Globo Rural #454 - Dez-Jan24
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TENDÊNCIAS
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A REVOLUÇÃO DIGITAL
NO CAMPO COM
O 4G DA TIM
A TIM é protagonista em conectividade
no agronegócio, com mais de 14 milhões
de hectares de cobertura móvel em áreas rurais.
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22
ESPECIAL TENDÊNCIAS
Sustentabilidade,
diversificação dos cultivos,
incertezas climáticas,
inovação: seis histórias que
ajudam a ilustrar os
cenários do agro em 2024
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APRESENTADO POR
A
produção brasileira de café
FOTOS: SYNGENTA
passou a ser conhecida mun-
do afora tanto por sua quali-
dade como pela quantidade em abun-
dância. Segundo dados da Companhia
Nacional de Abastecimento, o país,
maior fornecedor global da bebida,
produziu 50,9 milhões de sacas no
ano passado. Essas mesmas carac-
terísticas despontam nos cultivos de
hortifrutis. Somadas, as produções
de frutas e hortaliças superaram as
9 milhões de toneladas em 2022 — a
maioria tem o mercado interno como
destino. Em comum, os produtores
dessas culturas precisam lidar com
o difícil manejo de pragas entre os Defensivo Joiner ® contribui para evitar perdas na lavoura
desafios diários.
No caso do grão, a broca-do-café, de pragas no campo. “O nosso objetivo e um novo modo de ação a partir da
o bicho-mineiro, os ácaros, a lagarta é projetar um produto capaz de aten- molécula Plinazolin®.
desfolhadora e os besouros-carnei- der as necessidades dos cafeiculto- Já em hortifrutis, o produto é capaz
rinho são os principais problemas. Já res e produtores de frutas e hortaliças de proporcionar melhor desempe-
nas culturas de hortifrutis, as traças, no que tange a superar os desafios de nho, controle e inovação no combate
moscas-minadoras, tripes, broca, dia- manejar as principais pragas”, afirma. às pragas. Para se ter ideia, o defen-
brotica e ácaros surgem entre os inse- Para se ter ideia, dados da Organi- sivo possui alta flexibilidade, sendo
tos que mais danificam a lavoura. Para zação das Nações Unidas para a Ali- recomendado para inúmeras frutas e
resolver o problema, a Syngenta, uma mentação e Agricultura (FAO) esti- hortaliças. Entre os mais de 40 culti-
das maiores empresas de proteção mam que as perdas mundiais na agri- vos, despontam abóbora, abobrinha,
de cultivos e biotecnologia do mundo, cultura como resultado de ataque de alho, berinjela, batata, cebola, chuchu,
está lançando o Joiner®, um inseticida insetos chegam a US$ 220 bilhões. No citros, jiló, melão, melancia, pepino,
acaricida projetado para o cultivo de Brasil, um dos principais polos produ- pimentão, pimenta, quiabo e tomate.
café e hortifrutis, à base da tecnologia tores, os prejuízos são calculados em “A inovação no manejo propiciada
Plinazolin®, molécula com um novo 25 milhões de toneladas por ano, em pela tecnologia Plinazolin® traz novo
modo de ação de altíssima eficácia torno de US$ 17,7 bilhões. modo de ação e grupo químico inédito
contra uma ampla variedade de pragas. que controla as pragas resistentes
Para desenvolver a solução capaz Controle prolongado e mais difíceis de serem controla-
de atender a todas as necessidades dos Dessa forma, o Joiner ® age através das, por não apresentar nenhum tipo
produtores, a empresa realizou pes- da rápida parada da alimentação das resistência cruzada no campo”, diz o
quisas e estudos ao longo de 10 anos. pragas, alto efeito de choque e longo especialista. “Todas essas barreiras
De acordo o gerente de Inovações período de controle, protegendo a pro- no campo causam ainda mais empe-
em Inseticidas da Syngenta, Marcos dutividade e a qualidade das lavouras cilhos para o produtor. Com a chegada
Queiroz, além do Manejo Integrado de por mais tempo. No café, o defensivo de Joiner®, essa dinâmica muda, pois
Pragas (MIP), o produtor precisa ter à pode contribuir para uma melhor apresenta alta eficácia para um amplo
disposição defensivos com tecnolo- performance contra a broca-do-café, espectro de pragas, entregando um
gia de ponta para evitar a proliferação controle de bicho-mineiro e de ácaros controle sem precedentes.”
A
s adversidades climáticas causadas pelo fenômeno cido com o de 2023 e ressalta que o aumento da mistura do
El Niño em diferentes regiões do Brasil geram in- biodiesel no diesel fóssil, se de fato ocorrer, ditará o ritmo
certezas sobre o resultado final da colheita de soja de processamento das indústrias.
na temporada 2023/2024 e deixam indústrias e tra- Há, por outro lado, uma visão positiva sobre o prota-
dings em compasso de espera. O ritmo de comercialização gonismo e a postura pragmática do país nas discussões
da safra está mais lento do que em anos anteriores e ainda sobre as crises climática, energética e alimentar. Nassar
não se tem clareza sobre as perspectivas de exportação e de defende o uso de uma plataforma de dados que ajude a
esmagamento do grão para a produção de biodiesel. comprovar as boas práticas do campo. O governo fede-
“A safra foi plantada para ser grande”, observa o presi- ral já trabalha na criação da ferramenta. “Esse é o mo-
dente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de mento perfeito para vendermos essa agricultura tropi-
Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, entidade que reúne cal”, salienta Nassar, engenheiro agrônomo formado
as principais empresas que exportam a soja brasileira. Ele pela Esalq-USP e ex-secretário de Política Agrícola do
acredita que o processamento do grão em 2024 será pare- Ministério da Agricultura.
GLOBO RURAL_ Em 2023, o Brasil co- te travado, com 50% da safra vendi- início da guerra na Ucrânia, mas, em
lheu a maior safra de grãos da história da ao longo do segundo semestre, mas 2023, eles arrefeceram. O que pode pro-
e agora enfrenta adversidades climá- [em dezembro] esse número ainda está vocar um novo salto nas cotações?
ticas. O que o mercado consumidor de perto de 30%. Com boa parte da safra NASSAR_ A oferta vai determinar pre-
soja e milho tem projetado para 2024? vendida, é possível organizar bem a ço. A questão climática está se trans-
ANDRÉ NASSAR_ Se a safra for menor cadência do escoamento, a fim de não formando em um fator de risco mais
que a passada, isso pode prejudicar o gerar acúmulo de soja em armazém, alto, e isso tende a mexer nos preços.
processamento de soja, diferentemen- como ocorreu neste ano, e não estres- Não vejo razão para a demanda pu-
te do que ocorreu em 2022, quando as sar os modais logísticos. xar os preços para cima. A China de-
margens estavam boas e o ajuste da fine boa parte da demanda, e o país já
queda da safra ocorreu na exportação. GR_ Como deverá se comportar o mer- não cresce mais como antes. Também
Se a safra diminuir, é muito importan- cado do complexo soja em 2024? não vejo fundos institucionais saindo
te que haja estímulos para se manter a NASSAR_ Tudo vai depender do tama- de ativos financeiros para investir em
expansão do esmagamento. O manda- nho da nossa safra. Se tivermos uma commodities nem aumento do preço
to do biodiesel vai ser chave. parecida com a de 2022/2023, prova- da commodity em dólar. O consumo
velmente o esmagamento será muito não deve aumentar, já que a economia
GR_ Os problemas climáticos afetam o parecido. Como a demanda por bio- global está caminhando de lado. Mas
ritmo de negócios dos grãos? diesel vai crescer, deveremos ter me- existem outras variáveis. Neste ano, ti-
NASSAR_ A safra atual não teve um nos exportação de óleo para atender vemos prêmios negativos em virtude
grande volume de compra antecipa- ao mercado do biocombustível, que é dos nossos problemas logísticos. A de-
da. Do lado da trading, há uma certa prioritário para a indústria. pender do tamanho da safra em 2024,
flexibilidade, mas, para a cadeia, isso podemos voltar a ter prêmios posi-
não é bom. O ideal é que pelo menos o GR_ Os preços das commodities dispa- tivos, o que é bom para remunerar o
custo desembolsável esteja totalmen- raram na pandemia e também após o produtor parcialmente.
SO JA I E N T R E V I S TA
mente. Nós precisamos colocar mais a única forma de o reconhecimento lá fato de o mercado exigir um conjunto
qualidade na nossa informação. Es- fora ocorrer, com verificação do nosso de critérios do exportador, o que gera
távamos com uma estratégia muito sistema de produção. No momento em impactos na cadeia para trás, sobre-
baseada no discurso; agora, é preci- que conseguirmos fazer a informação tudo nas questões de sustentabilida-
so ter um formato muito mais empíri- fluir, o mercado vai desenvolver ferra- de, não muda essa parceria. O produ-
co de demonstração. Temos que gerar mentas para dar valor a esse produtor, tor é a galinha dos ovos de ouro para
informação para demonstrar como é mas ele ainda não acredita que isso vai nós. Se matar o produtor, acaba o nos-
a nossa agricultura, e o setor privado vir no médio prazo. Eu gostaria muito so negócio.
precisa adotar essas ferramentas, que que os produtores concordassem com
são a rastreabilidade e as boas práti- esse fluxo de informação, mas acredi- GR_ É possível que se adie a Lei Anti-
cas. Isso significa que quem não tem to que ele vai ler como mais uma obri- desmatamento da União Europeia?
esse padrão na propriedade vai ter gação que não traz benefício nenhum. NASSAR_ Pelos sinais que recebemos
que correr atrás do prejuízo. Não tem Só existe um jeito de fazer o merca- da Europa, não haverá adiamento.
mais paternalismo, ele [o agricultor] do valorizar os ativos que o produtor Mas há uma preocupação do legis-
FOTO_ CLAUDIO BELLI/VALOR/AGÊNCIA O GLOBO
vai ter que investir para mudar seu tem, e é contando a ele o que o produ- lador europeu com a adoção das fer-
padrão de produção. tor tem. O jeito que contamos hoje não ramentas que são necessárias para a
dá, temos que contar isso em forma- verificação das obrigações. O impor-
GR_ O produtor reclama das exigências to profissional, transparente, em que tador precisa submeter uma série de
que vão além do que prevê a lei brasilei- qualquer um entre lá e veja. O clien- informações, e não existe um sistema
ra. Como resolver isso? te principal do nosso setor é o produ- para ele inserir. Talvez o grande sonho
NASSAR_ O produtor nunca vai apoiar tor rural. É claro que temos que aten- da Comissão Europeia fosse o Brasil
um padrão da indústria de ter desma- der o que o mercado internacional desenvolver uma ferramenta e ela a re-
tamento zero, mas ele tem que apoiar quer, mas a nossa indústria só cresce conhecer. Sou muito a favor de levar-
a transparência da informação. Essa é se o produtor crescer e tiver renda. O mos ferramenta brasileira oficial.
