Globo Rural #454 - Dez-Jan24

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TENDÊNCIAS
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A REVOLUÇÃO DIGITAL
NO CAMPO COM
O 4G DA TIM
A TIM é protagonista em conectividade
no agronegócio, com mais de 14 milhões
de hectares de cobertura móvel em áreas rurais.
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Com o 4G TIM no Campo, os produtores


rurais alcançaram maior gestão, controle
e produtividade de seus plantios.

Agricultores e proprietários agora têm acesso


a informações vitais e controle de suas
propriedades graças à cobertura 4G da TIM.

Máquinas, sensores e pessoas agora


conectados em mais de 14 milhões
de hectares cobertos pela TIM.

O impacto positivo dessa expansão alcançou


as comunidades do entorno, em mais de 500
municípios, que passaram a ter acesso à
conectividade com a maior cobertura do país.
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SUMÁRIO Capa_ Paulo Ferrari

DEZ 2023 / JAN 2024

22
ESPECIAL TENDÊNCIAS
Sustentabilidade,
diversificação dos cultivos,
incertezas climáticas,
inovação: seis histórias que
ajudam a ilustrar os
cenários do agro em 2024

ILUSTRAÇÃO PAULO FERRARI


24 CULTURAS ANUAIS 48 PROTEÍNAS ANIMAIS
34 CULTURAS PERENES 54 TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
42 HORTIFRÚTIS 60 INSUMOS

6 CARTA AO LEITOR 66 O AGRO É DELAS 76 TEMPO

10 ENTREVISTA 69 FAZENDA SUSTENTÁVEL 78 COMO PLANTAR

18 IDEIAS 70 CRÉDITO E INVESTIMENTO 80 COMO CRIAR

53 FUTURO 72 FÓRUM FUTURO DO AGRO 82 #TÔNAGR

65 VOZES DO AGRO 74 MELHORES DO AGRO

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CARTA DO EDITOR

campo e com dinheiro no bolso. É o que


encontramos em Machado, um dos municípios
onde nossa equipe esteve e pôde conhecer
muitos cafeicultores com mente aberta a
novidades. Alguns sofreram com as intempéries
do clima, acumularam prejuízos e, a partir da
provocação dos filhos, decidiram diversificar a
produção cultivando frutas vermelhas. A investida
rendeu e hoje o município mineiro tem até
associação de produtores de frutas vermelhas e
muitos usando os rendimentos para reinvestir no
negócio, ampliando os pomares e a infraestrutura
para atender à clientela.
Outra história interessante é a do pecuarista
André Bartocci, de Caarapó, Mato Grosso do Sul,
Tempo de cautela um dos pioneiros de sistema agropastoril no
O ano de 2024 se apresenta desafiador para o estado. Além da integração, ele investiu no
agronegócio brasileiro, seja por problemas rastreio da produção para atender às exigências
decorrentes do clima adverso em muitas regiões dos clientes estrangeiros. Na propriedade do
importantes, seja pela queda nos preços médios André, o sistema engloba desde a origem do
ou de mercado, com o comércio internacional animal até o frigorífico. “A gente sabe de onde
caminhando de lado em boa parte dos países que veio o animal, a idade dele, controla o peso,
compram nossos produtos. O quadro mais monitora a carência de medicamentos e as
complicado se desenha nos grãos, especialmente projeções de abate e, por fim, a qualidade do
para soja, milho, trigo, feijão e outras culturas produto”, diz ele. O sistema registra até mesmo
secundárias. Nesse caso, o culpado é bastante os graus de marmoreio da carne bovina. Uma
conhecido do agro. O fenômeno El Niño, que iniciativa que garante renda extra e principalmente
voltou a dar o ar da graça nesta temporada, com a continuidade dos negócios com os
uma intensidade moderada, tem gerado muitos compradores europeus, que em 2024 prometem
transtornos aos produtores do Sul e do Centro- colocar em vigor a Lei Antidesmatamento.
Oeste, regiões que detêm a maior fatia da
produção no país. O resultado nacional, porém, Boa leitura!
está longe de ser trágico. É o que mostramos
nesta edição, uma das mais importantes do ano Cassiano Ribeiro
para os nossos leitores, porque sugere um norte Editor executivo
ao setor, ao apresentar as tendências para [email protected]
diversos segmentos.
Nas páginas a seguir, você vai encontrar notícia
boa, como a que vem da cotonicultura. Os
CBN Agro, com Cassiano Ribeiro. Às terças, às 13h20, no
produtores de algodão devem colocar o Brasil RÁDIO CBN CBN Brasil, apresentado por Carlos Alberto Sardenberg, e
entre os três maiores do mundo e roubar a diariamente às 5h50 no CBN Primeiras Notícias.

posição dos Estados Unidos. Também procuramos


histórias inspiradoras de gente, que, diante da Programa Globo Rural: aos domingos, às 8h
TV GLOBO (reapresentação na Globo News, aos domingos, às 9h05)
dificuldade, conseguiu inovar para se manter em

6 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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EDITOR-CHEFE: Patrick Cruz Selma Teixeira da Costa e Simone Puglisi. Campos Machado (VAREJO) e Monica Mon-
EDITORAS: Alda do Amaral Rocha e Denise EDUCAÇÃO • MONTADORAS • VAREJO • TELE- nerat C. da Gama e Silva (BELEZA – MODA
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EDITORES-ASSISTENTES: Camila Souza TENIMENTO • SHOPPING • MÍDIA EXECUTIVOS DE NEGÓCIOS: André Rodrigues
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Inovação no manejo de pragas


Novo inseticida da Syngenta entrega controle sem precedentes
para plantações de café e hortifrutis

A
produção brasileira de café

FOTOS: SYNGENTA
passou a ser conhecida mun-
do afora tanto por sua quali-
dade como pela quantidade em abun-
dância. Segundo dados da Companhia
Nacional de Abastecimento, o país,
maior fornecedor global da bebida,
produziu 50,9 milhões de sacas no
ano passado. Essas mesmas carac-
terísticas despontam nos cultivos de
hortifrutis. Somadas, as produções
de frutas e hortaliças superaram as
9 milhões de toneladas em 2022 — a
maioria tem o mercado interno como
destino. Em comum, os produtores
dessas culturas precisam lidar com
o difícil manejo de pragas entre os Defensivo Joiner ® contribui para evitar perdas na lavoura
desafios diários.
No caso do grão, a broca-do-café, de pragas no campo. “O nosso objetivo e um novo modo de ação a partir da
o bicho-mineiro, os ácaros, a lagarta é projetar um produto capaz de aten- molécula Plinazolin®.
desfolhadora e os besouros-carnei- der as necessidades dos cafeiculto- Já em hortifrutis, o produto é capaz
rinho são os principais problemas. Já res e produtores de frutas e hortaliças de proporcionar melhor desempe-
nas culturas de hortifrutis, as traças, no que tange a superar os desafios de nho, controle e inovação no combate
moscas-minadoras, tripes, broca, dia- manejar as principais pragas”, afirma. às pragas. Para se ter ideia, o defen-
brotica e ácaros surgem entre os inse- Para se ter ideia, dados da Organi- sivo possui alta flexibilidade, sendo
tos que mais danificam a lavoura. Para zação das Nações Unidas para a Ali- recomendado para inúmeras frutas e
resolver o problema, a Syngenta, uma mentação e Agricultura (FAO) esti- hortaliças. Entre os mais de 40 culti-
das maiores empresas de proteção mam que as perdas mundiais na agri- vos, despontam abóbora, abobrinha,
de cultivos e biotecnologia do mundo, cultura como resultado de ataque de alho, berinjela, batata, cebola, chuchu,
está lançando o Joiner®, um inseticida insetos chegam a US$ 220 bilhões. No citros, jiló, melão, melancia, pepino,
acaricida projetado para o cultivo de Brasil, um dos principais polos produ- pimentão, pimenta, quiabo e tomate.
café e hortifrutis, à base da tecnologia tores, os prejuízos são calculados em “A inovação no manejo propiciada
Plinazolin®, molécula com um novo 25 milhões de toneladas por ano, em pela tecnologia Plinazolin® traz novo
modo de ação de altíssima eficácia torno de US$ 17,7 bilhões. modo de ação e grupo químico inédito
contra uma ampla variedade de pragas. que controla as pragas resistentes
Para desenvolver a solução capaz Controle prolongado e mais difíceis de serem controla-
de atender a todas as necessidades dos Dessa forma, o Joiner ® age através das, por não apresentar nenhum tipo
produtores, a empresa realizou pes- da rápida parada da alimentação das resistência cruzada no campo”, diz o
quisas e estudos ao longo de 10 anos. pragas, alto efeito de choque e longo especialista. “Todas essas barreiras
De acordo o gerente de Inovações período de controle, protegendo a pro- no campo causam ainda mais empe-
em Inseticidas da Syngenta, Marcos dutividade e a qualidade das lavouras cilhos para o produtor. Com a chegada
Queiroz, além do Manejo Integrado de por mais tempo. No café, o defensivo de Joiner®, essa dinâmica muda, pois
Pragas (MIP), o produtor precisa ter à pode contribuir para uma melhor apresenta alta eficácia para um amplo
disposição defensivos com tecnolo- performance contra a broca-do-café, espectro de pragas, entregando um
gia de ponta para evitar a proliferação controle de bicho-mineiro e de ácaros controle sem precedentes.”

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S O J A I E N T R E V I S T A I André Nassar, presidente-executivo da Abiove

“Se matar o produtor, acaba o nosso negócio”


O PRESIDENTE-EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE
ÓLEOS VEGETAIS, ANDRÉ NASSAR, FALA SOBRE OS DESAFIOS DA SAFRA 2023/2424
E SOBRE COMO AS PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS SÃO VITAIS PARA O AVANÇO DO AGRO

Por RAFAEL WALENDORFF

A
s adversidades climáticas causadas pelo fenômeno cido com o de 2023 e ressalta que o aumento da mistura do
El Niño em diferentes regiões do Brasil geram in- biodiesel no diesel fóssil, se de fato ocorrer, ditará o ritmo
certezas sobre o resultado final da colheita de soja de processamento das indústrias.
na temporada 2023/2024 e deixam indústrias e tra- Há, por outro lado, uma visão positiva sobre o prota-
dings em compasso de espera. O ritmo de comercialização gonismo e a postura pragmática do país nas discussões
da safra está mais lento do que em anos anteriores e ainda sobre as crises climática, energética e alimentar. Nassar
não se tem clareza sobre as perspectivas de exportação e de defende o uso de uma plataforma de dados que ajude a
esmagamento do grão para a produção de biodiesel. comprovar as boas práticas do campo. O governo fede-
“A safra foi plantada para ser grande”, observa o presi- ral já trabalha na criação da ferramenta. “Esse é o mo-
dente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de mento perfeito para vendermos essa agricultura tropi-
Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, entidade que reúne cal”, salienta Nassar, engenheiro agrônomo formado
as principais empresas que exportam a soja brasileira. Ele pela Esalq-USP e ex-secretário de Política Agrícola do
acredita que o processamento do grão em 2024 será pare- Ministério da Agricultura.

GLOBO RURAL_ Em 2023, o Brasil co- te travado, com 50% da safra vendi- início da guerra na Ucrânia, mas, em
lheu a maior safra de grãos da história da ao longo do segundo semestre, mas 2023, eles arrefeceram. O que pode pro-
e agora enfrenta adversidades climá- [em dezembro] esse número ainda está vocar um novo salto nas cotações?
ticas. O que o mercado consumidor de perto de 30%. Com boa parte da safra NASSAR_ A oferta vai determinar pre-
soja e milho tem projetado para 2024? vendida, é possível organizar bem a ço. A questão climática está se trans-
ANDRÉ NASSAR_ Se a safra for menor cadência do escoamento, a fim de não formando em um fator de risco mais
que a passada, isso pode prejudicar o gerar acúmulo de soja em armazém, alto, e isso tende a mexer nos preços.
processamento de soja, diferentemen- como ocorreu neste ano, e não estres- Não vejo razão para a demanda pu-
te do que ocorreu em 2022, quando as sar os modais logísticos. xar os preços para cima. A China de-
margens estavam boas e o ajuste da fine boa parte da demanda, e o país já
queda da safra ocorreu na exportação. GR_ Como deverá se comportar o mer- não cresce mais como antes. Também
Se a safra diminuir, é muito importan- cado do complexo soja em 2024? não vejo fundos institucionais saindo
te que haja estímulos para se manter a NASSAR_ Tudo vai depender do tama- de ativos financeiros para investir em
expansão do esmagamento. O manda- nho da nossa safra. Se tivermos uma commodities nem aumento do preço
to do biodiesel vai ser chave. parecida com a de 2022/2023, prova- da commodity em dólar. O consumo
velmente o esmagamento será muito não deve aumentar, já que a economia
GR_ Os problemas climáticos afetam o parecido. Como a demanda por bio- global está caminhando de lado. Mas
ritmo de negócios dos grãos? diesel vai crescer, deveremos ter me- existem outras variáveis. Neste ano, ti-
NASSAR_ A safra atual não teve um nos exportação de óleo para atender vemos prêmios negativos em virtude
grande volume de compra antecipa- ao mercado do biocombustível, que é dos nossos problemas logísticos. A de-
da. Do lado da trading, há uma certa prioritário para a indústria. pender do tamanho da safra em 2024,
flexibilidade, mas, para a cadeia, isso podemos voltar a ter prêmios posi-
não é bom. O ideal é que pelo menos o GR_ Os preços das commodities dispa- tivos, o que é bom para remunerar o
custo desembolsável esteja totalmen- raram na pandemia e também após o produtor parcialmente.

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FOTO_ CLAUDIO BELLI/VALOR/AGÊNCIA O GLOBO

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SO JA I E N T R E V I S TA

“Não tem mais


paternalismo. Ele
[agricultor] vai ter que
fazer investimentos enxergar a origem do produto e sa-
GR_ Esse cenário de preços mais baixos para mudar seu ber que as propriedades cumprem a
que os da safra passada fez com que os lei, adotam boas práticas. Esse é o mo-
produtores pusessem o pé no freio? padrão de mento perfeito para vendermos essa
NASSAR_ A safra 2023/2024 foi plan- produção” agricultura tropical.
tada para ser grande. A Conab mos-
tra 1,2 milhão de hectares de área de GR_ Mas há resistências?
plantio a mais do que na temporada NASSAR_ Os produtores não deveriam
anterior, quando já houve uma ex- de expansão sobre o Cerrado. Essa temer isso. Aqueles que estão com pa-
pansão de 2,6 milhões de hectares. seria uma boa consequência para as drão mais baixo que façam investi-
Acredito que vamos entrar em um nossas empresas, dada a pressão ex- mentos para chegar ao nível mais alto,
ciclo de crescimento de área que não terna para se eliminar desmatamento que é o da maioria dos produtores. A
será mais tão intenso no médio prazo, e todo tipo de conversão de vegetação ideia de pedirmos o reconhecimen-
por causa da discussão sobre a con- nativa para plantio da soja. O gover- to e exaltar nossa produtividade, as
versão de pastagens, sobre o mercado no entendeu o que está acontecendo boas práticas, as três safras do Brasil,
não querer mais expansão em cima no mercado, que a demanda é por soja é muito importante. Mas esse traba-
de desmatamento. Esses sinais vão que não é plantada em área converti- lho tem que ser feito de forma objetiva,
chegar para os produtores. E aí va- da de vegetação nativa. Há interesse mensurável, reportável e verificável.
mos ver como o mercado vai se com- internacional, mas ainda tem muito
portar. Se isso resultar em produção desconhecimento do investidor so- GR_ O Brasil tentou levar uma men-
menor que a demanda, os preços vão bre o que é a nossa agricultura. Para sagem de protagonismo à COP 28 e se
subir, e as exigências vão se flexibili- esse dinheiro vir no modelo de finan- apresentar como provedor de soluções
zar. Pode haver, em cinco anos, uma ciamento do programa, vamos ter que para as crises climática e de alimentos.
queda de estoque, com falta de pro- nos estruturar melhor para o recurso Como você analisa essa postura?
duto e aumento de preços. Isso pode chegar ao produtor. NASSAR_ A combinação entre a legis-
ocorrer principalmente se o Brasil lação europeia, o diagnóstico de que
reduzir o ritmo de crescimento. GR_ De que forma o apoio do governo só fazer comunicação não é suficien-
pode ajudar a mudar esse quadro? te e, claro, a obrigação que criamos
GR_ O governo lançou um programa NASSAR_ Ele ajuda muito a reduzir a de trazer uma COP para o Brasil, fez
para conversão de pastagens que prevê incerteza do estrangeiro. No exterior, o governo perceber que ele precisa
potencial de transformar em lavoura eles querem informação, rastreabili- ser pragmático. O reconhecimento da
uma área de até 40 milhões de hectares. dade, saber a origem dos produtos e nossa agricultura só vai ocorrer se ti-
Qual será a disposição dos estrangeiros se as propriedades rurais que vão re- vermos estratégia de dar transparên-
de financiar essa iniciativa e a dos pro- ceber os recursos cumprem os pa- cia à informação. Só a comunicação
dutores de ampliar a área em um mo- drões ESG. Vai ser muito importante não é suficiente. É preciso ter demons-
mento de preços mais baixos? gerar informação sobre as proprieda- tração efetiva de projetos e de resul-
NASSAR_ Temos um crescimento nor- des. Por isso, é muito importante via- tados, de mensurações. Esse governo
mal da safra, na casa de 1 milhão de bilizar a ideia de criar uma platafor- adotou uma postura pragmática.
hectares, que independe de preços. ma oficial brasileira [a plataforma
Cerca de 10% desse crescimento é em AgroBrasil+Sustentável] com esses da- GR_ Mas o prazo está mais curto.
área nova, de conversão de vegetação dos. Isso vai dar transparência. Não NASSAR_ Mas é possível colocar a pla-
do Cerrado. O programa pode mudar é só o governo criar e apoiar o progra- taforma de dados no ar. Se fizermos
isso. Ele tende a aumentar a expansão ma, mas ter modelos, formatos e tec- isso, o nível de qualidade da nos-
em área já aberta e reduzir essa taxa nologias que permitam ao investidor sa informação vai mudar completa-

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mente. Nós precisamos colocar mais a única forma de o reconhecimento lá fato de o mercado exigir um conjunto
qualidade na nossa informação. Es- fora ocorrer, com verificação do nosso de critérios do exportador, o que gera
távamos com uma estratégia muito sistema de produção. No momento em impactos na cadeia para trás, sobre-
baseada no discurso; agora, é preci- que conseguirmos fazer a informação tudo nas questões de sustentabilida-
so ter um formato muito mais empíri- fluir, o mercado vai desenvolver ferra- de, não muda essa parceria. O produ-
co de demonstração. Temos que gerar mentas para dar valor a esse produtor, tor é a galinha dos ovos de ouro para
informação para demonstrar como é mas ele ainda não acredita que isso vai nós. Se matar o produtor, acaba o nos-
a nossa agricultura, e o setor privado vir no médio prazo. Eu gostaria muito so negócio.
precisa adotar essas ferramentas, que que os produtores concordassem com
são a rastreabilidade e as boas práti- esse fluxo de informação, mas acredi- GR_ É possível que se adie a Lei Anti-
cas. Isso significa que quem não tem to que ele vai ler como mais uma obri- desmatamento da União Europeia?
esse padrão na propriedade vai ter gação que não traz benefício nenhum. NASSAR_ Pelos sinais que recebemos
que correr atrás do prejuízo. Não tem Só existe um jeito de fazer o merca- da Europa, não haverá adiamento.
mais paternalismo, ele [o agricultor] do valorizar os ativos que o produtor Mas há uma preocupação do legis-
FOTO_ CLAUDIO BELLI/VALOR/AGÊNCIA O GLOBO

vai ter que investir para mudar seu tem, e é contando a ele o que o produ- lador europeu com a adoção das fer-
padrão de produção. tor tem. O jeito que contamos hoje não ramentas que são necessárias para a
dá, temos que contar isso em forma- verificação das obrigações. O impor-
GR_ O produtor reclama das exigências to profissional, transparente, em que tador precisa submeter uma série de
que vão além do que prevê a lei brasilei- qualquer um entre lá e veja. O clien- informações, e não existe um sistema
ra. Como resolver isso? te principal do nosso setor é o produ- para ele inserir. Talvez o grande sonho
NASSAR_ O produtor nunca vai apoiar tor rural. É claro que temos que aten- da Comissão Europeia fosse o Brasil
um padrão da indústria de ter desma- der o que o mercado internacional desenvolver uma ferramenta e ela a re-
tamento zero, mas ele tem que apoiar quer, mas a nossa indústria só cresce conhecer. Sou muito a favor de levar-
a transparência da informação. Essa é se o produtor crescer e tiver renda. O mos ferramenta brasileira oficial.

