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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

Curso de Direito

A FUNÇÃO SOCIAL DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

VANESSA TEIXEIRA DE SOUZA

Rio de Janeiro
2018.2
VANESSA TEIXEIRA DE SOUZA

A FUNÇÃO SOCIAL DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

Artigo Científico Jurídico apresentado à


Universidade Estácio de Sá, Curso de
Direito, como requisito parcial para
conclusão da disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso.

Tutor Online: Carla Veloso

Rio de Janeiro
Campus São João de Meriti
2018.2
A FUNÇÃO SOCIAL DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

Vanessa Teixeira de Souza


Bacharelando do Curso de Direito

Resumo: O presente trabalho pretende abordar a função social do auxílio-reclusão,


determinando sua importância para a família do segurado preso e também para toda
a sociedade. Revelando a verdade quanto aos critérios e requisitos para a
concessão do benefício, bem como prazo de duração, valor pago, entre outros. Além
disso, objetiva desvendar os principais embaraços encontrados por parte da
população dependente do auxílio-reclusão e analisar toda a discriminação que estes
sofrem. O texto faz uma breve análise quanto aos Princípios constitucionais da
solidariedade e dignidade da pessoa humana. Através de pesquisas bibliográficas e
busca por casos fatídicos visa-se esclarecer a importância do benefício. Dessa
forma, objetiva-se suscitar uma discussão crítica quanto ao assunto no cenário atual,
averiguando também os eventuais prejuízos decorrentes da extinção de tal
beneficio.

Palavras-Chave: Auxílio-reclusão. Solidariedade. Dignidade da pessoa humana.

SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Aspectos legais do auxílio-reclusão; 2.1 Natureza


jurídica do auxílio-reclusão; 2.2 O surgimento do benefício auxílio-reclusão e suas
alterações no ordenamento jurídico brasileiro; 2.3 Requisitos para a concessão do
benefício; 2.5 Cessação ou suspensão do benefício; 3 O auxílio-reclusão frente a
influência negativa exercida pela sociedade; 4 Análise do cunho social do benefício
auxílio-reclusão; 4.1 A importância do benefício além da proteção aos dependentes
do segurado preso; 4.1.2 Dados atualizados da prestação do benefício; 4.1.3 A
possibilidade de extinção do benefício e a ameaça à dignidade dos dependentes do
segurado preso. 5. Considerações Finais. 6. Referências Bibliográficas.
1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho acadêmico tem como proposta uma abordagem crítica sobre o
benefício previdenciário auxílio-reclusão e a análise quanto à sua função social para o
segurado apenado e seus familiares.
O trabalho visa elucidar o que é de fato e ao que se presta o auxílio-reclusão.
Analisando os principais aspectos e requisitos do benefício em questão. Sendo uma das
principais questões do trabalho a busca da razão para o posicionamento da sociedade,
que em sua maioria é tendente a ser contrária a prestação do benefício.
Ao longo do trabalho serão analisadas questões relativas ao princípio da dignidade
da pessoa humana, mínimo existencial, princípios da razoabilidade e principalmente do
exercício da cidadania e solidariedade.
Por fim, este trabalho tem como objetivo geral, explorar a finalidade do benefício,
entendendo sua representatividade para inúmeras famílias desamparadas, diante da
reclusão de seus mantenedores. Indagando se a função social do benefício atende
somente à família beneficiária ou estende-se para toda a sociedade.
Para o êxito do presente artigo científico, serão adotadas como metodologia basilar
as pesquisas exploratórias — consulta à Constituição da República Federativa do Brasil,
Códigos, a Lei nº 8.213/91, principais bibliografias que envolvem o assunto em questão e
material de internet—, bem como as metodologias descritiva e explicativa.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 ASPECTOS LEGAIS DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

Auxílio-reclusão é o benefício previdenciário devido aos dependentes de segurados


presos, que pela situação de reclusão, não tenham condição de continuar mantendo o
provento de sua família.

Esse benefício tem por escopo, amparar a família do aprisionado, a fim de garantir
a sobrevivência digna destes, diante da ausência do provedor(a) da renda familiar. Dessa
forma, o benefício ampara os dependentes do trabalhador, que estava vinculado ao

1
Regime Geral da Previdência Social, até o momento de sua prisão.

A Constituição Federal em seu artigo 201 1, traz a organização do instituto de


previdência social no regime brasileiro e também prevê os benefícios e serviços que por
ela serão prestados aos contribuintes. Este artigo preconiza que a previdência social terá
caráter contributivo.
2
Além disso, ao tratar sobre Direitos Sociais a Constituição Federal prevê os
diversos direitos que serão enquadrados nesta categoria. Entre eles está elencado o
direito à previdência social.

