Dissertacao DB
Dissertacao DB
Dissertacao DB
Engenharia Civil
Júri
Outubro de 2016
Agradecimentos
Quero exprimir o maior agradecimento ao professor Rui Vaz Rodrigues pela sua infindável
disponibilidade ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Acredito que sem a sua ajuda este
trabalho não teria sido possível.
Agradeço também à minha família por me ter mostrado o seu amor e suporte constantemente.
Para além disso, é graças aos meus pais que sou a pessoa que sou hoje e isso é, por si só
outra coisa pela qual estou grato.
Gostaria também de agradecer aos meus amigos pelos vários momentos de camaradagem
que partilharam comigo.
Por fim, mas não menos importante, agradeço à Constança, a minha namorada por ter
celebrado comigo os bons momentos, mas também por me ter ajudado a superar os momentos
difíceis.
i
Resumo
Galerias de desvio (ou de derivação) são, como o nome sugere, estruturas para desviar o
escoamento de água, em geral, para atender aos requisitos da construção em termos da
implantação. Estas estruturas provisórias têm de respeitar padrões de segurança de origem
estrutural, bem como hidráulica e geotécnica. Importa, em particular, assegurar o bom
desempenho da solução, controlando o risco de cheias nas proximidades, o que pode originar
danos inaceitáveis em potenciais povoações nos arredores.
A particularidade principal deste tipo de estruturas reside no facto de que a estrutura de betão
armado terá que ser dimensionada para suportar a carga transmitida pela barragem.
Foram fornecidos, de antemão, alguns dados importantes, que incluem a geometria geral da
barragem, os materiais utilizados na sua construção e o nível de pleno armazenamento.
Esta tese está dividida em três partes principais. Na primeira parte é efetuada uma análise
estrutural à galeria utilizando informação tabelada para uma estrutura semelhante. A segunda
consiste numa análise estrutural à mesma galeria empregando modelos de Elementos Finitos
com elementos de barra. A terceira e última parte inclui uma análise à mesma estrutura com
elementos bidimensionais finitos, com e sem consideração do faseamento construtivo, e uma
comparação entre resultados obtidos para cada modelo e uma verificação à segurança
estrutural para Estados Limite Últimos e Estados Limite de Serviço.
ii
Abstract
Diversion galleries, as their name suggests, are means used to divert the flow of water towards
a region away from a construction site. These provisional structures must correspond to a set of
structural, as well as hydraulic and geotechnical safety standards. If any of the stipulated
conditions fail, there is a high risk of flooding the nearby areas, which may cause unacceptable
damages to any potential nearby populations.
The main goal of this dissertation is to verify the structural safety of a diversion gallery in
reinforced concrete, located under a RCC (Roller Compacted Concrete) dam.
The main detail on these structures is the need to ensure (via reinforced concrete design) that
the structure can support the load transmitted by the RCC.
Several data was provided beforehand, which include the dam’s general geometrical
information, materials used for its construction and the normal head water level of the dam.
This thesis is divided mainly in three parts. In the first part, a structural analysis is made on the
gallery using tabular data for a similar structure. The second part consists of a structural
analysis of the same gallery using a Finite Element Method with frame elements. The third and
final part includes an analysis of the same structure with two dimensional shell elements, a
comparison between results obtained for each model (with and without staged construction
analysis) and a safety structural design for Ultimate Limit States and Serviceability Limit States.
Keywords: Diversion galleries, Reinforced concrete, Gravity dam, Roller Compacted Concrete,
Structural design
iii
ÍNDICE
1. Introdução .............................................................................................................................. 1
Enquadramento geral ........................................................................................................ 1
1.1.1. Betão compactado com cilindro (BCC) ................................................................. 2
1.1.2. Obras de desvio provisório .................................................................................... 4
Objetivos ............................................................................................................................ 6
Estrutura do documento .................................................................................................... 7
2. Caso de estudo e dados de base .......................................................................................... 9
Descrição geral da obra .................................................................................................... 9
Geotecnia ........................................................................................................................ 10
Ações de projeto.............................................................................................................. 11
3. Materiais e durabilidade ...................................................................................................... 12
Recobrimento .................................................................................................................. 12
Materiais .......................................................................................................................... 13
4. Acções e critérios de projecto ............................................................................................. 15
Estados limite últimos (ELU) ........................................................................................... 15
Estados limite de serviço (ELS) ...................................................................................... 16
4.2.1. Estado limite de fendilhação ............................................................................... 16
Ações Permanentes (PP) ................................................................................................ 17
Ações Variáveis ............................................................................................................... 18
4.4.1. Subpressões (SP) ............................................................................................... 19
4.4.2. Impulsões laterais (IL) ......................................................................................... 19
Combinações de carregamento ...................................................................................... 20
Outras ações ................................................................................................................... 23
5. Análise da estrutura através da consulta de tabelas (Modelo I) ......................................... 24
Análise da situação 1 ...................................................................................................... 24
Análise da situação 2 ...................................................................................................... 26
Análise da situação 3 ...................................................................................................... 26
Envolvente do diagrama de momentos e quantidade de armadura de flexão ............... 29
6. Modelação da estrutura utilizando elementos de barra (Modelo II) .................................... 31
Lei de Hooke ................................................................................................................... 31
Meio de Winkler ............................................................................................................... 31
Módulo de reação ............................................................................................................ 32
Definição da geometria e das características mecânicas do problema .......................... 34
Discretização ................................................................................................................... 35
Resultados obtidos e análise crítica ................................................................................ 36
6.6.1. Diagrama de reação ............................................................................................ 36
6.6.2. Diagramas de esforços........................................................................................ 38
iv
Modelação alternativa com contabilização da largura dos apoios .................................. 42
7. Modelação da estrutura utilizando elementos de casca (Modelos III e IV)......................... 43
Definição da geometria e das características mecânicas do problema .......................... 45
7.1.1. Parâmetros do Betão........................................................................................... 45
7.1.2. Parâmetros do BCC ............................................................................................ 46
Modelo simplificado (Modelo III) ...................................................................................... 46
7.2.1. Ações e apoios .................................................................................................... 47
7.2.2. Discretização ....................................................................................................... 47
7.2.3. Obtenção de esforços através das tensões ........................................................ 48
7.2.4. Resultados obtidos e análise comparativa .......................................................... 50
Modelo com consideração do faseamento construtivo (Modelo IV) ............................... 53
7.3.1. Ações e apoios .................................................................................................... 53
7.3.2. Discretização ....................................................................................................... 55
7.3.3. Resultados obtidos e análise comparativa .......................................................... 55
8. Comparação entre os modelos ........................................................................................... 59
9. Verificação da segurança .................................................................................................... 61
Verificação ao ELU .......................................................................................................... 61
Verificação ao ELS .......................................................................................................... 63
Esforço Transverso ......................................................................................................... 64
Verificação da segurança do BCC .................................................................................. 67
10. Disposições construtivas ..................................................................................................... 71
Comprimento de amarração .................................................................................... 71
Armadura de distribuição......................................................................................... 72
Afastamento mínimo entre camadas....................................................................... 73
11. Conclusão e desenvolvimentos futuros............................................................................... 74
12. Bibliografia ........................................................................................................................... 75
Anexos ......................................................................................................................................... 76
– Integração de tensões em elementos de casca ............................................... 77
– Diagramas de interação entre o esforço normal e o momento fletor (valores
negativos de N indicam tração) ............................................................................................... 82
– Peças desenhadas ........................................................................................... 89
v
ÍNDICE DE TABELAS
vi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Processo de compactação de uma camada de BCC [16] ............................................ 3
Figura 2 - Barragem em BCC durante o seu processo de construção [17] .................................. 3
Figura 3 - Desvio provisório cujas entradas estão no encontro de uma barragem [18] ............... 5
Figura 4 - Desvio provisório localizado no corpo de uma barragem [18]...................................... 5
Figura 5 - Desvios provisórios a céu aberto, que alternam consoante a fase construtiva de uma
barragem [18] ................................................................................................................................ 5
Figura 6 - Representação ilustrativa do grau de aproximação à realidade de todos os modelos
(I a IV) ............................................................................................................................................ 7
Figura 7 - Corte longitudinal da barragem .................................................................................... 9
Figura 8 - Dimensões da secção em betão armado da galeria de desvio através do corpo da
barragem ..................................................................................................................................... 10
Figura 9 - Representação do carregamento causado pelo maciço de BCC .............................. 18
Figura 10 - Representação do carregamento causado pelas subpressões ............................... 19
Figura 11 - Representação do carregamento causado pelas impulsões laterais ....................... 20
Figura 12 - Cenário de carregamento 1 ...................................................................................... 21
Figura 13 - Cenário de carregamento 2 ...................................................................................... 22
Figura 14 - Cenário de carregamento 3 ...................................................................................... 23
Figura 15 - Estrutura simplificada e identificação dos nós .......................................................... 24
Figura 16 - Situação simplificada ilustrada e tabelada por Isnard, et al [1]. ............................... 24
Figura 17 - Diagrama de momentos flectores causado apenas pelo carregamento vertical ..... 26
Figura 18 - Situação de impulsões laterais uniformemente distribuídas na galeria ................... 27
Figura 19 - Situação de impulsões lineares ao longo da altura da galeria ................................. 27
Figura 20 - Diagrama de momentos flectores correspondentes ao cenário de carregamento 3 28
Figura 21 - Diagramas de momentos associados aos casos 1 e 3 ............................................ 29
Figura 22 - Representação ilustrativa de uma mola congruente com a lei de Hooke ................ 31
Figura 23 - Representação ilustrativa de uma barra assente num meio de Winkler .................. 32
Figura 24 - Reacções resultantes numa estrutura assente em fundação perfeitamente rígida . 33
Figura 25 – Reacções resultantes numa estrutura assente em meio de Winkler ...................... 33
Figura 26 - Estrutura assente numa mola contínua (meio de Winkler) ....................................... 35
Figura 27 - Discretização dos elementos no modelo II ............................................................... 36
Figura 28 - Diagrama de esforços normais (Modelo II, valores em kN/m, valores negativos
indicam compressão) .................................................................................................................. 38
Figura 29 - Diagrama de esforços transversos (Modelo II, valores em kN/m) ........................... 39
Figura 30 - Diagrama de momentos fletores (Modelo II, valores em kNm/m) ............................ 40
Figura 31 - Estrutura em elementos de barra com a delimitação dos troços rígidos ................. 42
Figura 32 - Elemento bidimensional com quatro nós, com uma dada espessura segundo o eixo
3 ................................................................................................................................................... 43
Figura 33 - Exemplo de um silo modelado e discretizado com elementos de casca [19] .......... 44
Figura 34 - Secções críticas para a avaliação de esforços na galeria........................................ 45
Figura 35 - Convenção de sinais das tensões positivas num elemento de casca (σ11 ≡ tensões
horizontais, σ22 ≡ tensões verticais) ............................................................................................ 47
Figura 36 - Carregamento a aplicar na estrutura e molas de fundação ..................................... 47
Figura 37 - Discretização utilizada para a simulação da galeria ................................................. 48
Figura 38 - Exemplo de um diagrama de tensões normais numa dada secção (de altura h)
constituida por seis elementos finitos ......................................................................................... 49
Figura 39 - Tensões horizontais σ11 (Modelo III; unidades em kPa)........................................... 50
Figura 40 – Tensões verticais σ22 (Modelo III; unidades em kPa) .............................................. 51
Figura 41 - Tensões σ12 (Modelo III; unidades em kPa) ............................................................. 51
Figura 42 - Modelo da Galeria e parte do BCC introduzidos no software .................................. 54
Figura 43 - Definição da 17ª fase do processo construtivo......................................................... 54
vii
Figura 44 - Modelo da Galeria e parte do BCC discretizados introduzidos no software
(esquerda) e estrutura completa discretizada (direita)................................................................ 55
Figura 45 - Tensões horizontais σ11 (Modelo IV, K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K = 500 000
kN/m3 à direita; unidades em kPa) .............................................................................................. 56
Figura 46 – Tensões verticais σ22 (Modelo IV; K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K = 500 000
kN/m3 à direita; unidades em kPa) .............................................................................................. 56
Figura 47 - Tensões σ12 (Modelo IV; K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K = 500 000 kN/m3 à
direita; unidades em kPa) ............................................................................................................ 56
Figura 48 - Modelo ilustrativo de escoras e tirantes ................................................................... 58
Figura 49 - Diagrama de interação entre o esforço normal e o momento fletor para a secção S1,
(considerando a combinação 1 (1,35PP) e K = 500 000 kN/m 3, unidades por metro) ............... 62
Figura 50 - Biela de compressão com ângulo θ .......................................................................... 65
Figura 51 – Tensões horizontais σ11 no BCC (Modelo IV; K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K =
500 000 kN/m3 à direita; unidades em kPa) ................................................................................ 68
Figura 52 – Tensões verticais σ22 no BCC (Modelo IV; K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K =
500 000 kN/m3 à direita; unidades em kPa) ................................................................................ 69
Figura 53 - Diagrama de vetores da estrutura com ênfase na laje superior do betão estrutural 70
Figura 54 - Exemplos de colocação de armadura de esforço transverso................................... 71
Figura 55 - Tipos de amarração e respectivos valores mínimos, adotado da NP EN 1992-1-1 72
Figura 56 - Malha representativa com armadura de flexão e de distribuição ............................. 72
Figura 57 - Pormenor ilustrativo de empalmes de varões incluindo distância livre (situação a
considerar entre parênteses) ...................................................................................................... 73
viii
Lista de acrónimos
BCC Betão Compactado com Cilindro;
IL Impulsões Laterais;
PP Peso Próprio;
SP Subpressões;
Lista de símbolos
Simbolos latinos
A Área da secção;
F Força;
G Ação permanente;
H Altura do montante;
I Momento de inércia;
L Comprimento do vão;
M Momento fletor;
N Esforço normal;
P Pré-esforço;
Q Ação variável;
R Reação;
V Esforço transverso;
b Largura da secção;
ix
c Recobrimento;
h Altura da secção;
l Comprimento do vão;
m Parâmetro auxiliar;
q Carga distribuída;
x Deslocamento;
Simbolos gregos
Δ Variação;
Σ Somatório;
ε Extensão;
x
εsm Extensão média das armaduras já contabilizando com a extensão do betão à
tração;
ρ Taxa de armadura;
σ Tensão normal;
τ Tensão tangencial;
ϕ Diâmetro do varão;
Índices
c Betão;
d Dimensionamento;
eff Efetivo;
f Fundação;
k Característico
s Aço
t Relativo à tração
w Alma
y Cedência
xi
1. INTRODUÇÃO
Enquadramento geral
Uma galeria de derivação (ou de desvio) é uma classe de estrutura de desvio provisório. Este tipo de
estrutura tem como principal objetivo desviar um curso de água (existente ou potencial) de modo a
facilitar o processo de construção de uma outra estrutura que, na ausência de um desvio, se revelava
algo complexo.
