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PERIGOSAS

A Ilha Elementar
Uma história dos Soldados Elementares

CRÔNICAS DE ONYX
Livro 2.5

Elton Moraes
1ª Edição
2014

ACHERON - NACIONAIS - APOLLYMI


PERIGOSAS

Copyright © 2014 by Elton Moraes


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada
ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização do autor.

Diagramação e capa
Elton Moraes

Imagem da capa
Dmytro Vietrov – sob licença do site Shutterstock

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PERIGOSAS

Para Jucilene Poli.


Obrigado por ser uma tia maluquinha e uma grande fã.
Amo você!

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Nota do Autor

A cada novo livro da série Crônicas de Onyx que eu concluo, tenho a


impressão de que estou sendo levado a um local que eu mesmo desconheço.
Um local, talvez, em que eu possa desvendar e aprender sobre os segredos
mais ocultos do meu universo e do Universo que nos ronda.
E com este spin-off aconteceu algo parecido. Não que eu não conheça a
história dos Soldados Elementares desde A Espada Elemental (livro dois).
Mas ouvir meus personagens contando-me seus pontos de vista sobre o que
lhes aconteceu, revelando-me coisas que até então eu não tinha percebido, foi
incrível!
Por isso convido-os a conhecer um pouco mais da Ilha Elementar e seus
misteriosos moradores! Aviso-os somente de que é necessária a leitura dos
dois primeiros livros da série para não se incomodarem com possíveis
spoilers. Caso queira correr o risco de se aventurar por estas terras pela
primeira vez, bem, a escolha é sua e seja muito bem-vindo!
Apenas lembrem-se: a vida é uma incógnita não respondida.

O autor

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Prólogo
Nascimento

A explosão de luz marcou o início. A Espada suprema dos anjos se perdera


em meio ao caos e se chocou contra o solo sem vida de algum mundo
perdido, consumindo-o em fogo. Anjos e demônios que ali batalhavam em
nome de sua causa, foram execrados e reenviados ao Criador. Em seguida,
água jorrou em todas as direções através da ferida aberta pela lâmina,
purificando o solo. O rio Styx se conectava a um novo lar. A terra, antes seca,
tornou-se propícia à vida e dela surgiu uma vasta gramínea, que se alastrou
por onde as águas não tocavam; árvores brotavam aos montes, flores
coloriam o ambiente. O céu tornou-se azul e carregado de ar.
A terra se movimentou e do encontro com a água corpos brotaram,
crescendo, evoluindo; animais, que corriam, voavam, nadavam para todos os
lados. Não obstante, um novo corpo se ergueu da terra, tomando forma
lentamente. Respirou o ar que o cercava e foi carregado por um espírito de
luta e sobrevivência. Como que para selá-lo, o calor lhe deu a forma final.
Era um homem. O Primeiro Homem. Em seguida, ao seu lado, um novo
corpo nasceu para lhe fazer companhia. A Primeira Mulher.
Juntos caminharam por aquelas terras, desenvolvendo-se. A terra lhes
dando conhecimento, a água os sentimentos e emoções, o ar o espírito que os
mantinham vivos e o fogo, que aquecia seus corações.
Mais tarde, a união do amor que cresceu entre eles trouxe quatro filhos,
um em cada ano. E essas crianças estariam predestinadas a se tornarem os
guardiões dos elementos, seus guias e protetores. Eles seriam os Soldados
Elementares.

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Um
Coração de Fogo

Você sabe o que fazer. Sheldon sabia muito bem. Não precisa ser lembrado.
Mas era impossível evitá-lo. Se pudesse, já o teria feito.
Voltou a correr, suspirando. Estava atrasado. O treino já devia ter
começado e ele perdera totalmente a noção do tempo enquanto trabalhava no
condado que seria seu. Sua maior conquista até então. Revirou os olhos.
Sabia que podia conseguir muito mais do que aquilo se seu pai, Elyanor,
permitisse sua partida para descobrir o mundo. Mas não, não podia, devia
permanecer ali, na Ilha Elementar, onde aprenderia a manipular seus poderes
com “sabedoria”. O que já estava se tornando um fardo para ele.
Cansado, entrou no Templo dos Mundos, sua casa, seguindo para o
primeiro salão à direita. Lá, encontrou seu pai e seus irmãos, todos sentados
sobre as pernas e meditando. Respirou fundo e se sentou um pouco afastado,
não gostava de ter de participar de seções com eles.
– Está atrasado. – Meu pai sempre tão carinhoso, pensou com ironia.
– Desculpe, eu...
– Não se desculpe, apenas seja mais responsável.
Sheldon franziu o cenho. Cerrou os punhos, porém manteve-se calado.
Às vezes – sempre, na verdade – aquele tipo de atitude por seu pai o
incomodava e o deixava extremamente furioso. Não porque era o Primeiro
Homem que deveria tratar a ele e seus irmãos como objetos que poderia
manipular a seu bel-prazer.
Fitou Sheron, Dylan e Poliana a sua frente. Estavam todos
compenetrados. Uma poderosa aura emanava de cada um deles. Estavam
sintonizados a seus elementos primordiais. Fechou os olhos e fez o mesmo.
Procurou por seu corpo a fonte de seu poder: o coração. Ao tocá-lo
mentalmente, as batidas aceleraram, bombeando calor para suas veias. Podia
sentir a energia crescendo dentro e envolta dele. Era uma sensação única e
maravilhosa. Nada poderia impedi-lo naquele estado, pensou subitamente.
Sua habilidade estava tão intrínseca e desenvolvida, após anos de treino, que

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nada o derrotaria. Poderia conquistar o mundo que os cercava.


Isso, o mundo. Tome-o para mim!
Sorriu. Talvez ele realmente devesse seguir aquela voz interna. Quem
sabe esse era seu destino: desbravar e conquistar.
Sentindo-se mais forte com tal pensamento, permitiu-se ser tomado por
completo pelas chamas que insistiam em devorá-lo. Entregou-se de corpo e
alma. A sensação de libertar seu poder ao extremo o levou a um estado de
êxtase irreconhecível. Sublime.
Quando achou que não teria mais fim, no entanto, sentiu seu corpo tocar
a parede logo atrás enquanto gelava rapidamente. Caiu no chão, ofegante, sua
habilidade se esvaindo. Abriu os olhos e a única coisa que viu foram três
pessoas assustadas e uma carrancuda. Este, no caso, sendo Elyanor. Sheron
estava com as mãos erguidas, tremendo. De onde ela conseguiu conjurar
tanta água? – indagou-se. Resolveu não externar a questão.
– Por hoje o treino está encerrado – anunciou seu pai.
Aquela foi a melhor notícia de seu dia, apesar de ter adorado aquela
sensação tão poderosa das chamas que o formavam.
Enquanto todos saíam, porém, Elyanor pediu para que esperasse um
pouco mais. Sem ninguém por perto, falou:
– Vejo que está mais poderoso do que jamais esteve.
Não sabia o que ele queria dizer com aquilo.
– Isso é um elogio?
– Não, isso é um alerta. Você precisa controlar seu coração, ele é feito de
fogo, e pode ser perigoso.
– Eu sei me controlar – replicou.
– Não foi o que vi hoje.
Sheldon franziu o semblante, desgostoso com o que Elyanor dissera.
– Deve ser apenas o cansaço – disse por fim, controlando-se. – O
condado está quase pronto para receber os novos moradores.
O homem assentiu.
Pela primeira vez notava o quanto seu pai era bonito e jovem. Apesar de
ter uma centena de existência, sua aparência era a de um homem jovem e
viril. Seus olhos cor de mel emanavam uma aura de poder tão forte, que
poderia liderar todo o mundo se assim quisesse. O que não aconteceria tão
cedo. Elyanor era o tipo de pessoa que acreditava que a vida mostraria o
caminho certo a trilhar. O dele já estava sendo trilhado há muito tempo.
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– Pedirei para sua mãe nos conceder uma estimativa de quanto tempo
ainda falta para os novos habitantes chegarem.
Sheldon apenas assentiu.
– Você está dispensado, filho – disse Elyanor, dando algumas
palmadinhas em seus ombros. Mas antes que partisse, ouviu-o falar: – Não
esqueça que a vida é uma incógnita não resolvida.
O rapaz deu um sorriso amarelo e saiu do Templo. Poderia ficar ali e ir
para seu quarto, no entanto, tinha algo em mente. Não poderia perder tempo.
E tempo era a coisa que ele menos tinha naquele momento.

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Dois
Sentimentos de Água

– Controle-se, Sheron – pedia sua mãe.


Ela não tinha certeza de que conseguiria. Lágrimas escorriam por seu
rosto, manchando-o, mas antes de pingar para seu colo, elas flutuavam frente
a sua face. Aquilo a irritava, de certa forma, mas não o suficiente para tirá-la
do estado emocional em que estava.
– Você fez certo – aconselhou Jeíne, a Primeira Mulher.
– Eu, eu sei – gaguejou. – Mas se você tivesse visto o que eu vi. Acho
que nem mesmo papai sentiu o mesmo que eu.
– Compreendo minha filha. E o que você sentiu?
Sheron fungou. Respirou fundo e absorveu a umidade do rosto. As
gotículas que flutuavam evaporaram.
– As emoções de Sheldon. Há algo estranho nele.
– Como o quê?
– É difícil explicar. Mas acho que seus poderes o estão consumindo mais
do que ele mesmo pode notar. As emoções que deveriam estar lá parecem
sumir cada vez mais.
– Mas somente hoje você percebeu?
– Hoje tive a certeza. Da outra vez que treinamos todos juntos, percebi
que algo nele estava errado, mas não liguei, achei que estivesse imaginando
coisas. Mas hoje, quando ele permitiu que as chamas o consumissem e quase
nos matasse, eu percebi que a água que o moldou, já evaporou há muito
tempo.
Jeíne ficou preocupada. Sheron sabia o quanto era difícil dar aquele tipo
de notícia, mas não pôde suportar. Graças a sua habilidade elementar, a água,
podia pressentir as emoções que a cercavam. Não só isso, seus poderes eram
tão grandiosos que até mesmo ela tinha medo de usá-los. Talvez porque fosse
instável. Como o líquido, podia fluir com naturalidade, assim como poderia
se congelar a qualquer momento. Aquilo a incomodava.
– E o que você pretende fazer com essa informação? – quis saber sua

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mãe.
– Vou falar com ele. Preciso saber o que está acontecendo.
A mulher assentiu.
– Está certo. Você é a única que poderá fazer alguma coisa, caso Sheldon
esteja perdendo aquilo que nos mais é sagrado.
Sheron consentiu e saiu de seu quarto. Procurou por Sheldon no Templo
dos Mundos, mas não o encontrou. Talvez estivesse no Condado do Fogo,
concluindo suas metas. Suspirou. Até lá seria uma grande caminhada.
Assim que pôs os pés fora do templo, encontrou-se com Dylan. Ele a
fitou por um momento e baixou a cabeça, seguindo para o hall de entrada.
– Dylan? – chamou.
Seu irmão se virou. Parecia com medo.
– Aconteceu alguma coisa?
– Nada demais. Só acho que encontrei um problema no Condado da
Terra. Falarei com mamãe.
– Ah, sim. Tudo bem então. Qualquer coisa, por favor, me avise.
Ele assentiu e saiu apressado. Isso não me está parecendo boa coisa.
Suspirou resignada e também partiu. Precisava encontrar Sheldon.
Ah, Sheldon...
Impediu que o pensamento prosseguisse. Não podia pensar nele de
qualquer outra forma senão como irmão. Mas era tão difícil!
Seguindo seus instintos, adentrou na mata e seguiu para o Condado do
Fogo, no lado norte da ilha. Ao chegar lá, viu o quanto ele trabalhara para
deixá-lo impecável. Quase tudo estava pronto.
Olhou em volta e o encontrou. Porém, no mesmo instante, apavorou-se
com o que viu. Sheldon estava sentado, no meio de um círculo de pedras, que
se consumia em chamas. Seus olhos estavam abertos, mas não pareciam
enxergar alguma coisa. Um fogo dançava em suas íris. O cabelo avermelhado
parecia lançar faíscas no ar. O que ele está fazendo?
Com o pensamento em mente, aproximou-se. Chamou-o, mas não obteve
resposta. Estava com medo do que poderia estar acontecendo. Então uma voz
rouca ecoou dos lábios dele:
– Não se aproxime.
Sheron parou instantaneamente. Estava há cerca de dez passos. O calor a
cercava com intensidade. Podia ver a aura dele expandida de uma forma que
não achou ser capaz. Desde quando ele se tornou tão forte?
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– Sheldon, por favor, o que está acontecendo? – Não resistiu.


