Introdução À Psicomotricidade FABRAS

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Introdução à

Psicomotricidade
1. Noções Básicas de Psicomotricidade 4
Definindo Psicomotricidade 7
Elementos Básicos da Psicomotricidade 10
Esquema Corporal 10
Lateralidade 11
Estruturação Espacial 11
Orientação Temporal 12
Pré-escrita 12
A Importância da Estimulação Psicomotora 12
Sugestões de Atividades Como Base
Para o Atendimento Psicomotor Global,
Com Vista a Uma Boa Aprendizagem 14
Linguagem 15
Esquema Corporal 15
Relações Espaço-temporais 16
Coordenação Viso-motora 16
Funções Intelectuais 16
Relaxamento 16
Preparação para a Escrita, a Leitura e o Cálculo 17

2. Desenvolvimento Motor 19
O Desenvolvimento Motor na Infância 20

3. A Psicomotricidade Relacional 25
O Objeto de Estudo 26
A Formação do Psicomotricista Relacional 27

4. O Código de Ética do Psicomotricista 30

5. Referências Bibliográficas 37

02
03
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

1. Noções Básicas de Psicomotricidade

S egundo Chiviacowsky et al
(2005), a capacidade de pro-
cessar informações de forma mais
causa disso podem ser consideradas
menos precisas e velozes no reco-
nhecimento de padrões tanto espa-
ou menos eficiente está relacionada ciais quanto temporais (capacidade
a alguns aspectos importantes como de reconhecer uma determinada
o conhecimento básico da memória situação).
e as estratégias de utilização desse A aprendizagem e o desem-
conhecimento, que se refletem tanto penho de habilidades motoras estão,
na velocidade quanto na qualidade dessa forma, estreitamente relacio-
do processamento. nados com o nível de desenvol-
Adolescentes e adultos já a- vimento motor e, por consequência,
prenderam, através de experiências à capacidade de processar infor-
passadas, quais estímulos são rele- mações.
vantes para uma resposta particular Estas informações são nosso
e quais não o são. As crianças são mote e justificativa para introduzir a
mais limitadas nesse aspecto. Por

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

psicomotricidade no curso de espe- ção, tendo em vista possíveis


cialização em Educação Infantil. funções prejudicadas.
Segundo Fernandes (2009) Observe-se, ainda, que a psico-
tanto psicomotricidade quanto motricidade, muitas vezes, é inter-
aprendizagem são temas vastos, pretada de forma errônea, pois mui-
amplos e complexos, notadamente tos acreditam que o objeto de estudo
quando se adentra nas dificuldades da psicomotricidade seja apenas o
de aprendizagem. movimento, cada vez mais perfeito,
O tema aqui tratado é de como um fim em si mesmo. Dentro
grande importância, uma vez que a dessa compreensão muitos profes-
maioria das crianças que têm difi- sores estimulam seus alunos a trei-
culdades de aprendizagens na es- namentos intensivos, sem percebe-
cola, tem dificuldades na percepção rem que estão desenvolvendo gestos
espacial, na lateralidade, na leitura, automáticos e mecânicos (OLIVEI-
na escrita, na aritmética, e muitas RA, 1996 p.176).
apresentam letras irregulares e pou- A criança, quando entra na
co legíveis, sendo isso uma preocu- escola, necessita ter um desenvol-
pação frequente de todo educador vimento neuropsicomotor que en-
que se depara com crianças nessas volva a independência do ombro,
condições. braços e dedos e as funções psico-
A Psicomotricidade não con- lógicas na sua integridade. Assim, a
tribui somente com crianças que já criança consegue fixar a atenção, ter
possuam alguma das dificuldades domínio do próprio corpo, favore-
citadas acima. Para a criança que cida, portanto, pela educação psico-
não possui dificuldades na aprendi- motora.
zagem, a educação psico-motora em Este trabalho psicomotor tem
muito facilitará o seu desenvolvi- um olhar psicopedagógico, no qual a
mento e aprendizagem, através da preocupação maior é a aprendiza-
educação física sistemática e orde- gem humana (FERNANDES, 2009).
nada, valendo salientar que a crian- Para que uma criança tenha
ça que tem problemas no seu desen- uma aprendizagem satisfatória, é
volvimento e aprendizagem neces- necessário que seu desenvolvimento
sita, muitas vezes, de uma reeduca- psicomotor seja harmonioso, em
ção psicomotora, ou seja, um traba- que a motricidade apresente-se co-
lho voltado à provocação, readapta- mo reação global e os fenômenos
ção, substituição ou complementa- motores e os psicológicos se entre-
lacem. A criança pequenina depende

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

de outros para a sua sobrevivência, círculos na escrita e faz frases de três


e, nesse período, já inicia uma rela- palavras.
ção muito intensa com a sua mãe. Aos sessenta meses (5 anos), a
Segundo Fonseca (1995) a criança, criança já se equilibra na ponta dos
nos seus primeiros anos de vida, pés, arma quebra-cabeça, colore
quando ainda está pouco diferen- dentro do limite, escova os dentes,
ciada nas diversas áreas de seu de- penteia-se e lava o rosto, saltita sem
senvolvimento, terá manifestações dificuldade. Aos setenta e dois me-
orgânicas e psicossomáticas diante ses (6 anos), a criança já é capaz de
de problemas enfrentados nas suas desenhar livremente com leve pres-
relações, especialmente com a mãe e são sobre o lápis, escreve e reconhe-
em função de suas condições de vi- ce letras de imprensa, às vezes inver-
da. Fonseca afirma que a origem do te na cópia, e já domina de 1000 a
problema de aprendizagem pode es- 1200 palavras.
tar relacionada com o modelo de
relação vincular que cada criança
estabelece e que foi desenvolvido e
articulado com a sua mãe, num
determinado contexto familiar. Es-
se modelo tende a ser reproduzido
na escola. Nascimento e Machado
(1986) descrevem o processo de
desenvolvimento da criança, reve-
lando que, aos doze meses, essa
criança já usa de 4 a 5 palavras, já é Geralmente quando a criança,
capaz de ficar de pé, locomover-se em idade de estudar, entra para a
apoiado; aos dezoito meses, já em- escola, é que se percebe se ela possui
purra uma bola com o pé, vira duas algum problema de ordem psi-
ou três páginas de um livro de cada comotora ou de dificuldade de
vez, tem marcha ligeira e corrida du- aprendizagem.
ra, constrói torres de 3 cubos e do- Segundo Meur (1991), em uma
mina cerca de trinta palavras. Aos criança cujo esquema corporal é mal
24 meses corre sem cair, sobe esca- constituído, nota-se que ela não co-
das sozinha, usa o pronome posses- ordena bem os movimentos. Perce-
sivo meu, acompanhado de um be-se atraso ao se despir, tem letra
substantivo, chuta a bola, emite feia, a leitura expressiva não é har-
moniosa ou não segue o ritmo da