WENDERSON ARAUJO/DIVULGAÇÃO/SENAR
é conhecido o Programa de
Subvenção ao Prêmio do Seguro
Rural (PSR). Trata-se de um
subsídio para que o segmento
de seguros consiga oferecer
as melhores condições para a
maior quantidade possível de
produtores do setor agropecuá-
rio. “O seguro rural é extrema-
mente necessário, ainda mais
num cenário em que muitos
produtores não conseguiram
plantar a safra verão em decor-
rência da seca ou a plantaram
e a perderam para as chuvas”,
avalia o deputado federal Sérgio
Souza (MDB-PR).
Gestão de risco
Em outras palavras, quanto
maior o subsídio, maior a pro-
teção. E é por isso que, desde
os primeiros meses de 2023, a
Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA) soli-
cita o aumento do valor dispo-
nibilizado para o setor, que se vê
diante da perspectiva de regis-
O
agronegócio funciona tabilidade para 2024. Produção de soja trar uma safra recorde em pro-
como uma indústria “Temos observado chuvas e é uma das mais dução desde que o esforço não
prejudicadas
a céu aberto. Uma se- secas, além de geadas de amplo pelas alterações seja comprometido pelas difi-
quência de rotinas se segue, do alcance. Numa situação de perda na temperatura culdades provocadas por pro-
média e nos
preparo do solo à colheita, e, em de colheita, os produtores per- índices de blemas climáticos.
cada uma dessas etapas, uma dem duas safras, em geral, até precipitações “O país corre o risco de ter
série de riscos se apresenta. voltar à ativa. Precisam recor- problemas na produção de
Neste momento, com as secas rer a refinanciamentos bancá- soja e de milho safrinha, tudo
na Região Norte e as chuvas rios ou acabam por vender parte devido ao atraso no plantio da
excessivas no Sul, os proble- do patrimônio”, explica Joaquim oleaginosa, que irá empurrar
mas relacionados ao clima se Francisco Cesar Neto, presi- as janelas de semeadura. Com
tornam muito evidentes. A dente da Comissão de Seguro as alterações na temperatu-
presença do fenômeno climá- Rural da Federação Nacional de ra média e nos índices de pre-
tico El Niño, evidenciada ao Seguros Gerais (Fenseg). cipitações, as lavouras são
longo dos últimos meses, ajuda Um caminho tradicional pa- as principais prejudicadas”,
a explicar os fenômenos atuais ra apoiar os produtores nestes detalha José Mario Schreiner,
e apresenta um cenário de ins- casos é o seguro rural, como vice-presidente da CNA.
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A
genética é uma ciência rela- preendem, além de outras, a genômi- do com o tema, o alcance das ômicas
tivamente recente. Há pouco ca, a transcriptômica, a proteômica e pode não ser óbvio, mas você já pa-
mais de 100 anos, Mendel, o a metabolômica. A transcriptômica rou para pensar no que eles tornam
célebre pai da genética, caminhava é o estudo dos RNAs de que as célu- possível? Podemos analisar milhares
nos jardins do mosteiro hibridizando las precisam para estar em atividade. de variações genéticas, genes, prote-
seus milhares de pés de ervilhas sem Lembrando: os RNAs são as molécu- ínas e metabólitos ao mesmo tempo,
saber que seus achados científicos las que traduzem as receitas de pro- medindo suas respostas em diferen-
mudariam nosso entendimento sobre teínas codificadas no DNA e deter- tes ambientes e situações. Isso nos
as coisas vivas. Fato é que, da par- minam quais são os genes que estão permite não só entender um organis-
tícula hereditária de Mendel até os sendo expressos e como estão sendo mo de forma ampla, mas também al-
dias atuais, o salto tecnológico da ge- expressos nas diferentes células. terar essas formas segundo objetivos
nética foi surpreendente. direcionados, desde que éticos.
Desde que a estrutura do DNA, a As aplicações na área da saúde são
chamada molécula da vida, foi des- imensas. Entre elas está a compre-
coberta, em 1953, as pesquisas nos ensão sobre como se dá a progressão
levaram à beira da ficção científica. de uma doença (o câncer, por exem-
Exemplos não faltam: melhoramen- plo). Na agricultura e na pecuária, a
to genético, transgênicos, clonagem, aplicação é incalculável. Identificar e
terapias gênicas e edição gênica, só poder manipular genes-chave e vias
para citar alguns. A possibilidade metabólicas pode levar à obtenção de
de mapeamento dos genes, surgida plantas e animais mais produtivos,
ainda na década de 1970, associa- menos exigentes e mais tolerantes
da a técnicas que reduziram o tempo aos impactos ambientais, como se-
para obtenção de genótipos comple- cas, variações de temperatura e do-
tos, deu origem a um ramo da genéti- enças, entre outros fatores.
ca conhecida como “ciências ômicas”. Essas possibilidades, que hoje só
A genômica, precursora das ômi- O próximo passo é identificar e en- dependem de mais pesquisas apli-
cas, trata da leitura do material gené- tender as funções dessas proteínas. cadas, serão cruciais para atender à
tico, isto é, do DNA de um organismo. Esse estudo é denominado de proteô- crescente demanda de alimentos e às
Mas interpretar esse código da vida é mica, uma análise sistemática de pro- exigências de produção sustentável.
outro desafio. A era atual, denomina- teínas que complementa a genômica e Talvez não seja um exagero dizer que
da pós-genômica, é capaz de ir além a transcriptômica. Por fim, a atividade o futuro às “ômicas” pertence.
do mapeamento dos genes e informar das proteínas resulta em metabólitos,
e integrar os seus transcritos, suas que são os produtos do metabolismo
proteínas e metabólitos resultantes. em uma amostra biológica, cujo estu- Luiz Josahkian é zootecnista,
professor de melhoramento genético e
São essas ferramentas que inte- do ocorre por meio da metabolômica. superintendente técnico da Associação
gram as ciências ômicas, que com- Para o leitor menos familiariza- Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ)
Alimento
inspecionado.
Tá na mesa,
tá seguro.
Produtor(a) rural, você é fundamental na prevenção • Alta na mortalidade súbita;
e combate à gripe aviária. Tome todas as medidas de • Redução na produção ou má-formação de ovos;
biosseguridade necessárias e procure o serviço veterinário • Andar cambaleante e pescoço torto;
oficial mais próximo de você caso suas aves apresentem: • Dificuldade respiratória.
WENDERSON ARAUJO/DIVULGAÇÃO/CNA
Bruno Lucchi, João Martins, Daniel
Carrara e Sueme Mori participam da
entrevista coletiva sobre o balanço
de 2023 e as perspectivas para 2024
O
ano de 2023 trouxe muitos pecuária de corte, apesar do cresci- Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),
desafios para o agronegócio, mento dos abates em 9,7% e do au- João Martins, em entrevista coletiva
que chega a 2024 com o sinal mento de 5% na produção de carne, a sobre o balanço de 2023 e as perspec-
de alerta ligado. Apesar da safra queda na receita chegou perto dos 50%. tivas do agro para 2024.
recorde de 321 milhões de toneladas — Não foi um ano fácil para a agro- — Na CNA, nossa defesa é a do pro-
de grãos, as margens de lucro foram pecuária brasileira. Nós tivemos dutor brasileiro e da agropecuária
muito estreitas, por causa do alto problemas climáticos, quedas acen- brasileira — completou João Martins.
custo da produção e da queda no preço tuadas de preços e problemas de Bruno Lucchi, diretor Técnico da
global dos alimentos. mercado externo. Fora isso, tive- CNA, resumiu o ano de 2023 com a
Na produção de leite, por exemplo, mos também mudança de governo. expressão: “safra cheia e bolso vazio”.
a margem de lucro caiu 67%, princi- Procuramos entender quais eram — A gente havia avisado que seria
palmente em decorrência das impor- as proposições do governo — afir- uma das safras mais caras da his-
tações subsidiadas da Argentina. Na mou o presidente da Confederação da tória, e estão aí os resultados que
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TENDÊNCIAS I CENÁRIOS
INCERTEZAS NO CLIMA,
SUSTENTABILIDADE, INOVAÇÃO,
DIVERSIFICAÇÃO: EM SEIS
HISTÓRIAS, ALGUNS DOS CENÁRIOS
PARA O AGRO BRASILEIRO EM 2024
A BÚSSOLA
DO CAMPO ilustração PAULO FERRARI
T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S A N U A I S
A PLUMA
EM
SOLO FÉRTIL PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ALGODÃO DEVE SUPERAR A
DOS ESTADOS UNIDOS, O QUE COLOCARÁ O PAÍS, PELA
PRIMEIRA VEZ, NO PÓDIO GLOBAL DA CULTURA
T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S A N U A I S
C
ARLOSALBERTO MORESCO,
de 49 anos, teve o primei-
ro contato com a agricul-
tura aos 7. Em Ijuí (RS),
onde seus pais cultivavam grãos
e produziam leite, ele tomou gos-
to pelo trabalho no campo, que o
transformou em um grande produ-
tor de algodão, ainda que a milha-
res de quilômetros dali.
Certo de que seu futuro seria
nas lavouras, ele formou-se técni-
co de agropecuária em 1993 e logo
ingressou como estagiário na SLC
Agrícola, um dos gigantes do agro
brasileiro. Após 20 anos de servi-
ços prestados, a empresa o convi-
dou a migrar para Luziânia, mu-
nicípio goiano com forte vocação
agrícola. Lá, Moresco ficou mais 12
meses, até se mudar para a Semen-
tes Produtiva, onde iniciou sua jor-
nada como produtor rural.
