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Pan-Africanismo & Internacionalismo em 1945: “O


trabalhador de pele branca não pode emancipar-se onde o
trabalhador de pele negra é marcado com ferro em brasa”.
Pan-Africanism and Internationalism in 1945: “Labour cannot emancipate itself in
the white skin where in the black it is branded”.

Hakim Adi1
1
Universidade de Chichester, Chichester, West Sussex, Reino Unido. E-mail:
[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4778-9320.

Mario Soares Neto2


2
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil. E-mail:
[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3340-9497.

Artigo recebido em 24/03/2020 e aceito em 21/11/2020.

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 13, N.02, 2022, p.830-860.
Hakim Adi e Mario Soares Neto
DOI: 10.1590/2179-8966/2020/49493| ISSN: 2179-8966
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Resumo
O presente artigo pretende analisar a relação entre Pan-Africanismo e
Internacionalismo, visando delinear o importante papel desempenhado pelo trabalho
Pan-Africano em 1945, particularmente nas conferências fundadoras da organização
World Federation of Trade Unions (WFTU) [Federação Sindical Mundial], bem como em
outros eventos e nos preparativos para o Congresso Pan-Africano de Manchester. Ponto
ápice do movimento Pan-Africano este Congresso formulou uma política unitária de luta
anti-imperialista, anti-colonialista e antirracista. Os representantes do trabalho Pan-
Africano argumentaram que “o trabalhador de pele branca não pode emancipar-se onde
o trabalhador de pele negra é marcado com ferro em brasa”.
Palavras-Chave: Pan-Africanismo; Internacionalismo; África; Diáspora.

Abstract
This article aims to analyze the relationship between Pan-Africanism and
Internationalism, in order to outline the important role played by Pan-African work in
1945, particularly at the founding conferences of the organization World Federation of
Trade Unions (WFTU), as well as in other events and in preparations for the Pan African
Congress in Manchester. High point of the Pan-African movement, this Congress
formulated a unitary policy of anti-imperialist, anti-colonialist and anti-racist struggle.
Pan-African labor representatives argued that “Labour cannot emancipate itself in the
white skin where in the black it is branded”.
Keywords: Pan-Africanism; Internationalism; Africa; Diaspora.

Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 13, N.02, 2022, p.830-860.
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1. Introdução

O 5º Congresso Pan-Africano realizado na Grã-Bretanha em outubro de 1945 foi visto


como representando o auge do movimento Pan-Africano e o mais significativo de todos
os congressos Pan-Africanos desde a histórica Conferência Pan-Africana convocada por
Henry Sylvester Williams em Londres em 1900 (LANGLEY, 1973, p. 355). Foi amplamente
reconhecido que os trabalhos deste Congresso deram origem a um novo tipo de Pan-
Africanismo anti-imperialista e internacionalista. A ideologia pan-africanista de
Manchester do pós-guerra tentou basear-se nos interesses das massas populares nas
colônias e enxergou os trabalhadores urbanos e rurais como a principal força na luta
anticolonial. Muitos dos delegados no Congresso de Manchester eram representantes
de organizações trabalhistas e sindicais.
As preocupações do trabalho pan-africano não foram ouvidas apenas em
Manchester em 1945. Ao longo daquele ano, os representantes dos trabalhadores
africanos e caribenhos manifestaram suas preocupações no cenário internacional, talvez
pela primeira vez desde a fundação do Comitê Sindical Internacional dos Trabalhadores
Negros (International Trade Union Committee of Negro Workers – ITUCNW) na década
de 1930. No ano de 1945 também foram realizadas as conferências fundadoras da
Federação Sindical Mundial (World Federation of Trade Unions – WFTU), a primeira
central sindical verdadeiramente internacional. Representantes de trabalhadores
africanos e caribenhos tiveram um papel significativo em sua fundação e foi após sua
participação na Conferência Sindical Mundial (World Trade Union Conference) de
Londres em fevereiro de 1945, que vários dos principais representantes sindicais
africanos e caribenhos defenderam a convocação do 5º Congresso Pan-Africano.
Este artigo visa delinear o importante papel desempenhado pelo trabalho Pan-
Africano em 1945, particularmente nas conferências fundadoras da WFTU, bem como
em outros eventos e nos preparativos para o Congresso Pan-Africano de Manchester. Os
representantes do trabalho pan-africano argumentaram que “o trabalhador de pele
branca não pode emancipar-se onde o trabalhador de pele negra é marcado com ferro
em brasa” (MARX, 1988, p. 228; MARX; ENGELS, 2010, p. 305).1 Mas, ao mesmo tempo,

1Em língua inglesa, a frase na qual Karl Marx se referia ao movimento trabalhista nos Estados Unidos,
encontra-se no capítulo The Working Day (A Jornada de Trabalho), da seguinte forma: “In the United States

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é claro que eles viram a unidade e os avanços empreendidos pelos trabalhadores e


povos oprimidos nas colônias e em todo o mundo, como tão cruciais para a libertação
colonial quanto às lutas das massas trabalhadoras na África e no Caribe. Se os interesses
das massas populares nas colônias avançassem, eles argumentaram, os movimentos
trabalhistas teriam que desenvolver um caráter político em oposição à noção de
“sindicalismo responsável” defendida pelo governo britânico e pelo Congresso Sindical.
A fundação de uma central sindical internacional, que apoiaria as demandas
anticoloniais do povo da África e do Caribe, foi vista como vital, uma luta na qual os
representantes do trabalho pan-africano tiveram que desempenhar um papel de
vanguarda.
Os quatro Congressos Pan-Africanos anteriores foram amplamente organizados
pelo escritor e ativista afro-americano W. E. B. Du Bois. Em 1945, embora ele tenha
participado do Congresso de Manchester como delegado da Associação Nacional para o
Avanço das Pessoas de Cor (National Association for the Advancement of Colored
People - NAACP), Du Bois desempenhou apenas um papel secundário nos preparativos.
O Congresso foi organizado e dominado por organizações e ativistas britânicos e
representantes do trabalho do império colonial britânico. É significativo que a sessão de
abertura do Congresso tenha focado em “O problema de cor na Grã-Bretanha”
(ESEDEBE, 1980, pp. 18-35; ADI; SHERWOOD, 1995).2 Durante as décadas de 1930 e
1940, a Grã-Bretanha se tornou um centro de atividade pan-africana, como seria de
esperar, uma vez que muitos na diáspora eram súditos do Império Britânico e, por
razões econômicas e políticas, gravitavam em direção ao seu centro (ADI, 2020, pp. 697-
716).
Várias organizações foram formadas não apenas para combater os efeitos do
racismo na Grã-Bretanha, mas também para fazer campanha contra o domínio colonial e
pelo autogoverno nas colônias. As mais importantes foram a União dos Estudantes da
África Ocidental (West African Students’ Union – WASU) formada em Londres em 1925,
a Liga dos Povos de Cor (League of Coloured Peoples – LCP) formada em 1931, e o
Bureau Internacional de Serviço Africano (International African Service Bureau – IASB)

of North America, every independent movement of the workers was paralysed so long as slavery disfigured
a part of the Republic. Labour cannot emancipate itself in the white skin where in the black it is branded”.
2 Du Bois organizou o primeiro Congresso Pan-Africano em Paris em 1919. O termo “Conferência Pan-

Africana” foi usado pela primeira vez para descrever um encontro majoritariamente afro-americano
realizado em Chicago em 1893.

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formada em Londres por George Padmore em 1937. Todas essas organizações


mantiveram vínculos nas colônias africanas e caribenhas da Grã-Bretanha e, como
consequência, Londres se tornou uma base importante para uma luta comum contra o
imperialismo britânico.
A influência de indivíduos como Padmore, Wallace-Johnson, Arnold Ward e
Desmond Buckle significava que cada vez mais era a ideologia do marxismo que
entusiasmava esse movimento anticolonial e anti-imperialista de base britânica. O
movimento também foi influenciado não apenas pelas ideologias de organizações como
a Liga Contra o Imperialismo (League Against Imperialism – LAI) e o Partido Comunista
na Grã-Bretanha, mas também por muitos dos desenvolvimentos na União Soviética e a
oposição bem conhecida do país ao colonialismo (PADMORE, 1946).
Em 1944, após a iniciativa do IASB, representantes de várias organizações
africanas e britânicas se reuniram em Manchester para formar “um movimento pan-
africano de frente única”, a ser conhecido como Federação Pan-Africana (Pan-African
Federation – PAF). De fato, a maioria das organizações britânicas de povos da África e do
Caribe foi incluída, com as notáveis exceções da WASU e da LCP. Mesmo assim, foi a
primeira vez que tantas organizações se uniram em uma frente única. Talvez ainda mais
significativo tenha sido o fato de a Federação Pan-Africana também incluir
representantes de três organizações africanas: a Associação Central Kikuyu (Quênia),
representada por Jomo Kenyatta; a Liga da Juventude Africana (seção Serra Leoa),
representada por Isaac Wallace-Johnson; e a Sociedade Amigos da Liberdade Africana
(Costa do Ouro). Aqui em embrião estava a base organizacional do Congresso Pan-
Africano de Manchester. Embora a WASU e a LCP não fizessem parte formal da nova
Federação, eles frequentemente se aliavam a ela em questões de interesse geral.
Durante os últimos estágios da guerra, todas essas organizações se preocuparam em
formular políticas para o mundo pós-guerra, o que poderia colocar a África e a diáspora
no centro dos assuntos mundiais, e que poderia intensificar a luta contra a
discriminação racial, pelo desenvolvimento econômico e pelo autogoverno. Eles
estavam preocupados em garantir que o artigo 3º da Carta do Atlântico, que se referia
ao direito à autodeterminação, fosse aplicado a todos os países, inclusive as colônias.3

3 Durante a guerra, o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, provocou protestos furiosos quando
afirmou que o direito à autodeterminação não se aplicava aos países coloniais.

