Artigo 26-10
Artigo 26-10
Artigo 26-10
São Luís - MA
2023
FERNANDO BATISTA DUARTE JUNIOR
São Luís - MA
2023
APOSENTADORIA RURAL À LUZ DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA: Análise dos
requisitos e proteção aos direitos fundamentais.
RESUMO
O presente artigo possui como tema realizar a análise da aposentadoria rural, especialmente
no que toca as inovações introduzidas pela da Emenda Constitucional nº 103/2019. O
benefício da aposentadoria rural é estudado pelo ramo do direito previdenciário, que visa
garantir ao segurado especial o recebimento de um valor mensal, para sua subsistência, sendo
este benefício administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A problemática
enfrentada neste artigo, foi que com a reforma da previdência ocorrida no ano de 2019,
surgiram diversas modificações no que toca aos benefícios previdenciários. Desta forma o
presente visa explanar sobre a aposentadoria rural e os impactos gerados pela EC 103/2019,
neste benefício. A metodologia utilizada neste trabalho foram pesquisas bibliográficas, em
doutrina e especialmente na legislação pátria. Pode-se ainda concluir que não ocorreram
mudanças no que toca aos requisitos para concessão da aposentadoria rural, após a EC
103/2019, e sim uma atualização dos meios de requerimento do benefício, tentando desta
forma aproximar o trabalhador do INSS.
1 INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade, estamos passando por uma séria crise financeira mundial, por
consequência da pandemia causada pela COVID-19, o nosso país não é diferente, do restante
do mundo, crise esta que assola tanto a economia do governo brasileiro e por consequência do
seu povo, principalmente das classes mais vulneráveis.
No ano de 2019, objetivando realizar modificações e uma melhor estruturação da
seguridade social, o congresso nacional entabulou uma grande reformulação no sistema
previdenciário brasileiro, a chamada reforma da previdência que fora instituída por meio da
Emenda Constitucional nº 103/2019, publicada em 12 de novembro de 2019, visando desta
forma resguardar o povo brasileiro de uma futura “quebra” do sistema previdenciário com o
que causaria a impossibilidade de instituição de novos benefícios e até mesmo o não
pagamento dos benefícios já ativos, o que ocasionaria uma grande crise humanitária no
território brasileiro.
1
* Advogado. Acadêmico da ESA/MA. E-mail: [email protected]
O presente artigo possui como problemática: Quais as possíveis dificuldades a serem
enfrentadas pelo trabalhador rural dadas as inovações introduzidas em nosso ordenamento
após a promulgação da Emenda Constitucional nº 103/2019? Para responder tal pergunta,
neste artigo iremos dissertar sobre os requisitos para obtenção da aposentadoria rural,
explicitando os marcos históricos que criaram esse direito ao trabalhador rural, quais as
legislações pertinentes a esta modalidade de aposentadoria, quem é o órgão que administra
este benefício, e ainda quais as formas e dificuldades enfrentadas pelo trabalhador rural no
momento do requerimento deste benefício, acarretando no deferimento ou indeferimento do
benefício.
Com este estudo será possível identificarmos quem é o segurado especial, quanto
tempo de trabalho, carência, a idade mínima necessária para obtenção do benefício, ainda a
forma de comprovação da qualidade de segurado especial, os meios de realizar o
requerimento de sua aposentadoria e ainda será explicitado às principais diferenças entre os
requisitos das normatizações entre o segurado especial do sexo masculino e do sexo feminino.
Desta forma o presente artigo tem como principal objetivo expor as principais
dificuldades enfrentadas pelo trabalhador rural na obtenção de aposentadoria, antes e depois
da promulgação da Emenda Constitucional nº 103/2019. Como objetivos secundários, tem-se:
Conceituar o que é Seguridade Social, dissertando sobre a sua relevância no cotidiano; tratar
sobre os princípios insculpidos na constituição aplicados ao sistema previdenciário brasileiro,
discutindo principalmente estes no viés do trabalhador rural; expor os requisitos e formas de
requerimento da aposentadoria por idade rural.
