Contratos em Geral Parte IV
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SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Contratos em Geral – Parte IV
Carlos Elias
Apresentação..................................................................................................................3
Contratos em Geral – IV..................................................................................................5
1. Classificação quanto ao Risco da Prestação. . ...............................................................5
2. Classificação quanto à Negociação das Partes............................................................6
2.1. Definição...................................................................................................................6
2.2. Utilidade................................................................................................................... 7
3. Classificação quanto ao Momento do Cumprimento. . ..................................................8
3.1. Categorias.................................................................................................................8
3.2. Utilidades.................................................................................................................9
4. Classificação quanto à Designação da Lei. . .................................................................17
5. Classificação quanto à Disciplina Legal......................................................................17
6. Classificação quanto à Independência do Contrato.................................................... 18
6.1. Contratos Autônomos. ............................................................................................ 19
6.2. Contratos Conexos................................................................................................. 19
7. Extinção dos Contratos.............................................................................................29
7.1. Formas de Extinção................................................................................................29
7.2. Resolução por Inadimplemento: Definição.............................................................. 31
7.3. Resilição Unilateral................................................................................................ 31
7.4. Resilição Bilateral ou Distrato................................................................................33
7.5. Cláusula Resolutiva e a Resolução por Inadimplemento.........................................34
Questões de Concurso................................................................................................... 37
Gabarito........................................................................................................................ 41
Gabarito Comentado. .....................................................................................................42
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Contratos em Geral – Parte IV
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Apresentação
Olá!
Sempre digo isto: eu quero que você não apenas passe, mas também seja nomeado no
concurso. E, por isso, você precisa acertar as questões mais difíceis, pois elas te colocarão
Vamos lá!
Resumo
Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercí-
cios. É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o
conteúdo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as ques-
tões. De nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade
com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler toda a teoria, e não só o resumo, para, depois, ir às
questões.
• Quanto ao risco da prestação, o contrato oneroso (apenas o oneroso) pode ser classi-
ficado como comutativo (proveito econômico buscado pelas partes é pré-estimado) ou
aleatório (proveito econômico depende da sorte);
• Quanto à negociação das partes, o contrato pode ser paritário (ambas as partes têm
poder de negociar as cláusulas do contrato) ou de adesão (uma das partes só tem po-
der de aderir ou não às cláusulas contratuais redigidas pela outra parte);
• Quanto ao momento do cumprimento, o contrato pode ser de execução instantânea
(pagamento no ato da celebração), de execução diferida (pagamento em um único mo-
mento futuro) ou de trato sucessivo (pagamento em várias parcelas futuras);
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CONTRATOS EM GERAL – IV
para contratos gratuitos, pois aí a parte que faz um sacrifício patrimonial não está buscando
No contrato comutativo, o proveito econômico buscado pela parte não depende da álea
• Emptio spei (compra de esperança): a parte assume o risco quanto à existência da coi-
• Emptio rei speratae (compra de coisa esperada): a parte assume o risco somente quan-
to à quantidade da coisa, mas não quanto à sua existência, de sorte que só não será
• Compra de coisa sujeita a risco: a parte assume o risco quanto à subsistência da coisa
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe
foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado
venha a existir.
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de
virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que
de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à
esperada.
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Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá
o preço recebido.
Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assu-
mido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não
existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.
Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolo-
sa pelo prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que
no contrato se considerava exposta a coisa.
É evidente que o credor tem dever de boa-fé e de prudência, de modo que, se houver culpa
ou dolo dele na consumação do risco, não haverá dever de pagamento do valor pactuado.
Além do mais, se o devedor já sabia da consumação do risco no momento da celebração
do contrato aleatório, ele estará a enganar a outra parte, o que ensejará a anulabilidade do
negócio jurídico por dolo (arts. 145 e 461 do CC).
A compra de ações de sociedades anônimas na Bolsa de Valores não é necessaria-
mente um contrato aleatório, pois o preço da ação corresponde ao seu valor de mercado:
o proveito econômico buscado pelo investidor é predefinido, ou seja, não depende da álea.
A oscilação posterior do preço da ação é irrelevante para esse efeito. Todavia, é possível
que a compra de ações seja feita como um contrato aleatório, como sucede no caso de
compra de opções. Nesse caso, o investidor estabelece que fixa um preço que pagará pela
ação, mas só a receberá no futuro, quando, a depender da sorte do consumidor, o valor da
ação poderá ser maior ou menor. O proveito econômico buscado pelo investidor aí depende
da álea.
2.1. Definição
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No contrato de adesão (= contrato por adesão ou contrato standard), as cláusulas con-
tratuais são redigidas preponderantemente por uma das partes, de modo que só sobra para a
outra contentar-se em aderir ou não ao contrato. Há duas vontades para o contrato se aper-
feiçoar, mas a vontade de uma das partes limita-se a aderir ou não ao contrato. O poder de
influência na redação do contrato pertence prioritariamente a apenas uma das partes. O fato
de uma ou outra cláusula poder ser alterada ou ressalvada por influência da parte aderente
não desnatura o caráter “de adesão”, pois o que importa é a supremacia de força negocial de
uma das partes. O art. 54, § 1º, do CDC, confirma isso.
Os contratos de adesão são comuns atualmente. Grandes empresas, que fornecem pro-
dutos e serviços padronizados aos consumidores (como o de telefonia, o de venda de celula-
res etc.), não negociam o teor das cláusulas contratuais com os consumidores, deixando-lhes
apenas a oportunidade de aceitar ou não o contrato. Os contratos de adesão não se limitam
aos casos envolvendo o Código de Defesa do Consumidor. Mesmo entre empresas, é comum
haver contratos de adesão, como sucede entre franqueadores e a franqueados.
