564 A Miserabilidade No BPC Loas

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Revista Multidisciplinar do Nordeste Mineiro, v.

1,
2021/01
ISSN 2178-6925

A MISERABILIDADE NO BPC LOAS

MISERABILITY AT BPC LOAS

Eliziane Nonato Neves


Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac
. E-mail:[email protected]

Rodrigo Anselmo de Souza


Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac
. E-mail:[email protected]

Leonardo Ricardo Araújo Alves


Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac
Email:[email protected]
Recebido: 20/05/2021 – Aceito: 20/05/2021

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e


da legislação, a respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos
dos benefícios assistências, e a evolução da aplicação das normas que regulam a
matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da matéria, quais
critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em
sítios eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e
também pesquisa da jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com
relevantes avanços a matéria ainda não está pacificada e ainda é preciso
estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation,


regarding the criteria adopted for the analysis of the requirements of assistance
benefits, and the evolution of the application of the rules that regulate the matter.
Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter, which
criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on
legal matters, doctrinal books related to the topic and also research on the
jurisprudence of the higher courts in Brazil. Even with relevant advances, the matter
is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that reach the objectives
established by social security
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KEYWORDS: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO
O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos
fundamentais, dentre eles o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma
grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as pessoas pudessem ter uma
vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e poder.

1
Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]
2
Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]
3
Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]
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Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando


falamos em direitos fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios
de Prestação Continuada, para idosos com idade superior a 65 anos ou portadores
de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa
garantir aos beneficiários condições mínimas para uma vida digna. O benefício
alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65 (sessenta e cinco) anos e
também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda
per capita do grupo familiar não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é
difícil conhecer as necessidades de cada beneficiário e também da família, assim, o
critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo necessário que a
constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração
as particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a
concessão do benefício assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da
miserabilidade, bem como a evolução do entendimento doutrinário e jurisprudencial a
respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos
que consistia em ajuda prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era
desenvolvida através das Santas Casas de Misericórdia. Conforme observa Castro e
Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia,
sendo a mais antiga aquela fundada no Porto de São Vicente, depois Vila
Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens Terceira(mutualidades)e,
no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se
verificou na Europa, se deu por um lento Processo de reconhecimento da
necessidade de que o Estado intervenha para suprir deficiências da liberdade
absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da
Seguridade Social. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.37).
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O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto


legislativo Eloy Chaves, que foi responsável pela criação das Caixas de
Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que existiam à época, mediante
pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo ferroviário e
do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem
como pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para
os empregados ferroviários de nível nacional. Previa aposentadoria por
invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de serviço),
pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa
denominação pelo fato de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da
Argentina um sistema de proteção social aos trabalhadores. Essa Lei foi
minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (UELLES,
2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados


visando atender esse mesmo fim. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da
Previdência dos Funcionários Públicos da União, os IPAs (Institutos de Aposentadoria
e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre partindo de uma
categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas
os IAP, com o surgimento do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo
Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já muito reclamada pelos estudiosos
da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu
somente em 1990, com a aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e
em meados dos anos 1993 e 1997 diversos pontos da legislação da Seguridade Social
foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS (Lei
n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS

De acordo com Castro e Lazzari:


Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a
assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente
de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos (inciso V) está a
garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.866).
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A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da


Assistência Social (lei 8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa
com deficiência também está prevista a concessão de 1 salário mínimo para pessoas
com deficiência que não tenha condições de prover sua subsistência ou de tê-la
provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte
originário, que estabeleceu na Carta Política Brasileira que a assistência social será
prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade
social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da
dignidade da pessoa humana, garantindo a todos que não possuem capacidades
próprias de se manter um mínimo existencial. Com esse entendimento José Antônio
Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se ter em mente
a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por
ser inerente ao ser humano, o distinguia das demais criaturas, no sentido de
que todos os seres humanos são dotados da mesma dignidade, noção esta
que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade
pessoal de cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus
atos e seu destino), bem como à ideia de que todos os seres humanos, no
que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET, 2007,
p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-


se Barroso.
A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios
incorporados ao patrimônio da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio
vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo aspectos dos direitos
individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do
mínimo existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades
básicas para a subsistência física é indispensável ao desfrute da própria
liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência, não há
dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma
família. Nesse sentido Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode
ser pago a mais de um membro da família desde que comprovadas todas ascondições
exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido anteriormente será incluído no
cálculo da renda familiar”.
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Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que


componha o grupo familiar temos como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um


membro da mesma família, enquanto for atendido o disposto no inciso III do
art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício a compor a renda
familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
3.1 REQUISITOS

O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos


diferentes de pessoas, que estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência,
sendo alcançadas as pessoas com deficiência e as idosas, devendo cumprir
cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos ou mais;
não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua
família; não possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que
a pessoa tenha impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por
sua família; não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE

Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo


requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a
madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os
menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e
Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o
indivíduo faça jus ao direito ao benefício de prestação continuada deve ser
comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de subsistência ou de tê-los
providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da pessoa
com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼
do salário mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
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Conforme observação feita por Castro e Lazzari:


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os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo


orientação do STJ o magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação
legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do valor da renda familiar per
capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA.
BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA
SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE PODE SER
AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU.
INCIDENTE CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de
concessão de benefício assistencial – deficiente proposta em face do INSS.
2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário
mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora,
com fundamento no art. 14, § 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi
indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua remessa foi
permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência
dominante do Superior Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial
instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente demonstrada entre o
acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não
superior a ¼ do salário mínimo, é entendimento esposado por esta Turma
Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça que, no caso
concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da
miserabilidade da parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. BENEFÍCIO DE
PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR
OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS. VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA.
REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ. INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que
o critério de aferição da renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º
8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não excluindo a
possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros
elementos probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e
de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada
a única forma de se comprovar que a pessoa não possui outros meios para
prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, pois é
apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-
se absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita
inferior a 1/4 do salário mínimo." (REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009). .............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag
1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO
2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe
09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo,
previsto pelo art. 20, §3º, da Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo
Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE
580963/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min.
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Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de Jurisprudência n° 702 –


Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão:
“Apesar da conclusão do perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte
autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma remuneração
mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela
parte autora, seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo
familiar é superior ao limite exigido em lei, o que afasta a alegação de
hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora
pelos membros familiares, chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00
(cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼ do salário mínimo
hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta
centavos). Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do
salário mínimo não é absoluto, podendo, a miserabilidade, ser aferida por
outros meios.
10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que
o critério objetivo da miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário
mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua inconstitucionalidade declarada,
ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao Juizado
Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato,
proferindo decisão adequada ao entendimento uniformizado.(Acórdão
número50377584201240580130503775842012458013Relator(a)Juíza
FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento:
09/10/2013, data de publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira


que já se manifestou a respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art.
203, V, da Constituição. A Lei de Organização da Assistência Social (LOAS),
ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República, estabeleceu
critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido
aos portadores de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir
meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da
norma pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º,
da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a manutenção da
pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per
capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro
estabelecido pela lei teve sua constitucionalidade contestada, ao fundamento
de que permitiria que situações de patente miserabilidade social fossem
consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto
constitucionalmente. Ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade
1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade do
art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida
em controle de constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o
prejuízo da reclamação, em virtude do prévio julgamento dos recursos
extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos,
conheceu da reclamação. O STF, no exercício da competência geral de
fiscalizar a compatibilidade formal e material de qualquer ato normativo com
a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na
reclamação. Isso decorre da própria competência atribuída ao STF para
exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade das leis e dos
atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em
sede de controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e
de forma mais recorrente no âmbito das reclamações. É no juízo
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hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e


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parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade


para evolução interpretativa no controle de constitucionalidade. Com base na
alegação de afronta a determinada decisão do STF, o Tribunal poderá
reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E,
inclusive, poderá ir além, superando total ou parcialmente a decisão-
parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude de evolução
hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da
Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e
Processo de inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei
8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal, entretanto, não pôs
termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda
familiar per capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu
inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar o critério objetivo e único
estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das
famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis
que estabeleceram critérios mais elásticos para concessão de outros
benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou o Bolsa
Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à
Alimentação; a Lei 10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que
autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro a municípios que
instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas,
passou a rever anteriores posicionamentos acerca da intransponibilidade do
critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo de
inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas,
econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos
patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros
benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade,
do art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -
PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013
publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não


está pacificado nos tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que
o critério baseado na renda per capita da família não é constitucional. Assim é comum
encontrar casos em que ora se considera o critério exigido pela lei, ora esse critério é
desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da
renda mínima per capita pode ser afastada quando o conjunto probatório do
processo, examinado globalmente, demonstrar que existe renda não
declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades
amparadas adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há
entendimentos que não exigem a análise exaustiva da situação
particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos
legais para fazer jus ao benefício.(TRICHES, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério


adotado para auferir quem faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado
ao requisito da miserabilidade, sendo necessário que haja uma interpretação de forma
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individualizada levando em consideração as peculiaridade de cada caso.


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Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:


Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de
que o critério da miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se
inadequado para concessão do benefício da prestação continuada, pois sua
aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do
requisito e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por
outros meios, certamente seriam aptas a receber a assistência. A alteração
do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias
constitucionalmente protegidos, sempre tendo em vista as mudanças que
ocorrem no mundo jurídico, político e social (BRACCI 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade


se dê, no caso concreto, possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de
outros meios de provas além da consideração da renda mensal da família.
Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir
quem faz jus ou não ao benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir,
que é garantir às pessoa de baixa renda e sem condições de se manterem um mínimo
de dignidade. Nesse Sentido:
É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa
Humana, uma vez que esta tem como princípio essencial a garantia do
mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está
prevista na Carta Magna como um dos fundamentos do Estado, de modo que
está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que contribui para a
caracterização da inconstitucionalidade em foco (BRACCI, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170)
quantificar o bem-estar social em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que
“voltar para trás” em termos de direitos sociais. A ordem jurídica constitucional e
infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos fundamentais, sob
pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido,
podemos observar quanto ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor
fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal podemos ver em pesquisas do IBGE,
onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas conforme gráfico
abaixo:
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Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem
tem direito ou não de usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com


deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro
de 2020; Lei nº 13.982/2020. (BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de


encontrar um caminho razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na
Lei Orgânica da Assistência Social, para especificar critérios adequados para aferição
de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam
meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é
assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei
Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos
termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar
per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).
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Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização


de laudo socioeconômico/estudo social, que se dá através de assistente social
designado para tanto. O Estudo Social é um processo metodológico específico do
Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica,
uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e
culturais (CFESS, 2003, p. 29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é
necessária a comprovação das condições socioeconômicas do autor por laudo de
assistente social, por auto de constatação lavrado por oficial de justiça ou, sendo
inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.
FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição
socioeconômica do autor pode ser feita por laudo técnico confeccionado por
assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de Justiça ou através de
oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor
decisão do juiz na demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de
“prova”, com a finalidade de dar suporte à decisão judicial, a partir de uma
determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social. Ele na maioria
das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado,
isto é, para que ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de
julgar, a qual se traduz em “avaliar, escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico
exigido pela lei, é possível a designação de assistente social para visita ao beneficiário
e posterior realização de laudo socioeconômico que apontará a real condição
econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei,
seria a edição de norma legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na
busca pela decisão de quem faz jus ao benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido,
na busca de aumentar e facilitar o alcance da população aos programas assistenciais,
foi editada então a lei 13.981/2020 que alterou o requisito econômico de renda per
capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a justificativa de que mesmo
quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em dificuldades para
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manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem
contempladas com o benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No
entendimento da AGU, o Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com
BPC sem antes fazer qualquer análise ou previsão dos custos que estariam
envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição Federal.
Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão
liminar na ADP F662 suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério
socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad
referendum doPlenário, apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da
Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de março de 2020,
enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no
art. 195, §5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF
e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para


suspender a lei supracitada, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia
nos critérios de concessão do benefícios assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos
financeiros e orçamentários, além de violar o princípio democrático
republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime
fiscal da União, estabelecido pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113
do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria benefício em
desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto
no art. 195, § 5º, da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos


de análise do benefício, é necessário observar os impactos financeiros que tais
medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação


das normas assistenciais, quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos
requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa jurisprudencial dos tribunais superiores
a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a respeito da matéria.
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O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da


assistência social no Brasil, como começou e o caminho percorrido para chegar ao
sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando que a princípio assistência social no
Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições de normas
isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e
pensões, ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O
Instituto Nacional de Previdência Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje
Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu
papel relevante na promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um
mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja
vista que ao longo do tempo em que a norma foi aplicada houve diversos
entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito,
havendo algumas decisões e posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já
entenderam pela inconstitucionalidade dos critérios que são adotados hoje, sem lhes
declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios. O Congresso
Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da
história do direito assistencial no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do
poder público, ainda é necessário ajustes e adequações nos modelos adotados hoje
para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma importância o
reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que
não haja desproporção nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa,
não se limitando aos requisitos estritamente dispostos na legislação. Tarefa essa que
como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos órgãos decisórios.
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5. Referências

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chega ao maior nível em 7 anos. Disponível em:<
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-
ao-maior-nivel-em-
7anos#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022
%2C8%25.&text=Quase%20metade%20(47%25)%20dos,2018%20estava%20na%2
0regi%C3%A3o%20Nordeste. Acesso em 10.out.2020.
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constituições brasileiras. Conteúdo Jurídico,2014. Disponível em:
<https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/39911/evolucao-historica-da-
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Do Requisito Da Miserabilidade.Jus Brasil.2016. Disponível em:<
https://nathaliabracci.jusbrasil.com.br/artigos/396389022/beneficio-da-prestacao-
continuada?ref=serp > acessado em: 13.out.2020.
BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 5. ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.
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CFESS – Conselho Federal de Serviço Social (org.). O Estudo Social em Perícias,
Laudos e Pareceres Técnicos: contribuição ao debate no judiciário, na
penitenciária e na previdência social. São Paulo: Cortez, 2003.
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FONAJEF. Enunciado n°50. Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais. Ajufe.
Disponível:https://www.ajufe.org.br/fonajef/258-enunciados-iii-fonajef/11441-
enunciado-n-50. Acessado em:10/11/2020.
MIOTO, Regina Célia Tamaso. Perícia Social – proposta de um percurso
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SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 7. ed. Porto Alegre:
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https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur240579/false > Acessado em:
10.nov.2020
STF.ADPF 662. Relator: Min. Gilmar Mendes. DJe em 07/04/2020. Supremo Tribubal
Federal. Disponível
em:<http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15342832909&ext=.pdf
Acessado em 10.nov.2020
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.DESMISTIFICANDO O DIREITO. acessado em : 15/10/2020. Disponível
em:<https://www.desmistificando.com.br/novas-regras-bpc/> Acessado em:
10.nov.2020.
TNU. Acordão: 201070500195518 201070500195518. Relatora: Juíza Federal
MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO. DJ: 26/10/2012. Conselho da Justiça
Federal. Disponível em:
<https://www2.jf.jus.br/phpdoc/virtus/mostra_publicacao.php?tipo=teor&amp;num=05
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TNU. Súmula 79. DOU 24/04/2015. TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DOS
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https://www.cjf.jus.br/phpdoc/virtus/sumula.php?nsul=79&PHPSESSID=uimkn453vt3
rnrj03odsbppea4#:~:text=Nas%20a%C3%A7%C3%B5es%20em%20que%20se,refe
ridos%20meios%2C%20por%20prova%20testemunhal>. Acessado em 10.nov.2020
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em%20condi%C3%A7%C3%A3o%20de%20miserabilidade.>acessado em:
07.out.2020.
Constituição da República Federativa do Brasil, de 05.10.1988. Brasília, 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao>.
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2022/2020/lei/L13981.htm>.Acesso em: outubro 2020. BRASIL.
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em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acessado em: outubro 2020.
BRASIL.
Lei Federal N°12.435, de 6 de julho de 2011. Disponível
em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12435.htm.
Acessado em: setembro2020. BRASIL.