Insta salientar que, entende-se por direitos sociais, os relativos ao pleno exercício
dos direitos fundamentais, de forma igualitária, para uma existência digna, com proteção
do Estado. 3

Pode-se concluir que a previdência social é um dos direitos sociais, que tem por
objetivo garantir renda aos trabalhadores e seus familiares, diante de riscos sociais, tais
como: doença, acidente, morte, prisão, maternidade e outros.
Assim, o Art. 2014 da Carta Magna, informa os eventos que serão cobertos pela
previdência social. Neste artigo encontra-se elencado, entre outros, o auxílio-reclusão,
que atenderá ao evento prisão.

Além da previsão no artigo 201, o auxílio-reclusão é regulamentado pela Lei nº


8.213/915, que prevê que este benefício será prestado nas mesmas condições que a
pensão por morte, aos dependentes do segurado preso.

1 Constituição Federal. Art. 201.


2 Constituição Federal. op cit. Art. 6º.
3Disponível em Site da Organização dos Estados Americanos: <http://www.oas.org/dil/port/1966%20Pacto
%20Internacional%20sobre%20os%20Direitos%20Econ%C3%B3micos,%20Sociais%20e%20Culturais.pdf
> Consulta em 11/09/2018 22:37
4 Constituição Federal. op cit. Art. 201, IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos
segurados de baixa renda;
5 Lei nº 8.213/91. Art. 80.

2
2.1 NATUREZA JURÍDICA DO AUXÍLIO-RECLUSÃO

Esse benefício tem natureza alimentar e trata-se de benefício previdenciário, assim


tem por principal característica o caráter contributivo, ou seja, só fará jus ao benefício os
dependentes do preso que contribuiu previamente junto à Previdência Social. 6

2.2 O SURGIMENTO DO BENEFÍCIO AUXÍLIO-RECLUSÃO E SUAS ALTERAÇÕES NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

O auxílio-reclusão foi tratado pela primeira vez através do Decreto n. 22.872, de 29


de junho de 1933. Tal Decreto tratava da Aposentadoria e das Pensões dos Marítimos.

Em um dos seus artigos, o Decreto determinava que, caso o associado estivesse


cumprindo pena de prisão, o valor referente a aposentadoria seria pago ao representante
legal de sua família. 7

Em 1934, com o advento do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários,


por meio do Decreto n. 24.615, de 12 de setembro de 1934, houve também a
regulamentação do auxílio-reclusão, para os dependentes de bancários apenados. 8

Em 1960, a Lei Orgânica da Previdência Social n. 3.807 9, regulamentou o benefício


auxílio-reclusão. Enunciando que os beneficiários do segurado que não tivessem
nenhuma remuneração, perceberiam o auxílio-reclusão desde que o segurado tivesse
contribuído no mínimo por 12 meses, dessa forma, estabeleceu-se uma carência.

Embora com algumas restrições, fora instituído a prestação do benefício aos


contribuintes da previdência social. Contudo, apesar de existir tal regulamentação, o
benefício auxílio-reclusão só foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988.

Conforme já citado anteriormente, o Auxílio-reclusão também foi regulamentado


pela Lei n. 8.213/91. Nesta lei foram regulamentados vários requisitos para auferir o
benefício auxílio-reclusão.

6 Alves, Hélio Gustavo. Auxílio-reclusão: direito dos presos e de seus familiares: com análise das
inconstitucionalidades da baixa renda. 2. ed. São Paulo: Ltr, 2014, p. 41 e 42.
7 Decreto nº. 22.782/33. Art. 63, parágrafo único.
8 Decreto n. 24.615/34. Art.67.
9 Lei Orgânica n. 3.807. Art. 43.

3
Posteriormente, tivemos a Emenda Constitucional n. 20/98, que alterou o caput do
artigo 201 e acresceu que os benefícios salário-família e auxílio-reclusão, seriam devidos
somente aos beneficiários de baixa renda. Quanto à questão da inclusão do termo “baixa
renda”, que alterou significativamente a prestação do benefício, trataremos mais adiante.

À frente, com o advento do Decreto n. 3.048/99, foram detalhadas novas questões,


como: revogação da carência de 12 meses prevista na Lei n. 3.807/60, o tipo de prisão
que propiciaria o pagamento do benefício, entre outros.