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

leitura ou então para no meio da caráter, onde o movimento está rela-


palavra. Este comentário do autor cionado ao afeto, a emoção, ao meio
leva à compreensão do quanto é ambiente e aos hábitos da criança
importante o desenvolvimento psi- (OLIVEIRA, 2009).
comotor do indivíduo e sua relação De acordo com Fonseca
com a aprendizagem. (1995), Wallon foi o principal res-
ponsável pelo nascimento da reedu-
Definindo Psicomotricida- cação psicomotora. Para Rochael
de (2009), a estrutura da Educação Psi-
comotora é a base fundamental para
Sabe-se que o termo Psico- o processo de aprendizagem da cri-
motricidade surgiu no início do sé- ança. O desenvolvimento evolui do
culo XIX por meio do discurso médi- geral para o específico; logo quando
co neurológico, o qual privilegiava a uma criança apresenta dificuldades
existência de muitas disfunções sem de aprendizagem, a origem do pro-
que o cérebro fosse lesado, ou que a blema, em grande parte, está no
lesão fosse claramente localizada. nível das bases do desenvolvimento
Nesse sentido, o esquema clínico psicomotor.
que determinava uma lesão focal pa- Neuropsiquiatras, psicólogos,
ra cada sintoma já não podia expli- fonoaudiólogos têm mencionado so-
car alguns fenômenos patológicos. bre a importância do desenvolvi-
Portanto, foi através da necessidade mento psicomotor durante os três
médica de encontrar tais etiologias, primeiros anos de vida, a julgar que
que pela primeira vez se nomeou a este é um período significativo para
palavra Psicomotricidade, no ano de aquisições a nível físico. Aquisições
1870. essas, que marcam conquistas igual-
Em 1925, através da sua análi- mente importantes no universo
se sobre os estágios e os transtornos emocional e intelectual. Dentro des-
do desenvolvimento mental e motor sa perspectiva, Aufauvre (1987 apud
da criança, Henri Wallon trouxe su- KAMILA ET AL, 2010) ressaltam
as contribuições para a psicomotri- que os três primeiros anos de vida
cidade. têm significativa importância no
Seu estudo foi baseado no processo de desenvolvimento senso-
desenvolvimento neurológico do rial, motor, cognitivo, linguístico,
recém-nascido e na evolução psico- afetivo e social.
motora da criança. Para Wallon, há Ainda, segundo Rochael
uma relação entre motricidade e (2009), crianças que apresentam

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

desenvolvimento motor normal, aos de crianças com dificuldades na


três anos já possuem todas as coor- aprendizagem, além de possibilitar a
denações neuromotoras essenciais, implementação de intervenções pre-
tais como: andar, correr, pular, a- coces, visando minimizar os efeitos
prender a falar e expressar-se negativos de crianças que venham a
utilizando de jogos e brincadeiras. apresentar dificuldades na aprendi-
Estas aquisições são o resultado de zagem escolar favorecendo o desen-
uma maturação orgânica progressi- volvimento global.
va e fruto da experiência pessoal. Grosso modo podemos então
No que se refere aos elementos definir Psicomotricidade como a
que compõe o desenvolvimento da relação entre o pensamento e a ação,
psicomotricidade, considera-se im- envolvendo a emoção.
portante recorrer ao conteúdo de Como ciência da educação,
Oliveira (2002), uma vez que a auto- procura educar o movimento, ao
ra sinaliza-os de forma esclarece- mesmo tempo em que desenvolve as
dora, a saber: funções da inteligência (NASCI-
 A Coordenação Global, Fina e MENTO; MACHADO, 1986).
Óculo-Manual; Entende-se que um acompa-
 O Esquema Corporal; nhamento a uma criança ou jovem
 A Lateralidade; em que prevaleça essa concepção,
 A Estruturação Espacial; haverá maior possibilidade de co-
 A Orientação Temporal e, nhecê-la de uma forma integral. As-
 A Discriminação Visual e sim sendo, diz-se que um trabalho,
Auditiva.
que nasce com clareza, possibilitará
Um problema em um destes encará-lo com efeitos positivos.
elementos poderá comprometer a A psicomotricidade é uma
aprendizagem. ciência encruzilhada ou, mais exa-
Assim sendo, constata-se a tamente, é uma técnica em que se
importância de ações que visem a cruzam múltiplos pontos de vista, a
promoção de saúde, a atuação pre- qual utiliza as aquisições de nume-
ventiva na primeira infância, a fim rosas ciências construídas (biologia,
de realizar precocemente a hipótese psicologia, psicanálise, sociologia e
diagnóstica, procedendo aos enca- linguística). E diz mais que a psico-
minhamentos necessários para a motricidade é uma terapia que se
realização do diagnóstico correto. dispõe a desenvolver as faculdades
A atuação preventiva torna expressivas do indivíduo, aludindo à
possível uma diminuição no número

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

expressão terapia psicomotriz (COS- dade dos grandes músculos,


TE, 1981, p. 9). dependendo da capacidade de
Como ciência, a psicomotri- equilíbrio postural do indiví-
duo. Quanto maior o equilí-
cidade tem por estudo o homem,
brio, mais econômica será a
através do seu corpo em movimento, atividade do sujeito e mais
nas relações com seu mundo interno coordenadas serão as suas
e externo. ações. Isso leva a criança a
A Sociedade Brasileira de adquirir a dissociação de mo-
Psicomotricidade (ABP) define Psi- vimentos, passando a ter con-
comotricidade como: dições de realizar múltiplos
movimentos ao mesmo tempo,
Uma ciência que estuda o
havendo uma conservação de
homem através do seu movimento unidade do gesto.
nas diversas relações, tendo como  Coordenação Fina e Ócu-
objeto de estudo o corpo e a sua lo-Manual (C.F.O.) – Se-
expressão dinâmica. Ela se dá a gundo Goretti (2010), coor-
partir da articulação movimen- denação fina é a capacidade de
to/corpo/relação. Diante do soma- realizar movimentos coorde-
nados utilizando pequenos
tório de forças que atuam no corpo -
grupos musculares das extre-
choros, medos, alegrias, tristezas, midades. Oliveira (2002),
etc. - a criança estrutura suas mar- acrescenta que esse elemento
cas, buscando qualificar seus afetos diz respeito à habilidade e
e elaborar as suas ideias. Vai cons- destreza manual e constitui
tituindo-se como pessoa. um aspecto particular da coor-
São várias as classificações e as denação global. A mesma au-
tora considera que a Coorde-
terminologias utilizadas para deno-
nação Óculo-Manual se efetua
minar as funções psicomotoras. De com precisão sobre a base de
qualquer forma, os conceitos são um domínio visual previa-
basicamente os mesmos; o que um- mente estabelecido ligado aos
da é a forma de classificar e agrupar gestos executados, facilitando
estes conceitos, daí a preferência assim uma maior harmonia do
pela denominação dos elementos de movimento, sendo essencial
para a escrita.
Oliveira (2002).
 Esquema Corporal (E.C.)
Assim, as terminologias mais – Este elemento é o saber pré-
utilizadas e seus respectivos concei- consciente a respeito do seu
tos são os seguintes: próprio corpo e de suas partes,
 Coordenação Global permitindo que o sujeito se
(C.G.) – Diz respeito à ativi- relacione com espaços, objetos

