Dinheiro Rural #188 - Set-Out22

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ENTREVISTA: KIERAN GARTLAN TÍTULOS VERDES ENERGIA RENOVÁVEL

Tecnologia leva transparência e mais CPR remunera produtores por Mercado de biogás deve atrair
investimento para o campo serviços ambientais mais de R$ 60 bilhões até 2030

Indústria de suínos
188
EDIÇÃO

avança no mercado global


-
17

No comando de um frigorífico que abate 6,8 mil animais por dia e fatura
ANO

R$ 2 bilhões ao ano, IRANI PAMPLONA PETERS aposta nas exportações como


-
2022

estratégia de crescimento
SETEMBRO/OUTUBRO

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-
RURAL
DINHEIRO

R$24,00
EXEMPLAR DE ASSINANTE

SET/OUT 2022 – ANO 17– Nº 188


VENDA PROIBIDA
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EDIÇÃO 188, ANO 17
SET/OUT DE 2022

FUNDADOR

Porteira Aberta
DOMINGO ALZUGARAY
(1932 - 2017)
EDITORA
8
CATIA ALZUGARAY As principais propostas dos dois líderes da
PRESIDENTE EXECUTIVO campanha presidencial para o agro
CACO ALZUGARAY

12 Entrevista
DIRETOR EDITORIAL KIERAN GARTLAN, SÓCIO DO VENTURE
CARLOS JOSÉ MARQUES CAPITAL THE YIELD LAB
DIRETOR DE NÚCLEO

16 Capa
CELSO MASSON
TEXTO
Editores: Lana Pinheiro e Romualdo Venâncio
Repórter: Anna França A RETOMADA DA SUINOCULTURA
ARTE Criadores de suínos como Irani Pamplona
Diretor: Paulo Roberto Aloe Peters, da Pamplona Alimentos, buscam novos
Ilustração: Evandro Rodrigues
mercados como estratégia para crescer
FOTOGRAFIA

22 Agroeconomia
Pesquisa: Sidinei Lopes Arquivo: Eduardo A. Conceição Cruz
CTI: Silvio Paulino e Wesley Rocha
DINHEIRO RURAL ON-LINE
Editor executivo: Airton Seligman
Redatora: Thais Rodrigues Ferreira Fernandes BIOCOMBUSTÍVEL
APOIO ADMINISTRATIVO Investimentos em usinas para geração de
Gerente: Maria Amélia Scarcello. Secretária: Terezinha Scarparo biogás no Brasil devem chegar a R$ 60 milhões
Assistente: Cláudio Monteiro

MERCADO LEITOR E LOGÍSTICA


Diretor: Edgardo A. Zabala 26 Agronegócios
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GERENTE GERAL DE VENDA AVULSA E LOGÍSTICA: Yuko Lenie Tehan
CENTRAL DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: BOA SAFRA
(11) 3618-4566 de 2a a 6a feira das 9h às 20h30. Empresa comandada pelos irmãos Camila e
Outras Capitais: 4002-7334 Marino Colpo deve ter uma nova fábrica e
Outras Localidades: 0800-888-2111 (exceto ligações de celulares)
Assine: www.assine3.com.br outros dois CDs no Brasil por ano até 2026
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Diretor nacional: Maurício Arbex Secretária da diretoria de publicidade:
30 CAFÉ
Regina Oliveira Assistente: Valéria Esbano Gerente executiva: Andréa Nespresso investe em cafés especiais na Serra
Pezzuto Diretor de Arte: Pedro Roberto de Oliveira Coordenadora: Rose da Mantiqueira
Dias Contato: [email protected] ARACAJU – SE: Pedro
Amarante • Gabinete de Mídia • Tel.: (79) 3246-4139 / 99978-8962 – BELÉM
– PA: Glícia Diocesano • Dandara Representações • Tel.: (91) 3242-3367 /
98125-2751 – BELO HORIZONTE – MG: Célia Maria de Oliveira • 1a Página 34 10 Perguntas
Publicidade Ltda. • Tel./fax: (31) 3291-6751 / 99983-1783 – Campinas – SP: Maria Luiza Castro, cofundadora da Cesis
Wagner Medeiros • Wem Comunicação • Tel.: (19) 98238-8808 – Consultoria
FORTALEZA – CE: Leonardo Holanda – Nordeste MKT Empresarial – Tel.:
(85) 98832-2367 / 3038-2038 – GOIÂNIA–GO: Paula Centini de Faria –
Centini Comunicação – Tel. (62) 3624-5570/ (62) 99221-5575 – PORTO
ALEGRE – RS: Roberto Gianoni, Lucas Pontes • RR Gianoni Comércio &
36 FAZENDA EM SHOPPINGS
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INTERNACIONAL: Gilmar de Souza Faria • GSF Representações de Veículos R$ 40 bilhões ao aproximar hortas e
de Comunicações Ltda • Tel.: 55 (11) 99163-3062
consumidores
Dinheiro Rural (ISSN1807–3700) é uma publicação da Três Editorial Ltda .
Redação e administração: Rua Rua William Speers, nº 1.088, São Paulo, SP, CEP:
05067-900 – Fone: (11) 3618-4200 – Fax da redação: (11) 3618-4109 Sucursais: Rio 38 TROCA DE COMANDO NOS
de Janeiro: Av. Almirante Barroso nº 63, sala 1510, fones: (21) 240-5224/533-1444 e
Fax (21) 240-2925, Brasília: SCS, Quadra 2, Bl. D, Ed. Oscar Niemeyer, sala 201 a 203,
FRIGORÍFICOS
Fone: (61) 3321-1212 e Fax (61) 3225-4062. Dinheiro Rural não se responsabiliza por Miguel Gularte assume BRF e Rui Mendonça é
conceitos emitidos nos artigos assinados.
o novo CEO da Marfrig para América do Sul
Comercialização e Distribuição: Três Comércio de Publicações Ltda, Rua
William Speers, nº 1.212, São Paulo – SP.
42 Mulheres do Agro
Distribuição exclusiva em bancas para todo o Brasil: Lideranças femininas se reúnem no Congresso
FC Comercial e Distribuidora S.A., Rua Dr. Kenkiti
Shimomoto, 1678, sala A, Osasco-SP. Tel.: 11 3789 3000 Nacional das Mulheres do Agronegócio
Impressão: Grafilar Lar Anália Franco de São Manoel, Rua Coronel Simões, 779,
Centro - São Manoel - SP - CEP 18650-000 44 Cotonicultura tecnificada
Safra de algodão fica mais produtiva e deve
alcançar 2,61 milhões de toneladas

4
28 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
O crédito é a porta de entrada para as agtechs chegarem ao
produtor e ganharem sua confiança
KIERAN GARTLAN, SÓCIO DO VENTURE CAPITAL THE YIELD LAB

COLHEITA DA REDAÇÃO
46 SAÚDE ANIMAL
Fim da obrigatoriedade da vacina contra
febre aftosa traz novos desafios a Um bom agosto para a
pecuaristas
pecuária brasileira
48 Agrofinanças
O
segundo semestre de 2022 trouxe boas notícias para os frigoríficos brasileiros.
As exportações de carnes bovina e suína, in natura e processadas, bateram
CPR VERDE recorde em agosto. A exportação bovina somou 230,2 mil toneladas, com
Cédula do Produtor Rural pode ser
vinculada a critérios ambientais com faturamento de US$ 1,36 bilhão, crescimento de 8,6% e 15,8% em relação ao mesmo
vantagens para o tomador do empréstimo mês do ano passado, respectivamente. Já os embarques de suínos totalizaram 116,3
mil toneladas, 27,7% superior ao resultado alcançado em 2021. Os embarques de
52 Vitrine aves também crescera, com as vendas ao mercado externo totalizando 437,8 mil
toneladas — alta de 15,3% — e receita de US$ 922,1 milhões (36,1% acima do ano
Com preço de R$ 499.999 primeiro lote anterior). Tais números foram obtidos a despeito das ameaças de embargos à pecu-
da picape Gladiator, da Jeep, esgotou em ária brasileira, constantemente associada ao desmatamento de biomas por parte de
apenas três horas mercados compradores como Estados Unidos e União Europeia. Os bons ersultados,
portanto, são a prova de que o setor tem a capacidade de superar os discursos de
54 Estilo seus detratores.
Então, cabe a pergunta: por que
A VIDA SOBRE DUAS RODAS os agentes da pecuária nacional não
Viagens de moto podem ser um cano de
escape para o estresse da rotina do setor se articulam para minar a narrativa
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internacional de que essa é t.me/BRASILREVISTAS
uma ati-
58 Sustentabilidade vidade vilã do meio ambiente? Para
alguns especialistas do mercado, a
USO DA TERRA resposta é que o setor não teria uma
Estudo do MapBiomas mostra avanço da organização forte o suficiente para
agropecuária no Brasil fazer impor seus argumentos. Será?
O setor já se mostrou unido para rea- Impulsionada pela abertura de novos
62 Agrotecnologia gir a ameaças. Houve um escarcéu mercados consumidores, a exportação de
carne suína bateu recorde em agosto
quando algumas influenciadoras
Tropical Melhoramento & Genética (TMG) defenderam o movimento da segunda-feira sem carne em uma propaganda do
investirá R$ 2 bilhões nos próximos dez
anos em pesquisa e desenvolvimento Bradesco. Após a reação, o banco retirou o filme do ar. Até quem milita na trinchei-
ra ambiental tem defendido a pecuária profissional. Em recente estudo sobre o uso
64 Campo Digital da terra realizado pelo MapBiomas (detalhado na reportagem de Sustentabilidade
desta edição), apesar de os dados mostrarem avanço da pecuária na Amazônia, a
Cresce interesse das pessoas físicas pelo análise da entidade é que o povoamento de terras desmatadas por bois é um disfar-
investimento em startups ce para grilagem e não uma atividade de produtores rurais.
Outro exemplo de como a indústria de proteína animal contribui para a economia
66 Artigo brasileira aparece na matéria de capa. Assinada pelo editor Romualdo Venâncio, o
Saúde animal como desenvolvedor da
texto traz um raio-x do setor de suinocultura e o caso da Pamplona Alimentos, um
pecuária frigorífico familiar de Santa Catarina que abate mais de 6,3 mil animais por dia e
fatura cerca de R$ 2 bilhões com vendas de carne suína, tanto no mercado interno
CAPA: FOTO RUBENS CARDIA quanto para 24 países. Algo impensável para o setor há cerca de uma década e que
só se tornou possível graças a um movimento articulado pelo Ministério da Agricultura,
DINHEIRO Pecuária e Abastecimento (Mapa), pela Confederação da Agricultura e Pecuária do
RURAL Brasil (CNA) e por agentes privados por aberturas de novos mercados e habilitação
NO IPAD
E ON-LINE: de frigoríficos nacionais. Mais uma comprovação da força que o setor possui.
www.dinheirorural.com.br

Lana Pinheiro, editora da Dinheiro Rural

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 5
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P O R T E I R A A B E R TA

ELEIÇÕES

PROPOSTA PARA
O CAMPO
Ano de eleição e o agronegócio,
com uma participação de
27,4% do PIB brasileiro (dado do
CEPEA referente ao ano de 2021),
está na pauta prioritária dos
candidatos à função de presidente da
República. A RURAL destaca aqui quatro
propostas apresentadas pelo dois candidatos
que lideram as pesquisas eleitorais em
seus planos de governo.

JAIR BOLSONARO LULA


Intensificar ações de promoção da Novo modelo de ocupação e uso da terra urbana
competitividade e transformação do agronegócio e rural, com reforma agrária e agroecológica, com
por meio do desenvolvimento e da incorporação de a construção de sistemas alimentares sustentáveis.
novas tecnologias.
Fortalecer a produção nacional de insumos,
Fortalecer a promoção de sistemas sustentáveis máquinas e implementos agrícolas, fomentando o
de produção deAcesse nosso
alimentos Canal nodeTelegram:desenvolvimento
e a implantação t.me/BRASILREVISTAS
do complexo agroindustrial.
práticas agrícolas que aumentem a produtividade e
Agregar valor à produção agrícola, com a
a produção.
constituição de uma agroindústria de primeira
Agregar valor naquilo que é exportado, muitas linha, de alta competitividade mundial.
vezes na forma de simples commodities em
Fortalecer a Embrapa para identificar
produtos de qualidade, acabados ou semiacabados.
potencialidades dos agricultores e assegurar mais
Aumentar a produção nacional de fertilizantes. avanços tecnológicos no campo.

ECONOMIA
US$
VBP É AJUSTADO 500
ALOISIO MAURICIO /FOTOARENA/FOLHAPRESS)

PARA R$ 1,22 MILHÕES


TRILHÃO é o volume de recursos
que o Departamento
O Ministério da de Agricultura
Agricultura, Pecuária e aplicará em
Abastecimento (Mapa), financiamento de
atualmente sob o projetos que permitam
comando de Marcos os R$ 1,217 trilhão do quebra de produção e da que produtores
Montes, ajustou a ano passado. De retração das principais carentes acessem
expectativa do Valor acordo com análise da atividades da pecuária. terras, capital e
Bruto da Produção Secretaria de Política Pelos números do órgão, mercados e treinem a
(VBP) para R$ 1,220 Agrícola, o fraco as lavouras tiveram próxima geração de
trilhão. Se confirmado, desempenho se deve à elevação de valor de 3%, profissionais agrícolas.
representará singelo queda do faturamento e a pecuária, uma Pena que é nos
acréscimo de 0,3% sobre da soja por conta da contração de 5,5%. Estados Unidos.
.
8 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
POR LANA PINHEIRO

RANKING MÁQUINAS

DUAS MULHERES AGCO EM


MAGGI ENTRE AS ALTA
MAIS RICAS POTÊNCIA
A Forbes divulgou no Até 2024, a dona
início de setembro a sua das marcas Massey
tão esperada lista dos Ferguson, Valtra e
maiores bilionários do Fendt vai investir
Brasil. No recorte que traz R$ 340 milhões

ISTOCK
somente mulheres, duas para modernizar
representantes do PROJEÇÃO duas unidades
agronegócio. As duas da principalmente, pelo brasileiras. A
família Maggi. São elas: NOVA SAFRA bom desempenho dos AGCO tem boas
razões para
Fortuna:
RECORDE mercados de milho,
soja, arroz, feijão e
algodão.
aumentar a tração
por aqui: o Brasil
R$ 7,1 bilhões A Companhia Nacional representa 11% de
Idade: 91 anos de Abastecimento seu faturamento
Origem do (Conab) atualizou seus CULTURA total, que deve
patrimônio: números e aumentou a Projeção safra 22/23 chegar a US$ 12,5
expectativa de produção (milhões de tons)
LUCIA AMaggi bilhões em 2022. O
BORGES Posição na de grãos do Brasil para Soja 150,3 grupo pretende
308 milhões de toneladas oferecer mais do
MAGGI lista: 50a
em 2022/23. “Apesar do Milho 125,5
que tecnologia em
Acesse nossoaumento
Canal nos
no custos de
Telegram: Arroz
t.me/BRASILREVISTAS 11,2 maquinário aos
Fortuna:
R$ 7,1 bilhões
produção, as culturas Feijão 3,0 produtores.
ainda apresentam boa Algodão 2,9 “Estamos entrando
Idade: 68 anos liquidez e rentabilidade no mercado de
em plumas
Origem do para o produtor crédito de carbono,
patrimônio: brasileiro”, afirmou o em parceria com o
MARLI AMaggi presidente da entidade, Rabobank”, disse o
MAGGI Posição na Guilherme Ribeiro. O CEO global, Eric
PISSOLLO lista: 50a resultado é impulsionado, Hansotia.

LEGISLAÇÃO públicas poderão ser


multados. O objetivo,
RENAGRO segundo o Ministério da
Agricultura, Pecuária e
COMEÇA A VALER Abastecimento, é trazer
mais segurança nas
Não é mais opcional. transações de
Todo produtor rural maquinários e inibir
brasileiro precisa estar roubos e furtos. O
em dia com o Registro registro é gratuito e
Nacional de Tratores e pode ser efetuado pelo
Máquinas Agrícolas ID Agro, plataforma
(Renagro). Isso significa digital desenvolvida
que tratores e máquinas pela Confederação
agrícolas que Nacional da
transitarem sem registro Agricultura (CNA) e
eletrônico em vias pelo Mapa.
ISTOCK

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 9
P O R T E I R A A B E R TA

EXPORTAÇÃO

DA MATA ATLÂNTICA PARA A CHINA


O potencial da biodiversidade brasileira para
geração de novos negócios é vasto e pouco
explorado. Mas algumas iniciativas querem mudar
este caminho. Caso a se notar é a primeira
exportação brasileira de jerivá, o coquinho da Mata
Atlântica. O destino é a China. O embarque foi de
tímidos 650 quilos, mas com a promessa de chegar a
300 toneladas do produto que pode servir para a
produção de sucos, alimentos e óleo. A operação foi
realizada pelo Instituto Auá de Empreendedorismo
Socioambiental com apoio do programa ExportaSP,
ALIMENTOS da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e da
Agência Paulista de Promoção de Investimentos e
sinergia de operação
CAMIL COMPRA do nosso modelo de
negócios, permitindo
Competitividade (InvestSP).

A MABEL ganho de escala e


maior expertise em
Como parte de sua diferentes modelos de
estratégia de expandir distribuição,
portfólio e ampliar suprimentos e trade
presença geográfica, a marketing”, disse
Camil Alimentos Luciano Quartiero,
anunciou acordo diretor
com a nosso
Acesse Canalpresidente da
no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Pepsico Brasil para a Camil. O valor da
aquisição da Mabel. Com operação, que ainda
a operação, a compradora depende de aprovação
marca sua entrada no no Conselho
mercado de biscoito Administrativo de
considerado de alto valor Defesa Econômica
agregado. “A diversidade (Cade), não foi

ISTOCK
de negócios aumenta a divulgado.

