Tratado de Geriatria e Gerontologia - 4 Ed - Cap - 20
Tratado de Geriatria e Gerontologia - 4 Ed - Cap - 20
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são processos neurodegenerativos progressivos e irreversíveis, de consequências desastrosas para indivíduo, familiares e
sociedade. As diferentes etiologias terão início, evolução clínica e marcadores biológicos distintos, embora possam
compartilhar entre si algumas características clínicas e, até mesmo, coexistir no mesmo indivíduo.
Em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria publicou a 5a edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos
Transtornos Mentais (DSM5, 2013), agrupando sob o termo “transtornos neurocognitivos” o delirium, as demências e
outros transtornos cognitivos. Os termos transtorno cognitivo leve (TCL) e demência passaram a ser referidos,
respectivamente, como transtorno neurocognitivo leve (TNL) e transtorno neurocognitivo maior (TNM), que ainda
poderão ser estratificados por etiologia (p. ex., TNL ou TNM por doença de Alzheimer). O impacto que tais mudanças de
nomenclatura trarão à prática clínica e às pesquisas científicas ainda é desconhecido; por esse motivo, utilizaremos ambas
as terminologias como sinônimos ao longo deste capítulo.
Para o diagnóstico etiológico preciso das demências, a história clínica e o exame físico são fundamentais. Além disso, a
partir das informações de familiares e cuidadores, da avaliação neuropsicológica e dos exames complementares, as
etiologias mais prováveis podem ser identificadas.
Com o propósito de detecção cada vez mais precoce e com maior acurácia etiológica, novos biomarcadores das
demências têm sido identificados e testados em pesquisas científicas. Embora ainda tenham aplicação clínica limitada, em
um futuro próximo poderão ser de grande valia na abordagem das demências, especialmente quando dispusermos de
intervenções farmacológicas modificadoras de doença.
Em 2050, a proporção de indivíduos acima de 60 anos corresponderá a 22% da população mundial. Desses indivíduos,
79% estão em países de baixa renda, onde a demência é pouco reconhecida e os recursos disponíveis são escassos (Prince
et al., 2013).
Enquanto em países de maior renda, como os do Reino Unido, a taxa de não detecção de demência é de 52%, nos países
de baixa e média renda essa taxa pode chegar a 90%. Estimase que no Brasil existam cerca de 900 mil indivíduos
portadores de demência sem diagnóstico e, portanto, sem tratamento (Nakamura et al., 2015).
A prevalência de demência varia substancialmente entre as diversas regiões do mundo. Na América Latina, a prevalência
é maior do que o esperado para o nível de envelhecimento populacional, fenômeno explicado pela combinação de baixo
nível educacional e alta prevalência do perfil de risco vascular (Rizzi et al., 2014).
Dados recentes de estudo clinicopatológico realizado no Brasil (Grinberg et al., 2013) mostraram as seguintes
prevalências dos subtipos de demências: doença de Alzheimer (35,4%), demência vascular (21,2%), demência mista
(13,3%) e outras causas de demência (30,1%). Em comparação a outros países, esses dados mostraram prevalências mais
baixas de doença de Alzheimer e mais altas de demência vascular (DV) e demência mista (DM). A alta prevalência
encontrada de DV e DM provavelmente reflete o acesso limitado da população estudada ao controle adequado dos fatores
de risco cardiovasculares.
Em estudos americanos, entre as demências neurodegenerativas mais prevalentes, a doença de Alzheimer pode
corresponder a cerca de 60 a 80% dos casos, seguida pela demência com corpos de Lewy e demência frontotemporal
(Gatchel et al., 2016).
A prevalência das demências apresenta variações de acordo com a faixa etária (Figura 20.1). Nos indivíduos com
demência de início precoce (< 65 anos), a doença de Alzheimer é menos prevalente, mas continua sendo a etiologia mais
frequente. Por outro lado, a prevalência da demência frontotemporal é expressivamente maior nesse grupo etário, quando
comparado aos indivíduos com idade superior a 65 anos (Jefferies e Agrawal, 2009).
A maioria das demências se desenvolve por mecanismos fisiopatológicos multifatoriais. Portanto, são vários os fatores
de risco (Alzheimer’s Disease Association, 2014; Ferman et al., 2013) envolvidos, modificáveis ou não, sendo alguns
deles com maior especificidade para determinadas etiologias. Alguns dos fatores descritos na literatura estão expostos no
Quadro 20.1. Raramente, mutações genéticas específicas podem estar associadas ao desenvolvimento da demência (Loy et
al., 2014).
Figura 20.1 Etiologia das demências por idade de início da doença. Fonte: Jefferies e Agrawal, 2009. DA: doença de
Alzheimer; DV: demência vascular; DCL: demência com corpos de Lewy; DFT: demência frontotemporal.