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Quando a guerra chegou ao fim, W. E. B. Du Bois começou a investigar a


possibilidade de realizar um congresso Pan-Africano em Londres ou na própria África.
No entanto, a iniciativa de realizar esse congresso foi logo adotada pela Federação Pan-
Africana na Grã-Bretanha, que viu as possibilidades de consultar representantes
trabalhistas coloniais após a Conferência Sindical Mundial realizada em Londres em
fevereiro de 1945.4

2. A Conferência Sindical Mundial e o Trabalho Pan-Africano

A Conferência Sindical Mundial foi um evento extremamente significativo na história do


movimento internacional dos trabalhadores. Foi a primeira vez que todas as principais
organizações, centrais sindicais e trabalhistas, incluindo os sindicatos da União Soviética,
se uniram na tentativa de formar uma organização internacional dos trabalhadores e
tentar influenciar a política internacional. Organizações sindicais de todos os
continentes esperavam ser representadas nos órgãos das Nações Unidas, incluindo o
Conselho de Segurança, e desejavam dar a sua opinião sobre como a guerra seria
encerrada e como o mundo do pós-guerra seria construído (WALLACE, 1945).
Do ponto de vista pan-africano, ainda mais importante foi o fato de que os
movimentos trabalhistas emergentes na África Ocidental, no Caribe e na América do Sul
estavam representados. Havia também delegados da antiga Rodésia do Norte, da África
do Sul, Índia, Palestina e outros lugares.5 Todas as quatro colônias da África Ocidental da

4 Interessante notar que nesse período (1930-1940), o Pan-Africanismo teve forte influência em diversas
outras realidades, em países como o Brasil, por exemplo, conformando verdadeira conexão latino-
americana. A Frente Negra Brasileira, fundada em 1931, e sua publicação A Voz da Raça, foram centrais
nesse processo até o seu ulterior banimento pela ditadura Vargas em 1937. Cumpriu importante papel a
Frente Negra Socialista e a União Negra Brasileira, assim como a realização do Congresso Juvenil Afro-
Campinense (1938), o Teatro Experimental do Negro (1944), a Associação de Negros Brasileiros e o Afro
Comitê Democrático Brasileiro (1945). Por outro lado, duas Convenções Negras Nacionais foram realizadas
em 1945 e 1946, a Confederação Nacional dos Negros foi convocada em 1949 e em 1950 foram realizados o
I Congresso Nacional do Negro Brasileiro e o Conselho Nacional de Mulheres Negras.
5 Bryan Goodwin, membro do Conselho Legislativo da Rodésia do Norte, representou o Sindicato dos

Mineiros da Rodésia do Norte e seis delegados representaram três centros da África do Sul: o Conselho de
Comércio e Trabalho da África do Sul, a Federação dos Sindicatos do Cabo e o Conselho de Sindicatos da
Província Ocidental. Os delegados desses dois países representavam sindicatos cujos membros eram de
origem europeia. Isso refletia a segregação e o apartheid de fato que existiam nos assuntos sindicais nesses
países. No entanto, deve-se ressaltar que o Sindicato dos Mineiros da Rodésia do Norte também sofreu
severas repressões. Em 1942, F. S. Maybank, o secretário geral do sindicato e um de seus colegas foram
detidos e depois deportados para a Grã-Bretanha por atividades sindicais, e só foram autorizados a retornar
à colônia em 1945. Os representantes dos chamados sindicatos não europeus da África do Sul foi impedida
de participar da conferência pelas ações do governo sul-africano, que se recusou a conceder a eles as
permissões de viagem necessárias.

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Grã-Bretanha enviaram delegados. A Nigéria foi representada por T. A. Bankole,


Presidente do recém-formado Congresso Sindical da Nigéria e por M. A. Tokunboh. O
Congresso Sindical da Serra Leoa foi representado pelo líder nacionalista Isaac Wallace-
Johnson, que havia sido libertado recentemente de cinco anos e meio de prisão e exílio,
ocasionados por suas atividades políticas anti-imperialistas (SPITZER; DENZER, 1973, pp.
413-52). O delegado da Costa do Ouro foi J. S. Annan do Sindicato dos Funcionários
Públicos e Técnicos Ferroviários, enquanto o Sindicato dos Trabalhadores da Gâmbia foi
representado pelo veterano organizador trabalhista E. F. Small e por I. Garba Jahumpa.
Além dos delegados da África Ocidental, a Guiana Britânica na América do Sul e
a Jamaica no Caribe também enviaram delegados. A Guiana Britânica foi representada
por um pioneiro do sindicalismo, Hubert Critchlow, Presidente do Conselho Sindical da
Guiana Britânica, que havia sido o secretário do primeiro sindicato de seu país formado
em 1919. O delegado jamaicano foi Ken Hill, vice-presidente do Conselho Sindical da
Jamaica, que também havia sido preso pelo governo britânico por suas atividades
políticas.

3. Os Movimentos Trabalhistas Coloniais

Os movimentos trabalhistas nas colônias britânicas foram severamente reprimidos antes


da Segunda Guerra Mundial. Alguma atividade sindical havia sido tolerada antes da
guerra, e especialmente depois de 1930. No entanto, até mesmo os direitos mais
elementares dos trabalhadores eram frequentemente ignorados e o uso do trabalho
forçado continuou em algumas colônias africanas até a década de 1960 (DAVIES, 1966,
p. 35). A Lei de Desenvolvimento Colonial e Bem-Estar de 1940 foi, em parte, uma
resposta aos distúrbios trabalhistas que eclodiram em várias colônias, principalmente no
Caribe no final da década de 1930 (BOLLARD, 1995). A lei deixou claro que, de acordo
com suas disposições, nenhuma colônia poderia receber ajuda, a menos que tivesse em
vigor legislação protegendo os direitos dos sindicatos. Essa legislação levou a uma maior
tolerância oficial dos sindicatos e incentivou o crescimento do trabalho organizado
(COOPER, 1996, pp. 65-73).
Mas os trabalhadores na África e no Caribe não esperaram por legislações que
lhes permitissem funcionar. Houve greves na África Ocidental desde 1874, enquanto as
rebeliões trabalhistas no Caribe no final da década de 1930 obrigaram o governo
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britânico a nomear duas Comissões Reais para investigar as condições de trabalho em


toda a região. Na Nigéria, por exemplo, o primeiro sindicato, o Sindicato dos
Funcionários Públicos do Sul da Nigéria, foi formado em 1912, enquanto o primeiro
sindicato da Jamaica, o Sindicato dos Carpinteiros, Pedreiros e Pintores ou o Sindicato
dos Artesãos, apareceu ainda mais cedo em 1898 (ANANABA, 1969, p. 10; HARROD,
1972, p. 172; HART in: CROSS; HEUMAN, 1988, pp. 43-79; CRISP, 1984). Durante os anos
da guerra, houve um rápido crescimento no movimento sindical na África Ocidental
Britânica e em partes do Caribe. Em 1943, o Congresso Sindical Nigeriano foi formado
com mais de 30 sindicatos, representando mais de 200.000 trabalhadores. No espaço de
um ano, mais do dobro dos trabalhadores pertenciam a sindicatos afiliados ao
Congresso e, em 1945 havia cerca de 500.000 membros individuais pertencentes a 56
sindicatos afiliados. Na Jamaica, as primeiras tentativas de formar uma central sindical
começaram durante as greves de 1938 e em 1945 duas centrais rivais surgiram.
Enquanto isso, o Conselho Sindical da Guiana Britânica comemorou o seu 25º
aniversário em 1945 (PADMORE, 1945a; CHASE, 1964).
Os delegados da África e do Caribe, portanto, representaram não apenas um
número substancial de trabalhadores, mas também grandes tradições de luta e
sacrifício. A atividade sindical nas colônias assumiu, por razões óbvias, um caráter
político e anticolonial. Muitos dos sindicatos ou centrais sindicais e os principais
sindicalistas, como Wallace-Johnson na Serra Leoa e Ken Hill na Jamaica, estavam
intimamente ligados aos partidos políticos e aos crescentes movimentos de
independência. Hubert Critchlow, por exemplo, era na verdade um membro do
Conselho Executivo da Guiana Britânica, o governo colonial do país.
O Congresso Sindical Britânico (British Trade Union Congress) havia
desempenhado um papel de liderança na convocação da Conferência Sindical Mundial,
mas opunha-se em geral ao sindicalismo nas colônias que considerava suas atividades
parte integrante da luta pela independência e autodeterminação (DAVIES, 1964, p. 23).
Em 1942, como consequência da Lei de Desenvolvimento Colonial e Bem-Estar, o
Congresso Sindical (Trade Union Congress - TUC) juntou-se aos representantes dos
empregadores no Comitê Consultivo do Trabalho Colonial, estabelecido pelo Escritório
Colonial para resolver o que eram vistos como “problemas trabalhistas” nas colônias. No
mesmo ano, os primeiros sindicalistas britânicos foram nomeados consultores
trabalhistas nos departamentos coloniais do trabalho. Eles haviam sido estabelecidos no
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final da década de 1930, para auxiliar no crescimento de sindicatos “responsáveis” nas


