0 Revista Pulmao RJ Vol27 1 2018
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0 Revista Pulmao RJ Vol27 1 2018
Editorial Editorial 1
Karen Rosas Sodré Azevedo, Agnaldo José Lopes
Editores Convidados 3
Thiago Thomaz Mafort
Artigos Articles
Orientações para os testes de função pulmonar: espirometria 5
Renato de Lima Azambuja, Agnaldo José Lopes
A Pulmão RJ tem por missão fazer prospecção, promover e divulgar trabalhos científicos e educativos para
médicos, pesquisadores, professores, estudantes e demais partes interessadas. Visa contribuir para a pesqui-
sa e o desenvolvimento das melhores práticas médicas relacionadas ao tórax, com ênfase na pneumologia e
na tisiologia, no Brasil e no Mundo por meio da distribuição periódica de uma revista criativa e inovadora que
reúne a opinião e a experiência dos mais competentes profissionais e entidades correlatas.
Presidente: Departamentos:
Rogério Lopes Rufino Alves Cirurgia Torácica: Carlos Henrique Boasquevisque
Vice-Presidente: Enfermagem: Janaína Leung
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Publicação oficial da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do estado do Rio de Janeiro. Todos os direitos reservados. Indexada ao ban-
co de dados do LILACS (BIREME). Contato: [email protected]. Circulação: Quadrimestral. Distribuição: assinantes e,
gratuitamente, aos sócios da SOPTERJ, às sociedades regionais de pneumologia, a bibliotecas de faculdades e hospitais universitários do
Brasil. Capa: Figura referente ao artigo.
EXPEDIENTE
Editorial
É com satisfação que organizamos esse número da Pulmão RJ, com uma ampla atualização dos di-
versos testes de função pulmonar, atendendo uma grande demanda do nosso grupo de pneumologistas. A
última diretriz nacional em função pulmonar foi publicada em 2002 pela Sociedade Brasileira de Tisiologia
e Pneumologia e, em 2005, um consenso entre as sociedades Americana e a Europeia publicou uma nova
padronização no European Respiratory Society.
A espirometria é o exame de função pulmonar mais comumente realizado, sendo suficiente na grande
maioria dos casos. No entanto, numa parcela significativa dos pacientes é fundamental a complementação
com outros testes funcionais mais específicos.
É importante ressaltar que, em todos os testes, é fundamental se manter a qualidade técnica, com
curvas aceitáveis e valores reprodutíveis, assim como a escolha adequada dos valores teóricos e uma análise
correta dos resultados. Isso serve não só para os testes mais complexos, mas também para a espirometria,
que é a base funcional a partir do qual os demais exames serão solicitados e interpretados. A espirometria
é erroneamente considerada um teste simples, mas é justamente nela que vemos os erros mais gritantes,
sobretudo por ser largamente realizada nos mais diferentes centros e por diferentes profissionais.
Novas metodologias, assim como novos equipamentos e conceitos, surgem todos os dias, e o objetivo
desse número da Pulmão RJ é ajudar os colegas pneumologistas a se manterem atualizados nessa subes-
pecialidade dentro da Pneumologia. Da mesma forma, uma padronização tem também como objetivo fazer
com que diferentes centros usem a mesma linguagem na interpretação dos diversos testes, facilitando a
comunicação e interação entre eles.
Ficamos felizes com o resultado, e esperamos que o nosso empenho, assim como o de todos os au-
tores, contribua para manter a qualidade técnica da Pneumologia no nosso estado.
Pulmão RJ 2018;27(1):1-1 1
2 Pulmão RJ 2018;27(1)
Mafort TM Editor
Editor
A Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro (SOPTERJ) lança mais uma
edição temática da PulmãoRJ. Neste número serão abordados temas relacionados aos testes de função
pulmonar. Temos o prazer de termos como editores convidados a Dra. Karen Rosa Sodré de Azevedo e o Dr.
Agnaldo José Lopes, profissionais com larga experiência e expertise na fisiopatologia do sistema respirató-
rio. Aproveito para, em nome da SOPTERJ, agradecer o empenho e a dedicação dos editores.
Este número tem por objetivo ser mais que um apanhado de artigos relacionados à função pulmo-
nar, temos a pretensão que se torne um guia de referência sobre o assunto. Ele traz renomados autores
que, baseados em sua experiência e em publicações recentes, nos abrilhantam com textos que certamente
impactarão a prática clínica dos pneumologistas e demais profissionais que atuam na saúde respiratória.
Aproveito pata também agradecer aos autores que dedicaram parte do seu tempo a escrever os manuscri-
tos aqui publicados.
A SOPTERJ segue levando aos seus associados e ao público em geral atualização científica de qua-
lidade. A PulmãoRJ e os diversos eventos realizados nos últimos anos são prova viva da pujança da pneu-
mologia Fluminense. Aproveito para já deixar o convite para o nosso Congresso Estadual que vai acontecer
entre os dias 12 e 14 de setembro de 2019.
Espero que todos aproveitem a leitura deste número.
Pulmão RJ 2018;27(1):3-3 3
4
Azambuja RL, Lopes AJ Orientações para os testes de função pulmonar: espirometria
Artigo
Resumo
A espirometria é realizada há mais de 150 anos e continua sendo o principal exame de função pulmonar por
conta de sua simplicidade e reprodutibilidade. Ao mesmo tempo, fornece importantes informações para a prática
clínica. De modo a fomentar um uso mais frequente da espirometria, bem como zelar pela qualidade das medidas
aferidas, sociedades médicas, no Brasil e no mundo, publicaram orientações para padronização da metodologia
para os exames de espirometria. Uma preocupação mais recente diz respeito à forma que os resultados são apre-
sentados. De fato, muitos são os dados e variáveis que podem ser obtidos, sendo que nem todos eles são iguais
em relevância. Nessa revisão, os autores discutem as indicações, as variáveis medidas, a calibração, o controle de
qualidade, a realização do exame, os valores de referência, a interpretação e a exposição dos resultados.
Abstract
Spirometry has been performed for more than 150 years and remains the main pulmonary function test
because of its simplicity and reproducibility. At the same time, it provides important information for clinical practice.
In order to encourage a more frequent use of spirometry, as well as to ensure the quality of the measures taken,
medical societies in Brazil and in the world have published guidelines for the standardization of the methodology for
spirometry tests. A more recent concern concerns how the results are presented. In fact, many are the data and
variables that can be obtained, and not all of them are equal in relevance. In this review, the authors discuss the
indications, the measured variables, the calibration, the quality control, the test, the reference values, the interpre-
tation and the exposure of the results.
1. Pneumologista e Mestre em Ciências Médicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2. Professor Adjunto de Pneumologia e Tisiologia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Endereço para correspondência: Boulevard 28 de Setembro, 77, Vila Isabel, 20551-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
Pulmão RJ 2018;27(1):5-10 5
Azambuja RL, Lopes AJ Orientações para os testes de função pulmonar: espirometria
Variáveis medidas
É importante o conhecimento dos volumes e
capacidades pulmonares, a fim de se compreender exa-
tamente o que se está avaliando. O volume corrente cor-
responde ao ar mobilizado numa respiração normal. A
capacidade residual funcional (CRF) é o volume restante
nos pulmões após uma expiração normal. O volume de
reserva expiratório é o ar que se pode exalar adicional-
mente, a partir da CRF. O volume residual (VR), não afe-
rido pela espirometria, é o volume que permanece nos
pulmões após uma expiração máxima. A capacidade ins-
Figura 1: Gasometrônomo de William Thomas Brande, 1819. piratória é o volume máximo de ar que pode ser inspirado
Fonte: A Manual of Chemistry, p.82, J.Murray, Albermale St, London. a partir da CRF. A capacidade vital corresponde a todo o
volume passível de ser mobilizado. Por fim a capacidade
pulmonar total é o volume máximo de ar que pode ser
A espirometria, portanto, é realizada há mais de
comportado nos pulmões.
150 anos, e continua sendo o principal exame de função
Na espirometria, são medidos fluxos e volumes
pulmonar por conta de sua simplicidade e reprodutibilida-
de ar respirado, sendo particularmente úteis os dados ob-
de. Ao mesmo tempo, ela fornece importantes informa-
tidos em uma manobra expiratória forçada. A capacidade
ções para a prática clínica. Apesar de sua enorme relevân-
vital (CV) aferida com este tipo de manobra é chamada
cia, o método ainda continua sendo bastante subutilizado.
capacidade vital forçada (CVF). O volume de ar eliminado
De modo a fomentar um uso mais frequente da
no primeiro segundo do sopro denomina-se volume ex-
espirometria, bem como zelar pela qualidade das medi-
piratório forçado do primeiro segundo (VEF1). A relação
das aferidas, sociedades médicas, no Brasil e no mundo,
entre o VEF1 e a CV é um índice importante, descrito por
publicaram orientações para padronização da metodolo-
Tiffenau em 1952, que avalia se há proporcionalidade nas
gia para os exames de espirometria2,3. Uma preocupação
alterações das duas variáveis citadas. Esta relação passou
mais recente diz respeito à forma que os resultados são
a ser conhecida com índice de Tiffenau (IT).
apresentados. De fato, muitos são os dados e variáveis
Os três principais valores a serem mensurados
que podem ser obtidos, sendo que nem todos eles são
e relatados são, portanto, CVF, VEF1 e IT. A CVF e o VEF1
iguais em relevância. Dados excessivos podem contribuir
devem ser apresentados nos seus valores absolutos e
para um entendimento incompleto da análise4. Tal pro-
percentuais dos previstos. É recomendado que o limite
blema poderia ser evitado por um formato de laudo mais
inferior da normalidade também seja relatado, utilizando-
conciso com os dados apresentados num formato padrão.
-se o z score.
Este capítulo objetiva revisar os aspectos técni-
O fluxo expiratório no volume situado entre 25 e
cos que devem nortear a realização da espirometria bem
75% da CVF (FEF25-75%) corresponde a uma medida de flu-
como propor um modelo padrão de laudo.
xo médio. Foi postulado por McFadden e Linden que, ao
longo da manobra de CV, após um decréscimo do volume
6 Pulmão RJ 2018;27(1):5-10
Azambuja RL, Lopes AJ Orientações para os testes de função pulmonar: espirometria
inicial, ocorreria, pelos mecanismos de interdependência encostar o dorso no encosto do assento. É prudente que
das estruturas pulmonares, um colapso nas pequenas o técnico esteja próximo ao paciente durante as mano-
vias aéreas (< 2 mm) de indivíduos com doença obstru- bras, pois alguns indivíduos podem apresentar tonteira
tiva em fase inicial. A redução do FEF25-75%, que ocorre ou, até mesmo, lipotímia ao término da manobra. O uso
nessa situação, foi proposto como um marcador de aco- do clipe nasal é recomendado.
metimento das pequenas vias aéreas. Todavia, o FEF25- O indivíduo respira até a CPT e, rapidamente
75%
é dependente da CVF. Capacidades vitais diferentes (não pode demorar mais de 3 segundos em apneuse), re-
causadas, por exemplo, por variações no tempo expirado aliza uma expiração de início explosivo e progressão cons-
de diferentes manobras resultam em grandes mudanças tante. O técnico o estimula com vigor até que se obtenha
no FEF25-75%, o que diminui sua reprodutibilidade. De fato, um platô na curva volume x tempo. Uma duração mínima
estudos falharam em demostrar benefício clínico com sua de 6 segundos é necessária. Alguns outros artifícios que
mensuração . Uma vez que outras técnicas de avaliação
6,7
podem ajudar a obter um bom exame são, uso de te-
das pequenas vias aéreas foram descritas (relação VR/ca- las de incentivo, acompanhamento do gráfico na tela do
pacidade pulmonar total (CPT) na pletismografia de corpo computador pelo paciente enquanto realiza a manobra,
inteiro, aprisionamento aéreo na tomografia computado- imitação do procedimento pelo técnico, simultaneamente
rizada em expiração, washout de nitrogênio, oscilometria ao paciente.
de impulso), a ATS não mais recomenda seu uso clínico4. Devem ser obtidos pelo menos 3 manobras que
Outras medidas de fluxo instantâneo – como 25, 50 e preencham os critérios de aceitabilidade e duas que sejam
75% da CVF, também caíram em desuso pelos mesmos reprodutíveis. Uma manobra aceitável tem um volume re-
motivos. troextrapolado menor que 150 mL ou 5% da CVF (o que
for maior). Além disso, deve ter o pico de fluxo expirado
Calibração e controle de qualidade comparado ao maior pico de fluxo das manobras prévias.
Geralmente feita com seringa de 3 litros, a cali- Variações maiores que 10% ou 500 mL (o que for maior),
bração do aparelho se dará todos os dias antes da reali- tornam a curva inaceitável. A avaliação da morfologia das
zação do primeiro exame. Desvios de mensuração serão alças fluxo x volume também determina a aceitabilidade
calculados pela diferença entre o volume injetado pela das manobras, havendo exemplos de curvas inaceitáveis
seringa e a relação volume medido / volume injetado. na Figura 2. Os dois maiores valores de CVF e VEF1 devem
Também se recomenda que sejam usados con- diferir menos de 150 mL.
troles biológicos, testando indivíduos saudáveis e não ta-
bagistas a cada 15 dias. Se os valores obtidos para um
mesmo indivíduo tiverem variação superior a 10%, o apa-
relho deve ser encaminhado para revisão2.
Recomenda-se a suspensão de broncodilatado-
res de curta duração 4 horas antes do exame e os de
longa duração, 12 horas. Broncodilatadores usado apenas
uma vez ao dia devem ser suspensos por 24 horas. Entre-
tanto, caso o objetivo seja verificar o efeito do tratamento
instituído, convém manter os broncodilatadores. Neste
caso, o médico solicitante deve assim descriminar no pe-
dido do exame. Café e álcool não devem ser consumidos
nas 6 horas antecedentes ao exame. Preferencialmente,
o indivíduo não deve ter apresentado infecção respiratória
nas últimas 3 semanas.
Realização do Exame
Paciência é virtude indispensável para o técnico
que realiza a espirometria. É preciso instruir o paciente
descrevendo a manobra cuidadosamente, não raro mais
de uma vez, até que se tenha plena compreensão. O in-
divíduo repousa por 5 a 10 minutos. Caso seja usuário de Figura 2: Exemplos de curvas aceitáveis.
prótese dentária, esta deve ser mantida (a menos que
não esteja bem ajustada). Deve-se cuidar para que o am-
biente esteja tranquilo e recomenda-se que se use roupas
confortáveis. O paciente deve estar sentado, porém sem
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Azambuja RL, Lopes AJ Orientações para os testes de função pulmonar: espirometria
Interpretação
A relação VEF1/CVF é o principal parâmetro a de-
finir se existe obstrução, pois permite caracterizar se há
redução de fluxo desproporcionalmente ao volume. Nos
processos restritivos, ambos estarão reduzidos, o que
acarreta a uma relação normal ou, até mesmo, aumen-
tada. Para valores limítrofes da relação VEF1/CVF, uma Exposição dos resultados
vez que o uso do FEF25-75% e dos fluxos instantâneos se A simplificação da exposição dos dados obtidos
mostraram inacurados 6,7
para definir obstrução, a correla- no laudo final é essencial para que a espirometria seja
ção clínica e radiológica ajudará, sugerindo se há ou não mais bem compreendida pela população médica, o que
distúrbio obstrutivo. Nesse sentido, é importante que o acarretaria num forte estímulo de fomento para seu uso.
paciente leve radiografias ou tomografias de tórax que Assim sendo, apenas as variáveis relevantes a prática clí-
possuir, a fim de ajudar na interpretação. Vale ressaltar nica deve constar no laudo. A fim de que evitar um ex-
que a redução isolada de FEF25-75% com alargamento do cesso desorganizado de dados, os valores preditos podem
TFEF25-75% pode auxiliar no diagnóstico de distúrbio ven- ser omitidos, priorizando-se a exposição do limite inferior
tilatório obstrutivo incipiente em pacientes fumantes e da normalidade. Valores fora da faixa normal devem ser
sintomáticos. dispostos em negrito para enfatizar as anormalidades en-
Como os distúrbios restritivos são definidos pela contradas. O modelo de laudo simplificado não muda a
redução da CPT, sua caracterização pela espirometria es- necessidade de que todas as curvas obtidas estejam dis-
barra na limitação de não se conseguir definir restrição na poníveis para o médico-intérprete, permitindo uma análi-
presença de obstrução (a redução de CVF poderá ser se- se mais ampla pelo profissional. Essas curvas devem ser
cundária ao aumento do VR). Valor de CVF reduzida com salvas eletronicamente a fim de que se possa realizar uma
relação VEF1/CVF preservada, dentro de um contexto revisão do laudo no futuro, caso haja necessidade. Altura
clínico e radiológico sugestivos de restrição, deve ser va- e peso, aferidos na realização do exame, também devem
lorizado e mencionado, principalmente por se considerar estar no laudo.
que as metodologias para mensuração do VR ainda são Os valores de CVF e VEF1 precisam ser relatados
indisponíveis em muitos laboratórios de função pulmonar. nos seus valores absolutos e no percentual do previsto.
Nessas situações, o laudo deve indicar CVF reduzida por Quanto à relação VEF1/CVF, apenas o valor absoluto, em
provável distúrbio ventilatório restritivo. Vale ressaltar forma de fração decimal (deixando em branco a coluna
que, embora muitas vezes a redução da CVF não seja de percentual do previsto) tem sido recomendado recen-
acompanhada por redução da CPT, o contrário não acon- temente pela ATS/ERS a fim de evitar confusão na leitura.
tece, havendo uma boa correlação entre CVF normal e Se apropriado, pode-se expor também os valores de ca-
ausência de restrição na CPT . Assim, na presença de um
9 pacidade vital lenta (CV) e da relação VEF1/CV em colunas
valor normal de CVF, não é necessária a complementação separadas.
com medida da CPT . 9 Na conclusão, separa-se um espaço para os co-
A gradação da gravidade do distúrbio ventilató- mentários do técnico, onde irá relatar informações rele-
rio isoladamente pela amplitude da variação dos valores vantes na aquisição das curvas, como por exemplo, even-
espirográficos mostrou pouca correlação com a sintoma- tual dificuldade na realização da técnica pelo paciente.
tologia do paciente em diversos distúrbios respiratórios. Por fim insere-se a coluna com a interpretação final do
Ainda assim, esses valores têm implicações prognósticas, pneumologista, mencionando o tipo e grau do distúrbio
devendo, portanto, serem mencionados . Os distúr-
10,11,12 ventilatório encontrado, o efeito obtido com a broncodi-
bios obstrutivos serão caracterizados, conforme a redu- latação (especificando o broncodilatador que foi usado e
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Azambuja RL, Lopes AJ Orientações para os testes de função pulmonar: espirometria
sua dose) e qualquer outra informação que julgue rele- Na Figura 3, observa-se um exemplo do modelo
vante (por exemplo, queda progressiva do VEF1 com ma- de laudo final simplificado aqui proposto. Neste modelo,
nobras consecutivas, sugerindo broncoespasmo induzido procura-se evitar o excesso de informações de modo que
pelo esforço). ele seja mais informativo ao médico assistente.
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Azambuja RL, Lopes AJ Orientações para os testes de função pulmonar: espirometria
Referências
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10 Pulmão RJ 2018;27(1):5-10
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Valores de Referências para a Espirometria
Artigo
Resumo
As medidas espirométricas podem ser interpretadas por comparação de valores derivados de uma deter-
minada população. Pessoas que não possuem doenças, ou saudáveis, apresentam para a espirometria valores de
referência (ou padrão). A população de referência deve ser distinguida de uma população genericamente represen-
tativa. A população representativa pode possuir os sintomas, morbidades (ex. asma, hipertensão arterial, diabete
melito), hábitos (ex. tabagismo) e exposições comuns por faixa etária, gênero e local da realização da espirometria.
É importante a realização de questionários respiratórios, de hábitos do tabagismo, exposição à riscos pulmonares
e de doenças prévias para o rastreamento de doenças que possam interferir na função pulmonar. Este artigo
apresenta as principais equações de referência que são utilizadas na prática médica, nos laboratórios e clínicas de
função pulmonar. Há equações de referências internacionais e nacionais. Cada uma delas possui características
distintas de população, técnica, aparelho e modelo estatístico. Não há a melhor. Deve-se identificar a que melhor se
adapta para a sua população e que permita um diagnóstico funcional ventilatório mais adequado. Este é o objetivo
deste artigo.
Abstract
Spirometric measurements can be interpreted by comparing values derived from a given population. People
who have no disease, or healthy, have reference (or standard) values for spirometry. The reference population
should be distinguished from a generically representative population. The representative population may have
symptoms, morbities (eg asthma, high blood pressure, diabetes mellitus), habits (eg smoking) and common expo-
sures by age group, gender and place of spirometry. Respiratory questionnaires, smoking habits, exposure to lung
risks and previous diseases are important for screening for diseases that may interfere with lung function. This arti-
cle presents the main reference equations that are used in medical practice and which are used by laboratories and
clinics of pulmonary function. There are international and national reference equations. Each has distinct characte-
ristics of population, technique, spirometer and statistical model. There is not the best. Identify the one that best
fits your population and allows a more adequate ventilatory functional diagnosis. This is the purpose of this article.