“Expliquei ao meu chefe que eu
tinha o sonho de arrendar terras. O encanto pelo algodão vem “O algodão é uma
Então, fizemos um acordo. Eu o aju- tomando corpo na agricultura brasi-
dava com algumas rotinas, como a leira, e Moresco é um dos exemplos cultura desafiadora,
compra de insumos, e ele me daria concretos desse quadro. O produtor mas vi muitas
apoio como avalista. Ele me ajudou espera uma pequena queda na pro-
bastante, e somos amigos até hoje”, dutividade na safra 2023/2024, que pessoas construindo
relembra o agora produtor. deve passar das 340 arrobas de patrimônio a
Em 2007, ele arrendou terras algodão em caroço por hectare da
nos municípios goianos de Luziâ- safra passada, um recorde, para 310 partir dela"
nia e Cristalina, cultivando soja, tri- arrobas nesta safra. Mas, segundo
go, sorgo e milho semente em 8.000 ele, o resultado ainda está dentro da
hectares –o clima, diz, o ajuda com média, já que este é um ano de preo-
todas as opções. Mas foi no algodão cupações com o clima, devido ao CARLOS ALBERTO MORESCO,
que ele encontrou uma oportunida- fenômeno El Niño. produtor de algodão em Goiás
de para se destacar. “Fiquei impres- Ainda que não alcance o ótimo
sionado com as características de desempenho do ciclo anterior, Mo-
produção no Cerrado. É uma cultu- resco é uma das faces do sucesso do
ra desafiadora em termos de custo, cultivo da pluma no Brasil. Depois
mas vi muitas pessoas construindo de a produção disparar nos últi-
patrimônio a partir dela”, afirma. mos anos, o país deve, enfim, supe-
T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S A N U A I S
TIPO EXPORTAÇÃO
Algodão brasileiro deve
competir com o americano
pelo mercado global
rar o volume de colheita dos Esta- temporada anteior. O órgão ameri- sua área de cultivo da pluma. A
dos Unidos, alcançando a posição cano estima que o Brasil vai quase Conab estima que a área total de cul-
número três no ranking global de dobrar suas exportações e vender tivo de algodão nesta safra será de 1,7
produção, atrás apenas de China e 2,5 milhões de toneladas ao merca- milhão de hectares, a maior exten-
Índia. Além disso, os brasileiros de- do externo, encostando no volume são em 22 anos. Em Mato Grosso, o
vem disputar espaço com os ameri- dos embarques dos EUA, que deve- maior produtor nacional, as lavou-
canos no mercado exportador. rá ser de 2,6 milhões de toneladas. ras de algodão devem ganhar ainda
As projeções mais recentes da “Esses dados não trazem apenas mais espaço, por causa dos proble-
Companhia Nacional do Abasteci- um sentimento de otimismo, mas mas nas plantações de soja, que têm
mento (Conab) e do Departamento também de merecimento. Estamos levado alguns produtores a dessecar
de Agricultura dos Estados Unidos há 30 anos investindo na cultura as plantas do grão para acelerar a
(USDA) convergem para a estima- para torná-la mais moderna e sus- colheita e, com isso, poder substituí-
tiva de que o Brasil produzirá 3,1 tentável. Hoje, a produção do Bra- las pelo cultivo da pluma. A Conab
milhões de toneladas de pluma de sil é eficiente, e ela vai ocupar o lu- projeta um aumento de 3% na área
algodão, enquanto a Associação gar no mercado dos países que não de plantio de algodão em Mato
Brasileira dos Produtores de Algo- são”, afirma o presidente da Abra- Grosso, para 1,2 milhão de hectares.
FOTO_ GETTY IMAGES
dão (Abrapa), mais otimista, prevê pa, Alexandre Pedro Schenkel. Essa opção, porém, não é para
3,37 milhões de toneladas, o que, qualquer agricultor. É preciso ter ca-
caso se confirme, representará um Todos os estados brasileiros com pacidade financeira para migrar de
crescimento de 3% em relação à vocação agrícola vêm aumentando cultura, além de experiência na lida
T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S A N U A I S
o que deve acontecer por causa do semanas de janeiro. “Aí vai ter O especialista da Embrapa Algodão
fenômeno El Niño, afirma Alexandre água suficiente para o algodão se ressalta que o rendimento dos
Cunha de Barcellos Ferreira, desenvolver até início de abril, com algodoeiros tende a ser melhor em
pesquisador da Embrapa Algodão. 100 dias de chuva, e vai dar para locais de solo fértil, com rotação
“O algodão precisa, com boa produzir bem”, indica Ferreira. Por de culturas entre soja e algodão,
segurança, de 100 dias de esse motivo, ele acredita que será que conseguem reter água por
chuvas bem distribuídas depois pouco provável que ocorra um mais tempo. “Se não tiver solo com
da semeadura. Se passar dos aumento expressivo do cultivo de boa palhada, com boa capacidade
120 dias, melhor ainda. Mas com algodão na safra de inverno, já que de retenção de água, a lavoura
esse evento climático adverso do deverá ser uma estação mais seca. vai sentir muito mais do que o
El Niño, sabemos que em várias Caso contrário, se a semeadura solo que está bem preparado. Em
regiões, após meados de abril, atrasar, o risco é que a parcela solo arenoso é pior ainda”, diz.
a chuva vai diminuir bastante final do desenvolvimento das Outro risco é o de formação de
fibras curtas. O desenvolvimento
da fibra leva de 40 a 50 dias, da
abertura da flor do algodoeiro até
o desenvolvimento do fruto e a
formação das camadas de celulose
que levam ao desenvolvimento
da fibra do algodão. A falta de
umidade necessária prejudica
a deposição das camadas de
celulose, levando à formação de
fibras curtas, explica Ferreira.
O resultado é que o produto terá
manuseio mais difícil na indústria
de fiação, já que ela arrebenta mais
facilmente. E isso é prejudicial para
o algodão brasileiro principalmente
no mercado internacional, onde
o produto acaba ganhando má
fama e perdendo atrativo em
relação a seus competidores.
RASTREABILIDADE
Brasil aposta em programas
de certificação para alcançar
novos mercados no futuro
presidente da Abrapa
mercados no futuro. Em agosto de país é pioneiro na rastreabilidade
2023, o país exportou à China o pri- do algodão. Nesse contexto, o nos-
meiro lote da commodity dentro do so produto é tão bom quanto o dos
Programa de Qualidade do Algodão americanos”, declara o produtor.
T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S P E R E N E S
A ALIANÇA ENTRE
O CACAU E O BOI NO PARÁ, DIVERSIFICAÇÃO COM BASE AGROFLORESTAL
MELHORA ÍNDICES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL,
SOCIAL E ECONÔMICA
À
S MARGENS DA TRANSAMAZÔNI- A partir de imagens de satélite, ele
CA,
o assentamento de agri- tem mapeado a produção de cacau
cultores familiares Tue- no Pará. Venturieri já constatou que,
rê – considerado o segundo no estado, 70% do cultivo ocorre em
maior da América Latina, com 240 áreas degradadas, a maioria delas em
mil hectares – vive uma revolução agricultura familiar com sistemas
silenciosa. Ano após ano, áreas de agroflorestais. “Quando se introduz
pasto degradado da Amazônia têm um sistema agroflorestal, você au-
dado lugar a lavouras de cacau, a menta sua cobertura do solo, melho-
maioria delas de base agroflorestal, o rando a infiltração de água no solo e
que tem ajudado a intensificar a pe- reduzindo a erosão”, complementa.
cuária entre pequenos produtores. Até 2021, foram 90 mil hecta-
“A gente tem visto o cacau ocupan- res de cacau mapeados no Pará, que
do diversas áreas que foram de pas- concentra metade da produção na-
tagem. O produtor faz isso por diver- cional, com 146 mil toneladas, se-
sas razões. Uma delas é que a área já gundo o levantamento mais recente,
está aberta, e outra porque, ao intro- de 2022, feito pelo Instituto Brasilei-
duzir o cacau nessas áreas, o produ- ro de Geografia e Estatística (IBGE).
tor vai recuperando esse solo”, expli- Cerca de 80% desse volume sai de
ca Adriano Venturieri, pesquisador municípios da Transamazônica, en-
da Embrapa Amazônia Oriental. tre eles Novo Repartimento, onde
T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S P E R E N E S
T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S P E R E N E S
chama de “restauração produtiva”. dado. “Nós vamos ter que fazer essa importar cacau da África para abas-
“O produtor não vai recompor a restauração com modelos que sejam tecer nossa indústria de chocolate,
cobertura original, mas vai conse- capazes de atrair investimento na es- que exporta. Nosso primeiro desa-
guir reduzir suas emissões de gases cala dos bilhões de reais", resume fio é ajudar a eliminar a importação
É DA TERRA
Espécie nativa da Amazônia,
cacau oferece renda seis vezes
maior que a da pecuária
T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S P E R E N E S
TENDÊNCIAS I HORTIFRÚTIS
DIVERSIFICAÇÃO
TRANSFORMADORA FAMÍLIAS DE PRODUTORES MINEIROS AUMENTAM
SUA RENDA COM O PLANTIO DE FRUTAS VERMELHAS
EM ÁREAS QUE ERAM DE CULTIVO DE CAFÉ
A
TRAÍDAS PELA POSSIBILIDADE disse Nicole à GLOBO RURAL, en-
de aumento de renda que quanto enchia uma cesta de amoras
surgiu com a produção de pretas do tamanho de morangos.
frutas vermelhas em áreas Os quatro atuam no cultivo das
que eram de cultivo de café, as ir- frutas, mas, na safra de amora, que
mãs Larissa e Nicole Santos deixa- vai de outubro a dezembro, é preci-
ram seus empregos, no fim de 2019, so contratar ajuda para a colheita.
na cidade gaúcha de Santa Cruz Sebastião conta que a safra pode ter-
do Sul, onde moraram por 15 anos, minar antes de dezembro, porque a
para ajudar os pais, Sebastião San- fruta amadurece com muita rapidez
tos e Maria Aparecida Santos, na di- – e se ela ficar no pé, sofre com a ação
versificação. Foi assim que elas pas- da mosca-da-fruta, que se esbalda
saram a se dedicar aos pomares de quando encontra amoras maduras.
amora, framboesa e mirtilo no sítio “Tem pessoas entrando no culti-
da família, na zona rural de Macha- vo das frutas na região como aven-
do, no sul de Minas Gerais. tureiros. Tem gente aqui que já fa-
“Valeu muito a pena a mudan- lou em plantar 40 mil pés. Como vai
ça. Agora, estamos com a família, colher esse volume? Tudo é manual.
trabalhamos no nosso negócio com Só a nossa colheita de 5.000 pés de
vontade e ganhamos muito mais”, amora dá emprego a 20 safristas por
TENDÊNCIAS I HORTIFRÚTIS
dos os dias, sem domingos, feriados frutas. Em 2019, Leda Maria Begali
nem férias”, afirma Nicole. Mezavila Corsini e Lídia Begali Me-
A mãe, que agora se divide entre o zavila Araújo convenceram o pai,
trabalho de dona de casa e o manejo Mauro Milan Mezavila, um descen-
diário das frutas, conta que, até 2022, dente de italianos de 71 anos que cul-
a amora deu bastante lucro. “Neste tivou café a vida toda, a investir nas
ano [2023], a renda caiu porque co- frutas vermelhas. Antes, a família ti-
meçaram a entrar no país muitas fru- rava a renda do plantio de café e hor-
tas sem taxação que vieram do Chile e taliças para sustentar as três famílias
da China", relata. Segundo ela, os pre- que moram no sítio de 2 hectares.