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Pela história clínica, podemos caracterizar o padrão de acometimento neuropsicológico e a velocidade de instalação dos
sintomas, identificar fatores de risco, rever as medicações em uso e afastar outras causas de distúrbio cognitivo. Deve ser
obtida diretamente com o paciente e com informantes qualificados (parentes, cuidadores). As manifestações clínicas
iniciais e sua evolução costumam fornecer dados relevantes para a formulação das hipóteses etiológicas mais prováveis e
para a escolha dos exames complementares pertinentes.
Alguns casos de demência em fase inicial podem confundirse até mesmo com o envelhecimento normal, pois o
desempenho funcional ainda pode estar relativamente bem preservado.
O diagnóstico pode ser dificultado em casos com apresentação clínica atípica, início dos sintomas em idade abaixo dos
65 anos, velocidade rápida de progressão ou comprometimentos cognitivos isolados (Kerry e Hildreth, 2015). Nesses
casos, avaliações mais extensas podem ser necessárias. Também é preciso estar atento a possíveis armadilhas que podem
induzir ao erro no diagnóstico das demências (Quadro 20.2).
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No diagnóstico diferencial de uma síndrome demencial, o exame neurológico é mandatório e fundamental para a
definição etiológica (Fillit et al., 2010). Nas demências corticais, em geral, este se mantém normal até a fase tardia de
doença, com preservação de marcha, tônus, postura e reflexos. Já nas demências frontossubcorticais, a função motora é
geralmente comprometida nas fases iniciais (Cummings, 2003). Os principais sinais e sintomas a serem pesquisados estão
descritos a seguir.
DCL: demência com corpos de Lewy; DFT: demência frontotemporal; TNL: transtorno neurocognitivo leve. *Hipertensão
arterial sistêmica, tabagismo, obesidade, hipercolesterolemia, diabetes. Fonte: Alzheimer’s & Dementia, 2014; Loy et al.,
2014.
Adaptado de Kerry e Hildreth., 2015.
▼Disfunção autonômica. A disfunção autonômica é mais comumente vista na demência com corpos de Lewy e na
doença de Parkinson (DP), mas também pode estar associada a doenças priônicas e à atrofia de múltiplos sistemas (AMS),
que é caracterizada por disfunção autonômica, parkinsonismo e disfunção cerebelar (DSM5, 2013).
▼ Alterações oculares e visuais. Dentre as síndromes demenciais associadas a anormalidades dos movimentos
oculares está a doença de Huntington (DH) e a paralisia supranuclear progressiva (PSP). A DH está associada ao
comprometimento das sacadas, exigindo a movimentação compensatória da cabeça. Já na PSP, podem ocorrer distúrbios de
visão (diplopia, borramento visual, fotofobia), sacadas lentas e hipométricas, convergência anormal, incapacidade de conter
o reflexo vestibulocular e, principalmente, alentecimento da abertura e do fechamento dos olhos. A oftalmoparesia
supranuclear é característica da doença e está relacionada com a perda dos movimentos verticais dos olhos. A opsoclonia
(movimentos oculares rápidos e involuntários, irregulares, não estereotipados) pode ser encontrada em pacientes com
encefalite pósviral ou nas síndromes paraneoplásicas.
▼Distúrbios piramidais. Sinais piramidais (neurônio motor superior), como espasticidade, hiperreflexia e sinal de
Babinski, são comuns em doenças cerebrovasculares e também podem ser vistos em pacientes com demência
frontotemporal, atrofia de múltiplos sistemas e lesões estruturais do sistema nervoso central.
▼ Parkinsonismo. O parkinsonismo é definido pela presença de dois dos seguintes sinais: tremor de repouso,
bradicinesia e rigidez. Esses sinais são inespecíficos e podem ser encontrados na doença de Parkinson, na demência com
corpos de Lewy, na paralisia supranuclear progressiva, na atrofia de múltiplos sistemas, no parkinsonismo vascular e na
hidrocefalia de pressão normal (HPN). Também podem ocorrer na fase avançada da doença de Alzheimer e da demência
frontotemporal.
▼Sinais cerebelares. A disfunção cerebelar pode estar associada à ataxia da marcha e é proeminente na demência
relacionada com o álcool e a doença de CreutzfeldtJakob (DCJ). A variante cerebelar da atrofia de múltiplos sistemas é
caracterizada por nistagmo, dismetria apendicular e ataxia da marcha juntamente à disfunção autonômica.
▼Neuropatias. Evidências de neuropatia podem ser vistas em condições sistêmicas associadas à demência, tais como:
alcoolismo, diabetes, disfunção renal, deficiência de vitamina B12 e síndromes paraneoplásicas.
▼Distúrbios da marcha. Demências com alteração precoce da marcha incluem: demência na doença de Parkinson,
demência vascular, demência com corpos de Lewy e hidrocefalia por pressão normal.
▼ Mioclonias. São comuns na DCJ e também podem ser encontradas na doença de Alzheimer e na degeneração
corticobasal.
Uma vez estabelecido o diagnóstico de demência, a próxima etapa é a definição etiológica (Quadro 20.3).
