Medicina Legal 02
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Medicina Legal 02
TANATOLOGIA
Agostinho Santos
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Medicina Legal / Tanatologia Forense
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1 . INTRODUÇÃO
A Tanatologia Forense é o ramo das ciências forenses que partindo do exame do local, da
informação acerca das circunstâncias da morte, e atendendo aos dados do exame necrópsico,
procura estabelecer:
- a identificação do cadáver
- o mecanismo da morte
- a causa da morte
- o diagnóstico diferencial médico-legal (acidente, suicídio, homicídio ou morte de causa
natural).
Estes, são os objectivos mais importantes da Tanatologia Forense, nem sempre fáceis de
atingir. As dificuldades que se colocam ao médico que é responsável pela autópsia são por vezes
muitas e de natureza muito diversa.
Nem sempre é possível estabelecer a identificação. Em casos em que os cadáveres são
encontrados em avançado estado de decomposição, que não são procurados (nem por familiares,
nem por forças policiais) e em que não há qualquer informação sobre o caso, pode não se chegar
à sua identificação.
Nem sempre é possível chegar a um diagnóstico sobre a causa da morte. Há mortes cuja
causa permanece indeterminada mesmo depois da autópsia médico-legal. Em qualquer serviço de
Tanatologia Forense, apesar da experiência dos médicos que fazem a autópsia, da possibilidade
de recurso a todos os meios auxiliares de diagnóstico adequados ao caso em estudo, haverá
sempre mortes em que não é possível esclarecer a sua causa, tendo que se concluir, por morte de
causa indeterminada. Alguns estudos revelam que a percentagem de mortes de causa
indeterminada, mesmo depois de realizada a autópsia médico-legal, varia de centro para centro,
mas pode rondar valores entre os 4 -10%.
Noutros casos, apesar de se identificar a causa de morte (ex. traumatismo craniano) não é
possível fazer um diagnóstico diferencial médico-legal. Não há dados suficientes para que se
possa afirmar que estamos perante um caso de acidente, de suicídio ou de homicídio.
Isto acontece com alguma frequência, e a explicação pode residir na falta de informação
adequada (informação policial, clínica, social, etc.); ou num exame inadequado do local e das
circunstâncias em que ocorreu a morte, ou numa autópsia mal conduzida ou realizada por médico
pouco experiente nesse tipo de casos.
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1. Fenómenos post-mortem
Os fenómenos post-mortem, devem ser conhecidos para além do médico que faz a
autópsia, por todos aqueles que participam na investigação criminal (forças policiais que se
deslocam ao local onde apareceu o cadáver) e também dos advogados e juízes que vão receber
os relatórios da autópsia e têm que ter um entendimento preciso sobre a sequência
fenomenológica da evolução do cadáver e da terminologia médico-legal empregue para a
descrever, sob pena de fazerem interpretações erradas e considerar como lesões traumáticas
fenómenos que resultam da normal evolução da putrefacção cadavérica.
Os fenómenos devidos à cessação das funções vitais podem ser divididos em dois grandes
grupos:
➢ Abióticos
▪ Imediatos
▪ paragem cardiorespiratória
▪ imobilidade do cadáver
▪ abolição da motilidade e tónus muscular
▪ ausência de circulação
▪ dilatação pupilar
▪ abertura das pálpebras e da boca
▪ relaxamento esfincteriano (perda de fezes; urina e esperma)
▪ perda de consciência, de sensibilidade (táctil, térmica e dolorosa)
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▪ Tardios
▪ desidratação
▪ arrefecimento do corpo
▪ livores cadavéricos (hipostases viscerais)
▪ rigidez cadavérica (rigor mortis)
▪ flacidez cadavérica
➢ Transformativos
▪ destrutivos
▪ autólise - por acidificação dos tecidos
▪ putrefacção
• organismos
▪ aeróbios
▪ aeróbios facultativos
▪ anaeróbios
• fases de evolução
▪ coloração (mancha verde de putrefacção)
▪ de produção de gás (enfisema putrefactivo)
▪ de liquefação
▪ de esqueletização
▪ conservadores
▪ saponificação (condições para o seu aparecimento, formação da adipocera,
aspecto do cadáver saponificado)
▪ mumificação (condições para o seu aparecimento, aspecto do cadáver
mumificado)
▪ corificação (condições para o seu aparecimento, aspecto do cadáver
corificado)
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2 . MORTE SÚBITA
Principais causas de morte morte súbita com origem no sistema nervoso central :
▪ acidentes vasculares
▪ meningites
▪ estado de mal epiléptico
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3. SINDROME DA MORTE SÚBITA DO LACTENTE (SMSL)
Introdução
A designação adoptada pela Sociedade Portuguesa de Pediatria é a de Sindrome da Morte
Súbita do Lactente (SMSL), os autores anglo-saxónicos designam este sindrome por Sudden
Infant Death Syndrome (SIDS).