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Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Valores de Referências para a Espirometria
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Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Valores de Referências para a Espirometria
Gênero
Muitas equações de valores de referência em
função pulmonar têm identificado que o gênero é
uma variável independente, bem como a idade e a
altura.2-5
As mulheres têm volumes e fluxos pulmo-
nares reduzidos em relação ao homem, da mesma
idade e altura. Responde até por 30% da variação
da função pulmonar, sendo usual a separação das
equações de referência por sexo.3
Os volumes pulmonares são maiores no sexo
Figura 5. Curva do volume pulmonar com os anos de vida
Fonte: Referência 12- Adaptação de Knudson RJ, Slatin RC, Lebowitz MD,
masculino, mas a relação VEF1/CVF é discretamen-
Burrows B. The maximal expiratory flow-volume curve: normal standar- te menor, em média, provavelmente pela maior
ds, variability, effects of age. Am Rev Respir Dis 1976; 113 (5): 587-599. compressão dinâmica resultante da maior força
Legenda: M= masculino; F= feminino.
Obs. Há duas linhas azuis e duas vermelhas. A linha superior de cada muscular.15
gênero representa o volume previsto e a inferior, o limite de referência. A Os valores máximos de CVF são alcançados
linha azul sempre acima da vermelha.
em torno de 25 anos no sexo masculino e 20 anos
no sexo feminino.15
Ao longo da vida, as mudanças na curva
Peso
fluxo-volume podem sugerir que exista um pa-
Reflete a massa corporal. Em balanças ca-
drão obstrutivo nas pequenas vias aéreas, mesmo
libradas, o erro de medida deve ser menor que
em não-fumantes, devido a perda do recolhimen-
0,01kg. Em estudos populacionais, o peso em ge-
to elástico e desarranjo estrutural. Basear-se no
ral não afeta as variáveis espirométricas, quando a
aspecto da curva em população idosa na definição
estatura e o gênero são considerados, exceto na
do distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO), poderá
presença de obesidade mórbida.2-4
levar a um erro de interpretação, pois o formato
Os indivíduos obesos demonstram redução
tende a se modificar com a idade. Nesses casos, os
dos volumes e capacidades pulmonares, quando
valores espirométricos podem ser fundamentais no
comparados a indivíduos eutróficos. Reduções da
diagnóstico. O aspecto da curva côncava favorecerá
CPT e da CVF, acompanhadas de redução do VEF1,
o diagnóstico de DVO, mas os valores de referência
são os achados mais representativos e sugerindo a
auxiliarão para o diagnóstico de DVO ou dentro da
presença de padrão respiratório restritivo associado
faixa de referência (Figura 6).2,14,15,16
à obesidade.17
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Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Valores de Referências para a Espirometria
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Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Valores de Referências para a Espirometria
estudos com valores de referência para a espirome- ta foram obtidos para a raça caucasiana (branca)
tria (Quadro 3)15,31-41. No Brasil, os primeiros valores em 199238 e revistos pelo mesmo autor no ano de
de referência para espirometria na população adul- 200740, para branca (Quadro 3).
Quadro 3. Características comparativas entre os trabalhos de valores de referência
Legenda: Ref = referência; C= caucasiana; A= asiática; AD = afrodescendente; L = latino; M = misto (não específica); NEA = nordenste
asiático, sudeste asiático; CVF= capacidade vital forçada; VEF(x)= volume expiratório forçado (0,5=meio segundo; 1= um segundo; 3= três
segundos ou 6 = seis segundos); FEF25-75%= Fluxo expiratório médio; Fluxo expiratório forçado de 75 a 85%; FEF50% = fluxo expiratório
forçado a 50%; FEF75% = fluxo expiratório forçado a 75%; PFE = pico de fluxo expiratório; TFEF=tempo de fluxo expiratório forçado *
espirômetro de volume; ** método LMS; † = fator de correção.
Obs1= Prata (et al.), Rufino (et al.) e Pereira (et al) = equações brasileira, Hankinson (et al)= equações americanas; Pérez (et al)= equa-
ções latino-americanas; Falaschetti (et al) = equaçãoo inglesa; Brandli (et al)= equações suíças; Kubota (et al) = equações japonesas;
Quanjer (et al) = proposta de uma equação universal
Pulmão RJ 2018;27(1):11-20 15
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Valores de Referências para a Espirometria
um diferencial entre as equações existentes. Das têmica dos “saudáveis controlados”. Quanto maior
11 equações15,31-41, em três delas não há citação do a pressão arterial, maiores são os fluxos expirató-
nome dos aparelhos de função pulmonar: a ame- rios máximos. Essa influência da pressão arterial foi
ricana32, a japonesa36 e a internacional39. Nessas, também vista no trabalho de Pereira et al57 e valores
o importante foram os critérios de aceitabilidade e menores na CVF e VEF1 nos hipertensos.
reprodutilidade das curvas, que são praticamente os Outra análise seria o indivíduo saudável com
mesmos há pelo menos duas décadas, com pou- grande atividade física. Sabe-se que a atividade
quíssimas variações entre os países5. As especifica- física pode proporcionar aumento do volume pul-
ções do equipamento e o tipo (fluxo ou volume) não monar, especialmente a atividade de polo aquático,
foram descritas. Esses três trabalhos tinham um ob- basquetebol e de remador (canoagem).47
jetivo de se obter um excessivo número de espiro- Brandli et al (equação suíça)35 e Crapo et al30
metrias para desenvolver equações definitivas. Ou não tinham critérios de exclusão para tabagistas ou
melhor, “temporariamente” definitivas, pois com as ex-tabagistas, o que, nos dias de hoje, caracteriza-
mudanças étnicas dos países e as alterações nos ria uma amostra com doentes. O tabagismo hoje
biotipos das populações, os valores de referência é uma doença bem reconhecida e que pode levar
podem sofrer modificações com o tempo.44 à redução da função pulmonar de forma aguda ou
Além disso, os valores de espirometria po- crônica.3,4
dem também apresentar modificações conforme o O local de realização dos exames também
período do dia em que são realizados. O estudo de tem relevância na função pulmonar. Equações ela-
Crapo et al31 foi realizado à tarde e o de Rufino et boradas com aparelhos de campo utilizam, em ge-
al41 foi realizado pela manhã. Isto tem relevância. ral, pneumotacógrafos, e os valores são corrigidos
Em um estudo holandês44, foi verificado que o pico ou homogeneizados pelas condições BTPS. Contu-
da função pulmonar (CVF, VEF1, PFE) ocorre no pe- do, o fator poluição ambiental não tem correção. A
ríodo diurno, com variação de 20-25mL e de fluxo poluição ambiental interfere diretamente na função
de 100mL durante o dia. Nenhum dos outros nove pulmonar, especialmente em cidades com níveis de
trabalhos estabeleceu o horário de realização. poluição altos. Equações de Crapo et al31 e Knudson
Um dos mais importantes instrumentos de et al15 tiveram essa característica.
sustentabilidade de equações para valores de re- A amostra dever ter um número mínimo e
ferência em uma população saudável, é a própria ser representativa da população. Como Knudson et
definição de saudável. Ser “saudável” significa não al15 e Rufino et al41 levaram anos para se atingir o
ter ou ter doenças efetivamente controladas. Po- número necessário. Knudson et al15 realizaram de
rém, nas doenças controladas, os medicamentos dupla a tripla checagem do questionário respiratório
utilizados, às vezes, modificam a função pulmonar e ambiental. Rufino et al41 realizaram dupla verifica-
(ex. betabloqueadores seletivos). Esses fatos natu- ção do questionário e um segundo questionário de
ralmente reduz o universo de pessoas para a análise morbidade (questionário de Charlson). Esta dupla
de saudável do ponto de vista pulmonar, pois con- checagem é importante para não se ter o viés de
forme a idade se eleva, aumenta a frequência de doenças “esquecidas” (negação da doença) ou da
doenças. Em um trabalho escocês com 1.751.841 falta de comprometimento funcional respiratório.
indivíduos, foi verificado que a partir dos 60 anos, Crapo et al31 e Rufino et al41 realizaram radiografias
muitos pacientes apresentam até 8 morbidades e, de tórax e Rufino et al41 eletrocardiograma em todos
com 85 anos, todas as pessoas praticamente tem os pacientes. Esses critérios adicionais tornam a se-
pelo menos uma morbidade e quase 10%, 8 mor- leção de saudáveis mais rigorosa.
bidades, dentre elas, hipertensão arterial sistêmi- A etnia é uma variável importante e de difícil
ca, diabetes melito, osteoporose, doença pulmonar justificativa. Fatores técnicos não explicam as dife-
obstrutiva crônica e câncer.45 Ou seja, a multimorbi- renças de função pulmonar encontradas entre as
dade é uma realidade em pessoas idosas. Esse é um etnias. Considera-se que a etnia afeta proporções
desafio: desenvolver equações para pessoas idosas. corporais. Uma explicação para tal fato, seria o ín-
Enright et al46 derivaram dados para uma dice Córmico, que é a relação da estatura medida
equação de regressão em adultos saudáveis com na posição sentada (altura troncoencefálica) e da
mais de 60 anos, que fumaram até 5 cigarros por medida na posição em pé. O volume pulmonar es-
dia. Foram 288 pessoas, sendo 82 abaixo dos 70 taria mais relacionado com a altura sentada do que
anos. Os dados encontrados demonstraram que o com a altura em pé (estatura). Isso acontece em
PFE era maior do que se previa em 10%. Parte des- até 53% dos afrodescentes e caucasianos ameri-
se achado foi atribuído à hipertensão arterial sis- canos.48
16 Pulmão RJ 2018;27(1):11-20
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Valores de Referências para a Espirometria
O gênero pode responder por até 30% da pulacional na medida em que determinam a inclu-
variação da função pulmonar, sendo usual a sepa- são ou exclusão de indivíduos.2,3
ração das equações de referência.49 No trabalho de O limite inferior para indivíduos com diferen-
Rufino et al41 houve uma diferença nos volumes de tes valores previstos não pode ser uma percenta-
até 31% nos gêneros. Os pulmões de homens adul- gem fixa. Os indivíduos de baixa estatura terão li-
tos têm uma menor relação peso-volume devido à mite inferior percentual menor, já que, ao longo da
menor proporção de colágeno. A força muscular é vida, e manteriam a distância da reta de regressão.
maior nos homens. As forças para expandir os pul- Outros estudos têm sugerido que o declínio da CVF
mões aliadas à menor retração elástica resultam em e VEF1 são proporcionais ao tamanho corporal.2,4,51
volumes maiores no gênero masculino. O maior ta- Devido a CVF e a VEF1 serem proporcionais à es-
manho dos pulmões no gênero masculino estende- tatura, o declínio seria proporcional à CVF ou ao
-se para todos os componentes, incluindo os sacos VEF1 por si só. Isto significa que a pessoa mais alta,
alveolares, os alvéolos e as vias aéreas.50 com maiores pulmões, teria declínio maior nos volu-
mes pulmonares e os indivíduos de menor estatura
Equações e limite inferior de referên- um declínio menor.2 O limite inferior de referência
cia é usualmente estabelecido englobando-se 95% dos
A escolha de uma determinada equação de indivíduos em torno da linha de regressão e excluin-
referência poderá resultar na caracterização ou não do-se 5% restantes. Isto coloca 5% da população
de determinado distúrbio ventilatório em certos in- fora da faixa de referência, o que é mais ou menos
divíduos. Se um indivíduo é testado longitudinal- válido, dependendo da prevalência de anormalida-
mente, pode-se considerar que apresentou declínio des prévias na população em que os testes serão
acentuado de função pulmonar por determinada aplicados.2,15 Outro método de análise dos limites de
equação e nenhuma por outra. Vários fatores po- referência seria pelo resíduo da regressão para es-
dem explicar a variação nas equações obtidas em tabelecimento do limite inferior tanto nas equações
populações semelhantes. Variação biológica pode lineares como na logarítmica. Esse método identi-
ser detectada se excede a variação do erro da me- fica os valores abaixo e acima da linha de regres-
dida.2 são e a dispersão em torno do valor médio. Com o
A escolha de um modelo de regressão rela- número encontrado de resíduo, múltipla pelo valor
ciona-se com determinado modelo de envelheci- considerado de 95% (1,645) de uma curva de dis-
mento. Habitualmente o envelhecimento pulmonar tribuição gaussiana fixa.2,15
é tido como linear simples, o que implica declínio
constante através da vida adulta, independente da Equação da Iniciativa Global de Fun-
estatura. A perda percentual de função pulmonar ção Pulmonar
será maior para pessoas de baixa estatura.2 A IGFP39 utilizou um novo modelo estatístico
A variabilidade da função pulmonar pode ser (LMS) que é a transformação de dados métricos em
dividida em intraindividual, interindividual e inter- paramétricos. Essa força tarefa da European Res-
população, dependendo do foco de interesse. Va- piratory Society derivou equações para valores de
riações intraindividuais podem se dever à postura, referência utilizando um banco de 160.000 pessoas
relação com alimentos, variação diurna ou circadia- de 33 países, em 72 laboratórios de função pulmo-
na, variação sazonal, a reatividade das vias aéreas nar. Pelos critérios de exclusão utilizados, um núme-
à temperatura e talvez a fatores endocrinológicos, ro expressivo ainda foi incluído 97.759 “saudáveis”
tais como aqueles que acompanham o ciclo mens- não-fumantes, de 2,5 a 95 anos de idade, com di-
trual. Todas as fontes de variação intraindividual po- ferentes etnias. Houve uma estranha definição de
dem causar também variação interindividual. Dife- etnia caucasiana, afroamericanos, norte asiático,
renças entre os indivíduos podem dever-se às suas sudeste asiático, latino-americana e oriundos da Ín-
características pessoais. Estas incluem idade, sexo, dia (indianos), polinésios e da Arábia. Não foi um
peso, altura, muscularidade, nível de atividade físi- estudo prospectivo, controlado na proposta meto-
ca, etnia, outras características genéticas e ainda dológica, e provavelmente teve um universo muito
experiências pregressas e atuais de saúde.2,4 diferente de controle de qualidade dos laboratórios
Dos fatores ambientais incluem ocupação, de função pulmonar. Fica muito difícil conseguir
poluição urbana e doméstica, local de residência uma homogeneização de dados num verdadeiro
(urbana ou rural) e estado socioeconômico. Todas “turbilhão” numérico. Deve-se considerar este tra-
as fontes de variação intra e interindividual já men- balho, mas como estatístico, do que um padrão a
cionadas podem também causar variação interpo- ser utilizado. Mas, apesar desses fatos contrários,
Pulmão RJ 2018;27(1):11-20 17
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Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Valores de Referências para a Espirometria
20 Pulmão RJ 2018;27(1):11-20
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
Artigo
Resumo
Os volumes pulmonares estáticos não são medidos pela espirometria e necessitam de métodos especiais.
São importantes na definição dos distúrbios ventilatórios em algumas doenças pulmonares, especialmente nas
doenças restritivas. Os métodos mais utilizados para medir tais volumes são a pletismografia de corpo inteiro, o
teste de diluição de gases com o hélio e o teste do washout do nitrogênio. Em todos esses métodos, medimos
diretamente a capacidade residual funcional. Neste capítulo faremos uma abordagem das técnicas, enfocando as
vantagens e desvantagens de cada uma.
Descritores: volumes pulmonares, pletismografia, testes de função respiratória, capacidade residual funcio-
nal.
Abstract
Static lung volumes are not measured by spirometry and require special methods. They are important to
define ventilatory disorders in some pulmonary diseases, especially in restrictive diseases. The most common me-
thods for measuring volumes are body plethysmography, helium gas dilution test and nitrogen washout test. In all,
the functional residual capacity is measured directly. This chapter will take an approach of techniques, focusing on
the advantages and disadvantages of each one.
Keywords: lung volumes, plethysmography, multiple and single breath nitrogen washout, functional residual
capacity
1. Pneumologista e Médica do Serviço de Pneumologia e Tisiologia, Hospital Universitário Pedro Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
2. Professor Adjunto de Pneumologia e Tisiologia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Endereço para correspondência: Boulevard 28 de Setembro, 77, Vila Isabel, 20551-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
Pulmão RJ 2018;27(1):21-32 21
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
monares estáticos é medir a CRF, que é o volume de gás - O equipamento deve estar ligado com um tempo
que permanece nos pulmões após uma expiração basal. de aquecimento adequado e estar calibrado devidamente.
O VGT refere-se à medida pletismográfica do gás intrato- - O equilíbrio térmico demora cerca de 30 a 60
rácico no momento da oclusão do fluxo aéreo, ou seja, segundos.
o VGT é o gás compressível dentro do tórax . Portanto,
2 - O paciente deve sentar-se confortavelmente na
a CRF medida pela pletismografia (CRFpletis) é o volume câmara e alcançar o bocal sem ter que flexionar ou esten-
de gás medido durante o fechamento do obturador, ou der o pescoço.
seja, a oclusão do fluxo aéreo no final da expiração. Des- - É importante orientar ao paciente que, preferi-
sa forma, mede-se a CRF e, por derivação matemática, velmente, não deve remover próteses.
mede-se o volume residual (VR) e a capacidade pulmonar - Alguns pacientes podem apresentar claustrofo-
total (CPT) .
3 bia no pletismógrafo (orientar).
A pletismografia de corpo inteiro é um método - A manobra deve ser demonstrada pelo técnico
de medida de volumes com uma técnica bem padroni- e depois praticada pelo paciente. Esse deve ser instruído
zada, usada também para medir capacidades e resistên- a colocar ambas as mãos contra as bochechas, evitando
cias pulmonares . A técnica é baseada no princípio da Lei
4 alterações de pressão na boca.
de Boyle-Mariotte: em condições isotérmicas, um volu- - Um clipe nasal deve ser usado.
me de gás varia em proporção inversa à pressão a que - Orientar sempre que o obturador será fechado
está submetido, sendo constante o produto de volume por segundos durante o teste, para que o paciente saiba
pela pressão de um gás 1,2,3
. Os pletismógrafos podem ser o que esperar.
classificados conforme os sensores de suas variáveis2: - Alguns pacientes podem apresentar claustrofo-
a) pletismógrafos de pressão variável, que são aqueles de bia no pletismógrafo; orientar sempre que o pletismó-
volume constante e pressão variável; são os mais usados; grafo pode ser aberto a qualquer momento se ele ficar
22 Pulmão RJ 2018;27(1):21-32
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
Pulmão RJ 2018;27(1):21-32 23
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
Vantagens da pletismografia
A pletismografia apresenta várias vantagens sobre
outros métodos de medição de volumes pulmonares. A
Figura 4. Registros pletismográficos normais e anormais. CRFpletis é menos afetada pela distribuição da ventilação e
as medições podem ser feitas de forma rápida. A princi-
A alteração do volume alveolar é medida indireta- pal vantagem é que todo o gás no tórax é medido3.
mente, observando-se a alteração recíproca no volume do Em pacientes com obstrução das vias aéreas o
pletismógrafo. O VGT pode ser obtido a partir da inclinação teste tem maior precisão na medida dos volumes pulmo-
do traçado3: nares. Além disso, as medidas da Raw; a condutância e
a resistência da via aérea específicas (sGaw e sRaw, res-
pectivamente) também podem ser avaliadas3. A principal
medida registrada é a sRaw, que é corrigida pelo volume
pulmonar.
A medida da CRF pela pletismografia é frequen-
Onde: VGT = volume de gás torácico; PB = pres- temente maior que a medida pela diluição de He ou pelo
são barométrica; VGT = declive da linha mostrada = TWN2, o que é observado em pacientes com enfisema e
; Pcaixa cal= fator de calibração do transdutor outras doenças com aprisionamento de ar; bem como na
de pressão da caixa; Pboca cal = fator de calibração do presença de uma distribuição irregular da ventilação3,5-8. A
transdutor de pressão da boca; K = fator de correção. razão da CRFpletis/CRFTWN2 ou CRFpletis/CRFHe pode ser usada
A resistência da via aérea (Raw) e a condutância como um índice de air trapping pulmonar. Em indivídu-
específica da via aérea (sGaw) também podem ser medi- os normais e em alguns pacientes com doença pulmonar
das simultaneamente durante a manobra de abertura do restritiva, esta relação é próxima de 1. Valores acima de
obturador. As frequências do panting para medir a Raw e 1 indicam volumes de gás detectáveis pelo pletismógrafo,
o VTG são discretamente diferentes. Medidas para a Raw mas que não são medidos pelas técnicas de diluição do
devem ser feitas com o paciente a 1.5–2.5 Hz (1.5–2.5 gás3. Isso por que o hélio não se equilibra totalmente com
ciclos/s), ou 90–150 respirações/min, enquanto o VTG o gás contido em regiões pulmonares mal ventiladas, logo
deve ser medido com o paciente a uma frequência de esse volume não é incluído para o cálculo da CPT9,10.