ços passaram de R$ 12 para R$ 6 o qui- “Elas mergulharam sem saber na-
lo. Em 2022, a família colheu 14,5 to- dar. Não sabiam como plantar, mas
neladas e obteve uma renda líquida de receberam as mudas e a assistência
R$ 200 mil. A expectativa para 2023 técnica da prefeitura. Nós investimos
era fechar com mais de 16 toneladas de cerca de R$ 100 mil em arame, mou-
amora, três de framboesa e 1 de mir- rão, irrigação e freezer”, conta o pai,
tilo. Em 2024, a família pretende au- que perdeu quase todo o café nas ge- AO LADO
mentar a área de cultivo de amoras. adas de 2021 e acumulou prejuízos Aliandro da Silva, presidente da
Associação dos Agicultores de
com o grão nos últimos quatro anos. Frutas Vermelhas de Machado
Do outro lado da cidade, outras As irmãs plantaram 5.500 pés de
duas irmãs também apostaram nas amora da variedade tupy em par- ABAIXO
O produtor Sebastião Santos
e a filha Nicole colhem
amoras no sítio da família
TENDÊNCIAS I HORTIFRÚTIS
AMORA EM ALTA
Safra da fruta vai de outubro a
dezembro, quando produtores
precisam contratar mão
de obra para a colheita
PECUÁRIA
DO FUTURO POR QUE UM PRODUTOR DECIDIU INVESTIR EM
INTEGRAÇÃO E RASTREABILIDADE EM MATO
GROSSO DO SUL
"T complexo
EMOS UM SISTEMA
aqui na fazenda, e o que faz
isso funcionar é o homem.”
A frase do produtor André
Bartocci resume bem a pecuária de
ral e apoia a educação de crianças
da região oferecendo espaço próprio
para cursos no local. “A capacitação
e a valorização das pessoas são fun-
damentais para mantê-las no cam-
corte – e de ponta – no Brasil. Na po”, enfatiza o produtor. Mas isso é
busca por ganho de competitividade só uma parte do que acontece por lá.
e por melhoria da sustentabilidade, Com uma área total de 3.200
o uso de tecnologia na pecuária de hectares, a propriedade foi, há mais
precisão depende do acompanha- de 20 anos, uma das primeiras na
mento in loco e da interpretação dos região a adotar o sistema de inte-
dados para se tomar a melhor de- gração lavoura-pecuária (ILP). A
cisão. Para isso, trabalhadores que atividade principal é a pecuária,
atuam no campo e profissionais es- com foco na recria e engorda de bo-
pecializados são peças-chave. vinos e abate de 4.000 bois ao ano.
Proprietário da Fazenda Nossa A genética da Nossa Senhora das
Senhora das Graças, localizada em Graças baseia-se em raças zebuí-
Caarapó (MS), a pouco mais de 270 nas, especialmente o nelore, com
quilômetros de Campo Grande, An- alguns cruzamentos de raças euro-
dré conta que estimula a formação peias. Em geral, o plantel conta com
de mão de obra para a atividade ru- 70% de nelore e 30% de angus.
NELORE E ANGUS_ Propriedade, que abate 4.000 animais por ano, em média, é referência em recria das duas raças
atuação nas etapas de recria e engor- André, que preside a Câmara Bartocci não deixa de lembrar que
da, a compra de bezerros é criterio- Setorial da Carne Bovina, do Mi- a pecuária também depende de fato-
sa. “Monitoramos todo o histórico nistério da Agricultura e Pecuá- res externos e que há fases em que o
do animal e não compramos de pro- ria, defende a importância da ras- preço fica baixo para os produtores.
priedades que tenham algum tipo de treabilidade do rebanho nacional. “A pecuária só é uma atividade ren-
problema ambiental ou social”, afir- “No Brasil, temos um histórico de tável se for intensificada. Há muitos
ma o pecuarista. O sistema consiste sanidade bovina. E temos muita gargalos quando não se monitora to-
em dispositivos eletrônicos de iden- responsabilidade com esse histó- das as fases. E também é fundamental
tificação animal, como brincos e bot- rico, ainda mais com o tamanho do investir em pessoas. Assim, a ativida-
tons, e programas de computador rebanho que temos hoje”, ressal- de pode ser lucrativa e muito segura”,
que registram o desempenho zoo- ta, referindo-se às 234,4 milhões avalia. Outros aspectos também fa-
técnico e as ocorrências sanitárias ao de cabeças de gado registradas em zem parte da rotina da atividade pecu-
longo da vida do animal. 2022, de acordo com o Instituto ária na propriedade, entre elas o bem-
Segundo o produtor, é por trazer Brasileiro de Geografia e Estatís- -estar do rebanho e a reciclagem de
esse conjunto de informações so- tica (IBGE). dejetos gerados no confinamento para
bre o rebanho que a rastreabilida- aproveitá-los como fertilizante.
de é uma ferramenta valiosa para a Para ter competitividade no A fazenda, que já recebeu várias
gestão da pecuária. “A gente sabe de mercado, e com boa rentabilida- certificações e premiações, pretende
onde veio o animal, a idade dele, con- de, o pecuarista destaca que o di- investir cada vez mais em sustentabi-
trola o peso, monitora a carência de ferencial é seguir o básico, como lidade, com focos ambiental e social.
medicamentos e as projeções de aba- fazer investimentos em genética, Outra meta é quantificar a emissão de
te e, por fim, a qualidade do produ- adotar boas práticas de alimenta- gases de efeito estufa – atualmente, os
FOTO_ WENDERSON ARAÚJO
to”, relata Bartocci. O sistema, que ção e de manejo do rebanho, mas métodos seguem padrões internacio-
faz parte das exigências da maioria "com um olhar diferente". “É isso nais – e mensurar o sequestro de car-
dos países importadores, registra até que tecnologias como a integração bono na área.
mesmo os graus de marmoreio da lavoura-pecuária e a rastreabilida-
carne bovina. de nos permitem”, afirma. *A jornalista viajou a convite da CNA
O
Programa Artemis, da Agên- aos desafios enfrentados pela agricul- tata-doce e grão-de-bico. A escolha
cia Espacial Americana tura na superfície terrestre. foi baseada em adaptabilidade a con-
(Nasa), é um ambicioso pro- Uma rede de pesquisa já foi forma- dições adversas e na capacidade que
jeto que visa levar astronautas de da, com o suporte da Agência Espa- essas plantas têm de atender às ne-
volta à Lua e estabelecer uma base cial Brasileira (AEB) e a liderança cessidades dietéticas dos astronautas
permanente no satélite. Uma das da Embrapa, envolvendo 12 institui- em ambientes extraterrestres.
principais prioridades do programa ções e mais de 30 pesquisadores. A As duas espécies têm ciclos re-
é desenvolver tecnologias para a agri- rede já trabalha no desenvolvimento lativamente curtos e histórico de
cultura espacial, que garantirão o su- de sistemas de produção adaptáveis adaptação a estresses e a múltiplos
primento de alimentos aos astronau- ao espaço, buscando soluções para sistemas de cultivo. Enquanto a ba-
tas que viverão no satélite da Terra e, uma série de desafios complexos, que tata-doce fornece carboidratos, vi-
em fases posteriores, em Marte. taminas e antioxidantes, o grão-de-
O Brasil, ao assinar o Acordo Ar- bico contribui com proteínas de alta
temis, em 2021, alinhou-se a ou- qualidade, essenciais à manuten-
tros 21 países comprometidos com a ção da saúde muscular e do sistema
expansão do conhecimento humano imunológico. Essa combinação equi-
no cosmos. A capacidade da agricul- librada aborda múltiplas necessida-
tura brasileira de enfrentar condi- des dietéticas e ajuda a evitar defici-
ções climáticas desfavoráveis e solos ências nutricionais durante missões
pobres em nutrientes é um atrativo espaciais prolongadas.
para o consórcio. A experiência do Em resumo, o Programa Arte-
país poderá ser valiosa para o desen- mis oferece uma oportunidade para
volvimento de práticas agrícolas ino- se aplicar a expertise agrícola bra-
vadoras para os ambientes extremos sileira de maneira inovadora na ex-
que predominam no espaço. ploração espacial, impulsionando a
O desenvolvimento de tecnologias pesquisa e o desenvolvimento cientí-
para exploração espacial tem o poten- cientistas e engenheiros precisam su- fico do país para novas alturas. Com
cial de gerar novas oportunidades de perar para garantir sustentabilidade essa iniciativa, o Brasil não apenas
negócios e empregos, impulsionando e eficácia da produção de alimentos planta sementes para o futuro no
a indústria aeroespacial e a agricul- em condições de elevada radiação, solo lunar, mas também coloca seu
tura, que será cada vez mais desafia- baixa gravidade e ausência de solo. conhecimento agrícola na vanguar-
da por eventos extremos ligados às Uma das missões centrais da rede da da exploração espacial.