DESENVOLVIMENTO

AVANÇA POLÍTICA DE APOIO À PECUÁRIA LEITEIRA


Acabou de ser aprovada na Câmara dos Deputados texto, a indústria fica proibida de pagar ao
a tramitação em urgência do Projeto de Lei 207/22 produtor menos do que o preço médio praticado
que determina a criação de uma inédita Política pela Conab e o prazo máximo para pagamento não
Nacional de Apoio e Incentivo à Pecuária Leiteira pode exceder 15 dias após o fechamento do mês. A
Brasileira. O objetivo é aumentar a qualidade e a proposta também prevê a oferta de linhas de
produtividade do setor que amarga queda de crédito, ações de proteção fitossanitária, fomento à
eficiência e se ressente das baixas margens. Pelo pesquisa, entre outras iniciativas.
ISTOCK

10 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
SUSTENTABILIDADE NUTRIÇÃO ANIMAL

QUATORZE ICC INVESTE


DICAS PARA R$ 15
POLÍTICAS MILHÕES
DE NÃO Uma das maiores

DESMATAMENTO empresas em
soluções
NA SOJA nutricionais à base
de levedura para
Com o objetivo de saúde e nutrição
contribuir para a animal, a ICC

ISTOCK
eliminação do anunciou a
desmatamento na inauguração de sua
PESQUISA segunda planta de
sojicultura, o Instituto de
Manejo e Certificação produção, em
Florestal e Agrícola MAIS PRODUTIVIDADE Jundiaí (SP). Fruto
de investimento de
(Imaflora) acaba de
divulgar um estudo com PARA O MILHO R$ 15 milhões, “a
unidade foi
práticas de sete grandes O uso do inoculante a base da bactéria Azospirillum
traders em operação no construída para
brasilense consorciado com capim brachiaria em suportar o
Brasil. O resultado milharais contribui para garantir a produtividade da
publicado no documento crescimento da
lavoura mesmo diante da competição do grão com a ICC para os
Políticas Corporativas de forrageira pelo nitrogênio. A conclusão do estudo
Acesse
Não Desmatamento das nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS próximos anos”,
realizado pela Embrapa Agricultura Ocidental foi afirmou o fundador
Principais Empresas publicada na revista Pesquisa Agropecuária Brasileira.
Comercializadoras de Soja e CEO da
A engenheira agrônoma Gessí Ceccon explicou que essa companhia, Glycon
no Brasil atesta que nova descoberta pode ajudar a reduzir a quantidade de
temas como Santos. Como
nitrogênio usada pelo produtor. “O uso do incumbente é retorno sobre o
monitoramento, escopo uma alternativa sustentável e viável em tempos em que
para a aplicação da investimento, o
os fertilizantes químicos são limitados e caros.” executivo espera
política e gestão da cadeia
de fornecimento estão no elevar os R$ 500
radar da indústria. Mas o milhões de
alerta do coordenador do AVICULTURA comunica que as faturamento
Imaflora, Lisandro exportações de materiais registrados em
Inakake de Souza, é que o genéticos avícolas 2021 a R$ 1 bilhão
tom condicional das cresceram 14,4% nos até 2026.
mensagens e a falta de primeiros sete meses
objetividade das políticas deste ano para US$ 94,6
jogam contra o setor. milhões. A comparação é
“Essa imprecisão confere com o mesmo período de
um grau de insegurança 2021. Em volume, as
quanto à implementação vendas tiveram alta de
das políticas 0,4% em 2022, com 8,398
corporativas”, disse. No mil toneladas contra 8,365
fim do documento, a
entidade faz 14
EXPORTAÇÕES mil toneladas. Ricardo

recomendações bastante DE MATERIAL Santin, presidente da


entidade, atribui o
práticas de como as
empresas podem melhorar GENÉTICO desempenho à segurança
sanitária do País. “O
a efetividade dos seus
compromissos ambientais
EM ALTA Brasil é um dos únicos
países que nunca
e a comunicação dos A Associação Brasileira de registrou influenza
mesmos. Proteína Animal (ABPA) aviária na sua produção.”

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 11
KIERAN GARTLAN, SÓCIO DO VENTURE CAPITAL THE YIELD LAB

“A TECNOLOGIA PROVOCARÁ
DISRUPÇÕES NO AGRO
AO DEMOCRATIZAR
O ACESSO AO
SISTEMA
FINANCEIRO”
POR LANA PINHEIRO

Nascido e criado em umanosso


Acesse fazendaCanal
do interior da Irlanda, t.me/BRASILREVISTAS
no Telegram:
Kieran Gartlan rompeu as tradições familiares ao decidir
que não queria ser produtor rural. Formado em economia,
chegou ao Brasil em 1994, meio por acaso, durante uma
viagem de mochilão. Aqui trabalhou em bancos. Depois se
tornou jornalista da Down Jones. “Foi a primeira
oportunidade que tive de trabalhar com o agronegócio”,
contou à RURAL, relembrando a época que fazia análises
para o setor. Em seguida foi contratado pela Bolsa de
Chicago e há quatro anos se tornou sócio e diretor
do venture capital de origem americana, The
Yield Lab, no Brasil. Uma de suas missões é
encontrar startups que tenham potencial de
escala e de um retorno agressivo.“Buscamos
sempre multiplicar nosso retorno em três ou
quatro vezes a cada dois anos, e um
retorno médio de nove a dez vezes o
investimento”, afirmou. A outra é,
quem sabe, encontrar o
primeiro unicórnio – como
são chamadas as startups
avaliadas em mais de
US$ 1 bilhão – do
FOTO: GABRIEL REIS

agronegócio brasileiro.

12 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
RURAL – Qual a avaliação que o senhor faz da evolução do Historicamente o produtor é um adepto contumaz de tecnolo-
agronegócio no Brasil e América Latina desde 1994 quando gia para a lavoura, mas resistente àquelas voltadas a solu-
chegou até hoje? ções que envolviam transações financeiras. Como as agfinte-
KIERAN GARTLAN – Observamos crescimento constante do chs estão quebrando essa resistência?
setor no Brasil amparado por duas forças. Internamente, Uma das grandes características brasileiras é que todo o
pela abundância de recursos naturais como terra e água, ecossistema da agricultura tradicional foi construído para
além de um clima muito favorável. Externamente, por uma atender aos grandes produtores. Os bancos privados, por
demanda global relevante, principalmente da China que foi exemplo, miravam em clientes acima de 10 mil hectares.
o driver deste crescimento. Aliado a tudo isso, havia a tec- Relegavam o pequeno e o médio produtores pois não tinham
nologia agronômica robusta graças à Embrapa. Era fácil condições de avaliar os riscos da operação. Isso deixava os
crescer. Mas o grande problema esteve e ainda está fora da dois grupos dependentes de fontes oficiais de recursos. A
porteira. Entre eles logística, estrutura de armazenagem e, tecnologia provocará disrupções no agro brasileiro ao
principalmente, acesso ao crédito. democratizar o acesso ao sistema financeiro.

Mesmo com dificulda- Qual componente que


des, o agronegócio acu-
mula bons resultados.
“Dentro das áreas de mais interesse das ela traz que não existia
até aqui?
O que explica o olhar venture capitals, as que nós consideramos A visibilidade do que
tardio do capital para o
setor como oportunida-
mais promissoras são as agfintechs e as acontece dentro da por-
teira por meio de acesso
de de investimento? soluções de impacto ESG” remoto aos dados. Com
A Faria Lima não a tecnologia, o custo de
estava interessada no avaliação de risco é o
campo. Dois motivos mesmo para qualquer
explicam o atraso. O propriedade rural inde-
primeiro é que com os pendentemente do seu
juros altos pagos pelo tamanho. Assim ela
Brasil, os fundos Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
resolve o principal pro-
tinham bons retornos blema do campo no
com baixo risco em Brasil que é como
outras opções de inves- garantir o financiamen-
timento. E isso casa to dos insumos, da
com o segundo, que era lavoura. O problema do
a falta de transparên- Brasil não está na agro-
cia e de visibilidade da nomia. Está na limita-
agricultura, o que a ção do serviço financei-
tornava uma atividade ro em atender essa
ISTOCK

de alto risco. demanda do produtor.

O que está provocando O Plano Safra ainda é


essa mudança com relação à percepção de risco? considerado a melhor ferramenta de crédito ao produtor pelo
A tecnologia. Ela permitiu dar mais visibilidade ao que subsídio feito pelo governo federal. As agfintechs consegui-
acontece dentro da porteira. Hoje é possível, de forma remo- rão oferecer alternativas competitivas em prazo e juros?
ta, ver o que está acontecendo na propriedade rural durante Há algumas sinergias possíveis entre o sistema tradicional
o desenvolvimento da safra. Esse é um grande diferencial. e as startups. Alguns grandes bancos privados, por exem-
plo, não têm interesse em originar esses produtores [peque-
É essa demanda por visibilidade que explica o boom de star- nos e médios] porque a rentabilidade dessas operações é
tups ligadas ao agro, as agtechs? baixa. O que alguns deles estão fazendo é oferecer parcerias
Sim. Essa mudança estrutural começou a atrair também a às fintechs para que elas façam a linha de crédito com o pro-
atenção de outros agentes de fora do agro. Surgiram as agte- dutor e gerenciem o risco. É uma sinergia bem interessante
chs e as agfintechs — startups que trazem soluções financei- porque o banco tem dinheiro, mas não tem tanta vontade de
ras por meio da tecnologia para o agro. Como consequência, ter o trabalho da operação por dificuldade de avaliação de
os venture capitals, que conhecem muito bem as agfintechs e risco e baixo retorno. Já para as startups é um grande negó-
gostam do modelo de negócio, começaram a se aproximar cio porque conseguem chegar ao produtor com uma propos-
do setor. Junte as fintechs e o desempenho do agronegócio e ta relevante para começar o trabalho e, ao ganhar a confian-
a resultante é um mercado muito atraente para os fundos. ça deles, têm a chance de oferecer novos negócios.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 13
E N T R E V I S T A
KIERAN GARTLAN

Além dos financeiros, que outros serviços são promissores bastante tração, mas cujos sócios não sabiam gerar um
para as startups? faturamento relevante para o produto. A outra era a
Como venture capital, nosso negócio envolve premissas Perfarm, que oferece um software de gestão de fazendas. O
como crescimento rápido e escala. Por isso não gostamos produto também é ótimo, mas o modelo de negócio não era
tanto de tecnologias que tenham hardware ou de soluções atraente. Ambos os negócios estão indo bem.
que demandam presença física no campo para serem imple-
mentadas. Tudo que envolve máquinário e capital intensivo Quais são os planos do The Yield Field para o Brasil?
são mais atrativos para o private equity. Nosso negócio são Nós fazemos parte de uma rede global de fundos regionais
plataformas digitais, softwares e soluções B2B. Dentro com presença nos Estados Unidos, Europa, Ásia e América
disso, as áreas mais promissoras são as agfintechs e as Latina. Aqui na América Latina acabamos de lançar um
soluções de impacto ESG atreladas à eficiência da proprie- fundo de dez anos que tem como objetivo captar US$ 50
dade e visibilidade dos negócios. milhões, sendo que algo entre 35% e 40% serão aplicados no
Brasil nos próximos cinco anos. Nos outros cinco anos, bus-
Consegue dar um exemplo? camos saídas. E o primeiro unicórnio do agro.
O mercado de crédito de carbono. Hoje não tem como verifi-
car se o sequestro de carbono está de fato acontecendo ou se
Apesar de toda a relevância do agro brasileiro, não temos o
existem outros impactos sonhado unicórnio
não visíveis. Então [empresa avaliada em
quanto mais tecnologias “Os valuations estavam crescendo muito mais de US$ 1 bilhão].
remotas para gerar
dados reais do que está antes de 2020. A TerraMagna O que está faltando?
De todos os lugares em
acontecendo no campo, [de Bernardo Fabiani], por exemplo, que temos presença, o
melhor.
multiplicou em 10 vezes o investimento Brasil é o que mais tem
chance de ter um uni-
Acesse
A conectividade no Brasil nosso quenofizemos neles em 2019”
Canal Telegram: t.me/BRASILREVISTAS córnio no agromegócio,
não atrapalha? principalmente no
A conectividade está setor de agfintechs.
cada vez melhor. Não é o Esse mercado é enor-
cenário perfeito, mas já me, só de insumos são
evoluímos. Na verdade, US$ 100 bilhões por
o grande problema das ano e ainda existem
agtechs é escalar rápido. possibilidades imensas
E isso não é só no em expansão de terras,
Brasil, é no mundo máquinas, infraestru-
inteiro. Por isso, não tura. Assim que uma
vemos tantos unicórnios startup chegar à ava-
entre as startups que liação de unicórnio,
MARCO ANKOSQUI

oferecem tecnologia outras aparecerão.


para o campo em si.
O que falta para as star-
Isso é uma ameaça ao tups do agronegócio, as
setor de agtechs? agtechs, chegarem a
Acredito em uma mudança de modelo. Devemos passar por valores de mercado mais expressivos que os atuais?
uma onda de consolidação e verticalização do setor com as Os valuations estavam crescendo muito antes dessa crise
agfintechs comprando as agtechs para usar as soluções que recente, mas acredito que essa evolução vai acontecer por-
elas oferecem para minimizar riscos de crédito. que o modelo está funcionando. A TerraMagna, por exem-
plo, multiplicou em 10 vezes o investimento que fizemos
Esse movimento já está acontecendo? neles em 2019. É uma questão de tempo.
Sim. Recentemente a Seedz, uma startup do nosso portfólio,
adquiriu outras duas startups mais focadas em soluções Esse é um retorno bem expressivo.
para dentro da porteira. Uma era a Atomic [plataforma Buscamos sempre multiplicar nosso retorno em três ou
digital que consolida informações do campo], empresa de quatro vezes a cada dois anos, e um retorno médio de nove a
Uberlândia (MG) que tem um modelo bem interessante e dez vezes o investimento. Com agfintechs, isso é factível.

14 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
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KELLEN SEVERO
Jornalista especializada
em Economia e Agronegócio

ACESSE A PÁGINA
DO HORA H

ATENÇÃO ESTE PRODUTO É PERIGOSO À SAÚDE HUMANA, ANIMAL E AO MEIO AMBIENTE; USO AGRÍCOLA; VENDA SOB RECEITUÁRIO AGRONÔMICO; CONSULTE
SEMPRE UM AGRÔNOMO; INFORME-SE E REALIZE O MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS; DESCARTE CORRETAMENTE AS EMBALAGENS E OS RESTOS DOS
PRODUTOS; LEIA ATENTAMENTE E SIGA AS INSTRUÇÕES CONTIDAS NO RÓTULO, NA BULA E NA RECEITA; E UTILIZE OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.
AGRONEGÓCIOS

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A SUINOCULTURA
busca novos mercados
APÓS UM PRIMEIRO SEMESTRE MARCADO PELA REDUÇÃO DAS
COMPRAS DOS PRINCIPAIS IMPORTADORES, INDÚSTRIA BRASILEIRA
DE CARNE SUÍNA DEVE VOLTAR A ROTA DO CRESCIMENTO COM A
CONQUISTA DE DESTINOS NÃO TRADICIONAIS E O AUMENTO DO
CONSUMO INTERNO. MAS AINDA HÁ MUITOS DESAFIOS PELA FRENTE
ISTOCK

16
EM 2022, PRODUÇÃO DE CARNE
SUÍNA NO BRASIL PODE CHEGAR A
4,95 MI TONELADAS

Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

POR ROMUALDO VENÂNCIO*

O
primeiro semestre de 2022 foi complicado para ABPA prevê que as importações da China em 2022
as exportações da suinocultura brasileira. O fiquem entre 2,8 milhões e 3,2 milhões de toneladas.
setor perdeu volumes significativos de vendas “Em 2020 e 2021, compraram 5 milhões de toneladas,
para mercados importantes. A China, princi- mas antes da Peste Suína Africana (PSA) a importação
pal mercado da carne suína produzida no País, estava na casa de 1,2 milhão”, disse. Ainda assim o país
reduziu em 38,5% seus pedidos. Foram 114,4 segue como importante comprador global, inclusive
mil toneladas a menos. Hong Kong reduziu em 30,4 mil ainda é o maior importador da carne suína do Brasil.
toneladas, 37,7% a menos do que no mesmo período de Por isso, se continuar nessa toada o Brasil deverá ver
2021. Para o presidente da Associação Brasileira de suas exportações caírem 3% neste ano. Crescimento
Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, o balanço só em 2023 e algo em torno de 9% graças à venda para
geral até que não foi tão complicado, pois a queda que países com pouca tradição na importação de suínos.
chegou a 52 mil toneladas foi um terço da perda com O assessor técnico da Confederação da Agricul-
China e Hong Kong. “Isso significa que houve pulveri- tura e Pecuária do Brasil (CNA), Rafael Ribeiro,
zação do mercado”, afirmou. destaca o aumento de exportações para outros países
Santin reconhece, no entanto, que é fundamental da Ásia e para a América Latina. “Filipinas é hoje
recuperar o ritmo das negociações com os chineses. A o terceiro maior mercado e Singapura, o quarto.

