AGUIAR Leitura Literária e Escola
AGUIAR Leitura Literária e Escola
AGUIAR Leitura Literária e Escola
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Nossa proposta de trabalho é a de enfocar o tema em pau
ta a partir de cinco questões, cujas respostas trazem em seu
bojo concepções de leitura e escola:
• Como delimitar o papel do livro e da escrita numa so
ciedade plural como a nossa?
• Quais as relações que podemos estabelecer entre a es-
cola que aí temos e a leitura da literatura infantil?
• Como deve ser o livro infantil para atingir o leitor?
• Como se dá a formação desse leitor?
• Que indicativos podemos adotar para formar o leitor,
no âmbito da escola?
como foi dito e com que intenção. Variando a entonação Sociedades ágrafas dá margem ao aparecimento da superst
e a ênfase, podemos dar inúmeras interpretaçòes a um tex- tëm observa-
to, chegando a escrita a ser vista como um modelo para a çao, do mito e da magia. O que os antropólogos
do, contudo, é a enorme sofisticação da cultura oral, que
fala, o que limita a espontaneidade e a criatividade. Quando
capacidade raciona, de
moao
permite o desenvolvimento da
238TA escolartzaçko da leitura literária- o jogo do livro Infantil e juveni QUINTA
PARTEFormaçlo de leltor sores 239
que povos que não dominam a escrita são capazes de resol- dos textos em direçao a seus
receptores, com base nas marcas
ver intrincados problemas sem o uso de bússolas, mapas, gráficas disponíveis.Por essas vias, não
seremos
gráficose outros indicadores escritos. Mas talvez o melhor funcionais, que apenas soletram ordens a serem alfabetizados
exemplo seja o dos gregos da era clássica, para os quais a informações aserem digeridas, mas leitores
obedecidas e
escrita era muito limitada. Ali, dentro de uma cultura essen- críticos, capazes
de interagir com textos das mais
diversas naturezas
cialmente oral, e por isso mesmo, exercitou-se a dialética, institucionais jornalisticos, políticos, religiosos, sociais e
fundada no debate e na argumentação para a
construção do científicos, jurídics, etc.) e estender essa capacidadeliterários,
leitora a
conhecimento. Portanto, de pouco valeu a escrita para as rea- todas as situações orais da vida cotidiana.
lizações intelectuais daquele povo.
Dessa perspectiva, o livro de Olson converte-se em
A escrita
docu-
constitui-se
instrumento do desenvolvi-
um mento valioso para a reflexão sobre o estatuto da escrita e o
da
mento cognitivo, uma vez que o conhecimento se identifica
leitura nas sociedades modernas e papel da escola
Com o que aprendemos na escola e nos livros.
neste
Logo, a alfabe- contexto. Em um país comoo nosso, em que diferentes cultu-
tização abre as portas para esse conhecimento abstrato, atra- ras convivem simultaneamente, precisamos revisar parâmetros,
vés da aquisição das "habilidades básicas"
para a leitura e a evitando classificar os alunos segundo seu lugar social, mais
escrita. Tais assertivas estão
equivocadas por identificar os ou menos privilegiado. Essa atitude determina a discrimina-
meios de comunicação (no caso, os escritos) com o conheci-
ção de valores, em favor de um sociedade letrada e em detri
mento por eles comunicado, que pode se valer de outros
mento de todas as contribuições dos grupos divergentes.
meios, como as falas, as gravuras, os vídeos, as gravações,
Não podemos, da mesma forma, deixar de estender a ca-
etc. A escola deve, então, somar a escrita aos outros r cursos
pacidade de escrita e leitura a todos os segmentos, de modoo
expressivos com os quais a criança já convive, em vez de
que as trocas sociais sejam cada vez mais participativas. O
renegá-los em favor dos livros. Valorizando mais os conteú
que vale, neste caso, é aproveitar a lição de Olson e, no pro-
dos dados, em vez das letras, é possível formar um sujeito
cesso de alfabetização, levar em conta as peculiaridades cul-
crítico e não apenas um leitor funcional, que segue ordens
turais que as crianças trazem para, a partir delas, criar
sem posicionar-se diante delas
possibilidades de intercâmbio. Importa considerarmos que
Para o autor, todavia, relativizar o valor da escrita não muitos estudantes trazem para a escola o mundo da vida e,
significa deixar de admitir sua influência na construção das
Se Ihes oferecemos o mundo da escrita, estamos querendo
ativicdades culturais e cognitivas do homem ociclental. É certo
1aze-los Exercitar novas articulações mentais. Alfabetizar, por-
que, para decifrar a escrita, desenvolvemos estruturas men viver
decodificar sinais, mas ensinar a
tais especificas, que passam a nos dar as chaves para com- tanto, não é ensinar a
preendermos tud o que nos rodeia, isto é, todo o mundo neste mundo de papel.