mudanças climáticas. Essa sinergia será a escolha de espécies capazes
ILUSTRAÇÃO_ PEXELS
REVOLUÇÃO
SOBRE RODAS
FABRICANTES INTENSIFICAM O DESENVOLVIMENTO
DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS AUTÔNOMAS, DE GRANDE
POTÊNCIA E QUE CUMPREM MÚLTIPLAS FUNÇÕES
O
presidente mundial da rurais e o alto preço das máquinas
AGCO, Eric Hansotia, que devem chegar ao mercado conti-
acredita que, nos próxi- nuam a ser entraves para a dissemi-
mos dez anos, a indústria nação dessas tecnologias. “O produ-
de máquinas agrícolas vai passar tor paga apenas se tiver garantia de
pela maior revolução da sua histó- que as máquinas têm robustez. Afi-
ria. Nesse período, as fabricantes de- nal, temos locais com três safras den-
verão intensificar a criação de equi- tro de uma”, diz o consultor de mer-
pamentos que não só aumentem a cado Carlos Cogo. O levantamento
produtividade das lavouras como cada vez mais minucioso de dados é
utilizem combustíveis renováveis. outro fator de preocupação dos pro-
A avaliação é de Hansotia, mas dutores, já que 69% das fazendas
outros executivos do segmento fa- brasileiras não têm acesso à internet.
zem leitura parecida. Todas as Em laboratórios e fábricas do
grandes fabricantes têm previsto mundo todo, o esforço por inova-
um futuro com equipamentos au- ção é constante. A seguir, a GLOBO
tônomos, conectividade em tempo RURAL apresenta alguns exemplos
real, mais eficiência e robustez e de superequipamentos que são
menos emissão de poluentes. protagonistas da transformação
As perspectivas são de evolução tecnológica no campo.
tecnológica, mas, no caso do Brasil, *As jornalistas viajaram a convite
a falta de acesso à internet nas zonas da AGCO
PERSPECTIVAS DE MERCADO
Com a queda dos preços da soja,
as vendas de máquinas agrícolas
deverão cair no Brasil no início de
2024. Mas, no segundo semestre,
com o início do Plano Safra 2024/25
e a provável queda dos juros dos
financiamentos, a tendência é
que os negócios se recuperem.
A expectativa do consultor Carlos
Cogo, que acompanha o segmento
há décadas, é que as vendas de
tratores caiam 5% em 2024, para
51,5 mil unidades. Se a projeção se
confirmar, esse será o segundo ano
de queda consecutivo, já que, em
2023, as vendas diminuíram 8%.
No caso de colheitadeiras, a
perspectiva é de um recuo
de 6% em 2024, para 7,4 mil
unidades, depois de um declínio
de 10% em 2023. A despeito
da retração, as vendas de
máquinas agrícolas estão acima
da média dos últimos dez anos.
MAIS VISIBILIDADE
A Massey Ferguson lançou a nova
série de tratores MF 9S, com seis
modelos, que têm potência entre 285
cv a 425 cv. Com chegada ao Brasil
prevista para 2025, o maquinário
reduz as vibrações e os ruídos da
cabine. Segundo a fabricante, o
motor AGCO Power de 8,4 litros
de seis cilindros com turbo único e
controle de emissões Stage V simples
reduz custos de uso e melhora
estabilidade, tração e produtividade.
TOTALMENTE ELÉTRICO
Para atender à demanda por
redução de emissões de gases e
também de ruídos, a Fendt lançou
o Fendt 1167 V Vario, um trator
elétrico de bitola estreita movido
a bateria que foi projetado para
operações em espaços fechados,
como estufas. A máquina tem uma
capacidade de bateria de 100 kWh,
o que corresponde a um tempo de
operação de quatro a sete horas.
Ainda não há previsão de lançamento
do trator no mercado brasileiro.
PULVERIZADORES DE PONTA
Já disponíveis no Brasil, os
pulverizadores da Valtra Série R têm
alta tecnologia e o maior vão livre
do mercado (1,65 m). Suas barras
também têm recirculação, o que
melhora a capacidade de manter a
mistura homogênea e a ação de um
sistema de limpeza automático, em
que o operador realiza o processo
sem precisar sair da cabine.
A Série R conta ainda com sistema
de telemetria para monitoramento
avançado e duas câmeras, que
permitem a identificação e solução
imediata de imprevistos, como um
bico de pulverização entupido.
TUDO EM UM
A alemã Nexat criou o que alguns
visitantes da Agritechnica 2023
disseram que pode ser o equipamento
mais ousado dos últimos tempos: um
trator que planta, colhe e faz outros
trabalhos na lavoura. A máquina tem
um transportador intercambiável
de grande envergadura, acionado
eletricamente. Em dez minutos, a
plantadeira vira pulverizador, tudo
FOTOS_ DIVULGAÇÃO
FAZENDA VERTICAL
Com a tecnologia desenvolvida pela
ASA Automation, espaço já não é
crucial para plantar frutas e hortaliças.
Os alimentos não se desenvolvem no
solo, mas sim em redes de plástico.
O sistema automatizado integra-
se com a esteira que carrega as
mudas entre cada uma das cabines.
A tecnologia, que permite oferecer
o volume ideal de nutrientes, água e
exposição ao LED para cada planta,
conseguiu reduzir em 18% o tempo de
cultivo em comparação com métodos
de agricultura vertical que já existem.
com algoritmos de aprendizagem de fazendas de diferentes portes, estufas e fazendas de pequeno porte,
para selecionar e colher as melhores a máquina consegue detectar tem autonomia de bateria de oito horas
frutas, sem causar danos ao alimento, problemas e adotar ações de e é 100% elétrico. O equipamento
preservando a qualidade e o sabor. correção de modo independente. semeia, abre sulcos no solo e capina.
@quem @jornaloglobo
quem.globo.com oglobo.com.br
TENDÊNCIAS I INSUMOS
VACINA DA
MULTIPLICAÇÃO
INICIATIVAS TENTAM AMPLIAR O USO DE INSUMOS BIOLÓGICOS
NA AGRICULTURA FAMILIAR E REVELAM A NECESSIDADE DE
CAPACITAÇÃO DOS PRODUTORES
A
2023,
SSIM COMO OCORREU EM país e administrar seu uso na la-
o potencial de crescimento voura, sem comercializá-los.
dos insumos biológicos se- Atentos ao desafio, pesquisadores
guirá na pauta do agrone- do Campus Avaré do Instituto Fede-
gócio brasileiro no ano que inicia. Os ral de Educação, Ciência e Tecnolo-
atrativos dos bioinsumos são conhe- gia de São Paulo (IFSP) estudaram
cidos – e seduzem cada vez mais pro- cinco tipos de moléculas – registra-
dutores: a pegada de carbono desses das no mercado brasileiro – que po-
insumos é, via de regra, menor que diam ter um crescimento exponen-
a dos convencionais, eles ajudam a cial se manipuladas com auxílio de
melhorar a saúde do solo, aumentam ingredientes inusitados: arroz par-
a eficiência no uso de nutrientes e a boilizado e panela de pressão.
qualidade da produção agrícola. Durante dois anos, a pesquisado-
Também segue a pergunta: é ra Marcela Pavam e sua equipe de
possível ampliar o uso de biológi- dez estagiários testaram diferentes
cos na agricultura familiar? A res- técnicas de reprodução de micror-
posta de pesquisadores brasilei- ganismos benéficos à lavoura até en-
ros é sim, desde que o método seja contrarem o cereal como o meio só-
fácil e não muito custoso. Esse é o lido que teve o melhor resultado em
caso da multiplicação de microrga- pouco tempo de multiplicação. Para
nismos "on farm", sistema em que avolumar as cepas, é necessário sub-
os agricultores podem ter acesso a metê-las a processos de fermentação
bactérias ou fungos registrados no que exigem calor. Por isso, a panela
TENDÊNCIAS I INSUMOS
Orgânicos, cuja granja de ovos está isso, tudo está sendo feito no caráter
localizada no mesmo município, que de projeto de extensão, com compo-
investe no projeto. A empresa diz ter nentes de produtos comerciais", diz
interesse em trabalhar com peque- a pesquisadora Marcela Pavan.
TENDÊNCIAS I INSUMOS
O
ano de 2023 foi um marco na re- ticas nutricionais nos alimentos para
construção do mercado global que auxiliem em tratamentos de saúde.
de insumos agrícolas. O Brasil Dessa maneira, simplificar esse uni-
lidera esse processo, com a incorpora- verso em duas categorias dará resiliên-
ção de práticas de agricultura sustentá- cia aos insumos agrícolas. Quero dizer
vel e regenerativa que chegam a milhões que eles são capazes de “proteger algo”,
de hectares, como o plantio direto, a fi- como o potencial produtivo, a saúde do
xação biológica de nitrogênio (FBN), o solo ou contra o risco de quebra, e de
sistema de integração entre lavoura, pe- “agregar” – fixar carbono no solo, re-
cuária e floresta (ILPF), a ciclagem de duzir emissões de gases, melhorar a
nitrogênios e o uso de bioinsumos. Elas vidade do CESB, seria possível preser- densidade nutricional dos alimentos,
ganham relevância mundial e surgem var 8,3 milhões de hectares adicionais. combater as mudanças climáticas.
como temas importantes nas discussões Diante de tamanha movimentação, Com tantos diferenciais, o merca-
sobre mudanças climáticas, segurança fica a pergunta: qual será a próxima ala- do de bioinsumos tem se movimenta-
alimentar, saúde do solo, fixação de car- vancagem no universo de insumos? do rapidamente. A venda da Biotrop
bono e biodiversidade. Os fertilizantes serão os mais im- para a belga Biobest, em setembro de
A Embrapa reiterou o potencial dos pactados. No setor sucroalcooleiro, o 2023, por R$ 2,8 bilhões, não deixa
bioinsumos ao compartilhar a infor- impacto desses insumos na emissão dúvida da dimensão dessa transfor-
mação de que o Brasil deixou de im- de gases do efeito estufa tem levado a mação e do apetite do setor para ace-
portar US$ 12 bilhões em fertilizan- uma corrida por novas rotas de pro- lerar essas mudanças.
tes químicos devido ao uso acentuado dução, fontes alternativas, ciclagem de Por isso, diante de um cenário de tan-
de inoculantes. Na COP 28, em Dubai, nutrientes e novos processos de ma- tas possibilidades, olhar apenas para o
surgiu um movimento de advocacy nuseio no campo. Com isso, a aplica- passado pode nos dar informações con-
para dar consciência sobre quanto os ção de fertilizantes líquidos com a vi- fusas e não nos ajudar a entender com
microrganismos e os bioinsumos ori- nhaça e de processos de irrigação que precisão a rapidez das mudanças que
ginados deles são relevantes para o en- reduzem emissões e de adubação bio- estão acontecendo. É importante consi-
frentamento das mudanças climáticas. lógica ganham espaço. derarmos que os bioinsumos se anun-
Um estudo recente do Comitê Estra- Os insumos biológicos são multifun- ciam como um mercado promissor, ca-
tégico Soja Brasil (CESB) apontou que, cionais. Podemos classificá-los como paz de colocar o Brasil e sua agricultura
considerada a produtividade das sa- defensivos biológicos, mas também tropical como um desbravador das ino-
fras 2013/2014 e 2022/2023, o Brasil como bioestimulantes ou biofertili- vações biológicas, o que reforça para o
deixou de usar 10,4 milhões de hecta- zantes. Essa versatilidade permite, por mundo a beleza da bioeconomia.