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

e pessoas que o circundam. As avaliar o tempo dentro da


informações proprioceptivas ação, organizar-se a partir do
ou cinestésicas é que cons- próprio ritmo, situar-se no
troem este saber acerca do cor- presente relacionando o antes
po e à medida que o corpo e o depois. É avaliar o movi-
cresce, acontecem modifica- mento no tempo, distinguindo
ções e ajustes no esquema cor- o rápido do lento.
poral (GORETTI, 2010).  Discriminação Auditiva
 Lateralidade (Lat.) – é de- (D.A.) – É a capacidade de
finida por Harrow (s.d apud perceber e identificar auditiva-
SILVA, 2007) como: Consci- mente e sem ambiguidade os
ência interna que a criança fonemas e os sons existentes
tem dos lados direito e esquer- na língua falada.
do do seu corpo, não se tratan-  Discriminação Visual
do de um conceito adquirido, (D.V.) – É a capacidade de
mas de programas de ativida- perceber e discriminar ade-
des cuja finalidade é o desen- quadamente os símbolos visu-
volvimento de acuidades sen- ais, detectando suas diferen-
soriais e habilidades motoras, ças e semelhanças como tama-
já que a criança é exposta a nho, cores e formas.
uma grande quantidade de
estímulos que aumentam esta Elementos Básicos da
consciência. Como ela utiliza
ambos os lados de seu corpo Psicomotricidade
em muitos tipos de atividades,
desenvolve a eficiência nos Nos currículos da educação
movimentos e aumenta o vo- fundamental destacam-se compo-
cabulário motor. O hemisfério nentes importantes da psicomotrici-
dominante do cérebro é opos- dade, a dizer esquema corporal, late-
to ao lado dominante do cor- ralidade, estrutura espacial, orienta-
po.
ção temporal e pré-escrita como
 Estruturação Espacial
(E.E.) – Para Oliveira (2002), vimos acima. Esses são os elementos
é a consciência da relação do básicos da psicomotricidade, discu-
seu próprio corpo com o meio, tidos de maneira mais didática.
depois a posição dos objetos
em relação a si mesmo, e por Esquema Corporal
fim aprender a perceber as
relações das posições dos ob-
O esquema corporal não é um
jetos entre si.
conceito inicial ou uma entidade
 Orientação Temporal
(O.T.) – É a capacidade de biológica ou física, mas o resultado e
a condição da justa relação entre o

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

indivíduo e o próprio ambiente. É da mão e do olho, e canhota do pé;


um elemento básico indispensável à sendo ambidestra, a criança é tão
formação da personalidade da crian- forte e destra do lado esquerdo
ça. É a representação global, cien- quanto do lado direito (MEUR,
tífica e diferenciada que a criança 1991).
tem de seu próprio corpo. Quando há contrariedade na
Quando se diz “Esta criança dominância lateral, alguns proble-
está bem à vontade”, estende-se que mas podem ocorrer, tais como: difi-
ela domina bem o seu corpo e sabe culdade no equilíbrio, em coordenar
como utilizá-lo. Isso ajuda no seu seus movimentos, dificuldade na
bem-estar, facilitando também as grafia, na estruturação espacial, po-
suas relações interpessoais. dendo ocasionar na criança, reações
ou insucesso, oposição, de fobia es-
Lateralidade colar, que afetam todo o afetivo da
criança ocasionando dificuldades
A dominância lateral é defini- gerais na aprendizagem. (ALVES,
da durante o crescimento da criança. AVM, p.8 s/d).
Isto quer dizer que a domi-
nância se dá pelo lado mais forte, Estruturação Espacial
mais ágil da pessoa, que pode ser
tanto o lado esquerdo como o A estruturação espacial é a
direito. orientação, a estruturação do mun-
Ao se falar em direita e esquer- do exterior, referindo-se primeiro ao
da, não se deve confundir com late- seu referencial e depois a outros
ralidade. Enquanto a lateralidade é a objetos ou pessoas em posição está-
dominância de um lado em relação tica ou em movimento.
ao outro em nível de força e de preci- Isso explica que a criança deve
são, o conhecimento direita e es- se situar no espaço, saber onde está,
querda decorre da noção de domi- onde estão os objetos, uns em rela-
nância lateral. Esse conhecimento ção aos outros e em relação a ela
torna-se mais fácil de apreensão própria, assim também como ela
quando a lateralidade é mais acen- pode se organizar no espaço que a
tuada e homogênea (MEUR, 1991) ela é disponível.
Quando a lateralidade é homo- Problemas na criança, de es-
gênea a criança é destra ou canhota truturação espacial, podem levar a
do olho, da mão e do pé. Quando tem dificuldades na discriminação visu-
a lateralidade cruzada, ela é destra al, na capacidade de orientar-se e,

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

ainda, levar a confundir n e u, b e p, Essa relação ajuda a criança


6 e 9, durante a sua aprendizagem adquirir as noções de duração e
escolar. rapidez e aprender a organizar-se.
Através do conhecimento e
domínio espacial a criança começa a Pré-escrita
entender e aprender comandos co-
mo, ir para frente, ir para trás, para A estruturação espacial e ori-
frente, para direita. entação temporal, são pontos im-
portantes que fundamentam a escri-
Orientação Temporal ta, juntamente com o domínio do
gesto. No exercício da escrita, preci-
Segundo Meur (1991), a estru- sa-se que se escreva horizontalmen-
turação temporal, apresenta-se co- te da esquerda para a direita, e que
mo a capacidade que a pessoa tem se adquiram as noções de cima para
de situar-se em função de sucessão baixo (MEUR, 1991).
de acontecimentos, como: antes, Importante que se trabalhe na
após, durante; e da duração dos criança exercícios que a levem ao
intervalos, como: noções de tempo preparo para a escrita, e que lhe se-
longo, curto, de ritmo regular, irre- jam dadas oportunidades de realizar
gular; noções de cadências rápidas exercícios espontâneos, que possibi-
e lentas (diferença entre correr e na- litarão o domínio com o lápis.
dar); de renovação cíclica de certos
períodos; dias da semana, os meses, A Importância da Estimula-
as estações, do caráter irreversível ção Psicomotora
do tempo; o que já passou e não
pode mais reviver. O desenvolvimento da psico-
É importante que a criança, motricidade faz-se através da evolu-
desde cedo, seja estimulada com ção da criança, na sua troca com o
atividades que a levem a perceber o meio, numa conquista que aos pou-
tempo. Na realidade a ação do ho- cos vai ampliando sua capacidade de
mem está sempre vinculada ao tem- se adaptar as necessidades comuns,
po. O dia-a-dia mostra formas inte- fazendo-se necessário para isso o
ressantes para a compreensão dessa espaço físico, a diversidade de mate-
relação, por exemplo: a hora de ir rial, jogos lúdicos, um ambiente
para a escola, das refeições, os dias arejado e agradável.
feriados. O brincar é um meio natural
que possibilita a criança explorar o

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

mundo, descobrir-se, entender-se, incentivos que são eficazes para


conhecer os seus sentimentos, as colocá-la em ação, sendo que a cri-
suas ideias e a sua forma de reagir. O ança satisfaz certas necessidades no
jogo e a brincadeira exigem movi- brinquedo.
mentação física, envolvimento emo- A estimulação psicomotora é
cional e provoca desafio mental. indispensável no desenvolvimento
Neste contexto, a criança só ou com motor, afetivo e psicológico do indi-
companheiros integra-se ou socia- víduo para sua formação integral,
liza-se. ressaltando a importância da ativi-
É inegável que o exercício físi- dade lúdica, realizada através de
co é muito necessário para o desen- atividades psicomotoras, no sentido
volvimento mental, corporal e emo- de colaborar para o desenvolvi-
cional do ser humano e em especial mento integral da criança, e para
da criança. O exercício físico estimu- que ela possa sedimentar bem os
la a respiração, a circulação, o apare- pré-requisitos, fundamentais tam-
lho digestivo, além de fortalecer os bém para a sua vida escolar.
ossos, músculos e aumentar a capa-
cidade física geral, dando ao corpo
um pleno desenvolvimento (RO-
CHAEL, 2009).
Quanto à parte mental, se a
criança possuir um bom controle
motor, poderá explorar o mundo
exterior, fazer experiências concre-
tas que ampliam o seu repertório de
atividades e solução de problemas,
adquirindo assim, várias noções
básicas para o próprio desenvolvi- Mais importante do que as
mento intelectual, o que permitirá escolas ensinarem seus alunos tais
também tomar conhecimento do habilidades, apenas com o objetivo
mundo que a rodeia e ter domínio da de conseguirem executá-las de for-
relação corpo-meio. ma correta, ou até para que facilitem
Como menciona Vygotsky a execução de suas tarefas escolares,
(1991), a mudança de uma criança o professor precisa direcionar a
de um estágio de desenvolvimento aprendizagem para a formação
para outro dependerá das necessida- integral do aluno.
des que a criança apresenta e os