para nós passa a ser uma escrita. Isso acontece porque os
sistemas gráficos não só preservam as informações, como escola
pro- Situando a literatura infantil na
porcionam modelos de funcionamento que nos levam a
ver a linguagem, o mundo e nossa mente sob nova luz.
a
Trata-se de estabelecer relações complementares entre
as
abemos que, historicamente, a leitura está vinculada
a leitura e a escrita, percebendo que podemos ler todos os escola, instituição responsável pela educação dos individuos
alabetiza-
sinais, dos livros e do mundo, buscando recuperar a
intenção nas sociedades modernas e, especificamente, pela
ao. Contudo, talvez pelas condições de seu aparecimento
QUINTAPARTE: Fornmação de leltores-professores 24
240TAescolarlza;ão da leitura literária- ojogo do livro infantil e juvenil
objetivos bem definidos quanto ao modelo de homem que ti- atenta às relaçoes entre o leitor e o texto como cruza-
recepção,
nha em vista, capaz de competir e ser um adulto de sucesso. mentos de horizontes de expectativas. Partincdco de princípios
Para chegar a esse fim, homogeneizou sua clientela, expurgan- as duas teorias são complementares.
do todos aqueles que, por suas divergèncias, não correspon-
epistemológicos opostos,
e a análise das
lessem ao formato de aluno apto a atingir as metas propostas. A preocupa-se com a descrição
primeira
com os condicionamentos que
questões exteriores da leitura,
Na verdade, curículos, desde então, se organizaram de
os
determinam a permanëncia ou não de um livro no seio da
modo a atender somente aos alunos que correspondessem aos intervenientes na valoração dos tex-
sociedade, c o m os fatores
estreitos limites de uma normalidade interessante aos parâme-
tos, com o s
modos de aproximação dos leitores aos livros,
tros sociais vigentes. Por e s s a razão, as experiências
escolares, a s histórias indivicluais e coleti
acabam por afastar o s alunos das
com os juízos que fazem, c o m
e m maior o u m e n o r tempo, Nesse enfoque, a atenção dirige-se não
ao con-
vas de leitura.
camadas populares que, por não trazerem de casa as condi
teúdo m e s m o dos textos, mas às agências
sociais que propiciam
não conse-
ções materiais e comportamentais da classe média, e trânsito entre os leitores: gráicas, casas
livro infantil precisa abrir mão de seu caráter pedagógico, em picia a vivência de sentimentos e reações em que o leitor
mergulha ao aceitar o pacto de faz-de-conta com o narrador.
favor da representação de novas possibilidades de vida, atra-
vés de jogos criativos de linguagem. A adequação do texto ao No poema, situação é mais densa porque, de modo
essa
leitor não significa a minorização do gênero, mas dá-se por extremamente sintético, condensam-se as emoções e as idéi
as, projetadas em imagens associativas.
um processo de inclusão: a literatura infantil é aquela que a
criança também lê. Os conteúdos dos textos, entretanto, só adquirem senti-
Para que esse movimento se efetue, é necessário o exercí- do, como expusemos teoricamente, quando expostos à in
cio de adequação do texto às condições cognitivas, sociaise vestigação de quem lë, isto é, eles vivem através da regência
afetivas dos leitores, tanto em relação a seu conteúdo quanto do leitor. O que importa, então, não é o texto em si, mas o
aos aspectos compositivos e à apresentaç o material. A rigor, uso que a ele se dá. Por tais vias, queremos salientar o cará-
não estamos propondo censura ou limites preconceituosos, ter socializador da literatura, já que ela só se faz no diálogo
mas aproximação ao universo daqueles a que se destina. Só com seu receptor. Por isso, ela pode atenuar o egocentrismo
Assim texto e leitor podero diálogo. Se, c o m o
manter um acentuado, próprio desta fase de desenvolvimento, dando
dissemos anteriormente, afastar-se do leitor e provocá-lo é margem a novas formas de interação com o mundo. Por essas
saudável, a distância que se estabelece não pode s e r tanta a vias, descobrindo o outro, o sujeito se encontra enquanto ser
ponto de interromper a comunicação. humano; a consciência do outro leva-o à de si mesmo e das
possibilidades de comunicação com seus pares.