2.3 REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO

Para fazer jus ao recebimento do benefício, o principal requisito a ser comprovado


é a manutenção da qualidade de segurado, ou seja, que o preso estivesse contribuindo
regularmente ou que permanecesse coberto pelas últimas contribuições feitas. Imperioso
ressaltar que, como nos demais benefícios, após a última contribuição, o contribuinte
mantém a qualidade de segurado pelo prazo de 6 a 36 meses, a depender do número de
contribuições realizadas previamente.

Outro ponto a ser observado, trata-se do regime de cumprimento de pena.


Somente haverá concessão do benefício se o segurado estiver submetido ao regime
fechado ou semiaberto (desde que a execução da pena seja em colônia agrícola industrial
ou similar). 10

O segurado não pode estar recebendo salário da empresa na qual trabalhava,


auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço. 11 Ocorrendo alguma
dessas hipóteses, não será deferido a concessão do benefício aos seus dependentes.

Conforme visto anteriormente, o auxílio-reclusão é devido somente aos


dependentes do segurado recluso, assim, é imprescindível que este comprove ser
dependente financeiro do segurado.

A previdência social determina que são considerados dependentes:

10 Decreto n. 3.048/99. Art. 116 §5º .


11 Lei n. 8.213/91. Art.80.

4
• Cônjuge e companheiro: desde que comprovem casamento ou união estável
anterior a data em que o segurado foi preso;
• Filhos e equiparados: que possuam menos de 21 anos de idade, exceto se
forem inválidos ou pessoa com deficiência;
• Pais: que comprovem dependência econômica;
• Irmãos: que comprovem dependência econômica e idade inferior a 21 anos,
exceto se forem inválidos ou pessoa com deficiência. 12
A dependência financeira do cônjuge/companheiro e do filho menor de 21 anos,
não emancipado ou inválido, é presumida, já a dependência financeira dos demais terá de
ser comprovada. 13
No ato de requerimento do benefício faz-se necessário a apresentação de certidão
de efetivo recolhimento do segurado à prisão, esta é expedida pela autoridade carcerária,
informando a data da prisão e o regime carcerário do segurado recluso, conforme previsto
na Lei n. 8.213/9114.
O último requisito surgiu por força da Emenda Constitucional 20/98,que determinou
que o benefício seria devido somente aos dependentes dos segurados de baixa renda.
Atualmente (2018), considera-se de baixa renda o segurado com salário que não
exceda o valor de R$ 1.319,18. Caso o último salário do segurado for superior a este
valor, não haverá direito ao benefício por parte de seus dependentes.
Após deferida a concessão do benefício, faz-se necessário a apresentação da
declaração de efetivo recolhimento do preso a cada 3 meses, comprovando a condição de
presidiário do segurado.

2.4 DA DURAÇÃO DO BENEFÍCIO

O prazo de prestação do benefício variará de acordo com as características do


dependente do segurado e também da manutenção da qualidade de preso.
A lei determina os seguintes prazos de prestação do benefício:
Duração de apenas 4 meses:
• Caso a prisão se dê antes que o segurado complete dezoito
contribuições mensais à previdência social;

12 Lei 8213 /91. Art. 16.


13 Alves, Hélio Gustavo. op cit. p. 90.
14 Lei n. 8.213/91. Art. 80.

5
• Sendo o dependente cônjuge ou companheiro e caso o casamento/
união estável tenha se iniciado em menos de dois anos antes do
recolhimento do segurado à prisão.

Duração por prazo variável:


• Caso já tenha ocorrido 18 contribuições mensais;
• Tratando-se de dependente cônjuge/companheiro, desde que o
casamento ou a união estável, tenha sido celebrado há pelo menos 2
anos antes do recolhimento à prisão.
Nessas situações, a duração do pagamento do benefício dependerá da idade do
dependente.
• Se o cônjuge ou companheiro contar com:
• Menos de 21 anos de idade, será prestado por 3 anos;
• Entre 21 e 26 anos, será prestado por até 6 anos;
• Entre 27 e 29 anos, será prestado por até 10 anos;
• Entre 30 e 40 anos, será prestado por até 15 anos;
• Entre 41 e 43, será prestado por até 20 anos;
• A partir de 44 anos, será prestado pelo prazo que durar a prisão.

A regra de prazo para duração do benefício de auxílio-reclusão, para cônjuge ou


companheiro é estabelecido com base nos mesmos parâmetros da pensão por morte 15.