Ele sorriu desdenhoso.
– Estou apenas amplificando meus poderes. Será uma forma de mostrar a
Elyanor que posso me controlar.
Mas ela não estava tão certa disso. Enrolou as ondas ruivas que
cascateavam sobre seus ombros e jogou o cabelo para trás. Começava a suar
com tanto calor, mas não sairia dali antes de falar seriamente com ele.
– Precisamos conversar.
Ele riu novamente.
– E o que poderia ser tão importante?
– Você.
Um misto de confusão e interesse surgiu em sua face. Ele fechou os
olhos e os abriu de novo. Sua cor normal, âmbar com rajadas avermelhadas,
havia retornado. Controlou seu poder, enviando-o de volta a seu interior.
– O que tenho eu?
Sheron se aproximou, ficando a três passos dele.
– O que está acontecendo com você?
Ele arqueou uma sobrancelha.
– Ora, nada.
– Você quase nos matou hoje mais cedo.
– Não foi minha intenção. Jamais te machucaria.
Ela suspirou.
– Você sabe que posso sentir suas emoções, Sheldon. Há algo que está
errado. O que te faz humano está se deteriorando.
– Sheron, primeiro: você sabe que não somos simples humanos.
Segundo: isso faz parte do fogo. Ele transforma. Às vezes é preciso destruir
para reconstruir.
– Eu sei, eu sei… Mas não gostaria que fosse assim.
– Olhe, não se preocupe, está tudo bem.
– Sheldon, por favor. Estamos prestes a receber uma enxurrada de
desconhecidos, nascidos em outras terras. Precisamos ao menos confiar em
nós mesmos.
Ele se levantou. O fogo que ainda crepitava a sua volta se apagou.
– Eu confio em você – disse, aproximando-se dela e tocando seu rosto
com as costas da mão.
Sheron fechou os olhos, sentindo o toque quente e suave. Um arrepio
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percorreu sua espinha. Aquilo seria certo?


– Também confio em você – respondeu.
– Então não se preocupe. Qualquer coisa que esteja acontecendo comigo
será por alguma causa. Jeíne sempre diz que todos nós temos um destino,
esteja ele selado ou livre para que o façamos a nossa vontade. Vamos esperar
para ver onde tudo dará.
– Assim espero. – Deixou o ar escapar de uma vez.
Sheldon sorriu e inclinou-se para tocar seus lábios. Ela recebeu o beijo
com um pouco de medo, mas logo o afastou para um canto inóspito da mente.
Não podemos ter medo daquilo que desejamos.
– Tudo bem? – perguntou ele, afastando-os.
– Tudo – suspirou. – Eu só não acho que isso seja tão certo.
– Olhe, amor, não se amarre ao que Elyanor diz. Podemos ter nascido da
mesma mulher, mas você sabe que somos praticamente o avesso um do outro.
Nossos elementos nos fazem diferentes por natureza.
Ela sabia que o que ele dizia era verdade. Chamavam-se de irmãos
porque foram criados assim, mas desde criança os dois foram muito mais que
isso. Havia uma paixão ali que os consumia.
– Não deixe que seus sentimentos morram – pediu, por fim.
– Não deixarei, eu prometo.
Com isso, ela se afastou e fez o mesmo caminho de volta. O peso do
medo caíra de suas costas, contudo, um reboliço em seu estômago dizia que
muita coisa ainda estava por vir. O quê? Ela sequer conseguia imaginar.

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Três
Mente de Terra

Seus passos rápidos o levaram ao único lugar em que poderia depositar sua
total confiança – e seu temor. Dylan se sentia como se o peso do céu
houvesse caído – ou melhor, desabado – sobre sua cabeça. Por que estava
assim? Era algo que gostaria de descobrir.
Ao adentrar no recinto em que sua mãe estava, imediatamente, ela o fitou
nos olhos, já prevendo que algo de ruim estava lhe atormentando.
– O que houve meu filho? – inquiriu, aproximando-se.
Ele a abraçou apertado, como se sua vida dependesse daquilo.
– Eu não sei. Alguma coisa de ruim está acontecendo.
– Como pode? Há tempos nos preparamos para o que virá.
– Não é por causa dos estrangeiros. Algo desconhecido… está tomando a
ilha.
Jeíne o olhou, preocupada. Puxou o filho e se sentaram à mesa esculpida
rusticamente em carvalho.
– De quê exatamente você está falando?
– Posso sentir na terra, mãe. Árvores, flores, tudo está demorando a se
desenvolver. O solo está se tornando infértil. Como se o poder da Espada já
não fizesse mais efeito. Como se cada partícula desintegrasse-se lenta e
gradativamente, consumida por um efeito invisível. E eu posso sentir em
mim!
Ela levou a mão ao queixo.
– O que sua mente diz?
Dylan parou por um momento, raciocinando. Sabia que seu elemento, a
terra, originara a capacidade de raciocínio e desenvolvera a sabedoria nos
humanos e animais, porém, naquele momento, via-se um tanto perdido. Um
ignorante.
– Talvez a gente deva fugir? – opinou.
– E por que faríamos isso?
– Para nos preservarmos!

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– E para onde iríamos?


– Para qualquer lugar longe daqui. Você sabe tão quanto eu que existem
terras além dos mares.
Ela assentiu.
– Claro que sei, vejo-as todos os dias em minhas visões. São desses
locais que virão os novos moradores. Os quais deverão ser recebidos de
braços abertos. Lembre-se do que já lhes falei: Elementar é o berço da
humanidade por sermos os primeiros a nascer, mas ela precisa de mais gente,
progredir.
– Mas por que nós não podemos sair daqui? Se você pode ver as outras
terras e seus moradores, também deve saber que a ínsula corre algum tipo de
perigo.
– Dylan, escute-me – pediu ela, puxando-o para mais perto –, Sheldon
tem este mesmo pensamento. Mas ele não quer nos proteger como você. Ele
quer poder, uma terra para governar, entende? Contudo, quero que entenda
que nós não nascemos para isso, muito menos para sair daqui. Temos um
destino a cumprir. Se sairmos, se abandonarmos a Espada que está em seu
pedestal, no Templo dos Mundos, Elementar irá morrer e, com ela, o resto do
mundo, afinal, a ilha é a fonte do mundo. E você e seus irmãos são os
protetores.
Como um coração que bombeia sangue e um conjunto de artérias pelas
quais é guiado. Deixou o ar escapar, sentindo-se imponente diante de tais
revelações.
– Posso compreendê-la, mas estou com receio do que pode vir a
acontecer.
Ela o abraçou, acariciando suas costas. Seus olhos verdes o tocaram,
como se lesse sua alma, adentrasse em cada canto do qual nem mesmo ele
tinha acesso. Jeíne não se importava com isso, conhecia os filhos como eles
mesmos não eram capazes. Sabia o que o futuro tinha a guardar para cada
um.
– Ficará tudo bem, Dylan, você ainda terá muitas surpresas.
O rapaz a fitou por um minuto.
– Você teve uma visão?
Meneou a cabeça.
– Vi apenas o caminho pelo qual você passará. – Seus olhos brilhavam;
uma lágrima brotando em um de seus olhos. – Você já é um homem, mas será
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maior do que já é.
Sem falar mais nada, Dylan assentiu e se retirou. Passou pelo hall de
entrada do templo e foi para a clareira que o envolvia. Recostado a uma
árvore, com a calda enrolando-a, estava Shait, uma enorme cobra de duas
cabeças. Aproximou-se sem medo. Assim que o avistou, o animal se
contorceu e o alcançou. Ele tocou suas cabeças, acariciando a pele escamosa
de tom azul-esverdeado, fitando as fendas negras cortando o amarelo dos
olhos que o perscrutavam. Deixou as pálpebras caírem, abrindo sua mente, e
absorveu os pensamentos do réptil.
– Como você sabe de tudo isso? – indagou, mas não recebeu uma
resposta verbal.
Boquiaberto, piscou, tentando entender tudo o que a cobra lhe concedera
em conhecimento. Não fora muita coisa, entretanto sabia que aquilo seria
mais do que suficiente quando o momento certo chegasse.

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Quatro
Espírito de Ar

Poliana olhava para o vale que se estendia lá embaixo. Conseguira terminar a


tempo o Condado do Ar, todavia não se sentia nem um pouco feliz. Não
queria estranhos perambulando por suas terras, não admitiria tal coisa. Jeíne,
no entanto, falava que seria uma boa coisa, essencial para as gerações futuras.
Ela não enxergava desta maneira; sequer estava interessada no futuro.
Suspirou, olhando para o céu. Ah, céu... Já estava com saudade de
flutuar, por isso pôs-se a praticar naquele exato momento. Sentou-se no chão
de pedra. A montanha na qual estava servia como refúgio, uma fuga para
quando quisesse ficar só. Fechou os olhos, concentrando-se. Pousou as mãos
nos joelhos e deixou o ar a sua volta lhe invadir. O poder circulava em seus
pulmões e se estendia por todos os membros de seu corpo. A atmosfera a sua
volta tornou-se leve e, no minuto seguinte, o chão estava a dez palmos de
distância. Inspirou o ar, mantendo-se tranquila. Abriu os olhos. Ainda não
podia tocar as nuvens, mas era apenas uma questão de tempo e treino.
Manipulando o vento a sua volta, voltou ao chão, ficando de pé.
Suspirou. Queria voar sem rédeas, sair daquela ilha. Sim, era o que mais
queria. Compartilhava do sonho de Sheldon de conhecer novas terras;
governar alguma? Quem sabe. Queria ser livre como o vento, sussurrar
palavras não-ditas, entregar abraços não dados, sentir a alma das pessoas
pulsando, fosse por felicidade, fosse por tristeza. Estava cansada de ser
aprisionada àquele lugar. Não queria ter apenas um espírito moldado pelo ar,
o sopro que lhe concedera vida, queria ser o próprio elemento.
Lentamente descia a montanha quando algo chamou sua atenção.
Primeiramente foi o assoviar do vento. Como um mensageiro, trazia-lhe
notícias do além-mar. Um barulho inconveniente. Em seguida, voltando-se
para as águas salgadas que cercavam a ilha, avistou ao longe algo estranho,
que quebrava as ondas como se fosse uma lâmina. O que é aquilo? Curiosa,
começou a correr, tomando o cuidado para não tropeçar e rolar montanha
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abaixo.
Assim que chegou ao lado leste da ilha, na praia do Condado da Água,
encontrou-se com Dylan, Sheron e Sheldon. Estavam todos curiosos com o
que se aproximava rapidamente.
– O que é aquilo? – indagou, pondo-se ao lado do elementar da terra.
– É um barco – respondeu ele.
– Um o quê? – Sheldon arqueou uma sobrancelha.
– Um barco. É a forma como os humanos do além-mar encontraram para
navegarem pelas águas sem sofrerem grandes consequências.
Sheron o cutucou.
– E como você sabe disso?
O rapaz corou. Poliana revirou os olhos. Ainda assim, estava tão curiosa
quanto a elementar da água.
– Shait me contou – respondeu Dylan.
Todos assentiram. Sabiam dos poderes ocultos que a cobra de pescoço
bifurcado escondia. Ela era um animal sagrado, que surgiu logo após o
nascimento do Primeiro Homem e da Primeira Mulher, concedendo-lhes
sabedoria a respeito do mundo juntamente dos pecados que os acometeriam.
– Devemos nos preocupar? – inquiriu Poliana.
– Espero que não – retrucou o elementar do fogo.
– Eles são os estrangeiros, os novos moradores da ilha, querem apenas
abrigo – concluiu Sheron. – Não deverão nos fazer mal.
Os outros três concordaram. Mas se tocarem um dedo em um fio de
cabelo meu, faço questão de extrair o sopro que lhes concede vida – pensou a
elementar do ar, nada animada.
E então ficaram ali, aguardando por seus novos companheiros de ilha.
Estavam tensos, principalmente Poliana, mas aquele era um dos dias mais
esperados por eles. Só não imaginavam que era a partir daquele momento que
o mundo no qual viviam começaria seu lento processo de intensa
modificação. Era naquele dia que os verdadeiros pecados estariam se
libertando de suas amarras.

