Livro de DST

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     Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         2

Dados Internacionais
de Catalogação na Publicação (CIP)

Brena,  Nilson  Antonio

Doenças Sexualmente Transmissíveis  /  Nilson 
Antonio Brena.  ­­ 1.ª  ed.  ­­  São  Paulo  SP  :  Ed.  do 
Autor,   2006.

1.  Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)  2. 
Doenças Venéreas.  I.  Título.

CDD­616.95

                  Índices  para  catálogo  sistemático:

1.    Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)  :
      Doenças  Venéreas     616.95

Livro Registrado
junto à Fundação Biblioteca Nacional
sob o n.°
ISBN 978­85­902458­5­8
(Antigo ISBN 85­902458­5­3)

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Decreto n.° 1.825 de 20 de dezembro de 1907
República Federativa do Brasil
3       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

NILSON ANTONIO BRENA
   Bacharel em Ciências Biológicas

  DOENÇAS
  SEXUALMENTE
  TRANSMISSÍVEIS
  ( D S T )

Agentes Causadores
Manifestações Clínicas
Portadores Assintomáticos
Diagnóstico
Tratamento
Prevenção

  Ilustrado com
  51 Fotografias de DST

  1ª Edição
  São Paulo (SP), Brasil
  2006
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         4

Copyright © 2006 ­ Direitos Reservados em 2006
por Nilson Antonio Brena, São Paulo (SP), Brasil

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http://nilsonantoniobrena.atspace.com (sem o www)
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5       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

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Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         6

AGRADECIMENTOS

Agradeço   a   todos   que   permitiram 


fotografias   de   suas   enfermidades   para 
que   outros   indivíduos   pudessem 
conhecer   e   evitar   as   moléstias 
sexualmente transmissíveis.

Agradeço a todos os meus professores 
escolares, do primário à pós­graduação, 
sem   os   quais   este   livro   não   poderia 
existir.

Agradeço aos professores da escola da 
vida,   alguns   conhecidos,   outros   até 
desconhecidos,   que   colaboraram   na 
minha   formação,   direta   ou 
indiretamente.

Agradeço   a   todos   os   meus 


antepassados, filhos perfeitos de Deus, 
feitos à Sua Imagem e Semelhança, e 
agradeço a Deus, pelo dom da VIDA!

               Nilson Antonio Brena
7       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

DEDICATÓRIA

Dedico   este   livro   a   todos   os 


cientistas pioneiros da área da saúde 
de todas as épocas e, especialmente, 
àqueles   que   estabeleceram,   no 
século   XIX,   os   princípios   básicos 
para a identificação, pesquisa e cura 
de   doenças,   produzindo   novos 
conhecimentos, muitos destes antes 
sequer imaginados, através de árduo 
trabalho,   não   obstante   os   imensos 
obstáculos,   de   todos   os   tipos   e 
naturezas,   encontrados   à   época   de 
suas descobertas.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         8

PREFÁCIO

Estamos   no   ano   de   2006   e   as  doenças 


sexualmente   transmissíveis   (também 
denominadas de DST) se constituem num dos 
maiores problemas de saúde pública do Brasil e 
do   mundo,   com   estimativa   da   OMS 
(Organização   Mundial   de   Saúde)   de   340 
milhões   de   novos   casos   anuais   no   planeta 
apenas das principais DST curáveis (clamídia, 
gonorréia, sífilis e tricomoníase)! No Brasil, o 
Ministério   da   Saúde,   em   2003,   apresenta   as 
seguintes estimativas de ocorrências de algumas 
DST:

  Clamídia: 1.500.490 casos
    Gonorréia: 775.180 casos
    Herpes Genital: 89.110 casos
    HPV: 137.080 casos
    Sífilis: 843.300 casos

Em nosso país,  e  em  grande   parte  do 
globo,   há   ainda  muita   falta  de   informação 
sobre as DST. Como  conseqüência,  milhões de 
pessoas  não se previnem de maneira adequada, 
padecendo   desnecessariamente   destes   males, 
que já deveriam ter sido ter sido erradicados do 
9       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

mundo   há  muito  tempo,   pelos   excelentes 


medicamentos  disponíveis e simultânea adoção 
de  corretos   hábitos   de   vida,   como   a   não 
promiscuidade.   Muitos   indivíduos 
contaminados, após tratamento, mesmo obtendo 
a   cura,   tem,   algumas   vezes,   seqüelas 
irreversíveis; outros perdem suas próprias vidas 
pela   gravidade   a   que   algumas   doenças 
sexualmente transmissíveis não tratadas podem 
atingir.

