Monografia, Direitos e Deveres Fundamentais Do Arguido
Monografia, Direitos e Deveres Fundamentais Do Arguido
Monografia, Direitos e Deveres Fundamentais Do Arguido
VIANA – LUANDA
2021
JANDIRA CARDOSO MANUEL
VIANA, 2021
JANDIRA CARDOSO MANUEL
Presidente: _____________________________________________________
1˚ Arguente: ____________________________________________________
2˚ Arguente: ____________________________________________________
__________________________ _________________________
Presidente 1˚ Arguente
__________________________ _________________________
2˚ Arguente Diretor-geral
DECLARAÇÃO DA AUTORA
Declaro que este trabalho escrito foi levado a cabo de acordo com os
regulamentos do ISTA – Instituto Superior Técnico de Angola. O trabalho é original
excepto onde indicado por referência especial no texto. Quaisquer visões expressas
são as do autor e não representam de modo nenhum as visões do ISTA. Este
trabalho, no todo ou em parte, não foi apresentado para avaliação noutras
instituições de ensino superior nacionais ou estrangeiras
I
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTO
À Deus,
Por ter-me dado saúde e força para superar as constantes dificuldades da vida.
Por todo o esforço e paciência e, claro, pelo apoio incondicional, sobretudo, pelas
suas palavras amigas e sinceras, nos momentos mais oportunos da minha
formação.
Ao meu orientador, professor, Dr. Rui José André, pelo auxílio na feitura desta
magna obra.
III
EPÍGRAFE
RESUMO
O presente trabalho tem por objectivos, conhecer os direitos e deveres legais dos
arguidos no âmbito penal angolano; apresentar os direitos e deveres fundamentais
dos arguidos; identificar as causas da violação permanente dos direitos dos arguidos
e elencar as garantias constitucionais para o exercício dos direitos dos arguidos.
Utilizou-se como tipos de pesquisa, a pesquisa bibliográfica e documental. Sendo
assim, percebemos que, o arguido goza do direito de estar presente aos actos
processuais que directamente lhe disserem respeito. Goza ainda do direito ao
silêncio. Isto quer dizer que com excepção das perguntas sobre a sua identidade e
antecedentes criminais, o arguido tem o direito de não responder a quaisquer outras
perguntas que lhe são colocadas. O arguido, quando detido, tem o direito de
comunicar com o seu defensor. A comunicação em privado ocorre à vista quando
assim o impuserem razões de segurança, mas em condições de não ser ouvida pelo
encarregado da vigilância. Por último, o arguido pode ainda recorrer das decisões
que lhe forem desfavoráveis. Além dos direitos, tem o arguido também, deveres.
Dever de comparência - comparecer perante o juiz, o Ministério Público ou os
órgãos de polícia criminal sempre que a lei o exigir e para tal tiver sido devidamente
convocado; dever de responder com verdade - responder com verdade às perguntas
feitas por entidade competente sobre, por exemplo, a sua identidade; dever de
sujeição - sujeitar-se a diligências de prova e a medidas de coacção e garantia
patrimonial especificadas na lei e ordenadas e efectuadas por entidade competente.
ABSTRACT
The present work has as objectives, to know the legal rights and duties of the
defendants in the Angolan penal scope; present the fundamental rights and duties of
the accused; identify the causes of permanent violation of the defendants' rights and
list the constitutional guarantees for the exercise of the defendants' rights. It was
used as types of research, the bibliographic and documental research. Therefore, we
understand that the defendant has the right to be present at the procedural acts that
directly concern him. It also enjoys the right to silence. This means that with the
exception of questions about his identity and criminal background, the accused has
the right not to answer any other questions put to him. The accused, when detained,
has the right to communicate with his defender. Communication in private takes
place on sight when security reasons so require, but in conditions of not being
overheard by the person in charge of surveillance. Finally, the accused can also
appeal against decisions that are unfavorable to him. In addition to rights, the
defendant also has duties. Duty to appear - appear before the judge, the Public
Prosecutor's Office or the criminal police bodies whenever required by law and duly
summoned to do so; duty to respond truthfully - to respond truthfully to questions
asked by a competent authority about, for example, your identity; duty of submission
- to be subject to evidence and measures of coercion and patrimonial guarantee
specified by law and ordered and carried out by a competent entity.