Em geral, uma galeria de desvio poderá ter várias formas, sendo que não são dependentes das
condicionantes do projeto destas estruturas. O formato e geometria da galeria do caso em análise
serão especificados e ilustrados posteriormente.
No presente caso, esta estrutura servirá como desvio provisório para a construção de uma barragem
em Betão Compactado com Cilindro, e será estudado e analisado principalmente para o processo
construtivo. A estrutura em si, porém, será definitiva.
Entende-se por uma barragem como sendo uma estrutura de grandes dimensões que tem como
principal função a retenção do escoamento de água, seja esta provinda de um caudal de um rio ou de
origem pluvial. Como tal, pode ter várias funções associadas [5], sendo elas:
O processo construtivo da mesma terá de ser cuidadosamente estudado, pois este poderá
condicionar fortemente o funcionamento desejado da estrutura.
Uma barragem pode ser classificada de vários tipos, consoante a sua estrutura. A presente
dissertação baseia-se no desvio provisório de uma barragem de gravidade em específico, construída
em betão compactado com cilindro (BCC).
Uma barragem de gravidade é um tipo de barragem que consegue reter a água a montante através
de atrito com o solo causado pelo seu próprio peso. É comum uma barragem desta espécie requerer
condições de fundação muito exigentes, pois como se pode esperar, as forças horizontais requeridas
para resistir aos impulsos hidrostáticos são importantes.
1
1.1.1. Betão compactado com cilindro (BCC)
Em geral, designa-se por um betão, um material que seja composto por uma pasta de consistência
cimentícia, e material inerte. A pasta é formada por um ligante, normalmente cimento, e uma
dosagem cuidadosa de água. Os inertes são usualmente materiais granulares, sendo a areia o caso
mais comum. Pode também, na maior parte dos casos, prescindir de adjuvantes para melhorar uma
certa e determinada característica considerada importante na natureza da obra. Estes, porém, são
aplicados em dosagens muito reduzidas.
No entanto, depois de aplicado, existem várias formas de reforçar o betão. Estas, e também as
características iniciais do material, originam uma miríada de designações diferentes, incluindo betões
com polímeros, betões impermeáveis, ou até betões colocados debaixo de água.
Apesar de todas estas condicionantes, o BCC apresenta algumas vantagens de grande relevo.
Devido ao que foi referido anteriormente, o custo por metro cúbico do BCC revela-se uma fração do
custo do betão comum, devido principalmente ao menor consumo de cimento por volume. Outra
conveniência mostra-se na rapidez de aplicação, nomeadamente em barragens de gravidade. Pode-
se aplicar muita quantidade de betão em relativamente pouco tempo, e com mão de obra reduzida.
A ideia de utilizar equipamento de compactação e movimentação de solos num betão foi primeiro
proposta numa conferência em 1970 por J. Paton e J.M. Raphael. Numa altura em que não existia
qualquer construção feita com BCC, esta ideia foi sugerida para a construção de barragens de
gravidade. A partir dos anos 80 esta ideia foi popularizada e ainda é utilizada hoje em dia [4].
2
Figura 1 - Processo de compactação de uma camada de BCC [16]
3
1.1.2. Obras de desvio provisório
É comum serem projetadas estruturas que durante um período significativo da sua vida útil estão
submersas em água (ainda que parcialmente). No caso das estruturas de betão, existem inúmeros
tipos de obra onde tal é necessário, tal como pontes que atravessam cursos de água permanentes,
ou barragens.
Para evitar a aplicação de betão diretamente em cima de água, ou sobre um solo húmido, é prática
comum a implementação de uma ensecadeira no local do estaleiro da obra. Estas construções
provisórias permitem a secagem e saneamento do terreno de fundação, impedindo o escoamento de
água sobre o perímetro delimitado pelas mesmas.
No entanto, o escoamento de água terá de se realizar, pois não se pode simplesmente interromper o
curso de água. Corre-se o risco de haver um “entupimento” e causar danos consideráveis na
vizinhança do local da obra. Para evitar que isso aconteça, cria-se um desvio temporário do leito, não
interferindo com o caudal escoado de jusante para montante, e ao mesmo tempo mantendo o
estaleiro ou construção a seco.
No âmbito da construção de barragens, estes desvios provisórios são normalmente designados por
galerias de desvio (ou de derivação) e, apesar de poderem não ter uma natureza permanente numa
obra, não deixam de ter importância vital na mesma. Estas construções podem assumir várias
formas, incluindo túneis construídos nos encontros (ver Figura 3), canais a céu aberto (ver Figura 5),
ou até aberturas que são deixadas no próprio corpo da barragem (ver Figura 4). O tipo de desvio
provisório a ser selecionado dependerá de aspetos topográficos e geológicos.
No caso das aberturas deixadas no corpo das barragens, estas podem ser transformadas na fase
definitiva em galerias de descarga de fundo.
Independentemente do tipo adotado, qualquer desvio terá de ser dimensionado, tanto em termos
hidráulicos, como geotécnicos e também estruturais. Um troço do canal que assente no terreno
devido a uma fundação de má qualidade poderá condicionar gravosamente a construção vizinha. No
caso de desvios no corpo de uma barragem, estes terão de ser dimensionados também de modo a
suportar todo o peso da mesma.
4
Figura 3 - Desvio provisório cujas entradas estão no encontro de uma barragem [18]
Figura 5 - Desvios provisórios a céu aberto, que alternam consoante a fase construtiva de uma barragem [18]
5
Objetivos
Considera-se, no âmbito deste trabalho, a construção de uma barragem em betão para conter o nível
de água de um determinado vale. No entanto, antecipam-se condições adversas durante este
processo, o qual se espera ser demorado. Uma das maiores condicionantes desta construção será
sem dúvida garantir a passagem dos caudais durante a fase da obra.
Das várias soluções que se podem adotar para contornar este problema, aquela que se adotou foi a
construção de uma galeria de derivação sob a barragem. Esta permite a passagem de caudais
diretamente segundo a linha de água, sem ser necessária a criação de um desvio físico. Após a
implantação desta estrutura, a construção da barragem em si sucede diretamente sobre a galeria.
Este trabalho tem como principal objetivo o estudo da estabilidade estrutural das galerias de
derivação inseridas num projeto da barragem já mencionado. Para tal, serão feitas algumas análises
de natureza diferente às galerias. Começar-se-á com uma análise simplificada, assumindo modelos
de barra e prossegue-se com análises mais complexas, mas também mais próximas de soluções
exatas. No total, serão elaborados quatro modelos, cuja complexidade aumenta progressivamente:
O motivo principal para esta análise está presente no facto de se querer avaliar a estrutura o mais
precisamente possível, e também ter uma noção do desvio nos resultados obtidos pelas abordagens
mais simplificadas. À medida que o trabalho progride, o grau de exatidão da análise feita aumenta,
como ilustra a Figura 6.
6
Figura 6 - Representação ilustrativa do grau de aproximação à realidade de todos os modelos (I a IV)
Estrutura do documento
No Capítulo 2 é introduzido o caso de estudo e todos os dados de base que foram fornecidos para ter
um ponto de partida no trabalho. Os dados geométricos são também ilustrados em figuras e também
no Anexo C.
No Capítulo 3 é feita uma análise prévia às condições de exposição da estrutura a analisar e define-
se, consoante essas condições, os materiais estruturais a utilizar, bem como a classe de betão para o
BCC.
No Capítulo 4 são enunciadas todas as solicitações físicas relevantes à estrutura que entram para a
verificação da segurança da mesma. Também são referidos e descritos os critérios utilizados, e as
suas fontes, para esta verificação.
No Capítulo 5 é efetuada uma análise simplificada à estrutura de betão armado da galeria. Assume-
se que cada troço da mesma pode ser reduzido ao seu eixo, tornando-a numa estrutura simples com
apenas elementos unidimensionais. Depois desta simplificação, procede-se a uma consulta de
soluções tabeladas [1] para a obtenção de uma estimativa dos esforços nos vários nós da estrutura
causados pelos cenários de carregamento estipulados a priori. Por fim, utilizando o equilíbrio de
forças, obtém-se uma primeira aproximação dos diagramas de esforços.
7
primeiramente, comparar com os resultados obtidos no capítulo anterior, e em segundo lugar obter
uma estimativa mais verosímil para os esforços na estrutura.
No Capítulo 7, utilizando a mesma ferramenta, é efetuada outra simulação da mesma estrutura, mas
esta é composta por elementos bidimensionais de casca (“shell”). Este capítulo pode-se subdividir em
duas partes, sendo que a primeira aborda um modelo da galeria em que esta é carregada com uma
carga uniformemente distribuída, correspondente ao peso do BCC da barragem totalmente
construída. A segunda parte deste capítulo apresenta o estudo da mesma galeria, mas desta vez
também é modelado o BCC como material e é feita uma análise ao faseamento construtivo tendo,
portanto, resultados para cada fase do processo.
No Capítulo 8 são sintetizados todos os resultados obtidos para cada modelo, I a IV. Estes resultados
traduzem-se, resumidamente, em esforços (N, V, M) e são apresentados em tabela e todas as suas
diferenças entre modelos são comentadas e justificadas.
No Capítulo 10 são apresentadas algumas disposições dos elementos estruturais a aplicar na obra,
para complementar o que foi definido no capítulo anterior. Com estes dois últimos capítulos é definida
totalmente a pormenorização da estrutura, que também se apresenta no Anexo C.
8
2. CASO DE ESTUDO E DADOS DE BASE
A situação em análise consiste num bloco de uma barragem, correspondente a uma distância entre
juntas de 24,00 metros, conforme a peça desenhada 2. O conjunto barragem-estrutura prevê uma
altura total entre a fundação e o coroamento de 103 metros, sendo o corpo da barragem construído
em betão compactado com cilindro (BCC) e a galeria em betão armado. Espera-se que se atinja um
nível de pleno armazenamento de 100 metros de altura de água.
A galeria será implantada à cota 530,00 m. Com o corpo da barragem diretamente assente, a cota do
coroamento atinge os 633,00 m. Como indica na Figura 7, a barragem terá uma forma “em escadas”
do lado do paramento jusante, e será vertical a montante. A inclinação do paramento jusante é de 1
(V) para 0,79 (H).
Pretende-se que a galeria seja construída em betão C25/30, e que a classe a utilizar para o maciço
de BCC seja o mais baixa possível, portanto C12/15.
9
No fim da construção da barragem, e porque se quer dar início ao seu funcionamento, cobrem-se as
galerias com rolhões de betão armado a montante. Realça-se que estes rolhões também deverão ser
dimensionados adequadamente, mas vão para além do trabalho previsto para o desenvolvimento
desta dissertação.
A secção transversal da galeria pode ter diversas formas. Na maioria dos casos, a sua forma não
condiciona de qualquer forma o seu bom funcionamento, independentemente das circunstâncias. No
caso em questão, a secção terá uma geometria retangular, com dois furos retangulares
correspondentes aos locais onde vai ocorrer o escoamento de água durante a fase construtiva. Os
dados geométricos fazem já parte dos dados iniciais e estão apresentados na Figura 8.
Durante a construção, estas galerias serão pré-fabricadas e transportadas através de gruas para o
local onde serão fundadas. Também é importante referir que entre a rocha e a galeria será aplicado
betão de regularização. Entre cada galeria será aplicado, também um material ligante de modo a
formar juntas entre blocos. Após a colocação de todos os elementos estruturais, procede-se então
para a aplicação de BCC.
Figura 8 - Dimensões da secção em betão armado da galeria de desvio através do corpo da barragem
Geotecnia
De acordo com os dados fornecidos, o local projetado para a implantação da barragem é um vale
com um maciço rochoso localizado no nível de fundação. Devido a algumas incertezas acerca do
10
estado do maciço, o projeto abrange duas situações geotécnicas distintas de modo a cobrir o caso
mais condicionante que, à partida, é desconhecido.
Os dois cenários geotécnicos diferem apenas no estado em que se encontra o maciço. O primeiro
admite que o maciço rochoso é de boa qualidade (reduzido grau de fraturação) e o segundo admite
um maciço de pior qualidade (elevado nível de fraturação). Em termos de análise, a diferença que se
apresenta entre os dois casos é na rigidez inerente ao terreno de fundação.
Estado Designação
Rocha não fraturada Boas condições geotécnicas
Rocha fraturada Razoáveis condições geotécnicas
Ações de projeto
As ações predominantes na galeria de desvio são o peso próprio da estrutura, da barragem assente,
e impulsos hidrostáticos. Estes últimos podem corresponder a subpressões sob a galeria, ou a
impulsos laterais na secção. Têm um valor significativo na verificação à segurança dos ELU, mas
correspondem a um caso em que há infiltração de água nas juntas entre blocos, no caso em que
estas sofrem rompimento. Considera-se que as ações de quaisquer utilizações no topo da barragem
são desprezáveis em termos da sua ordem de grandeza.