2.2. Utilidade
Nos contratos de adesão, como uma das partes não possui poder de influência na re-
dação do contrato, a legislação e a jurisprudência deferem-lhe alguns direitos destinados a
equilibrar a força negocial entre as partes e evitar abusos de direito (verdadeiros abusos de
poder) pela parte mais forte. O aderente é vulnerável nesse tipo de contrato. Isso justifica a
edição de leis de ordem pública, como o Código de Defesa do Consumidor e a Lei do Inquilina-
to, para proteger a parte mais vulnerável. Além do mais, mesmo sem haver uma lei específica,
é possível valer-se da vedação ao abuso de direito previsto no Código Civil (art. 187) para
tornar nula cláusulas que imponham deveres exagerados à parte aderente. Há outras regras
previstas no Código Civil para proteção do aderente.
Vamos ver alguns exemplos.
Em primeiro lugar, se o texto de alguma cláusula contratual for ambígua ou contraditória,
deve prevalecer a interpretação mais favorável ao aderente diante da presunção absoluta de
que este teria tido essa compreensão do contrato e diante da necessidade de punir a parte
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que tinha o poder de redigir o conteúdo das cláusulas (art. 423 do CC). Trata-se de uma varia-
ção do in dubio pro misero (na dúvida, a favor do mais fraco).
Em segundo lugar, é nula a cláusula de contrato de adesão que imponha ao aderente uma
renúncia a direito inerente ao contrato, como a renúncia ao direito de pleitear indenização no
caso de inadimplemento (art. 424 do CC).
Em terceiro lugar, em contratos de adesão, ainda que não envolva consumidor, a cláusula
de eleição de foro pode ser considerada nula, por abuso de direito (art. 187 do CC), se a parte
aderente for financeiramente mais frágil (hipossuficiência) e se o foro escolhido para deman-
das judiciais for em local diverso do domicílio dessa parte. O acesso à Justiça pela parte
aderente é prejudicado por essa estipulação abusiva. Veja este julgado:
Outras cláusulas de contrato de adesão podem ser consideradas abusivas no caso con-
creto com fundamento no art. 187 do CC, sem necessidade de invocação do CDC.
3.1. Categorias
Celebrado o contrato, nascem as obrigações para as partes. O cumprimento dessa obri-
gação (ou seja, o pagamento ou adimplemento) corresponde simplesmente à fase de execução
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desse ato jurídico perfeito. A depender do momento em que ocorrerá esse pagamento, o con-
trato pode ser classificado como de execuções instantânea, diferida ou continuada. Essa
mesma classificação é estendida para as obrigações.
O contrato de execução instantânea é quando o pagamento (a execução) é no ato da cele-
bração do contrato. É o vulgo pagamento à vista. É comum nas compras de lanches: o cliente
entrega o dinheiro e recebe imediatamente o alimento.
O contrato de execução diferida é quando o pagamento ocorre em um momento no futuro,
em uma única parcela. É comum em compra de móveis para casa ou de veículos novos: o
vendedor se compromete a entregar o produto alguns dias depois da celebração do contrato.
É comum também em serviços: o prestador do serviço (como o de um show) cumprirá o seu
dever horas ou dias depois da celebração do contrato (que, muitas vezes, se materializa pela
compra de um “ingresso” para assistir ao show). Outro exemplo está em várias espécies de
contratos de venda de produtos agrícolas que ainda serão colhidos (venda de safra futura): o
vendedor compromete-se a entregá-los em um momento futuro.
O contrato de execução continuada, também chamado de contrato de trato sucessivo,
é quando o pagamento ocorre em várias parcelas futuras. É comum nos contratos de em-
préstimo bancário: o cliente devolverá, com juros remuneratórios, o dinheiro emprestado em
várias parcelas futuras.
3.2. Utilidades
Nos contratos de execução diferida ou continuada, há um espaço de tempo entre a data
da celebração do contrato e o seu pagamento. Mudanças fáticas podem acontecer nesse
interstício de modo a desequilibrar o contrato. Ao celebrar um contrato, está implícito que as
partes cumprirão as suas obrigações se “as coisas permanecerem como estavam” (rebus sic
standibus)1. Os contratos possuem implicitamente essa cláusula rebus sic standibus. Quem
1
A vida é assim. Mesmo num casamento, as partes prometem amar a outra se rebus sic standibus: se o marido passar a
espancar a esposa, ela poderá vir a pedir divórcio alegando que a sua promessa de permanecer junto até a morte pressu-
punha que o comportamento respeitoso que o marido tinha antes do casamento não iria mudar. Também na física e na
química, as pesquisas levam em conta a preservação das circunstâncias que envolvem os experimentos, do que dá prova
a famosa categoria CNTP (condições normais de temperatura e pressão). Em outros ramos do saber, como na economia,
costuma-se usar a expressão coeteris paribus para designar que a validade de uma afirmação pressupõe a preservação
do contexto do momento.
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Teoria da Imprevisão
Definição
Errado.
É preciso atender todos os requisitos do art. 473 do CC, um dos quais é a imprevisibilidade do
evento superveniente, e não a previsibilidade, como sugere a questão.
