Introdução Histórica Ao Direito Direito Romano
Introdução Histórica Ao Direito Direito Romano
Introdução Histórica Ao Direito Direito Romano
Se o pai, em vida, quer dar alguma coisa à sua filha quando do seu casamento, que lhe
dê conforme o que foi escrito, mas não mais.
Se um homem ou uma mulher morrerem, deixando filhos, netos· ou bisnetos, que estes
herdem os bens.
Se aquele que comprou um escravo no mercado não resolveu a compra nos sessenta dias
(seguintes), e se (o escravo) cawou algum prejuízo antes ou (o cawa) posteriormente, a acção
em tribunal será dirigida contra o detentor (do escravo).
E. - O DIREITO ROMANO
A evolução ascendente do direito romano é mais tardia que a do direito egípcio e a do
direito grego; Roma estava ainda no estádio ciânico na ·época em que, no Egipto e na
Grécia, o direito já tinha atingido uma forma individualista (séculos VI e V a.C.); não
atingirá esta senão no decurso dos séculos II e 1 antes da nossa era 122 l.
A história do direito romano é uma história de 22 séculos, do século VII a.C. até ao
século VI d.C., no tempo de Justiniano, depois prolongada até ao século XV no império
bizantino. No Ocidente, a ciência jurídica romana conheceu um renascimento a partir do
'século XII; a sua influência permanece considerável sobre todos os sistemas romanistas de
direito, mesmo nos nossos dias.
Foi sobretudo o direito privado romano que atingiu um nível muito elevado e que
exerceu uma influência duradoura sobre o direito da Europa medieval e moderna. Pouco
será referido no breve reswno que se segue, ficando a terceira parte deste livro consagrada à
história dum certo número de instituições de direito privado; quase cada capítulo começa
por uma breve exposição da evolução da instituição na história do direito romano. Nas
páginas que se seguem, outros dois aspectos do direito romano serão esboçados: o direito
público, através duma análise das formas sucessivas de governo, e as fontes do direito.
1. Introdução histórica
Roma, cuja fundação teria tido lugar, segundo a lenda, em 75 3 a. C., não era senão
um pequeno centro rural no século VIII a.C.. Dez séculos mais tarde, nos séculos II e III da
nossa era, Roma é o centro dum vasto império que se estende da Inglaterra, da Gália e da
Ibéria à África e ao Próximo Oriente até aos confins do império persa.
(22) Bibliografia enorme; basca remeter para crês excelentes obni.s recences e para as ttferências publicadas na nossa
Introdução bibliográfica: R. VILLERS, RfJ111l e/ /e d•nit pt'ivé, Paris 1977, col. L'E110/11tion dt l'h11manilé;]. GAUDEMET, /n1titu1ion1 dt
/'Antiquiti, op. cit., Paris 1967, • ú droit /willi r&main, Paris 1974, col. U 2; P. STEIN, •Roman Law: Sources•; TH. LJEBMAN-
·FRANCFORT, •Droic romain: droic public•;). H. MICHEL. ·Droir romain: droic privé•;]. A. C. THOMAS •Roman I.aw:
Criminal Law•, inJ. GILJSSEN (ed.), lntrod. Bib/iog•., A/9, A/10, A/li• A/12, Bnixdas 1965-1972; A. D'ORS, Derecho .amano,
Pamplona 1973; SEBASTIÃO CRUZ, Di,..ita.omano, /. FonteJ, Coimbra 1984.
81
a) A Realeza
Na época das origens de Roma, nos séculos VIII e VII, populi usando uma língua
comum, o latim, tinham-se instalado a Este e ao Sul do Tibre. Populações de pastores, de
meios muito limitados, ocupando-se pouco da agricultura, viviam em vici (aldeias), muitas
vezes nas alturas, lugares de refúgio (oppida), dispondo dum território circundante (jlagus).
Estas aldeias são ocupadas por grandes famílias patriarcais agrupadas em gentes. Algumas
vezes, alguns bandos de pastores-predadores tomavam um chefe comum, um rex, que se
tivesse imposto antes de tudo pela sua habilidade ou a sua força.