0,5 a 1 Hz3. Em pacientes com DPOC, a determinação da CPT
pela pletismografia somente é válida quando a frequência
do panting é baixa (<1 Hz), pois em frequências mais
elevadas a transmissão da pressão alveolar para a boca
24 Pulmão RJ 2018;27(1):21-32
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
pode ser incompleta e resultar em aumento da CPT por 5). Uma tangente é traçada a partir dessa curva, que é a
artefato .11
razão do V/Pcaixa3.
Na década de 1960, Tierney e Nadel estudaram
13 pacientes com enfisema e observaram que a média
de CRF foi cerca de 0,99 L mais elevada quando medida
por pletismografia do que pelo TWN2. De fato, a pletis-
mografia pode superestimar a CRF e a CPT nos pacientes
com doença obstrutiva grave, pois a alta resistência das
vias aéreas (Pboca com o obturador fechado) subestima as
alterações da pressão alveolar12. Pacientes com enfisema
bolhoso grave podem ter uma diferença na CPT de mais
de 1 L entre a CRFpletis e os métodos de diluição do gás.
Entretanto, nos casos de obstrução heterogênea ao fluxo
aéreo, como na DPOC ou na asma, a pletismografia de
corpo inteiro é o método com maior acurácia. Em uma
versão inicial da Official Statement of the European Res-
piratory Society on Lung Volumes and Forced Ventilatory
Flows recomendou: “A determinação pletismográfica do Figura 5. Medidas da capacidade residual funcional (CRF) com o obtu-
volume de gás torácico é o método de escolha em pa- rador fechado e a resistência da via aérea (Raw) com o obturador aberto
pela pletismografia15
cientes com limitação ao fluxo aéreo e aprisionamento aé-
reo”13, embora a revisão de 2005 dessa diretriz não faça
essa recomendação2. V é o fluxo na boca, e a Pcaixa é a pressão do ple-
tismógrafo.
Resistência e condutância da via Mudanças no V são traçadas contra variações de
aérea pressão no pletismógrafo, que são proporcionais às alte-
A medida da resistência é baseada na lei de Ohm. rações do volume alveolar.
A Raw é a diferença de pressão por unidade de fluxo, Para medir o VGT em associação com a Raw, inicial-
quando o gás flui para dentro ou para fora dos pulmões .5
mente o obturador na boca é fechado e, em ato contínuo
Se a Raw for medida pela pletismografia, a pressão alve- o paciente continua a respirar em panting com o obtura-
olar é estimada após oclusão do obturador, ao nível da dor aberto. Variações na Pcaixa são, então, plotadas contra
boca14. A Raw é a razão entre a diferença da PA e a Pboca a Pboca. Devido ao fato de não existir fluxo de ar dentro
pela variação de fluxo determinada na boca e é medido ou fora dos pulmões, a Pboca se iguala a PA. Uma segunda
em centímetros de água por litro por segundo (cmH2O/L/ tangente é medida a partir dessa curva. A tangente dessa
seg) .
3,5
linha é a PA/Pcaixa. A Raw é calculada pela razão dessas
O volume pulmonar no qual a Raw é medida é duas inclinações3:
determinado durante a manobra do obturador fechado
para calcular a VGT. No entanto, essa manobra pode ser
de difícil realização para alguns indivíduos, sobretudo em
crianças.
A Gaw é o fluxo gerado por unidade de queda de
pressão nas vias aéreas, isto é, o inverso da Raw (1/Raw) Onde: V = fluxo aéreo; PA= pressão alveolar; Pbox
e é medido em litros por segundo por centímetro de água = pressão do pletismógrafo; medida com o obturador
(L/seg/cmH2O). A sGaw é calculada pela razão da Gaw aberto e fechado; cal boca = fator de calibração para
sobre o volume pulmonar, que é o VGT calculada com transdutor da pressão na boca e o cal fluxo = fator de
o obturador fechado3. Então, temos a seguinte equação: calibração para o pneumotacógrafo.
sRaw = Raw x VGT O panting permite a medida da pressão alveolar,
pois essa respiração mantem a glote aberta. A sGwa deve
Técnica ser calculada separadamente para cada manobra da Raw
A Raw é medida pela razão da pressão alveolar porque o volume pulmonar no qual as medidas são feitas
(PA) sobre o fluxo aéreo (V). Para o gás fluir nos pulmões influencia a Raw e a Gaw (Quadro 2).
durante a inspiração, a PA deve cair abaixo da pressão at-
mosférica (pressão na boca). O paciente realiza o panting
na frequência de cerca de 1,5 a 2,5 respirações/s (1,5-2,5
Hz), o que produz uma curva de fluxo-pressão (Figura
Pulmão RJ 2018;27(1):21-32 25
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
Quadro 2 - Critérios de aceitabilidade para a técnica da medi- maturidade. No entanto, baseado no princípio fisiológico,
da da Raw e sGaw.
sabe-se que a espirometria não é sensível para avaliar
1. A curva fluxo-pressão deve ser fechada; estan- acometimento das pequenas vias aéreas e nem a distri-
do a pressão e fluxo dentro da faixa de calibração dos buição da ventilação. Com isso, há um aumento de inte-
seus transdutores. resse pela TWN2, em particular pela técnica da respiração
2. Estabelecer o equilíbrio térmico durante o re- múltipla, para a avaliação da função das pequenas vias
gistro. aéreas, isto é, distribuição de ventilação16.
3. A frequência do panting deve estar entre 1,5- Nessa revisão, enfocaremos o método do TWN2
2,5 Hz. e as suas técnicas para a obtenção da CRF, já que ele
4. Raw e a sGaw devem ser calculadas para cada mede diretamente a CRF, sendo necessária a medida da
manobra. CV. Para fins didáticos, apenas citaremos os outros parâ-
5. Uma media de três ou mais esforços devem ser metros avaliados pela TWN2, os quais estudam a distribui-
registrados; valores individuais devem estar dentro de ção da ventilação pulmonar com enfoque nas doenças de
10% da média. pequenas vias aéreas.
A heterogeneidade da ventilação alveolar pode
O valor normal da Raw em adultos saudáveis varia ser avaliada por técnicas que utilizam uma concentração
de 0,6 a 2,4 cmH2O/L/s, enquanto a Gaw de 0,42 e 1,67 de um determinado gás exalado durante manobras de
L/s/cm de H2O. A sGaw varia de forma similar a Gaw. É in- respiração única ou múltipla. O TWN2 utiliza o N2 como
teressante notar que a distribuição da Raw em indivíduos gás inerte e pode fornecer conhecimentos sobre os meca-
saudáveis ocorre da seguinte forma: a) nariz, boca e via nismos da distribuição da ventilação anormal e a localiza-
aérea superior = 50%; b) traqueia e brônquio = 50%; e ção da patologia16. A técnica da respiração única mede a
c) pequena via aérea (<2mm de diâmetro) = 20%. Isso mistura do gás durante uma única respiração; já a técnica
mostra que uma obstrução grave ocorrida na pequena da respiração múltipla, mede a eficiência da depuração do
via aérea pode aumentar pouco a Raw e reduzir pouco gás dentro dos pulmões. A escolha da técnica depende
a sGaw. A Raw está elevada em pacientes com enfisema de alguns fatores, como por exemplo, a população estu-
devido ao estreitamento e o colapso da via aérea, espe- dada8.
cialmente nos bronquíolos3. Esta técnica baseia-se na lavagem do N2 dos pul-
Ao se utilizar a pletismografia de corpo inteiro em mões, enquanto o paciente respira 100% de O2. A con-
combinação com a espirometria para avaliar a resposta centração inicial de N2 alveolar e a quantidade de N2 la-
broncodilatadora, pode-se observar que até 20% dos pa- vada podem então ser usadas para calcular o volume do
cientes demonstram uma resposta broncodilatadora po- pulmão no início da lavagem.
sitiva na sRaw e pouca resposta no VEF1. Não se sabe De acordo com a padronização da medição dos
o significado clínico dessa observação. Entretanto, esta volumes pulmonares, nenhum método único para a me-
abordagem pode ser útil no diagnóstico diferencial entre dição de CRF usando o TWN2 tem sido usado, devido as
a disfunção das cordas vocais e a obstrução brônquica variações existentes nos sistemas comerciais disponíveis
central ou mais periférica . 5
e à ausência de estudos comparando acurácia, reproduti-
bilidade e eficiência2.
Técnicas de washout do nitrogênio
(TWN2) Técnica da respiração única
A medida dos volumes pulmonares que permane- O TWN2 pela técnica de respiração única é um
ce nos pulmões após uma manobra de CV pode ser rea- método antigo que mede a distribuição da ventilação,
lizada indiretamente através de duas técnicas de diluição analisando a concentração do N2 durante a expiração da
de gases: a diluição do He e o método do TWN2. Ambos CV realizada com fluxo baixo (400 a 500 ml/s) após uma
requerem que o paciente respire concentrações de gases, única inspiração de O2 a 100%3,8. O teste visa estudar a
normalmente não presentes nos pulmões, tais como o hé- relação entre estrutura e a função pulmonar. O indivíduo
lio (He) e oxigênio (O2) a 100%. Os gases inertes devem expira até o VR e, em seguida, inspira O2 a 100% até a
ser seguros para serem inalados nas concentrações ne- CPT. O O2 a 100% dilui o N2 presente nos pulmões. Em
cessárias; não devem participar das trocas gasosas e nem seguida, sem prender a respiração, expira-se de forma
se dissolver significativamente no sangue ou em outros lenta e uniforme até o VR a um fluxo de 0,3 a 0,5 L/s.
tecidos. As opções incluem gases endógenos como o N2 . 16
A concentração de N2 exalada é medida através de um
A espirometria tem sido a técnica padrão para dispositivo analisador de N2 que se encontra na abertura
avaliar o grau de obstrução das vias aéreas na maioria das vias aéreas, enquanto o volume exalado é medido
das doenças pulmonares crônicas, incluindo fibrose císti- pelo espirômetro. O volume do ar expirado da CPT até
ca (FC), asma e doenças pulmonares relacionadas a pre- o VR é registrado no eixo horizontal de um gráfico e a
26 Pulmão RJ 2018;27(1):21-32
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
concentração do N2 expirado é registrada no eixo vertical de pequenas vias aéreas) como da complacência local
(Figura 3). Na maioria dos indivíduos, observa-se um au- (enfisema).
mento acentuado na concentração de N2 na última parte 3) Volume de fechamento (VF): É a porção da CV
da CV expirada. Este é o ponto correspondente ao início que é exalada após o início do fechamento das vias aére-
do fechamento das vias aéreas, a fase IV da curva. O as (do início da fase IV até o VR). O VF é relatado como
volume pulmonar no qual a fase IV se inicia é chamada percentagem da CV. O valor da normalidade é <20%,
de volume de fechamento (VF). Durante esta fase, ocor- mostrando que ele ocorre após exalar 80% a 90% da CV.
re oclusão completa das pequenas vias aéreas das bases Valores elevados podem ser vistos em idosos; portadores
pulmonares dependentes da gravidade. A capacidade de de doença obstrutiva incipiente; síndrome restritiva gra-
fechamento (CF), expressa como percentagem da CPT e ve, pois o volume da CRF é menor que o VF; e na insufi-
é a soma do VF e o VR3. A razão CF/CPT tem menos va- ciência cardíaca congestiva.
riações do que a razão CF/CV e ainda inclui o VR, que é Então, a uniformidade da distribuição é avaliada
variável nas doenças obstrutivas e, portanto, a razão CF/ por dois parâmetros: a mudança na percentagem de N2
CPT é uma medida mais confiável. entre a porção de 750-1250 mL e o slope da fase III do
A variação dos valores absolutos da CV pode ocor- traçado expiratório, ambos registrados em percentual3.
rer por: alterações no volume pulmonar que ocorre du- A CV no slope da fase III do TWN2 é influenciado em
rante o fechamento das vias aéreas; variações no volume grande parte pelas diferenças inter-regionais gravitacio-
pulmonar expirado devido ao enchimento ou esvaziamen- nais e não-gravitacionais na distribuição de gases e no
to incompleto dos pulmões e também a dificuldades na fechamento das vias aéreas durante a fase inspiratória7
detecção do início da fase IV. Portanto, a continuidade do (Figura 6).
ar expirado aumenta a concentração de N2, pois vem das
regiões superiores dos pulmões, onde a concentração de
N2 é maior. Normalmente, o fechamento de pequenas vias
aéreas ocorre em volume pulmonar baixo (próximo ao
VR) durante a expiração. O fechamento expiratório preco-
ce das pequenas vias aéreas em volume pulmonar maior
resulta em aprisionamento aéreo.
As fases observadas pela curva do washout de N2
pela técnica da respiração única são as seguintes: fase I:
gás das vias aéreas superiores do espaço morto anatômi-
co, constituído por 100% de O2; fase II: gás do espaço
Figura 6. Fases registradas durante a manobra de respiração única
morto misto no qual as concentrações de O2 e N2 mudam para o cálculo da distribuição do gás. VF = volume de fechamento; CF
abruptamente à medida que o volume do espaço morto = capacidade de fechamento; CPT = capacidade pulmonar total; VR =
volume residual.
anatômico é expirado; fase III: um platô causado pelo
gás alveolar exalado, no qual concentrações de O2 e N2 O volume da fase IV é influenciado pelo fluxo ex-
mudam lenta e uniformemente; e fase IV: um aumento piratório, enquanto o slope da fase III depende do fluxo
abrupto na concentração do N2 que continua até atingir inspiratório. A dificuldade de controlar o fluxo expiratório
o VR. dentro de limites aceitáveis é possivelmente a principal
Os parâmetros da fisiopatologia derivados da causa de imprecisão nas medidas da CV3,16.
TWN2 pela respiração única são :3,8
O volume expirado após o início da fase IV é o VF,
1) Δ%N2 750-1250: É a diferença na concentração que é relatado como a percentagem da CV:
do N2 entre 750 ml e 1250 ml do gás expirado. O volume
expirado inicial de 750 ml contém gás de espaço morto
das fases I e II e não é usado na avaliação da distribui-
ção da ventilação. Em adultos saudáveis o valor normal
é ≤1,5%; em idosos chega até 3%. Valores aumentados CF é relatada como a percentagem da CPT:
podem sem vistos em doenças como asma, DPOC e FC.
2) Slope da fase III: É a alteração na concentração
de N2 entre 25% e 75% do volume expirado. É relatada
como %Δ N2 por litro de volume pulmonar. Em adultos
saudáveis o valor normal varia entre 0,5% a 1,5% N2/L de
volume pulmonar. Valores elevados indicam heterogenei- A CPT pode ser determinada pela técnica da respi-
dade na ventilação e refletem diferenças nas constantes ração única pela integração da área da curva do washout.
de tempo, que dependem da resistência local (doenças Sendo o volume de N2 conhecido, a equação de diluição
Pulmão RJ 2018;27(1):21-32 27
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
pode ser usada para calcular o VR: devido a melhorias nas técnicas com protocolos simples e
pela maior sensibilidade em algumas doenças comparan-
do-se com a espirometria16.
O teste é bastante atraente, sobretudo para a po-
pulação pediátrica, pois não utiliza esforço máximo duran-
te a respiração e utiliza volume corrente fixo (geralmente
Onde: FEN2 = média da concentração de N2 expi- 1l em adultos), sendo viável em todas as faixas etárias.
rada medida pela integração da área sob a curva, e FAN2 Apesar disso, ainda não tem o seu uso clínico difundido
= concentração de N2 nos pulmões no começo da inspi- e ainda são necessários trabalhos mais consistentes para
ração (Quadro 3). dirimir algumas questões16.
A CRF pode ser medida diretamente com a TWN2
Quadro 3 - Critérios para aceitabilidade do TWN2 com a técnica
pela respiração múltipla em circuito aberto e é baseada
da respiração única.
no washout do N2 dos pulmões quando o paciente res-
1. A CV inspirada e expirada deve estar dentro de pira O2 a 100% por vários minutos. No início do exame,
5% ou 200 mL a concentração do N2 nos pulmões é de cerca de 80%.
2. Durante a técnica da respiração única a CV deve Com a técnica de respirações múltiplas, o N2 dentro dos
estar dentro de 200 mL da CV previamente determinada pulmões é gradualmente lavado e o volume total expirado
3. O fluxo expiratório deve ser mantido entre 0,3 é medido. O teste é mantido até que a concentração de
e 0,5 L/s N2 alveolar seja de aproximadamente 1%.
4. O traçado de N2 deve mostrar oscilações car- Então, CRF é medida através da seguinte equa-
díacas mínimas ção3:
28 Pulmão RJ 2018;27(1):21-32
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
é derivada da razão entre o volume expirado cumulativo fuga aérea, mantendo a boca acoplada adequadamente
(VEC) do gás inerte e a diferença entre as concentrações ao bocal, pois isso poderia superestimar o volume pul-
do gás no final da expiração, medidos no início e no final monar. A fuga pode ocorrer no circuito ou nas válvulas
do washout. Os critérios de aceitabilidade do teste são respiratórias.
mostrados no Quadro 4.
de múltiplas respirações.
Pulmão RJ 2018;27(1):21-32 29
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
conforme expresso pela CVF ou pela melhora do volume ratória (mecânica pulmonar) e o escore de enfisema me-
de fechamento . 21
dido pela tomografia computadorizada de alta resolução
O slope da fase III pela técnica da respiração úni- (TCAR)25. Em um estudo com 31 pacientes com DPOC,
ca tem sido usada para estudar as pequenas vias aéreas Lopes et al mostraram correlações significativas entre a
em várias situações, tais como: pacientes com controle distância da caminhada em 6 minutos (DC6M) e o slope
inadequado da asma; uso de diferentes formulações de da fase III26. Farah et al. utilizando a técnica da respiração
esteroides inalados na asma; em fumantes com DPOC, múltipla, observaram que a heterogeneidade da ventila-
em enfisema com deficiência de alfa1-antitripsina e para ção prediz respostas sintomáticas à titulação da dose de
predizer a síndrome de bronquiolite obliterante em pa- ICS27.
cientes transplantados pulmonares . 22
30 Pulmão RJ 2018;27(1):21-32
Bessa EJC, Lopes AJ Métodos de medidas dos volumes pulmonares: técnicas
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Pulmão RJ 2018;27(1):21-32 31
32 Pulmão RJ 2018;27(1):21-32
Azevedo KRS, Santos MIV Medidas dos volumes pulmonares e estratégias de interpretação
Artigo
Resumo
A medida dos volumes pulmonares estáticos traz informações adicionais importantes na análise funcional de
alguns pacientes. Em geral ela é feita de forma complementar após a espirometria, em casos selecionados. Iremos
abordar os determinantes dos volumes estáticos, a saber: capacidade residual funcional, volume residual e capaci-
dade pulmonar total, e as estratégias de interpretação das suas alterações nas diferentes patologias.
Descritores: volumes pulmonares, testes de função pulmonar, restrição, aprisionamento aéreo, hiperinsufla-
ção pulmonar.
Abstract
Measurement of static lung volumes brings important additional information on functional analysis in some
patients. In general, it is complement after the spirometry in selected cases. We will discuss the determinants of
static volumes, namely: residual function capacity, residual volume and total lung capacity, and the strategies of
interpretation of your changes in the different pathologies.
Keywords: lung volumes, pulmonary function tests, restriction, air trapping, pulmonary hyperinflation.
1. Doutora em Clínica Medica pela UFRJ. Pneumologista do Laboratório de Fisiopatologia do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (IDT/UFRJ), Brasil.
2. Pneumologista do Laboratório de Fisiopatologia do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IDT/UFRJ), Brasil.
Endereço para correspondência: Praia do Flamengo, 350, apto. 103, Flamengo, 22210-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
Pulmão RJ 2018;27(1):33-38 33
Azevedo KRS, Santos MIV Medidas dos volumes pulmonares e estratégias de interpretação
34 Pulmão RJ 2018;27(1):33-38
Azevedo KRS, Santos MIV Medidas dos volumes pulmonares e estratégias de interpretação
Para a elucidação diagnóstica, a medida dos vo- parâmetros é necessário um valor confiável de CV e dos
lumes estáticos pode ser útil quando se suspeita de asma seus sub-volumes (VRE e CI).
brônquica e a espirometria se encontra normal ou de- Existem duas maneiras de se calcular os valores
monstra obstrução com RBD negativa. Nesses casos, essa de VR e CPT a partir de valores medidos de CRF e CV. O
medida pode caracterizar a presença de aprisionamen- método mais indicado é a medida do VRE imediatamente
to aéreo, com RBD positiva ou até mesmo normalização após a medida da CRF seguida de uma CV inspiratória (CV
do VR e da relação VR/CPT. Nessa situação, a medida iniciada pela expiração forçada seguida de uma inspiração
dos volumes estáticos pode ser bastante esclarecedora, forçada). A partir daí calcula-se o VR pela diminuição da
principalmente quando associada a medida de resistên- CRF menos o VRE (valor médio a partir de 2 medidas
cia de vias aéreas (RVA) pré e pós broncodilatador . Um 9
reprodutíveis de CV). O valor da CPT será a soma do VR
dos determinantes da CPT é a complacência pulmonar, com o maior valor de capacidade vital inspiratória (CVI).
que quando aumentada eleva o valor da CPT, alteração A segunda maneira é a realização da CI após a medida da
típica do enfisema pulmonar. Eventualmente na asma gra- CRF, que somada a CRF será o valor da CPT. O valor da
ve, principalmente quando descompensada, pode ocorrer CPT será a média das 2 maiores somas de CRF e CI (vin-
também aumento da complacência pulmonar10. A medida culadas às duas manobras reprodutíveis de CV). O cálculo
da capacidade de difusão pode ajudar em caso de diag- do VR será o resultado da CPT menos a maior medida de
nóstico diferencial, sendo reduzida no enfisema e normal CV. Esse método pode ser necessário em pacientes com
ou aumentada na asma. obstrução ou dispneia grave, que não consigam realizar a
A análise dos VE também é importante na indica- manobra de VRE imediatamente após a medida da CRF.