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Segundo os arts. 317, 478, 479 e 480 do CC, em conjunto com a leitura que a doutrina
desses dispositivos à luz do princípio da conservação do negócio jurídico, a parte prejudicada
pode pleitear a resolução ou a revisão do contrato quando a prestação se tornar manifesta-
mente onerosa em razão de um fato superveniente, imprevisível, extraordinário e causador,
desde que a outra parte esteja tendo uma extrema vantagem. Trata-se da teoria da imprevi-
são, também batizada como “resolução por onerosidade excessiva” pelo Código Civil2. A re-
visão do contrato consiste em mudanças nas condições da obrigação, como redução do seu
valor (descontos), parcelamentos da dívida ou a alteração dos prazos de vencimento. Vale a
pena a leitura desses retrocitados preceitos:
Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da
prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de
modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se
tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimen-
tos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da
sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as con-
dições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear
que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade
excessiva.
Por uma interpretação literal dos arts. 317, 478, 479 e 480 do CC, a revisão do contrato
tem de ser pedida por qualquer uma das partes, seja pelo autor, seja pelo réu. Para Farias e
Rosenvald (2015, p. 566), se é o réu que pretende a revisão contratual no lugar da resolução,
haveria aí uma espécie de pedido de contraposto. Entendemos, porém, que se trata de uma
defesa parcial: o autor pede a resolução do contrato, mas o réu pede menos, ou seja, apenas
a revisão do contrato. Não consideramos que há um pedido contraposto, pois não se está a
pretender a condenação do autor da ação.
Seja como for, o juiz não pode, de ofício, revisar o contrato, desprezando a vontade de am-
bas as partes. No mínimo, ele, tem de ouvir as partes, como o autor, e obter o consentimento
de qualquer deles para conservar o negócio. Não enxergamos obstáculos a que o juiz, de
2
Título da Seção IV que reúne os arts. 478 ao 480 do CC.
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ofício, intime as partes para manifestar-se acerca de conveniência de uma revisão equitativa
do contrato no lugar de sua revisão, de maneira que, com o consentimento de qualquer das
partes, o juiz poderá seguir esse caminho compatível com o princípio da conservação do ne-
gócio jurídico. É nesse sentido que se deve ler o Enunciado n. 367/JDC:
Em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a re-
solução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo equitativamente, desde que
ouvida a parte autora, respeitada a sua vontade o observado o contraditório.
A presença dos requisitos legais, como a imprevisibilidade, deve levar em conta as parti-
cularidades dos contratantes e do contexto da época, como destaca o Enunciado n. 438/JDC:
A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código Civil deve levar em conta a
natureza do objeto. Nas relações empresariais, observar-se-á a sofisticação dos contratantes e a
alocação dos riscos por eles assumidas com o contrato.
Ainda que o contrato envolva obrigação apenas para uma das partes (contratos unilate-
rais), como se dá no mútuo feneratício – em que o mutuário tem de restituir o dinheiro com
juros remuneratórios –, é aplicável a teoria da imprevisão por força do art. 480 do CC.
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Não há obstáculo a que se aplique a teoria da imprevisão para os contratos gratuitos, seja
por falta de restrição legal, seja por inexistir justo motivo para impor ao generoso um regime
jurídico mais severo do que estabelecido a uma parte de um contrato oneroso.
Extraordinariedade
O fato causador do desequilíbrio contratual tem de ser extraordinário, ou seja, tem de es-
tar alheio ao campo de risco assumido pelas partes, como ensina o Enunciado n. 366/JDC: “O
fato extraordinário e imprevisível causador da onerosidade excessiva é aquele que não está
coberto objetivamente pelos riscos próprios da contratação”.
Imprevisibilidade
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Os casos acima não se estendem para relações envolvendo consumidor, pois aí não se
aplicaria a teoria da imprevisão, e sim a teoria do rompimento das bases objetivas, para a qual
é irrelevante a imprevisibilidade do evento.
Extrema Vantagem
O art. 478 do CC exige, como requisito, que haja extrema vantagem da outra parte com a
onerosidade excessiva. A doutrina flexibiliza esse requisito, admitindo que a sua demonstra-
ção não seja plena, como dá conta o Enunciado n. 356/JDC:
A extrema vantagem de que trata o art. 478 deve ser interpretada como elemento aci-
dental da alteração das circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou da
revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstra-
ção plena.
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Em princípio, o mero fato de a outra parte não sofrer prejuízos efetivos com o desequilíbrio
contratual superveniente já seria uma extrema vantagem. Se, por exemplo, em razão de uma
inusitada crise monetária, o valor da prestação a ser paga por uma parte catapulta-se para
patamares elevadíssimos, pode-se afirmar que o credor está com uma extrema vantagem por
ser prestigiado com a obtenção da correção monetária integral da prestação.
Por força do art. 6º, V, do CDC, em relação de consumo, não se aplica a teoria da imprevi-
são, e sim a teoria do rompimento das bases objetivas do negócio, segundo a qual, havendo
fato superveniente que torne a prestação manifestamente onerosa, o consumidor poderá pe-
dir a resolução ou a revisão do contrato. Trata-se de proteção dada ao consumidor apenas,
e não ao fornecedor, que só terá a teoria da imprevisão a favor de si.
Para a teoria do rompimento das bases objetivas, não se exige que o evento seja extra-
ordinário nem imprevisível. Não se exige tampouco a extrema vantagem para a outra parte.
Bastam dois requisitos: fato superveniente e prestação manifestamente onerosa para o con-
sumidor. O CDC, diante da vulnerabilidade do consumidor, contém uma presunção absoluta
de que qualquer evento futuro já seria extraordinário e imprevisível para consumidor, razão
por que lhe dispensou de comprovar esses requisitos.