Tal era o caso das populações vivendo nas colinas arborizadas que formavam o local
da futura Roma. Os chefes de família, os patres, reúnem-se aí e formam o que mais tarde se
chama o Senac!o- Ürexé;-p-;;~~.-~~~p~~ ~j~~;~~~r~~gei;Õq~é"lhes é imposto; a realeza não é
herédicá~i-~ ..Ó ~andidato proposto pelo Senado exercendo o interregnum, depois da consulta
dos deuses pela tomada de auspícios, não acede ao poder supremo senão com o concurso de
forças religiosas, políticas e populares. O rei dirige (regere) os seus súbditos; é antes de tudo
um chefe, dispondo do poder de comando; tem também funções religiosas, mas a realeza
romana é laica; não diz o direito (ius dicere), mas dá, talvez sob uma inspiração divina,
<<soluções de direito~;-(i~s.~re): · · .
- ·cérca de 5 7 5 a. C., os Etruscos ocupam Roma por quase um século; os reis romanos
são então de origem etrusca. A Etrúria foi, nesta época, a potência política e económica
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mais importante da Itália, situada entre o Tibre e o Arno. Mas o seu sistema polhico e
jurídico permanece muito mal conhecido; exerceu todavia uma influência inegável sobre as
instituições romanas nascentes.
b) A República
<23) AcruaJmente, em numerosos países, o ~ermo «magistrado» designa unicamente membros da Jel judiciária que são
chamados a julgar ou a_ requerer a aplicação da lei. Na baixa idade média e nos rempos modernos, o rermo era muiras vezes urili>ado
para designar os administradores da cidade, por exemplo os escabinos.
83
c) O Alto Império
A passagem da República ao Império fez.:.se progressivamente. O progresso
económico, as dificuldades sociais, as vastas conquistas provocaram durante o século I a.C.
uma crise política que tentativas de reformas tentaram remediar. Os Gracos, Sila,
Pompeu, César falharam; -Octávio conseguiu centralizar todos os poderes nas suas mãos,
deixando subsistir as instituições da República; recebeu do Senado o título de Augusto, o
imperium proconsular, o poder tribunício vitalício (27-23 a.C.); foi proclamado imperator,
isto é, general vitorioso; não está vinculado pela lei (/egibus solutio).
A partir daí, o regime político tornou-se o do Império, no qual todos os poderes
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estão concentrados nas mãos do imperador. Este governa e administra o vasto território
com a ajuda de funcionários, por si nomeados e demitidos. As assembleias e magistraturas
caem em decadência; apenas o Senado subsiste, mas a sua composição' depende do
Imperador e as suas p{errogativas são reduzidas; intervém por vezes na confirmação da
escolha dum sucessor, já operada pelo imperador ou pelo exércico, ou mesmo para eleger
um novo (Galha, 68; Nerva, 96); intervém também em matéria legislativa (infra).
O século II a.C. foi o grande século do regime imperial com imperadores cais como
Trajano, Adriano, Marco Aurélio·; fõi também o grande período do direito romano clássico (infra).
Os vastos territórios conquistados pelas armas, da Inglaterra ao Próximo Oriente,
foram progressivamente· romanizados. Mas conservam os seus costumes locais, nuns lados
mais, noutros menos.
O édito de Caracala, de 212, concedeu a cidadania romana a todos os cidadãos que
se encontravam nos limites do Império (texto infra, p. 94) mas o princípio geral é
acompanhado, no documento conservado, duma restrição - os dedicícios - quase
ilegível, cujo alcance é ainda objecco de vivas discussões entre hiscoriadores.
d) O Baixo Império
A crise do século Ili, tanto política e económica, como religiosa, provocou trans-
formações profundas na estrutura política do Império. Depois da anarquia militar,
Diocleciano (284-305) e, sobretudo, Constantino (306-337) reorganizam o Império e a
sua administração.
O imperador já não é umprinceps, o primeiro dos cidadãos, mas um senhor, o dominus
do Império; ao principado sucede-se o dominado. O seu poder é absoluto; é divinizado;
encarna a res publica,· dispõe de todos os poderes, sem outro controlo senão o dos seus
conselheiros; legisla só.
Constantino reconheceu oficialmente a religião cristã, nomeadamente pelo édito de
Milão (313). A Igreja organiza-se a partir daí no quadro político e administrativo do
Império Romano (cf. infra, direito canónico, p. 133 ss. ).
