Livro 01

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Luciana Araújo dos Reis

Luana Araújo dos Reis


(Organizadoras)

ENVELHECIMENTO E LONGEVIDADE

novas perspectivas e desafios

Brasília

2019
ISBN: 978-85-92918-31-6
Technopolitik - Conselho Editorial
Ana Lúcia Galinkin - Universidade de Brasília
Antonio Nery Filho - Faculdade de Medicina/Universidade Federal da Bahia
Claudiene Santos - Universidade Federal de Sergipe
Eroy Aparecida da Silva - Afip/Universidade Federal de São Paulo
Marco Antônio Sperb Leite - Universidade Federal de Goiás
Maria Alves Toledo Burns - Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto
Maria Fátima Olivier Sudbrack – Universidade de Brasília
Maria Inês Gandolfo Conceição – Universidade de Brasília
Maria das Graças Torres da Paz - Universidade de Brasília
Raquel Barros - ONG Lua Nova
Telmo Ronzani – Universidade Federal de Juiz de Fora
___________________________________________________________
Revisão: Maurício Galinkin/Technopolitik
Projeto gráfico e diagramação: Maurício Galinkin/Technopolitik
Capa: Ars Ventura Imagem e Comunicação/Foto: depositphoto

Ficha catalográfica: elaboração Iza Antunes Araujo CRB1-079


__________________________________________________________________________
E56 Envelhecimento e longevidade: novas perspectivas e desafios / Organização
Luciana Araujo Reis, Luana Araujo Reis.--Brasília, DF : Technopolitik,
2019.
254 p. : Il.

Texto de vários autores.


Inclui bibliografia
eBook (PDF)

ISBN: 978-85-92918-31-6

1. Idosos. 2. Envelhecimento. 3. Longevidade. 4. Saúde e envelhecimento.


5. Cuidadores e idosos. I. Reis, Luciana Araujo (Org.). II. Reis, Luana Araujo (Org.).

CDU 612.67
_____________________________________________________________

© das organizadoras. É permitida a reprodução para fins didáticos, desde que citada a fonte

Maurício Galinkin/Technopolitik (MEI) – CNPJ 25.211.009/0001-72 ISBN 92918


Tel: (61) 98407-8262. Correio eletrônico: [email protected]
Sítios eletrônicos na internet: http://www.technopolitik.com.br e http://www.technopolitik.com
Disponíveis, também, na Apple Store
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https://itunes.apple.com/br/book/teoria-das-representacoes/id1143950654?mt=11;
https://itunes.apple.com/br/book/psicologia-clinica-e-cultura/id1146059071?mt=11;
https://itunes.apple.com/br/book/trends-in-behavior-analysis/id1143256280?mt=11;
https://itunes.apple.com/br/book/abramd-compartilhando-saberes/id1149610704?mt=11
Sumário

PREFÁCIO
iv
Margarida Abreu

SOBRE ORGANIZADORAS, AUTORAS E AUTORES vii

ASPECTOS ÉTICOS NAS PESQUISAS CIENTÍFICAS ENVOLVENDO IDOSOS


1 13
Anita de Oliveira Silva e Éder Ricardo de Moraes
CAPACIDADE FUNCIONAL E LONGEVIDADE: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS
2 Maykon dos Santos Marinho, Pollyanna Vianna Lima, 21
Luana Araújo dos Reis e Luciana Araújo dos Reis
MODELO DE ATENÇÃO À SAÚDE E ENVELHECIMENTO: O DESAFIO DO VIVER MAIS
3 Jussiara Barros de Oliveira, Luciana Araújo dos Reis e 47
Luzia Wilma Santana Oliveira
SUPORTE FAMILIAR E LONGEVIDADE: UMA REFLEXÃO ACERCA DAS RELAÇÕES
FAMILIARES
4 72
Jamília Brito Gomes, Renato Novaes Chaves,
Alessandra Souza de Oliveira e Luciana Araújo dos Reis
SUPORTE SOCIAL E LONGEVIDADE: REFLEXÕES ACERCA DAS DEFINIÇÕES, TIPOS, REDES
DE APOIO E IMPLICAÇÕES
5 101
Luana Araújo dos Reis, Elaine dos Santos Santana,
Alessandra Souza de Oliveira e Luciana Araújo dos Reis
RELAÇÕES DE CUIDADO ENTRE FAMILIARES CUIDADORES E IDOSOS COM
6 DEPENDÊNCIA FUNCIONAL 129
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis
RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE NA LONGEVIDADE
7 Luana Araújo dos Reis, Gabriela Requião Vaz de Almeida e 161
Luciana Araújo dos Reis

CONTEXTO E MEMÓRIAS DO ENVELHECER COM DEFICIÊNCIA FÍSICA


8 176
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

AVANÇOS TECNOLÓGICOS E SEU ALCANCE EM IDOSOS VULNERÁVEIS


9 Maykon dos Santos Marinho, Pollyanna Vianna Lima, 209
Luana Araújo dos Reis e Luciana Araújo dos Reis
FORMAÇÃO EM SAÚDE PARA UMA COMPREENSÃO AMPLIADA DO ENVELHECIMENTO
Marcos Henrique Fernandes, Thaís Alves Brito, Paloma Andrade Pinheiro,
10 237
Ludmila Schettino e Rafael Pereira de Paula

iii
PREFÁCIO

Poucos fenômenos têm merecido tanto a atenção e


preocupação do Homem em toda a sua história como o fenômeno
do envelhecimento e da incapacidade funcional. Existem
evidências antropológicas de que a duração máxima de vida
humana não se tenha alterado substancialmente nos últimos 100
séculos. No entanto, os progressos conseguidos pelo
desenvolvimento, em geral, e pelas ciências da saúde, em
particular, contribuíram para um aumento da esperança média de
vida em cerca de 30 anos, ao longo do século XX.
O envelhecimento da população é considerado um dos
maiores triunfos da humanidade. Na verdade, o aumento do
número de pessoas idosas deve ser comemorado por dois motivos:
as pessoas vivem por períodos mais longos e de forma mais
saudável e são um recurso para as suas famílias e comunidades.
No entanto, o envelhecimento da população constitui também
uma fonte de preocupação: qual é a melhor forma de responder às
legítimas demandas e necessidades do crescente número de
pessoas idosas, pois essa evolução demográfica apresenta
implicações estruturantes, em que a principal consequência se

iv
Prefácio

registra na saúde. Em sociedades com reduzida taxa de natalidade,


o envelhecimento progressivo da população também faz pensar
nos problemas de sustentabilidade do próprio Estado Social.
A Organização Mundial da Saúde argumenta que os países
podem custear o envelhecimento se os governos, as organizações
internacionais e a sociedade civil implementarem políticas e
programas de envelhecimento ativo que melhorem a saúde, a
participação e a segurança dos cidadãos mais velhos. O
envelhecimento ativo depende de uma variedade de
determinantes que incluem o gênero, a cultura, os fatores
econômicos, sociais, físicos, pessoais, comportamentais e os
serviços sociais e de saúde.
Apesar de o envelhecimento ser um processo natural, com o
avançar da idade aumenta a probabilidade do aparecimento de
diversas patologias. Em todas as regiões do mundo, a maior causa
de morbidade e mortalidade continuará a ser o aparecimento de
doenças crônicas (por exemplo, doenças cardiovasculares,
demências, cancro e diabetes). Essas doenças, que são
consideradas, sobretudo, próprias da velhice, contribuem para o
aparecimento de dificuldades nas atividades de vida diária, com
interferência na independência e na autonomia das pessoas idosas.
Estas tendem a necessitar de cuidados mais complexos e de longa
duração.
Atualmente, por vários motivos, incentiva-se a permanência
em casa das pessoas idosas dependentes, atribuindo-se à família a
corresponsabilidade pela prestação de cuidados. A prestação de
cuidados domiciliares a pessoas idosas com comprometimento
funcional exige programas de orientação, informação e apoio de
profissionais competentes na área da saúde da pessoa idosa e que

v
Prefácio

depende de uma rede social de apoio, nomeadamente, do suporte


informal e familiar.
Diante do exposto, é importante a formação de recursos
humanos capacitados para cuidar de pessoas idosas de uma forma
holística. Vários estudos revelaram que o conhecimento sobre o
processo de envelhecimento influenciava a manifestação de
interesse para trabalhar com pessoas idosas e que os professores
desempenhavam um papel particularmente importante nesse
processo, uma vez que além de divulgarem o conhecimento
também funcionavam como modelos. Recomenda-se, ainda,
aumentar os conteúdos sobre o processo de envelhecimento nos
currículos dos cursos.
Os autores desta obra, pesquisadores do Núcleo
Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre o Envelhecimento
Humano, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, com
formação em várias áreas do conhecimento, abordarão esses
temas e outros diretamente relacionados a eles de forma profunda
e, simultaneamente, prática, para que sirva de orientação e
referência a todos os profissionais que se dedicam ao atendimento
da pessoa idosa.
Esperamos que o livro “Envelhecimento e longevidade: novas
perspectivas e desafios” incentive a compreensão do processo de
envelhecimento humano, tendo em vista a melhoria da qualidade
dos cuidados à pessoa idosa.

Margarida Abreu
Doutora em enfermagem
Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal

vi
SOBRE ORGANIZADORAS, AUTORAS E AUTORES

LUCIANA ARAÚJO DOS REIS


Graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (Uesb). Especialista em Saúde Pública pela
Faculdade Internacional de Curitiba (Facint). Especialista em
Ativação de processos de mudança na formação de profissionais
da saúde pela Fundação Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde e Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp). Mestre em Ciências
da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Doutora em Ciências da Saúde pela UFRN. Pós-doutora
em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Professora Doutora da Faculdade Independente do Nordeste (Fainor).
Professora Titular do Curso de Fisioterapia da Uesb. Orientadora do
Programa de Pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade
da Uesb.

LUANA ARAÚJO DOS REIS


Enfermeira, Mestre e Doutora em Enfermagem pela Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (Ufba) com estágio
de doutoramento sanduíche na Escola Superior de Enfermagem do
Porto/Portugal (Esep), especialista em Metodologia do Ensino
Superior e em Saúde do Idoso e Gerontologia. Docente da Faculdade
Independente do Nordeste – Fainor. Avaliadora do Banco de
Avaliadores do Sinaes – BASis / MEC. Líder do Gepapi (Grupo de

vii
Sobre organizadoras, autoras e autores

Estudos e Pesquisas em Atenção à Pessoa Idosa). Vice-Líder do


Neppics (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde) – Uesb. Integrante do Grupo de
Pesquisa Núcleo de Estudo e Pesquisa na Terceira Idade – Uesb.

ALESSANDRA SOUZA DE OLIVEIRA


Graduada em Enfermagem pela Unimar. Mestre em Memória:
Linguagem e Sociedade pela Uesb.

ANITA DE OLIVEIRA SILVA


Graduada em Fisioterapia pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Especialista pela Pós-graduação Latino-Americana
em Biofísica. Mestra em Ciências Biológicas (Fisiologia e Biofísica)
pela UFMG. Doutora em Ciências Biológicas (Bioquímica) pela
UFMG. Pós-doutora em Neurociências na Erasmus MC (Holanda).

ÉDER RICARDO DE MORAES


Graduado em Fisioterapia pela Fundação Educacional de
Caratinga. Mestre em Ciências Biológicas (Fisiologia e Farmacologia)
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutor em
Ciências Biológicas (Fisiologia e Farmacologia) pela UFMG. Doutor
pela Latin American Postgraduate Program of Biophysics. Pós-Doutor
pela University of Rochester, NY, EUA. Pós-Doutor pela Erasmus
University, Rotterdam, Holanda.

viii
Sobre organizadoras, autoras e autores

ELAINE DOS SANTOS SANTANA


Graduada em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (Uesb). Mestrado em andamento no Programa de
Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade pela Uesb.

GABRIELA REQUIÃO VAZ DE ALMEIDA


Graduada em Enfermagem pela Faculdade de Tecnologia e
Ciências (FTC). Especialista em Enfermagem e Oncologia pela
Atualiza Pós-graduação.

JAMÍLIA BRITO GOMES


Graduada em Psicologia pela Faculdade Juvêncio Terra.
Especialista em Terapia cognitivo-comportamental pela Bio Psiquê
Pós-Graduação. Especialista em avaliação Psicológica pela Faculdade
Arthur Thomas. Mestrado em andamento no Programa de Memória:
Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia (Uesb).

JUSSIARA BARROS DE OLIVEIRA


Graduada em Enfermagem pela Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS). Especialista em Saúde da Família pela Universidade
Estadual da Bahia (Uneb). Especialista em Saúde Coletiva pela
Universidade Federal da Bahia (Ufba). Mestra em Saúde Pública pelo
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde (PPGES-Uesb).
Doutorado em andamento no Programa de Pós-Graduação em
Memória: Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (PPGMLS-Uesb). Linha de Pesquisa: Memória,
Envelhecimento e Dependência Funcional.

ix
Sobre organizadoras, autoras e autores

LUDMILA SCHETTINO
Graduada em Fisioterapia pela Universidade Iguaçu (Unig).
Mestra em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (Uesb).

LUZIA WILMA SANTANA DA SILVA


Graduada em Enfermagem Obstétrica pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutora
em Enfermagem - Área de Concentração: Filosofia, Saúde e
Sociedade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Pós-doutorado em Enfermagem - bolsa de estudos PDJ/CNPq, pela
Universidade Federal de Santa Catarina.

MAYKON DOS SANTOS MARINHO


Graduado em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia
(Ufba). Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS),
pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Doutorado
em andamento no Programa de Pós-Graduação em Memória:
Linguagem e Sociedade (PPGMLS-Uesb). Bolsista pela Capes.

MARCOS HENRIQUE FERNANDES


Graduado em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). Especialista em Ativação de processos de
mudança na formação de profissionais da  saúde pela Fundação
Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde e Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca (Ensp). Mestre em Ciências da Saúde pela
UFRN. Doutor em Ciências da Saúde pela UFRN. Professor Titular

x
Sobre organizadoras, autoras e autores

do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Sudoeste da


Bahia (Uesb).

PALOMA ANDRADE PINHEIRO


Graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (Uesb). Mestra em Saúde Pública pelo Programa
de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde pela Uesb.

POLLYANNA VIANA LIMA


Graduada em Enfermagem pela Faculdade Independente do
Nordeste. Mestra em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS),
pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Doutorado
em andamento no Programa de Pós-Graduação em Memória:
Linguagem e Sociedade (PPGMLS-Uesb), na linha de pesquisa
Memória, Discursos e Narrativas, com Projeto Temático: Memória,
Envelhecimento e Incapacidade Funcional.

RAFAEL PEREIRA DE PAULA


Graduado em Fisioterapia pela Universidade Iguaçu (Unig).
Mestre em Bioengenharia pelo Instituto de Pesquisa &
Desenvolvimento (Univap). Doutor em Engenharia Biomédica pelo
Instituto de Engenharia Biomédica (Unicastelo). Docente Adjunto na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).

RENATO NOVAES CHAVES


Graduado em Enfermagem pela Faculdade de Ciências e
Tecnologia (FTC). Especialista em Enfermagem e Saúde do
Trabalhador. Mestrado em andamento no Programa de

xi
Sobre organizadoras, autoras e autores

Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade da


Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).

TATIANE DIAS CASSIMIRO VALENÇA


Graduada em Fisioterapia pela Universidade Católica do Salvador
(UCSal). Especialista em Geriatria e Gerontologia pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Mestre em Enfermagem e Saúde
pela Uesb. Doutorado em andamento no Programa de Pós-Graduação
em Memória: Linguagem e Sociedade (PPGM-Uesb), na linha de
pesquisa Memória, Discursos e Narrativas, com Projeto Temático:
Memória, Envelhecimento e Incapacidade Funcional.

THAIS ALVES BRITO


Graduada em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia (Uesb). Mestra em Saúde Pública pelo Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde pela Uesb. Docente Assistente
do curso de Fisioterapia da Uesb.

VALÉRIA ALVES DA SILVA NERY


Graduada em Enfermagem pela Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (Uesb). Especialista em Saúde Pública pela
Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter). Especialista em
Formação Profissional na Área de Saúde pela Escola Nacional de
Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp-Fiocruz). Mestra em Saúde
Pública pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde
(PPGES-Uesb). Doutorado em andamento no Programa de
Pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade da Uesb
(PPGMLS-Uesb), Linha de Pesquisa: Memória, Envelhecimento e
Dependência Funcional.

xii
CAPÍTULO 1

ASPECTOS ÉTICOS NAS PESQUISAS


CIENTÍFICAS ENVOLVENDO IDOSOS
Anita de Oliveira Silva
Éder Ricardo de Moraes

Introdução

É tica é um conjunto de valores morais e princípios que


norteiam a conduta humana na sociedade. A ética é construída
por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais
(NOSELLA, 2008). A bioética, ramo da ética voltado às pesquisas
em seres humanos, determina que pesquisas científicas, em
decorrência das características individuais envolvendo seres
humanos, apresentem alta complexidade nos campos psicológicos,
sociais e comportamentais. As características de cada indivíduo
participante de uma pesquisa devem ser, obrigatoriamente, levadas
em consideração na execução do estudo científico pelos seus
idealizadores e executores, com o objetivo principal de se evitar o
constrangimento ou qualquer outro tipo de situação indesejável.
Essa é uma verdade para todos os participantes de pesquisa, mas
pode se tornar ainda mais evidente em pesquisas científicas
envolvendo pessoas com idade maior que 60 anos, idade com a
qual o indivíduo é considerado idoso pela Organização Mundial
de Saúde (WHO, 2002).

13
Anita de Oliveira Silva e Éder Ricardo de Moraes

Pesquisas envolvendo os idosos e a Resolução 466 de


2012 do Conselho Nacional de Saúde
A Resolução 466, de 2012, do Conselho Nacional de Saúde
(BRASIL, 2013) abrange determinações para que estudos
científicos sejam executados de forma a respeitar a vida humana e
os preceitos éticos para a manutenção da dignidade e da
integridade física e moral dos indivíduos participantes de pesquisas
realizadas dentro do território nacional.
Quando os participantes da pesquisa são indivíduos maiores
de 60 anos de idade, cuidados adicionais precisam ser adotados. A
participação de idosos deve ser devidamente documentada,
assegurando, assim, que os direitos desses indivíduos serão
respeitados. Caso os idosos participantes de pesquisas apresentem
déficits cognitivos ou de memória, o cuidado deve ser redobrado.
Por esse motivo, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) deve ser elaborado pelos pesquisadores de forma a
informar e esclarecer todos os detalhes do estudo em execução aos
idosos e/ou seus responsáveis legais (CONEP/CNS/MS, 2015). O
respeito à dignidade e à autonomia devem ser especialmente
preservados, não bastando a autorização dos responsáveis se não
houver a concordância do próprio idoso.
A abordagem dos riscos aos quais o participante da pesquisa
se submete deve contemplar não somente o constrangimento que
questionários e entrevistas podem causar, mas também é
fundamental perceber se o estudo ao qual o idoso será submetido
pode predispô-lo a riscos físicos que podem ser caracterizados por
vertigens, síncopes (diminuição transitória do fluxo de sangue ao
cérebro), tropeções ou mesmo quedas, que podem desenvolver
lesões físicas transitórias ou até permanentes (ALMEIDA;

14
Aspectos éticos nas pesquisas científicas envolvendo idosos

BRITES; TAKIZAWA, 2011). Não se pode deixar de ter em


mente que o risco de quedas pode amedrontar os idosos, o que
pode ter como consequência a restrição desses aos leitos ou
cadeiras de rodas, tornando-os sedentários (PIMENTEL;
SCHEICHER, 2009; ANTES et al., 2013). Não basta, contudo,
prever esses riscos se não houver estratégias que os reduzam aos
mínimos níveis possíveis. Esse deve ser o principal enfoque do item
relacionado aos riscos (CONEP/CNS/MS, 2015).
Em relação aos benefícios, esses devem ser apresentados de
forma que os idosos se sintam encorajados a participar da
pesquisa. Por esse motivo, os benefícios devem fazer valer a pena a
submissão aos riscos já determinados e previstos para a pesquisa
em questão (CONEP/CNS/MS, 2015).
Os pesquisadores não devem se esquecer que, em grande
parte das vezes, os idosos se comportam de acordo com os
segmentos tradicionais e culturais nos quais estão há muitos anos
inseridos. Em algumas situações, que para jovens não têm
nenhuma repercussão, para os idosos podem soar como uma
grande ofensa. Perguntas que tenham como objetivo identificar as
características do comportamento afetivo-sexual dos idosos devem
ser cuidadosamente elaboradas, sob a pena de causar grande
constrangimento, tornando a situação embaraçosa até mesmo
para o entrevistador. É fundamental zelar pelo respeito aos valores
culturais, sociais, religiosos, morais e éticos, além dos hábitos e
costumes praticados por um dado indivíduo ou comunidade
(ALMEIDA et al., 2012).
Quando possível, os idosos devem ser poupados de serem
submetidos à experimentação científica, principalmente aquelas
nas quais os resultados não serão diretamente aplicados à

15
Anita de Oliveira Silva e Éder Ricardo de Moraes

população estudada. Obviamente, quando a pesquisa precisar


envolver os maiores de 60 anos de idade, essa condição deve ter
sido cautelosamente delineada, de maneira prévia. Deve-se
respeitar, principalmente, os idosos institucionalizados. Esses,
apesar da ausência ou do distanciamento das próprias famílias,
merecem todo o cuidado, pois podem estar fragilizados e com a
sensação de estarem desprotegidos ou abandonados. Por esses
motivos, até mesmo os dados obtidos por meio de entrevista ou de
testes podem estar subestimados ou mesmo superestimados.
Torna-se, assim, fundamental conhecer profundamente os
parâmetros que se quer encontrar, para que a manipulação e as
perguntas excessivas não perturbem ainda mais o idoso
potencialmente fragilizado (SILVA et al., 2012).
Caso haja a necessidade de estratificar os idosos em grupo
experimental e grupo controle para a verificação de efeito de um
medicamento ou terapia, deve-se ter a certeza de que não há outra
forma de realizar a pesquisa, principalmente se houver alguma
vantagem terapêutica de um grupo sobre o outro. Assim, é
fundamental realizar uma profunda e sistemática revisão da
literatura para evitar a submissão dos idosos a riscos previamente
conhecidos e já divulgados (CONEP/CNS/MS, 2015).
Em toda e qualquer pesquisa, a confidencialidade e a
privacidade dos participantes devem ser cuidadosamente
mantidas. Em condição especial encontram-se os idosos. Fatos e
detalhes podem facilmente revelar a identidade desses
participantes na descrição dos estudos científicos, principalmente
naqueles casos em que suas patologias e/ou condições
socioeconômicas podem afetá-los. Os pesquisadores devem
fornecer todas as garantias de anonimato, incluindo a codificação
das identidades pelo uso das iniciais dos nomes. No caso de os

16
Aspectos éticos nas pesquisas científicas envolvendo idosos

dados estarem armazenados em arquivos eletrônicos, cuidado


especial deve ser adotado no que tange à inserção de senha de
acesso aos dados em questão.
No tocante à submissão de idosos com déficits cognitivos,
intelectuais ou de memória às pesquisas científicas, esses
indivíduos devem ser preteridos em relação aos participantes que
gozam de desejáveis níveis de orientação e conhecimento. Idosos
com os déficits supracitados devem ser submetidos às pesquisas
científicas somente se essa característica específica for condição sine
qua non para a realização do estudo. Quando o idoso não mais
responder independentemente pelos seus atos, ao invés desse
concordar em participar da pesquisa científica em questão e
assinar o “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
o representante legal deverá concordar em permitir a participação
do idoso preenchendo e assinando o “Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido para Pessoas Juridicamente Incapazes,
Analfabetos, Analfabetos Funcionais ou com Deficiência Auditiva,
Visual ou Motora” (BRASIL, 2013). Ainda assim, os direitos
desses idosos devem ser esclarecidos cuidadosamente aos seus
representantes legais para dirimir quaisquer dúvidas.
Quando a pesquisa for conduzida dentro de instituições que
proveem abrigo e cuidados aos idosos, é fundamental garantir o
tratamento, a assistência e a orientação sobre as patologias e
terapias disponíveis. Além disso, se houver alguma possibilidade de
tratamento aos idosos institucionalizados, esse deve ser realizado
com a finalidade de se minimizar a pena da institucionalização aos
indivíduos maiores de 60 anos.

17
Anita de Oliveira Silva e Éder Ricardo de Moraes

Considerações finais
O aumento da expectativa de vida da população,
principalmente em países emergentes, como é o caso do Brasil, faz
com que o interesse por pesquisas abordando a faixa etária na
qual estão os idosos torne-se cada vez mais frequente. Essas
pesquisas têm por objetivo não somente retratar o processo natural
do envelhecimento, mas também estão interessadas em colaborar
preventivamente para que a população envelheça com saúde,
gozando dos mais elevados níveis de qualidade de vida.
Para que haja sucesso em pesquisas envolvendo participantes
com idade superior aos 60 anos, torna-se fundamental o
conhecimento aprofundado sobre essa população, seus hábitos,
tradições, estilo de vida, entre outros fatores. Nesse contexto, é
importante que essas pesquisas sejam desenvolvidas observando-se
criteriosamente os preceitos éticos para a pesquisa científica com
seres humanos. O grande volume de trabalhos científicos
relacionados à vida e à saúde dos idosos têm naturalmente gerado,
de maneira proporcional, pesquisas de grande qualidade e
relevância para a comunidade acadêmico-científica e
principalmente para os próprios idosos.
Considerando que os idosos podem estar em situações de
vulnerabilidade física e mental, deve-se esperar que os
pesquisadores sejam extremamente criteriosos e auspiciosos.
Estratégias de pesquisa específicas devem ser adotadas a fim de
preservar a integridade física, mental e intelectual dessa
população, além do respeito à sua dignidade. Pensar em ética no
estudo com idosos é pensar em atenção, cuidado e gentileza no
trato com essa parcela da população. É preciso ter em mente a
prevenção de acidentes físicos e questões simples e objetivas para o

18
Aspectos éticos nas pesquisas científicas envolvendo idosos

rápido e fácil atendimento. Também é necessário pensar em evitar


possíveis constrangimentos. Deve-se ressaltar que os idosos
representam uma inesgotável fonte de pesquisa, mas deve-se
sempre ter em mente que o mais importante é cercar os indivíduos
dessa faixa etária com o que há de mais precioso: o respeito à sua
experiência de vida e à sua dignidade como ser humano!

Referências
ALMEIDA, L. P.; BRITES, M. F.; TAKIZAWA, M. G. M. H.
Quedas em idosos: fatores de risco. RBCEH, v. 8, n. 3, p.
384-391, 2011.
ALMEIDA, S. T.; SOLDERA, C. L. C.; CARLI, G. A.; GOMES,
I.; RESENDE, T. L. Análise de fatores extrínsecos e intrínsecos
que predispõem a quedas em idosos. Revista da Associação
Médica Brasileira, v. 58, n. 4, p. 427-433, 2012.
ANTES, D. L.; SCHNEIDER, I. J. C.; BENEDETTI, T. R. B.;
D’ORSI, E. Medo de queda recorrente e fatores associados em
idosos de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Cadernos de
Saúde Pública, v. 29, n. 4, p. 758-768, 2013.
BRASIL. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF: Poder Executivo, Seção 1, p. 59, 13 de junho de 2013.
CONEP/CNS/MS. Manual de orientação: pendências
frequentes em protocolos de pesquisa clínica. Manuais da
Plataforma Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa. Versão 1.0, 2015. Disponível
em:

19
Anita de Oliveira Silva e Éder Ricardo de Moraes

<http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil/login.jsf>.
Acesso em: 14 set. 2015.
NOSELLA, P. Ética e pesquisa. Educ. Soc., v. 29, n.102, p.
255-273, 2008.
PIMENTEL, R. M.; SCHEICHER, M. E. Comparação do risco
de queda em idosos sedentários e ativos por meio da escala de
equilíbrio de Berg. Fisioterapia e Pesquisa, v. 16, n. 1, p.
6-10, 2009.
SILVA, E. R.; SOUSA, A. R. P.; FERREIRA, L. B.; PEIXOTO,
H. M. Prevalência e fatores associados à depressão entre idosos
institucionalizados: subsídio ao cuidado de enfermagem.
Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 46 n. 6,
p.1387-93, 2012.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO) Active Ageing –
A Police Framework. A Contribution of the World Health
Organization to the second United Nations World
Assembly on Aging. Madrid, Spain, Apr. 2002.

20
CAPÍTULO 2

CAPACIDADE FUNCIONAL E LONGEVIDADE:


ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS
Maykon dos Santos Marinho
Pollyanna Vianna Lima
Luana Araújo dos Reis
Luciana Araújo dos Reis

Introdução
O aumento da longevidade é um fenômeno mundial, e a faixa
etária mais crescente no mundo é a de indivíduos com 80 anos ou
mais. Essa parcela populacional pode ser denominada como
idosos muito idosos, idosos mais idosos, idosos mais velhos e idosos
longevos (idade igual ou superior a 80 anos), além de octogenários,
nonagenários e centenários, esses últimos quando faz referência à
década de vida em que o idoso se encontra.
Observa-se no Brasil, que a proporção da população “muito
idosa”, ou seja, a de 80 anos ou mais, no total da população
brasileira, está aumentando em ritmo bastante acelerado. Esse tem
sido o segmento populacional que mais cresce, embora ainda
apresente um contingente pequeno. De 170,7 mil pessoas em
1940, o contingente “mais idoso” passou para 2,9 milhões em
2010. Representava 14,3% da população idosa em 2010 e 1,5%
da população total. Dada a contínua redução da mortalidade,
especialmente nas idades avançadas, espera-se que esse

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Maykon S. Marinho, Pollyanna V. Lima, Luana A. dos Reis e Luciana A. dos Reis

contingente alcance, em 2040, o total de 13,7 milhões, o que


significa 6,7% da população total e 24,6% da população idosa
(CAMARANO; KANSO, 2009).
Esse aumento populacional no número de idosos provoca
alterações na sociedade e no sistema de saúde, uma vez que os
idosos longevos apresentam características e necessidades
diferentes, como uma maior frequência de doenças crônicas,
vulnerabilidade a efeitos adversos de tratamentos e a doenças,
maior risco para quedas, incontinência, dificuldades para
locomoção, sedentarismo, solidão, diminuição do convívio com
familiares e amigos e tendência ao isolamento. Além disso, tanto
os idosos quanto a sociedade não estão preparados para as
mudanças decorrentes do envelhecimento.
O aumento da longevidade torna o idoso propenso ao
acometimento por doenças crônico-degenerativas e às sequelas
delas decorrentes, comprometendo, assim, a qualidade de vida dessa
população. A cronicidade das doenças em idosos longevos e suas
complicações podem causar o comprometimento da sua capacidade
funcional, levando à dependência e isolamento social. No Brasil, a
cada ano, 650 mil idosos são incorporados a essa população,
aumentando a possibilidade de desenvolver incapacidades
associadas ao envelhecimento. As incapacidades comprometem a
independência do idoso, impedindo o seu próprio cuidado e, como
consequência, aumento da carga de cuidados para a família e
também para o sistema de atenção à saúde (VERAS, 2009).
A capacidade funcional refere-se à condição que o indivíduo
possui de viver de maneira autônoma e de se relacionar em seu
meio. Sua perda está associada ao maior risco de
institucionalização e de quedas e, em alguns estudos com longevos,

22
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

foi considerada um fator de risco independente para mortalidade


(NYBO, 2003; VER-EZRA; SHMOTKIN, 2006). O
comprometimento da capacidade funcional leva à necessidade de
cuidados de longa permanência e alto custo prestados por
terceiros, na maioria das vezes esses cuidados são prestados pela
família, o que provoca alterações na dinâmica familiar.
A cada ano, cerca de 10% da população adulta a partir dos 75
anos perde a independência em uma ou mais atividades básicas da
vida diária, como banhar-se, vestir-se, alimentar-se e cuidar da higiene
pessoal, o que, na prática, impossibilita que esse indivíduo resida ou
permaneça em sua residência sozinho (MARRA et al., 2007). É
imprescindível que, na prestação de cuidados aos idosos, a família
esteja devidamente orientada sobre a importância do estímulo do
idoso para atividades da vida diária, uma vez que, frequentemente, a
imobilidade na terceira idade é incentivada pela família que considera
a velhice como um tempo de descanso (MARRA et al., 2007).
Inúmeros estudos têm demonstrado associação entre o
aumento da idade e a maior chance de dependência funcional
(RASO, 2002; ISHIZAKI et al., 2004; MACIEL; GUERRA,
2007; MURABITO et al., 2008), como também a alta prevalência
de incapacidade funcional ou capacidade funcional limitada na
população idosa (FIEDLER; PERES, 2008; MACIEL; GUERRA,
2008). Essas pesquisas destacam que os anos a mais adquiridos
devem ser acompanhados de qualidade de vida e isentos de um
alto custo de dependência, uma vez que a dependência funcional
torna o idoso propenso a dependência cognitiva e a perda da
autonomia, debilitando-o, consequentemente a sua saúde estará
comprometida, predispondo-o ao acometimento por outras
patologias e pelas sequelas delas decorrentes.

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Maykon S. Marinho, Pollyanna V. Lima, Luana A. dos Reis e Luciana A. dos Reis

O comprometimento da capacidade funcional em idosos


longevos leva a uma diminuição das condições de saúde e ao aumento
na procura por serviços de saúde, dessa forma, cresce a demanda por
cuidados especializados, que muitas vezes não são disponibilizados
pelo sistema de saúde. Assim, esses cuidados são oferecidos pela
família do próprio idoso, tornando-se uma tarefa árdua em virtude do
desconhecimento de como cuidar e das modificações necessárias que
ocorrem no âmbito e na dinâmica familiar.
Muitas dessas famílias não estão preparadas para assistir de
maneira adequada às necessidades de saúde e doença do idoso
dependente, seja por falta de conhecimentos específicos, falta de
recursos financeiros, falta de infraestrutura ou de disponibilidade
de tempo.
Nessa perspectiva de envelhecimento populacional acelerado,
a longevidade, além de propiciar a ocorrência das alterações
fisiológicas próprias do envelhecimento, também tem feito com
que os indivíduos tenham a possibilidade aumentada de
desenvolver doenças crônico-degenerativas, com provável
instalação de incapacidades. Mais do que uma simples mudança
nos pesos relativos dos vários subgrupos no total populacional, esse
processo traz mudanças expressivas no curso da vida das pessoas,
redefinindo relações de gênero, arranjos e responsabilidades
familiares e alterando o perfil e as demandas de políticas públicas.

Epidemiologia e comprometimento da capacidade


funcional em longevos
O processo de envelhecimento, independente dos fatores
étnicos, sociais e culturais inerentes a cada população, está
associado a uma maior probabilidade de acometimento por

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Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

doenças crônicas não transmissíveis que podem provocar


alterações na capacidade funcional, que são acentuadas com o
aumento da idade. Esse processo é marcado por um decréscimo
das capacidades motoras, redução da força e da flexibilidade
dificultando a realização das atividades diárias e a manutenção de
um estilo de vida saudável. As alterações fisiológicas de perda da
capacidade funcional ocorrem durante o envelhecimento e são
acentuadas em idades mais avançadas, comprometendo a saúde e
a qualidade de vida do idoso.
O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual
há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas que modificam
progressivamente o organismo, tornando-o mais susceptível a agressões.
Percebe-se que nas mudanças relacionadas à idade está a presença de
fatores de risco, como a ocorrência de doenças crônico-degenerativas e
de dor crônica, que determinam, para o idoso, certo grau de
dependência, o que está diretamente relacionado à perda da autonomia
e à dificuldade de realizar as atividades básicas da vida diária,
interferindo, assim, na sua qualidade de vida.
Alguns estudos internacionais avaliam a relação da
capacidade funcional dos idosos com a idade dos participantes.
Entre eles, está uma investigação (FEMIA; ZARIT;
JOHANSSON, 2001) realizada com 203 idosos longevos suecos,
que objetivou identificar os problemas de saúde físicos e funcionais
dos idosos e sua relação entre as atividades de vida diária. Como
resultado, o estudo demonstrou que 36% desses idosos longevos
possuíam dificuldade na realização de, pelo menos, uma das
atividades da vida diária (FEMIA; ZARIT; JOHANSSON, 2001).
Outro estudo (YI; VAUPEL, 2002), realizado com 8.805 idosos
chineses na faixa etária entre 80 e 105 anos, observou que os
idosos oriundos da zona rural possuem níveis de atividade de vida

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diária maiores do que aqueles residentes na zona urbana, podendo


ser considerados idosos mais ativos.
Um trabalho realizado em 2001, no município de Santa
Cruz, RN, teve como sujeitos 310 idosos, com 60 anos de idade ou
mais, cadastrados no Sistema de Informações da Atenção Básica
(SIAB). Como resultados, 26,8% possuíam alterações cognitivas e
a maioria dos idosos (86,8%) era independente para a realização
das atividades básicas de vida diária. Transcorridos 53 meses, um
total de 293 registros foi localizado. Desses, 60 faleceram, restando
apenas 233 sujeitos, que foram reavaliados. Os resultados
mostraram que, dos idosos vivos, a maioria (86,2%) continuava
independente e, dos idosos que faleceram, 62,5% eram
dependentes (MACIEL; GUERRA, 2007, 2008).
Um estudo realizado no Município de São Paulo, SP,
objetivou apresentar os resultados obtidos no Estudo Saúde,
Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), referentes ao desempenho
funcional dos idosos (n=2143) com declínio cognitivo. Os
resultados mostraram que 61,3% dos idosos com declínio
cognitivo não tinham dificuldades para realizar as atividades
básicas da vida diária, 22,7% apresentaram dificuldades em uma
ou duas atividades e 16%, em três ou mais. Em relação aos idosos
sem declínio cognitivo, 81,4% não apresentaram dificuldades na
realização das atividades básicas da vida diária, 13,3% tinham
dificuldades em uma ou duas atividades e 5,2%, em três ou mais.
Houve maior dificuldade no desempenho de atividades
instrumentais da vida diária, destacando-se a maior prevalência
aos que apresentaram três ou mais dificuldades (86,2%). Os
autores concluíram que há um maior comprometimento funcional
entre os idosos com alterações cognitivas. Afirmam também que
os déficits causados pelas alterações cognitivas levam à diminuição

26
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

da capacidade funcional, com diminuição ou perdas das


habilidades para o desenvolvimento das atividades cotidianas,
interferindo na realização das atividades da vida diária
(OLIVEIRA et al., 2007).
Uma pesquisa realizada em Minas Gerais objetivou comparar
o desempenho de idosos com diferentes níveis de gravidade de
demência em questionários de atividades básicas e instrumentais do
cotidiano. Os sujeitos do estudo foram 90 idosos com diagnóstico
clínico de demência, atendidos no Centro de Referência do Idoso
(MG). Os resultados mostraram que os idosos apresentaram
dependência funcional significativamente maior à medida que o
processo demencial acentuava-se (MARRA et al., 2007).
Dados semelhantes foram encontrados na literatura, que
constatou que o declínio funcional aumenta com a idade
(MARCIEL; GUERRA, 2007). Participaram de um estudo
realizado em Santa Catarina 345 indivíduos com 60 anos de idade
ou mais. O instrumento de coleta de dados utilizado foi a escala de
autoavaliação proposta por Rikli e Jones, a fim de verificar a
capacidade funcional desses idosos. Os resultados mostraram que
62,9% dos idosos apresentaram capacidade funcional adequada e
37,1%, capacidade funcional inadequada. Em relação à idade, a
porcentagem de idosos dependentes aumentou nos grupos de
idades mais avançadas (FIEDLER; PERES, 2008).
Conforme os estudos apresentados acima, fica evidente que o
aumento da idade torna o idoso propenso ao comprometimento
da capacidade funcional, pois a perda dessa capacidade está
associada à predisposição de fragilidade, dependência,
institucionalização, risco aumentado de quedas e morte delas
resultantes, e problemas de mobilidade, que trazem complicações

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ao longo do tempo e geram cuidados de longa permanência e alto


custo. Nessa perspectiva, a manutenção e a preservação da
capacidade para desempenhar as atividades básicas da vida diária
são pontos básicos para prolongar o maior tempo possível de
independência, com isso, os idosos mantêm a sua capacidade
funcional e a qualidade de vida.
A conservação da capacidade funcional pode ter importantes
implicações para a qualidade de vida dos idosos, pois está
relacionada à capacidade de ocuparem-se em desenvolver
atividades cotidianas e/ou atividades agradáveis. Portanto, é
importante planejar programas específicos de intervenção para a
manutenção e para a recuperação da funcionalidade. No
planejamento de novas formas de prevenção e tratamento, dentro
de uma abordagem multidisciplinar, a Fisioterapia desempenharia
um relevante papel, por meio da implantação e implementação de
programas de intervenção fisioterapêuticas, tanto de cunho
preventivo como reabilitativo, que objetivam uma maior
independência e autonomia, fatores determinantes de uma boa
saúde e qualidade de vida para essa população.
O conhecimento das condições de apoio familiar, ambiente
físico e psíquico da vida do idoso é, pois, para o profissional de
saúde, um elemento indispensável em sua vida diária. O
desenvolvimento de mecanismos de assistência domiciliar à saúde
do idoso impõe-se como indispensável, em todos os níveis sociais,
seja por suas características de respeito à individualidade e a
privacidade do idoso, seja pela possibilidade de minimizar o
estresse inerente à atenção à saúde, dessa forma, aumenta a
possibilidade de aceitação dos cuidados e, consequentemente, a
eficiência dos procedimentos, pela notável redução dos recursos
materiais destinados a cada idoso.