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Seguro rural será decisivo em 2024


Com a presença do El Niño no Brasil, o setor precisará de suportes robustos
diante de sérios riscos provocados pelas condições climáticas adversas

WENDERSON ARAUJO/DIVULGAÇÃO/SENAR
é conhecido o Programa de
Subvenção ao Prêmio do Seguro
Rural (PSR). Trata-se de um
subsídio para que o segmento
de seguros consiga oferecer
as melhores condições para a
maior quantidade possível de
produtores do setor agropecuá-
rio. “O seguro rural é extrema-
mente necessário, ainda mais
num cenário em que muitos
produtores não conseguiram
plantar a safra verão em decor-
rência da seca ou a plantaram
e a perderam para as chuvas”,
avalia o deputado federal Sérgio
Souza (MDB-PR).

Gestão de risco
Em outras palavras, quanto
maior o subsídio, maior a pro-
teção. E é por isso que, desde
os primeiros meses de 2023, a
Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA) soli-
cita o aumento do valor dispo-
nibilizado para o setor, que se vê
diante da perspectiva de regis-

O
agronegócio funciona tabilidade para 2024. Produção de soja trar uma safra recorde em pro-
como uma indústria “Temos observado chuvas e é uma das mais dução desde que o esforço não
prejudicadas
a céu aberto. Uma se- secas, além de geadas de amplo pelas alterações seja comprometido pelas difi-
quência de rotinas se segue, do alcance. Numa situação de perda na temperatura culdades provocadas por pro-
média e nos
preparo do solo à colheita, e, em de colheita, os produtores per- índices de blemas climáticos.
cada uma dessas etapas, uma dem duas safras, em geral, até precipitações “O país corre o risco de ter
série de riscos se apresenta. voltar à ativa. Precisam recor- problemas na produção de
Neste momento, com as secas rer a refinanciamentos bancá- soja e de milho safrinha, tudo
na Região Norte e as chuvas rios ou acabam por vender parte devido ao atraso no plantio da
excessivas no Sul, os proble- do patrimônio”, explica Joaquim oleaginosa, que irá empurrar
mas relacionados ao clima se Francisco Cesar Neto, presi- as janelas de semeadura. Com
tornam muito evidentes. A dente da Comissão de Seguro as alterações na temperatu-
presença do fenômeno climá- Rural da Federação Nacional de ra média e nos índices de pre-
tico El Niño, evidenciada ao Seguros Gerais (Fenseg). cipitações, as lavouras são
longo dos últimos meses, ajuda Um caminho tradicional pa- as principais prejudicadas”,
a explicar os fenômenos atuais ra apoiar os produtores nestes detalha José Mario Schreiner,
e apresenta um cenário de ins- casos é o seguro rural, como vice-presidente da CNA.
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Ainda em abril, a CNA propôs ta o vice-presidente da CNA.


a aprovação de um adicional de O caminho ideal, destaca
R$ 1 bilhão ao PSR, a ser incluída Neto, seria definir um percen-
no Plano Agrícola e Pecuário tual fixo do Plano Safra para o
2023/2024. O setor solicitava que subsídio aos seguros. “Os valo-
o mínimo necessário para apoiar res da subvenção não têm aten-
os produtores neste momento dido à demanda do setor, mas o
fosse R$ 2 bilhões e recomen- “As consequências reais da falta recurso não chegar a tempo é
dava o adicional para alcançar de investimento na proteção ainda mais grave. A Fenseg plei-
a alocação de R$ 3 bilhões na Lei dos produtores contra adversidades teia que o ISR seja enquadrado
Orçamentária Anual de 2024. climáticas incluem colheitas como operação oficial de cré-
Nada disso aconteceu. comprometidas e fontes de dito, o que proporcionaria maior
A senadora Tereza Cristina, renda ameaçadas” segurança para as seguradoras
ex-ministra da Agricultura, José Mario Schreiner, Vice-presidente da CNA e os produtores.”
conseguiu aprovar na LDO de
2024 uma emenda para garan- Curso de capacitação
tir rubrica orçamentária para o o Orçamento de 2024 no mesmo Enquanto segue em busca de
seguro rural, dentro do Fundo tamanho de 2023”, diz. soluções para este problema
de Catástrofe. “O que estamos O impacto negativo deste estrutural grave, a CNA tra-
vendo acontecer hoje no país é fenômeno se estende para balha também para apoiar os
uma sequência de catástrofes: além do campo, como aponta produtores na busca pelo ser-
inundação no Sul, seca no Norte. Schreiner. “As consequências viço. “Além da articulação pa-
O Fundo de Catástrofe vai ajudar reais da falta de investimento ra promover a aprovação de
o seguro rural a ter recursos. É o na proteção dos produtores orçamento suficiente, a CNA
que esperamos”, diz a senadora. contra adversidades climá- lançou a segunda turma da Ca-
ticas incluem colheitas com- pacitação em Seguros Rurais,
Impacto para prometidas e fontes de renda que em 2023 teve uma grande
a sociedade ameaçadas. Além disso, a fal- procura por parte dos produ-
“Se o seguro não é acessado a ta de incentivos à gestão de tores”, detalha o vice-presi-
tempo, o produtor precisa bus- riscos traz implicações mais dente da entidade. “O objetivo
car alternativas. E tem sido amplas, incluindo diminuição da capacitação é disseminar o
recorrente, nos últimos anos, da segurança alimentar, insta- uso e a cultura do seguro agrí-
que a dificuldade em definir os bilidade no setor agropecuário, cola no país, com informações
valores dos subsídios em tempo desincentivo ao investimento que facilitem a adoção prática
hábil comprometa o acesso a em melhorias na produção e e os procedimentos de utiliza-
este serviço tão importante”, em tecnologia e desafios para ção dos instrumentos de gestão
aponta Neto. Como resultado, o o setor financeiro”, acrescen- de risco na produção.”
total de área protegida por pla-
nos de seguros tem diminuído Cenário adverso: O acesso ao seguro para os produtores vem caindo
drasticamente nos últimos anos
(veja no quadro). R$ 1 bilhão adicional em seguro deveria
“Desde 2021 o acesso ao se- Hectares cobertos pelo
seguro rural: ser adicionado ao Plano Agrícola e
guro rural vem caindo enorme- Pecuário 2023/2024, na proposta da CNA.
mente”, declara Souza. “O que se
colocou no Orçamento para 2023
14 Dessa forma, seriam alocados R$ 3 bilhões

era a metade do que nós tínha-


milhões
7,12 Apesar da demanda do setor, o orçamento
mos pleiteado como necessário
para uma cobertura mínima.
milhões
6,24
milhões
aprovado para o ano foi de apenas
R$ 1,06 bilhão
No entanto, além de colocar Os recursos disponibilizados para o
metade, o governo remanejou 2021 2022 2023
seguro deveriam ser robustos, já que o
boa parte do seguro rural para país enfrenta seca no Norte e chuvas em
Queda de 55,4% em relação a 2021
atender a outras situações. E excesso no Sul
agora vem uma proposta para

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OPINIÃO I IDEIAS I Luiz Josahkian

As ciências ômicas e a agropecuária


COM AVANÇOS NESSE CAMPO, SERÁ POSSÍVEL OBTER PLANTAS E ANIMAIS
MAIS PRODUTIVOS E TOLERANTES A IMPACTOS AMBIENTAIS

A
genética é uma ciência rela- preendem, além de outras, a genômi- do com o tema, o alcance das ômicas
tivamente recente. Há pouco ca, a transcriptômica, a proteômica e pode não ser óbvio, mas você já pa-
mais de 100 anos, Mendel, o a metabolômica. A transcriptômica rou para pensar no que eles tornam
célebre pai da genética, caminhava é o estudo dos RNAs de que as célu- possível? Podemos analisar milhares
nos jardins do mosteiro hibridizando las precisam para estar em atividade. de variações genéticas, genes, prote-
seus milhares de pés de ervilhas sem Lembrando: os RNAs são as molécu- ínas e metabólitos ao mesmo tempo,
saber que seus achados científicos las que traduzem as receitas de pro- medindo suas respostas em diferen-
mudariam nosso entendimento sobre teínas codificadas no DNA e deter- tes ambientes e situações. Isso nos
as coisas vivas. Fato é que, da par- minam quais são os genes que estão permite não só entender um organis-
tícula hereditária de Mendel até os sendo expressos e como estão sendo mo de forma ampla, mas também al-
dias atuais, o salto tecnológico da ge- expressos nas diferentes células. terar essas formas segundo objetivos
nética foi surpreendente. direcionados, desde que éticos.
Desde que a estrutura do DNA, a As aplicações na área da saúde são
chamada molécula da vida, foi des- imensas. Entre elas está a compre-
coberta, em 1953, as pesquisas nos ensão sobre como se dá a progressão
levaram à beira da ficção científica. de uma doença (o câncer, por exem-
Exemplos não faltam: melhoramen- plo). Na agricultura e na pecuária, a
to genético, transgênicos, clonagem, aplicação é incalculável. Identificar e
terapias gênicas e edição gênica, só poder manipular genes-chave e vias
para citar alguns. A possibilidade metabólicas pode levar à obtenção de
de mapeamento dos genes, surgida plantas e animais mais produtivos,
ainda na década de 1970, associa- menos exigentes e mais tolerantes
da a técnicas que reduziram o tempo aos impactos ambientais, como se-
para obtenção de genótipos comple- cas, variações de temperatura e do-
tos, deu origem a um ramo da genéti- enças, entre outros fatores.
ca conhecida como “ciências ômicas”. Essas possibilidades, que hoje só
A genômica, precursora das ômi- O próximo passo é identificar e en- dependem de mais pesquisas apli-
cas, trata da leitura do material gené- tender as funções dessas proteínas. cadas, serão cruciais para atender à
tico, isto é, do DNA de um organismo. Esse estudo é denominado de proteô- crescente demanda de alimentos e às
Mas interpretar esse código da vida é mica, uma análise sistemática de pro- exigências de produção sustentável.
outro desafio. A era atual, denomina- teínas que complementa a genômica e Talvez não seja um exagero dizer que
da pós-genômica, é capaz de ir além a transcriptômica. Por fim, a atividade o futuro às “ômicas” pertence.
do mapeamento dos genes e informar das proteínas resulta em metabólitos,
e integrar os seus transcritos, suas que são os produtos do metabolismo
proteínas e metabólitos resultantes. em uma amostra biológica, cujo estu- Luiz Josahkian é zootecnista,
professor de melhoramento genético e
São essas ferramentas que inte- do ocorre por meio da metabolômica. superintendente técnico da Associação
gram as ciências ômicas, que com- Para o leitor menos familiariza- Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ)

18 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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Alimento
inspecionado.
Tá na mesa,
tá seguro.
Produtor(a) rural, você é fundamental na prevenção • Alta na mortalidade súbita;
e combate à gripe aviária. Tome todas as medidas de • Redução na produção ou má-formação de ovos;
biosseguridade necessárias e procure o serviço veterinário • Andar cambaleante e pescoço torto;
oficial mais próximo de você caso suas aves apresentem: • Dificuldade respiratória.

Juntos, vamos seguir


Acesse gov.br/gripeaviaria levando alimento seguro
e saiba mais. para a mesa dos brasileiros
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APRESENTADO POR

Safra cheia e bolso vazio


Em ano difícil para a produção rural, agronegócio se mantém
como principal suporte da economia do país

WENDERSON ARAUJO/DIVULGAÇÃO/CNA
Bruno Lucchi, João Martins, Daniel
Carrara e Sueme Mori participam da
entrevista coletiva sobre o balanço
de 2023 e as perspectivas para 2024

O
ano de 2023 trouxe muitos pecuária de corte, apesar do cresci- Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),
desafios para o agronegócio, mento dos abates em 9,7% e do au- João Martins, em entrevista coletiva
que chega a 2024 com o sinal mento de 5% na produção de carne, a sobre o balanço de 2023 e as perspec-
de alerta ligado. Apesar da safra queda na receita chegou perto dos 50%. tivas do agro para 2024.
recorde de 321 milhões de toneladas — Não foi um ano fácil para a agro- — Na CNA, nossa defesa é a do pro-
de grãos, as margens de lucro foram pecuária brasileira. Nós tivemos dutor brasileiro e da agropecuária
muito estreitas, por causa do alto problemas climáticos, quedas acen- brasileira — completou João Martins.
custo da produção e da queda no preço tuadas de preços e problemas de Bruno Lucchi, diretor Técnico da
global dos alimentos. mercado externo. Fora isso, tive- CNA, resumiu o ano de 2023 com a
Na produção de leite, por exemplo, mos também mudança de governo. expressão: “safra cheia e bolso vazio”.
a margem de lucro caiu 67%, princi- Procuramos entender quais eram — A gente havia avisado que seria
palmente em decorrência das impor- as proposições do governo — afir- uma das safras mais caras da his-
tações subsidiadas da Argentina. Na mou o presidente da Confederação da tória, e estão aí os resultados que
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comprovam quando a gente ana- REFORMA TRIBUTÁRIA e Rússia e Israel e Hamas.


lisa o custo de produção da soja, do O setor agropecuário apoiou a Re- Em 2023, as exportações brasi-
milho. Fertilizantes tiveram aumento forma Tributária e considerou satis- leiras do agro aumentaram 3% em
de 50% a 80% nessas cadeias. Foi um fatório o texto aprovado na Câmara, comparação com o ano anterior, ín-
ano caracterizado por margens muito mas entende que houve retroces- dice bem inferior ao crescimento de
estreitas, tanto na agricultura quanto sos na versão aprovada no Senado, 32% em 2022 na comparação com
na pecuária — afirmou Lucchi. com a inclusão de novas exceções e 2021. Até outubro de 2023, o agro já era
A margem de lucro da soja caiu 68% fundos regionais. responsável por 49,4% das exporta-
na safra 2023/2024 em comparação Mais um ponto de apreensão são ções totais brasileiras.
com 2022/2023. Os produtores de as previsões de adversidades climá- — A gente estava crescendo a ta-
milho tiveram perdas de 134% na pri- ticas em 2024, com seca no Norte e xas muito altas, e a queda (no ritmo
meira safra e 122% na segunda. no Nordeste e excesso de chuvas de crescimento) está relacionada à
no Sul. Os produtores precisam se movimentação de preço de alimen-
CRESCIMENTO DO PIB precaver contra eventuais perdas, tos. O Brasil continuou vendendo um
Apesar desses resultados, mais uma mas o orçamento para o Programa grande volume, mas a valores mais
vez a agropecuária puxou o cres- baixos, e isso impactou o resultado do
cimento do país. A previsão é que o ano — diz a diretora da CNA.
PIB brasileiro crescerá 2,8% em 2023.
O PIB da agropecuária crescerá em MERCOSUL
torno de 14,5% e será responsável por O momento é de expectativa dupla em
47% do aumento do PIB. relação ao Mercosul. Primeiro, quan-
— Se não fosse o PIB agropecuário, “Não foi um ano fácil to ao comportamento do presidente
o PIB Brasil cresceria 1,7% — disse o para a agropecuária Javier Milei, que prometeu deixar o
diretor Técnico da CNA. bloco comercial durante a campanha,
Para 2024, as estimativas são mais
brasileira. Nós tivemos mas aliviou o discurso depois de elei-
tímidas, de crescimento de 1,5% do problemas climáticos, to. A segunda preocupação refere-se
PIB do Brasil e também de 1,5% do quedas acentuadas ao acordo Mercosul-União Europeia.
PIB agropecuário, que leva em conta de preços e problemas de A legislação antidesmatamento apro-
somente a produção das lavouras e da vada pelos europeus prevê que paí-
pecuária dentro da porteira.
mercado externo” ses serão classificados em graus de
João Martins
Já o PIB do agronegócio, que consi- risco segundo o nível de desmata-
Presidente da CNA
dera toda a cadeia produtiva, deverá mento da área onde tiveram origem.
ser negativo em 1% em 2023. Em 2024, Já se sabe que o Brasil seria classifi-
as estimativas da CNA são de que cado como alto risco.
ficará entre menos 2% e zero. — Isso gera um impacto negati-
Além de todas as dificuldades da vo muito grande para o agro brasi-
produção, o agronegócio enfrentou leiro, não só quanto às exportações
“problemas que teoricamente não de Subvenção ao Seguro Rural (PSR) para o bloco europeu, mas para o
deveria ter”, nas palavras do diretor em 2024 prevê apenas R$ 1,06 bilhão, resto do mundo. A CNA é histori-
Técnico. Entre eles está o aumento quase um terço do valor defendido camente favorável ao acordo Mer-
das invasões de propriedades rurais: pela CNA, de R$ 3 bilhões. cosul-União Europeia, desde que
71 entre janeiro e novembro de 2023, garanta acesso real, que tenha equi-
enquanto foram registradas 62 nos CENÁRIO EXTERNO líbrio de concessões dos dois la-
quatro anos anteriores. Também no cenário externo o retrato dos — afirma Sueme.
Outro ponto de preocupação foi o de 2023 é de bons resultados, mas com A CNA destacou a abertura de 73
veto do presidente Luiz Inácio Lula dificuldades pela frente, como mos- novos mercados para a entrada de
da Silva ao projeto de lei que estabe- trou Sueme Mori, diretora de Relações produtos da agropecuária brasileira,
leceu o marco temporal para demar- Internacionais da CNA. como algodão para o Egito, carne
cação das terras indígenas. Apesar Não se espera aumento significa- bovina para o México e noz-pecã para
da mobilização do setor para a derru- tivo do consumo global. O preço da a Tailândia. Foram abertos mercados
bada do veto, o tema trouxe incerteza energia continua alto e ainda haverá para 61 produtos de origem animal
para os proprietários. efeitos das guerras entre Ucrânia e 11 de origem vegetal.