Ainda em tempo destaca-se a dificuldade na comprovação da qualidade de segurado
especial, haja vista a não obrigatoriedade da contribuição mensal (pagamento) ao INSS, o que
pode ser considerada uma das maiores dificuldades para a obtenção do benefício, haja vista o
rigor excessivo do órgão administrador para com as provas apresentadas, e a pouca
divulgação dos meios de prova e paralelo a isto o baixo conhecimento do lavrador, muitas das
vezes pessoa analfabeta, não possuindo desta forma o conhecimento dos direitos que lhe são
assegurados, ou ainda quais os meios possíveis conseguir angariar este benefício
previdenciário.
2 SEGURIDADE SOCIAL
Ao fazemos uma análise mais ampla, é possível observar que a legislação vigente não
é a única fonte do Direito, mas também são utilizados os princípios, costumes, doutrinas,
jurisprudências, ou seja, elementos que não necessariamente estão no texto da lei, haja vista
por isso sempre é necessário fazer atualização nas normatizações, visando inserir
necessidades dos brasileiros que devem ser garantidas.
Desta forma é possível proporcionar ao povo, a entrega dos direitos fundamentais,
fazendo com que desta forma seja possível resguardar o mínimo de dignidade da pessoa
humana, e a previdência social junto com a seguridade social estão presentes na nossa
constituição, visando diminuir as diferenças dentro da sociedade e as mazelas enfrentadas, e
ainda por consequência auxiliando no desenvolvimento do povo e ainda especialmente do
trabalhador.
Para Berwanger (2008, P. 124) a inserção do segurado especial na Constituição Federal
se dá por vários motivos, dentre eles o reconhecimento profissional dessa classe; a não
discriminação entre trabalhadores rurais e trabalhadores urbanos; com ênfase no caráter
previdenciário e não mais assistencial; e a responsabilidade de efetivar os direitos sociais ao
campo.
Desta forma é de salutar importância, trazer a tona o artigo (194 da CRFB/1998), onde
são elencados os principais objetivos da seguridade social:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I – universalidade da cobertura e do atendimento;
II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais;
III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;
V – equidade na forma de participação no custeio;
VI – diversidade da base de financiamento;
Posto isso o direito previdenciário, assim como os demais ramos do Direito, é formado
pelos princípios constitucionais, devendo o mesmo ser norteador no momento da aplicação
prática, ou seja, quando a previdência é buscada pelo cidadão, ela deve o socorrer usando os
princípios acima expostos, como norteadores. Para Barbosa (2006, p. 16), ― “o combate à
pobreza tem sido destacado como o principal efeito do processo de universalização da
Previdência Social Rural, na medida em que são incorporados ao sistema previdenciário
segmentos sociais empobrecidos”.
Define-se como sendo segurado especial todo aquele que trabalha no campo, seja de
forma individual ou familiar, tendo a sua produção a finalidade de promover o sustento do
trabalhador e/ou da sua família, ou seja, o trabalho deve possuir o caráter de subsistência,
sendo vedado que o trabalhador desenvolva outras atividades seja ela de cunho comercial,
empresarial, turístico ou empregatício.
A CRFB/1998 traz a figura do segurado especial, estabelecendo critérios para
facilitar a definição do que seria a personificação deste segurado, tudo isto elencado no artigo
195 §8°, conforme segue:
O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador
artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades
em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão
para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o
resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos
termos da lei (art. 195, § 8°, regulamentado pela Lei 8.213/91).
Conforme exposto acima é possivel constatar uma proteção, a aqueles que retiram
o seu sustento da sua própria produção, ou seja, exerce a atividade rural de forma braçal sem
interesse algum em auferir lucros, ou grandes produções e sim, exclusivamente de subisistir
juntamente com a sua familia, retirando da terra todo o seu alimento.
A lei 11.718/08 estabeleceu qual a idade inicial para o inicio da qualidade de segurado
especial, tal seja 16 (dezesseis) anos. Entretanto posteriormente em 2012 o STJ, por meio do
julgamento da ação recisoria nº 3877, definiu um novo entendimento de que mesmo o
lavrador sendo menor de 16 (dezesseis) anos, desde que consiga comprovar a sua atividade
rural juntamente com a sua familia, poderá o mesmo se utilizar destas comprovações para o
recebimento de benefícios previdenciarios, a titulo de exemplo o recebimento de auxilio
doença, conforme segue o entendimento:
7 CONCLUSÃO
O presente artigo realizou a análise sobre os principais aspectos da previdência social,
juntamente com a assistência social, com enfoque no benefício de aposentadoria por idade
rural, trazendo as inovações introduzidas pela EC 103/2019. Elencando desta forma quais
foram às normatizações que inseriram este benefício no ordenamento jurídico brasileiro, quais
são os requisitos para obtenção dele, e ainda quais são as formas de requerimento dele.