colônias (WEILER, 1984, pp. 367-392). O objetivo do TUC e do Gabinete Colonial
britânico de promover o “sindicalismo responsável” nas colônias foi apenas
parcialmente bem-sucedido e esperava-se que a participação na conferência de Londres
pelos sindicalistas coloniais tivesse em si um “efeito realmente educativo”. Na África
Ocidental e no Caribe, o sindicalismo permaneceu intimamente ligado às demandas
políticas e anticoloniais, não obstante a repressão do governo e a prisão de líderes
sindicais radicais, como Wallace-Johnson e Ken Hill, durante a guerra. Ao longo dos anos
de guerra e em parte por causa das condições de guerra, muitos sindicatos coloniais
tornaram-se mais organizados, mais propensos a se envolver naquelas que eram vistas
como ações políticas e, com frequência, estiveram menos propensos a ouvir os
conselhos do TUC. De fato, antes da Conferência Sindical Mundial de Londres, o Sr.
Walter Citrine, secretário-geral do TUC, foi avisado de que os sindicatos na Serra Leoa
eram “nada mais que um meio de agitação política em favor da independência da África
Ocidental e de ideias extremistas semelhantes” (H.B. Kemmis to W. Citrine, January 12,
1944, Modern Records Centre, Warwick University (MRC) Mss. 292. 910. 1/5).
Pela primeira vez na história da Conferência Sindical Mundial, os trabalhadores
da África e do Caribe tiveram representantes em um fórum internacional importante e
manifestaram suas preocupações antes mesmo da abertura da conferência. Os
sindicatos da Guiana Britânica, por exemplo, propuseram diversos itens para inclusão na
agenda da conferência, incluindo: tratamento igual para todos os soldados aliados; que
os governos que legalizaram a discriminação racial deveriam ser impedidos de participar
da conferência de paz; que as colônias deveriam ter representação direta no
Parlamento; que os serviços públicos nas colônias deveriam ser nacionalizados; e que as
colônias das Índias Ocidentais e a Guiana Britânica deveriam ser industrializadas. O
delegado da Costa do Ouro propôs três itens da agenda que exigiam moradia, educação
em massa e instalações médicas. Enquanto os delegados da Nigéria e Rodésia do Norte
propuseram uma discussão sobre sua demanda por uma fusão da Rodésia do Sul e do
Norte. Essas eram preocupações legítimas, o que sugeria que nessas colônias havia uma
ideia muito clara do papel dos sindicatos, que diferia daquela mantida pelo TUC
britânico (“Registration Documents”, MRC Mss. 292 910. 11/1; International Committee
(TUC) minutes, January 16, 1945, Mss. 901. 1/6, Ibidem).

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A partir dos seus discursos, tornou-se claro que os delegados da África e do


Caribe tinham grandes expectativas e as mesmas perspectivas claras que mais tarde
formariam a base política do 5º Congresso Pan-Africano. De fato, eles reconheceram a
necessidade de unidade regional, colonial e internacional e desempenharam importante
papel na tentativa de concretizá-la. Os delegados da África Ocidental emitiram uma
declaração de que o momento era propício para a formação de uma federação sindical
da África Ocidental. Planos semelhantes estavam sendo elaborados no Caribe. Uma
Conferência da Guiana Britânica e das Índias Ocidentais havia sido realizada na Guiana
Britânica desde 1926. Uma segunda conferência foi realizada em 1938 e uma terceira
em 1944, enquanto a fundação do Congresso Trabalhista do Caribe ocorreu em
Barbados em 1945 (HARROD, 1972, pp. 235-8).
Os delegados coloniais também demonstraram que não estavam contentes em
deixar que os procedimentos da Conferência Sindical Mundial fossem dominados por
aqueles dos principais países aliados. Os do Caribe e da África Ocidental, bem como os
de outras colônias trabalharam juntos na Conferência e, como foi relatado na época,
“apresentaram uma frente única em todos os assuntos que afetam os interesses
coloniais”. Durante as sessões de abertura, o delegado jamaicano Ken Hill e outros
exigiram que os representantes das “nações subjulgadas” também dessem suas opiniões
sobre o assunto do acordo de paz no pós-guerra. Hill em particular insistiu que era
impensável que a conferência expusesse suas opiniões sobre esse assunto “sem levar
em consideração questões coloniais, que, segundo a nossa compreensão, são as causas
profundas da guerra” (Report of the World Trade Union Conference, 1945, p. 93; League
of Coloured Peoples’ (LCP) Newsletter, March 1945, 11/66, p. 127). Hill, cujo discurso foi
descrito na imprensa jamaicana como “caindo como uma bomba altamente explosiva na
câmara da conferência” chegou a sugerir que, como parte integrante de qualquer
acordo de paz, as potências coloniais deveriam conceder às suas colônias os direitos de
autodeterminação, e que os prazos poderiam ser estabelecidos para acelerar o
processo. Em suma, ele exigiu não apenas que a Conferência “apresentasse alguma
declaração expressando pontos de vista progressistas sobre a questão colonial”, mas
também que medidas fossem tomadas “para usar a influência do movimento
internacional da classe trabalhadora para pôr fim e ver desconstituído o sistema de
dominação imperialista, independentemente da forma que este possa assumir” (Ibidem,
pp. 102-3; The Masses, March 3, 1945, p. 1, IN: POST, 1981, vol. 2, p. 513).
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O principal objetivo da conferência, a fundação de uma federação sindical


mundial, foi entusiasticamente apoiado pelos delegados coloniais, que viam tal
organização como uma grande aliada em sua luta contra o colonialismo. Joe Annan, da
Costa do Ouro, e o delegado nigeriano T. A. Bankole reivindicaram a criação imediata de
um órgão mundial e demonstraram pouca simpatia pelas opiniões de Citrine, que
insistiu em que a máxima cautela deveria ser exercida na criação de um novo sindicato
internacional. Em resposta às propostas de Citrine e do TUC, Bankole apresentou
propostas dos delegados coloniais, que incluíam várias tarefas importantes para a nova
organização:
a) incentivar o crescimento do Movimento Sindical em todos os países,
impedindo a discriminação contra associações de trabalhadores nativos,
como tem sido o caso até agora em países como África do Sul, Rodésia do
Norte e EUA, com particular referência à Federação Americana do Trabalho
(American Federation of Labor - AFL).
b) garantir a todos os trabalhadores, particularmente os das áreas
dependentes, que estejam empregados em condições favoráveis à
prosperidade geral;
c) dar apoio razoável às aspirações dos trabalhadores coloniais ao
autogoverno interno em seus respectivos países (Report of the World Trade
Union Conference, 1945, p. 130).

Na sessão sobre reconstrução do pós-guerra, Wallace-Johnson, em nome de


todos os delegados coloniais, propôs uma “Carta do Trabalho para as Colônias” e
convocou a conferência a apoiar as seguintes demandas:
1. A abolição da barreira de cor (barreira racial) e toda discriminação racial
no emprego público e privado;
2. A abolição do trabalho forçado, trabalho infantil e todas as formas de
escravidão, aberta ou disfarçada, abolição de açoitamento e outras formas
de punição por quebra de contrato de trabalho, bem como sanções penais
por quebra de contrato de trabalho;
3. Abolição de toda a legislação referente à Lei do Passe e o estabelecimento
do direito de liberdade de reunião, liberdade de expressão, liberdade de
imprensa e liberdade de circulação.
4. Salário igual por trabalho igual, independentemente de raça, cor, credo
ou sexo;
5. Abolição das restrições raciais contra a admissão de trabalhadores
africanos e outros trabalhadores de cor nos sindicatos brancos existentes
(África do Sul, Rodésia, etc.). Onde quer que essas restrições continuem a
operar, os africanos e outros trabalhadores de cor devem ter o direito de
criar sindicatos separados e livres;
6. A legislação sindical e social existente nas colônias deve ser alinhada com
a existente na metrópole ou, inversamente, os mesmos princípios sindicais e
legislativos sociais que operam nos países metropolitanos devem ser
aplicáveis aos territórios coloniais (PADMORE, 1945a, p. 4).

