ver
126
com a relação tributária. Isso não implica admitir, segundo Machado , a tributação
de atos ilícitos. São diferentes as seguintes situações: ato ilícito como elemento da
hipótese de incidência do tributo e ilicitude eventualmente verificada na ocorrência
do fato gerador. Uma coisa é a venda de drogas como hipótese de incidência de um
tributo, outra é se admitir a incidência de imposto de renda sobre os rendimentos
auferidos na referida atividade. Nesse caso, tem-se que a hipótese de incidência do
imposto de renda é a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica de renda
ou proventos de qualquer natureza (art, 43, CTN). É irrelevante que a aquisição
tenha se verificado em decorrência de atividade lícita ou ilícita127. O artigo não
admite a descrição da hipótese de incidência de um tributo baseada num ato ilícito.
Note-se que: “a tributação dos atos simulados ou inválidos, mas
juridicamente eficazes, visa adequar a conseqüência econômica à jurídica,
125
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 121-122.
126
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 12ª. Ed. São Paulo: Malheiros,
1997, p. 93.
127
Nesse sentido: PENAL. CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA. CONEXÃO ENTRE
TRÁFICO INTERNO DE ENTORPECENTES E SONEGAÇÃO FISCAL DE TRIBUTO
FEDERAL. CF, ART.109, IV E CPP, ART-76, II E III.
É competente a Justiça Federal para julgar crime de tráfico interno de entorpecentes
conexo com crime de sonegação fiscal de tributo federal.
(...)
TRÁFICO INTERNO DE ENTORPECENTES. CÁPSULAS PARA EMAGRECIMENTO.
LEI 6368/76, ART.12. PORTARIA 29/86 DO DIMED.
O comércio de entorpecentes de substâncias de uso proibido pelas autoridades
administrativas (cápsulas para emagrecer) constitui tráfico como outro qualquer.
Todavia, por não tratar-se das
chamadas drogas pesadas, deve ser encarado sem rigor excessivo e apenado com menor
severidade.
(...)
SONEGAÇÃO FISCAL. ORIGEM ILÍCITA DO DINHEIRO. IRRELEVÂNCIA. LEI 8137/90,
ART.2º, INC.I.
Independentemente da punição pelo crime principal ( no caso tráfico de entorpecentes ), a
omissão no recolhimento do imposto de renda sobre os lucros auferidos com a atividade
criminosa configura delito de sonegação fiscal, devendo as penas serem aplicadas em
concurso material.
Brasil, Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Apelação Criminal nº 199804010825761/RS,
1ª Turma, Data da decisão: 25/05/1999, Documento: TRF400072347, Fonte DJ
DATA:09/06/1999, PÁGINA: 382, Relator(a) Juiz Vladimir Freitas, Decisão por maioria.
Disponível em <http://www.cjf.gov.br/Jurisp/Juris.asp> Acesso em 06/08/2003.
48
128
Sobre o critério teleológico, ver explicação no próximo capítulo.
129
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 123.
130
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 12ª. Ed. São Paulo: Malheiros,
1997, p. 94.
49
131
BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. O planejamento fiscal e a interpretação no direito
tributário. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. p. 76.
132
MANTELLINI apud BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. id. ibid. p. 78.
50
133
Ididem, p. 79.
134
GRECO, Marco Aurélio apud BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. id. ibid. p. 80.
28
VANONI apud MELLO, José Eduardo Soares. Interpretação e Integração da Legislação
Tributária. Disponível em <http://www.mariacristinaneubern.hpg.ig.com.br/governo_e_
politica/93/index_int_9.html> Acesso em: 13 de out. 2007.
51
136
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 27.
137
Ibidem, p. 27.
138
Ibidem, p. 28.
139
Maximiliano, p. 72-73.
52
140
Ibidem, p. 74-76.
53
141
Ibidem, p. 70.
54
142
Ibidem, p. 149.
143
Ibidem, p. 149.
144
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 2ª. Ed. São
Paulo: Atlas, 1994, p. 287.
55
em que deve repousar o intérprete. Uma vez que a lei está expressa em palavras, o
intérprete há de começar por extrair o significado verbal que delas resulta, segundo
a sua natural conexão e regras gramaticais.” 145
146
Maximiliano , a fornecer uma orientação ao intérprete, enumera os
seguintes preceitos, serviçais da exegese literal:
1) cada palavra pode ter mais de um sentido;
2) presume-se que o legislador utilizou-se dos vocábulos no sentido vulgar;
porém, quando são empregados termos jurídicos, deve-se primar pela
observância da linguagem técnica. Do mesmo modo defende FERRARA
147
. O próprio Código Tributário Nacional traz dois artigos que orientam
nesse sentido, arts. 109 e 110, analisados em capítulo anterior;
3) ficar atento, pois o sentido das palavras pode variar com o tempo.
