Aprendendo - Nadar - Cap2 Aproximando-Se Do Meio Líquido

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CAPÍTULO 2

Aproximando-se do Meio Líquido

Elemento fundamental à vida, a água exerce sobre as


pessoas grande fascínio e atração. A integração com o meio
líquido, mediante a prática de exercícios físicos (a já milenar
natação e a recente hidroginástica), vem sendo muito de-
senvolvida. Visando contribuir para torná-la prazerosa,
além de um hábito saudável, este capítulo foi produzido
buscando recuperar concepções sobre o nadar e a natação
para, a posteriori, situar os interesses e os objetivos das di-
ferentes faixas etárias na execução das atividades na água.
O texto relata ainda algumas propriedades físicas envolvidas,
assim como as alterações fisiológicas e os benefícios físicos
proporcionados.
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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

2.1 Diferentes visões do nadar

Ao longo das civilizações o homem utilizou a água como


elemento fundamental à sua vida e sobrevivência, pois o
planeta Terra é composto, em sua maior extensão, por água.
Somos seres oriundos de um meio líquido, o amniótico, e
possuímos cerca de 70% do corpo constituído por água. His-
toricamente, é difícil estimarmos ao certo quando o homem
passou a se apropriar do meio líquido, seja para esporte,
para lazer ou para qualquer outra forma de manifestação.
Certo é que:

[…] a integração do homem com o meio líquido como decorrência de


um processo de adaptação e, ao mesmo tempo de transformação da
natureza, tem-nos levados a criar constantemente novas formas de
locomoção na água. (Damasceno, 1992:20)

Para a concretização de manifestações aquáticas, a ex-


periência de uma “aprendizagem mediatizada” na água,
por um profissional da área da Educação Física,G teve e
ainda tem considerável relevância, pois ela é capaz de nos
livrar dos desconfortos do meio líquido, muitas vezes tão
instável e inseguro (Velasco, 1994). Em situa-
ção de envolvimento com a água, o homem
A integração do homem precisa nadar ou nela se locomover de forma
com o meio líquido (...) “a manusear ou gerir de forma segura e in-
tem-nos levado a
tencional” o ambiente que o recebe.
criar constantemente
novas formas de Ressalta-se, todavia, que há diferenças en-
locomoção na água. tre permanecer ou estar em terra e situar-se
ou posicionar-se na água. Em outros termos,

G Termo conceituado no Glossário.


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APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

há necessidade de que ocorra uma reaprendizagem postural


e motora antes de iniciarmos a locomoção na água.
Com a atividade no meio líquido surge, então, do ponto
de vista das formas de apropriação, a distinção entre na-
dar e natação como sugere Cavalari (1998); Assim citamos
alguns significados dessa palavra: “1– Sustentar-se e mover-se
sobre a água por impulso próprio; 2– Conservar-se ou sustentar-se
sobre a água, flutuar, boiar, sobrenadar; 3 – Saber o preceito e a
prática da natação; 4 – estar imerso em um meio líquido; 5 – estar
ou ficar molhado ou banhado;...” (Ferreira, 1986:1178).
Assim nadar não é mais que:

Dar a possibilidade a um indivíduo de poder, para cada situação


inédita, imprevisível, resolver o triplo problema de uma inter-rela-
ção dos três componentes fundamentais: equilíbrio, respiração e pro-
pulsão. Raposo (1981:46)

Nessa mesma linha de raciocínio, Catteau


Nadar torna-se livre
& Garroff (1990) definem que saber nadar é
de normas, técnicas
poder resolver qualitativa e quantitativamen- e regras e pode
te, para qualquer eventualidade, a coordena- ser qualquer gesto
ção desses três elementos. Assim, o ato de nadar motor que permita
o deslocamento ou
torna-se livre de normas, técnicas e regras e a não-imersão
pode ser qualquer gesto motor que permita o involuntária.
deslocamento ou a não-imersão involuntária.
Nadar, portanto, a partir de Damasceno (1992), é en-
tendido pelo Projeto Aprender a Nadar como algo desvincu-
lado da ação desportiva estruturada e regulamentada que
habitualmente se entende como natação. Em outros ter-
mos, a palavra natação faz referência à forma técnica de
como se locomover na água, dentro da qual se definem e se
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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

diferenciam seus quatro estilos fundamentais. Praticar na-


tação é ter gosto e possibilidade, ou ainda obrigação, de
expressar-se no meio líquido com certa periodicidade, exer-
cendo a arte ou esporte de nadar. Entretanto, para Araújo
Júnior (1993), qualquer conceituação, se entendida de for-
ma isolada, corre o risco de se apresentar desprovida de
conteúdo e significado educacional.
Tendo isso em conta, o Projeto Aprender a Nadar inter-
preta esse aprendizado como processo organizado e sis-
tematizado, que tem por princípio que é necessário saber
nadar para posteriormente avançar para a natação propri-
amente dita, entendida por manifestação da cultura cor-
poral, estruturada mediante conteúdos e habilidades que
lhe são próprias.
Dessa maneira, a aprendizagem do nadar consiste no
domínio e desenvolvimento de conteúdos específicos sem
esgotar, porém, a possibilidade de pensar a natação como
prática de prazer, de satisfação física e mental: como pon-
tua Dieckert (1980/1983), natação, mais do que nadar ra-
pidamente em linha reta, é uma relação múltipla com a
água e com o próprio corpo. Diante disso:

