Técnicas de Tradução em Língua Espanhola
Técnicas de Tradução em Língua Espanhola
Técnicas de Tradução em Língua Espanhola
em Língua Espanhola
Prof. Dr. Wellington Freire Machado
Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Dr. Wellington Freire Machado
M149t
ISBN 978-85-515-0421-5
CDD 460
Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! É com sensação de entusiasmo e sentimento de dever
cumprido que apresentamos este valioso material para sua iniciação ao estudo
das Técnicas de Tradução em Língua Espanhola.
Para que você conheça questões próprias de cunho teórico e prático, na Uni-
dade 1 serão apresentados tópicos específicos de teoria, crítica e história da tradu-
ção. Esta primeira parte – apesar de bastante teórica – proporcionará uma dimensão
apropriada do que significam os Estudos da Tradução em âmbito acadêmico.
III
Aceite este material como uma porta que o guiará ao mundo incrível
da tradução. Seja muitíssimo bem-vindo a este universo! Aproveite com sa-
bedoria o que a sua UNIASSELVI lhe proporciona.
IV
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
UNI
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LEMBRETE
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
VII
VIII
Sumário
UNIDADE 1 – TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA DA TRADUÇÃO.............................................1
IX
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................88
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................89
X
UNIDADE 1
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Querido acadêmico! Antes de qualquer início é preciso escolher um ponto de
partida. Nestas palavras iniciais explicaremos sobre o que trata este livro didático e
também discorreremos a respeito da tradução como disciplina acadêmica.
3
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
Ainda, segundo Introdução aos Estudos Tradutológicos, (2015, p. 9), com relação
aos estudos descritivos focados em questões de cunho psicológico, pode-se dizer que
os estudiosos desse ramo consideram métodos do campo da psicologia para realizar
suas pesquisas.
4
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
5
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
Alguma vez você já parou para pensar na questão do significado das pala-
vras na literatura? Veja o que diz o importante crítico literário brasileiro Ítalo Mori-
coni no livro Como e por que ler a poesia brasileira do século XX (2002, p. 8), a respeito
do significado da palavra em âmbito poético:
Toda linguagem tem seu quê de poesia. Mas a poesia é onde o “quê” da
linguagem está mais em pauta. A poesia brinca com a linguagem. Chama
atenção para possibilidades de sentido. Explora significativamente coinci-
dências sonoras entre palavras. Fabrica identidades por analogia, através
de imagens ou metáforas: mulher é flor, rapaz é rocha, amor é tocha. Nu-
vem é pluma. Pedra é sono.
7
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
Ocorre que a palavra poesia abrange sentidos que vão além da linguagem
verbal, oral ou escrita. Ela também se refere a um universo muito mais
amplo e menos exclusivo ou especializado que o do livro e da leitura. É
o lado aquém livro da poesia. Que tem a ver com o universo da cultura,
tem a ver com o ar que nos envolve. Um filme pode ter poesia. Um gesto,
comum ou excepcional, pode ter poesia. A poesia está no ar. A poesia é
popular. Se mulher é flor, a poesia está na boca do povo, vem da boca do
povo. Espera-se que a poesia enquanto arte específica das palavras de
algum modo, revele ou esteja articulada com essa poesia além livro, essa
poesia da vida (MORICONI, 2002, p. 8-9).
DICAS
Por falar em significado das palavras, você já leu alguma obra de Guimarães
Rosa?
Foi um importante autor brasileiro conhecido por seu grande poder de invenção linguística
e neologismos. Rosa criou palavras, brincou com o significado e escreveu com traço fino
o seu nome na história da literatura brasileira.
FONTE: ROSA, G. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
Observe, agora, o que diz Edwin Gentzler (2009, p. 112) com relação ao
formalismo e aos Estudos da Tradução:
8
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
9
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
Levý estabeleceu, então, um modelo. Nesse modelo era salutar que se man-
tivesse a qualidade literária da obra de arte. Isto é, a tradução não agiria como um
"agente facilitador", convertendo a complexidade do texto da cultura-fonte em algo
mais palatável para a cultura-receptora. Além de Jakobson, outro membro do Círcu-
10
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
lo Linguístico de Praga, foi salutar para a criação da teoria e Levý: Vilém Mathesius.
Gentzler (2009, p. 114) afirma que em 1913 escrevera que "a meta fundamental da
tradução literária era alcançar, ou pelos mesmos artifícios ou por outros, o mesmo
efeito artístico que no original"
NOTA
Acadêmico! Ao longo da sua trajetória alguma vez você já deve ter ouvido falar no Círculo
Linguístico de Praga. Vamos relembrar o que foi o Círculo?
E
IMPORTANT
“Os conceitos de sincronia e diacronia são de importância vital para os estudos linguísticos.
Saussure estabeleceu dois tipos de linguísticas: a linguística sincrônica e a linguística
diacrônica. A sincrônica se ocupa de um recorte temporal (por exemplo, a língua no
século XV). Já a linguística diacrônica se ocupa com as transformações da língua através
do tempo (a língua nos séculos XV, XVI, XVII, XVIII...). O significado das palavras sincronia e
diacronia está ligado à origem na língua grega: Diacronia, do grego dia ‘através’ e chrónos
‘tempo’, quer dizer ‘através do tempo’, e sincronia, do grego syn ‘juntamente’ e chrónos
‘tempo’, significa ‘ao mesmo tempo’" (MACHADO, 2017, p. 10).
Uma das chaves para compreender a teoria de Levý, no que tange aos
seus limites e à filosofia que emprega, pode ser encontrada na ideia exposta por
Gentzler (2009) ao discorrer sobre a crença formalista em relação a poeticidade:
12
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
Warnick surgiram, segundo Gentzler, na esteira dos debates com os seus estudantes
de pós-graduação. As ideias de Bassnnet são tão significativas, que Gentzler afirma
que o livro fora "talvez o livro mais vendido de Estudos da Tradução" (GENTZLER,
2009, p. 132). Afinal, o que defende Bassnnet?
NOTA
Você sabe quem foi Catulo? Gaius Valerius Catullus foi um poeta romano
nascido em Verona, aproximadamente 87 anos antes de Cristo! Durante o período
republicano, o poeta romano é conhecido historiograficamente por ter rompido com
as temáticas mitológicas presentes no passado romano, utilizando claramente em seus
poemas uma linguagem coloquial.
Esta abertura nos dá outra dimensão do processo de tradução, pois nos ensi-
na que o processo de escolhas do tradutor não precisa necessariamente se dar no âm-
bito da língua original ou na língua-alvo, mas no que Gentzler (2009) chama de "zona
cinza", que se situa entre ambas línguas. Isto significa dizer que o tradutor, indivíduo
conhecedor da língua/cultura fonte e da língua/cultura alvo, pondera, compara e es-
colhe a todo momento.
14
TÓPICO 1 | PRIMEIROS ESTUDOS DA TRADUÇÃO
DICAS
Você pode encontrar o artigo The name and the nature of Translation Studies
em https://www.tau.ac.il/tarbut/tirgum/holmes75.htm. O texto está disponibilizado em
língua inglesa.
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• James S. Holmes foi quem propôs o termo Translation Studies (Estudos da Tradução).
• O Formalismo Russo serviu de base para as primeiras teorias acadêmicas que eclo-
diram na segunda metade do século XX.
16
AUTOATIVIDADE
1 Relacione as colunas:
( ) Foco no produto
( ) Foco no meio
( ) Foco no tipo textual
Estudos descritivos de tradução
( ) Foco no processo
Estudos teóricos de tradução
( ) Foco na época
( ) Foco na função
( ) Foco na área
I- O Formalismo Russo foi uma escola que se dedicou exclusivamente aos Estudos
da Tradução, sendo considerada a pioneira.