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA...............................................................................................................I
AGRADECIMENTO......................................................................................................II
EPÍGRAFE...................................................................................................................III
RESUMO.....................................................................................................................IV
ABSTRACT..................................................................................................................V
INTRODUÇÃO..............................................................................................................1
Problema da pesquisa................................................................................................3
Objectivos da pesquisa..............................................................................................3
Objectivo geral:...........................................................................................................3
Objectivos específicos:..............................................................................................3
Hipóteses de pesquisa...............................................................................................3
Justificativa da pesquisa............................................................................................4
Delimitação da pesquisa............................................................................................4
1.1.1. Noção..................................................................................................................5
1.1.5.1. O juiz..............................................................................................................16
2.1. Métodos...............................................................................................................36
2.3. Variáveis..............................................................................................................37
2.3.1. Independente:..................................................................................................37
2.3.2. Dependente:.....................................................................................................37
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................42
SUGESTÕES..............................................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................45
LISTA DE ABREVIATURAS......................................................................................46
INTRODUÇÃO
A Constituição da República de Angola (CRA) no seu art. 60˚, defende que “ninguém
pode ser submetido a tortura, trabalhos forçados, nem a tratamentos ou penais
cruéis, desumanas ou degradantes”. Deste modo as autoridades públicas
competentes devem interessar-se a garantir o livre exercício dos direitos e o
cumprimento dos deveres legalmente conferidos aos arguidos.
Problema da pesquisa
Objectivos da pesquisa
Objectivo geral:
Objectivos específicos:
Hipóteses de pesquisa
H1: A causa da violação dos direitos dos arguidos está relacionada com o
incumprimento dos prazos processuais penais, a falta de uma fiscalização acurada a
respeito da aplicação dos procedimentos criminais e a falta de preparação dos
órgãos de polícia criminal para lidar com matérias relacionadas aos direitos e
liberdades fundamentais dos arguidos.
1
(SEVERINO, 2000, p. 9)
12
de modo a obter tutela efectiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses
direitos.
Justificativa da pesquisa
Delimitação da pesquisa
1.1.1.Noção
2
(Ramos V. A., Direito Processual Penal (Noções Fundamentais). Colecção Faculdade de Direito
UAN, 1995, p. 105)
14
O princípio da legalidade
Também se lhe chama princípio "instrutório". Ele significa que compete ao tribunal
toda a acção necessária ao apuramento da existência da infracção, à determinação
dos seus agentes e à averiguação da sua responsabilidade, independentemente da
actividade que, nesse sentido, possam desenvolver as partes processuais.
Segundo (Silvério, 2013, p. 11), “é ao Estado que cumpre zelar pelo respeito das
formas procedimentais e princípios processuais, pois são as regras do direito que
devem garantir que determinada acção seja ela punível ou não possa ser decidida,
respeitando as formalidades da justiça para a descoberta da verdade”.
Princípio da concentração
Significa este princípio que o juiz, na apreciação (valoração) da prova produzida não
está sujeito a regras predeterminadas. Aprecia a prova e forma a sua convicção
livremente, de harmonia com as circunstâncias concretas do caso.
O princípio da publicidade
4
Ver o art. 147˚ do CPP.
18
O princípio da imediação
Para este autor, o único interesse em causa é o réu. Este interesse coincide com o
do Estado: é o interesse no castigo, na hipótese de ter cometido o crime. Para que o
19
Outras correntes doutrinárias não vão, porém, tão longe, reconhecendo a posição de
parte ao arguido ou réu, embora a mais ninguém.
Este, sim, tem interesse directo em defender o seu direito à liberdade e de se opôr a
acusação formulada contra si. É titular de um direito pessoal de defesa. Sobre ele
recairão as consequências da decisão judicial.
Mas já o mesmo diz-se, não sucede com o Ministério Público, outro dos sujeitos da
relação processual, que não tem interesse pessoal e direito de acusar, que não
ganha nem perde com a condenação ou a absolvição do réu, que é um órgão do
20
Mas o Ministério Público é parte num outro sentido, é parte em sentido processual
ou formal.
