Resol Federal 2 12
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Capítulo II
Referencial legal e conceitual
Artigo 3º O Ensino Médio é um direito social de cada pessoa, e dever do
Estado na sua oferta pública e gratuita a todos.
TÍTULO II
Organização curricular e formas de oferta
Capítulo I
Organização curricular
Capítulo II
Formas de oferta e organização
Artigo 14. O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, concebida como
conjunto orgânico, sequencial e articulado, deve assegurar sua função formativa para
todos os estudantes, sejam adolescentes, jovens ou adultos, atendendo, mediante
diferentes formas de oferta e organização:
I - o Ensino Médio pode organizar-se em tempos escolares no formato de
séries anuais, períodos semestrais, ciclos, módulos, alternância regular de períodos de
estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou
por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem
assim o recomendar;
II - no Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 (três) anos, com
carga horária mínima total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, tendo como
referência uma carga horária anual de 800 (oitocentas) horas, distribuídas em pelo menos
200 (duzentos) dias de efetivo trabalho escolar;
III - o Ensino Médio regular diurno, quando adequado aos seus estudantes,
pode se organizar em regime de tempo integral com, no mínimo, 7 (sete) horas diárias;
IV - no Ensino Médio regular noturno, adequado às condições de
trabalhadores, respeitados os mínimos de duração e de carga horária, o projeto político-
pedagógico deve atender, com qualidade, a sua singularidade, especificando uma
organização curricular e metodológica diferenciada, e pode, para garantir a permanência e
o sucesso destes estudantes:
a) ampliar a duração do curso para mais de 3 (três) anos, com menor carga
horária diária e anual, garantido o mínimo total de 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas;
V - na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, observadas suas
Diretrizes específicas, com duração mínima de 1.200 (mil e duzentas) horas, deve ser
especificada uma organização curricular e metodológica diferenciada para os estudantes
trabalhadores, que pode:
a) ampliar seus tempos de organização escolar, com menor carga horária
diária e anual, garantida sua duração mínima;
VI - atendida a formação geral, incluindo a preparação básica para o
trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o exercício de profissões técnicas, por
integração com a Educação Profissional e Tecnológica, observadas as Diretrizes
específicas, com as cargas horárias mínimas de:
a) 3.200 (três mil e duzentas) horas, no Ensino Médio regular integrado
com a Educação Profissional Técnica de Nível Médio;
b) 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas, na Educação de Jovens e Adultos
integrada com a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, respeitado o mínimo de
1.200 (mil e duzentas) horas de educação geral;
c) 1.400 (mil e quatrocentas) horas, na Educação de Jovens e Adultos
integrada com a formação inicial e continuada ou qualificação profissional, respeitado o
mínimo de 1.200 (mil e duzentas) horas de educação geral;
VII - na Educação Especial, na Educação do Campo, na Educação Escolar
Indígena, na Educação Escolar Quilombola, de pessoas em regime de acolhimento ou
internação e em regime de privação de liberdade, e na Educação a Distância, devem ser
observadas as respectivas Diretrizes e normas nacionais;
VIII - os componentes curriculares que integram as áreas de conhecimento
podem ser tratados ou como disciplinas, sempre de forma integrada, ou como unidades de
estudos, módulos, atividades, práticas e projetos contextualizados e interdisciplinares ou
diversamente articuladores de saberes, desenvolvimento transversal de temas ou outras
formas de organização;
IX - os componentes curriculares devem propiciar a apropriação de
conceitos e categorias básicas, e não o acúmulo de informações e conhecimentos,
estabelecendo um conjunto necessário de saberes integrados e significativos;
X - além de seleção criteriosa de saberes, em termos de quantidade,
pertinência e relevância, deve ser equilibrada sua distribuição ao longo do curso, para
evitar fragmentação e congestionamento com número excessivo de componentes em cada
tempo da organização escolar;
XI - a organização curricular do Ensino Médio deve oferecer tempos e
espaços próprios para estudos e atividades que permitam itinerários formativos opcionais
diversificados, a fim de melhor responder à heterogeneidade e pluralidade de condições,
múltiplos interesses e aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias, sociais
e culturais, bem como sua fase de desenvolvimento;
XII - formas diversificadas de itinerários podem ser organizadas, desde que
garantida a simultaneidade entre as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da
cultura, e definidas pelo projeto político-pedagógico, atendendo necessidades, anseios e
aspirações dos sujeitos e a realidade da escola e do seu meio;
XIII - a interdisciplinaridade e a contextualização devem assegurar a
transversalidade do conhecimento de diferentes componentes curriculares, propiciando a
interlocução entre os saberes e os diferentes campos do conhecimento.
TÍTULO III
Do projeto político-pedagógico e dos sistemas de ensino
Capítulo I
Do projeto político-pedagógico
Capítulo II
Dos sistemas de ensino
Artigo 17. Os sistemas de ensino, de acordo com a legislação e a
normatização nacional e estadual, e na busca da melhor adequação possível às
necessidades dos estudantes e do meio social, devem:
I - criar mecanismos que garantam liberdade, autonomia e
responsabilidade às unidades escolares, fortalecendo sua capacidade de concepção,
formulação e execução de suas propostas político-pedagógicas;
II - promover, mediante a institucionalização de mecanismos de
participação da comunidade, alternativas de organização institucional que possibilitem:
a) identidade própria das unidades escolares de adolescentes, jovens e
adultos, respeitadas as suas condições e necessidades de espaço e tempo para a
aprendizagem;
b) várias alternativas pedagógicas, incluindo ações, situações e tempos
diversos, bem como diferentes espaços – intraescolares ou de outras unidades escolares e
da comunidade – para atividades educacionais e socioculturais favorecedoras de iniciativa,
autonomia e protagonismo social dos estudantes;
c) articulações institucionais e comunitárias necessárias ao cumprimento
dos planos dos sistemas de ensino e dos projetos político-pedagógicos das unidades
escolares;
d) realização, inclusive pelos colegiados escolares e órgãos de
representação estudantil, de ações fundamentadas nos direitos humanos e nos princípios
éticos, de convivência e de participação democrática visando a construir unidades
escolares e sociedade livres de preconceitos, discriminações e das diversas formas de
violência.
III - fomentar alternativas de diversificação e flexibilização, pelas unidades
escolares, de formatos, componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades,
estimulando a construção de itinerários formativos que atendam às características,
interesses e necessidades dos estudantes e às demandas do meio social, privilegiando
propostas com opções pelos estudantes.
IV - orientar as unidades escolares para promoverem:
a) classificação do estudante, mediante avaliação pela instituição, para
inserção em etapa adequada ao seu grau de desenvolvimento e experiência;
b) aproveitamento de estudos realizados e de conhecimentos constituídos
tanto no ensino formal como no informal e na experiência extraescolar;
V - estabelecer normas complementares e políticas educacionais para
execução e cumprimento das disposições destas Diretrizes, considerando as
peculiaridades regionais ou locais;
VI - instituir sistemas de avaliação e utilizar os sistemas de avaliação
operados pelo Ministério da Educação, a fim de acompanhar resultados, tendo como
referência as expectativas de aprendizagem dos conhecimentos e saberes a serem
alcançados, a legislação e as normas, estas Diretrizes, e os projetos político-pedagógicos
das unidades escolares.
ANEXO:
I – RELATÓRIO
1. Introdução
O Brasil vive, nos últimos anos, um processo de desenvolvimento que se
reflete em taxas ascendentes de crescimento econômico tendo o aumento do Produto
Interno Bruto ultrapassado a casa dos 7%, em 2010. Este processo de crescimento tem
sido acompanhado de programas e medidas de redistribuição de renda que o
retroalimentam. Evidenciam-se, porém, novas demandas para a sustentação deste ciclo de
desenvolvimento vigente no País. A educação, sem dúvida, está no centro desta questão.
O crescimento da economia e novas legislações, como o Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), a Emenda Constitucional nº 59/2009 –
que extinguiu a Desvinculação das Receitas da União (DRU) – e dispôs sobre outras
medidas, têm permitido ao País aumentar o volume de recursos destinados à Educação.
Tais iniciativas, nas quais o Conselho Nacional de Educação (CNE) tem tido
destacada participação, visam criar condições para que se possa avançar nas políticas
Homologado em 23.1.2012 no D.O.U de 24.1.2012.
educacionais brasileiras, com vistas à melhoria da qualidade do ensino, à formação e
valorização dos profissionais da educação e à inclusão social.