Primeiramente, é importante classificar as demências de acordo com o seu potencial de reversibilidade (reversíveis ou
irreversíveis), a fim de que o tratamento para o primeiro grupo seja instituído prontamente.
No passado, as demências eram geralmente classificadas em corticais (afasia, apraxia, agnosia e amnésia) ou
subcorticais (bradifrenia, distúrbios do humor e alterações da personalidade). Entretanto, por ser insuficiente, essa divisão
dicotômica tem sido criticada, já que algumas formas de demência, como a frontotemporal, podem apresentar padrão
misto, afetando tanto estruturas corticais quanto subcorticais (Borgeois e Hickey, 2009).
Outra forma de classificação, com base na fisiopatologia, distingue as demências em degenerativas e não degenerativas.
As primeiras estão associadas a processos patológicos que causam dano cerebral progressivo, como a doença de
Alzheimer, a doença de CreutzfeldtJakob e a demência na doença de Parkinson. As demências não neurodegenerativas são
aquelas decorrentes de lesão cerebral, como acidente vascular encefálico (AVE) e traumatismo cranioencefálico. Porém,
essa classificação está sujeita a diferentes interpretações. Por exemplo, a demência vascular pode representar uma causa
óbvia de demência não degenerativa; entretanto, alguns questionam o fato de que a doença aterosclerótica subjacente à
demência vascular represente, na verdade, um processo degenerativo (Agronin, 2014).
Adaptado de Fillit et al., 2010.
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Aproximadamente 10% das demências podem ser reversíveis (Clarfield, 2003). Embora existam controvérsias acerca do
real potencial de reversibilidade de algumas etiologias, essas patologias devem ser sempre identificadas e tratadas. A
relação das possíveis causas de demências tratáveis é extensa e engloba uma série de transtornos clínicos, neurológicos e
psiquiátricos.
Por uma questão didática, Maletta (1990) propôs uma divisão em três grandes subcategorias:
■ Demências com comprometimento estrutural do sistema nervoso central (SNC): hidrocefalia de pressão normal (HPN),
lesões expansivas (neoplasias, hematoma subdural) e doenças infecciosas do SNC
■ Condições médicas gerais: medicamentos, carências nutricionais, distúrbios hidreletrolíticos, transtornos endócrinos,
doenças sistêmicas, intoxicação por metais pesados
■ Transtornos psiquiátricos: principalmente a depressão maior.
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As demências rapidamente progressivas são caracterizadas por um intervalo menor do que 2 anos entre a instalação dos
sintomas e o diagnóstico de demência ou a morte (Shrestha et al., 2015). É frequente o acometimento de indivíduos com
idade inferior a 65 anos, e as possibilidades etiológicas costumam ser mais amplas do que nas demências de início tardio
(Quadro 20.4). Por esse motivo, o processo investigativo (Larson, 2015) contempla uma bateria mais ampla de exames
(Quadro 20.5).
SNC: sistema nervoso central. Adaptado de Shrestha et al., 2015.
EAS: exame de elementos e sedimentos anormais da urina; PCR: proteína C reativa; FAN: fator antinuclear; VHS:
velocidade de hemossedimentação; HIV: vírus da imunodeficiência humana; PET: tomografia por emissão de pósitrons;
SPECT: tomografia computadorizada por emissão de fóton único. Fonte: Larson, 2015.
A prevalência das etiologias varia dentre os estudos e conforme as características de cada instituição de pesquisa. Nos
centros de referência de doenças priônicas, a proporção da doença de CreutzfeldtJakob tende a ser maior. Porém, em
estudo realizado em um centro de demências (Paterson et al., 2012), as causas mais frequentemente diagnosticadas foram
as demências por causas reversíveis (27%) (tóxicometabólicas, autoimunes, vasculites, infecciosas), seguidas por doença
de Alzheimer (18%), demência frontotemporal (16%) e doença de CreutzfeldtJakob (13%).
A doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa de causa e patogênese incertas, que afeta principalmente
idosos e corresponde a aproximadamente 60% de todas as demências, sendo, portanto, a principal e mais prevalente dentre
todas as causas (Gatchel et al., 2016).
Apresenta curso clínico tipicamente de início insidioso e deterioração progressiva. A sobrevida após o diagnóstico varia
entre 3 e 20 anos, com uma expectativa de vida média de 8 a 10 anos.
A manifestação clínica mais precoce e essencial da DA é o comprometimento da memória episódica, inicialmente para
eventos recentes, embora existam exceções em formas atípicas da doença. Déficits em outros domínios cognitivos podem
aparecer de forma concomitante ou subsequente ao déficit de memória. A disfunção executiva e o comprometimento
visuoespacial geralmente estão presentes em fases iniciais, enquanto as alterações da linguagem (afasia), apraxia e
distúrbios comportamentais se manifestam mais tardiamente no curso da doença (Fillit et al., 2010).