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

Como forma de fortalecer a lógicas, integra percepções, faz esti-


compreensão da noção acima recor- mativas compatíveis com o seu
re-se a citação de Freire (1989): “[...] crescimento físico e o seu desenvol-
causa mais preocupação, na escola vimento global.
da primeira infância, ver crianças Para a mesma autora, a evo-
que não sabem saltar que crianças lução da brincadeira está intima-
com dificuldades para ler ou escre- mente relacionada com a aquisição
ver.” da linguagem, a maneira como a
Ainda, nesse sentido, Chaves criança brinca pode ser importante
(2010) nos diz que descobrir as modo de avaliação do desempenho
habilidades de saltar, correr, lançar, infantil. As brincadeiras podem ser o
trepar, etc. é importante para o elemento chave para a estimulação
desenvolvimento pleno do aluno, linguística.
como um organismo integrado, le- Conforme Matsuo (1997) a cri-
vando-se em conta que tais habili- ança deverá participar diariamente
dades são consideradas como for- de atividades estimulantes, pois a
mas de expressão de um ser huma- fixação dos hábitos e dos resultados
no. depende da regularidade, completa
e equilibrada quanto a variedade de
exercícios.

Sugestões de Atividades Como


Base Para o Atendimento Psi-
comotor Global, Com Vista a
Uma Boa Aprendizagem

É necessário despertar nos


educadores novas ideias para refor-
mulação de suas práticas pedagógi-
Na concepção de Kishimoto
cas e, assim, trabalhar melhor com a
(1996), “(...) os jogos colaboram pa-
diversidade.
ra a emergência do papel comuni-
Partindo dessa premissa va-
cativo da linguagem, a aprendi-
mos introduzir algumas sugestões
zagem das convenções sociais e a
de atividades (Estas atividades estão
aquisição das habilidades sociais”.
inseridas em detalhes no livro Psico-
Através da atividade lúdica e
motricidade e Aprendizagem de Lu-
do jogo, a criança forma conceitos,
cia Schueler e Terezinha Nascimen-
seleciona ideias, estabelece relações

14
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

to Machado) que de certo modo música com letra que fale das partes
abrirão espaço na investigação de do corpo, incentivando a criança a
como se dá a aprendizagem nas acompanhá-la cantando. Também
crianças que apresentam dificulda- útil é a identificação das pessoas que
des de aprendizagem, considerando estão na sala de aula, assim como a
o seu desenvolvimento psicomotor, identificação da utilidade das coisas.
o estilo de aprendizagem dessas cri-
anças, e o que representarão exercí- Esquema Corporal
cios desse estilo, na aprendizagem.
Dentre os itens selecionados, Sugerem-se exercícios que tra-
iniciaremos com a linguagem oral, balhem a consciência e a educação
pelo seu vínculo com a leitura e a da respiração. A experiência mostra
escrita o que também, para os avali- que na medida em que o educador
adores, é um indício importante, que trabalha o controle respiratório, vai
pode se revelar sob a forma de atra- melhorando a concentração da cri-
so. Para Nascimento (1986), é de ança, o controle de seus movimentos
suma importância para a linguagem e exercitando o relaxamento. Outro
o desenvolvimento harmonioso da exercício proveitoso para o desen-
psicomotricidade. volvimento do esquema corporal é o
de fazer bolhas de sabão soprando
Linguagem em um canudo. Igualmente útil é o
exercício de inspirar e expirar,
Os exercícios voltados à lin- inclusive com a emissão de sons.
guagem podem ser iniciados com a O exercício do movimento do
execução de ordens simples e ordens corpo ajuda a criança a ter cons-
complexas. O educador primeira- ciência das partes do corpo e o
mente dá ordens para a criança, educador ou interventor pode proce-
mandando que ela abra a porta, der com vários exercícios, tais como,
apague a luz, apanhe os óculos e andar de joelhos, andar de joelhos
depois dá ordens mais complexas para a frente e para trás, rolar livre-
envolvendo duas ações, a exemplo mente. Para dar o conhecimento da
de: abra a porta e traga a chave. cabeça, pescoço, tronco, dos mem-
Um outro exercício que muito bros superiores e inferiores, o edu-
ajudará a criança é o de fazer com cador inicia pedindo para a criança
que ela nomeie as partes do corpo, sentar no chão, com as costas apoia-
os objetos e as pessoas que a cercam. das na parede e dá ordens para que
Uma outra atividade é através de ela vire a cabeça para um lado, para

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INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

o outro, voltandoem seguida a posi- para cima, recebendo- a com as duas


ção inicial. mãos.
Um outro exercício é feito de Os exercícios direcionados às
pé. O educador neste momento pede relações espaço-temporais, que não
para que a criança olhe para cima, se esgotam nos que foram acima
para baixo e depois volte à posição lembrados, devem-se voltar, varia-
inicial. damente, para os sentidos de ritmo,
velocidade, duração, intervalo e
Relações Espaço-temporais distância.

Já vimos que é através do mo- Coordenação Viso-motora


vimento que a criança vai adquirin-
do a noção de espaço. A estruturação Os exercícios de coordenação
espaço-temporal, segundo COSTE viso-motora, são também essenci-
(1981), é um indicador importante ais, visando à orientação da criança
para uma boa adaptação do indiví- no espaço e tempo. Sugerem-se
duo. Ela possibilita ao indivíduo mo- exercícios de educação da vista, edu-
vimentar-se no espaço e reconhecer- cação das mãos, educação do equi-
se, como também concatenar e dar líbrio, exercícios de coordenação
sequências aos seus gestos, localizar motora com ritmo etc. Podem ser
as partes do corpo e situá-las no utilizados vários objetos, inclusive a
espaço. Em relação ao tempo, ele é música, no caso da coordenação mo-
simultaneamente, duração, ordem e tora com ritmo.
sucessão, o que mostra a necessi-
dade da integração desses três ní- Funções Intelectuais
veis, como descreve COSTE (1981).
Os exercícios sugeridos envol- Os exercícios destinados a essa
vem o andar, o pular, o jogar e ou- área trabalharão, sobretudo, a aten-
tros relacionados à questão espacial ção dirigida, o desenvolvimento da
e temporal. Alguns exercícios o edu- percepção útil, o alargamento da
cador realiza fazendo a criança utili- memória visual e o incremento à
zar o seu próprio corpo. Andar para associação de ideias.
frente, para trás e depois parar.
Fazer também a criança andar para Relaxamento
trás, parar, andar para um lado e
depois para o outro. Também, jogar Para favorecer o relaxamento
a bola para frente, para a direita, da cabeça, pescoço, das mãos e

16
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

dedos, valem exercícios que façam a


criança movimentar a cabeça, para
frente e para trás, ora para a direita,
ora para a esquerda, contrair e des-
contrair os ombros, contrair e des-
contrair o abdome; fazer exercícios
com as mãos, utilizando uma boli-
nha, apertar a bolinha, soltando-a
em seguida; flexionar os dedos,
falange sobre falange, diversas
vezes.