Constantino fundou também uma nova capital, Constantinopla, sobre o lugar da
antiga Bizâncio. O Império Romano divide-se a partir daí em dois impérios, o do
Ocidente, que se afundará no século V, e o do Oriente que sobreviveu até ao século XV.
Justiniano (527-565) foi o último imperador do Baixo Império; foi o primeiro dos
imperadores bizantinos.
Na origem, nos séculos VIII e VII a.C., Roma é dominada pela organização
clânica das grandes famílias, as gente.r, bastante semelhantes às yÉvr; (clãs) gregas.
A aucoridade do chefe de família é quase ilimitada; uma solidariedade acciva e passiva
liga entre si todos os membros da gens; a terra, embora objecto de apropriação, é inalienável.
85
a) O costume
b) A legislação
Parece não ter havido actividade legislativa na época da realeza, nem no começo
da República. A escrita era pouco conhecida. As leis reais (leges regiae) que a tradição
atribui a reis tais como Rómulo e Numa, o «rei legislador», são mais decisões de
carácter religioso tomadas pelo rei na qualidade de chefe religioso.
Além do ritual dos sacrifícios, conteriam regras de direito privado e de direito
penal, mas de incidência religiosa. Não são leis, mas sobretudo costumes, talvez
redigidos somente numa época tardia (século I a.C.) mas atribuídas aos reis lendários.
Sob a República, a lei começa a entrar em concorrência com o costume como
fonte de direito. O termo /ex é empregado num sentido bastante próximo da noção
acrual de lei <24>.
A /ex - pelo menos as leges publicae - é um acco emana'3o das autoridades
públicas e formulando regras obrigatórias; definem-na como uma ordem geral do
C24) J. BLEICKEN, ReJ publm1. Gese/z und Recht in tkr rhiniuhen Republik, Berlim 197~; A. MAGDELAIN, La loi à Rom•.
Hiuoir< d'un concep1, Paris 1979.
86
povo ou da plebe, feita a pedido do magistrado: /ex est generale iussum populi aut plebis,
rogante magistratu.
Apenas os magistrados superiores - côns_ules, pretores, tribunos, ditadores -
tinham a iniciativa delas; propunham um texto (rogatio) que era afixado (.promulgatio)
durante um certo tempo. O voto cinha lugar num d~s comícios: comícios curiais,
bastante excepcionalmente, no início; comícios centuriais sobretudo nos séculos V e IV
a. C.; comícios das tribos desde a /ex Hortensia (287 a.C.). O magistrado que tinha
proposto a lei, defendia o seu projecto por vezes emendado, perante a assembleia; esta
não podia senão aceitá-la ou rejeitá-la. Se a aceitasse, o magistrado que presidia à
assembleia, promulgava-a (renuntiatio); mas podia também suspender o voto, sobretudo
por motivos religiosos, e assim impedir a aprovação (obnuntiatio).
O papel dos magistrados é pois capital; ·o dos comícios indispensável, mas
acessório. Era necessário, além disso, o acordo dos senadores patrícios, a auctoritas
patrum, primeiro sob a forma de ratificação depois do voto; depois de 339 a.C., sob a
forma de autorização anterior ao voto.
Os plebiscitos são actos legislativos obrigando os plebeus e aprovados pela sua
assembleia, o concilium plebis; a partir da /ex Hortensia (287 a.C.), talvez antes, os
plebiscitos são assimilados às leges e obrigam todos os cidadãos.
A República legislou pouco; teria havido cerca de 800 leges rogatae, sobretudo em
matéria política, económica e social; não teria havido senão 26 no domínio do direito
privado, esta continuando sobretudo regido pelo costume, o mos maiorum. Entre as leis
de direito privado, citemos a lex Cinnia (204 a.C.) sobre as doações, a /ex Furia (cerca
de 200 a.C.) em matéria de testamento, a /ex Atilia (186 a.C.) em matéria de tutela, a
/ex Aqui/a (cf. III. 5 .B), a lexjulia de adulteriis.
Entre as leis da época republicana a que é conhecida corri o nome de «Lei das
XII Tábuas» merece uma atenção particular. Foi um dos fundamentos do i~s civile;
embora ultrapassada por outras fontes do direito, foi considerada em vigor até à época
de Justiniano.