Ocasionalmente, a apresentação inicial da doença pode incluir distúrbios comportamentais; porém, a proeminência
dessas alterações em relação às alterações cognitivas no início do curso da doença é incomum e deve motivar a busca por
outras etiologias. As características adicionais que diminuem a probabilidade de doença de Alzheimer incluem um início
súbito, a presença de sinais neurológicos focais (hemiparesia, perda sensorial, déficits de campo visual, perda de
coordenação) e a presença de alterações da marcha ou convulsões de início precoce (Maalouf et al., 2011). Nas fases
iniciais da DA, o exame neurológico é normal. Quando sinais motores piramidais, extrapiramidais, mioclonias e
convulsões estão presentes, estes tipicamente ocorrem nas fases avançadas da doença.
Embora normalmente se apresente como uma síndrome amnéstica, existem variantes clínicas da DA. Esses casos
atípicos podem representar grandes desafios, comprometendo a agilidade e a acurácia diagnóstica. A atrofia cortical
posterior consiste em uma dessas variantes e cursa com problemas visuoespaciais. Pode ainda estar associada a uma
síndrome logopênica (Larner, 2014) caracterizada por anomia e fluência verbal prejudicada. Outra variante possível é a
síndrome corticobasal (SCB). Sabese que a SCB pode ser consequência não apenas da degeneração corticobasal (DCB),
mas também de várias outras patologias subjacentes, inclusive DA (Hassan et al., 2011). Também foi descrita a variante
frontal ou disexecutiva, em que o paciente apresenta uma disfunção executiva proeminente em relação ao déficit de
memória.
O diagnóstico definitivo da doença de Alzheimer requer o exame histopatológico, o que raramente é realizado em vida.
Portanto, o diagnóstico na prática é realizado a partir de critérios clínicos (DSM5, NINCDSADRDA), que permitem um
diagnóstico preciso em mais de 90% dos casos. A DA deve ser suspeitada em qualquer idoso que se apresente com um
declínio insidioso e progressivo da memória e de pelo menos alguma outra função cognitiva.
O papel dos exames laboratoriais e da neuroimagem é principalmente o de excluir outros diagnósticos.
Existe uma série de biomarcadores para apoiar o diagnóstico de DA (Albert et al., 2011), mas que em sua maioria ainda
não tem aplicabilidade à prática clínica (Quadro 20.6). No entanto, são recursos disponíveis que podem acrescentar
confiabilidade adicional ao diagnóstico clínico e podem ser úteis em certas circunstâncias, como na investigação de
pacientes com apresentações atípicas ou na doença de início precoce.
PET: tomografia por emissão de pósitrons; SPECT: tomografia computadorizada por emissão de fóton único; RM:
ressonância magnética.
Nenhum desses testes possui validade como critério diagnóstico isolado. Porém, têm sido utilizados largamente em
pesquisas científicas para a definição diagnóstica de formas sintomáticas e présintomáticas da doença. Após padronização
definitiva desses testes em pesquisas, é provável que os mesmos sejam incorporados futuramente aos critérios
diagnósticos clínicos (Morris et al., 2014).
A redução dos níveis plasmáticos da apolipoproteína E e APOE4 tem sido investigada com o objetivo de se aumentar o
valor preditivo de DA em idosos não demenciados e naqueles com transtorno neurocognitivo leve, além de auxiliar no
diagnóstico diferencial dentre as demências. Porém, o papel dessas mensurações na prática clínica ainda não está bem
estabelecido (O’Bryant et al., 2010). Os testes genéticos não são recomendados como avaliação de rotina. O genótipo
APOE acrescenta valor preditivo marginal ao critério clínico e pode estratificar o risco de conversão de pacientes com
transtorno cognitivo leve para DA, porém falsos positivos e negativos podem ocorrer. Testagem genética para proteína
precursora amiloide, presenilina 1 e 2, deve ser reservada para casos de demência présenil em um contexto de história
familiar positiva.
A degeneração lobar frontotemporal (DLFT) consiste em um termo amplo para descrição de um grupo heterogêneo de
distúrbios, caracterizados patologicamente pela atrofia progressiva dos lobos frontal e/ou temporal, que se manifestam por
meio de três síndromes clínicas distintas: demência frontotemporal variante comportamental (DFTv), demência semântica
(DS) e afasia não fluente progressiva (ANFP).
Geralmente é reconhecida como uma causa de demência présenil (< 65 anos), mas pode ser tão precoce quanto na
terceira década ou tão tardia quanto na nona década. Estudos epidemiológicos europeus e norteamericanos descrevem
estimativas de prevalência em indivíduos com idade inferior a 65 anos que variam de 4 a 15/100.000. Apesar da escassez
de dados disponíveis, a prevalência em grupos etários mais idosos tende a ser subestimada (Sorbi et al., 2012).
A DLFT apresenta um componente genético substancial, com um padrão de herança autossômica dominante e/ou
mutações causadoras de doenças identificadas em cerca de 10 a 20% dos casos e história familiar positiva em proporção
maior (Sorbi et al., 2012).