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Os contratos podem ser nominados, quando possuem designação (nomen iuris) atribuí-
da em lei, ou inominados, quando não o possuem. Essa classificação não se gaba de grande
utilidade prática a não ser a de servir como uma mera indicação didática das várias espécies
contratuais.
Não se pode confundir essa classificação, que leva em conta a existência de nome legal
do contrato, com a de tipicidade do contrato, que considera a presença de uma disciplina legal
para a dinâmica do contrato.
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Preferimos a primeira corrente, a de que os contratos mistos são espécies de contratos
atípicos, pois isso dá um resultado prático: permitirá a incidência do art. 425 do CC, que exi-
ge que esses contratos observem as regras gerais do Código. Com base nesse dispositivo,
os contratos mistos teriam de observar as regras gerais do Código e, por analogia, as regras
específicas dos contratos típicos que os compõem. De fato, a doutrina majoritária entende
pela aplicação, por analogia, das regras dos contratos típicos aproveitados pelo contrato mis-
to (Coelho, 2010, p. 74).
Um exemplo de contrato misto é o mútuo consensual, que aproveita o contrato típico de
mútuo e acrescenta-lhe a obrigação de o mutuante entregar a coisa fungível por força do
contrato (o que não ocorre no mútuo típico previsto no CC, o qual é contrato real e, portanto,
nasce com a entrega da coisa, e não com um mero acordo de vontades).
Para Fábio Ulhoa Coelho (2010, pp. 72-74), o contrato de locação em Shopping Center
é um contrato misto, pois aproveita elementos do contrato típico de locação, mas acresce
particularidades fruto da vontade das partes, como a sujeição ao tenant mix3, a necessidade
de participação em associação. Concordamos com isso, pois, apesar de o art. 54 da Lei n.
8.245/1991 prever esse contrato e estabelecer que deve prevalecer o pactuado pelas partes,
a lei não dá uma regulamentação mínima do contrato e deixa o seu conteúdo ao sabor das
partes. O contrato de locação em Shopping Center é nominado (pois o referido dispositivo o
batiza), mas não é típico, por falta de regulamentação legal mínima.
Por fim, cabe fazer uma distinção. Geralmente, os contratos típicos são também nomina-
dos, e os contratos atípicos são inominados. Há, porém, exceções. O contrato de locação de
garagem, por exemplo, é nominado – porque batizado pelo art. 1º, parágrafo único, da Lei n.
8.245/1991 –, mas não é típico, por não possuir tratamento normativo mínimo na legislação
(Tartuce, 2007, p. 44). Há, porém, juristas que mesclam as classificações, enxergando apenas
duas categorias: os contratos típicos ou nominados, de um lado, e os contratos atípicos ou
inominados, de outro lado.
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Exemplo: João celebra com Maria dois contratos: um de locação de um imóvel e um de venda
de um carro. Não há vínculo entre os contratos, ainda que eles tenham sido escritos no mesmo
papel (formalizados no mesmo instrumento). Se o contrato de locação for anulado, isso não
influenciará o contrato de venda.
Contratos conexos são aqueles que guardam, entre si, interligação de dependência, de
sorte que a existência, a validade e a eficácia de um contrato podem influir nos demais (“efeito
dominó”). Não necessariamente haverá “efeito dominó”, mas isso dependerá da lei, do pacto
ou do juízo de razoabilidade no caso concreto.
Há vários tipos de conexões contratuais, o que é sistematizado nas várias espécies con-
tratos conexos que trataremos mais abaixo, a saber: os contratos conexos, os subcontratos,
os contratos normativos, os coligados, os relacionais e os preliminares.
Contrato Acessório
Contrato acessório é aquele cuja validade depende da do principal. Ex.: fiança é contrato
acessório a um contrato principal (de mútuo ou de locação, por exemplo).
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Subcontrato
Contrato Normativo
O contrato normativo ou “guarda-chuva” é aquele que pré-fixa, de forma geral, as regras
de futuros e eventuais contratos derivados. O objeto do contrato normativo é apenas estabe-
lecer as “normas” de futuros contratos derivados. As partes não são obrigadas a celebrar os
contratos derivados, mas, ao celebrarem, terão a facilidade de as suas regras já estarem pre-
definidas no contrato normativo. Em uma palavra, o contrato normativo dá agilidade na cele-
bração de contratos derivados, poupando as partes de enfrentarem novos embates negociais.
Um exemplo de contrato normativo é aquele em que o banco e o cliente pactuam um va-
lor máximo a ser emprestado, com os respectivos encargos (juros, prazo etc.), autorizando o
cliente, durante um determinado prazo, a tomar o empréstimo no valor que quiser até o prazo
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Contratos em Geral – Parte IV
Carlos Elias
Errado.
Apesar de se poder falar em contratos coligados no caso acima, não necessariamente have-
rá o efeito dominó. O STJ, nesse caso, não o aceitou (STJ, REsp 337.040/AM, 4ª Turma, Rel.
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 01/07/2002). Vamos retornar a esse caso mais à frente.
4
Há bancos que oferecem esse serviço entregando um cartão para o cliente, que, à medida que for precisando do dinheiro,
poderá usar o cartão e pagar o valor obtido dentro das condições pactuadas no contrato normativo (prazo de pagamento,
juros remuneratórios etc.).