II- Os formalistas russos buscavam isolar e definir o que os seguidores dessa cor-
rente entendiam por "literariedade".
III- Para os formalistas não havia diferença da forma dos textos literários para ou-
tras formas.
17
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2
TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
1 INTRODUÇÃO
A Teoria dos Polissistemas surgiu através dos estudos e reflexões de Itamar
Even-Zohar, professor da Universidade de Tel Aviv (Israel). Even-Zohar é um dos
mais importantes teóricos da cultura da atualidade e vem desenvolvendo, da segun-
da metade do século XX aos dias atuais, importantes estudos que nos permitem com-
preender a questão cultural a partir de uma perspectiva sistêmica.
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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
DICAS
20
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
Ruptura crítica – este é o termo com o qual Gentzler define Tynianov ao con-
siderar o desenvolvimento do formalismo e a relevância desta escola para os Estudos
da Tradução. A crítica, que o autor direcionou em outros ensaios, volta-se contra o
projeto formalista, chegando a criticar a pesquisa desenvolvida por alguns colegas,
considerando-as "superficiais e mecânicas e seus resultados ilusórios e abstratos"
(GENTZLER, 2009, p. 144).
21
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
22
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
A resposta está você encontra nas páginas anteriores ao texto que você está
lendo, acadêmico. Relembre que há pouco falávamos sobre o teórico russo Yuri Ty-
nianov (1928), especificamente sobre a singularidade deste teórico em relação aos
demais formalistas russos. Gentzler (2009) comenta, em subcapítulo intitulado Ita-
mar Even-Zohar: explorando relações literárias intrasistêmicas, que a inspiração de Even-
-Zohar partiu, em primeira instância, dos conceitos outrora apresentados por Tynia-
nov, "como sistema, normas literárias e a noção de evolução como uma luta contínua
entre vários sistemas literários" (GENTZLER, 2009, p. 148). O lugar de fala de Even-
-Zohar é a cultura hebraica, e as principais motivações que conduziram sua linha de
pensamento, estão relacionadas com a tradução de textos literários para o hebraico e
a relação do hebraico com outros sistemas. Observe, agora, a definição de Gentzler a
respeito do Polissistema:
23
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
UNI
O que você está achando das teorias que estamos apresentando a você?
Complexo? Difícil de visualizar mentalmente? De fato, acadêmico, estes conceitos não são
fáceis em um primeiro momento. Apesar disso, eles são importantes para que possamos
dar início aos nossos Estudos da Tradução. Ao compreender a história desta disciplina
em nível acadêmico, assim como outras questões teóricas, automaticamente estaremos
aptos para avançar rumo a questões pertinentes ao ato de traduzir.
24
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
DICAS
25
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
26
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
Imagine você uma cultura literária muito jovem: uma nação recém-criada,
uma língua sem memória conhecida ou tradição literária conservada. A tradução, em
um contexto assim, passaria a apresentar linguagens "novas" aos produtores literá-
rios da cultura receptora. É como se o sistema A fornecesse a semente necessária pra
que novas formas de literatura cresçam no solo receptor.
27
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
NOTA
28
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
29
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
DICAS
4 A ESPECIFICIDADE DA TRANSCRIAÇÃO
No Brasil, a Teoria da Transcriação em âmbito poético surgiu através da mão
de Haroldo de Campos (1929-2003). Campos foi um poeta e tradutor brasileiro e re-
conhecido como um dos principais nomes do Concretismo. Fazia parte do grupo
Noigandres com seu irmão, o poeta Augusto de Campos, e Décio Pignatari. Publicou
grande parte dos seus poemas na revista homônima do grupo.
30
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
E
IMPORTANT
FONTE: Concretismo. In: ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. São Paulo: Itaú Cultural, 2019.
Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo370/concretismo>. Acesso
em: 4 de mar. 2019. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
31
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
UNI
Desde o barroco, ou seja, desde sempre, não nos podemos pensar como
identidade fechada e conclusa, mas sim, como diferença, como abertura, como movimento
dialógico da diferença, contra o pano de fundo do universal [...] essa prática diferencial
articulada a um código universal é também, por definição, uma prática tradutória Haroldo
de Campos, Transcriação, p. 198-199 (apud REVISTA CIRCULADÔ. Ano IV, n. 5. set/ 2016).
DICAS
32
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
Em um âmbito geral, observe o que diz Martins (2016, s.p.) a respeito da téc-
nica e da distinção entre Tradução e Transcriação:
FIGURA 18 – TRANSCRIAÇÃO
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UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
DICAS
5 A TRADUÇÃO CULTURAL
O conceito de Tradução Cultural apresenta um entendimento da tradução
além do simples ato de verter um texto de uma língua para outra. A língua, aspecto
fundamental da cultura, é um elemento de grande complexidade e se encontra no
cerne do fractal cultural. Observar a história dos povos, portanto, é lançar automati-
camente um olhar para a história da tradução. Com tantos idiomas e dialetos distri-
buídos sobre os sete continentes, a tradução transformou-se na atividade que melhor
representa a natureza humana.
34
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
Peter Burke, na introdução de seu livro intitulado A tradução cultural nos primór-
dios da Europa Moderna (uma coletânea de ensaios coorganizada com R. Po-chia Hsia),
discute a "tradução entre línguas no contexto da tradução entre culturas” (BURKE,
2009, p.13).
35
UNIDADE 1 | TEORIAS, CRÍTICA E HISTÓRIA
36
TÓPICO 2 | TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
Apesar do termo tradução cultural hoje estar associado a Burke, o autor es-
clarece que a alcunha se deu pela mão do antropólogo Edward Evans-Pritchard: “a
expressão ‘tradução cultural’ foi originalmente cunhada por antropólogos do círcu-
lo de Edward Evans-Pritchard, para descrever o que ocorre em encontros culturais
quando cada lado tenta compreender as ações do outro" (BURKE, 2009, p. 14). Como
exemplo de tradução cultural, Burke (2009) menciona no ensaio O caso da antropóloga
Laura Bohannan, que contou a história de Hamlet a um povo da África Ocidental.
Burke comenta que Bohannan ouviu constantes correções da narrativa por parte dos
anciãos "até finalmente se ajustar aos padrões da cultura local" (BURKE, 2009, p. 14).
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A teoria dos Polissistemas surgiu através dos estudos e reflexões de Itamar Even-
-Zohar, professor da Universidade de Tel Aviv (Israel).
CHAMADA
39
AUTOATIVIDADE
Estão corretas:
a) ( ) I, II e III.
b) ( ) Somente I e II.
c) ( ) Apenas III.
d) ( ) Todas as alternativas estão incorretas.
e) ( ) Apenas II.
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UNIDADE 2
PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E
LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará atividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
41
42
UNIDADE 2
TÓPICO 1
A TRADUÇÃO LITERÁRIA
1 INTRODUÇÃO
Na primeira unidade observamos questões teóricas relativas à área da tra-
dução, reflexões geradas ao longo de praticamente todo o século XX. Conhecere-
mos, neste primeiro tópico da Unidade 2, as questões relativas à tradução literária.
Já sabemos que a tradução, enquanto ofício, não é algo novo. Pensemos em livros
religiosos antigos como a Torah, a Bíblia e o Alcorão: esses livros, considerados os
mais importantes da história religiosa da humanidade, jamais chegariam até nós se
não fosse pela mão de diversos tradutores.