A DFTv é caracterizada por um amplo espectro de manifestações fenotípicas que podem incluir declínio progressivo nas
relações interpessoais, disfunção executiva, indiferença afetiva, e uma ampla variedade de comportamentos anormais,
como desinibição, adinamia, obsessões, rituais, estereotipias e alterações do padrão alimentar.
A DS é uma síndrome mais uniforme, caracterizada pela perda progressiva da memória semântica, geralmente afetando
o conhecimento das palavras. Os pacientes comumente apresentam uma fala fluente, embora vazia de significado, com
perda de vocabulário e disgrafia. Um comprometimento semântico mais generalizado, com prejuízo das informações
visuais (prosopagnosia, agnosia visual) e de outros domínios não verbais, geralmente sobrevém mais tarde no curso da
doença. A DS é associada à atrofia anteroinferior seletiva e assimétrica do lobo temporal, predominantemente do lado
esquerdo, na maioria dos casos.
A ANFP é caracterizada por uma perda progressiva da fluência, afetando inicialmente a fala e, posteriormente, as
habilidades de aprendizagem. Geralmente, o discurso é não fluente, contendo erros articulatórios (discurso apráxico) e
agramatismo (Sorbi et al., 2012).
As alterações precoces no comportamento e na personalidade e a disfunção executiva distinguem a DFTv da doença de
Alzheimer. Entretanto, como a DA pode se apresentar de forma atípica por meio de uma síndrome logopênica, pode ser
difícil o diagnóstico diferencial entre DLFT (afasia progressiva primária, DS) e DA em alguns pacientes.
A demência com corpos de Lewy (DCL) é o segundo tipo mais comum de demência degenerativa, respondendo por 10 a
15% dos casos. Clinicamente, a DCL é caracterizada por declínio cognitivo progressivo, acompanhado de sintomas
característicos, como alucinações visuais complexas, atenção e cognição flutuantes e parkinsonismo de início precoce no
curso da doença. Características que apoiam a doença incluem a hipersensibilidade aos neurolépticos e distúrbios
comportamentais do sono REM.
Atenção, habilidades visuoespaciais e funções executivas encontramse mais afetadas nos indivíduos com DCL em
comparação aos portadores de DA. Além disso, alucinações visuais como sintomas iniciais são frequentes na DCL e
também podem auxiliar no diagnóstico diferencial de DA (Sorbi et al., 2012).
As síndromes parkinsonianas são doenças neurodegenerativas com características proeminentes extrapiramidais
(bradicinesia, rigidez, instabilidade da marcha). Com frequência essas síndromes estão também associadas a
comprometimento cognitivo significativo. Dentre as síndromes parkinsonianas estão a doença de Parkinson (DP), a
paralisia supranuclear progressiva (PSP), a demência com corpos de Lewy (DCL), a atrofia de múltiplos sistemas (AMS)
e a degeneração corticobasal (DCB).
Na DP, o comprometimento cognitivo tende a surgir pelo menos 1 ano após o início dos sintomas motores. Essa regra
temporal tem sido utilizada para auxílio no diagnóstico diferencial entre DP e DCL.
A PSP é inicialmente caracterizada por oftalmoplegia supranuclear, instabilidade postural complicada por quedas e
rigidez axial.
A AMS é caracterizada pela associação de parkinsonismo com disautonomia, disfunção cerebelar ou corticoespinal.
A DCB é uma síndrome clínica heterogênea que causa parkinsonismo assimétrico, distonia e sinais como apraxia, perda
sensorial cortical ou membro alienígena (Sorbi et al., 2012).
A doença cerebrovascular é a segunda causa mais comum de demência no idoso. O aparecimento de demência no prazo
de 3 meses após um acidente vascular cerebral e a deterioração da cognição em degraus são altamente sugestivos de
demência vascular (DV). O curso, entretanto, pode ser bastante variável, e um início insidioso de alterações cognitivas
com progressão gradual e sem histórico de acidente vascular cerebral ou evidências de lateralização neurológica também
pode ser encontrado (Sorbi et al., 2012).
A apresentação clínica da DV dependerá, portanto, da localização e da causa das lesões cerebrovasculares. Uma doença
de grandes vasos leva comumente a infartos corticais (síndrome demencial cortical), enquanto uma doença de pequenos
vasos causa isquemia da substância branca periventricular e infartos lacunares, levando à demência vascular isquêmica
subcortical (DVIS), que consiste no subtipo mais comum e responsável por mais de 50% dos casos de DV (Fillit et al.,
2010). Dependendo da localização das lesões, o padrão do déficit cognitivo poderá ser subcortical, cortical ou misto
(Gallucci et al., 2005).
As demências de padrão subcortical, em geral, resultam em uma síndrome caracterizada por alterações frontais,
disfunção executiva, comprometimento leve da memória, prejuízo da atenção, depressão, alentecimento motor, sintomas
parkinsonianos, distúrbios urinários e paralisia pseudobulbar (Fillit et al., 2010). Nas demências de padrão cortical, as
características cognitivas dependerão das áreas cerebrais afetadas.