Lei Federal 12.982, de 2 de abril de 2020. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13982.htm. Acessado
em novembro 2020. BRASIL.
Silva Pinheiro, A. V., de Castro Rocha, E., & Amador Salomão, P. E. (2020). LICITAÇÃO
PÚBLICA: A IMPORTÂNCIA DO PROCEDIMENTO NA TRANSPARÊNCIA E COMBATE A
VÍCIOS EM ATOS ADMINISTRATIVOS. Revista Multidisciplinar Do Nordeste Mineiro, 2(2).
doi:10.17648/2178-6925-v2-2020-11
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de entrada com um documento encontrado na internet (para "Busca em arquivos da internet") ou do
arquivo de entrada com outro arquivo em seu computador (para "Pesquisa em arquivos locais"). A
quantidade de termos comuns representa um fator utilizado no cálculo de Similaridade dos arquivos sendo
comparados. Quanto maior a quantidade de termos comuns, maior a similaridade entre os arquivos. É
importante destacar que o limite de 3% representa uma estatística de semelhança e não um "índice de
plágio". Por exemplo, documentos que citam de forma direta (transcrição) outros documentos, podem ter
uma similaridade maior do que 3% e ainda assim não podem ser caracterizados como plágio. Há sempre a
necessidade do avaliador fazer uma análise para decidir se as semelhanças encontradas caracterizam ou
não o problema de plágio ou mesmo de erro de formatação ou adequação às normas de referências
bibliográficas. Para cada par de arquivos, apresenta-se uma comparação dos termos semelhantes, os
quais aparecem em vermelho.
Veja também:
Analisando o resultado do CopySpider
Qual o percentual aceitável para ser considerado plágio?

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pode-ser-unico-criterio-para-concessao-de-beneficio-
assistencial/2
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miserabilidade-para-a-concessao-do-beneficio-de-prestacao-
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bpc

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concessao-de-beneficio-assistencial/2 (4638 termos)
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nao-pode-ser-unico-criterio-para-concessao-de-beneficio-assistencial/2
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A MISERABILIDADE NO BPC LOAS
MISERABILITY AT BPC LOAS
Eliziane Nonato Neves
[1: Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Rodrigo Anselmo de Souza
[2: Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Leonardo Ricardo Araújo Alves
[3: Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e da legislação, a


respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos dos benefícios assistências, e a evolução
da aplicação das normas que regulam a matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da
matéria, quais critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em sítios
eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e também pesquisa da
jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com relevantes avanços a matéria ainda não está
pacificada e ainda é preciso estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade
social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation, regarding the criteria
adopted for the analysis of the requirements of assistance benefits, and the evolution of the application of
the rules that regulate the matter. Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter
, which criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on legal matters,
doctrinal books related to the topic and also research on the jurisprudence of the higher courts in Brazil.
Even with relevant advances, the matter is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that
reach the objectives established by social security

Keywords: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO

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O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos fundamentais, dentre eles o Princípio
da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as
pessoas pudessem ter uma vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e
poder. Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando falamos em direitos
fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios de Prestação Continuada, para idosos
com idade superior a 65 anos ou portadores de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa garantir aos beneficiários
condições mínimas para uma vida digna. O benefício alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos e também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda per capita do grupo familiar
não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é difícil conhecer as necessidades de cada
beneficiário e também da família, assim, o critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo
necessário que a constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração as
particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a concessão do benefício
assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da miserabilidade, bem como a evolução do
entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos que consistia em ajuda
prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era desenvolvida através das Santas Casas de
Misericórdia. Conforme observa Castro e Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens
Terceira(mutualidades) e, no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se verificou na Europa, se deu
por um lento Processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para suprir
deficiências da liberdade absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da Seguridade Social. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.37).

O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto legislativo Eloy Chaves,
que foi responsável pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que
existiam à época, mediante pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo
ferroviário e do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem como
pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para os empregados ferroviários de
nível nacional. Previa aposentadoria por invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de
serviço), pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa denominação pelo fato

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de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da Argentina um sistema de proteção social aos
trabalhadores. Essa Lei foi minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (Uelles,
2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados visando atender esse mesmo fim
. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da Previdência dos Funcionários Públicos da União, os
IPAs (Institutos de Aposentadoria e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre
partindo de uma categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas os IAP, com o surgimento
do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já
muito reclamada pelos estudiosos da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu somente em 1990, com a
aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e em meados dos anos 1993 e 1997 diversos
pontos da legislação da Seguridade Social foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS
De acordo com Castro e Lazzari:
Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos
(inciso V) está a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.866).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da Assistência Social (lei
8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa com deficiência também está prevista a
concessão de 1 salário mínimo para pessoas com deficiência que não tenha condições de prover sua
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte originário, que estabeleceu na
Carta Política Brasileira que a assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da dignidade da pessoa humana,
garantindo a todos que não possuem capacidades próprias de se manter um mínimo existencial. Com
esse entendimento José Antônio Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se
ter em mente a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o
distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma
dignidade, noção esta que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de
cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como à ideia de
que todos os seres humanos, no que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET,
2007, p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-se Barroso.


A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio

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da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo
aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo
existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física é
indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência,
não há dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma família. Nesse sentido
Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família
desde que comprovadas todas as condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar”.
Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que componha o grupo familiar temos
como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família,
enquanto for atendido o disposto no inciso III do art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício
a compor a renda familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
REQUISITOS
O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos diferentes de pessoas, que
estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência, sendo alcançadas as pessoas com deficiência e
as idosas, devendo cumprir cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos
ou mais; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família; não
possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que a pessoa tenha impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família;
não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE


Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou
companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o indivíduo faça jus ao direito
ao benefício de prestação continuada deve ser comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de
subsistência ou de tê-los providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da
pessoa com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário
mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
Conforme observação feita por Castro e Lazzari:
os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo orientação do STJ o
magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.

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LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE


PODE SER AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício assistencial – deficiente
proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14,
§ 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua
remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente
demonstrada entre o acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não superior a ¼ do salário mínimo, é
entendimento esposado por esta Turma Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça
que, no caso concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da miserabilidade da
parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ.
INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não
excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo." (
REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
.............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo, previsto pelo art. 20, §3º, da
Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel
. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR, rel. Min.
Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de
Jurisprudência n° 702 – Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão: “Apesar da conclusão do
perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma
remuneração mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela parte autora,
seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é superior ao limite exigido em lei, o que
afasta a alegação de hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos membros familiares,
chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼

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do salário mínimo hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos).
Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto,
podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios.
10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo da
miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua
inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao
Juizado Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada
ao entendimento uniformizado.(Acórdão número50377584201240580130503775842012458013Relator(a
)Juíza FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento: 09/10/2013, data de
publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira que já se manifestou a
respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei
de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República
, estabeleceu critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido aos portadores
de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal
Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade
social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de
constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do prévio
julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos, conheceu da
reclamação. O STF, no exercício da competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de
qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da
própria competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de
controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito
das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e
parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no
controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o
Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá
ir além, superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude
de evolução hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal,
entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per

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capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar
o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das
famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou
o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei
10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo
de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e
jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de
concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013 publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não está pacificado nos
tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que o critério baseado na renda per capita
da família não é constitucional. Assim é comum encontrar casos em que ora se considera o critério exigido
pela lei, ora esse critério é desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da renda mínima per capita pode
ser afastada quando o conjunto probatório do processo, examinado globalmente, demonstrar que existe
renda não declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades amparadas
adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há entendimentos que não exigem a análise exaustiva
da situação particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos legais para fazer jus
ao benefício.(Triches, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério adotado para auferir quem
faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado ao requisito da miserabilidade, sendo
necessário que haja uma interpretação de forma individualizada levando em consideração as
peculiaridade de cada caso.
Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:
Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de que o critério da
miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se inadequado para concessão do benefício da prestação
continuada, pois sua aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do requisito
e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por outros meios, certamente seriam aptas a
receber a assistência. A alteração do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias constitucionalmente protegidos
, sempre tendo em vista as mudanças que ocorrem no mundo jurídico, político e social (Bracci 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade se dê, no caso concreto,


possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de outros meios de provas além da consideração
da renda mensal da família.

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Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir quem faz jus ou não ao
benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir, que é garantir às pessoa de baixa renda e
sem condições de se manterem um mínimo de dignidade. Nesse Sentido:
É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que esta tem
como princípio essencial a garantia do mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está prevista na Carta Magna como
um dos fundamentos do Estado, de modo que está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que
contribui para a caracterização da inconstitucionalidade em foco (Bracci, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170) quantificar o bem-estar social
em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que “voltar para trás” em termos de direitos sociais. A
ordem jurídica constitucional e infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos
fundamentais, sob pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido, podemos observar quanto
ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal
podemos ver em pesquisas do IBGE, onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas
conforme gráfico abaixo:

Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem tem direito ou não de
usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020; Lei nº 13.982/2020.
(BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de encontrar um caminho
razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na Lei Orgânica da Assistência Social, para
especificar critérios adequados para aferição de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).

Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização de laudo socioeconômico
/estudo social, que se dá através de assistente social designado para tanto. O Estudo Social é um
processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e
de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e culturais (CFESS, 2003, p.
29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das

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condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por
oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.
FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser
feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de
Justiça ou através de oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor decisão do juiz na
demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social.
Ele na maioria das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que
ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar,
escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico exigido pela lei, é possível a
designação de assistente social para visita ao beneficiário e posterior realização de laudo socioeconômico
que apontará a real condição econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos
legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei, seria a edição de norma
legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na busca pela decisão de quem faz jus ao
benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido, na busca de aumentar e
facilitar o alcance da população aos programas assistenciais, foi editada então a lei 13.981/2020 que
alterou o requisito econômico de renda per capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a
justificativa de que mesmo quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em
dificuldades para manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem contempladas com o
benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No entendimento da AGU, o
Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com BPC sem antes fazer qualquer análise ou
previsão dos custos que estariam envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição
Federal. Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão liminar na ADP F662
suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum doPlenário,
apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no art. 195,
§5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para suspender a lei supracitada
, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia nos critérios de concessão do benefícios
assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos financeiros e orçamentários, além
de violar o princípio democrático republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime fiscal da União, estabelecido
pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113 do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria

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benefício em desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto no art. 195, § 5º,
da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos de análise do benefício, é
necessário observar os impactos financeiros que tais medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. Considerações Finais

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação das normas assistenciais,
quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa
jurisprudencial dos tribunais superiores a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a
respeito da matéria.
O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da assistência social no Brasil,
como começou e o caminho percorrido para chegar ao sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando
que a princípio assistência social no Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições
de normas isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e pensões,
ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O Instituto Nacional de Previdência
Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu papel relevante na
promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja vista que ao longo do
tempo em que a norma foi aplicada houve diversos entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito, havendo algumas decisões e
posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já entenderam pela inconstitucionalidade dos
critérios que são adotados hoje, sem lhes declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios
. O Congresso Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da história do direito assistencial
no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do poder público, ainda é necessário ajustes e
adequações nos modelos adotados hoje para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma
importância o reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que não haja desproporção
nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa, não se limitando aos requisitos estritamente
dispostos na legislação. Tarefa essa que como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos
órgãos decisórios.

5. Referências

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS. Extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7
anos. Disponível em:&lt; https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias
/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7anos
#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022%2C8%25.&text=Quase

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%20metade%20(47%25)%20dos,2018%20estava%20na%20regi%C3%A3o%20Nordeste. Acesso em
10.out.2020.
ANDRADE, José Ueslles. Evolução histórica da seguridade social a luz das constituições brasileiras.
Conteúdo Jurídico,2014. Disponível em: &lt;https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos
/39911/evolucao-historica-da-seguridade-social-a-luz-das-constituicoes-brasileiras&gt; acessado em : 19.
set.2020.
BACHHI, Nathalia. Benefício Da Prestação Continuada: A Inconstitucionalidade Do Requisito Da
Miserabilidade.Jus Brasil.2016. Disponível em:&lt; https://nathaliabracci.jusbrasil.com.br/artigos
/396389022/beneficio-da-prestacao-continuada?ref=serp &gt; acessado em: 13.out.2020.
BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito Previdenciário. 19. ed. São
Paulo: Forense, 2015.
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social (org.). O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres
Técnicos: contribuição ao debate no judiciário, na penitenciária e na previdência social. São Paulo: Cortez
, 2003.
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%20condi%C3%A7%C3%A3o%20de%20miserabilidade.&gt;acessado em: 07.out.2020.


Constituição da República Federativa do Brasil, de 05.10.1988. Brasília, 1988. Disponível em: &lt;http
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2014/2011/Lei/L12435.htm. Acessado em: setembro2020. BRASIL.

Lei Federal 12.982, de 2 de abril de 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-


2022/2020/lei/l13982.htm. Acessado em novembro 2020. BRASIL

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=================================================================================
Arquivo 1: A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx (5005 termos)
Arquivo 2: http://qualidade.ieprev.com.br/conteudo/id/20336/t/a-prova-da-miserabilidade-para-a-
concessao-do-beneficio-de-prestacao-continuada (1630 termos)
Termos comuns: 309
Similaridade: 4,88%
O texto abaixo é o conteúdo do documento A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx. Os termos em
vermelho foram encontrados no documento http://qualidade.ieprev.com.br/conteudo/id/20336/t/a-prova-
da-miserabilidade-para-a-concessao-do-beneficio-de-prestacao-continuada
=================================================================================
A MISERABILIDADE NO BPC LOAS
MISERABILITY AT BPC LOAS
Eliziane Nonato Neves
[1: Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Rodrigo Anselmo de Souza
[2: Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Leonardo Ricardo Araújo Alves
[3: Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e da legislação, a


respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos dos benefícios assistências, e a evolução
da aplicação das normas que regulam a matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da
matéria, quais critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em sítios
eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e também pesquisa da
jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com relevantes avanços a matéria ainda não está
pacificada e ainda é preciso estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade
social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation, regarding the criteria
adopted for the analysis of the requirements of assistance benefits, and the evolution of the application of
the rules that regulate the matter. Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter
, which criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on legal matters,
doctrinal books related to the topic and also research on the jurisprudence of the higher courts in Brazil.
Even with relevant advances, the matter is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that
reach the objectives established by social security

Keywords: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO

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O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos fundamentais, dentre eles o Princípio
da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as
pessoas pudessem ter uma vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e
poder. Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando falamos em direitos
fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios de Prestação Continuada, para idosos
com idade superior a 65 anos ou portadores de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa garantir aos beneficiários
condições mínimas para uma vida digna. O benefício alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos e também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda per capita do grupo familiar
não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é difícil conhecer as necessidades de cada
beneficiário e também da família, assim, o critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo
necessário que a constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração as
particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a concessão do benefício
assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da miserabilidade, bem como a evolução do
entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos que consistia em ajuda
prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era desenvolvida através das Santas Casas de
Misericórdia. Conforme observa Castro e Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens
Terceira(mutualidades) e, no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se verificou na Europa, se deu
por um lento Processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para suprir
deficiências da liberdade absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da Seguridade Social. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.37).