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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
Este é o caso de Eric Nepomuceno. Você já ouviu falar neste tradutor? Nepo-
muceno é um dos tradutores mais prestigiados no circuito américo-hispânico-bra-
sileiro. Amigo íntimo de Gabriel García Márquez, traduziu a obra do ganhador do
Prêmio Nobel ao português. Além disso, também traduziu outros autores hispano-
44
TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA
-americanos de grande relevância, como é o caso dos argentinos Jorge Luis Borges e
Julio Cortázar, e do mexicano Juan Rulfo. Com um currículo de peso, Nepomuceno
já ganhou três prêmios Jabuti.
DICAS
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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
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TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA
Dou-lhe uma...
Dou-lhe duas...
Dou-lhe três...
Não?
Pois então, observe atentamente os seguintes conceitos, pois eles são muito
importantes para que possamos compreender o que importa em nível prático quan-
do nos propomos a realizar uma tradução literária.
47
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
O que você, como tradutor, faria nesse caso, prezado acadêmico e futuro cole-
ga? Traduziria o texto para o português mantendo a complexidade do texto fonte com
medo de descaracterizá-lo ou optaria por uma tradução mais palatável ao português,
fácil de ser lida pelo leitor brasileiro contemporâneo, com o ônus de correr o risco de
ser taxado como adaptador e não como tradutor? Qual dessas atitudes constitui, na sua
opinião, uma estratégia domesticadora?
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TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA
E
IMPORTANT
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UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
Como você pôde ver, esta estratégia demanda pesquisa e estudos por parte do
tradutor, pois nela é preciso que realmente se faça uma imersão no contexto no qual
o autor estava inserido, pensando questões correlatas na língua para a qual se traduz.
Você concorda com Schleiermacher quando este diz que o tradutor deve
priorizar um ou outro caminho? Pois bem, Paulo Henriques Britto (2012) não concor-
da. Segundo ele, o que o tradutor literário faz é exatamente o contrário: ele encontra
um caminho intermediário entre as duas atitudes extremas: ele não deve facilitar
completamente o texto ao português (pois corre o risco de descaracterizar o estilo do
autor), nem tampouco ceder à obsessão por ser o mais fiel possível, adotando uma
perspectiva estrangeirizadora. O meio termo seria conseguir se equilibrar entre am-
bas perspectivas, sabendo mediar, na medida do oportuno, a dosagem de cada um
dos aportes possíveis.
Considerando esse contexto, imagine que você seja convidado para traduzir
um romance de um autor contemporâneo reconhecido pelo seu estilo inconfundível.
Nesse caso, em hipótese alguma você deveria optar por uma perspectiva puramente
domesticadora, já que uma abordagem assim suscitaria revolta nos leitores afeiçoa-
dos ao estilo do autor, que provavelmente reclamariam da subtração da característica
autoral a qual estão acostumados.
50
TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA
Caim agradeceu como era seu dever, mas o privilégio não podia fazê-lo
esquecer os seus agravos contra deus, que iam em argumento, Suponho
que o senhor estará feliz, disse aos anjos, ganhou a aposta contra satã e,
apesar de tudo, quanto está a sofrer, job não o renegou, Todos sabíamos
que não o faria, Também o senhor, imagino, O senhor primeiro que todos,
Isso quer dizer que ele apostou porque tinha a certeza de que ia ganhar,
De certo modo sim, Portanto, tudo ficou como estava, neste momento o
senhor não sabe mais de job do que aquilo que sabia antes [...] (SARAMA-
GO, 2009, p.141).
51
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
Observe que os nomes próprios também são iniciados por letras minúscula.
Uma tradução domesticadora radicalizante baniria estes traços e suscitaria grande es-
tranhamento em leitores já habituados ao estilo do autor português, sejam estes leitores
proficientes no idioma fonte (língua portuguesa) ou estrangeiros de línguas diversas.
Este é um exemplo que nos permite entender que nem sempre encontrar o
meio termo entre uma tradução domesticadora e outra estrangeirizante é a melhor
opção. Há imposições claras do mercado editorial e, muitas vezes, o tradutor não
tem o poder de decisão, estando a cargo da empresa contratante, que se pauta em
parâmetros diversos.
Britto (2012, p. 64) sinaliza que um fator determinante para a escolha, muitas
vezes, dá-se em função do público-alvo, elemento importante na política adotada no
âmbito da tradução:
52
TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA
UNI
Veja o que escreveu Clarice Lispector sobre uma tradução que fez do russo
de uma peça de Tchecov. Perceba a questão da domesticação presente no texto:
Mas e quando nos caiu em mãos uma peça de Tchecov? Veio numa fase em que eu
estava meio deprimida. Depois eu soube que Tati andou consultando amigos meus para
saber se me convinha lidar com o personagem principal, já que este se parecia demais
comigo. A conclusão era que eu trabalhasse de qualquer maneira porque me faria bem
agir, e porque seria bom eu ver, como num espelho, a minha própria fisionomia. Que me
faria bem lidar com um personagem cujo senso trágico da vida termina levando-o ao
desespero. Traduzimos Tchecov, eu com um esforço tremendo, pois me parecia estar
me descrevendo. Depois, por motivos externos, a peça passou para as mãos de outras
pessoas, e perdemo-la de vista. Um dos motivos externos consistia no fato do diretor
querer interferir demais na nossa tradução. Não nos incomodamos com a interferência
justa de um diretor, tantas vezes esclarecedora, mas as divergências eram muito sérias.
Entre outras, ele achava que, em vez de “angústia”, usássemos a palavra “fossa”. Ora, nós
duas discordávamos: um personagem russo, ainda mais daquela época e ambiente, não
falaria em fossa. Falaria em angústia e em tédio destruidor. Mas, para falar a verdade, em
termos atuais, ele estava era na fossa mesmo.
FONTE: Traduzir procurando não trair. In: MONTERO, T.; MANZO, L. (Org.). Clarice Lispector
– Outros escritos. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. p. 115-118. Publicado originalmente em
Revista Joia, Rio de Janeiro, n. 177, maio de 1968. ©Paulo Gurgel Valente.
53
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
5 A TRADUÇÃO DE POESIA
Assim como a tradução de ficção, a tradução de poesia também se localiza no
olho cerne de um furacão: debates calorosos com argumentos e duras refutações dão a
tônica do cenário que se desenha quando observamos a questão da poesia no âmbito
da tradução literária. Você pode imaginar o porquê de a poesia ser tão problematizada
no âmbito dos estudos de tradução?
Em primeiro lugar devemos pensar na natureza poética: com base na sua expe-
riência, você acredita que a poesia é um texto fácil de ser lido? Independentemente da
sua resposta, é consenso entre leitores de poesia, críticos e poetas, que a poesia é uma
arte que concentra em si grande complexidade, pois envolve elementos semânticos,
sintáticos e sonoros que muitas vezes soam dificílimos para pessoas que não estão ha-
bituadas com a leitura de poesia.
Conforme Britto (2012), existem dois tipos de posturas críticas com relação
à poesia: há pessoas que dizem que a poesia pode ser traduzida e há teóricos que
defendem que é impossível traduzir poesia.
Alguma vez você já parou para pensar sobre o assunto? Já leu alguma poesia
traduzida? Com relação a (im)possibilidade de traduzir poesia, Britto (2012, p. 119)
sinaliza que:
54
TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA
O autor defende que a poesia é um texto literário como qualquer outro e, por
essa razão, pode sim ser traduzido. No entanto, dada a complexidade da arte poética,
todos os elementos do poema podem ser importantes, conforme sinaliza o autor:
De acordo com Britto, em uma posição oposta a sua, o escritor russo Vladi-
mir Nabokov defendia a impossibilidade de traduzir poesia. Eis a sua argumenta-
ção: “o poeta utiliza de modo particularmente complexo e sutil os recursos do seu
idioma; ora, como os recursos de dois idiomas diferentes nunca são os mesmos, é
impossível recriar na língua-meta os efeitos poéticos do original e, portanto, não se
deve sequer tentar fazê-lo” (BRITTO, 2012, p. 122).