11
3. MATERIAIS E DURABILIDADE
Uma estrutura é tão mais durável quanto maior for o seu período de vida útil. Este pode ser
designado como o tempo em que não se deseja ter quaisquer custos de manutenção imprevistos.
A durabilidade de uma estrutura está inerente nos materiais utilizados na sua construção. Pretende-
se que a estrutura seja bastante durável vista a sua natureza e funcionalidade. Como tal, definiu-se a
estrutura como tendo 100 anos de período de vida útil.
Recobrimento
O recobrimento da peça de betão armado é a espessura de betão que existe entre a face exterior e a
armadura. Esta medida é de importância vital para a durabilidade da estrutura, pois é esta que
condiciona a suscetibilidade de ataques físicos ou químicos ao aço. Para além disso também é um
fator que influencia outras problemáticas, como a aderência entre o aço e o betão e a resistência ao
fogo.
De acordo com o ponto 4.4.1.2 de [6], o recobrimento mínimo (𝑐𝑚𝑖𝑛 ) a utilizar será dado pela Equação
( 1 ).
Dado que o valor recomendado para ∆𝑐𝑑𝑢𝑟,𝛾 pela norma é 0 mm, e que não é utilizado aço inoxidável
nem proteção adicional, todos estes valores tomam-se iguais a zero.
De acordo com o Quadro 4.2 de [6], 𝑐𝑚𝑖𝑛,𝑏 deverá, para varões não agrupados, ser igual ao diâmetro
do varão, isto é, 32 mm.
Para determinar 𝑐𝑚𝑖𝑛,𝑑𝑢𝑟 , consultou-se o Quadro NA-4.3N de [6] (Anexo Nacional). Devido ao facto de
a estrutura poder estar alternadamente húmida e seca, com uma variação na cota do nível da água,
considerou-se uma classe de exposição XC4. Assumindo a estrutura como sendo da classe S6, o
valor do recobrimento mínimo a utilizar é 40 mm.
12
Tem-se então:
Há ainda lugar a considerar a expressão 4.1 de [6], que refere que o recobrimento nominal, 𝑐𝑛𝑜𝑚 , é
dado por:
Em que ∆𝑐𝑑𝑒𝑣 é uma margem de cálculo. O valor recomendado por [6] é de 10mm, o que resulta num
valor de 𝑐𝑛𝑜𝑚 igual a 50 mm.
De acordo com o Anexo Nacional da NP EN 1992-1-1 [6], o recobrimento a adotar nas peças de
betão armado dependerá da classe de exposição do mesmo, bem como o período de vida útil da
estrutura.
Materiais
Para este projeto será necessário definir três materiais principais: betão estrutural, betão compactado
com cilindro e aço das armaduras ordinárias.
O betão estrutural a utilizar deverá respeitar as regras estipuladas por [7]. Supõe-se, tal como em 3.1,
que a estrutura pertence à classe de exposição XC4 por estar alternadamente húmida e seca. De
acordo com o Quadro 6 deste documento, a classe mínima de betão a utilizar é C30/37.
Refere-se, no entanto, que para efeitos de cálculo se irá tomar conservativamente um betão com
características C25/30, por ter sido inicialmente admitida esta premissa, ao nível dos dados de base,
conforme se indica na Tabela 2.
Como o volume de BCC esperado é elevado, é ideal que seja utilizada uma classe de resistência
baixa, pelo que se utilizará a classe C12/15.
13
Tabela 2 - Características dos betões a utilizar na análise da estrutura
É expectável utilizar elevadas quantidades de armadura num projeto desta dimensão. Assim, prevê-
se favorável a colocação de aço A500, por forma a favorecer a pormenorização das armaduras. As
características do A500 apresentam-se na Tabela 3.
14
4. ACÇÕES E CRITÉRIOS DE PROJECTO
Carregamentos estáticos
Temperatura
Retração
Fluência
Sismo
Vento
Neve
No contexto de um projeto de estruturas, o Estado Limite Último (ou de rotura) tem de ser
obrigatoriamente cumprido. De acordo com o ponto 6.4.2. da NP EN 1990 [8], a verificação do estado
limite de rotura é garantida se for respeitada, no modo mais geral, a inequação:
𝑅𝑑 ≥ 𝐸𝑑 (4)
𝐸𝑑 = ∑ 𝛾𝐺,𝑗 𝐺𝑘,𝑗 "+"𝛾𝑃 𝑃+𝛾𝑄,1 𝑄𝑘,1 " + " ∑ 𝛾𝑄,𝑖 𝜓0,𝑖 𝑄𝑘,𝑖 (5)
𝑗≥1 𝑖≥1
15
Tabela 4 - Coeficientes parciais relativos à resistência
Os modelos de cálculo da resistência das peças estruturais são considerados em conformidade com
a NP EN 1992-1-1 [6].
Refere-se ainda que, neste trabalho, se irá efetuar a verificação da segurança da estrutura ao esforço
transverso, e esta será de acordo com o modelo proposto pelo REBAP [9].
A verificação aos estados limites de serviço (ou de utilização) também são essenciais para qualquer
projeto durante a utilização em serviço. Dentro destes estão incluídas as verificações relativamente à
abertura de fendas.
A existência destes estados não tem como fim garantir o não colapso da estrutura, mas sim
assegurar que esta tenha um comportamento em condições normais de serviço, bem como garantir o
conforto dos seus utilizadores.
Convém referir que, uma estrutura de boa qualidade terá de respeitar a verificação aos ELU e ELS
em simultâneo.
No presente trabalho será apenas feita a verificação à segurança à abertura de fendas para
condições em serviço. O critério de verificação empregue será o preconizado por [6], que consiste em
calcular uma estimativa da largura da fenda formada num elemento, wk, e esta não poderá ser
superior à máxima admissível, wmáx.
O valor de wmáx a impor na verificação depende da classe de resistência e da função do aço no betão,
isto é, se é aço para armadura ordinária ou se é para armadura de pré-esforço. Esse valor pode ser
obtido diretamente através do Quadro 7.1N de [6].
16
Quanto ao valor de wk, este pode ser estimado através da expressão 7.8 de [6]:
Em que 𝑠𝑟,𝑚𝑎𝑥 é a distância máxima entre fendas, 𝜀𝑠𝑚 é a extensão média das armaduras já
contabilizando com a extensão do betão à tracção, é 𝜀𝑐𝑚 a extensão do betão entre fendas.
𝑓𝑐𝑡,𝑒𝑓𝑓
𝜎𝑠 − 𝑘𝑡 (1 + 𝛼𝑒 𝜌𝑝,𝑒𝑓𝑓 )
𝜌𝑝,𝑒𝑓𝑓 𝜎𝑠 (7)
𝜀𝑐𝑚 − 𝜀𝑠𝑚 = ≥ 0,6
𝐸𝑠 𝐸𝑠
Em que 𝜎𝑠 é a tensão de tracção no aço admitindo que a secção está fendilhada,𝑘𝑡 um coeficiente
que depende da duração do carregamento (igual a 0,4 para ações de longa duração), 𝑓𝑐𝑡,𝑒𝑓𝑓 é o valor
da tensão de rotura à tracção do betão efectiva (igual a 𝑓𝑐𝑡𝑚 no caso da presa demorar os 28 dias
𝐴𝑠 +𝜉12 𝐴′𝑝
programados),𝛼𝑒 o quociente entre Es e Ecm, 𝜌𝑝,𝑒𝑓𝑓 = , 𝐴𝑠 a área de aço, 𝐴𝑐,𝑒𝑓𝑓 a área da
𝐴𝑐,𝑒𝑓𝑓
𝑘1 𝑘2 𝑘4 𝜙
𝑠𝑟,𝑚𝑎𝑥 = 𝑘3 𝑐 + (8)
𝜌𝑝,𝑒𝑓𝑓
Tabela 6 - Valores recomendados pelo ponto 7.3.4 (3) da NP EN 1992 1-1 para os coeficientes k1 a k4
Coeficiente k1 k2 k3 k4
Dentro das ações permanentes, estão incluídos os pesos do betão estrutural da galeria e do BCC.
17
Sabendo que a barragem terá no total 103 metros de altura, e que a galeria tem 17,7 metros de
altura, estima-se que o BCC tenha uma altura de 85,3 m. Assumindo que o BCC, não sendo armado
tem um peso volúmico de 24 kN/m 3:
Assim, estima-se que o peso aplicado pelo BCC será de 2047 kN/m2. Numa fase inicial da análise,
tomará a forma de uma carga uniformemente distribuída.
Considera-se que qualquer revestimento, ou outro tipo de carga permanente que eventualmente surja
na barragem não irá causar nenhuma carga significativa, pelo que se despreza. Para além disso, o
estado limite último abrange quaisquer incertezas nestes aspetos ao aplicar o coeficiente de
majoração já indicado.
Ações Variáveis
Dada a natureza deste projeto é imprescindível contabilizar a ação da água, pois esta é a principal e
a mais significativa, dentro do domínio das ações variáveis. Prevê-se que existirão subpressões a
serem exercidas na face inferior da estrutura e eventuais impulsões laterais entre duas galerias no
caso do rompimento das lâminas de estanqueidade localizadas entre os blocos estruturais, a
montante da galeria.
18
4.4.1. Subpressões (SP)
Em fase de funcionamento, a galeria estará sujeita a impulsões causadas pela água. É evidente que
esta ação será mais condicionante quando se atingir o nível de pleno armazenamento (NPA).
Considera-se, na análise a realizar, que as subpressões atuam como uma carga uniforme distribuída
na face inferior da galeria, semelhante ao carregamento do peso próprio que atua na face superior.
Assumindo um peso volúmico da água de 9,8 kN/m 3 e 100 m de altura de água correspondente ao
NPA, tem-se:
Uma vez que se preveem juntas entre galerias, é interessante quantificar a ação das
impulsões laterais causadas pela água que infiltra esta zona. Com o mesmo raciocínio que no
ponto anterior:
19
𝐼𝑙𝑏𝑎𝑠𝑒 = 100 ∗ 9.8 = 980𝑘𝑁/𝑚2 ( 12 )
Logo, para fins de análise, esta carga será trapezoidal distribuída, com 806,5 kN/m2 de valor acima e
980 kN/m2 em baixo.
Combinações de carregamento
Para este dimensionamento estrutural foram considerados três cenários de carregamento baseados
nas ações quantificadas nos pontos anteriores. Os cenários correspondem a:
Situação permanente
Nível de Pleno Armazenamento
Rompimento de juntas durante o Pleno Armazenamento
A primeira combinação corresponde a uma fase em que não há água a montante. Como tal, a única
ação exercida na galeria será o peso da barragem. Pode-se afirmar que esta combinação é
efetivamente igual que o efeito das ações permanentes em termos de análise.
20
Figura 12 - Cenário de carregamento 1
Resumindo, será necessário verificar a segurança a três combinações de carga para o ELU. A Tabela
7 sumariza os três casos, bem como os coeficientes de majoração a utilizar para cada ação.
Tabela 7 - Coeficientes de majoração dos efeitos das cargas a aplicar para cada cenário
ELU PP SP IL
Combinação 1 1,35 - -
Combinação 2 1,35 1,5 -
Combinação 3 1,35 1,5 1,5
Considerando que a ação da água é variável, justifica-se que o seu coeficiente de majoração possa
ser 1,5. No entanto, a adoção de um coeficiente de majoração para esta ação poderá suscitar alguma
ambiguidade, pois a água não sofre alterações no seu peso volúmico, nem poderá atingir uma altura
superior àquela projetada. Para além disso existem situações em que a ação da água é considerada
como permanente. Devido a esta incerteza, e para uma análise mais conservativa, o coeficiente de
majoração a aplicar neste caso será 1,5.
Semelhante ao ELU, o ELS também será afeto de coeficientes adequados para o funcionamento em
serviço. No entanto, como mostra a Tabela 8, os coeficientes são todos iguais à unidade, pois o os
efeitos das ações abrangem apenas o peso próprio e a água.
21
Tabela 8 - Coeficientes de combinação a aplicar para cada cenário nos ELS
ELS PP SP IL
Combinação 1 1 - -
Combinação 2 1 1 -
Combinação 3 1 1 1
O terceiro cenário de carregamento considera o rompimento das juntas entre galerias. Como já foi
referido, o rompimento de uma junta implica a infiltração de água nessa zona, seguido de impulsões
causadas pela mesma. Uma vez que estas ações são mais condicionantes quando a água atinge o
NPA, poder-se-á combinar esta ação com a subpressão diretamente, como ilustrado na Figura 14.
22
Figura 14 - Cenário de carregamento 3
Outras ações
Para além dos carregamentos que foram mencionados nos pontos anteriores, a generalidade das
estruturas está sujeita a uma variedade de solicitações, entre as quais, o sismo, a ação da
temperatura, da retração e da fluência, da neve e do vento. No entanto, considerar-se-ão estas como
não sendo condicionantes para o caso em questão.
O sismo não se admite ser significativo devido ao facto de se tratar de um estudo de uma fase
construtiva e, por conseguinte, um período de tempo relativamente pequeno. Para além disso,
admite-se que a zona para onde está projetada construir esta obra é de sismicidade muito reduzida.
23
5. ANÁLISE DA ESTRUTURA ATRAVÉS DA CONSULTA DE
TABELAS (MODELO I)
Com todas as hipóteses simplificativas tomadas, a secção transversal da galeria é então, retangular
com a largura b igual à unidade e a altura h igual à espessura. Apesar de se tratar de uma laje,
despreza-se o comportamento de laje para efetuar a simplificação de modelo de barra. Optou-se por
uma consulta a tabelas fornecidas por Isnard et al. Este documento inclui secções com a mesma
geometria da que consiste o problema, e permite calcular esforços causados por várias situações de
carregamento de uma forma expedita. Também identifica os vários nós onde são calculados os
momentos, que estão indicados na Figura 15.