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TENDÊNCIAS I CENÁRIOS

INCERTEZAS NO CLIMA,
SUSTENTABILIDADE, INOVAÇÃO,
DIVERSIFICAÇÃO: EM SEIS
HISTÓRIAS, ALGUNS DOS CENÁRIOS
PARA O AGRO BRASILEIRO EM 2024

A BÚSSOLA
DO CAMPO ilustração PAULO FERRARI

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A PLUMA
EM
SOLO FÉRTIL PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ALGODÃO DEVE SUPERAR A
DOS ESTADOS UNIDOS, O QUE COLOCARÁ O PAÍS, PELA
PRIMEIRA VEZ, NO PÓDIO GLOBAL DA CULTURA

por CAMILA SOUZA RAMOS e PAULO SANTOS


ilustração PAULO FERRARI

24 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S A N U A I S

C
ARLOSALBERTO MORESCO,
de 49 anos, teve o primei-
ro contato com a agricul-
tura aos 7. Em Ijuí (RS),
onde seus pais cultivavam grãos
e produziam leite, ele tomou gos-
to pelo trabalho no campo, que o
transformou em um grande produ-
tor de algodão, ainda que a milha-
res de quilômetros dali.
Certo de que seu futuro seria
nas lavouras, ele formou-se técni-
co de agropecuária em 1993 e logo
ingressou como estagiário na SLC
Agrícola, um dos gigantes do agro
brasileiro. Após 20 anos de servi-
ços prestados, a empresa o convi-
dou a migrar para Luziânia, mu-
nicípio goiano com forte vocação
agrícola. Lá, Moresco ficou mais 12
meses, até se mudar para a Semen-
tes Produtiva, onde iniciou sua jor-
nada como produtor rural.
“Expliquei ao meu chefe que eu
tinha o sonho de arrendar terras. O encanto pelo algodão vem “O algodão é uma
Então, fizemos um acordo. Eu o aju- tomando corpo na agricultura brasi-
dava com algumas rotinas, como a leira, e Moresco é um dos exemplos cultura desafiadora,
compra de insumos, e ele me daria concretos desse quadro. O produtor mas vi muitas
apoio como avalista. Ele me ajudou espera uma pequena queda na pro-
bastante, e somos amigos até hoje”, dutividade na safra 2023/2024, que pessoas construindo
relembra o agora produtor. deve passar das 340 arrobas de patrimônio a
Em 2007, ele arrendou terras algodão em caroço por hectare da
nos municípios goianos de Luziâ- safra passada, um recorde, para 310 partir dela"
nia e Cristalina, cultivando soja, tri- arrobas nesta safra. Mas, segundo
go, sorgo e milho semente em 8.000 ele, o resultado ainda está dentro da
hectares –o clima, diz, o ajuda com média, já que este é um ano de preo-
todas as opções. Mas foi no algodão cupações com o clima, devido ao CARLOS ALBERTO MORESCO,
que ele encontrou uma oportunida- fenômeno El Niño. produtor de algodão em Goiás
de para se destacar. “Fiquei impres- Ainda que não alcance o ótimo
sionado com as características de desempenho do ciclo anterior, Mo-
produção no Cerrado. É uma cultu- resco é uma das faces do sucesso do
ra desafiadora em termos de custo, cultivo da pluma no Brasil. Depois
mas vi muitas pessoas construindo de a produção disparar nos últi-
patrimônio a partir dela”, afirma. mos anos, o país deve, enfim, supe-

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FOTOS_ RUDNEY MATOSO/ED. GLOBO; GETTY IMAGES

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TIPO EXPORTAÇÃO
Algodão brasileiro deve
competir com o americano
pelo mercado global

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SOJA MILHO ARROZ FEIJÃO TRIGO


Excesso de chuva O atraso no O alto volume de O cultivo de feijão As chuvas fortes
no Sul e tempo plantio da soja chuvas no Rio ocorre em diversas e a umidade
mais quente no e a necessidade Grande do Sul, regiões do país, excessiva reduziram
Centro-Norte de replantio da responsável por em três diferentes a qualidade e a
afetaram o ritmo oleaginosa gerou 70% da colheita, safras. Em algumas produtividade
do plantio da soja incertezas para tem marcado a áreas, há excesso do trigo. Para
no país. Além de o a segunda safra safra 2023/2024. de chuvas, e, em 2023/2024, a Conab
trabalho de campo de milho. As Apesar disso, a outras, tempo seco estima produção
ter sido mais lento, preocupações são Federarroz diz que e temperaturas de 8,14 milhões
houve replantio de com a redução da o desenvolvimento altas. Com todas de toneladas, ou
áreas em algumas janela de plantio e das lavouras essas diferenças, é 22,8% a menos
regiões. Mesmo com a rentabilidade está adequado. difícil prever como do que na safra
com perspectiva da cultura. A A produção deve será a temporada passada. Tiago
de perdas, Conab Conab projeta crescer 7,5%, para 2023/2024, mas a Pereira, assessor
e consultorias colheita total de 10,8 milhões de Conab calcula um técnico da CNA,
projetam safra 118,5 milhões toneladas, puxada pequeno aumento avalia que a
"cheia", entre de toneladas pelo aumento de produção, de tendência é de
150 milhões e (-10,2%), sendo dos preços, que 0,8%, para um total que a área de
160 milhões de 91,2 milhões na são os mais altos de 3,06 milhões plantio do cereal
toneladas do grão. safrinha (-10,2%). em 20 anos. de toneladas. diminua em 2024.

rar o volume de colheita dos Esta- temporada anteior. O órgão ameri- sua área de cultivo da pluma. A
dos Unidos, alcançando a posição cano estima que o Brasil vai quase Conab estima que a área total de cul-
número três no ranking global de dobrar suas exportações e vender tivo de algodão nesta safra será de 1,7
produção, atrás apenas de China e 2,5 milhões de toneladas ao merca- milhão de hectares, a maior exten-
Índia. Além disso, os brasileiros de- do externo, encostando no volume são em 22 anos. Em Mato Grosso, o
vem disputar espaço com os ameri- dos embarques dos EUA, que deve- maior produtor nacional, as lavou-
canos no mercado exportador. rá ser de 2,6 milhões de toneladas. ras de algodão devem ganhar ainda
As projeções mais recentes da “Esses dados não trazem apenas mais espaço, por causa dos proble-
Companhia Nacional do Abasteci- um sentimento de otimismo, mas mas nas plantações de soja, que têm
mento (Conab) e do Departamento também de merecimento. Estamos levado alguns produtores a dessecar
de Agricultura dos Estados Unidos há 30 anos investindo na cultura as plantas do grão para acelerar a
(USDA) convergem para a estima- para torná-la mais moderna e sus- colheita e, com isso, poder substituí-
tiva de que o Brasil produzirá 3,1 tentável. Hoje, a produção do Bra- las pelo cultivo da pluma. A Conab
milhões de toneladas de pluma de sil é eficiente, e ela vai ocupar o lu- projeta um aumento de 3% na área
algodão, enquanto a Associação gar no mercado dos países que não de plantio de algodão em Mato
Brasileira dos Produtores de Algo- são”, afirma o presidente da Abra- Grosso, para 1,2 milhão de hectares.
FOTO_ GETTY IMAGES

dão (Abrapa), mais otimista, prevê pa, Alexandre Pedro Schenkel. Essa opção, porém, não é para
3,37 milhões de toneladas, o que, qualquer agricultor. É preciso ter ca-
caso se confirme, representará um Todos os estados brasileiros com pacidade financeira para migrar de
crescimento de 3% em relação à vocação agrícola vêm aumentando cultura, além de experiência na lida

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com insumos, maquinário e, prin-


cipalmente, solo fértil, ressalta Ale-
“Quem tem programa de
xandre Cunha de Barcellos Ferreira, rotação de culturas olha
pesquisador da Embrapa Algodão.
Recentemente, fez barulho no
mais no longo prazo"
mercado a decisão da SLC de plantar
algodão em 16 mil hectares que es-
tavam originalmente programados LUIZ CARLOS BERGAMASCHI,
presidente da Abapa
para a soja. Com isso, a companhia
passaria a ter uma área 1% maior
de cultivo da pluma do que na safra
passada, totalizando 189 mil hecta-
res, entre primeira e segunda safras.
Mato Grosso continua a dominar
o cultivo da fibra vegetal no país, A inclinação para o cultivo da CUSTO EM QUEDA
com 70% da área plantada, mas pluma cresceu a despeito da queda Gastos totais com as lavouras de
produtores de outros estados, como dos preços internacionais. Desde o algodão devem cair 19% em Mato
Grosso no atual ciclo, diz Imea
Bahia, Mato Grosso do Sul e Minas início do ano até novembro, os pre-
Gerais, também estão aumentando ços futuros na Bolsa de Nova York
sua aposta na pluma. Nas lavouras caíram 1,69%, segundo cálculos do
baianas, um dos motivos é a rotação Valor Data, para a média de 83,45
de culturas. “Na pandemia, a soja e centavos de dólar por libra-peso.
o milho cresceram muito, e agora os Na avaliação de Alexandre
produtores estão fazendo a rotação Schenkel, da Abrapa, o ponto de
com algodão na primeira safra”, ex- equilíbrio ideal para os preços seria
plica Luiz Carlos Bergamaschi, pre- de US$ 1 dólar por libra-peso, pata-
sidente da Associação Baiana dos mar que hoje está distante, princi-
Produtores de Algodão (Abapa). palmente por receios ligados à de-
manda. “Com preços a 80 centavos,
Outra parcela de agricultores da é importante o produtor gerenciar
Bahia, menor, também está deixan- seus custos. O gasto com fertili-
do de cultivar soja na primeira zantes diminuiu, mas é preciso ser
safra para já plantar algodão, mas a mais criativo na produção, para que
quantidade é pequena, garante o esses valores de 80 ou 90 centavos
presidente da Abapa. Para ele, a se encaixem no custo. Hoje, a mar-
disseminação de boas práticas agrí- gem do produtor está muito aperta-
colas também tem feito os produto- da, e se ele não cuidar das despesas,
res aumentar o cultivo de algodão pode ter prejuízo”, constata.
como opção ao milho ou à soja de O preço do algodão caiu, assim
primeira safra. Com a rotação de como o custo de produção, o que
culturas, preserva-se a fertilidade deve oferecer algum alívio aos agri-
do solo. “Quem tem programa de cultores. Com fortes quedas nos
rotação de culturas olha mais no custos de macro e micronutrien-
longo prazo”, avalia Bergamaschi. tes, inseticidas e herbicidas, o cus-

30 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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PLANTIO PRECISA OCORRER LOGO


Quem optar pelo plantio de ou até parar”, diz ele. Essa é a plantas seja afetada por estiagem,
algodão na safra 2023/2024 precisa perspectiva para as áreas de o que pode comprometer tanto a
estar atento para não atrasar produção da pluma de Mato produtividade quanto a qualidade
muito a semeadura e não perder Grosso, Goiás, Piauí e Bahia. da fibra. Isso ocorreu na temporada
a boa janela de cultivo. O motivo Por causa do fenômeno climático, 2021/2022, quando as chuvas
é a perspectiva de encerramento a recomendação é começar o terminaram mais cedo, o que
precoce da temporada de chuvas, cultivo do algodão até as primeiras diminuiu a produtividade da pluma.
FOTO_ GETTY IMAGES

o que deve acontecer por causa do semanas de janeiro. “Aí vai ter O especialista da Embrapa Algodão
fenômeno El Niño, afirma Alexandre água suficiente para o algodão se ressalta que o rendimento dos
Cunha de Barcellos Ferreira, desenvolver até início de abril, com algodoeiros tende a ser melhor em
pesquisador da Embrapa Algodão. 100 dias de chuva, e vai dar para locais de solo fértil, com rotação
“O algodão precisa, com boa produzir bem”, indica Ferreira. Por de culturas entre soja e algodão,
segurança, de 100 dias de esse motivo, ele acredita que será que conseguem reter água por
chuvas bem distribuídas depois pouco provável que ocorra um mais tempo. “Se não tiver solo com
da semeadura. Se passar dos aumento expressivo do cultivo de boa palhada, com boa capacidade
120 dias, melhor ainda. Mas com algodão na safra de inverno, já que de retenção de água, a lavoura
esse evento climático adverso do deverá ser uma estação mais seca. vai sentir muito mais do que o
El Niño, sabemos que em várias Caso contrário, se a semeadura solo que está bem preparado. Em
regiões, após meados de abril, atrasar, o risco é que a parcela solo arenoso é pior ainda”, diz.
a chuva vai diminuir bastante final do desenvolvimento das Outro risco é o de formação de
fibras curtas. O desenvolvimento
da fibra leva de 40 a 50 dias, da
abertura da flor do algodoeiro até
o desenvolvimento do fruto e a
formação das camadas de celulose
que levam ao desenvolvimento
da fibra do algodão. A falta de
umidade necessária prejudica
a deposição das camadas de
celulose, levando à formação de
fibras curtas, explica Ferreira.
O resultado é que o produto terá
manuseio mais difícil na indústria
de fiação, já que ela arrebenta mais
facilmente. E isso é prejudicial para
o algodão brasileiro principalmente
no mercado internacional, onde
o produto acaba ganhando má
fama e perdendo atrativo em
relação a seus competidores.

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RASTREABILIDADE
Brasil aposta em programas
de certificação para alcançar
novos mercados no futuro

to total deve recuar 19% nesta safra


em Mato Grosso, segundo estimati-
va do Instituto Mato-Grossense de
Economia Agropecuária (Imea).
Em tempos de economia em de-
saceleração, o consumo da plu-
ma costuma sofrer mais já que ela
é considerada um item de segunda
necessidade. Para Schenkel, o cená-
rio macro para o próximo ano deve
ser mais promissor que o de 2023.
“Espero um crescimento orgânico
na demanda por algodão em 2024,
uma vez que alguns países vão se
desenvolver mais na economia do
que outros. Nesse contexto, a moeda
local influencia muito”, diz.

Grande consumidor do algodão


brasileiro, a Ásia ainda deverá ser
destaque nas exportações em 2024,
prevê Schenkel. Nesse sentido, o
Brasil pode explorar oportunidades
de negócios até mesmo em impor-
tantes fornecedores da commodity, “A demanda Brasileiro, iniciativa que a Abrapa
como os indianos. "A Índia é o desenvolve em parceria com o Mi-
segundo maior produtor de algodão por algodão no nistério da Agricultura.
do mundo, mas, se houver qualquer mundo deverá ter
estresse com a oferta local, eles O algodão que Moresco plantou
terão que comprar de algum lugar. um crescimento recebeu duas certificações, a Better
Por isso, precisamos estar presen- orgânico em 2024, Cotton Initiative (BCI) e a Algodão
tes quando tivermos a oportunida- Brasileiro Responsável (ABR).
de”, observa o presidente da com a melhora Ambos os programas também ates-
Abrapa, acrescentando que um dos da economia de tam a sustentabilidade na produção
grandes obstáculos para o aumento da pluma.
das vendas é uma alíquota de 11% alguns países" “Não faço isso pensando no di-
que os indianos cobram para expor- nheiro, mas sim na tranquilidade e
tação de 50 mil toneladas. conforto em saber que minha pro-
O Brasil aposta em programas de dução está de acordo com as leis
certificação para conquistar novos ALEXANDRE SCHENKEL, trabalhistas e ambientais. Nosso
FOTO_ GETTY IMAGES

presidente da Abrapa
mercados no futuro. Em agosto de país é pioneiro na rastreabilidade
2023, o país exportou à China o pri- do algodão. Nesse contexto, o nos-
meiro lote da commodity dentro do so produto é tão bom quanto o dos
Programa de Qualidade do Algodão americanos”, declara o produtor.

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A ALIANÇA ENTRE
O CACAU E O BOI NO PARÁ, DIVERSIFICAÇÃO COM BASE AGROFLORESTAL
MELHORA ÍNDICES DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL,
SOCIAL E ECONÔMICA

por CLEYTON VILARINO, de Novo Repartimento (PA)*


ilustração PAULO FERRARI

À
S MARGENS DA TRANSAMAZÔNI- A partir de imagens de satélite, ele
CA,
o assentamento de agri- tem mapeado a produção de cacau
cultores familiares Tue- no Pará. Venturieri já constatou que,
rê – considerado o segundo no estado, 70% do cultivo ocorre em
maior da América Latina, com 240 áreas degradadas, a maioria delas em
mil hectares – vive uma revolução agricultura familiar com sistemas
silenciosa. Ano após ano, áreas de agroflorestais. “Quando se introduz
pasto degradado da Amazônia têm um sistema agroflorestal, você au-
dado lugar a lavouras de cacau, a menta sua cobertura do solo, melho-
maioria delas de base agroflorestal, o rando a infiltração de água no solo e
que tem ajudado a intensificar a pe- reduzindo a erosão”, complementa.
cuária entre pequenos produtores. Até 2021, foram 90 mil hecta-
“A gente tem visto o cacau ocupan- res de cacau mapeados no Pará, que
do diversas áreas que foram de pas- concentra metade da produção na-
tagem. O produtor faz isso por diver- cional, com 146 mil toneladas, se-
sas razões. Uma delas é que a área já gundo o levantamento mais recente,
está aberta, e outra porque, ao intro- de 2022, feito pelo Instituto Brasilei-
duzir o cacau nessas áreas, o produ- ro de Geografia e Estatística (IBGE).
tor vai recuperando esse solo”, expli- Cerca de 80% desse volume sai de
ca Adriano Venturieri, pesquisador municípios da Transamazônica, en-
da Embrapa Amazônia Oriental. tre eles Novo Repartimento, onde

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T E N D Ê N C I A S I C U LT U R A S P E R E N E S

fica o assentamento Tuerê. “A ten-


dência é que ocorra uma expansão
natural nessas áreas degradadas, re-
cuperando pastagens antigas de bai-
xa produtividade”, diz Venturieri.
Foi mais ou menos assim que
Alaion Costa, de 31 anos, deu início
à sua lavoura de cacau, que hoje tem
5.000 pés a pleno sol distribuídos em
cinco dos 50 hectares de sua proprie-
dade. “Chegou uma hora em que co-
meçamos a ter dificuldade para tirar
o sustento da terra”, lembra. A cria-
ção de bezerros, atividade tradicional
na região, parou de dar retorno cinco
anos depois da abertura das primei-
ras pastagens, o que forçou Costa e
sua família (composta de outros seis
irmãos) a trabalhar para terceiros.
“A gente só tinha uma moto e ge-
ralmente saía em dois irmãos para
trabalhar para outros produtores”,
recorda Alaion. Partiu dele a propos-
ta de plantar cacau. Ele já se dedicava
à atividade como diarista nas fazen-
das vizinhas, mas o caminho não foi
fácil. “Tivemos muita dificuldade no
Segundo ela, o objetivo era provar
que uma agricultura “climaticamente
“Chegou uma hora
começo. Tem que ter muita insistên- inteligente” era possível em pequena em que começamos
cia para formar a lavoura de cacau. É
trabalhoso”, conta o produtor.
escala – e, após o atendimento a 230
famílias, esse feito mostrou-se tão vi-
a ter dificuldade
A atividade só ganhou dimensão ável quanto conveniente. Com renta- para tirar o sustento
com a chegada do serviço de assis-
tência técnica da organização não
bilidade seis vezes superior à da pe-
cuária, mas exigindo muito mais mão
da terra. Nossa
governamental Solidariedad. Desde de obra, o cacau tem sido vetor de in- família teve que
2013, a ONG tem incentivado a do-
bradinha cacau-pecuária na região
tensificação da atividade na região,
ainda que de forma inconsciente.
passar a trabalhar
como forma de criar um sistema de “Quando passa a ter que usar a para terceiros"
produção agropecuária mais sus- mão de obra dele e da família no plan-
tentável. “Nesse período, consegui- tio, o produtor intensifica o trabalho.
mos um aumento de 30% na renda Ele pode até usar outro termo, mas o
dessas famílias, em média, e reduzir que ocorre é que ele intensifica a mão
o desmatamento em 64%”, calcula de obra quando reduz a área para ter ALAION COSTA,
Mariana Pereira, gerente de progra- menos trabalho”, afirma Venturieri. produtor de cacau e gado
ma da organização. Ele ressalta que é praticamente