17
AGRONEGÓCIOS

Ambos têm grande população e


com renda per capta crescente. Na
América do Sul, há grande potencial
na Argentina e no Chile”, afirmou.
Essa perspectiva, que vai além do
mercado chinês, é um estímulo às
empresas brasileiras que abastecem
o consumo global. É o caso da Pam-
plona Alimentos S/A, que exporta a
todos os países para os quais o Brasil
está habilitado. Além de atender
aos padrões exigidos pela demanda
internacional, a companhia tem a
vantagem de estar em Santa Cata-
rina, estado com status sanitário de
ALTO PADRÃO DE QUALIDADE DOS ANIMAIS E DAS LINHAS
livre de aftosa sem vacinação. “Por
conta disso, abrimos exportação para osso e miúdos para mercados como Irani assumiu a presidência da
Canadá e Japão. Hoje, vendemos Japão, Coreia e a própria China”, Pamplona em 2009, depois de já
para 24 países”, afirmou a presidente disse Santin. ter trabalhado em “tudo quanto é
da empresa, Irani Pamplona Peters. coisa dentro da empresa”, como ela
A ABPA tem dedicado esfor- CONSTRUÇÃO A Pamplona, que diz. Não é apenas jeito de falar. A
ços para que Rio Grande do Sul e em maio do ano que vem completa executiva e seus irmãos – Edina,
Paraná cheguem o quanto antes 75 anos, trabalha com 340 proprieda- Valcir, Jacir e Maria Daurete – cres-
ao mesmo patamar sanitário dos des integradas e um plantel de 500 ceram acompanhando e apoiando a
catarinenses, que respondem por mil animais. O abate chega a 6.380 dedicação dos pais, Lauro e Ana, na
56% das exportações brasileiras suínos por dia. O faturamento em construção do negócio. No árduo iní-
de carne suína. Acesse
Os gaúchosnosso 2021no
estão Canal foi Telegram:
de R$ 2,15 bilhões e deve cio, em Mosquitinho, cidade que fica
t.me/BRASILREVISTAS
na segunda posição dessas vendas, ficar em R$ 2,2 bilhões neste ano. a menos de 15 quilômetros de Rio do
com 23%, seguidos pelos parana- O resultado poderia ir além, não Sul, onde está a matriz da empresa,
enses com 15%. Para o presidente fossem os desafios enfrentados nem sequer havia água encanada.
da entidade, Santa Catarina não pelo setor. Esses e outros números “Meus pais eram dois jovens recém-
perderia mercado, mas essa divisão são fruto de uma longa história -casados que resolveram abater um
seria um pouco mais equilibrada. de crescimento bem-estruturado boi por semana, porque na região
“Os outros dois estados da região baseado em uma administração não tinha carne fresca”, disse. Sim, a
Sul poderiam vender carne com profissional. empresa começou com carne bovina.

PROJEÇÕES PARA A CARNE SUÍNA BRASILEIRA


(em milhões de toneladas)

5,050 - 5,100
Var. 4,850 - 4,950 Var.
4,701
até 1,050 - 1,100 até 1,150 - 1,200
+5,0% +3,0%
3,750 - 3,900 até 3,950
3,564 até até
-3,0% +9,0%
até até
1,137
16,7 até 18,0 até 18,3
+9,0% +2,0%

até até
2021 +8,0% 2022 +1,5% 2023
Fonte: ABPA

Produção Exportação Disponibilidade Consumo (per capita em kg)

18 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
DE PRODUÇÃO NA INDÚSTRIA PODE DEFINIR ACESSO AO MERCADO INTERNACIONAL

Segundo Irani, o casal aprendeu evolução da empresa, passou a cuidar SUPERAÇÃO Para se estar à
todo o processo de abate, separação da conta corrente e a lidar com os frente de uma companhia com 3,8
dos cortes e comercialização com a bancos. Agora, já há uma nova gera- mil colaboradores é necessário saber
prática. A presidente da Pamplona ção da família participando da gestão. lidar com os mais variados desafios,
conta que seu pai saía para comprar Seu filho Cleiton Pamplona Peters, inclusive aqueles sobre os quais não
o boi e voltava dois dias depois. Às por exemplo, é o diretor comercial de têm controle. Foi o que aconteceu
sextas-feiras, com tudo pronto em Mercado Interno. Conforme Irani, no início da pandemia da Covid-19,
cima de uma carrocinha, oferecia a companhia é considerada familiar que afetou a economia brasileira e
a mercadoria de porta em porta. por atuar com capital próprio, mas a mundial e exigiu de todos os setores
“Minha mãe costurava um cartão gestão é baseada em capacidade pro- rapidez nas adaptações e nas respos-
com o nome de cada corte, o peso
Acesse nossoeo fissional.
Canal no“Cobro muito det.me/BRASILREVISTAS
Telegram: todos. E tas. “Fizemos grandes investimentos
preço”, afirmou. A carne suína veio da família, que sejam melhores, que para implementar os protocolos
depois, com a produção de torresmo sejam um bom exemplo dentro e fora sanitários, contratar médicos do
e morcilha. Foi por esse caminho da da empresa”, disse a produtora, que trabalho, tudo para garantir a segu-
gestão que Irani começou a traçar ainda gosta de visitar as granjas e, se rança dos colaboradores e de suas
sua trajetória na empresa. for preciso, coloca a mão na massa, o famílias”, afirmou Irani.
A presidente da Pamplona que já fez muito. “Quem vai ocupar Embora o poder aquisitivo dos
ajudava a mãe, Dona Ana, com suas um cargo executivo tem de passar brasileiros tenha sido achatado pelos
anotações em uma caderneta. Com a por tudo isso também.” efeitos do coronavírus, o aumento de

A QUEDA DAS EXPORTAÇÕES OS CINCO MAIORES COMPRADORES


NO PRIMEIRO SEMESTRE DE CARNE SUÍNA DO BRASIL POR VOLUME
297.630 Var.
-38,5%
183.182
Var. Var.
-9,3% -17,4% Var. Var. Var. Var.
-37,7% 277,7% 44,7% 72,4%

1.350 80.782
1.115 50.298 41.683 31.767
563 mil 21.956 24.923
11.083 14.454
510 mil

2021 2022 2021 2022 China Hong Kong Filipinas Singapura Argentina

Volume (Jan-Jun / toneladas) Receita (Jan-Jun / milhões US$) 2021 (Jan-Jun / toneladas) 2022 (Jan-Jun / toneladas)

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 19
AGRONEGÓCIOS


preços da carne bovina – até impedi- influenciadores
tivo, em alguns casos – abriu espaço em sua estratégia
no mercado interno para os suínos. de comunicação,
O consumo anual per capita já vinha contratando a
crescendo, passou de 14,9 quilos apresentadora Por conta
em 2011 para 16,7 quilos em 2021, Chris Flores e
segundo a ABPA. E a estimativa é o chef Carlos
do status
de chegar a 18 quilos em 2022. Tal Bertolazzi. O sanitário
avanço é fruto da dedicação de toda a objetivo é ampliar de Santa
cadeia para garantir mais e melhores a participação do
produtos no varejo e de campanhas mercado nacional Catarina,
de promoção sobre as qualidades nos negócios, hoje também
da carne de suínos e sugestões de em 55%, até para
formas de preparo. reduzir os impac-
conseguimos
A Pamplona, que tem diversi- tos de situações exportar para
ficado seu portfólio para oferecer inusitadas, como Canadá e
porções menores, opção que deve a guerra entre
ganhar ainda mais destaque, inseriu Rússia e Ucrânia. Japão”
“Quando começou
CAIO CEZAR
IRANI PETERS,
o conflito, fazia 15
PAMPLONA
dias que havíamos
OS NÚMEROS enviado produtos
DA PAMPLONA para a Rússia”, disse a presidente da se sustentar na atividade até que as
empresa. Segundo Irani, foi preciso margens sejam retomadas.
ALIMENTOS grande esforço comercial e diplomá- A ABPA lista ainda outros fato-
tico para acertar o destino da carga res que pesam nessa conta, como a
R$ 2,2 nosso
Acesse que estava
Canal parada em alto
no Telegram: mar. evolução das despesas industriais
t.me/BRASILREVISTAS
entre 2018 e 2021, a exemplo do
bilhões CUSTOS A produção de carne suína polietileno, que representa 70% do
é o faturamento previsto em 2022 pode crescer em torno de custo total de embalagens e teve
para 2022 5% na comparação com 2021. No elevação de preço em 61%; e a ener-
ano passado, o volume total foi de gia elétrica, que aumentou 32%. Em
R$ 2,15 bi 4,70 milhões de toneladas, enquanto
a previsão da ABPA para este ano
relação ao mercado internacional, a
suinocultura continua a enfrentar
foi o faturamento
de 2021 vai de 4,85 milhões a 4,95 milhões de suspensão e reorganização de rotas
toneladas. E a tendência de aumento marítimas, menor disponibilidade
para 2023 é de mais 3%, com volume de navios e de contêineres e falta de
500 entre 5,05 milhões e 5,10 milhões espaço nas embarcações. Entre os ca-
mil de toneladas. Entretanto, qualquer
perspectiva tem de levar em conside-
minhos para atravessar esse mar de
desafios, a ABPA destaca os acordos
é o plantel de suínos
no campo ração os elevados custos do setor. internacionais de comércio, que pode-
A alimentação dos criatórios riam aumentar a competitividade da
é um dos principais fatores nessa produção nacional, abrindo mais es-
6.380 análise. “Os custos de produção, que paço e em condições mais favoráveis.
é a quantidade de suínos têm como base o milho e o farelo Apesar desse quadro, o presidente
abatidos por dia de soja, estão em alta desde 2020”, da entidade está otimista e acredita
afirmou o consultor de mercado da que o momento é de virada. “A pior
340 Associação Brasileira de Criadores
de Suínos (ABCS), Iuri Machado.
das fases no mercado de carne suína
já passou, e agora começa um proces-
são os fornecedores
integrados de suínos Em sua análise, até o início de 2021 o so de recuperação”, disse. É sempre
setor compensava essa alta vendendo válido ter cautela. “Ainda não sig-
seu produto mais caro, mas com a nifica rentabilidade total, há muitas
24 desvalorização do suíno, provocada empresas que estão com dificuldade
é o total de países para pelo excedente no mercado interno, o porque o milho continua caro.”
onde a empresa exporta produtor tem contabilizado prejuízos. *Com reportagem de Everton
Segundo Machado, o desafio agora é Sylvestre
Fonte: Pamplona
20 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
AGROECONOMIA

O COMBUSTÍVEL
QUE VEM DA TERRA
RESÍDUOS DA AGRICULTURA E DEJETOS DE
CRIAÇÃO DE ANIMAIS PODEM RESPONDER POR
95% DA PRODUÇÃO DE BIOMETANO DO PAÍS, UMA
ENERGIA LIMPA, ESTOCÁVEL, ESTÁVEL E MAIS
BARATA DO QUE O DIESEL
POR LANA PINHEIRO

D
Acessede nosso
iferentemente Canal
outros países, no oTelegram:
quando assunto é t.me/BRASILREVISTAS
a necessária jornada de descarbonização, o grande
desafio do Brasil não está na matriz energética. As
maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa
por aqui são o uso da terra e a agricultura com mais
de 60% de participação. A boa notícia, do ponto de
vista econômico para o agronegócio, é que uma alternativa para
compensar o impacto negativo de ambas as frentes está dentro
das próprias fazendas. Mais precisamente na transformação de
resíduo de culturas agrícolas e dejetos de animais em biometa-
no, um gás natural capaz de substituir o diesel no transporte;
energia fóssil por limpa, e ainda usar como matéria-prima os
resíduos que seriam descartados no meio ambiente. Mesmo
com tantos benefícios, o Brasil produz somente 4 milhões de
m3 diários. Situação que
deve se reverter até
2030 quando a produ-
ção pode chegar a 30
milhões de m3 por dia.
O salto na produção
será resultado de mais
de R$ 60 bilhões em
investimentos a serem
consolidados até o fim
ILUSTRAÇÃO: EVANDRO RODRIGUES

da década em novas usi-


nas, segundo projeções
da Associação Brasileira
do Biogás (ABiogás).

22 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBR0-2022
Como insumos, duas fontes: 5% devem vir de resíduos urbanos e
os demais 95% virão do campo, segundo disse à RURAL Bruno
Pascon, sócio-fundador e diretor da CBIE Advisory, braço de
consultoria do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). “O
potencial de produção de biogás no Brasil é de 121 milhões de
m3 e a principal fonte será a agropecuária”, afirmou. Segundo
ele, o volume seria suficiente para substituir 70% da frota de
caminhões a diesel do País. “Estamos falando do pré-sal caipira”,
disse. Do total de biometano produzido pelo agro, 47,7% vêm do
setor sucroenergético, 32,2% de fazendas de criação de animais e
15,1% de restos de produção agrícola como palha de milho.
Como vantagens para o produtor rural, além de estar em
conformidade com os compromissos assumidos pelo Brasil de
descarbonizar a economia chegando ao net zero em 2050, estão
também o fato de que a energia produzida é limpa, barata, esto-
cável e estável. Isso faz do biometano uma alternativa melhor
do que o diesel ou do que a energia eólica ou solar. Então, por
que demorou tanto para tracionar? Na opinião de Alexandre
Candido, da ACP Bioenergia, “apesar de ser um setor muito
promissor, ele era ainda pouco entendido por agentes financeiros
e população”. A situação começa a mudar. Em 21 de dezembro
de 2021, foi realizado o
1º leilão de reserva de
capacidade e potência
no Brasil, coordenado
pela Agência Nacional
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS de Energia Elétrica
(ANEEL). Dentre as
17 usinas vencedoras,
uma era de biomassa:
o projeto Cidade do
Livro, da IBS Energia.
O investimento
previsto na usina de
biomassa é de meio
bilhão de reais, com ge-

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBR0-2022 23
AGROECONOMIA

APORTES Dados da Abiogás


apontam para investimentos de
R$ 60 bilhões em novas usinas
até o fim da década
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

ISTOCK
ração de 1,5 mil empregos diretos e
indiretos. O diretor de Operações da
IBS Energy, Murillo Galli, justificou
a decisão estratégica da companhia.
“O Brasil passa por um momento
disruptivo na jornada que o levará a
ser protagonista na produção de ali-
mentos e isso impulsionará seu papel


como produtor de bioenergia”, afir-
mou. O ineditismo dessa usina recai
no fato de que será exclusivamente impulsionou a produção de biometano no Brasil. Muito
para a geração de bioeletricidade. do gás produzido pelas usinas, era usado para consumo
Localizada em Lençóis Paulista próprio. O impacto positivo vinha na conta de energia e
O Brasil (SP), região com grande área de no reaproveitamento de resíduos. Mas o mercado está
passa por florestas plantadas e cana-de-açúcar, evoluindo rapidamente impulsionado por grandes players.
momento a unidade usará os resíduos de pro- Exemplo é a Raízen. Com todas as 35 unidades produto-
dutores de todos os tamanhos como ras de bioenergia autossuficientes em energia graças à
disruptivo insumo, inclusive dos independen- biomassa gerada internamente, em 2020 a empresa, por
que o tes. A matéria-prima virá de área meio da Raízen Geo Biogás S.A., uma joint venture com
própria, contrato de longo prazo e a Geo Energética, lançou sua primeira planta de geração
levará à de energia exclusivamente por biogás. Localizada em
contratos spots na proporção de um
liderança terço para cada. “Isso nos permiti- Guariba, São Paulo, a unidade consumiu investimentos de
em rá controlar a saúde financeira da R$ 153 milhões para a geração de 138 mil MWh.
empresa, com a administração de Neste ano, a Raízen Geo Biogás dobrou o aporte
bioenergia” nossos custos”, afirmou o executivo. para a construção de sua segunda planta, mas a primeira
MURILLO GALLI Redução de custos foi sem dú- dedicada à produção do biometano. Com investimentos
IBS ENERGY vida um dos primeiros gatilhos que de cerca de R$ 300 milhões, terá capacidade de produção

24
34 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBR0-2022
de 26 milhões de m³ de gás natural
renovável por ano, o suficiente para BIOGÁS EM POTENCIAL
abastecer aproximadamente 200 mil O campo gera 95% da matéria-prima para a produção do combustível
clientes residenciais. Segundo Thais
Fornicola, diretora Agroindustrial Origem
da Raízen, a nova unidade “consolida (em milhões de Nm3/dia)
a empresa cada vez mais como pro-


tagonista na renovação energética” e
reforça a estratégia ESG da com- 47,7%
panhia. “Nosso programa de ESG é
prover essas soluções também para
32,2%
os clientes, permitindo que façam 57,6 15,1%
Nosso substituições para deixar uma pega-
programa da mais leve de carbono”, afirmou. 38,9 5%
de ESG é A pegada mais leve é dado 18,2 6,1
objetivo. Segundo a calculadora do
prover RenovaBio, o uso do biometano no Sucroenergético Proteína Produção Saneamento
soluções lugar do diesel pode reduzir em 96% animal agrícola
as emissões de CO2, além de gerar
certas uma economia de 20% a 30% em re- Raio-x
também lação ao gasto com óleo diesel. Para Capacidade instalada (2022):
para os Alexandre Rangel, da EY, o “bio- 307,7 MW
cumbustível abre uma nova avenida
clientes” de prosperidade para o agronegócio Potencial
THAIS brasileiro”, disse o executivo que 44,1bn NM³ ou 120,8MMm³/dia
FORNICOLA vê com especial apreço a célula de Equivale a
RAÍZEN Acesse nosso
combustível Canal
baseada no Telegram:
no etanol. “Te- t.me/BRASILREVISTAS
2,3x produção líquida GN nacional
mos aqui a oportunidade de um novo
Possibilidade de substituir
patamar para o setor bioenergético nacional.”
Energia e alimentos, uma combinação que pode trans- 70% frota diesel
formar qualquer país em uma potência econômica global.