O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto legislativo Eloy Chaves,
que foi responsável pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que
existiam à época, mediante pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo
ferroviário e do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem como
pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para os empregados ferroviários de
nível nacional. Previa aposentadoria por invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de
serviço), pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa denominação pelo fato

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de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da Argentina um sistema de proteção social aos
trabalhadores. Essa Lei foi minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (Uelles,
2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados visando atender esse mesmo fim
. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da Previdência dos Funcionários Públicos da União, os
IPAs (Institutos de Aposentadoria e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre
partindo de uma categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas os IAP, com o surgimento
do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já
muito reclamada pelos estudiosos da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu somente em 1990, com a
aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e em meados dos anos 1993 e 1997 diversos
pontos da legislação da Seguridade Social foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS
De acordo com Castro e Lazzari:
Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos
(inciso V) está a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.866).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da Assistência Social (lei
8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa com deficiência também está prevista a
concessão de 1 salário mínimo para pessoas com deficiência que não tenha condições de prover sua
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte originário, que estabeleceu na
Carta Política Brasileira que a assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da dignidade da pessoa humana,
garantindo a todos que não possuem capacidades próprias de se manter um mínimo existencial. Com
esse entendimento José Antônio Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se
ter em mente a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o
distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma
dignidade, noção esta que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de
cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como à ideia de
que todos os seres humanos, no que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET,
2007, p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-se Barroso.


A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio

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da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo
aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo
existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física é
indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência,
não há dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma família. Nesse sentido
Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família
desde que comprovadas todas as condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar”.
Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que componha o grupo familiar temos
como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família,
enquanto for atendido o disposto no inciso III do art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício
a compor a renda familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
REQUISITOS
O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos diferentes de pessoas, que
estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência, sendo alcançadas as pessoas com deficiência e
as idosas, devendo cumprir cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos
ou mais; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família; não
possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que a pessoa tenha impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família;
não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE


Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou
companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o indivíduo faça jus ao direito
ao benefício de prestação continuada deve ser comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de
subsistência ou de tê-los providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da
pessoa com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário
mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
Conforme observação feita por Castro e Lazzari:
os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo orientação do STJ o
magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.

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LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE


PODE SER AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício assistencial – deficiente
proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14,
§ 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua
remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente
demonstrada entre o acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não superior a ¼ do salário mínimo, é
entendimento esposado por esta Turma Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça
que, no caso concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da miserabilidade da
parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ.
INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não
excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo."
(REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
.............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo, previsto pelo art. 20, §3º, da
Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel
. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR, rel. Min.
Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de
Jurisprudência n° 702 – Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão: “Apesar da conclusão do
perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma
remuneração mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela parte autora,
seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é superior ao limite exigido em lei, o que
afasta a alegação de hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos membros familiares,
chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼

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do salário mínimo hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos).
Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto,
podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios.
10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo da
miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua
inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao
Juizado Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada
ao entendimento uniformizado.(Acórdão número50377584201240580130503775842012458013Relator(a
)Juíza FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento: 09/10/2013, data de
publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira que já se manifestou a
respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei
de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República
, estabeleceu critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido aos portadores
de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal
Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade
social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de
constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do prévio
julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos, conheceu da
reclamação. O STF, no exercício da competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de
qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da
própria competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de
controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito
das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e
parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no
controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o
Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá
ir além, superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude
de evolução hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal,
entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per

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capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar
o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das
famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou
o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei
10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo
de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e
jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de
concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013 publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não está pacificado nos
tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que o critério baseado na renda per capita
da família não é constitucional. Assim é comum encontrar casos em que ora se considera o critério exigido
pela lei, ora esse critério é desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da renda mínima per capita pode
ser afastada quando o conjunto probatório do processo, examinado globalmente, demonstrar que existe
renda não declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades amparadas
adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há entendimentos que não exigem a análise exaustiva
da situação particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos legais para fazer jus
ao benefício.(Triches, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério adotado para auferir quem
faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado ao requisito da miserabilidade, sendo
necessário que haja uma interpretação de forma individualizada levando em consideração as
peculiaridade de cada caso.
Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:
Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de que o critério da
miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se inadequado para concessão do benefício da prestação
continuada, pois sua aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do requisito
e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por outros meios, certamente seriam aptas a
receber a assistência. A alteração do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias constitucionalmente protegidos
, sempre tendo em vista as mudanças que ocorrem no mundo jurídico, político e social (Bracci 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade se dê, no caso concreto,


possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de outros meios de provas além da consideração
da renda mensal da família.

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Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir quem faz jus ou não ao
benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir, que é garantir às pessoa de baixa renda e
sem condições de se manterem um mínimo de dignidade. Nesse Sentido:
É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que esta tem
como princípio essencial a garantia do mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está prevista na Carta Magna como
um dos fundamentos do Estado, de modo que está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que
contribui para a caracterização da inconstitucionalidade em foco (Bracci, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170) quantificar o bem-estar social
em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que “voltar para trás” em termos de direitos sociais. A
ordem jurídica constitucional e infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos
fundamentais, sob pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido, podemos observar quanto
ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal
podemos ver em pesquisas do IBGE, onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas
conforme gráfico abaixo:

Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem tem direito ou não de
usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020; Lei nº 13.982/2020.
(BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de encontrar um caminho
razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na Lei Orgânica da Assistência Social, para
especificar critérios adequados para aferição de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).

Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização de laudo socioeconômico
/estudo social, que se dá através de assistente social designado para tanto. O Estudo Social é um
processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e
de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e culturais (CFESS, 2003, p.
29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das

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condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por
oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.
FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser
feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de
Justiça ou através de oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor decisão do juiz na
demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social.
Ele na maioria das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que
ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar,
escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico exigido pela lei, é possível a
designação de assistente social para visita ao beneficiário e posterior realização de laudo socioeconômico
que apontará a real condição econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos
legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei, seria a edição de norma
legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na busca pela decisão de quem faz jus ao
benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido, na busca de aumentar e
facilitar o alcance da população aos programas assistenciais, foi editada então a lei 13.981/2020 que
alterou o requisito econômico de renda per capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a
justificativa de que mesmo quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em
dificuldades para manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem contempladas com o
benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No entendimento da AGU, o
Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com BPC sem antes fazer qualquer análise ou
previsão dos custos que estariam envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição
Federal. Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão liminar na ADP F662
suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum doPlenário,
apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no art. 195,
§5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para suspender a lei supracitada
, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia nos critérios de concessão do benefícios
assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos financeiros e orçamentários, além
de violar o princípio democrático republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime fiscal da União, estabelecido
pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113 do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria

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benefício em desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto no art. 195, § 5º,
da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos de análise do benefício, é
necessário observar os impactos financeiros que tais medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. Considerações Finais

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação das normas assistenciais,
quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa
jurisprudencial dos tribunais superiores a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a
respeito da matéria.
O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da assistência social no Brasil,
como começou e o caminho percorrido para chegar ao sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando
que a princípio assistência social no Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições
de normas isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e pensões,
ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O Instituto Nacional de Previdência
Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu papel relevante na
promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja vista que ao longo do
tempo em que a norma foi aplicada houve diversos entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito, havendo algumas decisões e
posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já entenderam pela inconstitucionalidade dos
critérios que são adotados hoje, sem lhes declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios
. O Congresso Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da história do direito assistencial
no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do poder público, ainda é necessário ajustes e
adequações nos modelos adotados hoje para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma
importância o reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que não haja desproporção
nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa, não se limitando aos requisitos estritamente
dispostos na legislação. Tarefa essa que como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos
órgãos decisórios.

5. Referências

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS. Extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7
anos. Disponível em:&lt; https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias
/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7anos
#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022%2C8%25.&text=Quase

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.br/phpdoc/virtus/mostra_publicacao.php?tipo=teor&amp;num=0503775842012405801309101 &gt;
acessado em:10.nov.2020
TNU. Súmula 79. DOU 24/04/2015. TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DOS JUIZADOS
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=79&PHPSESSID=uimkn453vt3rnrj03odsbppea4#:~:text=Nas%20a%C3%A7%C3%B5es%20em%20que
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. Conjur.2018. Disponível em:&lt;https://www.conjur.com.br/2018-mar-30/alexandre-triches-amparo-social-
presuncao-miserabilidade#:~:text=O%20Loas%2C%20ou%20amparo%20social,deficientes%20em

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%20condi%C3%A7%C3%A3o%20de%20miserabilidade.&gt;acessado em: 07.out.2020.


Constituição da República Federativa do Brasil, de 05.10.1988. Brasília, 1988. Disponível em: &lt;http
://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao&gt;.
Lei Federal Nº 13.981, de 23 de março de 2020.

Disponível em: &lt;http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13981.htm&gt;.Acesso em


: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°8.742, de 7 de dezembro de 1993. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l
8742.htm. Acessado em: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°12.435, de 6 de julho de 2011. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2011/Lei/L12435.htm. Acessado em: setembro2020. BRASIL.

Lei Federal 12.982, de 2 de abril de 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-


2022/2020/lei/l13982.htm. Acessado em novembro 2020. BRASIL

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=================================================================================
Arquivo 1: A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx (5005 termos)
Arquivo 2: https://previdenciarista.com/blog/renda-familiar-no-beneficio-assistencial-de-prestacao-
continuada-loas (3594 termos)
Termos comuns: 385
Similaridade: 4,68%
O texto abaixo é o conteúdo do documento A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx. Os termos em
vermelho foram encontrados no documento https://previdenciarista.com/blog/renda-familiar-no-
beneficio-assistencial-de-prestacao-continuada-loas
=================================================================================
A MISERABILIDADE NO BPC LOAS
MISERABILITY AT BPC LOAS
Eliziane Nonato Neves
[1: Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Rodrigo Anselmo de Souza
[2: Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Leonardo Ricardo Araújo Alves
[3: Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e da legislação, a


respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos dos benefícios assistências, e a evolução
da aplicação das normas que regulam a matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da
matéria, quais critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em sítios
eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e também pesquisa da
jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com relevantes avanços a matéria ainda não está
pacificada e ainda é preciso estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade
social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation, regarding the criteria
adopted for the analysis of the requirements of assistance benefits, and the evolution of the application of
the rules that regulate the matter. Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter
, which criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on legal matters,
doctrinal books related to the topic and also research on the jurisprudence of the higher courts in Brazil.
Even with relevant advances, the matter is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that
reach the objectives established by social security

Keywords: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO

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O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos fundamentais, dentre eles o Princípio
da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as
pessoas pudessem ter uma vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e
poder. Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando falamos em direitos
fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios de Prestação Continuada, para idosos
com idade superior a 65 anos ou portadores de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa garantir aos beneficiários
condições mínimas para uma vida digna. O benefício alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos e também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda per capita do grupo familiar
não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é difícil conhecer as necessidades de cada
beneficiário e também da família, assim, o critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo
necessário que a constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração as
particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a concessão do benefício
assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da miserabilidade, bem como a evolução do
entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos que consistia em ajuda
prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era desenvolvida através das Santas Casas de
Misericórdia. Conforme observa Castro e Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens
Terceira(mutualidades) e, no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se verificou na Europa, se deu
por um lento Processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para suprir
deficiências da liberdade absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da Seguridade Social. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.37).

O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto legislativo Eloy Chaves,
que foi responsável pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que
existiam à época, mediante pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo
ferroviário e do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem como
pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para os empregados ferroviários de
nível nacional. Previa aposentadoria por invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de
serviço), pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa denominação pelo fato

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de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da Argentina um sistema de proteção social aos
trabalhadores. Essa Lei foi minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (Uelles,
2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados visando atender esse mesmo fim
. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da Previdência dos Funcionários Públicos da União, os
IPAs (Institutos de Aposentadoria e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre
partindo de uma categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas os IAP, com o surgimento
do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já
muito reclamada pelos estudiosos da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu somente em 1990, com a
aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e em meados dos anos 1993 e 1997 diversos
pontos da legislação da Seguridade Social foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS
De acordo com Castro e Lazzari:
Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos
(inciso V) está a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.866).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da Assistência Social (lei
8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa com deficiência também está prevista a
concessão de 1 salário mínimo para pessoas com deficiência que não tenha condições de prover sua
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte originário, que estabeleceu na
Carta Política Brasileira que a assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da dignidade da pessoa humana,
garantindo a todos que não possuem capacidades próprias de se manter um mínimo existencial. Com
esse entendimento José Antônio Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se
ter em mente a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o
distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma
dignidade, noção esta que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de
cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como à ideia de
que todos os seres humanos, no que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET,
2007, p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-se Barroso.


A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio

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da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo
aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo
existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física é
indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência,
não há dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma família. Nesse sentido
Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família
desde que comprovadas todas as condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar”.
Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que componha o grupo familiar temos
como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família,
enquanto for atendido o disposto no inciso III do art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício
a compor a renda familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
REQUISITOS
O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos diferentes de pessoas, que
estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência, sendo alcançadas as pessoas com deficiência e
as idosas, devendo cumprir cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos
ou mais; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família; não
possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que a pessoa tenha impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família;
não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE


Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou
companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o indivíduo faça jus ao direito
ao benefício de prestação continuada deve ser comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de
subsistência ou de tê-los providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da
pessoa com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário
mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
Conforme observação feita por Castro e Lazzari:
os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo orientação do STJ o
magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.

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LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE


PODE SER AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício assistencial – deficiente
proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14,
§ 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua
remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente
demonstrada entre o acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não superior a ¼ do salário mínimo, é
entendimento esposado por esta Turma Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça
que, no caso concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da miserabilidade da
parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ.
INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não
excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo."
(REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
.............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo, previsto pelo art. 20, §3º, da
Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel
. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR, rel. Min.
Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de
Jurisprudência n° 702 – Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão: “Apesar da conclusão do
perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma
remuneração mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela parte autora,
seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é superior ao limite exigido em lei, o que
afasta a alegação de hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos membros familiares,
chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼

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do salário mínimo hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos).
Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto,
podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios.
10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo da
miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua
inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao
Juizado Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada
ao entendimento uniformizado.(Acórdão número50377584201240580130503775842012458013Relator(a
)Juíza FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento: 09/10/2013, data de
publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira que já se manifestou a
respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei
de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República
, estabeleceu critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido aos portadores
de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal
Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade
social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de
constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do prévio
julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos, conheceu da
reclamação. O STF, no exercício da competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de
qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da
própria competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de
controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito
das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e
parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no
controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o
Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá
ir além, superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude
de evolução hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal,
entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per

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capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar
o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das
famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou
o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei
10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo
de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e
jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de
concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013 publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não está pacificado nos
tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que o critério baseado na renda per capita
da família não é constitucional. Assim é comum encontrar casos em que ora se considera o critério exigido
pela lei, ora esse critério é desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da renda mínima per capita pode
ser afastada quando o conjunto probatório do processo, examinado globalmente, demonstrar que existe
renda não declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades amparadas
adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há entendimentos que não exigem a análise exaustiva
da situação particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos legais para fazer jus
ao benefício.(Triches, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério adotado para auferir quem
faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado ao requisito da miserabilidade, sendo
necessário que haja uma interpretação de forma individualizada levando em consideração as
peculiaridade de cada caso.
Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:
Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de que o critério da
miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se inadequado para concessão do benefício da prestação
continuada, pois sua aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do requisito
e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por outros meios, certamente seriam aptas a
receber a assistência. A alteração do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias constitucionalmente protegidos
, sempre tendo em vista as mudanças que ocorrem no mundo jurídico, político e social (Bracci 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade se dê, no caso concreto,


possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de outros meios de provas além da consideração
da renda mensal da família.