à natação dita moderna cabe, antes de ser instrumento de contribui-


ção à formação de atletas e/ou minicampeões, garantir o desenvolvi-
mento da personalidade do indivíduo oferecendo-lhe os meios para
que ele próprio atinja os seus fins (Damasceno, 1992:19),

devendo dirigir-se a uma “formação fundamental em que a ra-


cionalização do movimento não iniba a criatividade, a espontanei-
dade, a liberdade do movimento e a sua significação e sentido”
(Burkhardt & Escobar, 1985:1).
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APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

No âmbito pedagógico adotado por este


projeto de extensão, o nadar configura-se como
A natação configura-se
atividade que proporciona inicialmente pra- como atividade que
zer, e colabora ainda com o desenvolvimento proporciona inicialmente
integral da pessoa, produzindo experiências prazer, e colabora ainda
com o desenvolvimento
boas e não frustrantes na água. Apesar de ser integral da pessoa.
por demais atraente, sua prática pode gerar
sentimentos como o medo e a insegurança,
pelo fato de ocorrer em um meio ao qual o corpo não está
acostumado e ambientado, e que pode oferecer riscos àque-
les que ainda não sabem “nadar”.

2.2 O nadar: adequado para todas as idades

Embora o sentido dado à palavra iniciação


esteja muitas vezes relacionado ao trabalho O desejo de aprender
com pessoas mais jovens, a associação não é a nadar (...) está
presente tanto na
de todo verdadeira, pois o desejo de aprender criança e no
a nadar, assim como qualquer outro tipo de adolescente como
atividade, seja ela física ou não, está presente nos adultos e idosos.
tanto na criança e no adolescente como nos
adultos e nos idosos, fato que define como objetivo do pro-
jeto o atendimento às pessoas de diferentes idades
nas modalidades presentes. O conhecimento dos interesses
dessas faixas etárias distintas é fundamental para que a
aprendizagem ocorra de forma eficiente e significativa, visto
que: “Planejar o que e como ensinar implica saber quem é o
educando” (Bock et al ., 1993). De fato, as crianças vivem o
nadar de forma descontraída e adquirem os conteúdos pelo
simples prazer da execução, enquanto os adultos tendem a
ser mais pessimistas, valorizando mais o que temem em de-
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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

trimento daquilo a que aspiram. Já o idoso visa melhorar


sua auto-estima, para que saiba lidar com as qualidades e
potencialidades que ainda possui.
Dessa forma mais detalhada, reconhece-se um primeiro
grupo, composto por crianças com idade inferior a seis anos,
no qual o interesse em aprender a nadar envolve o adulto
que as encaminhou à prática, pois esses alunos são movi-
dos pela motivação em brincar com a água, um novo meio
cheio de novas possibilidades e encanto, que por esse moti-
vo é incansavelmente solicitado. Ao professor cabe, por-
tanto, centrar seu trabalho no prazer da execução, na
exploração do meio e das potencialidades destes; também
são destinadas às crianças situações de confiança e segu-
rança no meio em questão. Os jogos são, sob essa análise,
correspondentes ideais para a turma.
Nesse contexto, entendem-se jogos como

atividades em que nos exercitamos brincando, distraindo-nos, de ma-


neira alegre e prazerosa, até mesmo sem perceber (Teixeira,
1999:33);

tais características permitem que os educadores os tenham


como aliados, pelo fato de somarem diversão aos objetos
propostos pelo docente em suas aulas e com
isso atrair a atenção dos alunos, sejam eles in-
Jogos: atividades em fantes ou não. Possibilitam descanso dos cen-
que nos exercitamos tros nervosos, o que leva à diminuição da
brincando, distraindo-nos, tensão daquele que a elas se submete. Tal fato
de maneira alegre e
prazerosa, até mesmo
garante não só melhor envolvimento do apren-
sem perceber. diz com a prática em si, como também afasta o
receio de performances não-satisfatórias diante
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APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

Foto 1 Aula temática – situação de jogo.

dos colegas e do professor, comportamento muito comum


no período da segunda infância (sete a onze anos) e na ado-
lescência, não ignorando a sua presença nas demais idades.
O segundo grupo corresponde à faixa etária dos seis aos
doze anos, e, diferentemente do grupo anterior, aqui já existe,
em alguns casos, o interesse da criança em nadar, podendo
ainda ser restrito a seus pais em outros. É nesse período, se-
gundo Piaget (1993), que a criança encontra a si mesma e
passa a ter autonomiaG pessoal, e no aspecto afetivo, a von-
tade surge como “qualidade superior”. Os alunos têm, por
vezes, como objetivo a conquista da liberdade de ação, de
autonomia também no meio aquático, a capacidade de
explorá-lo, mediante deslocamento, de maneira satisfatória.