A rigor, todos os temas e formas podem ser objeto de um
livro para iniciantes, desde que enfocados a partir das capa-
comportamento infantil é bastante imitativo,
o
Como o
cidades compreensivas dos leitores. Em se tratando de sujei- mundo delineado na literatura é exemplar para criança. a
Se
tos oriundos de uma cultura fortemente oral, importa
não arealidade ali esquematizada quer apontar para um mundo
fazer diferenças a priori, mas respeitar seu ritmo de desenvol- aberto ao desafio e à compreensão do afeto, importa apre
vimento próprio, como, de resto, o de todas as crianças. Igual- Elas são tanto melhor elabora-
sentar situações repetitivas.
socioculturais
mente, aquelas que vivem em outras condições Clas pelo leitor quanto mais vezes a ele se apresentarem.
divergentes não devem ser excluídas, mas integradas ao pro- desses modelos narrati-
Acrescentamos, ainda, a importância
cesso, na medida em que encontram no text referenciais com vos para o desenvolvimento da memória e da atenção. Quanto
Os quais possam dialogar. assim estrutura-
os textos
a esse aspecto, é bom lembrar que
Desse modo, as histórias e os poemas poderào versar so- como A galinba ruiva, que
bre os mais variados conflitos, personagens, estados de espí- aos (em lengalenga, por exemplo, os contos orais,
o d o s nós conhecemos), fazem uma ponte com
rito, sentimentos. Como o leitor desta faixa tem dificuldacle a z e n d o para o papel as formas de narrar primitivas,
que
de perceber a globalidade das situações, atendo-se à parte enfáticos e pela
8arantianm sua continuidade pelos recursos
em detrimento do todo, a história contribui para o
desenvol- repetição. Como, antes de se tornar leitora, a criança è ouvin-
vimento da capacidade de percepção gestáltica e de estabele e das histórias e das cantigas, ela tem nesses textos reiterad
cimento de relaçòes entre as partes. Ela organiza-se como
vos o primeiro degrau para o mundo letrado.
QUINTAPARTE: Formação de leitoresprofes 247
246TA escolarização da leitura literária-o jogo
do livro infantil
e juvenil
e, mais genericamente, da edição. O livro é o texto e também
calcados na oralidade, o sua formação material, com uma face fisica que se apresenta
Além dos modelos compositivos
formas alternativas, que acompanham,
ao leitor e lhe aponta sentidos. Por isso, cada vez mais, numa
gênero vale-se de literatura e m sociedade sedutora como a nossa, a confecção do livro infantil
m e s m o que às v e z e s
de longe, as conquistas da
as voltadas para o tem merecido cuidados visuais: capa, diagramação, ilustração.
geral. As histórias policiais, a s intimistas,
os
os poemas concretos, No entanto, esses elementos, mais do que um caráter ape
cotidiano, os poemas e m prosa,
modalidades de cria-
poemas bem
humorados são várias das lativo de conquista do consumidor, são signos construtores
oferecidas ao público. Em todos os casos, importa asse- de significações. Importa, então, que eles não sejam apenas
ção
da linguagem, a captação da energia redundâncias do texto escrito, repetindo as informações ali
gurar a coloquialiclade
e versatilidade.