A MSIL é considerada a primeira causa de morte entre o 1º mês e o 1ª ano de vida nos
países desenvolvidos, com uma incidência variando entre 1 e 4/1000 nados vivos. O sindrome
existe também em Portugal, mas não se conhece a sua verdadeira dimensão. Apesar dos poucos
estudos publicados estima-se, no nosso país, uma incidência de 2/1000.
Em muitos países desenvolvidos, foram feitas múltiplas campanhas de informação e de
formação quer de pais, quer de educadores, quer de pessoal de saúde e foram adoptadas
medidas simples no cuidado dos bebés que permitiram uma redução significativa da mortalidade
por SMSL.
Até esta data continua por se saber a causa deste sindrome.
Definição
Segundo Beckwith (Conferência de Seatle em 1969) – SIDS é a morte súbita e inexplicada
de uma criança, aparentemente saudável em que uma autópsia completa falha na demonstração
de uma adequada causa de morte.
Epidemiologia
▪ em Portugal não há dados disponíveis (só estudos isolados)
▪ 7000 casos/ano nos EUA
▪ incidência (1,5 - 2 por 1000 nados/vivos)
▪ 2 - 4 meses (pico de incidência)
▪ mais frequente durante o sono
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4. MORTE VIOLENTA
Morte violenta - "é a morte provocada por agentes externos" (Lacassagne); compreende as
situações de homicídio, suicídio, acidentes, infanticídio e na sequência de aborto ilegal.
ASFIXIAS MECÂNICAS
1. Submersão
Submersão - "é a morte que resulta da supressão do arejamento pulmonar por obstáculo
constituído por líquido que penetra nas vias aéreas (submersão-asfixia), ou a que resulta do
simples contacto do líquido com o corpo (submersão-inibição)" (Carlos Lopes, 1977)
- exame toxicológico
- ponderar os exames a pedir em função do estado de decomposição
cadavérica e da informação disponível sobre o caso (álcool, drogas de
abuso, medicamentos, insecticidas, etc.)
4.2 Enforcamento
Enforcamento – "a suspensão completa ou incompleta, do corpo em ponto fixo, por meio
de um laço que constringe o pescoço, determinando a morte imediata, por inibição, ou
perturbações de ordem asfíxica, circulatória e nervosa que, em regra, são rapidamente mortais"
(Carlos Lopes - 1977)
Sulco – lesão observada no pescoço, ao nível do hábito externo, após a retirada do laço
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Sulco
- excepcionalmente
- suspensão incompleta com a cabeça num plano inferior ao resto do corpo
- implica um exame muito cuidadoso do local e das circunstâncias da morte
- sulcos aproximadamente perpendiculares ao maior eixo do pescoço (horizontais)
- raros
- suspensão incompleta, praticamente em decúbito dorsal ou ventral
4.3 Esganadura
4.4 Estrangulamento
Estrangulamento – " constrição violenta do pescoço, por meio de laço, devida a acção
independente da do peso do corpo ". (Carlos Lopes, 1977)
Pode eventualmente haver suspensão da vítima se houver uma desproporção física
enorme entre a vítima e o agressor (ex. a vítima é uma criança e o agressor é um adulto
corpulento)
4.5 Sufocação
Sufocação - " género de asfixia mecânica em que não há constrição do pescoço nem
imersão dos orifícios respiratórios num líquido " (Almeida Ribeiro)
Há portanto um obstáculo à entrada de ar que condiciona o aparecimento de uma asfixia
que é mortal
1 - VÍTIMAS DE ENFORCAMENTO
- congestão
- palidez
- projecção ou não da língua entre as arcadas dentárias
- sufusões hemorrágicas nas conjuntivas
- existência ou não de "máscara equimótica"
- existência ou não de outros ferimentos
- em que localização
- de que tipo
2 - VÍTIMAS DE ESTRANGULAMENTO
3 - VÍTIMAS DE ESGANADURA
Definição - instrumento lesivo manejado com a mão, que actua sobre o corpo humano
através de gume e/ou de ponta (extremidade pontiaguda)
Mecanismo de acção - há uma concentração da força viva numa superfície muito limitada
(na extremidade), penetram nos tecidos actuando como uma cunha, afastando lateralmente os
tecidos
Os instrumentos cortantes são os que em regra "produzem lesões que são mais compridas
do que profundas"
Mecanismo de acção
- por simples pressão
- por pressão e deslizamento
- vestígios subungueais
- exame toxicológico
- existência de lesões auto-inflingidas (prega cubital e face anterior do terço inferior dos
antebraços, sobre a artéria radial)
- existência de lesões de hesitação
- existência de lesões de defesa (mãos, antebraços)
- existência ou não de outros ferimentos
- em que localização
- de que tipo
- sinais de arrastamento
- manchas de sangue ou outros fluídos biológicos
- local
- configuração / posição da vítima
- dimensão
- tudo o que pareça ser relevante e possa estar relacionado com o caso
Definição de conceitos
Num orifício de entrada, são achados constantes e independentes da distância a que é feito
o disparo, orifício por onde entra o projéctil e a orla de contusão; no entanto, o anel de limpeza, a
tatuagem e a queimadura podem aparecer ou não em função da distância de disparo, do tipo de
arma e de munição utilizada.