Parte, neste sentido, é qualquer pessoa (sujeito processual) capaz de deduzir uma
pretensão em juízo ou de a contradizer, independentemente de a essa capacidade
processual concreta corresponder um direito em sentido substancial, melhor
dizendo, mesmo que a parte processual não seja sujeito da relação jurídica que é
objeto do processo e se pretende ver discutida em juízo.
A partir daqui, a atividade das partes processuais, sejam quais forem os limites
colocados ao Ministério Público, quer pelo princípio da legalidade quer pelo respeito
devido aos princípios da justiça e da verdade objectiva, quer pela função pública que
desempenha, passa a ser conformada pelas posições processuais que cada uma
assumiu, posição de acusação para o Ministério Público, posição de contestação e
defesa para o arguido.
Deste modo, podemos dizer que, do ponto de vista instrumental, formal, o processo
penal é um processo de partes, estruturado a partir das posições processuais
opostas, assumidas pelos sujeitos processuais com capacidade para discutir a
causa e obrigarem o tribunal a tomar uma decisão.
Esta característica do processo penal, ainda que com alguns limites, é dominante na
fase de julgamento, embora tendencial apenas na instrução preparatória ou
formação do corpo de delito.
Mas não só. Outras se estabelecem quer entre o tribunal e muito outros
intervenientes processuais, testemunhas, declarantes, peritos, etc., quer entre estes
e as partes, cada um com as suas posições, os seus deveres e poderes jurídicos, os
seus direitos e as suas obrigações.
No processo penal, todavia, as partes, por um lado, ou pelo menos uma delas, o
Ministério Público, não defendem interesses próprios, interesses particulares
subjectivos ou privados. O que defende é o interesse do estado à realização
concreta do direito penal.
Não é parte interessada. Por outro lado, a posição das partes não é igual perante o
tribunal e no processo. Varia, de resto, com as fases processuais.
Não se pode, pois, falar em processo penal de uma relação jurídica processual, nos
termos em que essa relação existe e é entendida no direito, e processo, civil.
Tanto basta para que, pelo menos, no sentido mais geral de relações disciplinadas
pelo direito, possamos considerar no processo a existência de uma relação
processual, ou melhor até, a existência de diversíssimas relações jurídicas
processuais quer entre as partes, estas e o tribunal, quer entre tribunal e os outros
participantes chamadas a agir no processo. O processo é, no fundo um conjunto ou
uma sucessão ou encadeamento de relações processuais a partir de uma relação
jurídica nuclear, que é que se estabelece entre o arguido e o Estado, representado
este seja pelo juiz seja pelo Ministério Público. São estes os principais sujeitos das
relações jurídicas estabelecidas e poderes e deveres próprios. Os do tribunal (juiz),
formando aquilo a que se chama jurisdição ou poder de julgar, os do Ministério
24
1.1.5.Sujeitos processuais
Sujeitos, em sentido amplo, são as pessoas entre as quais se estabelecem as
relações jurídicas processuais. Em sentido estrito e técnico, que é o que agora nos
interessa, sujeitos processuais são apenas "aqueles participantes a quem
competem direitos e deveres processuais autónomos, no sentido de que através das
suas próprias decisões, podem determinar, dentro de certos limites, a concreta
tramitação do processo" (Ramos V. A., Direito Processual Penal. Noções
Fundamentais: Sujeitos processuais, participantes e partes processuais, 1995, p.
112).
Sujeito processual pode ainda ser definido como "participante a quem competem
direitos e deveres processuais autónomos, no sentido de, através das suas próprias
decisões, poder co-determinar, dentro de certos limites, a concreta tramitação do
processo; assim acontece, nomeadamente, com o Ministérios, o arguido e seu
defensor e o assistente". (Prata, Veiga, & Vilalonga, 2008)
1.1.5.1. O juiz
No entanto, usa-se com bastante frequência o termo arguido para designar o sujeito
passivo durante a fase de instrução e o termo réu, após a pronúncia e, sobretudo, na
fase de julgamento.
5
Ver os artigos 48˚, 312˚ do CPP.