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Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir quem faz jus ou não ao
benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir, que é garantir às pessoa de baixa renda e
sem condições de se manterem um mínimo de dignidade. Nesse Sentido:
É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que esta tem
como princípio essencial a garantia do mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está prevista na Carta Magna como
um dos fundamentos do Estado, de modo que está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que
contribui para a caracterização da inconstitucionalidade em foco (Bracci, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170) quantificar o bem-estar social
em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que “voltar para trás” em termos de direitos sociais. A
ordem jurídica constitucional e infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos
fundamentais, sob pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido, podemos observar quanto
ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal
podemos ver em pesquisas do IBGE, onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas
conforme gráfico abaixo:

Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem tem direito ou não de
usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020; Lei nº 13.982/2020.
(BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de encontrar um caminho
razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na Lei Orgânica da Assistência Social, para
especificar critérios adequados para aferição de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).

Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização de laudo socioeconômico
/estudo social, que se dá através de assistente social designado para tanto. O Estudo Social é um
processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e
de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e culturais (CFESS, 2003, p.
29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das

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condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por
oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.
FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser
feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de
Justiça ou através de oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor decisão do juiz na
demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social.
Ele na maioria das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que
ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar,
escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico exigido pela lei, é possível a
designação de assistente social para visita ao beneficiário e posterior realização de laudo socioeconômico
que apontará a real condição econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos
legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei, seria a edição de norma
legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na busca pela decisão de quem faz jus ao
benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido, na busca de aumentar e
facilitar o alcance da população aos programas assistenciais, foi editada então a lei 13.981/2020 que
alterou o requisito econômico de renda per capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a
justificativa de que mesmo quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em
dificuldades para manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem contempladas com o
benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No entendimento da AGU, o
Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com BPC sem antes fazer qualquer análise ou
previsão dos custos que estariam envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição
Federal. Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão liminar na ADP F662
suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum doPlenário,
apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no art. 195,
§5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para suspender a lei supracitada
, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia nos critérios de concessão do benefícios
assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos financeiros e orçamentários, além
de violar o princípio democrático republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime fiscal da União, estabelecido
pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113 do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria

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benefício em desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto no art. 195, § 5º,
da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos de análise do benefício, é
necessário observar os impactos financeiros que tais medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. Considerações Finais

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação das normas assistenciais,
quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa
jurisprudencial dos tribunais superiores a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a
respeito da matéria.
O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da assistência social no Brasil,
como começou e o caminho percorrido para chegar ao sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando
que a princípio assistência social no Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições
de normas isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e pensões,
ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O Instituto Nacional de Previdência
Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu papel relevante na
promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja vista que ao longo do
tempo em que a norma foi aplicada houve diversos entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito, havendo algumas decisões e
posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já entenderam pela inconstitucionalidade dos
critérios que são adotados hoje, sem lhes declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios
. O Congresso Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da história do direito assistencial
no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do poder público, ainda é necessário ajustes e
adequações nos modelos adotados hoje para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma
importância o reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que não haja desproporção
nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa, não se limitando aos requisitos estritamente
dispostos na legislação. Tarefa essa que como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos
órgãos decisórios.

5. Referências

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS. Extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7
anos. Disponível em:&lt; https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias
/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7anos
#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022%2C8%25.&text=Quase

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%20metade%20(47%25)%20dos,2018%20estava%20na%20regi%C3%A3o%20Nordeste. Acesso em
10.out.2020.
ANDRADE, José Ueslles. Evolução histórica da seguridade social a luz das constituições brasileiras.
Conteúdo Jurídico,2014. Disponível em: &lt;https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos
/39911/evolucao-historica-da-seguridade-social-a-luz-das-constituicoes-brasileiras&gt; acessado em : 19.
set.2020.
BACHHI, Nathalia. Benefício Da Prestação Continuada: A Inconstitucionalidade Do Requisito Da
Miserabilidade.Jus Brasil.2016. Disponível em:&lt; https://nathaliabracci.jusbrasil.com.br/artigos
/396389022/beneficio-da-prestacao-continuada?ref=serp &gt; acessado em: 13.out.2020.
BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito Previdenciário. 19. ed. São
Paulo: Forense, 2015.
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social (org.). O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres
Técnicos: contribuição ao debate no judiciário, na penitenciária e na previdência social. São Paulo: Cortez
, 2003.
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%20condi%C3%A7%C3%A3o%20de%20miserabilidade.&gt;acessado em: 07.out.2020.


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Lei Federal N°12.435, de 6 de julho de 2011. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2011/Lei/L12435.htm. Acessado em: setembro2020. BRASIL.

Lei Federal 12.982, de 2 de abril de 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-


2022/2020/lei/l13982.htm. Acessado em novembro 2020. BRASIL

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Arquivo 1: A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx (5005 termos)
Arquivo 2: https://previdenciarista.com/blog/beneficio-assistencial (3176 termos)
Termos comuns: 335
Similaridade: 4,26%
O texto abaixo é o conteúdo do documento A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx. Os termos em
vermelho foram encontrados no documento https://previdenciarista.com/blog/beneficio-assistencial
=================================================================================
A MISERABILIDADE NO BPC LOAS
MISERABILITY AT BPC LOAS
Eliziane Nonato Neves
[1: Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Rodrigo Anselmo de Souza
[2: Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Leonardo Ricardo Araújo Alves
[3: Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e da legislação, a


respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos dos benefícios assistências, e a evolução
da aplicação das normas que regulam a matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da
matéria, quais critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em sítios
eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e também pesquisa da
jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com relevantes avanços a matéria ainda não está
pacificada e ainda é preciso estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade
social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation, regarding the criteria
adopted for the analysis of the requirements of assistance benefits, and the evolution of the application of
the rules that regulate the matter. Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter
, which criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on legal matters,
doctrinal books related to the topic and also research on the jurisprudence of the higher courts in Brazil.
Even with relevant advances, the matter is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that
reach the objectives established by social security

Keywords: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO
O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos fundamentais, dentre eles o Princípio
da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as

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pessoas pudessem ter uma vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e
poder. Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando falamos em direitos
fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios de Prestação Continuada, para idosos
com idade superior a 65 anos ou portadores de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa garantir aos beneficiários
condições mínimas para uma vida digna. O benefício alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos e também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda per capita do grupo familiar
não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é difícil conhecer as necessidades de cada
beneficiário e também da família, assim, o critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo
necessário que a constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração as
particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a concessão do benefício
assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da miserabilidade, bem como a evolução do
entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos que consistia em ajuda
prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era desenvolvida através das Santas Casas de
Misericórdia. Conforme observa Castro e Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens
Terceira(mutualidades) e, no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se verificou na Europa, se deu
por um lento Processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para suprir
deficiências da liberdade absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da Seguridade Social. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.37).

O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto legislativo Eloy Chaves,
que foi responsável pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que
existiam à época, mediante pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo
ferroviário e do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem como
pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para os empregados ferroviários de
nível nacional. Previa aposentadoria por invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de
serviço), pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa denominação pelo fato
de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da Argentina um sistema de proteção social aos
trabalhadores. Essa Lei foi minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (Uelles,

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2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados visando atender esse mesmo fim
. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da Previdência dos Funcionários Públicos da União, os
IPAs (Institutos de Aposentadoria e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre
partindo de uma categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas os IAP, com o surgimento
do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já
muito reclamada pelos estudiosos da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu somente em 1990, com a
aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e em meados dos anos 1993 e 1997 diversos
pontos da legislação da Seguridade Social foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS
De acordo com Castro e Lazzari:
Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos
(inciso V) está a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.866).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da Assistência Social (lei
8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa com deficiência também está prevista a
concessão de 1 salário mínimo para pessoas com deficiência que não tenha condições de prover sua
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte originário, que estabeleceu na
Carta Política Brasileira que a assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da dignidade da pessoa humana,
garantindo a todos que não possuem capacidades próprias de se manter um mínimo existencial. Com
esse entendimento José Antônio Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se
ter em mente a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o
distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma
dignidade, noção esta que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de
cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como à ideia de
que todos os seres humanos, no que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET,
2007, p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-se Barroso.


A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio
da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo
aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo

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existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física é
indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência,
não há dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma família. Nesse sentido
Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família
desde que comprovadas todas as condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar”.
Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que componha o grupo familiar temos
como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família,
enquanto for atendido o disposto no inciso III do art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício
a compor a renda familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
REQUISITOS
O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos diferentes de pessoas, que
estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência, sendo alcançadas as pessoas com deficiência e
as idosas, devendo cumprir cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos
ou mais; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família; não
possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que a pessoa tenha impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família;
não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE


Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou
companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o indivíduo faça jus ao direito
ao benefício de prestação continuada deve ser comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de
subsistência ou de tê-los providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da
pessoa com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário
mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
Conforme observação feita por Castro e Lazzari:
os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo orientação do STJ o
magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.
LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE
PODE SER AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE

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CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício assistencial – deficiente


proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14,
§ 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua
remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente
demonstrada entre o acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não superior a ¼ do salário mínimo, é
entendimento esposado por esta Turma Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça
que, no caso concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da miserabilidade da
parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ.
INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não
excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo." (
REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
.............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo, previsto pelo art. 20, §3º, da
Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel
. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR, rel. Min.
Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de
Jurisprudência n° 702 – Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão: “Apesar da conclusão do
perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma
remuneração mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela parte autora,
seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é superior ao limite exigido em lei, o que
afasta a alegação de hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos membros familiares,
chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼
do salário mínimo hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos).
Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto,

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podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios.


10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo da
miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua
inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao
Juizado Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada
ao entendimento uniformizado.(Acórdão número50377584201240580130503775842012458013Relator(a
)Juíza FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento: 09/10/2013, data de
publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira que já se manifestou a
respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei
de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República
, estabeleceu critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido aos portadores
de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal
Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade
social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de
constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do prévio
julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos, conheceu da
reclamação. O STF, no exercício da competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de
qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da
própria competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de
controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito
das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e
parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no
controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o
Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá
ir além, superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude
de evolução hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal,
entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per
capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar
o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das

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famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou
o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei
10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo
de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e
jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de
concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013 publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não está pacificado nos
tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que o critério baseado na renda per capita
da família não é constitucional. Assim é comum encontrar casos em que ora se considera o critério exigido
pela lei, ora esse critério é desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da renda mínima per capita pode
ser afastada quando o conjunto probatório do processo, examinado globalmente, demonstrar que existe
renda não declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades amparadas
adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há entendimentos que não exigem a análise exaustiva
da situação particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos legais para fazer jus
ao benefício.(Triches, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério adotado para auferir quem
faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado ao requisito da miserabilidade, sendo
necessário que haja uma interpretação de forma individualizada levando em consideração as
peculiaridade de cada caso.
Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:
Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de que o critério da
miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se inadequado para concessão do benefício da prestação
continuada, pois sua aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do requisito
e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por outros meios, certamente seriam aptas a
receber a assistência. A alteração do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias constitucionalmente protegidos
, sempre tendo em vista as mudanças que ocorrem no mundo jurídico, político e social (Bracci 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade se dê, no caso concreto,


possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de outros meios de provas além da consideração
da renda mensal da família.
Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir quem faz jus ou não ao
benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir, que é garantir às pessoa de baixa renda e

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sem condições de se manterem um mínimo de dignidade. Nesse Sentido:


É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que esta tem
como princípio essencial a garantia do mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está prevista na Carta Magna como
um dos fundamentos do Estado, de modo que está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que
contribui para a caracterização da inconstitucionalidade em foco (Bracci, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170) quantificar o bem-estar social
em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que “voltar para trás” em termos de direitos sociais. A
ordem jurídica constitucional e infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos
fundamentais, sob pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido, podemos observar quanto
ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal
podemos ver em pesquisas do IBGE, onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas
conforme gráfico abaixo:

Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem tem direito ou não de
usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020; Lei nº 13.982/2020.
(BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de encontrar um caminho
razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na Lei Orgânica da Assistência Social, para
especificar critérios adequados para aferição de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).

Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização de laudo socioeconômico
/estudo social, que se dá através de assistente social designado para tanto. O Estudo Social é um
processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e
de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e culturais (CFESS, 2003, p.
29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das
condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por
oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.

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FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser
feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de
Justiça ou através de oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor decisão do juiz na
demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social.
Ele na maioria das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que
ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar,
escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico exigido pela lei, é possível a
designação de assistente social para visita ao beneficiário e posterior realização de laudo socioeconômico
que apontará a real condição econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos
legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei, seria a edição de norma
legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na busca pela decisão de quem faz jus ao
benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido, na busca de aumentar e
facilitar o alcance da população aos programas assistenciais, foi editada então a lei 13.981/2020 que
alterou o requisito econômico de renda per capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a
justificativa de que mesmo quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em
dificuldades para manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem contempladas com o
benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No entendimento da AGU, o
Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com BPC sem antes fazer qualquer análise ou
previsão dos custos que estariam envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição
Federal. Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão liminar na ADP F662
suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum doPlenário,
apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no art. 195,
§5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para suspender a lei supracitada
, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia nos critérios de concessão do benefícios
assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos financeiros e orçamentários, além
de violar o princípio democrático republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime fiscal da União, estabelecido
pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113 do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria
benefício em desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto no art. 195, § 5º,
da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

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Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos de análise do benefício, é
necessário observar os impactos financeiros que tais medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. Considerações Finais

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação das normas assistenciais,
quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa
jurisprudencial dos tribunais superiores a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a
respeito da matéria.
O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da assistência social no Brasil,
como começou e o caminho percorrido para chegar ao sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando
que a princípio assistência social no Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições
de normas isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e pensões,
ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O Instituto Nacional de Previdência
Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu papel relevante na
promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja vista que ao longo do
tempo em que a norma foi aplicada houve diversos entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito, havendo algumas decisões e
posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já entenderam pela inconstitucionalidade dos
critérios que são adotados hoje, sem lhes declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios
. O Congresso Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da história do direito assistencial
no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do poder público, ainda é necessário ajustes e
adequações nos modelos adotados hoje para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma
importância o reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que não haja desproporção
nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa, não se limitando aos requisitos estritamente
dispostos na legislação. Tarefa essa que como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos
órgãos decisórios.

5. Referências

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS. Extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7
anos. Disponível em:&lt; https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias
/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7anos
#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022%2C8%25.&text=Quase
%20metade%20(47%25)%20dos,2018%20estava%20na%20regi%C3%A3o%20Nordeste. Acesso em
10.out.2020.

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set.2020.
BACHHI, Nathalia. Benefício Da Prestação Continuada: A Inconstitucionalidade Do Requisito Da
Miserabilidade.Jus Brasil.2016. Disponível em:&lt; https://nathaliabracci.jusbrasil.com.br/artigos
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BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito Previdenciário. 19. ed. São
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Técnicos: contribuição ao debate no judiciário, na penitenciária e na previdência social. São Paulo: Cortez
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://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao&gt;.
Lei Federal Nº 13.981, de 23 de março de 2020.