Segundo a tradição lendária, teria sido redigida a pedido dos plebeus que,
ignorando os costumes em vigor na cidade e as suas interpretações pelos pontífices, se
queixavam do arbítrio dos magistrados patrícios. A redacção teria sido confiada a dez
comissários, os decemviri, em 451-449 a.C.; o texto original, gravado em doze tábuas, teria
sido afixado no forum, mas destruído quando do saque de Roma pelos Gauleses em 390.
A própria exi~tência das XII Tábuas foi posta em dúvida por algiins h.istoriadores do
direito. O texto perdeu-se; mas pôde ser parcialmente reconstituído por citações de
Cícero e Aufo Gélio e por comentários, escritos designadamente por Labeo e .por Gaio,
recolhidos no Digesto. Esses fra'gmentos parecem pertencer a diversas épocas entre 450
87
e 300 a. C.. A lei das XII Tábuas não é um código, no sentido moderno do termo; não
é talvez um conjunto de leis, antes uma redução a escrito de costumes, sob a forma de
fórmulas lapidares. A sua redacção tendeu a resolver um certo número de conflitos
entre plebeus e patrícios; mas a sua interpretação permaneceu secreta, porque confiada
aos pontífices.
No conjunto, a Lei das XII Tábuas revela um estádio da evolução do direito
público e privado comparável ao que .é conhecido em Atenas pelas leis de D~ácon e de
Sólon. A solidariedade familiar é abolida, mas a autoridade quase ilimitada do chefe de
família é mantida; a igualdade jurídica é reconhecida teoricamente; são proibidas as
guerras privadas e instituído um processo penal; a terra, mesmo a das gentes, tornou-se
alienável; é reconhecido o direito de testar.
3. O direito clássico
Considera-se como época clássica do direito romano a que se estende do século II
a. c. até~õSéculOlTí·d:·c~~·lSurãnte-êstê""peiJôdõ'tüdo-·õ' müridõ 'iriedíierrâiíeo é
prÕgiessiv~.:i;~~t~ -s~bmetid~ a Ro~a. Ao mesmo tempo, Roma abre-se às influências
externas, sobretudo às dos direitos grego e egípcio.
Sob o Alto Império, o direito privado romano aparece como um sistema
individualista, enquanto que do ponto de vista político, a liberdade dos cidadãos ia
diminuindo sem cessar. Há assim um divórcio crescente entre o direito privado e o
direito público. À submissão absoluta ao imperador opõe-se a grande liberdade dos
cidadãos (cives) de disporem dos seus bens a título privado. Os juristas romanos
constroem então, no domínio do direito das coisas e das obrigações, um sistema jurídico
completo e coerente.
Enquanto que os outros direitos da antiguidade não deixaram senão poucos
traços escritos e escapam por consequência, em grande parte, ao nosso conhecimento,
os textos do direito romano da época clássica são muito numerosos. Os Romanos
foram, parece, os primeiros a sentir a necessidade de reduzir a escrito as regras jurídicas;
além disso, foram os primeiros a consagrar obras importantes ao escudo do direito.
As fontes do direito romano clássico continuam a ser a lei e o costume. A lei
porém desempenha um papel cada vez mais importante, tendendo a suplantar o
costume. Contudo, fontes de direito especificamente romanas dominaram esta época: os
éditos dos magistrados e a jurisprudentia, fixada nos escritos dos jurisconsultis.
a) O costume
O costume permanece uma fonte do direito do ius civile, mesmo na época clássica
do direito romano, embora alguns juristas, por exemplo Gaio e Papiniano, não o
considerem como tal, mas como um facto. Foi suplantado não só pela legislação -
apesar de tudo pouco abundante - e sobretudo pelas duas fontes tipicamente romanas,
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o édito do pretor e os escritos dos jurisconsultos. Estes últimos são de tal modo
abundantes que restam poucos domínios do direito privado onde ainda deva haver
recurso ao costume.