Para filhos e irmãos:


• Desde que não emancipados e que comprovem dependência
financeira do segurado, o benefício será prestado até que estes
completem 21 anos de idade, exceto se inválido. 16

2.5 CESSAÇÃO OU SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO

15 Lei 8.213/91. Art.80. O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos
dependentes do segurado recolhido à prisão (…)
16 Lei 8.213/91. Art.77. II.

6
No caso do segurado ser posto em liberdade condicional, progressão para o
regime aberto ou cumprimento total da pena, sendo posto em liberdade, o benefício será
cessado.
Já no caso de fuga, haverá a suspensão do benefício. No caso do segurado voltar
a preencher os requisitos, exemplo: fugir e ser recapturado, deverá ser solicitado novo
benefício. 17
No caso de morte do segurado detido ou recluso, conforme preceitua o Decreto n.
3.048/9918, o auxílio-reclusão será convertido em pensão por morte.

3 O AUXÍLIO-RECLUSÃO FRENTE A INFLUÊNCIA NEGATIVA EXERCIDA PELA


SOCIEDADE

Vivemos em uma democracia, assim, somos livres para formamos nossas opiniões
de forma liberal. Contudo, para se ter uma opinião real sobre determinado fato, faz-se
necessário que o indivíduo se aprofunde no objeto de discussão, de modo que, não lhe
reste dúvidas sobre o tema, podendo assim, formar sua opinião de forma pura, seja ela
favorável ou desfavorável ao assunto.
Atualmente, grande parte da população brasileira nutre uma espécie de
“preconceito” quanto ao benefício em estudo.
Pode-se atribuir parte dessa hostilidade ao raso conhecimento quanto ao objetivo
do benefício, seus critérios e requisitos.
Soma-se a isso, a repercussão de informações inverídicas, disseminadoras de
ódio, principalmente motivadas por disparidades políticas.
Dentre as várias inverdades que circulam diariamente, seja através das relações
pessoais ou virtuais, a principal informação insustentável é a de que o valor do benefício é
remetido diretamente ao preso.
Porém, conforme já esclarecido, a destinação legal se faz exclusivamente aos
dependentes do segurado. Não sendo possível que o Estado determine ou fiscalize o que
é feito com esse valor, pois além de impossível, não seria razoável, vez que o valor pode
ser empregado da forma que o dependente entender ser a melhor.
Muitos vídeos e notícias com depoimentos de detentos são compartilhados.
Nestes, os supostos detentos dizem que eles próprios recebem o benefício e que estes
são pagos em valores altos, contudo, tratam-se de notícias falsas, que só servem para
aumentar o óbice que a sociedade tem quanto ao auxílio-reclusão.
17 Decreto n. 3.048/99 .Art. 117 § 2º .
18 Decreto n. 3.048/99 – Art. 118.

7
Outro ponto crucial, é que a população, em suma maioria, não tem ciência que o
benefício auxílio-reclusão trata-se de um benefício previdenciário e não um benefício
assistencial, logo, para fazer jus ao benefício é necessário que o segurado tenha
contribuído anteriormente. 19
Essa informação desmistifica a ideia de que a população é quem banca ou custeia
esse benefício diretamente, quando na verdade, o segurado recluso já contribuiu
previamente a previdência social, tendo essa contribuição, como sabido, caráter solidário.
Por ter caráter solidário, deve se levar em consideração que, enquanto não estava
recluso, o segurado colaborou para que outros contribuintes tivessem acesso a
determinado benefício, seja ele pensão por morte, auxílio-acidente, auxílio-doença,
aposentadoria, entre outros.
Conforme ensina Wladimir Novaes Martinez:
Solidariedade quer dizer cooperação da maioria em favor da minoria, em
certos casos, da totalidade em direção à individualidade. Dinâmica a
sociedade, subsiste constante alteração dessas parcelas e, assim, num dado
momento, todos contribuem e, noutro, muitos se beneficiam da participação
da coletividade. Nesta ideia simples, cada um também se apropria de seu
aporte. Financeiramente, o valor não utilizado por uns é canalizado por
outros.20

Assim, não será qualquer preso que fará jus ao benefício, mas tão somente aquele
que na posição de segurado contribuiu e que preencha os demais requisitos para fazer
jus a este.
Em pesquisa recente21, verificou-se que os crimes mais cometidos no nosso País
são: tráfico de drogas, roubos e furtos. Sendo o primeiro crime responsável por no mínimo
de 28% de toda a população carcerária. A partir dessa informação, é possível concluir
que, a maior parte da população carcerária não fará jus ao benefício, vez que em regra,
os indivíduos envolvidos com o tráfico de drogas, são iniciados precocemente na vida
criminosa, não tendo tempo, nem intenção de contribuir de forma autônoma ou ter um
trabalho honesto.
Quando falamos dos segurados que preenchem os requisitos para a concessão de
tal benefício, estamos nos referindo quase que generalizadamente a pessoas que tiveram
uma vida decente, mas que por algum motivo, cometeram ou estão sendo acusados de
cometer algum crime.
Além disso, cerca de 40% população carcerária, são presos provisórios, ou seja,
que ainda não possuem condenação judicial, são aqueles que ainda aguardam
julgamento. Segundo dados do CNJ22, a média de tempo para que ocorra julgamento no
nosso País é de 1 ano e 7 meses.