Com este estudo foi possível demonstrar as grandes dificuldades enfrentadas pelo
trabalhador campesino, haja vista muitas das vezes morar no interior em locais pequenos, sem
acesso a informações, e ainda as dificuldades enfrentadas mesmo após a obtenção do
benefício. Foi possível constatar a preocupação do ordenamento jurídico brasileiro tanto na
questão previdenciária quanto na assistencial, visando desta forma salvaguardar a população
mais necessitada, fazendo um paralelo entre os benefícios assistências e os previdenciários
demonstrando a diferenciação entre os beneficiários e os requisitos para o deferimento de
ambos.
Destaca-se ainda a diferenciação entre o trabalhador urbano e o rural, quais as
diferenças encontradas para que ambos tenham o benefício de aposentadoria concedido.
Ainda em tempo foi possível a realização de um passo a passo para a obtenção do benefício
de aposentadoria por idade rural quais os mesmo de requerimento e quais os documentos
necessários para a realização do requerimento, e ainda quais os procedimentos a serem
realizados após a implantação do benefício. É de salutar importância a caracterização da
aposentadoria rural como sendo vitalícia, ou seja, somente se extingue com a morte do
aposentado, entretanto caso o mesmo possua dependentes conforme descrito nas normatização
acima elencadas, é possível obtenção do benefício de pensão por morte rural.
Conclui-se, portanto que a previdência de forma específica estabelece formas de
contribuição do trabalhador rural, devendo desta forma serem cumpridas as exigências acima
expostas com o enquadramento na categoria de trabalhador rural e a comprovação do
cumprimento do requisito etário o benefício é concedido, apesar das diversas singularidades,
o homem do campo tem direito aos mesmos benefícios previdenciários, garantido pela
Constituição do país ao trabalhador urbano.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n° 9.032 de 28 de abril de 1995. Dispõe sobre o valor do salário mínimo, altera
dispositivos das Leis n° 8.212 e n° 8.213, ambas de 24 de julho de 1991 e dá outras
providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br. Acesso em Outubro, 2023.
BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Previdência Rural – inclusão social, 1º ed, Curitiba:
Juruá, 2007.
BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Conceito de Segurado Especial à Luz da Lei 11.718/08.
In: Previdência nos 60 anos da Declaração de direitos humanos e nos 20 da Constituição
brasileira. Curitiba: Juruá, 2008.
CÂMARA, Karina. A aposentadoria por idade rural e seu caráter assistencial. Revista de
Estudos Jurídicos, v. 15, n. 22, p. 173-190. Franca: UNESP, 2011.
IBRAIM, Fábio Zambitte – Curso de Direito Previdenciário – 25ª edição, Niteroi: Impetus,
2020.
KERTZMAN, IVAN. Curso Prático de Direito Previdenciário. 12º edição. Salvador. Editora
Juspodivm. 2015.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. 7ª ed, São Paulo: LTr,
2017.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Princípios De Direito Previdenciário. 6ª ed, São Paulo: LTr,
2015.
ABSTRACT
The theme of this scientific article is to analyze rural retirement, especially regarding the
innovations introduced by Constitutional Amendment No. 103/2019. The rural retirement
benefit is studied by the branch of social security law, which aims to guarantee the special
insured person the receipt of a monthly amount for their subsistence, this benefit being
administered by the National Social Security Institute (INSS). The problem faced in this
article was that with the social security reform that took place in 2019, several changes
emerged regarding social security benefits. Therefore, this article aims to explain rural
retirement and the impacts generated by EC 103/2019, on this benefit. The methodology used
in this course conclusion work was bibliographical research, in doctrine and especially in
national legislation. It can also be concluded that there were no changes regarding the
requirements for granting rural retirement, after EC 103/2019, but rather an update of the
means of applying for the benefit, thus trying to bring the worker closer to the INSS.
Keywords: Special Insured; Rural worker; Rural Retirement; National Social Security
Institute (INSS); Constitutional Amendment nº 103/2019.