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Cinco
Estrada em Chamas
5 anos depois

Assim que ouviram os gritos de Jeíne, correram para dentro do Templo dos
Mundos. Não sabiam quanto tempo mais aquilo duraria, mas esperavam que
fosse breve, já não suportavam mais ouvi-la em desespero. Principalmente
Sheldon. A raiva apenas crescia em seu âmago. Não queria ficar ali, mas fora
forçado por Elyanor.
Revirou os olhos ao ouvir o grito que indicara o final daquela tortura.
Finalmente! – não resistiu ao pensamento.
Volveu para Sheron, que corria para o quarto da mãe. Ergueu-se
vagarosamente do banco em que estava e se aproximou da porta, espiando o
que estava acontecendo. A elementar da água beijou a testa da mãe,
proferindo que ficaria tudo bem. A mulher, em seu leito, tinha nos braços um
bebê, uma pequena criança que parecia mais pálida do que ele considerava
normal.
– Cuide-os para mim, minha filha – disse Jeíne.
– Você ficará bem, mãe. Apenas se acalme, vou dar um jeito nisso.
A mulher segurou seu braço quando estava prestes a abrir um cantil de
água. Como já a vira fazer tantas vezes, aquela era a forma de ela curar algum
enfermo ou uma pessoa que se machucara. De todas as quatro gestações
anteriores, fora Sheron quem ajudara a mãe se recuperar após o parto,
utilizando de seu poder curativo. Mas por que agora ela não quer ser
ajudada?
– Mãe, você precisa deixar eu… – começou Sheron.
Jeíne balançou a cabeça, interrompendo-a.
Sheldon desviou de duas parteiras que saíram do quarto, levando panos
empapados em sangue e uma vasilha de água morna. Voltou-se para o que
estava acontecendo lá dentro e perdeu a cor do rosto.
– Esse é meu destino, querida – dizia a Primeira Mulher. – Entenda que
todos nós desempenhamos ou desempenharemos algum papel no mundo. Eu
já fiz minha parte, agora está na hora de eu partir.

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– Não – sussurrou Sheron.


– Não permita que o fogo destrua suas emoções. Não se deixe ser
devastado. Sua estrada se bifurca em duas direções, escolha a certa.
Por um momento, aquilo não pareceu nada além de palavras desconexas,
no entanto, Sheldon percebeu que Jeíne não estava falando para Sheron e
sequer eram sem-sentido. Sua mãe estava falando diretamente com ele, suas
gemas verdes o possuindo como jamais fizeram.
– Eu amo vocês – murmurou, por fim. Em um último suspiro, deixou-se
levar, sua aura se apagando subitamente.
Pela primeira vez o elementar do fogo sentiu uma dor que ultrapassava
seu peito. Ia à alma, no fundo do que o tornava o que ele era. Mesmo estando
um tanto distante nos últimos anos, sabia que era a energia que emanava dela
que o mantinha de pé, ela era seu pilar. E agora? Agora sua coluna de
sustentação desabava, levando todo o teto de encontro a sua cabeça. Sua
mente apagou de súbito, tragando-o a uma escuridão que desconhecia.
Sem saber o que estava fazendo, começou a correr. Saiu do Templo dos
Mundos e continuou em frente. Poliana o chamou, mas não deu ouvido.
Queria sair dali, fugir, esconder-se. Nunca pensara em tal coisa, entretanto
era a única que vinha a sua mente naquele momento. O amor quando morre,
tem o poder de mudar os humanos – o pensamento não era seu, mas o
compreendia.
Assim que chegou a praia do Condado de Fogo, estacou, desabando de
joelhos na areia. Eu deveria ter sido um filho melhor – foi o primeiro
pensamento próprio que conseguiu formar. Ele sabia que poderia ter
aproveitado melhor seus momentos ao lado dela, mas não foi o que fez. Pelo
contrário, apreciava mais a companhia das jovens que chegaram do exterior,
às escondidas, do que fora capaz de apreciar ao lado de sua família.
Família... Por que agora aquela palavra parecia tão oca, sem significado?
Porque famílias não existem de verdade. Nos momentos de problemas e
aflições, é cada um por si – mais uma vez aquele pensamento não era seu,
mas estava totalmente de acordo. Agora conseguia perceber, abandonara o
que um dia fora sua família para se virar às próprias custas. E conseguira até
agora. Moldara-se como quisera, e poderia seguir assim.
Sua mãe morrera, era um fato, entretanto aquilo só alimentaria as chamas
em seu coração. Sua morte abasteceria o fogo que o levaria ao seu devido
lugar. Jeíne dissera para ele escolher o caminho pelo qual sua estrada
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continuaria, e, naquele momento, olhando para sua bifurcação, ele já sabia


por onde gostaria de seguir.
Seus olhos se acenderam em brasas. Seu cabelo faiscou, anunciando a
fogueira que se formaria em seguida. Sorriu.
Será uma estrada banhada em chamas e poder.

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Seis
Amor Líquido

Sheron não conseguia impedir as lágrimas. Abraçava a criança em seu colo


como se fosse a única capaz de ligá-la a sua mãe. Mas sabia que era apenas
coisa de sua cabeça. Jamais poderia criar um novo vínculo com alguém que
já morreu.
– Por que você não a salvou? – esbravejou Poliana, invadindo o quarto.
– Ela não permitiu – respondeu em meio aos soluços.
– Como não?! Como alguém pode desejar a morte?
Depositou a criança na cama em que ficavam seus outros irmãos e saiu.
Não queria que os pequenos as ouvissem – nem mesmo ela queria mais ouvir
a voz de Poliana lhe acusado.
– Você não vai fugir de mim! – insistiu a elementar do ar, em seu
encalço.
Volátil como a água é, às vezes torna-se necessário o congelamento para
apaziguá-la – era o que Elyanor constantemente lhe dizia. E ela realmente
precisava se acalmar, mas como com sua irmã lhe tirando a paciência?
Decidiu, por fim, enfrentá-la como uma pedra de gelo.
– Olhe aqui, Poliana, eu não sei por que ela quis isso! Eu tentei ajudá-la,
é um fato, porém me impediu, mamãe disse que era seu destino! Então não
tente pôr a culpa em mim porque não tenho!
– Como não? Você poderia ter insistido!
– E você devia calar a boca!
No segundo seguinte ela sentiu o ar a sua volta se tornar pesado, como se
tentasse pressioná-la contra o chão. Percebeu, nos olhos acinzentados de
Poliana, que era ela a causadora de tal coisa.
– Você é a culpada!
– Não! – gritou. Algo em seu âmago borbulhava. Não sabia o que era,
mas precisava externá-lo. Por isso começou a correr.
– Isso mesmo, fuja!
Por que Poliana está sendo tão má? Por quê?!

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Pondo as mãos na cabeça, continuou em frente. Passou por várias


pessoas que vinham de seu condado, mas não se importou com elas. Não
queria conversar. A solidão era sua melhor amiga em momentos como
aquele. Assim que tocou os pés na água do mar, indagou-se de como chegou
ali, contudo não tentou sequer responder a questão. Foi direto ao mar.
Mergulhou. Continuou indo além e ainda mais para baixo. Usou a força da
água para levá-la ao fundo, isolando-a do mundo exterior. Isolando-a de
Poliana. Isolando-a de tudo e todos. Não queria mais pensar. Era impossível.
Como um trovão, sua mente foi tragada para uma lembrança da qual a
fez estremecer envolta em um turbilhão de bolhas…
Jeíne a olhava com complacência. Seus olhos verdes eram tão intensos e
profundos, que Sheron sabia que ali poderia descobrir todos os mistérios que
envolvia a ilha e o restante do mundo. Em seu colo, estava Runni, uma linda
menina que tinha apenas algumas semanas de vida. Em volta delas, Diemon,
Crinton e Esméliun brincavam com bonecos de madeira, feitos por um
artesão que chegara em uma das embarcações do exterior.
– Sheron, preciso contar-lhe uma coisa – começara a mãe.
Ela assentira, prestando-se a ouvir.
– Vocês receberão uma nova irmãzinha em breve.
Ficou ereta, tentando absorver a ideia.
– Mais uma?
– Sim. Mas será minha última gravidez.
– Mas Runni mal nasceu!
A Primeira Mulher sorriu.
– Sim, é verdade. Mas lembre-se que posso ver os caminhos pelos quais
a vida toma.
– Sim, verdade.
A mulher acariciou o bebê em seu colo. Um fino cabelo ruivo cobria sua
cabeça, sua pele era clara como a espuma que vinha do mar. Seus olhos, da
cor âmbar. Seria uma bela mulher quando crescesse.
– Sabe, Sheron, nada acontece por acaso. No entanto, mesmo eu sabendo
tantas coisas que ainda estão para acontecer, é como seu pai diz: a vida é uma
incógnita não resolvida.
– Aonde você quer chegar, mãe?
– Essas crianças… Vocês… Nasceram todos com algum objetivo.
Sheldon, Poliana, Dylan e você têm o dever de manter vivo o nosso mundo,
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serem os guardiões dos elementos. Já Diemon, Crinton, Esméliun, Runni e a


nova menina, que se chamará Jadyon, estão destinados a fundar os primeiros
governos de Onyx, como se chamará o mundo do qual somos cercados.
Onyx. Aquele nome dançou em sua mente. Mais do que isso, seu corpo
se arrepiou ao saber que seus irmãos seriam os fundadores de algum tipo de
governo.
– Por isso, Sheron, eu preciso que você cuide de seus irmãozinhos. Eles
são de suma importância para o que virá no futuro.
– E se eu não conseguir protegê-los?
– Então Onyx cairá antes de se erguer. Entretanto, meu amor, eu confio
em você. Sei que é uma grande responsabilidade em suas costas, mas todos
vocês têm algo grandioso a cumprir.
Sheron anuiu um tanto receosa. Contudo, prometeu: não se deixaria cair
por nada e que os protegeria de tudo e todos.
Mas como faria isso se mal conseguia proteger-se dos próprios
pensamentos e sentimentos?
A água a sua volta se movimentou com intensidade, arrancando-a de seu
devaneio. Abriu os olhos. Seu corpo seguia um redemoinho de água e vento,
levando-a para o ar. Não sentia seu corpo. Será que morrera e aquela era a
forma de ela seguir o caminho dos mortos?
Eu não quero morrer! Sabia que tinha uma promessa a cumprir e, para
ela, promessas não podiam ser quebradas, mesmo que lhe fosse arrancada a
vida. Mas não se entregaria tão facilmente, lutaria até o fim. Por isso,
imediatamente, concentrou-se na água a sua volta. Era como se o mar fosse
uma extensão de seu corpo, indo para lá e para cá. Não vão me carregar para
o mundo dos mortos. Quando sentiu seu corpo ficar ereto em meio ao funil
que se formara a sua volta, sentiu seu poder lhe preencher de uma forma
como nunca acontecera. E foi naquele momento que teve uma certeza: nada
poderia derrotá-la, afinal, seu amor por aquilo que acreditava era maior do
que a vontade de qualquer um em lhe arrancar daquele mundo.