Preparação para a Escrita, a


Leitura e o Cálculo

Também as mãos e os dedos


podem ser utilizados para oportu-
nizar o melhor exercício da escrita.
Exercícios preparatórios da leitura
podem estar associados ao desen-
volvimento auditivo, com o uso dos
olhos fechados, com utilização do
silêncio, dramatização de histórias,
emprego de cartões diversos conten-
do palavras com determinadas
sílabas, assim como cartões que
tenham, por exemplo, frutas de
vários tamanhos, cores diferentes,
figuras escondidas etc.
Para o desenvolvimento do
cálculo, utilizar exercícios em que se
faça uso de coleção de pedrinhas,
folhas, chapinhas, botões, organizar
conjuntos, pedindo que a criança
aponte onde há mais ou menos
elementos.

17
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

2. Desenvolvimento Motor

O desenvolvimento motor na
infância caracteriza-se pela a-
quisição de um amplo espectro de
também servem a propósitos lúdi-
cos, tão caracteres- ticos na infância.
A cultura requer das crianças, já nos
habilidades motoras, que possibilita primeiros anos de vida e particu-
a criança um amplo domínio do seu larmente no início de seu processo
corpoem diferentes posturas (estáti- de escolarização, o domínio de
cas e dinâmicas), locomover-se pelo várias habilidades.Não raro, essas
meio ambiente de variadas formas habilidades denominadas básicas
(andar, correr, saltar, etc.) e mani- são vistas como o alicerce para a
pular objetos e instrumentos diver- aquisição de habilidades motoras
sos (receber uma bola, arremessar especializadas na dimensão artísti-
uma pedra, chutar, escrever, etc.). ca, esportiva, ocupacional ou indus-
Essas habilidades básicas são reque- trial (TANI et al, 1988). Essa relação
ridas para a condução de rotinas de interdependência entre as fases
diárias em casa e na escola, como de habilidades básicas e de habili-

19
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

dades especializadas denota a im- Adicionalmente, a extensão de


portância das aquisições motoras tempo entre a idade adulta e a morte
iniciais da criança, que atende não e as infinitas possibilidades de inte-
só as necessidades imediatas na 1ª e ração com o meio ambiente, resul-
2ª infância, como traz profundas tam num aumento da variabilidade
implicações para o sucesso com que inter-indivíduos (SANTOS, COR-
habilidades específicas são adquiri- RÊA; FREUDENHEIM, 2003), na
das posteriormente. medida que o estilo de vida (incluin-
do a prática regular de atividade
física, alimentação balanceada, etc.)
exerce forte influência no desenvol-
vimento motor dos indivíduos.
Em suma, desenvolvimento
motor enfoca o estudo das mudan-
ças qualitativas e quantitativas de
ações motoras do ser humano ao
longo de sua vida.
O escopo das investigações
Um aspecto que parece ser re- envolve predominantemente a aná-
levante para o pesquisador da área lise de habilidades motoras com for-
de desenvolvimento motor, na esco- te componente genético e o resulta-
lha das etapas iniciais da vida para do da interação dos fatores endóge-
testar as suas hipóteses, é o fato de nos e exógenos no processo de
que os momentos críticos do proces- desenvolvimento de habilidades e
so de desenvolvimento são mais fa- capacidades motoras, não apenas
cilmente detectáveis durante a in- com a preocupação de observar e
fância. Ou seja, identificar os mo- descrever mudanças no comporta-
mentos de instabilidade e estabili- mento motor ao longo da vida do ser
dade no comportamento motor e as humano, mas também buscando
respectivas descontinuidades e con- hipóteses que possam explicar ou
tinuidades de desenvolvimento após predizer tais mudanças.
a idade adulta, significa percorrer
uma trajetória mais nebulosa, pois O Desenvolvimento Motor na
os longos intervalos de tempo entre Infância
um determinado comportamento e
o surgimento de outro, representam A capacidade de movimentar-
se das crianças é essencial para que
um obstáculo.

20
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

ela possa interagir apropriadamente estudiosos tem sido pelo papel dos
com o meio ambiente em que vive e padrões motores no curso de desen-
é sobre a infância que a maioria dos volvimento humano, o que, particu-
estudos sobre desenvolvimento mo- larmente, também pode ser detec-
tor se concentram. Por se tratar de tado pelas investigações realizadas
um momento de grandes mudanças no contexto nacional (GIMENEZ,
comportamentais, profissionais de 2001; MANOEL; PELLEGRINI,
diversas áreas como pediatras, psi- 1985; MARQUES, 1995, 2003; OLI-
cólogos, pedagogos e profissionais VEIRA, 1997).
de educação física têm-se interes- Entretanto, é preciso ressaltar
sado pelo estudo do desenvolvi- que a adequação e estruturação de
mento motor (CLARK & WHITALL, ambientes e tarefas motoras aos es-
1989; WHI-TALL, 1995). tágios de desenvolvimento é crucial
Dentre as razões que têm leva- para os profissionais de educação
do o interesse crescente pelos co- física, na medida que eles necessi-
nhecimentos acerca do desenvol- tam de informações para o desenvol-
vimento motor, destacam-se: vimento do seu trabalho (OLIVEI-
a. os paralelos existentes entre o RA; MANOEL, 2004), em particu-
desenvolvimento motor e o desen- lar, a partir da segunda metade da
volvimento neurológico, com impli- segunda infância, quando se eviden-
cações para o diagnóstico do cresci- cia o início de um trabalho sistema-
mento e desenvolvimento da tico com o objetivo de abordar a
criança; relação entre vários tipos de restri-
b. o papel dos padrões motores ções que a criança é submetida na
no curso de desenvolvimento huma- sua vida diária. As restrições da
no, com implicações para a educa- tarefa, do organismo e do ambiente,
ção da criança bem como para reabi- são exemplos que afetam o processo
litação de indivíduos com atrasos ou de desenvolvimento de padrões fun-
desvios de desenvolvimento; damentais de movimento e que se
c. adequação e estruturação de bem relacionadas favorecem o surgi-
ambientes e tarefas motoras aos mento de novas formas de execuções
estágios de desenvolvimento, de motoras das crianças.
forma a facilitar e estimular esse O termo desenvolvimento nos
processo. remete a uma reflexão sobre os
muitos estudos já produzidos e as
Na literatura internacional te- teorias empregadas para interpretar
mos visto que o interesse dos este fenômeno.