26
No entanto, usa com bastante mais frequência o termo arguido para designar o
sujeito passivo durante a fase de instrução e o termo réu após a pronúncia e,
sobretudo, na fase de julgamento.
Do ponto de vista legal e material, nenhuma diferença existe entre arguido e réu,
mas de uma perspectiva teórica e doutrina é costume fazer a distinção e utilizar um
termo ou outro conforme as fases do processo.
Será réu o arguido a partir do momento em que o juízo de suspeita que sobre ele
recaia se transformou em juízo de probabilidade, e este pé confirmado pelo juiz, ou
seja a partir da pronúncia.
O art.63˚ do Código do Processo Penal define o arguido como “aquele sobre quem
recaia forte suspeita de ter perpetrado uma infracção, cuja existência esteja
suficiente comprovada”.
a) Haver forte suspeita de que uma infracção tenha sido cometida por determinada
pessoa;
b) Estar a infracção suficientemente comprovada no processo 6.
O conceito lato de arguido envolve o de réu e já vimos que a distinção entre ambos
é puramente formal, não determinando consequências jurídicas divergentes.
Isso não significa, porém, que o arguido seja remetido e degradado à posição de
“objecto” no sentido de coisa processual, como no processo inquisitorial da Idade
Média.
6
Ver C.P. Penal, anotado – Silva Araújo, 413.
29
Com efeito, o arguido era tratado aí como um simples objeto de prova, instrumento
dos fins do processo e nada mais, e a ideia que presidia aos interrogatórios era
sempre a da obtenção da confissão a todo o preço.
Ora, só a partir da acusação, o arguido toma conhecimento perfeito dos factos que
lhe são imputados e pode, sem reservas, consultar os autos.
Com meio de prova, através das declarações do arguido, quer enquanto confessa
quer quando nega o crime, contribui ou pode contribuir para a descoberta da
verdade.
Como direito subjectivo, como meio de defesa, o arguido pode usá-lo para, através
das suas explicações, das suas sugestões, da «sua versão dos factos», influir no
andamento e na direção do processo, na descoberta da verdade e na realização do
respectivo fim, ainda que tal direito seja usado na perspectiva da sua defesa e de
harmonia com a sua real conveniência e interesse.
O arguido tem o direito de ser ouvido sobre todos os factos objecto do processo e
poderá exercer esse direito com todas as garantias inerentes à sua qualidade de
sujeito, mas as declarações que prestar poderão ser usadas com meio de prova
contra si.
Mas essa não é a regra. Os arguidos não presos são interrogados, tal como os
presos, e até podem sê-lo antes de adquirirem essa qualidade processual.
É aqui que tem interesse a distinção que a lei e a doutrina fazem entre arguido
(pessoa contra quem existe forte suspeita de ter cometido um crime suficientemente
comprovado) e o simples suspeito.
Por isso, sempre que alguém, ouvido como declarante, pressinta que está a ser alvo
da suspeita de ter cometido o crime, tem a faculdade de requerer que seja ouvido
nos termos e com as formalidades do primeiro interrogatório de arguido não preso.
Não quer isso dizer que lhes reconheça o direito de mentir. Os arguidos, como toda
a gente, têm o dever moral e social de não faltarem à verdade, mas do ponto de
vista do comportamento processual, a lei entendeu não lhes ser exigível o
cumprimento do dever de dizer a verdade ou pelo menos de os punir quando faltem
a ela.
O réu é obrigado a estar pessoalmente em juízo, nos casos em que a lei o exija ou
quando o juiz o ordene.
Como regra, só em outros casos que não estes poderá fazer-se representar por
advogado.
O livre debate entre a acusação e a defesa é factor decisivo, ainda que não
exclusivo, da descoberta da verdade recolhida na decisão ou sentença judicial.
Deve dizer-se, no entanto, que tal nulidade deverá considerar-se sanada se for
anterior ao despacho de pronúncia ou equivalente e o advogado constituído ou
defensor nomeado, posteriormente a não a arguir no prazo de cinco dias, a contar
daquele em que juntar aos autos a procuração forense ou em que for notificado da
notificação – art.141˚, n˚2, al. b), do CPP.