Para o diagnóstico de demência vascular deve haver evidências na anamnese, no exame físico e nos exames de imagem
(tomografia computadorizada ou ressonância magnética) de alterações compatíveis com doença cerebrovascular. O
diagnóstico é altamente sugestivo quando há predominância de disfunção executiva, sintomas neurológicos focais,
síndrome pseudobulbar e início precoce do transtorno de marcha ou urgência urinária (Jack et al., 2011). Um dos critérios
diagnósticos mais amplamente utilizados é o NINDSAIREN (National Institute of Neurological Disorders and Stroke and
Association Internationale Pour la Recherche et l‘Enseignement en Neurosciences), que porém não contempla critérios
para o diagnóstico de DVIS. Em 2000, Erkinjuntti et al. sugeriram critérios diagnósticos para esse subtipo específico.
A contribuição específica de alterações isquêmicas vistas em imagens de ressonância magnética para o déficit cognitivo
pode ser de difícil determinação em virtude da coexistência frequente de doença de Alzheimer. A presença de doença
extensa e confluente na substância branca e a localização de lesões isquêmicas em “áreas estratégicas” para a cognição,
como giro do cíngulo, lobo temporal medial, tálamo ou caudado, aumentam a probabilidade da etiologia vascular para o
comprometimento cognitivo (Maalouf et al., 2011).
Os sinais neurológicos focais que podem ser encontrados na demência vascular incluem resposta extensora plantar,
paralisia pseudobulbar, anormalidades da marcha, hiperreflexia e paresia de uma das extremidades.
O termo demência mista é mais comumente aplicado à coexistência de doença de Alzheimer e demência vascular. Porém,
outras patologias concomitantes também podem ocorrer em demência. A doença de Parkinson está presente em 20% dos
pacientes com DA, e aproximadamente 50% dos casos de demência com corpos de Lewy estão associados à doença de
Alzheimer (Heath et al., 2010).
Estudos de necropsia têm evidenciado que a patologia vascular coexistente ocorre em 24 a 28% dos pacientes com DA.
Porém, o diagnóstico e o tratamento desses pacientes com patologia mista são complexos graças à ausência de critérios
diagnósticos específicos (Langa et al., 2004).
As lesões vasculares nos pacientes com DA podem ser subestimadas e parecem estar associadas à deterioração clínica
mais rápida. A apresentação mais comum de demência mista é a de um paciente com sintomas e características clínicas
típicas de DA que sofre piora abrupta, acompanhada pela presença de sinais clínicos de AVE (Gallucci et al., 2005).
A doença de CreutzfeldtJakob (DCJ) é o protótipo das demências rapidamente progressivas. Consiste em uma doença
causada por príons, que pode ser herdada geneticamente, adquirida como uma infecção, ou esporádica. A DCJ esporádica
corresponde à forma mais comum da doença (85% dos casos) e tem uma prevalência estimada em 0,5 a 1,5 caso por
milhão; a idade média de início é 65 anos, e a duração média da doença é de 8 meses. Somente 4% dos pacientes
sobrevivem por mais de 2 anos (Maalouf et al., 2011).
Embora rara, a DCJ deve ser reconhecida prontamente devido à possibilidade de transmissão através de instrumentos
cirúrgicos contaminados ou transplante de órgãos (Sorbi et al., 2012).
Os critérios diagnósticos para a DCJ esporádica são baseados em sinais clínicos, presença de ondas periódicas trifásicas
e assimétricas no eletroencefalograma, presença no liquor da proteína 1433 e aumento de sinal nas sequências de difusão
da ressonância magnética nas regiões do córtex, gânglios da base e pulvinar (Heath et al., 2010). O padrão de progressão
acelerada associado a mioclonia, ataxia de marcha e anormalidades visuais (defeitos de campo visual e alucinações visuais)
no início do curso da doença deve sugerir DCJ. À semelhança de outras doenças neurodegenerativas, no entanto, o
diagnóstico de certeza requer confirmação histopatológica (Maalouf et al., 2011).
A depressão maior no idoso está associada frequentemente à deterioração cognitiva. Déficits cognitivos leves na
memória, na velocidade de processamento e no funcionamento executivo são particularmente comuns e, quando presentes,
estão associados à pior resposta ao tratamento antidepressivo, além de maiores chances de recaída e de incapacidade
funcional.
Um comprometimento cognitivo leve durante episódios depressivos não evolui para demência na maioria dos casos e
tende a melhorar quando os sintomas depressivos são tratados. No entanto, os sintomas cognitivos graves parecem estar
associados a um risco aumentado de demência subsequente.