Regra geral: não é possível, em circunstância alguma, definir o calibre do projéctil a partir
das dimensões do orifício de entrada.
▪ zona de pele, que se situa em torno do orifício por onde entra o projéctil e que
apresenta contusão e erosão. Pode eventualmente aparecer ao nível do orifício de
saída sempre que a pele a esse nível seja contundida contra uma superfície dura (ex.
cinto, assento de cadeira, etc.)
▪ mecanismo de formação
▪ em cortes histológicos, constata-se que a zona da pele onde se situa a orla de contusão
não tem epiderme (pelo efeito erosivo da passagem do projéctil).
▪ orla de contusão é por vezes designada conforme os autores por orla de escoriação e
por orla de enxugo (pela limpeza de todos os materiais que estão depositados na
superfície do projéctil aquando da sua passagem através da pele).
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▪ Dimensões
• deve ser registada a maior altura da orla de contusão nos casos
de orla de contusão concêntrica
• nos casos de orla de contusão excêntrica deve imaginar-se o
orifício propriamente dito dividido em eixos ortogonais e registar
o(s) quadrante(s) onde a orla de contusão é mais larga e mais
comprida
▪ outras designações que por vezes são utilizadas nos tratados de medicina legal – “anel
de Fish”; “collerete d'essuyage”
▪ zona de pele em torno do orifício por onde entra o projéctil, que apresenta uma
equimose mais ou menos intensa e mais ou menos profunda
▪ resulta da ruptura de pequenos vasos pela passagem de projéctil,
▪ de coloração variável conforme o tempo decorrido após a produção do ferimento. A cor
pode estar mascarada devido à deposição, sobre esta mesma área de pele, dos
elementos constitutivos da nuvem de resíduos
▪ zona de pele disposta em torno do orifício por onde entra o projéctil, onde se dá o
depósito de elementos constitutivos da nuvem de resíduos, principalmente os
resultantes da combustão da pólvora (designados por alguns autores de fumaça)
▪ só se observa nos disparos feitos para distâncias de disparo que se situem dentro do
alcance da nuvem de resíduos (ver distância de disparo)
▪ sobrepõe-se e ultrapassa a orla de contusão
▪ a cor da pele pode ir do cinzento-escuro ao castanho-escuro. A cor desse depósito irá
variar em função:
▪ distância de disparo
▪ ângulo de incidência de disparo
▪ tipo de arma
▪ tipo de cartucho (as pólvoras não piroxiladas - pólvora negra, deixam um depósito
mais escuro e mais intenso do que as pólvoras piroxiladas modernas, para a
mesma distância de disparo)
▪ área corporal atingida
▪ coberta ou não por cabelos ou pelos
▪ coberta ou não por peça(s) de vestuário
• se coberta por peça(s) de vestuário a intensidade do depósito
depende da trama mais larga ou mais apertada dos tecidos com
que são feitas a(s) peça(s) de vestuário
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1.5.2) Tatuagem
▪ área de pele, de dimensões variáveis, situada para fora do bordo do orifício de entrada
em que ocorre a incrustação de partículas de pólvora não queimada ou parcialmente
queimada (pólvora incombusta)
▪ não corresponde a lesões de queimadura
▪ histologicamente pode-se demonstrar que a incrustação das partículas de pólvora pode
ser mais ou menos profunda, daí que alguns autores identifiquem dois tipos de
tatuagem
1.6) Queimadura
▪ por acção directa (pela acção da chama ou por acção térmica dos
gases sobreaquecidos que se exteriorizam à boca de fogo)
Cavidade temporária
▪ espaço criado pelo afastamento de forma centrífuga dos tecidos provocado pela
passagem do projéctil.