Mudou-se, com o tempo, o sentido de uma palavra, prefere-se o da
época em que foi redigida a norma, em caráter definitivo;
4) atentar-se aos usos locais relativos à linguagem e do próprio legislador
148
. Nesse caso, prevalece o significado individual;
5) presume-se que a lei não contenha palavras supérfluas;
6) na dúvida, pressupõe-se geral o princípio contido na norma e não uma
exceção;
7) verificar a posição do texto pois, se o objeto é idêntico, as palavras,
embora diversas, tendem a ter significados semelhantes. As palavras
devem entender-se em sua conexão, isto é, “o pensamento da lei deve
inferir-se do complexo das palavras e não de fragmentos destacados,
149
deixando no escuro uma parte da disposição.” Assim, não se pode
considerar o caput, os parágrafos, incisos e alíneas isoladamente, nem
determinado dispositivo em dissonância do resto do texto legal;
145
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 33.
146
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19ª. Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 89-92.
147
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 33-34.
148
Ibidem, p. 34.
149
Ibidem, p. 34.
56
150
Ibidem, p. 36.
151
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 2ª. Ed. São
Paulo: Atlas, 1994, p. 289-290.
58
152
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19ª. Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 121-123.
59
153
sistema de onde foram extraídos, mantendo intacta a unidade do Direito. E
segundo a interpretação sistêmica, os conceitos de Direito Privado, empregados no
Direito Tributário, conservam seu sentido originário.
Também chamada de interpretação lógico-sistemática, tendo em vista o
importante papel que o elemento lógico exerce no processo de interpretação; afinal,
trata-se da interpretação da lei de um ponto de vista lógico, para apreensão de seu
sentido e finalidade.
TORRES154 ao analisar os arts. 109 e 110 do CTN, discute longamente se o
legislador teria optado pelo método sistêmico de interpretação e se a autonomia do
Direito Tributário não estaria ameaçada pelo engessamento do intérprete às formas
e aos institutos de direito privado.
No tópico pertinente, conclui-se que o intérprete tem que respeitar a eleição,
feita pelo legislador, de termos técnicos, advindos de outro ramo do Direito. Não se
pode alterar, conforme desejar, a definição, o conteúdo e o alcance dos institutos
importados do Direito Privado. Entende-se que a restrição contida nos arts. 109 e
110 em nada fere a autonomia do Direito Tributário.
BECKER sublinha que:
Muito embora se deva respeito aos princípios gerais do Direito Privado para
a pesquisa da definição, conteúdo e alcance dos seus institutos, conceitos e formas,
a lei tributária pode dar aos mesmos outros efeitos, conforme as características
peculiares do próprio Direito Tributário. O art. 109 não nega a autonomia do Direito
153
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 72-73.
154
Ibidem, p. 72- 77.
155
BECKER, Alfredo Augusto apud MELLO, José Eduardo Soares de, op. cit.
60
156
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19ª. Ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001, p. 104.
157
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002.
61
158
BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves opus cit. p. 83.
159
PINTO, Bilac apud BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. id. ibid. p. 83.
160
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 690.
63
161
ATALIBA, Geraldo apud BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. id. ibid. p. 98.
162
NOGUEIRA apud ONOFRE. id. ibid, p. 99.
163
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro, atualizado por Mizabel Abreu
Machado Derzi. 11ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 689.
164
REALE, Miguel apud BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. id. ibid. p. 158.
64
165
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 93.
166
MACHADO, Hugo de Brito. op. cit. p. 101-102.
65
Para interpretar uma norma jurídica, faz-se opção por um ou mais métodos
acima descritos. Ao analisar o resultado da interpretação, pode se verificar que o
resultado final coincide com as palavras no que a lei exprime que ha
correspondência entre as palavras e o pensamento da lei. Nesse caso, está-se
diante da interpretação declarativa. Pode acontecer que, ao interpretar uma norma,
se reconheça que o legislador, embora tenha se exprimido de forma genérica e
ampla, quis referir-se apenas a uma das relações. Diz-se que a interpretação foi
restrita das palavras do legislador. Já a interpretação extensiva visou corrigir uma
formulação legislativa estreita demais. 169
170
A interpretação declarativa, ou como chama FERRAZ Jr. , a interpretação
especificadora, parte do pressuposto de que o sentido da norma cabe na letra do
seu enunciado. É a hermenêutica dominada pela economia do pensamento, da
onde nasceu o aforismo, hoje posto de lado, in claris cessat interpretatio.