28
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

Repercussões do comprometimento da capacidade


funcional em idosos longevos
O comprometimento da capacidade funcional do idoso
repercute em implicações relevantes para a família, para a sociedade,
para os sistemas de saúde, principalmente o público, e para a saúde
do próprio indivíduo, pois a incapacidade gera maior vulnerabilidade
e dependência nessa fase da vida, contribuindo de forma negativa
para o declínio do bem-estar e da qualidade de vida dos idosos.
Portanto, o aumento da dependência provoca nos idosos,
sentimentos de ansiedade, tristeza, irritação, medo e necessidade
de adaptação a um novo estilo de vida. Adaptar-se à situação de
incapacidade é algo difícil, pois a forma com que o idoso passa a
viver muda muito (SANTOS; RAMOS, 2005).
A dependência funcional provoca alterações nas atividades
rotineiras do idoso, deixando-o com a mobilidade reduzida na
execução de suas atividades diárias, e, à medida que o
comprometimento da capacidade funcional se acentua, alterações
musculares, ósseas e articulares acontecem, como a rigidez
muscular, contratura muscular, redução de massa óssea, atrofia
muscular e, consequentemente, ocorre a instalação de
deformidades ósseas e musculares.
Quando ocorre comprometimento da capacidade funcional a
ponto de impedir o cuidado de si, a carga sobre a família e sobre o
sistema de saúde pode ser muito grande, conduzindo o idoso à
perda da independência e da autonomia, comprometendo a
qualidade de vida, levando-o a incapacidade funcional e a
necessidade de cuidados prestados por terceiros. Esses cuidados,
no Brasil, são prestados pelas famílias ou por instituições de longa
permanência de ordem religiosa ou filantrópica, uma vez que nem

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as famílias e nem a sociedade em geral estão preparadas para


assistir uma demanda populacional em crescimento.
As famílias desses idosos, na maioria dos casos, não estão
preparadas para atender de maneira adequada às necessidades de
saúde e doença do idoso e, dessa forma, acabam por contribuir para
o declínio da saúde dos idosos, comprometendo, assim, ainda mais a
capacidade funcional, o que torna o idoso mais dependente.
A dependência de um familiar já idoso gera impacto na
dinâmica, na economia familiar e na saúde dos membros da família
que se ocupam dos cuidados. A evolução dessa dependência pode
modificar-se ou até ser prevenida se houver um ambiente com
assistência adequada, constituindo uma das soluções do problema
representado pelo envelhecimento dependente, o delineamento de
uma política que envolva todos os setores da sociedade, e não
apenas o governo, por meio do estabelecimento de programas que
atendam ao idoso e sua família.
O aparecimento da dependência no idoso e a consequente
necessidade de um cuidador provocam uma reestruturação
familiar e uma redefinição de papéis, o que pode ocasionar, por
exemplo, em alterações na rotina e na dinâmica familiar. O
processo de adaptação a essa nova realidade pode, por um lado,
não se tornar complicado quando há uma boa relação entre
cuidador familiar e idoso dependente, podendo ocorrer um maior
grau de intimidade, de confiança e de respeito. Por outro, grandes
dificuldades podem ser geradas quando o histórico familiar é
construído com base em crises e conflitos, tornando o cuidado
inadequado e penoso para o cuidador.
O aumento do número de idosos na população ocasionou
mudanças socioeconômicas e culturais relevantes. Na sociedade

30
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

moderna, muitas famílias não apresentam condições de cuidar de


seus idosos, aumentando a procura pelas Instituições de Longa
Permanência. Estudos mostram que a dependência crescente que
os idosos apresentam para realizar atividades rotineiras, o
despreparo da maioria das famílias para cuidar de seus idosos, o
elevado número de doenças e de medicamentos utilizados, aliados
à baixa renda familiar, estão entre as causas de institucionalização.
Essas instituições de longa permanência são geralmente locais
inapropriados e inadequados às necessidades do idoso, que
dificultam as relações interpessoais indispensáveis para a vida e para
a construção da cidadania do idoso. Além disso, tendem a promover
seu isolamento, sua inatividade física e mental, tendo, dessa forma,
consequências negativas para sua saúde e comprometem ainda mais
a capacidade funcional. A dependência do idoso, ao tornar-se mais
vulnerável ao acometimento por diversas patologias, acaba por
sobrecarregar o sistema de saúde pública, uma vez que esses idosos
irão necessitar de internamentos hospitalares constantes, de uso
prolongado de vários medicamentos, de assistência domiciliar e de
uso frequente da atenção básica. Todos esses gastos provocam
impactos sociais e econômicos importantes, pois essa situação traz
consequências na estrutura em que os idosos estão inseridos: família,
mercado de trabalho, política econômica, organização e metas dos
serviços de saúde e sociais.
A dificuldade econômica é uma preocupação para muitas
pessoas nessa faixa etária, uma vez que, para muitos idosos ter
condições financeiras para adquirir o que necessitam, sem
depender dos outros, e vivenciar uma velhice tranquila em função
dessas condições, é sinônimo de manutenção da autonomia e
qualidade de vida (PASKULIN et al., 2010). N esse período da
vida, o idoso com comprometimento da capacidade funcional

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necessita de uma assistência constante, o que faz gerar gastos


crescentes, justificados pelas despesas com hospitais, transporte,
medicação, equipamentos, entre outros. Devido aos baixos valores
dos benefícios previdenciários recebidos por essas pessoas, como a
aposentadoria, pensão ou benefício de auxílio-doença, muitas
vezes elas não conseguem arcar com todos os custos relacionados à
manutenção da sua saúde (CALDAS, 2003).
Quanto às políticas públicas de saúde, estudos têm
demonstrado a importância de que os serviços foquem na
prevenção e no tratamento das doenças crônicas que afetam as
pessoas idosas. Isso exigirá a transformação do paradigma
hegemônico na medicina hoje, dominado pela biologia, para um
modelo socioambiental, que considere as doenças com base em
uma perspectiva mais abrangente, analisando também os aspectos
emocionais, psicológicos e sociais envolvidos no perfil de saúde das
pessoas idosas (BATISTA, 2004).
Em geral, os atuais serviços de saúde podem ser avaliados
como inadequados para viabilizar os cuidados prolongados de que
as pessoas muito idosas podem precisar. O mesmo vale para os
serviços sociais no âmbito dos cuidados com os idosos, em geral
voltados para a institucionalização e se mostram insuficientes para
atender às necessidades dessa população.
Nesse sentido, o aumento da longevidade impõe um desafio
às políticas públicas de saúde. É necessário fazer frente a uma
crescente demanda por procedimentos diagnósticos e terapêuticos
das doenças crônicas não transmissíveis, principalmente as
cardiovasculares e as neurodegenerativas, e a uma demanda ainda
maior por serviços de reabilitação física e mental. Assim, é preciso
estabelecer indicadores de saúde capazes de identificar idosos de

32
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

alto risco de comprometimento da capacidade funcional e orientar


ações concentradas de promoção de saúde e manutenção da
capacidade funcional. Ações que tenham um significado prático
para os profissionais, atuando no nível primário de atenção à
saúde e que tenham uma relação de custo-benefício aceitável para
os administradores dos parcos recursos destinados à área da saúde.
Portanto, medidas de intervenção para identificar causas
tratáveis e evitar o comprometimento da capacidade funcional
torna-se prioridade do sistema de saúde, dentro de uma perspectiva
de reestruturação programática realmente sintonizada com a saúde
e o bem-estar da crescente população de longevos. O objetivo
principal do sistema deve ser a manutenção da capacidade
funcional do idoso longevo, mantendo-o na comunidade pelo maior
tempo possível, gozando ao máximo sua independência.

Prevenção e formas de tratamento do


comprometimento da capacidade funcional em
longevos
A preocupação em relação à capacidade funcional vem
emergindo com destaque no campo da geriatria e gerontologia,
pelo fato de que a dependência funcional tende a se tornar um
problema de saúde pública (CALDAS, 2003). Entre os problemas
característicos desse período de vida, as doenças
crônico-degenerativas têm sido objeto de inúmeros estudos, pois
podem levar ao comprometimento da capacidade funcional,
prejudicando, assim, a qualidade de vida dos idosos e provocando
gastos exorbitantes ao sistema de saúde.
Dessa forma, faz emergir a necessidade de buscar meios que
favoreçam a manutenção e a melhoria da capacidade funcional

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em idosos longevos, ajudando-os a manter a independência e a


autonomia na comunidade. Assim, as ações de prevenção e
promoção da saúde, que incluem medidas referentes às doenças
crônicas e aos aspectos do bem-estar social e cultural, são
fundamentais tanto para os idosos com capacidade funcional
preservada quanto para aqueles que já apresentam incapacidade
(BRITO; LITVOC, 2004). Assim, a prática de atividade física é
imprescindível na atenção primária ao idoso, uma vez que auxilia
tanto na prevenção das doenças causadas pelo envelhecimento
quanto na promoção da sua independência e qualidade de vida,
preservando as funções motoras, retardando a instalação das
possíveis incapacidades próprias do processo do envelhecimento e
tratando de dificuldades, alterações e sintomas que já tenham
atingido o seu organismo.
Para tanto, é necessário que os idosos e a sociedade em geral
sejam alertados sobre o quanto a prática de atividade física é
importante para minimizar as consequências das alterações
fisiológicas e patológicas do envelhecimento, pois contribuem para a
independência e a autonomia do idoso na realização de suas
atividades de vida diária (AVDs) e melhoram a sua qualidade de
vida. Portanto, se houver essa conscientização, crescerá cada vez
mais o número de idosos saudáveis, os quais reduzirão o uso de
medicamentos, as internações e, até mesmo, as consultas médicas
por causa de dores e desconfortos. Os familiares também terão mais
tranquilidade e confiança quanto à saúde e independência deles.
Estudos realizados por Leveille et al. (1999) evidenciaram que o
comprometimento da capacidade funcional na velhice está
relacionado a causas múltiplas, que envolvem uma combinação de
envelhecimento biológico, doenças e certos padrões de estilo de vida,
como baixos níveis de atividade física. O nível reduzido de atividade

34
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

física e o número crescente de doenças crônicas, que geralmente


acompanham o envelhecimento, frequentemente, criam um ciclo
vicioso: doenças e incapacidades reduzem o nível de atividade física, o
que, por sua vez, tem efeito negativo na capacidade funcional,
aumentando as incapacidades decorrentes das doenças.
A literatura tem demonstrado (LEE et al., 2007;
CARVALHO et al., 2008) a influência do desuso na diminuição
da capacidade funcional (CARVALHO et al., 2008). O estudo
confirma os efeitos negativos do sedentarismo na funcionalidade.
O sedentarismo tem influência decisiva no comprometimento da
capacidade funcional (REBELATTO et al., 2006), na morbidade e
na mortalidade por doenças crônicas (CAMARANO et al., 2009).
Desse modo, a prática de atividade física promove, além da
prevenção, a reabilitação da saúde do idoso, pois acrescentam
melhoras na aptidão física, e consequentemente, facilita a
manutenção de bons níveis de independência e autonomia para as
atividades da vida diária (SIMÃO, 2004). Quanto mais ativo é o
idoso, menos limitações ele tem, assim, a prática de atividade física
torna-se um fator de proteção funcional não só na velhice, mas em
todas as idades (NOVAIS et al., 2005). Um estudo realizado por
Borges e Moreira (2009) apontou a influência da prática regular
de atividade física nos níveis de autonomia para o desempenho nas
Atividades Básicas de Vida Diária/AVDs e Atividades
Instrumentais de Vida Diária/AIVDs durante o processo de
envelhecimento. Os resultados mostraram que idosos ativos
apresentavam bons níveis de autonomia para o desempenho de
suas atividades cotidianas quando comparado a idosos sedentários.
Observou-se também que mesmo existindo declínio da capacidade
funcional entre os idosos ativos, essa redução ocorre de forma mais
lenta e menos intensa. Os dados sugerem que um estilo de vida

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ativo pode retardar os impactos associados ao envelhecimento,


mantendo assim os idosos independentes para a realização das
tarefas cotidianas por mais tempo.
Em estudo semelhante, Carmo, Mendes e Brito (2008)
compararam o grau de capacidade funcional entre idosas
fisicamente ativas e idosas saudáveis sedentárias em suas AVDs,
por meio da utilização de um protocolo de testes para avaliar sua
autonomia funcional. Novamente, os resultados do estudo
apontaram que os idosos, quando fisicamente ativos, tendem a
apresentar maior grau de autonomia funcional em relação a
idosos sedentários.
As atividades aeróbicas também são muito benéficas para
prevenção da maioria das doenças crônicas. Caminhadas,
ciclismo, atividades aquáticas, como hidroginástica ou natação,
têm sido sugeridas e incentivadas pelos profissionais que atuam
com envelhecimento e idosos; além de ser muito apreciada pelos
idosos, a caminhada é uma atividade aeróbica de baixo custo e
pouca complexidade.
Uma pesquisa realizada por Camarano et al. (2009)
investigou comparativamente a contribuição de dois programas de
treinamento na manutenção da prática de atividade física para
idosos; um grupo participou de exercícios gerais, enquanto o outro
participou de um programa de caminhadas, ambos duas vezes por
semana durante uma hora cada dia, por 16 semanas. Após um
ano de interrupção, os participantes da pesquisa foram
entrevistados a respeito dos fatores relacionados ao abandono ou
permanência na atividade anteriormente sugerida. Além dos
questionários, foram utilizados testes para avaliação do
desempenho funcional. Utilizaram-se testes gerais de desempenho

36
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

físico, observação fotográfica de postura e marcha, além da análise


de dados antropométricos. Concluiu-se que a prática foi benéfica
para a aptidão física e para a manutenção da capacidade
funcional dos idosos, independente da modalidade.
No entanto, muito idosos têm dificuldades para realizar
exercícios aeróbicos, até mesmo os suaves, como caminhar. Dor
articular, vertigem, falta de equilíbrio e dispneia podem ser os
fatores limitantes, ou alterações osteoarticulares, como no caso de
fadiga, por exemplo, ou outra patologia que a contraindique ou
provoque dores ou desconfortos. Nesses casos, outras atividades
podem ser propostas, como as atividades aquáticas, hidroginástica,
hidroterapia ou natação.
As propriedades físicas da imersão em água e os benefícios da
hidroterapia têm sido exaltados desde a antiguidade, com o objetivo
de sua utilização terapêutica em doenças ortopédicas neurológicas e
reumáticas. O ambiente aquático tem demonstrado segurança para
atividades voltadas para a prevenção e para a reabilitação de idosos
com comprometimento da capacidade funcional.
Um estudo realizado no município de São Paulo, SP,
comparou um grupo de hidroterapia com um grupo controle. Os
autores relataram que o grupo de hidroterapia aumentou o
equilíbrio quando comparado com o grupo controle (BRUNI;
GRANADO; PRADO, 2008). E na pesquisa de Resende et al.
(2008), somente o grupo de intervenção foi avaliado,
demonstrando resultados altamente significativos quanto ao
aumento do equilíbrio e redução do risco de quedas em idosas
após a hidroterapia. Portanto, é importante salientar que, além dos
benefícios funcionais, a atividade aquática também influencia o
lado psicossocial, oferecendo um ambiente relaxante, que permite,

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ainda, um melhor convívio social, que, muitas vezes, vai se


perdendo com o avançar da idade (MANIDI; MICHEL, 2001).
Tendo em vista que as incapacidades funcionais têm como
causa primordial o enfraquecimento muscular, exercícios que
promovam o aumento na força são imprescindíveis para a
manutenção da independência dos idosos longevos. Os exercícios
de força trazem benefícios gerais para saúde do idoso, ou seja,
aumentam a massa óssea (DIAS et al., 2006), melhoram a
flexibilidade, e impedem a atrofia muscular.
No passado, recomendava-se treinamento com cargas de
baixa intensidade para os idosos. Mas, atualmente, inúmeros
estudos mostram resultados significativos de treinamento de força
(HERWOOD; TAAFFE, 2005; TEIXEIRA-SALMELA et al.,
2005; DIAS et al., 2006), inclusive de alta intensidade, no
aumento da força muscular e hipertrofia para idosos, mesmo em
faixas etárias avançadas (HENWOOD; TAAFFE, 2005;
REBELATTO et al., 2006).
Um estudo internacional verificou o ganho de vigor físico após
um treinamento de força de participantes com idades muito
avançadas (85 a 97 anos). Realizou-se um treinamento de resistência
progressivo por 12 semanas e constatou que a força máxima do
músculo treinado aumentou 107%, assim, foi possível afirmar que,
mesmo em indivíduos muito idosos, há respostas positivas quanto ao
aumento na força pós-treinamento (HARRIDGE; KRYGER;
STENSGAARD, 1999). Outras pesquisas verificaram que o
aumento na flexibilidade e na força promove melhora na
capacidade funcional de idosos (BATISTA, 2004).
É consenso na literatura que a prática de atividade física traz
diversos benefícios para os idosos e, portanto, deve ser estimulado e

38
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

disseminado. O envelhecimento é um processo impossível de ser


evitado, porém as perdas provenientes dele podem ser
significativamente desaceleradas, proporcionando, assim, uma vida
muito mais digna para os idosos. Para tanto, é importante saber
avaliar o nível de condicionamento físico do idoso e respeitar suas
limitações, pois as alterações morfológicas e funcionais que acontecem
nessa fase da vida requerem atenção especial, por isso recomenda-se
que a prescrição de exercícios deve ser de forma individualizada.
Portanto, a manutenção da capacidade funcional é, em
essência, uma atividade multiprofissional para a qual concorrem
médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,
educador físico, psicólogos e assistentes sociais. A presença desses
profissionais na rede de saúde deve ser vista como uma prioridade.
Os profissionais de saúde devem buscar incentivar os idosos a
praticarem alguma atividade física, conscientizando-os sobre os
benefícios para a manutenção da independência, autonomia,
bem-estar físico e emocional, e orientar não só o idoso, mas também
sua família a adotar um estilo de vida saudável, e, dessa forma,
contribuir para o acesso e a obtenção de uma qualidade de vida que
se sobreponha às incapacidades e aos limites aduzidos com a idade.

Considerações finais
As mudanças demográfica e epidemiológica pela qual o Brasil
está passando tem como consequências o aumento da população
longeva, na atualidade, e, de forma significativa, nos próximos
anos. O envelhecimento populacional repercute em diversos
setores da sociedade e exige mudanças e adaptações à nova
conformação demográfica do país. E isso implica na compreensão
e no atendimento da demanda da população idosa sobre um novo

39
Maykon S. Marinho, Pollyanna V. Lima, Luana A. dos Reis e Luciana A. dos Reis

olhar, baseado na integralidade do cuidado e com ênfase na


prevenção e promoção da saúde.
Com o aumento da longevidade é mister desenvolver meios
para melhor atender às dificuldades advindas do crescimento desse
grupo populacional. Mesmo existindo as perdas durante o processo
do envelhecimento, o envelhecer de maneira saudável deve ser
estimulado entre os idosos, pois ele deve ser sinônimo de vida plena
e com qualidade. É necessário promover mudanças na estrutura
social, a fim de que, ao terem suas vidas prolongadas, os longevos
não fiquem distantes dos espaços sociais, em inatividade e
dependentes, mas que possam buscar o seu bem-estar e melhorar a
sua qualidade de vida. Para tanto, é indispensável o
desenvolvimento de políticas e programas sociais de envelhecimento
ativo, com a intenção de prevenir e retardar as debilidades e as
doenças crônicas associadas a esse período da vida humana.
Manter as condições de autonomia e funcionalidade é o
primeiro passo para atingir uma melhor qualidade de vida e um
envelhecimento bem-sucedido, mas, para isso, se faz necessário um
planejamento de programas e atividades específicos de intervenção,
visando a eliminação de fatores de riscos relacionados à incapacidade
funcional. Contudo, devem ser elaboradas ações de promoção da
saúde, prevenção de doenças, recuperação e reabilitação, que
interfiram diretamente na manutenção da autonomia e da
capacidade funcional desses idosos longevos. É importante ressaltar
que essa capacidade funcional depende também de fatores
psicossociais, demográficos, culturais, socioeconômicos, além do estilo
de vida de cada indivíduo (ROSA et al., 2003).
A manutenção da capacidade funcional tem importantes
implicações para a qualidade de vida dos idosos por estar

40
Capacidade funcional e longevidade: aspectos epidemiológicos e clínicos

relacionada à possibilidade de ocupar-se com o trabalho ou com


atividades agradáveis até idades mais avançadas, e manter-se
inserido no meio social em que vive. Parece, portanto, bastante
relevante planejar programas específicos de intervenção para
eliminação de certos fatores de risco relacionados à incapacidade
funcional. Assim, os programas e serviços de saúde podem dar
ênfase à prática de atividades físicas, como caminhada,
hidroterapia, treinamento de força, pois a dependência não é um
estado permanente, mas um processo dinâmico cuja evolução
pode se modificar e até ser prevenida ou reduzida com a existência
de um ambiente e assistência adequados.
Considerando-se que ocorrerá um aumento expressivo de
idosos longevos nas próximas décadas, no Brasil, os estudos ainda
são incipientes e, apesar de ser o grupo etário que mais cresce, não
é o segmento de maior investimento acadêmico. Desse modo, é
necessário que a comunidade científica, os gestores de saúde e a
sociedade estejam preparados para lidar com a nova realidade de
um país envelhecido, considerando-se, sempre, as particularidades
sociais e culturais de cada região.

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46
CAPÍTULO 3

MODELO DE ATENÇÃO À SAÚDE E


ENVELHECIMENTO: O DESAFIO DO VIVER MAIS

Jussiara Barros de Oliveira


Luciana Araújo dos Reis
Luzia Wilma Santana Oliveira

Introdução

O prolongamento da vida, com a população vivendo mais, é


a maior conquista da Humanidade. Mas nos países em
desenvolvimento, em particular, esse processo tem ocorrido de
forma acelerada e não tem sido acompanhado por políticas
públicas e recursos para sua implementação em atendimento às
demandas específicas desse grupo etário, trazendo preocupações
aos profissionais dessa área (PASINATO; KORNYS, 2009).
Estudo aponta que, a cada ano, cerca de 650 mil idosos são
acrescentados na pirâmide etária brasileira (VERAS, 2013). Tal
fenômeno contém várias peculiaridades, por exemplo, a
segmentação interna no grupo de idosos, verificando-se um
aumento mais expressivo no segmento acima de 80 anos, que
determina uma heterogeneidade na composição dessa parcela da
população (NOGUEIRA et al., 2008).
Acompanhando a tendência demográfica e, paralelamente, a
epidemiológica (prevalência das doenças crônico-degenerativas
não transmissíveis (DCNT)) vivenciada nos últimos anos no Brasil,

47
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

a urgência da organização de um modelo de atenção à saúde


voltada para a população idosa tem se colocado como uma
prioridade para gestores, pesquisadores, idosos e trabalhadores da
saúde. Por muitos anos, na história da saúde pública brasileira, os
serviços de saúde focavam a atenção para o atendimento
materno-infantil, justificada pelos péssimos indicadores de
mortalidade e elevada taxa de fecundidade. No entanto, a atual
situação sanitária, social, econômica e demográfica é outra, o
cenário contemporâneo acrescenta ao fenômeno do
envelhecimento uma necessidade de adoção de estratégias globais
na formulação e implementação de políticas públicas, em especial,
a saúde (KALACHE, 2005).
As políticas de saúde voltadas para o envelhecimento
populacional – descritas na legislação brasileira de 1994 a 2006 –
apontam diretrizes importantes e norteadoras na consolidação do
SUS, sustentadas pela Constituição Federal de 1988 e pelas leis
orgânicas 8080/90 e 81142/90, cujo objetivo, a descentralização,
é passar para os municípios, gestores e atores, a tarefa de
planejamento e implementação de políticas de saúde, numa
perspectiva autônoma.
Segundo Kalache (2008), as políticas, no que concerne à
população idosa, devem ampliar seu espectro para além das ações
preventivas, incluindo não apenas ações tradicionais de promoção
da saúde (vacinação), mas também o acesso a práticas alternativas,
cientificamente comprovadas, com um investimento no exercício
da cidadania como princípio ativo para a melhoria da qualidade
de vida dessa população.
Nesse direcionamento, a Pesquisa Nacional de Amostra por
Domicilio (PNAD), em 2003, produziu resultados importantes

48
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

sobre o padrão de acesso e utilização de serviços de saúde e


apontou a necessidade de mudança de paradigmas no
desenvolvimento e na organização de ações na atenção ao idoso,
exigindo “políticas afirmativas e integradoras” de abordagem
preventiva, programas abrangentes de educação, que garantam
uma assistência de qualidade aos idosos portadores de doenças
crônicas (VERAS, 2013). Nesse sentido, o sistema de saúde, e seu
arranjo (modelo assistencial), deve fazer uma leitura das demandas
sanitárias, caracterizando como uma resposta do Estado às
demandas expostas pela sociedade.
O sistema de saúde brasileiro tem sido uma arena de disputa
de diversos paradigmas de modelos assistências ou modos de
intervenção, que podem ser compreendidos com base nas suas
vertentes conceituais: o hegemônico (médico
assistencial-privatista), o sanitarista (caráter hospitalocêntrico, com
ênfase nos procedimentos e baseado em programas, campanhas,
ações de vigilância epidemiológica e sanitária) e os alternativos
(oferta organizada, acolhimento, promoção da saúde, atenção
primária da saúde, distrital e vigilância da saúde) com suas
práticas organizadas nas necessidades de saúde (TEIXEIRA;
PAIM; VILASBOAS, 1998; PAIM; VIEIRA-DA-SILVA, 1999;
TEIXEIRA; SOLLA, 2006).
O modelo assistencial à saúde ainda é imediatista e
organizado para o cuidado agudo e não para o cuidado de pessoas
com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), responsáveis
por onerar a carga financeira do sistema de saúde, fazendo que o
envelhecimento concorra para o aumento das demandas dos
serviços de atenção à saúde (VERAS, 2013; KALACHE, 2008).

49
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

Nesse sentido, o aumento da prevalência das DCNTs deve


impulsionar a organização dos sistemas de saúde, com ênfase no
cuidado crônico das doenças. Não é aceitável a ideia de tratar
enfermidades crônicas como episódios agudos, isso onera
financeiramente o sistema público de saúde e compromete o aumento
do ganho de anos de vida da população (KALACHE, 2008).
Um dos resultados do aumento das DCNTs reflete-se na
maior procura dos idosos por serviços de saúde e no aumento da
utilização das Autorizações de Internações Hospitalares (AIH) e
tempo de ocupação do leito hospitalar pelos idosos, quando
comparado com outros segmentos populacionais, reiterando o
impacto da carga das doenças de longa duração na saúde dos
idosos (VERAS, 2013). Mesmo assim, Veras (2009, p. 550) ainda
afirma que “a prevenção é efetiva em qualquer nível, mesmo nas
fases mais tardias da vida. Portanto, a ênfase na prevenção é a
chave para se mudar qualquer quadro”.
Veras (2013) apresentou uma proposta construída tendo
como base: a) Organização Mundial da Saúde (OMS), com a sua
conceitualização do Envelhecimento Ativo; b) Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS), com a indução e a reorganização
dos modelos assistenciais, por meio da ênfase na promoção e
prevenção; c) Universidade Aberta para terceira Idade/Unati-
Universidade Federal do Rio de Janeiro/Uerj, com o Projeto de
Hierarquização da Atenção ao Idoso com Base na complexidade
dos Cuidados e; d) Projeto da PruHealth, empresa prestadora de
serviços de saúde, no Reino Unido. Esse é o modelo de linha de
cuidados que integra a promoção e a atenção à saúde do idoso
(Figura 1). O autor apresenta, de maneira esquemática, uma
síntese dos níveis do cuidado com base no grau de necessidade,
contrapondo a lógica de organização do sistema de saúde baseado

50
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

na doença. O fluxo desenhando propõe a promoção do


envelhecimento ativo e saudável (ações de educação, promoção da
saúde e prevenção de doenças), tratamento e reabilitação de
agravos, estabelecendo sete etapas hierarquizadas de cuidados,
com maior ênfase nos níveis básicos, responsáveis pelo
atendimento da maioria da população idosa. Os longevos, nessa
lógica, demandariam cuidados mais complexos, concentrando-se
nas últimas etapas.
Pelo exposto, a estratégia indutora, que amplia e reorganiza o
modo de intervenção no Brasil, em contraposição ao modelo
hegemônico, talvez possa ser creditada ao fortalecimento da
Atenção Primária à Saúde (APS), particularmente por meio da
Estratégia Saúde da Família (ESF), vinculado às propostas de
vigilância da Saúde, oferta organizada e acolhimento (PAIM,
2008; SOLLA, 2010).

51
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

C Nível hierárquico 1
Acolhimento, cadastramento, triagem rápida (identificação rápida do
perfil de risco - organizador de prioridade), informações dos serviços
A • Porta de entrada no sistema oferecidos, bonificações, explicações sobre a importância da
promoção e prevenção de saúde (adesão ao plano de cuidados).
• Acolhimento e
Encaminhamento para o nível 2 do modelo
P cadastramento

A Nível hierárquico 2 Local de promoção de educação e saúde, atividades


de lazer, lúdicas, integração, educacionais.
•Centro Sócio-sanitário
C Avaliação funcional (suporte social, doenças prévias
(ações de promoção e e atendimento recebido), ou seja, avaliação de
I prevenção de saúde e r isco. Caracter iza-se como um Centro de
ações de baixa Convivência e Conveniência (facilidades tb. para
D complexidade familiares). Gerente de acompanhamento (suporte
operacional para todas as etapas), ambulatório de
A baixa complexidade.
D Importante Ambulatório de complexidade
observação: Nível hierárquico 3
E geriátrica (múltiplas patologias).
Local da realização da
90% dos • Ambulatório Geriátrico
avaliação geriátrica
clientes são multidimensional. Equipe
estabelece o Plano terapêutico.
F atendidos nos
Nível hierárquico 4 Procedimentos e
três
U • Assistência domiciliar
internação
primeiros domiciliar;
(consulta, procedimento e
N níveis internação domiciliar)
centro-dia;
hospital-dia.
• Hospital-dia
C
• Centro-dia
I Nível hierárquico 5
Tratamento da
fase de
O • Hospital de curta agudização
permanência (agudos) d a s d o e n ç a s
crônicas
N Nível hierárquico 6
A • Instituição de longa
permanência
L • Asilo (nursing homes)

Nível hierárquico 7
•Hospice ou cuidados
paliativos na fase
terminal

Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6 Nível 7

Figura 1 - Hierarquização da atenção ao idoso baseada na


complexidade dos cuidados.
Fonte: OLIVEIRA, 2013.

52
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

Tendo em vista o caráter indutor na mudança do modelo


assistencial e a abordagem interdisciplinar do indivíduo, em todas as
fases do ciclo vital, nos deteremos em uma reflexão teórico-prática
mais aprofundada da ESF, no nível primário da atenção, em
detrimento dos demais níveis na abordagem do idoso, perscrutando a
micropolítica que configura a produção do cuidado em saúde na
Atenção Primária.
No contexto da ESF o atendimento deve ser integral, tendo em
vista a preservação da autonomia e da capacidade funcional do idoso
com seus familiares e com a comunidade, que é um dos pontos
convergentes entre ESF e a Política Nacional de Saúde da Pessoa
Idosa (PNSPI).
Nesse capítulo, abordaremos a experiência de um município
baiano, no interior da Bahia, produto de um dos resultados do estudo
da implementação da PNSPI, numa unidade federada. O objetivo foi
perfazer itinerário da pessoa idosa no atendimento na rede municipal
de saúde e sua interseção com os demais níveis de atenção do sistema
e outras ações intersetoriais.

Estratégia de saúde da família, envelhecimento e saúde da


pessoa idosa
A Estratégia Saúde da Família (ESF), implantada pelo governo
Federal em 1994, tem se constituído, ao longo das últimas décadas,
como uma ferramenta “promissora” de reorientação do modelo
assistencial. Essa expectativa fez sua ampliação como uma meta a ser
perseguida pelos gestores em saúde, nos últimos anos, na busca pela
universalização do acesso à saúde para população brasileira, incluindo
os idosos. Atualmente, o foco das intervenções da ESF tem sido
ordenar o cuidado numa perspectiva longitudinal, buscando a
integralidade, resolutividade e organização das redes assistenciais e,

53
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

dessa forma, acionar os pontos de atenção de acordo com as


necessidades do indivíduo.
Quando associamos a lógica da organização e concepção da
atenção básica, por meio da ESF com a PNSPI, percebemos as
condições de possibilidades para se concretizar as diretrizes da
atenção à saúde da pessoa idosa. Essa constatação se dá pelo
descrito na legislação vigente, a Portaria nº 2488/2011. Essa
portaria define como característica do processo de trabalho das
equipes comum a todos os profissionais: a participação do
acolhimento dos usuários, realizando a escuta qualificada das
necessidades de saúde, procedendo a primeira avaliação
(classificação de risco, avaliação de vulnerabilidade, coleta de
informações e sinais clínicos) e a identificação das necessidades de
intervenções de cuidado, que proporciona o atendimento
humanizado e se responsabiliza pela continuidade da atenção e
pela viabilização do estabelecimento do vínculo (BRASIL, 2011).
Esse aspecto é decisivo na atenção à pessoa idosa, considerando a
multidimensionalidade do processo viver-envelhecer e,
particularmente, as suas implicações na saúde dos mais idosos.
No entanto, como desafio, há a necessidade de capacitação
permanente dos profissionais da ESF, tendo em vista o déficit na
formação, relativo às competências para o atendimento integral da
pessoa idosa na multidimensionalidade e especificidade do
processo viver-envelhecer (SILVESTRE; COSTA NETO, 2003).
Essa constatação encontra respaldo também no estudo de
Costa e Ciosak (2010), o qual demonstrou a dificuldade dos
profissionais de saúde da ESF em lidar com as demandas sociais e
psicológicas da pessoa idosa. Nesse estudo não havia suporte de
outras categorias profissionais, além da equipe mínima da ESF, o

54
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

que nos leva a perceber a importância da atenção interdisciplinar


na assistência à pessoa idosa, apontada na PNSPI.
Esse aspecto reforça a necessidade de enfatizar os conteúdos
de gerontologia e geriatria na formação dos profissionais de saúde,
para o desenvolvimento de competências imprescindíveis para a
abordagem da pessoa idosa na Atenção Primária à Saúde
(MOTTA; AGUIAR; CALDAS, 2011). Entretanto, esses autores
sinalizam que o desenvolvimento de competências dos
profissionais de saúde da família não substitui o suporte de
atendimento especializado do nível secundário de atenção, o que
aponta a necessidade de uma rede de atenção à saúde do idoso,
proposta pela PNSPI, como um desafio para os gestores.
Outro estudo realizado por Coutinho et al. (2013) reiterou
que os profissionais da ESF reconhecem o processo acentuado de
envelhecimento da população e o despreparo para produção de
um cuidado integral, o que aponta para um aspecto interessante, a
influência da gestão dos serviços no direcionamento das
“prioridades” e metas a serem alcançadas, muitas vezes na
contramão da efetividade do princípio da integralidade. Ainda
nesse estudo, observou-se que as ações da ESF, voltadas para a
população idosa, são pontuais e não há prioridade na organização
do atendimento. Por fim, o estudo, apesar de suas limitações,
apontou a necessidade de planejamento de estratégias de cuidado
nas unidades de saúde da família, voltadas para as especificidades
da população idosa.
Por outro lado, desde 2006, foi instituído o “Caderno de Atenção
Básica, Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa”, publicado pelo
Ministério da Saúde, que visa oferecer subsídios técnicos
específicos para os profissionais de saúde que atuam na Atenção

55
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

Primária (BRASIL, 2006). O Caderno foi construído tendo como


referência as prioridades do Pacto em Defesa da Vida e Políticas
Nacionais, fundamentais para o planejamento de saúde para a
pessoa idosa.
Ainda resta a observância do conteúdo abordado no Caderno
da Atenção Básica, sobre as especificidades biopsicossociais do
envelhecimento da população brasileira, que pontua aspectos
demográficos e epidemiológicos, com a abordagem assistencial às
doenças crônico-degenerativas, síndromes geriátricas e um
capítulo específico voltado para o envelhecimento e a AIDS, o
qual apresenta instrumentos para utilização no atendimento da
pessoa idosa, pelos membros da equipe da ESF. Também define a
atribuição de cada profissional, com foco na identificação precoce
de riscos e agravos potencialmente comprometedores da
capacidade funcional e, principalmente, na qualidade dos anos de
vida da pessoa idosa.
Os instrumentos elencados no Caderno são escalas que
avaliam acuidade auditiva e visual, estado mental, depressão,
atividades de vida diária, risco de queda, funcionalidade familiar,
recursos comunitários e familiares, sobrecarga dos cuidadores e
presença de violência e maus tratos, com destaque para a relação
direta da avaliação multidimensional na qualidade de atenção à
saúde da pessoa idosa. Portanto, a utilização dos instrumentos
pelos profissionais permite uma avaliação rápida de múltiplos
sistemas e detecção precoce de necessidades e alterações, sendo
imprescindíveis para o estabelecimento de condutas terapêuticas
específicas para as pessoas idosas (BRASIL, 2006).
Segundo Veras (2013), a estratificação de riscos e de
identificação do idoso fragilizado configura-se em uma excelente

56
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

oportunidade que pode ser potencializada na ESF e, assim,


melhorar o acesso à assistência aos problemas de saúde, dessa
forma, deve-se organizar um modelo de atenção capaz de
desenvolver ações preventivas no nível primário, secundário e
terciário, que invista no envelhecimento saudável, na assistência
qualificada para os que já estão acometidos por doenças crônicas
ou com incapacidades instaladas.
Nessa perspectiva, o advento da longevidade e a coexistência
das doenças crônicas e incapacidades na população idosa têm
exigido cada vez mais cuidados de longa duração, que em geral
significa o apoio para realização das atividades de vida diária
(AVDs). Esse apoio pode ser proporcionado por cuidadores
informais: família, amigos, vizinhos e; formais: instituições e
serviços especializados (CAMARANO; MELLO, 2010). É,
preferencialmente, com a articulação da ESF que se fortalecerá o
vínculo com a comunidade do seu território.
Esse aspecto também foi abordado no Caderno de Atenção
Básica, que discute a importância do suporte aos familiares e
cuidadores de idosos (formais e informais) pela ESF para oferecer
orientação, acompanhamento e apoio domiciliar, considerando as
diversidades do envelhecer, a adequação do ambiente, com
respeito ao contexto de vida e cultura de cada família, e
privilegiando o cuidado integral e humanizado à pessoa idosa e
sua família (BRASIL, 2006).
Ainda no escopo da atenção domiciliar prevista no Caderno
da Atenção Básica, referente à ESF, a equipe deverá estabelecer
parceria com as Instituições de Longa Permanência para Idosos
(ILPI) do seu território adstrito, avaliar, quando necessário, os
idosos institucionalizados, realizar ações educativas,

57
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

potencializando, desta forma, a rede de proteção social existente e


fortalecendo seu papel na intersetorialidade (BRASIL, 2006a).
Além da utilização das recomendações e condutas do
Caderno da Atenção Básica, a caderneta do idoso se constitui em
outro instrumento para o trabalho dos profissionais da ESF, no
acompanhamento do estado de saúde da pessoa idosa, pois pode
ser utilizada como referência para seu atendimento nos demais
níveis de atenção do sistema, permitindo procedimentos mais
precisos no diagnóstico e tratamento das doenças (BRASIL, 2006).
Assim, visando apoiar a ESF, no que tange ao atendimento
integral da pessoa e sua família, o Ministério da Saúde, em 2008,
criou, por meio da Portaria nº 154/2008, mais um dispositivo de
fortalecimento da APS, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF), numa perspectiva de ampliar a resolutividade, o escopo das
ações individuais, bem como as ações de promoção e prevenção em
saúde, desenvolvidas no âmbito da ESF (BRASIL, 2008).
A citada Portaria define que um NASF deve ser formado por
uma equipe de profissionais de diferentes áreas (educador físico,
psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista e farmacêutico), cujo
objetivo é alcançar o cuidado na sua longitude, ou seja, em todas
as fases do ciclo vital, na abordagem da linha do cuidado. Suas
principais diretrizes relativas à APS são: ação interdisciplinar e
intersetorial; educação permanente em saúde dos profissionais e
da população; desenvolvimento da noção de território;
integralidade, participação social, educação popular; promoção da
saúde e humanização (BRASIL, 2008).
Assim, concordamos com Veras (2013) ao afirmar que para
que um modelo assistencial de atenção à saúde, previsto na
PNSPI, seja efetivo, é preciso articular os níveis de prevenção com

58
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

novos métodos de planejamento e avaliação na prestação de


cuidados aos idosos. De modo que o sistema ganhe eficiência, os
profissionais nele envolvidos devem construir sua práxis
crítico-reflexiva no contexto de sua área de atuação, sem perder de
vista a globalidade do sistema, assim os idosos podem ter mais
qualidade de vida e dignidade no processo viver-envelhecer.