viva da fala, c o m sua espontaneidade contidas (quando não contrariadas), mas também índices
nào é e s c r e v e r pobre, somam à constituição do sentido global do
Escrever para a infância, portanto, novos, que se
de cores, de luze
livro: ilustrações criativas, em que jogos
no
fluente, expressões
as novas explicando-se
mas escrever
novas inter-
c o n t e x t o da frase e
do texto, n a situação de comunicação. sombra, de detalhes e superposições permitanm
fazem concessões empobrecedoras, cuidadosa e original, que oriente o
Acentuamos que não se
A
pretações; diagramação
se risca a linguagem pernóstica. leitor em direço de novos sentidos; capas sugestivas que
da mesnma maneira que
a o mundo e convive com os falantes ao
provoquem curiosidade,
etc.). Nossa proposta é a de que a
criança está exposta eles dialoga se faz o objeto livro per
seu redor. Com eles aprende
a s e expressar,
com
multiplicidade de linguagens de que
assim, ditos e subentendidos, ver-
de u m dialeto especial. A literatura, mita a emergência de ditos, não
s e m necessitar
valer-se de u m jargão
rebaixado.
bais e visuais, c o m o possibilidades de
sentidos que se colocam
também não precisa liberdade de esco
outro lado, é a "limpeza estrutu ao leitor. Dentre elas, ele
vai e x e r c e r sua
O que é procedente, por sua percepçào e dando um
Referimo-nos a
religiosas
digressões morais, Iha, combinando dados segundo
ral" dos textos.
papéis, jornais velhos, tampinhas, etc.), as atividades evoluíam, livro nas diferentes agencias sociais, mediadoras do ato
de
ler). o processo de particularização é similar,
graclativamente, para o ato individual de leitura. Talvez tenha exigindo possi-
sicdo para nós o momento mais significativo, nesse sentido, aquele bilidades de discriminação do sujeito de seu papel no grupo.
em que cluas meninas tomaram o livro e se afastaram do grupo Para isso, condições externas de leitura, como ter o livro
para
para, em um canto da sala, fazerem sua leitura particular. si, estar sozinho, dispor de um espaço em que possa intera-
gir só com o livro, são necessárias. No entanto, o ambiente
A experiência deu-nos a chave para entenlermos a leitura
propício não é imposto, mas buscado, como pudemos pre-
como uma atividade condicionada ao domínio da capacidade
senciar num lance de oficina. A internalização psicológica,
de singularização. Em outras palavras, para que o indivíduo se
torne um leitor, é necessário que esteja apto a fazer a discrimi- corresponde a privatização social.
nação eu X mundo, pela estruturação de sua personalidade e Como vimos, historicamente, a expansão da leitura está
conscientização do processo de internalização por que passa. associada à sociedade moderna, uma vez que os grupos pri
A essa particularização individual corresponcle, no âmbito so mitivos se organizavam em uma vida tribal e transmitiam suas
cial, uma outra particularização, pela possilbililade de distin- experiências através cda fala. Estruturadas dos mi- enm torno
humanos
ção entre o públicoe o privado. Por outros caminhos, tem-se tos, como respostas aos questionamentos para a
rela-
aqui também um movimento que levao sujeito ao singular persona social, as culturas orais identificavam-se com os
quando ele deixa de ser um elemento do grupo primitivo para tos em formas fixas e simples, transmitidos pelos contadores,
se tornar um membro atuante da sociedade. contendo as vivências comuns ao grupo, em produções reite
No ambito individual, o movimento de particularização rativas. Todas as questões da existência, enraizadas
grandes
no inconsciente coletivo, eram tematizadas e resolvidas por
só se gradativamente,
realiza à medida que a
passa criança
do pensamento mágico, colado ao mítico, para a descoberta Conta de sua elaboração oral em forma de mito. Essas narra-
de sua interioridade. Sem estabelecer u m a separação nítida tivas passavam de geração em geraço por força da memória,
as vivências leito- baseados numa econo-
entre o eu e o mundo que a cerca, ela tem o que garantia exercícios perceptivos
ras externalizadas pelo jogo simbólico. Nessa situação, pre- mia cognitiva temporal e auditiva.
dominam os elementos lúdicos e concretos e talvez daí o Com o advento da burguesia, surgiu um novo modelo so
ela manuseia,
prazer da leitura: o livro é o brinquedo que
restritoa
Cial, centrado na cidade, e um novo formato familiar,
tem cheiro, formae cor. Mas é atra- cor-
que os adultos leem, que célula pai-mäe-filhos. À difusão da leitura pela imprensa,
vés do contato repetido (como o jogo simbQlico que imita a Por sua vezZ, O
respondeu a popularização crescente do livro.
