PC e Direitos Humanos
PC e Direitos Humanos
PC e Direitos Humanos
1.1.1. Introdução
A Constituição é a Lei base para o funcionamento de qualquer Estado, sendo nesta onde
estão plasmados os princípios basilares para a construção de um estado de direito
democrático, como é o caso de Moçambique.
nas relações internacionais, os Estados ratificassem esses direitos para proteção dos seus
cidadãos (cf. art. 43º da CRM).
Após a determinação do que são os direitos fundamentais, Vieira de Andrade mostra ainda
que estes não são de todo absolutos nem ilimitados, quer na dimensão subjetiva, na
medida em que os preceitos constitucionais não os remetem ao titular destes, o arbítrio
sobre a determinação do âmbito e grau de satisfação do respetivo interesse e pela
inevitável e sistemática conflitualidade dos direitos de um com os dos outros, quer a nível
dos valores constitucionais, visto que a Constituição não se limita a reconhecer os valores
mas liga-os a uma ideia de responsabilidade 5. Querendo com isto dizer que apesar dos
direitos serem inerentes ao indivíduo, este durante o exercício desses não determina o seu
campo de ação, sendo que a própria Constituição estabelece certos limites para tal, com
3
Vieira de Andrade, José Carlos. 2010. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976, 4ª ed.,
Coimbra: Almedina
4
Miranda, Jorge. 2000. Manual de Direito Constitucional, Tomo IV- Direitos Fundamentais. 3ª edição. Coimbra.
5
Cf. art. 38 CRM
Por: Alzira Jofrice
Ideia esta comungada por Gouveia 6, que defende que “não basta positivar o direito, tem
que se ir mais além na consagração dos respetivos contornos ”. Entende-se que o
legislador ao colocar no ordenamento positivo uma determinada norma com a categoria de
um direito, deve também esclarecer até que ponto este deve ser exercido, com vista a não
criar danos a outrem ou mesmo para não dar largas ao intérprete no momento da aplicação
de algum limite a esse direito, trazendo ele no seu texto o seguinte exemplo: “ direito a
liberdade de reunião” dizendo que a reunião se entende como sendo “ pacífica e sem
armas”, sendo que primeiro estabeleceu o direito e de seguida determinou a forma como
este deveria ser aplicado, procurando deste modo deste modo, explicar o que ocorre no nº
3 do art. 56º da CRM, que postural que “A lei só pode limitar os direitos, liberdades e
garantias nos casos
expressamente previstos na Constituição”, sendo por isso que, no exercício das suas
acções, o Estado (polícia) deve ter sempre em conta este preceito, limitar com
proporcionalidade e com causa legalmente justificada.
Sarlet7 mostra que o Estado durante a sua atuação, nos seus deveres de proteção dos
direitos, através dos órgãos e agentes competentes, acaba por afetar de modo
desproporcional os direitos fundamentais. Sendo nesta perspectiva que o legislador, ao
definir o campo de actuação do Estado, maxime polícia, na esfera dos direitos humanos,
vinca o princípio da proporcionalidade como base para sua actuação.
6
Gouveia, Jorge Bacelar. Regulação e Limites dos Direitos Fundamentais. Consultado em 03.04.2013, em
http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/BGRL.pdf
7
Sarlet, Ingo Wolfgang. Direitos Fundamentais E Direito Penal: Breves Notas A Respeito Dos Limites E
Possibilidades Da Aplicação- Das Categorias Da Proibição De Excesso E De Insuficiência Em Matéria Criminal.
Consultado em 04.04.2013, em http://www.esmesc.com.br/upload/arquivos/4-1246972606.PDF
Por: Alzira Jofrice
Por sua vez, Feldens9 mostra que o princípio da proporcionalidade, pode ser usado como
um critério para o controlo da constitucionalidade das medidas restritivas dos direitos
fundamentais, que atuam como direitos de defesa, apresentando três critérios para a
avaliação da proporcionalidade, tais sendo a idoneidade da medida, em termos de sua
eficácia para o resultado que se pretende alcançar, a necessidade de aplicação de certa
medida e não de outra que se possa considerar menos gravosa em relação ao bem que se
pretende proteger e a proporcionalidade propriamente dita, em que haja uma relação de
conveniência entre a importância da medida e o significado do direito fundamental que se
pretende restringir, face ao dano causado.
Como forma de evitar que a atuação policial não incorra em ilegalidade, há que ter –se
sempre em conta o grau da necessidade da ação praticada e em que condições esta será
aplicada.
Uma vez que o direito, que caracteriza o Estado Moçambicana, tem como fundamento a
defesa dos direitos fundamentais, é de extremo interesse que se avalie se o bem jurídico
ou direito fundamental violado/ferido é de valor superior, em termos de repulsa social, em
relação ao direito que se pretende restringir, com o risco de, ao submeter o individuo a
situações degradantes, ao invés de reeduca-lo para devolve-lo a sociedade minimamente
ressocializado e integrado nas normas legalmente aceites, corre-se o risco de introduzir
definitivamente o indivíduo a um caminho sem volta no mundo de crime, celebrando desse
modo, o vaticínio do fracasso do sistema de controlo social.
Neste sentido, seria de extrema importância que tanto na elaboração como na execução do
poder de polícia, o Estado (legislador ou poder policial) tivessem em conta a questão dos
11
Cf. nr 2 art. 32 da CRP, nr 2 art. 59 da CRM e art. 5 LVII da CRB
Por: Alzira Jofrice
Pois, conjugado ao atenriormente exposto e olhando para aqueles que são os princípios de
Robert Peel, os quais definem o modo de actuar de uma polícia que se pretende moderna
e democrática, assim como os princípios orientadores do policiamento comunitário, notar-
se-á que ambos são unânimes ao afirmar que para que a polícia tenha sucesso na sua
actuação, é preciso que esta se identifique com a comunidade onde se encontra, a veja
como seu parceiro a ponto de desenvolverem laços de confiança e isso não acontecerá
num ambiente de hostilidade, humilhação e marginalização do indivíduo, mas sim, com
respeito a dignidade da pessoa, fazendo da polícia um serviço humanizado e
personalizado.
Por: Alzira Jofrice
Pretende-se com isto dizer que, para que a implementação do policiamento comunitário
seja efectivo e produtivo, é necessário que a instituição policial retire da sua ideologia
funcional, política e estratégica a acção belicista contra o infractor ou com as comunidades
que com ele interajam, no âmbito da investigação criminal, passando para políticas
preventivas, na qual a acção primordial é a prevenção, com vista a garantir que não hajam
infractores, vítimas e nem rastos para se seguirem em busca do combate do indivíduo. E,
mesmo que o facto tenha sido consumado, é necessário que na interacção com o infractor,
a polícia o mostre que o problema não é ele como pessoa, mas o comportamento que o
mesmo adoptou que pos em causa a estabilidade da comunidade onde o facto se deu em
termos de segurança e da qualidade de vida.
Agindo deste modo, a polícia não só está a garantir eficácia e legitimidade das suas
acções, como também estará a garantir a efectivção do ensejado pelo Sir Robert Peel ao
pretender que a polícia conquista a aprovação da comunidade nas suas actuações.
2. Considerações finais