A experiência de um município baiano na organização


do atendimento a pessoa idosa
Este desenho foi construído durante a atividade de campo do
estudo realizado, e configurou-se, como está descrito na cartografia
metodológica e nos registros do diário de campo, como uma
identificação e uma aproximação dos cenários da pesquisa, palco da
formulação e da implementação da PNSPI no âmbito de um
município baiano. Essa construção ocorreu de forma coletiva, com
participação de técnicos da gestão municipal envolvidos com as
políticas de saúde e desenvolvimento social do município em estudo.
Esse diálogo foi facilitado pelo conhecimento prévio dos cenários da
gestão municipal de saúde e das áreas de inserção da estratégia Saúde
da família, do programa Vivendo a Terceira Idade, do Conselho Municipal
de Saúde e do Idoso, tendo como base o protocolo municipal de
atendimento do idoso na atenção básica (OLIVEIRA, 2013).
Desde 1998, a ESF vem se consolidando como a forma mais
eficaz e eficiente de reorganização dos serviços de saúde no referido
município. Ao longo desses anos, tem-se observado uma contínua
melhoria das condições de vida e de saúde da população que, até
então, contava com uma rede limitada, com apenas seis unidades
básicas, com uma restrita oferta de serviços realizados por um
quadro de funcionários formado por 195 profissionais. Na

59
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

atualidade, esse número é de 2.300 profissionais, segundo o relatório


da gestão municipal (VITÓRIA DA CONQUISTA, 2009).
A Diretoria da Atenção Básica (DAB), no intuito de
sistematizar o processo de trabalho, bem como organizar as ações
de acordo às linhas do cuidado e prioridades previstas no Pacto
pela Saúde, em 2007 organizou seu trabalho em Áreas Técnicas,
as quais, por sua vez, definem o processo de trabalho de acordo
com os temas: Saúde da Mulher, Saúde do Adulto, Saúde do
Idoso, Saúde da Criança, Saúde Bucal, Núcleo de Apoio à Saúde
da Família (NASF), Avaliação e Monitoramento. Nesse particular,
foi definida uma equipe de apoio institucional das unidades
básicas, com o objetivo de propiciar um espaço permanente de
discussão do processo de trabalho entre gestores e trabalhadores,
constituindo-se, dessa forma, em uma ferramenta fundamental
para orientação da gestão da APS no município.
A rede de serviços da atenção primária municipal é composta
de 524 agentes comunitários de saúde (ACS), 38 Equipes da ESF
alocadas em 38 unidades de saúde, 15 na zona rural (100% de
cobertura) e 23 na zona urbana (42% de cobertura), e 30 equipes
de saúde bucal. Integra, ainda, a rede o Programa Municipal de
Atendimento Domiciliar a Idoso com Limitações (PAMDIL), que
atende à área do Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS), que é referência para as unidades básicas de modelo
tradicional (OLIVEIRA, 2013).
O município organiza os serviços e ações definidas como
atenção especializada. Trata-se de um dos projetos essenciais à gestão
municipal. Esse nível de atenção encontra-se estruturado na média e
na alta complexidade ambulatorial e hospitalar. Atualmente,
compõem esse nível os serviços: o Centro de Reabilitação Física e

60
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

Auditiva (Cemerf), o Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e


outras Drogas (Caps-AD), o Centro de Atenção Psicossocial (Caps II),
o Centro de Atenção Psicossocial para Crianças e Adolescentes
(Capsia), o Centro de Referência em Tisiologia e Hanseníase, o
Centro de Referência em Hepatite C, o Centro Regional de Saúde de
Trabalhador (Cerest), o Centro de Apoio à Vida (Caav), o Centro de
Atendimento Especializado (Cemae), uma Farmácia da Família e o
Centro de Atendimento Especializado em Odontologia (CEO)
(VITÓRIA DA CONQUISTA, 2010).
No tocante à atenção hospitalar, a Secretaria Municipal de
Saúde tem desenvolvido uma política específica, que visa a sua
integração com os demais serviços de saúde, fortalecendo os
pontos de acionamento de rede para atender às necessidades de
saúde da população. A rede hospitalar credenciada pelo SUS é
composta por 11 hospitais, dois públicos (Municipal e Estadual),
oito privados e um filantrópico, totalizando 549 leitos do SUS
disponíveis para a população, nas especialidades cirúrgicas,
clínicas, obstétricas e pediátricas. Em caráter complementar, 64
leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), cadastrados no
Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES). Ainda
soma-se a esse nível de atenção a Fundação de Saúde Pública de
Vitoria da Conquista, formada pelo Hospital Materno Infantil
Esaú Matos, com UTI neonatal, banco de leite humano, o
Programa Mãe Canguru – considerado Hospital Amigo da
Criança –, e um Laboratório Central de Referência Regional. A
atenção à urgência e emergência são prestadas por um Serviço
Móvel de Atendimento de Urgência e Emergência (Samu 192),
com uma unidade de suporte avançado e quatro unidades de
suporte básico; cinco prontos socorros conveniados ao SUS:
Unimec; Santa Casa de Misericórdia; Hospital Esaú Matos;

61
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

Centro de Atendimento Médico Infantil (Cami) e Hospital Geral.


Como complemento desse nível de complexidade está a Central
de Regulação de Leitos (CRL) e dois postos de atendimento
avançado de apoio à CRL, uma agência transfusional, além de
clinicas e hospitais privados conveniados e contratados, integrando
a rede SUS municipal (VITÓRIA DA CONQUISTA, 2010).
Além disso, o governo municipal tem, desde 1997, priorizado
em sua agenda as políticas públicas voltadas para a criança e para
o idoso. Para valorizar a pessoa idosa, implantou, em 1997, o
programa Vivendo a Terceira Idade, com o objetivo de incentivar a
autonomia e de promover sua inserção social nas diversas
atividades que desenvolve. Este programa, iniciado com 150
idosos, hoje atende cerca de 520 deles. As atividades são
desenvolvidas basicamente em grupos de convivência situados nos
bairros periféricos e central da cidade, com espaços oferecendo
oficinas: brigadas de trabalho, de artesanato, de dança, de aulas de
alfabetização, a realização de eventos comemorativos, a
organização de viagens turísticas e de eventos de atividades físicas.
O fluxo de atendimento apresentado de forma esquemática
(Figura 2) demonstra o esforço da gestão em organizar o itinerário
terapêutico da pessoa idosa, na rede municipal do município em
questão. O desenho evidencia também a interlocução com outros
níveis de atenção, destacando o diálogo com a rede de proteção
aos direitos da pessoa idosa e outros serviços não governamentais
que realizam algum tipo de atendimento ao idoso.
Do ponto de vista da gestão, existe um aparato institucional
com apoio técnico para a realização das atividades e
encaminhamentos necessários, a fim de garantir a resolutividade e
integralidade do cuidado.

62
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

Figura 2 - Fluxograma de atendimento ao idoso na Rede


Municipal de Saúde
Fonte: Adaptado do Protocolo Municipal do Idoso.

63
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

Observa-se no desenho apresentado na Figura 2, que o


centro da produção do cuidado parte do encontro com a pessoa
idosa. Nesse encontro, mais do que definir um fluxo, deve-se
estabelecer uma escuta sensível das demandas apresentadas pela
pessoa idosa, identificação de suas necessidades para, então,
construir um itinerário terapêutico, com corresponsabilidade entre
profissional de saúde e idoso ou sua família. Na realidade da ESF,
muitas vezes quem procura o serviço é a família, principalmente
quando se trata de idosos fragilizados, que é o caso da maioria dos
longevos. O município caso possui uma experiência interessante
no acompanhamento de idosos longevos com limitações. Em
2009, com recursos próprios, implantou o Programa Municipal
Domiciliar para idosos com limitação (PAMDIL), que acompanha,
nas áreas que não têm equipes de saúde da família, os idosos
longevos identificados pelos agentes comunitários de saúde. Esse
programa tem como referência uma unidade básica de modelo
tradicional, onde estão cadastrados os idosos acompanhados. Os
cuidados com os idosos são orientados à família, e é realizado o
acompanhamento clínico, laboratorial e de enfermagem. Assim, o
programa tem contribuído para a atenção integral e humanizada,
considerando a família como uma importante unidade cuidadora.
A coordenação da área técnica municipal de saúde do idoso
recomenda que, em todo atendimento, a caderneta do idoso deve
ser solicitada. Como vimos, a caderneta do idoso constitui uma
importante ferramenta no acompanhamento da saúde da pessoa
idosa, podendo ser utilizada pelo profissional como uma
ferramenta de screening para situações de riscos, prevenindo
complicações, agravos e novas patologias. Além disso, a utilização
da caderneta, em segunda instância, pode se constituir como um

64
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

instrumento de incentivo à autonomia, ao autocuidado e ao


estimulo ao envelhecimento ativo-cidadão-saudável.
Na gestão do cuidado com base no encontro do usuário com
o profissional, é imprescindível o estabelecimento de vínculo e
uma mudança de paradigma ao focar na pessoa e não na doença.
Esse pensar constrói uma lógica mais proximal com a pessoa e
considera mais que a disponibilização de uma “carta de serviços”,
e sim a subjetividade que envolve o encontro do usuário com o
trabalhador de saúde. Nessa situação, se estabelece a trama que é
tecida nas relações para a constituição da micropolítica na
produção do cuidado (FEUERWERKER, 2014).
O arranjo tecnoassitencial observado no fluxograma de
atendimento aponta para um modelo de atenção à saúde, pautado
em intervenções de promoção, prevenção e curativas que,
dependendo da necessidade apresentada pelo usuário, podem
mobilizar pontos de atenção em outros níveis, até mesmo serviços
de proteção dos direitos dos idosos. Esse aspecto pode ser
considerado um avanço, tendo em vista a existência de uma rede
de proteção ao direito da pessoa idosa, que demonstra certo grau
de articulação com a ESF.
Outro aspecto importante é a possibilidade de construção de
vínculo, que é favorecido pelo trabalho cotidiano da equipe de
saúde da família. Vale ressaltar, ainda, que, mesmo para aqueles
que não pertencem ao território, observa-se no fluxograma certa
corresponsabilidade por parte da ESF, facilitando o
direcionamento do idoso dentro da rede municipal. No entanto,
para a efetividade do cuidado direcionado à pessoa idosa, a
capacitação dos profissionais para as demandas específicas
apresentadas é fundamental, devendo ser de fato uma prática

65
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

permanente. Além disso, a estrutura de apoio institucional, que


esse município possui, possibilita uma aproximação da gestão no
cotidiano do trabalho vivo das equipes.
Nesse território das relações que permeiam os diversos
encontros do trabalho vivo, ocorrerão entre o usuário e o
trabalhador de saúde os intercâmbios e as negociações que
possibilitarão a produção do cuidado em saúde, sem que haja o
desencontro de expectativas (FEUERWERKER, 2014). Daí a
relevância do acolhimento, apresentado no fluxograma como um
disparador, com base no encontro com o idoso ou com a família,
da construção do itinerário terapêutico do idoso na unidade de
saúde da família e nos serviços que integram a rede do município
em questão.
No entanto, observamos uma lacuna, que poderá ser
superada, referente aos cuidados paliativos, que emergiu de
maneira superficial durante a fase de coleta de dados desse estudo
ao observar a análise documental sobre o PAMDIL e alguns
relatos das entrevistas realizadas. Mesmo assim, foi interessante
observar nos documentos de planejamento da gestão (Plano
Municipal de Saúde, Relatório de Gestão e Programação Anual
de Saúde) a definição de objetivos em torno da necessidade de
sistematização do cuidado à pessoa idosa, o que demonstra o
interesse dos atores envolvidos em concretizar a implementação da
PNSPI.

66
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

Considerações finais
O envelhecimento é um fenômeno que nos impõe inúmeros
desafios. Na saúde, indubitavelmente, a organização de um
modelo de atenção que combine tecnologias para atender as
especificidades do processo viver-envelhecer humano é algo que
deve ocupar a pauta nas discussões entre gestores, pesquisadores e
trabalhadores de saúde.
Nesse cenário, as possibilidades são ilimitadas pois dependerão
das peculiaridades de cada território, da disputa de modelos e
interesses, principalmente na mudança da lógica de organização dos
serviços. O viver mais deve priorizar a qualidade de um sistema de
saúde que responda às necessidades desse quadro demográfico,
epidemiológico e social. Para tanto, vários estudos têm construído
algumas possibilidades, como o Projeto de Hierarquização da
Atenção ao Idoso com Base na complexidade dos Cuidados da
Unati-Uerj, apresentado nesse capítulo, que poderão ser adaptadas
para a realidade de cada município. O importante é o envolvimento
e compromisso de todos os atores envolvidos na implementação da
PNSPI, e o imperativo é mover-se.
Quando particularizamos a questão para a população mais
idosa, com todas as nuances da fragilidade e perda de autonomia,
percebemos as fragilidades estruturais no sistema e, ainda mais,
dos profissionais de saúde. A luta é permanecer empreendendo
esforços em investigações de práticas bem-sucedidas, que poderão
modificar realidades, para que possamos vivenciar uma atenção
integral e humanizada para todo brasileiro idoso e, ao mesmo
tempo, implementar ações de prevenção e promoção que resultem
em um envelhecimento saudável.

67
Jussiara B. de Oliveira, Luciana A. dos Reis e Luzia W. S. Oliveira

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70
Modelo de atenção à saúde e envelhecimento: o desafio do viver mais

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71
CAPÍTULO 4

SUPORTE FAMILIAR E LONGEVIDADE:


UMA REFLEXÃO ACERCA DAS
RELAÇÕES FAMILIARES
Jamília Brito Gomes
Renato Novaes Chaves
Alessandra Souza de Oliveira
Luciana Araújo dos Reis

Introdução
Nesse capítulo apresentaremos os resultados de uma discussão
realizada sobre a família e, em especial, sobre o suporte familiar e
a longevidade. A construção de reflexões sobre essas temáticas faz
parte do dia a dia de diversos estudiosos que vêm repensando as
maneiras pelas quais as famílias passam pelo processo de
transformação na contemporaneidade.
Nessa perspectiva, faz necessário refletir sobre como as
famílias estão encarando os desafios relacionados ao suporte
familiar, com base no aumento da expectativa de vida dos seus
membros, já que o envelhecimento é um processo natural e
contínuo, que se inicia a partir do nascimento e vai se estendendo
durante o tempo máximo de vida que as pessoas conseguem
alcançar. A velhice é uma fase da vida que precede o processo da
longevidade, em que, a partir das dificuldades na execução das
atividades da rotina, novas necessidades surgem, justificando a
relevância do suporte familiar.

72
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

Nesse sentido, percebemos que a problematização desses


aspectos poderá contribuir para o aprimoramento profissional dos
estudiosos da temática aqui abordada, assim como colaborará com
as discussões apresentadas no contexto nacional e mundial sobre o
suporte familiar e a longevidade.

Família
Considerando a conjuntura da família na sociedade,
ressaltamos a sua diversificação de conceito, já que tem passado
por profundas transformações, de maneira interna, e externa,
principalmente no que diz respeito a sua composição, as relações
estabelecidas entre os membros, e os princípios de sociabilidade
que sinalizam a concepção de um caráter dinâmico e
multifacetado.
De acordo com Crisafulli (2011, p.51), “a família não era
vista como um núcleo baseado no afeto, mas como conjunto de
pessoas ligadas pelas finalidades de procriação e perpetuação de
seus entes através das gerações futuras, dirigidas pela religião,
elemento na formação das diversas instituições”. Nesse sentido, ao
homem era dada a direção do núcleo familiar, desde
administração das pequenas questões até o suprimento das
necessidades básicas, e a sua vontade era a única que era levada
em consideração. Já à mulher, cabia-lhe apenas o papel de
procriar, cuidar dos afazeres do lar, auxiliar na educação dos filhos
e suprir as necessidades do homem. Com o passar dos anos, o
Estado passou a intervir nas relações humanas, realizou a
distribuição de direitos e deveres entre as pessoas, instituiu o
casamento, a fim de organizar os vínculos pessoais. Com base
nessas intervenções, a mulher passa a ter direitos iguais e a sua

73
Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

opinião passa a ser levada em consideração, constituindo, dessa


maneira, uma nova concepção na problematização da estrutura
familiar.
“Apesar da constante discussão acerca das definições e da
busca por um conceito comum, ainda não é possível afirmar uma
definição de família aceita e adotada consensualmente pelos
estudiosos da área, instituições governamentais e pela sociedade”
(OLIVEIRA; ARAÚJO, 2010, p. 100). Mesmo não chegando a
um nível de concordância acerca da definição de família, por meio
dos constantes estudos e pesquisas, os estudiosos dessa linha têm
conseguido problematizar, discutir e promover alguns debates
sobre as questões representativas das relações humanas que
permeiam a temática.
Existem diversas maneiras de compreender o conceito de
família, vale ressaltar que o significado tradicional fundamenta-se
em distintos discernimentos, como aspecto biológico de laços
sanguíneo, aproximações genealógicas, ressalvas realizadas por
profissionais da área jurídica e até o compartilhamento de uma
casa com crianças. Nessa sequência, ressaltamos que o critério de
intimidade para estabelecer uma explicação mais apropriada está
relacionado à intimidade estabelecida pelos membros, que logo
reflete no fato de que, apesar de as pessoas sem ter filhos gerados
na relação, são reconhecidas como uma composição familiar. A
partir dessa perspectiva, a família pode ser considerada um grupo
social peculiar e simbólico, marcado por afinidades entre gerações.
A família é uma constituição social que exerce um papel
inigualável nas relações e, consequentemente, na vida das pessoas
em sociedade, nessa perspectiva as relações familiares
modificam-se constantemente para atender as necessidades dos

74
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

membros (REIS, 2008). Dessa forma, a família passa a levar em


consideração o bem-estar dos seus integrantes, assim como as
necessidades existenciais dos mesmos. Com isso, as necessidades
mais simples que uns membros apresentam passam a ser levadas
em consideração pelos outros, na tentativa de auxiliá-los no
suprimento.
De acordo com Santos (2013), a família é compreendida como
uma organização social de apoio, distribuída em um nível
hierarquizado, instituída por um conjunto de pessoas que sustentam
entre si vínculos e afinidades, em uma atmosfera que permite trocas
em comum. Considerando essa perspectiva, a sustentação desses
vínculos vai depender da força e do tipo das relações que foram
estabelecidas entre os membros da família ao longo da vida.
A família é um espaço de socialização, que desempenha ações
por meio de estratégias peculiares que visam a sobrevivência.
Também é considerada um lugar que proporciona a
aprendizagem da cidadania, permitindo desenvolvimento de seus
membros (FACO; MELCHIORI, 2009). A família apresenta uma
dinâmica própria, ora comprometida, ora afetada pela ampliação
e desenvolvimento de seu ciclo. É uma instituição responsável pela
socialização de seus membros, por isso possui um papel
fundamental no percurso do desenvolvimento humano. Nota-se
que, com o nascimento dos filhos, os pais recebem uma função
parental, estabelecendo de novos papéis, e nesse momento surgem
novas demandas relacionadas à educação, com base na
intervenção familiar que se espera ser executada. Ainda nesse
ponto de vista, Faco e Melchiori (2009, p. 2) relatam que “é nesse
momento que surgem mais especificamente as tarefas ligadas à
socialização; a família exerce seu lugar de “matriz de identidade”,
possibilitando a seus membros a experiência de pertinência a um

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Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

grupo, assim como a experiência de sua autonomia”. Assim, se faz


necessário o desenvolvimento de regras que motivem a
participação dos membros nas relações familiares.
Nesta perspectiva, a família é um tema que demanda uma série
de reflexões para se chegar à definição mais apropriada, pois faz
parte de um universo repleto de particularidades, conforme
apontadas por seus descritores (WEIRICH; TAVARES; SILVA,
2004). Dessa forma, assim como a economia, a política em geral, e
outros segmentos da sociedade, a família vem passando por
mudanças e articulações de maneira gradual, na busca por um
espaço, para alimentar o bem-estar e estrutura dos membros que a
compõem.
As famílias possuem características diferentes umas das
outras, ainda assim existem interesses conjuntos relacionados ao
movimento de integração, com base em uma conexão afetiva e
saudável até a relações patológicas. “Muitas vezes em favor do
estabelecimento da unidade familiar, os pais precisam se sacrificar
para que as crianças não apenas nasçam na família, mas possam
crescer e por fim, conquistar uma vida autônoma, vindo a
construir outro núcleo familiar” (BRAMBILLA, 2012, p. 29). É
sabido que, nem sempre, as pessoas alcançam esse ciclo, por causa
de diversos fatores relacionados ao processo de integração e
desenvolvimento maturacional, assim como as adversidades que
podem acontecer no dia a dia.
De acordo com Souza e Baptista (2008), as relações mais
intensas e duradouras são constituídas dentro da família,
especialmente nos anos iniciais de vida, e é nesta relação que os
indivíduos aprendem a estabelecer os vínculos relacionados à
convivência grupal. Nesse sentido, a família é uma organização

76
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

que funciona como um importante meio e suporte imprescindível


ao desenvolvimento benéfico e saudável de seus membros. Ela
também é responsável por oferecer acolhimento, atenção, carinho,
cuidado, diálogo, liberdade, autonomia, aceitação, liberdade, entre
outros. Dessa maneira, torna-se referência na manutenção dos
comportamentos, valores e crenças, uma vez que orienta, premia
ou pune as maneiras de agir de seus membros.
Conforme apontado por Reis (2008), além do elemento
biológico, a relação familiar se constrói também com base no afeto
investido, pois os elementos psicológicos e afetivos também
concretizam as necessidades imateriais de seus membros. Nesse
sentido, o investimento em afeto e companheirismo encontra-se no
auge da família moderna, produzindo uma nova roupagem,
relacionada às necessidades afetivas e sociais dos membros em
família, principalmente durante a fase do envelhecimento.
Comparando as fases do desenvolvimento humano com uma
pirâmide, observa-se, nos últimos anos, um considerável aumento
da população idosa, em que o cume da pirâmide tem se ampliado
e a base se estreitado (SANTOS, 2013). Nessa perspectiva,
torna-se de grande relevância refletir sobre o processo de
envelhecimento e as suas consequências, pois à medida que as
pessoas envelhecem, as atividades que eram encaradas como fácil
acesso e execução tendem a se tornar mais complexas, e podem
apresentar maiores dificuldades, impedindo a sua realização, o que
aumenta a probabilidade de necessitarem de auxílio de outras
pessoas na manutenção da rotina. Com isso, ao analisar o processo
de envelhecimento humano, observamos algumas incoerências e
contradições, seja pela disparidade de conceitos e sentidos que
envolvem essa fase do desenvolvimento, seja pelo destaque que é

77
Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

dado ao aspecto humano, relacionado ao caráter físico, social,


psicológico e até existencial.
A instituição familiar possui diversas funções psíquicas, entre
elas, podemos citar a primeira e essencial que está relacionada ao
investimento de afeto, que é fundamental à sobrevivência
emocional dos recém-nascidos (SOUZA; BAPTISTA, 2008).
Neste sentido, a transmissão de experiências pelos pais colabora
com a função de aprendizagem dos filhos, o que possibilita a
formação da identidade e o aprimoramento de determinadas
condutas que serão aperfeiçoadas ao longo das demais etapas do
desenvolvimento, favorecendo uma longevidade mais afetuosa
àqueles que tem a oportunidade de envelhecer em um ambiente
com algum membro da família. Dessa forma, durante o
envelhecimento, a família ainda é considerada a origem do apoio
informal imediato às pessoas idosas, e, muitas vezes, a sua única
alternativa.
“Todavia, o compartilhamento do mundo não é meramente
uma relação entre “sujeitos”, e sim uma teia significativa a partir
do qual cada pessoa existe, e é por meio da relação com os outros
que o homem passa a compreender o mundo e a si próprio”
(BARBOSA; MELCHIORI; NEME, 2011, p. 194). Nessa lógica,
ao estar junto com outros, as pessoas percebem que não estão
sozinhas e que, ao necessitar de algum suporte, poderão encontrar
auxílio para superar alguma limitação ou dificuldade que poderão
surgir.

78
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

Suporte familiar
Nos últimos anos, tem-se observado que o conceito de
suporte social, mais especificamente suporte familiar, tem sido
bastante utilizado no meio acadêmico, já que muitos estudos vêm
assinalando sua semelhança e até sua relação com a ampliação e
conservação de alguns aspectos psicológicos, como autoestima,
desenvolvimento de estratégias cognitivas e/ou comportamentais
para enfrentar situações adversas (coping), entre outros.
As pessoas que não possuem apoio familiar ou social têm a
probabilidade de enfrentar mais dificuldades diante das
adversidades, nesse sentido esse suporte produz efeitos positivos na
qualidade de vida daqueles que o recebem (ARAÚJO et al., 2012).
Considerando o exposto, se faz necessário problematizar acerca do
suporte familiar para explicar a relevância deste constructo,
principalmente durante a fase de envelhecimento e, com base nos
esclarecimentos, possibilitar uma reflexão a fim de incentivar a
independência e a autonomia das pessoas no processo de
envelhecimento.
“O suporte familiar pode ser considerado um dos mais
relevantes amortecedores do efeito de diversos estressores na vida
das pessoas, tornando-o fundamental nos estudos de resiliência
psicológica” (BAPTISTA, 2005, p. 11). Nesse sentido, ao refletir
sobre esse assunto durante o envelhecimento, se faz necessário
compreender como ele está, de fato, associado às respostas e
influências positivas na vida das pessoas, principalmente durante o
envelhecimento. O suporte familiar, até aqui abordado, também
pode ser considerado como um constructo multidimensional e de
complexa operacionalização, já que os estudos e a própria
literatura não apresentam uma definição padrão desse conceito.

79
Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

De acordo com Baptista (2005), o suporte familiar pode ser


composto por uma relação entre membros da família,
manifestando comportamentos de interesse, empatia,
superproteção, afetividade, carinho, entre outros. Dessa maneira,
tais atributos são considerados fundamentais nas relações entre os
membros familiares, o que pode acontecer em distintas estruturas
familiares, nas relações com seus membros. Ainda nesse sentido, o
suporte familiar se inicia desde as primeiras etapas do
desenvolvimento humano e, dessa maneira, será manifestado nas
primeiras relações afetivas entre os pais e os filhos. “Com o passar
do tempo, o suporte se expande, se originando cada vez de outros
membros da família, daí então dos colegas de trabalho e da
comunidade, e talvez, em caso de necessidade especial, de um
membro cuja profissão é de ajuda humana” (SOUZA;
BAPTISTA, 2008, p. 209). Nesse sentido, com a chegada do
envelhecimento humano, é possível perceber, em alguns costumes
culturais, que o suporte será novamente iniciado e executado na
prática, especificamente, por pessoas integrantes da família.
O suporte familiar é marcado por variáveis psicológicas que
se concretizam de maneira especial nas relações familiares e possui
um papel de grande relevância no desenvolvimento dos membros,
influenciando nos comportamentos em geral (REIS et al., 2011).
Dessa forma, este constructo, anteriormente apontado, é
considerado de grande relevância, uma vez que há entre os
membros familiares níveis significativos de afetos, assim como há
também a liberdade para a manifestação e o desenvolvimento de
comportamentos autônomos e independentes. Vale ressaltar que o
suporte familiar pode ser compreendido com base na
manifestação e execução de determinadas tarefas, entre elas,
podemos exemplificar o auxílio prático em atividades complexas,

80
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

orientações, feedback, assim como a mediação diante de conflitos ou


problemas por membros da família, ou pessoas próximas, que
possuem certo vínculo, ou que auxiliam na execução de atividades
práticas na manutenção da rotina.
“O suporte familiar se mostra um construto de difícil
operacionalização, sendo uma de suas definições como parte da
rede informal e mais próxima de relacionamentos, na qual o
indivíduo é beneficiado por meio de contato e trocas familiares”
(REIS et al., 2011, p. 53). Diante do exposto, as trocas sustentadas
pelas relações entre os membros familiares poderão auxiliar no
desenvolvimento da autoconfiança, especialmente naqueles
momentos de desenvolvimento de resiliência para enfrentar as
adversidades que podem comprometer a qualidade de vida e a
saúde.
“Mais especificamente, a percepção de suporte familiar está
relacionada à competência social, capacidade de enfrentamento
de problemas, percepção de controle, senso de estabilidade,
autoconceito, afeto e, por consequência, bem-estar psicológico”
(INOUYE et al., 2010). Nessa perspectiva, a demonstração dos
comportamentos anteriormente mencionados poderá aumentar a
qualidade de vida, contribuindo com algumas estratégias de
enfrentamento diante das dificuldades, o que permite a melhoria
das práticas habituais e favorece as relações saudáveis e positivas.
Ainda de acordo com os autores anteriormente mencionados, o
constructo do suporte familiar está relacionado ao
desenvolvimento de uma relação composta por três dimensões,
entre elas podemos citar a adaptabilidade, a comunicação e a
coesão. Nesse sentido, a dimensão relacionada à adaptabilidade se
refere à flexibilidade para se adaptar às adversidades da vida. A
dimensão relacionada à comunicação faz referência à capacidade

81
Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

de empatia, habilidades de escuta e o compartilhamento de


sensações e sentimentos entre os membros e, por fim, a dimensão
relacionada à coesão familiar, que faz referência a manifestação de
vínculos e interesses em comuns entre os membros da família.
Entre as funções do suporte familiar apontadas por Reis et al.
(2011), temos: auxiliar na construção de sentido referente às
experiências de vida, possibilitar a edificação e conservação de
uma identidade social, auxiliar de maneira física e emocional,
transmitindo e recebendo informações de maneira material e
emocional. Dessa maneira, o suporte familiar contribui de forma
expressiva para a sustentação da integridade física e psíquica
daqueles que o recebem e, nesse sentido, possibilita resultados de
grande relevância, tanto para aqueles que dão quanto para
aqueles que recebem. Por essas razões, é necessário analisar e
compreender o contexto e as particularidades dos cuidados que
devem ser tomados com aquelas pessoas que estão alcançando a
longevidade, a fim de aumentar o bem-estar e a qualidade de vida
durante o envelhecimento.
De acordo com Aquino, Batista e Souza (2011), o efeito do
suporte pode ser entendido de duas maneiras, a primeira como
efeito direto, que contribui para os níveis de saúde, e a segunda
como efeito amortecedor, que protege as pessoas de situações
estressantes. Com base nessa análise, as pessoas que possuem
relações de suporte e apoio frequentemente alcançam melhores
condições de saúde e qualidade de vida durante o envelhecimento.
O suporte familiar é um constructo de grande relevância e
contribui de maneira significativa para a sustentação e
ajustamento nas esferas física e psicológica das pessoas. Aquino,
Batista e Souza (2011) consideram que seu resultado é apresentado

82
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

na pessoa da família que recebe, uma vez que se sente acolhido,


compreendido, amado e reconhecido, esse circuito de trocas e
compartilhamentos contribui para o bem-estar físico e psicológico.
Nas diversas situações do dia a dia, a manifestação de
sentimentos e investimento afetivo na convivência entre idosos e
membros da família tem tornado as relações mais agradáveis,
promovendo o aumento da qualidade de vida e bem-estar (LEITE
et al., 2008). Vale ressaltar que existem também aqueles casos em
que as dificuldades apresentadas, por causa de alguns
desentendimentos rotineiros, podem gerar desgastes nos
relacionamentos entre familiares e idosos, principalmente nos
casos em que as pessoas alcançam a longevidade e encontram-se
em uma relação de dependência. Ressaltamos ainda que, durante
a terceira idade, os idosos carecem de um suporte familiar
adequado, pois as relações estabelecidas nessa fase da vida tendem
a proporcionar implicações positivas, entre elas destacamos a
sensação de pertencimento, o cuidado e a própria contribuição
para o desenvolvimento da autoestima.
Analisando as relações familiares, e os papéis desenvolvidos
por alguns membros durante o período do envelhecimento, é
preciso compreender a dinâmica das relações, principalmente
durante a longevidade, de maneira que permita aos familiares e
aos membros envelhecidos estabelecer e manter relações em que
sejam resguardadas as individualidades de cada um.
“O conhecimento das condições de apoio familiar, ambiente
físico e psíquico de vida do idoso é importante para o
desenvolvimento de mecanismos de assistência domiciliária à
saúde do idoso, e impõe-se como indispensável em todos os níveis
sociais” (REIS et al., 2011, p. 2). Conforme apontado por estes

83
Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

estudiosos, é necessário o desenvolvimento de planos assistenciais


para dar apoio tanto aos idosos quanto aos seus familiares, de
maneira que se possa auxiliá-los no desenvolvimento de estratégias
de enfrentamento adequadas, contribuindo com o aumento da
qualidade de vida e a manutenção da capacidade funcional.
No ambiente familiar diversos são os sentimentos
manifestados na convivência entre os idosos e os membros da
família. O compartilhamento de afetos, a compreensão, o auxílio
mútuo e o acolhimento são elementos fundamentais na relação
entre os membros da família e os idosos. Dessa maneira, o
convívio se torna afetuoso e agradável, constatando uma relação
de harmonia que contribui para a superação das dificuldades que
se fazem presentes no dia a dia deles. Com isso, quanto mais as
pessoas alcançam a longevidade, mas se justifica a relevância de
refletir sobre o suporte familiar que poderá ser ofertado, pois com
a chegada do envelhecimento as pessoas possuem a tendência de
apresentar maior fragilidade e necessitam de auxílio nas mais
diversas áreas que podem surgir na sua rotina de vida.
Independente dessas dificuldades, nota-se que o suporte familiar
tem representado a rede de apoio mais significativa.
As pesquisas têm apontado a privação de suporte familiar
como influenciadora nas defesas orgânicas das pessoas,
aumentando a probabilidade de desencadear algum quadro
patológico (LEITE et al., 2008). Nessa perspectiva, é possível
considerar que os papéis sociais têm contribuindo e influenciado a
saúde das pessoas, auxiliando na manutenção da qualidade de
vida e favorecendo o bem-estar e a saúde. Levando em
consideração esses aspectos, podemos enfatizar a relevância do
suporte familiar, pois nenhuma pessoa consegue viver isolada, e
esse apoio deve ser mantido pelas pessoas com as quais o idoso

84
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

convive no próprio ambiente ou com as que possui algum tipo de


vínculo.
O suporte familiar adequado resulta em efeitos emocionais
positivos e em sensações de pertencimento, cuidado e estima,
sendo considerados de grande relevância e servindo de auxílio,
principalmente durante os momentos de fragilidades das pessoas
(INOUYE et al., 2010). Dessa maneira, durante o enfrentamento
de situações adversas, aqueles que possuem um suporte adequado
terão muito mais probabilidade para adaptar-se às mudanças e
para superar as adversidades ao longo da vida. Ressaltamos,
ainda, que a atitude proativa tem sido considerada um elemento
de grande valor na adaptação e no enfrentamento de situações
complexas, especialmente durante a longevidade, para a
manutenção e o desenvolvimento do bem-estar.

Longevidade
Recentemente o IBGE (2015) divulgou o quadro de Mudança
Demográfica no Brasil no Início do Século XXI, com subsídios
para as projeções da população em cada distrito demográfico, e
esses dados nos mostram que houve um ganho na expectativa de
vida do brasileiro num período de dez anos, entre 2000 e
2010Recentemente o IBGE (2015) divulgou o quadro de
Mudança Demográfica no Brasil no Início do Século XXI com
subsídios para as projeções da população cada distrito , e esses
dados nos mostram que houve um ganho na expectativa de vida
do brasileiro num período de anos, entre 2000 e 2010.
Para entender melhor, vamos escolher a cidade do país que
mais se destacou, em Santa Catarina, onde a expectativa de vida
saltou de 72,1 anos, em 2000, para 76,9 anos, considerando

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Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

ambos os sexos. Nessa cidade, a projeção é de que, nos próximos


15 anos, a expectativa de vida, ao nascer, chegue à marca dos 82,3
anos. Porém, se pegarmos a pior capital brasileira do estudo, em
Alagoas, também observaremos um aumento significativo, tanto
nos dados de 2000 (64,3 anos) e 2010 (69,2 anos), como na
projeção para 2030 (75,7 anos).
Esse cenário mostra que o Brasil vem, progressivamente,
passando por transformações na sua estrutura demográfica, em
que as taxas de fecundidade e mortalidade vêm se alterando e
registrando um novo paradigma nas últimas décadas,
constatando-se um aumento da expectativa de vida e,
consequente, da longevidade dos indivíduos. Essa nova percepção
do perfil populacional torna necessário afirmar que não são anos a
mais de velhice, mas sim, anos a mais de vida. Assim, o país
precisa se adequar a essa realidade, pois, de acordo com
Alexandre Kalache, com respeito a essa população idosa, o país
ainda não está pensando como deveria (KLEBÍS, 2015). No ano
de 2007, Kalache refletiu sobre o processo de envelhecimento de
países em desenvolvimento, em comparação com os desenvolvidos.
O fato é que o discurso em torno da longevidade vem
ganhando espaço, principalmente nas últimas décadas em que as
pesquisas de cunho interdisciplinar em torno do envelhecimento
ganharam força, seja no aspecto econômico, político ou de saúde
etc., evidenciando um cenário que associa a longevidade com os
vários aspectos sociais.
Assim, algumas razões são apontadas para o aumento da
longevidade da população, como a diminuição das taxas de
mortalidade, declínio de fecundidade, avanço técnico-científico e
melhorias na qualidade de vida (FELIX, 2014). Porém, à medida

86
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

que a população envelhece, surge também maior risco de


exposição às patologias crônico-degenerativas, que contribuem
para a perda de autonomia e independência do idoso, e, com isso,
a qualidade de vida tende a cair consideravelmente em virtude da
dependência funcional.
Assim, envelhecer não deve estar associado à perda de
qualidade de vida ou da capacidade funcional. As novas
configurações de longevidade devem ser encaradas como a
possibilidade de viver mais e melhor, e o objetivo de controlar a
morte prematura, com o desenvolvimento e a distribuição de
vacinas, melhoria do saneamento básico, com nutrição saudável,
promovendo boas medidas sanitárias de controle de doenças etc.,
pois, para Yazbek (2003), quanto mais se aumenta as
desigualdades sociais, somadas ao despreparo em lidar com a
longevidade, mais o envelhecimento será encarado como uma
possibilidade de agravo à saúde.
Portanto, se por um lado é primordial o investimento em
ações direcionadas à promoção do envelhecimento ativo, com a
efetiva participação da população idosa, pois nesse processo pode
ser considerado o binômio longevidade-qualidade de vida como o
aspecto de grande relevância para um envelhecimento ativo. Por
outro lado, se não houver um planejamento voltado para a
longevidade, esta pode significar não apenas viver mais, mas
também a possibilidade de potencializar algumas patologias
crônicas, como câncer, diabetes ou Alzheimer.
Nesse contexto, podemos entender que não se trata apenas de
pensar a longevidade como um envelhecimento sem doenças,
numa visão puramente biológica, mas também, considerá-la com
base num contexto social, ou mais adiante, numa visão holística,

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Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

que envolva aspectos biopsicossociais. A esse respeito, Quaresma


(2005) mostra que o envelhecimento é um processo multifatorial,
associado às questões sociais, culturais, econômicas e individuais,
que mantém uma sintonia entre o sujeito e a sociedade em que
vive. Ainda para a autora, o envelhecimento é um período muito
desafiador, tanto para o indivíduo, como para a sociedade, e isso é
reflexo de um acontecimento rápido, recente e complexo, pois, ao
passo que envelhecemos, ganhamos a oportunidade de viver mais,
bem como da possibilidade de novas experiências e convivências.
Nesse sentido, pensar na dimensão biológica é entender que o
envelhecimento oferece a possibilidade de vivenciarmos alterações
que são inevitáveis, como diminuição de taxas metabólicas, que
acarreta em decréscimo de agilidade, perda de peso, alterações na
pele, cabelos e órgãos dos sentidos. Portanto, a longevidade, do
ponto de vista biológico, pode ser dividida em dois fatores: o
intrínseco, que está relacionado aos aspectos pessoais de
envelhecimento, como composição genética; e extrínsecos, que
condizem com os fatores ambientais, ou seja, no modo como o
indivíduo sobrevive no ambiente (BRINK; WILKING, 2001).
Já para Mercadante (2005), o envelhecimento não deve
fixar-se apenas em contexto biológico, pois, se assim o fosse, não
revelaria a existência do papel social formador do indivíduo. É
necessário levar em consideração o aspecto social e a gama de
relações que se estabelecem a partir da história, pois essa relação
será primordial, tanto no processo de envelhecer como para
manter a saúde psíquica do indivíduo (GATTO, 2005). Teixeira
(2002) chama a atenção de que é a partir de uma visão coletiva,
por meio dos grupos ao qual o indivíduo se constitui socialmente,
que se pode explicar e entender os fenômenos do homem, sem
deixar de lado a perspectiva da individualidade.