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Sete
Mar de Areia

Dylan assistia àquele episódio com angústia. Sheron parecia lutar com algum
ser que a estivesse impedindo de sobreviver, mas era totalmente o contrário.
– Mantenha-se concentrada – instruía Elyanor, fitando a batalha de
elementos que surgia em alto-mar.
Volveu para Poliana, que mantinha os braços esticados à frente, os olhos
tornando-se brancos à medida que seu poder a tomava por completo.
Sussurrava palavras que não compreendia, porém, sabia se tratar de um
idioma mais antigo do que a própria terra pela qual caminhavam. Era o
idioma dos deuses. Onde ela aprendeu a falar dessa maneira? Decidiu deixar
a ideia de lado e se voltou para o mar, onde um funil de ar tentava retirar
Sheron daquele lugar.
Quando sentira falta da irmã, decidiu procurá-la. Precisava de sua
companhia, mesmo que em silêncio, no entanto, não a encontrara em lugar
algum. Foi quando decidiu utilizar sua habilidade terrestre. Ela não estava
próxima dele, no entanto, o caminho que usara estava marcado e brilhava em
sua mente. Ao encontrá-la mergulhando no mar, percebeu que não poderia
tirá-la de lá sozinho. Correu de encontro a Elyanor, contando-lhe o que havia
acontecido e, este, por sua vez, pediu ajuda a Poliana, que não pareceu muito
feliz. No fim aceitou ajudar.
E agora ali estavam, mais batalhando do que se ajudando. Sheron
resistia, usando o funil de água formado pelo vento como forma de se
defender. Ele não conseguia ver, mas era provável que os olhos dela
estivessem tão absortos quanto os da elementar do ar.
– Eu não sei quanto tempo mais resistirei – sussurrou Poliana. Gotas de
suor pipocavam seu rosto.
– Concentre-se – falou seu pai, pondo a mão em suas costas.
Dylan percebeu que a aura do homem estava se expandindo, como forma
de aumentar a de sua irmã. Sabia que ele possuía algo bem maior que
sabedoria, tinha a capacidade de compreender e analisar o que seria bom e

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ruim. Além de possuir o poder de controlar a intensidade com que suas auras
se manifestavam. Então por que ele não conseguiu controlar a de Sheldon,
quando quase nos carbonizou?
– Sheron está se unindo à água como nunca fez antes – continuou
Elyanor. – Acha que alguém está tentando matá-la, quando na verdade
estamos tentando salvá-la.
– Então por que simplesmente não a deixamos livre? – indagou Poliana.
– O poder dela é muito instável, assim como o fogo de Sheldon. Se não a
pararmos, as consequências serão grandes.
– Que tipo de consequências? – quis saber Dylan.
– A nossa morte – concluiu seu pai.
O elementar da terra engoliu em seco. Queria fazer alguma coisa, porém
seu elemento não poderia ajudar muito naquele momento. Exceto se...
– Pai, eu preciso de um apoio – pediu.
Elyanor o fitou curioso.
– O que pretende fazer?
– Tenho uma ideia, mas acho que não sou capaz de realizá-la sozinho.
O homem o olhou por um momento, voltando-se em seguida para
Poliana, que mantinha o ar em constante movimento.
– Não posso apoiar os dois ao mesmo tempo.
Mordeu o lábio inferior. Não poderia deixar que Sheron se
descontrolasse daquela maneira. Sem mais delongas, puxou o capuz de sua
manta escura para trás, abaixou-se e tocou o chão de areia. Instantaneamente
sentiu várias pessoas se aproximando da praia, curiosos com que estava
acontecendo no mar e no céu. Sentiu os animais terrestres que corriam pelas
matas e os pequeninos que se escondiam sob a terra. Conseguia tocar cada
planta, cada árvore, cada grão de areia com sua mente. Pela primeira vez ele
estava tão ligado à ilha que se sentia parte integral dela.
Fechou os olhos, respirando profundamente. O poder correndo em suas
veias como o sangue. Seus dedos se enterraram e seus olhos se abriram,
vidrados, a cor castanha tomando sua pupila lentamente, como raízes
crescendo na direção do centro do mundo. No momento seguinte a areia sob
suas mãos se retorceu, cercando por inteiro seu antebraço como uma luva.
Ergueu-se lentamente.
Vislumbrou a força do mar, que ia e vinha com intensidade, controlados
pela vontade de Sheron.
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Sheron. Não podia esquecer que o que estava fazendo era por ela. Não se
deixaria descontrolar, mesmo com o emocional destruído pela recente morte
de sua mãe. Era o elementar da razão, e devia usá-la para se manter nos eixos,
sensato.
Tendo em mente tudo isso, ergueu as mãos sobre a cabeça em um gesto
abrupto. O solo arenoso sob a água salgada se moveu e jorrou para o alto. Um
mar de areia se uniu a água, transformando-se em lama – a junção inicial que
compôs os corpos. Ainda concentrado, fez a terra se espalhar pela água,
tornando-a pesada. Com um movimento de mão, à sua vontade, a areia
envolveu as pernas de Sheron e a lançaram para frente. O turbilhão de água
tentou impedi-lo, mas nutriu seu poder com o da ilha, tornando-o mais forte
naquele momento. A elementar da água foi arrastada e, por fim, lançada no
ar.
– Poliana! – ouviu Elyanor exclamar.
O ar em volta de Sheron parou de se movimentar por um momento, e
então desmaiou. Em seguida o vento assoviou, envolvendo-a em uma manta
invisível, levando-a até a praia.
Dylan baixou as mãos, fazendo a areia se dissolver junto da água do mar,
que se acalmava gradativamente. A terra em seus braços se desprendeu,
escorrendo de volta ao chão. Levou uma das mãos à cabeça e cambaleou,
quase perdendo os sentidos. Nunca usara tanto de seu poder. Entretanto, fora
uma das sensações mais sublimes que poderia experimentar.
Volveu para Poliana, que estava sentada, respirando profundamente.
Parecia cansada, mas estava bem. Ela usara uma quantia quase absurda de sua
habilidade, algo que também não estava acostumada.
Elyanor, mais a frente, tocava a testa de Sheron, tentando compreender o
que a levara àquele ponto extremo.
– Como ela está? – inquiriu o elementar da terra.
– Ficará bem – respondeu o pai. – Agora ela precisa de repouso.
– E nós também – replicou Poliana.
O homem assentiu. Tomou Sheron no colo e abriu caminho entre os
curiosos que se faziam presentes, embasbacados.
– Poliana?
Dylan ergueu os olhos, avistando Sheldon se aproximar da moça. Por
onde ele esteve?
– Podemos conversar?
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– Claro – respondeu ela, pondo-se de pé.


O elementar do fogo deu-lhe o braço para que pudesse se apoiar,
enquanto se afastavam pela beira-mar.
Semicerrando os olhos, Dylan tentava encontrar uma solução para o
sumiço do irmão e, além do mais, por que chamara somente Poliana.
Chacoalhou a cabeça, tentando deixar os pensamentos de lado. Não deve ser
nada demais. Enquanto seguia para o Condado da Terra, todavia, sentia que
não só o solo que seus pés tocavam estava estranho, como tinha noção de que
o causador daquilo tudo era ninguém além de Sheldon.

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Oito
Vento Sombrio

Exausta após ter batalhado com Sheron – o que não a deixava triste, porém
ainda mais animada –, seguia com Sheldon pela praia do lado norte da ilha,
no Condado do Fogo.
Seus pensamentos corriam em tantas direções que nem mesmo ela sabia
quais seguir. Apesar do êxtase que seus poderes lhe proporcionaram naquela
tarde, o espirito dançando em seu corpo, ela estava deprimida pela morte de
Jeíne. Ao mesmo tempo em que estava com raiva da elementar da água por
não salvá-la. Se ela tem o dom de curar, por que não usá-lo?
– No que está pensando, Poliana? – Sheldon perguntou.
Suspirou.
– São tantas coisas! Mamãe, Sheron, meus poderes... Minha cabeça está
confusa.
Ele concordou.
– Mas pense, você é a elementar do ar, deveria saber como manter a
mente em estado são.
– Meu elemento purifica a alma, não minha cabeça.
– Hm, verdade.
– Às vezes penso que posso ser tão inconstante quanto Sheron, o que me
irrita.
– E por que você acha isso?
– Veja bem, em qualquer momento o ar pode mudar de direção, tornar-se
fraco ou forte. É ele que nos mantém vivos, mas sua falta pode nos matar. Ele
é inconstante, como a água, e até como o fogo, e isso acaba me afetando.
Sheldon parou, sentando-se na areia fofa, olhando o mar.
– Sabe, o fogo só se torna perigoso quando eu quero, pelo menos para
mim.
– Não foi o que vimos certa vez.
Ele sorriu, o que o deixou mais bonito. Droga!
– Ah, sim, verdade. Mas eu, assim como você e os outros, estava