BAIXO CARBONO Biometano pro-


duzido pelo agro pode substituir
70% do combustível usado pela
frota a diesel do País

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBR0-2022 25
AGRONEGÓCIOS

MELHOR
A CADA
SAFRA
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS


COM DUAS ENTRADAS NA B3 EM
MENOS DE UM ANO E MEIO,
A semente
EMPRESA LÍDER NA PRODUÇÃO DE é o início
SEMENTES DE SOJA CULTIVA de tudo.
Uma
PLANOS DE CRESCIMENTO COM semente
MAIS VELOCIDADE E OUSADIA ruim não
vai dar
POR ROMUALDO VENÂNCIO
lavoura
boa”
YASMIN VELOSO

CAMILA COLPO,
BOA SAFRA

26 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
EMPRESA TEVE SEU MELHOR
FATURAMENTO EM 2022:
R$ 1 BILHÃO

Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

A
Boa Safra Sementes, que tem expansão de ter operação nas principais
sede em Formosa (GO), inaugu- regiões produtoras do País. E a segun-
rou oficialmente um centro de dis- da, em agosto último, com a estreia de
tribuição em Sorriso (MT), unida- um Fundo de Investimento nas Cadeias
de com capacidade de estocagem Produtivas Agroindustriais (Fiagro), em
de 40 mil big bags, sendo que cada parceria com a Suno Asset, gestora do
uma comporta em média uma tonelada de Grupo Suno. O terreno que abriga o CD
sementes. Além da função estratégica no de Sorriso é um dos ativos desse Fiagro.
atendimento ao cliente, oferecendo mais Mais do que um novo passo na expan-
agilidade e amplitude logística, a nova são da Boa Safra, que já é a maior produ-
instalação é uma representação de quão tora nacional de sementes de soja, com
positiva tem sido a entrada da empresa 6% de market share, essa inauguração é
na B3, a bolsa de valores brasileira, por uma conquista pessoal e profissional dos
duas vezes. A primeira, com a abertura irmãos Marino e Camila Stefani Colpo,
de capital em abril do ano passado, que respectivamente CEO e presidente do
injetou recursos para tocar o plano de Conselho de Administração da empre-

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 27
AGRONEGÓCIOS

GABRIEL REIS
sa. “Quando eu tinha uns 15 anos, de garantir a qualidade técnica da
víamos nos jornais muitas notícias produção da Boa Safra. Engenheira
sobre IPOs e meu pai comentava que agrônoma formada pela Universi-
‘empresário esperto chega na bolsa’”, dade Federal de Goiás (UFG), tem
disse Marino, que transformou aquela pós-graduação em gestão de agrone-
frase em compromisso. “Falei para gócios pela UPIS, de Brasília, e em
ele que chegaríamos lá, coloquei no desenvolvimento humano de gestores
papel e assinamos juntos, como um pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
contrato.” E completa o currículo com especia-
Ainda na adolescência, Marino foi lização em melhoramento genético
incentivado por seu pai, Neri Colpo, a de sementes de milho e girassol pela
entender sobre economia e mercado Syngenta, feita em Toulousse, na
financeiro. O executivo conta que França.
recebia do pai as edições do extinto Foi lá que Camila conheceu a
jornal Gazeta Mercantil para treinar produção de sementes de milho em
interpretação de texto, pois em se- câmara fria, técnica que acabou se
guida passaria por uma chamada oral. tornando um diferencial da empresa,
“Comecei a gostar do jornal e passei apesar dos olhares desconfiados no
a entender de economia.” O interesse início. Segundo a dupla que comanda
avançou para a vida acadêmica, mas o a Boa Safra, muita gente acreditava
empresário achou que se falava pouco que o mercado não pagaria um preço
sobre bolsa de valores na faculdade diferenciado pela qualidade, por se
de economia e migrou para admi- tratar de um insumo mais
nistração de empresas, graduação barato. Com a estrutura
concluída pela UniCeub, em Brasília pronta e o ganho de
(DF). “Minha monografia
Acessefoinosso escala
sobre Canal nonoTelegram:
alto padrão t.me/BRASILREVISTAS
hedge de commodities”, afirmou. Ma- técnico, a demanda veio.
rino também tem especialização em Para se ter ideia, o relató-
mercado financeiro pela Northwes- rio de resultados da empresa
tern University de Chigaco (EUA). sobre o segundo semestre do ano
mostrou R$ 831 milhões em carteira
SEMENTES Enquanto o irmão se de pedidos, que passam a ser entre-
encarrega da estratégia administra- gues a partir de setembro. O volume
tiva, Camila tem a responsabilidade é 52% maior do que o registrado no

TECNOLOGIA Armazenagem das sementes em câmaras frias se tornou um diferencial

28 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022

mesmo período de
2021.
O próprio OS NÚMEROS DA
mercado suprimiu BOA SAFRA
Ainda as dúvidas sobre
podemos o potencial das se-
mentes com mais
R$ 1,19
crescer tecnologia. A BILHÃO
crescente procura é a receita operacional líquida
muito no nos últimos 12 meses
por sementes
extremo tratadas é prova
Norte e no disso, tanto que já R$ 831
Sul. Os dois responde por 30% MILHÕES
a 35% da deman- é o volume de pedidos no
CDs são só da, de acordo segundo trimestre de 2022
o começo” com os donos da
Boa Safra. “E há R$ 118,2
MARINO COLPO, muito espaço para
BOA SAFRA crescer”, disse MILHÕES
é o lucro líquido nos
Camila. Segundo últimos 12 meses
ela, como o preço
dos insumos tem elevado o custo de
produção das lavouras, o agricultor
170
busca acertar mais. “E a semente MIL
é o início de tudo. Uma semente é número de big bags
Acesse nosso Canal no ruim não vai dar lavoura
Telegram: boa”,
t.me/BRASILREVISTAS para armazenagem
afirmou. O retorno financeiro
está exatamente no aumento 93,5
da produtividade, resultante
dos ganhos em vigor e germi-
MIL
é a capacidade de armazenagem
nação. “O investimento rende climatizada em m 2
mais sacas por hectare com
Fonte: Relatório Boa Safra do segunto trimestre de 2022
melhor rentabilidade.” As aná-
lises de campo da Boa Safra na
safra 2020/21 mostraram índice
de vigor em 91,4% e de germinação unidades: as plantas de Jaborandi
em 94,9% em suas sementes. (BA), Buritis (MG) e Cabeceiras (GO)
e o CD de Sorriso. Mais duas estão
FUTURO O rápido crescimento da em andamento, a unidade de benefi-
Boa Safra, com resultados expressi- ciamento de sementes em Primavera
vos, tem se mostrado uma platafor- do Leste (MT) e o CD de Balsas
ma segura para os próximos passos. (MA). Com toda essa infraestrutu-
No ano passado, com receita líquida ra pronta, a empresa pode fechar o
acima de R$ 1 bilhão, a empresa ob- ano com capacidade de produção de
teve lucro de R$ 128 milhões, quantia 170 mil big bags. Segundo Marino, o
82% superior à registrada em 2020. avanço dessas obras garante a oferta
Esses números ainda são motivo de de sementes e resolve a questão da
celebração, mas também de atenção, logística, um dos principais gargalos
pois a régua tende a subir. Certamen- do setor. “Esses dois CDs são só o
te, os 40 mil acionistas da companhia começo, temos mais dez planejados”,
esperam performance no mínimo disse. Até 2026, o objetivo da com-
semelhante. É a direção que apontam panhia é concluir três obras por ano,
os planos de expansão. sendo uma fábrica e dois CDs. “Ainda
Desde a abertura de capital, a podemos crescer muito no extremo
Boa Safra já concluiu quatro novas Norte e no Sul”, afirmou Marino.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 29
AGRONEGÓCIOS

Dos grãos especiais colhidos


na região da Serra da
Mantiqueira são obtidos
alguns dos melhores cafés
do mundo embalados nas
cápsulas Acesse
da Nespresso
nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

Café do E
m todo inverno é assim. O sol mal aponta por cima
das montanhas de São Sebastião da Grama, em
Minas Gerais, e o observador atento começa a
enxergar uma vastidão de pés de café carregados
de grãos. É ali na Serra da Mantiqueira, entre os

campo à
estados mineiro e de São Paulo, que se concentra parte
das 1,3 mil fazendas brasileiras licenciadas para o forne-
cimento dos grãos especiais para a Nespresso. Dessas,
49 propriedades, que juntas somam 18,4 mil hectares,
alcançaram a nota máxima de excelência da marca, o
triple A. A concentração geográfica, como explicou o
chefe do Programa AAA de Qualidade Sustentável na
Nespresso no Brasil e no Havaí, Guilherme Amado, não

mesa
é mero acaso. “Estar nas montanhas com solos vulcânicos
mais férteis, exposição de sol ideal e baixas temperaturas
à noite cria condições perfeitas para que os grãos atinjam
uma qualidade superior.”
Uma dessas fazendas triple A é a centenária Cachoei-
ra da Grama, que sempre produziu cafés de alta qualida-
de e hoje é uma das pioneiras em cafés especiais. Coman-
dada pelo produtor Gabriel Carvalho Dias, a propriedade
de 411 hectares tem o Bourbon Amarelo como uma das
variedades produzidas. Após ser colhido manualmente
ANNA FRANÇA com muito cuidado, esse grão é selecionado e embalado

30 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
QUALIDADE A soma do terroir
com os cuidados no cultivo e no
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
manejo eleva o padrão da bebida

em uma Edição Limitada para a Nespresso. Os pés são explica os investimentos que ultrapassam a linha dos
cultivados em altitudes que variam de 1,1 mil a 1,25 mil US$ 10 milhões ao ano somente nessa área. Os resul-
metros, faixa ideal para que a amplitude térmica deixe tados compensam. Cerca de 80% dos fornecedores de
seu registro no gosto do líquido final. “Assim como nas cafés especiais são pequenos produtores altamente
uvas usadas na produção de vinhos, no café essa diferen- engajados com a marca e com os padrões de qualidade
ça também é importante”, afirmou Amado. Isso porque, acima dos exigidos pelo mercado. Um comportamento
segundo o especialista, os níveis de acidez e doçura que começou a crescer no Brasil não faz muito tempo e
aumentam, elevando a complexidade aromática desses que está mudando a imagem internacional de um país
frutos. “Por isso falamos que a qualidade está na monta- produtor de café commodity para o de produtor de
nha e ela está diretamente ligada ao terroir.” grãos com os mais altos padrões de excelência. Não por
Para a marca, a qualidade dos grãos desde a colheita outro motivo, o Brasil e a Colômbia são hoje os maiores
até a torra é uma questão fundamental do negócio. Isso fornecedores da Nespresso.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 31
AGRONEGÓCIOS


MERCADO Atualmente, o Brasil
é o maior produtor global de café
tipo commodity e o segundo maior
consumidor da bebida do mundo.
Em 2021, a média de produção glo- Esse
bal chegou a 167 milhões de sacas
do grão, das quais quase 50 milhões terroir
foram de origem brasileira, o equi- oferece
valente a 28%. Entre as variedades
estão o Arábica e o Robusta (ou Co- condições
nillon), além de outras como Mundo ideais para
Novo, Catuaí, Icatu e o Bourbon. que os
Sendo que, segundo dados da Com-
panhia Nacional de Abastecimento grãos
(Conab), para este ano a previsão é atinjam
que a produção de café Robusta/Co-
nilon seja recorde com 17,7 milhões
uma
de sacas, ante 16,29 milhões sacas qualidade
em 2021. Já o café Arábica deve superior”
somar 35,7 milhões de sacas, alta
GUILHERME
de 13,6% a mais em relação ao ano
anterior. AMADO,
Havia um receio de repetir NESPRESSO
nesse ano a quebra de 10% da safra
dos anos anteriores, devido à geada. Mas o medo acabou do com dados da cooperativa Cooxupé, o valor da saca
não se concretizando.
Acesse O clima sem chuva
nosso Canalficou
noperfei-
Telegram:vinha aumentando na virada do ano, passando de um
t.me/BRASILREVISTAS
to para o desenvolvimento final do grão. “Café e uva patamar de US$ 255, em dezembro de 2021, para uma
não amadurecem depois de colhidos. Se tirar verde, a cotação recorde de US$ 285 em fevereiro deste ano, até
adstringência passa para a bebida, que fica dura”, disse dar sinais de que está se estabilizando em valores que
Amado, da Nespresso. O clima também ajudou no lento ficam entre US$ 200 e US$ 210 no início deste segundo
processo de secagem dos especiais que pode chegar até semestre.
30 dias. O resultado são os bons números de produção Com tantas boas notícias para o setor, vale celebrar
apontados pela Conab. Junto a isso, o produtor ainda com uma bela xícara de café aos pés da serra que abri-
comemora os preços no mercado internacional. De acor- gam os cafezais triple A da Nespresso.

INVESTIMENTO Por
ano, Nespresso aplica
US$ 10 milhões para ter
os melhores cafés

40 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
Chegou a nova
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DEZ PERGUNTAS
POR LANA PINHEIRO

“Hoje temos uma das mais


completas legislações mundiais
para o registro de produtos
agrícolas”
É antiga a insatisfação de vários
agentes brasileiros com a
cadeia dos agroquímicos.
Fabricantes se queixam da morosi-
dade na aprovação de novos produtos;
produtores rurais, dos preços; e o
consumidor, do excesso dos químicos
nos alimentos. A solução para minimi-
zar todos esses problemas pode estar
no uso em maior escala dos bioinsu-
mos. Nesta entrevista à RURAL,
Acesse
Maria Luiza Castro, nosso Canal
representante no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
brasileira na presidência da RED
Latam e cofundadora da CESIS
Consultoria, empresa dedicada a
registros de bioprodutos, defende o
uso equilibrado entre os produtos de
origem natural e os químicos. Para
XXXXXXXXXXX

ela a solução agrada os consumido-


res, os produtores e até mesmo os
fabricantes, que ao diversificarem o
portfólio podem se beneficiar de um
mercado que deve movimentar mais
de US$ 18 bilhões.

Como a senhora avalia a legislação dos


agroquímicos e bioinsumos no Brasil?
MARIA LUIZA CASTRO — O Brasil
está no topo da cadeia de importação
de produtos químicos. E como cultu-
ralmente os agricultores utilizam
muito esses produtos no combate de
pragas e doenças, os órgãos regulari-
zadores — Ibama, Anvisa e o
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) — constituí-
ram uma maneira de legislar focada
YASMIN VELOSO

nos químicos. Mas uma lei é uma lei.


Ela é curta, simples e direta. Então, é
preciso, a partir deste texto, criar
PARA MARIA LUIZA CASTRO, COFUNDADORA DA CESIS CONSULTORIA

outros instrumentos jurídicos que adotadas pela Organização para a Como quais?
expliquem os requisitos para a indús- Cooperação e Desenvolvimento Uma delas é que além da aprovação
tria poder regulamentar novos produ- Econômico (OCDE), e pela USDA, dos órgãos nacionais, os produtos pre-
tos. Só que inicialmente esses requisi- agência de proteção ambiental ameri- cisam ser submetidos à aprovação
tos eram quase todos de bases quími- cana. Não inventamos a roda. Nossos estadual. O outro ponto é o tamanho
cas. Não se pensava em produtos à técnicos se inspiraram, melhoraram e da equipe que o governo possui para
base de fungos, bactérias e muito adequaram todos esses requisitos às analisar os processos. Em uma visita
menos em utilizar uma vespinha para especificidades locais. Em 2020 foi que fiz à EPA, agência ambiental ame-
combater pragas. dado um passo importantíssimo para ricana, na época que eu trabalhava no
o setor com o lançamento do Programa Ibama, somente na área de checklist,
Isso explica o porquê dos biológicos Nacional de Bioinsumos. Hoje, pode- que recebe os processos para ver se está
demorarem tanto para tracionar? mos dizer que temos uma das mais tudo certo, havia 88 pessoas. No
Os produtos biológicos já são uma rea- completas legislações mundiais para o Ibama, eram duas. De lá para cá,
lidade no Brasil há mais de 30 anos. A registro de produtos agrícolas. melhoramos um pouco, mas estamos
questão é que eles estão inseridos em longe do necessário. O ideal seria dar
uma legislação antiga (1989). Nela são Um dos pontos citados pela indústria celeridade já que do ponto de vista do
definidos como agrotóxicos ‘produtos como crítico no processo é o tempo de ESG, a redução dos químicos é muito
de origem física, química ou biológica aprovação de novos produtos pelos bem-vinda.
que alterem os processos da natureza órgãos competentes. Qual a avaliação
para atuar no combate de pragas e da senhora? Ou seja, ainda de economicamente viá-
doenças agrícolas’. Isso colocava os Esse realmente é um grande gargalo, vel e com menos impacto negativo ao
biológicos na sombra dos químicos. um ponto crítico. Posso afirmar, meio ambiente, os biológicos podem
porém, que essa queixa é a mesma em ajudar na reputação do agro?
Desde então não houve nenhuma países estrangeiros, estejam eles na O uso de bioinsumos vem ao encontro
Acesse nosso Canal
modernização desta legislação?
no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
Europa ou nos Estados Unidos. Mas da necessidade de crescimento susten-
Ela vem se transformando ao longo do veja bem: os órgãos reguladores têm tável do agronegócio. Já somos líderes
tempo. Inicialmente, tivemos ações muita responsabilidade, porque não só mundiais na produção de bioinsumos
pontuais de um órgão ou de outro para vão liberar um produto que chegará à e o mercado vem em uma curva cres-
tentar regular alguns produtos de base mesa dos consumidores brasileiros, cente de demanda. Os biológicos che-
biológica que tinham demanda. Os como também de milhões de pessoas ao gam como um importante fator de
primeiros a serem regulados foram redor do mundo. Então, imagine o afirmação da agricultura brasileira.
aqueles com organismos microbiológi- risco na liberação acelerada ou errô- Eles representam o futuro do setor.
cos, em 1997. Em seguida, tivemos a nea de um produto químico ou biológi-
liberação dos semioquímicos (substân- co que afete a saúde humana ou do Do ponto de vista dos consumidores há
cias químicas liberadas por insetos meio ambiente? Os problemas decor- uma vilanização dos químicos, mas há
que atraem algumas pragas para que rentes podem ser graves como neuroto- como plantar em escala em um ambien-
sejam extirpadas). Foi uma caminha- xicidade ou cancergenesidade. te tropical sem eles?
da até que, em 2005 e 2006, a Anvisa Eu não acredito. Defendo uma harmo-
criou um grupo de trabalho para O uso de bioquímicos em lavouras tam- nia dos usos.
desenvolver normas direcionadas aos bém traz riscos à saúde e ao ambiente?
biológicos. Esse movimento levou o Sim. Além de alguns biológicos apre- Do ponto de vista de negócio, produzi-los
Ibama e o Mapa a se unirem à Anvisa sentarem níveis de toxicidade, é preci- em escala é um bom negócio?
para publicar um instrumento norma- so avaliar se o micro-organismo do Segundo dados da consultoria Spark,
tivo conjunto que garantisse regras novo produto não ameaça outros exis- o mercado de biológicos já atingiu
para que os produtos biológicos fossem tentes na região em que será aplicado, R$ 1,7 bilhão e vem crescendo de 35% a
considerados seguros ao meio ambien- por exemplo. Voltando a questão ante- 40% ao ano, em contraste com os quí-
te e à saúde humana. rior é importante destacar que o prazo micos que é de cerca de 3,5% ao ano. Já
de aprovação de um biológico, que o mercado global de biológicos de con-
Quais foram as bases para a regulamen- antes era de dez anos ou mais, hoje é trole vai alcançar US$ 18 bilhões até
tação brasileira? de cerca de três anos. O prazo está 2026. Ou seja, já é um bom negócio e
O Brasil olhou para as legislações bom, mas ainda há espaço de melhoria vai se tornar ainda melhor, pois só
internacionais, especialmente para as em algumas ineficiências. está começando.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 35
AGRONEGÓCIOS