G Termo conceituado no Glossário.


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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Tal situação garante a possibilidade da introdução de noções


técnicas da modalidade nas aulas destinadas a esses alunos,
sendo os jogos grandes aliados no que diz respeito à motiva-
ção. As atividades em grupo correspondem à tentativa de
organização coletiva referente à segunda infância.
Adolescentes entre doze e dezoito anos compõem o ní-
vel seguinte; a procura dessa prática, nesse contexto, acontece
em geral por iniciativa própria, justamente por se encontra-
rem numa fase de busca, de interiorização, em que ocorre o
distanciamento, em alguns casos até o confronto, entre os
anseios dos jovens e dos adultos; portanto o interesse pela prá-
tica da modalidade encontra-se em si mesma. A esses nadado-
res, o aprimoramento das habilidades técnicas destina-se à
melhoria da sua performance, posto que a competição passa a
fazer parte de sua realidade; ainda assim, os jogos devem ser
desenvolvidos no decorrer do curso. Nessa faixa etária o edu-
cador e suas palavras passam a ter considerável importância,
pois irão confirmar a confiança que tais pessoas remetem a
elas próprias. Muitas vezes, estreita-se a relação aprendiz-
professor, o que afasta a possibilidade de confronto existente
diante dos outros adultos; são como amigos, parceiros...
Um quarto grupo é composto por indivíduos de vinte a
quarenta anos. Ele é movido não apenas pela atividade em
si, mas, sobretudo pelos seus benefícios fisiológicos. A pre-
ocupação estética também aparece como grande aliada na
escolha dessa prática. Os programas destinados a alunos com
esse perfil são compostos por atividades que estimulam a
autoconfiança e a auto-estima, sendo menos priorizadas as
grandes performances. Para estimular o grupo, o docente
remete a noções de confiança no que diz respeito às poten-
cialidades dos praticantes.
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APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

Finalmente, há os praticantes com mais de quarenta


anos, os quais, em sua maior parte, têm a modalidade como
forma de recreação; nela buscam benefícios como a distra-
ção e a socialização e, ainda, a minimização dos efeitos
deletérios provocados pelo tempo. Nessas aulas, prioriza-se
o prazer; o medo e outros sentimentos negativos são mini-
mizados, assim como se resgata a auto-estima. Portanto, o
trabalho é centrado nas suas potencialidades, o que lhes
proporciona momentos de realizações.
Ressalta-se que a classificação aqui relatada possui cu-
nho didático. Por isso, ignora-se a hipótese da transferên-
cia das características apontadas em cada grupo a todos os
seus componentes, generalização essa que seria descabida e
preconceituosa, visto que as pessoas possuem característi-
cas próprias que podem destoar, parcial ou totalmente, do
contexto abordado.
Além da diversidade de interesses, outro aspecto que jus-
tifica a divisão dos alunos em grupos de acordo com a idade
são as diferenças no desenvolvimento cogniti-
vo, afetivo-social e motor, percebido sobretudo
nas crianças (Tani, 1988). Conhecendo essas di- Outros aspectos
ferenças, busca-se formar turmas com carac- que justificam a
terísticas semelhantes, o que favorecerá, por divisão dos alunos são:
diferenças no
exemplo, a escolha dos métodos para o desen- desenvolvimento
volvimento dos conteúdos da natação. O refe- cognitivo, afetivo-social
rido autor pondera que tal discrepância se dá e motor.

não em relação ao desenvolvimento do proces-


so em questão, cuja seqüência é a mesma para qualquer criança,
mas sim devido à variação na velocidade de progressão deste.
O Projeto Aprender a Nadar tem como ponto de partida
o ensino de habilidades mais gerais em faixas etárias meno-
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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

res para atingir o ensino das habilidades específicas em idade


mais avançada, procurando subsídios nas características do
desenvolvimento motor nas diferentes idades para fun-
damentar a intervenção no processo de aprendizagem.

2.3 Meio, recursos e equipamentos a favor do


Aprender a Nadar

Na prática de qualquer atividade, o prazer é fator im-


portante para a motivação dos indivíduos. Quando se tem
prazer na execução e ela proporciona boas sen-
sações, o exercício torna-se hábito, forma de
Quando se tem prazer
relaxamento e diversão, permitindo a satisfa-
na execução e a prática ção física e mental. Na água não é diferente: o
proporciona boas aluno só consegue desfrutar dos benefícios e das
sensações, o exercício
satisfações que o meio lhe oferece quando a
torna-se hábito.
aceita como ambiente agradável, capaz de lhe
propiciar momentos de bem-estarG e, ao mes-
mo tempo, contribuir para a concretização de seus objetivos.
Diante do exposto, a fase de adaptação ao meio líquido
revela sua importância; é nessa etapa, de notável fragilidade,
que o professor deve manter-se dentro d’água o máximo
possível (Machado, 1978) para que seja assegurada uma
boa ambientação. Por isso, ao lidar com esse estágio, faz-se
necessário que o profissional de educação físicaG mantenha-
se sempre atento para ser capaz de suprir as necessidades
dos seus alunos e fazê-los superar suas dificuldades.
Quando manifestada de forma prazerosa, a prática físi-
co-esportiva possibilita o convívio social, a sociabilização e

G Termo conceituado no Glossário.