88
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

O fato é que, no Brasil, a longevidade na população acontece


de modo rápido, o que exigirá melhores formas de adequação
dessa nova faixa etária em condições de vida que permita o
alcance de um envelhecimento saudável, em todas as suas
dimensões. Assim, Minayo e Coimbra Júnior (2002) chamam
atenção para o fato de que as pessoas, ao envelhecer, estão
envolvidas por um contexto sociocultural que afeta, diretamente, a
sua realidade e o modo como vivem, bem como ao fato de que o
acirramento de desigualdades sociais pode interferir tanto sobre a
sociedade como no indivíduo e no processo de envelhecimento.
Da mesma forma, é importante ressaltar que a longevidade
deve significar para toda a população o desejo de viver de forma
satisfatória e com saúde, bem como de completar uma etapa sem
sofrimentos, com preservação da capacidade física e intelectual,
assim como de ter a certeza de que, chegando ao envelhecimento,
poderá participar de forma ativa no meio social, sendo amparado
por políticas públicas que garantam seus direitos como cidadãos.

Relação da longevidade com o suporte familiar


Conforme discutido anteriormente, com o advento da
longevidade na população mundial e, mais especificamente, na
brasileira, viver mais se tornou uma realidade. Com isso,
envelhecer significa que um processo multidimensional ocorrerá,
envolvendo aspectos sociais, biológicos e psicológicos. Nesse
sentido, Bosi (2007) afirma que o envelhecimento é um processo
da vida humana que está apoiada em bases pessoais, pois essa é
uma fase inevitável e natural do ser humano. Ainda para a autora,
cada sociedade atribui um valor e um significado a esse processo,
baseado na cultura à qual o indivíduo está inserido. Assim, em

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Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

países do Ocidente, frequentemente envelhecer significa ter a


certeza de que uma fase muito difícil se aproxima, com tristeza,
solidão e dependência.
No entanto, independente da cultura ou do lugar onde se vive
e com a necessidade de novas modificações e tendências que o
processo ligado à longevidade traz, o envelhecimento está apoiado
por um conjunto de fatores e, principalmente, pelo suporte
familiar, que ocupa uma importante função, fundamental para o
amparo psicossocial ao indivíduo idoso. Dessa forma, o conceito
de família, de acordo com Brasil (2004), está relacionado à uma
gama de fatores, que vai desde os laços sanguíneos, passando por
obrigações recíprocas, e somado ao fato de que o grupo familiar é
formado por pessoas que devem ter uma relação mútua de
respeito, afinidade e aliança.
Já para Angelo e Bousso (2001), a família pode ser entendida
como um conjunto de pessoas que podem ou não morar juntos,
para as quais são transmitidos uma gama de valores, crenças e
práticas que interferem diretamente no comportamento e na
situação de saúde de toda a família. Assim, o modo como a família
encara o processo de envelhecimento vai influenciar na maneira
como o idoso é percebido por ela, bem como no jeito como o
idoso é tratado. A esse respeito, Genofre (2002) salienta que o
cuidado dispensado aos idosos é função prioritariamente da
família que ele se insere e, portanto, é importante que exista uma
reflexão acerca de como está sendo a inserção da família no
cuidado prestado ao idoso. E Flores et al. (2010, p. 472) entende
que “ o cuidado intergeracional com o idoso pode ser uma
experiência prazerosa, ou não, dependendo das relações entre as
pessoas, nas quais os significados atribuídos ao idoso e ao cuidado
influenciam as atitudes de todas as gerações”.

90
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

É importante que toda a família seja integrada no processo de


envelhecimento, pois o ganho pode ser alcançado para a
promoção da saúde da família como um todo. Embora ela possa
ser considerada como um suporte, a família muitas vezes se vê
diante de problemas e dificuldades que são inerentes ao ser idoso,
como a depressão, a falta de trabalho, o sentimento de
incapacidade etc. Assim, faz-se necessário que o grupo familiar
entenda bem o contexto da longevidade e seja amparada por leis
que assegurem esta etapa pois, conforme asseguram Wright e
Leahey (2002), é importante que se mantenha no seio familiar o
próprio conceito de família, que está vinculada pela união, laços
emocionais e a certeza de que as pessoas desse grupo participam
da vida uns dos outros.
Vale ressaltar que as relações sociais, e nesse contexto se
insere a família, exercem uma influência fundamental para a
promoção e manutenção da saúde do idoso, seja no âmbito físico
ou emocional. Assim, a família deve ser compreendida como um
sistema que pode acolher o idoso em sua totalidade. De acordo
com Aguiar (2007, p.19) “diante do entendimento de família como
sistema, percebe-se que cada um de seus membros possui suas
características singulares que, interagindo, forma um todo, que é
diferente e maior do que a mera soma de seus membros”. Assim, a
família constituída como grupo social faz parte de um eixo
complexo, mas também fundamental para a vivência de qualquer
indivíduo.
Ademais, diante do quadro de envelhecimento pelo qual
passa o Brasil, a família foi posta em evidência para identificar as
suas necessidades, dando destaque para o idoso em seu domicílio.
No setor saúde, a realidade está ancorada na problemática da
longevidade, uma vez que, com essa vicissitude, passam a emergir

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Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

maiores problemas sociais relacionados ao envelhecimento e, por


isso, ao mesmo tempo em que se torna primordial a emergência
de políticas públicas destinadas a esta crescente população,
também é imprescindível pôr em questão estratégias que
subsidiem o suporte às famílias.
Juntamente com essa discussão acerca do suporte familiar, há
também a necessidade de um maior entendimento desse termo tão
utilizado no mundo hodierno. Assim, Baptista e Oliveira (2004)
compreendem o suporte familiar como a habilidade que a família
possui de dispensar a seus componentes cuidado, atenção,
empatia, afeto, carinho, entre outros. Corrobora, a esse respeito,
Campos (2004) quando diz que o suporte familiar deve estar
vinculado a sentimentos de valorização, amor, reconhecimento,
proteção, e que esse conjunto de fatores contribui para o
bem-estar psicológico dos indivíduos do grupo. Nesse sentido,
pensar na longevidade e não associá-la ao suporte familiar é quase
um paradoxo, pois a família pode e deve ser pensada como um
forte influente, que ajuda a minimizar os riscos que o processo de
envelhecimento traz para o indivíduo e para o grupo social no
qual está inserido.
Nesse sentido, o processo de envelhecimento revela que se
deve lançar um olhar sobre a família do idoso, pois se trata de
uma etapa que envolve uma visão multidimensional. Assim, a
família é o eixo norteador que assume grande parte da
responsabilidade na assistência à saúde, tanto do idoso como dos
outros membros. Destarte, com o cenário da longevidade como
uma realidade efetiva, a família se torna um dos pilares essenciais
na atenção à saúde e ao cuidado ao idoso, por isso é fundamental
reconhecer a sua importância e perceber que os elos que ligam as
pessoas de uma família interferem, substancialmente, sobre o

92
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

processo de envelhecer e, mais importante ainda, quando o


indivíduo senil se torna dependente. A esse respeito, Ramos (2007)
salienta que, com a ausência de suporte da família ao idoso, este
passa a ter mais dificuldades para enfrentar e lidar com o processo
de envelhecer e os fatores relacionados a essa etapa.
Já nos casos em que não há família, ou que esta não assume o
idoso, este fica à mercê de alguma instituição de longa
permanência, outras vezes quem assume o papel de ente da
família é um amigo, vizinho ou cuidador. Esse quadro não é difícil
de ser encontrado pelo Brasil afora, e tende a se agravar com a
longevidade extrema, quando, no decurso da vida, as perdas
familiares já se configuraram como realidade e o idoso se vê
sozinho. Para Camargos, Machado e Rodrigues (2007), uma
forma de amenizar essa situação é a ajuda do suporte social, que
de acordo com Siqueira (2008, p. 381) “é apontado por estudiosos
de diversas áreas do conhecimento como um fator capaz de
proteger e promover a saúde”. Ainda para Camargos, Machado e
Rodrigues (2007), há uma necessidade emergente de políticas
públicas eficazes, voltadas para essa demanda que surge e que
precisa ser priorizada, bem como para as classes menos
favorecidas, em que a realidade se configura de modo mais voraz.

Considerações finais
Buscou-se realizar uma discussão sobre família, suporte
familiar, longevidade, e a relação entre longevidade e o suporte
familiar, pois acreditamos que, com base na exposição realizada ao
longo do presente capítulo e de posteriores estudos, pode-se traçar
melhores intervenções para os idosos, bem como para suas
famílias. Nessa sequência, alguns aspectos merecem ser lembrados:

93
Jamília B. Gomes, Renato N. Chaves, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

não existe uma definição de família aceita de maneira consensual


pelos pesquisadores da área, mas existem maneiras para
compreender as peculiaridades que envolvem a temática. Nesse
sentido, o conceito de família pode ser compreendido como uma
rede de apoio que sustenta vínculos e afinidades necessárias à
sobrevivência e, apesar de o suporte familiar ser um constructo de
difícil operacionalização, ressaltamos que, na prática, ele possui
efeitos essenciais na vida daqueles que recebem esse apoio, pois
aumenta a qualidade de vida, produz uma sensação de cuidado e
pertencimento, o que contribui para a manutenção e o
desenvolvimento do bem-estar, auxiliando na existência e elevação
da autoestima, principalmente durante o envelhecimento.
Para finalizar, algumas considerações merecem destaque, a
saber, os estudos sobre o processo de envelhecimento, somados às
contribuições do suporte familiar nessa etapa da vida, têm
contribuído para chamar a atenção da sociedade para os
problemas enfrentados pelos idosos e por suas famílias. Além disso,
fica evidenciado que as mudanças promovidas pelo
envelhecimento se desenvolvem de diferentes modos e ritmos nos
indivíduos. Ademais, os estudos desse processo colocam em
evidência uma discussão que pode levar o leitor a ter uma visão
clara do verdadeiro significado da velhice e do apoio familiar.
É fundamental, também, considerar a importância dessas
discussões para ratificar o valor das políticas públicas voltadas para
o idoso na promoção e proteção dele, pois o Brasil é um país que
já possui um grande número de pessoas idosas e se faz urgente que
a sociedade reveja os seus conceitos em relação ao idoso. Ela
precisa ter consciência de que o idoso pode participar
efetivamente do meio social que o cerca, tendo sempre o apoio e o
suporte familiar.

94
Suporte familiar e longevidade: uma reflexão acerca das relações familiares

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100
CAPÍTULO 5

SUPORTE SOCIAL E LONGEVIDADE:


REFLEXÕES ACERCA DAS DEFINIÇÕES,
TIPOS, REDES DE APOIO E IMPLICAÇÕES

Luana Araújo dos Reis


Elaine dos Santos Santana
Alessandra Souza de Oliveira
Luciana Araújo dos Reis

Introdução

A velhice é caracterizada por uma fase de várias perdas, porém


essas perdas podem ser compensadas por um ambiente favorável,
por oportunidades de convívio social, pela tecnologia e pelos
esforços dos indivíduos (AMARAL et al., 2013). Por causa das
perdas de pessoas de seu convívio, o idoso tende a ter uma
redução nas relações sociais, no entanto cabe a ele evitar ou
retardar seu afastamento social por intermédio de atividades
socioculturais e educacionais.
O declínio biológico normal no processo de envelhecimento e
o aparecimento progressivo de doenças e dificuldades funcionais
com o avançar da idade sustentam, de modo geral, uma
concepção de velhice como período de decadência e
improdutividade. Assim, como as alterações na saúde contribuem
de modo considerável para o estreitamento da inserção social dos

101
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

idosos, as perdas sensoriais (déficits visuais e auditivos), os


problemas ósteo-articulares, os déficits cognitivos, entre outros, são
fatores que interferem na autonomia e independência dos que
envelhecem, prejudicando a sua sociabilidade.
O apoio social pode ser definido como qualquer informação ou
auxílio material oferecido por pessoas ou grupo(s) que se conhecem
e que conferem, como resultado dessa interação, efeitos emocionais
ou comportamentos positivos (AREOSA; BULLA, 2010). Pode ser
classificado, de acordo com a sua função, em emocional, de
informação ou material (ou instrumental) (VALLA, 2000).
A interação social vivenciada na terceira idade colabora para o
exercício de sua cidadania e também para que o indivíduo se sinta
valorizado e inserido no meio social. Além disso, o idoso passa a ter
a sensação de pertencimento a um grupo social, para o qual pode
contribuir de maneira significativa, utilizando-se de sua experiência
e conhecimentos. No entanto, deve-se ter claro que a interação
social não ocorre somente em espaços públicos, mas em qualquer
ambiente, seja familiar, igreja, enfim, em todo local em que há
respeito e valorização da pessoa idosa (PINTO et al., 2006).
As redes de apoio social também são muito importantes e
necessárias para a manutenção da saúde emocional ao longo de
todo o ciclo de vida. Entretanto, em seu decorrer, vão sofrendo
transformações na sua estrutura, de acordo com as necessidades de
cada indivíduo. Algumas das mais importantes funções dessas redes
de apoio social, para o envelhecimento, são: criar novos contatos
sociais; fornecer e receber apoio emocional; obter garantia de que
são respeitados e valorizados; manter sentimento de pertencimento
a uma rede de relações comuns; e fornecer suporte para aqueles
idosos que sofreram perdas físicas e sociais (NERI, 2008).

102
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

Há ligação entre contato social, apoio e longevidade para o


idoso. Os idosos que mantêm maior contato com amigos e
familiares provavelmente vivam por mais tempo do que aqueles
que se abstêm desses relacionamentos. É importante que a família
proporcione ao idoso alternativas de interação social, ampliando
os contatos sociais, pois estes promovem a sensação de conexão e
bem-estar, o que auxilia na adaptação à fase de envelhecimento.
“Se, por um lado, os vínculos familiares são sentidos como
importantes mantenedores de segurança emocional, por outro,
relações fraternas, sem grau de parentesco, reforçam a interação
social” (TORRES et al., 2012).
Constata-se, assim, que cabe à rede social as relações de dar e
receber apoio nos aspectos afetivo-emocional, material e de
informações, sendo a quantidade de relacionamentos menos
importante que o apoio recebido, o que faz do suporte social um
recurso sociopsicológico para enfrentar os acontecimentos ao
longo da vida (FIORI; SMITH; ANTONUCCI, 2007).
Sumarizando, as funções das redes de suporte social para os
idosos são, conforme Neri (2008): dar e receber apoio emocional,
material e em informações; auxiliar na manutenção da identidade
social; encontrar e estabelecer novos contatos sociais; acreditar que
são cuidados e amados; encontrar sentido nas novas experiências;
avaliar as próprias realizações e habilidades; manter a autoestima,
a autoimagem e aprender sobre si mesmo.

Definições de suporte social


Em alguns estudos epidemiológicos (DEL DUCA; THUMÉ;
HALLAL, 2011; DOMINGUES et al., 2012), o suporte social foi
definido como um número de contatos sociais mantidos por uma

103
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

pessoa e que são extensivos à rede social de trabalho. Assim,


também Cobb (1976) definiu suporte social como pertencente a
uma rede de trabalho social de comunicação e obrigação mútua.
Nessa rede são consideradas as pessoas em quem realmente se
pode confiar, que se preocupam e que amam. Domingues (2004)
define suporte social como qualquer input recebido de um
indivíduo ou grupo, o que faz com que o receptor desse input siga
em direção do seu desejo. Esta definição inclui não só todo o tipo
de suporte informal, mas também alguns tipos de suporte formal,
como os benefícios sociais e comerciais, assim como os
tratamentos recebidos por médicos ou psicoterapeutas.
Lin (1986) define o suporte social como o apoio acessível a
um indivíduo, por meio dos elos sociais com outros indivíduos,
grupos e com o conjunto da comunidade. A definição anterior
poderá ser completada por House (1998), que refere tratar-se de
uma transação interpessoal, que inclui um ou vários dos elementos
seguintes: solicitude de ordem emocional, como a amizade, o
amor e a empatia, ajuda concreta de bens e serviços, informação
sobre o ambiente e avaliação da informação pertinente por
autoavaliação. Esta definição, assemelha-se à de Domingues
(2004), que diz que o apoio social é o conjunto das relações
interpessoais do indivíduo que procura um vínculo afetivo, como a
simpatia, a amizade e o amor, uma ajuda prática instrumental ou
financeira, mas também informações e avaliações relativas à
situação que o ameaça.
Segundo Bowling (1997), suporte social pode ser definido
como um processo interativo no qual ajudas de ordem emocional,
instrumental ou financeira são obtidas de redes sociais. Na visão
de Guedea et al. (2006), existe diferentes tipos de apoio que
alguém pode receber da rede social, sendo três os mais

104
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

amplamente estudados: suporte emocional, suporte instrumental e


suporte informacional. Suporte emocional refere-se ao que as
pessoas fazem ou dizem a alguém (dar conselhos, ouvir seus
problemas, mostrar-se empático e confiável) e é percebido como
expressão de carinho, cuidados e preocupação do outro. Suporte
instrumental compreende as ajudas tangíveis ou práticas que
outros (pessoas ou instituições) podem prover a alguém (cuidados
com crianças, provisões de transporte, empréstimos de dinheiro ou
ajudas com tarefas diárias). Suporte informacional inclui receber
de outras pessoas noções indispensáveis para que o indivíduo
possa guiar e orientar suas ações ao dar solução a um problema ou
no momento de tomar uma decisão.
Suporte social define-se, grosso modo, como “a existência ou
disponibilidade de pessoas em quem se pode confiar, pessoas que
nos mostram que se preocupam conosco, nos valorizam e gostam
de nós” (SARASON et al., 1983). Cobb (1976), num texto clássico,
define suporte social como informação pertencente a uma de três
classes: informação que conduz o sujeito a acreditar que ele é
amado e que as pessoas se preocupam com ele; informação que
leva o indivíduo a acreditar que é apreciado e que tem valor;
informação que conduza o sujeito a acreditar que pertence a uma
rede de comunicação e de obrigações mútuas. Dunst e Trivette
(1990) defendem que o suporte social se refere aos recursos ao
dispor dos indivíduos e unidades sociais (como a família) em
resposta aos pedidos de ajuda e assistência.
Para Campos (2010), suporte social é uma forma de
relacionamento interpessoal, grupal ou comunitário, que permite
ao sujeito sentir-se protegido, permitindo que o estresse seja
diminuído, o que proporciona o bem-estar psicológico.

105
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

A perspectiva de que o suporte social é multidimensional é


relativamente consensual na literatura, assim, sobressaem também
os aspectos diferentes desse suporte, que têm um impacto distinto
nos indivíduos ou grupos. O suporte social como um constructo
multidimensional integra vários aspectos estruturais, como a rede
social e o apoio recebido e percebido (PEREIRA; CARVALHO,
2012). O suporte social recebido diz respeito ao suporte que foi
objetivamente recebido por alguém, correspondendo ao suporte
social percebido pelo apoio que o indivíduo tem disponível, caso
precisar dele. Sarason et al. (1983) salientam que, apesar de na
literatura se identificarem várias facetas do suporte social, os
resultados dos estudos empíricos não apontam para diferenças
relevantes, captando-se antes que a percepção de disponibilidade
de apoio e a satisfação com o mesmo são os componentes
principais. Essa perspectiva está subjacente à construção do
instrumento desenvolvido por Sarason et al. (1983) para avaliar o
suporte social, o qual é utilizado no presente trabalho na sua
versão reduzida.
Segundo Resende (2010), o apoio social diz respeito a um
sistema de relações formais e informais por meio do qual os
sujeitos recebem ajuda emocional, material ou de informação para
enfrentarem as situações geradoras de tensão emocional.
Couto et al. (2010) caracteriza a presença de rede quando o
indivíduo mantém contatos com outros indivíduos que possam ser
determinados em número, frequência, composição familiar,
atividades sociais, voluntárias e, além disso, em qualidade dos
vínculos estabelecidos. A rede afetiva e social está intrinsecamente
ligada à habilidade individual de “lidar com as demandas e os
problemas da vida diária”, cujo aspecto mais importante é
requerer “adaptações contínuas”.

106
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

Com isso, evidencia-se a relação da rede afetiva e social com


o desenvolvimento do indivíduo, já que as transformações em seu
ambiente e as habilidades que sua rede lhe ensina não permitem
que seu repertório seja sempre constante. O desenvolvimento
pessoal diz respeito à efetividade dos meios pelos quais a
aprendizagem ocorre e à aquisição no repertório individual de
padrões de conduta.

Tipos de suporte social


Singer e Lord (1984) esclarecem que o suporte social pode ser
informacional, emocional ou material e, em termos de quem o
fornece, pode ser pessoal ou interpessoal, fornecido por amigos,
familiares, conhecidos: pode ser relativamente formal, fornecido
por organizações e associações, como grupos religiosos, ou
organizações não governamentais de base comunitária; bem como
pode ser do tipo profissional, em termos de consulta ou terapia.
No âmbito específico da saúde e das doenças, Kessler, Price e
Wortman (1985) explicam que suporte social se refere aos
m e c a n i s m o s p e l o s q u a i s a s r e l a ç õ e s i n t e r p e s s o a i s,
presumivelmente, protegem os indivíduos dos efeitos deletérios do
stress. Essa variável é muito abrangente, pois engloba um grande
conjunto de componentes e de aspectos, recorrendo a
procedimentos de avaliação muito diversos.
Dunst e Trivette (1990) distinguem duas fontes de suporte
social: informal e formal. As primeiras incluem, simultaneamente,
os indivíduos (familiares, amigos, vizinhos, padre etc.) e os grupos
sociais (Clubes, Igreja etc.), que são passíveis de fornecer apoio nas
atividades do dia a dia, em resposta a acontecimentos de vida
normativos e não normativos. As redes de suporte social formal

107
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

abrangem tanto as organizações sociais formais (hospitais,


programas governamentais, serviços de saúde) como os profissionais
(médicos, assistentes sociais, psicólogos etc.) que estão organizados
para fornecer assistência ou ajuda às pessoas necessitadas.
As relações sociais formais e as informais são as duas
dimensões que compõem a estrutura das relações sociais. A
estrutura é formada pelos indivíduos com quem se tem uma
relação interpessoal e pelas ligações entre esses indivíduos. As
relações formais são relações mantidas por causa da posição e dos
papéis assumidos na sociedade.
Já as relações sociais informais, também denominadas redes
sociais, são compostas por todos os indivíduos (família, amigos,
vizinhos, colegas de trabalho, comunidade etc.) e ligações entre
indivíduos com quem se tem uma relação familiar próxima ou
com envolvimento afetivo. A estrutura das relações sociais pode
ser caracterizada sob diferentes aspectos, como número e tipo de
relações, frequência de contatos, duração dos contatos,
diversidade, densidade e reciprocidade.
Os autores acima citados sugerem a existência de cinco
componentes de suporte social interligados. Os componentes
identificados são: componente constitucional (inclui as
necessidades e a congruência entre estas e o suporte existente),
componente relacional (estatuto familiar, estatuto profissional,
tamanho da rede social, participação em organizações sociais),
componente funcional (suporte disponível, tipo de suporte, como
emocional, informacional, instrumental, material, qualidade de
suporte, como o desejo de apoiar, e a quantidade de suporte),
componente estrutural (proximidade física, frequência de contatos,

108
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

proximidade psicológica, nível da relação, reciprocidade e


consistência) e componente satisfação (utilidade e ajuda fornecida).
Weiss (1974) propunha seis dimensões do suporte social:
intimidade, integração social, suporte afetivo, mérito, aliança e
orientação. Dunst e Trivette (1990) apresentam as seguintes
dimensões de suporte social, que consideram ter se mostrado
importantes para o bem-estar:
1. Tamanho da rede social, abrangendo o número de pessoas
da rede de suporte social;
2. Existência de relações sociais, abrangendo desde as relações
particulares, como o casamento, até as gerais, como as que
decorrem do pertencimento a grupos sociais, como clubes;
3. Frequência de contatos, para designar quantas vezes o
indivíduo se relaciona com os membros da rede social, tanto
em grupo como face a face;
4. Necessidade de suporte, para designar a necessidade de
suporte expressa pelo indivíduo;
5. Tipo e quantidade de suporte, para designar o tipo e
quantidade de suporte disponibilizado pelas pessoas que
compõem as redes sociais existentes;
6. Congruência, para referir a extensão em que o suporte social
disponível emparelha com a que o indivíduo necessita;
7. Utilização, para referir a extensão em que o indivíduo
recorre às redes sociais quando necessita;
8. Dependência, para exprimir a extensão em que o indivíduo
pode confiar nas redes de suporte social quando necessita;
9. Reciprocidade, para exprimir o equilíbrio entre o suporte
social recebido e o fornecido;

109
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

10. Proximidade, que exprime a extensão da proximidade


sentida para com os membros que disponibilizam suporte
social;
11. Satisfação, que exprime a utilidade e o nível de ajuda
percebido pelo indivíduo perante o suporte social.

Serra (1999) identifica, com base em vários autores, seis tipos


de suporte social: apoio afetivo – contribui para que o indivíduo se
sinta estimado e aceito, independentemente dos seus defeitos, e
aumenta a sua autoestima; apoio emocional – remete para os
sentimentos de apoio e segurança recebidos, que ajudam a pessoa
a ultrapassar os problemas; apoio perceptivo – pretende-se ajudar a
pessoa a reavaliar o seu problema e a dar-lhe outro significado;
apoio informativo – refere-se a informações e aos conselhos que
auxiliam o sujeito na compreensão de situações complexas e que o
ajudam a tomar decisões; apoio instrumental – diz respeito ao auxílio
objetivo que a pessoa recebe (ajuda material ou de serviços) e que
contribui para a resolução do problema; apoio de convívio social –
remete ao convívio por meio de atividades de lazer e culturais que
ajudam a aliviar tensões, fazendo com que a pessoa participe de
determinada rede social e se sinta integrada.
Resende (2010) enfatiza que três desses tipos de suporte tem
maior destaque e são os mais estudados. São eles: o suporte
emocional, o suporte instrumental e o suporte informacional. Para
o autor, o primeiro tem relação com o que as pessoas dizem umas
às outras em aconselhamentos ou ao ouvir os seus problemas e são
notadas como preocupação, carinho e cuidado. O segundo
caracteriza-se pela ajuda prática que pessoas ou, até mesmo,
instituições oferecem em ações, como cuidar de crianças, tarefas

110
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

domésticas, transporte ou dinheiro. O último suporte é


compreendido, por ele, como indicações e informes indispensáveis
que são transferidos aos sujeitos para solucionar problemas e
auxiliar na tomada de decisões.

Redes de apoio social


É importante diferenciar rede social de apoio social; as redes
sociais são definidas como “teias” de relações sociais que
circundam o indivíduo (por exemplo, disponibilidade e frequência
de contato com amigos e parentes), ou como os grupos de pessoas
com quem há contato ou alguma forma de participação social (por
exemplo, grupos religiosos, associações sindicais). Dessa forma, a
função das redes sociais são as interações interpessoais que
ocorrem dentro da estrutura dessas redes.
Em sua pesquisa Bertoldo (2012) remete-se a alguns autores
que afirmaram ser comum a equiparação dos termos relações
sociais com suporte social, por causa das relações sociais
originarem-se com base nas interações com outros indivíduos. No
entanto, esses autores ressaltam a diferença entre os termos, pois o
conceito de relações sociais é mais amplo e nem toda interação
social assegura o apoio.
É o que ratifica Campos (2010) ao alegar que, por mais amplo
que seja o conceito de suporte social e que as interações entre
pessoas, grupos e redes resultem em benefícios, não é suficiente
apenas fazer parte de uma rede social para caracterizar o apoio, é
necessário que essa rede proporcione um relacionamento que
ofereça suporte para as carências do indivíduo.
As redes sociais formadas por familiares e amigos
significativamente abalam os efeitos do estresse nos indivíduos

111
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

mais velhos, elas oferecem suporte social na forma de amor,


afeição, preocupação e assistência. Com isso, temos que ficar
atentos à maneira como está nossa rede social e a importância
dela em nossas vidas.
O conceito de redes foi originalmente criado e desenvolvido
no âmbito da sociologia antropológica. Sociólogos defendem a
noção de que as redes têm algum poder sobre o comportamento
social das pessoas nelas envolvidas (MITCHELL, 1969). A
importância das redes na construção social reside no pressuposto
de que elas preenchem as necessidades individuais, criando para
seus integrantes inúmeras oportunidades para manter sua
identidade social, receber apoio, ajuda material, serviços,
informações e novos contatos sociais (WALKER, MACBRIDE,
VACHON, 1977; BERKMAN, 1995). Redes são definidas como
uma teia identificada de relações sociais que circunda um
indivíduo, bem como as características dessas ligações,
compondo-se do conjunto de pessoas com quem alguém mantém
contatos sociais (BOWLING, 1997). As redes são as fontes donde
emanam suportes sociais para seus integrantes.
Define-se a função das redes sociais como as interações
interpessoais que ocorrem dentro da estrutura dessas redes. A
função (apoio social propriamente) abrange aspectos qualitativos e
comportamentais das relações sociais e compreende quatro tipos:
(1) apoio emocional, que envolve expressões de amor e afeição; (2)
apoio instrumental ou material, que se refere aos auxílios
concretos como provimento de necessidades materiais em geral,
ajuda nos trabalhos práticos (limpeza de casa, preparação de
refeição, provimento de transporte) e ajuda financeira; (3) apoio de
informação, que compreende informações (aconselhamentos,
sugestões, orientações) que podem ser usadas para lidar com

112
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

problemas e resolvê-los; e (4) interação social positiva, que diz


respeito à disponibilidade de pessoas com quem se divertir e
relaxar (DUE et al., 1999).
Ao longo de todo ciclo vital observamos que as redes de apoio
social vão constituindo-se de formas diferentes, por exemplo, na fase
adulta inicial (dos 20 aos 40 anos) é comum termos grandes teias de
relações, principalmente por estarmos na fase produtiva da vida. Já
na velhice é possível notar duas possibilidades: na primeira
encontramos, muitas vezes, uma diminuição das redes sociais, por
causa do falecimento de pessoas queridas, distanciamento de amigos
e mudanças na estrutura familiar, na segunda possibilidade nota-se
idosos que conseguem, nessa fase da vida, ampliar suas relações,
participando e construindo vários laços sociais.
O contexto familiar representa, pois, um elemento
fundamental para o bem-estar dos idosos, que encontram nesse
ambiente apoio e intimidade para as diferentes situações com que se
deparam, relações que asseguram um espaço de pertencimento com
os familiares. A família contemporânea vem sofrendo
transformações em relação ao surgimento de novos papéis e a
longevidade tem proporcionado a convivência entre essas gerações,
encontrando-se até quatro gerações em uma mesma residência. Esse
panorama demonstra que a família, apesar das mudanças perante
diversas situações, continua sendo um local de extrema importância
para nutrir afetos e proteção aos idosos (ARAUJO, 2010).
A construção de uma rede de apoio entre os diferentes
membros da família, amigos, vizinhos e serviços de saúde
representa uma estratégia fundamental para auxiliar no
desenvolvimento do cuidado (BRONDANI et al., 2010).

113
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

O apoio em rede auxilia o idoso e a família nos cuidados de


saúde, afazeres domésticos, questões financeiras e administrativas,
o que configura essas redes de relações como fontes importantes
de bem-estar e suporte social (WICHMANN et al., 2013;
DUARTE et al., 2014)
Assim, os vínculos que os idosos estabelecem no decorrer da
vida são formados pelo grupo familiar, e por amizades na
comunidade onde moram. Essas relações propiciam uma sensação
de pertencimento e têm sido reconhecidas como o aspecto
fundamental para um envelhecimento com qualidade de vida.
Essas redes de apoio ajudam os idosos durante seu processo de
envelhecimento, assegurando maior autonomia, independência,
bem-estar e saúde (TRIADO; VILLAR, 2007).
A manutenção dos vínculos costumeiros, sua perda e a
formação de novos vínculos (o que implica em novos contatos e, por
consequência, no surgimento de uma rede parcialmente modificada)
têm relação com os valores cultivados pelo indivíduo e com seus
objetivos, em determinada fase de desenvolvimento de sua vida.
Nestes termos, existem duas fases: a busca de informações e a busca
de trocas afetivas. Obviamente, qualquer pessoa, em qualquer faixa
etária busca as duas fases, mas o foco em questão é a intensidade
desse processo. Para Neri (2008), o jovem busca mais informações
do que trocas afetivas, pois suas necessidades envolvem a construção
de um referencial dos aspectos formais de sua vida. Na velhice, as
trocas afetivas são prezadas, pois seu referencial é relativamente
mais estável do que na juventude. Mas as razões dessa inversão de
objetivos não se resumem a isso. Ainda para a autora, ser velho
implica em não ter mais disponibilidade para o aprendizado efetivo,
trocas de informações e até apoio social, após anos de dependência
de sua rede.

114
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

Um estudo realizado por Jesus et al. (2013) demonstrou que


quando o idoso sente-se cuidado revela sentimentos positivos que
podem influenciar na recuperação de sua autonomia, por
exemplo, na realização de atividades diárias. Corroborando essa
afirmativa, Wichmann et al. (2013), ao pesquisar idosos que
frequentavam grupos de convivência, constata que estes grupos,
além de uma maneira de inclusão e interação social, são uma
forma de resgate da autonomia, melhora da autoestima, senso de
humor, bem-estar e qualidade de vida.
A capacidade de interagir socialmente é fundamental para o
idoso conquistar e manter as redes de apoio social e garantir
maior qualidade de vida. Dessa forma, essas redes são muito
importantes na velhice, principalmente quando é necessário se
adaptar às mudanças decorrentes do envelhecimento.
O apoio social auxilia na visão que o idoso tem em relação à
satisfação de sua vida, já que esta pode ser influenciada pelo modo
como as pessoas se sentem com os relacionamentos interpessoais.
Além disso, o suporte social estimula o senso de controle e a
autoeficácia do idoso e essa aquisição do apoio social, por sua vez,
depende de competência social ou de habilidades sociocognitivas.
O apoio social, nas suas diferentes vertentes, relaciona-se
positivamente com o bem-estar psicológico e com a saúde mental,
associando-se à redução do risco de mortalidade, bem como está
negativamente relacionado com a depressão, o stress e com a
sintomatologia física (GUEDEA et al., 2006).
Em uma pesquisa portuguesa sobre a percepção de qualidade
de vida e suporte social, desenvolvida na cidade de Algarve, com
60 pacientes da rede de cuidados domiciliares, foi demonstrado
que a percepção de apoio emocional tem relação com a qualidade

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Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

de vida. Ter relações de proximidade e intimidade com familiares


ou amigos influencia na compreensão de qualidade de vida social
(DUARTE et al., 2014).

Implicações do suporte social no envelhecimento


A maioria dos autores ressalta que relações sociais satisfatórias
parecem promover melhores condições de saúde. Segundo Ramos
(2002), os mecanismos pelos quais este efeito é exercido ainda não
são totalmente conhecidos. Sugere-se que a ajuda recebida e a ajuda
oferecida contribuem para um senso de controle pessoal e isso tem
uma influência positiva no bem-estar psicológico.
O apoio social auxilia na visão que o idoso tem em relação à
satisfação de sua vida, já que esta pode ser influenciada pelo modo
como as pessoas se sentem com os relacionamentos interpessoais.
Além disso, o suporte social estimula o senso de controle e a
autoeficácia do idoso e essa aquisição do apoio social, por sua vez,
depende de competência social ou de habilidades sociocognitivas
(ANTONUCCI, 2001).
A literatura sobre apoio social e rede de relações sociais na
velhice propõe que a manutenção de relações sociais com o cônjuge,
com os familiares e, principalmente, com amigos da mesma
geração, favorece o bem-estar psicológico e social dos idosos; os
relacionamentos entre amigos idosos são particularmente benéficos,
porque são de livre escolha e assim mais funcionais ao atendimento
das necessidades afetivas dos envolvidos; a qualidade percebida é
mais importante do que a quantidade de relacionamentos, para as
relações sociais e para a saúde física e mental; as relações sociais
entre as mulheres são qualitativamente superiores às dos homens
porque elas têm mais habilidades interpessoais, são mais calorosas e

116
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

capazes de estabelecer relações de intimidade (CARNEIRO;


FALCONE, 2004).
Pode-se supor que o idoso que conta com uma rede de apoio
social tende a ser socialmente mais competente, além de possuir
níveis mais elevados de qualidade de vida do que aquele que
interage apenas com o seu grupo familiar e com alguns amigos.
Por outro lado, idosos saudáveis que vivem em asilos, por
carecerem de apoio social, podem apresentar deficiências em
habilidades sociais, além de baixa qualidade de vida e,
consequentemente, níveis mais elevados de depressão
(CARNEIRO et al., 2007).
Ter um grupo de referência é imprescindível para o idoso,
pois propicia motivação e suporte emocional. As relações sociais
são uma forma de engajamento, de vivenciar essa fase com
qualidade de vida, podendo compartilhar seus sentimentos e
conhecimentos. Estudo revela que as atividades mais realizadas e
comentadas pelos idosos do Brasil e da Espanha têm relação com
sociabilidade (WICHMANN et al., 2013).
Muitos autores enfatizam que as relações sociais levam a um
melhoramento da saúde, entretanto outros argumentam que o
suporte social pode também provocar resultados negativos
(ALVARENGA et al., 2011), que podem existir em função da
excessiva assistência ou dependência em relação a poucas pessoas
que possam ajudar. No entanto, predomina o argumento favorável à
ideia de que as relações sociais podem, de várias formas, promover
melhores condições de saúde. A ajuda recebida e a ajuda dada
contribuem para um senso de controle pessoal, influenciando de
maneira positiva no bem-estar psicológico, como observado em
pessoas casadas, que apresentam melhor saúde que outras com

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Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

outros estados civis (INOUYE et al., 2010). Há também os que


enfocam diferenças em termos de saúde por classes sociais e por
tipos de grupos raciais, enfatizando desvantagens em termos do
sistema de saúde experimentado pelas minorias raciais (ROSA;
CUPERTINO; NERI, 2009; INOUYE et al., 2010).
As relações sociais podem ter um papel essencial para manter
ou, até mesmo, promover a saúde física e mental (INOUYE et al.,
2010). Seus efeitos positivos estão associados à utilidade de
diferentes tipos de suporte fornecido pela família (emocional ou
funcional). Na presença do suporte social, espera-se que as pessoas
idosas se sintam amadas e seguras para lidar com problemas de
saúde e que tenham alta autoestima (RIO, 2009).
Em diversos estudos as redes de suporte social foram vistas
como fator de influência na percepção de saúde dos idosos. A
família tem destaque como principal suporte e foi destacada pelos
sujeitos como um alicerce para suas vidas. Em uma pesquisa
realizada com mulheres idosas, com o objetivo de compreender
suas vivências e necessidades, foi possível perceber que a ausência
de suporte familiar tem influência negativa em suas vidas,
desmotivando-as e tornando-as mais vulneráveis, pois deixam de
sentir o cuidado e o afeto de pessoas a quem elas atribuem grande
importância. Dessa forma, a família é caracterizada como
fundamental no processo de suporte no envelhecimento, já que, ao
estar presente, tem o sentimento de valorização da vida mas, no
entanto, se ausente, há falta de perspectiva (MERIGHI, 2013).
Os estudos que têm se debruçado sobre a relação entre
suporte social e saúde englobam em quatro grandes categorias
(SINGER; LORD, 1984):

118
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

1- O s u p o r t e s o c i a l p r o t e g e c o n t r a a s
perturbações induzidas pelo stress – Agrupa uma
versão forte e uma versão fraca. A primeira afirma que esta
variável impede que o stress afete negativamente o indivíduo,
ao passo que a fraca afirma que o stress afeta toda a gente,
mas que na existência de suporte social esse efeito é
reduzido. O suporte social é visto como mediador ou
moderador do stress;
2- A não existência de suporte social é fonte de stress
– Considera que a falta de suporte social é, por si só,
geradora de stress;
3- A perda de suporte social é um estressor –
Considera que, se tem suporte social e o perde, o stress surge;
4- O suporte social é benéfico – É uma perspectiva, de
certo modo, oposta às anteriores, pois considera que o
suporte social torna as pessoas mais fortes e com melhores
condições para enfrentar as vicissitudes da vida, ou seja, que
o suporte social é um recurso, quer perante, quer na
ausência, de fontes de stress.