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treinando, não sabia lidar com minhas habilidades. Mas agora é diferente.
Você mesmo pôde sentir hoje.
Ela assentiu. Aquilo era verdade.
– Somos adultos, Poliana, temos controle sobre aquilo que nos forma.
Somos os próprios elementos da Natureza. Independente do que Elyanor
possa dizer, já somos Soldados. E a cada dia, quanto mais usarmos nossas
habilidades, mais fortes ficaremos. Imagine as possibilidades que teríamos se
saíssemos desta ilha!
Desta prisão – completou mentalmente.
– Aonde quer chegar?
– Quero conhecer outras terras, desbravar os mares. E quero que você vá
comigo.
Ela arqueou uma sobrancelha.
– Por que eu? Que eu saiba você e Sheron são mais unidos do que nós
dois.
– Isso é verdade, eu concordo. Mas nossos ideais são totalmente
contrários. Ela não quer poder, sente-se confortável onde está. Ela não almeja
governar, prefere ser governada.
– Mas também não sinto a necessidade de liderar qualquer lugar, apenas
quero voar como um pássaro, sentir a mesma liberdade.
– E isso já é mais que suficiente para tê-la como minha companheira.
Deixou a ideia atravessar todos os outros pensamentos, tomando toda sua
mente. Não seria uma má ideia, no fim das contas.
– E então, o que você me diz? – pressionou o elementar.
– Eu não sei ainda. Acho que é muito cedo para uma resposta concreta.
– Você precisa me dizer, Poliana, o quanto antes! A ínsula já não é mais
a mesma. Algo de errado está nos cercando e precisamos sobreviver.
– Você quis dizer fugir, certo?
Balança a cabeça, negando.
– Como poderemos viver e governar se estivermos mortos?
– Como assim mortos? – espantou-se.
– Tive uma visão do que acontecerá.
Ela semicerrou os olhos, analisando-o.
– E desde quando você tem premonições?
Será possível ele ter herdado o poder de nossa mãe?
– Não foi uma premonição. Um espírito veio até mim.
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– Que espírito?
– Não sei seu nome, mas me prometeu coisas que aqui eu não alcançaria.
Além do mais, avisou-me que precisava de uma coisa emprestada. Algo que
nos deu a vida.
– Que coisa, Sheldon?
– A Espada Elemental.
Poliana ergueu-se em um salto. Se sua mente já estava bagunçada antes,
agora girava igual o tornado que criara para salvar Sheron. Será que ele está
ficando louco?
– Sheldon, você sabe o que acontecerá se tirar a Espada de seu pedestal.
– Escute-me – disse, levantando –, o espírito não a quer para sempre, é
apenas para salvar alguém… ou algo.
– Você sequer sabe do que se trata, não é mesmo? Como poderia ajudar
alguém assim?
– O mundo não morrerá em questão de horas, tempo mais que suficiente
para os planos dele. Sofreremos com algumas mudanças no clima, mas nada
que nos mate. Entretanto não posso dizer o mesmo da ilha.
Ela o fitou cética.
– Você está sacrificando seu lar para alcançar aquilo que deseja?
– É o preço a se pagar.
– Só pode estar louco!
Ele riu, o que lhe pareceu um tanto mau.
– Ora, Poliana, não era você que estava até pouco querendo escapar
daqui?
– Sim, mas...
– Então não ouse me chamar de louco.
– Posso até sair da ilha, mas não destruirei meu lar para fazer o que
quero.
Sheldon balançou a cabeça, cabisbaixo, mas sorridente.
– Quem sabe você ainda mude de ideia, não é mesmo? – Começou a se
afastar. – Bem, nos vemos por aí – e seguiu para o Condado.
Poliana caminhou lentamente, seguindo para o Templo dos Mundos. A
ideia de se ver livre não a deixara. Estava muito curiosa para o que poderia
existir lá fora. Todavia, não pensava que isso valeria o sacrifício da ínsula.
Suspirando, ponderou sobre o vento sombrio que ouvira no dia em que a
primeira embarcação chegara. Nunca contara a ninguém, mas a mensagem
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era clara: as coisas começariam a desandar.


Cansada, por fim, resolveu que falaria com quem era o mais sensato
entre todos eles: o próprio Elyanor.

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Nove
Faísca da Destruição

A última coisa que ele queria era conversar com alguém, no entanto, ao
encontrar os irmãos Cahin e Nahin, donos da primeira embarcação a chegar
em Elementar, não resistiu ao impulso.
– Cahim, Nahim? – chamou-os.
Os irmãos, que estavam enrolando cordas para levá-las até o navio,
voltaram-se para ele, sorrindo.
– Olá, Sheldon, como está? – cumprimentou Cahim.
– Muito bem, obrigado.
– Há um bom tempo não nos víamos – comentou Nahim –, aconteceu
alguma coisa?
O elementar negou.
– Gostaria apenas de saber algumas coisas sobre as viagens de vocês.
Os irmãos se entreolharam, interessados.
– Ah, fique a vontade para perguntar – falou Cahim, seus olhos verdes
brilhando.
Sheldon sorriu e sentou-se em um banco deixado de lado, perto dos dois
viajantes.
– Gostaria que me contassem como é lá fora, em outras terras, já que
vieram de lá. Como chegaram até nós?
– Nós crescemos em uma família de pescadores. Desde cedo começamos
a criar formas de chegar mais perto de peixes, sabe – começou Nahim. –
Construímos pequenas embarcações no começo, e quando adultos, nosso
primeiro barco de verdade, o Luar.
– Depois disso fomos desbravar os mares – continuou Cahim, animado. –
Conhecemos muitas famílias por onde passávamos. Fizemos trocas e mais
trocas, não juntamos riquezas materiais, mas riquezas de vida, experiências
que jamais nos poderão ser tiradas.
– Em uma dessas nossas viagens, acabamos encontrando a ilha. Não nos
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aproximamos, mas algo dizia que aqui poderíamos ter uma vida muito
melhor, como se a aura deste lugar nos chamasse.
– Então retornamos para casa, pegamos nossa família, amigos, e
partimos para Elementar. Quando chegamos aqui e fomos bem recebidos por
você e seus irmãos, percebemos que realmente aqui era o lugar certo a se
viver. Aqui é um paraíso!
Sheldon sorriu com a menção paradisíaca de Cahim. Um paraíso que
está sendo corroído.
– Sei que vocês viajam constantemente, tanto para trazer novos
mantimentos e criações humanas, quanto para regar nossa ilha de pessoas que
buscam uma vida melhor. E gostaria de saber quando pretendem fazer uma
nova viagem.
– Pretendemos sair em dois dias – respondeu Nahim. – Vamos às terras
do outro lado, como chamamos – sorriu. – Ficamos sabendo que o comércio
de lá é intenso.
Assentiu.
– Ótimo! Então abram mais um espaço, pois irei com vocês.
Os irmãos arquearam as sobrancelhas ao mesmo tempo, surpresos.
– Você está aqui há centenas de anos. Tem certeza que quer isso? –
inquiriu Cahim.
– Tenho mais do que certeza. Será bom para mim, e para vocês também.
– Subjetivamente, seu tom de voz demonstrava aviso.
Eles anuíram.
– Bem, então no dia que partirmos lhe avisaremos – concluiu Nahim.
– Obrigado!
Com isso, Sheldon se pôs de pé e seguiu para sua casa no Condado do
Fogo. Assim que entrou começou a rir. Seu plano estava indo perfeitamente.
Só precisaria fazer mais uma coisa: fazer com que Poliana o seguisse.

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Dez
Parede de Gelo

Sua mente estava mergulhada em escuridão. Mas a sensação não era ruim,
pelo contrário, era reconfortante. Não havia pensamentos, não havia
emoções. Nada. O vazio transbordava como um copo cheio de água.
– Sheron...
Uma voz a chamou, tentando trazê-la de volta. Porém, não queria sair
daquela tranquilidade.
– Sheron, acorde...
Não – foi o único pensamento a surgir.
Gradativamente, sentiu-se como se estivesse boiando em águas calmas,
sendo levada pela fraca correnteza. Não queria sair dali, contudo, em seu
âmago, sabia que deveria. Antes de enfrentar a realidade, no entanto, usou a
água que lhe cercava, cobrindo-se de gelo. Não seria seu próprio eu a sair,
mas alguém mais sensata e pronta para enfrentar o que fosse. Sua mente
gritava, mas a parede de gelo a calou.
Assim que abriu os olhos, acostumando-se aos poucos com a luz do
entardecer, sentiu seu coração se contrair no peito. A mente trabalhava
afinco, mantendo-a lúcida e sensata.
– Tudo bem? – Era Dylan quem perguntava.
Olhou em seus olhos, assentindo.
– Querida, o que houve?
Voltou-se para o dono da segunda voz, encontrando Elyanor do outro
lado da cama em que fora depositada.
– Eu achei que alguém estava tentando me matar.
– Por quê?
Ela deu de ombros.
– Estou sentindo a dor de perder Jeíne, quando eu poderia tê-la ajudado.
Esconder-me no mar fora a primeira coisa que me tomou, como uma forma
de escapar da dor.
O pai consentiu, preocupado.

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– Você poderia ter nos matado, Sheron.


Fechou os olhos, suspirando. Ainda conseguia sentir o poder lhe
tomando, como a maré subindo, seu corpo se unindo ao mar como nunca
acontecera. Fora uma sensação tão grandiosa e ao mesmo tempo tão difícil
descrever!
– Não sabia o que estava acontecendo, apenas me deixei levar.
O homem tocou sua testa, deixando o ar escapar.
– Teremos de treinar mais seu autocontrole.
– Eu acho que consigo fazer isso sozinha.
Ele balançou a cabeça.
– Não depois do que vi hoje.
– Pai!
– Sheron, por favor, imagine se você tiver outra crise como essa?
– Eu já comecei a me controlar, se quer saber. – Ela não aceitaria ser
manipulada por outros, nem sequer seu pai.
– Quem sabe seja uma boa ideia – ponderou Dylan.
Não acredito que ele esteja contra mim.
– Se não fosse a união do ar e da terra, não teríamos conseguido te tirar
daquele transe – falou Elyanor. – Não sei como Dylan foi capaz de usar tanto
seus poderes, mas graças a ele e Poliana, com minha ajuda, estamos todos
bem, incluindo você.
Sheron revirou os olhos. Não queria ouvir o quanto era descontrolada, já
sabia por si só. Todavia, tinha certeza que conseguiria se virar sozinha, não
queria mais que seu pai se preocupasse com suas habilidades e emoções. Por
que então tenho medo de lhe dizer isso?
– Bem, deixarei você descansar e pensar um pouco mais – anunciou o
Primeiro Homem, pondo-se de pé. – Você vem, Dylan?
– Se não se importa, eu ficarei mais um pouco – respondeu.
O homem assentiu e se retirou.
Sheron agradeceu a presença do irmão.
– Primeiro, devo dizer o quanto foi incrível ver seus poderes despertarem
com tanta intensidade – comentou o rapaz, dando um sorriso torto.
Oh, céus, ele está sorrindo! – riu por dentro, pois sabia que o elementar
da terra não era dado a esse tipo de coisa.
– Pelo que ouvi papai mencionar, você também conseguiu usar seu poder
ao extremo – ela comentou.
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Consentiu.
– É verdade. Não tinha utilizado tanto da terra como fiz hoje. Foi
exaustivo, confesso, mas foi gratificante.
– Quem sabe já estejamos prontos para nos tornarmos os Soldados
Elementares.
– Quem sabe não, papai me disse que já somos a partir de hoje. A forma
como nossos poderes foram despertos o impressionou, e ele notou uma marca
em cada uma de nossas auras. Estamos prontos, irmã.
Sheron sorriu com a revelação. Afinal, era para aquilo que reinavam há
tantos anos. Os quatro deveriam ser os protetores dos elementos, batalhar
para manter a Natureza purificada e em constante evolução. Finalmente
estavam munidos de toda sua força.
– E as crianças, como estão? – indagou ao se lembrar de seus
irmãozinhos.
– Estão no quarto. Também sentem a falta de Jeíne, mas ficarão bem.
– E o corpo dela?
– Eu o enterrei na floresta, como Elyanor pediu – deixou o ar escapar. –
Foi difícil, sabe, mas pelo menos sua aura estará unida a da ilha.
Sheron manteve-se centrada, não permitindo que sua dor a abalasse. Era
triste saber que não pôde dar um último adeus a ela. Um dia, quem sabe, nos
reencontremos?
Assim que Dylan a deixou sozinha, um bom tempo depois, ela decidiu ir
ao quarto de seus irmãos. Diemon, sendo o mais velho, era o que mais sentia
falta de Jeíne. Porém, Sheron lhe explicou que sua mãe teve de partir para um
lugar onde poderia descansar em paz enquanto os cuidava de longe.
– Queria ela aqui – protestou o pequeno.
– Eu sei, meu amor, mas ela sempre estará. – Seus olhos marejaram. –
Acredite nela, nunca a esqueça, guarde os bons momentos que tiveram em
sua memória, e nunca se esqueça do amor que ela lhe deu em seu coração, e
assim ela nunca o abandonará. Sempre estará com você.
Ele assentiu, secando as lágrimas que insistiam em cair. Tomada por
aquela emoção, Sheron o abraçou. Em sua mente, a parede de gelo se
alargou, impedindo de ser corroída pelo sofrimento.
– E sempre que precisar, meu pequeno, eu estarei aqui – avisou a
Diemon. – Tanto você, quanto nossos outros irmãozinhos.
O menino assentiu.
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– Vocês possuem um futuro glorioso pela frente, e eu farei de tudo para


que o alcancem.