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APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

Foto 2 Relação professor–aluno no PAN – superando dificuldades.

a integração dos que a ela se apresentam. É capaz, ainda, de


despertar interesse por atividades a ela relacionadas; no caso
na natação, permite a aproximação com outros esportes
aquáticos como mergulho, rafting,G pólo aquático, saltos or-
namentais, enfim, outras atividades que envolvam o domí-
nio de formas básicas de como se situar na água.
Na busca por melhor repercussão dos ensinamentos,
aposta-se em recursos artificiais, sejam estes de ordem in-
formativa (como o quadro-negro, em que se expõe o con-
teúdo a ser ministrado), demonstrativa (em que são
apresentados slides e vídeos que ilustram os comandos téc-
nicos), ou mesmo de segurança, que incluem as bóias de
braço, os flutuadores, os coletes ou cinturões e até mesmo
o tão requisitado aquatubo. O que se tem observado é que

G Termo conceituado no Glossário.


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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

tais estratégias atingem, igualmente, alunos e mestre, ou


seja, elas também os auxiliam no cumprimento dos seus
objetivos, já que garantem maiores possibilidades de expe-
rimentação com segurança e motivação, visto que seus su-
postos limites são vencidos e o receio, derrotado.

Foto 2 Materiais utilizados nas aulas de iniciação (a ) e aprimoramento (b) (cont.)


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APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

Foto 3 Exposição do conteúdo da aula pelo monitor no quadro-negro utilizado na iniciação,


aprimoramento (adulto, crianças).

Essenciais em algumas etapas, como as pranchas e os


flutuadores no ensino da progressão dos nados e em suas
práticas parciais, os equipamentos também apresentam des-
vantagens; segundo Palmer (1990), podem mascarar as po-
tencialidades do aluno e, com isso, submetê-lo a situações
de risco; podem causar relação de dependência ou, ainda,
resultar em performances futuras deficientes por restringir a
movimentação durante a fase de aprendizagem.
Os recursos disponíveis àqueles que se propõem a ensi-
nar elementos da cultura corporal percorrem, em geral, uma
graduação; assim, no início, o professor destina à turma co-
mandos verbais, antes ou depois de sua descrição; já num
segundo estágio, a demonstração ilustra o repertório da fase
anterior e, finalmente, quando necessário, o mestre utiliza
a esterocepção, visto que, por meio do toque, ele desperta o
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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Foto 4 Diferentes formas de recursos metodolõgicos: verbal, visual e tátil.


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APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

corpo do aluno para a atividade. O modo e a freqüência em


que são solicitados correspondem ao perfil do público com
qual se trabalha, cabendo ao educador definir a adequada
relação entre eles.
Dessa forma, tais práticas exigem singular
competência pedagógica, para que se confi- As atividades aquáticas
têm-se mostrado
gurem formas eficientes no que diz respeito à
eficientes no que diz
obtenção de pleno desenvolvimento físico e respeito à obtenção de
mental, o que permite, além da manutenção pleno desenvolvimento
da saúde e do preparo físico, o crescimento pes- físico e mental.

soal; é uma boa alternativa para levar a um


bom funcionamento de todo corpo. Damasceno (1992:22)
aponta que:

Sua prática regular e continuada desenvolve, simultaneamente com


maior ou menor intensidade, todas as partes do corpo, atuando em sua
totalidade e junto à mente para um desenvolvimento saudável e eficaz.

2.4 Propriedades físicas da água

Ao lidar com o meio líquido, é preciso ter em mente


que ensinar exercícios na água é mais complicado do que
em terra, em virtude das características particulares do
meio; só o domínio dessas singularidades assegura a
concretização dos efeitos físicos desejados diante de práti-
cas destinadas ao ambiente em questão.
Assim, na natação ou na hidroginástica, as atividades
são determinadas pelas propriedades físicas da água, den-
tre as quais se destacam: o empuxo ou Princípio de Arquime-
des, a força peso ou da gravidade, a temperatura da água, a
pressão hidrostática e a sua resistência.
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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Em outros termos, pode-se afirmar que al-


Algumas propriedades gumas propriedades da água são importantes
da água são importantes para a adequação de exercícios às capacida-
para a adequação des biológicas dos indivíduos, a fim de otimizar
de exercícios às
seus efeitos, evitar complicações físicas e ga-
capacidades biológicas
dos indivíduos. rantir a satisfação pela atividade. Daí a neces-
sidade de conhecê-las em profundidade:

• Empuxo e Gravidade

O empuxo, ou Princípio de Arquimedes, é característi-


ca particular do ambiente líquido. O corpo nele inserido
está submetido a força de ocorrência no plano vertical,
em direção à superfície da água, que traciona o corpo com
intensidade igual ao peso do líquido deslocado (dessa for-
ma, o empuxo recebe acréscimo conforme se aumenta a
profundidade). É contrário à gravidade que atua em todos
os corpos, atraindo-os para o solo. De relevante importân-
cia para a estabilidade do corpo na água, ambas contribuem
para a manutenção do equilíbrio, da flutuabilidade e, em
conseqüência, interferem no aprendizado; respondem ain-
da pelos efeitos retardador e propulsivo aí presentes, os quais
decorrem da forma e da velocidade do movimento execu-
tado, e também são influenciados pela temperatura e pela
pressão hidrostática do meio.
Freqüentemente, essas forças se equilibram, o que neu-
traliza seus efeitos e faz certo volume, de um corpo em situa-
ção de envolvimento com a água, manter-se emerso (Catteau
& Garroff, 1990), salvo em situações de posicionamento ver-
tical, quando a gravidade sobrepõe-se à atuação do empuxo.
Segundo Becker & Cole (2000), essa flutuabilidade in-
terfere diretamente na realização do exercício, pois “à medi-
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APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

Foto 5 Flutuação com o auxílio de materiais (aquatubo): um início seguro e promissor.

da que o corpo é gradualmente submerso, a água é deslocada, crian-


do a força de flutuabilidade”, por isso, para os autores, uma
pessoa submersa até a região umbilical elimina aproximada-
mente 50% de seu peso corporal, o que lhe confere caracte-
rísticas diferentes das assumidas em terra e podem facilitar
ou dificultar a execução de determinados movimentos.
Nesse sentido, há ainda dois fatores biológicos que in-
terferem nesse fenômeno: a quantidade de ar nos pulmões
e a porcentagem de gordura do corpo; tanto um quanto
outro, quando presentes em maiores proporções, facilitam
que o corpo se mantenha na superfície d’água, visto que
eles tornam os corpos menos densos.

• Temperatura

Outro fator que influencia a execução de atividades em


meio líquido é a temperatura da água, propriedade capaz
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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

de produzir alterações fisiológicas importantes durante os


exercícios aquáticos. Isso acontece porque a temperatura
externa ao organismo interfere diretamente
nele para que, por trocas de energia térmica
entre ambos, estes entrem em situação de
O calor produzido
durante uma hora
equilíbrio.
de atividade física é Assim, o calor produzido durante uma
suficiente para aumentar hora de atividade físicaG é suficiente para au-
a temperatura central
mentar a temperatura central do corpo em
do corpo em até 3oC.
até 3oC, fazendo esse acréscimo de energia
ter que ser dissipado. Os mecanismos de dis-
sipação de calor são os responsáveis pela manutenção da
temperatura corporal.
Dentre tais meios de defesa, a evaporação do suor é a
mais eficiente; entretanto, em face de temperaturas exter-
nas elevadas, ela se torna ineficaz, incapaz de promover res-
friamento satisfatório, o que leva a desempenho deficiente.
É por isso que as piscinas utilizadas para atividades vigoro-
sas são mantidas a temperaturas amenas, entre 27 e 29oC
(Paulo, 2000).

• Pressão Hidrostática

Imerso em meio líquido, um ponto sofre a ação da cha-


mada pressão hidrostática, que se manifesta igualmente
em qualquer nível e direção; sua exploração garante máxi-
mo aproveitamento da sobrecarga própria do meio (Grupo
de Estudos da Universidade Castelo Branco, 2000). Entre-
tanto, essa propriedade é sentida com mais evidência na

G Termo conceituado no Glossário.


75
APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

região do tórax, pela dificuldade de sua expansão (Skinner


& Thomsom, 1985).
A situação de equilíbrio em que se encontra tal força
determina o não-deslocamento do corpo em meio aquoso,
diferentemente do que acontece quando ela se manifesta
de maneira desigual, seja em relação ao nível em que o
objeto está imerso ou no que diz respeito a sua direção;
neste caso, tem-se certa movimentação até que a situação
inicialmente relatada seja (re)estabelecida. O aumento des-
sa pressão ocorre com de variações, crescentes, de profundidade
e densidade do fluido; a cada pé de profundidade, ela alte-
ra, positivamente, seu valor em 0,43 pressões
atmosféricas (Grupo de estudos da Universi-
dade Castelo Branco, 2000). A sensação de au-
A sensação de ausência
sência de peso, presente quando submersos, de peso quando
decorre da pressão lateral existente no meio submerso decorre da
aquático, aplicada simultaneamente aos efei- pressão lateral existente
no meio aquático.
tos da flutuabilidade (Campion, 2000). Ela
atua ainda de modo benéfico no nosso orga-
nismo, já que interfere na redistribuição sangüínea e tam-
bém de outros componentes líquidos, da periferia para o
centro do corpo.