Carneiro et al. (2007) acreditam que idosos que contam com


uma rede de apoio social podem ser mais socialmente competentes
do que aqueles que têm apenas o apoio familiar e de alguns
amigos, porém, ressaltam que é necessário distinguir apoio social
de interação social, já que nem todo relacionamento oferece
apoio, configurando-se apenas vínculos desagradáveis e
estressantes. Segundo Couto et al. (2010), um bom suporte social
influencia positivamente o comportamento dos idosos em aspectos
como melhoria nas atitudes com a própria saúde, redução no risco

119
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

de mortalidade, boa saúde mental, dietas alimentares adequadas,


reciprocidade nas relações sociais e possibilidade de escolha no
provedor da assistência.
Nesse sentido, os laços sociais estabelecidos com parentes e
amigos são imprescindíveis para a promoção de um
envelhecimento saudável, ou seja, “[...] dispor de uma rede social
e receber ajuda dos indivíduos que pertencem a essa rede
beneficiam a saúde e o bem-estar” (CORNWELL et al., 2009).
Sobre isso, Couto et al. (2010) citam alguns achados: em 2005, de
Bourke et al., que associa apoio a uma melhor habilidade
cognitiva; Garcia et al., em 2004, que relaciona o efeito da rede de
apoio social à saúde mental; e Rodriguéz-Artalejo, em 2004, sobre
os laços sociais como redutores de risco de depressão em idosos e
como promotores de autoconfiança. Portanto, obter apoio das
pessoas do grupo reforça seu sentimento de pertença,
contribuindo para a sua regulação emocional.
Os idosos de uma pesquisa demonstraram ter autopercepção
ruim de sua saúde ao relatarem que raramente ou nunca têm
alguém com quem pudessem contar, em caso de doença ou
estarem acamados. Essa associação negativa de autoavaliação da
saúde com a inexistência de suporte social é comum e confirma
estudos anteriores que afirmaram existir um conjunto de fatores
sociodemográficos e clínicos que influenciam na compreensão de
saúde, e entre eles ganham destaque as relações sociais como
fundamentais para manutenção ou promoção de saúde mental e
física nos idosos (ALVARENGA et al., 2011; BORGES; SEIDL,
2012; NUNES; BARRETO; GONÇALVES, 2012).

120
Suporte social e longevidade: reflexões acerca das definições, tipos, redes de apoio e implicações

Considerações finais
Pode-se supor que o idoso que conta com uma rede de apoio
social tende a ser mais socialmente competente, além de possuir
níveis mais elevados de qualidade de vida do que aquele que
interage apenas com o seu grupo familiar e com alguns amigos.
Por outro lado, idosos saudáveis que não possuem uma boa rede
de suporte social podem apresentar deficiências em habilidades
sociais, além de baixa qualidade de vida e, consequentemente,
níveis mais elevados de comprometimento das condições de saúde.
O envelhecimento satisfatório é dependente do equilíbrio entre
as limitações e as potencialidades do indivíduo, e essa etapa da vida
pode ser auxiliada pelas redes sociais de apoio. A rede de apoio
social, associada a outras, podem auxiliar na resiliência do idoso. A
tríade da força psicológica da resiliência é composta por: fatores
individuais, fatores familiares e fatores de suporte. Esses três polos de
proteção favorecem a resiliência porque melhoram a autoestima e a
autoeficácia, e abrem novas possibilidades para o sujeito.
Um suporte social adequado, tanto macro (políticas públicas),
quanto no núcleo familiar, devem ser estruturados e viabilizados
para suprir as necessidades dos idosos e para melhorar a sua
qualidade de vida. A presença de redes de apoio, suporte
financeiro digno e transporte de qualidade são alguns elementos
necessários à construção de uma melhor condição de vida.

121
Luana A. dos Reis, Elaine S. Santana, Alessandra S. de Oliveira e Luciana A. dos Reis

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128
CAPÍTULO 6

RELAÇÕES DE CUIDADO ENTRE


FAMILIARES CUIDADORES E IDOSOS
COM DEPENDÊNCIA FUNCIONAL
Valeria Alves da Silva Nery
Luciana Araújo dos Reis

Introdução

O aumento da expectativa de vida e a redução das taxas de


natalidade constituem fenômenos que vêm contribuindo para o
crescimento do índice de envelhecimento mundial ao longo dos
tempos. No entanto, é nessa fase da vida que as doenças crônicas se
desenvolvem com maior facilidade, comprometendo a capacidade
funcional do idoso e tornando-o dependente de cuidados
(STRAUB, 2005; NASSIF; HUPE; SALBEGO, 2005).
O envelhecimento caracteriza-se como um fenômeno
inerente a vida; é um processo dinâmico, progressivo, inevitável,
com ritmo e características próprias em cada pessoa, que implica
alterações morfofisiológicas, acompanhada por repercussões
familiares, sociais e econômicas. Em virtude das mudanças
funcionais, somadas ao estilo de vida, o contexto socioambiental e
a possível predisposição genética, a pessoa idosa está mais
vulnerável a transtornos crônico-degenerativo ou a comorbidades
que outros grupos etários (STRAUB, 2005; NASSIF; HUPE;
SALBEGO, 2005).

129
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

Logo, o envelhecimento acarreta a diminuição da capacidade


de adaptação, que ocorre de maneira objetiva, limitando o sistema
funcional e, de uma maneira mais evidente, o sistema psicossocial,
o qual se manifesta pela dificuldade de aceitação do processo de
envelhecer. Isso tudo leva ao aumento da dependência do
ambiente familiar, que é um local de proteção e estabilidade.
Nesse sentido, o envelhecimento traz vulnerabilidades, perdas
sociais importantes, aparecimento de novos papéis, agravamento
de doenças crônicas e degenerativas e dependências funcionais. O
conceito de dependência é uma construção social que sustenta as
medidas de proteção social para as pessoas que necessitam de
ajuda nas atividades diárias, para satisfação das suas necessidades
básicas (QUARESMA, 2004).
Conforme Quaresma (2004), a dependência surge quando
uma pessoa apresenta uma perda mais ou menos acentuada da
sua autonomia funcional e necessita da ajuda de outra pessoa. É
um processo incapacitante pelo qual uma determinada condição
(aguda ou crônica) afeta a funcionalidade dos idosos e o
desempenho das atividades de vida diárias.
Entre as principais doenças que causam a dependência, que
acometem os idosos mundialmente, estão as cardiovasculares,
como a doença coronariana, hipertensão arterial, acidente
vascular cerebral; diabetes mellitus; câncer; doença pulmonar
obstrutiva crônica; doenças musculoesqueléticas, como artrite e
osteoporose; doenças mentais, principalmente demência,
Alzheimer, Parkinson e depressão; além da cegueira e diminuição
da visão (OMS, 2002).
Nesse contexto, cabe à família a função do cuidado. O papel
da família é fundamental no cuidado do idoso. A família

130
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

predomina como alternativa no sistema de suporte informal aos


idosos, tendo aí como sujeito o cuidador familiar. O cuidador
familiar é todo aquele que proporciona à pessoa idosa cuidados no
seu domicílio e não é remunerado por tal função. O cuidador
assume a função de cuidar dos seus membros familiares, uma
tarefa que esteve sempre mais ligada a mulher, pois culturalmente
o cuidado com o lar e com a família, em geral, ainda é um papel
feminino na sociedade. Porém, o cuidado é fundamentalmente do
ser humano em geral. Na maioria das vezes, os cuidadores
familiares estão cientes que é um dever moral e ainda existe uma
responsabilidade social e familiar diante da pessoa idosa, que deve
ser respeitada (CALDAS, 2003).
A relação entre o idoso e o cuidador familiar deve ser uma
relação de ajuda, por causa da impossibilidade do idoso com
dependência funcional de realizar tarefas de autocuidado e de
manejo das tarefas do cotidiano. Destaca-se, em sua maioria,
como fonte cuidadora do idoso os filhos (as), sobrinhos (as),
netos(as), que assumem o papel de cuidador, muitas vezes por
terem uma ligação afetiva, mas também por entender ser seu
dever e obrigação (influenciado por valores e crenças).
Cuidar de um familiar idoso não é tarefa fácil. É, sim, uma
atividade complexa, pois tanto o cuidador como o idoso podem se
deparar com sentimentos diversos e conflitantes. Os diversificados
sentimentos que surgem podem estar ligados ao medo, à angústia,
à confusão, ao cansaço, à tristeza, ao nervosismo, à irritação, ao
choro, ao medo da morte. Muitas vezes o ato de cuidar é uma
tarefa duradoura, que também exige mudanças tanto na vida do
idoso como do seu cuidador, reorganizando sua vida familiar,
profissional e social (CALDAS, 2003).

131
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

E, nesse processo do cuidado ao idoso com dependência


funcional, a memória tem papel fundamental na constituição da
função do cuidador familiar, pois permite a rememoração de
aprendizados, vivências e experiências em relação às práticas de
cuidado do outro no contexto domiciliar e familiar.
Compreendemos, assim, com base nos estudos da memória,
que as relações de cuidado ao idoso são constituídas por fatores
ligados ao passado, que permanecem presentes na memória
individual, como os aspectos da formação humana do familiar,
tendo, nesse processo, interferências de fatores próprios, como as
vivências, as experiências, a cultura, os hábitos familiares, os
costumes, que irão contribuir na identificação do indivíduo
cuidador.
Para Halbwachs (2006), a memória se constitui numa
corrente de pensamento contínuo que retém do passado somente
aquilo que ainda está vivo na consciência de indivíduos que
constituem um grupo. Percebemos uma indissociabilidade entre a
memória individual e a memória coletiva, uma vez que as
lembranças dos indivíduos são sempre construídas com base nas
relações de pertencimento a um grupo. A memória liga-se à
lembrança das vivências, e está só existe quando laços afetivos
criam o pertencimento ao grupo e ainda os mantêm no presente.
O físico ou o territorial, e o pertencimento social são fatores que
permitem a existência do grupo, e esses fatores mantêm o vivido
no campo das lembranças comuns, geradoras de memória social.
A memória, percepção do agora que se situa entre o passado
e o presente, seria a forma de experiência que tornaria possível a
ação individual, que tem por finalidade a defesa do bem comum.
A memória que é valorizada é aquela que tem vínculos com o

132
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

passado, com a tradição, com experiências transmitidas. A


memória pode-se traduzir como as reminiscências do passado, que
afloram no pensamento de cada um no momento presente; ou
ainda, como a capacidade de armazenar dados ou informações
referentes a fatos vividos no passado. Compreendemos, assim, a
importância da memória para o desenvolvimento das relações de
cuidado familiar do idoso com dependência funcional.

O envelhecimento populacional
Os avanços científicos e tecnológicos, como o incremento de
exames diagnósticos e a descoberta de medicamentos mais
eficazes, tiveram forte influência nesse prolongamento da vida.
Entretanto, o estilo de vida, o ambiente e a herança genética
também têm participação decisiva no envelhecimento humano.
Vive-se hoje um fenômeno em escala mundial, o qual, por um
lado, representa um triunfo da ciência, e, por outro, uma
preocupação e um desafio social, pois o aumento da expectativa
de vida resultou na longevidade do ser humano, que veio
acompanhada das implicações quando essa se amplia.
O envelhecimento é um estado próprio do ser humano idoso
que apresenta especificidades socioeconômicas, culturais,
ambientais, individuais ou coletivas, segundo épocas e lugares, e
apresenta-se em cada ser humano de modo singular e único
(BRASIL, 2006a; MARTINS et al., 2007; MACHADO, 2007;
ALENCAR; CARVALHO, 2009; ALVES; VIANNA, 2010).
No Brasil, para fins de levantamentos demográficos,
considera-se como idoso aquele indivíduo com idade a partir de
60 anos, corte definido pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) e posteriormente pelo Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003;

133
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

SOUZA JÚNIOR; KULLOK; TELLES, 2006). Apesar disso, a


Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) afirma que
não se fica velho aos 60 anos, tendo em vista que o
envelhecimento é um processo natural, que ocorre ao longo de
toda a experiência de vida do ser humano, por meio de escolhas e
de circunstâncias (BRASIL, 2006a).
Em 2008, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
(PNAD) revelou a existência, no Brasil, de 21,039 milhões de
idosos, o que corresponde a 11,1% do total da população. Esse
número supera a população de idosos de vários países europeus,
entre eles, pode-se citar a França, a Inglaterra e a Itália (entre 14 e
16 milhões), de acordo com as estimativas para 2010 das Nações
Unidas (IBGE, 2010).
Na região do Nordeste brasileiro registrou-se a presença de
5,441 milhões de pessoas acima de 60 anos, ficando atrás apenas
da região Sudeste, que possui 9,922 milhões. A Bahia concentra o
maior número de idosos da região Nordeste: 1.497 milhão, e em
Salvador e Região Metropolitana encontram-se 303 mil pessoas
com idade igual ou maior de 60 anos (IBGE, 2009). A exemplo do
que vem acontecendo com o conjunto da população brasileira,
Salvador vem registrando o aumento da longevidade de sua
população (SEPLAM, 2006).
Esse aumento da população idosa no Brasil é consequência,
principalmente, dos avanços da medicina, maior escolaridade,
melhoria das condições sanitárias e da renda da população, e dos
meios de informação, levando ao crescimento da esperança de
vida ao nascer combinado com a queda do nível geral da
fecundidade.

134
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

A estimativa é que, em 2025, o Brasil ocupe o sexto lugar no


mundo em percentual de população idosa, com uma população
composta de, aproximadamente, 30 milhões de pessoas com mais
de 60 anos, o que corresponderá a 15% da população (BULLA,
2007). Para 2050, a previsão é de que haverá 38 milhões de
brasileiros com 65 anos ou mais, representando 18% da população
(CHAIMOWICZ, 2005).
Esses dados apontam, portanto, para um grande desafio a ser
enfrentado pelo Brasil: o de oferecer condições de vida saudável e
com qualidade aos cidadãos que atingem idades cada vez mais
avançadas, por meio da adoção de políticas públicas e sociais que
visem contemplar adequadamente as peculiaridades emergentes
dessa população idosa.

O envelhecimento com dependência funcional


Os estudos procuram formular conceitos em torno do ser
idoso. Há inúmeras tentativas precárias para conceituar aquilo
que não se pode determinar, porque envelhecer subentende
atravessar o tempo e, desse modo, viver é envelhecer e envelhecer
é viver (HILLMAN, 2005).
O Brasil é considerado um país jovem, entretanto, em pleno
processo de envelhecimento populacional. A cada ano,
aproximadamente 650 mil brasileiros são incorporados à categoria
de idosos, o que tende a contribuir para maior incidência de
doenças crônicas e limitações funcionais. Em menos de 40 anos,
passamos de um cenário de mortalidade, próprio de uma
população jovem, para um quadro de enfermidades complexas e
onerosas, típicas da terceira idade, caracterizado por doenças
crônicas não transmissíveis e múltiplas, que perduram por anos

135
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

(VERAS, 2007), que exigem cuidados permanentes que, na


maioria das vezes, são realizados por familiares.
Percebe-se que nas alterações relacionadas à idade estão a
presença de fatores de risco e a ocorrência de doenças
crônico-degenerativas, que determinam para o idoso certo grau de
dependência, relacionado diretamente com a perda de autonomia
e dificuldade de realizar as atividades básicas de vida diária,
interferindo na sua qualidade de vida.
O envelhecimento é um processo complexo da evolução
biológica dos organismos vivos, assim como psicológico e social do
desenvolvimento humano. Trata-se de um fenômeno mundial que
acontece de forma gradual e irreversível, em que ocorre
deterioração das capacidades funcionais do organismo, tornando,
assim, vários idosos dependentes de cuidados (VERAS, 2007).
Quando o idoso se torna dependente, são perceptíveis as
alterações inevitáveis que envolvem afeto, finanças e relações de
poder, o que ocasiona um processo de reorganização na família. O
fato de ocorrer a perda de independência ou, até mesmo, a
autonomia da pessoa idosa, pressupõe que, no domicílio, alguém
assuma as responsabilidades de cuidador, o que não é tarefa fácil
no momento da decisão: havendo dificuldade de mobilidade por
parte dos envolvidos, quem assumirá o cuidado para com o idoso
dependente? (JEDE; SPULDARO, 2009).
A capacidade de o indivíduo realizar suas atividades físicas e
mentais necessárias para a manutenção de suas atividades básicas
e instrumentais, ou seja, tomar banho, vestir-se, realizar higiene
pessoal, transferir-se, manter a continência, preparar refeições,
controle financeiro, tomar remédios, arrumar a casa, fazer

136
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

compras, usar transporte coletivo, usar telefone e caminhar certa


distância, são definidas como capacidade funcional.
Quando ocorre comprometimento da capacidade funcional,
a ponto de impedir o cuidado de si, a carga sobre a família e sobre
o sistema de saúde pode ser muito grande, conduzindo o idoso à
perda da independência e da autonomia, o que compromete a
qualidade de vida e, consequentemente, leva-o a incapacidade
funcional.
O processo de envelhecimento pode ser acompanhado pelo
declínio das capacidades, tanto físicas, como cognitivas, dos idosos,
de acordo com as suas características de vida. Embora a grande
maioria dos idosos seja portadora de, pelo menos, uma doença
crônica, nem todos ficam limitados por essas doenças, e muitos
levam uma vida perfeitamente normal, com as suas enfermidades
controladas e expressa satisfação na vida (REIS et al., 2008).
A dependência funcional se caracteriza quando a pessoa
idosa apresenta a impossibilidade ou dificuldade de realizar uma
ou mais atividades básicas da vida diária, como: banhar-se,
vestir-se, alimentar-se e manter a higiene pessoal, o que, na
prática, impossibilita o indivíduo de residir ou permanecer
sozinho em sua residência. É imprescindível que, na prestação de
cuidados aos idosos, a família esteja devidamente orientada sobre
a importância do estímulo do idoso para atividades de vida diária,
uma vez que, frequentemente, a imobilidade na terceira idade é
incentivada pela família, que considera a velhice como tempo de
descanso (MOREIRA; GUERRA, 2008).
A dependência consiste na existência de uma necessidade de
ajuda ou assistência, importante para a realização de atividades da
vida diária (FIGUEIREDO, 2007). É, portanto, o resultado de

137
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

um processo que se inicia com o surgimento de um déficit no


funcionamento corporal ou psicológico, em consequência de uma
doença ou acidente, e que comporta uma limitação na atividade
normal. Quando essa limitação não pode ser compensada,
mediante a adaptação do meio, origina uma restrição da
funcionalidade que se concretiza na dependência em relação a
outras pessoas para realização das atividades da vida diária.
À medida que as pessoas envelhecem, diversas são as
Atividades básicas de Vida Diária que, de maneira imperceptível e
progressiva, podem tornar-se difíceis de serem executadas, até o
momento em que o indivíduo se encontra dependente de outra
pessoa. A pessoa, muitas vezes, além de suas obrigações
profissionais, pessoais, conjugais e familiares, se depara com essa
nova função, que pode sobrecarregá-lo tanto fisicamente quanto
psicologicamente, gerando, assim, alterações na sua vida cotidiana
(REZENDE, 2008).
A incapacidade, por sua vez, corresponde à existência de
alguma limitação à funcionalidade. Esta é entendida como a
capacidade de o indivíduo cuidar de si próprio, desempenhando
tarefas de cuidados pessoais e de adaptação ao meio em que vive.
Assim, Figueiredo (2007) e Botelho (2005) explicam que a
funcionalidade tem sido definida como a capacidade de um
indivíduo se adaptar aos problemas e exigências do quotidiano e é
avaliada com base na autonomia, na execução das atividades da
vida diária, que se subdividem em três grandes grupos: atividades
básicas da vida diária (Activities Daily Living (ADL)), relacionadas ao
autocuidado, que englobam tarefas como vestir-se, realizar a
higiene pessoal, alimentar-se, usar os sanitários e mobilidade;
atividades instrumentais da vida diária (Instrumental Activities Daily
Living (IADL)), relacionadas à capacidade de fazer compras, usar o

138
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

telefone, utilizar meios de transporte, tomar medicamentos, gerir


rendimentos e algumas atividades domésticas; atividades
avançadas da vida diária (Advanced Activities of Daily Living (AADL)),
como o trabalho, atividades sociais e de lazer e exercício físico.
À medida que se envelhece, pode haver a impossibilidade de
realizar, de forma independente, algumas atividades do
quotidiano, isso acontece por causa de dois motivos que não se
excluem: a dependência pode ser originada por uma ou,
geralmente, várias doenças crônicas; pode ser o reflexo de uma
perda geral das funções fisiológicas, atribuível ao processo global
de senescência (MOREIRA; GUERRA, 2008).
No primeiro caso, por exemplo, situam-se todos aqueles
indivíduos cuja incapacidade funcional deriva de processos
crônicos, fortemente associados à idade: doenças cardiovasculares,
tumores malignos, doenças do foro mental (demências), doenças
do aparelho musculoesquelético (artrite, osteoporose) e
respiratório. A segunda razão relaciona-se com a perda de
vitalidade que experimentam a maioria dos organismos com a
idade (MOREIRA; GUERRA, 2008).
Ao se referir à funcionalidade, esta se relaciona às funções e
estruturas do corpo, atividades e participação do indivíduo; indica
aspectos positivos da interação entre o indivíduo e os fatores
ambientais e pessoais. A incapacidade, refere-se às deficiências,
limitações da atividade e restrições na participação, o que sugere
aspectos negativos do indivíduo. Já as limitações são dificuldades
que a pessoa pode ter na execução das atividades (OMS, 2002).
A funcionalidade está interligada à fragilidade do indivíduo,
uma vez que a última constitui-se em uma síndrome
multidimensional que envolve interação complexa de fatores

139
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

biopsicossociais do indivíduo e propicia estado de maior


vulnerabilidade, associado a um maior risco de ocorrência de
desfechos clínicos adversos, como o declínio funcional. Estima-se
que de 10% a 25% das pessoas acima dos 65 anos e 46% acima
dos 85 anos que vivem na comunidade sejam frágeis, o que pode
tornar o indivíduo dependente. A dependência envolve aspectos
biológicos, psicológicos e sociais, e faz com que a pessoa não seja
capaz de realizar as atividades diárias sem a ajuda de outra pessoa
(BRASIL, 2006a).
A dependência se traduz por uma ajuda indispensável para a
realização das atividades fundamentais de vida. Não se trata
apenas da incapacidade que cria a dependência, mas sim da soma
da incapacidade com a necessidade. Apenas com o
envelhecimento do organismo é possível perceber que ocorre
redução da capacidade funcional do ser humano. E as doenças
crônicas tendem a acelerar esse processo. À medida que os índices
de esperança de vida se elevam, há tendência de aumento da
incapacidade funcional da população idosa.

A memória nas relações de cuidado entre o familiar e o


idoso com dependência funcional
Em todas as sociedades humanas é necessário algum tipo de
organização de convivência, que alguns consideram como um
subsistema ou uma unidade social que é representada pela família.
Este é um termo definido por Ferreira (2004, p. 243) “como
pessoas aparentadas que vivem geralmente na mesma casa
particularmente o pai a mãe e os filhos; também as pessoas do
mesmo sangue; e a família nuclear é constituída pelo casal e seus
filhos”.

140
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

Alonso (2003) define família com a base da proximidade nas


relações sociais, e considera as pessoas que moram na mesma casa
como uma “Primeira família”, que têm uma convivência diária
próxima, com relação de ajuda. Afirma também que essa
categoria inclui marido, mulher e filhos que residem com o casal,
pai e mãe do casal e filhos casados que moram em outra casa, no
mesmo terreno e que compartilham os problemas pessoais. O
mesmo autor considera como “Grande família” aquela que é
constituída dos irmãos paternos e maternos, incluindo cunhados,
primos, tios e sogros. A convivência entre eles é compartilhada em
eventos sociais. Nesta não se compartilha os problemas pessoais e
os projetos mais particulares.
Althoff (2004, p. 27), em seu estudo sobre a família comenta
que na era pós-moderna, “vários fatores tem interferido na
organização familiar, como o trabalho feminino, o número
reduzido de filhos, o aparecimento de mães de aluguel, as
modernas técnicas de reprodução, além do grande número de
separações, divórcios e famílias reconstituídas”. Esses fatores vêm
trazendo para a sociedade vários tipos de família, até mesmo
novos arranjos familiares. Isso ocorre, também, pelas diversas
maneiras de estabelecimento de relações entre os seres humanos.
A família é um sistema dinâmico em interação dialógica, que
pretende (ou deve pretender) ajudar a pessoa a desenvolver uma
presença afetiva, responsável e livre no mundo (TRELHA et al.,
2006). Cada pessoa tem e terá, ao longo de sua existência, várias
famílias (a de seus ancestrais, a de sua infância, a de sua
adolescência, a de sua vida adulta e de sua velhice), que assume
em cada fase características peculiares, mas mantem a função
primordial, a de preservar a integridade física e emocional de seus
membros e do próprio grupo, propiciando o seu desenvolvimento.

141
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

Nesse estudo adotamos como família as pessoas que residem no


mesmo ambiente familiar do idoso, participando assim de seu dia
a dia.
Para a maioria das pessoas a família representa um esteio de
relevante importância, tanto no que tange à estruturação de seus
laços afetivos, quanto nos referenciais de significância, apoio,
cuidado e respeito. Esse olhar sobre a família conduz à
compreensão de que a família é uma unidade de interação entre
os subsistemas que a compõem em sua totalidade e suas redes de
relações mais amplas, ou seja, o universo de suas inter-relações
intra e extrafamiliar.
A família é, sem dúvida, uma estrutura de valor, agente
socializador e uma unidade de complexidade e
multidimensionalidade. Assim, tomemos como base a
preocupação dos autores citados até o presente momento, para
compreender que estudar a família em sua multidimensionalidade
não é uma das tarefas mais simples, mas esses estudos alertam
para a importância de se pesquisar família como uma unidade.
Em pesquisa realizada por Creutzberg e Santos (2000), os
participantes do estudo percebem a família como o centro da vida
e, segundo as autoras, sempre vinculada à função de proteção e
cuidado. Segundo elas, é necessário rever os nossos valores
conceituais, quanto à sua estrutura e organização, passados
historicamente por meio dos modelos instituídos nas diversas áreas
do conhecimento, e enfatizam, ainda, que devemos enxergar as
famílias como elas são.
O cuidar pode ser definido com base nos comportamentos e
ações que envolvem conhecimentos, valores, habilidades e atitudes
empreendidas para favorecer as potencialidades das pessoas e

142
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

manter ou melhorar a condição humana no processo de viver e


morrer. Entende-se cuidado como o fenômeno resultante do
processo de preocupar-se, interessar-se, responsabilizar-se por
outrem (WALDOW, 2004, p. 127).
O cuidado envolve responsabilidade, compromisso,
comprometimento e envolvimento com seu próprio ser, com o
outro e com o universo. Em outras palavras quem cuida envolve,
interage, se responsabiliza pelo crescimento e pelo bem-estar do
outro, uma planta, um animal ou a natureza como um todo.
Seguindo os fundamentos filosóficos do cuidar, Waldow
(2004, p. 19) afirma que:
ser é cuidar, e as várias maneiras de estar no mundo
compreendem diferentes maneiras de cuidar. Para se
tornar um ser de cuidado, um cuidador, o ser precisa,
primeiro, ter experienciado o cuidado, ou seja, ter
sido cuidado. A capacidade de cuidar está, portanto,
relacionada ao quanto e como o ser foi cuidado.
Através do cuidado, percebe-se a existência de outros
além do que se é; o outro dá o sentido do eu.

Esses cuidados podem implicar em muitas e variadas


atividades, dependendo de cada família e de quem é cuidado. De
um modo geral, destacam-se como tarefas habituais de um
cuidador familiar: ajudar nas atividades domésticas; assistir a
pessoa idosa em sua locomoção dentro e fora de casa; ajudar na
higiene e cuidados pessoais; ajudar na administração de dinheiro e
bens; administrar medicamentos; proporcionar conforto e
tranquilizar a pessoa idosa em situação de crise; ajudar na
comunicação com os outros, quando existem dificuldades para o

143
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

idoso expressar-se; fazer pelo familiar pequenas atividades da vida


diária, como levar-lhe um copo com água ou acomodá-lo em
frente à televisão, entre outras (BORN, 2008).
Lacerda e Costenaro (1999) explanam que o cuidado é tido
como uma essência, é mais do que uma simples execução de
procedimentos; o cuidado é relação e expressão, envolve empatia,
autenticidade, aceitação, um dispor-se, um estar sempre junto com
o ser cuidado. Vai além dos aspectos técnico, instrumental ou
físico, para atingir um patamar mais elevado, abrangendo todas as
dimensões do ser, que inclui também o lado emocional e a parte
espiritual.
Waldow (2004) contribui reforçando que o cuidar é o ato
consciente de amor, de ajuda; é educar para a liberdade, auxiliar
nas horas em que o sujeito necessita para voltar a caminhar
sozinho; é respeitado pela individualidade como ser único e ser do
mundo, que tem história e que faz a sua história colocando
conhecimentos e arte a serviço de quem dele necessita.
Garantir a integralidade do cuidar do idoso é a finalidade da
Política Nacional de Saúde do Idoso (BRASIL, 2006b), que
estabelece como diretrizes: construir na sociedade a ideia de
solidariedade para com esse grupo etário; propiciar um
envelhecimento ativo, preservando a autonomia do sujeito;
fomentar uma rede estruturada de apoio social; garantir a atenção
multiprofissional e interdisciplinar nos serviços de saúde sob a
ótica do atendimento integral, humanizado e de qualidade para
essa população. No entanto, essa política está apenas no papel,
esperamos, destarte, que se converta em realidade para atender
aos idosos e suas famílias.

144
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

Na contemporaneidade, as modificações na dinâmica do


trabalho restringem a permanência dos ascendentes no âmbito da
família e altera as composições dos núcleos familiares e suas
possibilidades pessoais, de destinar cuidados aos idosos. A família,
a sociedade tem o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua
dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida (BRASIL,
1988).
Boff (1999) refere-se ao cuidar como sendo algo mais que um
ato, é uma atitude, tem a ver com a postura e o modo de agir de
cada um. Representa uma atitude de ocupação, preocupação,
responsabilização e envolvimento afetivo com o outro. O autor
ainda privilegia o amor, a cordialidade, a confiabilidade e a
compaixão como dimensões importantes para o equilíbrio e a
coexistência.
O cuidado é um sentimento que envolve ligação e zelo, tanto
com a existência do outro quanto com a própria; um
relacionamento dedicado, no qual sentimentos são transformados
em comportamentos e reflexões. Por isso é preciso ir além da mera
execução de procedimentos técnicos, embora sejam importantes
para a execução do cuidado, afinal são integrantes do trabalho,
mas que devem ser realizados de forma que proporcionem
autonomia, sempre que possível, e estimule o autocuidado.
Ainda no tocante às propostas de intervenção na saúde do
idoso, Ramos (2003, p. 797) defende que devem ser adotadas
estratégias que visem à promoção e manutenção da capacidade
funcional dos idosos, alegando que “identificar causas tratáveis de
déficit cognitivo e de perda de independência no dia-a-dia
deveriam tornar-se prioridade do sistema de saúde”. Assim, nós,

145
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

profissionais de saúde, temos o dever de sensibilizar e mobilizar a


sociedade para tornar reais as ações que estão estabelecidas nas
Políticas Públicas do Brasil.
O cuidador familiar é aquele indivíduo que cuida de uma
pessoa da sua própria família, também conhecido como cuidador
informal. O cuidador informal pode ser um membro familiar,
como o conjugue, filho, irmão, amigo ou vizinho, que mesmo não
tendo laços de parentesco, cuida da pessoa, geralmente de
maneira voluntária. O cuidador formal é o profissional que
recebeu formação especial para trabalhar como cuidador e realiza
o cuidado mediante remuneração. O cuidador principal
configura-se como aquele indivíduo que fica responsável por quase
todo o trabalho diário com o idoso dependente (BRASIL, 2008).
Quando o indivíduo se encontra dependente, precisa de
alguém para lhe ajudar e satisfazer suas necessidades básicas. O
processo de cuidar da pessoa dependente deve incluir um conjunto
de atividades desenvolvidas pela família, comunidade e
profissionais de saúde, que devem se direcionar, também, para a
identificação das necessidades humanas e para o apoio ao
cuidador informal (MARQUES; MARQUES; DIXE, 2010).
A situação de cronicidade e longevidade, vista na atualidade,
contribui para a elevação do número de idosos com algum tipo de
limitação funcional, o que implica em necessidade de cuidados
continuados, de longa duração e, muitas vezes, complexos. Esses
cuidados, normalmente, são prestados pelas famílias, com ou sem
apoio, no domicílio (MARQUES; MARQUES; DIXE, 2010).
No Brasil, o cuidado realizado no domicílio cresce de
maneira gradativa, tornando-o um local privilegiado para o
cuidado. O domicílio é um ambiente caracterizado pela

146
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

preocupação com a integralidade, singularidade do ser humano,


valorização intersubjetiva e respeito ao outro. O cuidado nesse
ambiente é percebido por aqueles que cuidam como oportunidade
de crescimento e realização pessoal, uma vez que permite não só o
desenvolvimento de novas habilidades, como também a expressão
de sentimento de solidariedade, amor, respeito, empatia e inserção
social dos envolvidos (OLIVEIRA, 2011).
A realização do cuidado no domicílio é sustentada em
relações intersubjetivas, o que requer, dessa maneira, novas
modalidades de interlocução, acordos e responsabilização,
relacionados diretamente sob determinações políticas, econômicas,
éticas, sociais e culturais. Nesse contexto, surgem necessidades
relacionadas às práticas de atenção à saúde já consolidadas e
novas práticas que são construídas no cotidiano do cuidado, no
âmbito domiciliar, conforme as demandas que se apresentam
nesse ambiente (SENA et al., 2006).
A realização do cuidado no contexto domiciliar não é uma
tarefa fácil. Os cuidadores familiares, ao assumirem a
responsabilidade de cuidado nesse ambiente, precisam
desempenhar, concomitante, diversas outras atividades. A
construção de uma rede de solidariedade entre os diferentes
membros da família, amigos, vizinhos e serviços de saúde é uma
estratégia indispensável e desejada para auxiliar nos cuidados
(OLIVEIRA, 2011).
A família é considerada uma relevante rede informal de apoio
às pessoas idosas, e além disso constitui-se como parceira das redes
formais de apoio social. Quando o cuidador coabita e cuida de um
familiar idoso dependente, isto pode ser um fator desencadeante
de modificações no sistema familiar, o que pode levar a uma

147
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

desorganização ou desequilíbrio. Para tanto, é imprescindível


ajudar e apoiar essas famílias a conviverem com a dependência de
seus familiares idosos, ou seja, apoiar e compartilhar o cuidado
desses indivíduos nas tarefas cotidianas (SOUSA; FIGUEIREDO;
CERQUEIRA, 2004).
Os cuidados direcionados aos idosos são, na maioria das
vezes, prestados por filhos, irmãos, cônjuges e até netos que,
geralmente, não têm a menor capacitação para cuidar dessas
pessoas que, muitas vezes, encontram-se acamadas e totalmente
dependentes. A insegurança do cuidador, relacionada ao cuidado
e a inquietação decorrente da expectativa de como o idoso
evoluirá, aliadas ao cansaço físico e psicológico, pode favorecer um
clima de tensão entre os componentes familiares e vir a causar
alterações na dinâmica do grupo familiar e, por conseguinte,
prejudicar o convívio (MONTEZUMA; FREITAS; MONTEIRO,
2008).
O cuidado é relatado por alguns cuidadores como uma
atividade que precisa ser realizada com muito amor, atenção,
carinho e prazer, sendo influenciada pelo reconhecimento,
obrigação e dever, relacionados com os bons momentos
vivenciados com o idoso, assim como com a retribuição de
sentimentos acumulados durante a trajetória de vida do idoso com
o cuidador (NARDI; OLIVEIRA, 2009).
Cuidar de alguém é complexo, pois envolve expressão de
diversos tipos de sentimentos, como raiva, culpa, medo, angústia,
confusão, cansaço, estresse, tristeza, nervosismo e irritação. Esses
sentimentos podem ser concomitantes e precisam ser
compreendidos, fazendo parte da relação entre o cuidador e a
pessoa cuidada. São comuns entre os cuidadores a ansiedade, falta

148
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

de tempo para si, depressão e outros problemas de saúde, que


podem estar relacionados às tarefas de cuidar (BRASIL, 2006a).
A família é um sistema dinâmico em interação dialógica, que
pretende (ou deve pretender) ajudar a pessoa a desenvolver uma
presença afetiva, responsável e livre no mundo. Cada pessoa tem e
terá ao longo de sua existência, várias famílias (a de seus
ancestrais, da infância, da adolescência, da vida adulta e da
velhice), assumindo em cada fase características peculiares, mas
mantendo a função primordial, a de preservar a integridade física
e emocional de seus membros e do próprio grupo, propiciando o
seu desenvolvimento (SOUSA; FIGUEIREDO; CERQUEIRA,
2004).
A tradição cultural atribui às famílias a responsabilidade de
cuidar dos elementos mais idosos e com laços mais chegados.
Desse modo, cuidar de parentes idosos apresenta-se como uma
extensão dos papéis normais da família, o que, aliado a alguma
hostilidade para com as instituições, pressiona a família a manter
esse papel (SOUSA; FIGUEIREDO; CERQUEIRA, 2004).
Nesse contexto, a memória do cuidador encontra-se ligada às
demais dimensões de sua existência atual: aos amigos, à família e
aos outros grupos de pertencimento. O presente ressignifica o
passado. Sob essa perspectiva, todo o trabalho com a memória –
essa suposta capacidade de ‘reter’ o passado – remete,
inevitavelmente, ao presente vivenciado pelo sujeito que lembra;
remete, pois, também aos contextos específicos (circunstanciais),
nos quais se dá a rememoração (OLIVEIRA, 2011).
A memória do indivíduo depende de seu relacionamento com
a família, escola, igreja e outras instituições de referência e
convivência. Pensa-se, então, a memória relacionada aos quadros

149
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

e às instituições sociais como fato social que expressa a consciência


coletiva.
Os modos de ser são apresentados ao indivíduo desde o
nascimento dele, então ele constrói a memória com base no
contato com a cultura e na interação com ela. Segundo
Halbwachs (2006), o indivíduo passa a fazer registros mnêmicos à
medida que abandona seu estado inicialmente instintivo e
insere-se numa vida de relação e de troca com o outro.
As lembranças da infância, muitas vezes, não são
rememoradas porque, na época do acontecimento, o indivíduo
ainda não estava inserido na corrente de pensamento. Pode
ocorrer, também, que determinado fato seja lembrado não porque
a criança o selecionou, mas porque ela percebeu que foi
importante para os pais, ou porque despertou preocupação nos
adultos e, por isso, mereceu ser lembrado (VASCONCELOS,
2011).
A família é a primeira instituição de que o sujeito participa e,
como tal, está ligada à estrutura social, recebendo da sociedade
uma força coerciva. A família, assim como outras instituições,
expressa-se nos modos de pensar, sentir e agir, no funcionamento,
na fisiologia social, nas representações e na consciência coletiva. A
família é a instituição que introduzirá o sujeito na coletividade, aos
modos de ser de certa sociedade. Ao longo da vida, o indivíduo
amplia seu convívio, pois se insere em diferentes memórias
coletivas e participa de grupos distintos, compartilhando das
consciências coletivas de cada um deles.
A memória servirá de base para a construção de ações de
cuidado e traz consigo a maneira de sentir, pensar e agir que
foram passadas através de gerações. A memória é construída na

150
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

interação com o social, de acordo com os modos de ser de cada


grupo familiar. Para Halbwachs (2006), a memória é o centro das
tradições e também da identidade, pois é por causa do que é
lembrado que aquilo que tem significado, naquele momento de
reconstrução, que o indivíduo representa-se e representa, também,
o mundo.
Halbwachs (2006) estabelece oposição entre o universo da
memória (situada em termos da experiência vivida, da imagem, do
afeto etc.) e o da história (situada em termos de uma crítica, de um
problema, de conceitos) para demonstrar os mecanismos da
constituição de uma memória como construção social e fenômeno
coletivo. Como construção social, a memória é modelada pela
família e pelos grupos sociais. Isso significa que a memória
individual se estrutura e se insere na memória coletiva, que é um
fenômeno que se desenvolve dentro de determinados grupos
sociais, dos quais fazemos parte ao longo da nossa existência,
começando pela família, passando pela escola, trabalho, entre
outros.
A memória como produto da linguagem também é pensada
como produção simbólica e parte integrante de um imaginário
social. Nesse sentido, tanto a memória como a tradição são vistas
como fruto de um tempo determinado e de um conjunto social
dado, por poderem constituir-se em elementos da história de
mentalidades coletivas. Vale ressaltar, então, que a memória faz
cruzar a história e a intimidade, por permitir que os
acontecimentos públicos e os pessoais sejam nutridos de valores
simbólicos, vivenciados na encruzilhada da cultura e do desejo,
oferecendo-nos, assim, focos e direções existenciais e sociais em
meio às experiências vividas. É inegável que a subjetividade
alcançada pelas histórias contadas pelos idosos é reconstruída nos

151
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

interstícios e limiares das formas sociais e culturais de existência


vividas (Halbwachs, 2006).
A memória é refletida pela vontade do ser social que exalta e
destaca apenas os elementos chave de sua vivência, expressos na
sua oralidade. Por isso, Vasconcelos (2001, p. 28) diz que a
memória marca “os pontos que se fixam em volumes de
lembranças, prontas a emergir dos escaninhos mais profundos da
alma, da pessoa que rememora”. Nesse caso, observamos que o
mais importante para o cuidador familiar da pessoa idosa é a sua
própria rememoração, que será exposta conforme as necessidades
vivenciadas na vida diária e na realização do cuidado.
É nesse vínculo, entre presente e passado, que se percebe a
estreita relação entre a memória e o tempo. Encontra-se, portanto,
nos indivíduos uma memória atemporal, que permite o acesso às
histórias, mitos, costumes, tradições, saberes de épocas longínquas.
Essas histórias que foram retidas pela experiência são
percebidas pelo convívio e pela oralidade. Desse modo, a memória
possibilita a reelaboração das experiências desses cuidadores.
Ressalta-se, ainda, que essas tradições são, por sua vez,
conclamadas pela oralidade, por meio do olhar atento do narrador
sobre esses mundos e culturas, o que possibilita que elas sejam
recordadas e relidas, impedindo, dessa forma, o seu total
desaparecimento (VASCONCELOS, 2011).
Rememorar é um ato que acontece no passado e é provocado
pelo presente: do passado retornam a nós os acontecimentos que
correspondem às nossas preocupações atuais. É do presente que se
parte. Os fatos, acontecimentos, personagens, conhecimentos,
sensações depositadas na memória (HALBWACHS, 2006).