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Onze
Nuvem de Poeira

Dylan abriu os olhos, erguendo-se em seguida. O dia estava nascendo, mas lá


fora o cinza cobria a imensidão sobre o mar. Uma tempestade estava se
aproximando como nunca vira antes.
Pôs seu manto marrom sobre as vestes simples e saiu do casebre em que
morava, no Condado da Terra. Volveu para o céu e não compreendeu como
aquilo era possível. Afinal, a Espada Elemental estava em seu posto, no
Templo, mantendo os elementos em perfeita harmonia. Ou deveria estar...
Com este pensamento em mente, começou a correr. Se sua ideia
estivesse certa... Não, isso deve ser coisa da minha cabeça. Era o que
gostaria de crer.
Desembocou na clareira central da ilha, fitando Shait se contorcer de um
lado para outro, como se algo a incomodasse. A mente de Dylan disparou
imediatamente. Olhou para o alto da construção de pedra, onde deveria estar
a Espada, porém, ao notar que o brilho característico que emanava do local
fora apagado, suas pernas cambalearam. Estava boquiaberto. Não podia crer
que a relíquia dos anjos havia sido roubada. Mas por quem?
– Impressionante como o clima muda sem a Espada. – Virou-se para o
dono daquela voz e deu de cara com um sorriso desdenhoso em seu rosto. –
Surpreso?
Dylan franziu o rosto.
– Por que, Sheldon?
– Digamos que quero mais que isso aqui. – Abriu os braços, indicando a
ínsula. – Eu quero poder. Não quero ser apenas um elementar.
– Somos Soldados, Sheldon, devemos manter o equilíbrio, não quebrá-lo.
– Eu sei, eu sei. Mas será por pouco tempo.
O elementar da terra olhou para a Espada em sua mão direita. A lâmina
reluzia nos tons de um arco-íris, a aura que emanava dela era poderosa.
– Sheldon, por favor, a Espada é poderosa, você sabe disso. O que lhe faz
pensar, no entanto, que ela o tirará daqui?

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– Uma troca – respondeu. – Emprestarei a alguém que precisa usá-la, e


ganharei o poder que sempre quis no exterior. Minha partida já está até
mesmo pronta. Saio hoje mesmo com os irmãos Cahim e Nahim.
Dylan o fuzilou com o olhar.
– Não permitirei que faça isso.
– Então tente me impedir.
Assim que deu um passo a frente, sentiu o calor lhe envolver. No
momento seguinte, seu corpo foi lançado a metros de distância, tirando todo
o ar de seus pulmões. Apoiou-se nos cotovelos, erguendo-se lentamente. Um
sorriso malicioso estampava os lábios de Sheldon, erguendo a Espada em sua
direção.
– Com a Espada posso fazer qualquer coisa, Dylan. Não domino apenas
o fogo, mas o ar, a água e até a terra. – Olhava admirado para a relíquia. –
Sabe, me passou uma ideia maluca agora. Quem sabe, quando eu receber a
Espada novamente, deva ficar com ela. Imagine quanto poder em mãos!
Todos se curvariam diante de mim! – gargalhou.
Tocou o solo com a palma da mão, pressentindo a aproximação de outras
três pessoas. No minuto seguinte ouviu a estrondosa voz de Elyanor ecoar
com firmeza:
– Largue a Espada, Sheldon. Agora!
– Por que não tente tirá-la de mim? – retrucou Sheldon.
O homem deu um passo à frente, mas Dylan foi mais rápido, pondo-se de
pé e o impedindo.
– Não, pai, com a relíquia ele pode fazer qualquer coisa. Até mesmo nos
matar.
– Por que isso? – indagou Sheron.
– Vivi anos demais sendo apenas um homem sem vida, sem a vida que
eu desejo. Cansei de viver por Elyanor e os outros. É a minha vez!
– Você perdeu a razão, Sheldon! – replicou o Primeiro Homem. – Não se
deixe controlar pelas chamas.
– Quem disse que isso é culpa do meu poder? Ele apenas serviu de porta
para novos horizontes!
– Então está na hora de fechá-los – murmurou Elyanor.
Antes que Dylan pudesse sequer raciocinar, o homem deu um passo a
frente, as mãos estendidas na direção de Sheldon, murmurando o idioma dos
deuses. Voltando-se para o irmão, viu-o vidrar os olhos. A mão que segurava
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a Espada abriu, deixando-a cair no chão. Podia sentir o que estava


acontecendo. Elyanor estava bloqueando a aura do elementar do fogo.
– Não! – gritou Sheldon, caindo de joelhos. – Você pode tirar meus
poderes, mas nunca me impedirá de alcançar o que almejo.
– É o que veremos.
O pai fechou os olhos, inspirando profundamente, e, no minuto seguinte,
fechou as mãos em punho. Sheldon, do outro lado, desabou no chão,
desacordado.
– Oh! – A surpresa veio de Poliana. – Ele está...?
– Não – completou Elyanor. – Ele não está morto. Está apenas dormindo.
E dormirá por muito tempo.
– Como você fez isso? – indagou Dylan.
– Bloqueei todo seu corpo junto de sua aura. Só acordará quando eu
desejar ou quando eu morrer.
Foi até o corpo de Sheldon e o jogou sobre os ombros, carregando-o até
o Templo dos Mundos.
– Dylan, por favor, poderia colocar a Espada em seu devido lugar, antes
que a tempestade nos atinja?
Ele assentiu, pegando a relíquia em seguida. Pôde sentir todo o poder que
ela emanava. Era tanto que causava um reboliço em suas emoções. Sua razão
parecia fraquejar, entretanto, conseguia sentir muito mais o local que o
cercava, como se sua conexão com a ínsula fosse muito maior.
Suspirou, e a carregou pelos longos degraus da pirâmide escalonada, o
Templo. Chegando ao topo, deslizou-a pela brecha do altar feito para a
Espada, engatando suas garras. No momento seguinte a lâmina passou a
lançar um brilho dourado e, lentamente, a tempestade começou a se afastar e
se desfazer em alto-mar.
Enquanto Dylan descia a longa escadaria para se juntar a Sheron e
Poliana, perguntava-se o que dera na cabeça de Sheldon para fazer tal coisa.
Porém, olhando para a elementar do ar lá embaixo, tinha a vaga sensação de
que ela sabia de alguma coisa.

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Doze
Atmosfera Mortal

Poliana olhava para o corpo de Sheldon com pesar. Sabia que o estado em
que ele se encontrava naquele momento era por sua culpa. Porém, entendia
que aquilo seria o melhor para todos.
– Você fez certo, irmã – comentou Sheron, tocando seu ombro.
Ela assentiu.
– Já não bastasse eu fora de controle...
– Mas seu caso é diferente. – A elementar do ar fitou a outra um
momento. – Ele me disse que um espírito viera falar com ele. Talvez tenha
sido iludido de uma forma que nem tenha percebido.
Sheron assentiu tristonha.
– Não lamente por isso, tudo bem? Ele ficará bem, está apenas dormindo.
Lembre-se, somos imortais.
Consentiu. Em seguida, sem dizer mais nada, retirou-se para a clareira.
Sentou-se na grama baixa, fitando o céu. Ah, o céu. Um lugar que poderia lhe
dar tantas possibilidades. No entanto, naquele momento, ela estava com medo
do que mais o ar que o formava poderia lhe trazer.
– O que você está dizendo? – lembrou-se Elyanor lhe perguntar.
– Que Sheldon está tramando alguma coisa muito, muito ruim.
– Tipo?
– Pegar a Espada Elemental e entregar a um espírito.
– Você tem certeza? – espantara-se.
Poliana assentira.
– Sinto a atmosfera pesada, pai, como eu nunca senti antes. O vento já
me trouxe presságios sombrios antes, mas agora… A atmosfera é mortal.
– Sim, sim, eu lhe entendo. Se ele fizer mesmo o que você está dizendo,
todos nós poderemos morrer.
Ela baixara a cabeça, pensativa. Sei que falar com ele é a coisa mais
sensata a se fazer.
– E o que você pretende fazer?

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Elyanor a analisou um pouco antes de responder:


– Ficar em alerta. Se Sheldon agir, eu terei que agir de forma ainda pior.
Suspirou. Abriu os olhos, vendo Shait se tornar invisível enquanto se
contorcia próximo a uma árvore.
Ergueu-se lentamente e começou a caminhar, sem rumo. Antes que
percebesse estava próximo ao Condado do Fogo. Deu de ombros e continuou
em frente. De alguma forma, ela sabia, ali se concentrava o poder do
elementar do fogo, assim como o seu se concentrava no Condado do Ar.
Elyanor foi inteligente ao separar a ilha por Condados onde nossos poderes
se tornam mais intensos.
– Poliana, oi!
Virou-se para o dono da voz, dando de cara com o navegante.
– Oi, Cahim.
– Onde está Sheldon?
O que dizer?
– Ele está… dormindo.
Olhou-a, curioso.
– Dormindo? Mas achei que ele iria comigo e meu irmão.
Ela arqueou uma sobrancelha.
– Ir aonde?
– Viajar. Sheldon quer conhecer outras terras e pediu para Nahim e a
mim se poderia ir conosco.
Foi por isso que ele tentou me ludibriar ontem mais uma vez; queria que
eu o seguisse.
– Infelizmente ele não está disposto. Está doente, por isso dormindo –
mentiu.
Ele pareceu surpreso.
– Achei que vocês eram imortais.
– Não é porque somos imortais que também não pegamos doença.
Cahim assentiu, sem jeito.
– Bem, desculpe – suspirou. – Avise-o, quando estiver melhor, que em
uma próxima ele vai com nós. Infelizmente precisamos partir imediatamente.
Traremos novos mantimentos e o Luar precisa de alguns reparos que aqui
não conseguimos.
Ela assentiu.
– Tudo bem, Cahim, boa viagem para vocês.
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– Obrigado – respondeu, fazendo uma mesura. – Espero que nos vejamos


em breve.
– Eu também.
– Ah, só mais uma coisa, se me permite – voltou a ela. Quando assentiu,
ele continuou: – Sheldon Brand, Sheron MacWyes, Dylan Dunlok e Poliana
Winster.
Arqueou uma sobrancelha, sem compreender.
– Sei que não tenho nada a ver com isso, mas acho interessante que
vocês tenham um segundo nome, ainda mais que temos crianças nascendo na
ilha e os pais estão lhes homenageando, colocando seus nomes.
Homenageando os Soldados? Aquela era nova para ela. Entretanto,
gostara da preocupação e da criatividade de Cahim e resolveu que passaria
aos seus irmãos.
Por fim, ele se despediu mais uma vez. Porém, enquanto se afastava
gradativamente, Poliana podia sentir seu espírito diferente. Uma brisa a fez
estremecer sob sua visão, tomando-a em um arrepio. Imediatamente olhou
para o alto, fitando o par de luas prateadas semiapagadas no firmamento. Ela
sabia, de alguma forma, que nem Cahim nem Nahim voltariam daquela
expedição.
Nunca mais.