No Direito Tributário, reina a imprecisão a respeito do significado dos termos.
Não somente no Direito Tributário, porque é a linguagem do Direito que se abre para
conceitos indeterminados, intimamente ligados à ciência do Direito. A possibilidade
de clareza, quando se fala de interpretação, parece uma ilusão, de modo que não há
realmente como se sustentar o brocardo acima.
167
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 93-94.
168
BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. O Planejamento Fiscal e a Interpretação no Direito
Tributário. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 175.
169
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 40-44.
66
170
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 2ª. Ed. São
Paulo: Atlas, 1994, p. 293.
171
CAMPAZ, Walter. op. cit. p. 23 e 28-29.
172
NEUBERN, Maria Cristina. Interpretação das Normas de Imunidade Tributária.
Disponível em
<http://www.mariacristinaneubern.hpg.ig.com.br/governo_e_politica/93/index_int_4.html>
Acesso em: 13 de out. 2007.
173
NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 101.
67
174
MAXIMILIANO, Carlos. op. cit. p. 271.
175
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 43.
176
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 105-106.
68
177
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 44.
178
Ibidem, p. 44.
69
179
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição, Código Tributário e Lei de
Execução Fiscal à luz da doutrina e da jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2002, p. 608.
180
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 55.
70
181
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991. p. 17.
182
RIBEIRO, Maria de Fátima. op. cit. p. 223.
183
Comissão Especial do Código Tributário Nacional apud TORRES, Ricardo Lobo. op. cit.
p. 17 e RIBEIRO, Maria de Fátima. op. cit. p. 223.
71
184
TORRES, Ricardo Lobo. op. cit. p. 20/22.
185
CARVALHO, Paulo de Barros apud RIBEIRO, Maria de Fátima. op. cit. p. 226.
186
K. Larenx apud TORRES, Ricardo Lobo. op. cit. p. 25.
187
RIBEIRO, Maria de Fátima. op. cit. p. 223.
188
TORRES, Ricardo Lobo. op. cit. p. 29.
72
189
id. ibid. p. 29-30.
73
demais intérpretes. Eles devem se servir da hierarquia dos métodos de integração ali
mencionados - analogia, princípios gerais do Direito Tributário, princípios gerais do
Direito Público e eqüidade - quando se depararem com lacuna na legislação
tributária. Porém, tal disposição não é taxativa, e pode sofrer, ela mesma, a
integração de outros métodos de integração, tal como o recurso aos princípios gerais
de Direito Privado, por causa da visão sistêmica do Direito, conforme se disse antes.
De qualquer forma, concorda-se que há certa diluição entre os diversos
métodos de integração, o que faz com que os contornos do método porventura eleito
não sejam nítidos. Assim, para os intérpretes que dominam a técnica da
argumentação, é muito fácil se valer de um princípio de Direito Público para integrar
uma norma tributária, antes mesmo de recorrer à analogia e assim sucessivamente.
Diz-se isso, muito embora se sabe que a hierarquização se explique,
consoante o método indutivo, porque quanto mais próximo o intérprete se situar do
texto legal, do ramo do Direito, menos chance ele terá de se afastar das
especificidades que servem aquela norma lacunosa.
Ainda com relação à integração, sofre o intérprete um tipo de limite que não
está disposto no art. 108, mas dele é corolário lógico: a integração tem como
moldura os subconjuntos valorativos, fáticos e normativos que informam o sistema
positivo, sob pena de se permitir a arbitrariedade. Não existe integração por
elementos vazios, buscados no âmago do intérprete, ou mais especificamente de
suas convicções pessoais, em especial a política.
No que se firma nos artigos 109 e 110 do Código, urge observar que, nem
de longe, negam a autonomia do Direito Tributário enquanto ramo específico do
Direito Público. Esses artigos dizem o seguinte: o Direito é uma ciência e como
ciência possui linguagem própria. O legislador ao utilizar-se de escorreita linguagem,
no sentido técnico, o intérprete não pode ir além do que esse pretende, e nem
modificar o sentido dos termos e expressões de Direito Privado utilizados. Da
mesma forma, o legislador infraconstitucional, via lei infraconstitucional, não pode ir
além do que pretendeu o legislador constitucional.