• Resistência

A resistência da água ou arrasto, como é cientificamente


denominada, caracteriza-se por ser força de oposição à pro-
gressão do corpo em movimento nesse meio. Responde ao
efeito retardador do deslocamento no meio aquático, já que
este é cerca de mil vezes mais denso que o ar. O arrasto en-
frentado por quem nada é diretamente proporcional à quanti-
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APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

dade de turbulência por ele criada; assim será tanto maior


quanto mais conturbadas forem as correntes laminares.
A velocidade, a forma e a orientação do corpo são fato-
res diretamente relacionados à turbulência; em geral, os
objetos afilados encontram menor resistência do que os com
“cantos quadrados e formas convolutas”; o arrasto é menos
evidente quando o corpo assume posição mais horizontal,
o que faz restrito número de partículas das correntes lami-
nares ser afetado. A velocidade, que em intensidade eleva-
da provoca maior fricção e turbulência na água, pode resultar
em maior resistência.
Para melhor compreensão, o fluxo laminar é caracteri-
zado como: “correntes regulares e contínuas de moléculas
de hidrogênio e oxigênio em flutuação” (Maglischo, 1999),
compactadas umas sob as outras; já o fluxo turbulento “ocor-
re quando há interrupção do fluxo contínuo, geralmente
‘descaracterizado’ pelo encontro deste com um objeto”.
Deve-se salientar que, em situação de turbulência, uma
movimentação rápida e circular das moléculas, denomina-
da por Skinner & Thomsom (1985) de redemoinhos, se faz
presente, diferentemente do que ocorre quando o fluxo
laminar acontece.

2.5 Benefícios físicos e alterações fisiológicas


proporcionados pela água

Devido às propriedades da água já citadas, o exercício


em meio líquido situa-se como recurso capaz de proporcio-
nar momentos de satisfação física e mental, o que diminui
as possibilidades de ocorrência de doenças, reduz dores mus-
culares, relaxa, diminui o estresse e melhora a auto-estima.
77
APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

O Quadro 2.1 ilustra o tópico apresentando alguns dos


benefícios que a atividade física, em meio líquido, propor-
ciona aos que a praticam com freqüência:
Dessa forma, quando imerso, o corpo so-
fre influência de forças do meio líquido, o que Quando imerso, o corpo
sofre influência de
faz os sistemas orgânicos se adaptarem às con-
forças do meio líquido,
dições do seu novo hábitat. Segundo Hollman o que faz os sistemas
& Hettinger (1989), a água produz mudanças orgânicos se adaptrem
na regulação , principalmente do sistema às condições do seu
novo habitat.
cárdio-pulmonar e do metabolismo, além de

Quadro 2.1 Benefícios da atividade em meio líquido.

• Aumento da taxa metabólica de repouso, tal como do gasto energético;

• Redução dos riscos de diabetes, por controlar a taxa de colesterol e de


triglicerídios;
• Controle da pressão sanguínea;

• Melhora da auto-estima, com diminuindo das possibilidades de depressão;

• Melhora das funções cardiovasculares, pulmonares e mentais;

• Sociabilização;

• Aumento do bem-estar e da perspectiva de vida;

• Controle do peso corporal;

• Melhora da flexibilidade;

• Prevenção do estresse;

• Melhora da força e da resistência muscular;

• Alívio da dor e do espasmo muscular;

• Diminuição do impacto;

• Retardo do envelhecimento;

• Auxílio para manutenção da postura correta.


78
APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

influir na motricidade. Algumas dessas alterações são cita-


das a seguir:

• Sistema Respiratório

Afetado pela imersão do corpo, o sistema respiratório


sofre alterações, causadas em grande parte devido à com-
pressão da caixa torácica pela própria água; isso aumenta a
pressão interna dessa região, fato que diminui o volume de
ar trocado entre o organismo e meio ambiente. Dessa for-
ma, o trabalho respiratório é aumentado de modo a com-
pensar as trocas gasosas que ficaram mais fracas. A Figura 1
oferece uma visão geral dos efeitos da imersão sobre a res-
piração, adaptada de Becker & Cole (2000).
Esses autores afirmam que:

[...] para um atleta acostumado a exercícios de condicionamento


em terra, um programa de exercícios aquáticos resulta em um
significante desafio de carga de trabalho para o aparelho respira-
tório. Esse desafio pode aumentar a eficiência do sistema respirató-
rio caso o tempo gasto no condicionamento aquático seja suficiente
para atingir os ganhos de força do aparelho respiratório. (Becker
& Cole, 2000:39)

• Sistema Cardiovascular

Como já mencionado, o corpo humano, quando imerso


no meio aquático, é exposto à pressão hidrostática. Essa va-
riável influenciará a redistribuição sanguínea, por atingir
o retorno venoso, intensificando-o. Isso resulta em deslo-
camento de sangue para a porção supra-abdominal do nosso
organismo, ou seja, este fluxo segue das extremidades infe-
79
APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

IMERSÃO COM A CABEÇA PARA FORA

Aumento de Maior Aumento da


volume sanguíneo preenchimento dos pressão
central vasos pulmonares intratorácica

Maior resistência
das vias aéreas
Diminuição da Diminuição do
capacidade de volume pulmonar e
difusão da capacidade vital

REDUÇÃO DA EFICIÊNCIA DO SISTEMA

AUMENTO DO TRABALHO RESPIRATÓRIO EM 60%

Figura 1 Efeitos da imersão sobre a respiração.