Para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa investir fortemente
na ampliação de sua capacidade tecnológica e na formação de profissionais de nível médio
e superior. Hoje, vários setores industriais e de serviços não se expandem na intensidade e
ritmos adequados ao novo papel que o Brasil desempenha no cenário mundial, por se
ressentirem da falta desses profissionais. Sem uma sólida expansão do Ensino Médio com
qualidade, por outro lado, não se conseguirá que nossas universidades e centros
tecnológicos atinjam o grau de excelência necessário para que o País dê o grande salto
para o futuro.
Tendo em vista que a função precípua da educação, de um modo geral, e do
Ensino Médio – última etapa da Educação Básica – em particular, vai além da formação
profissional, e atinge a construção da cidadania, é preciso oferecer aos nossos jovens
novas perspectivas culturais para que possam expandir seus horizontes e dotá-los de
autonomia intelectual, assegurando-lhes o acesso ao conhecimento historicamente
acumulado e à produção coletiva de novos conhecimentos, sem perder de vista que a
educação também é, em grande medida, uma chave para o exercício dos demais direitos
sociais.
É nesse contexto que o Ensino Médio tem ocupado, nos últimos anos, um
papel de destaque nas discussões sobre educação brasileira, pois sua estrutura, seus
conteúdos, bem como suas condições atuais, estão longe de atender às necessidades dos
estudantes, tanto nos aspectos da formação para a cidadania como para o mundo do
trabalho. Como conseqüência dessas discussões, sua organização e funcionamento têm
sido objeto de mudanças na busca da melhoria da qualidade. Propostas têm sido feitas na
forma de leis, de decretos e de portarias ministeriais e visam, desde a inclusão de novas
disciplinas e conteúdos, até a alteração da forma de financiamento. Constituem-se
exemplos dessas alterações legislativas a criação do FUNDEB e a ampliação da
obrigatoriedade de escolarização, resultante da Emenda Constitucional nº 59, de
novembro de 2009.
A demanda provocada por essas mudanças na legislação, por si só, já indica
a necessidade de atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(Parecer CNE/CEB nº 15/98 e Resolução CNE/CEB nº 3/98), além de se identificarem
outros motivos que reforçam essa necessidade.
A elaboração de novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio se faz necessária, também, em virtude das novas exigências educacionais
decorrentes da aceleração da produção de conhecimentos, da ampliação do acesso às
informações, da criação de novos meios de comunicação, das alterações do mundo do
trabalho, e das mudanças de interesse dos adolescentes e jovens, sujeitos dessa etapa
educacional.
Nos dias atuais, a inquietação das “juventudes” que buscam a escola e o
trabalho resulta mais evidente do que no passado. O aprendizado dos conhecimentos
escolares tem significados diferentes conforme a realidade do estudante. Vários
movimentos sinalizam no sentido de que a escola precisa ser repensada para responder
aos desafios colocados pelos jovens.
Para responder a esses desafios, é preciso, além da reorganização
curricular e da formulação de diretrizes filosóficas e sociológicas para essa etapa de
ensino, reconhecer as reais condições dos recursos humanos, materiais e financeiros das
redes escolares públicas em nosso país, que ainda não atendem na sua totalidade às
condições ideais.
É preciso que além de reconhecimento esse processo seja acompanhado da
efetiva ampliação do acesso ao Ensino Médio e de medidas que articulem a formação
inicial dos professores com as necessidades do processo ensino-aprendizagem, ofereçam
subsídios reais e o apoio de uma eficiente política de formação continuada para seus
professores – tanto a oferecida fora dos locais de trabalho como as previstas no interior
das escolas como parte integrante da jornada de trabalho – e dotem as escolas da
infraestrutura necessária ao desenvolvimento de suas atividades educacionais.
No sentido geral, da forma como está organizado na maioria das escolas, o
Ensino Médio não dá conta de todas as suas atribuições definidas na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB). O trabalho “Melhores Práticas em Escolas de Ensino
Médio no Brasil” (BID, 2010) mostrou, entretanto, que é possível identificar, nos Estados
da Federação, escolas públicas que desenvolvem excelentes trabalhos.
Com a promulgação da Lei nº 9.394/96 (LDB), o Ensino Médio passou a ser
configurado com uma identidade própria, como etapa final de um mesmo nível da
educação, que é a Educação Básica, e teve assegurada a possibilidade de se articular, até de
forma integrada em um mesmo curso, com a profissionalização, pois o artigo 36-A prevê
que “o Ensino Médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o
exercício de profissões técnicas”.
No Brasil, nos últimos 20 anos, houve uma ampliação do acesso dos
adolescentes e jovens ao Ensino Médio, a qual trouxe para as escolas públicas um novo
contingente de estudantes, de modo geral jovens filhos das classes trabalhadoras. Os
sistemas de ensino passam a atender novos jovens com características diferenciadas da
escola tradicionalmente organizada. Situação semelhante acontece com o aumento da
demanda do Ensino Médio no campo, cujo atendimento induz a novos procedimentos no
sentido de promover a permanência dos mesmos na escola, evitando a evasão e
diminuindo as taxas de reprovação.
Apesar das ações desenvolvidas pelos governos estaduais e pelo Ministério
da Educação, os sistemas de ensino ainda não alcançaram as mudanças necessárias para
alterar a percepção de conhecimento do seu contexto educativo e ainda não estabeleceram
um projeto organizativo que atenda às novas demandas que buscam o Ensino Médio.
Atualmente mais de 50% dos jovens de 15 a 17 anos ainda não atingiram esta etapa da
Educação Básica e milhões de jovens com mais de 18 anos e adultos não concluíram o
Ensino Médio, configurando uma grande dívida da sociedade com esta população.
De acordo com o documento “Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE: uma
análise das condições de vida da população brasileira” (IBGE, 2010), constata-se que a taxa
de frequência bruta às escolas dos adolescentes de 15 a 17 anos é de 85,2%. Já a taxa de
escolarização líquida dos mesmos adolescentes (de 15 a 17 anos) é de 50,9%. Isso significa
dizer que metade dos adolescentes de 15 a 17 anos ainda não está matriculada no Ensino
Médio. No Nordeste a taxa de escolaridade líquida é ainda inferior, ficando em 39,1%. A
proporção de pessoas de 18 a 24 anos de idade, economicamente ativas, com mais de 11
anos de estudos é de 15,2% e a proporção de analfabetos nessa mesma amostra atinge a
casa de 4,6%.
Especificamente em relação ao Ensino Médio, o número de estudantes da
etapa é, atualmente, da ordem de 8,3 milhões. A taxa de aprovação no Ensino Médio
brasileiro é de 72,6%, enquanto as taxas de reprovação e de abandono são,
respectivamente, de 13,1% e de 14,3% (INEP, 2009). Observe-se que essas taxas diferem
de região para região e entre as zonas urbana e rural. Há também uma diferença
significativa entre as escolas privadas e públicas.
Em resposta a esses desafios que permanecem, algumas políticas, diretrizes
e ações do governo federal foram desenvolvidas com a proposta de estruturar um cenário
de possibilidades que sinalizam para uma efetiva política pública nacional para a Educação
Básica, comprometida com as múltiplas necessidades sociais e culturais da população
brasileira. Nesse sentido, situam-se a aprovação e implantação do FUNDEB (Lei nº
11.494/2007), a formulação e implementação do Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), e a consolidação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), do Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB). No âmbito deste Conselho, destacam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010) e
o processo de elaboração deste Parecer, de atualização das Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio.
O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), concretizado por Estados
e Municípios, por meio da estruturação da adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos
pela Educação e respectivos Planos de Ações Articuladas (PAR), conduz à revisão das
políticas públicas de educação e potencializa a articulação de programas e ações
educacionais de governo.
A concepção de uma educação sistêmica expressa no PDE, ao valorizar
conjuntamente os níveis e modalidades educacionais, possibilita ações articuladas na
organização dos sistemas de ensino. Significa compreender o ciclo educacional de modo
integral, promovendo a articulação entre as políticas orientadas para cada nível, etapa e
modalidade de ensino e, também, a coordenação entre os instrumentos disponíveis de
política pública. Visão sistêmica implica, portanto, reconhecer as conexões intrínsecas
entre Educação Básica e Educação Superior; entre formação humana, científica, cultural e
profissionalização e, a partir dessas conexões, implementar políticas de educação que se
reforcem reciprocamente.