Mas no vasto império permanecem numerosas regiões onde o ius ávile quase não
penetrou. Na Gália, por exemplo, como também em Inglaterra, na Ibéria, em África,
nas regiões do Danúbio, parece que algumas cidades, apenas, conheceram e aplicaram o
direito dos cives romanos, mesmo depois de 212, quando o édito de Caracala tinha
teoricamente concedido a cidadania a todos os habitantes do império. Nas partes rurais,
os usos locais, os consuetudines loci ou regionis, permaneciam em vigor. São mal
conhecidos; absolutamente desconhecidos mesmo para algumas regiões. São-lhes feitas
raras alusões em alguns escritos romanos. Diocleciano teria querido suprimir comple-
tamente os costumes locais para operar a unificação jurídica do império; mas mesmo
em alguns dos seus escrito!> ainda se encontram traços deles.
b) A legislação
A legislação desempenha um papel crescente como fonte do direito. Ela é cons·
tituída sucessivarnem:~ pelas leges, pelos senarus-consultos e, sobretudo, pelas consti-
tuições imperiais.
As leges que emanam dos magistrados e das assembleias populares permanecem a
única forma de legislação no fim da república e no início do império. Do tempo de
Augusto, por exemplo, datam ainda várias leges julia e (de adulteriis et de fundo dota/e, de
judiciis, de maritandis ordinibus, de tutoribus, etc.) --:- muiro importantes. Mas com o
declínio dos comícios desapareceram também as leges de que não se encontra qualquer
vestígio após o século I depois de Cristo.
A actividade legislativa manifesta-se então sob a forma de senatus-consultos,
porque no decurso do primeiro e do segundo séculos do Império, o poder legislativo
passou para o Senado. Já sob a República, o Senado intervinha no processo legislativo
das assembleias através da auctoritas patrum.
No fim da República e início do Principado, o papel do Senado no domínio
legislativo continuou ainda indirecto; ele limitava-se a interpretar o direito em vigor ou
a convidar os magistrados, sobretudo os pretores, a usar do seu ius edicendi para
introduzir regras novas.
Sob Adriano (117-138), a acrividade legislativa do Senado é oficialmente
reconhecida. Mas, ao mesmo tempo, o Senado fica à mercê do imperador. Ele não tinha,
de resto, a iniciativa; só o imperador, ou um magistrado dele dependente, podia propor
um projecto através de uma oratio principis; o Senado apenas podia ratificá-lo.
A partir do fim do século, o Senado foi de resro eliminado; a sua função legislativa
foi portanto de curta duração <25l,
C2H A expressão senárus<onsulto setá retomada em França na época do consulado e do império napoleónico.
89
<26> Th. MOMMSEN e P. M. MAYER, Code< Thtodmianw ... 2. • ed., 1954; G. G. ARCHI, TeodOJio li t lt11ut1 rodifict1zione.
Nápoles 1976.
<27J A edição usual continua a ser a~ Th. MOMMSEN (lmtitutioneJ ec Dig<Jtt1), P. KRÜGER (Codtx), R. SCHÓLL e N.
KROLL (Novellt1e), 19.ª edição, Berolini 1954.
C2BJ J. DE MALAFOSSE, •Byzance•, in). GIUSSEN (ed.), lntrod. hiblioKr., B/4, Bruxelas 1965. O mamw por excelência
continua a ser: C. E. ZACHARIAE VON UNGENTHAI., G<JcbUbte da GritJChiJch-Riimüchm RBChu, 3. ª <d., 1982; reimpr. anasrárirn por M.
93
geral a simplificá-lo e a reduzir a sua massa; por exemplo, a Écloga (ixÀoyY; ~wv vó1.1wv)
promulgada em 740 sob o imperador Leão, o Isauriano. No fim do século IX, sob
Leão, o Filósofo, procedeu-se a urna reforma d,o Corpus sob o noine de. Ba1ílico1 (-;~
~ctcnÀtxá); o conteúdo das quatro recolhas de Jusriniano é aí classificado de urna forma
sistemática e, ao mesmo tempo, adaptado à evolução do direito bizantino. Os BasílicoJ
suplantaram o Corpus no império bizantino, pelo menos a partir do século XII.
Resumos (a Synopsis, o Tipoukeitos) e manuais (ex.: o Hexobibi/01 de Harminopoulos),
redigidos durante os últimos séculos do império. bizantino, mostram o que subsistiu
então do direito romano e que sobreviveu mesmo durante séculos na Grécia sob a
dominação turca.