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Wallace-Johnson pediu apoio da conferência para essas demandas “como um


gesto elementar de solidariedade com os milhões de oprimidos e de explorados,
trabalhadores industriais e agrícolas nas colônias da Ásia, África, Caribe, Ilhas do
Pacífico, Guiana Britânica, Maurício e Ceilão”. A exigência de que a legislação social que
operava nos países metropolitanos também deveria ser implementada nas colônias, foi
posteriormente adotada como política da WFTU, mas contra o TUC britânico. Wallace-
Johnson também convocou a conferência a apoiar o princípio da autodeterminação para
os povos coloniais, argumentando que “a justiça, como a paz é indivisível e o mundo
hoje não pode permanecer meio livre e meio escravo”. Ele explicou que “uma das
principais causas da guerra é o conflito sobre as colônias” e, portanto, argumentou que
a autodeterminação das colônias removeria esse conflito e garantiria a paz mundial
(Ibidem).
Além da “Carta do Trabalho”, os delegados da África e do Caribe também
levantaram uma série de outras questões importantes e exigiram: que as contribuições
das colônias em tempo de guerra fossem reconhecidas e que o Artigo 3° da Carta do
Atlântico, relativo à autodeterminação, deveria ser aplicada universalmente; que o
imperialismo, assim como o fascismo, deveria ser condenado e erradicado, pois era a
base da desigualdade internacional e da rivalidade que levou às guerras; que
organizações trabalhistas britânicas e internacionais deveriam apoiar os sindicatos
coloniais. Também houve demandas desses delegados por reformas econômicas e
sociais nas colônias. Claramente eles reconheceram que o movimento sindical
internacional era um aliado importante na luta anticolonial e, portanto, havia um forte
apoio deles para a representação sindical na conferência fundadora da ONU em San
Francisco e no Conselho de Segurança da ONU. Não há dúvida de que os delegados da
África e do Caribe usaram a ocasião para expressar suas demandas por autogoverno. T.
A. Bankole e Wallace-Johnson pediram à conferência que exigisse que as potências
coloniais estabelecessem um prazo definido para o fim do domínio colonial. Essa
proposta foi derrotada, mas a conferência apoiou a aplicação universal do Artigo 3° da
Carta do Atlântico e apelou ao fim do sistema colonial. Não surpreendentemente, os
representantes do trabalho pan-africano apoiaram fortemente as demandas pela
fundação de uma Federação Sindical Mundial (League of Coloured Peoples’ (LCP)
Newsletter, March 1945, 11/66, pp. 8-23, 27, 36).

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Alguns delegados coloniais usaram a ocasião para atacar especificamente o que


foi chamado de “podridão do sistema imperialista defendida por Whitehall”. Wallace-
Johnson solicitou o seguinte à conferência: “esteja preparada para lutar contra o
imperialismo britânico e qualquer outro imperialismo colonial, o que para nós nas
colônias é ainda pior do que o fascismo”. Outros, como Joe Annan, discursaram na
conferência sobre as necessidades específicas do movimento trabalhista em algumas
colônias. Em relação à Costa do Ouro, ele exigiu: a criação imediata de um quadro de
salários; estabelecimento de uma junta comercial internacional que “regularia,
controlaria e distribuiria os recursos naturais do mundo”; um representante do trabalho
organizado no conselho legislativo e um plano de seguro social para os trabalhadores.
Ele concluiu falando da “necessidade de acabar com todos os interesses privados
instalados nas colônias” (Report of the World Trade Union Conference, 1945, p. 169).
Os representantes do trabalho pan-africano, e particularmente Wallace-
Johnson, garantiram que seus pontos de vista fossem ouvidos ao longo da conferência.
Suas intervenções receberam ampla cobertura da imprensa, especialmente nas colônias,
mas também em publicações afro-americanas como Pittsburgh Courier, Chicago
Defender e a Associated Negro Press. Os delegados coloniais também receberam
cobertura na imprensa nacional dos Estados Unidos, em jornais como o New York Times,
que relataram, entre outras coisas, a demanda de Ken Hill de que as potências
imperialistas se comprometessem com a garantia da autodeterminação das colônias
(Chicago Defender (CD), April 14, 1945; Associated Negro Press, February 24, 1945).6 Os
delegados coloniais e a Conferência Sindical Mundial tiveram um impacto considerável
em todo o mundo. A contribuição de Wallace-Johnson foi bem abordada pela imprensa
anticolonial britânica, em publicações como o Daily Worker e o Glasgow Forward. O
New Leader do Partido Trabalhista Independente (Independent Labour Party) referiu-se
ao seu discurso como o mais memorável da conferência, no qual ele demonstrou “uma
visão política, uma compreensão do destino humano e um calibre intelectual que o fez
se elevar acima da conferência e chamar a atenção por pura força do intelecto” (New

6Em relação ao Chicago Defender (CD), ver, por exemplo, o artigo intitulado: “British Imperial Rule Defied by
African Unions at World Parley”. No Associated Negro Press (ANP), ver os artigos de Rudolph Dubar:
“Negroes Make History at World Trade Union Congress: They Fight Imperialism”; “Nigerian Delegate Makes
Brilliant Speech at World Trade Union Conference”; e “African Trade Unionist Tells World Labor Meet Needs
of Colonial Workers”.

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Leader, February 24, 1945, p. 4).7 A proeminência de Wallace-Johnson levou


posteriormente à sua eleição para o Comitê de Continuação da Conferência, o órgão
responsável pela preparação do congresso de Paris da WFTU. Também houve apoio
entusiástico às posições adotadas pelos delegados coloniais na imprensa da África
Ocidental e do Caribe. O West African Pilot, jornal da África Ocidental, lançado na
Nigéria por Nnamdi Azikiwe, em 1937, apresentou vários relatórios, assim como o Public
Opinion, da Jamaica. Até o relatório da conferência no Christian Science Monitor
destacou a contribuição de Wallace-Johnson e concluiu que suas demandas “estavam
completamente de acordo com as aspirações de toda a conferência”.8 A maioria das
reportagens da imprensa comentou o caráter anti-imperialista dos discursos dos
delegados coloniais, enquanto alguns também chamaram a atenção para o fato de que
os planos do TUC e do Escritório Colonial haviam sido alterados. George Padmore, que
escreveu vários relatórios sobre a conferência para diferentes publicações concluiu:
“Quando o senhor Walter Citrine estendeu convites aos recém-nascidos
Sindicatos dos Territórios Coloniais Britânicos para enviarem os seus
representantes a Londres, ele inocentemente desconhecia a militância dos
povos coloniais nas questões do momento, especialmente aquelas que
afetavam sua liberdade e progresso” (PADMORE, 1945b, p. 2).

4. A África no Mundo Pós-Guerra

Os delegados da África e do Caribe não limitaram suas atividades às conferências


fundadoras da WFTU. Eles também foram fundamentais nos preparativos para o 5º
Congresso Pan-Africano, organizado principalmente por Padmore e pela Federação Pan-
Africana, com sede na Grã-Bretanha. Em fevereiro de 1945, a Federação Pan-Africana
convidou todos os delegados sindicais do Caribe e da África para uma reunião em
Manchester, na qual foi acordado realizar um Congresso Pan-Africano na Grã-Bretanha.
O Congresso estava originalmente programado para se reunir em Paris em setembro de
1945, a fim de facilitar a participação dos delegados sindicais coloniais após uma
segunda Conferência Sindical Mundial, que aconteceria em Paris no outono. Esperava-se
também que os delegados Pan-Africanos pudessem ganhar o apoio do movimento
trabalhista internacional para suas próprias demandas pós-guerra. Wallace-Johnson era