36 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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impossível que o cacau se sobrepo- tor sentiu foi a facilitação do mane-


nha à pecuária na região. São duas jo, que antes exigia pelo menos duas
as razões para isso. A primeira é a pessoas. “Quando você vai cami-
tradição da atividade, que está pre- nhando para outro piquete, eles [os
sente na maioria das propriedades animais do rebanho] vão atrás. Parece
da região. A segunda é a grande área até que eles têm consciência de que
que a criação de gado ocupa. Só em vão pra um pasto melhor”, descreve.
Novo Repartimento há 1,6 milhão O cacau agroflorestal e o pastejo
de animais, o que faz do rebanho do rotacionado são os pilares do traba-
município o segundo maior do Pará. lho da Solidariedad em Anapu, Pa-
Na propriedade de Alaion, o cajá e Novo Repartimento, os três
plantio do cacau levou à implemen- municípios em que a ONG atua na
tação de 6 hectares de pasto rotacio- Amazônia. Ao todo, a organização
nado em parceria com a Solidarie- criou dez unidades demonstrativas
dad, o que ajudou a dobrar a taxa de na região no início do projeto, cada
ganho de peso dos animais, que hoje uma com cerca de 6 hectares.
fica entre 550 e 600 gramas por dia. “Naquele momento, a gente trou-
Já a taxa de lotação passou de duas xe essa perspectiva para os produto-
AO LADO
unidades por hectare para oito. res, então foi necessário criar essas Alaion Costa, produtor de cacau
Além da melhoria de rentabilida- unidades demonstrativas. Mas, hoje, de Novo Repartimento (PA)
de, o principal impacto que o produ- essa tecnologia já se disseminou de
ABAIXO
Chocolates produzidos com
cacau do assentamento Tuerê
FOTOS_ DIVULGAÇÃO

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uma maneira bem satisfatória, a pon- LARANJA CANA-DE-AÇÚCAR CAFÉ


to de hoje nós termos produtores re- São Paulo e Minas A colheita de cana- O volume da colheita
plicando o modelo com o próprio re- Gerais dominam a de-açúcar no próximo de café arábica nas
curso”, relata o gerente de programa produção global de ciclo deve ser um safras de 2023/2024 e
da Solidariedad, Paulo Lima. O custo laranja. Entretanto, a pouco menor do que o 2024/2025 vai refletir
de implementação, no entanto, de até safra, que seguia bem volume da temporada as altas temperaturas.
R$ 7.500 por hectare, ainda é um em- nos primeiros meses, anterior, mas o grande Com isso, o volume a
pecilho para muitos. o que alimentou destaque da safra ser colhido na maior
A ONG recebeu um investimen- estimativas otimistas, deverá ser mesmo o região produtora do
to de R$ 62 milhões do fundo JBS não deve ser tão aumento da produção país, o Cerrado Mineiro,
Amazônia. Com os novos recursos, boa assim – e os brasileira de açúcar. tende a diminuir.
a meta da organização é alcançar problemas climáticos A Datagro projeta As perdas devem
1.500 hectares de cacau agroflores- explicam a mudança moagem de 620 ser compensadas
tal e 1.500 hectares de pasto rota- das projeções. O milhões de toneladas pelo aumento de
cionado, alcançando 1.500 famí- Fundecitrus reduziu em 2024/2025, ou produtividade do sul
lias na região. “A Transamazônica em mais de 2 milhões 0,7% a menos que de Minas e da Zona da
é uma das regiões de maior desma- de caixas sua na safra anterior. A Mata (MG), descartando
tamento no Pará. Ela responde por previsão de colheita fabricação de açúcar, a possibilidade de
60% de todo o desmatamento do es- em 2023/2024, para porém, deverá crescer faltar café. O conilon
tado, que, por sua vez, é o que mais 307,22 milhões de 5,7%, para 42,6 continuará direcionado
desmata dentro da Amazônia Legal. caixas de 40,8 quilos. milhões de toneladas. à exportação.
Esse é o quadro que a gente pode
mudar, mas não é só com multa que
a gente consegue isso. Tem que ir na do efeito estufa, sequestrar carbono, Valmir. "Não vai ser só com filantro-
raiz do problema”, comenta Andrea melhorar a qualidade da água, gerar pia que vamos conseguir isso.”
Azevedo, diretora do fundo. serviços ecossistêmicos”, enumera A empresa escolheu justamente
Quando se trata de pequenos Adriano Venturieri. Para ele, o mo- o cacau como espécie-chave em seus
produtores, a raiz do problema é delo “é o que é possível” fazer em ca- plantios, que incluem também açaí,
justamente encontrar meios de fa- sos como o do assentamento Tuerê. cupuaçu, pupunha e dendê cultiva-
zer com que a restauração florestal O potencial econômico e ambien- dos em áreas arrendadas de peque-
se transforme em renda para as co- tal do cacau agroflorestal também nos e médios produtores. Ao todo, a
munidades locais. E o cacau, assim chama a atenção de empresas inte- Belterra já implantou 2.000 hectares
como outras espécies nativas da re- ressadas em investir na restauração e tem outros 8.000 hectares contra-
gião, tem sido uma das alternativas florestal. É o caso da Belterra. Fun- tados para implantação até 2025. A
para se alcançar esse objetivo. Cul- dada há quatro anos pelo geógra- meta, segundo Ortega, é chegar a 50
tivadas em sistema agroflorestal, as fo Valmir Ortega, a empresa busca mil hectares até 2030.
plantas podem ajudam também a modelos de negócio economicamen- “O cacau representa uma megao-
recompor área de preservação per- te viáveis para ajudar o Brasil a atin- portunidade comercial para o Bra-
manente, gerando o que o pesquisa- gir a meta de restaurar mais de 70 sil. O país já foi o primeiro produtor
dor da Embrapa Amazônia Oriental milhões de hectares de pasto degra- mundial, mas hoje nós temos que
FOTO_ GETTY IMAGES

chama de “restauração produtiva”. dado. “Nós vamos ter que fazer essa importar cacau da África para abas-
“O produtor não vai recompor a restauração com modelos que sejam tecer nossa indústria de chocolate,
cobertura original, mas vai conse- capazes de atrair investimento na es- que exporta. Nosso primeiro desa-
guir reduzir suas emissões de gases cala dos bilhões de reais", resume fio é ajudar a eliminar a importação

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É DA TERRA
Espécie nativa da Amazônia,
cacau oferece renda seis vezes
maior que a da pecuária

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PASTAGENS FLORESTAS CACAU componente de sequestro de carbo-


O ano de 2024 O setor de florestas Mesmo após um ano no”, destaca o pesquisador.
será o primeiro cultivadas tem de forte valorização No quesito social, a presença de
de vigência do crescido na esteira do cacau, devido à outras espécies aumenta a diversifi-
Programa Nacional da demanda dos queda da produção cação produtiva dentro das proprie-
para Conversão consumidores por no oeste da África, dades, um feito que reduz o impac-
de Pastagens bioprodutos com a tendência é de to das oscilações de mercado sobre a
Degradadas. pós-uso responsável. que os preços renda dos agricultores. “O risco de o
O objetivo do Segundo a Indústria sigam elevados. “A produtor trabalhar só com o mono-
governo, que lançou Brasileira de Árvores gente vem de duas cultivo do cacau é que vai todo mun-
a iniciativa em (Ibá), o consumo de temporadas de déficit do produzir cacau ao mesmo tempo.
dezembro, é atrair itens de papel, como na oferta, e o temor é Assim, quando o preço do cacau re-
investimentos para copos e canudos, que haja um terceiro cua, o produtor fica muito endivida-
converter 40 milhões segue em alta. ano de déficit”, diz do, já que ele precisa de recurso o
de hectares em dez No Brasil, o setor Leonardo Rossetti, ano inteiro”, conclui Adriano.
anos. No curto prazo, tem 9,94 milhões analista da Stonex. A Mesmo assim, o modelo menos
o efeito do El Niño de hectares de estimativa é de que, sustentável tem atraído investimento.
sobre as pastagens áreas de cultivo e em 2024, a demanda “Tem muita empresa que incentiva o
deve manter preserva outros 6,73 será de 100 mil a plantio a pleno sol porque a produti-
pecuaristas em alerta milhões de hectares 200 mil toneladas vidade no início do processo é melhor.
no primeiro trimestre. de mata nativa. maior que a oferta. Essas empresas precisam e querem
ter mais produção, então, elas incen-
tivam monocultura, adensamento. Só
que isso pode causar problemas a mé-
e fazer do Brasil autossuficiente em explica o especialista. Além disso, dio e longo prazo”, observa.
cacau em três ou quatro anos”, afir- as plantas ficam mais suscetíveis Um dos riscos, segundo o pesqui-
ma o diretor da Belterra. a pragas e doenças, o que signifi- sador, é a região cacaueira da Amazô-
A capacidade regenerativa e de ca que, além de enfrentar paulatina nia passar pelo mesmo processo que
geração de renda do cacau na Ama- queda de produtividade, o produtor ocorreu no sul da Bahia, onde o avan-
zônia passa, necessariamente, pela passa a ver o custo aumentar. ço da doença vassoura de bruxa dizi-
exploração dessa cultura em mo- Outra vantagem do cacau agro- mou plantações no início da década
delo agroflorestal, segundo alerta o florestal está no aspecto ambiental. de 1990. Outro risco é o aumento de-
pesquisador Adriano Venturieri, da De acordo com os cálculos da ONG senfreado da produção levar a um de-
Embrapa Amazônia Oriental. “Em Solidariedad, para cada hectare im- sequilíbrio de mercado a longo prazo.
algumas regiões, está acontecendo plantado, há o sequestro de 12 tone- Para o especialista, uma das saídas é
esse movimento de plantar cacau a ladas de carbono equivalente da at- a criação de políticas públicas que va-
pleno sol, mas a médio e longo pra- mosfera. Isso é três vezes mais do lorizem a amêndoa produzida em sis-
zo isso vai ser ruim”, afirma ele. que o índice de uma pecuária ex- tema agroflorestal de tal forma que
Apesar de, nos primeiros anos, tensiva com boas práticas na região, esse modelo compense a diferença de
ele ter produtividade cerca de 40% que fica entre 4 e 4,5 toneladas de produtividade que existe nos primei-
maior que a do cacau agroflorestal, carbono equivalente. “Esse binô- ros anos.
o cultivo a pleno sol, sem a presen- mio cacau-pecuária, além de trazer
ça de outras espécies, tende a per- renda para as famílias, o que é mui- *O jornalista viajou a convite da
der o vigor com o passar do tempo, to importante, também entra como Fundação JBS Amazônia

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TENDÊNCIAS I HORTIFRÚTIS

DIVERSIFICAÇÃO
TRANSFORMADORA FAMÍLIAS DE PRODUTORES MINEIROS AUMENTAM
SUA RENDA COM O PLANTIO DE FRUTAS VERMELHAS
EM ÁREAS QUE ERAM DE CULTIVO DE CAFÉ

por ELIANE SILVA, de Machado (MG)*


fotos RICARDO BENICHIO
ilustração PAULO FERRARI

A
TRAÍDAS PELA POSSIBILIDADE disse Nicole à GLOBO RURAL, en-
de aumento de renda que quanto enchia uma cesta de amoras
surgiu com a produção de pretas do tamanho de morangos.
frutas vermelhas em áreas Os quatro atuam no cultivo das
que eram de cultivo de café, as ir- frutas, mas, na safra de amora, que
mãs Larissa e Nicole Santos deixa- vai de outubro a dezembro, é preci-
ram seus empregos, no fim de 2019, so contratar ajuda para a colheita.
na cidade gaúcha de Santa Cruz Sebastião conta que a safra pode ter-
do Sul, onde moraram por 15 anos, minar antes de dezembro, porque a
para ajudar os pais, Sebastião San- fruta amadurece com muita rapidez
tos e Maria Aparecida Santos, na di- – e se ela ficar no pé, sofre com a ação
versificação. Foi assim que elas pas- da mosca-da-fruta, que se esbalda
saram a se dedicar aos pomares de quando encontra amoras maduras.
amora, framboesa e mirtilo no sítio “Tem pessoas entrando no culti-
da família, na zona rural de Macha- vo das frutas na região como aven-
do, no sul de Minas Gerais. tureiros. Tem gente aqui que já fa-
“Valeu muito a pena a mudan- lou em plantar 40 mil pés. Como vai
ça. Agora, estamos com a família, colher esse volume? Tudo é manual.
trabalhamos no nosso negócio com Só a nossa colheita de 5.000 pés de
vontade e ganhamos muito mais”, amora dá emprego a 20 safristas por

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TENDÊNCIAS I HORTIFRÚTIS

dia, e alguns nem voltam no segundo


dia, porque se assustam com os espi-
nhos das frutas”, diz Nicole.

Sebastião, químico aposenta-


do, deixou a capital paulista para
voltar às raízes no campo junto com
a mulher – as filhas, totalmente ur-
banas, já tinham se mudado para o
Rio Grande do Sul. Em 2007, o ca-
sal vendeu a casa em São Paulo e
comprou a propriedade de 16 hec-
tares com a intenção de plantar mi-
lho e café. Sem máquinas, ele logo
se frustrou com a lavoura e o pre-
ço baixo do milho. Plantou, então,
5.700 pés de café, mas diz que ja-
mais conseguiu ganhar o suficiente.
“Não dava para guardar nada. O
dinheiro que sobrava após a venda
do café dava só para comprar o adu-
bo do ano seguinte”, conta Sebastião,
relatando também que sempre tinha
problemas com mão de obra. A espo-
sa completa: “Quem ganha dinheiro sos com substrato. No ano seguin- “Hoje, a maior parte
com o café é o grande produtor, que te, o agricultor voltou a investir, ao
tem máquinas e secadoras”. plantar 2.000 pés de framboesa. da minha renda vem
A vida da família mudou em Nos primeiros anos, Sebastião e do cultivo de amora,
2017. Foi naquele ano que surgiu a Maria Aparecida tiravam dinheiro
proposta da prefeitura de Machado, das amoras para pagar as despesas framboesa e mirtilo”
apoiada depois pelo Sebrae Minas, do café, mas, em 2022, eles decidi-
de estimular a produção de frutas ram arrendar o café e se dedicar ex-
vermelhas como forma de diversifi- clusivamente às frutas. Investiram ALIANDRO DA SILVA,
car a renda de agricultores familia- R$ 40 mil na compra de uma câma- agricultor de Machado (MG)
res que plantavam café e também de ra fria para vender as frutas conge-
manter os jovens no campo. Sebas- ladas e instalaram 16 placas solares
tião foi o primeiro de um grupo de para reduzir o gasto com energia.
12 produtores a aderir à ideia.
Ele nem esperou a prefeitura fa- “A amora se adaptou bem ao
zer a doação de mudas. Sebastião clima de Machado, onde chove bem,
plantou 4.800 pés de amoras em a temperatura não passa de 30ºC e
meio hectare. Em 2022, ele acrescen- não tem calorão contínuo. Mas, se
tou à lavoura 500 mudas e 284 pés o produtor quiser ganhar dinheiro
de mirtilo – estes, plantados em va- com a fruta, tem que trabalhar to-

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dos os dias, sem domingos, feriados frutas. Em 2019, Leda Maria Begali
nem férias”, afirma Nicole. Mezavila Corsini e Lídia Begali Me-
A mãe, que agora se divide entre o zavila Araújo convenceram o pai,
trabalho de dona de casa e o manejo Mauro Milan Mezavila, um descen-
diário das frutas, conta que, até 2022, dente de italianos de 71 anos que cul-
a amora deu bastante lucro. “Neste tivou café a vida toda, a investir nas
ano [2023], a renda caiu porque co- frutas vermelhas. Antes, a família ti-
meçaram a entrar no país muitas fru- rava a renda do plantio de café e hor-
tas sem taxação que vieram do Chile e taliças para sustentar as três famílias
da China", relata. Segundo ela, os pre- que moram no sítio de 2 hectares.
ços passaram de R$ 12 para R$ 6 o qui- “Elas mergulharam sem saber na-
lo. Em 2022, a família colheu 14,5 to- dar. Não sabiam como plantar, mas
neladas e obteve uma renda líquida de receberam as mudas e a assistência
R$ 200 mil. A expectativa para 2023 técnica da prefeitura. Nós investimos
era fechar com mais de 16 toneladas de cerca de R$ 100 mil em arame, mou-
amora, três de framboesa e 1 de mir- rão, irrigação e freezer”, conta o pai,
tilo. Em 2024, a família pretende au- que perdeu quase todo o café nas ge- AO LADO
mentar a área de cultivo de amoras. adas de 2021 e acumulou prejuízos Aliandro da Silva, presidente da
Associação dos Agicultores de
com o grão nos últimos quatro anos. Frutas Vermelhas de Machado
Do outro lado da cidade, outras As irmãs plantaram 5.500 pés de
duas irmãs também apostaram nas amora da variedade tupy em par- ABAIXO
O produtor Sebastião Santos
e a filha Nicole colhem
amoras no sítio da família

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TENDÊNCIAS I HORTIFRÚTIS

AMORA EM ALTA
Safra da fruta vai de outubro a
dezembro, quando produtores
precisam contratar mão
de obra para a colheita

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FRUTAS HORTIGRANJEIROS ladas de frutas em 2023, ou 100


O El Niño deve continuar O aumento de área de produção toneladas a mais do que no ano
afetando a produção de frutas de verduras e legumes deve anterior. “O clima ajudou, e a pro-
em 2024, segundo projeções ser puxado por produtos dutividade da lavoura aumentou.
do Cepea. A tendência é que o destinados ao processamento, Agora, estamos empenhados em
fenômeno siga ativo durante o como tomate e batata. As formar uma cooperativa para em-
verão, quando as temperaturas duas culturas deverão ganhar balar e vender as frutas com a nos-
devem ficar acima da média. espaço com a substituição da sa marca”, conta Silva.
As perdas da fruticultura, polpa de tomate e da batata O Programa Nacional de Ali-
de acordo com o Cepea, pré-frita congelada importados mentação Escolar (Pnae) do muni-
devem se concentrar na por marcas nacionais. O Cepea cípio de Machado recebe 3 toneladas
região Sul, onde as condições estima crescimento de 1,8% na de amora por ano. Por enquanto, os
do clima têm sido mais área de batata, 2% na de tomate produtores vendem o restante para
problemáticas do que a das de mesa e 8% na do fruto atravessadores que fornecem para
regiões Sudeste e Nordeste. destinado ao processamento. indústrias e supermercados de Rio
de Janeiro, Belo Horizonte, São Pau-
lo e cidades do interior paulista.