Para levar adiante todas as ideias preconizadas na LDB, a educação no
Ensino Médio deve possibilitar aos adolescentes, jovens e adultos trabalhadores acesso a
conhecimentos que permitam a compreensão das diferentes formas de explicar o mundo,
seus fenômenos naturais, sua organização social e seus processos produtivos.
O debate sobre a atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio deve, portanto, considerar importantes temáticas, como o financiamento e a
qualidade da Educação Básica, a formação e o perfil dos docentes para o Ensino Médio e a
relação com a Educação Profissional, de forma a reconhecer diferentes caminhos de
atendimento aos variados anseios das “juventudes” e da sociedade.
É sabido que a questão do atendimento das demandas das “juventudes” vai
além da atividade da escola, mas entende-se que uma parte significativa desse objetivo
pode ser alcançada por meio da transformação do currículo escolar e do projeto político-
pedagógico.
A atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
deve contemplar as recentes mudanças da legislação, dar uma nova dinâmica ao processo
educativo dessa etapa educacional, retomar a discussão sobre as formas de organização
dos saberes e reforçar o valor da construção do projeto político-pedagógico das escolas, de
modo a permitir diferentes formas de oferta e de organização, mantida uma unidade
nacional, sempre tendo em vista a qualidade do ensino.
Para tratar especificamente da atualização das Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio foi criada, em janeiro de 2010, pela Portaria CNE/CEB nº
1/2010, recomposta pela Portaria CNE/CEB nº 2/2010, a Comissão constituída na Câmara
de Educação Básica (CEB) do CNE, formada pelos Conselheiros Adeum Sauer (presidente),
José Fernandes de Lima (relator), Mozart Neves Ramos, Francisco Aparecido Cordão e Rita
Gomes do Nascimento.
Registre-se, por oportuno, que o Conselho Nacional de Educação, no
cumprimento do que determina o Artigo 7o da Lei no 9.131/95 (que altera dispositivos da
Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961), vinha trabalhando na atualização das várias
Diretrizes Curriculares Nacionais. Além da elaboração das Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Básica, já foram atualizadas, entre outras, as Diretrizes
para a Educação Infantil, para o Ensino Fundamental e para a Educação de Jovens e
Adultos.
Em agosto de 2010, a Secretaria de Educação Básica do Ministério da
Educação (SEB/MEC) encaminhou ao CNE uma sugestão de resolução feita por
especialistas daquela Secretaria e outros contratados especificamente para elaboração do
referido documento. Juntamente com a proposta de resolução, a SEB encaminhou outros
documentos para subsidiar as discussões, além de disponibilizar técnicos para
acompanhamento dos trabalhos, dentre os quais cumpre destacar o Diretor de Concepções
e Orientações Curriculares para a Educação Básica, Carlos Artexes Simões, e a
Coordenadora Geral do Ensino Médio, Maria Eveline Pinheiro Villar de Queiroz, bem como
o consultor Bahij Amin Aur.
A proposta foi encaminhada aos membros do Fórum dos Coordenadores do
Ensino Médio que apresentaram, além das sugestões das Secretarias Estaduais de
Educação, um documento coletivo discutido na reunião do Fórum, realizada em Natal, RN,
em 1º de setembro de 2010. Em seguida, a mesma proposta foi submetida à apreciação de
especialistas que deram suas sugestões na reunião conjunta com os membros da Comissão
Especial da CEB e da Secretaria de Educação Básica do MEC, realizada nas dependências
do CNE, em 17 de setembro de 2010.
No dia 4 de outubro de 2010, a sugestão de resolução destas Diretrizes foi
discutida em audiência pública convocada pela Câmara de Educação Básica e realizada no
CNE e contou com a participação de mais de 100 pessoas, entre educadores e
representantes de entidades. Destaque-se que o mesmo documento foi enviado ao
Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) que, por sua vez, o encaminhou
para as Secretarias Estaduais de Educação.
Foram recebidas diversas contribuições individuais e de associações,
dentre as quais se destaca o documento enviado pela Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd).
Em 16 de fevereiro de 2011, o relator participou da reunião do CONSED
com os Secretários Estaduais de Educação, para informar sobre o andamento dos
trabalhos de elaboração destas Diretrizes e solicitar a contribuição dos mesmos.
É importante considerar que este parecer está sendo elaborado na vigência
de um quadro de mudanças e propostas que afetam todo o sistema educacional e,
particularmente, o Ensino Médio, dentre as quais se destacam os seguintes exemplos:
I – os resultados da Conferência Nacional da Educação Básica (2008);
II – os 14 anos transcorridos de vigência da LDB e as inúmeras alterações
nela introduzidas por várias leis, bem como a edição de outras que repercutem nos
currículos da Educação Básica, notadamente no do Ensino Médio;
III – a aprovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação Básica (FUNDEB), regulado pela Lei
nº 11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as etapas e modalidades da
Educação Básica;
IV – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da Educação Básica, da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação
(CAPES/MEC);
V – a formulação, aprovação e implantação das medidas expressas na Lei nº
11.738/2008, que regulamenta o piso salarial profissional nacional para os profissionais
do magistério público da Educação Básica;
VI – a implantação do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino
Médio (PNLEM);
VII – a instituição da política nacional de formação de profissionais do
magistério da Educação Básica (Decreto nº 6.755/2009);
VIII – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da Resolução
CNE/CEB nº 2/2009, que fixam as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira e
Remuneração dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública;
IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2010 e da Resolução CNE/CEB
nº 5/2010, que fixam as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração
dos Funcionários da Educação Básica pública;
X – o final da vigência do Plano Nacional de Educação (PNE), bem como a
mobilização em torno da nova proposta do PNE para o período 2011-2020;
ANPED. Diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Médio: proposta de debate ao parecer, 2010.
XI – as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo CNE, expressas no
documento “Subsídios para Elaboração do PNE: Considerações Iniciais. Desafios para a
Construção do PNE” (Portaria CNE/CP nº 10/2009);
XII – a realização da Conferência Nacional de Educação (CONAE), com tema
central “Construindo um Sistema Nacional Articulado de Educação: Plano Nacional de
Educação: suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, visando à construção do PNE 2011-2020;
XII – a relevante alteração na Constituição, pela promulgação da Emenda
Constitucional nº 59/2009, que, entre suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória
e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua oferta gratuita para todos os que a ela
não tiveram acesso na idade própria, assegura o atendimento ao estudante, em todas as
etapas da Educação Básica, mediante programas suplementares de material didático-
escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde, bem como reduz, anualmente, a
partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente
sobre os recursos destinados a manutenção e ao desenvolvimento do ensino;
XII – a homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Resolução CNE/CEB nº 4/2010);
XIV – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 8/2010, que estabelece normas
para aplicação do inciso IX do Artigo 4º da Lei nº 9.394/96 (LDB), que trata dos padrões
mínimos de qualidade de ensino para a Educação Básica pública;
XV – iniciativas relevantes, tanto na esfera federal, sobretudo com o
Programa Ensino Médio Inovador do MEC, como na esfera estadual e, mesmo, na
municipal;
XVI – a consolidação de sistemas nacionais de avaliação, como o Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM);
XVII – a reformulação do ENEM e sua utilização nos processos seletivos das
Instituições de Educação Superior, visando democratizar as oportunidades de acesso a
esse nível de ensino, potencialmente induzindo a reestruturação dos currículos do Ensino
Médio;
XVIII – a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)
para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino, com base no desempenho
do estudante em avaliações do INEP e em taxas de aprovação;
XIX – a instituição do Programa Nacional de Direitos humanos (PNDH 3), o
qual indica a implementação do Plano Nacional de Educação em Direitos humanos
(PNEDH).
XX – o envio ao Congresso Nacional do Projeto de Lei que trata do novo
Plano Nacional de Educação para o período de 2011-2020.
É expectativa que estas diretrizes possam se constituir num documento
orientador dos sistemas de ensino e das escolas e que possam oferecer aos professores
indicativos para a estruturação de um currículo para o Ensino Médio que atenda as
expectativas de uma escola de qualidade que garanta o acesso, a permanência e o sucesso
no processo de aprendizagem e constituição da cidadania.