7 Ver o artigo “World Cannot Remain Half-Slave, Half-Free”.


8 Ver o artigo “Socialist World Called Aim of Trade Unionists in London”.

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membro do comitê organizador provisório do Congresso, que tinha a tarefa de produzir


um manifesto que seria publicado como um “chamado à ação” e para apresentação na
próxima conferência das Nações Unidas em São Francisco (Chicago Defender (CD),
March 3, 1945; March 17, 1945, p 18).9
O Manifesto sobre a África no mundo pós-guerra (Manifesto on Africa in the
Post-War World) foi posteriormente endossado por Annan, Bankole, Wallace-Johnson,
Garba Jahumpa e Critchlow, em nome de seus respectivos sindicatos. O documento
enfatizou a necessidade de uma nova ordem econômica mundial e que “o rápido
desenvolvimento econômico, a industrialização e o avanço dos padrões sociais da África
sejam parte integrante de qualquer plano para construir a prosperidade mundial”.
Qualquer novo fórum mundial, eles exigiram, deve levar em conta 160 milhões de
africanos, muitos dos quais lutaram, contribuíram e, em alguns casos, deram suas vidas
na Segunda Guerra Mundial. O Manifesto pedia que a ONU continuasse a luta contra o
racismo e o fascismo, e que os Aliados “removessem de seus próprios territórios as
teorias e práticas de destruição pelas quais os africanos morreram em muitos campos
de batalha” (League of Coloured Peoples’ (LCP) Newsletter, April 1945, 12/67, pp. 9-12;
West African Pilot (WAP), April 30, 1945).10 O rascunho do manifesto apresenta,
portanto, uma série de demandas:
1. Que a ONU deve adotar políticas e mecanismos “para garantir o
desenvolvimento uniforme e rápido da vida econômica, social e cultural dos
povos africanos”.
2. Que deve haver a participação máxima dos africanos em todos os níveis
da administração. Que “o atual status político, econômico e social inferior
dos povos africanos milita contra a consecução de uma cooperação
harmoniosa entre os povos do mundo”. A cooperação internacional exige a
abolição de todo tipo de discriminação: por causa da cor, raça e credo, onde
quer que exista essa discriminação.
3. Que “o atual sistema de exploração pelo qual a maior parte da riqueza da
África enriquece indivíduos e monopólios das empresas estrangeiras, deve
ser substituído por planejamento e desenvolvimento sistemáticos, nos
quais, em primeiro lugar, os próprios africanos serão os principais
beneficiários da riqueza produzida, uma oportunidade igual será oferecida a
todas as nações na troca de produtos”.
4. Que simultaneamente ao desenvolvimento econômico devem ser
tomadas medidas para associar os africanos à gestão de seus próprios

9 Nos referimos ao artigo “Pan-African Conference Set For Paris in Fall”, de Henry Lee Moon e ao artigo “Call
for Pan-African Parley in Paris Drafted by British Colonial Leaders”, de George Padmore. O comitê
organizador planejava enviar o manifesto à NAACP nos EUA e aos representantes de organizações africanas
e do Caribe. Eles também pretendiam convidar observadores para o Congresso, oriundos de países árabes,
assim como da China e da Índia.
10 O artigo publicado em WAP intitulado “Pan-African Confab” é de autoria de George Padmore.

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assuntos, com vistas a alcançar o autogoverno pleno dentro de um prazo


definido.
5. Que a pobreza, a doença, a miséria e o analfabetismo na África devem ser
eliminados. Que “é possível erradicar o analfabetismo em massa em um
curto espaço de tempo, tal como foi comprovado pela experiência da Ásia
Central Soviética”.
6. Que as ex-colônias italianas na África devem receber o mesmo
tratamento que as outras colônias e ter o direito ao autogoverno (West
African Pilot, April 30, 1945).11

Durante a estadia na Grã-Bretanha, os delegados sindicais africanos e


caribenhos aproveitaram a oportunidade para aumentar a demanda por reformas
políticas e autogoverno nas colônias, que consideravam uma parte importante de suas
responsabilidades sindicais. Após a reunião organizacional, alguns dos delegados,
incluindo Ken Hill, Hubert Critchlow e Wallace-Johnson, se dirigiram a uma reunião
pública organizada pela Federação Pan-Africana em Manchester, com a participação de
cerca de 300 pessoas, “a maior reunião de massas negras da história de Manchester”,
segundo um relatório da imprensa.12 Esta reunião, que incluiu entre sua audiência
militares coloniais e afro-americanos baseados na Grã-Bretanha, além de trabalhadores
de guerra da África e do Caribe, também foi abordada por outros palestrantes, incluindo
Learie Constantine e Kenyatta, Ras Makonnen, Peter Milliard e Padmore. 13
Enquanto estavam na Grã-Bretanha, os representantes trabalhistas coloniais
também conversaram com várias outras organizações, incluindo o Fabian Colonial
Bureau e representantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Alguns dos
delegados tiveram reuniões com o Partido Comunista Britânico e T. A. Bankole escreveu
um artigo sobre o movimento dos trabalhadores nigerianos para o Inside The Empire

11 O rascunho subsequentemente se tornou o “Manifesto sobre a África no mundo pós-guerra, para


apresentação na Conferência das Nações Unidas, São Francisco, abril de 1945”. Segundo Padmore, ele foi
originalmente "preparado" por Desmond Buckle, membro da LCP e do Partido Comunista Britânico.
(APTHEKER, 1976, vol. 2, p. 63). O Manifesto foi apoiado pela PAF, LCP, WASU e Kenyatta, em nome da
Associação Central Kikuyu (Quênia), e por vários outros apoiadores.
12 Henry Lee Moon. Ver nota 11.
13 Ver nota anterior. A reunião também foi abordada por Henry Lee Moon, do Chicago Defender, e Chester

Gray, do American Red Cross Club. Learie Constantine, o futuro Barão Constantine de Maraval e Nelson, que
nesta época trabalhava como oficial de bem-estar do Escritório Colonial. Foi a partir de um relatório desta
reunião no Chicago Defender que Du Bois ouviu pela primeira vez sobre os preparativos para o Congresso
Pan-Africano. Padmore explicou que o Manifesto e os planos para um PAC haviam surgido apenas como
resultado da presença na Grã-Bretanha dos delegados coloniais na conferência da WFTU. Ele enfatizou a
importância da composição das delegações sindicais e o fato de elas estarem “preocupadas principalmente
com os trabalhadores e camponeses, que devem ser a força motriz de qualquer movimento que os
intelectuais de classe média possam estabelecer”. “Hoje”, Padmore enfatizou, “as massas africanas, o povo
comum, estão acordadas e não estão olhando cegamente para médicos e advogados para lhes dizer o que
fazer” (APTHEKER, 1976, vol. 2, pp. 63-65). Cf. Versão de Padmore sobre os eventos (PADMORE, 1956, pp.
154-156).

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publicado pelo Colonial Information Bureau desse partido. Wallace-Johnson escreveu


vários artigos para o The New Leader, do Partido Trabalhista Independente,
popularizando as posições assumidas pelos delegados na Conferência Sindical Mundial.
A BBC até permitiu que Ken Hill transmitisse para o Caribe detalhes da declaração da
Conferência, “Um Chamado a Todos os Povos” (Public Opinion [Jamaica], February 26,
1945, p. 1; New Leader, February 24, 1945, p. 4, New Leader, March 3, 1945, p.7; Inside
The Empire, 4/1, April 1945, pp. 12-17).14 Este Chamado declarou que era necessário:
“pôr fim ao sistema de colônias, dependências e países subjugados como
esferas de exploração econômica e facilitar imediatamente o
desenvolvimento de sindicatos livres nesses países; estabelecendo assim as
bases sobre as quais, de acordo com o artigo 3º da Carta do Atlântico, as
comunidades e nações não autônomas podem atingir o status de nações
livres e poder governar a si mesmas e desenvolver suas próprias instituições
de livre cidadania” (Report of the World Trade Union Conference, 6-17
February, 1945).

É claro que o Chamado teve uma influência importante nos movimentos


trabalhistas nas colônias. Por exemplo, Ken Hill relatou que, como resultado de sua
transmissão, “uma maior esperança foi estimulada entre os trabalhadores da Jamaica”,
que aguardavam ansiosamente a formação da WFTU, que eles esperavam “também ter
interesse prático em seu movimento, bem como nos movimentos de todos os povos
coloniais” (Report of the World Trade Union Conference-Congress, September 25 –
October 8, 1945, p. 200). A Federação Pan-Africana também considerou que os
discursos e relatórios dos delegados coloniais na Conferência Sindical Mundial deveriam
ser disponibilizados aos trabalhadores britânicos, a fim de “ajudar a classe trabalhadora
britânica a apreciar melhor alguns dos problemas que os trabalhadores coloniais
enfrentam”. Para esse fim, a PAF publicou The Voice of Coloured Labour, em julho de
1945. George Padmore explicou que:
A classe trabalhadora britânica tem a grande responsabilidade de fazer
todos os esforços para recuperar a honra de seu país, pois a classe
dominante de sua nação fez tudo com sua cruel exploração e opressão dos
indefesos trabalhadores de cor do império colonial para gerar hostilidade
entre os povos subjugados e os da metrópole. Essa hostilidade só pode ser
superada se os trabalhadores britânicos demonstrarem em atos e não
apenas em palavras sua simpatia pelos trabalhadores coloniais. É do
interesse deles fazê-lo, pois, como lembrou um dos palestrantes da
Conferência [Sindicato Mundial], “o trabalhador de pele branca não pode
emancipar-se onde o trabalhador de pele negra é marcado com ferro em

14 No Inside The Empire, nos referimos ao artigo “The Nigerian Workers' Movement”, de T.A. Bankole.

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brasa”. Uma vez aceito esse truísmo, o vínculo desejado entre os


trabalhadores de todos os lugares, independentemente da cor ou credo,
encontrará expressão na unidade de ação e propósito (PADMORE, 1945a, p.
5).