55
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
56
TÓPICO 1 | A TRADUÇÃO LITERÁRIA
DICAS
57
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
58
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• Na visão de Britto (2012) todas as traduções poéticas são falhas, de modo que a
poesia não pode (ou não deve) ser propriamente traduzida, mas sim recriada.
59
AUTOATIVIDADE
60
La tortuga gigante
Horacio Quiroga
Había una vez un hombre que vivía en Buenos Aires, y estaba muy con-
tento porque era un hombre sano y trabajador. Pero un día se enfermó, y los mé-
dicos le dijeron que solamente yéndose al campo podría curarse. Él no quería ir,
porque tenía hermanos chicos a quienes daba de comer; y se enfermaba cada día
más. Hasta que un amigo suyo, que era director del Zoológico, le dijo un día:
— Usted es amigo mío, y es un hombre bueno y trabajador. Por eso quie-
ro que se vaya a vivir al monte, a hace mucho ejercicio al aire libre para curarse.
Y como usted tiene mucha puntería con la escopeta, cace bichos del monte para
traerme los cueros, y yo le daré plata adelantada para que sus hermanitos puedan
comer bien.
El hombre enfermo aceptó, y se fue a vivir al monte, lejos, más lejos que
Misiones todavía. Hacía allá mucho calor, y eso le hacía bien.
Vivía solo en el bosque, y él mismo se cocinaba. Comía pájaros y bichos
del monte, que cazaba con la escopeta, y después comía frutos. Dormía bajo los
árboles, y cuando hacía mal tiempo construía en cinco minutos una ramada con
hojas de palmera, y allí pasaba sentado y fumando, muy contento en medio del
bosque que bramaba con el viento y la lluvia.
Había hecho un atado con los cueros de los animales, y lo llevaba al hom-
bro. Había también agarrado vivas muchas víboras venenosas, y las llevaba den-
tro de un gran mate, porque allá hay mates tan grandes como una lata de kero-
sene.
El hombre tenía otra vez buen color, estaba fuerte y tenía apetito. Preci-
samente un día que tenía mucha hambre, porque hacía dos días que no cazaba
nada, vio a la orilla de una gran laguna un tigre enorme que quería comer una
tortuga, y la ponía parada de canto para meter dentro una pata y sacar la carne
con las uñas. Al ver al hombre el tigre lanzó un rugido espantoso y se lanzó de un
salto sobre él. Pero el cazador, que tenía una gran puntería, le apuntó entre los dos
ojos, y le rompió la cabeza. Después le sacó el cuero, tan grande que él solo podría
servir de alfombra para un cuarto.
— Ahora — se dijo el hombre —, voy a comer tortuga, que es una carne muy
rica.
Pero cuando se acercó a la tortuga, vio que estaba ya herida, y tenía la ca-
beza casi separada del cuello, y la cabeza colgaba casi de dos o tres hilos de carne.
A pesar del hambre que sentía, el hombre tuvo lástima de la pobre tortu-
ga, y la llevó arrastrando con una soga hasta su ramada y le vendó la cabeza con
tiras de género que sacó de su camisa, porque no tenía más que una sola camisa,
y no tenía trapos. La había llevado arrastrando porque la tortuga era inmensa, tan
alta como una silla, y pesaba como un hombre.
La tortuga quedó arrimada a un rincón, y allí pasó días y días sin moverse.
El hombre la curaba todos los días, y después le daba golpecitos con la
mano sobre el lomo.
61
La tortuga sanó por fin. Pero entonces fue el hombre quien se enfermó.
Tuvo fiebre, y le dolía todo el cuerpo.
Después no pudo levantarse más. La fiebre aumentaba siempre, y la gar-
ganta le quemaba de tanta sed. El hombre comprendió entonces que estaba gra-
vemente enfermo, y habló en voz alta, aunque estaba solo, porque tenía mucha
fiebre.
— Voy a morir — dijo el hombre—. Estoy solo, ya no puedo levantarme
más, y no tengo quien me dé agua, siquiera. Voy a morir aquí de hambre y de sed.
Y al poco rato la fiebre subió más aún, y perdió el conocimiento.
Pero la tortuga lo había oído, y entendió lo que el cazador decía. Y ella
pensó entonces:
— El hombre no me comió la otra vez, aunque tenía mucha hambre, y me
curó. Yo le voy a curar a él ahora.
Fue entonces a la laguna, buscó una cáscara de tortuga chiquita, y des-
pués de limpiarla bien con arena y ceniza la llenó de agua y le dio de beber al
hombre, que estaba tendido sobre su manta y se moría de sed. Se puso a buscar
enseguida raíces ricas y yuyitos tiernos, que le llevó al hombre para que comiera.
El hombre comía sin darse cuenta de quién le daba la comida, porque tenía delirio
con la fiebre y no conocía a nadie.
Todas las mañanas, la tortuga recorría el monte buscando raíces cada vez
más ricas para darle al hombre, y sentía no poder subirse a los árboles para lle-
varle frutas.
El cazador comió así días y días sin saber quién le daba la comida, y un
día recobró el conocimiento. Miró a todos lados, y vio que estaba solo, pues allí
no había más que él y la tortuga, que era un animal. Y dijo otra vez en voz alta:
— Estoy solo en el bosque, la fiebre va a volver de nuevo, y voy a morir
aquí, porque solamente en Buenos Aires hay remedios para curarme. Pero nunca
podré ir, y voy a morir aquí.
Pero también esta vez la tortuga lo había oído, y se dijo:
— Si queda aquí en el monte se va a morir, porque no hay remedios, y
tengo que llevarlo a Buenos Aires.
Dicho esto, cortó enredaderas finas y fuertes, que son como piolas, acostó
con mucho cuidado al hombre encima de su lomo, y lo sujetó bien con las enreda-
deras para que no se cayese. Hizo muchas pruebas para acomodar bien la escope-
ta, los cueros y el mate con víboras, y al fin consiguió lo que quería, sin molestar
al cazador, y emprendió entonces el viaje.
La tortuga, cargada así, caminó, caminó y caminó de día y de noche. Atra-
vesó montes, campos, cruzó a nado ríos de una legua de ancho, y atravesó pan-
tanos en que quedaba casi enterrada, siempre con el hombre moribundo encima.
Después de ocho o diez horas de caminar, se detenía, deshacía los nudos, y acos-
taba al hombre con mucho cuidado, en un lugar donde hubiera pasto bien seco.
Iba entonces a buscar agua y raíces tiernas, y le daba al hombre enfermo.
Ella comía también, aunque estaba tan cansada que prefería dormir.
A veces tenía que caminar al sol; y como era verano, el cazador tenía tanta
fiebre que deliraba y se moría de sed. Gritaba: ¡agua!, ¡agua!, a cada rato. Y cada
vez la tortuga tenía que darle de beber.
62
Así anduvo días y días, semana tras semana. Cada vez estaban más cerca
de Buenos Aires, pero también cada día la tortuga se iba debilitando, cada día
tenía menos fuerza, aunque ella no se quejaba. A veces se quedaba tendida, com-
pletamente sin fuerzas, y el hombre recobraba a medias el conocimiento. Y decía,
en voz alta:
— Voy a morir, estoy cada vez más enfermo, y sólo en Buenos Aires me
podría curar. Pero voy a morir aquí, solo, en el monte.
Él creía que estaba siempre en la ramada, porque no se daba cuenta de
nada. La tortuga se levantaba entonces, y emprendía de nuevo el camino.