Análise da situação 1
Neste caso, a secção está apenas sujeita ao seu peso próprio e ao peso do BCC assente no seu
topo. Considera-se como hipótese simplificativa que a reação da fundação também é constante e de
valor igual ao do carregamento. As tabelas consultadas incluem uma situação semelhante a esta, e
está representada na Figura 16.
24
Para a obtenção destes momentos, será necessário recorrer ao cálculo de dois parâmetros
intermédios, 𝑘 e 𝑟, através das equações ( 15 ) e ( 16 ). Os momentos são calculados através das
equações ( 13 ) e ( 14 ):
𝑞𝑙 2
𝑀𝐴 = 𝑀𝐶 = 𝑀𝐸 = 𝑀𝐹 = − ( 13 )
12 ∙ 𝑟
𝑞𝑙 2 3𝑘 + 1
𝑀𝐵 = 𝑀𝐷 = − ∙ ( 14 )
12 𝑟
𝐼2 ℎ
𝑘= ∙ ( 15 )
𝐼1 𝑙
𝑟 = 2𝑘 + 1 ( 16 )
1×43
𝐼1 = = 5.33𝑚4 /𝑚
12 ( 17 )
1×4.53
𝐼2 = = 7.59𝑚4 /𝑚 ( 18 )
12
7.59 13.2
𝑘= ∙ = 1.879 ( 19 )
5.33 10
𝑟 = 2 ∗ 1.879 + 1 = 4.759 ( 20 )
Com o auxílio destes parâmetros, determinaram-se os momentos nos vários nós. Como indicam as
Equações ( 13 ) e ( 14 ), os momentos independentes são apenas dois devido à dupla simetria da
estrutura e do carregamento. Os valores destes momentos apresentam-se na Tabela 9. O andamento
25
e os valores nos meios vãos foram obtidos por equilíbrio, e o diagrama final apresenta-se na Figura
17.
Análise da situação 2
Neste caso, a barragem está a suportar uma altura de 100 metros de água a montante, criando
subpressões na face inferior da galeria. Considera-se, então, como simplificação do modelo de
cálculo, que esta subpressão “alivia” a reação da fundação. Devido à falta de casos de carregamento
disponibilizados em [1], não há distinção entre um carregamento uniforme na face superior e na face
inferior. Conservativamente, não se considera o efeito do “alívio” da reação, tornando esta situação
de carregamento igual à situação 1. Concluindo, pode-se prescindir desta análise, pois seria
integralmente igual à situação anterior.
Análise da situação 3
26
Decompondo estas impulsões em parcelas uniformes e triangulares, pode-se também consultar e
aplicar diretamente as tabelas fornecidas por [1]. Para a carga vertical, é como ilustra a Figura 16 da
situação 1. Os carregamentos laterais, decompostos na parcela uniforme e triangular da impulsão
estão ilustrados, respetivamente, na Figura 18 e na Figura 19:
Os parâmetros 𝑘 e 𝑟 são os mesmos, mas no caso da carga lateral triangular surge um parâmetro
novo 𝑚 calculado pela equação ( 21 ):
𝑘 = 1.879, 𝑟 = 4.759 ( 21 )
20(𝑘 + 6)𝑟
𝑚= = 399.026 ( 22 )
𝑘
Convém referir que a parcela uniforme lateral não tem parâmetros auxiliares adicionais.
Os momentos para os carregamentos laterais podem então ser determinados. Os seus valores estão
representados na Tabela 10.
27
Tabela 10 - Momentos causados separadamente pelos carregamentos laterais na galeria
Somando os valores obtidos aos já calculados para o carregamento vertical, obtêm-se os momentos
resultantes para a cenário 3, sintetizados na Tabela 11. Tendo o conhecimento destes, pode-se
determinar os momentos em qualquer secção através de equações de equilíbrio. Com essa
informação obteve-se o diagrama de momentos ilustrado na Figura 20.
Tabela 11 - Momentos nas secções principais da galeria causados pelo cenário de carregamento 3
É de referir ainda que, existem esforços normais importantes nas paredes da estrutura. Estes, porém,
serão analisados numa segunda fase.
28
Envolvente do diagrama de momentos e quantidade de armadura de
flexão
A situação de flexão mais condicionante é aquela que corresponde à situação 1, com um momento
fletor M = -35 692.9 kNm/m e esforço normal associado nulo e localiza-se no apoio central da laje
superior. Somente para obter uma ordem de grandeza dos esforços e da armadura, pode-se calcular
uma estimativa da área de aço necessária. Assim, neste caso, poder-se-á recorrer às definições de
momento reduzido 𝜇 e à consulta de [12] para a taxa mecânica de armadura𝜔 necessária:
𝑀𝑠𝑑 35692.9
𝜇= = = 0.116 ( 23 )
1 · 𝑑 ∙ 𝑓𝑐𝑑 1×4.32 × 25000
2
1.5
𝜇 = 0.116 → 𝜔 = 0.126 ( 24 )
25
𝑓𝑐𝑑 1.5
𝐴𝑠 = 𝜔𝑏𝑑 = 0.126 ∗ 1 ∗ 4.3 ∗ = 0.02077𝑚2 /𝑚 = 207.69𝑐𝑚2 /𝑚 ( 25 )
𝑓𝑦𝑑 500
1.15
Alternativamente, recorreu-se a uma folha de cálculo para obter a armadura mínima necessária de
flexão em que é contabilizada uma armadura de compressão. Deste modo pode-se reduzir a
29
quantidade de armadura. Supondo que a armadura de compressão é composta por duas camadas
32//0.200 (80,42 cm2/m), chegou-se a uma área de armadura necessária de 200,54 cm2/m.
Portanto, com esta ordem de grandeza, poderia adotar-se 1 camada 32//0.100 + 3 camadas
32//0.200, que corresponde a 201 cm2/m.
Para todos estes cálculos, foi desprezada a deformabilidade do terreno de fundação, o que gera um
erro significativo relativamente àquilo que acontece na realidade. A consequência desta suposição é
que a reação exercida pela rocha terá de ser uniforme na superfície. Na realidade, espera-se que
serão geradas tensões de compressão maiores na superfície da fundação abaixo dos troços verticais
da galeria.
30
6. MODELAÇÃO DA ESTRUTURA UTILIZANDO ELEMENTOS DE
BARRA (MODELO II)
No capítulo anterior, foram obtidos diagramas de esforços para toda a estrutura utilizando as
hipóteses simplificativas já enunciadas.
Para uma melhor compreensão do funcionamento da estrutura, será interessante reproduzir a mesma
para uma ferramenta de cálculo [14] e efetuar uma análise pelo método dos elementos finitos. Esta
opção permite modelar a estrutura com mais precisão, e mais especificamente as suas condições de
apoio com o terreno de fundação.
Lei de Hooke
Uma vez que a estrutura está assente diretamente no terreno, não se pode considerar que o seu
apoio é “perfeitamente rígido”. Surge então, o conceito de apoio elástico, isto é, uma mola. Numa
mola discreta, reside a Lei de Hooke traduzida pela equação ( 26 ):
𝐹 = 𝑘𝑥 ( 26 )
Meio de Winkler
Considerando, também, que a estrutura está continuamente apoiada, o problema deixa de poder ser
traduzido por um conjunto de molas discretas. Passa então, a ser mais complexo, carecendo do
conceito de “mola contínua”, mais conhecido por meio de Winkler [2]. Neste conceito, surge a lei
traduzida pela equação ( 27 ):
𝑅(𝑥) = 𝑘𝑠 ∙ 𝑤(𝑥) ( 27 )
31
Em que 𝑅(𝑥) é a reacção (em kN/m) do apoio em função da posição 𝑥 (em m), 𝑘𝑠 é o módulo de
reacção do meio elástico (em kN/m2), e 𝑤(𝑥) a deformação (em m) do corpo assente no meio, em
função da posição 𝑥.
Convém referir que, quer para o caso em 6.1 ou para 6.2, estimar a rigidez requer ter conhecimento
das características intrínsecas do material que constitui o apoio exterior. No caso do problema em
questão, o apoio é contínuo, e o material é o maciço rochoso onde está assente a estrutura.
Este parâmetro é de alta importância para a modelação a efetuar e é necessário obter uma estimativa
razoável. De acordo com Vesic, o módulo de reação, ks, para uma viga comprida assente num meio
elástico, e pode ser avaliado por:
12 𝐸𝑠 ∗ 𝑏 4 𝐸𝑠
𝑘𝑠 = 0.65 ∗ √ ∗ ( 28 )
𝐸𝑓 ∗ 𝐼𝑓 𝑏(1 − 𝜐𝑠2 )
Módulo de reação
No capítulo anterior, a hipótese simplificativa tomada para o apoio consistia em pressupor que este
era continuamente rígido, e prolongava-se por toda a face inferior da secção. Em tal caso, a reação
vertical consiste num diagrama constante (ver Figura 24). Porém, a utilização de um modelo assente
num meio de Winkler, apesar de se aproximar mais da realidade, origina uma não-linearidade no
diagrama correspondente à reação vertical do terreno de fundação (ver Figura 25).
Realça-se que em ambos os casos, a seguinte equação vai ter de continuar a ser respeitada:
20
∫ 𝑟(𝑥) 𝑑𝑥 = 𝑞 ( 29 )
0
32
Figura 24 - Reacções resultantes numa estrutura assente em fundação perfeitamente rígida
Uma vez que a transmissão das forças verticais da estrutura para a fundação é feita através das
paredes verticais, é expectável que sejam geradas maiores tensões no solo imediatamente abaixo
destas. Por outras palavras, a reação gerada pelo terreno de fundação à estrutura pode ser
considerada como sendo uma concentração de tensões na região localizada junto à extensão da
linha média das paredes verticais.
Em contexto de projeto, e por ser um estudo prévio, é aconselhável ter em consideração mais do que
uma situação distinta para o terreno de fundação. Sabendo apenas que este é rochoso, faz-se um
estudo de apenas dois cenários diferentes, podendo o maciço encontrar-se fraturado ou não.
Designam-se os dois casos por F1 e F2 (boas condições geotécnicas e razoáveis condições
geotécnicas, respetivamente) e atribui-se ao terreno de fundação um módulo de reação K diferente. O
33
caso F1 corresponde a um maciço mais rígido enquanto que o caso F2 trata dum maciço mais
deformável.
Ainda conhecendo a fórmula proposta por Vesic para a estimativa destes valores, não se conhecem
dados suficientes sobre o maciço rochoso, pelo que nesta fase da análise, os valores de K foram
considerados nos dados iniciais, e apresentam-se na Tabela 12.
Caso F1 Caso F2
Boas condições geotécnicas Razoáveis condições geotécnicas
K=7 500 000 kN/m3 K=500 000 kN/m3
Salienta-se que, caso a fundação se tratasse dum solo granular, estes valores seriam
significativamente menores.
Por se considerarem três cenários de carregamento em conjunto com duas condições geotécnicas
diferentes, é gerado um total de 6 casos de estudo diferentes. Relembra-se também que, estando
agora ao dispor de uma ferramenta numérica para a análise, a situação de carregamento 2 deverá
deixar de ser considerada igual à situação 1. Os seis casos diferentes, são então enunciados na
Tabela 13.
Tabela 13 - Condições geotécnicas e combinações de carregamento para cada caso particular de estudo
É importante referir, ainda, que as molas a considerar para o modelo funcionarão apenas à
compressão.
Tal como no capítulo anterior, e por se adotar um modelo de barra, a estrutura a simular será
reduzida a elementos unidimensionais, que coincidem com os eixos dos troços da estrutura real.
Como tal, será composta novamente por trechos horizontais de 10,0 m de comprimento e verticais de
13,2 m de altura.
O betão a ser utilizado neste estudo, como já foi referido em 2.1, será de classe C25/30. As
características relevantes a introduzir no modelo são, portanto, o módulo de elasticidade, E (GPa), e
34
o coeficiente de Poisson, ν. Os valores quantificados para estas características encontram-se na
Tabela 14, e são de acordo com o ponto 3.1.3 de [6].
E (GPa) ν (·)
31,0 0,2
Discretização
35
Figura 27 - Discretização dos elementos no modelo II
Com todo o modelo definido, resta só correr uma simulação do mesmo com a finalidade de obter
resultados.
Este subcapítulo está dividido em duas partes. Na primeira será analisada a reação do exterior para
cada caso geotécnico. Na segunda parte serão analisados os diagramas de esforços obtidos (N, V,
M) da estrutura.
Nesta fase, recorreu-se à modelação da estrutura para a obtenção de uma solução aproximada da
“densidade de reação vertical” através de uma análise por elementos finitos. Relembra-se que será
necessário estudar cada situação de carregamento para cada caso geotécnico.
Após a simulação da estrutura para cada cenário, foram elaborados diagramas que correspondem à
reação da fundação na estrutura. Os resultados encontram-se sumarizados na Tabela 15.
36
Tabela 15 - Diagramas de reacção causados pela fundação modelada para cada caso (1 a 6)
Reacçaõ (kN/m)
1,35PP
Reacção (kN/m)
0 0
5000 5000
10000 10000
Caso 3 Caso 4
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Reacção (kN/m)
Reacção (kN/m)
0 0
5000 5000
10000 10000
Caso 5 Caso 6
1,35PP+1,5SP+1,5IL
0 0
5000 5000
10000 10000
Com base nos gráficos pode-se concluir que quando menos rígida for a fundação, esta há-de tender
a gerar uma reação mais próxima de uma distribuição constante ao longo do seu desenvolvimento.
Com o surgimento de subpressões na galeria, nos casos 3 e 5, existem até partes do elemento que
têm reação nula, evidenciando que realmente há uma diferença entre os dois primeiros casos.