E este um aspecto a ter em conta pelos advogados e defensores. O art.140˚, n˚1, al.
b), do CPP, do Código do Processo Penal comina com nulidade o interrogatório,
sem assistência do defensor, quando ela é obrigatória, o mesmo se passando se o
advogado for indevidamente impedido de assistir, quando facultativa.
Nula será, ainda, a acusação que não tenha sido presidida de interrogatório do
arguido, quando ele for obrigatório.
O defensor é, umas vezes, como se vê, constituído pelo arguido, outras vezes
nomeado pelo juiz.
8
Ver o art.69˚, n˚3 do CPP.
37
O regime é diferente no caso de defensor constituído. Cada réu pode constituir o seu
advogado.
Se for advogado constituído, o defensor tem, desde logo, o direito de não aceitar o
patrocínio, de renunciar ao mandato ou recusar a defesa.
Mas do mesmo modo que o advogado pode recusar o patrocínio, também, a parte
interessada poderá recusar o advogado, alegando motivos justos e razoáveis.
Para além deste direito, os advogados têm ainda, de carácter legal, como por
exemplo, o de «exercer a advocacia com independência e dignidade, sem outros
limites que os superior e legalmente definidos e não ser molestados por causa desse
exercício»; ao respeito, consideração e audiência... nomeadamente dos órgãos e
servidores da justiça, dos encarregados a instrução dos processos e de todas as
entidades com quem tenham de tratar; obter dos organismos do Estado, das
empresas, das organizações e os elementos de que careçam para a defesa dos
seus constituinte; à proteção dos organismos competentes, sempre que seja
impedida a sua atividade ou, no exercício das suas funções, ameaçada a sua
integridade pessoal; a serem, finalmente, considerados como órgãos, embora
auxiliares, da justiça.
Por sua vez, os deveres dos advogados podem ser gerais ou processuais (estes
últimos comuns a todos os defensores).
40
Os deveres gerais constam de uma longa enumeração, feita pelo art.7˚ da Lei 9/82.
não passar de uma mera expectativa que não ultrapassa os limites da teoria e sem o
mínimo efeito prático.
interesse geral da defesa não pode entrar em conflito com o interesse particular da
defesa do arguido.
O defensor está proibido de fazer seja o que for que desfavoreça o seu constituinte,
de requerer diligências com o intuito de provar a culpabilidade do réu, de mostrar
provas que o prejudiquem, de conduzir à descoberta da verdade nua e crua dos
factos, à verdade objectiva dos factos, sempre que tal actividade contrarie a defesa.
Não quer isto dizer que o defensor deva faltar aos seus deveres processuais e ético-
profissionais ou mesmo aos deveres políticos inerentes à sua qualidade de cidadão
e muito menos que tenha de fazer, seja o que for que ofenda a verdade e a justiça,
praticando no processo actos reprováveis, sob pena de incorrer em responsabilidade
disciplinar e criminal.
O que quer dizer é que o interesse geral da defesa se realiza e só se realiza, dentro
da estrutura do processo contraditório, através de realização do interesse particular
da defesa do arguido.
Para a garantir, a lei impõe aos advogados, como de resto já vimos, o dever de sigilo
ou segredo profissional.
Os advogados não podem divulgar nada que lese o arguido ou os seus direitos, em
geral, estando-lhes vedado testemunhar contra eles.
Mas, como já dissemos, essa atitude é determinada, por um lado, pelo interesse
geral da defesa (por conseguinte, do interesse público do Estado), atenta a estrutura
do processo contraditório, isto é, o caminho ou método que a lei escolheu para
chegar à verdade material ou objectiva.
Se o defensor, uma vez que fosse, pudesse desfavorecer o réu e agir contra ele, a
defesa ficaria destruída sem remédio aos olhos do réu e aos olhos da comunidade,
correndo o risco de se tornar coisa inútil, arremedo de defesa e paródia processual.
2.1. Métodos
“Método consiste em uma série de regras com a finalidade de resolver determinado
problema ou explicar um facto por meio de hipóteses ou teorias que devem ser
testadas experimentalmente e podem ser comprovadas ou refutadas”. Se a hipótese
for aprovada nos testes, será considerada uma justificativa adequada dos factos e
aceita ou adoptada para fins práticos. É nesta fase onde o pesquisador deve explicar
como produzirá o trabalho. Deve escolher, descrever e justificar uma metodologia
adequada ao projecto de pesquisa9.