21
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

Para Lorenz (1977) citado por É importante ressaltar, tam-


Manoel (1998), este termo desenvol- bém, que várias concepções têm sido
vimento não representa simples- adotadas para estudar o desenvol-
mente o fenômeno que observamos, vimento da criança, seja do ponto de
mas desenvolvimento traz a noção vista biológico, social, cultural, etc.
de algo que já existe implicitamente A concepção determinística, por
e que vem a tornar-se explícito (MA- exemplo, concebe o desenvolvi-
NOEL, 1998). mento como sendo mudanças quali-
tativas cuja direção é controlada por
um mecanismo interno de autor-
regulação.
Do início até meados do século
passado, muitos estudos sobre a
sequência do desenvolvimento mo-
tor de bebês foram realizados cujas
evidências e observações são consi-
deradas até os dias atuais. Posterior-
mente, alguns estudos foram condu-
O termo mais correto seria zidos com o propósito de analisar e
“fulguratio”, que representa igual- descrever padrões fundamentais de
mente o desenvolvimento e evolu- movimentos de pré-escolares e esco-
ção, o processo criativo, quando, por lares. Este foi um período marcado
exemplo, dois sistemas indepen- pela abordagem orientada ao pro-
dentes são acoplados espacial e duto, com somente a preocupação
temporalmente no qual podem sur- de responder o que muda no com-
gir características que os sistemas portamento, ou seja, mudanças emi-
em separado não possuíam antes. nentemente topológicas dos padrões
Ao mesmo tempo, o estudo de motores de escolares. Esses estudos
padrões não seria identificarmos contribuíram, de certa forma, para o
movimentos que todos repetiriam entendimento fases, estágios e ní-
de forma igual numa estrutura veis de desenvolvimento (SANTOS,
rígida, como se estivesse numa linha DANTAS E OLIVEIRA, 2004).
de produção industrial, mas sim, Não podemos esquecer que o
estruturas comportamentais que ambiente é uma importante fonte de
representam características daquela informações sobre competências,
fase do desenvolvimento a qual com as quais as crianças podem
passa ser comum a todos. aprender a apreciar as experiências

22
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

de aprendizagem do movimento, percebidos pelos estudantes como


bem como podem se sentir melhor controladores, o que consequen-
consigo mesmas (WEISS, 1991, temente têm um efeito negativo na
1995). motivação e nas percepções de com-
petência, portanto vale a pena pen-
sar que tipo de ambiente e de
estimulação estamos oportunizando
para as crianças das escolas de
educação infantil.

Ambientes de ensino que enfa-


tizam o interesse dos alunos e pro-
movem aprendizagem significa- tiva
e contextualizada fortalecem o su-
cesso escolar e a motivação dos
estudantes.
Consequentemente, promo-
vem relações positivas entre colegas,
estimulando o envolvimento dos
alunos nos processos de decisão e
organização escolar. Por outro lado,
ambientes de ensino que são centra-
dos na figura do professor são

23
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

3. A Psicomotricidade Relacional

A Psicomotricidade Relacional
visa desenvolver e aprimorar
os conceitos relacionados ao enfo-
relacionais, interferindo de forma
clara, preventiva e terapeuticamen-
te, sobre o processo de desenvol-
que da Globalidade Humana. Busca vimento cognitivo, psicomotor e só-
superar o dualismo cartesiano cor- cio-emocional, na medida em que
po/mente, enfatizando a importân- estão diretamente vinculados a fato-
cia da comunicação corporal, não res psicoafetivos relacionais.
apenas pela compreensão da organi- Não se trata de uma psico-
cidade de suas manifestações, mas terapia que põe em jogo a persona-
essencialmente, pelas relações psi- lidade do sujeito através da análise
cofísicas e sócio emocionais do sujei- de sua problemática inconsciente,
to. Preza por uma abordagem pre- mas sim, de uma decodificação de
ventiva, com uma perspectiva quali- seus comportamentos atuais, evi-
tativa e, portanto, com ênfase na denciando suas significações simbó-
saúde, não na doença (VIEIRA, licas e as necessidades que expres-
2005). sam.
É uma pratica que permite à Define-se dessa forma, como
criança, ao jovem e ao adulto, a um método de trabalho que propor-
expressão e superação de conflitos ciona um espaço de legitimação dos

25
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

desejos e dos sentimentos no qual o integradas no tempo e no espaço de


indivíduo pode se mostrar na sua algo a ser conhecido, mas também
inteireza, com seu medos, desejos, de um EU, um self no ato de
fantasias e ambivalências, na rela- conhecer.
ção consigo mesmo, com o outro e Nesse contexto, o sujeito que
com o meio, potencializando o de- vive é ao mesmo tempo aquele que
senvolvimento global, a aprendiza- sente, observa, percebe e toma co-
gem, o equilíbrio da personalidade, nhecimento de que são seus atos e os
facilitando as relações afetivas e sentimentos. Essas imagens senso-
sociais. riais estão sempre acompanhadas
Introduz em sua prática ao por uma presença, que significa o
jogo espontâneo em que o corpo Eu, que é o sentimento do que acon-
participa em todas as dimensões, tece quando o SER é modificado
privilegiando a comunicação não pelas ações vividas de aprender algo
verbal, onde, através de situações e essa presença tem que estar pre-
lúdicas e dinâmicas, joga com o cor- sente, caso contrário, não há como
po em movimento, buscando induzir existir.
situações nas quais sejam expressos A Psicomotricidade Relacio-
atos desencadeados por sentimen- nal, enfim, é uma prática que permi-
tos, que somente mais tarde traduzi- te a libertação do desejo e do prazer
rão em termos conscientes, as emo- de ser, de comunicar-se, de estar
ções em que se originaram, ou seja, vivo (VIEIRA, 2009).
num primeiro momento de forma
impulsiva e inconsciente, para de- O Objeto de Estudo
pois chegar ao consciente
Isso quer dizer que o compor- Objeto de estudo da Psicomo-
tamento e a comunicação são provo- tricidade Relacional é o ser humano,
cados e desencadeados por imagens criança, adolescente ou adulto nas
de relações inscritas no corpo, com suas dimensões psicossociais e afe-
todos os matizes sensoriais como tivas, ressaltando as diversas formas
visão, audição, olfato, paladar, tato, relacionais estabelecidas em seus
sensações viscerais e outras. Pode- diferentes grupos de pertinências.
mos aqui ressaltar o momento de Pretende compreender os diversos
relaxamento, em que o encontro níveis de comunicação corporal es-
consigo mesmo ou com o outro tabelecida a partir do jogo espon-
evoca imagens mentais de pessoas, tâneo, para daí proporcionar os
lugares, músicas, cheiros e relações meios de decodificação das nuances