37
6.6.2. Diagramas de esforços
Figura 28 - Diagrama de esforços normais (Modelo II, valores em kN/m, valores negativos indicam compressão)
Apesar de já serem distinguidos como casos diferentes na análise, os esforços normais quase que
não sofrem nenhuma alteração do cenário de carregamento 1 para o cenário de carregamento 2.
Em relação ao modelo anterior, é possível notar uma diferença no andamento do esforço normal nos
troços verticais. Tal deve-se ao facto de não se ter contabilizado o peso próprio da galeria no Modelo
I e, por conseguinte, o grau da função nesse modelo é constante também nos troços verticais. É de
realçar, também, que o esforço normal deixa de ser nulo nos casos 5 e 6 devido às impulsões
laterais.
38
Figura 29 - Diagrama de esforços transversos (Modelo II, valores em kN/m)
Acerca dos esforços transversos, poucas conclusões se podem tirar. A diferença entre ambas as
condições geotécnicas é visível, sendo o diagrama mais próximo de uma reta no caso de se tratar de
uma fundação com comportamento mais flexível.
39
Também como na Figura 28, os valores do esforço transverso são quase idênticos nas duas
primeiras situações de carregamento, para cada condição geotécnica. Esta semelhança está mais
visível entre os casos 2 e 4, em que os valores são praticamente iguais.
Segue-se então para a obtenção dos diagramas de momentos fletores. Estes também serão
significativamente diferentes que os obtidos pela consulta de tabelas. Na Figura 30 estão
apresentados os momentos da envolvente nos vários nós.
Os momentos negativos tornam-se, no geral, menos condicionantes. Apesar de haver uma redução
de cerca de 20% do momento máximo negativo, os momentos localizados nos meios-vãos sofreram
um aumento considerável. Entre A e B, o maior momento positivo registado assume o valor de
40
27 033.8 kNm/m. Assim, estima-se que a quantidade de armadura de momentos negativos seja
semelhante à de momentos positivos.
Seguindo o mesmo raciocínio que em 5.4, poder-se-á calcular uma estimativa da quantidade de
armadura para estas novas distribuições de esforços. Salienta-se que neste caso, o momento
máximo negativo ocorre na situação de carregamento 3, que está associada a esforços de
compressão em todos os troços. Portanto, analisar-se-ão dois casos, o momento máximo negativo e
o momento máximo positivo.
Na análise, uma vez que se terá de ter em consideração o esforço normal, deixa de fazer sentido
seguir pelo mesmo cálculo que foi feito em 5.4. Este caso, tratando-se de flexão composta, recorreu-
se [12], que estima para estes casos um valor de ω tot, correspondendo à taxa mecânica de armadura
total. A partir dessa, calcula-se um valor indicativo de área total de aço necessária, As,tot. Os
resultados deste procedimento, bem como todos os seus valores intermédios, apresentam-se na
Tabela 16. Relembra-se que ambos os momentos máximos ocorrem nos troços superiores da galeria,
e que a armadura superior será em igual quantidade que a inferior.
Tabela 16 - Estimativa da área necessária de armadura longitudinal para a verificação aos ELU (Modelo II)
Sabendo que duas camadas de 32//0.200 (uma superior e outra inferior) têm um total de
80,42 cm2/m, conclui-se que quatro camadas 32//0.200 em ambos os lados são quase suficientes
para verificar a segurança, com 321,68 cm 2/m. Neste caso, teria de se diminuir o espaçamento entre
varões na primeira camada, por exemplo, para 10 cm.
Recorrendo à mesma folha de cálculo referida em 5.4, observa-se que, ao considerar a existência de
armadura de compressão, a diferença é palpável. Analisando o segundo caso, que se revelou ser
mais condicionante, a área mínima de armadura de flexão é de apenas 150,84 cm 2/m (apenas para a
armadura inferior, supondo uma armadura de compressão de 80,42 cm 2/m). Com este resultado,
conclui-se que quatro camadas 32//0.200 a dispor na face inferior da laje de topo são, de facto,
suficientes para verificar o ELU à flexão.
Porém, como no capítulo anterior, estes dados são considerados preliminares, e não são definitivos
para o dimensionamento, devido ao facto de se considerar esta aproximação como sendo demasiado
grosseira.
41
Modelação alternativa com contabilização da largura dos apoios
A estrutura e as suas dimensões sugerem que a redução da mesma aos seus eixos pode ser
demasiado grosseira. De facto, os vãos livres “reais” têm apenas 6,9 metros na horizontal e 8,7
metros na vertical. Seria, portanto, interessante realizar também uma análise a uma estrutura com a
mesma geometria, mas com os vãos reduzidos referidos. Tal é possível se se considerar que as
extremidades de cada barra terão um dado comprimento em que são rígidas, sendo esse
comprimento igual a metade da largura do apoio correspondente, ilustrado na Figura 31.
Uma análise a este modelo poderá ser um passo à frente em relação aos modelos anteriores e, por
isso, relevante ao problema. Porém, esta não está incluída na presente dissertação em lugar
daquelas que são efetuadas no capítulo seguinte.
42
7. MODELAÇÃO DA ESTRUTURA UTILIZANDO ELEMENTOS DE
CASCA (MODELOS III E IV)
Uma vez que a estrutura do problema é composta por troços espessos e vãos relativamente
pequenos, será vantajoso efetuar uma análise mais precisa. Confia-se que, em vez de elementos
lineares, um modelo de elementos bidimensionais irá produzir resultados mais próximos da realidade.
Figura 32 - Elemento bidimensional com quatro nós, com uma dada espessura segundo o eixo 3
Os elementos bidimensionais, como o nome indica, são elementos que têm duas dimensões
significantes, mais uma terceira, a espessura, que é de ordem de grandeza inferior às outras duas
(ver Figura 32). Podem simular desde estados planos de tensão a estados mais complexos que
envolvem tensões no próprio plano combinadas com tensões fora do plano. É importante referir que
estes elementos têm pelo menos três nós.
43
Dentro dos elementos bidimensionais existem dois tipos: os de placa e os de casca. O primeiro é o
mais simples, pois apenas lida com tensões segundo o próprio plano. Por outras palavras, se se
pretender analisar um caso que consista apenas num estado de tensão plano, o método mais
adequado será o MEF com elementos de placa. O último é um tanto mais complexo, pois este inclui
tensões dentro e fora do seu próprio plano.
O elemento de casca (ou “Shell element”) tem o seu nome baseado nos casos em que a utilização
deste elemento é a mais prática, isto é, superfícies curvas em 3D. Estas abrangem uma variedade de
estruturas de espécies diferentes, sendo que os casos mais correntes são lajes de edifícios e silos.
No entanto, a sua utilização também existe frequentemente fora da engenharia de estruturas.
Dentro deste domínio poderá optar-se por utilizar um modelo de casca fina ou espessa. A diferença
entre as duas está na contabilização da deformabilidade por esforço transverso, embora esta última
seja apenas adequada para elementos com uma espessura da ordem de grandeza de 10% das
outras dimensões [13].
É usual empregar este modelo em estruturas com alguma complexidade. Mesmo se se considerar
utilizar elementos tridimensionais, convém ponderar a alternativa de elementos de casca pelo simples
facto de que estes são computacionalmente menos exigentes.
No caso em análise, não se pretende estudar a deformação da galeria fora do plano da secção, pois
o objetivo é estudar apenas os esforços transversais da mesma. Assim, a utilização de elementos de
placa ou de casca é indiferente, pois os resultados serão os mesmos. Contudo, a estrutura será
modelada com elementos de casca.
Ao contrário dos modelos anteriores, os elementos de casca apenas terão esforços de tensões
associados. Como tal, será necessário obter estes valores através dos resultados obtidos, por
integração das tensões. Este processo será de grande relevo neste capítulo e será descrito
ulteriormente.
44
Definição da geometria e das características mecânicas do problema
Pretender-se-á, com esta via, validar os resultados obtidos nos pontos anteriores através de
elementos unidimensionais. Para tal, esta análise irá incluir a obtenção dos esforços principais (N, V e
M) nas secções críticas, S1 a S7, como indicado na Figura 34.
Dada a capacidade do modelo a ser utilizado, será dado um passo à frente na análise ao problema.
Para além de se obter os esforços nas secções condicionantes, como foi feito nos pontos anteriores,
será também realizado, mais adiante, um estudo às camadas de BCC diretamente por cima da
galeria.
O betão estrutural, como corresponde à mesma estrutura que no capítulo anterior, não sofre
alterações nas suas características mecânicas, pelo que se usaram as mesmas, apresentadas na
Tabela 17.
E (GPa) 31,0
ν (-) 0.2
45
7.1.2. Parâmetros do BCC
Uma vez que se irá proceder à modelação do BCC, ter-se-á, também, de ter conhecimento prévio das
suas propriedades mecânicas inerentes. Na ferramenta utilizada [14], as características mais
importantes a traduzir serão os valores do módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson.
Para ter conhecimento destes parâmetros, consultou-se [11], pertencente à U.S. Army Corps of
Engineers (USACE), que contém informação relevante.
O módulo de elasticidade do BCC vai ter uma diferença apreciável relativamente ao betão corrente.
Através da fórmula 4-2 de [11], e devido à ausência de dados empíricos, o módulo de elasticidade
pode ser estimado através da Equação ( 30 ).
𝐸 = 57000(𝑓𝑐𝑘 )1/2 ( 30 )
Admitindo que o betão utilizado no BCC é da classe C12/15 (𝑓𝑐𝑘 = 12𝑀𝑃𝑎), tem-se então:
1
𝐸 = 57000(12 ∗ 145.0)2 = 2 377 658.5𝑝𝑠𝑖 = 16397.6𝑀𝑃𝑎 ( 31 )
De acordo com o parágrafo 4-3. b. de [11], a maioria dos BCC têm um coeficiente de Poisson
inerente entre 0.17 e 0.22. O documento refere que, no caso de não se dispor de resultados
experimentais deverá adotar-se 0.20 para o coeficiente de Poisson.
Antes de se começar com uma análise mais complexa do faseamento construtivo, é interessante
elaborar um modelo ligeiramente mais simplificado para comparar os valores dos esforços entre as
duas situações.
Foi então criado um modelo “fictício” da galeria, em que não se considerou o BCC no topo da mesma.
Admitiu-se, em vez disso, que existia uma carga distribuída de 2047 kN/m 2, aplicada no topo da
estrutura, semelhante à dos capítulos anteriores.
46
Convém referir que, a criação e a simulação deste modelo foram realizadas, novamente, na mesma
ferramenta [14]. Para a interpretação dos resultados fornecidos pelo mesmo, apresenta-se de
seguida uma convenção de orientação e nomenclatura para as tensões nos elementos. Essa
convenção está representada na Figura 35.
Figura 35 - Convenção de sinais das tensões positivas num elemento de casca (σ11 ≡ tensões horizontais, σ22 ≡
tensões verticais)
Face ao nível de detalhe associado ao Modelo IV, será comparativamente analisada apenas a
situação de carregamento 1. Para além disso, este estudo está mais concentrado no processo
construtivo. Como tal, apenas será estudado o carregamento mais simples, no qual apenas a própria
barragem gera peso por cima da galeria.
7.2.2. Discretização
Dada a dimensão da galeria, a discretização a efetuar terá de ser cuidadosa. A mesma terá de
garantir uma solução realista, mas sem ser muito exigente em termos computacionais. No caso de
não respeitar a última condicionante, obter e estudar os resultados obtidos será uma tarefa bastante
47
mais fastidiosa, ainda que os resultados apresentem mais veracidade. A discretização feita está
representada na Figura 37.
Considerou-se que dez elementos finitos ao longo da espessura dos troços condicionantes, como
adequados para obter uma solução aproximada à real sem ser computacionalmente exigente. O troço
central, por não ser condicionante e de menor espessura contém só 6 elementos ao longo da mesma.
Todos os elementos são constituídos por quatro nós.
Como já foi referido, um modelo de casca terá uma solução definida (ainda que seja apenas uma
aproximação da real) como um campo de tensões associado. Dado que o objetivo é obter esforços
(N, V, M) como nos modelos anteriores, ter-se-á de traduzir um campo de tensões em esforços.
O segundo ponto é uma forma expedita para a obtenção dos esforços. De facto, optar por uma
análise através do primeiro ponto torna-se uma tarefa minuciosa. Por outro lado, efetuar esta análise
seguindo o segundo ponto passa apenas por definir uma secção e confiar no algoritmo de
“conversão” de tensões para esforços, sem ter conhecimento dos procedimentos intermédios que lhe
estão inerentes. Por essa razão, no caso em questão, todos os esforços apresentados serão obtidos
automaticamente, sendo selecionadas algumas secções em que também serão integradas as
tensões, de modo a confirmar os resultados obtidos. Estes valores estão apresentados no Anexo A.
A integração de tensões utiliza alguns princípios estudados na mecânica dos meios contínuos.
Resumidamente, tem-se, para peças horizontais:
48
𝑁 = ∫ 𝜎11 𝑑𝐴 ( 32 )
𝑉 = ∫ 𝜎12 𝑑𝐴 ( 33 )
𝑀 = ∫(𝜎11 ∗ 𝑧)𝑑𝐴 ( 34 )
𝑁 = ∫ 𝜎22 𝑑𝐴 ( 35 )
𝑉 = ∫ 𝜎12 𝑑𝐴 ( 36 )
𝑀 = ∫(𝜎22 ∗ 𝑧)𝑑𝐴 ( 37 )
Realça-se que, devido a simetria de tensões tangenciais, σ12 = σ21, o esforço transverso obtém-se
através das mesmas tensões para troços verticais ou horizontais.
Figura 38 - Exemplo de um diagrama de tensões normais numa dada secção (de altura h) constituida por seis
elementos finitos
49
Utilizando este exemplo como base, o cálculo do esforço normal e do momento desta secção seriam
aproximados pelas equações ( 38 ) e ( 39 ), respetivamente.