▪ constitui o principal factor que vai determinar a gravidade de uma lesão por arma de
fogo no corpo humano
▪ por definição a sua existência é limitada no tempo, estima-se que a cavidade temporária
se mantém durante 5 a 10 milisegundos
▪ a sua dimensão depende:
▪ da quantidade de energia cinética transferida
▪ da rapidez com que se faz a transferência da energia cinética
▪ da elasticidade e da coesão dos tecidos atravessados
▪ a sua forma depende
▪ da resistência do tecido atravessado
▪ do tipo de projéctil (expansiva, forma, velocidade)
Cavidade permanente
▪ depois, de na primeira fase, os tecidos terem sido afastados de forma centrífuga em
relação ao trajecto seguido pelo projéctil eles acabam por sofrer um processo de
reajuste depois do projéctil ter passado que normalmente se faz por uma série de
movimentos de contracção de amplitudes progressivamente menores, até que a
cavidade temporária desaparece acabando por persistir uma cavidade dita permanente
▪ a cavidade permanente, que se forma pela passagem de um projéctil animado com
uma pequena quantidade de energia cinética, é na maior parte das vezes de diâmetro
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Segundo Di Maio, um dos autores mais importantes em ferimentos por arma de fogo,
podem-se considerar quatro situações quanto à distância de disparo:
1) contacto
2) quase contacto
3) distância intermédia
4) à distância
Neste caso, o cano da arma está encostada á superfície de impacto (superfície corporal ou
peça de vestuário). O contacto com a superfície de impacto pode ser, segundo Di Maio, um
contacto firme, a arma é forçada contra a superfície de impacto ou uma situação em que a arma
toca ao de leve na superfície de impacto, há um contacto frouxo.
Quer num caso quer noutro todos os elementos que saiem pelo cano da arma quando
ocorre o disparo, alcançam a superfície de impacto e muitas vezes penetram em profundidade.
Como não existe nenhum espaço entre a boca de fogo e a superfície de impacto por onde
possam escapar os elementos que saiem à boca de fogo após o disparo, eles têm que
necessariamente penetrar em profundidade
No entanto, quando há uma forte aderência das partes moles à superfície óssea subjacente
(ex. disparo de contacto na região frontal) não é possível a expansão e disseminação em
profundidade de todos os elementos que saíram pela boca de fogo e que penetraram nos tecidos,
nestas circunstâncias eles acabam por ter de sair.
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Corresponde à situação em que a arma não contacta com a superfície de impacto e pode
estar afastada dela até dois, três centímetros. Nesta situação, também todos os elementos que
saiem pelo cano da arma, alcançam a superfície de impacto e podem também penetrar em
profundidade tal como acontece no disparo de contacto mas como já existe um espaço entre a
boca de fogo e a superfície de impacto, embora pequeno, criam-se condições para que os
elementos que saiem à boca de fogo tenham uma distribuição à volta do orifício de entrada que é
completamente distinta da que ocorre no disparo de contacto.
A designação de tiro à queima roupa estava perfeitamente adaptada na altura em que
efectivamente os compostos químicos utilizados no fabrico de cartuchos produziam grandes
chamas à boca de fogo. Em termos bélicos, esse facto constituía uma enorme desvantagem, pois
a posição do atirador era facilmente denunciada.
Actualmente, as armas de uso mais frequente (6.35 mm, 7.65 mm e 9 mm) utilizando
cartuchos standard em que na composição das pólvoras entram aditivos anti-chama, a produção
de chama à boca de fogo é muito pequena.
Com os avanços técnicos introduzidos para diminuir a chama à boca de fogo este aspecto
foi resolvido e nas armas de uso mais vulgar não se visualizam os efeitos da acção da chama.
Pelas razões atrás expostas, esta terminologia quanto a nós, faz cada vez menos sentido,
uma vez que é muito raro as armas de uso comum produzirem chama com uma intensidade tal
que lhes permita queimar a superfície de impacto ou mesmo pegar-lhe fogo.