152
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

Para Halbwachs (2006), transmitir uma história, sobretudo a


história familiar, é transmitir uma mensagem, que leva em
consideração, ao mesmo tempo, a individualidade da memória
afetiva de cada família e a memória da sociedade, mais ampla, o
que expressa a importância e a permanência do valor da
instituição familiar. A importância do grupo familiar como
referência fundamental para a reconstrução do passado advém do
fato de a família ser, ao mesmo tempo, o objeto das recordações
dos indivíduos e o espaço em que essas recordações podem ser
avivadas.
A própria representação da família e do parentesco sofre com
as marcas do tempo. Os limites da memória são traçados no
presente, com olhos e elaborações atuais que, embora possam ser
explicados e racionalizados em função das mudanças sociais,
mudaram as representações dessas pessoas, aparecendo em cada
etapa de sua vida com configurações diferentes.

Considerações finais
Compreendemos que a memória tem papel fundamental na
constituição da função do cuidador familiar, pois permite a
rememoração de aprendizados, vivências e experiências em
relação às práticas do cuidado com o outro no contexto familiar.
A memória de cada indivíduo da família irá contribuir para a
implementação de ações cuidativas para com o idoso dependente.
Logo, as formas de cuidar dependerão das práticas, costumes,
conhecimentos adquiridos no contexto familiar. A valorização do
indivíduo, o cuidar com carinho, afeto, dedicação, dependerá das
lembranças de vivências e experiências familiares guardadas na
memória.

153
Valeria Alves da Silva Nery e Luciana Araújo dos Reis

A memória contribui, assim, na atenção e organização da


ajuda dentro da própria família, dado o papel preponderante da
interdependência afetiva e instrumental na funcionalidade,
manutenção da identidade cultural e do bem-estar. Além disso,
também colabora na estrutura da relação de cuidar. As histórias e
compromissos entre gerações, as crenças e valores do cuidador,
revelam-se fatores determinantes na hora de assumir a
responsabilização por cuidar ou continuar a cuidar, o que deve ser
explorado e considerado.
É nesse sentido que Halbwachs (2006) fala da lembrança
como reconstrução do passado, realizada com a ajuda de dados
tomados do presente e elaborados em outros lugares, em outras
circunstâncias, por outras reconstruções feitas em épocas
anteriores, nas quais a imagem do tempo antigo é algo bem
alterado. A transmissão de bens simbólicos às gerações seguintes
situa a família como o lugar dessa passagem, fazendo de cada
descendente o alvo e, ao mesmo tempo, o veículo da preservação
dos valores familiares.
Em torno dessa ideia de transmissão de valores está presente
a noção de um tempo que se repete, de um tempo cíclico. Para
essas pessoas, preocupadas em marcar seu lugar social e sua
identidade pela inserção na grande Família, o tempo do ciclo
dessa grande família é a referência temporal.
Há, assim, um plano moral, que acaba por definir também a
inserção das famílias na sociedade mais ampla, não em termos
econômicos, mas como representantes de uma camada social que
compartilha de um mesmo discurso de representação, de história e
de memória familiar.

154
Relações de cuidado entre familiares cuidadores e idosos com dependência funcional

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CAPÍTULO 7

RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE NA
LONGEVIDADE
Luana Araújo dos Reis
Gabriela Requião Vaz de Almeida
Luciana Araújo dos Reis

Introdução
Nas últimas décadas, o Brasil tem vivenciado intenso processo
de transição demográfica, com população de características jovens
passando para mais envelhecidas (VERAS, 2012). O último censo
demográfico aponta que o país possui um total de 205.655.993
milhões de pessoas, sendo que 23,5 milhões dos brasileiros têm mais
de 60 anos, o que corresponde a 12,5% da população (IBGE, 2015).
Para 2050, a projeção gira em torno de 64 milhões de pessoas
acima de 60 anos, correspondendo a 30% da população (IBGE,
2015). Além disso, registra-se que enquanto a taxa média
geométrica de crescimento anual da população idosa (60 e mais
anos) gira em torno de 3,3%, no estrato de idosos mais idosos (80
e mais anos), essa taxa chega aos 5,4%, uma das mais altas do
mundo (CAMARANO, 2010).
O rápido crescimento desse segmento da população exige
revisão de políticas de saúde, que devem se basear na promoção do
envelhecimento ativo e saudável, na prevenção de agravos ao longo
de todo o ciclo da vida e na atenção às necessidades específicas
dessa população, visto que o processo de envelhecimento envolve

161
Luana Araújo dos Reis, Gabriela Requião Vaz de Almeida e Luciana Araújo dos Reis

aspectos biológicos, psicológicos e sociais inerentes a todos, mas que


diferem de pessoa para pessoa devido às variações nas condições
materiais de existência de cada uma. Fatores relacionados ao
próprio indivíduo e aos espaços em que vive podem alterar de
forma significativa este processo (ZENEVICZ; MORIGUCHI;
MADUREIRA, 2013; MENDES et al., 2012).
Embora o envelhecimento humano não deva ser considerado
sinônimo de doença e dependência, o crescimento da população de
idosos aumenta o número de indivíduos que vivenciam situações de
fragilidade física e emocional, havendo maior predisposição para
condições patológicas, geralmente crônicas que, se não forem
adequadamente tratadas ou controladas, podem levar a
incapacidade funcional (MARTINS et al., 2009; VERAS, 2009).
Bhui (2014) refere que com o avançar da idade as pessoas
idosas buscam estratégias para o enfrentamento do processo
saúde-doença, visando melhoria da qualidade de vida (QV) e
bem-estar na velhice. Tais estratégias são definidas como resiliência,
que está relacionada à capacidade de recuperação e adaptação
saudável diante de danos, adversidades e estressores.
Há predominância de conceitos investigados ao longo do
percurso teórico da Gerontologia, entre eles, o envelhecimento
bem-sucedido, o bem-estar psicológico, o suporte social, a
satisfação com a vida, a religiosidade e a espiritualidade, entre
outros, como associados ao de resiliência (FONTES; NERI, 2015).
Nesse contexto, a religiosidade e a espiritualidade se
apresentam como importantes estratégias de resiliência para a
pessoa idosa, refletindo de forma significativa em sua saúde física e
mental, sendo consideradas como uma dimensão sociocultural que
faz parte da rede de significados que o homem cria para dar

162
Religiosidade e espiritualidade na longevidade

sentido à vida e à morte, exercendo influência significativa no


cuidado da pessoa, que vem sendo construído através dos tempos
(CORTEZ; TEIXEIRA, 2010; ZENEVICZ; MORIGUCHI;
MADUREIRA, 2013).
Pesquisa realizada por Melo et al. (2015) com o objetivo de
verificar os estudos existentes que exploram a correlação entre a
qualidade de vida e a religiosidade, em diferentes aspectos e
contextos, utilizando como descritores os termos “religiosidade”,
“qualidade de vida” e “espiritualidade”, apontou que a
religiosidade e a espiritualidade têm correlação com a QV,
atuando principalmente em situações adversas, evidenciando a
importância desses fenômenos para as práticas de saúde,
ressaltando-se a necessidade de valorizá-los e incluí-los nas
formações profissionais.

Religiosidade, espiritualidade e a pessoa idosa longeva


As definições de religiosidade e espiritualidade não
encontram consenso na literatura, embora haja sobreposição entre
espiritualidade e religiosidade. Para Murakami e Campos (2012) a
espiritualidade se constitui de um sentimento íntimo existencial,
uma busca pelo sentido de viver e estar no mundo e que não
necessariamente vai estar ligado à crença em algo maior, como um
Deus. Já a religiosidade pode ser entendida como sendo um
conjunto de crenças e práticas pertencentes a uma doutrina, que
são compartilhadas e seguidas por um grupo de pessoas, através de
cultos ou rituais que envolvem necessariamente a noção de fé.
Giovelli et al. (2008) referem que a religiosidade se difere da
espiritualidade pela clara sugestão de sistema de adoração/doutrina
específica partilhada com outros. Apesar das suas diferenças

163
Luana Araújo dos Reis, Gabriela Requião Vaz de Almeida e Luciana Araújo dos Reis

conceituais, a religiosidade e espiritualidade utilizadas como


estratégia de resiliência revelam influências bastante surpreendentes
na melhor QV da população idosa (LIMA, 2013).
Estudo realizado por Reis e Menezes (2017) refere que a
religiosidade e espiritualidade se apresentaram como uma
importante estratégia de resiliência no existir da pessoa religiosa
idosa longeva, contribuindo para o enfrentamento de patologias, da
solidão, entre outras demandas significativas, que colaboram para a
diminuição do bem-estar desse segmento populacional. Em geral, os
adeptos de crenças religiosas apresentam menor probabilidade de
riscos comportamentais (SANTOS; ABDALA, 2014).
Born (2008, p.46) afirma que o ser humano tem “duas
grandes áreas na vida, a material (carnal) e a espiritual [...]” e que,
com o passar dos anos, “o espiritual se aprimora”. Alves (2006, p.50)
reafirma que “a espiritualidade nos idosos pode ajudar a vencer os
medos. [...] É dessa forma que se encontra um sentido da vida, um
motivo ou meta para viver e continuar sendo o que sempre foi”.
Sendo a fé um elemento subjetivo e intimamente particular
do ser humano, percebe-se que sua existência e a prática diária
pelos idosos religiosos lhes servem de apoio e força para enfrentar
as “batalhas” do dia a dia, em especial nesta fase da vida repleta
de angústias, medos e aflições decorrentes da própria idade, como:
doença, contexto social, abandono e perdas afetivas (OLIVEIRA;
ALVES, 2014). Conforme Duarte e Wanderley (2011), a religião e
a espiritualidade podem auxiliar no enfrentamento desses eventos,
considerados frequentemente como estressores.
A espiritualidade é significada como uma dimensão
importante da existência humana, sendo que na velhice ela
aparece vinculada ao enfrentamento de situações do cotidiano e

164
Religiosidade e espiritualidade na longevidade

como fonte de preparação para a morte, uma vez que a maior


parte dos idosos entrevistados não vê a morte como um limite
para a existência. Ao considerar a exploração, por parte dos
idosos, das capacidades adaptativas e de reserva na velhice,
segundo o modelo de envelhecimento bem-sucedido, como
recurso de enfrentamento diante de situações de perdas e
mudanças (GUTZ; CAMARGO, 2013).
Os valores espirituais devem ser incentivados entre as pessoas
que têm essa crença, e por elas praticados para que a pessoa idosa
tenha uma alma tranquila e, assim, conserve sua mente ativa, o que
resulta em QV espiritual, isto é, sentir-se bem com o que acreditam
e têm fé, e fortalecido para as batalhas do dia a dia. A prática de
frequentarem os ofícios religiosos, na sua grande maioria
pertencentes ao catolicismo como missas, procissão, e rezas de terço
para eles importantes, é fundamental para isso, bem como uma boa
conversa, o que os mantém ativos e, ao mesmo tempo,
proporciona-lhes bem-estar espiritual (OLIVEIRA; ALVES, 2014).
Ainda para estes autores, se os ofícios religiosos e a
espiritualidade são de fundamental importância para os seres
humanos que seguem alguma religião, ganham forma maior com
a chegada da velhice, quando o indivíduo é aplacado de
incertezas, doenças e, muitas vezes, submetido ao afastamento
familiar ou a perdas por morte. Sendo assim, este processo de
espiritualidade e fé não deve ser deixado para segundo plano, uma
vez que é destas práticas que o idoso retira força para superar seus
conflitos como isolamento, solidão, abandono e sensação de perda
familiar e de afetividade.
Para Vieira (2009), as práticas religiosas podem guiar o
indivíduo diretamente, dando significado à sua vida por meio do

165
Luana Araújo dos Reis, Gabriela Requião Vaz de Almeida e Luciana Araújo dos Reis

sagrado. Esse significado capacita o indivíduo a entender as


situações em sua vida e lidar com as exigências. O idoso, na sua
vulnerabilidade, pode procurar, na transcendência espiritual, quer
na religião ou na religiosidade, um sentido de superar os anseios
pelas condições desfavoráveis, buscando a cura e proteção em
preces e orações, pela fé em um ser divino e superior.
Para o idoso, as questões relacionadas à religiosidade têm
significado muito especial, principalmente entre aqueles que
vivenciam problemas ou alguma situação dolorosa, seja por doença
ou pelas consequências deixadas por ela (DUARTE; DIOGO,
2005). As mudanças físicas, psicológicas e sociais, que são comuns
aos idosos, acarretam situações de perdas, declínio da saúde,
afastamento do mercado de trabalho e eventos não controláveis,
cujo enfrentamento de modo efetivo pode ser auxiliado através das
crenças espirituais e práticas religiosas (GOLDSTEIN;
SOMMERHALDER, 2002; LINDOLPHO; SÁ; ROBERS, 2009).

Religiosidade, espiritualidade e o profissional de saúde


Se as crenças e as práticas religiosas, a exemplo da oração,
ajudam as pessoas que seguem alguma religião a enfrentarem e
reduzirem o nível de estresse, então, tais atividades também devem
estar relacionadas à saúde física. Logo, aprender a respeitar o
poder dessas crenças deve ser levada em consideração pelos
profissionais de saúde em seus atendimentos (KOENIG, 2012).
Estudos apontam que a relação entre a religião e a saúde é
inconsciente e ambígua, podendo a fé, ou a religião, promover ou
desencorajar o bem-estar psicológico (FARRIS; ROSA, 2011).
A religiosidade pode ser fator de saúde e de qualidade de
vida, ou não, a depender das características sociais, culturais,

166
Religiosidade e espiritualidade na longevidade

subjetivas, de personalidade e de saúde do sujeito que a vivencia,


além de diversos outros aspectos conhecidos e desconhecidos. A
espiritualidade tem o potencial de trazer serenidade e felicidade
autêntica aos humanos, a depender de como é vivenciada pelo
sujeito, não sendo, portanto, regra geral (MELO et al., 2015).
Deste modo, a religiosidade, a espiritualidade e as crenças
pessoais dos pacientes necessitam ser inseridas no entendimento
da prática clínica do profissional de saúde como forma de
estabelecer tratamento holístico e integrativo (LUCCHETTI;
LUCCHETTI; AVEZUM JUNIOR, 2011).
Silva et al. (2016) referem que é necessário aprofundar o
conhecimento sobre crenças religiosas e espirituais, visto que
podem influenciar no tratamento e recuperação. A equipe de
saúde multidisciplinar pode se beneficiar da avaliação da história
religiosa e espiritual dos pacientes para elaborar projeto
terapêutico mais integrativo e que considere a visão holística do
ser humano no seu contexto biopsicossocial e espiritual.
É importante proporcionar e manter atividades sociais no
envelhecimento que proporcionem benefícios como interação
entre sujeitos, minimização dos sentimentos de solidão e
promoção da autonomia (DIAS; DUARTE; LEBRÃO, 2010).
O respeito e incentivo à religiosidade e espiritualidade está
garantido no Estatuto do Idoso de 2003, no capítulo II, do Direito
à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, do Art. 10°, § 1º, inciso
III, que ressalta que é obrigação do Estado e da sociedade
assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade,
como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos,
individuais e sociais garantidos na Constituição e nas leis,

167
Luana Araújo dos Reis, Gabriela Requião Vaz de Almeida e Luciana Araújo dos Reis

compreendendo o direito à liberdade, entre outros aspectos, como


a garantia à sua crença e culto religioso (BRASIL, 2003).
Sendo assim, são necessárias estratégias de organização e
reorganização dos espaços sociais e de saúde para que acolham a
pessoa idosa de maneira adequada, levando em conta suas
necessidades e bem-estar. Além disso, devem promover a satisfação
de todos que fazem parte desses ambientes, onde cada pessoa tem
seu ponto de vista, garantindo seu direito de continuar vivendo
dignamente, experimentando os prazeres da vida mais
intensamente sem perder de vista a necessidade do fortalecimento
e aprofundamento religioso e espiritual, favorecendo uma velhice
digna e bem-vivida (OLIVEIRA; ALVES, 2014).
Peres et al. (2007) apontam que a atenção a elementos como
espiritualidade e religiosidade se tornam cada vez mais necessários
no contexto da assistência à saúde. Além disso, a ciência por sua
vez, registra a importância desses aspectos na dimensão do ser
humano, com essas questões culturais sendo relevantes para
tratamento e até mesmo curas, em diversas sociedades humanas.
Desse modo, é preciso que o profissional seja uma fonte de
respeito e de apoio às crenças, à religião e aos valores dos
pacientes e cuidadores familiares (NASCIMENTO et al., 2013),
visto que a religiosidade e a espiritualidade mostraram-se como
mecanismos aos quais as pessoas recorrem diante da rotina de
enfrentamento sendo, por vezes, o meio no qual depositam a
esperança de recuperação e de cura (ALVES et al., 2016).
Em pesquisa realizada com estudantes do curso de graduação
em Enfermagem de uma Faculdade situada em uma cidade do
interior do estado de São Paulo, Brasil, com 146 estudantes,
objetivando identificar as opiniões dos estudantes de Enfermagem

168
Religiosidade e espiritualidade na longevidade

em relação à interface entre saúde, espiritualidade e religiosidade,


e as informações fornecidas durante o período da formação
acadêmica, destacou-se o resultado de que 76% dos estudantes
acreditam que a espiritualidade influencia na saúde. Apenas 10%
consideram-se muito preparados para abordar aspectos espirituais
dos pacientes e 54% apontaram que a formação universitária não
oferece infor mações suficientes para desenvolver essa
competência. O medo de impor pontos de vista religiosos aos
pacientes é a principal barreira relacionada ao assunto. A maioria
dos estudantes, 83%, apontou que temas referentes a saúde e
espiritualidade deveriam fazer parte dos currículos de
Enfermagem (ESPINHA et al., 2013).
Ainda para os autores da pesquisa, é necessária a
implementação de cenários de aprendizagem durante a formação
acadêmica que auxiliem o estudante a realizar o cuidado espiritual.
Corroborando, Melo et al. (2015) referem que não se pode
desconsiderar os aspectos benéficos que a religiosidade e a
espiritualidade têm indicado. Por isso é de fundamental importância
repensar uma aproximação da formação profissional com esses
fenômenos, entendendo que eles se constituem como aspectos sociais
e culturais dos contextos nos quais os indivíduos estão inseridos.
Este olhar diferenciado contribuirá para formação de
profissionais de saúde mais preparados para lidar com o humano e
será possível também promover uma aproximação do meio
transcendental com o científico, reconhecendo as diferenças e
limitações de ambos (MELO et al., 2015).

169
Luana Araújo dos Reis, Gabriela Requião Vaz de Almeida e Luciana Araújo dos Reis

Considerações finais
A religiosidade e a espiritualidade apontadas por diversos
estudos enquanto estratégias de enfrentamento de problemas de
saúde, sociais e familiares, requer dos profissionais da área de
saúde aprofundamento técnico-científico a fim de assegurar à
pessoa idosa longeva um cuidado diferenciado, que além de
atender às demandas de saúde possibilitem a manutenção da
autonomia durante os anos adicionais de vida, garantindo-lhes
uma velhice com qualidade.
Assim, recomenda-se a inserção das temáticas
religiosidade e espiritualidade nos currículos de formação
profissional em saúde, tendo em vista a influência, positiva ou
negativa, dos aspectos religiosos e espirituais no processo
saúde-doença, bem como na forma de viver e significar o
envelhecimento quer seja através do bem-estar cotidiano ou do
alcance da longevidade.
Ademais, sugere-se a realização de novas pesquisas científicas
nos campos da saúde e das ciências sociais e humanas, que abordem
a influencia da religiosidade e espiritualidade na longevidade,
colaborando para que haja uma significativa ampliação da
compreensão deste fenômeno a nível nacional e internacional, e,
com isso, o atendimento das especificidades deste grupo etário possa
ser realizado através do cuidado integral e humanizado.

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175
CAPÍTULO 8

CONTEXTO E MEMÓRIAS DO ENVELHECER


COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

Tatiane Dias Casimiro Valença


Luciana Araújo dos Reis

Introdução
Os estudos em relação à velhice e ao processo de
envelhecimento têm despertado cada vez mais interesse de
maneira pluridisciplinar, principalmente por causa do acelerado
processo de envelhecimento populacional que vem ocorrendo em
vários países, entre eles o Brasil.
No contexto brasileiro ocorreu a ampliação da participação
da população com 60 anos ou mais e dentro desse grupo houve o
aumento da população “mais idosa”, ou seja, pessoas com 80
anos ou mais, produzindo uma heterogeneidade no segmento
populacional chamado “idoso”. Assim, pode-se dizer que a
população considerada idosa também está envelhecendo
(CAMARANO, 2010) e novos paradigmas para a senescência e
para o processo de envelhecimento estão se desenvolvendo.
Atrelado ao processo de envelhecimento da população, o
debate sobre a deficiência também tem ocupado espaço na área
da saúde e nas políticas públicas, entre outras áreas, uma vez que
a incidência das doenças crônico-degenerativas aumenta com a
idade e estas podem trazer como consequência algum tipo de

176
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

deficiência, principalmente, do tipo física. Com isso, a pessoa


idosa com deficiência física pode apresentar limitação na sua
capacidade funcional, necessitando de apoio ou proteção para o
desenvolvimento de certas atividades da vida diária e para sua
integração na convivência social.
Desse modo, evidencia-se a necessidade da garantia da
qualidade de vida, do bem-estar, do reconhecimento como ser
social, da valorização e respeito desse contingente populacional,
que convive com a redução de suas capacidades funcionais, seja
em razão do processo natural de envelhecimento ou da presença
da deficiência física, o que requer cuidados especiais por parte
da sociedade (BATISTA et al., 2008).
Acredita-se que ao dar voz a esses indivíduos, por meio de
suas memórias e narrativas de vida acerca do envelhecer com
deficiência física, pode-se ter acesso às experiências vividas, aos
problemas enfrentados e às suas superações, aos seus direitos,
seus anseios, sua forma de ver a vida e seus planos para o futuro
na sociedade que estão inseridos. Logo, a reflexão sobre o tema
envelhecimento com deficiência física conduz ao entendimento
de que a abordagem individual e social dessa temática poderá
contribuir para a produção do conhecimento e de mecanismos
de intervenção direcionados a esse segmento social.

Os vários olhares do envelhecer


Diante do cenário de envelhecimento da população mundial
e brasileira, fazemos a mesma pergunta que fez Veras (1995, p.
25), em sua obra “País Jovem com Cabelos Brancos: a saúde do
idoso no Brasil”: O que é envelhecimento? Para em seguida
responder: “Velhice é um termo impreciso [...] nada flutua mais

177
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

do que os limites da velhice em termos de complexidade


fisiológica, psicológica e social” (VERAS, 1995, p. 25).
Ao analisarmos a definição dos termos “velho” e “idoso” no
dicionário da língua portuguesa observamos que “idoso” é uma
pessoa que tem muitos anos de vida; “velho” apresenta essa
mesma definição, mas também é utilizada para mencionar coisas
antigas, antiquadas ou usadas (FERREIRA, 2010). Geralmente,
o termo idoso está relacionado à questão cronológica, aos anos
vividos, como é definido pela Política Nacional do Idoso - Lei
8.842, de 4 de janeiro de 1994 (BRASIL, 1994) e pelo Estatuto
do Idoso - Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003 (BRASIL,
2003), que consideram “idosa” a pessoa maior de 60 anos de
idade. No entanto, para a Organização Mundial da Saúde
(OMS) (WHO, 2002), a idade idosa é estabelecida conforme o
nível socioeconômico de cada nação. Assim, em países em
desenvolvimento é considerado o marco inicial da velhice a
idade de 60 anos e em países desenvolvidos, 65 anos. A
Constituição Federal Brasileira no Art. 230 também considera
como idosos aqueles indivíduos maiores de 65 anos (BRASIL,
1988).
O envelhecimento, de acordo com Papaléo Neto (2011),
pode ser entendido como um processo natural, dinâmico e
progressivo, em que há modificações morfológicas, funcionais,
bioquímicas e psicológicas, com diminuição progressiva da
reserva funcional dos indivíduos – senescência – o que, em
condições normais, não costuma provocar qualquer problema.
No entanto, em condições de sobrecarga, como doenças,
acidentes e estresse emocional, podem ocasionar uma condição
patológica que requer assistência – senilidade (PAPALÉO
NETO, 2011). Admite-se que fatores extrínsecos podem

178
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

intensificar os efeitos adversos que ocorrem com o passar dos


anos, contribuindo para diminuição da independência do idoso
(PAPALÉO NETO, 2006; FREITAS; MIRANDA; NERY, 2011).
Destarte, trata-se de um grupo etário bastante heterogêneo,
constituído por pessoas com idades que variam de 60 a mais de
100 anos, incluindo indivíduos com graus diferenciados de
autonomia (CAMARANO, 2010).
Entretanto, Neri e Freire (2000) afirmam que, além da idade
cronológica, dos sinais físicos, cognitivos e afetivos que são
geralmente associados ao envelhecimento, outros aspectos devem
ser levados em consideração. Esses perpassam pela forma como
cada indivíduo administra seu tempo, suas relações interpessoais
e como percebe a si próprio diante desse processo do envelhecer.
Nesse contexto, a velhice pode ser percebida como um
processo heterogêneo, uma vez que cada indivíduo vivencia essa
fase da vida com base na sua história particular, em seus aspectos
culturais, sociais, econômicos, psicológicos, relacionais,
biológicos, na saúde, entre outros com consequências que
modificam a relação do homem no tempo, com o mundo e com
a sua própria história (BEAUVOIR, 1990). Corroborando com
esse pensar, Debert (1998) afirma que a velhice não se apresenta
como uma categoria universal e que essa etapa do ciclo de vida é
elaborada, simbolicamente, com rituais experimentados pelos
indivíduos e que contribuem para sua construção histórica e
social. Pode-se dizer que envelhecimento é um processo biológico
c u l t u r a l m e n t e i d e a l i z a d o, s o c i a l m e n t e c o n s t r u í d o e
conjunturalmente definido.
Outras autoras que abordam o envelhecimento, como
Beauvoir (1990) e Bosi (1983), defendem que a velhice é

179
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

percebida como um fenômeno natural e social, que se desenvolve


no ser humano, que defronta com problemas e limitações de
ordem diversas que singularizam esse processo. Elas concluem
em suas obras que a sociedade estabelece clichês em relação ao
envelhecer, pois consideram a pessoa idosa apenas como um
objeto da ciência, da história e da sociedade, baseados apenas na
descrição exterior, isto é, o idoso é descrito pelo outro e não por
ele próprio. Escreve Beauvoir (1990, p. 15): “O homem não vive
nunca em estado natural: na sua velhice seu estatuto é imposto
pela sociedade à qual pertence.”.

Aspectos demográficos do envelhecimento


Os países desenvolvidos sempre tiveram como característica
populacional a presença de um percentual elevado de idosos, ao
contrário dos países ditos subdesenvolvidos, como o Brasil, que
era, até pouco tempo, classificado como um país de jovens. No
entanto, esse quadro vem se alterando de forma rápida e intensa
nos últimos anos. De acordo com o Relatório do Banco Mundial
(BIRD, 2011), publicado no ano de 2011, o Brasil envelhece em
um ritmo mais rápido que os países desenvolvidos. Segundo o
levantamento, as nações ricas, primeiro ficaram ricas para depois
ter uma população mais idosa. O Brasil e outros países
emergentes seguem o caminho oposto, envelhecendo antes de
ficarem ricos. Um exemplo disso é a França que aumentou de
7% para 14% a população acima de 65 anos ou mais, em um
período de mais de um século, ao passo que o Brasil passará pelo
mesmo processo em apenas duas décadas (de 2011 a 2031). A
previsão é que nos próximos 40 anos, a população brasileira
como um todo cresça uma média de apenas 0,3% ao ano, mas os

180
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

idosos crescerão a uma taxa de 3,2%, ou seja, dez vezes mais


(BIRD, 2011).
As projeções do BIRD também revelam que a população
idosa brasileira deve triplicar nos próximos 40 anos, saltando de
20 milhões, no ano de 2010, para 65 milhões, em 2050, trazendo
desafios para o sistema de saúde brasileiro (BIRD, 2011). O
Brasil terá, proporcionalmente, mais idosos do que o Japão, que
é o país mais envelhecido do mundo. Outra constatação é o
aumento do número de pessoas idosas com algum tipo de
dependência em relação ao de cidadãos economicamente ativos,
ou seja, o total de idosos, na atualidade equivale a 11% da
população ativa e, em 2050, esse percentual será de 49% (BIRD,
2011).
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas com mais de 60 anos
somam 23,5 milhões dos brasileiros, mais que o dobro do
registrado em 1991, quando essa faixa etária, contabilizava 10,7
milhões de pessoas (IBGE, 2010). Comparando os números das
pesquisas de 2009 com os dados de 2011, a população idosa
aumentou 7,6%, ou seja, mais 1,8 milhão de pessoas e
estimativas revelam que, até 2025, o Brasil pode apresentar a
sexta maior população de idosos em nível mundial
(SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008). Ao mesmo tempo, o número
de crianças de até quatro anos no país caiu de 16,3 milhões, em
2000, para 13,3 milhões, em 2011 (IBGE, 2010).
Além do aumento percentual da população idosa nos
próximos 30 anos, outro aspecto importante observado é o de
menor disponibilidade de ajuda familiar para os idosos que
precisam de acompanhamento, por causa da saída da mulher,

181
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

que geralmente assume o papel de cuidadora do idoso


dependente, do ambiente doméstico para o mercado de trabalho
e da mudança nos modelos e valores familiares. A projeção do
BIRD é que o número de idosos sem cuidados familiares
duplique até 2020 e quintuplique até 2040 (BIRD, 2011).
A apresentação desse cenário pode ser reflexo da
combinação de diversos fatores, como a diminuição das taxas de
fecundidade, redução da mortalidade, ampliação da expectativa
de vida ao envelhecer, melhoria dos serviços de saúde, o uso de
novas tecnologias em geral, entre outros (IBGE, 2010).
Esse novo perfil demográfico, de acordo com estudiosos de
população, tende a gerar grandes desafios para o sistema
público, principalmente para a saúde e previdência social, pelo
fato de o país não ter se preparado de forma adequada para se
adaptar às demandas dessa parcela da população (WONG;
CARVALHO, 2006).

Conceitos e características da deficiência


A definição do termo deficiência traz conotações de
natureza social, política, cultural, religiosa, entre outras, sendo
influenciada pelo contexto histórico inerente às diferentes etapas
da civilização humana. A deficiência não é uma situação nova,
desde os seus primórdios a humanidade convive com pessoas
portadoras desse tipo de agravo. Na Era Primitiva, as pessoas
com algum tipo deficiência sofriam práticas de extermínio e
abandono, pois elas não serviam à própria sobrevivência e ao clã
(SCALZER, 2002). Durante a Idade Antiga a deficiência era
comparada a um fardo, uma espécie de castigo divino ou pecado
o qual a pessoa carregava consigo, razão da proibição na

182
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

participação em cultos de cunho religioso (SIGAUD; REIS,


1999).
Com o cristianismo, na Idade Média, as pessoas com
deficiência passaram a ter a vida poupada, mas eram confinadas
em vales e porões (OLIVEIRA, 2010). Com os novos ideais
lançados pela Revolução Francesa e com a expansão da ciência,
começou-se a pensar em maneiras de compensar a deficiência e
ela passou a ser considerada remediável (OLIVEIRA, 2010).
Com a presença de indivíduos mutilados da Revolução
Industrial e da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se um processo
de criação de leis trabalhistas e atenção especializada para as
pessoas com deficiência (BAHIA, 2006). Na década de 1960,
emergiram os movimentos mundiais e nacionais que ergueram o
paradigma da inclusão com o lema de “equiparação de
oportunidades”, norteado pela noção de pleno gozo dos direitos
por todo e qualquer cidadão, trazendo à tona discussões acerca
das pessoas com deficiência (SASSAKI, 2006).
A partir do século XX, grandes mudanças ocorreram na
sociedade e conquistas significativas foram alcançadas pelas
pessoas com deficiência, nos mais variados campos, como o
social, de saúde, educacional, nas políticas públicas de bem-estar,
o que fez evoluir das ações de assistência e promoção social para
as de seguro social e saúde pública. Também foram realizados
encontros e congressos que tratavam sobre o assunto levando à
apresentação e discussão dos problemas e demandas dessa
população. Começaram a ser elaboradas as primeiras legislações
sobre previdência social, direitos do trabalho, reabilitação e
inserção social, além do aparecimento de entidades e instituições
privadas voltadas para essas questões.

183
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

A definição de deficiência ainda não está totalmente


estabelecida, é possível identificar duas grandes tendências, como
a estadunidense, baseada nos direitos civis que adota o termo
“pessoa com deficiência” ou “pessoa portadora de deficiência”, e a
britânica, que se baseia no modelo social da deficiência,
utilizando o termo “pessoa deficiente” ou “deficiente” (DINIZ, 2003).
Na Legislação Brasileira, a Lei nº 7.853/1989 (BRASIL,
1989), que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, utiliza a nomenclatura “pessoa
portadora de deficiência”, que é designada como “a pessoa que
possui limitação ou incapacidade para o desempenho de
atividades” (BRASIL, 1989). Ou seja, com a alteração completa
ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, que
acarreta o comprometimento da função física, apresentando-se
sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia,
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de
membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com
deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades
estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho
de funções (BRASIL, 1989).
Durante algum tempo, o uso do termo “deficiente” para se
referir às pessoas que experimentavam a deficiência foi evitado
por ser percebido como um algo estigmatizante, sendo atribuídos
outros termos alternativos como “pessoa portadora de
necessidades especiais”, “pessoa portadora de deficiência” ou o
mais recente, “pessoa com deficiência”, contudo, sempre
buscando destacar a importância da pessoa quando feita
referência à deficiência (CAMARANO, 2004).

184
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

No dicionário da língua portuguesa o termo “deficiente” é


descrito como falho, carente, incompleto, imperfeito
(FERREIRA, 2010). Esse conceito é vinculado somente ao
aspecto biológico do indivíduo, que busca compreender a
deficiência com base nas explicações fisiológicas e anatômicas.
No entanto, Resende e Neri (2009) explicam que, no aspecto
social, a deficiência pode ser compreendida como resultado da
falta de equilíbrio entre as condições do indivíduo que é
acometido por uma limitação funcional, suas expectativas em
relação ao desempenho nas atividades de vida diária e a carência
ou a inadequação de condições instrumentais e sociais que lhe
proporcionem funcionar adequadamente, mantendo a
autonomia e a autoestima.
De acordo com o Relatório Mundial Sobre a Deficiência
(WHO, 2012), mais de um bilhão de pessoas, em todo o mundo,
convivem com alguma forma de deficiência, e dessas,
aproximadamente 200 milhões apresentam dificuldades nas suas
atividades funcionais. A tendência é que, com o envelhecimento
da população, esse número aumente, pois os idosos apresentam
risco maior de doenças crônico-degenerativas, como diabetes
mellitus, doenças cardiovasculares, acidente vascular encefálico
(AVE), entre outras, que podem ter como consequência uma
deficiência física.
Dados do IBGE (2010), apresentados pelo Censo 2010,
revelam que, no Brasil, aproximadamente 45 mil pessoas
apresentam pelo menos uma deficiência. Na análise por sexo,
26,5% da população feminina (25,8 milhões) possuía alguma
deficiência, contra 21,2% da população masculina (19,8
milhões). O IBGE (2010) também investigou a incidência das
deficiências por faixa de idade e os dados indicaram que, em

185
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

crianças de 0 a 14 anos de idade, 7,5% apresentaram pelo menos


um tipo de deficiência. Na população de 15 a 64 anos, a
prevalência de pelo menos uma das deficiências foi 24,9%, ao
passo que na população com 65 anos ou mais, a prevalência
atingiu mais da metade (67,2%) (IBGE, 2010). A explicação para
o aumento proporcional da prevalência de deficiência em
relação à idade pode ser atribuída às peculiaridades decorrentes
do processo natural de envelhecimento ou como consequência
das doenças crônicas que afetam mais as pessoas idosas.
Em relação ao tipo de deficiência, a visual atinge 35 milhões
de pessoas (37,4%), 16,0% dos homens e 21,4% das mulheres,
seguida da deficiência motora, com 13,3 milhões de pessoas
(5,3% homens e 8,5% mulheres), a auditiva atinge 9,7 milhões
de pessoas (5,3% dos homens e 4,9% das mulheres), e mental ou
intelectual, 2,6 milhões de pessoas (1,5% homens e 1,2%
mulheres).
No entanto, a pessoa deficiente não pode ser taxada como
doente, como muitas vezes tem acontecido na sociedade. De
acordo com a Política Nacional de Integração da Pessoa com
Deficiência - Lei 7.853, as deficiências podem ser parte ou
expressão de uma condição de saúde, mas não indicam a
presença de uma doença ou que a pessoa deva ser considerada
doente (BRASIL, 1989). É preciso compreender a deficiência,
mesmo que esteja relacionada a uma doença ou a uma sequela
de um processo mórbido de longa duração, tecnicamente, não
pode ser atrelada à doença.
Existe ainda, variações relacionadas ao conceito de
deficiência, quanto ao modelo médico e ao modelo social, o que
pode dificultar a troca de informações nas discussões, pesquisas,

186
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

planejamento e execução das ações em prol da pessoa com


deficiência. Esses dois modelos são apresentados separados, mas
a deficiência não deve ser vista como algo somente médico ou
somente social, é necessária uma abordagem mais equilibrada,
que dê a devida importância aos diferentes aspectos que
envolvem esse fenômeno, como é abordado no Relatório
Mundial Sobre a Deficiência (WHO, 2012).
Um terceiro modelo é apresentado por Pereira (2006), o
religioso, que estaria presente desde os primórdios da deficiência,
em que acreditava-se que os espíritos maléficos ou benévolos
tinham o poder para influenciar o comportamento e a vida das
pessoas, com o passar dos anos essas explicações sobrenaturais
foram substituídas pelas explicações naturalistas.
O modelo médico considera a deficiência como um
conjunto de teorias e práticas assistenciais em saúde, que
pressupõe relação de causalidade entre a lesão ou a doença e a
experiência da deficiência. A deficiência, nesse modelo, é a
expressão de uma limitação corporal do indivíduo para interagir
socialmente (BAMPI; GUILHEM; ALVES, 2010).
Nesse modelo médico, as deficiências podem ser
classificadas quanto à disfunção em:
1) deficiência física de origem motora: amputações,
malformações ou sequelas de vários tipos;
2) deficiência sensorial: auditivas (surdez total ou parcial) e
visuais (cegueira total ou parcial);
3) deficiências mentais de vários graus, e de origem pré, peri
ou pós-natal;

187
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

4) múltiplas: associação de duas ou mais deficiências


(BRASIL, 1989).