5
ℎ ℎ ℎ 𝜎2𝑖 + 𝜎2𝑖+1
𝑁 = 𝜎1 ∗ + 𝜎12 ∗ + ∗∑( )
12 12 6 2 ( 38 )
𝑖=1
ℎ ℎ ℎ ℎ ℎ 𝜎2 + 𝜎3 ℎ 𝜎10 + 𝜎11
𝑀 = 𝜎1 ∗ ∗ (− ) + 𝜎12 ∗ ∗ + (− ) ∗ ( )+ ∗( ) +
12 2 12 2 3 2 3 2
ℎ 𝜎4 + 𝜎5 ℎ 𝜎8 + 𝜎9 𝜎6 + 𝜎7 ( 39 )
+ (− ) ∗ ( )+ ∗( )+0∗( )
6 2 6 2 2
Após a simulação da estrutura na ferramenta [14], relembra-se que apenas se pode obter diretamente
os diagramas de tensões. Estes encontram-se na Figura 39, na Figura 40 e na Figura 41.
50
Figura 40 – Tensões verticais σ22 (Modelo III; unidades em kPa)
Observando os diagramas de tensões, pode-se concluir que o modelo produzido gera resultados
realistas.
51
elevados devido ao carregamento. Para além disso, salienta-se também a região onde estas tensões
são nulas, isto é, nos troços verticais.
As tensões verticais, como revela a Figura 40, sofrem um aumento brusco, mas constante ao longo
da espessura, nos troços verticais. Esta distribuição sugere o que já foi concluído nos outros modelos
acerca dos esforços normais nestas zonas: os valores assumem uma ordem de grandeza
considerável.
Tabela 18 - Esforços obtidos para as secções críticas (Modelo III, K = 7 500 000 kN/m3)
Como é possível observar, os valores dos momentos e dos esforços transversos sofreram uma
grande diferença relativa. Os momentos positivos foram reduzidos para quase metade, e os valores
dos momentos negativos atingem valores ainda mais baixos, não ultrapassando os 3000 kNm/m nos
troços superiores.
A estrutura nos capítulos anteriores está composta por troços unidimensionais, tendo estes sido
prolongados até aos eixos das peças. No entanto, devido ao facto da espessura destas ser da
mesma ordem de grandeza que os vãos, a redução de uma estrutura aos eixos dos trechos deixa de
ser uma aproximação aceitável. Como consequência, observam-se diferenças desta amplitude.
Com a obtenção destes resultados pode-se concluir que reduzir troços espessos (relativamente aos
vãos) ao seu eixo conduz a resultados onde os esforços tendem a ser sobreavaliados. Ter-se-á de
52
realizar uma análise de maior complexidade, tal como a que foi realizada neste capítulo, para
entender o comportamento real da estrutura.
Obtidos os resultados para o modelo simplificado, verificou-se que a diferença aos modelos
anteriores é importante, nas secções com espessura elevada.
De seguida, far-se-á uma análise à estrutura com consideração do faseamento construtivo. Prevê-se
que este caso seja menos condicionante que o analisado no ponto anterior e, naturalmente, ocorrerá
na última fase. Este modelo será, uma vez mais, reproduzido na mesma ferramenta [14].
Como já foi referido, durante a construção de uma estrutura em BCC, a aplicação é feita em
camadas. Assumiu-se, simplificadamente, que as camadas de BCC têm dois metros de altura.
Reconhece-se, no entanto, que na construção destas estruturas, as camadas poderão ter uma altura
menor.
Salienta-se que a convenção para os sinais e direções das tensões utilizada é a mesma que foi
referida em 7.2.
À semelhança do que foi produzido em 7.2.1, os apoios não sofrerão alterações, pelo que
permanecerão molas contínuas ao longo da face inferior da galeria com os mesmos módulos de
reação.
A diferença surge no carregamento a impor no modelo. Em vez de aplicar uma carga uniformemente
distribuída, é colocado o BCC diretamente em cima da estrutura (considerando para o efeito,
elementos finitos de quatro nós com as propriedades materiais do BCC), como indica a Figura 42.
53
Figura 42 - Modelo da Galeria e parte do BCC introduzidos no software
Para a modelação do faseamento construtivo, foi necessário recorrer a uma função incorporada na
ferramenta [14], que modela cada fase em separado. A Figura 43 representa a fase 17 deste
processo.
54
7.3.2. Discretização
Para discretizar a estrutura, foi adotado o mesmo raciocínio do que no Modelo III, isto é, dez
elementos ao longo da espessura dos troços principais, excluindo o central.
Na discretização das camadas de BCC, uma vez que se quer manter os elementos o mais próximo
possível a formas quadrangulares, adotou-se 5 elementos ao longo da espessura de cada camada
(de dois metros). Realça-se, novamente, que todos os elementos são constituídos por quatro nós.
Figura 44 - Modelo da Galeria e parte do BCC discretizados introduzidos no software (esquerda) e estrutura
completa discretizada (direita)
55
Figura 45 - Tensões horizontais σ11 (Modelo IV, K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K = 500 000 kN/m3 à direita;
unidades em kPa)
Figura 46 – Tensões verticais σ22 (Modelo IV; K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K = 500 000 kN/m3 à direita;
unidades em kPa)
Figura 47 - Tensões σ12 (Modelo IV; K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K = 500 000 kN/m3 à direita; unidades
em kPa)
56
Observando os diagramas apresentados, pode-se concluir que são relativamente semelhantes aos do
modelo anterior. Todas as observações colocadas sobre o modelo anterior aplicam-se para este caso
também.
O que difere este modelo do anterior é a presença do BCC enquanto material. Modelar um bloco
diretamente acima da galeria obriga também a existência de deslocamentos compatíveis na fronteira
entre os dois materiais é o que condiciona os resultados. Esta particularidade resulta numa potencial
redução dos momentos fletores nos troços horizontais devido à “absorção” de algumas das tensões
pelo BCC.
Analogamente ao Modelo III, foram obtidos os esforços para as secções S1 a S7, e apresentam-se,
consoante as condições geotécnicas, na Tabela 19 e na Tabela 20.
Tabela 19 - Esforços obtidos para as secções críticas (Modelo IV, K=7 500 000 kN/m3)
Tabela 20 - Esforços obtidos para as secções críticas (Modelo IV, K=500 000 kN/m3)
Comparando com o Modelo III, verifica-se que as maiores alterações ocorrem ao nível da laje de
topo, onde se regista uma redução importante no momento a meio vão, sendo agora de 8 053 kNm/m
(antes 18 534 kNm/m). Regista-se ainda um aumento do esforço normal de tração na secção do
apoio (agora 4 075 kN/m, antes 1203 kN/m).
57
Tal poderá explicar-se pelo facto de a galeria ser mais resistente que o BCC. Consequentemente, a
laje superior assume um comportamento de tirante, devido à degradação de tensões ao longo da
altura do maciço de BCC (Figura 48). Assim, a laje superior absorve tensões de tração.
Para além do efeito referido, a redução de momentos também se deve ao facto de haver alguma
absorção de tensões acima da galeria. Embora seja um fenómeno de menor relevo, não se pode
desprezar o seu efeito.
58
8. COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS
Como já foi referido, o grau de aproximação à realidade aumenta do Modelo I até ao Modelo IV. A
razão para antecipar que o último produza uma solução mais realista reside no facto de se utilizarem
elementos de maior complexidade computacional. Para além disso, a bidimensionalidade destes
elementos permite uma modelação geométrica próxima à estrutura real, enquanto que a reprodução
através de elementos unidimensionais gera vãos livres que não representam da melhor forma o
comportamento estrutural.
Com este capítulo pretende-se avaliar a discrepância entre os valores dos esforços obtidos para cada
secção (S1 a S7), e verificar que as diferenças entre os modelos desenvolvidos.
Consulta de tabelas Modelo El. Finitos Modelo El. Finitos Modelo El. Finitos
Secção (elementos de (elementos de (elementos de casca, (elementos de casca,
barra) barra) sem faseamento) com faseamento)
S1 0 0 -1 444,3 268,4
S2 0 0 -1 444,3 268,4
S3 0 0 -1 444,3 3 875,7
S4 0 0 1 204,0 4 075,2
S5 -33 091,4 -28 028,6 -24 727,1 -19 756,6
S6 -11 088,8 -16 274,2 -19 592,6 -20 822,8
S7 0 0 -759,5 2 099,1
De referir ainda, que na Tabela 21, em destaque as secções das paredes, onde se verifica uma
influência importante nos esforços normais, em parte atribuída a flexibilidade da fundação.
Consulta de tabelas Modelo El. Finitos Modelo El. Finitos Modelo El. Finitos
Secção (elementos de (elementos de (elementos de casca, (elementos de casca,
barra) barra) sem faseamento) com faseamento)
S1 -2 728.5 -2 315.9 -1 537,8 -1 626,4
S2 16 545.7 14 222.3 9 221,3 7 388,8
S3 -2 728.5 -901.7 -1 306,8 486,5
S4 16 545.7 15 210.0 9 731,8 6 704,2
59
Tabela 23 - Momentos flectores para as secções S1 a S4 na combinação 1 (1,35*PP valores em kNm/m, K = 7
500 000 kN/m3)
Consulta de tabelas Modelo El. Finitos Modelo El. Finitos Modelo El. Finitos
Secção (elementos de (elementos de (elementos de casca, (elementos de casca,
barra) barra) sem faseamento) com faseamento)
S1 14 008.3 14 136.0 -9 214,1 -8 564,4
S2 -35 692.9 -16 862.5 9 201,4 6 180,5
S3 14 008.3 26 907.7 18 534,8 8 053,9
S4 -35 692.9 -8 863.0 -1 698,0 -964,0
Com a exceção dos esforços normais nos troços horizontais, pode-se observar através da Tabela 21,
da Tabela 22 e da Tabela 23 que, na generalidade, os esforços diminuem.
A redução importante dos momentos e dos esforços transversos deve-se maioritariamente à redução
dos vãos livres efetivos do modelo desenvolvido. Enquanto que os dois primeiros modelos consistiam
em vãos de 10,0 e 13,2 metros, os dois últimos têm apenas vãos de 6,9 e 8,7 metros, respetivamente
para os troços horizontais e os verticais. Se se devesse unicamente a este aspeto, num modelo
unidimensional, a variação do momento global para uma carga uniformemente distribuída era a
seguinte:
𝑝𝐿2𝑓 2 2
8 = 𝐿𝑓 = 10 ≅ 2,1 ( 40 )
𝑝𝐿2𝑟 𝐿2𝑟 6,92
8
𝑝𝐻𝑓2 2 2
8 = 𝐻𝑓 = 13,2 ≅ 2,3 ( 41 )
𝑝𝐻𝑟2 𝐻𝑟2 8,72
8
Outra conclusão importante a tirar destes valores corresponde aos esforços normais. Devido
à simplicidade do modelo de barra, as secções horizontais apresentam valores de esforço normal
nulo nos dois primeiros modelos. Apesar de esta se considerar uma abordagem muito conservativa
em termos de momentos fletores e esforço transverso, as simulações com elementos bidimensionais
revelaram esforços normais não nulos e de valor apreciável. Esta última premissa mostra que estes
valores resultam da alteração do modo de encaminhamento das cargas, como o funcionamento
estrutural que se ilustra na Figura 48. Consequentemente, o dimensionamento da galeria passa a
combinar esforços de tração com momentos, o que se pode tornar mais condicionante. Assim,
conclui-se que os modelos com elementos unidimensionais não são necessariamente mais
conservativos.
60
9. VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA
Como já foi observado, os resultados obtidos variam com grande significância consoante o modelo
utilizado para a simulação do carregamento da estrutura. Uma vez que o modelo IV é o mais realista,
usar-se-á apenas esse, pois assim evita-se um sobredimensionamento considerável.
Verificação ao ELU
Os esforços a considerar para esta verificação são aqueles que correspondem à envolvente do ELU
do modelo IV. A Tabela 24 apresenta todos os esforços das secções críticas definidas em 7.1.
Esforços
Secção
Nsd (kN/m) Vsd (kN/m) Msd (kNm/m)
S1 -881,8 -1 367,3 -15 916,8
S2 268,4 7 388,8 6180,6
S3 4 423,0 -1 448,2 8 067,8
S4 4 850,6 8 412,2 -7 322,2
S5 -19 756,6 0,3 1 952,5
S6 -19 452,3 715,3 10 220,4
S7 3 175,1 6 741,6 -2 685,5
Através de uma folha de cálculo automático foi possível determinar, iterativamente, as disposições de
armaduras de flexão depois de introduzidos os esforços. O programa calcula, adicionalmente, um
fator de segurança, que é tanto maior que a unidade, quanto maior for a margem de segurança. Os
dados relevantes deste processo estão na Tabela 25.
Para a secção S7, a combinação condicionante seria a combinação 3, pelo que os valores adotados
para as armaduras necessitam de ser confirmados para os esforços associados à combinação 3.
Apresenta-se na Figura 49, o diagrama de interação entre o esforço axial e o momento fletor para a
secção S1. Os restantes diagramas, para cada secção e para cada cenário geotécnico, encontram-se
no Anexo B. Realça-se que, unicamente nestes diagramas, o esforço axial positivo indica valores de
compressão.