res para o plantio de soja graças à ado- exemplo, agregar benefícios que não
ção de biotecnologia e de práticas agrí- têm enquadramento legal, como elevar
colas sustentáveis. Ainda segundo o a pontuação de um tipo de grão de café, Edsmar Resende é advogado, sócio
da gestora Tarpon 10b, alpem de
estudo, se toda a cadeia produtiva do ampliar o "shelf life" de frutas e verdu- um cross-pollination apaixonado por
Brasil estivesse nos níveis de produti- ras ou até mesmo estimular caracterís- conectar pessoas, ideias e negócios
PIONEIRAS NO PORTO
ADM AMPLIA PRESENÇA FEMININA EM SEU MAIOR TERMINAL
DE EXPORTAÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL
por NAYARA FIGUEIREDO, de Santos (SP)*
fotos THIAGO DE JESUS
FORÇA FEMININA
Em dez anos, o
número de mulheres
D
trabalhando no porto de
Santos aumentou 65%
epois de oito anos trabalhando como ope-
radora de empilhadeira, Mariana Pugliesi
embarcou em um novo desafio: o terminal
portuário de grãos da trading Archer Da-
niels Midland (ADM), em Santos (SP). Há
quase dois anos na companhia, que é uma das maio-
res exportadoras de commodities do mundo, ela pas-
sou pelas funções de auxiliar e assistente de operações,
até que, em setembro, tornou-se a primeira mulher a
operar um equipamento no terminal.
“Eu já trabalhei em outra empresa operando máqui-
na, então já tinha experiência na área operacional e com
equipamentos”, conta Mariana, de 37 anos, em frente ao
tracionador com que ela movimenta vagões ferroviários
repletos de toneladas de soja e milho. “As mulheres têm
capacidade, só têm que se especializar, fazer cursos. Eu
me especializei nas máquinas, mas existem outras áreas
aqui dentro do porto em que elas podem ir. Vai de acordo
com a característica que cada uma tem”, afirma.
feminina. Houve análise de ergonomia e construção do a visita. “Acho que essa foi a primeira vez em que eu
vestiário feminino, por exemplo. Outra mudança estru- vi inclusão, de fato. Elas nos mostraram aqui o que
tural foi a construção de um lactário que, posteriormente, realmente interessa, o que também mostrariam para
ela própria utilizou no período de amamentação. um homem”, afirmou a agricultora Lizandra Zambo-
ni durante a passagem pelo local. Proprietária de uma
Para complementar o processo de inclusão, a ini- fazenda de 1,2 mil hectares de soja e milho em Mato
ciativa incluiu também preparação psicológica, princi- Grosso do Sul, ela conta que está há 15 anos no setor
palmente dos líderes, para que as funcionárias tivessem agrícola e que sua percepção é como a de qualquer ou-
voz e pudessem também ser avaliadas por seus poten- tro produtor rural, sem distinção de gênero.
ciais em planos de carreira. Outra medida foi a criação
de uma roda de conversa somente para mulheres, para O número de mulheres trabalhando no porto de
que elas pudessem trocar experiências sobre o trabalho. Santos, o maior da América Latina, aumentou cerca de
Com as adaptações, a companhia foi ao mercado em 65% no intervalo de dez anos até 2020, de acordo com
2022 para buscar novos talentos, já que, até então, a o estudo mais recente sobre o tema feito pelo Centro
ADM Santos já contava com colaboradoras, mas ape- de Inteligência de Mercado da Strong Business School,
nas nas áreas administrativas. Em janeiro daquele ano conveniada à Fundação Getulio Vargas (FGV).
(um mês antes de as mulheres entrarem na operação), No período considerado na análise, a contigente de ho-
a unidade contava com 28 colaboradoras. Depois, já mens no porto aumentou 42,21%, de 4.930 para 7.021. Já
com o programa ativo, o número total subiu para 62. o número de mulheres subiu 64,92%, passando de 764
“O grande desafio agora é mantê-las. É fazer com que para 1.260. Ainda de acordo com o estudo, a média sala-
cheguem mais longe, construir com elas uma carreira rial dos homens subiu 60,5% nesse intervalo, passando
dentro do porto”, destaca a supervisora. de R$ 3.484,84 para R$ 5.593,07, e a das mulheres cres-
ceu 76,78%, passando de R$ 2.765,19 para R$ 4.888,43.
Em outubro, a ADM levou um grupo de 12 produ- A renda média das mulheres cresceu mais que a dos ho-
toras rurais para uma visita ao seu terminal de expor- mens, mas, como se vê, a remuneração das profissionais
tação de grãos em Santos para que elas conhecessem seguiu abaixo da do público masculino.
a rota que a carga faz desde a entrada no porto até o
embarque no navio. A GLOBO RURAL acompanhou *A jornalista viajou a Santos a convite da ADM
A
CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS de 2023, a COP 28, destacou
que o mundo precisa acelerar a adoção de práticas voltadas à descarbonização, sobre as
quais já houve entendimentos em conferências anteriores. A meta de neutralizar as emis-
sões de carbono na cadeia agropecuária até 2050 – para, com isso, ajudar a impedir que
a temperatura média do planeta suba menos que 1,5ºC até o fim do século – ganhou espe-
cial atenção, principalmente depois de meses de temperaturas elevadas em várias partes do mundo.
As indústrias de insumos correm para desenvolver ou importar formulações mais resistentes aos
efeitos do aquecimento global e que também representem o menor volume possível de emissões. Em-
presas brasileiras de sementes, por sua vez, apostam no melhoramento genético de grãos que tam-
bém sejam mais resistentes às mudanças climáticas e ajudem a diminuir a emissão de poluentes.
Há mais de três anos, Júlio César Pereira Júnior, proprietário da Fazenda Pombo, de Uberlândia
(MG), transformou os cuidados com a lavoura ao adotar manejo híbrido de químicos e biológicos,
além de manter plantas nativas para compor as áreas com centenas de hectares de grãos. Recente-
mente, ele passou a testar o uso de pó de basalto para aumentar a absorção de nitrogênio no solo, o
que reduz a liberação na atmosfera de gases causadores do efeito estufa.
Inovações como essa tornam possível executar projetos de restauro ecológico de áreas florestais
degradadas. Em outra iniciativa, pesquisadores da Ambipar desenvolveram um bioinsumo a partir
de dejetos da celulose. O material é colocado em uma cápsula de colágeno, também biológica, que é
lançada por drones. Inicialmente, o trabalho se concentra em uma área de 10 hectares em São Sebas-
tião (SP), destruída pelas chuvas em fevereiro de 2023.
As biocápsulas contêm sementes de 20 espécies de plantas nativas, que ajudarão a reflorestar a re-
gião. Segundo o diretor de pesquisa da Ambipar, Gabriel Estevam, no futuro, os moradores poderão
obter alimentos dessas plantas – algumas delas são de frutas e castanhas.
As práticas de descarbonização serão destaque no Prêmio Fazenda Sustentável, que em 2024 che-
ga a 8ª edição. Mais informações no site GLOBORURAL.COM.BR.
VIÉS DE BAIXA
A TAXA SELIC ESTÁ EM SEU MENOR NÍVEL DESDE MARÇO
DE 2022, E AS APOSTAS SÃO DE QUE SEGUIRÁ EM QUEDA.
NO AGRO, ISSO INDICA JURO MENOR AINDA EM 2023/2024
N
O DIA 13 DE DEZEMBRO, em sua última reunião Ainda assim, a diminuição da taxa básica pode abrir
do ano de 2023, o Comitê de Política Mone- caminho para o barateamento do custo dos empréstimos
tária (Copom) do Banco Central anunciou para o campo ainda na safra 2023/2024. Como já ocorreu
um novo corte na Selic, a taxa básica de ju- em cortes anteriores da Selic, a tendência é que a decisão
ros da economia brasileira. Com a redução, do Copom – a mais recente, mas também as que estão por
de 0,5 ponto percentual, cresceram as apostas de que, até vir – leve à redução, entre outros, dos juros livres do cré-
o fim de 2024, o índice voltará a ser de um dígito. Depois dito rural de curto prazo. Além disso, o quadro já permite
do corte de dezembro, a taxa básica está agora em 11,75% antever que o custo do dinheiro na safra 2024/2025 será
ao ano, seu menor patamar desde março de 2022. menor do que o da atual temporada agrícola.
Quando reduz a Selic, o BC muda a base de cálculo das E demanda por recursos não falta. Segundo o Ministé-
taxas de juros de toda a economia. Isso inclui, por exem- rio da Agricultura, os desembolsos do crédito rural nos
plo, linhas para a compra de automóveis, empréstimos cinco primeiros meses do Plano Safra 2023/2024 chega-
pessoais, operações de financiamento imobiliário – e, ram a R$ 217 bilhões, montante 15% maior que o do mes-
claro, o crédito rural. A decisão do Copom nem sempre mo período da safra anterior. Esse total corresponde a
tem efeito imediato sobre os empréstimos que os produ- 50% do valor que foi programado para a atual safra para
tores rurais tomam no banco, é verdade, nem é sinônimo todos os produtores (pequenos, médios e grandes), que é
FOTO_ GETTY IMAGES
de crédito mais barato em todas as modalidades: o corte de R$ 435,8 bilhões. Do pouco mais de 1 milhão de opera-
da Selic não altera as condições das linhas que têm juros ções de empréstimo fechadas até novembro, 737,5 mil fo-
controlados, em que as condições estão definidas e segui- ram de linhas do Programa Nacional de Fortalecimento
rão em vigor até junho de 2024. da Agricultura Familiar (Pronaf).