Desse modo, o grande desafio deste parecer consiste na incorporação das
grandes mudanças em curso na sociedade contemporânea, nas políticas educacionais
brasileiras e em constituir um documento que sugira procedimentos que permitam a
revisão do trabalho das escolas e dos sistemas de ensino, no sentido de garantir o direito à
educação, o acesso, a permanência e o sucesso dos estudantes, com a melhoria da
qualidade da educação para todos.
2. Direito à Educação
4.1 As juventudes
A liberdade de diversificação e flexibilidade de currículos encontra respaldo nos princípios constitucionais,
reafirmados na LDB, da “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber” e do
“pluralismo de ideias e concepções pedagógicas” (Constituição Federal 1988, Artigo 206, Incisos II e III; e Artigo 3º,
Incisos II e III da LDB), além do previsto na organização da educação nacional, na obrigatoriedade dos sistemas de
ensino de assegurar “progressivos graus de autonomia pedagógica” a suas unidades escolares (LDB. Artigo 15).
Entender o jovem do Ensino Médio dessa forma significa superar uma
noção homogeneizante e naturalizada desse estudante, passando a percebê-lo como
sujeito com valores, comportamentos, visões de mundo, interesses e necessidades
singulares. Além disso, deve-se também aceitar a existência de pontos em comum que
permitam tratá-lo como uma categoria social. Destacam-se sua ansiedade em relação ao
futuro, sua necessidade de se fazer ouvir e sua valorização da sociabilidade. Além das
vivências próprias da juventude, o jovem está inserido em processos que questionam e
promovem sua preparação para assumir o papel de adulto, tanto no plano profissional
quanto no social e no familiar.
Pesquisas sugerem que, muito frequentemente, a juventude é entendida
como uma condição de transitoriedade, uma fase de transição para a vida adulta (Dayrell,
2003). Com isso, nega-se a importância das ações de seu presente, produzindo-se um
entendimento de que sua educação deva ser pensada com base nesse “vir a ser”. Reduzem-
se, assim, as possibilidades de se fazer da escola um espaço de formação para a vida hoje
vivida, o que pode acabar relegando-a a uma obrigação enfadonha.
Muitos jovens, principalmente os oriundos de famílias pobres, vivenciam
uma relação paradoxal com a escola. Ao mesmo tempo em que reconhecem seu papel
fundamental no que se refere à empregabilidade, não conseguem atribuir-lhe um sentido
imediato (Sposito, 2005). Vivem ansiosos por uma escola que lhes proporcione chances
mínimas de trabalho e que se relacione com suas experiências presentes.
Além de uma etapa marcada pela transitoriedade, outra forma recorrente
de representar a juventude é vê-la como um tempo de liberdade, de experimentação e
irresponsabilidade (Dayrell, 2003). Essas duas maneiras de representar a juventude –
como um “vir a ser” e como um tempo de liberdade – mostram-se distantes da realidade
da maioria dos jovens brasileiros. Para esses, o trabalho não se situa no futuro, já fazendo
parte de suas preocupações presentes. Uma pesquisa realizada com jovens de várias
regiões brasileiras, moradores de zonas urbanas de cidades pequenas e capitais, bem
como da zona rural, constatou que 60% dos entrevistados frequentavam escolas. Contudo,
75% deles já estavam inseridos ou buscando inserção no mundo do trabalho (Sposito,
2005). Ou seja, o mundo do trabalho parece estar mais presente na vida desses sujeitos do
que a escola.
Muitos jovens abandonam a escola ao conseguir emprego, alegando falta de
tempo. Todavia, é possível que, se os jovens atribuíssem um sentido mais vivo e uma
maior importância à sua escolarização, uma parcela maior continuasse frequentando as
aulas, mesmo depois de empregados.
O desencaixe entre a escola e os jovens não deve ser visto como decorrente,
nem de uma suposta incompetência da instituição, nem de um suposto desinteresse dos
estudantes. As análises se tornam produtivas à medida que enfoquem a relação entre os
sujeitos e a escola no âmbito de um quadro mais amplo, considerando as transformações
sociais em curso. Essas transformações estão produzindo sujeitos com estilos de vida,
valores e práticas sociais que os tornam muito distintos das gerações anteriores (Dayrell,
2007). Entender tal processo de transformação é relevante para a compreensão das
dificuldades hoje constatadas nas relações entre os jovens e a escola.
Possivelmente, um dos aspectos indispensáveis a essas análises é a
compreensão da constituição da juventude. A formação dos indivíduos é hoje atravessada
por um número crescente de elementos. Se antes ela se produzia, dominantemente, no
espaço circunscrito pela família, pela escola e pela igreja, em meio a uma razoável
homogeneidade de valores, muitas outras instituições, hoje, participam desse jogo,
apresentando formas de ser e de viver heterogêneas.
A identidade juvenil é determinada para além de uma idade biológica ou
psicológica, mas situa-se em processo de contínua transformação individual e coletiva, a
partir do que se reconhece que o sujeito do Ensino Médio é constituído e constituinte da
ordem social, ao mesmo tempo em que, como demonstram os comportamentos juvenis,
preservam autonomia relativa quanto a essa ordem.
Segundo Dayrell, a juventude é “parte de um processo mais amplo de
constituição de sujeitos, mas que tem especificidades que marcam a vida de cada um. A
juventude constitui um momento determinado, mas não se reduz a uma passagem; ela
assume uma importância em si mesma. Todo esse processo é influenciado pelo meio social
concreto no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas que este proporciona”. (2003).
Zibas, ao analisar as relações entre juventude e oferta educacional observa
que a ampliação do acesso ao Ensino Médio, nos últimos 15 anos, não veio acompanhada
de políticas capazes de dar sustentação com qualidade a essa ampliação. Entre 1995 e
2005, os sistemas de ensino estaduais receberam mais de 4 milhões de jovens no Ensino
Médio, totalizando uma população escolar de 9 milhões de indivíduos (2009).
É diante de um público juvenil extremamente diverso, que traz para dentro
da escola as contradições de uma sociedade que avança na inclusão educacional sem
transformar a estrutura social desigual – mantendo acesso precário à saúde, ao transporte,
à cultura e lazer, e ao trabalho – que o novo Ensino Médio se forja. As desigualdades
sociais passam a tensionar a instituição escolar e a produzir novos conflitos (idem).
Segundo Dayrell (2009), o censo de 2000 informa que 47,6% dos jovens da
Região Sudeste de 15 a 17 anos frequentavam o Ensino Médio; no Nordeste apenas 19,9%;
e a média nacional era de 35,7%. O autor assinala, com base em dados do IPEA (2008), que
há uma frequência líquida no Sul/Sudeste de 58%, contra 33,3% no Norte/Nordeste. Em
que pese essa presença ser expressivamente maior na Região Sul do país, observa-se um
quadro reiterado de desistência da escola também nessa região. Esse quadro parece se
intensificar no Ensino Médio, devido à existência de forte tensão na relação dos jovens
com a escola (Correia e Matos, 2001; Dayrell, 2007; Krawczyk, 2009 apud Dayrell, 2009).
Dentre os fatores relevantes a se considerar está a relação entre juventude,
escola e trabalho. Ainda que não se parta, a priori, de que haja uma linearidade entre
permanência na escola e inserção no emprego, as relações entre escolarização, formação
profissional e geração de independência financeira por meio do ingresso no mundo do
trabalho vêm sendo tensionadas e reconfiguradas conforme sinalizam estudos acerca do
emprego e do desemprego juvenil.
O Brasil vive hoje um novo ciclo de desenvolvimento calcado na
distribuição de renda que visa à inclusão de um grande contingente de pessoas no
mercado consumidor.
A sustentação desse ciclo e o estabelecimento de novos patamares de
desenvolvimento requerem um aporte de trabalhadores qualificados em todos os níveis, o
que implica na reestruturação da escola com vistas à introdução de novos conteúdos e de
novas metodologias de ensino capazes de promover a oferta de uma formação integral.
Os jovens, atentos aos destinos do País, percebem essas modificações e
criam novas expectativas em relação às possibilidades de inserção no mundo do trabalho e
em relação ao papel da escola nos seus projetos de vida.