Pero llegó un día, un atardecer, en que la pobre tortuga no pudo más. Ha-
bía llegado al límite de sus fuerzas, y no podía más. No había comido desde hacía
una semana para llegar más pronto. No tenía más fuerza para nada.
Cuando cayó del todo la noche, vio una luz lejana en el horizonte, un res-
plandor que iluminaba el cielo, y no supo qué era. Se sentía cada vez más débil, y
cerró entonces los ojos para morir junto con el cazador, pensando con tristeza que
no había podido salvar al hombre que había sido bueno con ella.
Y sin embargo, estaba ya en Buenos Aires, y ella no lo sabía. Aquella luz
que veía en el cielo era el resplandor de la ciudad, e iba a morir cuando estaba ya
al fin de su heroico viaje.
Pero un ratón de la ciudad —posiblemente el ratoncito Pérez— encontró
a los dos viajeros moribundos.
— ¡Qué tortuga! —dijo el ratón—. Nunca he visto una tortuga tan grande.
¿Y eso que llevas en el lomo, qué es? ¿Es leña?
— No —le respondió con tristeza la tortuga—. Es un hombre.
— ¿Y adónde vas con ese hombre? —añadió el curioso ratón.
— Voy... voy... Quería ir a Buenos Aires —respondió la pobre tortuga en
una voz tan baja que apenas se oía—. Pero vamos a morir aquí, porque nunca
llegaré...
— ¡Ah, zonza, zonza! —dijo riendo el ratoncito—. ¡Nunca vi una tortuga
más zonza! ¡Si ya has llegado a Buenos Aires! Esa luz que ves allá, es Buenos Aires.
Al oír esto, la tortuga se sintió con una fuerza inmensa, porque aún tenía
tiempo de salvar al cazador, y emprendió la marcha.
Y cuando era de madrugada todavía, el director del Jardín Zoológico vio
llegar a una tortuga embarrada y sumamente flaca, que traía acostado en su lomo
y atado con enredaderas, para que no se cayera, a un hombre que se estaba mu-
riendo. El director reconoció a su amigo, y él mismo fue corriendo a buscar reme-
dios, con los que el cazador se curó enseguida.
Cuando el cazador supo cómo lo había salvado la tortuga, cómo había he-
cho un viaje de trescientas leguas para que tomara remedios, no quiso separarse
más de ella. Y como él no podía tenerla en su casa, que era muy chica, el director
del Zoológico se comprometió a tenerla en el Jardín, y a cuidarla como si fuera su
propia hija.
Y así pasó. La tortuga, feliz y contenta con el cariño que le tienen, pasea
por todo el jardín, y es la misma gran tortuga que vemos todos los días comiendo
el pastito alrededor de las jaulas de los monos.
63
Agora que você já leu o conto, vamos traduzi-lo com base no conheci-
mento adquirido neste tópico. Este é um conto do começo do século XX. Você
pode trabalhar adotando uma perspectiva domesticadora (tornando o conto
mais próximo aos leitores contemporâneos), você pode seguir uma abordagem
estrangeirizante, mantendo-se o mais próximo ao texto fonte, ou também pode
lançar mão de ambas estratégias ao mesmo tempo. Mãos à obra! Justifique sua
escolha.
64
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
O trabalho do tradutor, um ofício de bastidores, com frequência é questio-
nado em decorrência de aspectos como a pouca visibilidade e a baixa remuneração.
Esta questão, objeto de reflexão e denúncia por parte de diversos teóricos da área,
constitui um dos pontos mais nevrálgicos e menos glamorosos do status de tradutor
no mundo contemporâneo, seja em países modernos como Estados Unidos ou em
países e menor poder financeiro.
65
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
2 A INVISIBILIDADE DO TRADUTOR
Lawrence Venuti (1994), importante teórico dos estudos de tradução, pro-
blematiza a questão da invisibilidade do tradutor no mercado editorial. Em texto
intitulado A invisibilidade do tradutor, o teórico estadunidense detecta dois fenômenos
inter-relacionados tocantes à questão que dá título ao artigo. O primeiro deles diz res-
peito ao leitor no que tange a sua reação ao encontrar um texto traduzido; o segundo
se relaciona com o critério utilizado na realização de determinada tradução. O autor
afirma que:
O autor sinaliza que as duas atitudes, por parte dos leitores e também por
parte do campo especializado, apagam "completamente a intervenção crucial do tra-
dutor do texto" (VENUTI, 1994, p. 111). A questão se centra no êxito da tradução:
para o autor estadunidense, quanto mais bem-sucedida é uma tradução, maior é a
invisibilidade do tradutor. Nesse sentido, de forma proporcional, maior é a visibili-
dade do autor do texto e do significado do texto original:
66
TÓPICO 2 | ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO
Você concorda com Venuti, estudante? De fato, quando lemos um texto tra-
duzido geralmente focamos no constructo textual e sequer consideramos que por
trás daquele texto muitas vezes fluído, escrito em português, encontra-se um sujeito
cujo trabalho é primordial para que possamos ter acesso ao conteúdo final (o texto
publicado), seja ele um livro de artigos, um romance, uma novela curta, um compên-
dio de contos ou poemas. O ponto de tensão é que a questão aventada por Venuti de
fato possui sentido se considerarmos que na maioria das vezes o tradutor possui um
papel de coadjuvante.
67
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
68
TÓPICO 2 | ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO
A invisibilidade, que ocorre nos níveis textual e estético, também se faz pre-
sente em torno da questão socioeconômica, de acordo com Venuti (1994, p. 112):
DICAS
69
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
70
TÓPICO 2 | ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO
Ainda, com relação a esse tema, Venuti (1994, p. 114) afirma que não se pode,
em hipótese alguma, "pressupor uma relação de coextensão entre o texto fonte e a
tradução [...] em sua forma natural, a tradução excede o original”.
71
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
Na ocasião, citamos Saussure (1969, p. 9), que nos diz que a linguagem é "he-
teróclita e multifacetada", pois abrange vários domínios; “é ao mesmo tempo física,
fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social”. São essas relações,
com elementos de natureza individual e coletiva, considerando fatores históricos
e socioculturais, que geram construções que, muitas vezes, não encontram corres-
pondente na língua-meta. Afinal, cada lugar é único em sua essência. Pensemos no
português mesclado com o alemão ou com o italiano em zonas colonizadas: muitos
fenômenos linguísticos advindos desses contatos só se dão em um único tempo/es-
paço, não é mesmo? A boa notícia é que a aparente impossibilidade de tradução aca-
ba dando origem a um processo de reflexão que leva o tradutor a encontrar formas
criativas de cumprir o seu papel.
4 A QUESTÃO DA FLUÊNCIA
Ao pensar a invisibilidade do tradutor, Venuti nos traz a ideia de fluência.
Este conceito, na acepção empregada pelo autor, diz respeito ao efeito causado no
leitor. Recorde-se que anteriormente mencionamos que a fluência na tradução era
uma condição que invisibilizava o tradutor.
Venuti (1994, p. 117) afirma que a fluência indica nos leitores, resenhistas
e editores uma determinação ideológica: "a fluência na tradução gera um efeito de
transparência, a partir do qual se pressupõe que o texto traduzido representa a per-
sonalidade ou a intenção do autor estrangeiro ou o sentido essencial de seu texto".
72
TÓPICO 2 | ASPECTOS PROFISSIONAIS DA TRADUÇÃO
texto traduzido à reprodução social pode assumir a forma de mero consumo trans-
formando-se em produção, como Marx incisivamente descreve o processo no Grun-
drisse: quando um texto traduzido torna-se propriedade comerciável, em especial
quando alcança a categoria de best-seller, ele incentiva a tradução de tipos parecidos
de textos estrangeiros (ou, pelo contrário, a desestimula por estar o mercado satura-
do). Por exemplo, o enorme sucesso de O Nome da Rosa, de Umberto Eco, na tradução
fluente de William Weaver, estimulou a publicação nos Estados Unidos (e talvez a
própria composição) de pós-escrito a O Nome da Rosa.