Disponível em: &lt;http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13981.htm&gt;.Acesso em


: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°8.742, de 7 de dezembro de 1993. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l
8742.htm. Acessado em: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°12.435, de 6 de julho de 2011. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2011/Lei/L12435.htm. Acessado em: setembro2020. BRASIL.

Lei Federal 12.982, de 2 de abril de 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-


2022/2020/lei/l13982.htm. Acessado em novembro 2020. BRASIL

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=================================================================================
Arquivo 1: A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx (5005 termos)
Arquivo 2: https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/98301/estatuto-do-idoso-lei-10741-03 (7462
termos)
Termos comuns: 183
Similaridade: 1,48%
O texto abaixo é o conteúdo do documento A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx. Os termos em
vermelho foram encontrados no documento
https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/98301/estatuto-do-idoso-lei-10741-03
=================================================================================
A MISERABILIDADE NO BPC LOAS
MISERABILITY AT BPC LOAS
Eliziane Nonato Neves
[1: Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Rodrigo Anselmo de Souza
[2: Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Leonardo Ricardo Araújo Alves
[3: Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e da legislação, a


respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos dos benefícios assistências, e a evolução
da aplicação das normas que regulam a matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da
matéria, quais critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em sítios
eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e também pesquisa da
jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com relevantes avanços a matéria ainda não está
pacificada e ainda é preciso estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade
social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation, regarding the criteria
adopted for the analysis of the requirements of assistance benefits, and the evolution of the application of
the rules that regulate the matter. Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter
, which criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on legal matters,
doctrinal books related to the topic and also research on the jurisprudence of the higher courts in Brazil.
Even with relevant advances, the matter is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that
reach the objectives established by social security

Keywords: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO

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O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos fundamentais, dentre eles o Princípio
da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as
pessoas pudessem ter uma vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e
poder. Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando falamos em direitos
fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios de Prestação Continuada, para idosos
com idade superior a 65 anos ou portadores de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa garantir aos beneficiários
condições mínimas para uma vida digna. O benefício alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos e também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda per capita do grupo familiar
não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é difícil conhecer as necessidades de cada
beneficiário e também da família, assim, o critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo
necessário que a constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração as
particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a concessão do benefício
assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da miserabilidade, bem como a evolução do
entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos que consistia em ajuda
prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era desenvolvida através das Santas Casas de
Misericórdia. Conforme observa Castro e Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens
Terceira(mutualidades) e, no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se verificou na Europa, se deu
por um lento Processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para suprir
deficiências da liberdade absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da Seguridade Social. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.37).

O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto legislativo Eloy Chaves,
que foi responsável pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que
existiam à época, mediante pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo
ferroviário e do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem como
pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para os empregados ferroviários de
nível nacional. Previa aposentadoria por invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de
serviço), pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa denominação pelo fato

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de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da Argentina um sistema de proteção social aos
trabalhadores. Essa Lei foi minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (Uelles,
2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados visando atender esse mesmo fim
. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da Previdência dos Funcionários Públicos da União, os
IPAs (Institutos de Aposentadoria e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre
partindo de uma categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas os IAP, com o surgimento
do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já
muito reclamada pelos estudiosos da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu somente em 1990, com a
aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e em meados dos anos 1993 e 1997 diversos
pontos da legislação da Seguridade Social foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS
De acordo com Castro e Lazzari:
Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos
(inciso V) está a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.866).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da Assistência Social (lei
8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa com deficiência também está prevista a
concessão de 1 salário mínimo para pessoas com deficiência que não tenha condições de prover sua
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte originário, que estabeleceu na
Carta Política Brasileira que a assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da dignidade da pessoa humana,
garantindo a todos que não possuem capacidades próprias de se manter um mínimo existencial. Com
esse entendimento José Antônio Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se
ter em mente a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o
distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma
dignidade, noção esta que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de
cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como à ideia de
que todos os seres humanos, no que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET,
2007, p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-se Barroso.


A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio

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da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo
aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo
existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física é
indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência,
não há dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma família. Nesse sentido
Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família
desde que comprovadas todas as condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar”.
Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que componha o grupo familiar temos
como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família,
enquanto for atendido o disposto no inciso III do art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício
a compor a renda familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
REQUISITOS
O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos diferentes de pessoas, que
estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência, sendo alcançadas as pessoas com deficiência e
as idosas, devendo cumprir cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos
ou mais; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família; não
possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que a pessoa tenha impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família;
não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE


Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou
companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o indivíduo faça jus ao direito
ao benefício de prestação continuada deve ser comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de
subsistência ou de tê-los providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da
pessoa com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário
mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
Conforme observação feita por Castro e Lazzari:
os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo orientação do STJ o
magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.

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LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE


PODE SER AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício assistencial – deficiente
proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14,
§ 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua
remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente
demonstrada entre o acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não superior a ¼ do salário mínimo, é
entendimento esposado por esta Turma Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça
que, no caso concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da miserabilidade da
parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ.
INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não
excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo."
(REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
.............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo, previsto pelo art. 20, §3º, da
Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel
. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR, rel. Min.
Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de
Jurisprudência n° 702 – Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão: “Apesar da conclusão do
perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma
remuneração mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela parte autora,
seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é superior ao limite exigido em lei, o que
afasta a alegação de hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos membros familiares,
chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼

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do salário mínimo hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos).
Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto,
podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios.
10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo da
miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua
inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao
Juizado Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada
ao entendimento uniformizado.(Acórdão número50377584201240580130503775842012458013Relator(a
)Juíza FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento: 09/10/2013, data de
publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira que já se manifestou a
respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei
de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República
, estabeleceu critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido aos portadores
de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal
Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade
social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de
constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do prévio
julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos, conheceu da
reclamação. O STF, no exercício da competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de
qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da
própria competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de
controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito
das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e
parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no
controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o
Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá
ir além, superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude
de evolução hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal,
entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per

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capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar
o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das
famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou
o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei
10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo
de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e
jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de
concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013 publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não está pacificado nos
tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que o critério baseado na renda per capita
da família não é constitucional. Assim é comum encontrar casos em que ora se considera o critério exigido
pela lei, ora esse critério é desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da renda mínima per capita pode
ser afastada quando o conjunto probatório do processo, examinado globalmente, demonstrar que existe
renda não declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades amparadas
adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há entendimentos que não exigem a análise exaustiva
da situação particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos legais para fazer jus
ao benefício.(Triches, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério adotado para auferir quem
faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado ao requisito da miserabilidade, sendo
necessário que haja uma interpretação de forma individualizada levando em consideração as
peculiaridade de cada caso.
Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:
Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de que o critério da
miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se inadequado para concessão do benefício da prestação
continuada, pois sua aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do requisito
e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por outros meios, certamente seriam aptas a
receber a assistência. A alteração do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias constitucionalmente protegidos
, sempre tendo em vista as mudanças que ocorrem no mundo jurídico, político e social (Bracci 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade se dê, no caso concreto,


possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de outros meios de provas além da consideração
da renda mensal da família.

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Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir quem faz jus ou não ao
benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir, que é garantir às pessoa de baixa renda e
sem condições de se manterem um mínimo de dignidade. Nesse Sentido:
É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que esta tem
como princípio essencial a garantia do mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está prevista na Carta Magna como
um dos fundamentos do Estado, de modo que está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que
contribui para a caracterização da inconstitucionalidade em foco (Bracci, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170) quantificar o bem-estar social
em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que “voltar para trás” em termos de direitos sociais. A
ordem jurídica constitucional e infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos
fundamentais, sob pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido, podemos observar quanto
ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal
podemos ver em pesquisas do IBGE, onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas
conforme gráfico abaixo:

Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem tem direito ou não de
usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020; Lei nº 13.982/2020.
(BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de encontrar um caminho
razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na Lei Orgânica da Assistência Social, para
especificar critérios adequados para aferição de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).

Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização de laudo socioeconômico
/estudo social, que se dá através de assistente social designado para tanto. O Estudo Social é um
processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e
de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e culturais (CFESS, 2003, p.
29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das

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condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por
oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.
FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser
feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de
Justiça ou através de oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor decisão do juiz na
demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social.
Ele na maioria das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que
ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar,
escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico exigido pela lei, é possível a
designação de assistente social para visita ao beneficiário e posterior realização de laudo socioeconômico
que apontará a real condição econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos
legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei, seria a edição de norma
legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na busca pela decisão de quem faz jus ao
benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido, na busca de aumentar e
facilitar o alcance da população aos programas assistenciais, foi editada então a lei 13.981/2020 que
alterou o requisito econômico de renda per capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a
justificativa de que mesmo quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em
dificuldades para manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem contempladas com o
benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No entendimento da AGU, o
Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com BPC sem antes fazer qualquer análise ou
previsão dos custos que estariam envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição
Federal. Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão liminar na ADP F662
suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum doPlenário,
apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no art. 195,
§5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para suspender a lei supracitada
, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia nos critérios de concessão do benefícios
assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos financeiros e orçamentários, além
de violar o princípio democrático republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime fiscal da União, estabelecido
pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113 do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria

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benefício em desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto no art. 195, § 5º,
da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos de análise do benefício, é
necessário observar os impactos financeiros que tais medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. Considerações Finais

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação das normas assistenciais,
quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa
jurisprudencial dos tribunais superiores a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a
respeito da matéria.
O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da assistência social no Brasil,
como começou e o caminho percorrido para chegar ao sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando
que a princípio assistência social no Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições
de normas isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e pensões,
ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O Instituto Nacional de Previdência
Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu papel relevante na
promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja vista que ao longo do
tempo em que a norma foi aplicada houve diversos entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito, havendo algumas decisões e
posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já entenderam pela inconstitucionalidade dos
critérios que são adotados hoje, sem lhes declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios
. O Congresso Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da história do direito assistencial
no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do poder público, ainda é necessário ajustes e
adequações nos modelos adotados hoje para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma
importância o reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que não haja desproporção
nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa, não se limitando aos requisitos estritamente
dispostos na legislação. Tarefa essa que como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos
órgãos decisórios.

5. Referências

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS. Extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7
anos. Disponível em:&lt; https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias
/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7anos
#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022%2C8%25.&text=Quase

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%20metade%20(47%25)%20dos,2018%20estava%20na%20regi%C3%A3o%20Nordeste. Acesso em
10.out.2020.
ANDRADE, José Ueslles. Evolução histórica da seguridade social a luz das constituições brasileiras.
Conteúdo Jurídico,2014. Disponível em: &lt;https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos
/39911/evolucao-historica-da-seguridade-social-a-luz-das-constituicoes-brasileiras&gt; acessado em : 19.
set.2020.
BACHHI, Nathalia. Benefício Da Prestação Continuada: A Inconstitucionalidade Do Requisito Da
Miserabilidade.Jus Brasil.2016. Disponível em:&lt; https://nathaliabracci.jusbrasil.com.br/artigos
/396389022/beneficio-da-prestacao-continuada?ref=serp &gt; acessado em: 13.out.2020.
BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito Previdenciário. 19. ed. São
Paulo: Forense, 2015.
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social (org.). O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres
Técnicos: contribuição ao debate no judiciário, na penitenciária e na previdência social. São Paulo: Cortez
, 2003.
DOS SANTOS Marisa Ferreira. Direito Previdenciário Esquematizado. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
FONAJEF. Enunciado n°50. Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais. Ajufe. Disponível:https
://www.ajufe.org.br/fonajef/258-enunciados-iii-fonajef/11441-enunciado-n-50. Acessado em:10/11/2020.
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://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao&gt;.
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Disponível em: &lt;http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13981.htm&gt;.Acesso em


: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°8.742, de 7 de dezembro de 1993. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l
8742.htm. Acessado em: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°12.435, de 6 de julho de 2011. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2011/Lei/L12435.htm. Acessado em: setembro2020. BRASIL.

Lei Federal 12.982, de 2 de abril de 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-


2022/2020/lei/l13982.htm. Acessado em novembro 2020. BRASIL

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Arquivo 1: A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx (5005 termos)
Arquivo 2: https://www.gabarite.com.br/questoes-de-concursos/33990-questao (401 termos)
Termos comuns: 29
Similaridade: 0,53%
O texto abaixo é o conteúdo do documento A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx. Os termos em
vermelho foram encontrados no documento https://www.gabarite.com.br/questoes-de-
concursos/33990-questao
=================================================================================
A MISERABILIDADE NO BPC LOAS
MISERABILITY AT BPC LOAS
Eliziane Nonato Neves
[1: Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Rodrigo Anselmo de Souza
[2: Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Leonardo Ricardo Araújo Alves
[3: Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e da legislação, a


respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos dos benefícios assistências, e a evolução
da aplicação das normas que regulam a matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da
matéria, quais critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em sítios
eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e também pesquisa da
jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com relevantes avanços a matéria ainda não está
pacificada e ainda é preciso estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade
social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation, regarding the criteria
adopted for the analysis of the requirements of assistance benefits, and the evolution of the application of
the rules that regulate the matter. Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter
, which criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on legal matters,
doctrinal books related to the topic and also research on the jurisprudence of the higher courts in Brazil.
Even with relevant advances, the matter is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that
reach the objectives established by social security

Keywords: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO
O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos fundamentais, dentre eles o Princípio

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da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as
pessoas pudessem ter uma vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e
poder. Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando falamos em direitos
fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios de Prestação Continuada, para idosos
com idade superior a 65 anos ou portadores de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa garantir aos beneficiários
condições mínimas para uma vida digna. O benefício alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos e também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda per capita do grupo familiar
não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é difícil conhecer as necessidades de cada
beneficiário e também da família, assim, o critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo
necessário que a constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração as
particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a concessão do benefício
assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da miserabilidade, bem como a evolução do
entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos que consistia em ajuda
prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era desenvolvida através das Santas Casas de
Misericórdia. Conforme observa Castro e Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens
Terceira(mutualidades) e, no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se verificou na Europa, se deu
por um lento Processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para suprir
deficiências da liberdade absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da Seguridade Social. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.37).

O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto legislativo Eloy Chaves,
que foi responsável pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que
existiam à época, mediante pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo
ferroviário e do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem como
pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para os empregados ferroviários de
nível nacional. Previa aposentadoria por invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de
serviço), pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa denominação pelo fato
de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da Argentina um sistema de proteção social aos

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trabalhadores. Essa Lei foi minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (Uelles,
2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados visando atender esse mesmo fim
. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da Previdência dos Funcionários Públicos da União, os
IPAs (Institutos de Aposentadoria e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre
partindo de uma categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas os IAP, com o surgimento
do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já
muito reclamada pelos estudiosos da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu somente em 1990, com a
aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e em meados dos anos 1993 e 1997 diversos
pontos da legislação da Seguridade Social foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS
De acordo com Castro e Lazzari:
Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos
(inciso V) está a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.866).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da Assistência Social (lei
8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa com deficiência também está prevista a
concessão de 1 salário mínimo para pessoas com deficiência que não tenha condições de prover sua
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte originário, que estabeleceu na
Carta Política Brasileira que a assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da dignidade da pessoa humana,
garantindo a todos que não possuem capacidades próprias de se manter um mínimo existencial. Com
esse entendimento José Antônio Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se
ter em mente a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o
distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma
dignidade, noção esta que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de
cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como à ideia de
que todos os seres humanos, no que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET,
2007, p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-se Barroso.