5
Vale fazer remissão ao Projeto de Lei do Senado n. 141, de 2017, que busca regulamentar esses contratos de abertura de
limite de crédito no âmbito do Sistema Financeiro Nacional. Consideramos que parte do seu objeto se perdeu (foi prejudi-
cado) com o advento da Lei n. 13.476/2017.
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Contratos em Geral – Parte IV
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Contratos em Geral – Parte IV
Carlos Elias
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Contratos em Geral – Parte IV
Carlos Elias
É comum haver contratos coligados em contratos com postos de gasolina. Suponha este
caso. A Petrobras e o Posto do Sol Ltda podem celebrar vários contratos coligados: contrato
de compra e venda de combustível, contrato de locação de imóvel, contrato de arrendamento
de bombas e contrato de exclusividade.
Apesar de haver coligação contratual, não necessariamente haverá o “efeito dominó”, ou
seja, a inexistência, a invalidade ou a ineficácia de um não necessariamente influenciará os
demais. O STJ analisou um caso assim. Um indivíduo adquiriu dois terrenos contíguos para,
em um deles, edificar uma casa e, no outro, construir uma área de lazer que serviria ao terreno
da casa. Esses dois contratos de compra e venda são coligados, pois o adquirente certamente
só comprou um terreno em razão do outro. O STJ, porém, não aceitou aplicar o “efeito domi-
nó” numa hipótese de ter havido a resolução do contrato de compra de terreno por inadim-
plência. O juízo de razoabilidade no caso concreto não convenceu o STJ em autorizar essa
repercussão da resolução de um contrato diante do fato de que a resolução recaiu apenas
sobre o contrato secundário (o da área do lazer) e de que o preço do contrato principal já havia
sido totalmente pago (STJ, REsp 337.040/AM, 4ª Turma, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar,
DJ 01/07/2002).
Diversos outros casos de contratos coligados já foram enfrentados pela jurisprudência10:
os que foram aqui citados bastam para o nosso estudo.
O norte-americano Ian Macneil é um dos principais pais da teoria dos contratos relacio-
nais, e, no Brasil, destaca-se a obra de Ronaldo Porto Macedo Junior (2007).
10
A título ilustrativo, reportamos a estes outros casos de contratos coligados julgados pelo STJ, envolvendo contrato de
locação (AgRg no REsp 1206723/MG, 5ª Turma, Rel. Ministro Jorge Mussi, DJe 11/10/2012), contrato de financiamento
habitacional (EREsp 681.881/SP, Corte Especial, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, DJe 07/11/2011), contrato de cessão de
crédito a Banco por parte de empresa que fora contratada para fabricar e instalar uma cozinha planejada (REsp 1127403/
SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Buzzi, DJe 15/08/2014), contrato de tra-
balho e de cessão de imagem entre jogador de futebol e clube desportivo (AgRg no CC 69.689/RJ, 2ª Seção, Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, DJe 02/10/2009; CC 34.504/SP, 2ª Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Ruy
Rosado de Aguiar, DJ 16/06/2003), contrato de financiamento para a aquisição de produtos envolvendo o “Posto Ipiranga”
(REsp 985.531/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Vasco dela Giustina – Desembargador Convocado –, DJe 28/10/2009), contrato
de arrendamento de gado (STJ, REsp 419.362/MS, 4ª Turma, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, DJ 22/03/2004).
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Contratos em Geral – Parte IV
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Contratos relacionais são aqueles que, diante da interconexão entre si, criam uma rela-
ção11 duradoura entre as partes, que passam a depender12 dessa relação. Trata-se de contra-
tos sucessivos que criam uma relação duradoura entre as partes e que as tornam dependen-
tes do prosseguimento da interação contratual. Opõe-se aos contratos descontínuos, que,
por não se sucederem de modo ininterrupto, não geram dependência das partes.
São exemplos de contratos relacionais aqueles decorrentes de renovações (reconduções)
sucessivas de contratos de plano de saúde, de seguro, de previdência privada, de cartão de
crédito, de conta-corrente, de franquia, de fornecimento de produtos a uma empresa reven-
dedora etc.
É possível também considerar-se como relacional um único contrato, se, diante da sua
duração e da sua dinâmica, as partes acabem tornando-se dependentes da continuidade de-
les. É o caso do contrato de abertura de conta-corrente, que, embora possa ser único, arrasta-
-se no tempo e torna o correntista “cativo” dessa relação de longa duração. Havendo, porém,
um único contrato, não se pode falar em conexão, pois a conexão pressupõe elo entre dois ou
mais contratos. Quando, porém, surgir um novo contrato em sucessão do anterior, como os
contratos com reajustes de preços, poder-se-á reconhecer a conexão entre esses dois con-
tratos, por se tratar de contratos relacionais.
A principal relevância prática de identificar os contratos relacionais é que, diante da co-
nexão existente entre eles, devem ser censurados comportamentos abruptos ou abusivos de
qualquer uma das partes. Isso decorre da boa-fé objetiva, que impõe para as partes dever de
evitar comportamentos contraditórios e de respeitar deveres anexos.
Nessa linha, identificando a presença de contrato relacional e apoiando-se na boa-fé ob-
jetiva e no art. 39, IX, do CDC, o STJ veda que o banco, sem uma motivação razoável, encerre
unilateralmente um contrato de conta-corrente de longo tempo, ainda que promova prévia
notificação, sob pena de causar dano moral ao correntista (STJ, REsp 1277762/SP, 3ª Turma,
Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 13/08/2013).