9
(Marconi & Lakatos, 2007, p. 33)
45
2.3. Variáveis
2.3.1.Independente:
A detenção de um indivíduo em conflito com a lei.
2.3.2.Dependente:
10
Ver anexo 1.
46
No direito angolano, uma pessoa é constituída como arguida, um termo jurídico que
não existe em muitas jurisdições estrangeiras, quando recaem sobre si indícios de
ter cometido um delito. Sem arguido não há julgamento.
A nova Constituição da República de Angola nos seus artigos 60º, 63º, 64º, 65º e
67º, veio reforçar, de forma positiva, o estatuto jurídico-processual do arguido (o
conjunto de direito e deveres, como se viu acima, ligados à qualidade de arguido).
Antes de ser arguida, a pessoa pode ser meramente suspeita, mas tal significa que
contra ela ainda não foram reunidos indícios suficientemente sérios para ser
considerada arguida e poder ter os tais direitos e deveres.
O artigo 67˚ da CRA determina que “ninguém pode ser detido, preso ou submetido a
julgamento senão nos termos da lei, sendo garantido a todos os arguidos ou presos
o direito de defesa, de recurso e de patrocínio judiciário. À luz da CRA, presume-se
inocente todo o cidadão até ao trânsito em julgado da sentença de condenação”.
O arguido tem direito a escolher defensor e a ser por ele assistido em todos os actos
do processo, especificando a lei os casos e as fases em que a assistência por
advogado é obrigatória. Neste sentido, os arguidos e presos têm o direito de receber
visitas do seu advogado, de familiares, amigos e assistente religioso e de com eles
se corresponder.
49
Aos arguidos ou presos que não possam constituir advogado por razões de ordem
económica deve ser assegurada, nos termos da lei, a adequada assistência
judiciária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O arguido goza do direito de estar presente aos actos processuais que directamente
lhe disserem respeito. Goza ainda do direito ao silêncio. Isto quer dizer que com
excepção das perguntas sobre a sua identidade e antecedentes criminais, o arguido
tem o direito de não responder a quaisquer outras perguntas que lhe são colocadas.
Em suma, estamos de acordo com a hipóteses atrás mencionada, para nós também,
a causa da violação dos direitos dos arguidos está relacionada com o incumprimento
dos prazos processuais penais, a falta de uma fiscalização acurada a respeito da
aplicação dos procedimentos criminais e a falta de preparação dos órgãos de polícia
criminal para lidar com matérias relacionadas aos direitos e liberdades fundamentais
dos arguidos.
52
SUGESTÕES
Para uma justiça penal que se queira pública e legal, sugerimos o seguinte:
a) Que seja necessário que se olhe ao arguido não como coisa e sim como
sujeito/parte da relação processual penal, e que lhe seja devolvido os seus
direitos, constitucional e legalmente consagrados;
b) Que seja criado, como se verifica em outros ordenamentos jurídicos, um Estatuto
Jurídico do Arguido, com esse gesto achamos nós, que se vai efectivar a
consagração da verdade material ou seja, a legitimidade que o tribunal tem em
trazer para a barra da justiça, por via da investigação criminal, todas as provas
consideradas úteis e necessárias à formação de um juízo de valor; condenado ou
inocente.
53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Dias, F. (1988). Direito Processual Penal (Lições coligidas por Maria João Antunes).
Coimbra: Faculdade de Direito da Universidade.
Prata, A., Veiga, C., & Vilalonga, J. M. (2008). Dicionário Jurídico. Direito Penal e
Direito Processual Penal. Almedina.
LISTA DE ABREVIATURAS
MP Ministério Público.
CP Código Penal.
Art. Artigo.
Al. Alínea.
Arts. Artigos.
n˚ número.
55
Toda a pessoa privada da liberdade deve ser informada, no momento da sua prisão
ou detenção, das respectivas razões e dos seus direitos, nomeadamente 11:
11
Arts. 63˚ e 67˚, da CRA.
56
12
Ver os arts.67˚ e 68˚, do CPP.