L
evantamento da Organização mostra que todo ano o mundo joga fora um terço da
das Nações Unidas (ONU) comida que produz. Nesse ritmo, até 2030 a humanidade
feito em 2022 mostrou que o deve desperdiçar 2,1 bilhões de toneladas de alimentos,
Brasil desperdiça, por ano, cer- totalizando uma perda de US$ 1,5 trilhão.
ca de 27 milhões de toneladas Por isso, além de aproximar produção e consumidor,
de alimentos em todo seu território. a BeGreen incentiva seus clientes a conhecerem mais
Estima-se que 80% dessas perdas sobre o cultivo do alimento e a entenderem que verdura
aconteçam entre manuseio, transpor- não precisa de aditivos para chegar fresca ao prato. O
te e nas centrais de abastecimento. trabalho chamou a atenção do grupo Aliansce Sonae,
Os produtos mais atingidos são fru- dono do Plaza Sul Shopping, que por esse e outros mo-
tas e hortaliças. Para tentar reduzir tivos se tornou sócio do empreendimento. Pioneira em
esse problema, a rede de fazendas fazendas urbanas na América Latina, com produção de
urbanas BeGreen encurtou a distân- cerca de 20 toneladas de alimentos por mês, a BeGreen
cia entre a colheita e o consumo. já conta com oito unidades espalhadas pelo Brasil, cinco
A empresa instalou sua primeira delas criadas nos últimos 12 meses.
unidade na capital paulista, e a ter-
ceira no estado de São Paulo, no topo EXPANSÃO De acordo com o pesquisador da Embra-
do Plaza Sul Shopping para abaste- pa Hortaliças, Ítalo Guedes, apesar de ainda ser muito
cer a praça de alimentação e restau- novo no Brasil, o cultivo indoor é o que mais cresce no
rantes da região ao redor. Em uma mundo. “O ambiente é totalmente controlado e sem os
área de 570 metros quadrados serão riscos comuns das hortas tradicionais, além de encurtar
produzidos por mês até 1.841 quilos a cadeia”, disse. Essa aproximação entre quem produz
de hortaliças frescas, isso significa e quem consome ganha relevância quando se considera
uma oferta mensal de 1,3 mil pés de que metade das perdas de frutas e hortaliças ocorre no
alfaces, folhosos e temperos culti- transporte, gerando prejuízos de até R$ 40 bilhões.
vados pelo sistema de hidroponia e A nova modalidade reduz essas perdas, elimina o uso
livres de agrotóxicos.
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
“Começamos a testar essa
tecnologia em 2015 em uma fazenda
convencional em Betim, em Minas
Gerais, justamente para conseguir-
mos ficar mais próximos dos clientes
e, assim, evitar perdas com excesso
de manuseio”, afirmou o fundador
da BeGreen, Giuliano Bittencourt.
A ideia surgiu no período em que
realizou um trabalho de aceleração
de startups no governo de Minas.
Quando ainda pouco se falava em
startups no Brasil, teve a oportu-
nidade de ir para o Massachusetts
Institute of Technology (MIT), nos
Estados Unidos, onde pode conhecer
novas tecnologias e falar do que se
fazia por aqui. No início dos estudos
no MIT, identificou que um dos pro-
blemas das cadeias de alimentos era de produtos químicos, diminui a necessidade de terras OFERTA
o fato de serem muito longas. Entre e aumenta a eficiência na utilização de água e outros Em uma área de 570
metros quadrados
o produtor rural e a mesa do consu- insumos. “Por isso, consegue produzir a mesma quantida- serão produzidos por
midor, há o agregador, o Ceasa e o de com 95% menos água do que os sistemas tradicionais mês até 1.841 quilos de
varejo. “Nesse caminho, quase 70% e entre 50% e 70% menos adubos”, afirmou Guedes. O hortaliças frescas, isso
de tudo que é produzido acaba indo pesquisador explica que numa fazenda vertical cada significa uma oferta
FOTOS: CAUÊ MORENO

mensal de 1,3 mil pés


para o lixo”, disse. E pode piorar. O metro quadrado é multiplicado pelos andares, sendo que de alfaces, folhosos e
relatório Closing the Food Waste cada colheita pode ser até 10 vezes maior que no metro temperos cultivados
Gap, do Boston Consulting Group, quadrado do cultivo convencional.

36 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022

Começamos
a testar essa
tecnologia em
2015 para
conseguirmos
ficar mais
próximos
dos clientes”
GIULIANO
BITTENCOURT
BEGREEN

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Agricultura dentro
do shopping O brasileiro desperdiça
mais de 27 milhões de
toneladas de alimentos
por ano, 80% no
manuseio do campo à
mesa, mas a Begreen
quer acabar com isso
POR ANNA FRANÇA

37
AGRONEGÓCIOS

Troca de comando nas duas


empresas traz de novo à tona
rumores sobre uma fusão,
possibilidade cogitada desde
que o fundador da Marfrig,
Marcos Molina, assumiu a
presidência do Conselho
Administrativo da BRF

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38
Marfrig brinda
com a BRF
POR ROMUALDO VENÂNCIO

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MONTAGEM COM FOTOS ISTOCK

39
AGRONEGÓCIOS

SILVIA COSTANTI / VALOR


EXPECTATIVA Para o mercado, experiência de Miguel Gularte ESTRATÉGIA Marcos Molina é fundador da Marfrig e preside o
pode dar agilidade à gestão da nova casa, a BRF Conselho de Administração da BRF

N
o final de agosto, a BRF S.A. que registrou R$ 34,5 bilhões, com a petência profissional dos executivos.
anunciou a renúncia de seu BRF (R$ 12,9 bilhões). A experiência de Gularte no setor
presidente global, Lorival Luz, Mas não é por acaso que a suposta de carnes, com ênfase no mercado
que estava no cargo desde fusão voltou a ser cogitada. O assun- internacional, já soma quase 40 anos.
junho de 2019. O mesmo comunicado to parece estar na chapa, com fogo Sua carreira começou pela Cooperati-
já trazia o nome de quem entraria baixo, só aguardando o ponto certo, va Industrial de Carnes e Derivados
em seu lugar: Miguel Gularte, que desde que a Marfrig, maior produtora (Cicade), no Rio Grande do Sul; teve
até então era o CEO da Marfrig global de hambúrgueres, com capa- o comando do frigorífico PUL, no
Global Foods S.A. para América
Acesse nossodoCanalcidade
nodeTelegram:
produzir 244 mil toneladas
t.me/BRASILREVISTASUruguai; a vice-presidência interna-
Sul, função que ocupava desde julho por ano, assumiu 33,27% do controle cional da Minerva; e a presidência
de 2018. A Marfrig também infor- da BRF, se tornando a principal da JBS Mercosul. Por conta desse
mou sua movimentação nessa dança acionista da dona das marcas Sadia e histórico, a equipe de Research da
das cadeiras. Rui Mendonça Junior, Perdigão. Além disso, o fundador da XP Investimentos, acredita que o
que estava à frente da diretoria de Marfrig, Marcos Molina, virou presi- executivo “deva ser capaz de tornar
Industrializados, assumiu a posição dente do Conselho Administrativo da a BRF mais ágil, eliminando a inércia
deixada por Gularte. Teoricamente, BRF, o que foi visto pelo setor como incômoda que era responsável por
seriam trocas que acontecem em um avanço estratégico na direção de oportunidades perdidas no passado
qualquer segmento, mas nesse caso uma junção. Sem a confirmação, o da empresa”.
há um tempero a mais. tema segue no campo da especulação. Já Mendonça, que completou qua-
Assim que as mudanças foram tro décadas atuando no setor de carne
divulgadas, o mercado passou a es- CURRÍCULO O que não faz parte bovina, está na Marfrig desde 2007.
pecular sobre a possibilidade de uma da suposição nos negócios é a com- Passou a dirigir o setor de industriali-
fusão entre as empresas. Por zados em 2017 e, entre o perío-
se tratar de duas das prin- do de 2018 até essa mudança, a
GUSTAVO PITTA

cipais indústrias globais de participação da área na receita


proteína animal, a confirma- da companhia na América do
ção da notícia mudaria o foco Sul passou de 5% para 15%.
do quadro corporativo para Agora, como costuma se dizer,
o calor da concorrência no o sarrafo subiu, pois o desafio
setor. O que, de imediato, não ganhou novas proporções. A
chegaria a ameaçar a lide- receita líquida da operação
rança da JBS S.A. Ao menos como um todo foi de R$ 7,1 bi-
com base no relatório de lhões no segundo trimestre de
resultados das empresas no 2022, o maior índice na história
segundo trimestre de 2022. A da companhia para um período
receita líquida da JBS, de três meses. De lado a lado,
R$ 92,2 bilhões, é quase o tudo indica que vai ter mais
dobro da soma de Marfrig, DESAFIO Rui Mendonça é o CEO da Marfrig América do Sul brasa sob a grelha.

40 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
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AGRONEGÓCIOS

Girl
INTEGRAÇÃO
Carolina Gama
e lideranças
femininas
discutirão

power no
melhorias
na cadeia
produtiva do
agronegócio

campo
Cerca de 2 mil participantes são esperadas
no maior encontro nacional de mulheres do
agronegócio. Na pauta, os assuntos mais
importantes do setor no momento e as
experiências e os desafios vividos por elas
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
POR ROMUALDO VENÂNCIO

A
pós dois anos realizado de forma on-line, o Con-
gresso Nacional das Mulheres do Agronegócio
(CNMA) volta a acontecer presencialmente,
FOTO: MARCO ANKOSQUI

como tem sido em grande parte dos eventos do


setor. Mas nesse caso há um diferencial: é uma notícia
e tanto a possibilidade de se ver novamente centenas
de mulheres ligadas ao agro reunidas para debater os

Embaixadoras Em cada região do País há uma representante do Congresso Nacional das

Sônia Bonato Ani Heinrich


(Centro-Oeste) Sanders
(Nordeste)
Produtora de soja, milho
e bezerros na Fazenda Cofundadora e superinten-
Palmeiras (Ipameri, GO) e dente do Grupo Progresso
presidente da Associação (Sebastião Leal, PI), atua
dos Produtores de Soja, com soja, milho, algodão,
Milho e outros Grãos Agrí- reflorestamento e pecuária.
colas do Estado de Goiás “O crescimento das mu-
(Aprosoja-GO). “Nós, mu- lheres em todos os seto-
lheres, estamos com maior res, com sua capacitação
participação, tanto dentro profissional e sua força, vai
como fora da porteira e isso alavancar todo o processo
é motivador.” evolutivo do agro.”

42 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022

principais temas do setor, trocar ex- apenas por serem mulheres. Um
periências, formar novos grupos e até motivo a mais para o assunto estar
planejar a replicação do evento em no centro das discussões do CNMA.
suas regiões. Elas podem definir os Como em qualquer outro setor da eco-
próximos passos da evolução agrope- “O congresso nomia e em qualquer outro segmento
cuária no País. E o fazem. da sociedade brasileira, o combate ao
Tal certeza começa pelo público potencializou a união machismo e a toda forma de precon-
que estará no CNMA, nos dias 26 e que as mulheres do ceito é uma responsabilidade coletiva.
27 de outubro, no Transamerica Expo
Center, em São Paulo (SP). Serão
agro já faziam” MUDANÇAS A questão da equida-
2 mil mulheres entre produtoras CAROLINA GAMA de de gêneros e da diversidade tem
rurais, técnicas, zootecnistas, médicas TRANSAMERICA EXPO ganhado força na gestão de grandes
veterinárias, executivas de empresas CENTER companhias do agro, sobretudo as
do setor, ou seja, é uma rede ampla multinacionais, seguindo uma tendên-
e única de conexões. “O congresso cia global. Até mesmo para atende-
aproximou as mulheres de vários tanto também tem muito a avançar na rem as exigências quanto às práticas
lugares. E potencializou a união que questão da equidade de gêneros. ambientais, sociais e de governança,
elas já faziam”, afirmou a show mana- a já famosa sigla ESG. A pesquisa
ger do Transamerica, Carolina Gama, DESAFIOS De acordo com Carolina, Women in the Boardroom, realizada
que está à frente desse encontro. do Transamerica, esse é um ponto pela Deloitte com 10.493 empresas de
O tema principal da sétima edição relevante para as participantes. “Elas 51 países, mostrou que as mulheres
do congresso é a coordenação das buscam essa igualdade o tempo todo. ocupam 19,7% dos cargos em conse-
cadeias produtivas do agronegócio, E essa condição vai chegar, mas vai lhos de administração. No Brasil, esse
e abrange áreas que têm exigido – e demorar”, disse. A própria executi- índice é de 10,4%, e na França, que
merecido – mais atenção. Além do va, que é zootecnista, foi vítima de lidera o ranking, 43,2%.
antes e do dentro da porteira, ganha preconceito durante sua atuação no Uma das novidades do CNMA
mais importância oAcesse
que vem bem
nosso campo,no
Canal principalmente
Telegram: ao ocupar para este ano é exatamente a apre-
t.me/BRASILREVISTAS
depois, ou seja, as demandas, os posição de liderança. “Na fazenda, não sentação dos resultados de outra
desejos e as cobranças dos consumi- seguiam o que eu pedia, riam de mim pesquisa da Deloitte, agora sobre
dores. Cada vez mais essa relação por eu ser mulher, era um descaso.” participação das mulheres no agro.
tem de ser costurada pelas linhas da A persistência e os resultados de Além de servir como base para os
transparência, da confiabilidade e da seu trabalho mudaram a situação, debates na programação do próprio
produção responsável, o que inclui a mas ela não romantiza essa relação. congresso, o estudo também poderá
quebra de preconceitos e o respeito Não é para menos. Ainda hoje, muitas ajudar a direcionar e fortalecer novas
às mulheres. O agronegócio é um profissionais enfrentam olhares de iniciativas voltadas à valorização da
recorte da sociedade brasileira, por- desconfiança sobre sua capacidade presença feminina no setor.

