Uma Decisão Comum para Qualquer Corte Constitucional?
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Uma Decisão Comum para Qualquer Corte Constitucional?
v. 7, n. 2, julho-dezembro 2021
© 2021 by RDL – doi: 10.21119/anamps.72.309-331
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ANAMORPHOSIS – Revista Internacional de Direito e Literatura, v. 7, n. 2, p. 309-331
1 INTRODUÇÃO
A Constituição de 1988 traz previsões sobre os povos indígenas que
se afastam substancialmente das constituições anteriores. Rompe com o
que se pode identificar como paradigma assimilacionista, então previsto
em instrumentos legais, como o Estatuto do Índio, de 1973, que considera
como objetivo a progressiva integração dos povos indígenas à comunidade
nacional, considerando os indígenas como uma categoria transitória a ser
incorporada a um todo indistinto. Considerando esse contexto histórico, a
Constituição promove uma transição paradigmática (Pereira, 2002) ao
assegurar a pluralidade em termos étnicos, raciais e culturais do Estado
brasileiro.
O mesmo texto constitucional que assegura e reconhece as terras
indígenas atribuindo à União o dever de demarcá-las e de igual modo
prevê, junto com documentos internacionais, a autonomia indígena;
também limita de forma expressa a disposição, inclusive pelos próprios
indígenas, das terras tradicionalmente ocupadas dada a condição de bem
público federal atribuída pelo art. 20, XI, da Constituição.
Embora a Constituição de 1988 tenha estabelecido, no artigo 67, do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), o prazo de cinco
anos a partir da sua promulgação para que a União concluísse as
demarcações, essa disposição não foi cumprida, mesmo comprometendo a
fruição plena dos direitos indígenas previstos constitucionalmente e
acarretando em uma série de violências com remoções forçadas, conflitos
fundiários, insegurança jurídica e condição de indignidade por
impossibilidade as condições de subsistência.
Apesar de o prazo constitucional estar vencido há mais de 27 anos,
esses processos ainda não foram concluídos, ou muitas vezes, sequer
foram iniciados, mesmo sendo uma das causas principais dos conflitos
fundiário no Brasil (Ipea, 2020) e possuírem os direitos territoriais
centralidade para a sociabilidade, dignidade e reprodução cultural
indígena. Assim, em que pesem os avanços normativos, inclusive de
tratados internacionais sobre a o tema, muitos são os conflitos envolvendo
territórios indígenas no Brasil (Bragato e Neto, 2017), principalmente no
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de a ação popular que pretendia anular a demarcação ter
sido julgada improcedente, por maioria dos Ministros, foi acatada a
proposta do Ministro Menezes Direito em estabelecer as denominadas
“salvaguardas institucionais”, enquanto condicionantes para balizar o
processo demarcatório das terras indígenas. Em que pese o aparente
resultado positivo para os direitos territoriais indígenas, materializado
pela improcedência da ação que pretendia anular a demarcação da Terra
Indígena Raposa Serra do Sol, as referidas salvaguardas, em especial a que
estabelece o marco temporal da ocupação, merecem detida atenção por
suas repercussões negativas.
O estabelecimento das dezenove salvaguardas mencionadas, as
quais superam a divergência objeto da ação popular e extrapolam, em
especial a que trata do marco temporal, promovem uma
superinterpretação do texto constitucional. Vão além dos limites do
textuais, extraindo o que nele não está posto e ainda o contraria. Essa
superinterpretação também não deixa de estar fundada em uma ficção
jurídica, que anula a condição originária dos povos indígenas, enquanto
habitantes primeiros do que viria a ser a colônia portuguesa, ao
estabelecer como único marco o dia de 5 de outubro de 1988. Nega o que
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REFERÊNCIAS
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http://www.lex.com.br/doc_23517842_PORTARIA_N_303_DE_16_DE
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