26
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

expressas nas relações, levando em participa com todas as suas dimen-


consideração seu desenvolvimento sões representativas inserido em
psicomotor e sócio-histórico, com a uma complexa rede de inter-rela-
finalidade de atender às necessi- ções, onde estão presentes conteú-
dades de seres em formação, nos dos biológicos, psicológicos, soma-
aspectos psíquicos, motores e emo- ticos, vivenciais, históricos e sociais,
cionais que, em conjunto, influem podemos então compreender e não
diretamente na construção e desen- apenas interpretar, os conflitos in-
volvimento da personalidade. trapsíquicos e suas repercussões psi-
Nesse sentido enfoca de ma- cossomáticas, possibilitando ao ser
neira especial toda a organização tô- humano a capacidade para redimen-
nica, involuntária, espontânea, par- sionar suas relações de forma que
te integrante da experiência afetiva e possa obter melhores condições de
emocional, necessáriamente ligadas vida e bem estar pessoal, familiar,
às pulsões, às proibições, aos confli- físico, social e profissional (ACOU-
tos relacionais, ao inconsciente. TURIER; LAPIERRE, 2004).
“Um agir espontâneo cuja significa-
ção não pode ser ignorada, ligada à A Formação do Psicomotri-
experiência imaginária vivenciada cista Relacional
pelo corpo em sua relação com o
outro e com o mundo” (LAPIERRE, Assim como quis André Lapi-
2004). erre, é absolutamente impossível,
É difícil pensar num desafio sob o risco de se prejudicar alguém,
sedutor para a reflexão e para a conduzir uma sessão de Psicomo-
investigação, do que a Psicomo- tricidade Relacional, com crianças,
tricidade Relacional, pois, em geral, jovens ou adultos sem que se cum-
para aqueles que a conhecem e, em pra um processo de formação pes-
particular, para aqueles que com ela soal ordenado e de supervisão regu-
atuam, desperta a ânsia de praticar lar. Isso porque... “Ser Psicomotri-
até esgotar o desejo e a sede de cista Relacional é, pois, desenvolver
compreender e de se maravilhar um modo de ser que envolve um
com sua própria natureza. processo de autoconhecimento e co-
Se levarmos em conta um dos nhecimento do outro que não termi-
marcos teóricos da Psicomotrici- na jamais, na medida em que, como
dade Relacional que é a comunica- pessoas, vamos nos modificando,
ção não verbal manifestada através conhecendo e reconhecendo ao lon-
do jogo espontâneo, onde o corpo go de nossa vida. O Psicomotricista

27
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

Relacional é, portanto, uma pessoa inconscientes, priorizando o com-


aberta e respeitadora, que busca a portamento e a comunicação não
compreensão do Ser, que se coloca à verbal.
escuta e à comunicação com o outro,
aberto a novas experiências e conhe- Atenção especial deve ser dada
cimentos que possam enriquecer à Formação Pessoal, pois é nela que
sua vivência pessoal e profissional” o futuro psicomotricista relacional
(VIEIRA, BATISTA, LAPIERRE, irá encontrar respaldo para seu
2005, p. 134). autoconhecimento, condição indis-
Para se tornar um profissional pensável para que sua atuação seja
em Psicomotricidade Relacional é de qualidade. É a partir de suas
necessário cursar uma Formação próprias vivências em Psicomotri-
Especializada e essa deve ser minis- cidade Relacional que o futuro pro-
trada por profissionais devidamente fissional encontrará subsídios para
preparados e reconhecidos para atuar de maneira a promover o
exercerem tal função. maior aproveitamento e desenvol-
A experiência profissional e a vimento daqueles que participam de
divulgação da Psicomotricidade Re- seus grupos de atendimento.
lacional no Brasil, por Leopoldo Enfim, é por meio da Forma-
Viera, levaram-no à elaboração de ção Pessoal que se adquire a experi-
uma estrutura curricular, reconhe- ência do saber vivido. Esse processo
cida por André e Anne Lapierre, que permite superar problemas pes-
contempla três aspectos indispensá- soais, descobrir as projeções incons-
veis e indissociáveis para a formação cientes, reestruturar a vida e aumen-
de novos psicomotricistas relacio- tar a capacidade de compreensão de
nais. São elas: certos conceitos teóricos (VIEIRA,
1. Formação Teórica: discipli- 2009).
nas específicas com aprofundamen-
to nos conteúdos psicoafetivos, bio-
antropológicos e psiconeurológicos;
2. Formação Profissional: com
estágios e prática profissional super-
visionada;
3. Formação Pessoal: um proces-
so de autoconhecimento, por meio
de ações espontâneas, que propor-
cionam o acesso às motivações

28
29
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

4. O Código de Ética do Psicomotricista

O s princípios éticos que orien-


tam a atuação do profissional
em tela, também, fundamentam sua
CAPÍTULO I

Dos Princípios
imagem. O presente Código de Ética
reúne as diretrizes que devem ser Art 1º - A Psicomotricidade é uma
observadas em sua ação profissio- ciência que tem como objetivo, o
nal, para atingirem padrões éticos estudo do homem através do seu
cada vez mais elevados no exercício corpo em movimento, em relação ao
de suas atividades. Reflete a identi- seu mundo interno e externo, bem
dade cultural e os compromissos como suas possibilidades de per-
que assumem no mercado em que ceber, atuar, agir com o outro, com
atuam. os objetos e consigo mesmo. Está
Abaixo apresentamos alguns relacionada ao processo de matu-
dos pontos que consideramos mais ração, onde o corpo é a origem das
importantes de fixação por parte aquisições cognitivas, afetivas e
desse profissional, não obstante orgânicas. Psicomotricidade, por-
todos sejam significativos. tanto, é um termo empregado para

30
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

uma concepção de movimento orga CAPÍTULO II


nizado e integrado, em função das
experiências vividas pelo sujeito, Das responsabilidades Gerais
cuja ação é resultante de sua indi- do Psicomotricista
vidualidade e sua socialização.
Art 2º Podem intitular-se Psicomo- Art 6º - São deveres Gerais do
tricistas e, nesta qualidade, exercer Psicomotricista:
profissionalmente essa atividade em a. Esforçar-se por obter eficiên-
todo território Nacional, os seguin- cia máxima em seus serviços, man-
tes profissionais: Graduados na área tendo-se atualizado quanto aos co-
de Saúde e/ou Educação, os nhecimentos científicos e técnicos,
Titulados que se enquadrem no necessários ao pleno desempenho
Estatuto regulamentador da Associ- da atividade;
ação Brasileira de Psicomotricidade b. Assumir, por responsabilida-
(ABP) e / ou assemelhados. de, somente as tarefas para as quais
Art 3º - Os Psicomotricistas devem esteja habilitado;
ter como objetivo básico, promover c. Recorrer a outros especialis-
o desenvolvimento das pessoas sob tas, sempre que for necessário;
seu atendimento profissional deven- d. Colaborar para o progresso da
do utilizar todos os recursos técnicos Psicomotricidade como ciência e
terapêuticos disponíveis (principal- como futura profissão;
mente a interdisciplinaridade) e e. Colaborar sempre que pos-
proporcionar o melhor serviço sível, e desinteressadamente, em
possível. campanhas de Educação e Saúde,
Art 4º - O Psicomotricista deve que visem difundir princípios da
exercer a Psicomotricidade com exa- Psicomotricidade, úteis ao bem estar
ta compreensão de sua responsa- da coletividade;
bilidade, atendendo a nível educa- f. Resguardar a privacidade do
tivo e clínico, sem distinção de cliente.
ordem política, nacionalidade, cor Art 7º - Ao Psicomotricista é
ou credo e tendo o direito de receber Vedado:
remuneração pelo próprio trabalho. a. Usar títulos que não possua,
Art 5º - O trabalho do Psicomo- ou, anunciar especialidades para as
tricista prestado às Instituições, quais não esteja habilitado;
comprovadamente filantrópicas e b. Fornecer diagnóstico em
sem fins lucrativos, poderá ser gra- Psicomotricidade, sem conhecimen-
tuito.