73
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Para Venuti (1994), uma tradução é considerada aceitável (por redatores, revisores
e leitores) quando sua leitura é fluente.
74
AUTOATIVIDADE
2 Autorreflexão: com base na leitura desse tópico, na sua opinião, quais a ra-
zões do tradutor – apesar de toda a sua importância – ser relegado à invisi-
bilidade? Exponha sua opinião entre 15 e 30 linhas.
75
76
UNIDADE 2 TÓPICO 3
A PRÁTICA DA TRADUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Ao nos depararmos com a vastidão do campo da tradução, é comum que
surjam dúvidas com relação às possibilidades que se desenham no horizonte do tra-
dutor. Afinal de contas, todo a complexa formação do tradutor o habilita somente
para traduzir textos literários?
77
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
2 A TRADUÇÃO JURAMENTADA
Acadêmico! Alguma vez você já precisou dos serviços de um tradutor jura-
mentado? Você sabe o que faz um tradutor juramentado? Pois bem, nesta seção va-
mos esclarecer algumas questões relativas a este braço e atuação na área de tradução.
78
TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO
DICAS
CAPÍTULO III
c) Interpretar e verter verbalmente em língua vulgar, quando também para isso forem
nomeados judicialmente, as respostas ou depoimentos dados em Juízo por estrangeiros
que não falarem o idioma do país e no mesmo Juízo tenham de ser interrogados como
interessados, como testemunhas ou informantes, bem assim, no foro extrajudicial,
repartições públicas federais, estaduais ou municipais.
Parágrafo único. Aos exames referidos na alínea d, quando se tratar da tradução feita por
corretores de navios, são aplicáveis as disposições do artigo 22 e seus parágrafos. Se o
exame se referir a tradução feita por ocupante de cargo público em razão de suas funções
e dele se concluir que houve erro, dolo ou falsidade, será o seu resultado comunicado à
autoridade competente para promover a responsabilidade do funcionário.
Art. 18. Nenhum livro, documento ou papel de qualquer natureza que for exarado
em idioma estrangeiro, produzirá efeito em repartições da União dos Estados e dos
municípios, em qualquer instância, Juízo ou Tribunal ou entidades mantidas, fiscalizadas
ou orientadas pelos poderes públicos, sem ser acompanhado da respectiva tradução feita
na conformidade deste regulamento.
79
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
Art. 19. A exceção das traduções feitas por corretores de navios, dos manifestos e
documentos que as embarcações estrangeiras tiverem de apresentar para despacho nas
Alfândegas e daquelas feitas por ocupantes de cargos públicos de tradutores ou intérpretes,
em razão de suas funções, nenhuma outra terá fé pública se não for feita por qualquer
dos tradutores públicos e intérpretes comerciais nomeados de acordo com o presente
regulamento.
Art. 22. Quando alguma tradução por arguida de inexata, com fundamentos plausíveis
e que possam acarretar efetivo danos às partes, a autoridade que dela deva tomar
conhecimento, sendo judiciária, ordenará o exame que será feito em sua presença. Se a
autoridade for administrativa, requisitará o exame com exibição do original e tradução, à
Junta Comercial ou órgão correspondente, sendo notificado o tradutor para a ele assistir
querendo.
§ 1º Esse exame será feito por duas pessoas idôneas, de preferência professores do idioma
e na falta destes por dois tradutores legalmente habilitados, versando exclusivamente
sobre a parte impugnada da tradução.
Art. 23. Não poderão os tradutores públicos e intérpretes comerciais, sem causa justificada
e sob pena de suspensão, se recusar aos exames ou diligências judiciais ou administrativas
para que tenham sido competentemente intimados, não lhes sendo igualmente permitido
recusar qualquer tradução desde que esta se apresente no idioma em que estejam
legalmente habilitados.
80
TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO
Não é apenas a tradução fiel de documentos a tarefa que cabe aos res-
ponsáveis pela tradução juramentada. Suas atribuições incluem ainda a
possibilidade de atuarem como intérpretes em juízo, em cartórios ou em
outros locais onde haja a necessidade de interpretação de um texto em
outro idioma. Alguns exemplos incluem casamentos entre brasileiros e
estrangeiros, a compra e venda de imóveis por estrangeiros, registros de
filhos de estrangeiros nascidos no Brasil, audiências públicas, entre ou-
tras ocasiões. Ou seja, estamos falando de um campo de ampla atuação e
extrema importância para atestar a veracidade de informações nas mais
diversas ocasiões.
FIGURA 20 – A FÉ PÚBLICA
DICAS
Ficou interessado neste tema? Sugerimos a leitura Saiba como virar tradutor
juramentado, disponível em http://bit.ly/2P5uDF2.
3 TRADUÇÃO JURÍDICA
A tradução jurídica, que não deve ser confundida com a juramentada, consis-
te na tradução de documentos jurídicos. Este tipo de tradução pode ser juramentada
(com fé pública) ou não. O ponto de inflexão dessa linha de atuação diz respeito à área
do direito. Nesse sentido, é importante salientar que não basta um conhecimento satis-
fatório em Língua Espanhola para ser tradutor jurídico, mas, também, o conhecimento
do sistema jurídico brasileiro e do país estrangeiro. Por quais razões esses conhecimen-
tos são necessários?
81
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
De fato, você lembra dos falsos amigos (cognatos) presentes na Língua Espa-
nhola? Aquelas palavras que muitas vezes confundem o aprendente do idioma? No
âmbito do Direito, não é diferente. Além dos falsos cognatos também existem as seme-
lhanças entre os sistemas jurídicos, o que muitas vezes pode gerar confusões homéri-
cas, visto que, como bem adverte o texto de apresentação do dicionário, semelhança
não significa que ambas línguas são idênticas.
82
TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO
83
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
DICAS
DICAS
4 LEGENDAGEM E DUBLAGEM
A legendagem e a dublagem são, sem dúvidas, o trabalho do tradutor que
mais público alcança, se considerarmos a abrangência de produções audiovisuais
como os filmes que toda semana renovam a grade dos mais variados cinemas. É um
campo de trabalho bastante amplo: exércitos de dubladores, roteiristas e especialista
em legendagem trabalham intensamente para que o resultado final chegue ao públi-
co. Afinal, como funciona este trabalho?
84
TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO
De acordo com Eliana Márcia dos Santos Carvalho, em ensaio intitulado Du-
blagem e legendagem no cinema – perdas ou ganhos?:
FIGURA 23 – A LEGENDAGEM
85
UNIDADE 2 | PROCEDIMENTOS TÉCNICOS E LITERÁRIOS DA TRADUÇÃO
Veja o que Renato Rosemberg, citado por Carvalho (2006), afirma com
relação a este ponto:
[...] o grande público, e, pior, boa parte da imprensa, ainda confunde o tra-
balho de tradução para dublagem com o de tradução para legendagem.
Há diferenças profundas entre os dois, a começar pelo próprio destino
do texto traduzido: enquanto na legendagem ele é apresentado direta-
mente ao público, e, portanto, tem que ser escrito segundo a norma culta,
na dublagem ele serve de base para que o ator o interprete, o que nos
deixa mais à vontade para escrever como cada personagem falaria [...]
(ROSEMBERG, 2003, p. 164 apud CARVALHO, 2006, p. 4).