19 Site da Previdência. Disponível em <http://www.previdencia.gov.br/2015/11/sp-informacoes-incorretas-sobre-


auxilio-reclusao-circulam-na-internet> Consulta em 18/09/2018 às 10:30
20 MARTINEZ, Wladimir Novaes. In,Direito Adquirido na Previdência Social. São Paulo: LTR, p. 129.
21Site LFG Disponível em <https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/geral/crimes-mais-praticados-no-brasil-
que-lotam-as-penitenciarias> Consulta em 16/11/2018 às 01:03

8
Assim, é possível que ocorram muitas absolvições. Torna-se necessário, analisar a
situação a qual será submetida os dependentes do segurado até que haja uma sentença
proferida pelo Estado.
Ademais, muitos defendem que o benefício é um incentivo a criminalidade, no
sentido de que o apenado comete o crime com o fulcro de se beneficiar, mas também
com a ideia de que se não obtiver êxito em seu intento e vir a ser preso, estará amparado
pelo benefício, vez que é contribuinte. Por essa concepção, o benefício já recebeu a
alcunha de “bolsa bandido”.
Analisa-se ser essa ideia muito vaga, sendo mais viável apontar como fatos
incentivadores à criminalidade: a falta de emprego, a educação mitigada, a desigualdade
social, a desestruturação familiar, entre outros.
Conforme ensina, Márcia Cardoso Zapater e Maria Rosa Franca Roque :
A solução para a redução da criminalidade definitivamente, não está atrelada à luta
pela extinção dos (já escassos) benefícios aos quais os presos, ao menos
formalmente, fazem jus. Muitos mitos precisam ser derrubados, e os que se referem
ao auxílio-reclusão são apenas uma parte do enorme rol de lendas que são
construídas e atreladas à imagem o“inimigo preso”, aquele que é visto como um
“consumidor e contribuinte falho.23

Outro pensamento contumaz, é de que o benefício é prestado de forma vitalícia e


conforme vimos anteriormente, o benefício é prestado por prazo razoável a fim de
proporcionar uma vida digna aos dependentes do segurado preso, até que estes possam
por si só se manter ou até o retorno do provedor (a) ao convívio familiar.
Outra informação que causa muita revolta é de que o benefício terá o valor integral
para cada dependente, ou seja, se o valor referente ao benefício for de R$1.000,00 e
caso existam 3 dependentes, o valor pago pela previdência social será de R$3.000,00.
Essa afirmação é improcedente, vez que, como na pensão por morte, o valor será rateado
por todos os dependentes. 24
Após analisar todas as principais ideias negativas e fazer os devidos
esclarecimentos, precisa-se observar que não são somente as notícias falsas ou a falta
de conhecimento em si que gera a intolerância da população quanto ao benefício, mas
principalmente a falta de solidariedade.
Ao investigar o nosso cotidiano, não é custoso perceber um julgamento egoísta,
que considera somente o fato cometido, desconsiderando qualquer necessidade que
advenha da ausência do mantenedor(a) do lar.

22 Site CNJ. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/85351-a-demora-para-executar-decisao-e-


maior-do-que-o-de-julgamento-na-justica> Consulta em 16/11/2018 01:32
23 ZAPATER, Márcia Cardoso. ROQUE, Maria Rosa Franca. Auxílio-reclusão: mitos e verdades sobre a”
bolsa bandido’. Disponível em <https://ponte.org/auxilio-reclusao-mitos-e-verdades-sobre-a-bolsa-bandido/>.
Consulta em 18/09/2018 22:31
24 Lei n. 8.213. Art.77. A pensão por morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos em
parte iguais.