Diante do exposto, torna-se premente que as escolas, ao desenvolverem
seus projetos político-pedagógicos, se debrucem sobre questões que permitam
ressignificar a instituição escolar diante de uma possível fragilização que essa instituição
venha sofrendo, quando se trata do público alvo do Ensino Médio, considerando, ainda, a
necessidade de acolhimento de um sujeito que possui, dentre outras, as características
apontadas anteriormente. Assim, sugerem-se questões como: Que características sócio-
econômico-culturais possuem os jovens que frequentam as escolas de Ensino Médio? Que
representações a escola, seus professores e dirigentes fazem dos estudantes? A escola
conhece seus estudantes? Quais os pontos de proximidade e distanciamento entre os
sujeitos das escolas (estudantes e professores particularmente)? Quais sentidos e
significados esses jovens têm atribuído à experiência escolar? Que relações se podem
observar entre jovens, escola e sociabilidade? Quais experiências os jovens constroem fora
do espaço escolar? Como os jovens interagem com a diversidade? Que representações
fazem diante de situações que têm sido alvo de preconceito?
Em que medida a cultura escolar instituída compõe uma referência
simbólica que se distancia/aproxima das expectativas dos estudantes? Que elementos da
cultura juvenil são derivados da experiência escolar e contribuem para conferir
identidade(s) ao jovem da contemporaneidade? Que articulações existem entre os
interesses pessoais, projetos de vida e experiência escolar? Que relações se estabelecem
entre esses planos e as experiências vividas
na escola? Em que medida os sentidos atribuídos à experiência escolar motivam os jovens
a elaborar projetos de futuro? Que expectativas são explicitadas pelos jovens diante da
relação
escola e trabalho? Que aspectos precisariam mudar na escola tendo em vista oferecer
condições de incentivo ao retorno e à permanência para os que a abandonaram?
Viabilizar as condições para que tais questões pautem as formulações dos
gestores e professores na discussão do seu cotidiano pode permitir novas formas de
organizar a proposta de trabalho da escola na definição de seu projeto político-
pedagógico.
Resolução CNE/CEB nº 4/2009.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi assinada em Nova Iorque, em 30/3/2007, e
ratificada pelo Brasil pelo Decreto Legislativo nº 186/2008 e Decreto Executivo nº 6.949/2009 (no Congresso
Nacional, por ter recebido três quintos dos votos dos membros da Câmara e do Senado, em dois turnos (quórum
qualificado), passou a ter status de norma constitucional).
Nesse sentido, faz-se necessário organizar processos de avaliação
adequados às singularidades dos educandos, incluindo as possibilidades de dilatamento de
prazo para conclusão da formação e complementação do atendimento.
Para o atendimento desses objetivos, devem as escolas definir formas
inclusivas de atendimento de seus estudantes, devendo os sistemas de ensino dar o
necessário apoio para a implantação de salas de recursos multifuncionais; a formação
continuada de professores para o atendimento educacional especializado e a formação de
gestores, educadores e demais profissionais da escola para a educação inclusiva; a
adequação arquitetônica de prédios escolares e a elaboração, produção e distribuição de
recursos educacionais para a acessibilidade, bem como a estruturação de núcleos de
acessibilidade com vistas à implementação e à integração das diferentes ações
institucionais de inclusão de forma a prover condições para o desenvolvimento acadêmico
dos educandos, propiciando sua plena e efetiva participação e inclusão na sociedade.
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) está instituído pelo Decreto nº 7.037/2009.
O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) tem, como uma das diretrizes do Eixo Orientador V:
Educação e Cultura em Direitos Humanos, a efetivação da Política Nacional de Educação em Direitos Humanos para
fortalecer cultura de direitos, sendo seu Objetivo Estratégico I, a implementação do Plano Nacional de Educação em
Direitos Humanos (PNEDH).
enfrentamento das mudanças socioambientais globais. Esta necessidade e decorrentes
preocupações são universais.
Tais questões despertam o interesse das juventudes de todos os meios
sociais, culturais, étnicos e econômicos, pois apontam para uma cidadania responsável
com a construção de um presente e um futuro sustentáveis, sadios e socialmente justos.
No Ensino Médio há, portanto, condições para se criar uma educação cidadã, responsável,
crítica e participativa, que possibilita a tomada de decisões transformadoras a partir do
meio ambiente no qual as pessoas se inserem, em um processo educacional que supera a
dissociação sociedade/natureza.
No contexto internacional é significativa a atuação da Organização das
Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é protagonista destacado. Ressalta-se, nesse âmbito,
o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade
Global, 1992, elaborado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio- 92). Esse documento enfatiza a Educação Ambiental como
instrumento de transformação social e política, comprometido com a mudança social,
rompendo com o modelo desenvolvimentista e inaugurando o paradigma de sociedades
sustentáveis.
Na Cúpula do Milênio, promovida em setembro de 2000 pela ONU, 189
países, incluindo o Brasil, estabeleceram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM), com o compromisso de colocar em prática ações para que sejam alcançados até
2015. Um dos objetivos é o de Qualidade de Vida e Respeito ao Meio Ambiente, visando
inserir os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e nos programas
nacionais, e reverter a perda de recursos ambientais.
A mesma ONU instituiu o período de 2005 a 2014 como a Década da
Educação para o Desenvolvimento Sustentável, indicando uma nova identidade para a
Educação, como condição indispensável para a sustentabilidade, promovendo o cuidado com
a comunidade de vida, a integridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social
e de gênero, o diálogo para a convivência e a paz.
Estas preocupações universais têm crescente repercussão no Brasil, que,
institucionalmente, possui um Ministério específico no Governo Federal, secundado por
Secretarias e órgãos nos Estados e em Municípios.
No contexto nacional, a Educação Ambiental está amparada pela
Constituição Federal e pela Lei nº 9.795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental e
institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), bem como pela legislação dos
demais entes federativos. A PNEA entende por esta educação os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. Entre os objetivos
fundamentais da Educação Ambiental, estão o desenvolvimento de uma compreensão
integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, e o incentivo à
participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio
do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor
inseparável do exercício da cidadania. E preceitua que ela é componente essencial e
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos
os níveis e modalidades do processo educativo, seja formal ou não formal. Na educação
formal e, portanto, também no Ensino Médio, deve ser desenvolvida como uma prática
educativa integrada, contínua e permanente sem que constitua componente curricular
específico.
A Educação Básica é um conceito mais do que inovador para um país que por
séculos, negou, de modo elitista e seletivo, a seus cidadãos o direito ao conhecimento pela
ação sistemática da organização escolar.
Resulta daí que a Educação Infantil é a base da Educação Básica, o Ensino
Fundamental é o seu tronco e o Ensino Médio é seu acabamento, e é de uma visão do todo
como base que se pode ter uma visão consequente das partes.
A Educação Básica torna-se, dentro do Artigo 4º da LDB, um direito do
cidadão à educação e um dever do Estado em atendê-lo mediante oferta qualificada. E tal o é
por ser indispensável, como direito social, a participação ativa e crítica do sujeito, dos grupos
a que ele pertença, na definição de uma sociedade justa e democrática. (CURY, 2007, 171-2)
Leis que alteraram a LDB, no que se relaciona direta ou indiretamente com o Ensino Médio, e cujas alterações
estão em vigor atualmente:
- Lei nº 12.061/2009: alterou o inciso II do Artigo 4º e o inciso VI do Artigo 10 da LDB, para assegurar o acesso de
todos os interessados ao Ensino Médio público.
- Lei nº 12.020/2009: alterou a redação do inciso II do Artigo 20, que define instituições de ensino comunitárias.
- Lei nº 12.014/2009: alterou o Artigo 61 para discriminar as categorias de trabalhadores que se devem considerar
profissionais da Educação Básica.
- Lei nº 12.013/2009: alterou o Artigo 12, determinando às instituições de ensino obrigatoriedade no envio de
informações escolares aos pais, conviventes ou não com seus filhos.
- Lei nº 11.788/2008: alterou o Artigo 82, sobre o estágio de estudantes.
- Lei nº 11.741/2008: redimensionou, institucionalizou e integrou as ações da Educação Profissional Técnica de nível
médio, da Educação de Jovens e Adultos e da Educação Profissional e Tecnológica.
- Lei nº 11.769/2008: incluiu parágrafo no Artigo 26, sobre a Música como conteúdo obrigatório, mas não exclusivo.
- Lei nº 11.684/2008: incluiu Filosofia e Sociologia como obrigatórias no Ensino Médio.
- Lei nº 11.645/2008: alterou a redação do Artigo 26-A, para incluir no currículo a obrigatoriedade do estudo da
História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.