86
TÓPICO 3 | A PRÁTICA DA TRADUÇÃO
87
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
88
AUTOATIVIDADE
Estão CORRETAS:
a) ( ) Todas as assertivas estão corretas.
b) ( ) Apenas a II está correta.
c) ( ) Estão corretas apenas I e III.
d) ( ) Todas as assertivas estão incorretas.
e) ( ) A assertiva III está incorreta.
89
Cosas olvidadas
Después de mucho, mucho tiempo
Recién ahora vuelvo a hablarte
Que sensación al escucharte
Parece que fuera ayer.
90
UNIDADE 3
O ENSINO DE LÍNGUA
ESTRANGEIRA E A TRADUÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
91
92
UNIDADE 3
TÓPICO 1
AS LÍNGUAS DE SINAIS
1 INTRODUÇÃO
O campo da tradução é um espaço profícuo para a pesquisa e para a espe-
cialização, já que se presentifica em diversas áreas do conhecimento e abordagens
linguísticas. Nos últimos anos muito se tem escrito e debatido a respeito da tradu-
ção em língua de sinais.
93
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
94
TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS
95
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
de aproveitar a visão como sentido principal, ele propôs o paladar, associando sons
vocálicos a sabores (A com água; E extrato de losna; I com vinagre; O com água com
açúcar; U com azeite; para os sons híbridos, fazia misturas dos sabores)" (2004, p.115
apud AMARAL, 2017, p. 2).
96
TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS
DICAS
97
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
DICAS
4 LIBRAS
A LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, é uma língua utilizada por pessoas sur-
das no Brasil. Ela é uma de mais de 200 línguas de surdos existentes na atualidade e
pertence ao tronco familiar da língua de sinais francesa, assim como outras línguas de
sinais também utilizadas na Europa, como a Espanha, e também em outros lugares da
América.
Esta viagem e o convite feito pelo imperador a Hernest Huet possibilitou, mais
tarde, o surgimento do Instituto Imperial dos Surdos-Mudos, conforme esclarece Sâ-
mia Carvalho do Amaral:
98
TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS
99
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
NOTA
DICAS
Conheça mais sobre o INES assistindo ao vídeo “Primeira escola para surdos
do Brasil completa 160 anos”, no link: https://www.youtube.com/watch?v=fb1VgJZUVck.
100
TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS
Além disso, esse decreto também estabelece que a disciplina de Libras cons-
tituir-se-ia em disciplina curricular optativa (hoje obrigatória, em caso de cursos de
licenciatura) nos cursos de educação superior e profissional.
CAPÍTULO III
DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LIBRAS
E DO INSTRUTOR DE LIBRAS
101
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
Art. 7º Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso
não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o
ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada
por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis:
§ 1º Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão priorida-
de para ministrar a disciplina de Libras.
§ 2º A partir de um ano da publicação deste Decreto, os sistemas e as ins-
tituições de ensino da educação básica e as de educação superior devem incluir o
professor de Libras em seu quadro do magistério.
102
TÓPICO 1 | AS LÍNGUAS DE SINAIS
103
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
Nos últimos anos foram amplas as políticas públicas voltadas para a imple-
mentação da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – em âmbito público. Esse mo-
vimento sistêmico reverberou diretamente no campo de atuação do profissional da
área de línguas/linguagens. Hoje, o profissional que deseja especializar-se nesta área
do conhecimento encontra uma grande oferta de formação, gratuita ou paga, que
o prepara para atuar diretamente em um mercado de trabalho amplo e ávido por
profissionais qualificados, com grandes oportunidades de atuação tanto no serviço
público como no serviço privado.
104
RESUMO DO TÓPICO 1
• O Decreto 5.626/2005, assinado pelo ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, regu-
lamentou o uso de LIBRAS no serviço público.
105
AUTOATIVIDADE
1 Com base no vídeo “Primeira escola para surdos do Brasil completa 160 anos”, e,
considerando a leitura do conhecimento aprendido no Tópico 1, escreva um
texto dissertativo-argumentativo comentando os seguintes pontos: por que
o estudo de LIBRAS é tão importante para o surdo no Brasil? Por que esta é
uma área profícua para o profissional da tradução? Na sua opinião, qual o
principal desafio para o profissional que deseja atuar neste caminho?
a) A lei que instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência, assinada pela presi-
denta Dilma Rousseff.
b) A Lei Rouanet.
c) A Constituição Federal de 1988, apresentada por Ulysses Guimarães.
d) O decreto 5.626/2005, sancionado pelo ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.
106
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar que há poucas décadas o tradutor podia contar
somente com dicionários etimológicos, de sinônimos, bilíngues, temáticos, plurilín-
gues, analógicos, de abreviatura e siglas? Imagine todo este material impresso, em
folha de papel; calhamaços, quilos e quilos de papel sobre a mesa de trabalho do
tradutor.
107
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
3 FERRAMENTAS ÚTEIS
Nesta seção elencaremos algumas ferramentas funcionais na tarefa cotidiana
da tradução. Em linhas gerais, todas as ferramentas oferecem versões gratuitas e pa-
gas de seus produtos.
108
TÓPICO 2 | PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)
3.1 TRADOS
O Trados é um dos softwares mais antigos de tradução. Seu surgimento re-
monta ao ano de 1984. O programa foi desenvolvido pela empresa alemã Trados
GmbH. A grande popularização deste software se deu a partir da incorporação dele
pela Microsoft no Windows.
A grande vantagem do Trados, hoje, são algumas opções que a plataforma ofe-
rece, como o Multiterm, uma ferramenta que trabalha em função de questões termino-
lógicas. Além deste recurso, também é oferecido o SDL Trados Studio, um tradutor de
arquivos que cria memórias de tradução e gerencia projetos de ordem diversa.
3.2 WORDFAST
O Wordfast é um software especialista em memória de tradução. Este pro-
grama surgiu em 1999 na esteira do sucesso do Trados. Logo no princípio, podia-se
instalá-lo como um macro dentro do Microsoft Word. Conforme a ferramenta foi se
popularizando entre os usuários, a empresa passou a oferecer outras versões pagas
do produto, mais refinadas e com aportes mais completos do que na versão gratuita.
109
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
110
TÓPICO 2 | PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)
3.4 MYMEMORY
O MyMemory, além das funcionalidades presentes no google tradutor e em
outros softwares conhecidos de tradução automática, gera um banco de dados a par-
tir da contribuição de cada usuário. Esse material acaba sendo acumulado em um
megabanco de dados.
DICAS
111
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
FIGURA 14 – MYMEMORY
3.5 OMEGAT
O OmegaT é um software gratuito disponível para as plataformas Windows,
Mac e Linux. Com este programa, o tradutor tem acesso a processamento simultâneo
de projetos com vários arquivos, uso simultâneo de múltiplas memórias de tradução
e a glossários de usuários com reconhecimento de formulários flexionados.
112
TÓPICO 2 | PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)
FIGURA 15 – OMEGAT
113
UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
114
TÓPICO 2 | PROGRAMAS DE APOIO À TRADUÇÃO (PAT)
DICAS
Ficou curioso para saber mais sobre PATs? Convidamos você a ler o texto na
íntegra em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4925631.pdf.
115
RESUMO DO TÓPICO 2
• O Google Translator é uma ferramenta que translitera o documento para uma lín-
gua estrangeira.
116
AUTOATIVIDADE
Estão corretas:
a) I, II e III.
b) Apenas I.
c) Apenas I e II.
d) Apenas III.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
a) MyMemory.
b) OmegaT.
c) Wordfast.
d) Google translator.
e) Trados.
117
118
UNIDADE 3
TÓPICO 3
NICHOS DA TRADUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Anteriormente abordamos alguns campos de trabalho possíveis para o tra-
dutor, como a dublagem e a legendagem, a tradução de narrativas e de poesia, a
tradução juramentada e também a tradução jurídica. Neste tópico apresentaremos a
você outras perspectivas de atuação do profissional especializado na arte de traduzir.