Quanto à origem, a deficiência pode apresentar-se de duas


formas: perinatais, que incluem as congênitas (aquelas
provenientes desde o nascimento por malformações, por doença
da mãe ou do feto e distúrbios genéticos), e peri e pós-natais, que
são adquiridas ao longo da vida, por exemplo as paralisias,
hemiplegia, tetraplegia, amputações, entre outras (BRASIL,
1989).
Em relação à duração, a deficiência pode se apresentar de
maneira temporária (quando tratada, permite que o indivíduo
volte às suas condições anteriores); recuperável (quando permite
melhora diante do tratamento, ou suplência por outras áreas não
atingidas); definitiva (quando apesar do tratamento, o indivíduo
não apresenta possibilidade de cura, substituição ou suplência);
compensável (que permite melhora por substituição de órgãos
como o uso da prótese na amputação) (MATTOS; GORGATTI,
2003).
O uso de nomenclatura própria e categorização para definir
e classificar a deficiência é uma maneira de ajudar a
compreender melhor o problema e adotar medidas de atenção
aos portadores de deficiência. Com base nisso, em maio de 2001
foi inserida na Família de Classificações Internacionais da
Organização Mundial de Saúde (OMS) - World Health
Organization Family of International Classifications (WHO-FIC)
(WHO, 2001) a Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF), constituindo o quadro de referência
universal, adotado pela OMS, para descrever, avaliar e medir a

188
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

saúde e a incapacidade quer no âmbito individual, quer no


âmbito da população. A CIF é uma classificação com múltiplas
finalidades, pode ser utilizada de forma transversal, em
diferentes áreas disciplinares e setores, como o da saúde,
educação, segurança social, emprego, economia, política social,
desenvolvimento de políticas e de legislação em geral e alterações
ambientais. Com a CIF é possível estabelecer uma linguagem
padronizada e um modelo para a descrição da saúde e dos
estados relacionados à saúde, permitindo a comparação de
dados entre países, serviços de atenção à saúde, assim como o
acompanhamento no transcorrer de tempo.
Os conceitos apresentados na CIF sustentam um novo
paradigma para pensar e trabalhar a deficiência e a
incapacidade, em que não são observados somente as condições
de saúde-doença, mas também o contexto do meio ambiente
físico e social, as diferentes percepções culturais e atitudes em
relação à deficiência (FARIAS; BUCHALLA, 2005). Essa
classificação está baseada numa abordagem biopsicossocial que
incorpora os componentes de saúde nos níveis corporais e sociais
(WHO, 2001). Assim, na avaliação de uma pessoa com
deficiência, esse modelo destaca-se do biomédico, baseado no
diagnóstico etiológico da disfunção, evoluindo para um modelo
que incorpora as três dimensões: a biomédica, a psicológica
(dimensão individual) e a social (FARIAS; BUCHALLA, 2005).
Nesse modelo, cada nível age sobre e sofre a ação dos demais,
sendo todos influenciados e influenciáveis. A CIF reflete a ideia
de que a deficiência é o resultado de interação de habilidades,
capacidades e meio ambiente (WHO, 2001).

189
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

O uso de categorizações para os portadores de deficiência


pode ser percebido como forma de estigmatização. Entretanto,
não se pode deixar de usá-las, pois elas contribuem para a
compressão dos problemas inerentes aos grupos de pessoas
portadoras de diferentes deficiências (RESENDE, 2001). Por
isso, a CIF foi aceita pelas Nações Unidas como uma das suas
classificações sociais, considerando-a como o quadro de
referência apropriado para a definição de legislações
internacionais sobre os direitos humanos, bem como, de
legislações nacionais.
Na contemporaneidade, as pessoas portadoras de
deficiência necessitam de recursos pessoais e sociais para
enfrentar os preconceitos e estereótipos existentes na sociedade.
Essa parcela da população, assim como a pessoa idosa, ainda é
objeto de discriminação e preconceito, pois são visualizadas de
forma negativa no meio da multidão (MONTANARI, 1999).
Nesse contexto, o modelo social da deficiência surgiu como
alternativa em relação à abordagem do modelo médico sobre a
deficiência. Nesse, sugere-se que a deficiência não pode ser
percebida e entendida apenas como uma questão individual, mas
uma questão da vida em sociedade, transferindo a
responsabilidade pelas desvantagens das limitações corporais do
indivíduo para a incapacidade da sociedade em prever e se
ajustar à diversidade (OLIVER, 1990).
Assim, a diferença presente entre o modelo social e o
modelo médico está na lógica de causalidade da deficiência. Para
o modelo social, a sua causa está na estrutura social. Para o
modelo médico, no indivíduo. A esse respeito, Camarano (2004,
p. 108), escreve que “O ponto de partida teórico do modelo

190
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

social é de que a deficiência é uma experiência resultante da


interação entre características corporais do indivíduo e as
condições da sociedade em que ele vive”, no entanto, a
organização social se mostra pouco sensível à diversidade
corporal.
Destarte, a deficiência, no modelo social, deixa de ser um
problema trágico, que afeta o indivíduo de forma isolada, que a
única resposta social apropriada é o tratamento médico (modelo
médico), para ser percebida como uma situação de
discriminação coletiva e de opressão social, em que a única
resposta apropriada é a ação política (OLIVER; BARNES,
1998).
Essa perspectiva social não significa, no entanto, que os
teóricos que a apoiam não reconheçam a importância dos
avanços biomédicos para o tratamento ou melhoria do bem-estar
corporal dos deficientes. Ao contrário, novas técnicas de
tratamento proporcionadas pelos avanços biomédicos foram e
são bem-vindas.

O envelhecer com deficiência física


A condição de velhice e deficiência física gera na mente
humana pré-conceitos e tabus, como o mito da dependência e da
improdutividade que vêm sendo perpetuados ao longo dos anos
(RESENDE, 2001). Quando esses dois aspectos, envelhecimento
e deficiência, são encontrados no mesmo indivíduo, a tendência
é achar que as dificuldades e limitações para realização das
atividades da vida diária serão ainda maiores. Visão essa
estigmatizada, discriminatória e limitada em relação às
capacidades dessa parcela da população.

191
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

Muitas vezes o termo “deficiente” carrega consigo uma


conotação negativa que pode afetar não só o indivíduo em si,
que se identifica como diferente dos demais por apresentar
alguma alteração de natureza física, visual, mental, entre outras,
mas também pode afetar a sua conduta, seus pensamentos e sua
identidade, os quais passam a se confundir com a deficiência que
possui.
Desse modo, pode-se observar que, no transcorrer da
história, cada cultura apresentava concepções próprias a respeito
dessa temática, em que pessoas com deficiência foram
submetidas à prática do extermínio, exclusão, institucionalização
e segregação do convívio social, tornando-se parte das minorias
que, assim como outros grupos, são condicionados à
desvantagem social em relação aos outros (PEREIRA, 2006). No
contexto atual, busca-se a integração e a inclusão social das
pessoas com deficiência (PEREIRA, 2006) e da pessoa idosa,
vislumbrando uma época de respeito e reconhecimento dos
direitos e do papel social desses indivíduos.
A imagem da deficiência é, muitas vezes, empregada como
metáfora associada a temas como morte, tragédia, esforço e
fragilidade, que está presente nas imagens descritas na literatura,
cinema, fotografia e, até mesmo, nos relatos bíblicos (FERRER;
GREGG, 1998). Diante dessa exposição e massificação das
imagens, o indivíduo, ao tomar consciência de que é “uma
pessoa com deficiência”, a partir de uma deficiência adquirida
recentemente, pode trazer consigo a estigmatização, o conflito e
o sofrimento.
Essa mesma ideia é, muitas vezes, atribuída ao
envelhecimento, mesmo não sendo patológico, é descrito como

192
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

uma fase de fragilidade, incapacidade, doença, dependência,


improdutividade e ocupação de um papel secundário na
sociedade (SOUSA; CERQUEIRA, 2006). Essa visão provém da
forma estigmatizada de conceber a velhice, decorrente do
processo sociocultural, que expressa um sentimento de declínio e
de menos valia aos papéis sociais, econômicos e culturais da
pessoa idosa, dentro da sociedade em que vive (ARCURI;
OLIVEIRA; RAMOS, 2004; GOLDMAN, 2008).
Podemos dizer que, apesar do avanço científico-tecnológico,
não se extinguiram do imaginário social determinados conteúdos
e significados pejorativos acerca da pessoa com deficiência e da
pessoa idosa. No entanto, essa situação se apresenta conflituosa,
uma vez que “várias pessoas idosas se mantêm saudáveis,
demonstrando que há vários modelos de envelhecimento e de
velhice” (FALCÃO; CARVALHO, 2010, p.12). Nesse sentido,
envelhecer é uma experiência plural e não precisa
necessariamente estar acompanhada de perdas, doenças e
afastamento social.
Bosi (2004) salienta a intolerância em relação à figura da
pessoa idosa fazendo uma crítica à sociedade moderna, que
oprime a pessoa idosa utilizando-se de mecanismos institucionais
visíveis (a burocracia da aposentadoria e dos asilos), de
mecanismos psicológicos sutis (recusa do diálogo e da
reciprocidade que forçam a pessoa idosa a comportamentos
repetitivos e monótonos, a tolerância de má-fé que, na realidade,
é discriminação) e de mecanismos técnicos e por mecanismos
científicos (as “pesquisas” que demonstram a incapacidade e a
incompetência da pessoa idosa).

193
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

No aspecto individual, a alteração permanente na aparência


física, por causa da aquisição de uma deficiência física ou pelo
processo natural do envelhecimento, pode passar a ser vista
como objeto de vergonha, já que adquirem imagem e
incapacidades físicas em relação ao padrão de estética e
produtividade da sociedade, o que pode gerar, no indivíduo,
sentimentos perturbadores, ansiedade, medo, insegurança,
depreciação e falta de autoestima, levando a situações de
rejeição de suas formas de expressão e de sua convivência social.
Sobre essa questão social, Paiva e Goellner (2008) relatam
que as relações sociais podem modificar-se na medida em que o
indivíduo passa por uma alteração do corpo, pois essa mudança
pode produzir um novo lugar social e um modo diferente de
permanecer no mundo. Assim, a forma de se ver, por si e pelos
outros, em relação à deficiência e ao envelhecimento, pode
definir a dinâmica das interações sociais na vida do indivíduo
idoso com deficiência física.
Outra atitude relacionada à deficiência é a piedade que,
segundo Pereira (2006, p. 149) é uma prática antiga, inadequada
e desrespeitosa, pois, “além de tomar a pessoa com deficiência
por objeto de caridade, um gesto dessa natureza é bem mais
eloquente do que uma declaração verbal do tipo ‘você é um
inválido’, ou ‘você é um incapaz’”.
Para Amaral (1992) existem dois tipos de deficiência. Uma
seria a deficiência primária, que se refere à deficiência
propriamente dita, ou seja, o impedimento, o dano ou
anormalidade de uma estrutura ou função (o olho lesado, o
braço amputado). Essa tem relação com fatores intrínsecos ou
das limitações em si, que envolvem a díade pessoa e corpo. A

194
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

outra seria a deficiência secundária, que é aquela não inerente à


diferença em si, mas relacionada à leitura que a sociedade faz
dessa diferença. Assim, inclui-se as significações afetivas,
emocionais, intelectuais e sociais que o grupo atribui à diferença.
Na sociedade atual a deficiência secundária pode ser
identificada como forma de desenvolver ações sociais de
preconceitos, estereótipos, que acabam por legitimar a diferença
e, consequente, exclusão, aprisionando o indivíduo com
deficiência na rede das significações da deficiência criada pela
sociedade, sem qualquer conhecimento sobre o assunto, baseado
somente no preconceito (AMARAL, 1992).
Entretanto, a deficiência e o envelhecimento também
podem ser acolhidos como um fator positivo para o
desenvolvimento do indivíduo e serem aceitos gerando estima,
confiança e segurança em si e transmitido para os outros. A esse
respeito, Resende (2001) afirma que as limitações impostas pela
deficiência e pelo envelhecimento são superadas e as pessoas se
adaptam às suas condições, pautadas nas circunstâncias de vida e
na influência de fatores como a personalidade, as metas de vida,
o temperamento do indivíduo e de fatores ambientais.
Nesse contexto, um dos grandes desafios para a pessoa idosa
com deficiência física é vencer os obstáculos sociais e as atitudes
que podem segregar mais que as limitações impostas pelos anos
vividos ou pela deficiência. Muitas vezes, as dificuldades sociais
enfrentadas por esses indivíduos são acarretadas pelas
deficiências da sociedade em entender, atender e aceitar as
demandas específicas dessa parcela da população.

195
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

Memórias e narrativas de vida de idosos com


deficiência física
De acordo com Bosi (2004), os velhos são os “guardiões do
passado”. Por meio das memórias das pessoas idosas são
percebidas as transformações ocorridas no espaço, na história,
nas instituições, nos papéis sociais e no imaginário social. As
relações do passado se tornam presentes por meio das
lembranças e o idoso é peça fundamental na transmissão dos
valores e crenças de uma geração. Corroborando com esse
pensar, Bobbio (1997) relata que o grande patrimônio da pessoa
idosa está no mundo maravilhoso da memória, fonte inesgotável
de reflexões sobre nós mesmos, sobre o universo em que
vivemos, sobre as pessoas e acontecimentos que, ao longo do
caminho, atraíram nossa atenção.
Entretanto, o que se observa na sociedade atual é que a
pessoa idosa, assim como a pessoa com deficiência, permanece à
margem por ter suas representações coletivas, em grande parte,
suprimidas no cotidiano. Entretanto, a memória de idosos pode
deixar às claras um mundo com riquezas e diversidades que não
conhecemos.
Ao procurar conhecer as memórias do idoso com
deficiência física, pode-se identificar as transformações
vivenciadas com o envelhecer e com a deficiência, conhecer sua
história de vida, suas expectativas, dilemas e episódios marcantes
dessa trajetória em construção e identificar em que quadros
sociais estão sustentadas essas memórias.
A representação social acerca da pessoa idosa envelhecer
com deficiência física, no presente, está impregnada de aspectos
da memória herdada do contexto histórico e da história de vida

196
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

desse idoso. Assim, durante o processo histórico os sentidos


atribuídos ao envelhecimento e à deficiência física passaram por
várias mudanças, de acordo com as ideias e ações da sociedade
daquele momento. Ou seja, o idoso constrói o sentido para o
envelhecimento e a deficiência física em um mecanismo contínuo
de ressignificação que agrega significados herdados do passado
com conceitos vivenciados no presente.
Ao se ocupar do passado, ao repensar suas experiências, o
velho reconstrói sua identidade. As memórias de eventos
marcantes proporcionam lições e insights à composição da
história de vida (GAUER; GOMES, 2008). Nesse sentido,
memórias de eventos marcantes constituem marcos
determinantes na organização da história de vida do indivíduo.
Elas permitem que o sujeito defina a si mesmo, se reconheça na
sua própria experiência e se expresse a respeito da sua trajetória
singular (GAUER; GOMES, 2008). Segundo Damásio (2003),
recordar eventos altamente emocionais, positivos ou negativos,
pode ajudar a prevenir situações ruins e a tomar a direção do
sucesso.
De acordo com Halbwachs (2006), os relatos de experiência
fazem o sujeito mais do que reviver histórias, ele reconstrói,
repensa com imagens e ideias de hoje, as experiências do
passado. A lembrança, para o autor, é projetada como se fosse
um filme construído pelos acontecimentos presentes do indivíduo
no conjunto daqueles que povoam sua consciência atual.
Ao expor suas experiências de vida, o idoso com deficiência
física permite trazer à tona a memória individual e coletiva que é
recuperada com base nos acontecimentos significativos que vêm
à lembrança. Isso permite ter acesso ao testemunho subjetivo do

197
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

indivíduo, à luz das suas experiências e da sua vida particular,


associado ao reflexo de uma época, de suas normas sociais de
valores partilhados pela sociedade que esse indivíduo pertence.
Ele pode rever a sua trajetória de vida, aprofundar e refletir
sobre ela, podendo ser considerada uma atividade de
autoconhecimento.
Além disso, pode refletir sobre as influências advindas da
sociedade em que vive, uma vez que as lembranças estão
relacionadas com os grupos sociais a que fazem parte, como a
família, religião, classe social. São os marcos sociais que se refere
Halbwachs (2004). Assim, a lembrança do trajeto de vida e da
experiência de adquirir uma deficiência física, por parte da
pessoa idosa, parecer ser um evento íntimo e particular, vividos
em determinado contexto social. Mas, segundo Halbwachs
(2006), que foi um dos primeiros autores a dedicar-se ao estudo
da memória como fenômeno social, para que as memórias
tenham significado e sejam validadas elas precisam dos outros,
necessitam ser partilhadas com os outros.
Para Halbwachs (2006), as memórias de uma pessoa nunca
podem ser apreciadas como estritamente individuais, uma vez
que todo indivíduo está inserido em uma sociedade,
relacionando-se com grupos, com outros indivíduos, ainda que
apenas em pensamento. Mesmo as recordações consideradas
mais pessoais de algum acontecimento, em que apenas a pessoa
que lembra esteve presente, são, para ele, de alguma forma,
coletivas. Em seu pensamento as lembranças são sempre
relacionadas a quadros sociais, com base nas referências de um
determinado ambiente coletivo (HALBWACHS, 2004).

198
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

Do ponto de vista social, as práticas de reminiscência, pelas


quais se compartilham as memórias de eventos com outras
pessoas, servem ao estabelecimento de intimidade e à veiculação
de mensagens de crescimento (GAUER; GOMES, 2008). Essas
memórias proporcionam compreender o modo de ser do
indivíduo como sujeitos que construíram suas experiências em
um contato social, cultural, familiar, escolar e em outras
instâncias que contribuem para o seu modo de ser, tanto
individual, quanto coletivo.
Assim, a compreensão das memórias dos idosos com
deficiência física pode servir não apenas para o conhecimento do
indivíduo, mas também essas lembranças, as experiências
narradas podem contribuir para que outras pessoas, idosas ou
não, que possuem o mesmo quadro ou não, possam ser
influenciadas e estimuladas pelos fatos narrados. A contribuição
das narrativas dos idosos não se limita ao aspecto particular,
individual, mas também para o coletivo e social. Por meio das
lembranças podemos ter contato com as experiências vividas e
seus sentidos podem ser transmitidos ao longo das gerações,
influenciando a compreensão do mundo atual. De fato, as
narrativas de momentos vivenciados pela pessoa idosa agregam
múltiplas temporalidades (RICOUER, 2007).
A respeito disso, Bosi (2003), em sua obra “O Tempo Vivo da
Memória: Ensaios de Psicologia Social”, escreve que a toda hora
somos capazes de recuperar aspectos de nosso passado, mas o
relato primordial é o que pode ser feito às outras pessoas
ganhando, assim, uma dimensão social, fazendo com que os
outros ampliem sua experiência, por meio das nossas palavras.
Desse modo haverá troca e cumplicidade. A autora também
apresenta, como exemplo, o título das memórias de Márquez

199
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

(2002): “Viver, para Contar” (a vida), que serve para todos nós.
Viver algo notável gera a necessidade de contar e tudo o que nos
acontece é notável porque nos concerne. Talvez se possa dizer,
parafraseando Márquez, que se nos lembramos é para poder
contar (BOSI, 2003). O falar aproxima as pessoas e as coloca
num campo de significados comuns.
Corroborando, Arendt (2000) declara que os legados de
uma geração podem ser transmitidos às gerações seguintes por
meio da palavra. Por meio de suas “histórias”, pouco expostas, as
pessoas idosas com deficiência podem se inscrever socialmente e
assim evidenciarem personalidade política, atuação social,
cultural e econômica (MEIHY; HOLANDA, 2013). Com base
nos relatos e situações de pessoas idosas com deficiência física
pode vir à tona uma problemática pouco visível, convocando a
discussão e a produção do saber e fazer na política pública
(MEIHY; HOLANDA, 2013). Para Bosi (2003, p. 69): “Uma
história de vida não é feita para ser arquivada ou guardada
numa gaveta como coisa, mas existe para transformar a cidade
onde ela floresceu.” A história de vida narrada pela pessoa idosa
com deficiência física não é apenas o recolhimento do
testemunho pessoal, ela pode ser uma maneira de resgatar as
camadas da população discriminadas e excluídas da sociedade.
Assim, pensando tanto na necessidade da apropriação da
própria história, quanto na função social da transmissão da
história da qual o sujeito é portador, torna-se necessário criar
situações nas quais essas experiências vividas sejam relembradas,
ressignificadas e contadas, ainda que os espaços para essas
atividades estejam restritos. Ao idoso poucas vezes lhe é
oferecida a oportunidade de compartilhar suas experiências de

200
Contexto e memórias do envelhecer com deficiência física

vida, mesmo no seio familiar, tornando-se solitários e carentes de


comunicação.

Considerações finais
A população idosa está aumentando a cada dia e traz
consigo o aumento de pessoas com deficiência física, seja por
causa do processo natural do envelhecimento ou pelas
consequências dos agravos de saúde que acometem, em maior
proporção, essa faixa etária. Diante disso, a visão do envelhecer
com deficiência necessita tomar outros rumos, passando a ser
compreendida na totalidade da vida do seu portador,
considerando não somente o aspecto cronológico e físico, mas
outros aspectos, como a dimensão subjetiva e os variados
contextos socioculturais.
Assim, ir ao encontro das memórias e narrativas de vida dos
idosos com deficiência física é uma maneira de dar voz a essa
parcela da população que, geralmente, é estigmatizada e
excluída por parte da sociedade. As experiências e os sentidos
atribuídos ao envelhecer com deficiência física podem ser
disponibilizados ou socializados, servindo como fonte de
informações para os profissionais, como os da área de saúde,
para uma maior compreensão e desenvolvimento de ações de
prevenção e cuidado à saúde dessa parcela da população; para a
família no apoio e ajuda nos embates da vida cotidiana; para
outras pessoas que estão passando pelo mesmo problema,
servindo como um exemplo e incentivo para lutar e vencer os
obstáculos; e para a sociedade em geral, que deve se
conscientizar que esses indivíduos são pessoas capazes, apesar de
suas limitações.

201
Tatiane Dias Casimiro Valença e Luciana Araújo dos Reis

Na conjuntura atual, tornam-se emergentes e necessários


estudos multidisciplinares mais aprofundados sobre o envelhecer
com deficiência, a fim de compreender de forma mais ampla o
tema e a oportunidade para à quebra de tabus e preconceitos.

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208
CAPÍTULO 9

AVANÇOS TECNOLÓGICOS E SEU


ALCANCE EM IDOSOS VULNERÁVEIS
Maykon dos Santos Marinho
Luana Araújo dos Reis
Pollyanna Vianna Lima
Luciana Araújo dos Reis

Introdução
A tualmente, grandes transformações no cenário mundial têm
sido observadas. Uma das características mais marcantes da
sociedade no século XXI é o aumento progressivo da população
idosa e o avanço cada vez mais intenso das tecnologias. O uso
dessas novas tecnologias vem adquirindo importância cada vez
maior em diferentes segmentos da sociedade, especialmente
aquelas implementadas para atender aos idosos fragilizados e
dependentes, que têm a necessidade de manter sua capacidade
funcional, autonomia e qualidade de vida.
Assim como o crescente avanço da tecnologia e da utilização
da internet, diversas pesquisas realizadas atualmente apontam
para um crescimento inquestionável da população idosa, não só
no Brasil, mas também no mundo. Segundo a Organização das
Nações Unidas (ONU, 2009), o período de 1975 a 2025 foi
considerado como a “Era do envelhecimento” da população
humana, por causa do aumento do número de idosos no mundo.

209
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

Estima-se que entre os anos de 1980 e 2020 a população mundial


total deverá crescer 80%, ao passo que o número de idosos
crescerá 160% nesse mesmo período (SAMPAIO et al., 2007).
Em 1940, a proporção de pessoas idosas representava 4,1%,
ao passo que em 2000 e 2010, esse grupo populacional passou a
representar 8,6% e 10,79%, respectivamente (IBGE, 2008). Assim,
o Brasil já pode ser considerado estruturalmente um país
envelhecido, uma vez que mais de 7% da sua população é idosa
(REIS; MASCARENHAS; TORRES, 2008). Esse aumento da
expectativa de vida deve-se, em parte, pela melhoria das condições
de vida propiciadas pelas ciências, que colabora com estudos no
conhecimento de novas doenças, assim como tratá-las e
possivelmente curá-las. A medicina e suas descobertas
possibilitaram maior prolongamento da vida, ao mesmo tempo em
que doenças vinculadas ao envelhecer foram surgindo, e hoje
intensificam os estudos para propiciar ao grupo populacional da
terceira idade um vivenciar mais saudável.
Em função desse envelhecimento, que normalmente pode vir
acompanhado da ocorrência de enfermidade e comprometimentos
da capacidade funcional, – uma vez que os idosos são mais
vulneráveis às doenças e às suas consequências, resultando assim no
aumento de doenças e incapacidades – faz surgir novas demandas
que priorizam o bom funcionamento cognitivo e físico, com baixo
risco de doenças e de incapacidades funcionais, bem como auxiliam
no envolvimento ativo e participativo na sociedade. Nesse contexto
de idosos vulneráveis, os avanços tecnológicos têm auxiliado os
idosos em vários setores, como no diagnóstico e na prevenção de
doenças características desse grupo, e especialmente na manutenção
de habilidades funcionais que promovam inclusão, independência,

210
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

melhorando, assim, a autonomia e a qualidade de vida desses idosos


(GALVÃO FILHO, 2013).
Para discutir os avanços tecnológicos e seu alcance em idosos
vulneráveis neste capítulo, inicia-se discorrendo sobre os avanços
tecnológicos na saúde, bem como os avanços tecnológicos e o
envelhecimento, em seguida, faz-se uma breve reflexão sobre
envelhecimento e vulnerabilidade, finalizando com o acesso dos
idosos vulneráveis aos avanços tecnológicos.

Avanços tecnológicos e saúde


A sociedade contemporânea é caracterizada por profundas e
constantes mudanças, em que são crescentes e cada vez mais
acelerados os avanços tecnológicos na área da saúde, colocando à
disposição dos profissionais e usuários os mais diversos tipos de
tecnologias. Observa-se um acelerado processo de transformação e
inovação tecnológica, que é marcado pela introdução de grande
volume de técnicas, instrumentos, recursos diagnósticos e
terapêuticos, produzindo mudanças significativas nas práticas de
saúde cotidianas, nos processos de diagnóstico e de terapêutica
utilizada e nas formas de organização e reorganização dos serviços
de saúde (CAETANO; VIANNA, 2006; NOVAES, 2006).
Os avanços tecnológicos na saúde trouxeram muitos benefícios,
como as informações obtidas pelos tomógrafos, a ressonância
nuclear, o amplo uso do ultrassom como método diagnóstico, a
mamografia na detecção precoce do câncer de mama, as detalhadas
informações obtidas pela endoscopia digestiva e cineangiográfica, as
microcirurgias, procedimentos cirúrgicos com auxílio da robótica e
parâmetros biomecânicos para um diagnóstico, prognóstico e
intervenções terapêuticas (CLIQUET, 2004).

211
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

As novas tecnologias no setor da saúde possibilitaram o


aumento da qualidade de vida, tornando-a mais fácil, confortável
e agradável (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000). Assim, com os
investimentos em tecnologias e melhoria do padrão de vida da
população, houve uma queda nos óbitos por doenças
infectocontagiosas e, consequentemente, com a maior expectativa
de vida, um aumento no número e no diagnóstico de doenças
crônico-degenerativas (BRITO et al., 2012). Isso gerou novas
demandas e necessidades ao serviço público de saúde, que ainda
precisa se adequar.
No campo da prevenção, visando à remoção de fatores de
risco, o avanço tecnológico das imunizações permitiu a
erradicação mundial de doenças letais ou incapacitantes, como a
varíola, e a erradicação em muitos países do sarampo e da
poliomielite (HOMMA et al., 2011). A vacinação na perspectiva
da organização do sistema de saúde brasileiro é um dos serviços
oferecidos pela rede pública que vem alcançando índices
satisfatórios, uma vez que o Programa Nacional de Imunização
(PNI) do Brasil é hoje considerado um dos mais completos entre
todos os países (BRASIL, 2013).
Atualmente, o Ministério da Saúde apoia fortemente as
atividades de inovação tecnológica. Vários fóruns foram criados
para ampliar as discussões e, com maior número de atores,
desenvolver propostas específicas, como o programa de inovação
tecnológica de vacinas (Inovacina). O PNI do Brasil vem se
fortalecendo com a incorporação de novas vacinas no seu
calendário de imunizações, como as vacinas contra o rotavírus,
pneumococos conjugada, meningite meningocócica do sorogrupo
C conjugada, além do H1N1 para as populações de maior risco
(HOMMA et al., 2011).

212
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

A área de diagnóstico em saúde tem produzido e incorporado


novas tecnologias nas últimas décadas, abrangendo todas as suas
áreas. O diagnóstico laboratorial utiliza cada vez menos material
coletado, como sangue e outros fluidos, o que proporciona mais
conforto ao paciente (CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).
Além de mais precisos, é cada vez maior a detecção de marcadores
de doença cardíaca, marcadores tumorais, marcadores de doenças
crônicas (reumatológicas, por exemplo), de anticorpos contra
doenças infectocontagiosas, da dosagem de drogas no organismo.
O surgimento de aparelhos portáteis para determinação dos níveis
de glicemia revolucionou o tratamento do diabetes e trouxe a
possibilidade de melhor controle da doença pelos próprios
pacientes. Além disso, os avanços tecnológicos têm facilitado a
vida de quem sofre de diabetes. A utilização de hipoglicemiantes
orais e o aperfeiçoamento da insulina e seus métodos de
administração, como bomba de infusão e via inalatória, agulhas
cada vez mais finas, adesivos que substituem injeções, medidor de
glicemia não invasivo por meio da saliva, tornaram melhor o
controle do Diabetes mellitus tipos 1 e 2, e dessa forma melhorou a
qualidade e a expectativa de vida de seus portadores.
Os equipamentos para métodos gráficos (eletrocardiograma,
eletroencefalograma, polissonografia, eletroneuromiografia etc.)
tornaram-se mais compactos, facilitando sua utilização em
consultórios, por exemplo. Além disso, ganharam em
sensibilidade, capacidade de registro e possibilidade de conexão
com outros aparelhos de registro ou sistema de vídeo. O
diagnóstico por imagem é, talvez, a área em que as novas
tecnologias foram implantadas com maior velocidade, maior
divulgação e, consequentemente, com maiores custos, embora,
sem dúvida, com grandes benefícios (CERQUEIRA, 2007). O

213
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

aperfeiçoamento dos equipamentos de ultrassonografia, muitas


vezes portáteis, permite o diagnóstico de modo rápido, não
invasivo, de baixo custo de patologias abdominais e pélvicas.
O desenvolvimento de novos medicamentos e o
aperfeiçoamento de técnicas anestésicas e cirúrgicas provocaram
mudanças no tratamento de muitas patologias. O tratamento
medicamentoso das doenças cardiovasculares, realizado
inicialmente com diuréticos e digitálicos, ganhou em efetividade e
adesão com o desenvolvimento de novas drogas anti-hipertensivas,
como as que atuam no sistema renina-angiotensina. A terapia com
estatinas em pacientes com nível elevado de colesterol mostrou
redução de cerca de 30% de patologias coronarianas. As cirurgias
para colocação de ponte de safena foram progressivamente
substituídas pelo uso precoce de trombolíticos no tratamento do
infarto agudo do miocárdio e da angioplastia com colocação de
stents com medicamentos que desobstruem as artérias coronárias e
previnem a formação de novos trombos (MARCOLINO et al.,
2013; BRASIL, 2014).
Portanto, é possível perceber que o avanço da tecnologia foi
responsável pelo extraordinário progresso alcançado pelos diferentes
setores da sociedade moderna, de modo que, atualmente, a
tecnologia permeia praticamente todos os setores da vida humana.
Esse avanço tecnológico trouxe grandes contribuições ao setor
saúde, são exemplos desse progresso: técnicas de tratamento e
diagnóstico menos invasivas (como a endoscopia, o ultrassom e
imageologia cardíaca); desenvolvimento de medicamentos mais
eficazes que substituiriam cirurgias e internações prolongadas;
desenvolvimento de vacinas em consequência do maior
conhecimento sobre a natureza humana; mudança de hábitos e
condições de vida propiciada pela educação, principalmente, por

214
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

intermédio dos meios de comunicação (redução de gastos, por


exemplo, pela diminuição do número de fumantes e de alcoólicos);
tendência à miniaturização de equipamentos hospitalares, o que
determina a ampliação de sua capacidade, ao mesmo tempo em
que se tornam mais baratos, semelhante ao que ocorreu na indústria
de computadores e telecomunicações.
Assim, as inovações e o uso das novas tecnologias são sempre
f u n d a m e n t a i s n o p ro g re s s o d a s p r á t i c a s m é d i c a s e
consequentemente na melhoria da qualidade de vida. Incorporar
as novas tecnologias nas áreas de prevenção, diagnóstico,
tratamento e reabilitação possibilita inúmeros benefícios, seja de
pequeno ou grande impacto (ALMEIDA; MELLO, 2004).

Avanços tecnológicos e envelhecimento


Atualmente, a sociedade passa por inúmeras mudanças em
todas as áreas do conhecimento humano. Os impactos produzidos
nos últimos tempos na sociedade brasileira por meio dos avanços
tecnológicos têm provocado uma profunda reestruturação no estilo
de conduta, atitudes, hábitos e tendências da população,
principalmente da população idosa.
O aumento da expectativa de vida e do contingente de idosos é
um fenômeno mundial. Os avanços médicos e tecnológicos vêm
propiciando o aumento considerável tanto na expectativa de vida da
população, quanto na queda da taxa de natalidade (CORREA,
2009). Esse aumento da expectativa de vida deve-se, em parte, pela
melhoria das condições de vida propiciadas pelas ciências e novas
tecnologias, que colaboram com estudos no conhecimento de novas
doenças, assim como tratá-las e possivelmente curá-las. A medicina,
com suas descobertas, possibilitou maior prolongamento da vida, e

215
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

paralelamente, doenças vinculadas a esse envelhecer surgiram e


hoje, com os avanços de novas tecnologias, tem propiciado ao
público da terceira idade vivências mais saudáveis.
O processo de envelhecimento, de uma maneira geral, envolve
uma perda progressiva das aptidões funcionais do organismo
(SOUZA, 2011). Do ponto de vista fisiológico, algumas
degenerações comuns a esse processo envolvem diminuição de força
e resistência muscular, perda de massa corporal magra e redução da
flexibilidade (WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010).
Os avanços tecnológicos têm auxiliado os idosos em vários
setores, principalmente no diagnóstico e na prevenção de doenças
características desse grupo, contribuindo, dessa maneira para a
melhora da qualidade de vida na velhice. Contudo, é importante
ressaltar a necessidade de se pensar qualidade de vida não só pelo
estilo de vida, mas também as condições, hábitos individuais e modo
de vida, que juntos caracterizarão as questões relativas à saúde de
todos os segmentos da sociedade (ALMEIDA; GUTIERREZ;
MARQUES, 2012). Ademais, quando se trata de qualidade de vida
no envelhecimento, não se pode analisar fatores isolados mas, sim,
deve-se considerar a associação de diversos componentes da saúde
física, mental e social que afetam a vida dos idosos.
O impacto, na área da saúde, do aumento da expectativa de
vida é significativamente maior, atualmente, fato que se deve, entre
outros fatores, à existência de diversos exames preventivos
proporcionados pelos avanços tecnológicos e científicos no setor da
saúde, por exemplo, testes laboratoriais, bioimpedância,
eletrocardiograma, ultrassons variados que têm diagnosticado
precocemente e reduzido de maneira eficaz o número de doenças
fatais e, além disso, esses exames têm alertado para a necessidade de

216
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

se aumentar os níveis de atividade física, auxiliando assim na


diminuição do que é considerado hoje um dos maiores males
mundiais, o sedentarismo. Em relação à atividade física, sabe-se que
a adoção de um estilo de vida ativo reduz diretamente o risco de
desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas, além de
promover mudanças em relação aos fatores de risco para numerosas
outras doenças (RAPETTI; SANTOS; GOMES, 2011).
Nesse contexto, é possível perceber que as novas tecnologias
também têm auxiliado a população de forma geral, por meio das
muitas informações disponíveis sobre os alimentos e suas
consequências para a saúde (AFFONSO; SONATI, 2007). Essa
questão, no caso dos idosos, é muito relevante, pois esse grupo é
muito suscetível a doenças crônicas degenerativas nas quais a
alimentação exerce forte papel, como é o caso da hipertensão,
diabetes e obesidade. É interessante ressaltar que a qualidade de
vida no envelhecimento está focada em alguns fatores, como a
eliminação do fumo, o aumento da atividade física e a melhora de
padrões nutricionais. Além disso, há forte evidência de que esses
aspectos quando trabalhados conjuntamente geram resultados
mais eficazes e duradouros.
Aumentar o número de idosos assistidos por exames
preventivos é de suma importância, uma das formas de se alcançar
isso é a orientação por meio de programas públicos e privados,
mostrando de maneira acessível por que e como esses exames
devem ser feitos. Melhorar a qualidade de vida dos idosos é
também garantir assistência nas questões nutricionais, sociais e de
lazer. Esses contextos são constantemente beneficiados com as
novas tecnologias. No entanto, é de extrema importância que se
aumentem os investimentos na divulgação e no acesso às novas

217
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

tecnologias, para que os idosos possam usufruir integralmente de


seus direitos como cidadãos.
Quando se trata de avanços tecnológicos na velhice, percebe-se
que outros aspectos são relevantes além dos relacionados à medicina
e que também são influenciados pelo avanço tecnológico. No
âmbito social, percebe-se que um dos motivos para o
distanciamento entre os jovens e os idosos é a informática que, em
função da velocidade dos acontecimentos, muitas vezes pode ser um
fator de exclusão social e de angústia para o idoso.
Essa aproximação da realidade com o mundo virtual pode ser de
grande importância para a saúde psicológica dos idosos, uma vez que
eles se sentirão capazes de interagir com um mundo que muitas vezes
está tão distante deles. Segundo Kachar (2001), a tecnologia, no
contexto de inclusão, surge como forma de contribuição na redução
do isolamento, na estimulação mental, na diminuição do sentimento
de inutilidade, e dessa forma contribui para a promoção do bem-estar
da pessoa idosa, facilitando o estreitamento dos laços afetivos, por
meio da internet, com a aproximação de parentes e amigos.
De acordo com Kachar (2009) além da questão da inclusão
digital, que promove a integração social, os avanços tecnológicos
podem atuar na perspectiva da prevenção, ao serem utilizados para
aprimorar as habilidades cognitivas de pessoas na velhice. Um
estudo realizado por Ordonez, Yassuda e Cachioni (2010) observa
ganhos cognitivos em idosos que participaram de um processo de
inclusão digital denominado Idosos On-Line. Os autores verificaram
que o grupo experimental, ao ser comparado com um controle,
apresentou no pós-teste um aumento significativo em linguagem e
em memória. Dessa forma, ao entrar em contato com o
computador, o idoso supera o primeiro desafio dessa inclusão, e com

218
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

isso amplia as relações interpessoais e entre gerações, reduz o


isolamento social e, ao mesmo tempo, estimula a parte psíquica e
mental. O resultado desse processo é a melhoria na qualidade de
vida desses indivíduos e o sentimento de satisfação que é gerado
quando se possibilita integrá-los na modernização.
Os avanços tecnológicos podem causar certa resistência à
primeira vista, mas se tornam fascinantes quando os estigmas e
estereótipos entre idoso e tecnologia são diluídos, dando lugar a um
universo de possibilidades. Estar próximo de alguém e diminuir os
medos do envelhecer e da solidão, socializar-se, divertir-se,
encontrar amigos, ativar o corpo e os neurônios, melhorar os
processos cognitivos, esses são alguns entre tantos outros benefícios
que as novas tecnologias proporcionam aos idosos.
Diante do exposto, fica evidente que o aumento da expectativa
de vida da população é fato comprovado e mostra que muitas
questões epidemiológicas e sociais estão sendo solucionadas. No
entanto, é imprescindível aumentar ainda mais o número de idosos
beneficiados pelo avanço tecnológico, pois ele ainda é restrito a um
segmento mais privilegiado da sociedade. Os avanços tecnológicos
devem ser feitos de maneira maciça e eficaz, principalmente com os
grupos com necessidades especiais da sociedade, incluindo os idosos.
Dentro dessa lógica, um dos grandes problemas relacionados à
saúde pública é prevenir doenças que, além de aumentar os gastos
orçamentários, comprometem a qualidade de vida dos idosos.
No entanto, é imprescindível ressaltar a necessidade de
alertar sobre os aspectos negativos que inevitavelmente esse
avanço tecnológico pode trazer. Dentro dessa ótica, é importante
prevenir a tendência ao sedentarismo e isolamento que podem
estar embutidos em alguns casos: o uso de eletrodomésticos que

219
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

reduzem drasticamente os níveis de atividade física diária; o uso


excessivo de veículos automotores e a preferência pela utilização
de televisores e computadores que podem reduzir a socialização
tão necessária na velhice.
Em suma, todos os grandes avanços tecnológicos têm seus
aspectos positivos e negativos, e os órgãos públicos precisam
investir em programas que garantam o máximo de acesso aos
aspectos que beneficiam a qualidade de vida dos idosos, além do
mais cabe aos órgãos públicos, familiares, profissionais da saúde
alertar e prevenir os idosos sobre os fatores que possam vir a
prejudicar esse envelhecimento saudável tão almejado.