A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio
da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo

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aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo
existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física é
indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência,
não há dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma família. Nesse sentido
Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família
desde que comprovadas todas as condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar”.
Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que componha o grupo familiar temos
como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família,
enquanto for atendido o disposto no inciso III do art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício
a compor a renda familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
REQUISITOS
O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos diferentes de pessoas, que
estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência, sendo alcançadas as pessoas com deficiência e
as idosas, devendo cumprir cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos
ou mais; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família; não
possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que a pessoa tenha impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família;
não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE


Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou
companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o indivíduo faça jus ao direito
ao benefício de prestação continuada deve ser comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de
subsistência ou de tê-los providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da
pessoa com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário
mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
Conforme observação feita por Castro e Lazzari:
os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo orientação do STJ o
magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.
LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE

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PODE SER AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício assistencial – deficiente
proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14,
§ 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua
remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente
demonstrada entre o acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não superior a ¼ do salário mínimo, é
entendimento esposado por esta Turma Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça
que, no caso concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da miserabilidade da
parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ.
INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não
excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo."
(REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
.............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo, previsto pelo art. 20, §3º, da
Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel
. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR, rel. Min.
Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de
Jurisprudência n° 702 – Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão: “Apesar da conclusão do
perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma
remuneração mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela parte autora,
seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é superior ao limite exigido em lei, o que
afasta a alegação de hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos membros familiares,
chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼
do salário mínimo hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos).

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Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto,
podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios.
10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo da
miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua
inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao
Juizado Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada
ao entendimento uniformizado.(Acórdão número50377584201240580130503775842012458013Relator(a
)Juíza FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento: 09/10/2013, data de
publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira que já se manifestou a
respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei
de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República
, estabeleceu critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido aos portadores
de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal
Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade
social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de
constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do prévio
julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos, conheceu da
reclamação. O STF, no exercício da competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de
qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da
própria competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de
controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito
das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e
parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no
controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o
Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá
ir além, superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude
de evolução hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal,
entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per
capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar

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o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das
famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou
o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei
10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo
de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e
jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de
concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013 publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não está pacificado nos
tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que o critério baseado na renda per capita
da família não é constitucional. Assim é comum encontrar casos em que ora se considera o critério exigido
pela lei, ora esse critério é desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da renda mínima per capita pode
ser afastada quando o conjunto probatório do processo, examinado globalmente, demonstrar que existe
renda não declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades amparadas
adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há entendimentos que não exigem a análise exaustiva
da situação particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos legais para fazer jus
ao benefício.(Triches, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério adotado para auferir quem
faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado ao requisito da miserabilidade, sendo
necessário que haja uma interpretação de forma individualizada levando em consideração as
peculiaridade de cada caso.
Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:
Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de que o critério da
miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se inadequado para concessão do benefício da prestação
continuada, pois sua aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do requisito
e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por outros meios, certamente seriam aptas a
receber a assistência. A alteração do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias constitucionalmente protegidos
, sempre tendo em vista as mudanças que ocorrem no mundo jurídico, político e social (Bracci 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade se dê, no caso concreto,


possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de outros meios de provas além da consideração
da renda mensal da família.
Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir quem faz jus ou não ao

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benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir, que é garantir às pessoa de baixa renda e
sem condições de se manterem um mínimo de dignidade. Nesse Sentido:
É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que esta tem
como princípio essencial a garantia do mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está prevista na Carta Magna como
um dos fundamentos do Estado, de modo que está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que
contribui para a caracterização da inconstitucionalidade em foco (Bracci, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170) quantificar o bem-estar social
em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que “voltar para trás” em termos de direitos sociais. A
ordem jurídica constitucional e infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos
fundamentais, sob pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido, podemos observar quanto
ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal
podemos ver em pesquisas do IBGE, onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas
conforme gráfico abaixo:

Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem tem direito ou não de
usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020; Lei nº 13.982/2020.
(BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de encontrar um caminho
razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na Lei Orgânica da Assistência Social, para
especificar critérios adequados para aferição de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).

Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização de laudo socioeconômico
/estudo social, que se dá através de assistente social designado para tanto. O Estudo Social é um
processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e
de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e culturais (CFESS, 2003, p.
29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das
condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por

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oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.
FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser
feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de
Justiça ou através de oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor decisão do juiz na
demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social.
Ele na maioria das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que
ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar,
escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico exigido pela lei, é possível a
designação de assistente social para visita ao beneficiário e posterior realização de laudo socioeconômico
que apontará a real condição econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos
legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei, seria a edição de norma
legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na busca pela decisão de quem faz jus ao
benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido, na busca de aumentar e
facilitar o alcance da população aos programas assistenciais, foi editada então a lei 13.981/2020 que
alterou o requisito econômico de renda per capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a
justificativa de que mesmo quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em
dificuldades para manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem contempladas com o
benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No entendimento da AGU, o
Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com BPC sem antes fazer qualquer análise ou
previsão dos custos que estariam envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição
Federal. Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão liminar na ADP F662
suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum doPlenário,
apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no art. 195,
§5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para suspender a lei supracitada
, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia nos critérios de concessão do benefícios
assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos financeiros e orçamentários, além
de violar o princípio democrático republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime fiscal da União, estabelecido
pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113 do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria
benefício em desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto no art. 195, § 5º,

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da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos de análise do benefício, é
necessário observar os impactos financeiros que tais medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. Considerações Finais

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação das normas assistenciais,
quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa
jurisprudencial dos tribunais superiores a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a
respeito da matéria.
O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da assistência social no Brasil,
como começou e o caminho percorrido para chegar ao sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando
que a princípio assistência social no Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições
de normas isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e pensões,
ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O Instituto Nacional de Previdência
Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu papel relevante na
promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja vista que ao longo do
tempo em que a norma foi aplicada houve diversos entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito, havendo algumas decisões e
posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já entenderam pela inconstitucionalidade dos
critérios que são adotados hoje, sem lhes declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios
. O Congresso Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da história do direito assistencial
no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do poder público, ainda é necessário ajustes e
adequações nos modelos adotados hoje para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma
importância o reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que não haja desproporção
nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa, não se limitando aos requisitos estritamente
dispostos na legislação. Tarefa essa que como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos
órgãos decisórios.

5. Referências

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS. Extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7
anos. Disponível em:&lt; https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias
/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7anos
#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022%2C8%25.&text=Quase
%20metade%20(47%25)%20dos,2018%20estava%20na%20regi%C3%A3o%20Nordeste. Acesso em

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://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao&gt;.
Lei Federal Nº 13.981, de 23 de março de 2020.

Disponível em: &lt;http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13981.htm&gt;.Acesso em


: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°8.742, de 7 de dezembro de 1993. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l
8742.htm. Acessado em: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°12.435, de 6 de julho de 2011. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2011/Lei/L12435.htm. Acessado em: setembro2020. BRASIL.

Lei Federal 12.982, de 2 de abril de 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-


2022/2020/lei/l13982.htm. Acessado em novembro 2020. BRASIL

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=================================================================================
Arquivo 1: A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx (5005 termos)
Arquivo 2: https://www.gov.br/planalto/pt-br (823 termos)
Termos comuns: 3
Similaridade: 0,05%
O texto abaixo é o conteúdo do documento A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx. Os termos em
vermelho foram encontrados no documento https://www.gov.br/planalto/pt-br
=================================================================================
A MISERABILIDADE NO BPC LOAS
MISERABILITY AT BPC LOAS
Eliziane Nonato Neves
[1: Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Rodrigo Anselmo de Souza
[2: Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Leonardo Ricardo Araújo Alves
[3: Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e da legislação, a


respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos dos benefícios assistências, e a evolução
da aplicação das normas que regulam a matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da
matéria, quais critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em sítios
eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e também pesquisa da
jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com relevantes avanços a matéria ainda não está
pacificada e ainda é preciso estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade
social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation, regarding the criteria
adopted for the analysis of the requirements of assistance benefits, and the evolution of the application of
the rules that regulate the matter. Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter
, which criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on legal matters,
doctrinal books related to the topic and also research on the jurisprudence of the higher courts in Brazil.
Even with relevant advances, the matter is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that
reach the objectives established by social security

Keywords: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO
O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos fundamentais, dentre eles o Princípio
da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as

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pessoas pudessem ter uma vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e
poder. Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando falamos em direitos
fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios de Prestação Continuada, para idosos
com idade superior a 65 anos ou portadores de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa garantir aos beneficiários
condições mínimas para uma vida digna. O benefício alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos e também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda per capita do grupo familiar
não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é difícil conhecer as necessidades de cada
beneficiário e também da família, assim, o critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo
necessário que a constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração as
particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a concessão do benefício
assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da miserabilidade, bem como a evolução do
entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos que consistia em ajuda
prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era desenvolvida através das Santas Casas de
Misericórdia. Conforme observa Castro e Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens
Terceira(mutualidades) e, no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se verificou na Europa, se deu
por um lento Processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para suprir
deficiências da liberdade absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da Seguridade Social. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.37).

O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto legislativo Eloy Chaves,
que foi responsável pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que
existiam à época, mediante pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo
ferroviário e do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem como
pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para os empregados ferroviários de
nível nacional. Previa aposentadoria por invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de
serviço), pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa denominação pelo fato
de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da Argentina um sistema de proteção social aos
trabalhadores. Essa Lei foi minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (Uelles,

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2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados visando atender esse mesmo fim
. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da Previdência dos Funcionários Públicos da União, os
IPAs (Institutos de Aposentadoria e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre
partindo de uma categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas os IAP, com o surgimento
do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já
muito reclamada pelos estudiosos da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu somente em 1990, com a
aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e em meados dos anos 1993 e 1997 diversos
pontos da legislação da Seguridade Social foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS
De acordo com Castro e Lazzari:
Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos
(inciso V) está a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.866).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da Assistência Social (lei
8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa com deficiência também está prevista a
concessão de 1 salário mínimo para pessoas com deficiência que não tenha condições de prover sua
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte originário, que estabeleceu na
Carta Política Brasileira que a assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da dignidade da pessoa humana,
garantindo a todos que não possuem capacidades próprias de se manter um mínimo existencial. Com
esse entendimento José Antônio Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se
ter em mente a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o
distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma
dignidade, noção esta que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de
cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como à ideia de
que todos os seres humanos, no que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET,
2007, p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-se Barroso.


A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio
da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo
aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo

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existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física é
indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência,
não há dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma família. Nesse sentido
Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família
desde que comprovadas todas as condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar”.
Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que componha o grupo familiar temos
como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família,
enquanto for atendido o disposto no inciso III do art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício
a compor a renda familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
REQUISITOS
O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos diferentes de pessoas, que
estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência, sendo alcançadas as pessoas com deficiência e
as idosas, devendo cumprir cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos
ou mais; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família; não
possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que a pessoa tenha impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família;
não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE


Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou
companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o indivíduo faça jus ao direito
ao benefício de prestação continuada deve ser comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de
subsistência ou de tê-los providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da
pessoa com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário
mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
Conforme observação feita por Castro e Lazzari:
os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo orientação do STJ o
magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.
LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE
PODE SER AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE

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CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício assistencial – deficiente


proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14,
§ 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua
remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente
demonstrada entre o acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não superior a ¼ do salário mínimo, é
entendimento esposado por esta Turma Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça
que, no caso concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da miserabilidade da
parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ.
INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não
excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo."
(REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
.............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo, previsto pelo art. 20, §3º, da
Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel
. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR, rel. Min.
Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de
Jurisprudência n° 702 – Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão: “Apesar da conclusão do
perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma
remuneração mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela parte autora,
seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é superior ao limite exigido em lei, o que
afasta a alegação de hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos membros familiares,
chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼
do salário mínimo hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos).
Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto,

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podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios.


10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo da
miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua
inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao
Juizado Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada
ao entendimento uniformizado.(Acórdão número50377584201240580130503775842012458013Relator(a
)Juíza FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento: 09/10/2013, data de
publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira que já se manifestou a
respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei
de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República
, estabeleceu critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido aos portadores
de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal
Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade
social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de
constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do prévio
julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos, conheceu da
reclamação. O STF, no exercício da competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de
qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da
própria competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de
controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito
das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e
parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no
controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o
Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá
ir além, superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude
de evolução hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal,
entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per
capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar
o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das

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famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou
o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei
10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo
de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e
jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de
concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013 publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não está pacificado nos
tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que o critério baseado na renda per capita
da família não é constitucional. Assim é comum encontrar casos em que ora se considera o critério exigido
pela lei, ora esse critério é desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da renda mínima per capita pode
ser afastada quando o conjunto probatório do processo, examinado globalmente, demonstrar que existe
renda não declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades amparadas
adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há entendimentos que não exigem a análise exaustiva
da situação particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos legais para fazer jus
ao benefício.(Triches, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério adotado para auferir quem
faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado ao requisito da miserabilidade, sendo
necessário que haja uma interpretação de forma individualizada levando em consideração as
peculiaridade de cada caso.
Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:
Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de que o critério da
miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se inadequado para concessão do benefício da prestação
continuada, pois sua aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do requisito
e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por outros meios, certamente seriam aptas a
receber a assistência. A alteração do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias constitucionalmente protegidos
, sempre tendo em vista as mudanças que ocorrem no mundo jurídico, político e social (Bracci 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade se dê, no caso concreto,


possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de outros meios de provas além da consideração
da renda mensal da família.
Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir quem faz jus ou não ao
benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir, que é garantir às pessoa de baixa renda e

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sem condições de se manterem um mínimo de dignidade. Nesse Sentido:


É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que esta tem
como princípio essencial a garantia do mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está prevista na Carta Magna como
um dos fundamentos do Estado, de modo que está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que
contribui para a caracterização da inconstitucionalidade em foco (Bracci, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170) quantificar o bem-estar social
em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que “voltar para trás” em termos de direitos sociais. A
ordem jurídica constitucional e infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos
fundamentais, sob pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido, podemos observar quanto
ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal
podemos ver em pesquisas do IBGE, onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas
conforme gráfico abaixo:

Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem tem direito ou não de
usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020; Lei nº 13.982/2020.
(BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de encontrar um caminho
razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na Lei Orgânica da Assistência Social, para
especificar critérios adequados para aferição de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).

Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização de laudo socioeconômico
/estudo social, que se dá através de assistente social designado para tanto. O Estudo Social é um
processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e
de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e culturais (CFESS, 2003, p.
29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das
condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por
oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.

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FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser
feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de
Justiça ou através de oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor decisão do juiz na
demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social.
Ele na maioria das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que
ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar,
escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico exigido pela lei, é possível a
designação de assistente social para visita ao beneficiário e posterior realização de laudo socioeconômico
que apontará a real condição econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos
legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei, seria a edição de norma
legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na busca pela decisão de quem faz jus ao
benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido, na busca de aumentar e
facilitar o alcance da população aos programas assistenciais, foi editada então a lei 13.981/2020 que
alterou o requisito econômico de renda per capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a
justificativa de que mesmo quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em
dificuldades para manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem contempladas com o
benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No entendimento da AGU, o
Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com BPC sem antes fazer qualquer análise ou
previsão dos custos que estariam envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição
Federal. Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão liminar na ADP F662
suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum doPlenário,
apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no art. 195,
§5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para suspender a lei supracitada
, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia nos critérios de concessão do benefícios
assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos financeiros e orçamentários, além
de violar o princípio democrático republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime fiscal da União, estabelecido
pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113 do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria
benefício em desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto no art. 195, § 5º,
da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

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Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos de análise do benefício, é
necessário observar os impactos financeiros que tais medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. Considerações Finais

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação das normas assistenciais,
quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa
jurisprudencial dos tribunais superiores a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a
respeito da matéria.
O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da assistência social no Brasil,
como começou e o caminho percorrido para chegar ao sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando
que a princípio assistência social no Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições
de normas isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e pensões,
ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O Instituto Nacional de Previdência
Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu papel relevante na
promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja vista que ao longo do
tempo em que a norma foi aplicada houve diversos entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito, havendo algumas decisões e
posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já entenderam pela inconstitucionalidade dos
critérios que são adotados hoje, sem lhes declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios
. O Congresso Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da história do direito assistencial
no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do poder público, ainda é necessário ajustes e
adequações nos modelos adotados hoje para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma
importância o reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que não haja desproporção
nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa, não se limitando aos requisitos estritamente
dispostos na legislação. Tarefa essa que como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos
órgãos decisórios.