A depressão geriátrica pode apresentarse concomitante ou mesmo preceder às síndromes demenciais. Alguns idosos
podem desenvolver uma síndrome demencial (antigamente denominada “pseudodemência”) secundária à depressão, que
pode ser revertida após remissão dos sintomas depressivos. Esses pacientes costumam se apresentar com uma depressão
de início tardio grave e uma síndrome demencial leve.
Quando comparados aos pacientes deprimidos com doença de Alzheimer, os pacientes com depressão e “demência
reversível” apresentam mais sintomas psíquicos e de ansiedade somática (Morimoto et al., 2015).
A determinação do padrão de disfunção cognitiva e comportamental apresentado na fase precoce da doença é
fundamental para o diagnóstico e reflete as estruturas cerebrais inicialmente comprometidas. Na doença de Alzheimer, o
comprometimento da memória episódica é frequentemente o primeiro sintoma associado ao envolvimento precoce do
córtex entorrinal e do hipocampo. Desinibição, apatia e distúrbios emocionais caracterizam os primeiros estágios da
demência frontotemporal com predominância da atrofia dos córtices anteromesial e orbitofrontal. A demência semântica
com atrofia da região temporal anterior esquerda é caracterizada por dificuldade de compreensão e discurso fluente embora
sem conteúdo, ao passo que a atrofia perisylviana é em geral associada à afasia não fluente que está relacionada com o
prejuízo da fluência verbal e com erros gramaticais. Na degeneração corticobasal, o distúrbio visuoespacial, a apraxia de
membros e a “síndrome da mão alienígena” refletem a atrofia dos lobos frontal e parietal. A atrofia parietooccipital está
associada às alucinações visuais e aos distúrbios visuoespaciais na demência com corpos de Lewy. Já nas formas
subcorticais de demência (demência vascular isquêmica subcortical, hidrocefalia por pressão normal, demência na doença
de Parkinson), nas quais os circuitos frontossubcorticais estão em geral interrompidos, há o desenvolvimento de uma
síndrome caracterizada por alentecimento motora a disfunção executiva associada aos lobos frontais (Sorbi et al., 2012).
As pesquisas em neuropsicologia têm apresentado considerável progresso em delinear padrões cognitivos e
comportamentais (Quadros 20.7 e 20.8) que possam distinguir a doença de Alzheimer de outras causas de demência e,
dessa forma, auxiliar no diagnóstico diferencial.
N: normal; A: alterado; V: variável; DA: doença de Alzheimer; TNLa: transtorno neurocognitivo leve amnéstico; DFT:
demência frontotemporal; ANFP: afasia não fluente progressiva; DCL: demência com corpos de Lewy. Fonte: Fillit et al.,
2010.
SNC: Sistema nervoso central. Fonte: Cummings, 2003.
Na DCL há um padrão de comprometimento de habilidades visuoespaciais, funções executivas e atenção mais
proeminente do que na DA, enquanto o prejuízo da memória ocorre em menor intensidade.
Estudos que investigam perfis cognitivos associados a DA e DFT sugerem que pacientes com DFT apresentam déficit
mais proeminente das funções executivas com relação a outras funções cognitivas, ao passo que na DA a disfunção
executiva é proporcional aos déficits na linguagem e nas habilidades visuoespaciais e menos proeminente do que o déficit
de memória episódica. Na variante frontal da degeneração lobar frontotemporal (demência frontotemporal), há melhor
capacidade de retenção em tarefas de aprendizagem, com padrões distintos de fluência verbal, disfunção executiva mais
acentuada e alterações marcantes do comportamento. Já nas variantes temporais de degeneração frontotemporal, afasia
progressiva e demência semântica, um pior desempenho na linguagem é tipicamente característico (Salmon e Bondi, 2009).
Quanto à demência vascular, os estudos sobre perfis neuropsicológicos têm primariamente focado na diferenciação entre
DA e demência vascular subcortical. Esses estudos têm mostrado que pacientes com DV subcortical são mais
comprometidos do que aqueles com DA em testes de função executiva, enquanto os pacientes com DA apresentam maior
comprometimento da memória episódica (Salmon e Bondi, 2009).
■
▼ Memória episódica. Uma comparação entre pontuações obtidas na evocação livre e na evocação com pistas é
bastante útil no diagnóstico diferencial entre a doença de Alzheimer e outras demências. Enquanto os pacientes com
distúrbios frontais (p. ex., demência frontotemporal) e de estruturas subcorticais (p. ex., demência vascular) tendem a se
beneficiar por meio de pistas, o mesmo não acontece na doença de Alzheimer, na qual a evocação tardia está gravemente
comprometida em consequência da atrofia do lobo temporal mesial.
▼ Memória semântica. O comprometimento seletivo é típico da demência semântica. Esses pacientes apresentam
pior desempenho na categoria fluência e nos testes de nomeação visual, quando comparados aos pacientes com DA e DFT.
■
A predominância da disfunção executiva em relação ao comprometimento da memória episódica é típica de DFT, DCB,
DV e DCL. Redução da fluência em testes, perseverações, redução da velocidade de processamento e defeitos na inibição
de respostas automáticas podem ser causados por lesões frontais ou subcorticais.