Adaptada de Becker & Cole, 2000.

riores, por ação da pressão hidrostática, para


A pressão hidrostática,
a cavidade torácica e o coração. auxiliada pela ação de
Essa situação é benéfica no tratamento de bombeamento exercida
edemas articulares quando o indivíduo pelos músculos, garante
retorno eficaz de
lesionado está submerso: a pressão hidrostáti- líquidos, o que interfere
ca, auxiliada pela ação de bombeamento na sua redistribuição
exercida pelos músculos, garante retorno efi- central e garante a
redução da pressão
caz de líquidos, o que interfere na sua redis-
articular e da dor.
tribuição central e leva à redução da pressão
80
APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

articular e da dor (alerta-se que, para a obtenção de melho-


res resultados pela atividade física,G é necessário que ela
seja realizada na posição vertical e com o membro lesado
totalmente imerso).
Outra alteração provocada pela imersão do indivíduo
no meio líquido é o aumento do volume sangüíneo cen-
tral, que pode acrescer cerca de 0,7 litro ao seu volume
“inicial”, com imersão até o pescoço. Esse aumento afeta a
atividade do miocárdio, que responde tornando sua con-
tração mais vigorosa; em conseqüência, o volume de san-
gue ejetado a cada contração efetuada por esse órgão é maior.
Partindo da definição de Débito Cardíaco (DC) como o
produto do volume sistólico multiplicado pela freqüência
cardíaca, conclui-se que o aumento do volume sistólico ou
volume de ejeção implica, conseqüentemente, o aumento
do DC. A influência dessa alteração sobre o débito cardíaco
torna-se ainda mais evidente quando sabemos
que a freqüência cardíaca mantém sua ampli-
O número de tude praticamente estável; é por isso que os
batimentos cardíacos
exercícios aquáticos são considerados menos
está diretamente
relacionado à efetivos se comparados aos terrestres, caso a
intensidade do esforço melhoria do sistema cardiovascular seja alme-
realizado. jada (Becker e Cole, 2000).
Essa propriedade,
Sabe-se que o número de batimentos cardía-
embora menos
evidente no meio líquido, cos ou batimentos por minuto (bpm) está dire-
também é válida. tamente relacionado à intensidade do esforço
realizado. Essa propriedade, embora menos evi-
dente no meio líquido, também aí é válida. O adulto jovem,
em situação de repouso, costuma apresentar cerca de 70 bpm;

G Termo conceituado no Glossário.


81
APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

crianças e adolescentes, por causa do coração de tamanho


inferior e de fibras musculares mais curtas, possuem maior
número de bpm, tanto em repouso como em atividade
(Weineck, 2000); assim, com a mensuração de um valor, pós-
esforço, é possível estimar o grau de intensidade deste para
aquele que a executa. Quando o valor obtido atingir cerca de
100 bpm, de modo geral, a atividade é considerada leve; por
volta de 120 a 140 bpm, moderada; 160 bpm, corresponde
àquelas de intensidade “forte”, e, às de esforço máximo, essa
grandeza é de 180 bpm (Mellerowicz, 2001).
Pode-se também determinar a intensidade do esforço
com base na freqüência cardíaca (FC) máxima, que corres-
ponde ao valor obtido pela fórmula: FC máxima = 220 –
idade; com isso classificam-se esforços leves como os que
resultam em bpm 60% inferiores à FC máxima; moderados
são os responsáveis por freqüência entre 65 e 75% da mes-
ma e os de valores superiores a estes são classificados como
intensos, recomendando-se não ultrapassar a faixa dos 85%.
A freqüência cardíaca pode ser avaliada, manualmen-
te, de duas formas. Ambas consistem em posicionar os de-
dos indicador e médio sobre o punho esquerdo (artéria
radial) ou sobre a artéria carótida e registrar o número de
pulsações num determinado período; no primeiro caso em
10 segundos, sendo esse valor multiplicado, posteriormente
por 6, e, no segundo caso, 15 segundos corresponde ao in-
tervalo e, o número 4, é o fator multiplicador. O uso desses
ajustes faz tais valores serem apresentados na mesma uni-
dade, ou seja, em batimentos por minuto. Não há discre-
pância entre os dados obtidos por diferentes métodos, desde
que seus princípios sejam respeitados; entretanto, sugere-
se que o primeiro restrinja-se a atletas e alunos experien-
82
APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

tes, e o segundo atenda aos iniciantes, por diminuir a mar-


gem de erro dos dados finais, no caso de falhas durante o
registro das pulsações.
A seguir serão apontadas possíveis formas de obtenção
da freqüência cardíaca máxima (FCM) segundo diferentes
autores:

Quadro 2.2 Possíveis formas de calcular a FC máxima, segundo as fórmulas


(Marins & Giannichi, 1998).