Este   livro   busca   preencher   a  imensa 


lacuna existente na divulgação de informações 
básicas à população brasileira e aos países de 
língua portuguesa sobre as doenças sexualmente 
transmissíveis,   principalmente   no   sentido   de 
possibilitar a prevenção destas moléstias.

As  informações  contidas  neste  livro  não 


devem   ser   usadas   pelo   cidadão   comum   como 
meio   diagnóstico   único   de   DST:   somente   o 
médico pode fazer a diagnose perfeita de uma 
doença,   muitas   vezes   lançando   mão, 
obrigatoriamente,   de   exames   laboratoriais 
específicos para a confirmação de determinada 
moléstia,   tendo   em   vista   a   grande 
multiplicidade   de   doenças   existentes   com 
sintomas  semelhantes.  Ainda,  como  uma   DST 
quase   nunca   está   sozinha,   o   médico   também 
buscará diagnosticar e tratar outras doenças que 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         10

já   apresentam   sinais   ou   que   estejam   ainda 


assintomáticas. Por tudo isto,  sempre que notar 
qualquer   anormalidade   em   seu   organismo, 
procure um médico com urgência.

O   preservativo   sexual   masculino, 


conhecido popularmente como “ camisinha” , por 
algumas razões, não oferece proteção total para 
as   doenças   sexualmente   transmissíveis. 
Também,   para   que   um   preservativo   seja 
considerado seguro, é necessário que os poros 
de seu material constituinte tenham dimensões 
inferiores   aos   dos   menores   microrganismos 
patogênicos conhecidos, atualmente os vírus, ou 
seja, os poros da “ camisinha”  devem apresentar 
tamanho   máximo   de   0,024   µm   e   não 
esgarçarem.   Estes   assuntos   são   abordados   na 
“ Introdução”  deste livro.

A   prevenção   de   doenças   sempre   é   a 


atitude mais inteligente a ser adotada em saúde 
pública.   Na   certeza   de   que   muita   dor   e 
sofrimento serão evitados com a divulgação das 
informações deste livro, bem como, até mesmo, 
de que muitos indivíduos poderão ter suas vidas 
preservadas, é com grande satisfação e alegria 
que apresento a todos esta obra.

   Nilson Antonio Brena        
11       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

“ O   tolo   não   acredita   que   certos 


males   podem   lhe   prejudicar   e   por 
isto   não   os   evita,   chegando­lhe 
inexoravelmente   o   infortúnio;   o 
sábio   acautela­se   e   toma   as 
precauções   necessárias   para   evitar 
tais males, não lhe sobrevindo assim 
nenhum prejuízo, obtendo com isto 
a boa fortuna.”
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         12

ÍNDICE

Introdução —  A “ Camisinha”  e as Doenças Sexualmente


   Transmissíveis ................................................................ 13

1 Cancro Mole (“ Cavalo” ) .............................................. 17


2 Candidíase (Leucorréia da Mulher, “ Sapinho”  do
  Recém­Nascido) ....................................................... 24
3 Condiloma Acuminado (HPV, Papovavirus, Papilloma 
          virus, Verruga Venérea, “ Crista de Galo” ) .............. 34
4 Corrimentos Vaginais ................................................... 50
5 Fitiríase (“ Chato” ) ........................................................ 69
6 Gonorréia (Blenorragia, “ Gota Matinal” , “ Fogagem” , 
          “ Esquentamento” ) ................................................... 73
7 Granuloma Inguinal (Donovanose, Úlcera
         Serpiginosa) ............................................................. 93
8 Hepatite A (HAV) ......................................................... 101
9 Hepatite B (HBV) ........................................................ 113
10 Hepatites C, D e E (respectivamente: HCV, HDV e 
           HEV) ..................................................................... 130
11 Herpes Genital (HSV, também abordada a Herpes 
            Labial) .................................................................. 133
12 Linfogranuloma Venéreo (Clamídia, Quarta Moléstia, 
           “ Mula” ) ................................................................. 149
13 Molusco Contagioso ................................................. 157
14 Sarna (Escabiose) ..................................................... 166
15 Sífilis (Lues, Cancro Duro) ...................................... 178
16 Tricomoníase ............................................................ 207
17 Uretrites Não Gonocócicas [UNG, Clamídia 
           (Chlamydia trachomatis), Ureaplasma urealyticum,
           Gardnerella vaginalis, etc.] ................................. 213