■
Pacientes com DCL e DCB apresentam particularmente um comprometimento das habilidades visuoespaciais.
Sintomas neuropsiquiátricos como depressão, ansiedade, irritabilidade ou agitação estão presentes em 90% dos casos de
demência, ainda nos primeiros anos após o diagnóstico. Entretanto, essas alterações podem preceder em meses a anos os
sintomas cognitivos e as perdas funcionais, como, por exemplo, na doença de Alzheimer (Jost e Grossberg, 1996). O
predomínio desses sintomas e a preservação inicial da memória podem indicar a presença de demência frontotemporal
(desinibição, alterações de personalidade) ou doença com corpos de Lewy (alucinações visuais e delírios, com sintomas
motores).
Os exames recomendados para investigação etiológica de um quadro demencial incluem hemograma completo,
eletrólitos, glicose, cálcio, ureia, creatinina, provas de função hepática, vitamina B12, ácido fólico, hormônios tireoidianos,
sorologia para sífilis e antiHIV para indivíduos com história de risco.
A punção lombar é indicada para casos de demência em indivíduos com menos de 55 anos, ou quando se suspeita de
condições infecciosas, inflamatórias, autoimunes ou desmielinizantes. A presença da proteína 1433 no liquor é útil para o
diagnóstico de doença de CreutzfeldtJakob. Os marcadores liquóricos na doença de Alzheimer (redução da proteína beta
amiloide e aumento da tau total e da tau fosforilada) podem auxiliar no diagnóstico mais precoce e preciso; porém, a baixa
aceitação do procedimento de punção lombar por parte dos pacientes e a ausência de padronização laboratorial limitam o
seu uso de rotina (DSM5, 2013). Biomarcadores plasmáticos na doença de Alzheimer poderão ter um papel no futuro para
monitoramento terapêutico.
A testagem genética é raramente indicada e deve ser solicitada apenas após aconselhamento apropriado. A testagem pode
estar indicada na suspeita de doença de Huntington, arteriopatia cerebral autossômica dominante com infartos subcorticais
e leucoencefalopatia (CADASIL), doença de Alzheimer e demência frontotemporal.
A neuroimagem estrutural por meio de ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada (TC) é uma etapa
necessária na investigação dos quadros demenciais. Um dos principais objetivos da solicitação desses exames é descartar
lesões intracerebrais que causem demência e possam ser potencialmente tratáveis, como hematoma subdural e hidrocefalia
de pressão normal. Além disso, permitem o diagnóstico de infartos corticais, subcorticais e alterações da substância branca
que possam justificar uma etiologia vascular, e podem evidenciar padrões de atrofia característicos de determinadas
demências. Como exemplo, a atrofia hipocampal e temporomedial são marcadores sensíveis e precoces da doença de
Alzheimer, e a atrofia do lobo temporal anterior ou frontal pode ser vista nas demências frontotemporais. A escolha de um
dos métodos (TC ou RM) dependerá da disponibilidade local, das considerações de custo e das contraindicações; porém, a
ressonância é um método mais sensível e, por esse motivo, é considerada como primeira opção em muitos serviços.
A neuroimagem funcional com tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) ou a tomografia por
emissão de pósitrons (PET) mostram padrões regionais distintos de perfusão ou metabolismo que podem auxiliar na
diferenciação entre a doença de Alzheimer e as demências vascular ou frontotemporal. A utilização da PET atualmente
ainda se restringe às pesquisas científicas devido ao alto custo e à baixa disponibilidade nos serviços de saúde (APP,
2013).
Recentes avanços na neuroimagem, como o composto B de Pittsburgh (PIB – marcador amiloide) para PET na doença e
de Alzheimer, provavelmente terão um papel no futuro para o diagnóstico diferencial das demências e o monitoramento do
tratamento. Outras técnicas em estudo para auxílio no diagnóstico das demências incluem mensurações volumétricas
cerebrais, RM com difusão, RM com espectroscopia e RM de placas senis.
O diagnóstico diferencial das demências (Figura 20.2) é um processo complexo, custoso e que demanda tempo. Apesar
do estabelecimento de critérios diagnósticos e de protocolos de investigação, as demências ainda são subdiagnosticadas e
mal classificadas quanto a sua etiologia. A existência de quadros clínicos atípicos torna ainda mais difícil essa tarefa.
Com a perspectiva da descoberta de drogas modificadoras de doença no futuro, um arsenal ainda mais amplo de
ferramentas diagnósticas estará disponível para a detecção cada vez mais precoce e precisa dos processos patológicos das
demências em suas fases préclínicas.
Figura 20.2 Algoritmo para o diagnóstico diferencial das demências. DCJ: doença de CreutzfeldtJakob; DCL: doença com
corpos de Lewy; HIV: vírus da imunodeficiência humana; TCE: traumatismo cranioencefálico. Fonte: Fillit et al., 2010.
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