AUTORES
Karvonen (1975)
Jones (1975)
Sheffield (1965)

FÓRMULAS
FCM = 220 – idade
FCM = 210 – (0,65 × idade)
Treinados: 205 – (0,41 × idade) / Destreinados: 198 – (0,41 × idade)

O Projeto Aprender a Nadar costuma reservar três mo-


mentos para obter esses dados: no início da aula, para ga-
rantir a possibilidade de sua execução de modo seguro e
eficaz; pós-fase de esforço, para certificar-se de que o obje-
tivo do exercício está sendo cumprido e não
influencie, de forma negativa, o aluno num
determinado momento, e, ao término da aula,
A freqüência para garantir que o aluno se recuperou do es-
cardíaca é cerca de
forço e, portanto, é capaz de deixar a sessão e
10 a 20 bpm inferior
aos valores obtidos, prosseguir, normalmente, com seus afazeres.
em uma mesma A fim de complementar tais considerações,
situação, no explicita-se que a freqüência cardíaca é cerca
meio terrestre.
de 10 a 20 batimentos por minuto inferior
83
APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

aos valores obtidos, em uma mesma situação, no meio ter-


restre (Baum, 2000). Isso se deve à presença da pressão hi-
drostática que, ao intensificar o retorno venoso, permite
que o coração ejete igual volume de sangue com menor
número de batimentos.
Outra adaptação fisiológica a que está submetido o
corpo humano, quando em meio líquido diz respeito à
temperatura da água; estando fria causa vasoconstri-
ção, o que pode alterar tanto a pressão arterial quanto a
freqüência cardíaca. Esses dados são confirmados por
Hollmann & Hettinger (1989), quando afirmam que, em
temperaturas abaixo das condições de neutralidade tér-
mica (33-34oC), tem-se aumento da perda de calor e, ao
mesmo tempo, declínio do fluxo sanguíneo cutâneo. Já o
aumento dessa propriedade ocasionará progressiva elevação
do débito cardíaco.
Diferente propriedade capaz de afetar esse sistema é a
profundidade de imersão do corpo em meio líquido; essa
propriedade, assumindo valores mais elevados, reduz a re-
sistência periférica e ainda enfatiza os efeitos vagais,G o que
leva à diminuição da freqüência cardíaca. A justificativa
centra-se na inter-relação do sistema vasomotor com o con-
trole da circulação via nervos vagos. São estes os nervos por
onde transitam as fibras parassimpáticas com destino ao
miocárdio, que, quando estimuladas, como na situação des-
crita, agem inibindo a ação do músculo.
Para que alterações fisiológicas citadas não sejam pre-
judiciais ao desempenho de quem se encontra em meio
líquido, Paulo (2000) indica como intervalo de profundi-

G Termo conceituado no Glossário.


84
APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Foto 6 Profundidade ideal de uma piscina destinada a práticas como natação (iniciação)
e hidroginástica.

dade satisfatório, para piscinas destinadas às práticas em


questão, aquele que atinge desde a cicatriz umbilical até a
linha subaxilar.

• Sistema Musculoesquelético

Os efeitos causados a esse sistema resultam da compres-


são exercida pelo meio líquido, bem como pela regulação
reflexa dos tônus dos vasos sangüíneos (Becker & Cole,
2000). Essa regulação de tônus também ocorre no múscu-
lo, por exemplo, quando a água está muito fria. De acordo
com Vleminckx (2000), nessa situação a ação dos termor-
receptores cutâneos diminui e os neurônios motores são
estimulados, podendo ocorrer, em decorrência disso, au-
mento do tônus muscular.
85
APROXIMANDO-SE DO MEIO LÍQUIDO

Outro acontecimento é a maior remoção


de metabólitos provenientes da degradação Outro acontecimento
muscular, porque, durante a imersão, a dis- é a maior remoção de
tribuição de oxigênio é aumentada graças ao metabólitos provenientes
da degradação
direcionamento do fluxo sangüíneo para o te- muscular.
cido muscular e cutâneo.
A natação, especificamente, proporciona estímulos à
maioria dos grupamentos musculares. Serve tanto ao me-
tabolismo aeróbio como ao anaeróbio; diante de atividades
de média intensidade, as resistências aeróbias geral e local
são estimuladas, e, com sessões de aprimoramento destina-
do à coordenação, flexibilidade, força dinâmica e velocida-
de, solicita-se a local, anaeróbica. É, portanto, um desporto
completo, como afirmam os dizeres populares.

2.6 Questões para discussão

1. Na Antiguidade, o contato do homem com o meio líquido foi fundamental para


a sua sobrevivência; atualmente, essa relação mantém a mesma importância?
2. Diante dos diferentes níveis pedagógicos, iniciação, aprimoramento e treina-
mento, e das diferentes faixas etárias, a natação sobrepõe-se, em algum
momento, ao nadar?
3. A literatura apresenta diversos argumentos favoráveis à adequação do con-
teúdo das aulas a serem ministradas às expectativas do público alvo. De
fato, estes devem serem considerados para que o andamento do programa
não seja comprometido?
4. É visível o crescente número de adeptos às modalidades aquáticas. As pro-
priedades físicas da água e/ou os benefícios por ela proporcionados podem
ser apontados como fatores propiciadores dessa manifestação?
5. A atratividade característica das atividades lúdicas, responsável pelo esta-
belecimento de uma relação harmoniosa entre o aprendiz e a água pode
auxiliar no processo ensino – aprendizagem da natação?
86
APRENDER A NADAR COM A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

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