vida adulta) que se dá a internalização do processo, ou seja, movimento de paticularização social decorrente da ordem ca
fornecem os elementos necessários e o
as ações experimentadas pitalista estabelecida facilitou a distinção entre o público
à construção da personalidade. Fecha-se, assim, o círculo: a incentivaram
privado, e as novas posturas do homem burguês
leitura propicia a formação do indivíduo que, por sua vez, escolha do
livre iniciativa de
para ler necessita de condições que possibilitem
a internali- Sentimentos de propriedade e
só desenvoive
e
vro. Diante do texto escrito, o leitor vê-se
zação. Suas primeiras tentativas precisam ser, portanto, nmui- uma consciência muito mais
do que temporal.
espacial
to lúdicas e coletivas, mas sempre apoiadas no livro, para agora
ind-
da questão-o
que possa fazer a travessia. LEvando-se em conta os dois pólos o
Do ponto de vista social (e aqui nos apoiamos na sociolo- que leitor precisa sair
vIaual e o social podemos afirmarindividual/privado, quc
do do pensamento mítico/público para o o
gia da leitura, que dá conta, como já salientamos, lugar do a escrita. iNe>
COresponde à passagem cla cultura oral para
QUINTA PARTE: Formação de leitoresprofessores 253
252IA scolarização da leitura literiria- o jogo do livro Infantil e juvenil
melhoria desse processo, na certeza de que a prática da leitu- suas decisões, falar
dos assuntos preferidos, contar como se
livro a s e r lido. Também é esse o
ra, alargando horizontes, permite ao indivícduo a descoberta deu s e u encontro c o m o
a compreensão das
de novas formas de ser e de viver, interna e externamente. momento de todas as ações que permitam
editora, partes da obra, ca-
noções de autor, ilustrador, título,
s e r e m exploradas pelo
animador de leitura.
pas, assunto, a
Propondo ações Uma vez dissecado o objeto
livro a partir de clados exter-
indi-
nos, à hora da leitura, ela m e s m a que é sempre
chega-se
silenciosa. Mesmo quando introduzida por algum
Por essa linha de pensamento, consideramos a necessida- vidual,
da história,
de de que a escola abrigue múltiplas formas de aproximação estímulo externo do professor (como narrar parte
um fundo musical, levar ao
tea-
entre sujeitos e livros, c o m oferta livre de tipos
de textos de apresentar personagens, fazer
contato direto com o tex-
diferentes linguagens, de atividades de leitura individual e tro), a ação de ler supõe isolamento,
à internalização
coletiva. Aos discriminação, serão oferecidas
alunos, sem to, capacidade de gerir a solicdão para chegar
sociais mais amplas (como clos significados descobertos e a um posicionamento diante de
ocasiðes de freqüentar agências cola-
bibliotecas públicas, livrarias, feiras,
encontros c o m escrito- les. Para que isso aconteça, as atividades grupais podem
no
borar, pois vão chamar a atenção para narrativas poemas,
c o m o jornais, revis-
e
res) e interagir c o m modalidades várias,
textos,
funcionem c o m o mediadores inicio transmitidos oralmente e depois iclentificaclos nos
LAs, catálogos, almanaques, que facilitando a relação entre senticlos e sinais gráficos.
escolar desempenha
de leitura. Nesse contexto, a biblioteca
catalisadora dos bens culturais
à metas
seguintes organizam-se segundo
as
irradiadora e As atividades
o papel de
disposição do aluno. educacionais que as embasam. Elas devem, como já enfati-
mais importantes na zamos, respeitar a diversidade de ritmos, de capacidades de
E claro que, entre as instituições
c o m o livro,
está a família. E im- compreensão, de abstração, de concentração dos alunos.
intermediação da criança
as dificuldadles
socioeconômi- Não importa até onde a criança vai, mas a qualidade d per
porta, e muito, enfatizar que curso de leitura que consegue realizar: levamos em conta,
brasileira e os privilégios culturais (que
cas da população
uma culturadominante, desrespeitando
como
as de aqui, a caminhada que oleitor está fazendo, no senti-
novo
elegem domésti- do de interiorizar e refazer, para si, os conteúdos da obra,
ler no âmbito da vida
mais), interferem no ato de
foco é escola, no processo de singularização que descrevemos. Lidar
Ca. Por esse motivo, e ainda porque
nosso a
da
com
de leitura n o interior a variedade, numa mesma turma, não é fácil, mas tambem
abstemo-nos de discutir as práticas
5 4 A escolarização da leitura literária- o jogo do lvro infantil e juvenil
QUINTAPARTE: Fomação de leitoresprofessores 25
NOTAS
não é impossível. Talvez o segredo para o sucesso da mis-
Vera Teixeira Aguiar é professora da Faculdlacle dle Letras da PUC/RS.