Mulheres do Agro dedicada a intensificar a presença feminina na produção agropecuária

Renata Car- Chris Morais Edineia


doso Salatini (Sudeste) Becker
(Norte) À frente da Agrorancho (Sul)
(Barretos, SP), a pecuaris-
Gestora da Fazenda ta também preside a Câ- A produtora rural trans-
Maria Júlia, voltada mara Setorial da Pecuária formou o desafio de
à produção de grãos na Secretaria da Agricultu- administrar a Fazenda
em Paragominas (PA). ra do Estado de São Paulo. Santo Antonio (Boa
“Atualmente, as opor- “A mensagem que quero Ventura de São Roque,
tunidades de trabalho levar é sobre empreende- PR) em oportunidade de
para mulheres no campo dorismo e a necessidade valorizar a participação
estão muito atrativas e é de atualização constante feminina no agronegó-
preciso um movimento para os negócios.” cio, o que pode trazer
constante para perma- “muito mais transforma-
necer na atividade.” POR EVERTON SYLVESTRE ções para o setor”.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 43
AGRONEGÓCIOS

A virada do
algodão brasileiro
A atual cotonicultura nacional nem de longe lembra a produção rudimentar
dos anos 1970. Moderna e mecanizada, a atividade coloca o País na segunda posição entre os
fornecedores globais da fibra e rumo ao topo
POR ANNA FRANÇA

Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS


ISTOCK

44
M
anual, rudimentar, Entre as armas para con-
com baixa produti- quistar novos clientes, os pro-
vidade e restrita à dutores contam com um dos
agricultura familiar. programas de sustentabilidade
Assim foi a produção mais completos do mundo, o
brasileira de algodão até a dé- Programa Algodão Brasileiro
cada de 1970. A área plantada Responsável (ABR) que certi-
era até considerável, com 4,2 fica fazendas comprometidas
milhões de hectares, mas a com um rígido protocolo de
precariedade do cultivo era boas práticas ambientais, so-
tanta, especialmente na região PRODUTIVIDADE Para Júlio Cézar Busato (Abrapa), o Brasil ciais e de governança. Busato
Nordeste, que a atividade pode dobrar sua produção que hoje é de 2,6 milhões de toneladas defende que a rentabilidade de
não resistiu ao surgimento do toda a cadeia produtiva deve
bicudo-do-algodoeiro, inseto que tirou melhoria nas técnicas de manejo, estar atrelada à agenda ESG, dentro
o Brasil da concorrência mundial. Nos especialmente no Cerrado, região com das normas nacionais e internacionais
anos 1990, o País se tornou o segundo solo pobre. O uso de plantio direto “e com auditoria de empresas exter-
maior importador do mundo, com a na palha, sem revolver o terreno, nas para se confirmar sustentável em
aquisição de quase 1 milhão de tonela- somado à aplicação de fertilizantes e nível mundial”.
das de pluma por ano. Inconformados às características locais de clima, com
com a situação, alguns produtores janelas de chuva importantes, elevou TECNOLOGIA O avanço do setor
decidiram mudar o cenário. os níveis de qualidade da terra. “Se passa ainda pelo uso de máquinas
Esse grupo buscou ajuda da começarmos a irrigar, ainda vamos mais sofisticadas no campo. Exem-
Embrapa. Com pesquisas em uma superar até mesmo os australianos”, plos são as colheitadeiras. Elas che-
mão e investimentos em tecnologias afirmou o presidente da entidade. gam a custar cerca de R$ 7 milhões,
e equipamentos na outra, iniciaram mas fazem o trabalho que exigiria 3
a jornada para o Brasil virar onosso
Acesse jogo. Canal NOVAno FASE O desafio agora
Telegram: é
t.me/BRASILREVISTAS mil pessoas, além de reduzirem os
Hoje, com uma área plantada muito elevar a rentabilidade, limitada pelos níveis de perda para 1% a 3% e evitar
menor, cerca de 1,7 milhão de hecta- altos investimentos que a cultura exi- impurezas que seriam deixadas pela
res, o setor tem a maior produtivida- ge. Uma saída é ganhar mercado. O colheita manual. Uma referência des-
de do mundo em sistema de sequeiro. algodão já esteve em 80% das roupas sa tecnificação é a SLC Agrícola, que
“Colhemos o dobro de pluma que os dos brasileiros, mas hoje não chega a está entre as maiores companhias do
norte-americanos conseguem no mes- 49%. No mercado internacional não agro brasileiro e mundial.
mo espaço. Enquanto eles tiram 790 passa de 23%. Nos dois casos, perdeu O cultivo de algodão que começou
quilos por hectare, nós tiramos espaço para as fibras sintéticas, que em 1998, numa área de 400 hectares
1,8 mil. Só perdemos para os aus- segundo Busato liberam resíduos na da Fazenda Planalto (Costa Rica,
tralianos, que irrigam a plantação”, água. “O sintético tem grande impacto MS), hoje abrange 176 mil hectares
afirmou o presidente da Associação ambiental. Isso pode nos ajudar.” plantados em sete estados diferentes.
Brasileira dos Produtores Além da fibra, a empresa se
de Algodão (Abrapa), Júlio especializou na produção de
MARCO ANKOSQUI

Cézar Busato. sementes de algodão com


No total, a produção biotecnologias avançadas
brasileira na safra 2021/22 que resistem à lagarta e
deve atingir 2,61 milhões controlam o crescimento das
de toneladas, o que aten- ervas daninhas, reduzindo
de com folga a demanda a aplicação de defensivos.
interna de 750 mil tonela- “Também diminuímos o
das e deixa 1,8 milhão de consumo de óleo diesel, a
toneladas disponíveis para depreciação de máquinas
exportação. “Nos últimos e toda a pegada ambien-
cinco anos dobramos a tal”, afirmou o diretor de
produção e podemos fazer Suprimentos e Produção de
isso de novo”, disse Busato. INVESTIMENTOS Custo de novas tecnologias é a principal barreira Sementes da SLC Agrícola,
Essa evolução resulta da para um novo ciclo de expansão do setor Gustavo Lunardi.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 45
AGRONEGÓCIOS

NÃO É SÓ PARAR DE
VACINAR
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POR ROMUALDO VENÂNCIO

O caminho para a retirada total da imunização contra a febre aftosa no Brasil


pecuária como um todo. Para evitar que o setor fique fragilizado, será preciso

D
esde 2006 o Brasil não registra tuição, porque é preciso muito mais em tratativas com os três laborató-
um caso sequer de febre aftosa. do que só deixar de vacinar. rios que ainda fabricam o imunizante
Isso é bastante significativo, A mesma tranquilidade oferecida para definir a contratação do banco
pois atualmente o País tem pela vacina só será possível com uma de antígenos até o final deste ano.
cerca de 218 milhões de cabeças de série de ações preventivas envolven- Não por acaso, o PNEFA propõe
bovinos e mais de 1,5 milhão de buba- do toda a cadeia pecuária, sobretudo ampliar as capacidades dos serviços
linos, segundo dados do IBGE, livres os produtores; autoridades sanitá- veterinários, fortalecer o sistema de
da doença, sendo que parte desses rias; polícias municipais, estaduais e vigilância em saúde animal, promover
animais já não precisa de vacinação. federais; e até a indústria farmacêu- a interação com as partes interes-
E é assim que deve estar todo o tica, que deixará de faturar cerca de sadas no programa de prevenção da
rebanho nacional até 2026, conforme R$ 360 milhões por ano, mas é parte febre aftosa e realizar a transição de
o Plano Nacional de Erradicação da fundamental da manutenção de um zona livre com vacinação para livre
Febre Aftosa (PNEFA). Implemen- banco de antígenos. “Estamos tirando sem vacinação em todo o País. Do
tado pelo Ministério da Agricultura, a vacinação, mas precisamos manter lado dos pecuaristas, não imunizar o
Pecuária e Abastecimento (Mapa) em as vacinas”, afirmou o diretor do rebanho significa eliminar essa parte
2017, o plano divide o País em cinco Departamento de Saúde Animal do do manejo e reduzir os custos. “O pre-
regiões para a retirada gradual da Mapa, Geraldo Marcos de Moraes. Se- ço da dose da vacina está em torno de
imunização. Ou melhor, uma substi- gundo o executivo, o ministério está R$ 2 e é preciso vacinar duas vezes

38
46 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
dan), Emílio Salani, é importante que
esse fundo seja privado e auditável,
tanto pelas definições de como captar
o dinheiro quanto pela agilidade na
liberação. “O recurso precisa estar
disponível na hora, se tiver de fazer li-
citação pode demorar muito”, afirmou
o executivo. Segundo Salani, o Sindan
não se opõe à retirada da vacina, mas
também reforça a necessidade de
que ela seja
substituída
por medidas
de proteção e
conscientiza-
ção. “Quando
tira a vacina
não quer dizer
que não preci-


sa fazer mais
nada.”
Embora
o combate
Estamos e a preven-
ção contra a
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS tirando a aftosa tenham
vacinação, avançado em
mas toda a Amé-
rica do Sul,
precisamos esse processo
manter as de retirada
da vacina no
vacinas” Brasil exige
levanta questões sobre a segurança do rebanho e da GERALDO MORAES maior atenção
bem mais do que uma mudança de manejo DIRETOR DO DEPTO. DE com a vizi-
SAÚDE ANIMAL DO MAPA nhança. Uma
condição para
por ano”, disse Moraes. Mas também traumatizantes. Tudo exige rapidez, os estados serem incorporados ao
exige atenção redobrada com o moni- tanto no abate dos animais quanto na sistema sem vacinação é que tenham
toramento dos animais, urgência nas indenização de seus donos. Por isso, um plano de vigilância sanitária espe-
notificações e consciência de que esse busca-se a composição de fundos pri- cífico para a sua parte dos milhares
compromisso será permanente. “Ao vados e dos estados para garantir que de quilômetros de fronteira seca.
encontrar qualquer animal com sinto- o pagamento aos pecuaristas aconteça Não há dúvidas sobre as vantagens,
mas, o pecuarista deve imediatamente com a mesma urgência com que os inclusive comerciais, da evolução do
comunicar as autoridades sanitárias animais são sacrificados. status sanitário do rebanho brasileiro,
para que seja acionado o plano de con- Para o vice-presidente executivo mas é preciso que todos os envolvidos
tingência”, afirmou o diretor do Mapa. do Sindicato Nacional das Indústrias estejam cientes dos riscos e de suas
de Produtos para Saúde Animal (Sin- responsabilidades.
RECURSOS Preocupação constante
ao se retirar a vacina contra a febre
aftosa é sobre quais são os passos caso MERCADO ANUAL DE VACINAS
surja algum novo foco da doença. Isso
porque as imagens e as consequências CONTRA FEBRE AFTOSA É DE
do uso do rifle sanitário para evitar
a proliferação do vírus ainda são R$ 360 MILHÕES
DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 39
47
AGROFINANÇAS

TÍTULOS PINTADOS DE
ILUSTRAÇÃO: EVANDRO RODRIGUES

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POR ANNA FRANÇA


BV, um dos maiores financiadores de auto-

O
mercado financeiro nunca esteve móveis do Brasil. Com uma carteira de
tão próximo do meio ambiente como R$ 25 bilhões em crédito, a instituição deci-
agora. Com a orientação do Fórum diu compensar suas atividades emitindo uma
Econômico Mundial e de fundos de Cédula de Produto Rural (CPR) Verde. O
investimentos com trilhões de dó- instrumento vai oferecer R$ 500 mil para a
lares em carteira de que a mudança conservação de vegetação da Mata Atlântica
climática representa risco de negócio, novas dentro da Reserva Chico Nunes, proprie-
ferramentas de financiamento voltadas para dade de 487 hectares localizada na Serra da
preservação ambiental surgem com uma Mantiqueira, em Cruzeiro (SP). Ao todo 49,5
velocidade nunca antes vista. Caso do Banco mil toneladas de CO2 serão neutralizadas.

48 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
VERDE
MERCADO DE CAPITAIS SE APROXIMA CADA DIA MAIS DA PROTEÇÃO
DO MEIO AMBIENTE, FINANCIANDO A PRESERVAÇÃO NO AGRONEGÓCIO
COM FERRAMENTAS COMO CPR VERDE E MERCADO DE CARBONO
ambiente. A ferramenta, regu-
lamentada em outubro de 2021,
vai funcionar como um título
de crédito destinado a subsi-
diar atividades de preservação
ambiental, para que proprie-
tários de áreas preservadas
recebam pela contribuição que
geram para a humanidade. A


CPR Verde do BV possui
a metodologia da Global
Forest Bond, greentech
brasileira, em aliança
com a KPMG, empresa
internacional de audi- Para que
toria, para avaliação e
publicação dos dados re-
esse
lacionados à conservação mercado se
da área. fortaleça,
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS De acordo com Mono-
ri, o objetivo do banco é será
gerar uma renda para que preciso
o produtor consiga preser-
var as áreas. “Com isso,
criar regras
ele também poderá vender claras,
seu produto com o apelo tanto
da preservação ambien-
tal”, afirmou o executivo. técnicas
Segundo ele, mesmo sendo como
ainda pouco conhecido, o jurídicas”
produto deve ter aumento
de demanda. “Ser susten- PHILLIPE
tável passará a ter valor KÄFER,
financeiro.” Ainda segundo VBSO
Monori, o banco poderia até
compensar suas emissões
com a compra de crédito de
carbono, mas decidiu investir
para ajudar os produtores
“A emissão da CPR Verde é mais um que querem preservar suas
passo que o BV dá rumo a uma economia de áreas. “O programa de compensação é
baixo carbono”, disse o diretor-executivo de ambicioso e temos intenção de fazer novas
Corporate & Investment Banking e Tesou- emissões como decisão estratégica de ESG”,
raria do banco BV, Rogério Monori. Segundo afirmou. Até o momento, o BV já conseguiu
ele, ao contrário do financiamento à produção compensar 955 mil toneladas desde que
rural, que antes era feito pela CPR normal, começou o programa. “Nessa estratégia
hoje o novo instrumento é um investimento também captamos R$ 1 bilhão em CDBs
do próprio banco para preservação do meio verdes e temos ainda um negócio crescente

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 49
AGROFINANÇAS

OPORTUNIDADE Para Paula Costa e


Valter Ziantoni, da Pretaterra, momento é
favorável para ambientalistas e produtores
trabalharem em sintonia

de financiamento de placas sola- forma, ambientalistas e produtores, menta deslanchar, portanto, foi a
res”, disse o executivo. Ao todo, as que antes ficavam um em cada lado, compensação financeira pela preser-
emissões de ativos na linha de ESG agora podem trabalhar juntos. “A vação. Foi em outubro de 2021, por
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
CPR Verde veio para alinhar esses meio do Decreto 10828/2021 que as
da instituição cresceram 115% no
primeiro semestre deste ano. dois lados. Estamos num momento regras foram estabelecidas. “Ele co-
muito oportuno para nos tornarmos loca expressamente a emissão ligada
OPÇÕES Outro gigante financeiro agentes da preservação”, afirmou à recuperação de florestas nativas,
que entrou nessa seara foi o Itaú outro sócio da Pretaterra, Valter que resultem em redução de emissão
Unibanco, que anunciou sua segun- Ziantoni. de gases de efeito estufa e outros
da emissão de Letras Financeiras
(LF) Verdes, no valor de R$ 1 bilhão
e com prazos de dois e três anos APÓS A LEI DO AGRO EM 2020, FOI O DECRETO
(R$ 500 milhões cada). As LF são
títulos de longo prazo emitidos por 10828/2021 QUE ESTABELECEU AS REGRAS PARA
bancos que se destinam a levantar A COMPENSAÇÃO FINANCEIRA PELA PRESERVAÇÃO
recursos para que as instituições fi-
nanceiras possam conceder emprés-
timos. Para Paula Costa, uma das De acordo com o advogado e es- benefícios ecossistêmicos”, afirmou.
fundadoras da consultoria ambiental pecialista em agronegócio e finanças O efeito da lei foi uma amplia-
Pretaterra, as novas ferramentas sustentáveis do escritório VBSO, ção de mercado que aos poucos se
de financiamento, institucionaliza- Phillipe Käfer, a CPR sempre foi concretiza, uma vez que manter
das em 2020, abrem a possibilidade um dos principais títulos de finan- a floresta e plantar também se
efetiva do pagamento pelo serviço ciamento do agronegócio. Criada tornam produtos. “Isso vai permi-
ambiental, ou ecossistêmicos. Mas em 1994, pela Lei 8929, ela estava tir uma gama de possibilidades de
toda a elaboração precisa ser feita atrelada a uma promessa de entrega novas ferramentas de financiamen-
de forma séria, com práticas con- futura de produtos agrícolas. “Mas to como estamos vendo”, afirmou
servacionistas de manejo do solo e em 2020 a Lei do Agro fez uma Käfer. O desafio, segundo ele, será
redução de impactos, por exemplo. alteração na Lei da CPR para que o desenvolvimento das metodolo-
E tudo auditado. Porque quem vai fosse permitida a inclusão de produ- gias certificadoras para garantir o
pagar pela CPR Verde tem de ter tos relacionados à conservação de título no mercado financeiro. “Para
muito claro pelo que ele está pagan- florestas nativas ou de biomas.” O que esse mercado se fortaleça será
do. Tudo precisa ser mapeado. Dessa grande pulo do gato para a ferra- necessário criar regras claras, tan-

50 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
do que foi estabelecido no mercado
de carbono até hoje foi feito por
grandes países, vários deles gran-
des poluidores que precisam abater
a sua conta de emissões de gases de
efeito estufa adquirindo créditos de
quem preserva. “Temos uma opor-
tunidade gigantesca se juntarmos o
fato de sermos um dos maiores pro-
dutores de alimentos do mundo com
a parte da conservação”, disse. Um
bom reservatório deste potencial
é a Amazônia, uma reserva legal
que não existe em nenhum lugar do
mundo. “Se agregamos valor aos
nossos produtos, seja milho, soja,
carne, atrelando a possibilidade do
pagamento pelo serviço ambiental,
podemos converter isso em ga-
nhos”, disse.
Assim, poderemos participar
ativamente de um mercado que
vive um momento de efervescência.
O MERCADO Um estudo da Câmara de Comércio
FINANCEIRO Internacional (ICC Brasil) estima
que os créditos de carbono podem
NUNCA Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
gerar US$ 100 bilhões ao País até
ESTEVE TÃO 2030. Em volume, isso significa que
até o final desta década, setores
PRÓXIMO como agronegócio, floresta e energia
DO MEIO podem evitar a emissão de 1 bilhão
de toneladas de CO2 equivalente.
AMBIENTE, Dados referentes a 2021, divulgados
pelo Ecossystem Marketplace (EM),
E O AGRO mostram que o mercado voluntário,
TEM TUDO aquele que independe de legislação
específica, cresceu quase quatro
PARA SER vezes no último ano, chegando a
A PONTE US$ 2,5 bilhões de créditos negocia-
dos no mundo. O preço médio por
NESSA crédito, que representa uma tonela-
RELAÇÃO da equivalente de CO2, foi de US$ 4
em 2021, um valor 58% acima do ano
anterior.
Para que possamos participar
to técnicas como jurídicas, dando o intermediário que pode financiar ativamente desse mercado promissor
embasamento total.” Mesmo pro- as etapas. precisaremos estar preparados, com
cesso que ainda precisará ser feito regras claras e acesso transparente,
no mercado de crédito de carbono MERCADO DE CARBONO Com criando condições para o surgimento
que no Brasil ainda é voluntário. essas ferramentas, o Brasil pode de todo um sistema de certificação
Isso inclui certificações, laudos, e começar a assumir o protagonismo eficaz. “Boa parte do País é uma fo-
todas as etapas para que aquele na preservação ambiental. Segundo tossíntese a céu aberto e temos tudo
ativo seja validado. Um processo o coordenador do observatório de para participar ativamente desse
demorado e caro. E nesse contex- bioeconomia da Faculdade Getúlio mercado verde. Só precisamos esta-
to, a CPR pode se tornar um título Vargas (FGV), Daniel Vargas, muito belecer as regras”, disse Vargas.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 51
V I T R I N E
POR ANNA FRANÇA

LUXO
AUTOMÓVEIS
SUCESSO DA PICAPE GLADIATOR
PARA O O primeiro lote com 322 unidades da picape
Gladiator, da Jeep, que chegou ao Brasil no
começo de agosto foi comercializado em

CAMPO apenas três horas após o seu lançamento.