- Lei nº 11.301/2006: alterou o Artigo 67, incluindo, para os efeitos do disposto no § 5º do Artigo 40 e no § 8º do
Artigo 201 da Constituição Federal, definição de funções de magistério.
- Lei nº 10.793/2003: alterou a redação do Artigo 26, § 3o, e do Artigo 92, com referência à Educação Física nos
Ensinos Fundamental e Médio.
- Lei nº 10.709/2003: acrescentou incisos aos Artigo 10 e 11, referentes ao transporte escolar.
- Lei nº 10.287/2001: incluiu inciso no Artigo 12, referente à notificação ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Publico da relação dos estudantes que
apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei.
formação comum indispensável para o exercício da cidadania, fornecendo-lhe os meios
para progredir no trabalho e em estudos posteriores (Artigo 22). Segundo Saviani, a
educação integral do homem, a qual deve cobrir todo o período da Educação Básica que vai
do nascimento, com as creches, passa pela Educação Infantil, o Ensino Fundamental e se
completa com a conclusão do Ensino Médio por volta dos dezessete anos, é uma educação de
caráter desinteressado que, além do conhecimento da natureza e da cultura envolve as
formas estéticas, a apreciação das coisas e das pessoas pelo que elas são em si mesmas, sem
outro objetivo senão o de relacionar-se com elas. (Saviani, 2000).
Ainda, segundo Cury, do ponto de vista legal, o Ensino Médio não é nem
porta para a Educação Superior e nem chave para o mercado de trabalho, embora seja
requisito tanto para a graduação superior quanto para a profissionalização técnica.
No contexto desta temática, consideram-se, na LDB, os artigos 2º e 35. Um
explicita os deveres, os princípios e os fins da educação brasileira; o outro trata das
finalidades do Ensino Médio.
Diz o Artigo 2º:
Artigo 3º (...)
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da
legislação dos sistemas de ensino.
Artigo 14 Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática
do ensino público na Educação Básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
seguintes princípios:
I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola;
II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes.
A Emenda Constitucional nº 59/2009 deu nova redação ao Inciso I do Artigo 208 da Constituição Federal:
“Artigo 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
O esforço necessário para cumprir tais objetivos exige mais do que
investimentos em infraestrutura e recursos materiais e humanos. E necessário estabelecer
ações no sentido de definir orientações e práticas pedagógicas que garantam melhor
aproveitamento, com atenção especial para aqueles grupos que até então estavam
excluídos do Ensino Médio.
Um dos aspectos que deve estar presente em tais orientações é o
acompanhamento sistêmico do processo de escolarização, viabilizando ajustes e correções
de percurso, bem como o estabelecimento de políticas e programas que concretizem a
proposta de universalização da Educação Básica.
A avaliação de redes de ensino é responsabilidade do Estado, seja realizada
pela União, seja pelos demais entes federados. Em âmbito nacional, no Ensino Médio, ela
está contemplada no Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), que informa sobre
os resultados de aprendizagem estruturados no campo da Língua Portuguesa e da
Matemática, lembrando-se o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que
mede a qualidade de cada escola e rede, com base no desempenho do estudante em
avaliações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP) e em taxas
de aprovação.
Para tratar das exigências relacionadas com o Ensino Médio, além do
cumprimento do SAEB, o Ministério da Educação vem trabalhando no aperfeiçoamento do
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que, gradativamente, assume funções com
diferentes especificidades estratégicas para estabelecer procedimentos voltados para a
democratização do ensino e ampliação do acesso a níveis crescentes de escolaridade.
Neste sentido, este exame apresenta hoje os seguintes objetivos, conforme Artigo 2º da
Portaria nº 109/2009:
I – oferecer uma referência para que cada cidadão possa proceder à sua
auto-avaliação com vistas às suas escolhas futuras, tanto em relação ao mundo do trabalho
quanto em relação à continuidade de estudos;
II – estruturar uma avaliação ao final da Educação Básica que sirva como
modalidade alternativa ou complementar aos processos de seleção nos diferentes setores
do mundo do trabalho;
III – estruturar uma avaliação ao final da Educação Básica que sirva como
modalidade alternativa ou complementar a processos seletivos de acesso aos cursos de
Educação Profissional e Tecnológica posteriores ao Ensino Médio e à Educação Superior;
IV – possibilitar a participação e criar condições de acesso a programas
governamentais;
V – promover a certificação de jovens e adultos no nível de conclusão do
Ensino Médio nos termos do arti. 38, §§ 1º e 2º da Lei nº 9.394/96 (LDB);
VI – promover avaliação do desempenho acadêmico das escolas de Ensino
Médio, de forma que cada unidade escolar receba o resultado global;
VII – promover avaliação do desempenho acadêmico dos estudantes
ingressantes nas Instituições de Educação Superior.
Assim, cada um destes objetivos delineia o aprofundamento de uma função
do ENEM:
I – avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar as políticas
públicas para a Educação Básica;
II – avaliação certificatória, que proporciona àqueles que estão fora da
escola aferir os conhecimentos construídos no processo de escolarização ou os
conhecimentos tácitos construídos ao longo da vida;
III – avaliação classificatória, que contribui para o acesso democrático à
Educação Superior.
I - Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”
Nesse caminho, o ENEM vem ampliando o espectro de atendimento
apresentando um crescimento que veio de 156.000 inscritos, em 1998, e alcançou 4,6
milhões, em 2009.
À medida que se garantir participação de amostragem expressiva do
sistema, incluindo diferentes segmentos escolares, se estará aproximando de uma
percepção mais fiel do sistema, na perspectiva do direito dos estudantes. Nesse sentido,
deve manter-se alinhado com estas Diretrizes e com as expectativas de aprendizagem a
serem elaboradas.
O INEP deve continuar desenvolvendo metodologia adequada no sentido
de alcançar esta multifuncionalidade do sistema de avaliação.
A Lei nº 11.788/2008 define as normas para a oferta de estágio aos estudantes, caracterizado como “ato educativo
escolar, supervisionado e desenvolvido no ambiente de trabalho”. O estágio, obrigatório ou não, “faz parte do
projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário formativo do educando”. O CNE estabeleceu Diretrizes
Nacionais para a organização e a realização de estágio de alunos da Educação Profissional e do Ensino Médio,
inclusive nas modalidades de Educação Especial e de Educação de Jovens e Adultos, pela Resolução CNE/CEB nº
1/2004, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 35/2003. Embora anterior à citada lei, é aplicável no que não a
contrariar
XXII – condições materiais, funcionais e didático-pedagógicas, para que os
profissionais da escola efetivem as proposições do projeto.
O projeto político-pedagógico das unidades escolares deve, ainda, orientar:
I – dispositivos, medidas e atos de organização do trabalho escolar;
II – mecanismos de promoção e fortalecimento da autonomia escolar,
mediante a alocação de recursos financeiros, administrativos e de suporte técnico
necessários à sua realização;
III – adequação dos recursos físicos, inclusive organização dos espaços,
equipamentos, biblioteca, laboratórios e outros ambientes educacionais.
Qualquer que seja a forma de organização adotada, esta deve, como indica a
LDB, ter seu foco no estudante e atender sempre o interesse do processo de aprendizagem.
No que concerne à seleção dos conteúdos disciplinares, importa também
evitar as superposições e lacunas, sem fazer reduções do currículo, ratificando-se a
necessidade de proporcionar a formação continuada dos docentes no sentido de que se
apropriem da concepção e dos princípios de um Ensino Médio que integre sua proposta
pedagógica às características e desenvolvimento das áreas de conhecimento. Igualmente
importante é organizar os tempos e os espaços de atuação dos professores visando
garantir o planejamento, implementação e acompanhamento em conjunto das atividades
curriculares.
Com relação às atividades integradoras, não cabe especificar
denominações, embora haja várias na literatura, cada uma com suas peculiaridades.
Assume-se essa postura por compreender que tal definição é função de cada sistema de
ensino e escola, a partir da realidade concreta vivenciada, o que inclui suas especificidades
e possibilidades, assim como as características sociais, econômicas, políticas, culturais,
ambientais e laborais da sociedade, do entorno escolar e dos estudantes e professores.