9
O dependente em questão, pode ser uma mulher, que se dedicou aos cuidados dos
filhos e do lar, pode ser pai/mãe idoso(a), um irmão desprotegido ou inválido, ou/e mais
grave um menor que não pode manter sozinho seus cuidados.
Muitas vezes esses dependentes nem sequer tinham conhecimento ou consentiam
com a prática criminosa cometida. E que agora na falta deste(a), se vê diante de uma
situação de vulnerabilidade imediata.
Diante de tamanha violência que nos assola atualmente, é compreensível que a
população queira que seja feita justiça, mas não se pode esquecer de dois princípios
basilares que regem nossas relações que são: o princípio da solidariedade e o princípio
da dignidade da pessoa humana.
A Constituição Federal(1988) em seu Art. 3º preceitua que:
“Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária”.

Contudo, verifica-se que a solidariedade, que além de ser um dos objetivos da


República, também é um dos princípios constitucionais, na maioria das vezes não é
praticada por nossa sociedade.
A maior parte da população por julgar-se incapaz de cometer um crime, não se
coloca na posição do segurado apenado ou do familiar deste e entende-se
suficientemente distante do crime, para passar por tal situação.
Assim, é possível concluir, que deveríamos nos colocar na condição de uma
pessoa que está carente das necessidades mais básicas e que mesmo não tendo
cometido qualquer crime, acaba sendo penalizado junto com o segurado. É necessário
olhar além da conduta cometida e enxergar o outro como um ser humano, esse é o mais
digno exercício de cidadania.
Quanto ao princípio da dignidade da pessoa humana, é mais que notório que, o
auxílio-reclusão surgiu como medida de proteção aos dependentes do segurado preso, já
que a aplicação da sanção penal acarreta sérias consequências não só para o apenado,
mas também para aqueles que dependiam de seus rendimentos para sobreviver.
Dessa forma, o instituto em comento “não tem por função tutelar ou indenizar a
prisão do trabalhador, mas sim, fornecer-lhes os meios de subsistência e os de sua
família, que deve receber amparo, para que vivam com dignidade, mesmo que com o
mínimo de condições, que trata-se do mínimo existencial”. 25

25 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2007 , p. 394.

10
4 ANÁLISE DO CUNHO SOCIAL DO BENEFÍCIO AUXÍLIO-RECLUSÃO

A Constituição Federal prevê que proteger a sociedade dos riscos sociais é um dos
objetivos dos benefícios previdenciários, assim torna-se imprescindível analisar se tal
benefício atende ao que é previsto pela Constituição.
Sabemos que a família é a base da sociedade, por isso, esta não pode ser deixada
ao desamparo, nem dissipada diante de um momento de crise. Dessa forma, o instituto
auxílio-reclusão foi criado para que estes tenham o mínimo de condições de se manter e
se reerguer diante da ausência de um de seus membros.
Quando o contribuinte é preso o Estado garante a sua subsistência e a sua
proteção, porém sua família fica desprovida de qualquer meio de mantença, visto que o
evento prisão afeta diretamente a situação econômica da família, colocando-a em risco
social.
É imprescindível oferecer o mínimo de dignidade para a família do preso, tanto nos
aspectos econômicos, como nos aspectos de respeito e dignidade, conforme ensina
Menezes:
Essa população invisível, que é o preso e a sua família, seres destituídos identidade
social positiva, vivem às margens das grandes certezas, são vistos como refugo; no
momento que são percebidos, mesmo invisíveis no contexto social, vivem diante
da fronteira da casualidade, da razão e do tempo, sujeitos de uma história sem
final definido, em que o direito de volta à convivência social soa como
uma ode ao mal.26

Conforme já esclarecido anteriormente, não seria razoável que uma família


enfrentasse uma situação de miserabilidade, ante a falta de seu provedor. Muitos
dependentes que não tem acesso ao benefício passam grandes dificuldades, diante da
falta de renda. Alguns ficam desabrigados, sem alimentos, vestuário e sem acesso aos
cuidados mínimos, tornando se dependentes do auxílio de outros familiares ou amigos.
Assim, enfrentam situação de miserabilidade, até auferir uma nova renda.
Além de contribuir para a melhoria do bem-estar da família no aspecto econômico,
o benefício auxílio-reclusão adquire uma inesperada importância na vida destes, essa
relevância refere-se a aspectos de dignidade, permitindo-lhes uma vida razoável,
reduzindo as tantas discriminações sofridas.
Conclui-se que a família é o sustento de tudo e é necessário que ao deixar o
cárcere, o apenado encontre sua família em condição de dar-lhe suporte para que este
recomece e trilhe um novo caminho, que não seja o do crime. Pode-se afirmar que a
família é o âmago da ressocialização.