Segundo a fabricante, o número representava a
estimativa de vendas totais até o final deste ano.
As unidades na versão única Rubicon possuem
O crescimento do motor 3,6 V6 a gasolina e 284 CV de potência,
agronegócio brasileiro chama além do câmbio automático de oito marchas.
Lançada em 2019 nos Estados Unidos, o modelo,
a atenção de marcas considerado um autêntico 4x4 raiz, teve sua
interessadas em atender um estreia adiada no Brasil para este ano em
função da pandemia.
consumidor exigente e que
dá valor a exclusividade, R$ 499.990
sofisticação e conforto

CALÇADOS
ESTILO WESTERN
EM ALTA
Botas de cano curto nunca saem de
Acesse nosso moda.
Canal Práticas, versáteis e democráticas,
no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
elas conquistaram o coração dos
consumidores. E o modelo queridinho
do momento é o Western, mais
conhecido como estilo Cowboy. Elas têm
dominado as tendências em diversos
comprimentos, mas as curtas fazem
muito sucesso entre as mulheres que
querem looks modernos ou despojados,
como fez a designer Paula Torres com
sua bota Dublin, confeccionada em
couro, com rebites aplicados um a um
R$ 1.756 num trabalho manual realizado
inteiramente no Brasil.
ACESSÓRIOS
MOLE BAGS
RELÓGIO
O design é básico. O couro é macio,
BOSS WATCHES reaproveitado de curtumes do Sul do Brasil. A
silhueta é simples, fluída e atemporal. Assim
A Boss Watches acaba de
são confeccionadas as bolsas MOLE Bags,
lançar um relógio esportivo
que vêm conquistando adeptos por todo o
que utiliza plástico retirado
Brasil e também fora do País. O conceito de
dos oceanos. O modelo,
simplificar, eliminando os excessos, conduz
criado em conjunto com a
todas as linhas da marca, que tem nos
iniciativa sustentável
modelos tombada e regata seus carros-
#TideOcean, faz parte da
chefes. Apostando na economia circular, a
coleção Admiral, que
empresa também reaproveita suas sobras e
combina o uso de materiais
resíduos, com a elaboração de outros
mais responsáveis com o
produtos, evitando o desperdício.
design da marca.
R$ 2.350 R$ 560
52 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
SUSTENTABILIDADE

MELISSA A BASE
DE CANA-DE-
AÇÚCAR
A fabricante de calçados
plásticos Melissa lançou
sandálias feitas à base
de cana-de-açúcar. A
linha Melissa Free tem
um chinelo modelo slide,
uma sandália e até um
tênis produzido com o
material EVA biobased. A

R
UTENSÍLIOS
uso geral na cozinha. Feita em aço
FACA ZAKHAROV chromo inox, a faca tem entre suas
principais características a facilidade de
Tradição em alta na cutelaria. Campeã de reafiar, gume fino e alto poder de corte.
vendas da Zakharov, a faca Chef Tradição 8 O comprimento total é 32,5 centímetros
possui um design anatômico e um tamanho e a largura na parte mais ampla é de
Acesse
médio, sem ser pesada, nosso
e vem Canal no 4,5
conquistando Telegram:
centímetros. t.me/BRASILREVISTAS
Seu cabo é de madeira
cada vez mais adeptos entre os de lei certificada e vem embalada em
churrasqueiros de todo o Brasil. Muito um estojo especial também de madeira. linha, que antes só
utilizada para as carnes, também serve para Um presente inesquecível. tinha produtos para
adultos, agora também
estréia no segmento
infantil, com calçados
para bebês. Segundo a
empresa, a matéria-
prima emite em média
20% menos CO2e, a
unidade de medida
internacional para
emissões de gases de
efeito estufa na
atmosfera.
R$ 308 R$ 189

CULINÁRIA família Mora, do Grupo Ás (que inclui a


Cor Bakerhouse) comprou o direito do
CARNE DE GRIFE uso da marca Osso por US$ 120 mil em
2020 e aguardou para encontrar o
A grife peruana de carnes maturadas ponto ideal. Em janeiro deste ano,
Osso acaba de chegar a São Paulo. quando uma antiga churrascaria da Rua
Criada pelo chef açougueiro Renzo Bandeira Paulista, no Itaim Bibi, foi
Garibaldi, a marca desembarca com demolida eles decidiram fincar seus
ajuda de Alexandre e Guilherme Mora espetos. Em julho a casa abriu as
depois de cinco anos de negociação. A portas para os carnívoros de plantão.

OSSO - Onde: R. Bandeira Paulista, 520, Itaim Bibi, região oeste


DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 53
ESTILO NO CAMPO

EMOÇÃO
d u a s
QUE RENOVA
rodas
v i a g e m sobre onante,
Uma s e r e m o c i m e n to
e
pod e e um mo
v i go ra nt r i b u i p ara o
re t
té con , além de
q u e a
único heAcesse c imento nosso o de Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
t o c o n v a ç ã
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r m i t i r a obser a outra
pe s p or um
u r a
lavo rspectiva
pe
VEN ÂNCI
O
LDO
ROMUA
POR
FOTOS: DIVULGAÇÃO

54
BIG TRIALS
A boa performance dessas motos
de alta cilindrada, tanto no
asfalto quanto fora dele, tem
atraído um público cada vez
maior, inclusive no agronegócio

Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

55
ESTILO NO CAMPO

s jornadas de trabalho

A
no agronegócio
podem ser extensas
e exaustivas, pois a
dedicação a lavouras
e rebanhos vai além
dos padrões corporati-
vos. Nada que tire o brilho dos olhos ou
reduza a paixão de quem se dedica ao
campo, mas uma pausa de vez em quando
se faz necessária e é mais do que mereci-
da. É preciso relaxar o corpo e a mente,
renovar as ideias e recarregar as energias.
Para muita gente que atua no setor, essa
‘terapia’ acontece quando se está sobre
um motocicleta de alta cilindrada, ouvindo
o som ao redor se misturar com o barulho
do motor, conversando com seus próprios
pensamentos enquanto a paisagem vai
ficando para trás.
Esse é o sentimento descrito por
Mariely Biff, especialista em sucessão e
governança familiar no agronegócio,
quando pilota sua custom pelas estradas
que cortam e contornam Diamantino, em
Mato Grosso, a cidade
Acesseonde mora, a cercaCanal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
nosso
de 180 quilômetros de Cuiabá. “Gosto
muito de andar nessas redondezas, pas-
sando pelas lavouras, vendo o que adoro, a
agricultura”, afirmou


Mariely, que tem uma
Night Rod da Harley-
Davidson. “Sempre gostei quando compraram a nas viagens de moto uma fonte da juven-
de moto, da sensação de Night Rod, nem sabia ligá- tude. Aos 65 anos, tem a sensação de
liberdade, do prazer de -la. Já fazia algum tempo voltar aos 20, pela emoção e porque
rodar pela estrada, esque-
Já fiz viagens desde sua última motoci- enquanto está sentado sobre sua BMW
cer da vida e voltar com a por quase cleta, uma Honda Biz. Foi Adventure GS 1250, pilotando, não sente
cabeça zerada.” todos os uma mudança brusca. “Mas dor de nada. “Mas depois dói tudo”, disse
Com suas 1.250 cilin- moto e bicicleta, depois que o criador de gado de corte, que também
dradas, a ‘máquina’ preta caminhos dos se aprende a andar, é só investe em plantio de soja e cultivo de
com detalhes em laranja Andes, só adaptar peso e equilíbrio”, floresta. Como sugere o nome dessa big
chega aos 115 CV e tem faltava afirmou. A consultora, que trail, são 1.254 cilindradas e potência
velocidade máxima de 240 é uma das autoras do livro máxima de 136 CV.
quilômetros por hora. O Machu As Mulheres do Agro, tem Chico voltou recentemente de uma
modelo de 2014 é uma edi- Picchu” ajudado diversas empresas viagem de 14 dias e 7 mil quilômetros.
ção especial desenvolvida FRANCISCO MAIA
e famílias do meio rural a Em agosto, foi com três amigos de
em parceria pela Harley- encontrarem o equilíbrio, a Campo Grande (MS), onde mora, até
PECUARISTA
Davidson e pela Porsche. direção e a velocidade mais Machu Picchu, no Peru. “Já fiz viagens
Mariely conta que era um desejo de seu adequada para sua gestão. por quase todos os caminhos dos Andes,
marido, e que ela até preferia outros mas ainda não tinha ido para lá”, disse.
modelos. “Gosto das esportivas, mas não NAS ALTURAS O pecuarista Francisco Essa foi a quinta viagem de Chico pela
seria tão confortável”, disse, fazendo uma Maia, de Campo Grande (MS), é outro América do Sul de moto. Agora, ao todo,
referência à altura do casal. Ela tem 1,76m apaixonado pelas duas rodas, atração já são 30 mil quilômetros rodados, sendo
e o marido, 1,92m. que vem desde a década de 1980. Hoje, 15 mil deles pela Cordilheira dos Andes.
Mariely se diverte contando que, Chico, como é mais conhecido, encontra Para o pecuarista, é maravilhoso

56 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
CONFORTO
Ergonomia também
é fator fundamental
para garantir que
usuário possa pilotar
por muitas horas e
longas distâncias

contemplar a paisagem da Cordilheira. nho tanto no asfalto quando fora dele.


“Você percebe o quanto é pequeno diante Segundo o gerente sênior de Vendas da
de tudo aquilo”, disse. Nessa viagem, BMW Motorrad Brasil, Márcio Cesena, o
Chico e os amigos saíram de Campo GS que aparece nos modelos da categoria
Acesse nosso Grandeno
Canal e atravessaram
Telegram: a Bolívia, pas- é uma referência a essa abrangência, pois
t.me/BRASILREVISTAS
sando por Cochabamba, La Paz e pelo vem de Gelände Strasse, ou estrada de
Lago Titicaca, já na fronteira. No terri- terra. “Essas motos têm muita versatili-
tório peruano, seguiram em direção a dade e muita tecnologia embarcada. Você
Cusco e depois Machu Picchu. “É um pode fazer uma viagem longa de forma
lugar admirável! Fico imaginando como confortável”, disse. Segundo Cesena, essa
fizeram tudo aquilo, é como se fossem as questão do conforto é um destaque nas
pirâmides do Egito na América do Sul.” GS, tanto pela adequação do “triangulo da
Na volta, atravessaram direto para o ergonomia”, que envolve pedais, assento
Brasil, entrando pelo Acre, passando por e guidão, quanto pelas regulagens.
Rondônia e Mato Grosso, até retornar a Dependendo da viagem, o piloto pode
Mato Grosso do Sul. acionar o cruise control, que fixa uma
Segundo Chico, uma viagem como velocidade e não precisa ficar acelerando,
essa é uma experiência de autoconheci- ou o adaptive cruise control, que identifica
mento. Por mais que tenha companhia nas a aproximação de algum veículo.
estradas, está sozinho em sua moto, Se por um lado o maior interesse do


rodando de 13 a 15 horas por dia. “Dá público pelas nas big trails é uma grande
tempo para pensar em tudo e voltar com oportunidade para as montadoras, por
novas ideias, é uma aventura que fortalece outro é um enorme desafio, especialmente
o espírito”, afirmou. Além disso, é uma para as equipes de desenvolvimento e de
chance de rever os próprios limites. “Você vendas. “Esse pessoal conhece muito
Sempre gostei do nunca deve achar que não dá mais conta sobre os equipamentos, são consumidores
prazer de rodar pela das coisas, que está velho demais.” Para o muito exigentes”, afirmou o diretor
pecuarista, o tempo não é um fator limi- comercial da Honda, Marcelo Langrafe.
estrada, esquecer da tante, a saúde, sim. De acordo com o executivo, o mercado de
vida e voltar com a alta cilindrada é bastante estratégico para
cabeça zerada” MERCADO Motos como a de Chico vêm a empresa. “Cresceu 16% no primeiro
ganhando espaço no Brasil e entre o públi- semestre de 2022, em comparação ao
MARIELY BIFF co do agronegócio. São equipamentos de mesmo período do ano passado. E ainda
CONSULTORA alta potência que alcançam bom desempe- há muito potencial para avançar.”

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 57
SUSTENTABILIDADE

Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

Agricultura
ilegal avança
nos biomas POR LANA PINHEIRO

ESTUDO SOBRE MUDANÇA DA TERRA MOSTRA QUE DO TOTAL DO


DESMATAMENTO APENAS 0,7% ACONTECEM EM PROPRIEDADES
RURAIS, MAS O ESTRAGO NA REPUTAÇÃO É GENERALIZADO
ISTOCK

58 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBR0-2022
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

afra recorde de mais de 300 mi- vem essa percepção, então? De núme-

S lhões de toneladas de grãos, um


valor bruto de produção inédito
de R$ 1,22 trilhão, exportações
recorde de commodities e de itens
como o frango que chegou a US$ 904,6
milhões em um único mês. Em meio a
notícias que levam a crer que o agrone-
ros que mostram que a agricultura de
fato avançou sobre os biomas brasilei-
ros, aliados à incapacidade do governo
de punir os ilegais e do setor de silen-
ciar uma minoria que de fato defende a
floresta no chão.
Olhar o filme sobre o uso da terra
gócio navega em céu de brigadeiro, a no País nos últimos anos é prato cheio
grande nuvem que ameaça a calmaria é para quem quer usar a estatística como
a narrativa de que a atividade é a gran- ferramenta protecionista para seus
de responsável pelo desmatamento na agricultores – caso da França contra
Amazônia. Uma imagem que mesmo a o Brasil, por exemplo. Repleto de da-
ex-ministra do Meio Ambiente do gover- dos e gráficos, o relatório ‘Destaques
no de Luiz Inácio Lula da Silva, Izabella do Mapeamento Anual de Cobertura
Teixeira, discorda. “Não endosso a teoria e Uso da Terra no Brasil entre 1985 e
de que o setor é o grande vilão do meio 2021’ recém divulgado pelo MapBio-
ambiente”, afirmou à RURAL. De onde mas mostra que mais de 85 milhões

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBR0-2022 59
SUSTENTABILIDADE

de mata nativa (florestas naturais + formações naturais


não florestais) foram sumariamente perdidos no período
analisado. Neste mesmo intervalo, a área destinada à
agricultura passou de 180 milhões de hectares para 265
milhões de hectares, o que aumentou a participação da
criação de animais e de plantação de lavouras no território
nacional de 21% em 1985, para 31% em 2021. Neste mes-
mo período, dados da Agência Ambiental Europeia (EEA,
na sigla em inglês) apontam que o continente europeu
ganhou ao menos 170 mil km² de florestas, área equivalen-
te à do Uruguai.