Entretanto, de forma coerente com as dimensões que sustentam a
concepção de Ensino Médio aqui discutido, é importante que as atividades integradoras
sejam concebidas a partir do trabalho como primeira mediação entre o homem e a
natureza e de suas relações com a sociedade e com cada uma das outras dimensões
curriculares reiteradamente mencionadas.
Desse modo, sugere-se que as atividades integradoras sejam desenvolvidas
a partir de várias estratégias/temáticas que incluam a problemática do trabalho de forma
relacional.
Assim sendo, a cada tempo de organização escolar as atividades
integradoras podem ser planejadas a partir das relações entre situações reais existentes
nas práticas sociais concretas (ou simulações) e os conteúdos das disciplinas, tendo como
fio condutor as conexões entre o trabalho e as demais dimensões.
É, portanto, na busca de desenvolver estratégias pedagógicas que
contribuam para compreender como o trabalho, enquanto mediação primeira entre o ser
humano e o meio ambiente, produz social e historicamente ciência e tecnologia e é
influenciado e influencia a cultura dos grupos sociais.
Este modo de organizar o currículo contribui, não apenas para incorporar
ao processo formativo, o trabalho como princípio educativo, como também para fortalecer
as demais dimensões estruturantes do Ensino Médio (ciência, tecnologia, cultura e o
próprio trabalho), sem correr o risco de realizar abordagens demasiadamente gerais e,
portanto, superficiais, uma vez que as disciplinas, se bem planejadas, cumprem o papel do
necessário aprofundamento.
7.4. Base nacional comum e a parte diversificada: integralidade
12
Lei nº 11.645/2008: alterou a redação do Artigo 26-A, para incluir no currículo a obrigatoriedade da temática
“Historia e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” (anteriormente, a redação deste artigo era dada pela Lei nº
10.639/2003, a qual não incluía o grupo indígena).
13
Lei nº 11.684/2008: incluiu Filosofia e Sociologia como obrigatórias em todos os anos do Ensino Médio.
língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício
da cidadania.
Deve, também, adotar metodologias de ensino e de avaliação que
estimulem a iniciativa dos estudantes, bem como organizar os conteúdos, as metodologias
e as formas de avaliação de tal modo que ao final do Ensino Médio o estudante demonstre
domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna, e
conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.
Na perspectiva das dimensões trabalho, ciência, tecnologia e cultura, as
instituições de ensino devem ter presente que formam um eixo integrador entre os
conhecimentos de distintas naturezas, contextualizando-os em sua dimensão histórica e
em relação à realidade social contemporânea.
Essa integração entre as dimensões do trabalho, ciência, tecnologia e
cultura na perspectiva do trabalho como princípio educativo, tem por fim propiciar a
compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos dos processos sociais e
produtivos, devendo orientar a definição de toda proposição curricular, constituindo-se no
fundamento da seleção dos conhecimentos, disciplinas, metodologias, estratégias, tempos,
espaços, arranjos curriculares alternativos e formas de avaliação.
Estas dimensões dão condições para um Ensino Médio unitário que, ao
mesmo tempo, deve ser diversificado para atender com motivação à heterogeneidade e
pluralidade de condições, interesses e aspirações dos estudantes. Mantida a diversidade, a
unidade nacional a ser buscada, no entanto, necessita de alvos mais específicos para
orientar as aprendizagens comuns a todos no país, nos termos das presentes Diretrizes.
Estes alvos devem ser constituídos por expectativas de aprendizagem dos conhecimentos
escolares da base nacional comum que devem ser atingidas pelos estudantes em cada
tempo do curso de Ensino Médio, as quais, por sua vez devem necessariamente orientar as
matrizes de competência do ENEM.
Nesse sentido, o Conselho Nacional de Educação deverá apreciar proposta
dessas expectativas, a serem elaboradas pelo Ministério da Educação, em articulação com
os órgãos dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, deve assegurar sua função
formativa para todos os estudantes, sejam adolescentes, jovens ou adultos, atendendo:
I – O Ensino Médio pode organizar-se em tempos escolares no formato de
séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos,
grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por
forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim
o recomendar.
II – No Ensino Médio regular, a duração mínima é de 3 anos, com carga
horária mínima total de 2.400 horas, tendo como referência uma carga horária anual de
800 horas, distribuídas em pelo menos 200 dias de efetivo trabalho escolar.
III – O Ensino Médio regular diurno, quando adequado aos seus estudantes,
pode se organizar em regime de tempo integral, com no mínimo 7 horas diárias;14
IV – No Ensino Médio regular noturno, adequado às condições de
trabalhadores e respeitados os mínimos de duração e carga horária, o projeto pedagógico
14
O Programa Mais Educação, instituído pelo Decreto nº 7.083/2010, visando a contribuir para a melhoria da
aprendizagem pela ampliação do tempo de permanência dos estudantes de escola pública, considera em tempo
integral “a jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas diárias, durante todo o período letivo,
compreendendo o tempo total em que o estudante permanece na escola ou em atividades escolares em outros espaços
educacionais”.
O Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020 indica, na sua Meta 6, a oferta de
educação em tempo integral (7 horas ou mais) em 50% das escolas públicas de Educação Básica.
deve atender com qualidade a sua singularidade, especificando uma organização
curricular e metodológica diferenciada, e pode, para garantir a permanência e o sucesso
destes estudantes:
a) ampliar a duração para mais de 3 anos, com menor carga horária diária e
anual, garantido o mínimo total de 2.400 horas para o curso;
b) incluir atividades não presenciais, até 20% da carga horária diária e de
cada tempo de organização escolar, desde que haja suporte tecnológico e seja garantido o
atendimento por professores e monitores.
V – Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, observadas suas
Diretrizes específicas, a duração mínima é de 1.200 horas, sendo que o projeto pedagógico
deve atender com qualidade a sua singularidade, especificando uma organização
curricular e metodológica diferenciada que pode, para garantir a permanência e o sucesso
de estudantes trabalhadores:
a) ampliar seus tempos de organização escolar, com menor carga horária
diária e anual, garantida sua duração mínima;
b) incluir atividades não presenciais, até 20% da carga horária diária e de
cada tempo de organização escolar, desde que haja suporte tecnológico e seja garantido o
atendimento por professores e monitores.
VI – Atendida a formação geral, incluindo a preparação básica para o
trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o exercício de profissões técnicas, por
articulação na forma integrada com a Educação Profissional e Tecnológica, observadas as
Diretrizes específicas, com as cargas horárias mínimas de:
a) 3.200 horas, no Ensino Médio regular integrado com a Educação
Profissional Técnica de Nível Médio;
b) 2.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos integrada com a Educação
Profissional Técnica de Nível Médio, respeitado o mínimo de 1.200 horas de educação
geral;
c) 1.400 horas, na Educação de Jovens e Adultos integrada com a formação
inicial e continuada ou qualificação profissional, respeitado o mínimo de 1.200 horas de
educação geral;
VII – Na Educação Especial, Educação do Campo, Educação Escolar
Indígena, Educação Escolar Quilombola, de pessoas em regime de acolhimento ou
internação e em regime de privação de liberdade, e na Educação a Distância, devem ser
observadas as respectivas Diretrizes e normas nacionais.
VIII – Os componentes curriculares que integram as áreas de conhecimento
podem ser tratados ou como disciplinas, sempre de forma integrada, ou como unidades de
estudos, módulos, atividades, práticas e projetos contextualizados e interdisciplinares ou
diversamente articuladores de saberes, desenvolvimento transversal de temas ou outras
formas de organização.
IX – Tanto na base nacional comum quanto na parte diversificada a
organização curricular do Ensino Médio deve oferecer tempos e espaços próprios para
estudos e atividades que permitam itinerários formativos opcionais diversificados, a fim
de melhor responder à heterogeneidade e pluralidade de condições, múltiplos interesses e
aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias, sociais e culturais, bem como
sua fase de desenvolvimento.15
X – Formas diversificadas de itinerários formativos podem ser organizadas,
desde que garantida a simultaneidade das dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia
15
O Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020 indica, na sua Meta 3, a estratégia de
diversificação curricular do Ensino Médio, incentivando abordagens interdisciplinares estruturadas pela relação entre
teoria e prática, discriminando conteúdos obrigatórios e eletivos articulados em dimensões tais como ciência,
trabalho, tecnologia, cultura e esporte.
e da cultura, e definidas pelo projeto político-pedagógico, atendendo necessidades, anseios
e aspirações dos sujeitos e a realidade da escola e de seu meio.