26 MENEZES, Simone Barros Corrêa de. Identidades em construção. Disponível em: . Acesso em: 10 set.
2007.

11
4.1 A IMPORTÂNCIA DO BENEFÍCIO ALÉM DA PROTEÇÃO AOS DEPENDENTES DO
SEGURADO

Em uma breve análise torna-se possível identificar que os dependentes


beneficiários enquadram-se ao menos em uma das seguintes situações: alto grau de
vulnerabilidade social, baixa escolaridade ou analfabetismo, desemprego, são moradores
de comunidade que vivem em casas humildes, com pouca estrutura e nenhum luxo, falta
de saneamento e alimentação mitigada.
O benefício em questão permite que os dependentes não tomem o mesmo rumo
que o segurado e pela situação de miséria cometam novos crimes. Assim, o valor do
benefício além de manter os cuidados básicos que seriam providos pelo segurado,
também diminui o incentivo à práticas criminosas. Dessa forma, evita-se que novos
crimes sejam cometidos, com a finalidade de sobreviver.
Diante da grave crise econômica que vivemos atualmente, é notória a dificuldade
de empregar-se ou manter-se empregado. Esses índices alarmantes, são o que nos dirige
a acreditar que os benefícios previdenciários têm um papel de suma importância para a
sociedade, o de evitar o surgimento de novos criminosos.
Conforme lecionam Fragoso, Catão e Sussekind:
A desestruturação familiar que decorre da prisão de um de seus membros, o
desamparo econômico que conduz, frequentemente, a esposa/companheira e
filhos a iniciarem uma vida criminosa, as inúmeras e dispensáveis
humilhações por que passam as visitas, constituem situações dolorosas para
a família.27

Na ausência de um verdadeiro sistema de proteção social, é na família que os


indivíduos tendem a buscar recursos para lidar com as circunstâncias adversas. Dessa
forma, a situação de desamparo econômico deve ser suprida, sempre que possível, pela
concessão do benefício e não na prática delituosa.
Ademais a Constituição Federal(1988), em seu Art. 3º prevê os objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil, entre eles:

“III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as


desigualdades sociais e regionais”;

Pode se afirmar que o benefício auxílio-reclusão atende a essa previsão


constitucional, vez que sua prestação atende à erradicação da pobreza, pois permite que
os dependentes de segurados apenados possam manter sua sobrevivência de forma
digna, o que deve ser tutelado pelo Estado.

27 FRAGOSO, Heleno. Catão, Helena. Direito dos presos. São Paulo: Editora Forense, 1980, p. 87.

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Diante de todos os fatos expostos, é incontestável que o benefício atende a uma
função social, que seja tanto de proteção ao risco social a que a família é exposta, como
também de um benefício à sociedade, relacionado a redução da marginalização, que se
prolifera por faltas de condições de subsistência, falta de educação, entre outros.

4.1.2 Dados atualizados da prestação do benefício auxílio-reclusão

Atualmente, segundo dados do CNJ 28, coletados em pesquisa realizada com


resultado em 06 de agosto de 2018, temos uma população carcerária de
aproximadamente 699.250 presos em todo o país, sendo 95% homens e apenas 5%
mulheres.
Segundo a última pesquisa publicada pelo DEPEN, somente 7% da população
carcerária tem acesso ao benefício. Desse total 6% são destinados a dependentes de
seguradas presas.29
Assim é possível concluir, que as apenadas mulheres são a maioria dentro do
sistema carcerário a perceberem o direito subjetivo ao benefício.
Esse baixo índice pode ser resultante da falta de informação dos dependentes
quanto ao acesso ao benefício, vez que muitos só tomam conhecimento deste após longo
tempo de prisão, através do convívio com familiares de outros apenados.Isso se deve
pela ausência de assistência do Estado em esclarecer e encaminhar os familiares para
que requeiram o benefício junto à previdência social.

4.1.3 A possibilidade de extinção do benefício e a ameaça à dignidade dos


dependentes do segurado preso

Atualmente tramita no Congresso Nacional, vários projetos que propõe o fim da


prestação do auxílio-reclusão. Alguns defendem até a ideia de que o valor do benefício
deveria ser revertido em favor da família da vítima.
Contudo, após toda análise feita quantos aos critérios para concessão do benefício,
é importante destacar o principal: tal benefício por ser enquadrado como previdenciário,
não trata-se de um favor ou uma benesse do Estado, mas sim uma contraprestação em
face das contribuições já auferidas.
Paulo Malvezzi, da Pastoral Carcerária, ensina que:

28 Portal CNJ. Disponível em <http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/mapa.php> Consulta em 16/11/2018 às


12:22
29 Site da Previdência Social disponível em < http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/dados-abertos-
previdencia-social> Consulta em 21/09/2018 15:57

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Há uma questão política. O fim desse auxílio significa um retrocesso dos
direitos previdenciários e trabalhistas, por que a pessoa contribuiu. O fim do
benefício não auxilia em nada para que o preso retorne a sociedade de uma
forma minimamente viável para se integrar a ela. Se ele tem uma família
destruída, sem recursos, como trazê-lo de volta à cidadania? A família é
essencial no processo de recuperação. O fim desse auxílio não trás qualquer
benefício, tanto para sociedade quanto para as pessoas presas. 30

Conforme também ensina Muhlen:


Eventual extinção do auxílio-reclusão teria como único penalizado o seu
dependente. A finalidade do benefício é garantir à família do segurado
recolhido à prisão, condições de sustento diante da ausência do provedor no
lar, possuindo o mesmo objetivo do benefício de pensão por morte. É esta
prestação um substituto da remuneração antes percebida na condição de
trabalhador. 31

Assim, torna-se evidente, com base em doutrinas e sustentações de ilustres


juristas, a necessidade da manutenção de tal benefício, entendendo ser vantajoso para
toda coletividade, vez que, foi possível concluir que sim, o auxílio-reclusão desempenha
importante papel em um cenário de desamparo financeiro a que são acometidas inúmeras
famílias.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente estudo, foi possível compreender que as famílias que são
assistidas por tal benefício são realmente carentes de amparo financeiro.
Tornou-se possível compreender que a família não deve ser penalizada
financeiramente, vez que já sofre psicologicamente e essa falta de amparo que afeta
primeiramente as finanças, se estendem para saúde, educação, marginalização, pobreza
e desigualdade social. Em suma, essas famílias têm o benefício, como a única fonte de
sustento por determinado período.
O presente artigo científico tem como finalidade disseminar a ideia de que a família
necessita do amparo financeiro, para sobreviver ao momento de crise a que é exposta.
Importante ressaltar que, por seu caráter contributivo, não se trata de um favor do Estado,
mas sim uma forma de apoio diante de riscos sociais.

30 Site Pastoral Carcerária. Disponível em <http://carceraria.org.br/combate-e-prevencao-a-tortura/fim-do-


auxilio-reclusao-nao-traz-beneficio-a-sociedade-nem-aos-presos-enfatiza-assessor-juridico-da-pcr>
Consulta em 16/11/2018 às 16:14
31 MUHLEN. Angela Von. O benefício de auxílio-reclusão garantido pela Previdência Social e a
inconstitucionalidade na restrição de dependentes. Disponível em
<https://www.uniritter.edu.br/uploads/eventos/sepesq/x_sepesq/arquivos_trabalhos/2968/471/496.pdf>
Consulta em 18/09/2018 21:06

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Além do apoio financeiro é necessário também que estas pessoas sejam tratadas
de forma digna pela sociedade, já que estas não cometeram nenhum crime.
Diante todo o exposto, observa-se que o benefício afeta diretamente a vida de toda
a coletividade. A família que o recebe não fica desamparada e tem condições de manter
sua subsistência, mesmo que com o mínimo. Por outro lado, evita-se que outras pessoas
envolvam-se com a criminalidade, a fim de manter suas necessidades mais básicas.
Dessa forma, a violência e a criminalidade são diminuídas, trazendo benefícios para
todos.
Assim, torna se primordial, que sejam promovidas campanhas de conscientização
da importância do benefício para a coletividade, observando as vantagens de forma geral
e não analisando somente casos isolados em que o benefício foi utilizado da forma
incorreta.
Destarte, é preciso fomentar uma postura mais solidária diante das pessoas em
situações de vulnerabilidade, propagando a caridade e a empatia.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Hélio Gustavo. Auxílio-reclusão: direito dos presos e de seus familiares:


com análise das inconstitucionalidades da baixa renda. 2. ed. São Paulo: Ltr, 2014.

BRASIL.Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

FRAGOSO, Heleno. Catão, Helena. Direito dos presos. São Paulo: Editora
Forense, 1980.

MARTINEZ, Wladimir Novaes. In,Direito Adquirido na Previdência Social. São


Paulo: LTR.

MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 24. ed. São Paulo: Atlas,
2007.

BRASIL.Decreto-lei nº. 22.782 de 29 de junho de 1933.

BRASIL. Decreto-lei nº. 24.615 de 07 de julho de 1934.

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