ção de tratamentos invasivos do enfisema, como na cirur- Nesse caso a CI e a CV podem ser realizadas após a me-
gia redutora de volume pulmonar e na colocação de vál- dida da CRF, podendo a peça bucal ser retirada entre as
vulas endobrônquicas via endoscópica (CPT >100% e VR manobras. As manobras de CV nesse caso podem ser ini-
>175%T, medidos por pletismografia de corpo inteiro)11. ciadas pela expiração (capacidade vital inspiratória: CVI)
Critérios para classificação da gravidade do distúr- ou pela inspiração (capacidade vital expiratória: CVE),
bio restritivo ou da hiperinsuflação e do aprisionamen- utilizando-se o maior valor de CV obtido. Não existem
to aéreo pelos volumes, não foram definidos pelo último pontos de corte estabelecidos para definir valores repro-
consenso conjunto da Americam Thoracic Society (ATS) e dutíveis de VRE ou de CI1.
European Respiratory Society (ERS) de 2005. Ele sugere Voltamos a salientar que é necessário manobras
a estratificação dos distúrbios, sejam restritivos, obstru- corretas de CV e valores reprodutíveis de VRE ou de CI
tivos ou mistos, pelo valor de VEF1 em %T, entendendo para o cálculo da CPT e do VR. Em pacientes com obstru-
ser esse parâmetro de fácil acesso e excelente reprodu- ção significativa as manobras começando pela expiração
tibilidade. Sugerimos, no entanto, que utilizemos o valor (CVI) parecem fornecer valor superior de VRE, enquan-
da CPT para classificar o grau de restrição, assim como a to as manobras iniciadas pela inspiração (CVE) parecem
relação VR/CPT para grau de aprisionamento aéreo, con- gerar um maior valor de VR, justificando a preferência
forme a Tabela 1. a manobra de CV iniciada pela expiração (metodologia
mais indicada). A escolha do equipamento deve incluir a
Tabela 1. Critérios de classificação de restrição e de aprisionamento
aéreo (AA) possibilidade de configurar as medidas conforme as reco-
mendações acima.
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Azevedo KRS, Santos MIV Medidas dos volumes pulmonares e estratégias de interpretação
36 Pulmão RJ 2018;27(1):33-38
Azevedo KRS, Santos MIV Medidas dos volumes pulmonares e estratégias de interpretação
mento da complacência
pulmonar leva a um au-
mento do volume pulmonar total, demonstrado pela CPT,
O AA, assim com a HD, ocorre também em asmá-
e o termo aprisionamento aéreo pelo aumento do VR e da
ticos, não só na asma grave, mas também nos casos de
Pulmão RJ 2018;27(1):33-38 37
Azevedo KRS, Santos MIV Medidas dos volumes pulmonares e estratégias de interpretação
pacientes com obstrução persistente. Outros mecanismos como teóricos publicados de diferentes origens, mas não
adicionais contribuem para a HD. A expiração muito lenta recomenda nenhum teórico específico para os volumes
ativa os centros respiratórios a deflagrar nova inspiração pulmonares. A ATS num documento recente (2017), com
antes do ponto de equilíbrio entre as forças do sistema recomendações para padronização dos laudos dos testes
(CRF), assim como o aumento da RVA ativa a musculatura de função pulmonar, afirma que uma grande compilação
inspiratória durante a expiração . 7,8
internacional de dados está em andamento para a formu-
Aumento de CPT e de VR com VR/CPT normal lação de um novo teórico, visto haver uma grande diver-
pode acontecer em pessoas normais e na acromegalia . 12
gência entre os valores de referência disponíveis29.
Valores teóricos
O consenso da ATS/ERS de 20053 cita os teóricos
mais usados nos Estados Unidos e na Europa27,28, assim
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38 Pulmão RJ 2018;27(1):33-38
Santos MIV, Azevedo KRS Medida da capacidade de difusão: técnicas
Artigo
Resumo
A medida da capacidade de difusão traz informações adicionais importantes na avaliação de trocas gasosas
em diversas doenças pulmonares. Neste capitulo iremos descrever a técnica de respiração única (DLCOsb), com
ênfase na mais moderna, que utiliza analisadores rápidos (RGA), presente nos modelos mais novos de equipamen-
tos de função pulmonar.
Abstract
The measurement of diffusing capacity brings important additional information in the evaluation of gas
exchange in several pulmonary diseases. In this chapter we will describe the single breath technique (DLCOsb),
with an emphasis on the most modern, which uses fast analyzers (RGA), present in newer models of pulmonary
function equipment.
1. Pneumologista do Laboratório de Fisiopatologia do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IDT/UFRJ), Brasil.
2. Doutora em Clínica Medica pela UFRJ. Pneumologista do Laboratório de Fisiopatologia do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (IDT/UFRJ), Brasil.
Endereço para correspondência: Rua Marquês de Olinda 64, apto. 304, bloco A, Botafogo, 22251-40, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
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Santos MIV, Azevedo KRS Medida da capacidade de difusão: técnicas
40 Pulmão RJ 2018;27(1):39-44
Santos MIV, Azevedo KRS Medida da capacidade de difusão: técnicas
que 200 ml. é uma das grandes vantagens da técnica RGA, que usan-
do um volume real de espaço morto gera valores mais
6. Etapas do teste: confiáveis de DLCO, ao contrário da técnica clássica que
• Condição do paciente: fatores que afetam o Vc utiliza um volume de EM fixo pré-determinado.
(exercício, posição do corpo, afinidade da hemoglobina Em relação ao VA, na técnica clássica, o volume de
pelo CO e nível de carboxihemoglobina) devem ser pa- gás coletado deve ser de 500 a 1000 ml. Por este motivo,
dronizados. Os pacientes que usam oxigênio suplementar o teste só pode ser realizado em pacientes com CV lenta
devem suspendê-lo 10 minutos antes do exame. O taba- maior que 1,3 L, limitando o seu uso nos pacientes com
gismo deve ser suspenso no dia do exame, por causa da restrição acentuada. Na técnica RGA faz-se uma medida
interferência da carboxihemoglobina na medida. O valor contínua e coleta-se uma amostra virtual em geral de 200
da hemoglobina deve ser inserido no programa para a ml, porém estes analisadores aceitam valores tão baixos
correção da capacidade de difusão pulmonar (DLCO adj). como 85 ml de amostra, outra vantagem da RGA. Em am-
Na ausência de história recente de sangramento, aceita- bas as técnicas, é recomendado o uso da metodologia de
-se uma hemoglobina coletada até 10 dias antes do exa- Jones-Meade para o cálculo do tempo de apneia6.
me. Para melhor entendimento da manobra da DLCO,
• Manobra inspiratória: iniciar o exame, respiran- igual em ambas as técnicas, veja a Figura 1. No gráfico
do calmamente, até o volume corrente ficar estável. Fazer da medida da DLCO com sistema RGA aparece a curva
uma expiração não forçada até o volume residual (VR). de estabilização do metano, como demostrado na Figura
No paciente obstrutivo, a manobra de expiração é mais 2, momento em que se determina o término do EM e o
prolongada, mas não deve exceder 12s. A seguir, o pa- início do VA.
ciente inala rapidamente (tempo inspiratório máximo de
4s) até a capacidade pulmonar total (CPT). Um volume
inspirado (VI) submáximo pode afetar a DLCO. O VI deve
ser, no mínimo, 90% da capacidade vital (CV). Um VI de
85% pode ser aceito, desde que o VA desta medida esteja
dentro de 200 ml ou 5% (o que for maior) do maior VA
obtido nas manobras aceitáveis. Um tempo inspiratório
prolongado irá reduzir o tempo de apneia inspiratória, re-
duzindo a DLCO.
• Apneia inspiratória e manobra expiratória: a ap-
neia inspiratória deve ser de 10 ± 2s. Tanto a técnica de
Ogilvie5 (do início da inspiração até o início da coleta do
gás alveolar) quanto a de Jones-Meade6 (início após 30%
Figura 1. Gráfico da manobra da DLCO.
do gás inalado até a coleta de 50% da amostra alveolar)
podem ser usados para a apneia inspiratória. A técnica de
Jones-Meade é a mais usada. Durante a apneia inspira-
tória, as manobras de Valsalva e Muller afetam a DLCO,
por afetar o volume sanguíneo. A manobra de Valsalva
reduz a DLCO e a de Muller aumenta7. Na técnica clássica
a expiração deve ser suave, não forçada e sem hesitação
ou interrupção, não podendo exceder 4s. Na RGA, a expi-
ração deve ser continua até o VR, com um tempo máximo
de até 12s, o que torna as medidas de VA nesta técnica
mais confiáveis em pacientes com doença pulmonar obs-
trutiva crônica (DPOC). Figura 2. Gráfico da manobra da DLCO na técnica com analisadores
• Espaço morto e coleta alveolar: Durante a ma- rápidos (RGA). Gás traçador: metano. Figura retirada do consenso ATS/
ERS3.
nobra expiratória o valor do espaço morto anatômico e do
equipamento deve ser conhecido. A coleta do gás alveo-
lar antes da eliminação completa do espaço morto (EM) Estudos comparando as técnicas usando como gás
irá reduzir a DLCO, enquanto que a coleta tardia irá au- traçador o hélio (He) ou o metano (CH4) em normais e
mentar. Na técnica clássica o volume de EM deve ser de em pacientes com DPOC não mostraram diferenças clíni-
0,75ml a 1L. Quando a CV for < 2L, ele deve ser reduzido cas nas medidas da DLCO8.
para 0,5L. Na RGA, o sistema identifica o término do es-
paço morto e o início da amostra de volume alveolar. Essa
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44 Pulmão RJ 2018;27(1):39-44
Azevedo KRS Medida da capacidade de difusão: estratégias de interpretação
Artigo
Resumo
A medida da capacidade de difusão traz informações adicionais importantes na análise funcional de alguns
pacientes. Em geral ela deve ser feita de rotina após a espirometria em pacientes com doenças pulmonares inters-
ticiais, mas também é útil em outras situações. Iremos abordar as indicações e discutir a interpretação dos seus
resultados nas diferentes patologias.
Descritores: capacidade de difusão, testes de função pulmonar, doença pulmonar intersticial, enfisema.
Abstract
The measurement of diffusing capacity brings important additional information on functional analysis in
some patients. In general, it should made after routine spirometry in patients with interstitial lung disease, but it
also useful in others situations. We will address the indications and discuss the interpretation of their results in the
different pathologies.
Keywords: diffusion capacity, pulmonary function tests, interstitial lung disease, emphysema.
1. Doutora em Clínica Medica pela UFRJ. Pneumologista do Laboratório de Fisiopatologia do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (IDT/UFRJ), Brasil.
Endereço para correspondência: Praia do Flamengo, 350, apto. 103, Flamengo, 22210-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
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Azevedo KRS Medida da capacidade de difusão: estratégias de interpretação
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Azevedo KRS Medida da capacidade de difusão: estratégias de interpretação
diferença alvéolo-arterial de O2. Na avalição longitudinal a com dispneia significativa e alterações obstrutivas discre-
queda da DLCO também se correlaciona com sobrevida, tas11,12.
porém de forma menos expressiva. Uma variação ≥15%
no valor absoluto entre 2 medidas deve ser considera- • Doenças vasculares
da significativa. Nesse grupo de patologias (DPI) o ideal Todas as doenças que comprometem o continen-
é uma avaliação conjunta, com outros testes funcionais, te vascular de forma significativa reduzem a medida da
inclusive o teste de caminhada de 6 minutos, e também DLCO por diminuição da área funcionante de troca, seja
com a avalição de extensão da doença e da presença de na doença vascular primária, na doença tromboembólica
fibrose através da tomografia computadorizada (TC)4,7. ou até mesmo na redução por vasoconstricção reflexa nas
Um valor de DLCO <40%T ou declínio ≥15% num pe- doenças pulmonares crônicas com hipoxemia5.
ríodo de 6 meses de acompanhamento, são importantes A hipertensão arterial pulmonar (HAP) é a princi-
critérios para indicação de transplante pulmonar na FPI . 8
pal patologia desse grupo. Farha et al. analisaram mais
Outras doenças pulmonares intersticiais, como profundamente essas alterações comparando as medidas
sarcoidose e pneumonia de hipersensibilidade crônica, re- em 28 pacientes com HAP e em 41 pacientes saudáveis.
duzem a medida da DLCO, porém em menor intensidade. Analisou os 2 componentes, a capacidade de difusão da
Na primeira, pelo maior comprometimento do interstício membrana (Dm) e o volume sanguíneo capilar pulmonar
axial e, na segunda, pelo comprometimento sobretudo (Vc), e demonstrou que ambos são responsáveis pela re-
dos bronquíolos . Nos pacientes com colagenoses e DPI,
9
dução da DLCO na HAP13.
a maior redução ocorre na esclerose sistêmica, decorren-
te do comprometimento do parênquima pulmonar e/ou 2. Esclarecimento diagnóstico:
pelo envolvimento vascular10. Existem várias situações clínicas em que a DLCO
Nos casos de restrição pulmonar decorrente de le- se altera, e sua análise ajuda na definição diagnóstica.
sões residuais ou ressecção, assim como na restrição ex- Segue alguns exemplos:
trapulmonar, como na cifoescoliose e nas doenças neuro- • Espirometria normal com DLCO baixa: doença
musculares, ocorre redução da DLCO, porém com relação intersticial e enfisema precoces ou doença vascular. Tam-
DLCO/VA normal, por ser a redução da DLCO secundária bém pode ocorrer na insuficiência cardíaca congestiva
a perda de volume pulmomar5. (ICC).
Em relação às doenças ocupacionais, a redução da • Espirometria normal com DLCO elevada: he-
DLCO ocorre precocemente na asbestose, podendo pre- morragia pulmonar e obesidade. Pode ocorrer no shunt
ceder as alterações na radiologia de tórax. Na silicose, é esquerdo-direito e nos defeitos de septo atrial.
frequente a associação do tabagismo e, portanto, a redu- • Distúrbio restritivo com DLCO baixa: DPI e FPI.
ção da DLCO pode estar associada não só a DPI, como • Distúrbio restritivo com DLCO baixa, porém com
também a presença de enfisema. DLCO/VA normal: cifoescoliose, doença neuromuscular e
ressecção pulmonar.
• Doenças obstrutivas • Distúrbio obstrutivo com DLCO baixa: enfisema,
A principal patologia obstrutiva que reduz a me- doenças císticas tais como linfangioleiomiomatose e his-
dida da DLCO é o enfisema, por perda de área alveolar tiocitose de células de Langerhans.
e vascular de troca gasosa. Nos pacientes com doença • Distúrbio obstrutivo com DLCO elevada: asma
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), porém, com predo- não controlada ou asma e obesidade.
minância do fenótipo exacerbador, na asma e também • Distúrbio ventilatório misto (obstrução e redução
nos pacientes jovens e não fumantes com doença bolho- da CPT) com DLCO baixa: tuberculose residual, sarcoido-
sa, a medida da DLCO costuma ser normal. Dessa forma, se, paracocidioidomicose e pneumoconiose.
em pacientes portadores de asma brônquica, fumantes Devemos lembrar que doenças podem se super-
e com disfunção significativa na espirometria, é aconse- por, como DPI e DPOC, assim como ressecção pulmonar
lhável a complementação com a medida da difusão para em pacientes fumantes, de forma que essa lista é apenas
melhor definição do caso. No caso da asma, em situação uma forma didática de ajudar no diagnóstico funcional
de descompensação, a medida pode estar aumentada por das diferentes patologias pulmonares.
hiperfluxo ventilatório e vascular .
5
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Azevedo KRS Medida da capacidade de difusão: estratégias de interpretação
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50 Pulmão RJ 2018;27(1):45-50
Faria ACD, Lopes AJ, Melo PL Técnica de oscilações forçadas na prática clínica: atuais aplicações e potenciais futuros
Artigo
Resumo
Desenvolvida em 1956, a Técnica de Oscilações Forçadas (FOT de Forced Oscillation Technique) precisou
aguardar um maior desenvolvimento tecnológico, que ocorreu entre as décadas de 1960 e 1970, para que as pes-
quisas com ela começassem a fazer parte do cotidiano científico. Devido ao fato de requerer apenas cooperação
passiva dos voluntários e fornecer novos parâmetros para avaliação do sistema respiratório, a evolução em número
de publicações sobre a técnica nos últimos anos tem sido expressiva, chegando a aproximadamente 200 artigos
entre 2014 e 2018 (ainda não encerrado).
Apesar de atualmente a FOT ser conhecida como um método útil para os estudos sobre a fisiopatologia de
doenças respiratórias, apresentar elevado potencial para uso diagnóstico e ser considerada como estado da arte
em termos de avaliação respiratória, o nível de conhecimento entre os profissionais da área da saúde ainda é baixo.
Neste contexto, o presente trabalho apresentará uma breve revisão sobre novas aplicações e formas de análise da
FOT, principalmente relacionadas às análises de Complexidade do Sistema Respiratório e dos Modelos de Ordem
Fracional. As perspectivas são de que as aplicações da FOT permitirão na prática clínica uma análise mais detalhada
das alterações decorrentes de doenças respiratórias, melhorando os processos de diagnóstico, monitoramento e
prognóstico das mesmas.
Descritores: respiratory mechanics, complexity, model of fractional order, respiratory diseases, respiratory
pathophysiology, forced oscillations
Abstract
Developed in 1956, the Forced Oscillation Technique (FOT) needed to wait for a greater technological de-
velopment, which took place between the 1960s and 1970s, so that research with it began to be part of scientific
everyday life. Due to fact of requiring only passive cooperation of the volunteers and providing new parameters
for evaluation of the respiratory system, the evolution in the number of publications on the technique in recent
years has been expressive, reaching approximately 200 articles between 2014 and 2018 (not yet closed). Although
FOT is currently known as a useful method for studies on the pathophysiology of respiratory diseases, presents a
high potential for diagnostic use and is considered as state of the art in terms of respiratory evaluation, the level
of knowledge among health professionals is still low. In this context, the present work will present a brief review
on new applications and forms of analysis of FOT, mainly related to the analysis of Complexity of the Respiratory
System and Models of Fractional Order. The prospects are that the FOT applications will allow in clinical practice a
more detailed analysis of the alterations due to respiratory diseases, improving the diagnostic processes, monitoring
and prognosis of the same ones
Keywords: mecânica respiratória, complexidade, modelo de ordem fracional, doenças respiratórias, fisiopa-
tologia respiratória, oscilações forçadas
1. Laboratório de Instrumentação Biomédica, Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes e Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2. Faculdade de Ciências Médicas, Laboratório de Prova de Função Respiratória, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3. Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação, Centro Universitário Augusto Motta, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4. Laboratório de Pesquisa BioVasc, Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Endereço para correspondência: Pedro Lopes de Melo. Rua São Francisco Xavier, 524, sala 104, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Maracanã, 20550-013, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
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Faria ACD, Lopes AJ, Melo PL Técnica de oscilações forçadas na prática clínica: atuais aplicações e potenciais futuros
Atuais aplicações
Os exames de FOT podem ser efetuados através
do emprego de oscilações de uma única frequência, de-
nominando-se assim como FOT monofrequência ou, ain-
da, com mais do que uma frequência, que é chamada de
Figura 1. Artigos sobre a Técnica de Oscilações Forçadas, publicados no
Pubmed até agosto de 2018.
FOT multifrequência. Cada uma destas formas apresenta
suas vantagens e desvantagens metodológicas, além de
52 Pulmão RJ 2018;27(1):51-56
Faria ACD, Lopes AJ, Melo PL Técnica de oscilações forçadas na prática clínica: atuais aplicações e potenciais futuros
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Faria ACD, Lopes AJ, Melo PL Técnica de oscilações forçadas na prática clínica: atuais aplicações e potenciais futuros
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Figura 8. Análise comparativa dos parâmetros obtidos no Modelo FrOr no grupo controle, em indivíduos tabagistas e nos pacien-
tes com DPOC: Inertância (L; A) e Coeficiente beta (β; B).
ocorrem nas doenças respiratórias8. Recentemente, es- A habilidade da FOT em obter informações deta-
ses novos parâmetros contribuíram para um aumento na lhadas sobre a mecânica respiratória por meio de um exa-
exatidão diagnóstica em pacientes com asma leve8, em me de execução simples e não invasivo torna esta técnica
adultos com fibrose cística 32
e em pacientes silicóticos . 33
potencialmente útil para uso clínico, complementando
Destacamos abaixo os resultados com indivíduos tabagis- os exames tradicionais de função pulmonar. No entan-
tas e pacientes com DPOC (Figura 8). to, embora o interesse neste método esteja aumentando,
a FOT ainda é essencialmente utilizada em ambiente de
Considerações finais e perspectivas pesquisa. Comparando com a espirometria, proposta em
futuras 1846, existe uma estreita semelhança entre a atual eta-
É importante ressaltar que todos os trabalhos e pa de desenvolvimento da FOT e os passos inicialmente
resultados apresentados nesta revisão se referem à meto- percorridos ao longo do processo de desenvolvimento e
dologia de FOT, estudada e aperfeiçoada longamente por popularização da espirometria.
nosso grupo de pesquisa e por outros grupos. Estes resul-
tados não se estendem à metodologia da oscilometria de
impulso, que uma técnica mais recente e que apresenta
resultados e métodos de análise diferentes34.