XI – A interdisciplinaridade e a contextualização devem assegurar a
transversalidade e a articulação do conhecimento de diferentes componentes curriculares,
propiciando a interlocução entre os saberes das diferentes áreas de conhecimento.
Note-se que as horas acima indicadas são, obviamente, de 60 minutos, não
se confundindo com as horas-aula, as quais podem ter a duração necessária que for
considerada no projeto de cada escola.
Destaque-se que há redes escolares com Ensino Médio que já vêm
desenvolvendo formas de oferta que atendem às indicações acima, inclusive com
ampliação da duração e da carga horária do curso e com organização curricular flexível e
integradora. São exemplos desse comportamento as escolas que aderiram aos Programas
Mais Educação e Ensino Médio Inovador, ambos incentivados pelo MEC na perspectiva do
desenvolvimento de experiências curriculares inovadoras.
Ao lado das alternativas que incluem a ampliação da carga horária deve-se
estimular a busca de metodologias que promovam a melhoria da qualidade, sem
necessariamente implicar na ampliação do tempo de permanência na sala de aula, tais
como o uso intensivo de tecnologias da informação e comunicação.
No referente à integração com a profissionalização, acrescenta-se que a
base científica não deve ser compreendida como restrita àqueles conhecimentos que
fundamentam a tecnologia específica. Ao contrário, a incorporação das ciências humanas
na formação do trabalhador é fundamental para garantir o currículo integrado. Por
exemplo: história social do trabalho, da tecnologia e das profissões; compreensão, no
âmbito da geografia, da produção e difusão territorial das tecnologias e da divisão
internacional do trabalho; filosofia, pelo estudo da ética e estética do trabalho, além de
fundamentos da epistemologia que garantam uma iniciação científica consistente;
sociologia do trabalho, com o estudo da organização dos processos de trabalho e da
organização social do trabalho; meio ambiente, saúde e segurança, inclusive
conhecimentos de ecologia, ergonomia, saúde e psicologia do trabalho, no sentido da
prevenção das doenças ocupacionais.
16
A Conferência Nacional de Educação (CONAE) teve, justamente, como o tema central “Construindo um Sistema
Nacional Articulado de Educação: Plano Nacional de Educação, suas diretrizes e estratégias de ação”.
qual é um objetivo do Plano Nacional de Educação, de duração decenal, a ser estabelecido
por lei (Artigo 214).
Em nível nacional, almeja-se coordenação e cooperação entre o MEC e
outros Ministérios, tendo em vista a articulação com as políticas setoriais afins;
internamente, entre suas Secretarias e órgãos vinculados; e externamente, com as
instituições de Educação Superior, os sistemas estaduais, do Distrito Federal e os sistemas
municipais de ensino.
No nível de cada unidade da Federação, espera-se que haja coordenação e
cooperação entre o respectivo sistema de ensino, as instituições de Educação Superior e os
sistemas municipais de ensino. Pressupõe igualmente a cooperação entre órgãos ou
entidades responsáveis pelas políticas setoriais afins no âmbito estadual e dos municípios.
No nível das unidades escolares é igualmente relevante a criação de
mecanismos de comunicação e intercâmbio, visando à difusão e adoção de boas práticas
que desenvolvam.
É esse regime de colaboração mútua que deve contribuir para que as
escolas, as redes e os sistemas de ensino possam desenvolver um Ensino Médio
organicamente articulado e sequente em relação às demais etapas da Educação Básica, a
partir de soluções adequadas para questões centrais como financiamento; existência de
quadro específico de professores efetivos; formação inicial e continuada de docentes,
profissionais técnico-administrativos e de gestores; infraestrutura física necessária a cada
tipo de instituição, entre outros aspectos relevantes.
No tocante aos profissionais da educação – gestores, professores,
especialistas, técnicos, monitores e outros – cabe papel de relevo aos gestores, seja dos
sistemas, seja das escolas. A eles cabe liderar as equipes, criar as condições adequadas e
estimular a efetivação do projeto político-pedagógico e do respectivo currículo, o que
requer processo democrático de seleção segundo critérios técnicos de mérito e de
desempenho, como também lhes deve ser propiciada formação apropriada, inclusive
continuada, para atualização e aprimoramento do desempenho desse papel.
Quanto aos professores, embora repetitivo, cabe reiterar a necessidade de
efetivação da sua valorização, tanto no referente a remuneração, quanto a plano de
carreira, condições de trabalho, jornada de trabalho completa em única escola,
organização de tempos e espaços de sua atuação para garantia de planejamento,
implementação e acompanhamento conjunto das atividades curriculares, formação inicial
e continuada, inclusive para que se apropriem da concepção e dos princípios do Ensino
Médio proposto nestas diretrizes e no respectivo projeto político-pedagógico,
incorporando atuação diversificada, com estratégias, metodologias e atividades
integradoras, contextualizadas e interdisciplinares ou diversamente articuladores de
saberes.
É oportuno lembrar que as ações do MEC voltadas para a expansão e
melhoria do Ensino Médio, como a proposição do FUNDEB (Lei nº 11.494/2007), a
formulação e implementação do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), do Plano
de Ações Articuladas (PAR) e vários programas, dentre estes, o Brasil Profissionalizado, o
Ensino Médio Inovador, o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio
(PNLEM), vêm criando condições que favorecem a implementação destas Diretrizes.
Lembra-se, igualmente, a proposta do Custo Aluno-Qualidade Inicial
(CAQi), que indica insumos essenciais associados aos padrões mínimos de qualidade para
a Educação Básica pública no Brasil, previstos na Constituição Federal (inciso VII do Artigo
206) e na LDB (inciso IX do Artigo 4º), a qual foi objeto do Parecer CNE/CEB nº 8/2010.
No contexto do CAQi, é exigência um padrão mínimo de insumos, que tem como base um
investimento com valor calculado a partir das despesas essenciais ao desenvolvimento dos
processos e procedimentos formativos, que levem, gradualmente, a uma educação
integral, dotada de qualidade social. Tais padrões mínimos são definidos como os que
levam em conta, entre outros parâmetros: professores qualificados com remuneração
adequada; pessoal de apoio técnico e administrativo que assegure o bom funcionamento
da escola; escolas possuindo condições de infraestrutura e de equipamentos adequados;
definição de relação adequada entre número de estudantes por turma e por professor, e
número de salas e estudantes.
Finalmente, visando alcançar unidade nacional e respeitadas as
diversidades, reitera-se que o Ministério da Educação elabore e encaminhe ao Conselho
Nacional de Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de expectativas de
aprendizagem dos conhecimentos escolares e saberes que devem ser alcançadas pelos
estudantes em diferentes tempos do curso de Ensino Médio que, necessariamente, se
orientem por estas Diretrizes. Esta elaboração deve ser conduzida pelo MEC em
articulação e colaboração com os órgãos dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios. As expectativas de aprendizagem, que não significam conteúdos
obrigatórios de currículo mínimo, devem vir a ser encaradas como direito dos estudantes,
portanto, com resultados correspondentes exigíveis por eles.
É imprescindível que o MEC articule e compatibilize, com estas Diretrizes,
as expectativas de aprendizagem, a formação de professores, os investimentos em
materiais didáticos, e as avaliações de desempenho e exames nacionais, especialmente o
ENEM. Com essa compatibilização, o Ensino Médio, em âmbito nacional, ganhará coerência
e consistência, visando à sua almejada qualidade social.
Ao Ministério cabe, ainda, oferecer subsídios para a implementação destas
Diretrizes.
II – VOTO DA COMISSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CARVALHO, M. J. S., TOGNI, A. C. A escola noturna de Ensino Médio no Brasil. Revista Ibero-
Americana de Educação. OEI, nº 44, maio-agosto 2008.
GOMES, C. A. G. (org.). A nova LDB: uma lei de esperança. Brasília: Universa – UCB, 1998.
KUENZER, A. (org.). Ensino médio: Construindo uma proposta para os que vivem do
trabalho. São Paulo: Cortez, 2000.
LARROSA, J. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: GERALDI, C. G., RIOLFI,
C. R., GARCIA, M. F. (orgs.). Escola Viva: elementos para a construção de uma educação de
qualidade social. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
ZIBAS, D. et alli (org.). O ensino médio e a reforma da educação, da escola e das políticas
educativas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.