O direito bizamino exerceu também uma influência romanizante sobre as mais
antigas redacções de direito russo (nomeadamente a· Rou.rkaia Pravda, cf. infra p. 1. 1.1),
do direito búlgaro (a Eklogve slave, Zakon soudnyi djud'm = Lei para julgar as pessoas),
do direito romeno (nomeadamente a Lei de Julgamento ou Lei de Justiniano) <29>
NOTA DO TRADUTOR
A história do direiro romano na península tem sido abordada quer por historiadores espanhóis, quer por porrugu~. Quanto
aos primeiros v .. por último e com indicações bibliográficas, JUAN ANTONIO ALEJANDRE GARCIA, Dere<ho />rimitivo t
romanización jurídica, Sevilla 1979; FRANCISCO TOMAS Y V ALI ENTE, Manual tk hiJ1oria tkl dwtcho tJpanol, Madrid 1981 (3. • ed. ),
71-96. Quanto aos segundos, NUNOESPINOSAGOMESDASILVA, HiJ1óriadodirti1opor111guiJ, LISBOA 1985, 31-36.
As fontes jurídicas específicas da península (leges de colónias e municípios) estão publicadas nas Fonl<J i11rú romani anlti1111inúani
(FIRA), Firen>e 1941 1. uges (2. • ed., a cargo de Riccobono). Também tiveram uma edição portuguesa em Coltc(iio tk ltx/01 tk direito
penimu/ar. /. Leii rnmana1. Coimbra 1912. As ltRtJ mtlalli 1•ipaJctnltJ têm rido várias edi~ões, traduzidas e cornenradas, a última das
quais é a de C. DOMERGUE, em •La mine antique d'Aljustrel (Portugal) et les tables dr bronze de Vipasca•, Conimbriga 22 (1983)
5-193. O Cotkx thl!OIÍ6Jianum foi editado por MOMMSEN e MEYER, Theodo1iani libri XVI, fllm <orulitNlionihu1 Jirmondianil et leg<J
n1wellae ad Thtodolianum pertinenltJ, 2 vols., Berolini 1905 (reimpr. 1954). Do Corpu1 iuril âvilil existe uma edição crítica, a cargo de
MOMMSEN, KllUEGER, SCHOEll E KROll (revisão de W. KUNKEL), 3 vols., Berolíni 1965. Existe uma tradução espanhola
recente, diri,e:ida por A. d'ORS !Pamplona 1965 ss.). Muitos exce"os das fontes jurídicas (e lireririas) romanas, com a re•~criva
tradução, foram incluídos na An1oloxia de fuen/tJ tkl antixuo tkr.<ho ( = Manual tk hiltoria dei tkr.<ho, II vol. ), de AI.FONSO GARCIA
GALLO, Madrid 1967.
DOCUMENTOS
SAN NICOLO, Aalen 1955; exposição sistemática cm francês: N. ). PANTAZOPOlJI.05, •Aspect gfuéral de J'emlution hísroriqur du
droit grec•, Rev. inlern. dr. anliquiú, t. 5, 1950, p. 245-280.
<29> Loi dM juxement. Version sla"" er mumaine étabiles par M. ANDRÉEV e G. CROUT, Buareste 1971; N. BLAGOEV,
Ekloga, Sófia 1932; V. GANEV, Zakon sondtryi Lfadm, Sófia 1959. .
94
3. (Cícero, Phil., 2, 28, 69) Illam suam suas res sibi habere jussic, ex XII cabulis clavis
ademit, exigit.
4. (Aulo Gélio, 3, 16, 12) Comperi feminam, .. in undecimo mense post marici morcem
peperisse, factumque esse negotium, quasi marito mortuo postea concepisset, quoniam decemviri
in decem mensibus gigni hominem, non in undecimo scripsissent.
Tradução
l. Que seja morta, segundo a Lei das XII Tábuas, a criança monstruosa.
2. Se o pai vendeu poi: três vezes o seu fiho, que o .filho seja libertado de seu pai.
3. Segundo a Lei das XII Tábuas (em caso de divórcio) que ele ordene a sua mulher que
leve os seus trastes, e que ela entregue as chaves.