O STJ, igualmente, entende que, em contrato seguro de vida individual, é abusiva a recusa
da seguradora a renovar o contrato ou de condicionar a renovação a um reajuste excessivo
(não suave nem gradual) do preço na hipótese em que o contrato já tenha sido renovado
11
Daí dizer-se “relacional”.
12
Daí dizer-se “cativo de longa duração”.
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Contratos em Geral – Parte IV
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interrupta e sucessivamente por longo período de tempo (cerca de 25 a 30 anos13). Não im-
porta se há cláusula contratual nesse sentido, pois ela seria nula. O motivo é que essa postura
da seguradora ofende a boa-fé objetiva existente na legítima expectativa do consumidor de
que a tradição negocial entre as partes não seria abruptamente modificada. Esse entendi-
mento só é válido para seguro de vida individual, e não para o seguro de vida em grupo14.
Neste último caso, não há abusividade na conduta da seguradora de se recusar a renovar a
apólice anterior ou de condicionar a renovação a reajustes do preço, desde que haja prévia
notificação do segurado15.
Definição
13
Se o prazo for menor, como o prazo de 10 anos, o STJ admite a recusa da seguradora em renovar o contrato mediante
notificação prévia, pois ainda não haveria legítima expectativa do consumidor.
14
Não enxergamos justo motivo para o tratamento desigual dado pelo STJ entre o seguro de vida individual e o seguro de
vida em grupo.
15
STJ, AgRg no AREsp 383.699/SC, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 13/03/2018; REsp 1356725/RS, 3ª
Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 12/06/2014; REsp 880.605/
RN, 2ª Seção, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Rel. p/ Acórdão Ministro Massami Uyeda, DJe 17/09/2012; REsp 1073595/
MG, 2º Seção, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 29/04/2011.
16
Preferimos não utilizar as expressões promissários, compromitentes e compromissários, pois mais obscurecem do que
esclarecem. No contrato preliminar, ambas as partes fazem uma promessa, a de celebrar um contrato futuro. Logo, ambas
são promitentes.
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Contratos em Geral – Parte IV
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Requisitos
O contrato preliminar tem de ter todos os requisitos essenciais do contrato definitivo, sal-
vo a forma (art. 462 do CC). Se o contrato preliminar não contiver esses requisitos, o direito
dos promitentes a um contrato definitivo se torna indeterminável e, portanto, é nulo por inde-
terminabilidade do objeto do contrato (art. 104, II, CC). A forma, porém, não precisa observar
a do contrato definitivo, pois uma das relevâncias práticas do contrato preliminar é também
viabilizar a celebração de negócios quando as partes não possuem condições de adotarem a
forma do contrato definitivo. Assim, por exemplo, se alguém pretende adquirir um imóvel caro
no domingo, isso não é viável em razão de os cartórios de notas provavelmente estarem fe-
chados, de modo que não há como celebrar uma escritura pública de compra e venda (a forma
pública é obrigatória para esse contrato definitivo). As partes poderão, nesse caso, celebrar
uma promessa de compra e venda por instrumento particular (ex.: em um papel A4 escrito à
mão) para, posteriormente, quando o cartório estiver aberto, lavrar a escritura pública com o
contrato definitivo.
Adjudicação Compulsória
Celebrada a promessa de compra e venda, qualquer das partes pode exigir da outra a ce-
lebração do contrato definitivo após notificar a outra concedendo-lhe um prazo, desde que já
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Contratos em Geral – Parte IV
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Promessa de Doação
Nem todos os contratos admitem uma versão preliminar. A doação pura, por exemplo, em
regra, não admite um contrato preliminar, pois, como é da sua natureza a liberalidade, é ab-
solutamente contraditório que a parte exija uma adjudicação compulsória substituindo uma
doação. A compulsoriedade é incompatível com um elemento essencial da doação, a espon-
taneidade. Entendemos que a promessa de doação pura existe, é válida, mas será ineficaz:
não produz efeitos contra a parte doadora, que não pode ser constrangida a doar. Trata-se
de uma obrigação inexigível, razão por que, por exemplo, se se tratar de uma promessa de
doação de imóvel, ela sequer pode ser registrada na matrícula do imóvel18. Ademais, eventual
17
Trata-se de ação por meio da qual o interessado pede para o juiz dar-lhe o objeto (adjudicar), independentemente da von-
tade da outra parte (compulsoriamente).
18
Em São Paulo, o Conselho Superior da Magistratura nega o acesso da promessa de compra e venda à matrícula do
imóvel por entender que se trata de direito obrigacional, e não real, sem previsão no rol taxativo do art. 167, § 1º, da Lei
n. 6.015/1973 (CSMSP, Apelação n. 994.09.231.635-5/50000, DJ 17/01/2011, Disponível em: http://www.kollemata.com.
br/). Consideramos, porém, que esse motivo não é o adequado, pois, se o contrato principal é registrável (como a permuta),
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Contratos em Geral – Parte IV
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ação de adjudicação compulsória deveria ser extinta por impossibilidade jurídica do pedido
(STJ, REsp 730.626/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Jorge Scartezzini, DJ 04/12/2006). Ressalva-
mos, porém, que há corrente contrária a sustentar que a promessa de doação sequer ultra-
passa o plano da existência: ela inexistiria no mundo jurídico. Preferimos, porém, entender
que ela apenas é ineficaz quanto à sua exigibilidade: o doador cumpre a promessa se quiser.