são esteja na qualidale das tarefas planejaclas, em termos
A respeito, ver os relatórios de pexquisa que registram os dados coletados e
de ludismo e versatilicdade.
analisaclos:
A leitura é um jogo em que o autor escolhe as peças, dá as FICHTNER, Marília Papaléo. Oficina de leitura e produçáo textual em diferentes
linguagens- PROLER/PUCRS. Reatório de Pesquisa. Porto Alegre: PUCRS, 1996.
regras, monta o deixa ao leitor a possibilidade de
texto e
fazer combinaçòes. Quando ela faz senticdo, está ganha a apos- oficina de leinura e criação exiual em diferenies linguagens comoprodução
de sentido e construção de conbecimento- PROLER/PUCRS. Relatório de Pesquisa.
ta. Mas isso só acontece porque o leitor aceita as regras e se Porto Alegre: PUCRS, 1997.
transporta para o mundo imaginário criado. Se ele resiste,
fica fora da partida. Ao mergulhar na leitura, entra em outra
BIBLIOGRAFIA
esfera, mas não perde o sentido do real e aí está, a nosso ver,
APPLE, Micheal. ldeologia e curriculo. São Paulo: Brasiliense, 1982.
a função mágica da literatura: através dela vivemos uma ou-
BOURDIEU, Pierre. Les règles de l'art. Génèse et structure du champ
tra realidade, com suas emoções e perigos, sem sofrer as
con litéraire. Paris: Seuil, 1992.
seqüências daquilo que fazemos e sentimos enquanto lemos.
ECO, Umberto. Leitura do texto literário. Lector in fabula.
Essa consciência do brinquedo que a arte é leva-nos a expe- Lisboa: Pre-
rimentar o prazer de entrar em seu jogo. sença, 1979.
Assim, através do caráter lúdico da literatura, o entendi- ESCARPIT, Robert. Le littéraire et le social. Paris: Flammarion, 1970.
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nessa caminhada, descobre-se enquanto sujeito capaz de tal reader Baltimore, London: The Johns
ISER, Wolfgang. The implied
empresa. Em suma, o leitor se lë. Por isso, quando propomos Hopkins University, 1978.
atividades lúdicas com as obras lidas, temos e m vista brinca- JAUSS, Hans-Robert. Pour une esthetique de la réception. Paris: Galli-
deiras que recuperem a espontaneidade e o comprometimen-
mard, 1978.
dos sentidos
to dos que provoquem desafios a partir
jogos,
dos textos e, sobretudo, que estimulem a participação do lei- OLSON, David R. O mundo no pape!: as implicaçoes conceituais e cog
nitivas da leitura da escrita. So Paulo: Ática, 1997.
tor. Cada u m vai ter em vista o conteúdo do objeto textual e,
ao mesmo tempo, vai atentar para sua própria ação, desco ONG, Walter J. Oralità e scrittura. Le tecnologie della parola. Bologna:
Mulino, 1986.
brir seu papel no jogo da leitura.
RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações. Ensaios de hemeneunca
Para que esse procedimento tenha continuiclade, é neces
Rio de Janeiro: Imago, 1969.
e variadas.
sário, contudo, que as atividades sejam múltiplas "A obra de ate na época de
de
Oleitor iniciante, com pouco fôlego, tem capacidades de con- WALTER, Benjamin. suas técnicas
reprodução". In.: Os pensadores. São Paulo: Abril, 1980.
constante ofer
centraçaoe de atenção reduzicdas, o que exige ZILBERMAN, Regina. A lteraura infantil na escola. São Paulo: Global,
ta de novos textose experiências de leitura. Das ações quase 191
aos poucos, a outras mais dluradouras,
relämpago passamos,
em exercício crescente de amadurecimento. E, justamente por