31
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

to prévio do paciente, através de mento previsto e sua orientação, a


qualquer meio de comunicação. fim de que o cliente possa decidir- se
c. Realizar atendimento em Psi- pela aceitação ou não do tratamento
comotricidade, através de qualquer indicado;
veículo de comunicação; b. Informar à Instituição Educa-
d. Praticar atos que impliquem cional, sobre o projeto a ser desen-
na mercantilização da Psicomo- volvido, seus objetivos gerais e
tricidade; específicos, dar orientação à equipe
e. Acumpliciar-se, por qualquer educacio- nal, a serem seguidas, e
forma, com pessoas que exerçam sobre os resultados obtidos após
ilegalmente esta atividade; intervenção terapêutica;
f. Avaliar ou tratar distúrbios da c. Limitar o nº de seus clientes,
Psicomotricidade, a não ser no respeitando as normas da técnica e
relacionamento profissional; prática da Psicomotricidade, visan-
g. Usar pessoas não habilitadas do a eficácia do atendimento;
para a realização de práticas em d. Esclarecer ao cliente, sobre os
substituição à sua própria atividade; possíveis prejuízos de uma inter-
rupção do tratamento que vem rece-
CAPÍTULO III bendo, ficando isento de qualquer
responsabilidade;
Das responsabilidades para e. Certificar-se da realização do
com o cliente diagnóstico de outras especialidades
ao assumir compromisso terapêu-
Art 8º - Define-se como cliente, a tico com seu cliente, e, encaminhá-
pessoa, entidade ou organização a lo, quando se fizer necessário, para
quem o Psicomotricista preste ser- os especialistas adequados;
viços profissionais e em benefício do f. Garantir a privacidade do
qual, deverá agir com o máximo de atendimento realizado, impedindo a
zelo e o melhor de sua capacidade presença de elementos alheios na
profissional. sala de atendimento, a não ser com
Art 9º - São deveres dos Psico- autorização prévia documentada.
motricistas nas suas relações com os Art 10º - Ao Psicomotricista, em sua
seus clientes: relação com o cliente, é vedado:
a. Informar ao cliente e ou a seu a. Prolongar desnecessariame-
representante legal, sobre resulta- nte o tratamento ou prestação de
dos obtidos na avaliação de Psico- serviço;
motricidade: objetivos do trata-

32
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

b. Garantir resultados de qual- seus colegas e presentar-lhes servi-


quer procedimento terapêutico ou ços profissionais, salvo impossibili-
intervenção institucional, através de dade de motivo relevante.
métodos infalíveis sensacionalistas, Art 13º - O espírito de solidariedade,
ou de conteúdo inverídico; não pode levar o Psicomotricista a
c. Emitir parecer, laudo ou rela- ser conivente com ato ilícito prati-
tório, que não correspondam a cado por colega.
veracidade dos fatos; Art 14º - O Psicomotricista atenderá
d. Usar para fins meramente o cliente que esteja sendo assistido
promocionais e/ou comerciais, pes- por um colega, somente nas seguin-
soas ou instituições a quem prestar tes situações:
serviços profissionais; a. A pedido do próprio colega;
e. Usar pessoas ou instituições b. Se for procurado, esponta-
para fins de ensino ou pesquisa, sem neamente pelo cliente, dando ciên-
seu consentimento expresso e docu- cia ao colega e atuando em comum
mentado, ou de seu representante acordo
legal; Art 15º O Psicomotricista, em
f. Dar diagnóstico clínico de relação ao colega, é vedado:
qualquer patologia que não seja da a. Emitir julgamento depreciati-
área da psicomotricidade, assim co- vo sobre o exercício da profissão,
mo, promover qualquer interven- ressalvadas as comunicações de
ção, também, fora da área da irregularidade, transmitidas ao ór-
psicomotricidade; gão competente;
b. Explorá-lo profissionalmente
CAPÍTULO IV e financeiramente;
c. Avaliar os serviços prestados
Das relações com outros pelo colega, para determinar sua
Psicomotricistas: eficácia.

Art 11º - O Psicomotricista deve ter CAPÍTULO V


para com seus colegas, a conside-
ração, o apreço e a solidariedade, Das responsabilidades e rela-
que refletem a harmonia da classe e ções com as instituições em-
lhe aumentem o conceito público. pregatícias e outras:
Art 12º - O Psicomotricista, quando
solicitado, deverá colaborar com Art 16º - O Psicomotricista funcio-
nário de uma organização, deve su-

33
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

jeitar-se aos padrões gerais da Art 20º - O Psicomotricista, nas suas


instituição, salvo quando o regula- relações com outros profissionais,
mento ou costumes ali vigentes deverá manter elevado conceito e
contrarie sua consciência profissio- padrões de seu próprio trabalho;
nal e os princípios e normas deste Art 21º - O Psicomotricista deverá
Código. estabelecer e manter o relaciona-
Art 17º - O Psicomotricista poderá mento harmonioso com os colegas
formular junto às autoridades com- de outras profissões, informando-
petentes, críticas aos serviços públi- os:
cos ou privados, com o fim de pre- a. A respeito de serviço de
servar o bom atendimento da psicomotricidade;
psicomotricidade e o bem-estar do b. Emitindo parecer em Psico-
cliente. motricidade sobre seus clientes, a
Art 18º - O Psicomotricista no cargo fim de contribuir para a ação tera-
de direção ou chefia, deverá preser- pêutica da outra profissão.
var normas básicas à eficácia do
exercício da Psicomotricidade, res- CAPÍTULO VII
peitando os interesses da classe.
Das relações com as Asso-
CAPÍTULO VI ciações congregantes, repre-
sentativas dos Psicomo-
Das relações com outros tricistas.
profissionais
Art 22º - O Psicomotricista procu-
Art 19º - O Psicomotricista procu- rará filiar-se às Associações que
rará desenvolver boas relações com tenham como finalidade, a difusão e
os componentes de outras áreas, o aprimoramento da Psicomotri-
observando para esse fim o seguinte: cidade como ciência, bem como os
a. Trabalhar nos restritos limites interesses da classe.
das suas atividades; Art 23º - O Psicomotricista deverá
b. Reconhecer os casos perten- apoiar as iniciativas e os movi-
centes aos demais campos de espe- mentos de defesa dos interesses mo-
cialização profissional, encami- rais e materiais da classe, através
nhando-os a profissionais habilita- dos seus órgãos representativos.
dos e qualificados para o atendi-
mento.

34
INTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

CAPÍTULO VIII CAPÍTULO XI

Do sigilo profissional Dos honorários profissionais


Art.26º - O piso dos honorários
Art 24º - O Psicomotricista está o- deverão ser estabelecidos pelo Com-
brigado a guardar segredo sobre fa- selho profissional, logo que a profis-
tos que tenha conhecido, em decor- são for regulamentada.
rência do exercício de sua atividade.
Parágrafo único - não se constitui
quebra de sigilo, informações a ou-
tro profissional envolvido com o ca-
so, ou, no cumprimento de deter-
minação do poder Judiciário.
Art.25º - O psicomotricista não po-
derá, em anúncios, inserir fotogra-
fias, nomes, iniciais de nomes,
endereços, ou qualquer outro ele-
mento que identifique o cliente,
devendo adotar o mesmo critério
nos relatos ou publicações, em
sociedades cientificas e jornais. Sal-
vo com autorização livre e escla-
recida, devidamente documentada.

CAPÍTULO IX

É vedado ao Psicomotricista:

a. Apresentar, como original,


qualquer ideia descoberta, ou ilus-
trações, que, na realidade, não o
sejam;
b. Anunciar na recuperação de
clientes, sobretudo em casos consi-
derados impossíveis o emprego de
métodos infalíveis ou secretos, de
tratamento.

35
36
IINTRODUÇÃO À PSICOMOTRICIDADE

5. Referências Bibliográficas
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