Todavia, se a doação for uma condição de um negócio jurídico bilateral, ela não é uma
pura liberalidade e, por isso, comporta um contrato preliminar. É o caso das promessas de
doação feitas como condição de acordo em partilha de divórcio. Assim, por exemplo, se o
ex-marido promete doar um imóvel valioso para o filho do casal ou para a ex-esposa como
uma forma de chegar a um acordo na partilha de bens do divórcio e ele, posteriormente, se
recusa a formalizar o contrato definitivo de doação (e aí seria preciso escritura pública por
envolver imóvel de valor superior a 30 salários mínimos, conforme art. 108 do CC), o filho do
casal, como terceiro beneficiário (é uma estipulação em favor de terceiro), ou, se for o caso,
a ex-esposa poderá valer-se da ação de adjudicação compulsória (STJ, REsp 742.048/RS, 3ª
Turma, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 24/04/2009; EREsp 125.859/RJ, 2ª Seção, Rel. Minis-
tro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 24/03/2003).
Igualmente, se se tratar de uma doação com encargo, é cabível a exigibilidade da promes-
sa de doação até o valor do encargo, pois aí não há pura liberalidade (art. 540 do CC).
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Contratos em Geral – Parte IV
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19
Alguns doutrinadores enquadram a morte como “cessação contratual”. Preferimos, porém, valer-se do próprio nome
“morte”, que é o termo empregado em legislações.
20
Historicamente, o termo “rescisão” sempre foi associado à lesão enorme ou ao estado de perigo, mas a prática forense
banalizou a expressão e transmudou-lhe o significado atual (Schreiber, 2018, p. 470; Gagliano e Filho, 2018, pp. 509-510).
Há quem vincule a rescisão a casos de invalidade, com amparo no direito francês (Gagliano e Filho, 2018, p. 510). O texto
das leis costuma ser disforme, ora utilizando o termo “rescisão” como resilição (v.g. art. 607 do CC), ora como resolução
por inadimplemento (v.g. art. 810 do CC), ora como resolução por perda do objeto (v.g. art. 609 do CC), ora como extinção
decorrente de anulação (v.g. art. 1.642, IV, CC), ora como resolução por evicção (v.g. art. 455 do CC).
21
Há quem situe as cláusulas resolutivas como “causas preexistentes”, embora reconheça o inadimplemento absoluto
como causa posterior. Parece-nos contraditória essa posição, pois o inadimplemento absoluto é uma condição resolutiva
tácita que surge com o contrato (art. 475 do CC). Ademais, a cláusula resolutiva só extingue o contrato se, após o contrato,
sobrevier o fato resolutivo, razão por que preferimos enquadrá-la como causa superveniente.
22
Exemplos de emprego da expressão “resolução” para perda de objeto: arts. 235, 238, 248 e 567 do CC.
23
Ex.: segurador pode resolver contrato diante do superveniente agravamento do risco (art. 769, § 1º, CC).
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Contratos em Geral – Parte IV
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Resilição24 é a extinção do contrato por vontade das partes e pode ser unilateral (vontade
de apenas uma das partes) ou bilateral (vontade de ambas as partes). A resilição bilateral
também é batizada de distrato. Já a resilição unilateral é sinônima de revogação (arts. 682,
I, e 856, CC)25, renúncia (art. 682, I, CC), exoneração (art. 835 do CC), denúncia, “denúncia
vazia”26.
Apesar de haver doutrinadores a enquadrar o direito de arrependimento como uma causa
anterior, consideramo-lo uma espécie de resilição unilateral, pois decorre da vontade de ape-
nas uma das partes. O direito de arrependimento é, na verdade, um direito de resilir unilateral-
mente o contrato. É uma causa superveniente, portanto.
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Contratos em Geral – Parte IV
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Certo.
Corresponde ao parágrafo único do art. 473 do CC.
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Contratos em Geral – Parte IV
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• o promitente vendedor de um imóvel não pode resilir o ajuste, pois isso lhe permitiria
astutamente aproveitar-se de eventual valorização superveniente do imóvel, além de
ser incompatível com o direito do promitente comprador à adjudicação compulsória
(STJ, REsp 212.937/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 15/12/2008);
• o incorporador não pode desistir da incorporação imobiliária após o prazo de carência
e de ter alienado qualquer das unidades autônomas futuras a terceiros, salvo se ele
readquirir todas as unidades (art. 34 da Lei n. 4.591/1964);
• o fiador não pode resilir unilateralmente a fiança por prazo determinado (art. 835 do CC);
• o mandante não pode resilir o mandato outorgado com cláusula “em causa própria” ou
como condição de negócio jurídico bilateral (art. 684 e 685 do CC);
• o locador não pode resilir unilateralmente o contrato de locação de imóvel residencial
firmado por prazo inferior a 30 meses ou por meio verbal antes do transcurso do prazo
de 5 anos de contrato (art. 47 do CC).
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Errado.
O paralelismo de forma é a regra para o distrato.
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Contratos em Geral – Parte IV
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Errado.
Só a condição resolutiva tácita depende de interpelação judicial (art. 474 do CC).
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Contratos em Geral – Parte IV
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Segundo o texto do art. 474 do CC, as cláusulas resolutivas tácitas se operam com a inter-
pelação judicial. Não pode ser extrajudicial. Interpelação judicial é qualquer notificação feita
sob o comando de um juiz, a exemplo da interpelação judicial como procedimento de jurisdi-
ção voluntária (art. 726 do CPC) ou da citação (art. 240 do CPC).