Corresponde a um disparo feito a uma distância que pode variar entre os dois centímetros e
uma distância variável (de arma para arma e de munição para munição) mas para a qual ainda é
possível a demonstração de alguns dos elementos que saem pela boca de fogo.
Esta distância tem sido considerada, em termos médios, e para as pistolas e revólveres de
uso comum e com munições standard, os 50-75 centímetros. Corresponde aquilo que muitos
autores designam como a curta distância.
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A determinação da distância neste tipo de disparo é uma questão que só pode ser definida
através de disparos experimentais com a arma problema e com a munição problema e em
condições de disparo sobreponíveis à situação problema.
Isto equivale a dizer, que a definição de “disparo a curta distância” é um conceito que
varia de arma para arma, de munição para munição e que a mesma arma utilizando munições
diferentes pode apresentar resultados diferentes em testes experimentais.
4) À distância
Corresponde a um disparo feito a uma distância tal, entre a boca de fogo e a superfície de
impacto, que já não é possível a demonstração de nenhum dos elementos que saem pela boca de
fogo.
Corresponde a uma situação em que a superfície de impacto só é atingida pelo projéctil.
Em termos médios estará para além dos 75 centímetros. No entanto tudo o que foi dito para
a o cálculo da distância intermédia é valido para o cálculo de disparo à distância.
ARMAS CAÇADEIRAS
Tal como acontece nos ferimentos produzidos por uma arma de cano curto (projéctil único),
os ferimentos resultantes dos disparos de arma caçadeira (projécteis múltiplos) não são sempre
iguais e tem morfologias variadas que estão directamente relacionadas com:
Para se poder estimar a distância de disparo neste tipo de armas, há também necessidade
de se proceder a disparos experimentais com a arma e a munição problema, aliás, tal como
acontece com outro tipo de armas, como já tínhamos visto.
A distância a que começa a fazer-se a dispersão dos chumbos é variável de arma para
arma e, para a mesma arma, de munição para munição.
De uma forma geral, pode-se dizer que para uma mesma arma disparada nas mesmas
condições (tipo de munição, existência ou não de choque e do tipo de choque) a dispersão é tanto
maior quanto maior for a distância de disparo.
Sem nunca esquecer que podem ocorrer grandes variações na dispersão da carga de
chumbos pelos factores atrás apontados pode-se no entanto dizer que em termos gerais os
aspectos lesionais se alteram á medida que a distância entre o cano da arma e a superfície de
impacto aumenta.
- existência de projéctil retido na roupa e que possa cair quando se mobiliza o corpo ou
que possa estar sob o cadáver
- existência ou não de outros ferimentos
- em que localização
- de que tipo
- sinais de arrastamento
- tudo o que pareça ser relevante e possa estar relacionado com o caso
▪ manipular o menos possível a área corporal e/ou a roupa que recebeu o impacto, desde
que, isso, não prejudique o socorro e a prestação de cuidados médicos e/ou cirúrgicos
imprescindíveis para salvar a vida da pessoa
▪ evitar que os cortes feitos nas peças de vestuário para facilitar a prestação de
assistência médica à vítima sejam coincidentes com as soluções de continuidade
produzidas pela passagem de projécteis
▪ evitar que as roupas das vítimas que têm o(s) orifício(s) de passagem do(s) projéctil
(eis) sejam abandonadas nos serviços de urgência ou colocadas directamente no
contentor do lixo. As roupas, uma vez retiradas, não devem sacudidas, devem ser
preservadas e entregues à autoridade policial competente
▪ registar todos os procedimentos médicos e/ou cirúrgicos em que haja referência precisa
ao nº de projécteis, fragmentos de projécteis ou corpos estranhos (bucha, ou
fragmentos da bucha) retirados da vítima durante um acto cirúrgico
▪ sempre que seja solicitada autópsia médico-legal toda a informação clínica disponível
(incluindo resultados de exames complementares - RX, TAC, RM) tem que acompanhar
o cadáver
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- cor da face
- congestão
- palidez
- existência de vestígios de vómito na face, nas roupas ou na periferia do cadáver
- existência de lesões por acção de produtos cáusticos (comissuras labiais, lábios,
face)
- existência ou não de outros ferimentos
- em que localização
- de que tipo
Bibliografia:
Carlos Lopes. Guia de Perícias Médico-Legais (6ª edição), Porto, 1977
Gisbert Calabuig JA. Medicina Legal y Toxicologia (5ª edição) Barcelona: Masson, S.A., 1998
Knigth B. Forensic Pathology. (2ª edição) London: Edward Arnold, 1996