A associação tem uma câma-


ra fria, com capacidade para 15 to-
te do terreno. A colheita da primei- importada, mas, mesmo assim, in- neladas, além de dois contêineres
ra safra ocorreu em 2021 – e, mes- vestimos R$ 45 mil na instalação de para conservar as frutas, e negocia
mo com os impactos da geada que se uma câmara fria e na adaptação de a compra de mais estufas e contêi-
formou na região naquele ano, ren- um baú de caminhão para entregar neres para dar conta do aumento de
deu 10 toneladas da fruta. A cultura a fruta na associação já congelada, produção. “Nossa fruta não tem pre-
já ultrapassou a renda das hortali- três vezes por semana”, conta Leda. ço, tem valor. Compartilhamos espi-
ças e do café. nhos, a companhia da família no tra-
Entusiasmadas, Leda Maria e Lí- “Eu sempre produzi café em 8 balho e ganhamos três vezes mais do
dia plantaram 1.200 pés de frambo- hectares, mas a geada de 2021 ma- que se usássemos a mesma área para
esa e colheram 12 toneladas de fru- tou a maior parte das 5.000 plantas. o café”, conta Aliandro, que tem a fi-
tas. Em 2023, elas acrescentaram à Tentei só podar, mas vou ter que ar- lha Tainá no comando da lavoura.
lavoura 700 pés de amora e 500 de rancar. Hoje, a maior parte da minha Por ano, o Sebrae Minas investe
mirtilo. A expectativa era de colher renda vem do cultivo, em meio hec- de R$ 100 mil a R$ 200 mil em ca-
11 toneladas de amora, 2 de frambo- tare, de 4.000 pés de amora, 700 de pacitação dos produtores. “O projeto
esa e 250 quilos de mirtilo. framboesa e 350 de mirtilo”, afirma o busca melhorar a vida dos agriculto-
As irmãs contam que, na safra, agricultor Aliandro da Silva. Ele é o res familiares, aumenta a diversida-
elas trabalham pelo menos 12 ho- presidente da Associação dos Agricul- de no agro, fixa os agricultores e seus
ras por dia, mas que o esforço é re- tores Familiares de Frutas Vermelhas filhos no campo e aproveita a mão de
compensado pelo aumento da ren- de Machado (Fruverfram), entidade obra na sazonalidade do café”, diz
da, que chega a ser três vezes maior que nasceu para reunir os produtores Adaiby Mara Franco Gonçalves, que
do que a que do café. “Neste ano rurais que ingressaram na atividade e acompanha o projeto desde 2021.
[2023], o preço está ruim por causa para cuidar da comercialização.
da liberação das importações. Tem Os 43 associados da Fruverfram *A reportagem viajou a convite do
poucos compradores e muita fruta previam colher mais de 300 tone- Sebrae

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TENDÊNCIAS I PROTEÍNA ANIMAL

PECUÁRIA
DO FUTURO POR QUE UM PRODUTOR DECIDIU INVESTIR EM
INTEGRAÇÃO E RASTREABILIDADE EM MATO
GROSSO DO SUL

por CAROLINA MAINARDES, de Caarapó (MS)*


ilustração PAULO FERRARI

"T complexo
EMOS UM SISTEMA
aqui na fazenda, e o que faz
isso funcionar é o homem.”
A frase do produtor André
Bartocci resume bem a pecuária de
ral e apoia a educação de crianças
da região oferecendo espaço próprio
para cursos no local. “A capacitação
e a valorização das pessoas são fun-
damentais para mantê-las no cam-
corte – e de ponta – no Brasil. Na po”, enfatiza o produtor. Mas isso é
busca por ganho de competitividade só uma parte do que acontece por lá.
e por melhoria da sustentabilidade, Com uma área total de 3.200
o uso de tecnologia na pecuária de hectares, a propriedade foi, há mais
precisão depende do acompanha- de 20 anos, uma das primeiras na
mento in loco e da interpretação dos região a adotar o sistema de inte-
dados para se tomar a melhor de- gração lavoura-pecuária (ILP). A
cisão. Para isso, trabalhadores que atividade principal é a pecuária,
atuam no campo e profissionais es- com foco na recria e engorda de bo-
pecializados são peças-chave. vinos e abate de 4.000 bois ao ano.
Proprietário da Fazenda Nossa A genética da Nossa Senhora das
Senhora das Graças, localizada em Graças baseia-se em raças zebuí-
Caarapó (MS), a pouco mais de 270 nas, especialmente o nelore, com
quilômetros de Campo Grande, An- alguns cruzamentos de raças euro-
dré conta que estimula a formação peias. Em geral, o plantel conta com
de mão de obra para a atividade ru- 70% de nelore e 30% de angus.

48 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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TENDÊNCIAS I PROTEÍNA ANIMAL

Essas linhagens garantem


animais adaptados aos tró-
picos, que conseguem converter
bem gramíneas da região em car-
ne de alta qualidade. André conta
que vende a produção bovina para
indústrias que exportam para a
União Europeia, uma vez que a
propriedade é certificada e os ani-
mais integram o banco de dados
da Cota Hilton – habilitação que
permite a exportação de cortes bo-
vinos de altíssima qualidade a pa-
íses do bloco.
Ele diz não haver uma integração
formalizada, mas sim uma parceria
de longo prazo com a JBS de Naviraí,
que fica a 70 km da fazenda. “E está
ESFORÇOS SUSTENTÁVEIS
dando muito certo para os dois lados. Fazenda Nossa Senhora
Existe um contato periódico para es- das Graças tem ILP
tarmos alinhados com relação à qua- e rastreabilidade
lidade dos animais”, afirma.
A ILP ocorre com a rotação das
lavouras de soja e milho com bra-
quiária e braquiária (pastagem). A
produção, na última safra, foi de sificação nos sistemas de produção, Segundo o produtor, na fase de
60 mil sacas de soja – comerciali- a quebra no ciclo de pragas e doen- recria e engorda, em que os animais
zadas via cooperativa – e de 44 mil ças e a adequação ambiental. pesam entre 200 kg e 450 kg, eles
sacas de milho, usadas para sila- ficam somente nas pastagens. Em
gem e consumo na própria fazenda. Para André Bartocci, o mode- seguida, entram em confinamento
A propriedade mantém ainda uma lo beneficia os dois segmentos – – última fase da engorda –, em que
área de 28% de reservas naturais. agricultura e pecuária – mutuamen- permanecem aproximadamente 40
A integração lavoura-pecuária, te. A rotação de pastagem e lavoura, dias (mas, em alguns casos, o prazo
sistema também conhecido como com altas lotações nos pastos, usa- chega a 90 dias), até que seu peso
agropastoril, alia os componentes dos intensivamente, aumenta o teor alcance em torno de 560 kg.
agrícola e pecuário em rotação, na de matéria orgânica no solo. A etapa de confinamento costu-
mesma área. A troca pode ocorrer Ele destaca as vantagens para a ma passar de 90 dias na maioria dos
em um mesmo ano agrícola ou ao produção de bovinos. “Temos pas- casos em que não se adota a ILP. O
longo de vários anos, em sequên- tos excelentes, os animais ganham pecuarista enfatiza uma outra van-
cia ou intercalados. De acordo com peso o ano inteiro e não tem entres- tagem desse sistema: os períodos
a Embrapa, entre as vantagens da safra. Isso faz toda a diferença na di- mais curtos de confinamento tor-
ILP estão a intensificação do uso da minuição da idade do abate, o que nam a produção mais econômica.
terra, a recuperação de pastagens tem impacto direto sobre as emis- A fazenda adota a ultrassono-
degradadas e a conservação e me- sões de gás de efeito estufa e a qua- grafia de carcaça, tecnologia que
lhoria do solo, assim como a diver- lidade da carne”, enumera. mensura dados que tornam possí-

50 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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BOI LEITE AVES SUÍNOS


Consultorias avaliam que A captação de leite A produção brasileira de Segundo a ABPA, a
a oferta de gado não será deverá ficar estável ou carne de frango deverá produção de carne suína
tão baixa quanto a de até diminuir em 2024, crescer até 3,7% em ficará entre 5 milhões e
2023, mas também não segundo a Milkpoint, que 2024, para 15,35 milhões, 5,15 milhões de toneladas
se estreitará a ponto de estima produção de 24,5 estima a Associação em 2024, volume até 4%
abrir espaço para altas bilhões de litros em 2023. Brasileira de Proteína maior que o de 2023,
expressivas do preço da O aumento repentino das Animal (ABPA), que quando os preços da
arroba. A expectativa é importações derrubou calcula que o volume proteína caíram devido ao
de certa estabilidade, os preços no mercado em 2023 ficou entre 14,8 desequilíbrio entre oferta
com virada no ciclo interno. No acumulado milhões e 14,9 milhões de e demanda. "Não houve
pecuário somente em de janeiro a setembro de toneladas. Já a produção margem de lucro para o
2025. A tendência é que 2023, a captação cresceu de ovos, de 52,55 bilhões produtor", diz o presidente
a China siga firme nas 1,9% em relação a 2022, de unidades em 2023, da Associação Catarinense
importações, mas o preço para 17,9 bilhões de pode crescer até 6,5% em de Criadores de Suínos,
ainda é uma incógnita. litros, segundo o IBGE. 2024, para 56 bilhões. Losivanio Luiz de Lorenzi.

vel estimar e avaliar a composição


corporal, a qualidade e o rendimen-
to da carcaça, os índices de gordura
e a taxa de crescimento e também o
momento ideal para o abate dos ani-
mais. “Utilizamos o sistema para
modular o período ideal de confina-
mento dos lotes”, diz Bartocci. Todo
o processo, relata, permite o aba-
te de animais cada vez mais novos,
com idade entre 20 e 24 meses.

Outra tecnologia que garante a


qualidade do rebanho da Fazenda
FOTOS_ WENDERSON ARAÚJO

Nossa Senhora das Graças é a rastre-


abilidade. André considera que “essa
é uma ferramenta de gestão espeta-
cular para produtores”. Na proprie- INVESTIMENTO EM GENTE
O produtor André Bartocci:
dade, o sistema engloba desde a ori- “É fundamental valorizar as pessoas
gem do animal até o frigorífico. Com para mantê-las no campo”

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TENDÊNCIAS I PROTEÍNA ANIMAL

NELORE E ANGUS_ Propriedade, que abate 4.000 animais por ano, em média, é referência em recria das duas raças

atuação nas etapas de recria e engor- André, que preside a Câmara Bartocci não deixa de lembrar que
da, a compra de bezerros é criterio- Setorial da Carne Bovina, do Mi- a pecuária também depende de fato-
sa. “Monitoramos todo o histórico nistério da Agricultura e Pecuá- res externos e que há fases em que o
do animal e não compramos de pro- ria, defende a importância da ras- preço fica baixo para os produtores.
priedades que tenham algum tipo de treabilidade do rebanho nacional. “A pecuária só é uma atividade ren-
problema ambiental ou social”, afir- “No Brasil, temos um histórico de tável se for intensificada. Há muitos
ma o pecuarista. O sistema consiste sanidade bovina. E temos muita gargalos quando não se monitora to-
em dispositivos eletrônicos de iden- responsabilidade com esse histó- das as fases. E também é fundamental
tificação animal, como brincos e bot- rico, ainda mais com o tamanho do investir em pessoas. Assim, a ativida-
tons, e programas de computador rebanho que temos hoje”, ressal- de pode ser lucrativa e muito segura”,
que registram o desempenho zoo- ta, referindo-se às 234,4 milhões avalia. Outros aspectos também fa-
técnico e as ocorrências sanitárias ao de cabeças de gado registradas em zem parte da rotina da atividade pecu-
longo da vida do animal. 2022, de acordo com o Instituto ária na propriedade, entre elas o bem-
Segundo o produtor, é por trazer Brasileiro de Geografia e Estatís- -estar do rebanho e a reciclagem de
esse conjunto de informações so- tica (IBGE). dejetos gerados no confinamento para
bre o rebanho que a rastreabilida- aproveitá-los como fertilizante.
de é uma ferramenta valiosa para a Para ter competitividade no A fazenda, que já recebeu várias
gestão da pecuária. “A gente sabe de mercado, e com boa rentabilida- certificações e premiações, pretende
onde veio o animal, a idade dele, con- de, o pecuarista destaca que o di- investir cada vez mais em sustentabi-
trola o peso, monitora a carência de ferencial é seguir o básico, como lidade, com focos ambiental e social.
medicamentos e as projeções de aba- fazer investimentos em genética, Outra meta é quantificar a emissão de
te e, por fim, a qualidade do produ- adotar boas práticas de alimenta- gases de efeito estufa – atualmente, os
FOTO_ WENDERSON ARAÚJO

to”, relata Bartocci. O sistema, que ção e de manejo do rebanho, mas métodos seguem padrões internacio-
faz parte das exigências da maioria "com um olhar diferente". “É isso nais – e mensurar o sequestro de car-
dos países importadores, registra até que tecnologias como a integração bono na área.
mesmo os graus de marmoreio da lavoura-pecuária e a rastreabilida-
carne bovina. de nos permitem”, afirma. *A jornalista viajou a convite da CNA

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OPINIÃO I FUTURO I Maurício Antônio Lopes

Vanguarda da agricultura espacial


EXPERIÊNCIA BRASILEIRA É VALIOSA PARA O DESENVOLVIMENTO DE PRÁTICAS
INOVADORAS DE CULTIVO EM AMBIENTES EXTREMOS

O
Programa Artemis, da Agên- aos desafios enfrentados pela agricul- tata-doce e grão-de-bico. A escolha
cia Espacial Americana tura na superfície terrestre. foi baseada em adaptabilidade a con-
(Nasa), é um ambicioso pro- Uma rede de pesquisa já foi forma- dições adversas e na capacidade que
jeto que visa levar astronautas de da, com o suporte da Agência Espa- essas plantas têm de atender às ne-
volta à Lua e estabelecer uma base cial Brasileira (AEB) e a liderança cessidades dietéticas dos astronautas
permanente no satélite. Uma das da Embrapa, envolvendo 12 institui- em ambientes extraterrestres.
principais prioridades do programa ções e mais de 30 pesquisadores. A As duas espécies têm ciclos re-
é desenvolver tecnologias para a agri- rede já trabalha no desenvolvimento lativamente curtos e histórico de
cultura espacial, que garantirão o su- de sistemas de produção adaptáveis adaptação a estresses e a múltiplos
primento de alimentos aos astronau- ao espaço, buscando soluções para sistemas de cultivo. Enquanto a ba-
tas que viverão no satélite da Terra e, uma série de desafios complexos, que tata-doce fornece carboidratos, vi-
em fases posteriores, em Marte. taminas e antioxidantes, o grão-de-
O Brasil, ao assinar o Acordo Ar- bico contribui com proteínas de alta
temis, em 2021, alinhou-se a ou- qualidade, essenciais à manuten-
tros 21 países comprometidos com a ção da saúde muscular e do sistema
expansão do conhecimento humano imunológico. Essa combinação equi-
no cosmos. A capacidade da agricul- librada aborda múltiplas necessida-
tura brasileira de enfrentar condi- des dietéticas e ajuda a evitar defici-
ções climáticas desfavoráveis e solos ências nutricionais durante missões
pobres em nutrientes é um atrativo espaciais prolongadas.
para o consórcio. A experiência do Em resumo, o Programa Arte-
país poderá ser valiosa para o desen- mis oferece uma oportunidade para
volvimento de práticas agrícolas ino- se aplicar a expertise agrícola bra-
vadoras para os ambientes extremos sileira de maneira inovadora na ex-
que predominam no espaço. ploração espacial, impulsionando a
O desenvolvimento de tecnologias pesquisa e o desenvolvimento cientí-
para exploração espacial tem o poten- cientistas e engenheiros precisam su- fico do país para novas alturas. Com
cial de gerar novas oportunidades de perar para garantir sustentabilidade essa iniciativa, o Brasil não apenas
negócios e empregos, impulsionando e eficácia da produção de alimentos planta sementes para o futuro no
a indústria aeroespacial e a agricul- em condições de elevada radiação, solo lunar, mas também coloca seu
tura, que será cada vez mais desafia- baixa gravidade e ausência de solo. conhecimento agrícola na vanguar-
da por eventos extremos ligados às Uma das missões centrais da rede da da exploração espacial.
mudanças climáticas. Essa sinergia será a escolha de espécies capazes
ILUSTRAÇÃO_ PEXELS

entre agricultura e espaço não só for- de produzir alimentos em tais con-


talece a posição do Brasil no cenário dições extremas. Os pesquisadores Maurício Antônio Lopes é
engenheiro agrônomo e pesquisador
internacional como também promove optaram por desenvolver sistemas- da Empresa Brasileira de Pesquisa
soluções potencialmente aplicáveis piloto priorizando duas espécies: ba- Agropecuária (Embrapa)

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TENDÊNCIAS I TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

REVOLUÇÃO
SOBRE RODAS
FABRICANTES INTENSIFICAM O DESENVOLVIMENTO
DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS AUTÔNOMAS, DE GRANDE
POTÊNCIA E QUE CUMPREM MÚLTIPLAS FUNÇÕES

por FERNANDA PRESSINOTT e IZABEL GIMENEZ, de Hannover (Alemanha)*


ilustração PAULO FERRARI

O
presidente mundial da rurais e o alto preço das máquinas
AGCO, Eric Hansotia, que devem chegar ao mercado conti-
acredita que, nos próxi- nuam a ser entraves para a dissemi-
mos dez anos, a indústria nação dessas tecnologias. “O produ-
de máquinas agrícolas vai passar tor paga apenas se tiver garantia de
pela maior revolução da sua histó- que as máquinas têm robustez. Afi-
ria. Nesse período, as fabricantes de- nal, temos locais com três safras den-
verão intensificar a criação de equi- tro de uma”, diz o consultor de mer-
pamentos que não só aumentem a cado Carlos Cogo. O levantamento
produtividade das lavouras como cada vez mais minucioso de dados é
utilizem combustíveis renováveis. outro fator de preocupação dos pro-
A avaliação é de Hansotia, mas dutores, já que 69% das fazendas
outros executivos do segmento fa- brasileiras não têm acesso à internet.
zem leitura parecida. Todas as Em laboratórios e fábricas do
grandes fabricantes têm previsto mundo todo, o esforço por inova-
um futuro com equipamentos au- ção é constante. A seguir, a GLOBO
tônomos, conectividade em tempo RURAL apresenta alguns exemplos
real, mais eficiência e robustez e de superequipamentos que são
menos emissão de poluentes. protagonistas da transformação
As perspectivas são de evolução tecnológica no campo.
tecnológica, mas, no caso do Brasil, *As jornalistas viajaram a convite
a falta de acesso à internet nas zonas da AGCO

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PERSPECTIVAS DE MERCADO
Com a queda dos preços da soja,
as vendas de máquinas agrícolas
deverão cair no Brasil no início de
2024. Mas, no segundo semestre,
com o início do Plano Safra 2024/25
e a provável queda dos juros dos
financiamentos, a tendência é
que os negócios se recuperem.
A expectativa do consultor Carlos
Cogo, que acompanha o segmento
há décadas, é que as vendas de
tratores caiam 5% em 2024, para
51,5 mil unidades. Se a projeção se
confirmar, esse será o segundo ano
de queda consecutivo, já que, em
2023, as vendas diminuíram 8%.
No caso de colheitadeiras, a
perspectiva é de um recuo
de 6% em 2024, para 7,4 mil
unidades, depois de um declínio
de 10% em 2023. A despeito
da retração, as vendas de
máquinas agrícolas estão acima
da média dos últimos dez anos.