5. A Conferência dos Povos Subjugados

Em junho de 1945, a crescente unidade pan-africana e anti-imperialista foi fortalecida


pela Conferência de Todos os Povos Coloniais (ou Conferência dos Povos Subjugados),
realizada em Londres. Foi organizado pela PAF, WASU, a Federação de Associações
Indianas na Grã-Bretanha, a Associação de Estudantes do Ceilão e a Associação da
Birmânia, que compunham conjuntamente o que foi referido como um “Comitê
Provisório da Federação dos Povos Coloniais Unidos”. A conferência contou com a
participação de quarenta delegados e vinte e cinco observadores, e incluiu os delegados
“dos partidos trabalhistas e sindicatos coloniais”. A conferência também contou com a
participação de delegados de sindicatos britânicos e organizações socialistas. Foi vista
por Padmore como “histórica”, a primeira conferência do gênero e como preparação
para “uma espécie de Internacional Colonial” (The Statesman (Calcutta), June 12, 1945,
p. 1; Pittsburg Courier, June 30, 1945; Public Opinion (Jamaica), June 25, 1945;
ABRAHAMS in: PADMORE, 1963, p. 13).15
A Conferência foi claramente organizada em resposta às reuniões da ONU em
São Francisco, bem como para influenciar a opinião pública e pressionar o governo na
Grã-Bretanha. George Padmore abriu a conferência, mas representantes de diferentes
partes do Império Britânico se revezaram em presidir suas sessões e cada colônia
recebeu status igual. Em sua forma e parte de seu conteúdo, a conferência provou ser
uma espécie de ensaio geral para o Congresso Pan-Africano de Manchester. Muitos dos
participantes concordaram que suas lutas eram “fundamentalmente iguais” e que
precisavam trabalhar mais estreitamente. Esta conferência histórica, dez anos antes de
Bandung, deu um novo impulso não apenas à ideia de unidade Pan-Africana, mas

15A Conferência também clamou por direitos democráticos para a “minoria negra na América”. Os artigos
de Padmore intitulados, “Subject Peoples Form International Movement” e “Subject Peoples” Conference in
London Plan Formation of “Colonial International”, foram publicados, respectivamente, em Pittsburg
Courier e Public Opinion. O artigo de P. Abrahams, intitulado “The Congress in Perspective”, aparece na
publicação de Padmore “Colonial and Coloured Unity”.

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também à solidariedade africana e asiática e à necessidade de uma ampla frente


anticolonial e anti-imperialista na luta pela libertação nacional e emancipação social. 16

6. Trabalho Pan-Africano em Paris

O congresso inaugural da WFTU foi realizado em Paris, de 25 de setembro a 8 de


outubro de 1945. Os delegados da África e do Caribe desempenharam novamente um
papel significativo. Entre os 273 delegados do Congresso, havia também representantes
do Egito, Cuba e Porto Rico. A delegação francesa incluía Charles Assale, um africano dos
Camarões franceses. Um delegado do Congo Belga era esperado, mas não pôde
comparecer. O delegado do Transvaal foi impedido de participar pelas ações do governo
sul-africano, mas o Conselho Transvaal de Sindicatos Não-Europeus foi representado em
Paris por Desmond Buckle, seu representante na Europa, que morava na Grã-Bretanha e
era membro da o Partido Comunista Britânico, mas originário da Costa do Ouro.17
Hill, Wallace-Johnson, Small e Annan, que participaram da conferência de
Londres, se juntaram a Soyemi Coker, do TUC nigeriano, J.T. Rojas e R.A. Gittens do TUC
de Trinidad e Tobago e H.J. Hubbard e D.M. Harper da Guiana Britânica. Todos, exceto
Hubbard e Small, foram subsequentemente delegados no Congresso Pan-Africano de
Manchester. O Sindicato dos Mineiros da Rodésia do Norte foi novamente representado
por B. Goodwin. Soyemi Coker substituiu T. A. Bankole que foi forçado a deixar o cargo
de presidente do TUC da Nigéria após sua fraca liderança durante a greve geral na
Nigéria durante o verão de 1945. A greve geral aumentou bastante a influência dos
sindicatos nigerianos, mas foi contestada pelo TUC britânico, que recomendou o retorno
ao trabalho e um acordo negociado (OYEMAKINDE, 1975, pp. 637-710; Citrine to
Colonial Secretary, 8 August 1945, MRC, TUC 966. 3/1).
Mais uma vez, esses delegados enfatizaram a necessidade da WFTU se organizar
rapidamente e travar uma luta contra a “exploração do imperialismo nas colônias e
territórios dependentes” e de auxiliar o crescimento dos sindicatos nas colônias, como
parte da luta para pôr fim ao colonialismo. Como antes, eles se viram no meio de todas

16 Para maiores detalhes, ver “Background to the 1945 Manchester Pan-African Congress” (ADI;
SHERWOOD, 1995). Evidências adicionais da crescente unidade anti-imperialista eram evidentes no apoio
em larga escala na Grã-Bretanha à Greve Geral da Nigéria, que começou em junho de 1945.
17 A hostil Federação Americana do Trabalho (AFL) se recusou a participar da fundação da WFTU, mas

enviou o afro-americano Charles Collins como um de seus observadores para a conferência de Paris.

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as controvérsias que mais tarde contribuiriam na divisão da WFTU. Em particular, muitos


dos delegados coloniais se viram em desacordo com o Sr. Walter Citrine e outros
membros da delegação britânica do TUC, que estavam tentando adiar a criação da
WFTU, e que queriam garantir que ela não se tornasse envolvida na política. Os
delegados coloniais, por outro lado, apoiaram a visão, defendida por muitos outros, de
que a WFTU deveria ser formada imediatamente, até porque eles esperavam um
“sindicalismo político” que lutaria contra “a exploração do imperialismo nas colônias e
territórios dependentes”, e para ajudar o crescimento dos sindicatos nas colônias, além
de assumir uma parte importante da luta para pôr fim ao colonialismo. Soyemi Coker, o
delegado do TUC nigeriano, resumiu os sentimentos dos delegados coloniais e, em uma
clara referência aos comentários de Citrine, ele argumentou: “Tenho certeza de que
ninguém dos países sob o domínio de potências estrangeiras contribuiria com qualquer
sugestão para adiar por um momento a constituição dessa Federação Mundial” (Report
of the World Trade Union Conference-Congress, 1945, p. 52). Rojas, o delegado de
Trinidad, falando em nome de “dezenove colônias nas Índias Ocidentais Britânicas”,
aproveitou a oportunidade para denunciar “a exploração do imperialismo britânico e do
capitalismo britânico” no Caribe. Ele reclamou que a Citrine “jogou um ‘balde de água
fria’ no estabelecimento deste congresso internacional” e declarou:
Somos povos coloniais nas Índias Ocidentais, e nossa salvação e nossa
esperança estão no estabelecimento de um Congresso Sindical Mundial que
nos dará alguma medida de proteção... O TUC britânico nunca abriu seus
braços à afiliação pelos vários sindicatos das colônias britânicas; portanto,
devemos aguardar com expectativa a filiação e a proteção por algum outro
órgão. Estamos muito esperançosos e esperamos que este Congresso
Sindical Mundial nos dê essa proteção (Ibidem, p. 67).