AMAZÔNIA Mas ao contrário do que diversas notícias


fazem crer, não foi a Amazônia o bioma que mais sofreu
com a devastação. Foi o Pampa com 29,5% de sua área 1985
nativa reduzida. Segundo Marcos Rosa, coordenador do
MapBiomas, nesse caso a vegetação foi convertida para
campos de arroz, soja e silvicultura. Em termos ambien-
tais, isso significa que este bioma que é rico em estoque
de carbono, torna-se um emissor relevante de gases de
efeito estufa ao ser ocupado e também durante manejos 31% do primeiro ano de levantamento da pesquisa. É na
inadequados das novas plantações ou no seu processo de divisa entre o Cerrado e a Amazônia que está uma das
degradação. E mesmo quando é a silvicultura a opção para grandes ameaças para o controle da mudança do clima
a ocupação do solo, o impacto ao meio ambiente existe. “A no Brasil.“Essa área fronteiriça já está emitindo mais
indústria de plantação de florestas tem feito um traba- gás carbônico do que absorvendo”, afirmou Rosa. Na
lho muito responsável
Acesseambientalmente,
nosso Canal mas asnoáreas de Floresta
Telegram: Amazônica a grande responsável pela derru-
t.me/BRASILREVISTAS
monocultura com espécies exóticas não são ambientes fa- bada das árvores da vegetação primária foi a atividade
voráveis à preservação da biodiversidade”, afirmou Rosa. agropecuária que passou a ocupar 34% da área contra
Na Amazônia, a perda de vegetação nativa nos 28% em 1985.
36 anos analisados foi de 11,5%, colocando-a como o Se nos números frios o avanço parece pouco, a ciência
terceiro maior bioma impactado. Além de perder para diz outra coisa. De acordo com o Painel Intergoverna-
o Pampa, ficou atrás também do Cerrado que teve mental sobre Mudanças Climáticas, “o desmatamento e as
20,9% da área convertida, em sua maior parte para a mudanças climáticas podem já ter empurrado a Amazônia
agricultura, que hoje ocupa 45% do território contra para perto de um limiar crítico de extinção da floresta tro-
pical”. As consequências, disse Marcos Rosa, do MapBio-
ma, não ficam restritas à região. “Com o aumento da tem-

A perda de mata nativa peratura há importante alteração nos ciclos das chuvas, o
que provoca tempestades e secas mais extremas.” Essas

nos biomas do Brasil


consequências são sentidas no Brasil todo. Culpa do agro-
negócio brasileiro? E aqui a resposta, segundo Rosa, é um

Foi a

29,5%
perda de
vegetação
nativa no
Pampa
no Cerrado
20,9% na Amazônia
11,5% na Caatinga
10,1%
60
54 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBR0-2022
assertivo “não”.
O MAPA DO USO DA TERRA Segundo ele,
do total de 65
mil proprie-
dades rurais
registradas
no Cadastro
Ambiental Rural
(CAR), somente em
0,7% foram observados
algum tipo de desma-
tamento. “Os agentes
profissionais do agrone-
gócio já entenderam que a
2021 proteção ambiental tem corre-
lação direta com a produtividade.”
O problema, para o especialista, é
que “há uma minoria de ruralistas com
grande representatividade que causa um
profundo estrago ao defender o desmata-
mento da Amazônia e outros crimes ambientais”.
MAIS DE 85 Diante de uma situação generalizada de degradação,
boas notícias chegam do Pantanal e da Mata Atlântica.
MILHÕES DE Maior planície inundada do mundo com 250 mil km² de
extensão, o Pantanal foi o único a registrar ganho de
HECTARES
Acesse nosso Canal no vegetação
Telegram: nativa (2,3%). Na Mata Atlântica, com menor
t.me/BRASILREVISTAS
índice de redução no período (5,9%), há o crescimento
DE MATAS de casos de empresas que estão colocando esforços para
a reconstrução do bioma. Esse movimento começou por
NATIVAS volta de 2006, segundo o coordenador do MapBiomas,
que mesmo assim faz um alerta. “Ainda que o reflores-
FORAM tamento seja louvável, ele não diminui a importância
de preservarmos a mata original”, afirmou Rosa. Ele
DIZIMADOS exemplifica que manter a vegetação é melhor pela quan-
tidade de CO2 estocada e pela biodiversidade. “Em uma
DE 1985 mata jovem, a reconstrução plena do ecossistema pode
demorar mais de 80 anos.”
A 2021 Exemplos e provas de que o agronegócio profissional
enxerga a preservação ambiental como aliada das lavou-
ras e das planilhas existem. Resta saber o mo-
tivo pelo qual
ainda não há
uma articu-
lação forte
o suficiente
que permita
o setor se
sobrepor às
vozes dos
criminosos
e defender
a reputação
na Mata
Atlântica
5,9%
No Pantanal
aumentou 2,3% brasileira
no mercado
global.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBR0-2022 61
AGROTECNOLOGIA

A semente
que
EMPRESA DE MELHORAMENTO GENÉTICO QUE SURGIU DA UNIÃO ENTRE
PRODUTORES E PESQUISADORES TEM CAPACIDADE DE GERAR 40 MILHÕES
DE DADOS POR ANO. CADA UMA DESSAS INFORMAÇÕES PODE SER UM
PONTO DE EVOLUÇÃO DAS PLANTAS

nasce da
ciência
POR ROMUALDO VENÂNCIO

Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS


ISOCK

62
60
A
dimensão do avanço científico contido em R$ 2 BILHÕES
uma semente de qualquer commodity
agrícola é inversamente proporcional a seu INVESTIMENTO EM PESQUISA E
tamanho. Diferentemente do que aconte-
ce com o maquinário agrícola, quando se
DESENVOLVIMENTO ATÉ 2032
olha para um pequeno grão de soja ou milho não
se tem ideia de quanta tecnologia existe ali. No dessa pressão, nas casas de também ficou menor. “Há
entanto, se o melhoramento genético não está vi- vegetação é possível simular duas décadas, esse prazo
sível na semente, aparece em cada etapa da safra, qualquer ambiente e situação ficava em torno de dez anos,
do cultivo à colheita, expresso em produtividade. que as plantas encontrarão agora são seis ou sete anos”,
Foi assim que há 21 anos um grupo de produto- no campo. Ou seja, esses disse Soares. O problema
res de Mato Grosso se juntou a pesquisadores experimentos filtram qual é é que é exatamente esse o
para fundar a TMG – Tropical Melhoramento & a variedade mais apropriada tempo que a TMG leva para
Genética, empresa que desenvolve soluções para para cada região do País. É colocar uma nova variedade à
lavouras de soja, milho e algodão. para ter essa assertividade disposição do produtor. Para
que 70% dos cola- a conta fechar, a empresa
boradores da TMG tem de manter a constância
AGILIDADE trabalham em P&D, dos lançamentos. “Não há
Por ano, laboratório setor que vai rece- intervalos”, disse o gerente
de biotecnologia ber investimentos de Pesquisa da empresa,
realiza 40 milhões
de análises
de R$ 2 bilhões nos Anderson Meda. “Além disso,
próximos dez anos. podemos desenvolver solu-
“Os laboratórios são ções para novas áreas onde,
fundamentais para por exemplo, não há tradição
ganharmos tempo no cultivo de soja, mas existe
Acesse nosso Canal no Telegram: e otimizarmos os
t.me/BRASILREVISTAS o interesse.” O melhoramen-
investimentos”, afir- to genético ajuda a resolver
mou o presidente da os problemas do campo e os
companhia, Francis- próprios desafios.
co Soares. O material desenvolvido
Entre os ganhos em Cambé é multiplicado e
desse desenvolvi- testado nas outras unidades
De maneira simplificada, o que a empresa faz mento está a redução de da TMG em Mato Grosso,
é juntar o germoplasma das plantas, sua capaci- tempo do ciclo produtivo, o Goiás e Rio Grande do Sul,
dade de desenvolver pesquisas e a biotecnologia que gera mais eficiência nas estados relevantes na produ-
de empresas parceiras, como Bayer, Corteva, lavouras e mais rentabilidade ção agrícola do País e a venda
Syngenta, entre outras, para desenvolver novas para o agricultor. Por outro das sementes é feita por 100
e melhores variedades. Na prática, a história é lado, o período em que cada multiplicadores licenciados
bem mais complexa. São inúmeros procedimentos variedade dura no mercado pela empresa.
e análises que acontecem do início ao
final desse proceso na sede da empre-
sa, localizada em Cambé (PR). Para DESAFIO
se ter ideia, por ano o laboratório de O gerente de
biotecnologia da TMG, tem capacidade Pesquisa,
Anderson Meda,
de receber 2 milhões de amostras de comanda a área
material genético e realizar 40 milhões de genética
de análises, com tecnolgia de PCR e
sequenciamento de DNA. Essas infor-
mações abastecem as demais etapas.
A resistência das plantas às
doenças mais importantes é uma das RESULTADO
prioridades dessas pesquisas. Por isso Para o presidente,
a empresa tem um banco de patóge- Francisco Soares,
laboratórios
nos para criar situações desafiadoras geram ganho de
e colocar a genética à prova. Além tempo e dinheiro

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 63
O C A M P O D I G I TA L

INVESTIMENTO

RECURSOS PARA DE OLHO NA PESSOA FÍSICA


STARTUPS As startups têm feito muita diferença no desenvolvimento
tecnológico do agronegócio, inclusive atuando junto a gran-
Pesquisa realizada pela Efund Investimentos des indústrias do setor. De acordo com o Radar Agtech
mostra que quase 80% das pessoas físicas que Brasil, são 1.574 agtechs no País. Um dos maiores desa-
aplicam em startups devem manter o aporte, fios dessas empresas é conseguir recursos financeiros para
enquanto 8% disseram que vão aumentar os valores.
crescer e ganhar estabilidade. Esse dinheiro pode vir até de
pessoas físicas, como mostra o estudo da Efund
O levantamento foi realizado com 880 investidores, Investimentos. Mas é primordial que o projeto seja convin-
entre os dias 23 e 29 de junho. cente. “Os investidores de maior porte estão mais criterio-
Confira os principais resultados. sos ao escolher as startups, mas ainda há apetite para
aplicações”, disse Igor Romeiro, sócio da Efund.

Quanto investiram em

22,7%
2021
Acima de R$ 50 mil
34,1%
R$ 20 mil a R$ 50 mil
15,9%
R$ 10 mil a R$ 20 mil
11,4%
R$ 5 mil a R$ 10 mil
10,2%
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
R$ 1 mil a R$ 5 mil
5,7%
Não investiram

TOKEN
toneladas de grãos. Ou ‘tokenizar’
GRÃOS DIGITAIS esses grãos para tranformá-los
A startup argentina em dinheiro digital. Por meio de
Planos de investimentos em
2022 Agrotoken fincou seus bits
de vez no Brasil com a aber-
tura de um escritório na
parcerias firmadas com Visa,
Pomelo e Algorand, a Agrotoken
quer implantar um cartão para o
O que disseram sobre as Em quantas startups capital paulista. Até o final setor agrícola que permitirá aos
movimentações pretendem apostar do ano, a empresa pretende agricultores realizar pagamentos
digitalizar cerca de 100 mil com grãos tokenizados.
73,9% 61,4%
manterão Uma a três
18,2% 35,2% NEGÓCIOS
vão diminuir
7,9 %
Quatro a dez
3,4%
VENDAS ON-LINE
aumentarão Mais que dez DE IMÓVEIS
A startup Goyas Fazendas, plataforma
de negociações on-line, aposta no
avanço do e-commerce para expandir
as vendas de fazendas de forma digi-
tal. Segundo a Associação Brasileira
de Comércio Eletrônico (ABComm), as
transações via internet devem movi-
EVANDRO RODRIGUES

mentar R$ 169,5 bilhões em 2022.


Para o CEO da Goyas Fazendas,
Givago Alvarenga, o agro responderá
por uma boa parcela desse valor.

64 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
POR ROMUALDO VENÂNCIO

CANA-DE-AÇÚCAR processamento e da interpretação de ima-


gens captadas por drones, são gerados
MAPA DA ECONOMIA mapas de infestação geolocalizada que tor-
A agtech Cromai e a Colorado Máquinas, con- nam mais precisa a aplicação dos defensi-
cessionária da John Deere, trabalham juntas vos. Por meio de um processo de aceleração
para oferecer uma solução que reduz em até promovido pelo hub AgTech Garage, as
65% o uso de herbicidas em canaviais, geran- empresas já garantiram 3 milhões de hecta-
do redução de R$ 80 por hectare. A partir do res para aplicar essa tecnologia.

CAPACITAÇÃO
CRÉDITO
PROFISSÃO DO FUTURO
A Perfect Flight e a Metos criaram o Projeto Decision – NOVO CARTÃO
Agricultura Digital de Decisão, um programa específico
para quem quer seguir carreira nessa área. Além de cursos PARA O AGRO
de especialização em agronegócio e inglês, os participan- A Nutrien Soluções
tes terão workshop de parceiros das duas empresas e Agrícolas criou seu próprio
mentoria. De início, serão abertas cinco vagas para traine- cartão de crédito, sem
es em quatro grandes regiões produtoras de commodities bandeira, nem anuidade,
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
agrícolas. Mais informações pelo site da Perfect Fligth. para garantir um atendi-
mento sem burocracia,
com segurança e pratici-
dade. Mas para começar,
ATENDIMENTO a novidade desenvolvida
em parceria com a fintech
PRODAP INVESTE NO CHATBOT Wallet estará disponível
A combinação de robótica e inteligência artificial é a opção da para um grupo exclusivo
Prodap para tornar mais eficiente seu atendimento comercial. A de 500 clientes, com limi-
empresa, que oferece soluções de inovação tecnológica para o te de até R$ 250 mil.
campo, principalmente nutrição sob medida para pecuária, fechou Quem ficou fora dessa
uma parceria com a empresa Take.blip para desenvolver o atendi- lista precisa buscar o
mento via chatbot. A ferramenta automatiza conversas para apre- Centro de Experiências da
sentar repostas mais assertivas, personalizadas e com mais agili- Nutrien e aguardar a apro-
dade, melhorando a experiência do usuário. vação de crédito.

PESQUISA
CENTRO DE ESTUDOS
PARA 5G
Com investimentos de R$ 60 milhões, a
Lenovo deu a largada para a instalação de
um centro de pesquisas voltado especifica-
mente à tecnologia 5G no campus da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). A iniciativa, em parceria com o
Instituto Metrópole Digital (IMD), tem como
objetivo desenvolver estudos para aumentar o
potencial de aproveitamento do 5G em todos
os ambientes. A previsão é que o centro este-
ja funcionando em fevereiro de 2024.

DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022 65
ARTIGO
POR LUIS XAVIER ROJAS, DIRETOR-PRESIDENTE DA ZOETIS NO BRASIL*

A saúde animal como fator propulsor


de desenvolvimento da pecuária
Para que a pecuária bovina chegue ao elevado nível das agroindústrias avícola e
suína, há ainda um longo caminho a percorrer e boas oportunidades a serem
LUIZ XAVIER ROJAS* alcançadas, a fim de que tornemos essa atividade cada vez mais profissional

P
ara conquistar o posto de um dos mais importantes produtores animal, posso dizer que, em comparação a outros países, o investimento
de proteína animal no mundo, o Brasil passou por um processo do País em sanidade e bem-estar pode e deve ser melhorado.
de décadas de investimento em tecnologia, que resultou em Por termos grandes vantagens competitivas, outros países podem
maiores produtividade e qualidade do produto, tornando-o competiti- usar esses gargalos referentes à saúde e ao bem-estar como barreiras
vo e possibilitando ao País alcançar mais de 150 países. para o nosso produto. Por isso, o trabalho deve ser constante e da
Isso só foi possível porque a pecuária construiu uma sólida estru- cadeia para que possamos nos antecipar a essa possibilidade.
tura de prevenção e de controle sanitários. No caso da bovinocultura, Podemos avançar muito ainda no cuidado com os animais – além
campanhas de vacinação contra a febre aftosa, a raiva e a brucelose, e do tratamento de verminoses, o uso responsável de antimicrobianos,
o controle da tuberculose bovi- programas de nutrição bem pla-
na, de carrapatos, da mosca-dos- nejado, um calendário vacinal, o
-chifres e de outras parasitoses manejo correto da pastagem ou
passaram a fazer parte do mane- a utilização de tecnologias sim-
jo sanitário do rebanho quem en ples e acessíveis na área repro-
2020 ultrapassou as 210 milhões dutiva, como inseminação artifi-
de cabeças, segundoAcesse
dados do nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS cial e genética, são algumas
Instituot Brasileiro de medidas a serem aprimoradas e
Geografia e Estatística (IBGE) implementadas como um siste-
Em 2023, teremos a possibilida- ma integrado para a melhoria
de de elevar ainda mais esse sta- contínua do processo produtivo,
tus e de abrir portas à exporta- assegurando ao consumidor o
ção, com o reconhecimento e a fornecimento de alimentos segu-
certificação de que o País é livre ros e sustentáveis.
de febre aftosa sem vacinação. Não há espaço para falhas
Ainda que tenha sido uma muito menos para retrocessos.
ISTOCK

jornada cheia de conquistas até O setor passa por constante


aqui, é certo que, para que a evolução, numa busca incessan-
pecuária bovina chegue ao ele-
vado nível das agroindústrias
“Temos aqui todas as condições para te por mais eficiência na produ-
ção. Estar sempre alinhado aos
avícola e suína, há ainda um
longo caminho a percorrer e
atender à crescente demanda mundial princípios de bem-estar animal,
à segurança de seus protocolos
boas oportunidades a serem
alcançadas, a fim de que torne-
de carne – bom clima, área, sanitários e também atento às
melhores práticas de manejo e
mos essa atividade cada vez infraestrutura, mão de obra – e muito de gestão são requisitos obriga-
mais profissional. tórios, não só para atender aos
Temos aqui todas as condi- potencial para desenvolvimento e anseios da sociedade quanto à
ções para atender à crescente
demanda mundial de proteína aperfeiçoamento” incorporação de critérios de
sustentabilidade à produção,
animal – bom clima, área, infra- como também para continuar-
estrutura, mão de obra – e muito potencial para desenvolvimento e mos no caminho de excelência que estamos trilhando.
aperfeiçoamento. Por essa conjuntura e pelo nosso protagonismo, é Acredito que o trabalho com diretrizes claras e fundamentadas, o
natural que os olhos do mundo estejam voltados para cá e para todos compartilhamento de boas práticas no campo, a troca de experiências
os aspectos que possam influenciar positiva e negativamente o papel e de modelos de negócio, além do investimento no desenvolvimento
do Brasil de provedor de alimentos global. contínuo de mão de obra irão qualificar e dar ainda mais visibilidade à
Falando como líder no Brasil da maior empresa global de saúde pecuária brasileira nos próximos anos.

66 DINHEIRO RURAL/188-SETEMBRO/OUTUBRO-2022
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SÃO PAULO RECEBE UM NOVO ÍCONE
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ACESSE E SAIBA MAIS:

Haddock 885: Incorporação registrada sob o nº R.3 da matrícula nº 105.501 do 13° Oficial de Registro de Imóveis de São Paulo, em 10 de junho de 2022.
Intermediação: LPS São Paulo – Consultoria de Imóveis Ltda., CNPJ 15.673.605/0001-10, CRECI/SP 24073-J; Mitre Vendas Corretagem de Imóveis Ltda.,
CNPJ 21.677.690/0001-98, CRECI J-26794. A responsabilidade pela prestação dos serviços relacionados será da administradora contratada para operar
o empreendimento e/ou de prestadores de serviços indicados pelo concierge. Caso haja interesse da administradora contratada, ela poderá utilizar o
aplicativo Mitre Experience para realizar os agendamentos dos serviços. *Metragem resultante de eventual junção física de duas unidades autônomas
contíguas de 185 m2. As unidades são independentes perante o Registro de Imóveis e a Prefeitura Municipal de São Paulo. Imagens meramente ilustrativas.

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