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Treze
Calor
20 anos depois

Olhou para o horizonte, permitindo que os raios do sol o envolvessem como


um abraço quente e afagoso. Estava em paz, pela primeira vez. Não havia
ninguém para lhe perturbar, muito menos Elyanor. Estava cansado dele. Mas
ali, sozinho sobre um altar em meio ao Condado do Fogo, nada poderia lhe
chatear, muito menos fazer-lhe mal.
– Como você se sente?
– Livre – respondeu à voz que vinha do seu lado direito.
– E você sabe que pode alcançar muito mais.
– Sei. E quero.
Voltou-se ao homem pálido, vestido de uma manta negra que lhe
chegava aos pés. O que parecia ser um par de asas negras sustentava-se em
suas costas. Não era apenas um espírito, era um anjo.
– Um serafim caído, para ser mais exato – respondeu à sua conclusão
mental.
– Por que você quer a Espada, afinal?
– Meu mestre tem um propósito. Ele te inclui nele.
– Por que eu?
– Porque a Natureza te concedeu um dom que pode finalizar este jogo.
Jogo?
– Sim, meu caro. Estamos em um tabuleiro chamado vida. Você não
entenderia agora, mas seu poder poderá ajudar no futuro.
– Futuro... O que esperar dele?
– Muitas surpresas. Acredite. Entretanto – tocou seu ombro, o que lhe
transferiu um arrepio pela coluna –, você precisa se tornar não apenas um
peão, mas o rei. Precisa governar e ser governado por suas próprias
chamas. Torne em cinzas aquilo que não te agrada.
Ele assentiu, sentindo o calor subir, tomar sua espinha e se espalhar
pelos membros.
– O que eu preciso fazer?

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– Quando você acordar deste sonho, muita coisa terá acontecido em sua
terra. Por exemplo, agora te chamam de Sheldon Brand.
– Sheldon Brand?
– Ideia de um tal Cahim, que não retornou de sua última expedição,
juntamente com seu irmão Nahim. – Deu de ombros. – Mas enfim, o que
importa é que seu objetivo será o mesmo: roube a Espada para nosso senhor.
– Mas e se Elyanor me por para dormir novamente?
– Não se preocupe com isso, meu rapaz.
– Mas Trevys...
O serafim caído levou um dedo aos lábios, pedindo para que ficasse em
silêncio.
– Apenas faça o que eu estou lhe falando e tudo sairá como o planejado.
Anuiu, empolgado.
– Quando você acordar, o que acontecerá com minha ajuda – o serafim
continuou –, haverá uma espada ao lado de sua cama. Pegue-a e a use em
quem ousar ficar na sua frente.
Sheldon concordou. O calor tomava todo seu corpo, a sensação era
libertadora, poderosa.
– E Poliana?
– Ela ainda está em nossos planos. Entretanto, para isso, você terá que
fazer algo. Só poderei trazê-la para nosso lado se você matá-la.
Arregalou os olhos, surpreso. Contudo, inspirou profundamente. Estava
na hora de dar um fim àquela história. Sabia que naquele jogo tudo era
válido e que o poder era sua maior conquista – e recompensa.

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Quatorze
Vaporização

Enquanto seguia com seus irmãos para o Templo dos Mundos, Sheron sentia
as lágrimas escorrerem. Aquele era o momento que tanto esperavam e,
sabiam, que mudaria suas vidas e daria um destino a futura Onyx.
– Estão nervosos? – indagou.
– Talvez um pouco – respondeu Diemon, esfregando as mãos.
– Eu estou ansiosa – comentou Jadyon, empolgada.
– Vocês serão ótimos, sei disso.
Seus irmãos assentiram sorridentes.
Assim que passaram pelo hall de entrada e seguiram o corredor que os
levariam até o salão que era cruzado pelo rio Styx – uma massa de água
mística que interligava os mundos a partir do Criador, uma estrela pulsante
que irradiava poder, segundo Jeíne –, Elyanor os recebeu com cumprimentos.
– Hoje, meus filhos, vocês se tornarão gigantes nas terras exteriores. Já
faz vinte e cinco anos desde que o primeiro de vocês nasceu – e olhou para
Diemon. – Hoje receberão a minha benção e serão consagrados com um
presente dos anjos, cada um de vocês.
Os cinco lhe fitaram admirados.
– Por favor, aproximem-se – pediu o homem.
Sheron foi para o lado de Dylan e Poliana, que estavam em um canto
afastado do salão.
Diemon, Crinton, Esméliun, Runni e Jadyon se enfileiraram enquanto
Elyanor fitava um por um nos olhos, tocando suas testas e proferindo
palavras no idioma dos deuses. Um círculo luminescente prateado envolvia
suas cabeças rapidamente e logo se apagava. Enquanto isso, Sheron percebeu,
a água do Styx se contorcia lentamente, como se aprovasse o que estava
acontecendo.
Assim que concluiu, o Primeiro Homem os analisou por um momento e
então fechou os olhos. Sobre o rio, uma intensa luz se fez presente. Um portal
se abriu em meio ao ar e cinco anjos se materializaram.

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Embasbacada, a elementar da água assistia o episódio glorioso com


profunda admiração. Os anjos sorriram para os cinco jovens a sua frente.
Esses, por sua vez, deram um passo em sua direção, os olhos brilhando. Os
seres angelicais esticaram as mãos, ainda em silêncio, e objetos distintos
surgiram reluzentes.
– Estas são as armas imperiais – um dos anjos disse. – Serão as únicas
capazes de deterem os males que tentarão se apoderar de seu mundo. São
feitas de aço-celestial, capazes de destruir anjos e demônios, por isso, usem-
nas com sabedoria.
Diemon esticou a mão e pegou o arco cravejado em diamante; Crinton
pegou um sabre que reluzia a cristais; Esméliun, um escudo coberto por
esmeraldas; Runni, um machado de lâmina dupla banhado em rubis; e
Jadyon, a lança que possuía o brilho de um jade puramente esculpido.
– Vocês serão os Cinco Grandes Imperadores e também os Guardiões
Imperiais – falou um segundo anjo. – Cada um de vocês, além de sua
imortalidade e armas distintas, terão habilidades únicas despertadas. Vocês
deverão servir os deuses e os anjos e, principalmente, seus seguidores. Os
humanos que não convergiram para Elementar precisarão da ajuda de vocês.
– Por isso deverão se espalhar pelo mundo – continuou um terceiro. –
Cada um fundará um Império, irá criar suas fronteiras, unir os povos e se
desenvolver. Vocês serão os pilares de Onyx.
Com isso, os anjos lançaram uma última benção em seus protegidos e,
por fim, desmaterializaram-se. O Styx retornou ao seu movimento normal,
percebeu Sheron, após suspirar com o episódio que presenciou.
– Uma barca já está preparada para levá-los as suas determinadas terras –
concluiu Elyanor, parecendo um tanto pesaroso.
A elementar sabia que ele não era dado a emoções, entretanto, durante
anos criara um vínculo maior do que podia suportar com seus filhos. Não
apenas os cinco que se tornaram os Guardiões, mas também com os quatro
primeiros a nascer, os Soldados.
Soldados. A palavra dançava na mente de Sheron. Ela não se via
exatamente como uma soldada, mas era o que era; uma lutadora para manter
o equilíbrio, manter a harmonia da Natureza. Sem ela e os outros, os
Guardiões Imperiais não teriam um lugar para povoar e liderar. Ela sabia que
era uma das partes que formavam a base para os pilares se manterem de pé.
Com o fim da cerimônia, ela, Poliana e Dylan acompanharam os cinco
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irmãos até o navio ancorado no Condado da Água. Elyanor se recusara a ir,


dizendo-lhes que não seria apropriado e que mereciam um último tempo
juntos.
Na praia, todos se abraçaram e deram adeus, desejando boa viagem e
principalmente sorte. Os cinco embarcaram e lentamente eram levados para o
alto-mar para nunca mais voltar.
As emoções dentro de Sheron fervilhavam, evaporando-a como uma
poça de água em dias quentes. Ela não queria dizer adeus, mas sim um "até
breve". Mas não mandamos no destino, e sim é ele que manda em nós. Com
este pensamento, deixou a praia e seguiu em direção ao Templo dos Mundos,
seguida de perto pelos elementares da terra e do ar.
Todavia, ao chegar lá, a visão que teve jamais sairia de sua mente. De pé,
com uma lâmina transpassando seu peito, Elyanor abraçava Sheldon.

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Quinze
Terremoto

– Não! – Dylan sussurrou. Sua voz falhou, impedindo-o de dizer qualquer


outra coisa em um tom mais alto.
Como? Por quê? – era o que sua mente disparava.
– Sheldon! – o grito foi de Sheron, que começou a correr na direção do
elementar do fogo.
Em um movimento rápido, ele arrancou a lâmina do peito de Elyanor,
banhada em sangue, fazendo-o despencar no chão, e a apontou para a
elementar da água.
– Não ache que não teria coragem de usá-la em você – ameaçou.
Ela estacou no meio do caminho, o rosto vertendo em lágrimas.
– Por que fez isso?
– Preciso concluir a missão que me foi dada há anos e que me foi
impedida. Nossos irmãos podem até ter partido para conquistar e dominar,
mas no fim o poder será meu!
– Você está louco, Sheldon! – Dylan conseguiu exclamar finalmente.
Ele deu uma gargalhada de desdém.
– Você não sabe o que é loucura, meu caro.
Óbvio que não, sou o elemento da razão.
– Sheldon... – murmurou Poliana, fitando-o.
O elementar da terra se voltou para ela, analisando-a rapidamente. Ele
sabia muito bem o que se passava por sua mente em relação a Sheldon, igual
acontecia com Sheron. A relação de irmandade não existia de fato, apesar de
nascerem da mesma mulher. Seus corpos e habilidades os distinguiam da
forma mais evidente que poderia.
– Poliana – chamou Sheldon. – Você ainda possui uma chance.
– Eu...
– Por favor, não, Poliana – pediu Dylan, cauteloso. – Não se una a
Sheldon. Você sabe o que ele quase fez conosco há anos.
Ela assentiu, apesar de sua mente parecer vagar entre as nuvens.