Mais uma vez, os delegados coloniais argumentaram que a WFTU deveria se


posicionar contra o imperialismo e o fascismo. Ken Hill e Joe Annan lembraram ao
congresso a “natureza indivisível do trabalho”, que “o trabalho de pele branca não
poderá ter nenhum progresso enquanto o trabalho de pele negra for escravizado nos
territórios coloniais”. E.F. Small explicou:
A menos que e até que a questão colonial seja resolvida, o fascismo nunca
será erradicado da face da terra, e nunca haverá uma nova ordem mundial
para o homem comum. Você nunca terminará a guerra, nunca terá paz
duradoura, nunca obterá segurança econômica para os trabalhadores do
mundo, enquanto bilhões de seus compatriotas – homens e mulheres – são

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explorados como povos subjulgados e dependentes negados de seus


direitos sociais, liberdade econômica, industrial e política (Ibidem, p. 172).18

Small continuou explicando por que, em sua opinião, havia o que ele chamou de
“essa forte representação colonial e de cor” na conferência. Segundo ele, isso se baseou
em parte nas esperanças levantadas pelo fato de que a Conferência de Londres já havia
resolvido não apenas acabar com o colonialismo, mas também com “toda forma de
discriminação política, econômica ou social baseada em raça, credo, cor ou sexo”
(Report of the World Trade Union Conference-Congress, p. 171).
Toda a verdade é que o mundo de cor olha hoje para esta Conferência de
Paris para livrar a humanidade do passado fascista. A verdade é que o
“perigo amarelo” e o choque de cores ainda são questões vivas dessa luta
de classes contra o imperialismo e o fascismo; são graves ameaças à paz e à
liberdade. O Trabalho Mundial não pode ignorar o fato crucial de que a
questão colonial, em seus aspectos sociais, econômicos e industriais, afeta
igualmente mais de um bilhão de negros e pessoas de cor na África, nas
Índias Ocidentais, na Índia, nos EUA, na América Latina e no Extremo
Oriente e Oriente Médio (Ibidem, p. 172).

Como explicou uma reportagem de jornal, os delegados da África e do Caribe


viram “em um movimento trabalhista fortemente organizado, o único tipo de força que
poderia ser usada para romper as correntes que os prendiam politicamente” (Pittsburgh
Courier, October 6, 1945; West African Pilot, October 12, 1945).19 Foi por esse motivo
que Small e outros delegados das colônias, como Rupert Gittens, de Trinidad, pediram à
nova federação que investigasse as condições nas colônias e estabelecesse um
departamento colonial, medidas adotadas posteriormente pelo Comitê Executivo da
WFTU, apesar das “reservas” do TUC britânico (World Trade Union Conference-Congress,
p. 128), enquanto Wallace Johnson e outros argumentavam que para efetivar as
decisões do congresso nas colônias britânicas, “alguns passos deveriam ser dados para
conter a ameaça do imperialismo britânico e de outros imperialistas” (Ibidem, p. 184).
As ideias do TUC britânico sobre sindicalismo não político não foram claramente
compartilhadas pelos delegados das colônias britânicas.

18 Ver “Africans Protest Hillman's Anti-Negro Move In Paris”, Chicago Defender, 6 de outubro de 1945, p. 1 e
“CIO Leader Answers Betrayal Charges”, Pittsburgh Courier, 7 de outubro de 1945.
19 Em relação ao PC nos referimos ao artigo “Negro Labor Leaders Face Odds at World Meet”. Por sua vez, o

artigo em WAP, assinado por George Padmore, é intitulado “Open Conflict Develops Between Colonial
Delegates and British Representatives”.

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Mais uma vez, a conferência / congresso de Paris e as contribuições dos


delegados coloniais foram amplamente divulgadas na imprensa. A imprensa dos Estados
Unidos e da Grã-Bretanha comentou longamente as contribuições dos delegados
coloniais, como John Rojas, e sua oposição às opiniões de Citrine e do TUC britânico
(Pittsburgh Courier, 6 October 1945; New Leader, 13 October 1945).20 Jornais nas
colônias também relataram longamente o que foi visto como uma derrota para as
opiniões de Citrine e do TUC britânico. As reportagens de George Padmore sobre a
conferência de Paris apareceram por toda a imprensa colonial e destacaram “o conflito
aberto que se desenvolveu entre os delegados coloniais de cor e os representantes
britânicos liderados pelo Sr. Walter Citrine”. Como consequência, Padmore sentiu-se
justificado em anunciar com júbilo a “aprovação do Movimento Sindical Britânico como
a força de trabalho dominante nos conselhos internacionais” (Public Opinion, October
11, 1945; The Masses, October 13, 1945).21
Os delegados pan-africanos puderam, portanto, aproveitar a ocasião para
expressar as demandas econômicas e sociais, bem como as demandas políticas dos
povos nas colônias. H.J. Hubbard, por exemplo, criticou aqueles que colocam seus
interesses nacionais acima dos do movimento sindical mundial. Entre outras coisas, ele
declarou: “Nós, os povos coloniais, somamos muitos milhões e não podemos nos dar ao
luxo do nacionalismo. Não temos lugar na Família das Nações. Só temos um lugar na
irmandade da classe trabalhadora” (World Trade Union Conference-Congress, 1945, p.
134). Muitas das propostas elaboradas pelos delegados da África e do Caribe, por
exemplo, o direito de independência para as colônias, foram posteriormente
incorporadas nas resoluções finais adotadas no Congresso, embora as demandas por um
departamento colonial especial e por maior representação para a África em vários
órgãos da WFTU tenham sido inicialmente recusadas (Ibidem, p. 276; New Leader,
October 13, 1945, p. 4; Chicago Defender, October 20, 1945, p. 1).22
Poucos dias após o Congresso da WFTU, em 10 de outubro de 1945, uma
segunda Conferência dos Povos Subjugados foi realizada em Londres, convocada pelo

20 Em relação ao PC nos referimos ao artigo “West Indian Delegate Scores British Imperialism”. O artigo em
NL é intitulado “What Colonial Workers Demanded at World TUC”.
21 Respectivamente, “Less Talk more Action Now” Ken Hill Tells Citrine” e “Ken Hill Warns Citrine”.
22 Nos referimos a “Resolutions of the Standing Orders Committee of the WFTU”. Tanto Ken Hill quanto

Wallace-Johnson foram eleitos como membros suplentes do Comitê Executivo da WFTU no Congresso. Em
relação ao NL ver “What Colonial Workers Demanded at World TUC”. Em CD ver “Paris Delegates of WFTU
Back Labour Equality”.

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“Comitê de Coordenação da Conferência dos Povos Subjugados”, presumivelmente o


comitê estabelecido após a conferência de junho. O foco principal da conferência foi a
luta pela libertação na Indochina, Índia, Malásia e outras áreas da Ásia. No entanto, a
importância da unidade afro-asiática, como demonstrada pelo apoio da Ásia e de
organizações asiáticas durante a Greve Geral da Nigéria, foi enfatizada durante todo o
processo. “Essa unidade entre as raças de cor, a grande maioria dos quais são
trabalhadores e camponeses”, enfatizou Wallace-Johnson, “ainda pode lançar as bases
para uma unidade mais ampla entre todos os trabalhadores, explorados e oprimidos”.
Ele se juntou aos outros delegados na condenação do novo governo trabalhista por sua
atitude em relação às colônias, enquanto Peter Abrahams, da Federação Pan-Africana,
novamente defendeu o estabelecimento de uma “federação colonial” para fazer
campanha pela libertação de todos os povos coloniais. Mais uma vez, esta conferência
dá uma indicação das preocupações da época e da crescente unidade entre os assuntos
coloniais da Grã-Bretanha. O próprio Congresso Pan-Africano de Manchester foi
influenciado por esse espírito de unidade anticolonial e anti-imperialista (Public Opinion,
October 29, 1945, p. 2; The Statesman [Calcutta], October 12, 1945, p. 9).23
O Congresso Pan-Africano de Manchester, realizado alguns dias após a segunda
Conferência dos Povos Subjugados, foi concretizado como resultado da iniciativa de
George Padmore, da Federação Pan-Africana e dos delegados sindicais coloniais. Foi a
formação da WFTU e das conferências de Londres e Paris, que permitiram que o
trabalho pan-africano estivesse no centro do novo Pan-Africanismo; mas isso também
ocorreu devido à força política dos movimentos trabalhistas africanos e caribenhos, que
haviam sido vividamente demonstrados durante a Greve Geral da Nigéria.
Os representantes do trabalho pan-africano desempenharam um papel de
liderança na convocação do Congresso de Manchester e na determinação do caráter de
suas deliberações. Além dos delegados de Paris, muitos dos outros participantes
representavam organizações de trabalhadores e de agricultores, como sempre havia
sido planejado. Das 53 organizações listadas oficialmente, 21 eram organizações de
trabalhadores e agricultores ou partidos trabalhistas da África ou do Caribe, incluindo

23 Em relação a PO nos referimos ao artigo “British Colonials Rally to Nations in East Indies”. Em TS nos
referimos ao artigo “Subject Peoples' Conference”. A conferência aprovou duas resoluções: uma condenou
o uso de tropas britânicas e indianas na supressão do Movimento da Liberdade dos Povos Anamitas; a outra
foi transmitida graças aos portuários de Sydney, na Austrália, que se recusaram a carregar tropas
holandesas e navios de munição que estavam sendo enviados para suprimir o governo de Sukarno na
Indonésia.