Apesar disso, há necessidade de o fato resolutivo ser atestado por agente com fé pública
ou pela lei, à semelhança do que sucede com a condição resolutiva expressa27. Por isso, ine-
xistindo certificação do fato por lei ou por outro agente com fé público, é necessário haver de-
cisão judicial nesse sentido A sentença judicial terá natureza declaratória e eficácia retroativa
à data da interpelação judicial.
27
Não há motivos para o regime jurídico da cláusula resolutiva expressa ser mais rigoroso que o da cláusula resolutiva tácita.
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QUESTÕES DE CONCURSO
Questão 1 (VUNESP/ADVOGADO/CÂMARA DE PIRACICABA-SP/2019/ADAPTADA) O con-
trato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contra-
to a ser celebrado.
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GABARITO
1. C 28. C
2. E 29. E
3. C 30. C
4. E
5. C
6. C
7. E
8. C
9. C
10. C
11. E
12. C
13. E
14. C
15. E
16. E
17. C
18. E
19. E
20. E
21. E
22. E
23. C
24. C
25. C
26. C
27. C
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GABARITO COMENTADO
Questão 1 (VUNESP/ADVOGADO/CÂMARA DE PIRACICABA-SP/2019/ADAPTADA) O con-
trato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contra-
to a ser celebrado.
Certo.
É o art. 462 do CC:
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais
ao contrato a ser celebrado.
Errado.
Forma é exceção (art. 462 do CC).
Certo.
Art. 462 do CC.
Errado.
Contrato preliminar tem de ter todos os requisitos do contrato principal, salvo a forma (art. 462
do CC).
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Certo.
Art. 462 do CC.
Certo.
Art. 462 do CC.
Errado.
A presunção é de ausência de direito de arrependimento, de modo que esta só pode ser exer-
cida se estiver pactuada. Sem pacto expresso, qualquer das partes tem direito a se valer da
ação de adjudicação compulsória, por meio da qual a sentença substitui o contrato definitivo
(arts. 463 e 464 do CC). Veja:
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente,
e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exi-
gir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.
Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte ina-
dimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza
da obrigação.
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Contratos em Geral – Parte IV
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Certo.
É o art. 423 do CC:
Certo.
Art. 423 do CC.
Certo.
Não há nulidade – tal como dito na questão –, mas a interpretação deverá ser mais favorável
ao aderente no caso de dúvida (art. 423 do CC).
Errado.
A resolução por onerosidade excessiva aplica-se aos contratos de execução diferida ou de
execução continuada (também chamada de contrato de trato sucessivo), conforme art. 478
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do CC. Não se aplica, pois, ao contrato de execução instantânea, ao contrário do dito na ques-
tão. Veja o art. 478 do CC:
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se
tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimen-
tos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da
sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Certo.
É o art. 478 do CC.
Errado.
Trata-se de conceitos distintos. Resolução por onerosidade excessiva se dá quando a pres-
tação se torna muito desproporcional na forma do art. 478 do CC, e não quando ela se torna
impossível. Impossibilidade superveniente da prestação é caso de perda de objeto do contrato
e, por isso, acarreta-lhe a resolução28.
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Certo.
É o art. 478 do CC.
Errado.
Vale a partir da citação, e não da intimação da sentença (art. 478, parte final, CC).
Errado.
Para a teoria da imprevisão, o fato não pode ser previsível, ao contrário do afirmado na questão
(art. 478 do CC).
Certo.
É o art. 421-A do CC:
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I – as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláu-
sulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução;
II – a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e
III – a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada.
Errado.
A demissão não é considerada um fato imprevisível para a doutrina majoritária e, por isso, não
autoriza a revisão nem a resolução do contrato à luz do art. 478 do CC, ao contrário do dito na
questão.
Errado.
A questão define “contrato aleatório”, e não o “contrato comutativo”.
Errado.
A questão define o “contrato comutativo”, e não o “contrato aleatório”.
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Errado.
No contrato aleatório do tipo emptio spei (art. 458 do CC), o risco é total, e não parcial. É di-
ferente do contrato aletatório do tipo emptio rei speratae (art. 459 do CC), em que o risco é
parcial. Veja os dispositivos:
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe
foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado
venha a existir.
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de
virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que
de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à
esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá
o preço recebido.
Errado.
A parte final da questão está errada: se a parte agir com culpa ou dolo, não haverá o direito de
receber o que foi prometido. É o art. 458 do CC.
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Certo.
A questão merecia ser anulada, porque o conceito de “união de contratos” não necessariamen-
te se equipara ao de “contratos coligados” para alguns doutrinadores. Seja como for, o gabarito
foi considerado correto, o que nos parece uma falha da banca. Nos contratos coligados, há
mais de um contrato que está vinculado uns aos outros numa relação de dependência recípro-
ca. Eles podem ou não estar no mesmo instrumento.
Certo.
É a definição doutrinária.
Certo.
A teoria do adimplemento substancial não impede a cobrança da dívida pelas vias ordinárias,
mas apenas repele a medida drástica da resolução contratual em razão de ela ser despropor-
cional diante do fato de o devedor ter adimplido parte substancial da dívida.
Certo.
É o art. 473, parágrafo único, do CC:
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Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera
mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimen-
tos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de trans-
corrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.
Certo.
Art. 473, parágrafo único, CC.
Certo.
Art. 473, parágrafo único, CC.
Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação
judicial.
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Certo.
Art. 474 do CC.
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Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado
no concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação
para concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União
(Advogado da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e
Mestre em Direito pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito
no vestibular da UnB de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito
Público. Membro do Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.
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