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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
2 TRADUÇÃO MÉDICA
O profissional que se dedica ao campo da tradução médica presta serviços
para organizações não governamentais, agências sanitárias, empresas farmacêuticas
e hospitais.
3 TRADUÇÃO FARMACÊUTICA
Assim como a tradução médica, a tradução farmacêutica é um campo bastante
específico no universo da tradução. Pode-se dizer que essa área possui campos de afi-
nidade com a tradução médica, apesar de voltar-se para outras áreas do saber como a
formação em química.
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TÓPICO 3 | NICHOS DA TRADUÇÃO
Bastante coisa, não? Como você pode perceber, trata-se de um campo am-
plo que visa uma abordagem esgotante das possibilidades e atuação do profissio-
nal em farmácia.
4 TRADUÇÃO DE GAMES
Apesar de, em um primeiro momento, não parecer um campo promissor, en-
gana-se quem ignora o mercado de games. São dezenas, centenas, milhares de joga-
dores que esperam anualmente o lançamento da atualização de seus jogos favoritos.
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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
5 TRADUÇÃO E-COMMERCE
Você sabe o que é e-commerce? O e-commerce nada mais é do que o comér-
cio feito através da web: lojas que vendem produtos para usuários no mercado nacio-
nal ou internacional. Alguma vez você já fez a compra de algum produto em algum
website estrangeiro? Imagine que você acesse um website chinês para comprar um
produto que lhe pareceu financeiramente vantajoso. Para que você entenda o conteú-
do da página de e-commerce, o conteúdo não poderia estar escrito em chinês. Certo?
É nesse momento em que entra em ação o profissional de tradução: é ele quem vai
traduzir a descrição dos produtos para a língua do público-alvo.
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TÓPICO 3 | NICHOS DA TRADUÇÃO
6 TRADUÇÃO WEB
Atualmente, diversos serviços possibilitam a tradução automática de websi-
tes para outros idiomas. O problema desse serviço prestado, muitas vezes está rela-
cionado à questão da transliteração: dispositivos, como o Google translator, translite-
ram o texto de uma língua para outra.
FIGURA 22 – A WEB
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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
124
RESUMO DO TÓPICO 3
• O tradutor web é responsável por direcionar um olhar atento ao texto traduzido, con-
siderando nuances linguísticas significativas e questões de contexto sociocultural.
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AUTOATIVIDADE
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3 Após ter estudado diversos nichos ao longo deste tópico, responda o se-
guinte questionamento: qual dos nichos de tradução mais lhe chama a aten-
ção? Desenvolva um texto dissertativo-argumentativo, de 15 a 30 linhas,
comentando esta questão.
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128
UNIDADE 3
TÓPICO 4
A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E
INTERPRETES
1 INTRODUÇÃO
Ao longo das páginas deste livro didático, estudamos teorias da tradução,
história da tradução, possíveis áreas de atuação e uma série de questões relacionadas
à profissão de tradutor de espanhol no Brasil: a tradução juramentada, a dublagem e
a legendagem, o profissional que se dedica à LIBRAS ou ao aprendizado e respectivo
exercício de alguma das "lenguas de señas" usadas no mundo hispânico, a questão da
tradução jurídica e a reverberação deste ramo em outras áreas, além de outros tópicos
de matiz teórico-prática.
Pois bem, caro acadêmico. Neste último tópico conheceremos algumas ques-
tões de cunho pragmático ligadas ao papel do profissional da tradução no Brasil: afinal
de contas, após tanta teoria e informações diversificadas, como o regimento jurídico que
assegura o exercício da profissão, você deve estar ansioso por saber como o mercado
acolhe os profissionais oriundos do campo do estudo de línguas, não é mesmo?
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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
2 A TRADUÇÃO SIMULTÂNEA
Ramo essencial do campo de tradução, a tradução simultânea é uma subárea
que exige atenção máxima do intérprete. De acordo com o website TeclaSAP, criado
pelo intérprete de conferências Ulisses Carvalho (s.d., s.p.):
Se não pessoalmente, posso garantir que pelo menos uma vez na vida você
já assistiu a cerimônias na televisão nas quais utilizou-se a mão-de-obra do tradutor
simultâneo. Vamos! Pense! Puxe pela memória! Posse do presidente da República;
eventos esportivos mundiais, como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e os Jogos de
Inverno; o pronunciamento do presidente dos Estados Unidos sobre algum assunto
da política internacional, no telejornal.
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TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES
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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
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TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES
Dessa forma, se você se interessar por esse campo de atuação, após a sua
formação em Letras você pode, por exemplo, buscar uma formação paralela em tra-
dução. A ênfase você escolhe: existem cursos para tradutores de textos, intérpretes,
tradução médica, tradução literária, e muitas outras vertentes! A escolha é sua!
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UNIDADE 3 | O ENSINO DE LÍNGUA
4 ASSOCIAÇÕES DE TRADUTORES
No Brasil, atualmente, existem associações de tradutores que certificam a
associação ao membro. Uma das mais conhecidas é a ABRATES, Associação Brasi-
leira de Tradutores. Em sua página oficial, a associação apresenta-se como: "Somos
a ABRATES, Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes, associação sem fins
lucrativos e administrada por tradutores/intérpretes voluntários, fundada no Rio de
Janeiro, nos anos 70. Promovemos cursos, eventos e fomentamos a troca de conhe-
cimento e contatos entre colegas e/ou instituições e agências. Através da ponte que
estabelecemos flui o conhecimento e é feito o networking, mudando carreiras e vidas.
Cada vez mais presente e atuante, a ABRATES oferece vários benefícios para os asso-
ciados". Para ingresso nessa associação, o postulante deve comprovar experiência de
dois anos em tradução ou formação em curso de graduação, pós-graduação ou livre
de tradução, certificado por alguma instituição formadora (s.d., s.p).
FIGURA 28 – ABRATES
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TÓPICO 4 | A FORMAÇÃO DE TRADUTORES E INTERPRETES
DICAS
Você ficou curioso para conhecer cada um deles mais a fundo? Acesse:
Sindicado Nacional de Tradutores: www.sintra.org.br/.
Associação Profissional de Intérpretes de Conferência: www.apic.org.br/.
Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes: www.abrates.com.br/.
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RESUMO DO TÓPICO 4
CHAMADA
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AUTOATIVIDADE
a) Tradução simultânea.
b) Tradução de cochicho.
c) Nenhuma das alternativas.
d) Tradução consecutiva.
e) Tradução intermitente.
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REFERÊNCIAS
AIXELÁ, J. F. O estudo de tradução técnica e científica: uma análise de seu
desenvolvimento histórico. Tradução em Revista, Rio de Janeiro, v. 21, 2016.
Disponível em: http://bit.ly/342Bq6E. Acesso em: 20 nov. 2019.
BONET, J. P. Reducción de las letras y arte para enseñar a hablar a los mudos.
Reproducción digital de la edición de Madrid: Francisco Abarca de Angulo, 1620.
Disponível em: http://bit.ly/2t5MkMf. Acesso em: 11 ago. 2019.
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BURKE, P. A tradução cultural nos primórdios da Europa Moderna. São Paulo:
Editora UNESR, 2009.
ECO, U. Sobre a literatura. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
MORICONI, I. Como e por que ler a poesia brasileira do século XXI. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2002.
140
QUADROS, R.; RIZZIO, A. L.; REZENDE, P. L. F. Língua Brasileira de Sinais I.
Florianópolis: UFSC, 2009. Disponível em: http://bit.ly/346bZ4d. Acesso em: 11 ago.
2019.
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