61
90 000,0
80 000,0
70 000,0
60 000,0
50 000,0
40 000,0
N (kN)
30 000,0
20 000,0
Msd=-28698,2 kN.m
Nsd=9284,1 kN
Mrd,min=-45992,9 kN.m 10 000,0 Mrd,max=43236,6 kN.m
0,0
-80 000,0 -60 000,0 -40 000,0 -20 000,0 0,0 20 000,0 40 000,0 60 000,0 80 000,0
-10 000,0
-20 000,0
M (kNm)
Figura 49 - Diagrama de interação entre o esforço normal e o momento fletor para a secção S1, (considerando a
combinação 1 (1,35PP) e K = 500 000 kN/m3, unidades por metro)
Devido às dimensões da estrutura (elevada altura útil, e por consequência comprimento de translação
de diagrama de momentos elevado), as dispensas foram efetuadas de forma muito localizada. Com
efeito, o momento resistente da secção S7 revela-se muito alto (pois está no mesmo troço que S3 e
S4). As secções das paredes (S5 e S6) têm momentos resistentes muito grandes devido ao esforço
de compressão, que é de tal forma elevado que a secção verifica a segurança ao ELU de flexão
62
composta sem armaduras. No entanto, para respeitar a condição de armadura longitudinal mínima, foi
adotada a que se encontra na tabela anterior.
Verificação ao ELS
Quanto ao estado limite de fendilhação, [6] preconiza o critério seguinte. Este está presente no
Quadro 7.1N de [6], e prevê, essencialmente, que a segurança à fendilhação depende da classe de
exposição a que o betão está sujeito. Para betão armado ou elementos de betão pré-esforçado não
aderentes, o critério é o que está apresentado na Tabela 26.
Tabela 26 - Valores máximos recomendados para a largura admissível (wmáx) das fendas
De acordo com o procedimento já enunciado em 4.2.1, foram calculadas as fendas (Tabela 27) com a
mesma ferramenta utilizada em 9.1, tendo em conta os esforços da combinação quase-permanente.
Dado que apenas se está a estudar a fase construtiva, só faz sentido contabilizar o peso próprio da
galeria e da barragem.
Tabela 27 - Valores obtidos para a largura das fendas (wk) com os esforços em serviço, considerando a
armadura necessária para o ELU
Esforços
Secção wk (mm)
Nqp (kN/m) Mqp (kNm/m)
S1 -653,2 -11 790,2 0,54
S2 198,8 4 578,2 0,37
S3 3 276,3 5 976,1 0,50
S4 3 593,0 -5 423,9 0,70
S5 -17 141,0 1 710,2 0,00
S6 -14 409,1 7 570,7 0,00
S7 2 351,9 -1 989,3 0,34
Conclui-se, numa primeira fase, que seria necessária uma maior quantidade de armadura ordinária
para verificar a fendilhação. É de notar, ainda, que nas secções S5 e S6, que representam os troços
verticais, a secção não fendilha. Isto deve-se ao elevado esforço de compressão que ocorre em toda
a sua espessura, que dificulta o aparecimento de trações nesta zona.
63
Utilizando a mesma ferramenta, foi possível chegar a um dimensionamento das armaduras que
permite reduzir as aberturas das fendas para dentro dos limites regulamentares. A Tabela 28 contém
toda a informação relevante para este dimensionamento.
Tabela 28 - Dimensionamento da armadura ordinária das secções críticas com a respectiva fenda
Esforço Transverso
Tal como as estruturas correntes, as de carácter hidráulico também carecem de armaduras que
aumentam a resistência ao esforço transverso.
Devido à elevada espessura e aos vãos curtos, poder-se-á tirar proveito da degradação de forças
para a “redução” do esforço transverso atuante. Como consequência, os esforços apresentados na
Tabela 24 não correspondem aos que serão utilizados para o dimensionamento dos estribos. Será
necessário, então, obter uma nova envolvente que coloca mais ênfase no esforço transverso, em que
este que foi obtido não se localiza necessariamente na face do apoio (Figura 50), mas sim a uma
distância que não ultrapasse d/2 da face do apoio.
64
Figura 50 - Biela de compressão com ângulo θ
Como indicado em 4.1, a norma empregue nesta verificação é o REBAP. O critério sugerido por [9],
começa por assumir que o esforço transverso resistente, V Rd, é a soma de duas parcelas, Vcd e Vwd.
O primeiro valor corresponde à resistência da secção em estudo no caso desta não ter qualquer
armadura de resistência ao corte. Consequentemente, tem-se:
𝑉𝑐𝑑 = 𝜏1 ∗ 𝑏𝑤 ∗ 𝑑 ( 42 )
Em que 𝜏1 representa um valor médio de tensão tangencial resistente consoante a classe do betão
(presente no Quadro VI de [9]). No caso em questão, o betão é da classe C25/30, e portanto 𝜏1
assume o valor de 0,75 MPa.
É de referir que, no caso de lajes com armadura de esforço transverso, os valores de Vcd obtidos pela
Equação ( 42 ) deverão ser multiplicados pelo fator 0,6*(1,6-d), com d em metros, não devendo este
fator ser inferior a 0,6.
É importante salientar que, para secções que estejam sujeitas a flexão composta com compressão
(para além do esforço transverso), poder-se-á tirar benefício deste facto e multiplicar Vcd por um fator
corretivo igual a 1+M0/MEd. MEd é o valor do momento atuante, e M0 seria o momento necessário a
aplicar na secção para anular a tensão de compressão exercida unicamente pelo esforço normal na
secção (N/A) [9].
Já a segunda parcela, Vwd, diz respeito à resistência ao esforço transverso que as armaduras
oferecem. Poder-se á optar por um procedimento iterativo, isto é, um que consista em selecionar uma
armadura e verificar se esta oferece resistência suficiente de modo que V Rd seja superior a VEd.
Alternativamente, basta subtrair Vcd a VRd e o resultado traduz-se no menor valor admissível para Vwd.
A norma estipula que Vwd pode ser calculado pela expressão:
65
𝐴𝑠𝑤
𝑉𝑤𝑑 = 0,9 ∗ 𝑑 ∗ ∗ 𝑓𝑠𝑦𝑑 ∗ (1 + cot 𝛼) ∗ sin 𝛼 ( 43 )
𝑠
Em que Asw/s corresponde à área de armadura de esforço transverso por unidade de comprimento do
elemento, fsyd é igual à tensão de cedência de dimensionamento do aço e α o ângulo que as
armaduras têm com o eixo da peça.
Conhecido o critério, segue-se para o passo seguinte que consiste na obtenção dos esforços.
Seguindo os princípios enunciados, ter-se-á de obter uma envolvente de esforços diferente dos
anteriores. A Tabela 29 apresenta os esforços de dimensionamento dos trechos da estrutura
associados às secções propensas de sofrer rotura por corte (S6* corresponde ao troço vertical onde
se localiza a secção S6, mas onde o esforço transverso é maior).
Sabendo o valor mínimo de Vwd, poder-se-ia obter diretamente o valor mínimo de Asw/s para a seleção
da armadura de esforço transverso. No entanto, através de uma folha de cálculo, foi possível
introduzir iterativamente disposições de estribos que verificam os critérios acima mencionados.
Tabela 30 - Esforços transversos actuantes e resistentes após a adoção de armaduras de resistência ao corte
Conclui-se então que, através da Tabela 30, varões 16//0,200(//0,500) são suficientes para resistir
ao corte calculado nos trechos horizontais superiores e varões 16//0,200(//0,400) nos inferiores.
Embora não seja estruturalmente exigido, é boa prática ceder um afastamento considerável nestas
armaduras em pelo menos uma das direções para facilitar o processo de colocação das mesmas.
Quanto aos troços verticais, uma vez que estarão sempre sujeitos a valores elevados de compressão,
não necessitam de armadura para resistir ao esforço transverso. A completa definição das armaduras
no betão armado encontra-se no Anexo C.
A verificação aos ELU, porém, não passa apenas por garantir a segurança da estrutura à tração (seja
esta causada pelo momento ou por outros efeitos). O critério precedente não cobre eventuais
66
compressões que ocorrem nas bielas consideradas do modelo de cálculo. Com efeito, o artigo 53.4
de [9] preconiza um procedimento de cálculo que permite analisar este aspeto condicionante. De
acordo com o mesmo, o esforço transverso resistente,𝑉𝑅𝑑 , deve ainda satisfazer a expressão ( 44 ).
𝑉𝑅𝑑 ≤ 𝜏2 ∙ 𝑏𝑤 ∙ 𝑑 ( 44 )
Dado que se trata de um betão de classe C25/30, 𝜏2 assume o valor de 5,0 MPa. Tem-se então:
𝑉𝑅𝑑 ≤ 5,0 ∗ 1,0 ∗ 4,3 ⇔ ( 45 )
⇔𝑉𝑅𝑑 ≤ 21500𝑘𝑁/𝑚 ( 46 )
Uma vez que o valor maior do esforço transverso resistente é 4228,9 kN/m (correspondente à secção
S2), pode-se afirmar com segurança que não haverá problemas de rotura do betão por compressão.
Apesar de se ter apresentado apenas um caso, considera-se este como sendo representativo por ser
o mais condicionante. Nos outros troços o esforço transverso resistente é menor do que o que está
presente no cálculo. Como tal admitiu-se que não há necessidade de apresentar mais verificações
para além da exposta.
Realça-se ainda que esta última verificação é análoga à que se encontra em [6], que consta em
verificar a expressão ( 47 ).
𝑓𝑐𝑘
⇔ 𝜎𝑐 ≤ (0,6 [1 − ] ∗ 𝑓𝑐𝑑 ) ( 47 )
250
Em que 𝜎𝑐 é a tensão máxima atuante na biela de compressão, e pode ser estimada pela expressão
( 48 ).
𝑉𝑆𝑑
𝜎𝑐 ≅ ( 48 )
𝑧 ∗ 𝑏𝑤 ∗ sin 𝜃 ∗ cos 𝜃
67
USACE. Segundo a tabela 4-1 de [10], o critério de segurança das estruturas em BCC depende do
tipo de carregamento que se considera. No presente estudo optou-se por considerar a situação
correspondente a um estado corrente: a combinação 1. Nesta situação, têm de ser verificadas duas
condições:
Estas regras poderão sugerir que o critério é, no geral, muito restritivo. Mas como já foi referido, o
BCC, por não ser armado, tende naturalmente a ter uma maior elasticidade e menor resistência, para
além do facto de ser constituído por uma classe inferior de betão.
Como a obtenção de tensões no BCC é realizada da mesma forma que na galeria, não é necessário
definir parâmetros ou informações suplementares. Consequentemente, os modelos corridos em 7.3.3
também contêm os resultados obtidos para o BCC, que são os que se seguem.
Figura 51 – Tensões horizontais σ11 no BCC (Modelo IV; K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K = 500 000 kN/m3 à
direita; unidades em kPa)
68
Figura 52 – Tensões verticais σ22 no BCC (Modelo IV; K = 7 500 000 kN/m3 à esquerda e K = 500 000 kN/m3 à
direita; unidades em kPa)
Observando a Figura 51 e a Figura 52, é visível o aumento das tensões de compressão verticais à
medida que se aproxima mais da galeria. Realça-se também a zona central acima da galeria, onde se
desenvolvem compressões ligeiramente superiores a nível horizontal, confirmando então o efeito de
escoras diagonais nesta localização. Como tal, pode-se afirmar com segurança que o modelo
representa bem a realidade.
Para além do que foi afirmado, a Figura 53 reforça a premissa que afirma que o modelo apresenta
adequadamente a realidade. O encaminhamento das cargas dá-se de forma que sejam geradas
trações na laje superior e compressões muito elevadas nas paredes.
De modo a respeitar a condição i), ter-se-á de calcular a tensão limite de compressão conforme o
critério estipulado. Sabendo que se trata de um betão C12/15:
0.30 ∗ 12 = 3.6𝑀𝑃𝑎 ( 49 )
Portanto, as tensões de compressão não poderão ultrapassar os 3,6 MPa em qualquer ponto da
estrutura. Esta condição é praticamente cumprida, apesar de existirem regiões muito localizadas
onde as tensões de compressão são ligeiramente superiores a este valor, atingindo um máximo local
de 4,7 MPa, que se aceitam.
69
Quanto ao segundo critério, é possível observar na Figura 51, que o mesmo se verifica.
Figura 53 - Diagrama de vetores da estrutura com ênfase na laje superior do betão estrutural
70
10. DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS
Comprimento de amarração
Para qualquer estrutura de betão armado, os varões de aço implementados na mesma terão de ser
adequadamente amarrados.
No geral, este comprimento depende de vários fatores, como as condições de aderência betão-aço, a
classe de resistência do aço e também a do betão. O valor exato para boas condições de aderência
(A500; C30/37) é de 36,23e de 51,76para outras condições de aderência, pelo que se considera
50para todos os casos, de forma simplificada, ou seja:
𝑙𝑏𝑑 = 50 ∗ 32 = 1600𝑚𝑚 ( 50 )
Convém referir que, o critério utilizado abrange qualquer disposição de varão, e por isso pode-se
afirmar que todos os varões associados à flexão terão o mesmo comprimento de amarração de 1,6
metros.
No que toca à armadura de esforço transverso, esta não será disposta como armadura em estribo.
Devido ao dimensionamento efetuado, pretende-se controlar os afastamentos em ambas as direções,
e por isso esta armadura será colocada como está ilustrado na Figura 54.
Tal como a armadura de flexão, esta também terá de ser amarrada. O critério utilizado para esta
também se encontra no parágrafo 8.5 (2) de [6].
71
Figura 55 - Tipos de amarração e respectivos valores mínimos, adotado da NP EN 1992-1-1
Sabendo que será utilizada a disposição à esquerda na Figura 55, para os varões já dimensionados
em 9.3, o comprimento será igual a 80 mm.
Armadura de distribuição
Não se pode deixar de ter em conta que o dimensionamento a realizar é para um elemento de laje.
Como tal, ter-se-á de obedecer ao parágrafo 9.3.1.1 (2) da [6] (referente a lajes), que impõe que em
lajes armadas numa só direção, a armadura perpendicular à de flexão terá de ser pelo menos 20%
desta. Dado que se tratam de varões com 32 mm de diâmetro, foram consideradas distribuições
idênticas às da armadura principal, mas com varões de diâmetro igual a 16 mm. Assim, assegura-se
que a armadura de distribuição é 25% da de flexão em toda a estrutura.