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Sabendo que não poderia fazer nada por ela naquele momento, voltou-se
para Sheron e Sheldon, que se olhavam com fervor. Sentia a aura de calor e
umidade no ar, um atacando o outro indiretamente. Sabia o quanto aquilo era
perigoso. Mas o que poderia fazer para apaziguar a guerra que estava se
formando?
– Não achem que poderão me deter – avisou o Soldado do Fogo, um
sorriso malicioso transbordando seus lábios. – Nada poderá me deter.
– A espada em suas mãos não poderá lhe salvar de tudo – retrucou a
mulher.
– Quem disse que não? Ela foi forjada no Reino dos Mortos por
demônios. Nada sobrevive a ela.
Dylan sentiu o peito doer. Sabia que poderia ser verdade, afinal, nunca
vira o material do qual aquela lâmina fora forjada, da mesma forma que
conseguia sentir a terra sofrer com sua aproximação.
Preciso fazer alguma coisa.
Foi então que tudo aconteceu. Uma língua de fogo envolveu Sheldon em
um círculo, como uma proteção. O céu se tornou denso e escuro, nuvens
negras surgiam de uma leve brisa. Volveu para Poliana e viu que a causadora
era ela. Sua cabeça pendia para trás, os cabelos louros se agitando ao sabor
do vento, os olhos cinzas voltados para o céu, os braços abertos e seu corpo
sendo sustentado a alguns centímetros do solo. Porém, havia algo estranho
naquilo tudo que Dylan não conseguia descobrir o que era.
– Afinal, não precisei matá-la! – comentou Sheldon, acima do barulho do
vento que se formava. – Poliana está tão perdida em pensamentos que foi
fácil ser possuída e ter os poderes controlados.
O quê?! Sheldon estava passando dos limites. Mas como controlar algo
incontrolável?
Nada poderão fazer para deter meu retorno. Uma voz gutural ecoava por
toda a ilha, como se o céu trovejasse, anunciando sua superioridade. A
Espada será minha porta de saída e a ilha, minha moradia. Nada como o
berço da humanidade para me fortalecer.
Dylan não sabia por que, mas sentia que aquela era voz do próprio mal,
das trevas que um dia tentara obstruir o poder da luz, no início dos tempos.
Aquele não era apenas um espírito ou um anjo ou um demônio, era a própria
demonstração de poder do caos.
Um arrepio percorreu seu corpo, tirando-o da existência por um segundo,
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mas suficiente para saber o que fazer. Ele não permitiria que as trevas os
dominassem tão facilmente. Podia ser capaz de controlar Sheldon, mas não
ele.
– Sheron! – chamou, lembrando-se o que Shait lhe transmitira há tantos
anos. Quando a irmã se virou, continuou: – Preciso de uma dose das águas
sagradas.
– Ficou maluco?
– Acho que sim.
A elementar da água se juntou a ele, abraçando-o.
– Você pode morrer!
– É bem provável, mas não permitirei que nos controlem!
Ela assentiu.
– Mas o que você pretende fazer?
Ele deu um sorriso amarelo.
– Desculpe, Sheron.
A mulher engoliu em seco, compreendendo a mensagem. No entanto,
respirou fundo, fechando os olhos, e se concentrou. Podia sentir o rio Styx
borbulhando sob o solo, atravessando o Templo dos Mundos, alastrando-se
para lugares desconhecidos, ramificando-se pelo Universo. Em um ímpeto,
sentiu a água jorrar, fluindo da correnteza, escapando pela entrada da
pirâmide escalonada, guiando-se em sua direção.
Suas vidas serão minhas! Uivou a voz entre as nuvens. Estava cada vez
mais forte, ancorando-se à ínsula através de Sheldon.
Dylan coçou rapidamente a barba por fazer e jogou o capuz da manta
sobre a cabeça.
– Não mesmo! – gritou.
Então se lançou na frente de Sheron, recebendo o choque do Styx. Abriu
sua mente, permitindo que a sabedoria que aquelas águas carregavam lhe
invadisse por cada poro. Esbugalhou os olhos. É tudo tão incrível! Sua mente
viajou rapidamente pela correnteza, ultrapassando estrelas, mundos,
desbravando o conhecimento de eras e eras adormecido. Descobriu o que
acontecera, por que e como Onyx nascera; o que viera com a Espada e se
alocara no que seria cada um dos Impérios construídos por seus irmãos;
porque do interesse das Trevas em retornar através daquele mundo. Seus pés
se enterraram no solo, unindo-o à ilha de uma forma completa, o poder total
percorrendo suas veias. Não haveria volta.
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– O que você está fazendo?! – bradou Sheldon, surpreso, os olhos em


brasa.
Quando Sheron manipulou a água de volta para o interior do Templo, já
exausta por se conectar a uma força que até mesmo ela desconhecia, Dylan
sorriu, os olhos injetados em castanho e rajados de verde. O poder lhe
consumia até a última partícula de seu ser.
Nem mesmo você poderá me deter. A voz ribombava no firmamento.
Olhou para o céu, diretamente para um rosto disforme que se formava
em meio à escuridão.
– Não quero detê-lo. – Voltou-se a olhar na altura de Sheldon, que
parecia apavorado pela primeira vez. – Estou apenas impedindo que nós
sejamos seus servos!
Antes que mais alguém pudesse sequer dar um passo, Dylan esticou os
braços. Sua aura se expandindo ao máximo, unindo-se a energia que
carregava a Ilha Elementar. Sua casa. Seu lar. A fonte de poder do que viria a
ser Onyx. O berço da humanidade. E eu não permitirei que a suguem.
O solo tremeu violentamente, levando Sheron e Sheldon ao chão. O
terremoto se alastrou às profundezas do mar. A sustentação da ínsula se
transformou em pó. A aura do elementar da terra explodiu, levando até
mesmo Poliana ao chão. A água do mar começou a invadir a terra.
– O que você está fazendo?! – repetiu Sheldon, em uma vã tentativa de
se pôr de pé.
– A ilha está afundando – interpolou Sheron. Uma mistura de tristeza e
entendimento banhando sua voz.
– O QUÊ?! NÃO!
O Soldado do Fogo conseguiu se levantar para atacar, mas a terra engoliu
seus pés, enterrando-o até o tornozelo. Gritava e se debatia para libertar-se,
sem sucesso.
– A Natureza e seus elementos não podem ser controlados! – exclamou
Dylan para o céu negro.
Um trovejar ribombou em todas as direções, enquanto o elementar
forçava seus poderes a lhe obedecerem. No minuto seguinte, fez sua aura
explodir mais uma vez em todas as direções, desmanchando as últimas
amarras da ilha, fazendo-a afundar cada vez mais, atingindo também a
escuridão que os cobria.
Podia sentir os moradores dos Condados correrem para tentarem se
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salvar, mas para muitos não havia escapatória. Não estava sacrificando
apenas a si mesmo, mas também todos aqueles que acreditaram que ali era
um lugar paradisíaco. E foi, enquanto viveram ali em constante harmonia.
Pensar nisso o feria, como se um terremoto abalasse seu coração, rachando-o.
Quando abriu os olhos, viu a água do mar partindo árvores ao meio,
chocando-se contra o Templo dos Mundos e se lançando em sua direção.
Poliana foi a primeira a receber o golpe, seguida por Sheldon. Sheron o fitou
uma última vez e agradeceu em silêncio, sendo envolta em seguida por seu
elemento.
Assim que a água o encontrou, sentiu como se uma lâmina atravessasse
não apenas seu corpo, mas sua alma. Arrancando o que um dia fora seu,
capturando sua razão, despedaçando o que já sentira de emoção.
De setecentos em setecentos anos a ilha irá surgir, tomada por seus
Soldados, a mim deverá servir.
Dylan sentiu as palavras vibrarem na terra que ainda se unia a ele,
contaminando-o como uma doença sem cura. Antes de perder a completa
consciência, sabia que impedira o mal de se reerguer, mas por quanto tempo?
Seu sacrifício valeria a pena?
Ele não conseguiu responder antes que sua mente fosse levada a um
mundo de escuridão, envolto pelo nada, criado pelo tudo. Entre a vida e a
morte. Naquele lugar, pelo menos, ele e seus irmãos poderiam descansar em
paz.
Por enquanto.

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Epílogo

Renascimento

Dylan foi o primeiro a acordar. As lembranças lhe assolando em uma


enxurrada. O mesmo aconteceu em seguida com Sheron, Sheldon e Poliana.
No entanto, os dois últimos tomaram caminhos diferentes, distanciando dos
demais, unindo-se a escuridão.
Os elementares, por fim, descobriram que ainda eram os portadores de
seus poderes e que deveriam manter a ordem na Natureza enquanto
estivessem vivos. Entretanto, o poder falou mais alto nas mentes dos
Soldados do Fogo e do Ar, alimentando-os com esperanças perigosas e
doentias. E quando descobriram sobre os portais secretos que Elyanor
mantinha no Templo dos Mundos, a vontade de escapar dali só cresceu.
Porém foram impedidos por Trevys, que falou ao visitá-los:
– Acalmem-se, Soldados. Se vocês saírem, morrerão assim que a Ilha
afundar novamente. Não seria uma ideia agradável. Vocês deverão adormecer
mais uma vez e, somente quando renascerem pela segunda vez, é que
poderão ser úteis para os planos dele.
Os Soldados da Água e da Terra, por outro lado, perguntavam-se se o
que tinha acontecido até então algum dia poderia ser revertido. O mal poderia
ser derrotado? Poderiam ter suas vidas retomadas ao normal? Como dizia
Elyanor: a vida é uma incógnita não resolvida, e naquele momento eles
entendiam o contexto da frase.
Nada na vida acontece por acaso, mas nem sempre as respostas estarão
expostas para serem vistas da maneira mais fácil. Às vezes o destino
proporciona provações pelas quais devemos seguir e encontrar a solução
dos problemas, possuindo a probabilidade disso causar um novo
contratempo. E assim sucessivamente.
As respostas não estavam ali, como Dylan bem sabia, mas assim que a
maldição voltou a assolá-los, levando-os ao fundo do mar novamente, tivera
uma última certeza: eles não renasceriam novamente sem haver um
propósito. Porém o medo do que poderia ocorrer, de novas escolhas serem
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tomadas, o atormentava. Não desejava ter de escolher um lado para


sobreviver, e não o faria. Contudo, não precisava mais pensar naquele
momento.
Ele só não esperava pelo que viria acontecer…

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O Autor

Elton Moraes nasceu em março de 1996, em Santa Catarina. Largou a


faculdade de Comunicação Institucional em Curitiba e se dedica atualmente
aos seus livros. Crônicas de Onyx é a série que lhe abriu as portas para o
mercado editorial, sendo formada por O Guardião Imperial, A Espada
Elemental, O Cavaleiro da Morte e A Relíquia da Vida. Fênix – A morte não
é o fim de tudo é sua obra mais insana, segundo o próprio autor, e deverá
ganhar edição impressa e em e-book pela Amazon a partir do segundo
semestre de 2015.
Saiba mais em: http://elton-moraes.blogspot.com

Obras:
Pesadelo Infernal
Conto de terror publicado na antologia Contos Medonhos, lançada pela
Multifoco Editora em dezembro de 2012.

Do Oitavo Andar à Autópsia


Mayara acaba de se separar de seu namorado. Uma mulher que quer
atenção e busca de todas as formas manter Thiago, seu amado, sob sua vista
amorosa. No entanto, com o fim do relacionamento, só há uma alternativa:
jogar-se do oitavo andar.
Será ela capaz de sacrificar sua vida por causa de uma amor mal
correspondido?
Conto baseado na música de Clarice Falcão.
http://goo.gl/tvusxx

O Último de Nós
O Último de Nós é um conto sobre o começo de um fim. O protagonista e
narrador é Clon Lion, o último sobrevivente do planeta Terra após catástrofes
naturais e criadas pelo próprio Homem. Perguntando-se como tudo
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aconteceu, busca por respostas na maior corporação do mundo: Rubro Net.


Seu destino, Europa.
Diante de memórias perdidas, Clon terá revelações sobre o seu passado
que o levarão a um arrebatador xeque-mate.
http://goo.gl/SgjEEd

Fênix – A morte não é o fim de tudo


Um pacto. Esse foi o estopim para que a vida de quatro jovens mudasse
radicalmente. Os quatro amigos fizeram um juramento de sangue e agora
forças ocultas os perseguirão até que chegue o fim de suas vidas.
Porém, ainda há uma saída: devem seguir a luz e encontrar um homem
que se diz mago. Mas para que cheguem até ele, precisarão enfrentar dúvidas,
perdas e a própria morte.
Uma história diferente, recheada de mistério, dor e amor, com um final
inesperado.
Livro publicado exclusivamente no site Wattpad.
http://Fb.com/LivroFenix

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Nota do Autor
Prólogo Nascimento
Um Coração de Fogo
Dois Sentimentos de Água
Três Mente de Terra
Quatro Espírito de Ar
Cinco Estrada em Chamas
Seis Amor Líquido
Sete Mar de Areia
Oito Vento Sombrio
Nove Faísca da Destruição
Dez Parede de Gelo
Onze Nuvem de Poeira
Doze Atmosfera Mortal
Treze Calor
Quatorze Vaporização
Quinze Terremoto
Epílogo Renascimento
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