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Azevedo KRS, Silva KM Teste de Caminhada de 6 minutos: técnica e interpretação
Artigo
Resumo
O teste de caminhada de 6 minutos vem sendo cada vez mais utilizado pela sua simplicidade e boa correla-
ção com a dispneia de esforço, apresentado pelos pacientes com doenças pulmonares crônicas, nas suas atividades
diárias. As alterações encontradas no teste têm mostrado boa correlação com as descritas na ergoespirometria,
sendo este um teste de maior custo e complexidade, e pouco acessível no nosso meio. Iremos abordar neste capí-
tulo aspectos técnicos e estratégias de interpretação nas diferentes patologias.
Descritores: teste de caminhada de 6 minutos, testes de função pulmonar, dispneia, doença pulmonar crô-
nica.
Abstract
The 6-minute walk test is being increasingly used by your simplicity and good correlation with the dyspnea
of exertion by patients with chronic pulmonary disease, in their daily activities. The changes found in this test have
shown good correlation with those found in exercise test, which is more costly and complex, and less accessible in
our midst. In this chapter we cover technical aspects and strategies of interpretation in the different pathologies.
Keywords: 6-minute walk test, pulmonary function tests, dyspnea, chronic lung disease.
1. Doutora em Clínica Medica pela UFRJ. Pneumologista do Laboratório de Fisiopatologia do Instituto de Doenças do Tórax da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (IDT/UFRJ), Brasil.
2. Fisioterapeuta Coordenadora do Laboratório de Reabilitação Pulmonar e Pesquisa da Disciplina de Pneumologia da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Endereço para correspondência: Endereço para correspondência: Praia do Flamengo, 350, apto. 103, Flamengo, 22210-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Email: [email protected]
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mente antes do início da pista, quando serão aferidas as caráter progressivo, leva insuficiência respiratória e mor-
variáveis pré-teste. O paciente será orientado a caminhar te, com uma sobrevida média de 2 a 4 anos5. No grupo
o máximo que puder em sua própria cadência por seis restante, não FPI, uma significativa parte dos pacientes
minutos, sem correr, poderá diminuir o ritmo ou inter- são portadores de colagenosas, sobretudo de esclerose
romper o teste de acordo com a sua necessidade, assim sistêmica (ES)14.
como retornar ao teste se for possível, desde que o tempo O prejuízo nas trocas gasosas, que piora com o
de seis minutos ainda não tenha finalizado. O avaliador exercício, é secundário a múltiplos fatores, sendo os prin-
não parará o cronometro. Será incentivado por frases de cipais os distúrbios na relação ventilação/perfusão e re-
efeito (como, por exemplo, “você está indo muito bem”) e dução da capacidade de difusão ao monóxido de carbono
será informado acerca do tempo restante para terminar o (DLCO). Na FPI, a queda da SpO2 e a DTC6, são mar-
teste (“faltam apenas 2 minutos”). Entretanto, não devem cadores de mau prognóstico. Lama et al15 e Flaherty et
ser utilizadas palavras de encorajamento . Ao completar
2
al.16, demostraram que a presença de SpO2 mínima ≤88%
os seis minutos, o paciente tem que parar onde estiver, durante o teste se correlacionou com aumento da morta-
o avaliador levará a cadeira para ele sentar e imediata- lidade. Du Bois et al. encontraram que um valor de DTC6
mente serão aferidas as mesmas variáveis pré-teste. O < 250m ou queda > 50m num intervalo de 24 semanas,
avaliador calculará e registrará a distância percorrida pelo aumentou o risco de mortalidade, respectivamente em
paciente2,3. 2.1 e 2.7, sendo preditores independentes de mortalida-
Em caso de o paciente relatar desconforto, dores, de17. Lettieri et al. criaram um novo índice, o produto da
principalmente no tórax, dispneia intolerável, câimbras, distância e da SpO2 mínima (PDS). Avaliaram esse índice,
marcha alterada, palidez ou aparência de desconforto e junto com a DTC6 e a SpO2 mínima individualmente, em
SpO2 < 80%, o teste deve ser imediatamente suspenso. 81 pacientes com FPI. Os pacientes foram acompanhados
Nessa situação o paciente sentará e serão aferidas PA, FC por 12 meses, e após esse período, 48 pacientes estavam
e SaO2, e o médico deverá ser solicitado. Considerando vivos. As medidas da capacidade pulmonar total e da ca-
a SpO2, o teste pode ser reiniciado se ela retornar a um pacidade de difusão eram similares nos 2 grupos, sendo
valor ≥ 85%, desde que o paciente esteja clinicamente a SpO2 em repouso menor no grupo que faleceu. As três
bem .3
medidas do TC6 foram inferiores nesse grupo, porém o
Em caso de paciente em oxigenioterapia o teste produto foi significativamente menor que as outras duas
deve ser realizado com o mesmo fluxo de O2, mantendo o medidas. Um valor de PDS <200 m% esteve associado a
fluxo constante durante todo o teste. Numa análise com- um risco sete vezes maior de morte em 12 metros18.
parativa, se houver mudança no fluxo de O2, isso deve Nas DPI uma forma mais ampla de avaliação fun-
ser considerado na interpretação. É importante a utiliza- cional, além da espirometria, é mandatória. Considerando
ção de um fornecedor ou concentrador de O2 portátil com o pouco acesso aos equipamentos de medida da capa-
carrinho, sabendo que esse peso adicional irá reduzir a cidade de difusão no nosso meio, usar outro teste para
DTC6. O próprio paciente deve carregar a sua fonte de avaliar o prejuízo nas trocas gasosas neste grupo é im-
O22,3. portante. As alterações no teste de exercício cardiopul-
O teste poderá ser realizado duas vezes, com in- monar são capazes de predizer sobrevida na FPI, porém
tervalo entre eles de no mínimo 30 min. Relatar a melhor é um exame de maior custo e complexidade, podendo até
medida da DTC6. Estudos mostraram que o primeiro teste mesmo estar contraindicado na doença intersticial avan-
tem um efeito de aprendizado, melhorando a performan- çada. O teste da caminhada de 6 minutos é simples, de
ce e diminuindo a ansiedade , porem o maior estudo rea-
2
baixo custo e fácil treinamento. É bem tolerado, inclusive
lizado (n = 1514) mostrou uma diferença de apenas 24- naqueles com grande limitação e/ou dependentes de O2,
29 metros (IC de 95%) , variação essa menor do que a
13
havendo critérios bem definidos para interrupção do tes-
considerada significativa, como veremos mais adiante. A te, se necessário3. Alguns autores, como Swigris et al.,
repetição do teste está indicada principalmente quando o sugerem que a recuperação da frequência cardíaca nos
teste for usado para avaliar mudanças ao longo do tempo primeiros minutos após o término do teste é um dado
e em ensaios clínicos .
3
que pode estar associado ao aumento da mortalidade na
FPI19. Baseada em vários estudos, uma revisão recente
TC6 nas doenças intersticiais de aplicação do TC6 na FPI, sugere que o ponto de corte
As doenças intersticiais pulmonares (DPI) abran- para se definir uma diferença de mínima importância clí-
gem um extenso grupo heterogêneo de condições pulmo- nica seja em torno de 35 metros20.
nares crônicas. Elas são associadas a comprometimento Ao contrário da FPI, a implicação clínica das al-
difuso do interstício e são agrupadas em função de acha- terações do TC6 nos pacientes com DPI não FPI, ainda
dos clínicos e tomográficos. A fibrose pulmonar idiopática não está bem estabelecida. Alguns estudos relataram
(FPI) é uma das doenças pertencentes a este grupo. De alterações no TC6 nesses pacientes, comparada com as
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encontradas em pacientes com FPI13,21. Fernandes et al. Estes trabalhos demostram que a limitação ao
encontraram como únicas variáveis significativamente di- exercício na DPOC parece ser predominantemente mecâ-
ferentes, entre o grupo de FPI e DPI não FPI, a dispneia nica, assim como os trabalhos citadas na seção anterior
inicial (Borg) e o PDS, ambos inferiores no grupo com FPI. demostraram que na DPI a limitação é principalmente nas
Os demais parâmetros do TC6 e capacidade vital (CV) trocas gasosas.
foram semelhantes nos 2 grupos . 21
Nas doenças pulmonares obstrutivas, o TC6 tem
Bloem et al. (2017) discutiram a necessidade de se mostrado mais útil em pacientes com DPOC, porque
realizar 2 testes nos pacientes com DPI e sugerem que neles a tolerância a esforços é multifatorial. Além das
um 2º teste não seja necessário neste grupo. Primeiro, alterações na mecânica pulmonar e nas trocas gasosas,
porque a repetitividade do teste foi muito boa (encontra- existem também alterações na função muscular e na res-
do diferença de 8-11 metros), segundo, porque um único posta do sistema cardiovascular23. No caso dos pacien-
teste foi suficiente para caracterizar uma queda significa- tes asmáticos, as alterações são basicamente mecânicas,
tiva da SpO2. Alguns pacientes não conseguiram realizar com menor repercussão no TC6, como veremos a seguir.
um 2º teste no mesmo dia. Ele salientou que a recomen- Na asma, apesar de o valor de VEF1 ser usado
dação de se realizar 2 testes é baseada em estudos com como marcador do grau de disfunção, em pacientes com
portadores de DPOC22. obstrução grave ele apresenta baixa sensibilidade e capa-
cidade de predizer melhora na tolerância a esforços com
TC6 nas doenças obstrutivas o tratamento. Estudo brasileiro com 60 pacientes asmáti-
Em pacientes com enfisema, o parâmetro que cos, adultos e estáveis, e separados pelo grau de disfun-
melhor se correlacionou com a dispneia são os marcado- ção (valor de VEF1 maior ou menor e igual a 60%T), nos
res de hiperinsuflação dinâmica (HD). Na HD, que ocorre quais foram realizaram o TC6, os valores médios da DTC6
pela piora progressiva do aprisionamento aéreo, a CRF se (pré e pós broncodilatador), assim como a dispneia pré
aproxima da CPT, e a musculatura inspiratória não é mais e pós, não foram diferentes nos dois grupos. Os valores
capaz de gerar um ganho proporcional de volume. Esse médios dos 2 grupos estavam na faixa da normalidade,
mecanismo, que ocorre frequentemente na DPOC, causa considerando Enright 199828. Em outro estudo com 25
a interrupção do exercício por dispneia . Estudos em pa-
23
asmáticos com diagnóstico de asma grave, também não
cientes com DPOC, demostraram boa correlação entre a houve diferença significativa da DTC6 em relação aos va-
DTC6 e o escore de dispneia e a gravidade da doença .
6,24
lores previstos29. A limitação da atividade física em pa-
Chen et al. estudaram 150 pacientes com DPOC estável, cientes com asma grave parece estar associada mais ao
com diferentes graus de severidade. Demostraram que a aumento da resistência de vias aéreas e a doença de pe-
DTC6 esteve associada ao VEF1 (%T) na doença grave e quena via aérea30.
muito grave. A SpO2 se correlacionou com a dispneia na Um estudo acompanhou 69 pacientes com bron-
escala Borg nos diferentes subgrupos. O VEF1 (%T) e a quiectasias não FC durante seis anos. A DTP6 foi signifi-
relação VR/CPT puderam predizer a DTC624. Golpe et al. cativamente maior no grupo que sobreviveu, assim com
estudando a mortalidade em 104 com DPOC, demonstra- a queda da SpO2 menor neste grupo, porem o melhor
ram que a DTC6 e a dispneia ao final do teste se corre- parâmetro do TC6 que foi capaz de predizer a mortalidade
lacionaram com a mortalidade, porém a SpO2 durante o foi o PDS. Um valor de PDS < 280m apresentou uma taxa
teste não foi útil nessa análise .25
de risco de morte muito superior (P<0.001)31.
Waatevik et al. analisaram 423 pacientes com
DPOC no período de 2006-2009, e analisou todos os fa- TC6 nas doenças vasculares
tores relacionados a mortalidade durante o ano 2011. O TC6 tem sido usado como medida de desfecho
Trezentos e setenta pacientes realizaram o TC6 e a des- primário em diversos estudos com hipertensão arterial
saturação do O2 durante o teste dobrou o risco de morte pulmonar (HAP), de várias etiologias, sendo inclusive
e aumentou o risco de exacerbação. Neste grupo foi ob- usado como parâmetro para aprovação de novas drogas
servado o dobro do declínio anual de CVF e VEF1, e uma para o tratamento de HAP32. Souza et al. observaram que
maior perda anual da massa corpórea . Enright, em edi-
26
pacientes com DTC6 >400 metros, tinham após 6 meses,
torial de 2016, salientou que a SaO2 mínima pode ocorrer risco reduzido de internação ou morte por HAP. Por outro
durante ou após o término do teste, devendo, portanto, a lado, a variação do DTC6 após seis meses não se associou
oximetria ser mantida após o término por alguns minutos. ao risco de internação ou morte pela HAP33.
Segundo ele, o TC6 ajuda na determinação da severida- Estudos com resultados positivos no TC6 também
de da doença, como marcador de qualidade de vida, no são encontrados na HAP por doença tromboembólica crô-
fenótipo da DPOC e no prognóstico, podendo ser usado nica, assim como na ES34,35. Na esclerodermia a DTC6 re-
também como uma avaliação objetiva de resposta ao tra- duzida pode estar associada a presença de DPI, de HAP
tamento .27
ou ambas. A presença de HAP tende a apresentar uma
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DTC6 mais reduzida independente da associação ou não Mathai et al. estimaram a diferença mínima clini-
com a DPI . Sanges et al. analisaram 298 pacientes com
37
camente importante (DMI) em 405 pacientes com HAP, e
ES com realização sistemática de TC6. Quarenta e dois a menor diferença percebida como benéfica após 16 se-
por cento apresentavam DPI e 6% tinham HAP. A DTC6 manas de tratamento com tadalafila. Havia 247 casos de
se associou a hipertensão pulmonar, mas não com a DPI. HAP idiopática, 96 casos associados a doenças do coláge-
O envolvimento muscular ou articular não se se associou, no e o restante dos casos apresentava etiologias diversas.
de forma independente, com a DTC614. Em pacientes com Encontrou um DMI em torno de 33m, tanto na análise
ES frequentemente não é possível a monitorização por distribucional como no método anchor12.
oximetria pela doença vascular periferia (fenômeno de
Raynaud).
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Pulmão RJ 2018;27(1):57-62 61
Azevedo KRS, Silva KM Teste de Caminhada de 6 minutos: técnica e interpretação
62 Pulmão RJ 2018;27(1):57-62
Carvalho SRS Teste de broncoprovocação e hiperresponsividade
Artigo
Resumo
Os testes de broncoprovocação (TBP) tem por finalidade identificar a presença de hiperresponsividade brô-
nquica (HRB) medida pelo grau da broncoconstricção consequente ao estreitamento brônquico, edema ou oclusão
das vias aéreas. Os TBP tem sido utilizado não só para pesquisa, mas habitualmente realizados para excluir ou con-
firmar uma suspeita de diagnóstico de asma. Os TBP podem utilizar estímulos diretos como a metacolina e indiretos
como o exercício. Ao longo dos anos as normatizações referentes aos TBP foram sendo publicadas e contam com
protocolos bem definidos para cada tipo de TBP. Esta revisão teve como objetivo apresentar a importância dos tes-
tes de broncoprovocação na prática da pneumologia com ênfase nos TBP com metacolina e exercício apresentando
seus aspectos técnicos e a interpretação dos resultados.
Abstract
The purpose of bronchoprovocation tests (BPT) is to identify bronchial which is hyperresponsiveness measu-
re by the severity of bronchoconstriction caused by bronchial thickness, edema or ay occlusion. BPT are been used
for research and to confirm or exclude asthma diagnosis. Direct stimuli (methacholine) or indirect (as exercise) can
be used in BPT. For many years, publications about BPT standardization by world respiratory societies established
the protocols for most BPT tests. This review aims to present the importance of the bronchoprovocation tests in the
practice of pulmonology and describes technical aspects and interpretation results of methacholine and exercise
tests.
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Carvalho SRS Teste de broncoprovocação e hiperresponsividade
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Carvalho SRS Teste de broncoprovocação e hiperresponsividade
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Carvalho SRS Teste de broncoprovocação e hiperresponsividade
de diâmetro2. No entanto, estudos mais recentes identi- está indicado em situações de broncoconstricção induzida
ficaram pequenas diferenças entre os métodos em con- pelo exercício em asmáticos e também em profissionais
centrações mais baixas de metacolina em pacientes com que atuam em situações de emergência como policiais,
asma mais grave e em indivíduos com HRB mais leve os bombeiros e forças armadas27,28. O TBE também tem sido
métodos não foram semelhantes22,23. Indivíduos com HRB utilizado para avaliar o efeito das terapias anti-inflamató-
leve pelo método do volume corrente pode ser conside- rias em asmáticos9,10,29,30. As contraindicações são as mes-
rado normal pelo método do dosímetro. Em um estudo o mas de outros testes de broncoprovocação já descritas
falso-negativo chegou a 25% em todos os testes e a 50% na tabela 11. Também está contraindicado em indivíduos
para HRB leve/moderada24. Essa diferença pode ser cau- com angina instável e arritmias1,9,10 assim como também
sada pela bronca dilatação relacionada à manobra de ins- em pacientes com problemas ortopédicos que possam
piração máxima e a suspensão da respiração no nível da interferir na atividade física na esteira ou bicicleta. Está
capacidade pulmonar total. Esse efeito foi identificado em indicado, à título de prevenção a realização de eletrocar-
indivíduos normais e asmáticos leves, mas não em indiví- diograma em pacientes com mais de 60 anos10.
duos mais graves . Por esse motivo aí, o consenso de
25,26
66 Pulmão RJ 2018;27(1):63-68
Carvalho SRS Teste de broncoprovocação e hiperresponsividade
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Pulmão RJ 2018;27(1):63-68 67
68 Pulmão RJ 2018;27(1):63-68
Filho JCR, Araújo AMS Pressões respiratórias estáticas máximas
Artigo
Resumo
A avaliação da função pulmonar consiste em diversas medidas e manobras que, em seu conjunto, nos forne-
ce um panorama do funcionamento da musculatura respiratória. Testes para a análise da força muscular respiratória
devem ser solicitados diante de indicações clínicas, como a presença de ortopneia, queda da capacidade vital ou
diante de um grupo de doenças que cursam com comprometimento destes músculos, como as doenças neuro-
musculares. Espirometria, teste de contagem, pico do fluxo da tosse, pressões inspiratória e expiratória máximas e
pressão de inspiração nasal nos fornecem dados relevantes na análise da força muscular inspiratória, importante na
detecção precoce da insuficiência respiratória, e da força expiratória, importante na força e competência da tosse.
Abordamos as técnicas mais utilizadas e destacamos a importância do uso integrado das informações e da necessi-
dade de avaliações periódicas, principalmente em pacientes com fatores de risco. São informações importantes na
prevenção de complicações, melhora da qualidade de vida e aumento da sobrevida destes pacientes.
Descritores: pressão inspiratória máxima, pressão expiratória máxima, pico do fluxo da tosse, pressão de
inspiração nasal
Abstract
The assessment of pulmonary function consists of several measurements and maneuvers that, together,
give us an overview of the functioning of the respiratory musculature. Tests to analyze the respiratory muscular
strength should be solicited when there are clinical indications, such as the presence of orthopnea, decline of vital
capacity, or in face of a group of diseases that impair those muscles, as do the neuromuscular diseases. Spirometry,
single breath counting test, peak of cough flow, maximal inspiratory and expiratory pressures and nasal inspiration
pressure give us relevant data for the analysis of the muscular inspiratory and expiratory force, important elements
for coughing force and competence. We approach the techniques that are most used, and highlight the importance
of the integrated use of the information and the necessity of periodical assessment, especially for patients that
present risk factors. They are important for the prevention of complications, the improvement of life quality, and
the possibility of enhancing the survival rate of the patients.