4. Recolhi a informação seguinte: uma mulher ... deu à luz uma criança no décimo
primeiro mês depois da morte do seu marido, e organizou-se um processo como se a concepção
tivesse tido lugar depois da morte de seu marido, porque os decênviros tinham escrito que o parto
deve ter lugar no prazo de dez meses e não no décimo primeiro.
• 2. CONSTITIJIÇÃODECARACALA(212d.C.)
1mam quam pretium sicut supra scriptum sofrisse, pars ocwpatoris comissa esto et p11te11m 11nivers11m
proc( urator J metallorum i·endito. /J qui probaverit ante colon11m 1·enam coxisst' quam pmium partis dimidiae
ad fiHum pertientis n11mt:ra11e partem quartam accipi10. .
VIP. li, 2. Pulei argentarii ex forma t'Xerceri debent quae hac lege continetur; quorum pretia
Jt:omdum liberalitalem il.UraliJJimi lmp. Hadriani Aug. observabalur ita ui ad eum pertineat proprietas
pari iJ quae ad jiscum pertinebit qui primus pretium puteo fecerit el sestertia nummum júco intulerit.
VIP. li, 5. Puteum a fisco vendit11m continuis sex mmsibus intmnissum a/li occupandi iuJ
( e1 )to ita 111 cum venae ex eo proferentur ex more pars dimidia fisco salva sit.
Tradução
VIP. 1, 5. O rendeiro (das minas) gozará do direito de ninguém poder exercer o ofício
de barbeiro, por dinheiro, na aldeia ou no território mineiro de Vipasca. Quem assim exercer o
ofício de barbeiro deverá pagar ao rendeiro, ou ao seu sócio ou ao seu agente ... dinheiros por cada vez
que tiver utilizado os seus instrumenros, e estes instrumentos serão confiscados em benefício do
rendeiro. Exceptuam-se os escravos que tenham prestado os seus serviços aos -seus amos ou
companheiros. Os barbeiros ambulantes que não tenham sido encarregados disso pelo
rendeiro não terão o direito de fazer barbas... ·
VIP. 1, 8. Os mestres-escolas. Fica estabelecido que os mestres-escolas são isentos
de encargos por parce do procurador.
VIP. II, 1. ( ... )Augusto, pagará à vista. Se não o fizer e se ele estiver convencido de ter
fundido mineral antes de ter pago o preço como está descrito acima, a pai.te do ocupante será
confiscada e o procurador das minas venderá o poço inteiro. O que provar que o colono fundiu metal
antes de cer pago o preço da metade (do poço) que pertence ao fisco receberá o quarto (desta soma).
VIP. II, 2. Os poços argentíferos devem ser trabalhos do modo estabelecido nesta lei; o seu
preço será conforme à liberdade do sacratíssimo Imperador Adriano Augusto, de tal modo que a
propriedade da parte que pertende ao fisco pertença ao que primeiro tiver oferecido o preço dos
poços e tiver entregue ao fisco quatro mil sestércios.
VIP. II, 5. Se um poço vendido pelo fisco permanecer inactivo durante seis meses
consecutivos, um terceiro terá direito de o ocupar, em condições cais que, logo que o mineral for
extraído do poço, merade esteja garantida ao fisco conforme o uso.
proprium civitatis; quod vero naturalis ratio inter omnes homines constituir, id apud omnes
populus peraeque custoditur vocaturque jus gentium, quasi quo jure omnes gentes utuncur.
Populus itaque Romanus partim suo proprio, partim communi omnium hominum jure utirur.
Tradução
Tradução
• 6. DIGESTA DEJUSTINIANO
LIBER PRJMUS. I: DE IUSTITIA ET JURE.