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sindicatos e outras organizações das quatro colônias da África Ocidental da Grã-


Bretanha e do Quênia, bem como de Antígua, Barbados, Bermudas, Guiana Britânica,
Honduras Britânicas, Granada, Jamaica, São Cristóvão, Santa Lúcia e Trinidad e Tobago.
O Congresso Pan-Africano de Manchester foi realizado em uma época em que o
colonialismo já estava sob ataque severo. As antigas potências coloniais, como a Grã-
Bretanha e a França, haviam sido enfraquecidas pela guerra, e duas superpotências
estavam surgindo, que por diferentes razões se opunham ao colonialismo. Mais
importante ainda, o colonialismo estava sendo atacado pelas massas do povo das
próprias colônias. O Congresso de Manchester foi capaz de dar voz às massas do povo
nas colônias britânicas e articular muitas das demandas elaboradas em toda a África e
no Caribe. Como Padmore expressou: “Em Manchester, sabíamos que estávamos
falando por toda a África, expressando os desejos mais profundos e a determinação de
um continente poderoso para ser totalmente livre” (PADMORE, 1963, p. iv; ADI;
SHERWOOD, 1995). Mas a voz das massas dos povos das colônias também foi ouvida nas
reuniões de fundação da WFTU, que forneceram a seus representantes sindicais o fórum
público e os contatos políticos com menor probabilidade de incentivar o sindicalismo
“responsável” nas colônias. Uma característica proeminente dessas conferências, e
amplamente divulgada, foi a posição unitária dos representantes coloniais,
especialmente os da África e do Caribe, contra os pontos de vista e as políticas do TUC
britânico. O adido trabalhista britânico em Paris, por exemplo, relatou que os
representantes coloniais “claramente esperam arrastar a nova Federação para suas
lutas pela independência” (Report of W.E. Davies, October 20, 1945, Public Records
Office (PRO) LAB 13/596), e havia um medo geral nos círculos governamentais britânicos
de que a WFTU fosse um instrumento “para extrair concessões das potências coloniais,
chantageando-as com a defesa da emancipação dos povos atrasados” (Sir A. Kerr memo,
November 26, 1945, PRO FO 371/47935/N4142).
O “sindicalismo responsável”, conforme desejado pelo Escritório Colonial e pelo
TUC, parece ter recebido um grande revés. Os delegados coloniais haviam assumido a
liderança ao argumentar que a WFTU deveria tomar uma posição ativa contra o racismo,
o colonialismo e o imperialismo, e eles obtiveram o apoio que desejavam. Como
consequência, a WFTU estabeleceu posteriormente um departamento colonial, mais
uma vez, apesar da oposição do TUC britânico (WEILER, 1984, p. 79); mobilizou
vigorosamente contra a discriminação racial no Conselho de Economia e Segurança da
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ONU (PRO CO 859/185/5); interveio em questões sindicais nas colônias e, em 1947,


organizou a Conferência de Dakar dos sindicatos africanos, a primeira reunião pan-
africana realizada no continente africano (WFTU Executive Bureau Minutes, June 1947,
MRC TUC 918.21; COOPER, 1996, p. 223).
Portanto, durante o período do imediato pós-guerra, o TUC e o Escritório
Colonial continuaram trabalhando em conjunto para combater a eficácia dos sindicatos
nas colônias africanas e caribenhas e minar as atividades da WFTU. Depois que a divisão
na WFTU foi projetada pelo TUC e pelas centrais sindicais dos Estados Unidos e da
Holanda em 1949, o Escritório Colonial e o TUC tentaram, em conjunto, criar divisões
dentro dos movimentos sindicais coloniais e afastá-las da “WFTU dominada pelos
comunistas” (H.G. Gee to C.A. Grossmith, December 23, 1948, PRO CO 859/147/3). Entre
outras coisas, o TUC continuou a incentivar os sindicalistas coloniais a receber
treinamento no Ruskin College, em Oxford, e bolsas de estudo foram fornecidas para
esse fim. R. A. Gittens foi um dos primeiros a receber uma bolsa de estudos após a
conferência da WFTU em Paris. Alguns sindicalistas coloniais esperavam que, como
resultado do treinamento em Ruskin, seus membros pudessem ser nomeados Oficiais do
Trabalho nas colônias, mas a intenção do TUC e do Escritório Colonial continuava sendo
a de desenvolver a liderança sindical “responsável”. O TUC e o Escritório Colonial
também fizeram o possível para monitorar e controlar as atividades dos líderes dos
sindicatos coloniais mais francos, como Wallace-Johnson e Ken Hill, que eram membros
suplentes do comitê executivo da WFTU. O TUC, com a ajuda do Oficial do Trabalho em
Serra Leoa, também realizou uma campanha extensa, mas sem sucesso, para
desacreditar Wallace-Johnson e limitar sua influência no TUC de Serra Leoa (“Report to
the International Committee of the TUC”, April 20, 1948, MRC TUC. 918/1).

7. Conclusão

Talvez por causa das atividades do TUC e do Escritório Colonial, muitos dos sindicatos
das colônias inicialmente permaneceram leais à WFTU e críticos das ações do TUC. Em
1949, por exemplo, na época da cisão na WFTU, os funcionários do Escritório Colonial
receberam um relatório sobre a atitude do TUC de Trinidad e Tobago em relação ao TUC
britânico e sua intenção de permanecer leal à WFTU. Ficou claro que, desde 1945, os
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trabalhadores de Trinidad e Tobago puderam comparar as políticas da WFTU e do TUC.


Enquanto a WFTU havia feito muito para “expor a opressão e a exploração dos
trabalhadores em todos os lugares”, condenou as condições nas colônias e deu aos
representantes dos sindicatos coloniais status igual aos dos países metropolitanos, o
TUC britânico nem sequer concedeu afiliação aos sindicatos coloniais. “O que o TUC
britânico não concedeu aos sindicatos coloniais, a WFTU permitiu”, foi a opinião do
Vanguard, o órgão oficial do TUC de Trinidad e Tobago (Vanguard, 29 January 1949, in
PRO CO 859/147/5 pt. 3).
A fundação da WFTU apresentou um claro desafio às políticas do TUC britânico e
do Escritório Colonial e seu incentivo ao “sindicalismo responsável” nas colônias. Longe
de serem “positivamente influenciados” pela participação nas conferências fundadoras
da WFTU, como o Escritório Colonial e seus aliados esperavam, os sindicatos de muitas
colônias viram a WFTU no imediato pós-guerra como seu principal aliado na luta pelo
sindicalismo político e independência colonial. Seus representantes fizeram das
conferências a ocasião de oposições abertas à política do TUC e do Escritório Colonial. O
apoio da WFTU às organizações trabalhistas nas colônias foi obtido em grande parte
como resultado das demandas de posição unitária elaboradas pelos próprios delegados
coloniais nas conferências de Londres e Paris em 1945.
O Congresso Pan-Africano de Manchester foi creditado por transformar o Pan-
Africanismo de um movimento de protesto geral de povos de ascendência africana em
um instrumento de movimentos nacionalistas africanos que lutavam contra o domínio
colonial. Os delegados do Congresso Pan-Africano de Manchester declararam suas
crenças “no direito de todos os povos a se autogovernarem”, livres de controle
econômico e político estrangeiro. Eles também declararam que as pessoas “deveriam
lutar por esses fins por todos os meios à sua disposição” e, com base em sua
experiência, identificaram “a organização das massas” como o único caminho para a
“ação efetiva”. “Trabalhadores coloniais”, declararam, são estes que “devem estar na
vanguarda da batalha contra o imperialismo” (“Declaration to the Colonial Workers,
Farmers and Intellectuals”. In: ADI; SHERWOOD, 1995, p. 56).

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Sobre os autores

Hakim Adi
Doutor em História pela SOAS University of London. Professor de História da África e
da Diáspora Africana, na Universidade de Chichester – Reino Unido. É membro
fundador da Associação de Estudos Negros e Asiáticos em Londres. Autor de
inúmeras obras, dentre as quais: “Africanos ocidentais na Grã-Bretanha 1900-1960:
Nacionalismo, Pan-Africanismo e Comunismo (1998)”, “História Pan-Africana: Figuras
Políticas da África e da Diáspora desde 1787 (2003)”; “Pan-Africanismo e Comunismo:
A Internacional Comunista, África e a Diáspora, 1919-1939 (2013)”, “Pan-Africanismo:
uma história (2018)”, e outras. E-mail: [email protected]

Mario Soares Neto


Advogado, Professor e Pesquisador. Mestre em Direito pelo Programa de Pós-
Graduação em Direito da Universidade Federal da Bahia – PPGD/UFBA. Coordenou o
Curso de Extensão da FDUFBA: Marxismo e Pan-Africanismo (2018; 2019) e o Curso
de Extensão da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP):
Marxismo e Questão Racial (2021). Neste momento, está se preparando para a
entrada no Doutorado. É estudante do curso de Economia da Faculdade de Ciências
Econômicas da UFBA. É tradutor e prefaciador da obra Pan-Africanism: A History (que
será lançada em breve no Brasil). E-mail: [email protected]

Os autores contribuíram igualmente para a redação do artigo.

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