Keywords: maximum inspiratory pressure, maximum expiratory pressure, peak of cough flow, nasal inspi-
ration pressure
1.Médico Pneumologia (SBPT/AMB) e na área de atuação em Medicina do Sono (AMB), Mestre em Neurociência PPGNeuro/UNIRIO, Médico Pneumologista
da TDN/AFIP (Tratamento de Doenças Neuromusculares), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2.Médica Pneumologista e do Laboratório de Fisiopatologia Pulmonar do Instituto de Doenças do Tórax (IDT/UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Endereço para correspondência: Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco, 255, Cidade Universitária, 21941-913, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Email: [email protected]
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Filho JCR, Araújo AMS Pressões respiratórias estáticas máximas
Introdução Indicações
Várias doenças têm seus cursos patológicos li-
A avaliação da função pulmonar consiste em diver-
gados à perda de força da musculatura respiratória. A
sas medidas e manobras que, em seu conjunto, nos for-
presença de dispneia, não explicada por outras condições
nece um panorama da mecânica ventilatória, permeabili-
clínico-patológicas, queda dos valores de CV e condições
dade das vias aéreas, competência das trocas gasosas e
que nos levem a suspeitar da ineficiência da tosse, são
funcionamento da musculatura respiratória. Os músculos
situações em que a apropriada avaliação da função mus-
respiratórios são os únicos músculos esqueléticos envolvi-
cular se faz necessária7.
dos na manutenção de uma função eminentemente vital1.
Pacientes com DPOC avançada podem perder
Resumidamente podemos dividi-los em:
massa muscular e isto implica em um pior prognóstico,
Músculos Inspiratórios que participam ativamente
por isso, um acompanhamento de parâmetros envolvidos
da inspiração:
nesta avaliação se faz necessário.
• Diafragma (maior e mais importante músculo
A avaliação das condições de desmame de respi-
respiratório);
radores mecânicos, em pacientes de Unidades de Terapia
• Músculos Intercostais Externos;
Intensiva, ou de reversão de traqueostomias utilizam pa-
• Músculos Inspiratórios Acessórios - Esternoclei-
râmetros de função da musculatura respiratória.
domastóideos, levantadores das costelas.
As doenças neuromusculares, entretanto, são
Músculos Expiratórios que participam da expiração
sem dúvida, os casos em que estas informações ganham
forçada, já que numa situação de normalidade a expi-
maior relevância médico-fisioterápica, sendo de crucial
ração se dá de forma passiva, após o relaxamento da
importância no estabelecimento de prognósticos e medi-
musculatura inspiratória:
das terapêuticas como, por exemplo, o uso de ventilação
• Músculos Intercostais Internos;
mecânica não invasiva (VMNI), aparelhos e medidas de
• Músculos Abdominais1.
tosse assistida etc8. No Quadro 1, encontramos um qua-
A fraqueza da musculatura respiratória é definida
dro com as principais doenças para as quais é indicada
como a inabilidade de gerar valores normais de fluxo e
uma avaliação rotineira da força muscular respiratória.
pressões aéreas durante uma inspiração ou expiração2.
Devemos realizar a avaliação da força dos músculos res-
piratórios diante da suspeição clínica. Sinais e sintomas
como dispneia, ortopneia, tosse ineficaz ou queda inex-
plicada da capacidade vital (CV) podem ser indicativos da
diminuição da eficácia dessa musculatura.
A apropriada avaliação da musculatura respirató-
ria, no entanto, não é habitualmente solicitada, mesmo
tratando-se de método fácil e prático. Isto se deve, pro-
vavelmente, ao pouco uso destas informações na conduta
terapêutica da maioria dos especialistas, no entanto, o
enfraquecimento da musculatura inspiratória é uma causa
importante de dispneia3, sintoma extremamente comum
em nossos pacientes e motivo suficiente para se dar mais
atenção a este aspecto. Além disso, a avaliação é de cru- Quadro 1. Lista de doenças neuromusculares
cial importância na condução das doenças neuromuscula-
res, cujos pacientes em estágios avançados desenvolvem
insuficiência respiratória decorrente da fraqueza muscu-
Métodos
Espirometria
lar4, assim como na determinação da qualidade de vida e
Toda avaliação da força muscular respiratória
sobrevida de pacientes com DPOC ou ainda na extubação
deve ser iniciada pela espirometria, pois pacientes com
de pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI)5.
deficiências musculares podem apresentar diminuição da
Vários métodos podem ser utilizados para avaliar
capacidade vital (CV) e da capacidade vital forçada (CVF).
a competência muscular. Os mais habitualmente usados
A capacidade pulmonar total (CPT) também pode estar
são as pressões respiratórias estáticas máximas, como a
reduzida, porém necessita de testes de medida de volu-
Pressão Inspiratória Máxima (PImáx) e a Pressão Expira-
mes estáticos.
tória Máxima (PEmáx)6, porém outros testes podem nos
A queda dos parâmetros espirométricos, no entan-
fornecem informações adicionais. Apresentaremos algu-
to, pode acontecer mais tardiamente. Valores de CV nor-
mas destas técnicas.
mais foram registrados em pacientes que já mostravam
perda da força muscular pelas avaliações de pressão ins-
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Filho JCR, Araújo AMS Pressões respiratórias estáticas máximas
piratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima Pico de fluxo da tosse (PFT)
(PEmáx). A queda de PImáx é mais precoce e, portanto, Esta medida é um acesso direto à qualidade e for-
uma efetiva queda de CV ocorre apenas quando a medida ça da tosse do paciente. Para a retirada eficaz do muco
da força muscular está abaixo 50% do previsto9. Chaudri ou corpos estranhos das vias aéreas baixas, é necessário
et al. e Polkey et al., em seus trabalhos, indicam que a um pico de fluxo de grande magnitude, como os gerados
inexistência do pico de fluxo na curva fluxo-volume da pela tosse em indivíduos normais. Uma tosse competente
espirometria tem correlação com a presença de fraque- é consequência de volumes pulmonares efetivos e da nor-
za muscular, podendo este achado anteceder a queda da malidade da função neuromuscular15.
CV10,11. Usando um medidor de peak-flow acoplado à boca
A comparação de resultados espirométricos entre do paciente, este deve ser estimulado a tossir partindo da
exames do mesmo paciente, realizados na posição senta- CPT, ou seja, após uma inspiração máxima, anotando-se
da e em posição supina traz forte suspeição do compro- as medidas encontradas. As manobras devem ser repe-
metimento da força diafragmática. Indivíduos normais, tidas por até 10 vezes até que os três melhores resulta-
em supino, conseguem valores de CV iguais ou maiores dos não possuam variabilidade maior que 10%16. Valores
do que sentados, porém uma queda ≥ 40% da CVF é abaixo de 160 L/min são indicativos de tosse ineficaz.
muito indicativa de perda da eficácia diafragmática, o que Considerando que a presença de infecção respiratória pio-
pode levar à queda do volume corrente (VC) durante o ra a força muscular, valores < 270 L/min já podem indicar
sono. Diferenças de 20% de CVF em adultos entre as a necessidade do uso de aparelhos de tosse assistida9.
duas posições já devem ser suficientes para a suspeição
de fraqueza muscular pelo clínico ou especialista9. Em PImáx/PEmáx
crianças com doenças neuromusculares esta diferença A PImáx reflete a força do diafragma, dos mús-
pode ser de apenas ≥ 7%8. culos intercostais externos e musculatura inspiratória
Uma CV ou CVF < 50% do predito é indicativo de acessória, enquanto a PEmáx reflete a força da muscula-
fraqueza muscular acentuada. Em pacientes com doen- tura expiratória e a qualidade da tosse17.
ças neuromusculares uma queda de 15% da CVF num O equipamento utilizado para a medida das pres-
período de três meses também é um fator de suspeição. sões máximas pode variar. Os mais comumente usados
Pacientes com distrofia neuromuscular de Duchenne que são os Manovacuômetros analógicos, mas existem apa-
apresentem CV < 1L possuem uma sobrevida reduzida. relhos digitais, que possuem módulos para esta aferição.
Além disso, valores de volume expiratório forçado no pri- O importante é que tenham capacidade de medir preci-
meiro segundo (VEF1) ≤ 20% do previsto estão associa- samente pressões positivas e negativas de forma linear,
dos à hipercapnia em vigília12. permitam ajustes e calibrações. A faixa de aferição ideal
seria +200 à – 150 cm H2O, mas faixas menores podem
Teste de contagem - single breath ser utilizadas diante da maior necessidade de precisão
counting test (SBCT) entre +100 à – 100 cm H2O (18) (Figura 1).
Um teste de fácil realização e que tem apresentan-
do boa correlação com os resultados da espirometria13.
Vem sendo utilizado para avaliação de pacientes com do-
enças neuromusculares com risco de declínio respirató-
rio rápido, mas também pode ser utilizado para isolada
avaliação periódica e comparativa da função respiratória.
Além disso, pode ainda ser realizado em posição sentada
e em decúbito dorsal para avaliar mais especificamente a
fraqueza diafragmática14. Figura 1. Manovacuômetro
Pulmão RJ 2018;27(1):69-74 71
Filho JCR, Araújo AMS Pressões respiratórias estáticas máximas
Legenda: DP – Desvio Padrão, PImáx – Pressão Inspiratória Máxima, PEmáx – Pressão Expiratória
Máxima, PIN – Pressão Inspiratória Nasal.
* Ortopneia e PImáx < 60% do predito é critério para o início do uso de ventilação mecânica não invasiva
(VMNI)24.
# PIN <32% do predito tem uma especificidade de 85% e sensibilidade de 81% em prever insuficiência
respiratória hipercpanica25.
72 Pulmão RJ 2018;27(1):69-74
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Quando realizamos a espirometria em duas posi- ment of respiratory complications in neurological disorders. Int J
ções (sentado e supina) e a queda dos valores de CVF é Gen Med. 2012; 5:255-63.
18. Dias RM, Chauvet PR, de Siqueira HR, Rufino R. Testes de função
> 40% em adultos sem fatores de risco ou ≥20% do pre- respiratória: do laboratório à aplicação clínica com 100 exercícios
visto em adultos e ≥7% em crianças com fatores de risco, para o diagnóstico: Atheneu; 2000.
19. Caruso P, Albuquerque AL, Santana PV, Cardenas LZ, Ferreira JG,
é indicativo da perda da eficácia diafragmática, podendo
Prina E, et al. Diagnostic methods to assess inspiratory and expira-
levar à queda do VC durante o sono. tory muscle strength. J Bras Pneumol. 2015; 41(2):110-23.
O teste de contagem como o peak-flow não tem 20. Gruis KL, Lechtzin N. Respiratory therapies for amyotrophic lateral
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valores de normalidade bem estabelecidos. O importan- 21. Uldry C, Fitting JW. Maximal values of sniff nasal inspiratory pres-
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A PImáx e PEmáx possuem valores de normali- Bras Pneumol. 2012; 38(6):700-7.
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dades dependentes do gênero e da idade. Para a PImáx
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da normalidade. Vale lembrar que as alterações de PImáx ratory muscle strength and ventilatory failure in amyotrophic late-
são mais precoces do que as dos volumes pulmonares. ral sclerosis. Brain. 2001; 124(Pt 10):2000-13.
Pulmão RJ 2018;27(1):69-74 73
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Parente AAAI, Maia PN Testes de função pulmonar em crianças
Artigo
Resumo
Abstract
The evaluation of pulmonary function contributes to the diagnosis and is important in monitoring the patient
with chronic pulmonary diseases. The tests used in clinical pediatric practice are able to measure lung volume and
capacities, to assist in the characterization of ventilatory disorders. There are several tests to assess pulmonary
function, among them: spirometry, bronchodilator test, peak expiratory flow, Transcutaneous oximetry and arterial
blood gas analysis, testing of bronchial provocation test, measurement of lung volumes, diffusing capacity and
technical interruption of resistance and forced oscillation. The most used in Pediatrics is spirometry. Although there
are several ways to evaluate lung function of children, some methods can be costly and others restricted to an age
group specifies. By working with children, the difficulty of achievement increases, and for that, we must understand
the various ways of assessing lung function, to choose the method best suited for your patient.
1. Professora Adjunta de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pneumologista pediátrica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão
Gesteira (UFRJ).
2. Doutora em Clínica Médica (UFRJ) e Professora Assistente de Pediatria da Universidade Estácio de Sá.
Endereço para correspondência: IPPMG. Rua Bruno Lobo, 50, Cidade Universitária, 21941-912, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Email: [email protected]
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Parente AAAI, Maia PN Testes de função pulmonar em crianças
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Parente AAAI, Maia PN Testes de função pulmonar em crianças
Para a avaliação da resposta ao broncodilatador, Os testes com exercícios também podem ser
utiliza-se a variação do VEF1. Em Pediatria, considera-se usados na avaliação da função pulmonar e na resposta
como resposta ao broncodilatador um aumento de 12% broncoconstrictora, como o teste da caminhada (6 e 12
ou superior ao valor inicial e/ou de 200ml .
1-3
minutos), o teste de broncoprovocação por exercício, a
oximetria do exercício ou por meio de medidas gasomé-
Pico de fluxo expiratório tricas seriadas1,4,14.
O pico de fluxo expiratório (PFE) é o volume de
gases liberado na expiração forçada. É indicado para uma Testes para medidas de volumes
avaliação mais simplificada da função respiratória, sendo pulmonares
utilizado principalmente no controle do paciente asmático, Os exames que avaliam a saída e entrada de ar
para avaliação da evolução clínica e resposta terapêutica. − como a espirometria− não são capazes de quantificar
Usado também para reconhecimento da piora pulmonar, os volumes de ar presentes dentro do pulmão. O termo
classificação da asma e suas exacerbações. Este tipo de volumes pulmonares refere-se às medidas da capacidade
medida, quando realizada em aparelho portátil e com um pulmonar total (CPT), volume residual (VR) e capacidade
bom ensino aos responsáveis, pode ajudá-los a perceber residual funcional (CRF). Através dessas medidas é possí-
se há boa adesão às medicações, o momento certo para vel a determinação dos demais volumes. O VR pode variar
a procura de uma emergência, quando iniciar, modificar bastante nas crianças, por isso a relação VR/CPT costuma
ou suspender um determinado tratamento e pode con- ser mais útil na avaliação da função pulmonar. Os exames
tribuir para a determinação de fatores desencadeantes, que fazem a medição direta dos volumes pulmonares são:
como o exercício .
15-16
a pletismografia de corpo total, diluição de hélio e lava-
gem do nitrogênio.
Oximetria transcutânea e
gasometria arterial Pletismografia
A medida transcutânea do oxigênio, realizada pelo Esse exame se baseia na lei de Boyle. Essa lei de-
oxímetro de pulso, é um exame não invasivo e simples de termina que o produto da pressão (P) pelo volume (V) de
ser realizado. Pode ser importante no acompanhamento um gás é constante (P x V = K) em condições isotérmicas
de doenças pulmonares crônicas e para avaliação da ne- mantidas. Esse teste permite medições mais precisas do
cessidade de oxigênio complementar. Considera-se ideal que o método de diluição do hélio, porque inclui áreas
a saturação de oxigênio (SatO2) > 95%. Nos casos de que não se comunicam com as vias aéreas, como nas
alterações significativas na oximetria transcutânea, deve bolhas de enfisema. Dessa forma, é possível determinar o
ser realizada a gasometria arterial. Valida ou não a hipo- volume de todo os gases dos pulmões.
xemia suspeita, se há retenção de gás carbônico (CO2) ou Esse aparelho é composto de uma caixa hermeti-
desequilíbrio ácido-básico14-15. camente fechada que comporta o corpo inteiro do pacien-
te. O interior da caixa contém um obturador, cujo objetivo
Testes de broncoprovocação é impedir a saída do ar pela boca, podendo, dessa forma,
São realizados para avaliação de uma resposta medir a pressão dos gases no interior dos pulmões; um
constrictora exacerbada a estimulantes diversos que po- pneumotacógrafo, que irá medir o fluxo aéreo; e um me-
dem estar presentes no nosso cotidiano. Podem ser rea- didor, para verificar a pressão dentro da caixa.
lizados em laboratórios especializados, capazes de exe- No momento que o paciente para de respirar, a
cutar medidas de emergência, se necessário. Têm como pressão alveolar se iguala à barométrica. Quando o obtu-
principal indicação o diagnóstico de tossidores crônicos de rador é fechado e o indivíduo faz uma exalação forçada,
origem desconhecida. É de grande ajuda nos indivíduos ocorrerá uma elevação da pressão alveolar, que será ve-
sintomáticos com espirometria normal. rificada pelo aparelho. Depois, solicita-se ao paciente que
Pode-se utilizar agentes específicos, como a me- realize respirações basais repetitivas contra o obturador.
tacolina (mais utilizada) ou a histamina, ou o carbacol. O A CPT determinada será correlacionada com seus níveis
teste pode ser considerado positivo, devendo então ser previstos. Para sua realização em lactentes, há necessi-
suspenso, quando o VEF1 tiver uma redução de 20% em dade de sedação.
relação ao valor basal do VEF1, medido antes da admi-
nistração do broncoprovocador. O valor da PC2O (dose Técnica de diluição do hélio
provocativa que faz o VEF1 cair em 20%) servirá para É um exame que utiliza um gás, em um sistema
quantificar o grau dessa reatividade brônquica. Não se fechado, com uma campânula e um analisador de gás. O
deve esquecer de administrar o broncodilatador ao final hélio é o gás mais amplamente escolhido devido as suas
do teste, mesmo que a criança não apresente broncoes- características peculiares de ser um gás inerte, que não
pasmo importante. participa das trocas gasosas, e tem mínima difusibilidade
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Parente AAAI, Maia PN Testes de função pulmonar em crianças
na corrente sanguínea e tecido celular. Isso permite que Técnicas especiais para pré-escolares
ele fique presente exclusivamente dentro dos comparti- A limitação da maioria dos testes da função pul-
mentos pulmonares. monar é o seu uso na população pediátrica jovem. Isso
Enche-se a campânula, os circuitos e traquéias ocorre, devido à pouca cooperação destes para realização
com hélio, com um volume e concentração conhecidos, do exame. Avanços tecnológicos permitiram a introdução
que pode ser diferente nos diversos tipos de aparelhos. de novas técnicas, que visam suprir essa limitação e per-
Abre-se então a conexão deste com a campânula e espe- mitir a avaliação pulmonar em crianças de 2 a 5 anos,
ra-se o momento em que a concentração do hélio no apa- verificando o impacto na vida adulta das intercorrências
relho fique em equilíbrio com a concentração deste, pre- respiratórias na primeira infância.
sente no interior do pulmão examinado. A concentração
do hélio, após a abertura da válvula, reduz rapidamente Técnica de interrupção de resistência
dentro da campânula, e depois de forma mais lenta, até (rint)
alcançar a paridade entre os valores aparelho-pulmão. Essa técnica se baseia na avaliação da resistência
Nas pessoas sadias ou naquelas com distúrbio por interrupção do fluxo aéreo (Rint). Possui várias vanta-
ventilatório restritivo (DVR), essa estabilidade ocorrerá gens práticas. Essa medida é realizada usando um equi-
em 2 a 3 minutos, enquanto no distúirbio ventilatório pamento portátil, que não depende do esforço do pacien-
obstrutivo (DVO), a igualdade será mais tardia. A CRF te. O Rint é uma estimativa da resistência das vias aéreas,
é medida e, através desse valor, é encontrado o VR. O que requer uma breve interrupção do fluxo respiratório,
valor da CRF será elevado conforme a idade e a presença momento este em que o fluxo e a pressão da abertura
de doenças que cursam com o aprisionamento aéreo. Os da via aérea são medidos. A pressão da via aérea é esti-
valores da relação valor obtido/valor previsto serão quan- pulada pela modificação da sua pressão de abertura, no
tificados para medida do VR. momento em que ocorre a interrupção do fluxo de ar.
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Parente AAAI, Maia PN Testes de função pulmonar em crianças
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Pulmão RJ 2018;27(1):75-80 79
80 Pulmão RJ 2018;27(1):75-80
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório obstrutivo
Artigo
Resumo
Este artigo tem como objetivos definir, diagnosticar, classificar a intensidade do distúrbio ventilatório obs-
trutivo, que acontece nas mais comuns doenças crônicas pulmonares como asma e doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC). O diagnóstico deve ser hierarquizado e sempre como método de escolha a espirometria. Outros
métodos podem ser utilizados para em casos especiais determinar o distúrbio ventilatório obstrutivo especialmente
para pequenas vias aéreas.
Abstract
This article aims to define, diagnose, classify the intensity of obstructive ventilatory disorder, which occurs in
the most common chronic pulmonary diseases such as asthma and chronic obstructive pulmonary disease (COPD).
The diagnosis should be hierarchical and always as a method of choice spirometry. Other methods may be used to
in special cases determine obstructive ventilatory disorder especially for small airways.