A realização dos princípios constitucionais da capacidade contributiva e
isonomia tributárias pelo Estado Fiscal não passa pelo desprezo à definição, ao
conteúdo e ao alcance dos institutos de Direito Privado utilizados pelo legislador,
mas por uma livre escolha deste, através da adoção de tipos mais abertos ou, via lei
complementar, de norma geral de Direito Tributário que autoriza a Administração a
74
Neste capítulo, deve-se ater ao art. 118, o qual mereceu bastante reverência
por parte dos doutrinadores. Ele dispõe acerca da interpretação dos atos e fatos e
sua influência na tributação. O dispositivo convalida a teoria básica da tributação, e
determina a irrelevância do objeto, da invalidade jurídica dos atos e dos efeitos dos
atos ou fatos para a incidência da norma tributária.
À teoria da irrelevância dos efeitos dos atos, ressalva-se a impossibilidade
de aplicação da norma tributária quando os atos não produzem qualquer efeito
econômico. Nesse caso o que não se destacou foi a ocorrência do fato gerador que
determinava a incidência da norma, por absoluta ausência de manifestação de
capacidade contributiva.
Do exposto acima, conclui-se que as disposições do Código, atinentes à
interpretação, além de não contemplarem todas as variáveis possíveis de
interpretação nesse ramo do Direito, ainda com relação aos casos que prescreve,
não excluem a busca livre por todas as formas e métodos de interpretação
condensados pela hermenêutica jurídica.
Dessa forma, além dos princípios e casos específicos de interpretação
previstos no Código, latente é que se deve buscar todas as formas e métodos de
interpretação do direito e moldá-las para o uso no direito tributário, a fim de melhor
definir o sentido da norma interpretada.
190
TORRES, Ricardo Lobo. op. cit. p. 83.
191
FERRARA, Francesco. Como aplicar e interpretar as leis. Belo Horizonte: Líder, 2002,
p. 26.
192
BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. O Planejamento Fiscal e a Interpretação no Direito
Tributário. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 142.
193
LARENZ, Karl, MÜLLER, Friedrich e CARVALHO, Barros, apud ONOFRE, p. 156.
194
BATISTA JÚNIOR, Onofre Alves. O Planejamento Fiscal e a Interpretação no Direito
Tributário. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 134.
77
195
Observe-se o texto transcrito na página 53.
196
TORRES, Ricardo Lobo. Normas de Interpretação e Integração do Direito Tributário.
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 143 e 144.
197
DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretada. 5ª.
Ed. São Paulo: Saraiva, 1999, LICC, p. 137.
78
CONCLUSÃO
integração de outros métodos de integração, tal como o recurso aos princípios gerais
de Direito Privado, por causa da visão sistêmica do direito, conforme se disse
precedentemente.
De qualquer forma, concorda-se que há certa diluição entre os diversos
métodos de integração, o que faz com que os contornos do método porventura eleito
não sejam nítidos. Assim, para os intérpretes que dominam a técnica da
argumentação, é muito fácil se valer de um princípio de Direito Público para integrar
uma norma tributária, antes mesmo de recorrer à analogia e assim sucessivamente.
Diz-se isso, muito embora se saiba que a hierarquização se explique,
consoante o método indutivo, porque quanto mais próximo o intérprete se situar do
texto legal, do ramo do direito, menos chance ele terá de se afastar das
especificidades que servem àquela norma lacunosa.
Ainda com relação à integração, sofre o intérprete um tipo de limite que não
está disposto no art. 108, mas dele é corolário lógico: a integração tem como
moldura os subconjuntos valorativos, fáticos e normativos que informam o sistema
positivo, sob pena de se permitir a arbitrariedade. Não existe integração por
elementos vazios, buscados no âmago do intérprete, ou mais especificamente de
suas convicções pessoais, em especial a política.
No que concerne aos artigos 109 e 110 do Código, urge observar que, nem
de longe, negam a autonomia do Direito Tributário enquanto ramo específico do
Direito Público.
Eles apenas dizem o seguinte: o direito é uma ciência e como ciência possui
linguagem própria. Utilizando-se o legislador de escorreita linguagem, no sentido
técnico, o intérprete não pode ir além do que este pretendeu, modificando o sentido
dos termos e expressões de Direito Privado utilizados. Da mesma forma, o legislador
infraconstitucional, via lei infraconstitucional, não pode ir além do que pretendeu o
legislador constitucional.