Envelhecimento e vulnerabilidade
O processo de envelhecimento envolve um conjunto de processos
biológicos, psicológicos e sociais que podem tornar os idosos mais
vulneráveis. Os idosos passam pelo processo de senescência, tido
como modificações características do envelhecimento, e também à
senilidade, que ocorre por causa dos processos mórbidos que podem
acometer os idosos, ou seja, os idosos podem ser considerados um
grupo vulnerável por sua própria condição, resultante de seu ciclo
vital. Desse modo, a utilização do conceito de vulnerabilidade
possibilita a proposição de uma reconstrução ampliada e reflexiva das
práticas em saúde relacionadas à promoção e proteção da saúde do
idoso (MAIA, 2011).
O termo vulnerabilidade vem do latim vulnerare (ferir) e
vulnerabilis (que causa lesão). Assim, pode ser definido como
susceptibilidade de ser ferido, atacado, prejudicado ou sofrer
danos em resposta a um estímulo. Com isso, todo ser humano
estaria vulnerável (NEVES, 2007). De acordo com Rodrigues e

220
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

Neri (2012), a vulnerabilidade pode ser definida como o estado de


indivíduos ou grupos que, por alguma razão, têm sua capacidade e
a autodeterminação reduzida, podendo apresentar dificuldades
para proteger seus próprios interesses, por causa de déficits de
poder, inteligência, educação, recursos, força ou outros atributos.
Segundo Amendola (2012), o conceito de vulnerabilidade
segue por três planos independentes de determinação e,
consequentemente, de apreensão da vulnerabilidade de
indivíduos, grupos sociais e coletividades, considerando-se,
fundamentalmente, três aspectos: o plano individual, o plano
social e o plano programático.
De acordo com Amendola (2012), a vulnerabilidade
individual parte do princípio de que todos os indivíduos são
suscetíveis e que os modos de vida podem expor ou proteger
contra o agravo. Portanto, vulnerabilidade individual é o que uma
pessoa, na sua singularidade, pensa, faz e quer, e o que, ao mesmo
tempo, a expõe ou não à aquisição de um agravo à saúde.
As alterações biológicas, quando associadas à idade
cronológica avançada, determinam uma maior suscetibilidade à
ação de doenças, crescente vulnerabilidade e maior probabilidade
de morte. Atualmente, no Brasil, observa-se uma queda acentuada
da mortalidade infantil, redução da mortalidade por doenças
infecto-contagiosas e um aumento significativo da mortalidade por
doenças crônicas não transmissíveis (BRASIL, 2011).
Embora as doenças crônicas não sejam restritas às faixas
etárias mais avançadas, em um estudo realizado por Telarolli
Júnior e Loffredo (2014) verificou-se que entre as causas de óbitos
mais frequentes entre os idosos, no período de 2006 a 2011, 34,7%
correspondem a doenças do aparelho circulatório, seguidas pelas

221
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

respiratórias (17,4%), as neoplasias (10,7%), e doenças endócrinas,


metabólicas e nutricionais (4,1%). Essas doenças, quando
associadas à hospitalização, favorecem o declínio funcional e,
consequentemente, encaminham-se para o desenvolvimento de
incapacidades. A hospitalização e o repouso prolongado no leito,
de forma intermitente, podem determinar o agravamento da
situação de saúde do idoso, tornando-o mais frágil. Assim, o
declínio da capacidade funcional conduz a pessoa idosa à
limitação ou perda total da capacidade de desempenhar, de forma
independente, suas atividades cotidianas.
De modo geral, as atividades instrumentais da vida diária
(AIVD’s) são atingidas primeiramente, e são elas que servem como
indicadores para detectar o comprometimento da capacidade
funcional (ALVES; LEITE; MACHADO, 2008). Essas atividades
estão relacionadas à participação social do idoso ou à manutenção
de sua integração com o meio social, que requer uma
reorganização familiar. A partir de incapacidades instaladas nas
AIVD’s, as outras atividades básicas da vida diária (AVD’s)
também poderão estar comprometidas. Em 2012, foi realizado um
estudo na zona rural de uma cidade localizada no alto sertão da
Paraíba, mediante aplicação de questionário que avaliou as AVD e
AIVD de 20 idosos. Sobre os dados coletados, segundo a escala de
Lawton, a classificação do grau de dependência dos idosos
mostrou que a maioria dos idosos apresentava dependência grave
para as AIVD’s (TAVARES et al., 2012).
Já a vulnerabilidade social (AMENDOLA, 2012) diz respeito
às condições contextuais que definem a vulnerabilidade individual,
entre elas a possibilidade de obter informações, o acesso aos meios
de comunicação, a disponibilidade de recursos, cognitivos e
materiais, o poder de participar de decisões políticas e em

222
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

instituições. De acordo com Maia (2011), a vulnerabilidade social


pode ser compreendida como multidimensional, afetando de
diferentes formas e intensidade indivíduos, grupos e comunidades
em planos distintos de seu bem-estar. Ela é resultante da
combinação de fatores que produzem a deterioração do nível de
bem-estar de pessoas, famílias ou comunidades em consequência
da exposição a determinados tipos de risco.
Desse modo, a vulnerabilidade social pode ser considerada
dinâmica, pois implica na compreensão dos eventos que causam
danos, das relações culturais, econômicas e políticas, que oferecerão
os elementos sociais capazes de responder ou ajustar ao perigo, de
forma que qualquer alteração em seus componentes possa
aumentá-las ou diminui-las (MARANDOLA JR; HOGAN, 2006).
A vulnerabilidade programática (AMENDOLA, 2012) busca
avaliar como, em circunstâncias sociais dadas, as instituições,
especialmente as de saúde, educação, bem-estar social e cultural,
atuam como elementos que reproduzem as condições socialmente
dadas de vulnerabilidade. Inclui-se, ainda, programas voltados à
prevenção, à assistência e ao controle. Seu planejamento e execução
ocorrem em níveis nacional, regional ou local, e os seus executores
são os governos municipais, estaduais e federal, ou, até mesmo, as
organizações não governamentais. Quando articulados, esses
componentes priorizam análises e intervenções multidimensionais,
considerando que pessoas, sob determinadas condições e em
diferentes momentos de suas vidas, podem estar vulneráveis a um
determinado agravo e não outros (MEYER et al., 2006).
Apesar de muitos autores apresentarem a relação entre a
vulnerabilidade e a saúde, o conceito tem sido pouco explorado na
á r e a d a g e ro n t o l o g i a , a t u a l m e n t e, a t e r m i n o l o g i a

223
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

“vulnerabilidade” é utilizada para se referir aos idosos com


susceptibilidade para desenvolver incapacidades ou para indicar os
idosos com condições sociais desfavoráveis e que possuiriam
menos acesso a oportunidades para atingir níveis satisfatórios de
saúde e independência. Portanto, existe um consenso entre os
estudiosos de que é possível se beneficiar dessa abordagem para
compreender as questões centrais do envelhecimento (PAZ;
SANTOS; EIDT, 2006; SILVA; LIMA; GALHARDONI, 2010).
Um estudo realizado por Rocha et al. (2010), com idosos
hospitalizados por causa de quedas, de fratura de quadril,
evidenciou que os idosos do estudo apresentaram elevada
vulnerabilidade individual, social e programática para sofrerem
quedas seguidas de fratura de quadril. Dessa maneira, os autores
concluíram que a utilização do conceito de vulnerabilidade
permite uma visão mais ampla sobre o problema das quedas, tema
relevante para os idosos. Em 2011, um estudo realizado por
Andrew, Fisk e Rockwood, com idosos canadenses, verificou altos
índices de vulnerabilidade social em idosos frágeis e também
associação com altas taxas de mortalidade, independente da
presença de fragilidade. Assim, os autores chegaram à conclusão
de que os serviços de saúde deveriam estar atentos aos fatores
sociais como parte integrante do cuidado ao idoso.
Sthal, Berti e Palhares (2010) realizaram um estudo para
caracterizar os idosos hospitalizados de acordo a vulnerabilidade
social e programática, quando ficou evidente a necessidade do
cuidado integralizado em sua assistência, com ênfase na
abordagem centrada no indivíduo e não na doença. Em relação à
vulnerabilidade social, ela foi relacionada à baixa escolaridade,
dificuldade de acesso a serviços de saúde e tendência a isolamento
social. Ao componente programático e institucional foi destacado

224
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

o despreparo para o cuidado do idoso após alta hospitalar, seja por


profissionais, leigos ou pela ausência de serviços de saúde para o
atendimento dessa demanda específica.
A vulnerabilidade pode então ser considerada uma condição
presente no envelhecimento, podendo se manifestar em diferentes
dimensões. Identificá-la entre os idosos pode ser fundamental para
auxiliar os gestores no planejamento dos serviços e das políticas
públicas de saúde, dando prioridade para a prevenção, adiando os
agravos e, consequentemente, diminuindo os custos.

Acesso dos idosos vulneráveis aos avanços tecnológicos


O rápido envelhecimento da população brasileira,
principalmente o crescimento proporcional e absoluto de idosos
longevos, chama a atenção. Pois esses são mais fragilizados e
vulneráveis às doenças e enfermidades, e isso resulta em um
aumento do comprometimento da capacidade funcional e
autonomia dessa população (TAVARES; SOUZA, 2012).
Com base nesse pressuposto, torna-se imprescindível pensar
em formas alternativas que permitam promover a autonomia dos
idosos que apresentam algum declínio funcional, decorrente do
processo de envelhecimento. Diante dessa realidade, de idosos
dependentes, a sociedade discute a utilização de recursos que
proporcionem a esse grupo populacional habilidades funcionais
que promovam uma vida independente. Nesse sentido, a
tecnologia assistiva (TA) apresenta-se como uma alternativa para
promover a obtenção de autonomia, ou a máxima autonomia
possível (GALVÃO FILHO, 2013).
As tecnologias assistivas são todos os recursos e serviços
especialmente produzidos ou geralmente disponíveis para prevenir,

225
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

aliviar ou neutralizar deficiências e incapacidades, proporcionando,


assim, maiores possibilidades de independência e autonomia dos
indivíduos (GALVÃO FILHO, 2013). Portanto, a TA deve ser
entendida como um auxílio que promoverá a ampliação de uma
habilidade funcional deficitária ou possibilitará a realização da
função desejada, que se encontra impedida por circunstância de
deficiência ou pelo envelhecimento (ANDRADE; PEREIRA, 2009).
A aplicação de TA abarca uma série de possibilidades do
desempenho humano, desde tarefas básicas de autocuidado até
atividades de lazer e trabalho. Assim, as Tecnologias Assistivas estão
classificadas em instrumentos, que se apresentam como ferramentas
que exigem habilidades especificas para serem utilizadas, por
exemplo, cadeira de rodas, bengalas, e equipamentos, que são os
dispositivos que não dependem de habilidades especificas do
usuário, por exemplo, óculos, sistema de assento, aparelhos
auditivos, lupas, entre outros (PELOSI; NUNES, 2010).
Vários tipos de TA têm sido propostos e implementados para
atender aos idosos vulneráveis, com comprometimento da capacidade
funcional, fragilizados e dependentes, que têm necessidade de manter
sua autonomia e qualidade de vida. No Brasil, ainda existe uma
carência no conhecimento e na aquisição desses dispositivos,
principalmente pelas classes sociais de baixa renda, bem como
pesquisas que tratam do assunto (BERSCH, 2013).
Segundo Czaja e Lee (2007), não ter acesso e não ser capaz de
usar as tecnologias colocam cada vez mais os idosos em desvantagens
em termos de sua capacidade funcional, independência e autonomia,
ou seja, a TA e sua aplicação para a terceira idade é uma forma de
superar as limitações apresentadas pelos idosos.

226
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

De acordo com um estudo de revisão bibliográfica realizado


por Andrade e Pereira (2009) sobre a influência da TA em idosos
vulneráveis, as evidências científicas concluem que o uso de
recursos tecnológicos permite ao idoso, em muitos casos,
desenvolver atividades funcionais com segurança, com isso
aumentar sua independência e autonomia, além de diminuir a
necessidade de cuidadores, evitar hospitalizações e
institucionalizações, contribui também para a manutenção de
funções motoras e cognitivas, interação social e melhoria da
qualidade de vida.
Os idosos com comprometimento da capacidade funcional e
algumas doenças crônicas perdem progressivamente a sua
autonomia quanto às AVD’s e às AIVD’s e, dessa maneira, eles
precisam de supervisão e assistência de seus familiares ou
profissionais cuidadores. Estudos realizados com idosos com
demência senil mostram que um ambiente adaptado com
equipamentos de TA melhora a funcionalidade, autonomia e
independência para a realização das AVD’s e AIVD’s, e alivia a
carga de trabalho e o estresse de seus cuidadores (TAVARES et al.,
2012; ALOULOU et al., 2013).
Pesquisas institucionais realizadas no Brasil, com idosos
portadores de Parkinson, utilizando a TA por meio da música,
demonstraram que os idosos obtiveram vários benefícios, entre
eles estão a melhoria na postura, emissão e desempenho vocal, e
na dinâmica respiratória (MEIRA, 2008). Percebeu-se que a
tecnologia de ajuda mútua grupal, associada ou não a outras
tecnologias cuidativas, contribuíram para o alargamento ou, pelo
menos, para a manutenção das relações de possível suporte social,
favorecedor da inclusão social dos parkinsonianos (SENA, 2010).

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Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

O uso das tecnologias assistivas no âmbito internacional está


voltada para o idoso no domicílio, em que são feitas modificações
e adaptações nas residências, em função dos indivíduos que estão
envelhecendo com deficiência, dando ênfase à realização das
AVD’s e AIVD’s e proporcionando, por meio dessa tecnologia, a
autonomia e funcionalidade dos idosos para, assim, diminuir a
carga de trabalho do cuidador do idoso (ALOULOU et al., 2013).
A TA pode ser usada para complementar ou substituir a
necessidade de cuidadores formais ou informais. Os resultados
encontrados em um estudo sobre TA para idosos indicaram
diminuição da dependência deles para com seus cuidadores por
meio do uso dessa tecnologia, por exemplo, um elevador
hidráulico pode reduzir o tempo necessário para a transferência
de um paciente paralisado da cama para uma cadeira; um vaso
sanitário elevado e com garra pode eliminar a necessidade de
ajuda de outra pessoa ao usar o banheiro; e a utilização de um
cilindro de oxigênio portátil pode permitir a mobilidade
independente quando ocorrer uma dispneia sem exigir assistência
de outra pessoa (HOENIG; TAYLOR; SLOAN, 2003).
No que diz respeito às tecnologias assistivas direcionadas à
pessoa idosa no Brasil, existe uma carência na produção de
conhecimento a respeito de TA, o que pode influenciar na sua
prescrição e aquisição desses dispositivos, principalmente pelas classes
sociais de baixa renda (BERSCH, 2013). Portanto, essa escassez de
conhecimento acerca da TA dificulta a ação de profissionais de saúde
e cuidadores informais no que concerne o direcionamento de
possibilidades que possam proporcionar longevidade com qualidade e
êxito nas atividades da vida diária de pessoas idosas.

228
Avanços tecnológicos e seu alcance em idosos vulneráveis

Dessa forma é possível afirmar que o uso da TA é ainda novo,


e o termo serve para identificar todo o arsenal de recursos e serviços
que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades
funcionais dos idosos vulneráveis e dependentes. Além disso, a
utilização TA pela população idosa pode diminuir a necessidade de
cuidadores formais e informais, prevenir acidentes e quedas,
hospitalizações e institucionalizações, além de um menor gasto
financeiro com o paciente. Portanto, trabalhar para a inclusão social
do idoso significa trabalhar para a conquista e a prática da
cidadania e, nesse sentido, a TA é um importante instrumento que
não pode ser desconsiderado.

Considerações finais
Sabendo que a população idosa tende a aumentar
significativamente, segundo projeções do IBGE, e que essas pessoas
têm a probabilidade de desenvolver alguma doença crônica ao
longo da vida, é preciso desenvolver e oportunizar formas
alternativas de acesso às novas tecnologias para esse público. A TA
surge com esta característica, de respeitar as limitações que
porventura o idoso venha desenvolver, e oferecer uma possível
solução para os problemas encontrados pela terceira idade. Assim a
TA deve ser, então, entendida como um auxílio que promoverá a
ampliação de uma habilidade funcional deficitária ou possibilitará a
realização da função desejada àqueles que se encontram impedidos
por circunstâncias vulneráveis do envelhecimento.
Em suma, os profissionais da área, ao desenvolverem novas
tecnologias apropriadas para os idosos estão, de certa forma,
criando algo que poderão usufruir no futuro, pois os jovens de hoje
são os idosos de amanhã. Os avanços tecnológicos podem trazer

229
Maykon S. Marinho, Luana A. dos Reis, Pollyanna V. Lima e Luciana A. dos Reis

um efeito protetor para os indivíduos ao longo da vida,


diminuindo o isolamento, a fragilidade e a vulnerabilidade na
velhice. Desse modo, as tecnologias contribuem para garantir as
necessidades, independência, autonomia, promover a inclusão
social, vislumbrando da longevidade com qualidade e êxito nas
atividades durante todo o processo de envelhecimento, inclusive
em casos extremos de vulnerabilidade.

Referências
AFFONSO, C.; SONATI, J. Hábitos alimentares e prevenção de
doenças. In: VILARTA, R. (Org..). Alimentação saudável e
atividade física para a qualidade de vida. Campinas:
IPES, 2007. p. 151-160.
ALMEIDA, G. W.; MELLO, R. C. Uso de novas tecnologias de
informação por profissionais da área da saúde na Bahia.
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236
C A P Í T U L O 10

FORMAÇÃO EM SAÚDE PARA UMA


COMPREENSÃO AMPLIADA DO
ENVELHECIMENTO
Marcos Henrique Fernandes
Thaís Alves Brito
Paloma Andrade Pinheiro
Ludmila Schettino
Rafael Pereira de Paula

Introdução
Nos últimos anos, tem-se observado o aumento do
envelhecimento populacional concomitante com o avanço do
número de doenças crônicas associadas, o que resulta em grandes
perdas funcionais e restrições na execução de atividades diárias e
um alto nível de dependência por parte dos idosos, o que constitui
importante problema de saúde pública (HANSEN et al., 2011).
Este processo de transição demográfica e epidemiológica,
associado ao aumento da expectativa de vida, tem impulsionado o
surgimento de temáticas na área da gerontologia e a necessidade
de discuti-las por meio do desenvolvimento de habilidades e
competências para atender às novas demandas. Esses assuntos
estão relacionados não só à área da saúde, mas também a diversas
outras áreas, como a educação e a previdência social, exigindo,

237
Marcos H. Fernandes, Thaís A. Brito, Paloma A. Pinheiro, Ludmila Schettino e Rafael P. de Paula

portanto, a efetivação de um dos princípios norteadores do


Sistema Único de Saúde (SUS), a intersetorialidade.
Entre essas questões, pode-se citar a regulamentação da
profissão de cuidadores de idosos, desigualdade entre a demanda e
oferta de cuidado, necessidade de cuidados formais, mudanças na
estrutura familiar, aumento da razão de dependência, custos
previdenciários, violência contra a pessoa idosa, sexualidade e
doenças sexualmente transmissíveis em idosos, síndromes
geriátricas, fragilidade e cuidados paliativos.
Essas temáticas dificilmente emergirão de conteúdos técnicos
dos diversos cursos da área da saúde, ou, pelo menos, com o
aprofundamento e a importância que deveriam, nem por
disciplina específica ou aproximação com os serviços de saúde, nos
diferentes níveis de atenção.
O processo de envelhecimento assume características
peculiares e resulta em uma alta demanda por parte dos idosos em
busca dos serviços de saúde, demonstrando, dessa forma, a
evidente necessidade de uma formação qualificada de profissionais
de saúde, a fim de que estejam preparados para atender essa
parcela populacional em conformidade com os princípios do SUS
(XAVIER; KOIFMAN, 2011).
Diante dessa problemática, chama-se a atenção para a
importância da criação de disciplinas em Geriatria e Gerontologia
nos cursos de graduação, núcleos de formação profissional em
nível de pós-graduação, educação permanente dos profissionais e
gestores de saúde do SUS e o apoio ao desenvolvimento de
estudos e pesquisas, ações essas que já têm sido destacadas desde a
Política Nacional do Idoso (BRASIL, 1996) até as políticas mais

238
Formação em saúde para uma compreensão ampliada do envelhecimento

atuais, como a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa


(BRASIL, 2006).

Processo de formação em saúde


A Secretaria de Educação Superior brasileira tem assumido
novo perfil nos últimos anos. Ela publicou, no período
compreendido entre 2001 e 2004, por meio do Ministério da
Educação, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos cursos
de graduação em saúde, com o objetivo de conduzir a elaboração
curricular nas diversas instituições. Baseado nas diversas
especificações das diretrizes, entre elas a que se refere aos
conhecimentos exigidos para se alcançarem as competências e
habilidades específicas por curso (conteúdos essenciais à formação
de cada um desses profissionais), identificou-se que apenas os
cursos de Educação Física, Enfermagem, Medicina e Nutrição
abordam diretamente o envelhecimento ou o idoso em suas DCNs
(XAVIER; KOIFMAN, 2011).
O que se observa nas graduações em Saúde é a não
aproximação entre a academia e a realidade dos serviços em
saúde, ou seja, falta comunicação entre os gestores do ensino e os
gestores do sistema de saúde, o que não favorece ou estimula a
abordagem do conteúdo de Geriatria ou Gerontologia nos
currículos. Outra situação identificada é que a redução da carga
horária mínima para os cursos de graduação estimula uma
concorrência entre os conteúdos necessários à integralização dos
cursos (XAVIER; KOIFMAN, 2011).
Segundo Motta e Aguiar (2007) e Diogo (2004), o número de
Instituições de Ensino Superior (IES) que abordam disciplinas
voltadas para o envelhecimento, em seus respectivos cursos de

239
Marcos H. Fernandes, Thaís A. Brito, Paloma A. Pinheiro, Ludmila Schettino e Rafael P. de Paula

graduação em saúde, não tem sido suficiente para atender o


rápido processo de aumento de demanda por parte dos
profissionais de saúde decorrente do envelhecimento populacional
que o país registra, e o consequente aumento da utilização dos
serviços de saúde por esses idosos.
Outro importante problema observado nos currículos dos
cursos da área da saúde é a inconsistência entre a formação
oferecida nas disciplinas do eixo caracterizado como “aplicadas” e
o modelo organizacional do estágio curricular. É bastante comum
observar um grande hiato nesse processo de organização das
atividades dos cursos, nos quais existem disciplinas aplicadas
organizadas em ciclos da vida humana, como a Atenção à Saúde
do Idoso. Porém na parte final da formação, durante o estágio
supervisionado, o aprendizado é realizado por meio do
atendimento de pacientes, de acordo com áreas que levam em
consideração aparelhos e sistemas do corpo humano ou
tradicionais áreas da medicina, como cardiorrespiratória,
ortopedia e reumatologia, neurologia etc. Dessa forma, o
estudante vê o paciente de acordo com o sistema ou órgão que
tiver sido acometido, deixando de lado a visão do indivíduo como
um todo, e no caso ainda mais específico da gerontologia, o sujeito
em processo de envelhecimento, o qual é progressivo e sistêmico.
Um ponto a ser destacado em grande parte dos cursos de
graduação é a estrutura curricular, em que as disciplinas da área
de humanas, como antropologia, sociologia e psicologia ocorrem,
muitas vezes, de forma descontextualizada e distante dos campos
de atuação. Essas disciplinas são extremamente importantes para
prática profissional diante do processo de envelhecimento com
suas diferenças culturais e sociais, com a constante situação de
lidar com perdas funcionais e afetivas, com vínculos familiares

240
Formação em saúde para uma compreensão ampliada do envelhecimento

entre gerações, com a morte e tantos outros aspectos cotidianos


desse grupo populacional.
A formatação curricular fragmentada, entendendo-a como
um produto social e historicamente situado, é antagônica e
incoerente com a assistência holística que se preconiza com o
indivíduo idoso. A discussão de conteúdos em "caixas" quando se
pretende uma atuação com conhecimentos integrados e
articulados; a for mação individualista sem práticas
interprofissionais integradas ao currículo, marcada pela disputa de
espaços entre profissionais de áreas diversas estão distantes de
atender aos desafios impostos pelo aumento do número de idosos
nos serviços de saúde. Soma-se a isso o fato de que na maior parte
dos campos de prática e estágio dedica mais a sua atenção, ou
quase toda atenção, aos problemas de saúde individuais do que
aos coletivos.
A formação superior dos profissionais de saúde, parte
integrante do sistema educacional brasileiro, tem sua inspiração
no modelo industrial que, segundo Mosé (2008), é como uma linha
de montagem de uma fábrica: as diversas disciplinas, sem conexão
umas com as outras, são partes de um mundo que está distante do
estudante. Assim, a vida e o contexto ficam afastados dos espaços
formadores. Com essa configuração, Albuquerque et al. (2009)
aprofunda-se na semântica e acrescenta que a educação é
essencialmente passiva, fundada no acúmulo de dados e os espaços
de formação que, além de isolados do mundo e da vida, nomeiam
de “grade” o currículo e de “disciplina” os conteúdos.
De forma geral, as IES se voltam para uma formação cada vez
menos generalista, o que demonstra uma inclinação para
especialização ainda na graduação, deixando a desejar em alguns

241
Marcos H. Fernandes, Thaís A. Brito, Paloma A. Pinheiro, Ludmila Schettino e Rafael P. de Paula

aspectos que verdadeiramente dizem respeito ao trabalho, como a


abordagem do envelhecimento na graduação, que é encontrada de
forma incipiente. Apesar disso, constata-se uma formulação
crescente de políticas posicionadas no campo da proteção social,
que tensionam a existência do tema nos cursos de graduação em
saúde, o que sugere uma expectativa para implementação desses
documentos e adequação das IES em relação a seus currículos e
aos campos de prática educacional (XAVIER; KOIFMAN, 2011).
De acordo com Martins Sá (2002), a formação do profissional
de saúde que atua na atenção ao idoso deve ter como base o perfil
do gerontólogo, como aquele apto a: apreender, histórica e
criticamente, o processo do envelhecimento em seu conjunto;
compreender o significado social da ação gerontológica; atuar nas
expressões da questão da velhice e do envelhecimento, formulando
e implementando propostas para o enfrentamento desse cenário;
realizar pesquisas que subsidiem a formulação de ações
gerontológicas; compreender a natureza interdisciplinar da
gerontologia, buscando ações compatíveis no ensino, pesquisa e
assistência; zelar por uma postura ética e solidária no desempenho
de suas funções; orientar a população idosa na identificação de
recursos para o atendimento às necessidades básicas e de defesa de
seus direitos.
Em geral, o trabalho em saúde se caracteriza por ser um
trabalho reflexivo, que depende da colaboração de saberes
distintos, como o científico, o técnico, os sociais e os provenientes
de dimensões éticas e políticas. É um trabalho marcado também
pela complexidade, isto é, a diversidade profissional dos atores, das
tecnologias, das relações sociais e interpessoais, da organização do
espaço e da dinâmica. A formação profissional voltada
exclusivamente para o conhecimento técnico-profissional não leva

242
Formação em saúde para uma compreensão ampliada do envelhecimento

em conta o escopo e a complexidade do envelhecimento com suas


dimensões conceituais, sociais, políticas, profissionais e éticas.

Metodologias de ensino
Atualmente, existe um reconhecimento referente à
necessidade de alterações na educação de profissionais de saúde,
com o qual as IES têm sido estimuladas a se modificarem em
direção a um ensino que, entre outros atributos, estimule a
equidade e a qualidade da assistência e eficiência do trabalho em
saúde. Essa mudança educacional se traduz em inúmeros desafios,
entre os quais destaca-se o rompimento com estruturas
cristalizadas e modelos de ensino tradicional, bem como a
formação de profissionais de saúde com competências que lhes
permitam recuperar a dimensão essencial do cuidado: a relação
entre humanos (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004).
Discutir o processo educacional no mundo contemporâneo
resgata a necessidade de romper com a postura de transmissão de
informações, em que os alunos assumem a postura de indivíduos
passivos (VENTURELLI, 1997). Paulo Freire (1975) ressalta a
necessidade de conceber a educação como prática de liberdade,
em oposição a uma educação como prática de dominação. Ainda
completa que a educação não pode ser contextualizada como uma
prática de depósito de conteúdos alicerçada numa concepção de
homens como seres vazios, mas de problematização dos homens
em suas relações com o mundo ao seu redor. Assim, a educação
com enfoque problematizador fundamenta-se na relação dialógica
entre educador e educando, despertando a capacidade deste,
como participante e agente de transformação social, de detectar os
problemas e buscar soluções. Assim, permite a ambos o

243
Marcos H. Fernandes, Thaís A. Brito, Paloma A. Pinheiro, Ludmila Schettino e Rafael P. de Paula

aprendizado em conjunto, por meio de um processo


emancipatório e ativo, o processo passa a ser centrado na
aprendizagem e não no ensino.
A capacidade a ser desenvolvida é a de fazer perguntas
relevantes e possibilitar o entendimento da situação, bem como ser
capaz de resolvê-las adequadamente. O processo “ensino-
aprendizagem” relacionado a uma determinada realidade se inicia
levando os alunos a observar a realidade em si. No segundo
momento, os alunos identificam os pontos-chaves do problema ou
assunto e as variáveis mais determinantes da situação. No terceiro
momento, os alunos passam à teorização do problema ao
questionar as razões da realidade observada, buscando o
entendimento deste. Na quarta fase, são formuladas hipóteses de
solução para a questão, então é incentivada a originalidade e a
criatividade contrapondo-se com as limitações da própria
realidade, a fim de se verificar a viabilidade e a factibilidade. Na
última fase, as soluções mais viáveis e aplicáveis são colocadas em
prática (MOTTA; CALDAS; ASSIS, 2008).
Mas o que ainda pode ser percebido no modelo educacional
vigente é que ele funciona como um instrumento de perpetuação
da desigualdade, que oculta à realidade e trata a ciência de
maneira puramente técnica, possuidor de um poder que oprime.
Ao passo que a educação deve ser um ato coletivo, solidário,
comprometido e que não pode ser imposto (MITRE et al., 2008).
No que diz respeito ao processo de metodologia ativa com
discentes na área de saúde, postula-se que o desenvolvimento de
materiais didáticos e práticos utilizados como estratégias de
aprendizado auxiliam na capacidade de autonomia sobre o
processo de formação do aluno, além de auxiliar na elaboração de

244
Formação em saúde para uma compreensão ampliada do envelhecimento

planos de tratamento mais eficazes e complexos, beneficiando a


assistência em saúde, que envolve também o cuidado ao idoso.
Outra estratégia utilizada para a transformação curricular da
graduação é a diversificação de cenários de ensino-aprendizagem,
o que significa a alocação de carga horária expressiva dos
estudantes e preceptores em hospitais, unidades básicas de saúde,
organizações comunitárias, domicílio, entre outros. Ou seja, novos
cenários ensejam novos conteúdos e práticas curriculares,
favorecendo a articulação entre teoria e prática na identificação
das necessidades de saúde, com potencial estabelecimento de
relações mais simétricas de colaboração entre os participantes
(incluindo usuários, familiares e cuidadores como dimensão
essencial da proposta assistencial). Essas iniciativas colocam-se
como oportunidade de avanços via práticas interdisciplinares e
multiprofissionais (MOTTA; AGUIAR, 2007).
Aguilar-da-Silva et al. (2009) consideram que a capacidade e a
responsabilidade de ser coautor de um projeto de aprendizagem
desejado estão relacionadas à concepção do aprender a aprender,
como um processo evolutivo que contribui nas decisões do homem
contemporâneo. Dessa forma, o estudante, futuro profissional, se
torna capaz de desenvolver a consciência crítica, integrar as
informações trazidas e assimiladas durante o curso e aplicar o
conhecimento reconstruído e registrado com sua equipe de
trabalho (PARANHOS; MENDES, 2010).
Assim, evidencia-se que a estratégia do trabalho em equipe
tem como essência a união dos integrantes na busca de um
objetivo comum, caracterizando um novo perfil de competência
na formação profissional em saúde. Para isso é necessário que os
integrantes possuam flexibilidade para possibilitar uma articulação

245
Marcos H. Fernandes, Thaís A. Brito, Paloma A. Pinheiro, Ludmila Schettino e Rafael P. de Paula

entre as necessidades dos serviços de saúde e as do paciente, a


depender do cenário e do contexto em que se encontram
(AGUILAR-DA-SILVA; SCAPIN; BATISTA, 2011).
O método interessante nessa construção contínua é a prática
baseada em evidências científicas para auxiliar a tomada de
decisões na atuação clínica. As características das diretrizes
baseadas em evidências tornam a pesquisa instrumento essencial
na busca de conhecimentos fidedignos a serem aplicados na
prática profissional (JOHANN et al., 2012).
Outra questão importante nessa perspectiva de mudança da
concepção do processo de formação dos profissionais de saúde
para área da gerontologia é a humanização da atenção em saúde,
a qual deve transparecer a qualificação das práticas em saúde e
também o desafio para os trabalhadores dessa área. Silva e Silveira
(2011) descrevem as dificuldades encontradas pelos fisioterapeutas
no trabalho em equipe, fruto de sua formação profissional, o que
compromete o trabalho humanizado.
Associado e concomitante às necessidades de mudanças nos
modelos pedagógicos ocorre a evolução tecnológica e sua
aplicabilidade no campo da educação. As Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC), os Ambientes Virtuais de
Aprendizagem (AVA) e as redes sociais estão presentes no dia a dia
como espaços interativos de discussão e construção coletiva e,
explícita ou implicitamente, demarcam cada vez mais o seu
espaço.
No cenário atual, tem-se observado que o uso das tecnologias
digitais tornou-se uma maneira importante e atrativa de consumir
e produzir informações. Com isso, entende-se que as novas formas
de pensar, agir e comunicar-se, ao serem transformadas em

246
Formação em saúde para uma compreensão ampliada do envelhecimento

hábitos corriqueiros com a presença das TIC, têm gerado o


imperativo de se repensar as formas de ensinar e aprender. O
conhecimento não é mais transmitido verticalmente entre
professor e aluno, as enciclopédias não são mais as únicas fontes
de conteúdo, o processo hoje é muito mais dinâmico e interativo.
Dessa forma, o uso dessas tecnologias e suas potencialidades
para a educação, seja ela presencial ou à distância, pode contribuir
para a formação na área de gerontologia, tanto na graduação e
pós-graduação quanto na educação permanente e continuada. A
Educação a Distância (EAD) amplia as oportunidades de atingir
um público já inserido no mercado de trabalho, pois traz uma
concepção metodológica pautada em discussões sobre o processo
de envelhecimento, a troca de experiências em diferentes
contextos, as atualizações e a consequente construção colaborativa
do conhecimento.
Contudo, para que haja adequações e atualizações nos
modelos pedagógicos considerados inapropriados diante das
mudanças epidemiológicas e sociais é necessário envolvimento,
entrosamento e coerência do grupo de formadores, tendo claros os
objetivos do que se propõe a fazer. Do contrário observar-se-á
apenas uma nova roupagem do que já está estabelecido, pela
cômoda manutenção do velho ao invés da insegurança do
percurso que conduzirá ao novo.

Desenvolvimento de pesquisas na área


O envelhecimento populacional trouxe consigo a necessidade
de maior entendimento acerca da saúde, bem como do processo
de desenvolvimento de doenças, na crescente população idosa.
Assim, o número de pesquisas desenvolvidas na área do

247
Marcos H. Fernandes, Thaís A. Brito, Paloma A. Pinheiro, Ludmila Schettino e Rafael P. de Paula

envelhecimento humano tem crescido de modo exponencial ao


longo dos anos.
Groisman (1999) registra que o Ano Nacional do Idoso,
comemorado em 1999, parece ter impulsionado o interesse
científico na área do envelhecimento humano. Talvez esse poderia
ser considerado o marco ou o divisor de águas na produção
científica relacionada à geriatria e gerontologia, e que coincide
com a criação e realização do Congresso da Sociedade Brasileira
de Geriatria e Gerontologia (SBGG), em 2000.
Nesse contexto, o trabalho de Prado, Tavares e Silva (1999),
intitulado Catálogo de Teses e Dissertações na Área do
Envelhecimento, lança uma perspectiva temporal do crescimento
da produção de dissertações e teses relativas ao processo de
envelhecimento humano, constatando o crescimento dessa
produção de forma exponencial, a partir de 1970, com 7% dos
trabalhos concluídos na década de 1970, uma terça parte nos anos
80 e os mais de 60% restantes finalizados entre 1990 e 1998.
Apesar da ausência de documentos mais recentes que cataloguem
esses dados, a partir da década de 2000, é plausível supor que essa
tendência de crescimento esteja se mantendo, por causa da
crescente criação de grupos de pesquisa na área do
envelhecimento humano.
Prado e Sayd (2004) identificaram, por meio da busca no
Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um total de
144 grupos de pesquisa, 209 linhas de pesquisa e 511
pesquisadores cadastrados com atividades relacionadas à área de
envelhecimento humano. Em um levantamento recente, realizado
em 2014, pelos autores deste capítulo (dados não publicados), na

248
Formação em saúde para uma compreensão ampliada do envelhecimento

mesma base de dados foi possível identificar 155 grupos de


pesquisa e mais de 600 linhas de pesquisa na referida área,
confirmando o crescente interesse observado nas décadas
anteriores.
Nessa perspectiva, em 2010 foi criado o Núcleo de Estudos em
Epidemiologia do Envelhecimento da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (Nepe-Uesb) com a participação de doutores e
mestres, autores desse texto, além de discentes dos cursos de
graduação em Fisioterapia, Educação Física e Enfermagem. O
Nepe se propõe a desenvolver projetos de pesquisa e de extensão
com foco no envelhecimento humano; atividades de treinamento
acadêmico em avaliações direcionadas às áreas de concentração;
promover intercâmbios com outras instituições de ensino e núcleos
de pesquisa; ações direcionadas à promoção da saúde do idoso,
contribuindo, assim, para a sustentação acadêmica em que se
fundamentam os princípios da Uesb, relacionados ao ensino,
pesquisa e extensão.
O grupo, com foco nas linhas de pesquisa Epidemiologia do
Envelhecimento Humano e Vigilância à Saúde do Idoso, vem
apresentando uma crescente produção científica, com artigos
científicos publicados em periódicos internacionais e nacionais,
além de trabalhos de conclusão de curso e dissertações. Além do
envolvimento na pesquisa, os discentes mostram-se motivados com
discussões, atividades de campo e sentem-se corresponsáveis na
produção do conhecimento na área do envelhecimento.
É possível constatar ainda que, como observado por Prado e
Sayd (2004), a maioria dos grupos de pesquisa e suas respectivas
linhas de pesquisa citados se dedicam à pesquisas nas grandes
áreas das Ciências da Saúde, seguido pelas Ciências Biológicas,

249
Marcos H. Fernandes, Thaís A. Brito, Paloma A. Pinheiro, Ludmila Schettino e Rafael P. de Paula

Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas. No que tange as


áreas específicas, o destaque fica para o maior volume de pesquisas
em Saúde Coletiva, Medicina, Enfermagem e Odontologia. Não
obstante, as pesquisas envolvendo o benefício de programas
regulares de atividade física e reabilitação para a população idosa
tem ganhado muito espaço na literatura científica.
A constatação do crescente aumento na produção científica na
área de geriatria e gerontologia, e em uma diversidade de áreas de
conhecimento, parece ser uma tentativa de acompanhar a
tendência de envelhecimento populacional e buscar conhecer as
necessidades dessa população com muitas peculiaridades. Muito se
avançou no conhecimento nessa área, mas um longo caminho
ainda precisa ser trilhado para melhor atender às necessidades do
crescente contingente idoso no Brasil, principalmente se
consideramos as projeções da Organização Mundial de Saúde,
que apontam que, até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo
em número de idosos.

Considerações finais
Diante do que foi discutido, propõe-se um maior diálogo entre
professores, profissionais de saúde e estudantes que tenham a
inquietação de discutir e contribuir com proposições e alternativas
de enfrentamento dos desafios advindos do processo de
envelhecimento populacional.
A interdisciplinaridade, intrínseca ao processo de produção e
aplicação do conhecimento em Gerontologia, é um tema bastante
discutido e "teorizado", porém, na prática o que ocorre são
estudantes que não se sentem preparados para a vida profissional
às vésperas da finalização do curso por causa da fragmentação do

250
Formação em saúde para uma compreensão ampliada do envelhecimento

saber e do fazer. A elaboração conjunta de planos terapêuticos


entre profissionais e estudantes de áreas diversas, com a busca de
construção partilhada de respostas assistenciais poderia ser uma
forma efetiva de solucionar questões de saúde com uma visão
ampliada e complementar, avaliando o idoso inserido em seu
contexto, com os recursos disponíveis e de forma integral.
A integração ensino-serviço de saúde, prática adotada em
algumas instituições, que conjuga vivências de situações no
processo do conhecimento, vem apresentando resultados positivos,
podendo, dessa forma, ser reproduzida e ampliada. A
aproximação entre os dois permite ao discente ter contato,
durante a formação, com o cotidiano do trabalho em saúde, o que
corresponde ao desafio de produção-atuação em conjunto com a
população assistida.
Acreditando que as medidas tomadas no âmbito da educação
influenciarão constantemente o sistema de saúde, a educação
gerontológica deve ter como objetivo formar indivíduos capazes
de compreender o envelhecimento em suas múltiplas dimensões e
que, além de críticos, sejam autônomos, humanos, criativos,
propositivos e éticos.

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