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TENDÊNCIAS I TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

MAIOR COLHEITADEIRA DO MUNDO


Durante a Agritechnica 2023,
realizada em novembro em
Hannover (Alemanha), a New
Holland apresentou aos visitantes a
maior colheitadeira do mundo. A CR
11 é uma atualização da CR 10.90,
que até então detinha o recorde
de produção, com 797 toneladas
de trigo colhidas em oito horas.
A nova máquina pode fazer mais de
100 operações de forma
autônoma. Produzida na Bélgica,
a colheitadeira será vendida
inicialmente nos mercados
europeu, americano e australiano,
mas já está em teste no Brasil.

TRATOR MAIS POTENTE


A Case IH prevê que o trator mais
potente do mundo chegará ao Brasil
em 2024. O Quadtrac AFS Connect
715 tem motor que oferece potência
máxima de 778 cv, ou 20% a mais do
que o segundo trator mais potente
do mercado. Em vez de rodas, o
gigante é equipado com esteiras
longas, que melhoram a distribuição
do peso e reduzem o impacto no solo.

MAIS VISIBILIDADE
A Massey Ferguson lançou a nova
série de tratores MF 9S, com seis
modelos, que têm potência entre 285
cv a 425 cv. Com chegada ao Brasil
prevista para 2025, o maquinário
reduz as vibrações e os ruídos da
cabine. Segundo a fabricante, o
motor AGCO Power de 8,4 litros
de seis cilindros com turbo único e
controle de emissões Stage V simples
reduz custos de uso e melhora
estabilidade, tração e produtividade.

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TOTALMENTE ELÉTRICO
Para atender à demanda por
redução de emissões de gases e
também de ruídos, a Fendt lançou
o Fendt 1167 V Vario, um trator
elétrico de bitola estreita movido
a bateria que foi projetado para
operações em espaços fechados,
como estufas. A máquina tem uma
capacidade de bateria de 100 kWh,
o que corresponde a um tempo de
operação de quatro a sete horas.
Ainda não há previsão de lançamento
do trator no mercado brasileiro.

PULVERIZADORES DE PONTA
Já disponíveis no Brasil, os
pulverizadores da Valtra Série R têm
alta tecnologia e o maior vão livre
do mercado (1,65 m). Suas barras
também têm recirculação, o que
melhora a capacidade de manter a
mistura homogênea e a ação de um
sistema de limpeza automático, em
que o operador realiza o processo
sem precisar sair da cabine.
A Série R conta ainda com sistema
de telemetria para monitoramento
avançado e duas câmeras, que
permitem a identificação e solução
imediata de imprevistos, como um
bico de pulverização entupido.

TUDO EM UM
A alemã Nexat criou o que alguns
visitantes da Agritechnica 2023
disseram que pode ser o equipamento
mais ousado dos últimos tempos: um
trator que planta, colhe e faz outros
trabalhos na lavoura. A máquina tem
um transportador intercambiável
de grande envergadura, acionado
eletricamente. Em dez minutos, a
plantadeira vira pulverizador, tudo
FOTOS_ DIVULGAÇÃO

de forma autônoma. Hoje, há 13


unidades em operação no mundo.
A máquina deverá chegar
ao Brasil em 2024.

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TENDÊNCIAS I TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

FAZENDA VERTICAL
Com a tecnologia desenvolvida pela
ASA Automation, espaço já não é
crucial para plantar frutas e hortaliças.
Os alimentos não se desenvolvem no
solo, mas sim em redes de plástico.
O sistema automatizado integra-
se com a esteira que carrega as
mudas entre cada uma das cabines.
A tecnologia, que permite oferecer
o volume ideal de nutrientes, água e
exposição ao LED para cada planta,
conseguiu reduzir em 18% o tempo de
cultivo em comparação com métodos
de agricultura vertical que já existem.

FUTURO DOS MOTORES


A John Deere anunciou na Agritechnica 2023 o conceito
de um motor a etanol de 9 litros, um projeto que se
destina totalmente ao mercado brasileiro, em que o uso
de etanol nos veículos de passeio já está consolidado.
A ideia da empresa é testar o motor no primeiro ano e,
em mais um ou dois anos, lançar no mercado um trator
movido a biocombustível e também autônomo.

ROBÔS VOADORES AUTOMAÇÃO ASSISTENTE AGRÍCOLA


A Tevel desenvolveu robôs voadores A francesa Kuhn apresentou na Graças ao sistema RTK integrado ao
que realizam colheitas nos pomares Agritechnica 2023 a Karl, máquina GPS, que permite enviar atualizações
de maneira autônoma e precisa. 100% autônoma diesel-elétrica instantâneas dos sinais de satélites,
Já em atividade no Chile, Estados com potência de 175 cv, que o Oz, robô da Naïo Technologies,
Unidos, Itália e Israel, o equipamento pesa mais de 10 toneladas. movimenta-se com alta precisão. O
utiliza inteligência artificial avançada Projetada para atender às demandas “assistente agrícola”, projetado para
FOTOS_ DIVULGAÇÃO

com algoritmos de aprendizagem de fazendas de diferentes portes, estufas e fazendas de pequeno porte,
para selecionar e colher as melhores a máquina consegue detectar tem autonomia de bateria de oito horas
frutas, sem causar danos ao alimento, problemas e adotar ações de e é 100% elétrico. O equipamento
preservando a qualidade e o sabor. correção de modo independente. semeia, abre sulcos no solo e capina.

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TENDÊNCIAS I INSUMOS

VACINA DA
MULTIPLICAÇÃO
INICIATIVAS TENTAM AMPLIAR O USO DE INSUMOS BIOLÓGICOS
NA AGRICULTURA FAMILIAR E REVELAM A NECESSIDADE DE
CAPACITAÇÃO DOS PRODUTORES

por ISADORA CAMARGO


ilustração PAULO FERRARI

A
2023,
SSIM COMO OCORREU EM país e administrar seu uso na la-
o potencial de crescimento voura, sem comercializá-los.
dos insumos biológicos se- Atentos ao desafio, pesquisadores
guirá na pauta do agrone- do Campus Avaré do Instituto Fede-
gócio brasileiro no ano que inicia. Os ral de Educação, Ciência e Tecnolo-
atrativos dos bioinsumos são conhe- gia de São Paulo (IFSP) estudaram
cidos – e seduzem cada vez mais pro- cinco tipos de moléculas – registra-
dutores: a pegada de carbono desses das no mercado brasileiro – que po-
insumos é, via de regra, menor que diam ter um crescimento exponen-
a dos convencionais, eles ajudam a cial se manipuladas com auxílio de
melhorar a saúde do solo, aumentam ingredientes inusitados: arroz par-
a eficiência no uso de nutrientes e a boilizado e panela de pressão.
qualidade da produção agrícola. Durante dois anos, a pesquisado-
Também segue a pergunta: é ra Marcela Pavam e sua equipe de
possível ampliar o uso de biológi- dez estagiários testaram diferentes
cos na agricultura familiar? A res- técnicas de reprodução de micror-
posta de pesquisadores brasilei- ganismos benéficos à lavoura até en-
ros é sim, desde que o método seja contrarem o cereal como o meio só-
fácil e não muito custoso. Esse é o lido que teve o melhor resultado em
caso da multiplicação de microrga- pouco tempo de multiplicação. Para
nismos "on farm", sistema em que avolumar as cepas, é necessário sub-
os agricultores podem ter acesso a metê-las a processos de fermentação
bactérias ou fungos registrados no que exigem calor. Por isso, a panela

60 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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TENDÊNCIAS I INSUMOS

de pressão foi a escolha dos cientis-


tas para realizar o processo.

Essa atividade é simples, mas


precisa de acompanhamento técni-
co. Durante suas visitas a proprie-
dades de Avaré, os pesquisadores
ofereceram um kit base para multi-
plicar os microrganismos. Ele conti-
nha seringas com um líquido branco
que carregava o "elixir" de combate
a pragas e insetos comuns em horta-
liças, além de um efeito de nutrição
no solo. É uma espécie de vacina que
inocula a cepa no arroz.
O combo tem ainda saquinhos
plásticos que embalam o arroz co-
zido em alta temperatura. O cereal
passa por cocção para receber a cepa.
Esse "bolor" é o resultado da repro-
dução dos microrganismos que, a
partir daí, poderá ser misturado na to. Hoje, por exemplo, planto 1.200 “Precisamos
água e pulverizado nas plantas. pés por semana e faço um tratamen-
Sidney Fratte, produtor de hor- to melhor no solo antes de plantar a encontrar um
taliças de Avaré, não acreditava na muda", conta o produtor. caminho [para
potência dos biológicos. No entanto, Fratte conta, aos risos, que acha-
percebeu que seus dois hectares de va que produto biológico nem exis- a produção de
horta orgânica renderam mais pés tia. Aos 39 anos, e desde criança na bioinsumos nas
de alface, com folhas mais verdes e lida do campo, essa é a primeira vez
visualmente mais bonitas. que ele utiliza algumas cepas em sua fazendas]"
O experimento está sendo condu- horta. "Eu achava que estava jogan-
zido há seis meses, mas Fratte no- do água suja no pé do tomate, mas,
JERRI ZILLI,
tou os resultados depois de 20 dias com a assistência técnica, fui vendo pesquisador da Embrapa
da primeira aplicação. Segundo ele, os resultados. Agora, não imagino Agrobiologia
pragas como pulgões, que atingem minha área sem o uso desses produ-
principalmente a alface, traça do to- tos", acrescenta. Com a redução de
mateiro, vaquinha e lagarta de rosca custos, o produtor prevê melhorar a
deixaram de atacar a horta. produtividade e já faz planos de co-
meçar a plantar morangos orgâni-
"Cortei 80% dos custos. Já não cos em 2024.
compro mais produto quími- Assim como Fratte, outros pro-
co desde a primeira aplicação. dutores receberam kits em dezem-
Noto a diferença no aspecto da al- bro, quando uma equipe do IFSP
face, além do aumento do número realizou a primeira oficina para en-
de pés, porque antes perdia mui- siná-los sobre bioinsumos, que é re-

62 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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nos e médios produtores para au-


mentar a cartela de fornecedores de
orgânicos, acompanhando um mo-
vimento crescente de produção on
farm no Brasil, enquanto as discus-
sões legais são debatidas nas instân-
cias federais.
"Esse trabalho não é feito em um
contexto de total substituição de in-
sumos químicos. Ao contrário: o
foco é atrair produtores de orgâni-
cos ou que já utilizam bioinsumos
por meio de comunidades de mi-
crorganismos", diz o gerente comer-
cial da companhia, Sérgio Pimenta.
Qualquer produtor pode pro-
duzir microrganismos em sua pro-
priedade se tiver acompanhamento
técnico, com registro do estabeleci-
mento e controle dos microrganis-
mos utilizados ou cepas registradas
BIOLÓGICO NA HORTA
Produtor Sidney Fratte diz sultado de dois anos de pesquisas. no país. Mesmo sendo um méto-
que ataque de pragas caiu "Tudo é feito dentro de um proje- do recente, o uso de biológicos para
na plantação de alface que to de extensão e pesquisa do Insti- controle fitossanitário é disciplinado
recebeu bioinsumos
tuto. Não estamos trabalhando com pela Lei 7.802, de 1989.
novos produtos ou nova cepas, um O Projeto de Lei (PL) 658, de
processo que exigiria etapas legais 2021, que tramita no Senado para
mais complexas, mas sim com aque- contemplar diferentes característi-
las já identificadas como úteis para a cas da cadeia de insumos biológicos,
agricultura e que têm o uso testado e inclui o artigo 9º, conhecido entre os
aprovado de alguma forma", explica produtores e indústria por autori-
a pesquisadora Marcela Pavan. zar a produção de bioinsumos den-
O IFSP testou cinco microrganis- tro das propriedades para consumo
mos, os mais "generalistas", que po- próprio. O texto veta a comercializa-
dem ser aplicados para diferentes ção desses produtos on farm.
funções. São eles: Metarhizium ani- "Não há regulamentação especí-
sopliae, Beauveria bassiana, Bacillus fica e, por enquanto, são regras de
thuringiensis, Bacillus subtilis e Tri- níveis de produção on farm, o que
choderma harzianum. inclui a agricultura familiar. En-
quanto o PL não é aprovado, esta-
A pesquisa tem apoio da Raiar mos no limbo dos bioinsumos. Por
FOTOS_ DIVULGAÇÃO

Orgânicos, cuja granja de ovos está isso, tudo está sendo feito no caráter
localizada no mesmo município, que de projeto de extensão, com compo-
investe no projeto. A empresa diz ter nentes de produtos comerciais", diz
interesse em trabalhar com peque- a pesquisadora Marcela Pavan.

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TENDÊNCIAS I INSUMOS

BIOINSUMOS FERTILIZANTES DEFENSIVOS SEMENTES O cientista frisa que a produção


Integrantes do As indústrias Um cenário Os problemas on farm não pode ser conduzida de
segmento de de fertilizantes de potencial climáticos, em qualquer forma, sem embasamento
bioinsumos estão otimistas aumento da especial no técnico, e precisa responder a dire-
acreditam que de que o ocorrência Centro-Oeste trizes já determinadas pelo Minis-
os projetos cenário em de pragas e e no Norte do tério da Agricultura. “Precisamos
de lei sobre 2024 será doenças em país, deverão suprir a demanda de pequenas, mé-
esse mercado melhor que o virtude dos aumentar a dias e grandes propriedades e preci-
que tramitam de 2023, e os extremos demanda por samos encontrar um caminho [para
no Congresso produtores têm climáticos sementes no o on farm] que não pode ser traçado
Nacional devem a expectativa deve ampliar a ciclo 2024/25. de qualquer forma”, pondera.
sair do papel. de queda demanda dos Para evitar Como saída, Zilli idealiza cons-
As empresas dos preços produtores por perda de truir biofábricas em parceria com
dessa indústria do insumo. defensivos. No produtividade, cooperativas e associações, uma for-
projetam que As entregas ciclo 2023/24, o melhoramento ma de democratizar o acesso a mi-
o mercado podem atingir o mercado genético será crorganismos e dar segurança coleti-
de insumos 46 milhões de brasileiro pode fundamental va aos produtores, como um modelo
biológicos vai toneladas no chegar a até – e, embora de negócios regulado. “O cooperati-
crescer 30% ciclo 2023/24, US$ 20 bilhões, não deva faltar vismo e o associativismo podem reu-
no Brasil em quando as segundo o semente, nir vários produtores e oferecer es-
2024 e ganhar vendas deverão consultor variedades trutura técnica especializada para
espaço entre aumentar Carlos Cogo. resistentes viabilizar o on farm”, avalia.
pequenos 11%, segundo Para 2024/25, podem ficar O pesquisador salienta que mul-
e médios estimativas a projeção é de mais caras ou tiplicar microrganismos não é tão
produtores. da indústria. US$ 18 bilhões. escassas. simples quanto multiplicar semen-
tes. Como exemplo, ele relata que
muitas análises realizadas em la-
vouras com bioinsumos nos últi-
mos anos concluíram que as cepas
dos microrganismos sequer esta-
Biossegurança e efetividade são o vam presentes nas plantações que
outro lado da discussão sobre a pro- supostamente os haviam recebido.
dução on farm de insumos biológi- A maior parte de produtores não
cos. Se, por um lado, o acesso a esses tem conhecimento adequado sobre
produtos segue limitado, até mesmo fungos e bactérias. O pesquisador
para grandes produtores, por outro, vê necessidade de levar capacitação
ainda há argumentos conflitantes a ao campo. Zilli diz que, em um futu-
favor e contra a produção de bioin- ro próximo, também será importan-
sumos dentro das propriedades ru- te debater formas de financiamento
rais, alerta Jerri Zilli, pesquisador público para expandir a tecnologia
em microbiologia do solo da Embra- para hortifrútis, que ainda não vi-
pa Agrobiologia. venciaram a revolução biológica.

64 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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OPINIÃO I VOZES DO AGRO I Edsmar Resende

A revolução global dos insumos agrícolas


EM FORTE EXPANSÃO, O MERCADO DE BIOINSUMOS SE MOSTRA PROMISSOR,
CAPAZ DE COLOCAR O BRASIL COMO UM DESBRAVADOR DESSAS INOVAÇÕES

O
ano de 2023 foi um marco na re- ticas nutricionais nos alimentos para
construção do mercado global que auxiliem em tratamentos de saúde.
de insumos agrícolas. O Brasil Dessa maneira, simplificar esse uni-
lidera esse processo, com a incorpora- verso em duas categorias dará resiliên-
ção de práticas de agricultura sustentá- cia aos insumos agrícolas. Quero dizer
vel e regenerativa que chegam a milhões que eles são capazes de “proteger algo”,
de hectares, como o plantio direto, a fi- como o potencial produtivo, a saúde do
xação biológica de nitrogênio (FBN), o solo ou contra o risco de quebra, e de
sistema de integração entre lavoura, pe- “agregar” – fixar carbono no solo, re-
cuária e floresta (ILPF), a ciclagem de duzir emissões de gases, melhorar a
nitrogênios e o uso de bioinsumos. Elas vidade do CESB, seria possível preser- densidade nutricional dos alimentos,
ganham relevância mundial e surgem var 8,3 milhões de hectares adicionais. combater as mudanças climáticas.
como temas importantes nas discussões Diante de tamanha movimentação, Com tantos diferenciais, o merca-
sobre mudanças climáticas, segurança fica a pergunta: qual será a próxima ala- do de bioinsumos tem se movimenta-
alimentar, saúde do solo, fixação de car- vancagem no universo de insumos? do rapidamente. A venda da Biotrop
bono e biodiversidade. Os fertilizantes serão os mais im- para a belga Biobest, em setembro de
A Embrapa reiterou o potencial dos pactados. No setor sucroalcooleiro, o 2023, por R$ 2,8 bilhões, não deixa
bioinsumos ao compartilhar a infor- impacto desses insumos na emissão dúvida da dimensão dessa transfor-
mação de que o Brasil deixou de im- de gases do efeito estufa tem levado a mação e do apetite do setor para ace-
portar US$ 12 bilhões em fertilizan- uma corrida por novas rotas de pro- lerar essas mudanças.
tes químicos devido ao uso acentuado dução, fontes alternativas, ciclagem de Por isso, diante de um cenário de tan-
de inoculantes. Na COP 28, em Dubai, nutrientes e novos processos de ma- tas possibilidades, olhar apenas para o
surgiu um movimento de advocacy nuseio no campo. Com isso, a aplica- passado pode nos dar informações con-
para dar consciência sobre quanto os ção de fertilizantes líquidos com a vi- fusas e não nos ajudar a entender com
microrganismos e os bioinsumos ori- nhaça e de processos de irrigação que precisão a rapidez das mudanças que
ginados deles são relevantes para o en- reduzem emissões e de adubação bio- estão acontecendo. É importante consi-
frentamento das mudanças climáticas. lógica ganham espaço. derarmos que os bioinsumos se anun-
Um estudo recente do Comitê Estra- Os insumos biológicos são multifun- ciam como um mercado promissor, ca-
tégico Soja Brasil (CESB) apontou que, cionais. Podemos classificá-los como paz de colocar o Brasil e sua agricultura
considerada a produtividade das sa- defensivos biológicos, mas também tropical como um desbravador das ino-
fras 2013/2014 e 2022/2023, o Brasil como bioestimulantes ou biofertili- vações biológicas, o que reforça para o
deixou de usar 10,4 milhões de hecta- zantes. Essa versatilidade permite, por mundo a beleza da bioeconomia.
res para o plantio de soja graças à ado- exemplo, agregar benefícios que não
ção de biotecnologia e de práticas agrí- têm enquadramento legal, como elevar
colas sustentáveis. Ainda segundo o a pontuação de um tipo de grão de café, Edsmar Resende é advogado, sócio
da gestora Tarpon 10b, alpem de
estudo, se toda a cadeia produtiva do ampliar o "shelf life" de frutas e verdu- um cross-pollination apaixonado por
Brasil estivesse nos níveis de produti- ras ou até mesmo estimular caracterís- conectar pessoas, ideias e negócios

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O AGRO É DEL AS I TR ABALHO

PIONEIRAS NO PORTO
ADM AMPLIA PRESENÇA FEMININA EM SEU MAIOR TERMINAL
DE EXPORTAÇÃO DE GRÃOS NO BRASIL
por NAYARA FIGUEIREDO, de Santos (SP)*
fotos THIAGO DE JESUS

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FORÇA FEMININA
Em dez anos, o
número de mulheres

D
trabalhando no porto de
Santos aumentou 65%
epois de oito anos trabalhando como ope-
radora de empilhadeira, Mariana Pugliesi
embarcou em um novo desafio: o terminal
portuário de grãos da trading Archer Da-
niels Midland (ADM), em Santos (SP). Há
quase dois anos na companhia, que é uma das maio-
res exportadoras de commodities do mundo, ela pas-
sou pelas funções de auxiliar e assistente de operações,
até que, em setembro, tornou-se a primeira mulher a
operar um equipamento no terminal.
“Eu já trabalhei em outra empresa operando máqui-
na, então já tinha experiência na área operacional e com
equipamentos”, conta Mariana, de 37 anos, em frente ao
tracionador com que ela movimenta vagões ferroviários
repletos de toneladas de soja e milho. “As mulheres têm
capacidade, só têm que se especializar, fazer cursos. Eu
me especializei nas máquinas, mas existem outras áreas
aqui dentro do porto em que elas podem ir. Vai de acordo
com a característica que cada uma tem”, afirma.