OLHOS ATENTOS
O evento reuniu
executivos, produtores
rurais, representantes
de entidades de classe
e outros profissionais
ligados ao agro
Futuro em debate
FÓRUM FUTURO DO AGRO COLOCA MUDANÇAS CLIMÁTICAS,
BIOINSUMOS E CONECTIVIDADE NO CENTRO DAS DISCUSSÕES
F
oi direto da lavoura, por vídeo, que o produtor classe, produtores rurais e outros profissionais ligados ao
rural Paulo Bertolini, de Castro (PR), participou agro. Participaram do painel sobre bioinsumos Cristiane
da abertura do 2º Fórum Futuro do Agro, even- Delic, líder de negócios para biológicos da Corteva, Regis
to realizado pela GLOBO RURAL no dia 13 de Damasio, diretor-superintendente da Monteccer, a pes-
novembro (na foto 5, na página ao lado), em São Paulo. quisadora Christiane Paiva, da Embrapa Milho e Sorgo,
Bertolini integrou as discussões do painel sobre conec- e Edilene Cambraia, diretora de Sanidade Vegetal e In-
tividade, que contou ainda com Klaus Apolinario, ges- sumos do Ministério da Agricultura.
tor da plataforma E-agro, Ana Helena Andrade, presi- E, no painel sobre clima, os debates foram entre José
dente da ConectarAGRO, e Renata Miranda, secretária Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas
de Inovação do Ministério da Agricultura. de Desastres Naturais (Cemaden), Paula Packer, chefe-ge-
O evento atraiu empresários, executivos, representan- ral da Embrapa Meio Ambiente, Amália Sechis, fundadora
tes de organizações não governamentais e de entidades de da Beef Passion, e o meteorologista Willians Bini.
PATROCÍNIO
3 4
O AGRO EM DISCUSSÃO
Registros do 2º Fórum Futuro do
Agro: o painel sobre mudanças
climáticas (1); Amália Sechis,
da Beef Passion (2); Cristiane
Delic, da Corteva (3); público na
chegada ao evento (4); painel
FOTOS_ FLAVIO SANTANA/ED. GLOBO
PARCERIA REALIZAÇÃO
AS CAMPEÃS
Representantes das empresas
vencedoras do prêmio Melhores
do Agronegócio 2023: escolha
com base nos resultados financeiros
das companhias e também em seus
esforços em sustentabilidade
A FESTA DO AGRO
PERTO DE COMPLETAR DUAS DÉCADAS, PRÊMIO CELEBRA AS
EMPRESAS QUE MAIS SE DESTACARAM NO AGRONEGÓCIO NO
ÚLTIMO ANO E ATESTA MAIS UMA VEZ A FORÇA DO SETOR
A
entrega do Prêmio Melhores do Agronegócio para além de reconhecer os destaques de cada indústria
2023, que ocorreu no dia 29 de novembro, em ligada à atividade agropecuária, o Melhores do Agrone-
São Paulo, foi, assim como nos anos anteriores, gócio reiterou mais uma vez a força do campo no Brasil.
a celebração das companhias que mais se desta- Segundo a nova edição do Anuário do Agronegócio, pu-
caram em suas respectivas áreas de atuação. Com base em blicação que apresenta as vencedoras do prêmio, o fatu-
meodologia desenvolvida pela Serasa Experian, que con- ramento das 500 maiores empresas do agro brasileiro
sidera critérios financeiros e também de sustentabilidade, alcançou R$ 1,6 trilhão em 2022. O montante, recorde,
a GLOBO RURAL premiou empresas de 21 segmentos e tam- foi 19% maior do que o do ano anterior.
bém as vencedoras em três categorias especiais (Susten- Essa foi a 19ª edição do Melhores do Agronegócio,
tabilidade, Maior Empresa e A Melhor entre as Pequenas premiação que, ao longo dos anos, consolidou-se como
e Médias). Da lista geral de melhores saiu a Campeã das a maior e mais tradicional do agro no país. Em 2024, o
Campeãs, troféu entregue à GDM, de biotecnologia.Mas, prêmio vai completar duas décadas.
Patrocínio Apoio
3 4
CELEBRAÇÃO
Registros do Prêmio Melhores
do Agronegócio 2023: debate
sobre inovação no campo antes
da entrega dos troféus (1);
FOTOS_ ALEXANDRE DI PAULA/ ED. GLOBO
Pesquisa Realização
A N Á L I S E I T E M P O I Nadiara Pereira/Climatempo
A
partir de janeiro, a previsão é de que ocorra uma ligeira mudança no Mundo
padrão de distribuição de chuvas no Brasil. As precipitações tendem a
se distribuir mais pelo interior do país, chegando até o Nordeste. ARGENTINA_ Como já se esperava,
com a ação do fenômeno El Niño,
as chuvas se intensificaram na Ar-
Sul_ No Sul do país, a expectativa é de que o volume de chuvas fique aci- gentina nas últimas semanas de
ma da média na maior parte dos três Estados da região, mas as precipita- 2023. O aumento do volume de
ções devem ser menos intensas do que as dos meses anteriores, ocorrendo água, apesar de afetar as ativida-
em alternância com períodos mais longos de sol, o que tende a favorecer o des no campo em alguns momen-
desenvolvimento das lavouras. As temperaturas ficarão um pouco acima tos, ajudou a elevar a umidade no
do normal entre o norte do Rio Grande do Sul e o Paraná, mas não são es- solo, o que favorece o bom desen-
perados extremos de calor como nas demais regiões do Brasil. volvimento das lavouras de soja.
Nesse ciclo, a produção argentina
Sudeste_ Em janeiro, a tendência é que as frentes frias avancem um deve ser melhor que a dos anterio-
pouco mais pela costa do Brasil, contribuindo para a ocorrência de chu- res, que tiveram a influência do La
vas mais generalizadas e com volumes significativos, acima da média, Niña, responsável pela ocorrência
sobre parte do Sudeste, especialmente entre o Espírito Santo e a metade de seca e por grandes quebras de
leste de Minas Gerais. Também pode chover acima da média, de forma produtividade. As projeções são de
pontual, entre o Rio de Janeiro e o leste de São Paulo. Ao mesmo tempo, colheita de 17,3 milhões de hecta-
grande parte do interior de São Paulo, Triângulo e oeste mineiros devem res na atual safra de soja. A grande
enfrentar irregularidade mais acentuada. O calor vai continuar acima maioria das lavouras plantadas está
da média, e as temperaturas máximas tendem a ser bastante elevadas. em condições boas ou excelentes,
e a tendência é de que ocorram
Centro-Oeste_ No Centro-Oeste, as chuvas continuarão irregulares e chuvas acima da média nos próxi-
abaixo da média, especialmente em Mato Grosso, oeste de Mato Grosso do mos meses. Dessa forma, nas prin-
Sul e oeste de Goiás. Em janeiro, mês normalmente muito chuvoso, o tem- cipais áreas produtoras, especial-
po seco tende a beneficiar a colheita da soja, mas, por outro lado, deve ter mente na região central do país, a
impactos localizados sobre o plantio do milho segunda safra. As áreas les- produtividade deverá ser boa.
te de Mato Grosso do Sul e de Goiás devem enfrentar um mês mais úmi-
do do que o normal, e a maior parte da região terá calor acima da média. ÍNDIA_ Devido aos efeitos do El Niño
e do Dipolo do Oceano Índico, um
Norte_ No Norte do país, a previsão é de que o mês de janeiro será mais aumento anormal das temperaturas
seco do que o normal. A região costuma receber volumes muito expres- da superfície desse oceano, a Ín-
sivos de água nessa época, o que significa que a diminuição da umidade dia enfrentou atraso na regulariza-
não representará ausência de chuvas, e sim que os episódios ocorrerão ção das chuvas e falta de umidade
na forma de pancadas, isoladas e de baixo volume. Com isso, as chuvas para o desenvolvimento dos cana-
serão insuficientes para se atingir o que é normal para esse período. viais. Com isso, houve uma redução
significativa nas projeções de pro-
Nordeste_ O avanço de frentes frias pela costa do Brasil deve aumen- dutividade da safra que começou
tar a umidade também no interior do Nordeste. Por um lado, a chuva é em outubro, o que levou o país, o
um alívio para áreas afetadas pela seca, mas, por outro, o volume aci- segundo maior produtor mundial de
ma da média em áreas como o oeste da Bahia pode acentuar a prolife- açúcar, a restringir as exportações
ração de doenças e prejudicar o desenvolvimento de lavouras. do produto no ciclo 2023/2024.
-500 -300 -200 -100 -50 -25 0 25 50 100 200 300 500
C O M O P L A N TA R I L Í N G U A - D E - V A C A I J o ã o M a t h i a s
T
radicionais em pratos típicos nhecida popularmente como joão-go- lista de atrativos da planta está ain-
regionais, duas espécies de mes, major-gomes, maria-gorda, bel- da sua rusticidade. Com facilidade de
plantas alimentícias não con- droegão e ora-pro-nóbis-miúda. Essa adaptação, ela exige cuidados simples
vencionais do gênero Talinum che- variedade costuma ter folhas em tom e sofre pouca incidência de pragas, o
gam a compartilhar nomes, o que faz de verde mais escuro na fase vegetati- que faz dela uma ótima alternativa de
com que muita gente confunda uma va, mas é no florescimento que as di- plantio em canteiros, especialmente
com a outra. Mas, embora elas te- ferenças entre as espécies ficam mais durante o verão quente e chuvoso.
nham várias semelhanças, cada uma evidentes: enquanto as flores da T. Herbácea, a língua-de-vaca tem cau-
tem características próprias. A varie- paniculatum são diminutas e as inflo- le ereto, simples ou ramificado e che-
dade que é conhecida como língua- rescências têm hastes altas, as da T. ga a uma altura de 15 a 40 centímetros.
de-vaca (Talinum fruticosum), no Nor- fruticosum são cor-de-rosa e maiores, Quando novas e tenras, as folhas su-
deste, especialmente na Zona da Mata com hastes mais curtas. culentas são usadas cruas em saladas,
de Pernambuco e em Alagoas, é cha- Com presença mais frequente nas mas muitos consumidores as preferem
mada de cariru; no Amazonas e no mesas da população que vive no cen- refogadas ou cozidas em sopas, ome-
Pará, estados em que sua comercia- tro-norte do Brasil, a língua-de-vaca letes ou no preparo de cardápios com
lização já se estabeleceu em feiras de também pode ser uma hortaliça ren- carnes, peixes ou camarão. Por ser fon-
rua, quitandas e até supermercados. tável para produtores do restante do te de zinco, ferro, molibdênio, selênio e
Em Goiás, Tocantins, norte de Mi- país, já que existe um grande poten- manganês, conter fibra e ter baixo valor
nas e oeste da Bahia, língua-de-vaca cial a se explorar no mercado com- calórico, a hortaliça é alternativa para
é a Talinum paniculatum, também co- prador das regiões Sudeste e Sul. Na minimizar carências nutricionais.