1. ULPIANUS, lib. l lnstitutionum.
luri operam daturi prius nosse oportet unck nomen iuris descendat. Est autem a iu1titia
appelatum: nam ( ut eleganter Ce/sus ckfinit) ius est ars boni et aequi. § 1. Cujus merito quis nos sacerdotes
appellet. Justitiam namque co//imus, et boni et aequi notitiam profitemur; aequum ab iniquo 1eparante.r,
/icitum ah illicit11m discernentes ... § 2. Hujus sutdii duae su11t positiones: pub/icum jus e1t quod ad
1
statum rei romane spectat; privatum, quod a singu/ori utílitatem; sunt enim quaedam pub/ice utilia, quaedam
97
privatim. Publicum jus in sacris, in sacerdotibus, in magistratibus consisti/. Privatum jus tripertitum est:
collectum etenim est ex naturalibus praeceptibus, aut gentium, aut civilibus. §. 3. Jus natura/e est quod
natura omnia anima/ia domit. Nam jus istud non humani generis proprium est, sed omnium animalium, quae
in terra, quae in mari nascuntur, avium quoque commune est. Hinc tkscendit maris atque foeminaeconjunctio,
quam nos matrimonium appellamus," hinc liberorum procreatio, hinc educatio: videmus etenim caeterorum
quaeque anima/ia, feras etiam, istius juris peritia censeri. § 4. jus gentium est. quod gentes humanae
utuntur. Quod a naturali recedere, facile intellif{ere !icei: quia il/ud omnibus anima/ibus, hoc solis hominibus
inter se commune sit.
Tradução
Os que se vão dedicar ao estudo do direito devem começar por saber donde vem a palavra
'ius'. Na verdade, provém de 'iustitia': pois (retomando uma elegante definição de Celso) o direito é
a arte do bom e do equitativo. § 1. Pelo que há quem nos chame sacerdotes. Na verdade,
culcivamos a justiça e, utilizando o conhecimento do bom e do equitativo, separamos o justo do
injusto, distinguimos o lícito do ilícito ... § 2. Há duas panes neste estudo: o direito público,
que diz respeito ao estado das coisas de Roma; e o privado, relativo à utilidade dos particulares, pois
certas utilidades são públicas e outras privadas. O direito público consiste (nas normas relativas) às
coisas sagradas, aos sacerdotes e aos magistrados. O direito privado é tripartido: é, de facto, coligido
de preceitos ou naturais, ou dás gentes, ou civis. § 3. O direito natural é aquele que a natureza
ensinou a todos os animais. Na verdade, este direico não é próprio do género humano, mas comum a
todos os animais que nascem na terra e no mar, e também às aves. Daqui provém a união entre o
macho e a fêmea a que nós chamamos matrimónio, daqui decorre a procriação dos filhos e a sua
educação. Na verdade, vemos que os restantes animais, mesmo as feras, parece terem uma noção
deste direito. Aquilo que distingue o direito natural do das gente~ é fácil de entender, pois que ele é
comum a todos os animais e este apenas aos homens.
Tradução
Assim, o direiro civil é o que deriva das leis, dos plebiscitos, dos senátus-consultos e da
autoridade dos jurisprudentes. O direito precório é o que os pretores introduziram para interpretar,
integrar ou corrigir o direito civil em razão da ucilidade pública. O qual também se designa por
honorário, em honra dos precoces.
Tradução
Líber I. II: De legÍbf!1, senat11sq11e cons11/tis, et longa com11et11dine (Acerca das leis, dos
senácus-consult0s e do costume duradouro).
Tradução
A lei é um preceito geral, baseado no concelho dos homens sabedores: coerção dos delitos,
cometidos intencionalmente ou por ignorância, compromisso comum da república.
Tradução
Nem as leis nem os senácus-consulros podem ser elaborados de tal forma que prevejam todos
os casos que possam eventualmente acontecer; mas basta que prevejam os que acontecem o mais das vezes.
Tradução
No entanto, aquilo que foi recebido em sencido contrário à razão (sencido gera!) do direito
não é de estender às consequências.
Tradução
O direito singular é o que foi introduzido pela autoridade do legislador, tendo em vista
algum efeito útil, contra o teor da razão (sentido geral do direito).
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Tradução
Tradução
O costume diutumo cosruma ser observado em tudo aquilo que não está previsto no direito escrito.
Quod principis ptacuit, legis habet vigorem: utpote, cum lege regia, quae de imperio ejus lata est,
popu/us ei et in eum omne suum imperium et potestatem conferat.
Tradução
O que é da vontade do príncipe cem a força de lei: na medida em que, com a kx regia promulgada
acerca do seu poder imperial, o povo lhe conferiu todo o seu imperium e potestas.