Keywords: Obstructive ventilatory disorder, spirometry, forced expiratory volume in the second, forced vital
capacity
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Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório obstrutivo
Definição so das vias aéreas, o que faz com que haja uma menor
O distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO) é a dis- capacidade de mobilização do volume de ar durante a
função ventilatória na qual se observa a redução (ou limi- expiração, acarretando um aprisionamento aéreo.1
tação) dos fluxos expiratórios. Relaciona-se mais comu- Capacidade Vital (ou Capacidade Vital Lenta
mente ao aumento da resistência das vias aéreas (ex.: - CVL): o volume de ar mobilizado entre uma inspiração
asma) ou à redução da retração elástica do pulmão (ex.: e expiração máximas determinado pela manobra lenta.1,2
enfisema). Muitas doenças apresentam distúrbios ven- Ela poderá ser normal ou reduzida. A manobra não força-
tilatórios mistos (DVM), que se caracteriza pelo DVO e da (ou lenta) promove menos compressão intratorácica e
pelo distúrbio ventilatório restritivo (DVR) associado ao é possível que o volume de ar mobilizado seja maior. Em
mesmo paciente. Alguns pacientes podem apresentar o geral, em pessoas saudáveis não há diferença de valores.
chamado distúrbio ventilatório inespecífico (DVI). Este 1 Porém, se houver diferença dos valores encontrados de
último é quando se encontra alguma anormalidade na es- CVL em relação ao valor da CVF (CVL-CVF) pode indicar
pirometria que pode indicar um DVR, mas ao se fazer a obstrução. É considerado anormal, quando o valor for su-
medida de todos os volumes pulmonares, não se constata perior a 10%.
a perda de volume pulmonar. Eles estão normais. Assim, Capacidade Inspiratória (CI): é o volume de
há uma inespecificidade no achado da espirometria.1 ar mobilizado de forma lenta partindo de expiração com-
Uma das importantes definições das possibilidades pleta até inspiração plena. Em pacientes com doença
dos testes funcionais respiratórios é determinar a localiza- obstrutiva, há CI tende a reduzir com a atividade física e
ção da obstrução do fluxo aéreo: nas grandes vias aéreas indicando uma obstrução dinâmica.1
(ex. Asma), nas pequenas vias aéreas (doença pulmonar Volume Expiratório Forçado no 1º segundo
obstrutiva crônica-DPOC em fase inicial), em ambas (ex., (VEF1): permanece normal nas obstruções leves e dimi-
asma e DPOC) ou obstruções de vias aéreas “altas” (larin- nui conforme aumenta o distúrbio ventilatório obstrutivo
ge, traqueia ou brônquios principais). 1 (DVO). Isoladamente não faz o diagnóstico de obstrução,
mas é usado para graduar a intensidade.1
Diagnóstico do Distúrbio Ventilatório VEF1/CVF: este parâmetro é expresso em por-
Obstrutivo centagem. Encontra-se reduzido nos casos dos DVO.
Espirometria Quando dentro do limite de referência teórico, não exclui
A espirometria é o mais importante método e o diagnóstico de obstrução. Nesses casos, os fluxos ins-
considerado o padrão para o diagnóstico de distúrbios tantâneos podem sugerir redução e métodos adicionais
obstrutivos. Em alguns casos, métodos complementares podem ser necessários para confirmação do DVO.1
poderão ser utilizados para certificar ou aprimorar o diag- Volume Expiratório Forçado em Seis segun-
nóstico inicial. Os outros métodos funcionais utilizados dos (VEF6): volume expiratório forçado nos primeiros
que podem ser utilizados são oscilação forçada, medida seis segundos. O VEF6 tem sido utilizado como um substi-
dos volumes pulmonares pela técnica de lavagem de ni- tuto da CVF na relação VEF1/CVF. Seria uma relação VEF1/
trogênio e pletismografia de corpo inteiro. Muitas doen-
1 VEF6, ao invés de VEF1/CVF. Ela tem sido utilizada para
ças apresentam DVO e é fundamental correlacionar os rastreamento de pacientes com obstrução pulmonar, es-
achados funcionais com o desenvolvimento da doença, pecialmente em tabagistas na atenção primária.3
para uma propedêutica mais eficaz (Quadro 1). Tempo de fluxo expiratório forçado entre
Quadro 1. Doenças que cursam com distúrbio ventilatório obstrutivo
25-75% (TFEF25-75%): Tempo expiratório forçado mé-
dio. Em pacientes com DVO tendem a ter valores mais
altos. Porém, há grande variabilidade nos valores de re-
ferência. É um dos parâmetros indicativos de doenças de
pequenas vias aéreas.1
Fluxo expiratório forçado (FEF): Os fluxos ex-
piratórios instantâneos apresentam grande variabilidade
em pessoas normais, o que dificulta a sua valorização.
Obs.:* doenças que podem ter diferentes distúrbios ventilatórios de Nos DVO se apresentam com diminuição.1
obstrutivo, misto ou restritivo.
PFE: pico de fluxo expiratório. Há uma variação
Parâmetros funcionais de referência natural (biológica) do fluxo expiratório durante o dia. Po-
Capacidade Vital Forçada (CVF): o volume de ar rém, não é esperada variação frequente >10% em adultos
mobilizado entre uma inspiração e expiração máximas de- e 13% em crianças. Nestes casos, há uma evidência de
terminada pela manobra forçada. Ela poderá ser normal variação do fluxo aéreo.4 Deve ser avaliada a possibilidade
ou reduzida. Quando a manobra da CVF é realizada na de distúrbio ventilatório obstrutivo com espirometria.
espirometria, existe maior compressão dinâmica e colap-
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Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório obstrutivo
Legendas: DVO = Distúrbio ventilatório obstrutivo; DVM = Distúrbio ventilatório misto; DVR = Distúrbio
mais anguladas e paralelas ao
ventilatório restritivo; VEF1 = volume expiratório forçado no 1º segundo; CVF = capacidade vital forçada; LN eixo do volume.1
= limite da normalidade; DPOC = doença pulmonar obstrutiva crônica; ATS = American Thoracic Society; ERS
= European Respiratory Society; GOLD = Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease
Legenda: VEF1 = volume expiratório forçado no 1º segundo; BD= broncodilatador; CVF= capacidade
vital forçada; ATS = American Thoracic Society; ERS = European Respiratory Society; DPOC = Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica; GOLD = Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease
Pulmão RJ 2018;27(1):81-88 83
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório obstrutivo
Figura 2. Curva fluxo-volume e volume tempo de um paciente com DVO e resposta broncodilatadora aéreo. Mas o inverso pode não ser
verdadeiro. A relação VR/CPT que é
um parâmetro útil para identificar,
em fases iniciais, a doença de peque-
nas vias aéreas e o alçaponamento
aéreo.1,8
Obstruções de Grandes
vias Aéreas
A obstrução de grandes vias
aéreas ocorre quando há redução do
fluxo de ar acima das pregas vocais,
traqueia e brônquios principais. Estas
áreas possuem suporte cartilaginoso
Legenda: VEF1= volume expiratório forçado no 1º segundo; CVF = capacidade vital forçada e o fluxo é naturalmente turbilhonar.
Obs. A. Curva fluxo-volume. Notem que há três Linhas. A azul representa a curva fluxo-volume sem O fluxo dependerá da luz pérvea e da
broncodilatação. O formato é mais achatado (convexa) e se aproximando do eixo horizontal (mais
aplainada). Quando utilizou o broncodilatador houve um aumento da área, mas ambas as curvas os pressão dos músculos expiratórios.
fluxos são menores do que o esperado que é a linha verde. O pico de fluxo expiratório é de aproxi- As causas mais comuns de obstrução
madamente de 5L/min; B. Curva volume-tempo. É do mesmo paciente. Houve discreto aumento do
de grandes vias aéreas: disfunção
volume (CVF) após a broncodilatação. A maior variação foi do fluxo que estava limitado.
das cordas vocais, lesões traqueais
Figura 3. Curva fluxo-volume e volume tempo de um paciente com DVO e sem resposta broncodila- e de brônquios principais por esteno-
tadora
se, tumores, malácia e corpo estra-
nho. Uma das sequelas comuns que
levam a obstrução das grandes vias
são estenoses subglóticas ou lesões
granulomatosas pós-intubação oro-
traqueal.9
A alça inspiratória e expirató-
ria da curva fluxo-volume ajudar a in-
terpretar ou sintomas pulmonares ou
doenças das vias aéreas superiores.9
A alça da curva fluxo-volume pode
ser um indicador de possível obs-
trução das vias aéreas centrais e su-
periores. No entanto, muitas curvas
Legenda: VEF1= volume expiratório forçado no 1º segundo; CVF = capacidade vital forçada inspiratórias podem estar anormais
Obs. (A) Curva fluxo-volume. A azul representa a curva fluxo-volume sem broncodilatação. O formato
pela falta de esforço inspiratório. No
é de um pico e praticamente desaba e fica em paralelo ou com grande angulação (convexidade) e se
aproximando do eixo horizontal. Quando utilizou o broncodilatador não houve praticamente aumento Quadro 4 são apresentados os dife-
da área. A fluxo-volume demonstra que não houve resposta aos broncodilatador utilizado. O pico de rentes distúrbios obstrutivos altos e
fluxo expiratório é de aproximadamente de 3,5L/min. (B) Curva volume-tempo. É do mesmo paciente.
Houve discreto aumento do volume (CVF) após a broncodilatação. os dados espirométricos que podem
estar alterados.9
xima. O volume residual estará elevado tanto no modelo las com diâmetro interno de ≤2 mm e reconhecidas como
de aprisionamento aéreo (air trapping) e na hiperinsufla- o principal local da resistência ao fluxo aéreo. No entan-
ção, em relação a uma pessoa com as mesmas caracte- to, sabe-se que as alterações nas pequenas vias aére-
rísticas fenotípicas de altura, gênero e idade. Quando a as, embora relacionadas à obstrução expiratória do fluxo
capacidade pulmonar total (CPT), que é a soma de todos aéreo, podem ocorrer na ausência de comprometimento
os volumes pulmonares (VR, volume de reserva expira- espirométrico.1,10 Isso levou ao conceito de pequenas vias
tória, volume corrente e volume de reserva inspiratória), aéreas representando a “zona silenciosa” da doença pul-
começar a ter valores percentuais supranormais, o pa- monar (o local de dano pulmonar precoce sem obstrução
ciente começa a ter um padrão de hiperinsuflação. Todo reconhecida ao fluxo aéreo ou sintomas), o que levou ao
paciente que tem hiperinsuflação possui aprisionamento desenvolvimento e validação de novos testes fisiológicos
84 Pulmão RJ 2018;27(1):81-88
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório obstrutivo
Figura 4. Representação esquemática utilizando dois parâmetros funcionais O conceito de fechamento pre-
coce das pequenas vias aéreas durante
a expiração foi explorado no passado,
observando a composição do gás du-
rante diferentes estágios de uma ex-
piração total. O teste de lavagem por
respiração única é realizado inalando
100% de oxigênio do volume residual
(VR) para a capacidade pulmonar total
(CPT) e expirando lentamente (0,4–0,5
L/s) para o VR novamente.1 A análise
da concentração de nitrogênio ao lon-
go dessa expiração é quadrifásico:
Fase I contendo nitrogênio es-
paço morto anatômico;
Fase II envolvendo um rápido
aumento rápido de nitrogênio (fase
Legenda. CV = capacidade vital forçada; VR = volume residual
Obs. O esquema utilizado dos dados funcionais permite compreender a diferença de aprisionamen- brônquica);
to aéreo e hiperinsuflação. O volume residual está elevado tanto no modelo de aprisionamento Fase III envolvendo um aumen-
aéreo e na hiperinsuflação (40%), em relação a uma pessoa com as mesmas características fenotí-
picas de altura, gênero e idade. O aumento da capacidade pulmonar total (soma do volume residu- to contínuo e mais gradual do nitrogê-
al com a capacidade vital) acima do limite de referência determina a hiperinsuflação. Todo paciente nio (fase alveolar);
que tem hiperinsuflação possui aprisionamento aéreo, mas o inverso pode não ser verdadeiro.
Fase IV envolvendo um curto
Quadro 4. Obstrução Alta das Vias Aéreas aumento rápido final de nitrogênio (fe-
chamento das vias aéreas).
O volume de fechamento (VF) é
o volume de gás que resta para expirar,
quando o fechamento das vias aéreas
periféricas começa. Se o VR for co-
nhecido, a capacidade de fechamento
(CC), que é o volume de gás restante
nos pulmões e vias aéreas neste mo-
mento, também pode calculado como a
soma do VR e CF. (Quadro 5)10,11
Legenda: FEF50%=Fluxo expiratório forçado a 50% da curva; FIF50%=Fluxo inspiratório forçado a 50% Em adultos saudáveis, a VF
da curva; PFE=pico de fluxo expiratório; VEF1=fluxo expiratório forçado no 1º segundo; VEF0,5=fluxo
expiratório forçado em meio segundo
ocorre em volumes pulmonares baixos
(pouco antes do final da expiração),
visando detectar anormalidades nas vias aéreas periféri-
como resultado da pressão pleural de-
cas e a resistência associada ao fluxo aéreo.
pendente da gravidade. Na doença pulmonar obstrutiva,
As alterações precoces das vias aéreas ocorrem
a VF é aumentado devido ao fechamento prematuro das
mais comumente nas regiões periféricas dos pulmões ao
vias aéreas, o que pode ocorrer por várias razões (incluin-
nível dos bronquíolos terminais. Ao longo da curva expi-
do perda de recuo elástico como parte do processo de
ratória, as medições de fluxo podem ser realizadas em
enfisema e perda / oclusão de pequenas vias aéreas).11,12
diferentes intervalos que refletem o fluxo de ar pelas di-
Pacientes com enfisema avançado podem ser dis-
ferentes vias aéreas. Estes incluem fluxo expiratório má-
tinguidos de indivíduos saudáveis e de outras doenças
ximo quando 75% da (FEF75%), fluxo expiratório máximo
respiratórias pela maior fase II. Na doença inicial, no en-
quando 50% (FEF50%), fluxo expiratório máximo quando
tanto, o aumento da inclinação da Fase III é mais facil-
25% (FEF25%) e o fluxo expiratório médio (FEF25%-75%)
mente reconhecida.11,12
(Quadro 5).
A técnica de oscilometria forçada (FOT) e a osci-
O FEF25%-75% (ou médio) é o parâmetro que foi o
lometria de impulso (IOS) são métodos inteiramente não
mais amplamente estudado. Porém, ele é dependente al-
volitivos para avaliar a impedância das vias aéreas (sinal
tamente da CVF e pode, portanto, ser reduzido na ausên-
de pressão / fluxo) emitindo pressões oscilatórias de dife-
cia de limitação do fluxo aéreo. Particularmente, quando
rentes frequências (geralmente entre 5 e 35 Hz) no trato
os pulmões de um paciente são menores que a média
respiratório durante a ventilação corrente. A capacidade
para idade, sexo, altura e raça. Portanto, o FEF médio
de isolar a função das vias aéreas periféricas usando um
requer interpretação cautelosa.1,10
Pulmão RJ 2018;27(1):81-88 85
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório obstrutivo
método independente do esforço é importante, pois não Figura 6. Fases da lavagem do nitrogêneo
Conclusão
A espirometria é o principal exame para o diag-
nóstico e mensurar a gravidade do DVO. Ele deve ser uti-
lizado para o diagnóstico e acompanhamento da evolução
funcional com o uso do tratamento farmacológico espe-
cífico. Uma espirometria normal não afasta o DVO e ou-
tros métodos de função pulmonar podem ser necessários
para a correlacionar com a principal queixa do paciente: a
dispneia.
Quadro 5. Exames e variáveis utilizadas para o diagnóstico das pequenas vias aéreas.
Legendas: FEF = fluxos expiratórios; VF = volume de fechamento; CF = capacidade de fechamento; Scond = heterogeneidade
condutância das vias aéreas; Sacin = heterogeneidade condutância acinar; Raw = resistência das vias aéreas; sRaw = resistência
específica das vias aéreas; sGaw = condutância específica das vias aéreas; X5 = reatância em 5 Hz; R5 = resistência em 5Hz
86 Pulmão RJ 2018;27(1):81-88
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório obstrutivo
Referências
Pulmão RJ 2018;27(1):81-88 87
Rufino R, Costa CH, Lopes AJ Diagnóstico e classificação do distúrbio ventilatório obstrutivo
88 Pulmão RJ 2018;27(1):81-88
Maranhão AA, Carvalho SRS Aplicação dos testes de função pulmonar no diagnóstico e manejo da asma
Artigo
Resumo
O diagnóstico clínico da asma é sugerido por um ou mais sintomas, como dispneia, tosse crônica, sibilância,
opressão ou desconforto torácico, sobretudo à noite ou nas primeiras horas da manhã. As manifestações que su-
gerem fortemente o diagnóstico de asma são a variabilidade dos sintomas. O exame físico do asmático geralmente
é inespecífico, pois muitas das vezes encontra se normal. A presença de sibilos é indicativa de obstrução ao fluxo
aéreo; contudo, pode não ocorrer em todos os pacientes e não ser exclusiva dos pacientes com asma. A confir-
mação deve ser feita por métodos objetivos, uma vez que a história clínica pode não ser elucidativa e os sinais e
sintomas da asma não são exclusivos dessa condição. Os testes diagnósticos disponíveis na prática clínica incluem
espirometria (antes e após o uso de broncodilatador), testes de broncoprovocação e medidas seriadas de pico de
fluxo expiratório.
Abstract
The clinical diagnosis of asthma is suggested by one or more symptoms, such as dyspnoea, chronic cough,
wheezing, chest tightness or discomfort, especially at night or in the early hours of the morning. The manifestations
that strongly suggest the diagnosis of asthma are the variability of the symptoms. The physical examination of the
asthmatic is usually non-specific, since many times it is normal. The presence of wheezing is indicative of airflow
obstruction; however, may not occur in all patients and not be exclusive to patients with asthma. Confirmation
should be made by objective methods, as the medical history may not be clear and the signs and symptoms of
asthma are not unique to this condition. Diagnostic tests available in clinical practice include spirometry (before and
after bronchodilator use), bronchoprovocation tests, and serial measures of peak expiratory flow.
Pulmão RJ 2018;27(1):89-92 89
Maranhão AA, Carvalho SRS Aplicação dos testes de função pulmonar no diagnóstico e manejo da asma
90 Pulmão RJ 2018;27(1):89-92
Maranhão AA, Carvalho SRS Aplicação dos testes de função pulmonar no diagnóstico e manejo da asma
do paciente, equipamentos exatos e emprego de técnicas das vias aéreas é medida através da diferença de pressão
padronizadas aplicadas por pessoal especialmente treina- entre o alvéolo e a boca dividida pela taxa de fluxo. A
do. Assim, em determinadas circunstâncias, como na in- condutância das vias aéreas é o inverso da resistência, é
capacidade cognitiva e na fraqueza muscular, a condução o fluxo gerado por unidade de pressão através das vias
do exame deve ser mais criteriosa14. aéreas sendo fornecida juntamente com a Rva17.
A confirmação do diagnóstico de asma usualmente Embora geralmente a espirometria seja suficiente
é feita através da espirometria, a qual fornece duas medi- para o diagnóstico de obstrução, há uma relação negativa
das importantes para o diagnóstico de limitação ao fluxo entre a resistência das vias aéreas e o VEF1 e os fluxos
de ar das vias aéreas: VEF1 e CVF17. expiratórios máximos17,18. Sendo assim m casos individu-
A avaliação dos seguintes parâmetros funcionais ais a medida da Gva pode ser de grande utilidade. Estu-
são muito impottantes na realização do teste de forma dos mostraram a utilidade da medida da Rva e Gva como
completa: 1) na curva volume-tempo (VT), a CVF, o VEF1, parâmetros sensíveis para diagnóstico diferencial entre
a relação VEF1/CVF, o fluxo expiratório forçado entre 25% asma e DPOC assim como podem avaliar também a res-
e 75% da capacidade vital forçada (FEF25-75%) e o tempo posta broncodilatadora17.
do fluxo expiratório forçado entre 25% e 75% da capaci-
dade vital forçada (TEF25-75%); e 2) na curva fluxo-volume, Teste de broncoprovocação
o pico de fluxo expiratório (PFE) e os fluxos expiratórios A asma é caracterizada pela presença de hiper-
forçados a 50 e 75% da capacidade vital forçada (FEF50% responsividade das vias aéreas (HRB) que ocasiona um
e FEF75%)17,18. estreitamento da via aérea pela inflamação e variados es-
O diagnóstico de asma é confirmado não apenas tímulos desencadeantes. O nível da HRB é causado pela
pela detecção da limitação ao fluxo de ar, mas principal- inflamação e tem relação com a gravidade da doença e
mente pela demonstração de significativa reversibilidade, também é reduzida com tratamento anti-inflamatório19.
parcial ou completa, após a inalação de um broncodila- Portanto, a medida da HRB através dos testes de bron-
tador de curta ação . A resposta ao broncodilatador é
18
coprovocação são importantes no diagnóstico da asma,
considerada significativa e indicativa de asma quando o avaliando a gravidade e a resposta ao tratamento19.