5. Referências

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS. Extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7
anos. Disponível em:&lt; https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias
/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7anos
#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022%2C8%25.&text=Quase
%20metade%20(47%25)%20dos,2018%20estava%20na%20regi%C3%A3o%20Nordeste. Acesso em
10.out.2020.

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ANDRADE, José Ueslles. Evolução histórica da seguridade social a luz das constituições brasileiras.
Conteúdo Jurídico,2014. Disponível em: &lt;https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos
/39911/evolucao-historica-da-seguridade-social-a-luz-das-constituicoes-brasileiras&gt; acessado em : 19.
set.2020.
BACHHI, Nathalia. Benefício Da Prestação Continuada: A Inconstitucionalidade Do Requisito Da
Miserabilidade.Jus Brasil.2016. Disponível em:&lt; https://nathaliabracci.jusbrasil.com.br/artigos
/396389022/beneficio-da-prestacao-continuada?ref=serp &gt; acessado em: 13.out.2020.
BARROSO, Luis Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito Previdenciário. 19. ed. São
Paulo: Forense, 2015.
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social (org.). O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres
Técnicos: contribuição ao debate no judiciário, na penitenciária e na previdência social. São Paulo: Cortez
, 2003.
DOS SANTOS Marisa Ferreira. Direito Previdenciário Esquematizado. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
FONAJEF. Enunciado n°50. Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais. Ajufe. Disponível:https
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MIOTO, Regina Célia Tamaso. Perícia Social – proposta de um percurso operativo. Revista Serviço Social
e Sociedade, nº 67. São Paulo: Cortez, 2001.
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SAVARIS, José Antônio. Direito Processual Previdenciário. 6. ed. rev. atual. ampl. Curitiba: Alteridade,
2016.
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://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao&gt;
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Disponível em: &lt;http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13981.htm&gt;.Acesso em


: outubro 2020. BRASIL.
Lei Federal N°8.742, de 7 de dezembro de 1993. Disponível
em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acessado em: outubro 2020. BRASIL.
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em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12435.htm. Acessado em:
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SALOMÃO, Pedro Emílio Amador et al. Revista Multidisciplinar do Nordeste Mineiro. 2020.

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=================================================================================
Arquivo 1: A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx (5005 termos)
Arquivo 2: http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei-13982-2020.htm (24 termos)
Termos comuns: 0
Similaridade: 0%
O texto abaixo é o conteúdo do documento A MISERABILIDADE NO BPC LOAS.docx. Os termos em
vermelho foram encontrados no documento http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei-13982-
2020.htm
=================================================================================
A MISERABILIDADE NO BPC LOAS
MISERABILITY AT BPC LOAS
Eliziane Nonato Neves
[1: Aluno do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Rodrigo Anselmo de Souza
[2: Aluna do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]
Leonardo Ricardo Araújo Alves
[3: Professor do curso de Direito da faculdade Alfaunipac. E-mail:[email protected]]

RESUMO: Esse trabalho se trata de uma pesquisa da jurisprudência, da doutrina e da legislação, a


respeito dos critérios adotados para a análise dos requerimentos dos benefícios assistências, e a evolução
da aplicação das normas que regulam a matéria, haja vista que não há consenso entre os estudioso da
matéria, quais critérios devem ser observados. O material de pesquisa consultado constitui em sítios
eletrônicos de assuntos jurídicos, livros doutrinários relacionados ao tema e também pesquisa da
jurisprudência dos tribunais superiores do Brasil. Mesmo com relevantes avanços a matéria ainda não está
pacificada e ainda é preciso estabelecer critérios que atinjam os objetivos estabelecidos pela seguridade
social.

Palavras-Chave: Miserabilidade. LOAS. Benefício Assistencial.

ABSTRACT: This work is a research of jurisprudence, doctrine and legislation, regarding the criteria
adopted for the analysis of the requirements of assistance benefits, and the evolution of the application of
the rules that regulate the matter. Bearing in mind that there is no consensus among scholars on the matter
, which criteria should be observed. The research material consulted consists of websites on legal matters,
doctrinal books related to the topic and also research on the jurisprudence of the higher courts in Brazil.
Even with relevant advances, the matter is not yet pacified and it is still necessary to establish criteria that
reach the objectives established by social security

Keywords: Miserability; LOAS; Assistance Benefit

1. INTRODUÇÃO
O ordenamento jurídico é permeado de diversos Princípios e direitos fundamentais, dentre eles o Princípio

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da Dignidade da Pessoa Humana, este foi uma grande conquista para os cidadãos, fazendo com que as
pessoas pudessem ter uma vida digna diante de uma sociedade capitalista que prega tanto pelo ter e
poder. Abordaremos nesse trabalho um terma muito importante e abrangente quando falamos em direitos
fundamentais ao cidadão que é A miserabilidade nos Benefícios de Prestação Continuada, para idosos
com idade superior a 65 anos ou portadores de deficiência.
O Benefício de Prestação Continuada(BPC), Beneficio Assistencial que visa garantir aos beneficiários
condições mínimas para uma vida digna. O benefício alcança as pessoas com idade igual ou superior a 65
(sessenta e cinco) anos e também pessoas com deficiência, os beneficiários precisam comprovar que não
possuem meios de prover sua própria subsistência ou de tê-la provida pela família.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social é necessário que a renda per capita do grupo familiar
não seja superior a ¼ do salário mínimo. Entretanto é difícil conhecer as necessidades de cada
beneficiário e também da família, assim, o critério estabelecido pela lei não se mostra suficiente sendo
necessário que a constatação da miserabilidade vá além da renda per capita, levando em consideração as
particularidades de cada grupo familiar.
Esse trabalho tem como objetivo a análise dos critérios utilizados para a concessão do benefício
assistencial, mais especificamente quanto ao requisito da miserabilidade, bem como a evolução do
entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria.

2. BREVE RELATO HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL


A seguridade social teve início no Brasil com os chamados socorros públicos que consistia em ajuda
prestada por particulares aos mais pobres. Essa ajuda era desenvolvida através das Santas Casas de
Misericórdia. Conforme observa Castro e Lazzari:
Ainda no período colonial tem-se a criação das Santas Casas de Misericórdia, sendo a mais antiga aquela
fundada no Porto de São Vicente, depois Vila Santos(1543), seguindo-se as Irmandades de Ordens
Terceira(mutualidades) e, no ano de 1795, estabeleceu-se o Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas
dos Oficiais da Marinha (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.38).

Nesse sentido, continuam afirmando que:


A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo do que se verificou na Europa, se deu
por um lento Processo de reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para suprir
deficiências da liberdade absoluta - postulado fundamental do liberalismo clássico - partindo do
assistencialismo para o Seguro Social, e deste para a formação da Seguridade Social. (CASTRO;
LAZZARI, 2015, p.37).

O grande marco para a previdência social no Brasil foi a publicação do decreto legislativo Eloy Chaves,
que foi responsável pela criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de ferro que
existiam à época, mediante pagamento de contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo
ferroviário e do Estado. A lei tinha por objetivo assegurar aposentadoria aos trabalhadores bem como
pensão ao seus dependentes em caso de morte do segurado.
Segundo José Ueslles Souza de Andrade:
A Referida lei instituía a criação de caixas de aposentadoria e pensões para os empregados ferroviários de
nível nacional. Previa aposentadoria por invalidez ordinária (equivalente à aposentadoria por tempo de
serviço), pensão por morte e assistência médica. O Decreto citado recebeu essa denominação pelo fato
de o Engenheiro William John Sheldon ter trazido da Argentina um sistema de proteção social aos

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trabalhadores. Essa Lei foi minuciosamente estudada e adaptada para a realidade brasileira. (Uelles,
2014).

Após o surgimento da Lei Eloy Chaves, diversos institutos foram criados visando atender esse mesmo fim
. Como exemplo o Decreto que criou o Instituto da Previdência dos Funcionários Públicos da União, os
IPAs (Institutos de Aposentadoria e Pensões) para outros ramos de atividades econômicas, sempre
partindo de uma categoria específica para posteriormente atingir a coletividade.
Conforme observa Castro e Lazzari: somente no ano de 1967 foram unificadas os IAP, com o surgimento
do Instituto Nacional de Previdência Social - criado pelo Decreto-lei n. 72, de 21.11.1966, providência de já
muito reclamada pelos estudiosos da matéria[...].
O INSS- Instituto Nacional da Seguridade Social, que conhecemos hoje, surgiu somente em 1990, com a
aglutinação de todos os outros institutos previdenciários, e em meados dos anos 1993 e 1997 diversos
pontos da legislação da Seguridade Social foram alterados, surgindo a criação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei n°8742 de 07.12.93).

3. O BPC LOAS
De acordo com Castro e Lazzari:
Constituição Republicana de 1988 prevê que em seu art. 203 que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Dentre seus objetivos
(inciso V) está a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei. (CASTRO; LAZZARI, 2015, p.866).
A regulamentação dos dispositivos constitucionais está na Lei Orgânica da Assistência Social (lei
8.742/93) e também no decreto 6.214/04. No estatuto da pessoa com deficiência também está prevista a
concessão de 1 salário mínimo para pessoas com deficiência que não tenha condições de prover sua
subsistência ou de tê-la provida por sua família.
A LOAS significa a concretização das intenções expostas pelo constituinte originário, que estabeleceu na
Carta Política Brasileira que a assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social[...].
O BPC é um importante instrumento social apto a efetivar a proteção da dignidade da pessoa humana,
garantindo a todos que não possuem capacidades próprias de se manter um mínimo existencial. Com
esse entendimento José Antônio Savaris (2016, p. 533): “Quando se fala em Assistência Social, deve-se
ter em mente a ideia de destinatários carentes que buscam o mínimo social”.
Em questão a dignidade da pessoa humana, Sarlet cita que:
[...] no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente ao ser humano, o
distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres humanos são dotados da mesma
dignidade, noção esta que se encontra, por sua vez, intimamente ligada à noção da liberdade pessoal de
cada indivíduo (o Homem como ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como à ideia de
que todos os seres humanos, no que diz respeito a sua natureza, são iguais em dignidade. (SARLET,
2007, p.69).

Acerca da dignidade da pessoa humana, a doutrina jurídica é vasta. Destaca-se Barroso.


A dignidade da pessoa humana expressa um conjunto de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio
da humanidade. O conteúdo jurídico do princípio vem associado aos direitos fundamentais, envolvendo

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aspectos dos direitos individuais, políticos e sociais. Seu núcleo material elementar é composto do mínimo
existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física é
indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda que haja sobrevivência,
não há dignidade (BARROSO, 2003, p.335).

Insta salientar que o Benefício pode ser pago a mais de uma pessoa na mesma família. Nesse sentido
Castro e Lazzari (2015 p.874) ”o benefício assistencial pode ser pago a mais de um membro da família
desde que comprovadas todas as condições exigidas. Nesse caso, o valor do benefício concedido
anteriormente será incluído no cálculo da renda familiar”.
Ainda no que tange quanto ao recebimento de mais de um membro que componha o grupo familiar temos
como destaque:

Art. 19 o benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família,
enquanto for atendido o disposto no inciso III do art. 2º deste Regulamento, passando o valor de benefício
a compor a renda familiar, para a concessão de um segundo benefício. (BRASIL, 2020).
REQUISITOS
O benefício assistencial de prestação continuada está previsto para dois tipos diferentes de pessoas, que
estão impossibilitadas de prover sua própria subsistência, sendo alcançadas as pessoas com deficiência e
as idosas, devendo cumprir cumulativamente o seguinte requisitos: a) PESSOA IDOSA: Possuir 65 anos
ou mais; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família; não
possuir outro benefício assistencial. b) PESSOA COM DEFICIÊNCIA: que a pessoa tenha impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas; não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família;
não possuir outro benefício assistencial.

3.2 O REQUISITO ECONÔMICO: A MISERABILIDADE


Consoante previsão do §1° do artigo 20 da LOAS, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou
companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto, sendo esse conceito
considerado para cálculos da renda per capita. (lei n. 12.435/2011). Castro e Lazzari(2015 p.874).
De acordo com o que dispõe a Lei Orgânica da Assistência Social, para que o indivíduo faça jus ao direito
ao benefício de prestação continuada deve ser comprovada a sua incapacidade de prover seus meios de
subsistência ou de tê-los providos por sua família. Será considerado incapaz de prover o sustento da
pessoa com deficiência ou idosa a família onde a renda per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário
mínimo vigente (Lei n° 12.435/2011).
Conforme observação feita por Castro e Lazzari:
os critérios para aferição do requisito econômico são polêmicos e segundo orientação do STJ o
magistrado não está sujeito a um sistema de tarifação legal de provas, motivo pelo qual a delimitação do
valor da renda familiar per capita não deve ser tida como único meio de prova da condição de
miserabilidade do requerente.( por Castro e Lazzari,2015)
Nesse sentido Precedente da Turma Nacional de Uniformização:
INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.
LOAS. DEFICIENTE. RENDA PER CAPITA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO-MÍNIMO. MISERABILIDADE

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PODE SER AFERIDA POR OUTROS MEIOS. PRECEDENTES DO STJ E DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Ação de concessão de benefício assistencial – deficiente
proposta em face do INSS. 2. Sentença improcedente mantida pela Turma Recursal do Alagoas, ante a
ausência de miserabilidade pois a renda per capita é superior a ¼ do salário mínimo.
3. Incidente de Uniformização de Jurisprudência manejado pela parte autora, com fundamento no art. 14,
§ 2º, da Lei nº 10.259/2001. O recurso foi indeferido pelo Presidente da Turma de origem, mas a sua
remessa foi permitida em virtude de agravo interposto pela parte autora.
4. Alegação de que o acórdão é divergente de precedentes da jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça. Dissídio jurisprudencial instaurado. Similitude fática e jurídica amplamente
demonstrada entre o acórdão e os paradigmas.
6. No tocante a aferição da renda per capita da parte autora ser ou não superior a ¼ do salário mínimo, é
entendimento esposado por esta Turma Nacional de Uniformização e pelo Superior Tribunal de Justiça
que, no caso concreto, o magistrado poderá se valer de outros meios para aferição da miserabilidade da
parte autora, não sendo, desta feita um critério absoluto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS MEIOS LEGÍTIMOS.
VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ.
INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o critério de aferição da
renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93 deverá ser observado como um mínimo, não
excluindo a possibilidade de o julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo."
(REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009).
.............
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag 1394595/SP.AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO DE INSTRUMENTO 2011/0010708-7/ Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139) / T6 - SEXTA
TURMA/ Data do Julgamento 10/04/2012/ Data da Publicação/Fonte DJe 09/05/2012)
7. Não obstante, o critério objetivo da miserabilidade de ¼ do salário mínimo, previsto pelo art. 20, §3º, da
Lei 8742/1993, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conforme RE 567985/MT, rel
. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013, RE 580963/PR, rel. Min.
Gilmar Mendes, 17 e 18.4.2013 e Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.4.2013 (Fonte: Informativo de
Jurisprudência n° 702 – Brasília 15 a 19 de abril de 2013).
8. Segue transcrição do aresto debatido para melhor elucidação da questão: “Apesar da conclusão do
perito(a) judicial, verifico que o genitor da parte autora, JANEILSON GOMES DOS SANTOS, percebe uma
remuneração mensal superior a R$ 700,00(anexo 18), sendo o grupo familiar formado pela parte autora,
seus pais e um irmão, a renda mensal per capita do grupo familiar é superior ao limite exigido em lei, o que
afasta a alegação de hipossuficiência.”
9. Ora, dividindo-se a remuneração percebida pelo genitor da parte autora pelos membros familiares,
chega-se a uma renda per capita de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais). Não se pode olvidar que ¼
do salário mínimo hoje equivale a R$ 169,50 (cento e sessenta e nove reais e cinquenta centavos).