Em 2017, Patrícia Ribeiro de Mello entrou na


ADM como estagiária. Ela foi efetivada como as-
sistente administrativa dois anos depois: passou para
a área de planejamentos da companhia e, em 2022, foi
promovida ao cargo de supervisora de programação e
controle de produção no terminal do porto de Santos.
A oferta de uma cadeira na supervisão aconteceu no
momento em que ela estava gestante.
Passada a licença-maternidade, Patrícia entrou em
uma fase com a qual todas as mães se identificam: ama-
mentação, uma noite mal dormida, um dia em que o fi-
lho ficou doente, uma febre, a jornada dupla. E nenhum
desses desafios foi – nem deve ser – impedimento para
que a carreira profissional continue a avançar.
Hoje, além de responsável pelo controle de todas as
cargas que chegam ao terminal da ADM nas vias rodo-
viária e ferroviária, ela também é uma das responsáveis
pelo programa de inclusão e diversidade de gênero no
local. “Chegou um momento em que olhamos para den-
tro de casa, no porto, e vimos que existia a oportunida-
de de incluir mulheres. Começamos então com o projeto
de inclusão e com as adaptações para recebê-las”, conta.
O projeto que Patrícia mencionou teve início em mea-
dos de 2020, com trabalhos de planejamento e de estru-
tura que seriam necessários para o aumento da ocupação

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O AGRO É DEL AS I TR ABALHO

PIONEIRISMO_Mariana Pugliesi é a primeira mulher a operar um equipamento no terminal

feminina. Houve análise de ergonomia e construção do a visita. “Acho que essa foi a primeira vez em que eu
vestiário feminino, por exemplo. Outra mudança estru- vi inclusão, de fato. Elas nos mostraram aqui o que
tural foi a construção de um lactário que, posteriormente, realmente interessa, o que também mostrariam para
ela própria utilizou no período de amamentação. um homem”, afirmou a agricultora Lizandra Zambo-
ni durante a passagem pelo local. Proprietária de uma
Para complementar o processo de inclusão, a ini- fazenda de 1,2 mil hectares de soja e milho em Mato
ciativa incluiu também preparação psicológica, princi- Grosso do Sul, ela conta que está há 15 anos no setor
palmente dos líderes, para que as funcionárias tivessem agrícola e que sua percepção é como a de qualquer ou-
voz e pudessem também ser avaliadas por seus poten- tro produtor rural, sem distinção de gênero.
ciais em planos de carreira. Outra medida foi a criação
de uma roda de conversa somente para mulheres, para O número de mulheres trabalhando no porto de
que elas pudessem trocar experiências sobre o trabalho. Santos, o maior da América Latina, aumentou cerca de
Com as adaptações, a companhia foi ao mercado em 65% no intervalo de dez anos até 2020, de acordo com
2022 para buscar novos talentos, já que, até então, a o estudo mais recente sobre o tema feito pelo Centro
ADM Santos já contava com colaboradoras, mas ape- de Inteligência de Mercado da Strong Business School,
nas nas áreas administrativas. Em janeiro daquele ano conveniada à Fundação Getulio Vargas (FGV).
(um mês antes de as mulheres entrarem na operação), No período considerado na análise, a contigente de ho-
a unidade contava com 28 colaboradoras. Depois, já mens no porto aumentou 42,21%, de 4.930 para 7.021. Já
com o programa ativo, o número total subiu para 62. o número de mulheres subiu 64,92%, passando de 764
“O grande desafio agora é mantê-las. É fazer com que para 1.260. Ainda de acordo com o estudo, a média sala-
cheguem mais longe, construir com elas uma carreira rial dos homens subiu 60,5% nesse intervalo, passando
dentro do porto”, destaca a supervisora. de R$ 3.484,84 para R$ 5.593,07, e a das mulheres cres-
ceu 76,78%, passando de R$ 2.765,19 para R$ 4.888,43.
Em outubro, a ADM levou um grupo de 12 produ- A renda média das mulheres cresceu mais que a dos ho-
toras rurais para uma visita ao seu terminal de expor- mens, mas, como se vê, a remuneração das profissionais
tação de grãos em Santos para que elas conhecessem seguiu abaixo da do público masculino.
a rota que a carga faz desde a entrada no porto até o
embarque no navio. A GLOBO RURAL acompanhou *A jornalista viajou a Santos a convite da ADM

68 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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Inovação contra emissões


O 8º PRÊMIO FAZENDA SUSTENTÁVEL VAI DESTACAR AS MELHORES
INICIATIVAS DE PRODUTORES VOLTADAS À DESCARBONIZAÇÃO

A
CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS de 2023, a COP 28, destacou
que o mundo precisa acelerar a adoção de práticas voltadas à descarbonização, sobre as
quais já houve entendimentos em conferências anteriores. A meta de neutralizar as emis-
sões de carbono na cadeia agropecuária até 2050 – para, com isso, ajudar a impedir que
a temperatura média do planeta suba menos que 1,5ºC até o fim do século – ganhou espe-
cial atenção, principalmente depois de meses de temperaturas elevadas em várias partes do mundo.
As indústrias de insumos correm para desenvolver ou importar formulações mais resistentes aos
efeitos do aquecimento global e que também representem o menor volume possível de emissões. Em-
presas brasileiras de sementes, por sua vez, apostam no melhoramento genético de grãos que tam-
bém sejam mais resistentes às mudanças climáticas e ajudem a diminuir a emissão de poluentes.
Há mais de três anos, Júlio César Pereira Júnior, proprietário da Fazenda Pombo, de Uberlândia
(MG), transformou os cuidados com a lavoura ao adotar manejo híbrido de químicos e biológicos,
além de manter plantas nativas para compor as áreas com centenas de hectares de grãos. Recente-
mente, ele passou a testar o uso de pó de basalto para aumentar a absorção de nitrogênio no solo, o
que reduz a liberação na atmosfera de gases causadores do efeito estufa.
Inovações como essa tornam possível executar projetos de restauro ecológico de áreas florestais
degradadas. Em outra iniciativa, pesquisadores da Ambipar desenvolveram um bioinsumo a partir
de dejetos da celulose. O material é colocado em uma cápsula de colágeno, também biológica, que é
lançada por drones. Inicialmente, o trabalho se concentra em uma área de 10 hectares em São Sebas-
tião (SP), destruída pelas chuvas em fevereiro de 2023.
As biocápsulas contêm sementes de 20 espécies de plantas nativas, que ajudarão a reflorestar a re-
gião. Segundo o diretor de pesquisa da Ambipar, Gabriel Estevam, no futuro, os moradores poderão
obter alimentos dessas plantas – algumas delas são de frutas e castanhas.
As práticas de descarbonização serão destaque no Prêmio Fazenda Sustentável, que em 2024 che-
ga a 8ª edição. Mais informações no site GLOBORURAL.COM.BR.

RE ALIZ AÇÃO PATROCÍNIO

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CRÉDITO E INVESTIMENTO I JUROS

VIÉS DE BAIXA
A TAXA SELIC ESTÁ EM SEU MENOR NÍVEL DESDE MARÇO
DE 2022, E AS APOSTAS SÃO DE QUE SEGUIRÁ EM QUEDA.
NO AGRO, ISSO INDICA JURO MENOR AINDA EM 2023/2024

por PATRICK CRUZ e RAFAEL WALENDORFF

N
O DIA 13 DE DEZEMBRO, em sua última reunião Ainda assim, a diminuição da taxa básica pode abrir
do ano de 2023, o Comitê de Política Mone- caminho para o barateamento do custo dos empréstimos
tária (Copom) do Banco Central anunciou para o campo ainda na safra 2023/2024. Como já ocorreu
um novo corte na Selic, a taxa básica de ju- em cortes anteriores da Selic, a tendência é que a decisão
ros da economia brasileira. Com a redução, do Copom – a mais recente, mas também as que estão por
de 0,5 ponto percentual, cresceram as apostas de que, até vir – leve à redução, entre outros, dos juros livres do cré-
o fim de 2024, o índice voltará a ser de um dígito. Depois dito rural de curto prazo. Além disso, o quadro já permite
do corte de dezembro, a taxa básica está agora em 11,75% antever que o custo do dinheiro na safra 2024/2025 será
ao ano, seu menor patamar desde março de 2022. menor do que o da atual temporada agrícola.
Quando reduz a Selic, o BC muda a base de cálculo das E demanda por recursos não falta. Segundo o Ministé-
taxas de juros de toda a economia. Isso inclui, por exem- rio da Agricultura, os desembolsos do crédito rural nos
plo, linhas para a compra de automóveis, empréstimos cinco primeiros meses do Plano Safra 2023/2024 chega-
pessoais, operações de financiamento imobiliário – e, ram a R$ 217 bilhões, montante 15% maior que o do mes-
claro, o crédito rural. A decisão do Copom nem sempre mo período da safra anterior. Esse total corresponde a
tem efeito imediato sobre os empréstimos que os produ- 50% do valor que foi programado para a atual safra para
tores rurais tomam no banco, é verdade, nem é sinônimo todos os produtores (pequenos, médios e grandes), que é
FOTO_ GETTY IMAGES

de crédito mais barato em todas as modalidades: o corte de R$ 435,8 bilhões. Do pouco mais de 1 milhão de opera-
da Selic não altera as condições das linhas que têm juros ções de empréstimo fechadas até novembro, 737,5 mil fo-
controlados, em que as condições estão definidas e segui- ram de linhas do Programa Nacional de Fortalecimento
rão em vigor até junho de 2024. da Agricultura Familiar (Pronaf).

70 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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OLHOS ATENTOS
O evento reuniu
executivos, produtores
rurais, representantes
de entidades de classe
e outros profissionais
ligados ao agro

Futuro em debate
FÓRUM FUTURO DO AGRO COLOCA MUDANÇAS CLIMÁTICAS,
BIOINSUMOS E CONECTIVIDADE NO CENTRO DAS DISCUSSÕES

F
oi direto da lavoura, por vídeo, que o produtor classe, produtores rurais e outros profissionais ligados ao
rural Paulo Bertolini, de Castro (PR), participou agro. Participaram do painel sobre bioinsumos Cristiane
da abertura do 2º Fórum Futuro do Agro, even- Delic, líder de negócios para biológicos da Corteva, Regis
to realizado pela GLOBO RURAL no dia 13 de Damasio, diretor-superintendente da Monteccer, a pes-
novembro (na foto 5, na página ao lado), em São Paulo. quisadora Christiane Paiva, da Embrapa Milho e Sorgo,
Bertolini integrou as discussões do painel sobre conec- e Edilene Cambraia, diretora de Sanidade Vegetal e In-
tividade, que contou ainda com Klaus Apolinario, ges- sumos do Ministério da Agricultura.
tor da plataforma E-agro, Ana Helena Andrade, presi- E, no painel sobre clima, os debates foram entre José
dente da ConectarAGRO, e Renata Miranda, secretária Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas
de Inovação do Ministério da Agricultura. de Desastres Naturais (Cemaden), Paula Packer, chefe-ge-
O evento atraiu empresários, executivos, representan- ral da Embrapa Meio Ambiente, Amália Sechis, fundadora
tes de organizações não governamentais e de entidades de da Beef Passion, e o meteorologista Willians Bini.

PATROCÍNIO

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3 4

O AGRO EM DISCUSSÃO
Registros do 2º Fórum Futuro do
Agro: o painel sobre mudanças
climáticas (1); Amália Sechis,
da Beef Passion (2); Cristiane
Delic, da Corteva (3); público na
chegada ao evento (4); painel
FOTOS_ FLAVIO SANTANA/ED. GLOBO

sobre conectividade no campo


(5); a apresentadora Cássia
Godoy, da CBN (6); e Renata
Miranda (Ministério da Agricultura)
e Klaus Apolinario, da E-agro (7)

PARCERIA REALIZAÇÃO

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AS CAMPEÃS
Representantes das empresas
vencedoras do prêmio Melhores
do Agronegócio 2023: escolha
com base nos resultados financeiros
das companhias e também em seus
esforços em sustentabilidade

A FESTA DO AGRO
PERTO DE COMPLETAR DUAS DÉCADAS, PRÊMIO CELEBRA AS
EMPRESAS QUE MAIS SE DESTACARAM NO AGRONEGÓCIO NO
ÚLTIMO ANO E ATESTA MAIS UMA VEZ A FORÇA DO SETOR

por REDAÇÃO GLOBO RURAL

A
entrega do Prêmio Melhores do Agronegócio para além de reconhecer os destaques de cada indústria
2023, que ocorreu no dia 29 de novembro, em ligada à atividade agropecuária, o Melhores do Agrone-
São Paulo, foi, assim como nos anos anteriores, gócio reiterou mais uma vez a força do campo no Brasil.
a celebração das companhias que mais se desta- Segundo a nova edição do Anuário do Agronegócio, pu-
caram em suas respectivas áreas de atuação. Com base em blicação que apresenta as vencedoras do prêmio, o fatu-
meodologia desenvolvida pela Serasa Experian, que con- ramento das 500 maiores empresas do agro brasileiro
sidera critérios financeiros e também de sustentabilidade, alcançou R$ 1,6 trilhão em 2022. O montante, recorde,
a GLOBO RURAL premiou empresas de 21 segmentos e tam- foi 19% maior do que o do ano anterior.
bém as vencedoras em três categorias especiais (Susten- Essa foi a 19ª edição do Melhores do Agronegócio,
tabilidade, Maior Empresa e A Melhor entre as Pequenas premiação que, ao longo dos anos, consolidou-se como
e Médias). Da lista geral de melhores saiu a Campeã das a maior e mais tradicional do agro no país. Em 2024, o
Campeãs, troféu entregue à GDM, de biotecnologia.Mas, prêmio vai completar duas décadas.

Patrocínio Apoio

74 I GLOBO RURAL JANEIRO 2024 globorural.globo.com


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3 4

CELEBRAÇÃO
Registros do Prêmio Melhores
do Agronegócio 2023: debate
sobre inovação no campo antes
da entrega dos troféus (1);
FOTOS_ ALEXANDRE DI PAULA/ ED. GLOBO

público no evento (2); o modelo


VW Meteor (3); Felipe Duch
(BB); troféus das campeãs (5);
Fernanda Delmas (Valor/Globo
Rural) e a apresentadora Cristina
Vieira (6); e músicos da Orquestra
Paulistana de Viola Caipira (7)

Pesquisa Realização

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A N Á L I S E I T E M P O I Nadiara Pereira/Climatempo

Chuvas irregulares no Centro-Oeste

A
partir de janeiro, a previsão é de que ocorra uma ligeira mudança no Mundo
padrão de distribuição de chuvas no Brasil. As precipitações tendem a
se distribuir mais pelo interior do país, chegando até o Nordeste. ARGENTINA_ Como já se esperava,
com a ação do fenômeno El Niño,
as chuvas se intensificaram na Ar-
Sul_ No Sul do país, a expectativa é de que o volume de chuvas fique aci- gentina nas últimas semanas de
ma da média na maior parte dos três Estados da região, mas as precipita- 2023. O aumento do volume de
ções devem ser menos intensas do que as dos meses anteriores, ocorrendo água, apesar de afetar as ativida-
em alternância com períodos mais longos de sol, o que tende a favorecer o des no campo em alguns momen-
desenvolvimento das lavouras. As temperaturas ficarão um pouco acima tos, ajudou a elevar a umidade no
do normal entre o norte do Rio Grande do Sul e o Paraná, mas não são es- solo, o que favorece o bom desen-
perados extremos de calor como nas demais regiões do Brasil. volvimento das lavouras de soja.
Nesse ciclo, a produção argentina
Sudeste_ Em janeiro, a tendência é que as frentes frias avancem um deve ser melhor que a dos anterio-
pouco mais pela costa do Brasil, contribuindo para a ocorrência de chu- res, que tiveram a influência do La
vas mais generalizadas e com volumes significativos, acima da média, Niña, responsável pela ocorrência
sobre parte do Sudeste, especialmente entre o Espírito Santo e a metade de seca e por grandes quebras de
leste de Minas Gerais. Também pode chover acima da média, de forma produtividade. As projeções são de
pontual, entre o Rio de Janeiro e o leste de São Paulo. Ao mesmo tempo, colheita de 17,3 milhões de hecta-
grande parte do interior de São Paulo, Triângulo e oeste mineiros devem res na atual safra de soja. A grande
enfrentar irregularidade mais acentuada. O calor vai continuar acima maioria das lavouras plantadas está
da média, e as temperaturas máximas tendem a ser bastante elevadas. em condições boas ou excelentes,
e a tendência é de que ocorram
Centro-Oeste_ No Centro-Oeste, as chuvas continuarão irregulares e chuvas acima da média nos próxi-
abaixo da média, especialmente em Mato Grosso, oeste de Mato Grosso do mos meses. Dessa forma, nas prin-
Sul e oeste de Goiás. Em janeiro, mês normalmente muito chuvoso, o tem- cipais áreas produtoras, especial-
po seco tende a beneficiar a colheita da soja, mas, por outro lado, deve ter mente na região central do país, a
impactos localizados sobre o plantio do milho segunda safra. As áreas les- produtividade deverá ser boa.
te de Mato Grosso do Sul e de Goiás devem enfrentar um mês mais úmi-
do do que o normal, e a maior parte da região terá calor acima da média. ÍNDIA_ Devido aos efeitos do El Niño
e do Dipolo do Oceano Índico, um
Norte_ No Norte do país, a previsão é de que o mês de janeiro será mais aumento anormal das temperaturas
seco do que o normal. A região costuma receber volumes muito expres- da superfície desse oceano, a Ín-
sivos de água nessa época, o que significa que a diminuição da umidade dia enfrentou atraso na regulariza-
não representará ausência de chuvas, e sim que os episódios ocorrerão ção das chuvas e falta de umidade
na forma de pancadas, isoladas e de baixo volume. Com isso, as chuvas para o desenvolvimento dos cana-
serão insuficientes para se atingir o que é normal para esse período. viais. Com isso, houve uma redução
significativa nas projeções de pro-
Nordeste_ O avanço de frentes frias pela costa do Brasil deve aumen- dutividade da safra que começou
tar a umidade também no interior do Nordeste. Por um lado, a chuva é em outubro, o que levou o país, o
um alívio para áreas afetadas pela seca, mas, por outro, o volume aci- segundo maior produtor mundial de
ma da média em áreas como o oeste da Bahia pode acentuar a prolife- açúcar, a restringir as exportações
ração de doenças e prejudicar o desenvolvimento de lavouras. do produto no ciclo 2023/2024.