A realização dos princípios constitucionais da capacidade contributiva e isonomia
tributárias pelo Estado Fiscal não passa pelo desprezo à definição, ao conteúdo e ao
alcance dos institutos de Direito Privado utilizados pelo legislador, mas por uma livre
escolha deste, através da adoção de tipos mais abertos ou, via lei complementar, de
norma geral de Direito Tributário que autorizasse a Administração a agir além das
hipóteses estritamente previstas. O legislador brasileiro claramente realizou esta
última vontade ao introduzir no sistema tributário o parágrafo único do art. 116, CTN,
80
doutrinadores. Ele dispõe acerca da interpretação dos atos e fatos e sua influência
na tributação.
O dispositivo convalida teoria básica da tributação, determinando a irrelevância do
objeto, da invalidade jurídica dos atos e dos efeitos dos atos ou fatos para a
incidência da norma tributária.
À teoria da irrelevância dos efeitos dos atos, ressalva-se a impossibilidade de
incidência da norma tributária quando os atos não produziram qualquer efeito
econômico, porque neste caso o que não se vislumbrou foi a ocorrência do fato
gerador que determinava a incidência da norma, por absoluta ausência de
manifestação de capacidade contributiva.
Do dito acima, conclui-se que as disposições do Código, atinentes à interpretação,
além de não contemplarem todas as variáveis possíveis de interpretação neste ramo
do direito, ainda com relação aos casos que prescrevem, não excluem a busca livre
por todas as formas e métodos de interpretação condensados pela hermenêutica
jurídica.
Desta forma, além dos princípios e casos específicos de interpretação
previstos no Código, patente é que se deve buscar todas as formas e métodos de
interpretação do direito e amoldá-las para o uso no Direito Tributário, a fim de melhor
definir o sentido da norma interpretada.
Porém, a liberdade do intérprete tributário para recorrer a todos os métodos
de interpretação (pluralismo metodológico) está balizada pelas próprias regras da
hermenêutica e também pelos dispositivos legais do CTN, os quais contêm, como
visto, normas de princípio e outras para regular casos específicos.
Apesar do Direito Tributário requerer uma interpretação com respeito aos
dispositivos legais do CTN, não se pode dizer que o intérprete das normas de Direito
Tributário sofra limitações por ter que observar o contido no Código.
Isso porque o próprio Código Tributário Nacional, nas disposições dos arts.
107 a 112 e 118, não pretendeu se filiar a nenhuma corrente metodológica, mas
deixar livre o hermeneuta para qualquer que fosse a sua opção.
E, também, porque a interpretação da norma varia conforme o caso concreto,
devendo guiar-se pelos princípios do direito, em especial do ramo ao qual pertence a
norma interpretada. O Código Tributário nada mais contém que normas de princípio,
que deveriam ser, sempre, observadas pelo intérprete, ainda que não se
encontrassem positivadas, além de algumas normas específicas a serem
82
observadas nos casos regulados, o que igualmente não impede o recurso aos
demais processos da hermenêutica, capazes de, por critérios científicos, fornecerem
uma interpretação com respeito ao sistema tributário nacional.
Enfim, entre os diversos métodos de interpretação, condensados pela hermenêutica
jurídica, não existe qualquer tipo de hierarquia. O intérprete é livre para utilizá-los,
isoladamente ou globalmente, de modo sucessivo ou simultâneo, sem que se possa
conferir preeminência a quaisquer dos procedimentos aventados. E nem poderia ser
diferente, pois a aplicação do método varia conforme o caso concreto (fato), o
conteúdo da norma interpretada e os princípios que regem o campo do direito (no
caso, tributário).
Mas, justamente porque a interpretação varia conforme o caso é que as normas de
interpretação (aqui também contidas as normas de integração) do Código Tributário
Nacional não podem ser descartadas e devem ser utilizadas, tanto como
contenedoras de princípios quanto nos casos específicos ali regulados.
Elas visam preservar a segurança jurídica, num campo do direito em que todos
precisam conhecer as normas, mas que nem todos têm os conhecimentos técnicos
para corretamente interpretá-las, protegendo o cidadão contra eventuais abusos do
Estado e também protegendo o Estado contra arbítrios cometidos pelos intérpretes
judiciários.
Conclui-se que, para a interpretação das normas de Direito Tributário, é lícita a
utilização de todos os métodos hermenêuticos, observadas as disposições do CTN e
os limites do próprio ordenamento, pois não existe interpretação, integração,
correção fora dos valores condensados pelo ordenamento, sob pena de se ficar
totalmente à mercê da arbitrariedade dos intérpretes.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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NOGUEIRA, Rui Barbosa. Curso de Direito Tributário. 15ª. Ed. São Paulo:
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