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Diferença ínfima de valores. O critério da renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto,
podendo, a miserabilidade, ser aferida por outros meios.
10. Incidente conhecido e parcialmente provido para, reafirmar a tese de que o critério objetivo da
miserabilidade pela renda per capita de ¼ do salário mínimo não é absoluto – tendo inclusive sua
inconstitucionalidade declarada, ANULAR a sentença e o acórdão recorrido e devolver os autos ao
Juizado Especial de origem, para que examine os demais elementos de fato, proferindo decisão adequada
ao entendimento uniformizado.(Acórdão número50377584201240580130503775842012458013Relator(a
)Juíza FEDERLA MARISA CLÁUDIA GONÇALVES CUCIO, data de julgamento: 09/10/2013, data de
publicação: 18/10/2013).

O critério escolhido pela lei encontra resistência na Corte Suprema Brasileira que já se manifestou a
respeito:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei
de Organização da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da Constituição da República
, estabeleceu critérios para que o benefício mensal de um salário mínimo fosse concedido aos portadores
de deficiência e aos idosos que comprovassem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
2. Art. 20, § 3º da Lei 8.742/1993 e a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo Tribunal
Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que permitiria que situações de patente miserabilidade
social fossem consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto constitucionalmente. Ao
apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a
constitucionalidade do art. 20, § 3º, da LOAS.
3. Reclamação como instrumento de (re)interpretação da decisão proferida em controle de
constitucionalidade abstrato. Preliminarmente, arguido o prejuízo da reclamação, em virtude do prévio
julgamento dos recursos extraordinários 580.963 e 567.985, o Tribunal, por maioria de votos, conheceu da
reclamação. O STF, no exercício da competência geral de fiscalizar a compatibilidade formal e material de
qualquer ato normativo com a Constituição, pode declarar a inconstitucionalidade, incidentalmente, de
normas tidas como fundamento da decisão ou do ato que é impugnado na reclamação. Isso decorre da
própria competência atribuída ao STF para exercer o denominado controle difuso da constitucionalidade
das leis e dos atos normativos. A oportunidade de reapreciação das decisões tomadas em sede de
controle abstrato de normas tende a surgir com mais naturalidade e de forma mais recorrente no âmbito
das reclamações. É no juízo hermenêutico típico da reclamação – no “balançar de olhos” entre objeto e
parâmetro da reclamação – que surgirá com maior nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no
controle de constitucionalidade. Com base na alegação de afronta a determinada decisão do STF, o
Tribunal poderá reapreciar e redefinir o conteúdo e o alcance de sua própria decisão. E, inclusive, poderá
ir além, superando total ou parcialmente a decisão-parâmetro da reclamação, se entender que, em virtude
de evolução hermenêutica, tal decisão não se coaduna mais com a interpretação atual da Constituição.
4. Decisões judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e Processo de
inconstitucionalização dos critérios definidos pela Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal,
entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per
capita estabelecido pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se maneiras de contornar

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o critério objetivo e único estipulado pela LOAS e avaliar o real estado de miserabilidade social das
famílias com entes idosos ou deficientes. Paralelamente, foram editadas leis que estabeleceram critérios
mais elásticos para concessão de outros benefícios assistenciais, tais como: a Lei 10.836/2004, que criou
o Bolsa Família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei
10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas. O Supremo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a rever anteriores
posicionamentos acerca da intransponibilidade do critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do processo
de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e
jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados como critérios de
concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro).
5. Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei
8.742/1993.
6. Reclamação constitucional julgada improcedente. (Rcl 4374 / PE -PERNAMBUCO
RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. GILMAR MENDES Julgamento: 18/04/2013 publicação: 04/09/2013).

Apesar de existir manifestação do STF a respeito da matéria, o tema ainda não está pacificado nos
tribunais, haja vista que a Suprema Corte Brasileira entendeu que o critério baseado na renda per capita
da família não é constitucional. Assim é comum encontrar casos em que ora se considera o critério exigido
pela lei, ora esse critério é desprezado. Nesse sentido:
Assim, há posicionamentos no sentido de que a presunção decorrente da renda mínima per capita pode
ser afastada quando o conjunto probatório do processo, examinado globalmente, demonstrar que existe
renda não declarada, ou que o requerente do benefício tem suas necessidades amparadas
adequadamente por outra pessoa. Por outro lado, há entendimentos que não exigem a análise exaustiva
da situação particularizada de cada cidadão. Bastaria o preenchimento dos requisitos legais para fazer jus
ao benefício.(Triches, 2018).

Consoante decisões jurisprudenciais e algumas críticas doutrinárias, o critério adotado para auferir quem
faz jus ao benefício é extremamente deficitário relacionado ao requisito da miserabilidade, sendo
necessário que haja uma interpretação de forma individualizada levando em consideração as
peculiaridade de cada caso.
Interessante a observação de Nathalia Bracci nesse sentido:
Portanto, ao analisar todos os fatos aqui expostos, chega-se a conclusão de que o critério da
miserabilidade encontra-se defasado e mostra-se inadequado para concessão do benefício da prestação
continuada, pois sua aplicação afasta um grande rol de pessoas que encontram-se logo acima do requisito
e que se pudessem comprovar a situação de miserabilidade por outros meios, certamente seriam aptas a
receber a assistência. A alteração do requisito, ou criação de novos parâmetros para substituí-lo é medida
necessária, a fim de contribuir para a concretização de direitos e garantias constitucionalmente protegidos
, sempre tendo em vista as mudanças que ocorrem no mundo jurídico, político e social (Bracci 2016).

É imprescindível que a constatação da presença do requisito da miserabilidade se dê, no caso concreto,


possibilitando a averiguação da hipossuficiência através de outros meios de provas além da consideração
da renda mensal da família.
Admitir que o critério exposto na legislação seja o único usado para auferir quem faz jus ou não ao

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benefício, é desvirtuar os objetivos que a LOAS visa atingir, que é garantir às pessoa de baixa renda e
sem condições de se manterem um mínimo de dignidade. Nesse Sentido:
É evidente que tal situação vai contra até mesmo a Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que esta tem
como princípio essencial a garantia do mínimo existencial a todos aqueles que não dispõem condições de
subsistência. É oportuno lembrar que a Dignidade da Pessoa Humana está prevista na Carta Magna como
um dos fundamentos do Estado, de modo que está intimamente ligado aos direitos fundamentais, fato que
contribui para a caracterização da inconstitucionalidade em foco (Bracci, 2016).

De acordo com Canotilho (1998 p. 320,321, apud Dos Santos, 2013, p.170) quantificar o bem-estar social
em valor inferior ao salário mínimo é o mesmo que “voltar para trás” em termos de direitos sociais. A
ordem jurídica constitucional e infraconstitucional não pode “voltar para trás” em termos de direitos
fundamentais, sob pena de ofensa ao princípio do não retrocesso social.
Diante dos critérios abordados como requisitos para que o BPC seja deferido, podemos observar quanto
ao critério da renda do grupo familiar, visto que o valor fixado em Lei é um valor simplório, que por sinal
podemos ver em pesquisas do IBGE, onde a extrema pobreza assola cerca de 13,5 milhões de pessoas
conforme gráfico abaixo:

Insta salientar que esse critério de ¼ do salário não presume o direito de quem tem direito ou não de
usufruir do Benefício de Prestação Continuada. Nesse sentido:

Art. 20, § 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família
cuja renda mensal per capita seja:
I - igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo, até 31 de dezembro de 2020; Lei nº 13.982/2020.
(BRASIL, 2020)

A jurisprudência Pátria tem evoluído seu entendimento frente a necessidade de encontrar um caminho
razoável em decorrência da omissão legislativa constatada na Lei Orgânica da Assistência Social, para
especificar critérios adequados para aferição de compatibilidade com o requisito econômico.
Ainda como enfoque nos requisitos abordados temos disposto:
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-
mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social - Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será
computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003).

Um dos meios possíveis e já muito utilizado pelo poder judiciário é a realização de laudo socioeconômico
/estudo social, que se dá através de assistente social designado para tanto. O Estudo Social é um
processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade conhecer com profundidade, e
de forma crítica, uma determinada situação ou expressão da questão social objeto da intervenção
profissional – especialmente nos seus aspectos socioeconômicos, familiares e culturais (CFESS, 2003, p.
29).
Insta salientar que há jurisprudência firmada nesse sentido:
SÚMULA 70 TNU - Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das
condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por

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oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.
FONAJEF: Sem prejuízo de outros meios, a comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser
feita por laudo técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por Oficial de
Justiça ou através de oitiva de testemunhas.
O Laudo Social é instrumento importante para subsidiar dados para uma melhor decisão do juiz na
demanda. Nesse sentido:
O laudo social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de “prova”, com a finalidade de dar
suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o Serviço Social.
Ele na maioria das vezes, contribui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que
ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em “avaliar,
escolher, decidir” (CFESS, 2003, p. 45).
Assim, mesmo que o grupo familiar não se enquadre no critério econômico exigido pela lei, é possível a
designação de assistente social para visita ao beneficiário e posterior realização de laudo socioeconômico
que apontará a real condição econômica da família e se é realmente hipossuficiente conforme requisitos
legais.
Outra via adequada para sanar as deficiências dos critérios apontados pela lei, seria a edição de norma
legal para delimitar requisitos convenientes, e realizáveis na busca pela decisão de quem faz jus ao
benefício.
No ano de 2019 houve manifestação do Congresso Nacional nesse sentido, na busca de aumentar e
facilitar o alcance da população aos programas assistenciais, foi editada então a lei 13.981/2020 que
alterou o requisito econômico de renda per capita de ¼ do salário mínimo para ½ salário mínimo sob a
justificativa de que mesmo quem tem a renda per capita de meio salário mínimo se encontra em
dificuldades para manter a si e sua família. Dessa forma aumentando o alcance da norma seria possível
dar oportunidade de que mais pessoas em situação de miserabilidade fossem contempladas com o
benefício.
Entretanto a AGU provocou o STF para se manifestar a respeito do tema: No entendimento da AGU, o
Poder Legislativo aprovou o aumento das despesas com BPC sem antes fazer qualquer análise ou
previsão dos custos que estariam envolvidos, não observando o disposto no art. 195, §5º, da Constituição
Federal. Desse modo, a referida previsão deveria ser declarada inconstitucional.
Instado a se manifestar, o STF através do Min. Gilmar Mendes proferiu decisão liminar na ADP F662
suspendendo a lei que alterava o dispositivo referente ao critério socioeconômico do BPC LOAS:
Min. Gilmar Mendes(...)”Concedo, em parte, a medida cautelar postulada, ad referendum doPlenário,
apenas para suspender a eficácia do art. 20, § 3º, da Lei 8.742, na redação dada pela Lei 13.981, de 24 de
março de 2020, enquanto não sobrevier a implementação de todas as condições previstas no art. 195,
§5°, da CF, art. 113 do ADCT, bem como nos arts. 17 e 24 da LRF e ainda do art. 114 da LDO”.(...)

Interessante observar alguns dos fundamentos levados em consideração para suspender a lei supracitada
, demonstrando que a dificuldade em encontrar harmonia nos critérios de concessão do benefícios
assistencial:
Infere que a aprovação do projeto de lei sem a previsão dos impactos financeiros e orçamentários, além
de violar o princípio democrático republicano do devido processo legal e do endividamento sustentável,
descumpriu a norma qualificada do artigo 195, §5º, da CF e o novo regime fiscal da União, estabelecido
pela Emenda Constitucional 95/2016 (art. 113 do ADCT). Segundo aduz, a aprovação de norma que cria
benefício em desacordo com o novo regime fiscal da União, sem observância do previsto no art. 195, § 5º,

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da CF, contraria o direito fundamental à boa governança.

Assim ainda que o poder público tenha a intenção de aprimorar os instrumentos de análise do benefício, é
necessário observar os impactos financeiros que tais medidas irão provocar nos cofres públicos.

4. Considerações Finais

Esse trabalho se propôs demonstrar as mudanças de entendimento e aplicação das normas assistenciais,
quanto ao critério da miserabilidade e vulnerabilidade dos requerentes. Para tanto foi utilizado pesquisa
jurisprudencial dos tribunais superiores a respeito do tema, bem como entendimentos doutrinários a
respeito da matéria.
O primeiro passo no trabalho foi demonstrar de forma sucinta a evolução da assistência social no Brasil,
como começou e o caminho percorrido para chegar ao sistema assistencial conhecido hoje. Mostrando
que a princípio assistência social no Brasil era prestado por particulares, e aos poucos através de edições
de normas isoladas para cada categoria, estabelecendo seus institutos de aposentadoria e pensões,
ocorrendo então o ajuntamento desses diversos institutos e criando O Instituto Nacional de Previdência
Social(INPS) posteriormente, o conhecido hoje Instituto Nacional da Seguridade Social(INSS).
A pesquisa buscou também descrever em poucas palavras o BPC LOAS, e seu papel relevante na
promoção da conquista dos povos menos desfavorecidos a um mínimo de dignidade.
Na última parte do trabalho ficou demonstrado a sensibilidade do assunto, haja vista que ao longo do
tempo em que a norma foi aplicada houve diversos entendimentos a respeito da matéria, e ainda há.
O tema miserabilidade ainda não é consenso entre os operadores do direito, havendo algumas decisões e
posicionamentos conflitantes. Os tribunais superiores já entenderam pela inconstitucionalidade dos
critérios que são adotados hoje, sem lhes declarar a nulidade, posto que não sugeriram melhores critérios
. O Congresso Nacional editou norma tentando diminuir esse problema, entretanto não prosperou
demonstrando a complexidade do tema.
Deste modo, conclui-se que, apesar das evoluções constatadas ao longo da história do direito assistencial
no Brasil e os esforços perpetrados pelas esferas do poder público, ainda é necessário ajustes e
adequações nos modelos adotados hoje para a concessão de benefícios assistenciais. É de suma
importância o reconhecimento do caráter dignificador à prestação desses Benefícios, e assim buscar
harmonizar às normas que o regem.
Os administradores devem atualizar os critérios utilizados hoje, de maneira que não haja desproporção
nem imoralidade nos casos que demandam análise criteriosa, não se limitando aos requisitos estritamente
dispostos na legislação. Tarefa essa que como já demonstrado vai exigir uma atuação conjunta dos
órgãos decisórios.

5. Referências

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anos. Disponível em:&lt; https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias
/noticias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-de-pessoas-e-chega-ao-maior-nivel-em-7anos
#:~:text=O%20%C3%ADndice%20caiu%20de%2026,que%20registrou%2022%2C8%25.&text=Quase
%20metade%20(47%25)%20dos,2018%20estava%20na%20regi%C3%A3o%20Nordeste. Acesso em

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