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ANOMALIA DE CHUVAS EM JANEIRO


NO MAPA, AS ÁREAS EM AZUL INDICAM PRECIPITAÇÕES
ACIMA DA MÉDIA E, NAS QUE ESTÃO EM LARANJA, O
TEMPO DEVERÁ SER MAIS SECO DO QUE O NORMAL
AS INFORMAÇÕES SÃO DA CLIMATEMPO [email protected] / WWW.CLIMATEMPO.COM.BR

-500 -300 -200 -100 -50 -25 0 25 50 100 200 300 500

Terceiro El Niño mais forte da história


Temperaturas da superfície do mar acima da mé- ção da previsão consenso de novembro indicava
dia em todo o Oceano Pacífico equatorial passa- probabilidade de 35% de o evento se tornar "his-
ram a indicar a ação de um El Niño muito forte, toricamente forte" (≥ 2°C no índice Niño 3.4) en-
com anomalias se acentuando no Pacífico cen- tre novembro e janeiro, limiar que foi atingido no
tral e centro-leste nas últimas semanas de 2023. início de dezembro. Caso ele se mantenha nesse
A previsão da Agência Oceânica e Atmosférica patamar, este será, no mínimo, o terceiro El Niño
dos Estados Unidos (NOAA) indica probabilidade mais forte da história, ficando atrás apenas dos
de mais de 80% de o El Niño continuar durante eventos de 1997/1998 e do mais intenso regis-
o outono de 2024 no Hemisfério Sul. A atualiza- trado até hoje, o de 2015/2016.

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C O M O P L A N TA R I L Í N G U A - D E - V A C A I J o ã o M a t h i a s

Semelhantes, mas diferentes

T
radicionais em pratos típicos nhecida popularmente como joão-go- lista de atrativos da planta está ain-
regionais, duas espécies de mes, major-gomes, maria-gorda, bel- da sua rusticidade. Com facilidade de
plantas alimentícias não con- droegão e ora-pro-nóbis-miúda. Essa adaptação, ela exige cuidados simples
vencionais do gênero Talinum che- variedade costuma ter folhas em tom e sofre pouca incidência de pragas, o
gam a compartilhar nomes, o que faz de verde mais escuro na fase vegetati- que faz dela uma ótima alternativa de
com que muita gente confunda uma va, mas é no florescimento que as di- plantio em canteiros, especialmente
com a outra. Mas, embora elas te- ferenças entre as espécies ficam mais durante o verão quente e chuvoso.
nham várias semelhanças, cada uma evidentes: enquanto as flores da T. Herbácea, a língua-de-vaca tem cau-
tem características próprias. A varie- paniculatum são diminutas e as inflo- le ereto, simples ou ramificado e che-
dade que é conhecida como língua- rescências têm hastes altas, as da T. ga a uma altura de 15 a 40 centímetros.
de-vaca (Talinum fruticosum), no Nor- fruticosum são cor-de-rosa e maiores, Quando novas e tenras, as folhas su-
deste, especialmente na Zona da Mata com hastes mais curtas. culentas são usadas cruas em saladas,
de Pernambuco e em Alagoas, é cha- Com presença mais frequente nas mas muitos consumidores as preferem
mada de cariru; no Amazonas e no mesas da população que vive no cen- refogadas ou cozidas em sopas, ome-
Pará, estados em que sua comercia- tro-norte do Brasil, a língua-de-vaca letes ou no preparo de cardápios com
lização já se estabeleceu em feiras de também pode ser uma hortaliça ren- carnes, peixes ou camarão. Por ser fon-
rua, quitandas e até supermercados. tável para produtores do restante do te de zinco, ferro, molibdênio, selênio e
Em Goiás, Tocantins, norte de Mi- país, já que existe um grande poten- manganês, conter fibra e ter baixo valor
nas e oeste da Bahia, língua-de-vaca cial a se explorar no mercado com- calórico, a hortaliça é alternativa para
é a Talinum paniculatum, também co- prador das regiões Sudeste e Sul. Na minimizar carências nutricionais.

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As raízes espessas da língua-de- gem com propriedades emolientes planta ornamental. As hastes florais
vaca são comestíveis – ainda que tem benefícios nos cuidados com fe- cortadas em arranjos, ou a muda cul-
seu consumo não seja usual – e têm ridas, eczemas e cicatrizações. tivada em vasos ou jardineiras, enfei-
aplicações na medicina popular, em Por ter flores róseas e frutos verdes, tam ambientes internos e externos. A
tratamentos de diabetes, sarampo e amarelos e alaranjados, a língua-de- planta é nativa do Brasil, e seu cultivo
constipação. O alto teor de mucila- -vaca também é considerada uma disseminou-se também na Nigéria.

MÃOS À OBRA
SOLO_ de preferência
bem drenado e rico
em matéria orgânica
INÍCIO_ É possível colher PROPAGAÇÃO_ Embora mas o espaçamento mais
CLIMA_ tropical, com
língua-de-vaca de de manuseio difícil em adequado pode variar a
fácil adaptação ao clima
plantas que nascem virtude de suas pequenas depender do clima e da quente ou úmido
espontaneamente em dimensões, as sementes fase de desenvolvimento –
lugares como margens coletadas a campo podem se mais nova e tenra ou um ÁREA MÍNIMA_ pode ser
plantada em canteiro
de estradas e em meio ser semeadas diretamente pouco maior – se deseja
a culturas e jardins. No no local definitivo ou em colher a língua-de-vaca. COLHEITA_ de 1
entanto, a aquisição de bandejas. A opção mais a 2 meses após o
mudas de produtores com frequente é a aplicação do TRATOS_ Para se obter início do plantio
mais experiência no manejo método de estaquia, que produtividade e plantas
CUSTO_ a língua-de-
da hortaliça pode ser é realizado com estacas com folhas mais graúdas, vaca pode ser coletada
também uma oportunidade de 5 a 10 centímetros e o a recomendação é adubar de plantios espontâneos,
mas é preciso ter
para se obter diferentes transplante feito quando a cultura com composto
conhecimento para a
dicas de plantio. Além atingirem de 10 a 15 orgânico, com volume planta pegar; em Manaus,
disso, é plenamente viável centímetros de altura. que pode ser de 5 a 10 Belém e Recife, o maço
custa de R$ 2 a R$ 4
propagar mudas a partir litros por metro quadrado,
de um maço comprado PLANTIO_ Apesar de ter de acordo com teor de
no mercado ou na feira. brotação fácil em diferentes matéria orgânica do solo.
tipos de solos, a língua- Irrigação semelhante à
AMBIENTE_ Com boa de-vaca ocorre de modo aplicada em canteiros PRODUÇÃO_ De 30 a 60 dias
adaptação a diferentes espontâneo na natureza. Em comerciais de alface após o plantio, a língua-
condições climáticas, a canteiros de cultivo, os solos contribui para assegurar de-vaca atinge o ponto
língua-de-vaca cresce nos mais indicados são os ricos a produção continuada. de colheita, sendo mais
períodos de chuva tanto em matéria orgânica e bem Em plantios em quintais, a precoce quanto maior for
sob a elevada umidade da drenados. Quanto à textura rega não será necessária o calor. Pode-se realizar
região amazônica quanto da terra, a planta aceita quando a produção for dois, três ou até mais
no calor escaldante do todas, desenvolvendo-se em mais abundante em cortes (colheitas) até que a
semiárido nordestino. áreas de caatinga, várzea, períodos de calor e chuva planta comece a apresentar
Planta que precisa de restinga e até floresta. nem quando houver muito florescimento, o
sol pleno, a espécie dormência das plantas ou que é indesejável para
se desenvolve melhor ESPAÇAMENTO_ A indicação das sementes dispersas o consumo porque ele
em locais que recebem é deixar de 15 a 20 no solo na época mais deixa a língua-de-vaca
luminosidade solar direta. centímetros entre as plantas, seca e fria do ano. mais fibrosa e leitosa.

CONSULTORIA_ CICERO DESCHAMPS, PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, JARDIM DAS AMÉRICAS, CURITIBA (PR) ONDE COMPRAR_ SEMENTES SÃO VENDIDAS EM CASAS AGROPECU-
ÁRIAS MAIS INFORMAÇÕES_ INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DO PARANÁ (IDR-PARANÁ/IAPAR/EMATER), RUA DA BANDEIRA, 500, CABRAL, CEP 80035-270, CURITIBA (PR), TEL. (41) 3250-2100, OU
RODOVIA CELSO GARCIA CID, KM 375, CEP 86047-902, LONDRINA (PR), TEL. 43 3376-2000

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COMO CRIAR I CISNE I João Mathias

Formoso e resistente

A
combinação de beleza e rusti- tem pescoço longo e é o de maior por- a cabeça para comer uma ou outra ve-
cidade faz com que o cisne seja te entre seus pares aquáticos. Ele che- getação submersa. Para animais cria-
uma criação com a qual é fácil ga a ter mais de 1,5 metro de altura, dos em cativeiro, a alimentação é à
de lidar e que dá bom retorno finan- 15 quilos de peso e 3 metros de enver- base de ração industrializada, que o
ceiro. Dois atrativos ideais para quem, gadura das asas. Embora a cor bran- cisne aceita bem mesmo tendo serri-
mesmo com pouca experiência, está ca seja a mais conhecida de sua plu- lhas no interior do bico. Como dentes
interessado em iniciar uma nova ativi- magem de visual atraente, há também pequenos e irregulares, as serrilhas
dade no manejo de animais para incre- variedades do animal cobertas por pe- servem para triturar os alimentos ao
mentar o orçamento mensal. De gestos nas em diferentes colorações. Exótico, longo dos cerca de 20 anos de idade
delicados e suaves, o cisne é uma ave o pássaro tem ainda bicos diferentes, que o animal vive, se bem cuidado.
de movimentos elegantes dentro e fora que podem ser vermelhos ou amare- Para dar longevidade à criação e do-
da água. Ele ornamenta ambientes em los, com uma saliência negra na base mesticá-la, a formação de casais é es-
sítios, chácaras, hotéis-fazenda, resi- ou não, enquanto as patas, curtas, são, sencial. Monogâmico, o cisne gosta de
dências com áreas externas amplas e em sua maioria, cinza-escuro. ficar sempre junto da companhia, em
estabelecimentos públicos, como par- Lago ou qualquer outro tipo de espe- constante namoro, entrelaçando os pes-
ques ecológicos, jardins botânicos e lho d’água que ofereça tranquilidade coços quando estão prontos para o aca-
o entorno de prédios de museus e bi- são os locais onde o cisne passa a maior salamento, que ocorre na água. Aliás, é
FOTO_ RAW PIXEL

bliotecas, o que oferece ao criador um parte do tempo. Por isso, não pode fal- principalmente no período de reprodu-
amplo mercado de vendas. tar na propriedade lugar para a ave na- ção que o cisne mostra que não é uma
Parente do ganso e do pato, o cisne dar, onde ela também possa mergulhar ave mansa quando se sente ameaçada.

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Porém, em manejos que não provocam a saúde, além de fornecer nutrição de


CRIAÇÃO MÍNIMA_
estresse, o animal apresenta-se em toda qualidade e abrigo para proteção con- 1 macho e 1 fêmea
a sua graciosidade e pode inclusive, em tra chuva, sol e ventos fortes. Apesar
atividade consorciada, dividir espaço de ser resistente, o animal, quando CUSTO_ o casal de cisnes
jovens sai por preços
com peixes, como tilápia ou carpa. bem tratado, é mais formoso, altivo e entre R$ 3.000 e
A lida do cisne é simples e exige vivaz, embora seu movimento desa- R$ 4.000, e o de adultos,
pouco trabalho, sendo a vermifugação jeitado de andar em terra seja uma ca- de R$ 6.000 a R$ 8.000
anual o cuidado mais importante com racterística da espécie.
RETORNO_ a partir
do terceiro ano

MÃOS À OBRA REPRODUÇÃO_ os


números de posturas e
de ovos são diferentes
INÍCIO_ Como a fêmea do nome sugere, tem penas e pequena estrutura para entre as variedades
cisne é boa reprodutora, é patas pretas, com destaque acomodação dos cisnes.
possível começar a criação branco na ponta do bico
com apenas um casal. Na de cor vermelho-carmim. ÁGUA_ Como o cisne
escolha das matrizes, não Ele não tem carúnculas, é uma ave aquática, espelho d’água, já que o
é fácil a tarefa de distinguir assim como o selvagem até para se reproduzir cisne passa a maior parte
o gênero, mas o peso é um cisne-castor, que tem ele precisa de um lago do tempo nadando.
atributo que ajuda nessa bico negro e amarelo. ou um tipo de tanque
tarefa: o macho pesa de artificial à disposição. A REPRODUÇÃO_ No terceiro
6 quilos a pouco mais AMBIENTE_ Resistente às recomendação é que a ano de vida, fêmeas e
de 8 quilos, enquanto a intempéries e rústico, o que área com água tenha, machos estão prontos para
fêmea, que fica na casa faz com que ele se adapte pelo menos, 2 metros de acasalar. O número de
dos 5 quilos, é menor. às diferentes regiões do largura e 70 centímetros posturas e ovos é diferente
país, o cisne não tem de profundidade. O para cada variedade: o cisne
VARIEDADES_ Um dos problema para enfrentar importante, contudo, é branco tem uma postura no
cisnes mais procurados as diferentes condições que o local tenha espaço ano e gera sete ovos, e o
é o branco-europeu, que climáticas do território que permita que os negro da Austrália produz
é o mais caro também, nacional. A lida com a ave cisnes se movimentem de três a cinco ovos em
porque gera sete ovos em pode ocorrer em todos sem dificuldades. cada uma das três a quatro
uma única postura no ano. os estados brasileiros. posturas anuais. Com a
Ele tem bico avermelhado ALIMENTAÇÃO_ O cisne penugem da barriga e do
e faz parte dos cisnes ABRIGO_ Além de dar come ervas, raízes, folhas, peito, ou juntando gravetos
que têm carúnculas, uma à ave um local com as brotos e até pequenos e plantas aquáticas, a mãe
deformidade próxima características do hábitat peixes. Na criação, no modela o ninho perto da
dos olhos semelhante a natural da ave, com pasto entanto, o indicado é água e faz o choco, de 35
um conjunto de verrugas e plantas, ofereça a ela um servir a mesma ração dias. É preciso consultar
vermelhas, como também espaço com proteção para balanceada e de acordo um médico-veterinário
ocorre no cisne de pescoço quando houver incidência com as fases de vida como para se fazer cirurgia em
negro, que tem patas de chuva e sol intensos. a que se dá aos frangos. uma das asas dos filhotes
no tom vermelho e bico Use materiais existentes Para evitar que o alimento quando eles completam
azulado. Outro cisne com na propriedade, como estrague, use comedouro seis meses de vida. O
boa demanda é o negro- telhas de barro, madeira, coberto e instale-o o procedimento vai impedir
australiano, que, como o tijolos, e construa uma mais perto possível do que voem para longe.

CONSULTORIA_ MARIA VIRGÍNIA F. DA SILVA, MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE AVES DE RAÇAS PURAS (ABC AVES); ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: RUA FERRU-
CIO DUPRÉ, 68, CEP 04776-180, SÃO PAULO, SP, TEL. (11) 5667-3495 ONDE ADQUIRIR_ A ABC AVES INDICA CRIADORES DE CISNES MAIS INFORMAÇÕES_ CRIADORES COM EXPERIÊNCIA PODEM
DAR DICAS SOBRE O MANEJO DE CISNE

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#TÔNAGR - Quem fa z a diferença no campo

Doces morangos

A
EXPRESSÃO "A VIDA NÃO É UM MORANGO" está associada a tempos difíceis. Mas, para
a agricultora e empreendedora Ingrid Priscila Souza, que tem uma produção de
morango orgânico, a vida pode ser – s é quase sempre – doce. E tem como ser di-
ferente quando se comem 30 morangos pequenos e doces a cada colheita? A fru-
ta sensível tem um enorme protagonismo na vida de Ingrid, que se divide entre Sorocaba
(SP), onde mora, e Pinhalão, cidade paranaense onde fica a propriedade de 5,7 hectares
em que produz. Há gerações, seus familiares plantam morangos de forma convencional,
no solo, com uso de agroquímicos. Ela e o pai, no entanto, decidiram tomar outro cami-
nho em 2015, quando passaram a produzir morangos orgânicos.
"Eu tinha acabado de me formar em administração, e meu pai queria voltar para Pinha-
lão, a terra dele. Então, decidi estudar qual seria a melhor forma de produzir morango sem
agrotóxico, suspenso e em estufa, orgânico e sustentável", conta a agricultora, de 32 anos.
Hoje, a empresa da família, a Staw Agricultura, tem 102 mil plantas de morango. Com as
mudanças no manejo, a fazenda conta hoje com mais de 4.000 árvores nativas integradas
à produção. utilizam-se insumos biológicos para controlar pragas, com ajuda do calendário
lunar, e o sistema de irrigação é automatizado, o que permite evitar o desperdício de água.
Com essas e outras ações, Ingrid tornou-se, em 2019, a primeira produtora rural mu-
lher a receber a certificação de produção integrada do morango (PIMo) no país. Três
anos depois, os morangos da Staw recebram o selo de Orgânico Brasil.
Mas, com mente inquieta, Ingrid foi além do cultivo de morangos in natura: atualmente,
a empresa também comercializa a fruta desidratada. “Um dos meus objetivos é colocar a
Staw no mercado de carbono. Estamos estudando quanto de CO² 1 quilo de morango reti-
FOTO_ ACERVO PESSOAL

ra da atmosfera. Também quero seguir produzindo morango – minha fruta preferida, que
tem um enorme valor afetivo para mim –, mas sempre cuidando da natureza e, claro, pas-
sando esse exemplo para os meus filhos, como meu pai passou para mim”, finaliza.
(por Julia Maciel)

82 I GLOBO RURAL DEZ 2023 / JAN 2024 globorural.globo.com


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