72
Afastamento mínimo entre camadas
Em relação ao primeiro critério, realça-se que durante a construção da galeria, os trabalhadores terão
de ter espaço suficiente ao longo da mesma de modo a que seja possível a colocação das armaduras
de esforço transverso. Como tal, é necessário ceder um afastamento considerável numa das
direções, pelo que se adotou um valor mínimo recomendado de 50 cm, podendo este descer um
máximo de 10 cm caso seja necessário.
Quanto ao critério ii, este terá de ser, contrariamente ao primeiro, estabelecido para as duas direções.
Sabendo que a dimensão de um agregado máximo é de 64 mm, torna-se imperativo assegurar que
não haja elementos estruturais, em qualquer zona da estrutura, que impeçam a passagem do
mesmo.
Supõe-se que se tem pelo menos uma camada 32//0.100 na horizontal num dos cantos superiores
da galeria, que depois transiciona para uma camada 32//0.200 na vertical. Devido ao requisito de
empalmar varões com outros varões, a distância livre no caso referido no período anterior desce
significativamente (para apenas 36 mm), como ilustra a Figura 57. Assim confirma-se que o
afastamento mínimo terá de ser superior a 10 cm, pelo que se adotou 20 cm como espaçamento de
base em todas as situações. Salienta-se que este exemplo ainda não inclui a armadura de esforço
transverso.
Figura 57 - Pormenor ilustrativo de empalmes de varões incluindo distância livre (situação a considerar entre
parênteses)
73
11. CONCLUSÃO E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
Como era de esperar, uma estrutura de proporções como esta estará naturalmente associada a
ações de grande magnitude. Como consequência, a quantidade e a dimensão de elementos
estruturais (nomeadamente os varões de aço para o betão armado) não são usuais àquelas que
ocorrem em estruturas mais correntes, como edifícios ou pontes.
Mais especificamente, é comum evitar a utilização do varão 32 nestas estruturas, devido à dificuldade
associada em trabalhar com o mesmo para que este tenha a disposição desejada. No entanto, numa
composição estrutural de grandeza superior, tal como o caso em mãos, verificou-se que a não
adoção de varões destas dimensões poderia condicionar significativamente a solução.
Outro aspeto necessário na verificação da segurança foi o facto de haver esforços de compressão no
BCC que não deverão ultrapassar 0,3*fck. Como já tinha sido referido, esta problemática poderá ser
contornada se se aumentar a altura da secção da galeria em betão armado, o que permite reduzir as
tensões no BCC.
De um modo mais geral, e como tinha sido antecipado, a evolução dos modelos permitiu obter,
progressivamente, soluções mais próximas da realidade por ordem de maior complexidade do
modelo. Para além disso, foi possível concluir que a redução de uma estrutura de troços espessos a
elementos unidimensionais coincidentes com os seus eixos origina uma aproximação. Como tal, a
avaliação da mesma através de elementos de casca, embora sendo computacionalmente mais
exigente, revelou-se ser uma ferramenta importante para o estudo do seu comportamento.
Observou-se que foi necessário reforçar a estrutura para a verificação ao ELS pois as armaduras
correspondentes ao ELU não foram suficientes. A adoção de uma solução pré-esforçada poderá
contornar este inconveniente visto o seu dimensionamento ser baseado em ELS. Porém a
mão-de-obra que costuma fazer parte de uma estrutura como a deste problema dá preferência a
métodos mais tradicionais.
Para além do trabalho que foi desenvolvido nesta tese, seria necessário realizar uma verificação à
segurança da estrutura durante o seu período em funcionamento após a construção da barragem. O
trabalho realizado abrange apenas um dimensionamento estrutural para a verificação da segurança
da galeria durante a sua fase construtiva. Poder-se-ia, eventualmente, realizar um estudo da
verificação à segurança global da estrutura em fase definitiva. Adicionalmente, os rolhões que terão
que ser instalados para o fechamento das galerias também terão de verificar a segurança, tanto a
estados limite últimos como de serviço. De seguida, também se deve considerar a necessidade de
uma análise hidráulica. Estes aspetos, apesar de serem fundamentais para um projeto desta
proporção, não são cobertos, uma vez que estão fora do âmbito desta tese.
74
12. BIBLIOGRAFIA
[1] Isnard,V., Grekow,A., Mrozowicz,P., Formulario del Ingeniero: Metodos practicos de calculo
de obras de ingeniería, Urmo S.A. Ediciones (1982);
[2] Branco, F. A., Correia, A., Modelação de Fundações na Análise Estrutural (1980)
[3] Pinheiro, A. N., Obras de desvio provisório (2002)
[4] Ribeiro, A. C., Betão Compactado com Cilindro: Composição e características (2004)
[5] Batista, H. A. Análise Térmica e Estrutural de barragens de BCC - (Betão Compactado com
Cilindros) (2011)
[6] NP EN 1992-1-1:2010, Eurocódigo 2 – Projeto de estruturas de betão, Parte 1-1: Regras
gerais e regras para edifícios (2010)
[7] E 464 2005 – Betões. Metodologia prescritiva para uma vida útil de projecto de 50 e de 100
anos (LNEC) (2005)
[8] NP EN 1990:2009, Eurocódigo 0 – Bases para o projecto de estruturas (2009)
[9] Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado (1983)
[10] US Army Corps. Of Engineers 1995 – “Gravity Dam Design” (1995)
[11] US Army Corps. Of Engineers 1995 – “Roller Compacted Concrete” (1995)
[12] Estados Limites Últimos – Flexão composta para secções rectangulares (IST)
[13] Chen, Wai-Fah, Handbook of Structural Engineering, CRC Press (1997)
[14] CSI Analysis Reference Manual (2016)
[15] Design of Gravity Dams, Bureau of Reclamation (1976)
[16] http://s216.photobucket.com/user/Hanhart78/media/DSC04310.jpg.html
[17] Documento disponível na página da internet da empresa PERI: http://www.peri.pt
[18] Schleiss, A., Barrages (École Polytechnique Fédérale de Lausanne) (2007)
[19] http://www.strand7.com/html/silo.htm
75
ANEXOS
76
– Integração de tensões em elementos de casca
A 1 - Tabela de integração de tensões σ11 para o esforço normal na secção S1, K = 7 500 000 kN/m3
A 2 - Tabela de integração de tensões σ11 para o esforço normal na secção S2, K = 7 500 000 kN/m3
77
A 3 - Tabela de integração de tensões σ11 para o esforço normal na secção S3, K = 7 500 000 kN/m3
A 4 - Tabela de integração de tensões σ12 para o esforço transverso na secção S1, K = 7 500 000 kN/m3
78
A 5 – Tabela de integração de tensões σ12 para o esforço transverso na secção S2, K = 7 500 000 kN/m3
A 6 – Tabela de integração de tensões σ12 para o esforço transverso na secção S3, K = 7 500 000 kN/m3
79
A 7 - Tabela de integração de tensões σ11 para o momento na secção S1, K = 7 500 000 kN/m3
A 8 - Tabela de integração de tensões σ11 para o momento secção S2, K = 7 500 000 kN/m3
80
A 9 - Tabela de integração de tensões σ11 para o momento S3, K = 7 500 000 kN/m3
81
– Diagramas de interação entre o esforço normal e o momento
fletor (valores negativos de N indicam tração)
B 1 - Diagrama de interação (N, M) para a secção S1 (1,35PP, K = 7 500 000 kN/m3, valores por metro)
B 2 - Diagrama de interação (N, M) para a secção S1 (1,35PP, K = 500 000 kN/m3, valores por metro)
82
B 3 - Diagrama de interação (N, M) para a secção S2 (1,35PP, K = 7 500 000 kN/m3, valores por metro)
B 4 - Diagrama de interação (N, M) para a secção S2 (1,35PP, K = 500 000 kN/m3, valores por metro)
83
B 5 - Diagrama de interação (N, M) para a secção S3 (1,35PP, K = 7 500 000 kN/m3, valores por metro)
B 6 - Diagrama de interação (N, M) para a secção S3 (1,35PP, K = 500 000 kN/m3, valores por metro)
84
B 7 - Diagrama de interação (N, M) para a secção S4 (1,35PP, K = 7 500 000 kN/m3, valores por metro)
B 8 – Diagrama de interação (N, M) para a secção S4 (1,35PP, K = 500 000 kN/m3, valores por metro)
85
B 9 – Diagrama de interação (N, M) para a secção S5 (1,35PP, K = 7 500 000 kN/m3, valores por metro)
B 10 – Diagrama de interação (N, M) para a secção S5 (1,35PP, K = 500 000 kN/m3, valores por metro)
86
B 11 – Diagrama de interação (N, M) para a secção S6 (1,35PP, K = 7 500 000 kN/m3, valores por metro)
B 12 - Diagrama de interação (N, M) para a secção S6 (1,35PP, K = 500 000 kN/m3, valores por metro)
87
B 13 – Diagrama de interação (N, M) para a secção S7 (1,35PP, K = 7 500 000 kN/m3, valores por metro)
B 14 – Diagrama de interação (N, M) para a secção S3 (1,35PP, K = 500 000 kN/m3, valores por metro)
88
– Peças desenhadas
89
A
NPA=630,00
MATERIAIS
BETÃO ESTRUTURAL:
C30/37; XC4; Cl 0,40; Dmax 64mm; S6
BETÃO COMPACTADO COM
CILINDRO:
fck = 12MPa
Betão compactado
com cilindro
Betão estrutural
17,70
530,00
79,00
A'
Junta entre
blocos
blocos
NPA=630,00
MATERIAIS
Bloco adjacente BETÃO ESTRUTURAL:
Bloco adjacente C30/37; XC4; Cl 0,40; Dmax 64mm; S6
BETÃO COMPACTADO COM
Betão compactado CILINDRO:
com cilindro fck = 12MPa
85,30
C12/15
4,50
8,70
Betão estrutural
17,70
C30/37
530,00
4,50
24,00
P1
Corte A-A' Pormenor P1
2,20
Esc. 1:250 4,00 6,90 6,90 4,00
24,00
Ø16//0.400 Ø32//0.400
(4ª camada) (4ª camada) Espaçamento entre camadas
5 cm
Ø32//0.400
Ø16//0.400
(4ª camada)
5 cm
1,60 (4ª camada) 1,60
(1ª e 2ª camada)
Ø16//0.200
Ø32//0.200
(1ª e 2ª camada)
(1ª, 2ª e 3ª camada)
(1ª, 2ª e 3ª camada)
Ø16//0.200
B'
Ø16//0.200
Ø16//0.200
1,60
(1ª e 2ª camada)
(1ª e 2ª camada)
Ø16//0.200
Ø16//0.200
1,60
Ø32//0.200
Ø16//0.200
1,60
(1ª e 2ª camada)
(1ª e 2ª camada)
1,60
Ø32//0.200
Ø32//0.200
Ø32//0.200
(1ª e 2ª camada)
1,60
Ø32//0.200 Ø32//0.200
(1ª e 2ª camada)
Ø32//0.200
1,60
(1ª, 2ª e 3ª camada)
MATERIAIS
C Ø16//0.200 BETÃO:
(1ª, 2ª e 3ª camada)
C30/37; XC4; Cl 0,40; Dmax 64mm; S6
ARMADURAS ORDINÁRIAS:
A 500 NR
RECOBRIMENTO NOMINAL: 50 mm
Ø16//0.200
(1ª e 2ª camada)
P2 P3 Ø16//0.200(//0.400)
Ø32//0.200 Ø16//0.200(//0.400)
C'
1,60
(1ª e 2ª camada)
Ø16//0.200
Ø32//0.200 MATERIAIS
Ø16//0.200
(1ª, 2ª e 3ª camada)
BETÃO:
Ø16//0.200
(1ª, 2ª e 3ª camada) C30/37; XC4; Cl 0,40; Dmax 64mm; S6
ARMADURAS ORDINÁRIAS:
A 500 NR
Ø16//0.200(//0.400)
RECOBRIMENTO NOMINAL: 50 mm
1,60
(1ª e 2ª camada)
(1ª e 2ª camada)
Ø32//0.200
Ø32//0.200 Ø32//0.200
Ø32//0.200
Ø32//0.200
1,60 (1ª, 2ª e 3ª camada) 3 camadas Ø16//0.200
Ø32//0.200 Ø16//0.200
(1ª e 2ª camada) (1ª e 2ª camada)
Ø16//0.200(//0.400)
Ø16//0.200
Ø16//0.200
Pormenor P2
Espaçamento entre camadas
Ø16//0.200(//0.400)
5 cm
Ø32//0.200 Ø16//0.200
(1ª e 2ª camada) (1ª e 2ª camada)
Pormenor P3
Dissertação de Mestrado Escala
Elaborada por:
Dimensionamento estrutural de galerias de derivação em
betão armado inseridas em corpo de barragem BCC 1:75 Diogo José do Amaral Barbosa
Nº 73222
Pormenorização da galeria de desvio
Peça
Instituto Superior Técnico Pormenores P2 e P3
Mestrado Integrado em Engenharia Civil
Dimensões em metros 4 Setembro de 2016
Ø16//0.200
(1ª, 2ª e 3ª camada) Ø32//0.200
0,500 (1ª, 2ª e 3ª camada)
Corte C - C'
Ø16//0.200
(1ª, 2ª e 3ª camada) Ø32//0.200
0,400 (1ª, 2ª e 3ª camada)
Ø32//0.400 Ø16//0.400
Ø32//0.200
(1ª, 2ª e 3ª camada)
Ø16//0.200
Corte B - B' (1ª, 2ª e 3ª camada) Ø32//0.200 Ø16//0.200
(1ª e 2ª camada) (1ª e 2ª camada)