VEF1 aumenta, pelo menos 200 mL e 12% de seu valor O teste de broncoprovocação por metacolina é o
pré-broncodilatador ou 200 mL de seu valor pré-bronco- mais frequentemente utilizado no diagnóstico da asma.
dilatador e 7% do valor previsto. Entretanto, em geral, os É muito útil para excluir a asma em razão de seu va-
espirômetros disponíveis calculam apenas o valor percen- lor preditivo negativo ser maior do que seu valor predi-
tual em relação ao VEF1 pré-broncodilatador. tivo positivo20. O teste de brncoprovocação por exercício
Na Figura 1 abaixo um exemplo das curvas da es- (TBE) é também um teste de provocação indireto que
pirometria de um paciente com asma. identifica a HRB através do ressecamento e resfriamento
das vias aéreas. Tem grande utilidade para diagnóstico na
maioria dos pacientes com asma induzida pelo exercício
(AIE)20. De modo geral o TBE está indicado em situações
de broncoconstricção induzida pelo exercício em asmáti-
cos e também tem sido utilizado para avaliar o efeito das
terapias anti-inflamatórias em asmáticos20.
Pulmão RJ 2018;27(1):89-92 91
Maranhão AA, Carvalho SRS Aplicação dos testes de função pulmonar no diagnóstico e manejo da asma
92 Pulmão RJ 2018;27(1):89-92
Costa CH Aplicação dos testes de função pulmonar nas doenças intersticiais
Artigo
Resumo
O interstício pulmonar pode ser acometido por um grupo amplo e heterogêneo de doenças. Embora a maio-
ria das doenças apresente padrão ventilatório restritivo devido ao depósito de fibrose no pulmão, com consequente
aumento da elasticidade, algumas doenças podem apresentar padrão ventilatório obstrutivo. Os testes de função
pulmonar podem ser ajudar a fazer o diagnóstico diferencial entre esses padrões, constituem grande auxílio na
investigação de piora da dispneia de alguns pacientes, direcionam para o diagnóstico de doença mista (obstrução e
restrição) e auxiliam na indicação do uso de oxigênio suplementar. Dessa forma, devem ser utilizados rotineiramen-
te no acompanhamento dos pacientes com doença intersticial. A queda da capacidade vital forçada e da capacidade
de difusão do monóxido e carbono são os principais fatores relacionados com a progressão de doença das doenças
fibrosantes pulmonares.
Abstract
The pulmonary interstitium may be affected by a broad and heterogeneous group of diseases. Although
most of the diseases present a restrictive respiratory pattern due to the deposition of fibrosis in the lung, with a
consequent increase in elasticity, some diseases may present with an obstructive ventilatory pattern. Pulmonary
function tests can help to make the differential diagnosis between these patterns, are a great help in the investiga-
tion of worsening of dyspnea in some patients, guide to the diagnosis of mixed disease (obstruction and restriction)
and help in the indication of the use of oxygen additional. Thus, they should be routinely used in the follow-up of
patients with interstitial disease. Decreased forced vital capacity and the diffusion capacity of carbon monoxide are
the main factors related to disease progression of pulmonary fibrosing diseases.
Keywords: pulmonary fibrosis, sarcoidosis, drug hypersensitivity, spirometry, pulmonary diffusing capacity
1. Profa. Associada de Pneumologia e Tisiologia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Endereço para correspondência: Boulevard 28 de Setembro, 77, Vila Isabel, 20551-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
Pulmão RJ 2018;27(1):93-98 93
Costa CH Aplicação dos testes de função pulmonar nas doenças intersticiais
94 Pulmão RJ 2018;27(1):93-98
Costa CH Aplicação dos testes de função pulmonar nas doenças intersticiais
A queda mantida de CVF apesar do uso de imunossupres- dos dois antifibróticos (pirfenidona e nintedanibe) tiveram
sores devem alertar ao médico para uma possível troca como desfecho principal a redução da queda da CVF15,16.
de tratamento favorecendo ao uso de imunobiológicos. Assim, torna-se necessário que estes pacientes sejam
Devemos lembrar que alguns pacientes evoluem acompanhados com espirometrias seriadas, no mínimo
com padrão ventilatório obstrutivo devido às lesões de semestralmente. A queda da CVF e/ou da CPT acima de
pequenas vias aéreas que causam bronquiolite e conse- 10% aponta para uma evolução rápida da doença e para
quente aprisionamento aéreo12. Nesses casos, tanto a to- uma necessidade de intervenção, quando possível15,16. A
mografia computadorizada de alta resolução realizada na DCO também é um parâmetro sensível que pode predizer
fase expiratória pode evidenciar o padrão em mosaico, o prognóstico. Níveis de DCO abaixo de 30% estão re-
como a pletismografia de corpo inteiro, pode verificar o lacionados a um prognóstico desfavorável em pacientes
aumento do volume residual. A obstrução costuma aco- com fibrose pulmonar idiopática17. O teste da caminha-
meter as pequenas vias aéreas devido ao deslocamento da de 6 minutos e o teste do degrau podem ser usados
do ponto de igual pressão durante a fase expiratória para para acompanhar os pacientes com FPI pela redução da
as porções brônquicas mais periféricas, causando o apri- distância caminhada e pela queda da saturação do O2 ao
sionamento aéreo nas áreas posteriores à obstrução13. término do exame10.
Nesses casos, observa-se o aumento do volume residual Os pacientes com FPI, assim como as demais do-
e a consequente amputação da capacidade vital, além da enças intersticiais que cursam com depósito de fibrose
clássica redução dos fluxos expiratórios. pulmonar apresentam aumento da elasticidade e conse-
quente redução da complacência1. Assim, os pacientes
Sarcoidose com doença intersticial pulmonar apresentam um desvio
Pacientes com sarcoidose podem ter espirometria para a direita da curva pressão – volume. No caso do
normal, evoluir com obstrução das grandes vias aéreas enfisema pulmonar, situação na qual a complacência pul-
devido ao crescimento de linfonodos, podem ter doen- monar está aumentada, essa curva fica desviada para a
ça das pequenas vias aéreas pelo comprometimento da esquerda. É interessante notar que uma parte dos pacien-
submucosa brônquica pelos granulomas e podem, ainda, tes tabagistas com diagnóstico de FPI pode apresentar
apresentar hiperreatividade brônquica em até 20% dos áreas de enfisema nos ápices pulmonares17. Nesses ca-
casos13. Nos casos com fibrose pulmonar, os pacientes sos, a curva pressão volume pode estar com a aparên-
apresentam síndrome restritiva e redução de todos os vo- cia normal, pois a força elástica aumentada da fibrose é
lumes pulmonares e da capacidade de difusão13. Nesses compensada pelo aumento da complacência causada pelo
casos, o tratamento com corticoide não consegue norma- enfisema18. A espirometria pode, então, apresentar valo-
lizar estes testes, mesmo quando o paciente refere me- res dentro da normalidade ou pouco alterados18. A DCO,
lhora da dispneia. no entanto, está muito reduzida, assim com a queda da
saturação de oxigênio ao final do teste de caminhada de
Pneumonia de hipersensibilidade 6 minutos será caracteristicamente, importante18.
Assim como nos casos de sarcoidose, estes pa-
cientes apresentarão padrão ventilatório de acordo com O uso dos testes de função pulmonar
o acometimento pulmonar. Nos casos que verificamos nas doenças intersticiais
predomínio broncocêntrico e aprisionamento aéreo na to- Os testes de função pulmonar mais usados na
mografia computadorizada, podem se correlacionar com prática clínica, tanto na época do diagnóstico quanto no
padrão obstrutivo14. Já os pacientes com evolução crôni- acompanhamento, são os comentados a seguir.
ca, especialmente os que não se afastam do agente cau-
sador, evoluem com importante fibrose do parênquima Espirometria
pulmonar e consequente padrão restritivo14. Nesta fase As doenças intersticiais fibrosantes e que cursam
da doença, mesmo com a cessação da exposição e tra- com restrição costumam apresentar uma curva fluxo vo-
tamento com corticoide os pacientes podem apresentar lume com aspecto normal, embora de menor tamanho,
progressão da doença. pela redução da capacidade vital1. É interessante notar
que a CVF pode estar menos reduzida que a CV. Embo-
Fibrose pulmonar idiopática ra todos os volumes estejam reduzidos, isso não ocorre
Com o advento do tratamento desta patologia de forma totalmente proporcional. O padrão ventilatório
através do uso de antifibróticos, tornou-se imperioso o com redução de volume corrente e aumento da frequ-
diagnóstico preciso e o acompanhamento destes pacien- ência respiratória fica bem evidente durante a realização
tes. Embora os pacientes possam apresentar espirome- das manobras respiratórias do exame. A relação VEF1/CVF
tria normal nas fases iniciais da doença, quase sempre se costuma estar normal. Em pacientes com muita fibrose e,
observa a queda progressiva da CVF. Os estudos pivotais consequentemente, grande aumento da pressão elástica
Pulmão RJ 2018;27(1):93-98 95
Costa CH Aplicação dos testes de função pulmonar nas doenças intersticiais
do pulmão, esta relação pode estar acima dos valores es- suplementar, que geralmente é recomendado quando a
perados para o paciente, o mesmo podendo ocorrer com saturação no final do teste fica abaixo de 88%.
o FEF25-75%. Esses fluxos supranormais estão relacionados
com o aumento da força elástica pulmonar1. Lembrar que Teste do degrau
algumas doenças intersticiais podem apresentar padrão Assim como o teste da caminhada, o teste do de-
obstrutivo ou exame espirométrico normal .
12,13
grau também pode ser utilizado para acompanhar pacien-
tes com doenças intersticiais. Neste caso, não há necessi-
Pletismografia de corpo inteiro dade de ter um corredor, mas um degrau de 15 a 18 cm
A medida dos volumes estáticos irá confirmar a de altura para que paciente possa subir e descer de forma
síndrome restritiva e todos os volumes devem estar re- cadenciada durante 6 minutos. As medidas da pressão
duzidos, embora não de forma proporcional1. O volume arterial, frequência cardíaca e respiratória, além da oxi-
residual não costuma reduzir muito devido ao aprisiona- metria de pulso devem ser realizadas antes e no final do
mento aéreo. Assim, em alguns casos, a relação VR/CPT exame20. Neste exame, conta-se a quantidade de vezes
pode estar normal ou acima do esperado. O aumento do que o paciente sobe e desce o degrau. Da mesma forma
volume residual pode estar relacionado ao aprisionamen- que no teste da caminhada, pacientes com doença res-
to aéreo ou bronquiolite respiratória . 12
tritiva apresentam importantes quedas da saturação ao
final do teste, mas devemos ter em conta que este exame
Medida da difusão pulmonar exige um esforço físico maior que o teste de caminhada.
Este é o teste mais sensível para avaliar a função
pulmonar em pacientes com doenças intersticiais incipien- Conclusão
tes1,17. A queda da capacidade de difusão do CO pode ser Os testes de função pulmonar são de grande auxí-
observada inclusive nas fases precoces da doença. Nos lio na investigação de piora da dispneia em pacientes com
pacientes com fibrose pulmonar idiopática, tanto os vo- esclerose sistêmica, direcionam para o diagnóstico de do-
lumes pulmonares como a difusão são comprometidos . 17
ença mista (obstrução e restrição), auxiliam na indicação
Lembrar que quedas desproporcionais da DCO apontam do uso de oxigênio suplementar e devem ser utilizadas
para a possibilidade de doença mista (fibrose e enfisema) rotineiramente no acompanhamento dos pacientes com
ou para a associação de fibrose com hipertensão pulmo- doença intersticial. A queda da CVF e da DCO são os prin-
nar, especialmente no caso da esclerose sistêmica . 7,8
cipais fatores relacionados com a progressão de doença.
96 Pulmão RJ 2018;27(1):93-98
Costa CH Aplicação dos testes de função pulmonar nas doenças intersticiais
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98 Pulmão RJ 2018;27(1):93-98
Mafort TT Função pulmonar na obesidade
Artigo
Resumo
A obesidade é um problema de âmbito mundial e com prevalência crescente. Trata-se de enfermidade me-
tabólica com repercussões negativas em diversos órgãos e sistemas. Os parâmetros da função pulmonar também
são prejudicados pela obesidade. Esta promove diminuição de volumes pulmonares, redução da força muscular
respiratória, aumento na resistência de vias aéreas, decréscimo na complacência do sistema respiratório e alteração
na capacidade de difusão ao monóxido de carbono. O emagrecimento parece ter efeito positivo com recuperação
do que foi perdido em decorrência da obesidade. O reconhecimento do aumento de peso como fator prejudicial
ao funcionamento adequado do sistema respiratório é importante e reforça a necessidade de se combater esta
enfermidade.
Abstract
Obesity is a worldwide problem and with increasing prevalence. It is a metabolic disease with negative reper-
cussions in several organs and systems. The parameters of lung function are also hampered by obesity. It promotes
a decrease in pulmonary volumes, a reduction in respiratory muscle strength, an increase in airway resistance, a
decrease in respiratory system complacency, and a change in the diffusion capacity of carbon monoxide. The weight
loss seems to have a positive effect with recovery of what was lost due to obesity. The recognition of weight gain
as a detrimental factor to the proper functioning of the respiratory system is important and reinforces the need to
combat this problem.
1. Doutor em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Médico do Serviço de Pneumologia e Tisiologia do Hospital Universitário Pedro
Ernesto, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Endereço para correspondência: Boulevard 28 de Setembro, 77, Vila Isabel, 20551-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Email: [email protected]
Pulmão RJ 2018;27(1):99-102 99
Mafort TT Função pulmonar na obesidade
parte, um aumento na DLco observado neste grupo de cido que o emagrecimento promove melhora nestes parâ-
pessoas .
14
metros, o que corrobora a hipótese de que as alterações
respiratórias provocadas pela obesidade são uma conse-
As repercussões da obesidade sobre a quência direta do excesso de peso.
força muscular respiratória
A força muscular respiratória pode ser
avaliada através da mensuração da pressão inspi-
ratória máxima (PImáx) e da pressão expiratório
máxima (PEmáx). Os valores de PEmáx e de PI-
máx dependem não apenas da força dos músculos
respiratórios, mas também do volume pulmonar
em que foram feitas as mensurações e do corres-
pondente valor da pressão de retração elástica do
sistema respiratório. Esta última resulta da soma
das pressões de retração elástica dos pulmões e
da caixa torácica15.
Na obesidade, tanto a PImáx quanto a PE-
máx podem estar reduzidas. A disfunção da mus-
culatura respiratória é multifatorial e, apesar de
algumas descrições de que o diafragma apresenta
Figura 1. Anormalidades na função pulmonar provocadas pela obesidade.
maior atividade eletromiográfica em indivíduos
obesos, parece haver uma contração muscular
ineficaz com fadiga precoce. A redução da PImax e da Diversos estudos mostraram que o VRE, um dos
PEmax se dá provavelmente por distensão da musculatu- parâmetros mais alterados nos indivíduos obesos, au-
ra diafragmática, aumento do trabalho respiratório e ine- menta após a perda de peso, seja após dieta de restrição
ficiência biomecânica muscular provocada pela deposição calórica ou cirurgia bariátrica19. Mesmo reduções modes-
de gordura torácica e abdominal16. tas no peso, como uma redução do IMC de 35 para 33 kg/
m2, parecem induzir aumento do VRE20. O emagrecimento
Padrão de distribuição da gordura também promove alterações em outros parâmetros como
corporal e função pulmonar a CRF e a CPT, assim como na troca gasosa levando à um
O padrão de distribuição de gordura corporal pa- ganho na oxigenação21. Em publicação recente Mafort e
rece ter relevância nas alterações funcionais pulmonares cols mostraram aumento dos volumes pulmonares (CPT,
observadas nos indivíduos com sobrepeso ou obesidade. VRE e CRF) em pacientes obesos e com sobrepeso que
Esta pode ser avaliada de diversas maneiras, por métodos foram submetidos à colocaçao de balão intragástrico e
antropométricos ou exames complementares. Quando o orientação dietética por um período de seis meses22. A
acúmulo preferencial de gordura se dá na região do tórax, força muscular respiratória e a dispneia também melho-
caracteriza o padrão torácico. Já o padrão androide se ram após o emagrecimento23.
caracteriza por acúmulo de gordura na região abdominal,
enquanto no ginoide o acúmulo se dá na região gluteo- Conclusão
femoral .
17
A obesidade é fator de comprometimento de di-
O padrão androide de deposição parece influenciar versos parâmetros da função pulmonar. Ela promove
mais negativamente os volumes e capacidades pulmona- compressão mecânica do diafragma, pulmões e parede
res, por gerar maior resistência à contração diafragmática torácica, o que pode levar à distúrbio ventilatório restri-
e prejuízo à mecânica ventilatória. Isto também explicaria tivo. Além disso, e excesso de tecido adiposo diminui a
um maior prejuízo no VEF1 e na CVF dos homens obesos, complacência total do sistema respiratório, aumenta a
quando estes são comparados com mulheres de IMC cor- resistência de vias aéreas e diminui a força muscular res-
respondente. Já que nas mulheres, o padrão que predo- piratória. Em pacientes obesos ou com sobrepeso há uma
mina é o ginoide .
18
forte correlação entre prejuízo da função pulmonar e o
padrão de distribuição da gordura corporal, com maior
Emagrecimento e melhora dos parâ- comprometimento quando a gordura se acumula priorita-
metros de função pulmonar riamente no torax e abdômen. Vale ressaltar que o ema-
Conforme já relatado anteriormente, a obesidade grecimento promove recuperação, pelo menos parcial,
causa uma série de alterações nos parâmetros de função dos volumes pulmonares que estavam comprometidos
pulmonar, como ilustrado na Figura 1. Também é conhe- pela obesidade ou sobrepeso.
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Artigo
Resumo
A ressecção pulmonar ainda é um procedimento de risco. Apesar da evolução no manuseio das doenças
infecciosas e trauma, a ressecção pulmonar tem lugar na doença pulmonar metastática e permanece como a única
terapia com intenção curativa do câncer de pulmão, doença com elevada prevalência e principal causa de mortali-
dade por câncer em homens e mulheres. Na avaliação do paciente candidato à toracotomia com ressecção, há que
considerar a morbidade e mortalidade do procedimento escolhido, a presença de doença pulmonar obstrutiva crô-
nica (DPOC) associada e uma condição pulmonar pós-operatória em que haja qualidade de vida. Relativo a câncer
de pulmão e DPOC vale lembrar o fator de risco tabagismo em comum e sua associação elevada.
Todo paciente candidato a ressecção pulmonar deve passar por uma avaliação sistemática e progressiva da
função pulmonar visando uma estratificação do risco para o procedimento indicado e eventual extensão. Já o uso
de testes de função pulmonar nas cirurgias não torácicas ou torácicas sem ressecção se destina aos pacientes com
déficit estabelecido da função pulmonar e visa reduzir a incidência de complicações pulmonares do pós-operatório
como atelectasia, pneumonia, exacerbação de doenças pulmonares crônicas, broncoespasmo, ventilação mecânica
prolongada e insuficiência respiratória aguda.
Abstract
Pulmonary resection is still a risk procedure. Despite the evolution in handling infectious diseases and trau-
ma, pulmonary resection takes place in metastatic lung disease and remains the only curative intent therapy for
lung cancer, a disease with a high prevalence and the leading cause of cancer mortality in men and women. In the
evaluation of the patient for thoracotomy and resection, the morbidity and mortality of the procedure chosen should
be considered, the presence of associated chronic obstructive pulmonary disease (COPD) and a postoperative pul-
monary condition and the quality of life. Relative to lung cancer and COPD is worth remembering the common risk
factor smoking and its high association. All patients for pulmonary resection should undergo a systematic and pro-
gressive evaluation of lung function aiming at risk stratification for the indicated procedure and eventual extension.
The use of pulmonary function tests in non-thoracic or thoracic surgeries without resection is intended for patients
with established pulmonary function deficit and aims to reduce the incidence of postoperative pulmonary complica-
tions such as atelectasis, pneumonia, exacerbation of chronic lung diseases, bronchospasm, prolonged mechanical
ventilation and acute respiratory failure.
1. Pneumologista do Instituto de Doenças do Tórax, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2. Pneumologista do Instituto de Doenças do Tórax e do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Endereço para correspondência: Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco, 255, 3º andar, sala 03F90, Ilha do Fundão, 21941-913, Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
Email: [email protected]
Testes de função pulmonar nas cirur- (CPP) como atelectasia, pneumonia, exacerbação de do-
gias não torácicas e cirurgias toráci- enças pulmonares crônicas, broncoespasmo, ventilação
cas sem ressecção pulmonar mecânica prolongada e insuficiência respiratória aguda.
Ao contrário do protagonismo estabelecido no al-
goritmo de avaliação pré-operatória de pacientes candi- Testes de função pulmonar
datos a cirurgias de ressecção pulmonar, o uso dos testes Revisão sistemática conduzida pela American Col-
de função pulmonar apresenta participação secundária lege of Phisicians serviu como base para diretrizes de ava-
quando se trata da avaliação pré-operatória de cirurgias liação pré-operatória de cirurgias não cardiotorácicas da
torácicas sem ressecção pulmonar ou cirurgias não torá- mesma sociedade com objetivo de reduzir as CPP17,18.
cicas, devendo ser realizados apenas em grupos selecio- Enquanto fatores relacionados ao paciente (presença de
nados de pacientes, partindo do foco principal na história doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), idade maior
clínica e exame físico do paciente. O objetivo é reduzir a que 60 anos, classificação da American Society of Anes-
incidência de complicações pulmonares do pós-operatório thesiologists (ASA) maior ou igual a II, dependência fun-
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