As raízes espessas da língua-de- gem com propriedades emolientes planta ornamental. As hastes florais
vaca são comestíveis – ainda que tem benefícios nos cuidados com fe- cortadas em arranjos, ou a muda cul-
seu consumo não seja usual – e têm ridas, eczemas e cicatrizações. tivada em vasos ou jardineiras, enfei-
aplicações na medicina popular, em Por ter flores róseas e frutos verdes, tam ambientes internos e externos. A
tratamentos de diabetes, sarampo e amarelos e alaranjados, a língua-de- planta é nativa do Brasil, e seu cultivo
constipação. O alto teor de mucila- -vaca também é considerada uma disseminou-se também na Nigéria.
MÃOS À OBRA
SOLO_ de preferência
bem drenado e rico
em matéria orgânica
INÍCIO_ É possível colher PROPAGAÇÃO_ Embora mas o espaçamento mais
CLIMA_ tropical, com
língua-de-vaca de de manuseio difícil em adequado pode variar a
fácil adaptação ao clima
plantas que nascem virtude de suas pequenas depender do clima e da quente ou úmido
espontaneamente em dimensões, as sementes fase de desenvolvimento –
lugares como margens coletadas a campo podem se mais nova e tenra ou um ÁREA MÍNIMA_ pode ser
plantada em canteiro
de estradas e em meio ser semeadas diretamente pouco maior – se deseja
a culturas e jardins. No no local definitivo ou em colher a língua-de-vaca. COLHEITA_ de 1
entanto, a aquisição de bandejas. A opção mais a 2 meses após o
mudas de produtores com frequente é a aplicação do TRATOS_ Para se obter início do plantio
mais experiência no manejo método de estaquia, que produtividade e plantas
CUSTO_ a língua-de-
da hortaliça pode ser é realizado com estacas com folhas mais graúdas, vaca pode ser coletada
também uma oportunidade de 5 a 10 centímetros e o a recomendação é adubar de plantios espontâneos,
mas é preciso ter
para se obter diferentes transplante feito quando a cultura com composto
conhecimento para a
dicas de plantio. Além atingirem de 10 a 15 orgânico, com volume planta pegar; em Manaus,
disso, é plenamente viável centímetros de altura. que pode ser de 5 a 10 Belém e Recife, o maço
custa de R$ 2 a R$ 4
propagar mudas a partir litros por metro quadrado,
de um maço comprado PLANTIO_ Apesar de ter de acordo com teor de
no mercado ou na feira. brotação fácil em diferentes matéria orgânica do solo.
tipos de solos, a língua- Irrigação semelhante à
AMBIENTE_ Com boa de-vaca ocorre de modo aplicada em canteiros PRODUÇÃO_ De 30 a 60 dias
adaptação a diferentes espontâneo na natureza. Em comerciais de alface após o plantio, a língua-
condições climáticas, a canteiros de cultivo, os solos contribui para assegurar de-vaca atinge o ponto
língua-de-vaca cresce nos mais indicados são os ricos a produção continuada. de colheita, sendo mais
períodos de chuva tanto em matéria orgânica e bem Em plantios em quintais, a precoce quanto maior for
sob a elevada umidade da drenados. Quanto à textura rega não será necessária o calor. Pode-se realizar
região amazônica quanto da terra, a planta aceita quando a produção for dois, três ou até mais
no calor escaldante do todas, desenvolvendo-se em mais abundante em cortes (colheitas) até que a
semiárido nordestino. áreas de caatinga, várzea, períodos de calor e chuva planta comece a apresentar
Planta que precisa de restinga e até floresta. nem quando houver muito florescimento, o
sol pleno, a espécie dormência das plantas ou que é indesejável para
se desenvolve melhor ESPAÇAMENTO_ A indicação das sementes dispersas o consumo porque ele
em locais que recebem é deixar de 15 a 20 no solo na época mais deixa a língua-de-vaca
luminosidade solar direta. centímetros entre as plantas, seca e fria do ano. mais fibrosa e leitosa.
CONSULTORIA_ CICERO DESCHAMPS, PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, JARDIM DAS AMÉRICAS, CURITIBA (PR) ONDE COMPRAR_ SEMENTES SÃO VENDIDAS EM CASAS AGROPECU-
ÁRIAS MAIS INFORMAÇÕES_ INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DO PARANÁ (IDR-PARANÁ/IAPAR/EMATER), RUA DA BANDEIRA, 500, CABRAL, CEP 80035-270, CURITIBA (PR), TEL. (41) 3250-2100, OU
RODOVIA CELSO GARCIA CID, KM 375, CEP 86047-902, LONDRINA (PR), TEL. 43 3376-2000
Formoso e resistente
A
combinação de beleza e rusti- tem pescoço longo e é o de maior por- a cabeça para comer uma ou outra ve-
cidade faz com que o cisne seja te entre seus pares aquáticos. Ele che- getação submersa. Para animais cria-
uma criação com a qual é fácil ga a ter mais de 1,5 metro de altura, dos em cativeiro, a alimentação é à
de lidar e que dá bom retorno finan- 15 quilos de peso e 3 metros de enver- base de ração industrializada, que o
ceiro. Dois atrativos ideais para quem, gadura das asas. Embora a cor bran- cisne aceita bem mesmo tendo serri-
mesmo com pouca experiência, está ca seja a mais conhecida de sua plu- lhas no interior do bico. Como dentes
interessado em iniciar uma nova ativi- magem de visual atraente, há também pequenos e irregulares, as serrilhas
dade no manejo de animais para incre- variedades do animal cobertas por pe- servem para triturar os alimentos ao
mentar o orçamento mensal. De gestos nas em diferentes colorações. Exótico, longo dos cerca de 20 anos de idade
delicados e suaves, o cisne é uma ave o pássaro tem ainda bicos diferentes, que o animal vive, se bem cuidado.
de movimentos elegantes dentro e fora que podem ser vermelhos ou amare- Para dar longevidade à criação e do-
da água. Ele ornamenta ambientes em los, com uma saliência negra na base mesticá-la, a formação de casais é es-
sítios, chácaras, hotéis-fazenda, resi- ou não, enquanto as patas, curtas, são, sencial. Monogâmico, o cisne gosta de
dências com áreas externas amplas e em sua maioria, cinza-escuro. ficar sempre junto da companhia, em
estabelecimentos públicos, como par- Lago ou qualquer outro tipo de espe- constante namoro, entrelaçando os pes-
ques ecológicos, jardins botânicos e lho d’água que ofereça tranquilidade coços quando estão prontos para o aca-
o entorno de prédios de museus e bi- são os locais onde o cisne passa a maior salamento, que ocorre na água. Aliás, é
FOTO_ RAW PIXEL
bliotecas, o que oferece ao criador um parte do tempo. Por isso, não pode fal- principalmente no período de reprodu-
amplo mercado de vendas. tar na propriedade lugar para a ave na- ção que o cisne mostra que não é uma
Parente do ganso e do pato, o cisne dar, onde ela também possa mergulhar ave mansa quando se sente ameaçada.
CONSULTORIA_ MARIA VIRGÍNIA F. DA SILVA, MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE AVES DE RAÇAS PURAS (ABC AVES); ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: RUA FERRU-
CIO DUPRÉ, 68, CEP 04776-180, SÃO PAULO, SP, TEL. (11) 5667-3495 ONDE ADQUIRIR_ A ABC AVES INDICA CRIADORES DE CISNES MAIS INFORMAÇÕES_ CRIADORES COM EXPERIÊNCIA PODEM
DAR DICAS SOBRE O MANEJO DE CISNE
Doces morangos
A
EXPRESSÃO "A VIDA NÃO É UM MORANGO" está associada a tempos difíceis. Mas, para
a agricultora e empreendedora Ingrid Priscila Souza, que tem uma produção de
morango orgânico, a vida pode ser – s é quase sempre – doce. E tem como ser di-
ferente quando se comem 30 morangos pequenos e doces a cada colheita? A fru-
ta sensível tem um enorme protagonismo na vida de Ingrid, que se divide entre Sorocaba
(SP), onde mora, e Pinhalão, cidade paranaense onde fica a propriedade de 5,7 hectares
em que produz. Há gerações, seus familiares plantam morangos de forma convencional,
no solo, com uso de agroquímicos. Ela e o pai, no entanto, decidiram tomar outro cami-
nho em 2015, quando passaram a produzir morangos orgânicos.
"Eu tinha acabado de me formar em administração, e meu pai queria voltar para Pinha-
lão, a terra dele. Então, decidi estudar qual seria a melhor forma de produzir morango sem
agrotóxico, suspenso e em estufa, orgânico e sustentável", conta a agricultora, de 32 anos.
Hoje, a empresa da família, a Staw Agricultura, tem 102 mil plantas de morango. Com as
mudanças no manejo, a fazenda conta hoje com mais de 4.000 árvores nativas integradas
à produção. utilizam-se insumos biológicos para controlar pragas, com ajuda do calendário
lunar, e o sistema de irrigação é automatizado, o que permite evitar o desperdício de água.
Com essas e outras ações, Ingrid tornou-se, em 2019, a primeira produtora rural mu-
lher a receber a certificação de produção integrada do morango (PIMo) no país. Três
anos depois, os morangos da Staw recebram o selo de Orgânico Brasil.
Mas, com mente inquieta, Ingrid foi além do cultivo de morangos in natura: atualmente,
a empresa também comercializa a fruta desidratada. “Um dos meus objetivos é colocar a
Staw no mercado de carbono. Estamos estudando quanto de CO² 1 quilo de morango reti-
FOTO_ ACERVO PESSOAL
ra da atmosfera. Também quero seguir produzindo morango – minha fruta preferida, que
tem um enorme valor afetivo para mim –, mas sempre cuidando da natureza e, claro, pas-
sando esse exemplo para os meus filhos, como meu pai passou para mim”, finaliza.
(por Julia Maciel)
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