Referências de Imagens .................................................. 223
13       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

INTRODUÇÃO

A “ Camisinha”  e as Doenças 


Sexualmente Transmissíveis
5
Ao realizarmos um exame  mais acurado 
sobre   o   preservativo   sexual   masculino, 
conhecido   popularmente   como  “ camisinha” , 
infelizmente constatamos que,  ao contrário  do 
10 que comumente se imagina, sua segurança não é 
total   para   evitar   as   doenças   sexualmente 
transmissíveis, pelas seguintes razões:

1.ª)   Estatisticamente,   de   10%   a   20%   das 


15 relações   com   o   uso   de   preservativos   não   são 
capazes de evitar a concepção, e, por dedução, 
pode­se   estender   estas   pesquisas   para   a 
contaminação por vírus, bactérias ou quaisquer 
microrganismos   causadores   de   DST.   Ainda, 
20 estas   estatísticas   para   a   concepção   terão 
provavelmente   seus   números   agravados   com 
relação às DST se considerarmos o fato de que a 
o   processo   de   fertilização   somente   é   possível 
em apenas cerca de três dias por mês —  o óvulo 
25 deve ser fecundado 24 horas após a ovulação e 
os   espermatozóides   sobrevivem,   com 
capacidade fecundante, por 72 horas no útero e 
trompas   —   e   as   DST   podem   ser   contraídas 
durante   o   mês   inteiro   (em   todas   as   relações 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         14

sexuais), ou seja, as taxas de probabilidade de  30
contração de DST seriam muito maiores do que 
as da própria fecundação relativamente a estas 
estatísticas;

2.ª)   Em adição à observação acima, mais uma  35
agravante: podemos afirmar que, relativamente 
à cabeça do espermatozóide, as bactérias podem 
ser até 11,11 vezes menores, e, os vírus, 19,23 a 
200   vezes   menores.   Ou   seja,   temos   números 
que podem piorar ainda mais as estatísticas da  40
razão   1.ª,   exposta   acima,   para   a   contração   de 
DST com o uso de preservativos;

3.ª)   Em   ao   menos   5%   das   relações   sexuais   a 


“ camisinha”   escapa do pênis durante a cópula,  45
expondo ambos os parceiros à contaminação;

4.ª) Estima­se que ocorre rasgamento ou estouro 
da  “ camisinha”   em   8%   do   total   utilizado, 
normalmente   por   incorreção   no   uso,   outras  50
vezes por defeitos de fabricação;

5.ª)   Algumas   fábricas   de   preservativos 


costumam   garantir,   oficialmente,   proteção 
máxima de 95% contra as DST, ou seja, não são  55
capazes de oferecer segurança total, e;

6.ª)  Alguns   estudos   advertem   que   a   proteção 


contra as DST oferecida pelos preservativos é, 
na melhor hipótese, de 69%, ou seja, em cada  60
15       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

10   relações   sexuais   com   pessoas   infectadas, 


usando   preservativos,   você   contrairá   alguma 
doença   sexualmente   transmissível   em   pelo 
menos 3 relações sexuais.
65

Tamanhos de Seres Microscópicos

Espermatozóide 60 µm (total: cabeça + colo + flagelo)
70 5 µm (cabeça)
5 µm (colo)
50 µm (flagelo)
Bactérias 0,45 µm a 5 µm (diâmetro)
Vírus 0,025 µm a 0,26 µm (diâmetro)
75
1 µm (1 micrômetro) equivale a 0,001 mm (0,001 milímetro)

Veja   na   tabela   acima   os   tamanhos   do 


espermatozóide, das bactérias e dos vírus. Para 
80 que um preservativo seja considerado seguro, é 
necessário   que   os   poros   de   seu   material 
constituinte   tenham   dimensões   inferiores   aos 
dos   menores   microrganismos   patogênicos 
conhecidos, atualmente os vírus, ou seja, o ideal 
85 é   que   os   tamanhos   dos   poros   da  “ camisinha”  
apresentem valores iguais ou inferiores a 0,024 
µm (vinte e quatro milésimos de micrômetro). 
Neste quesito de segurança, mais uma pergunta 
deve ser respondida:   qual é o comportamento 
90 dos   poros   de   um   preservativo   durante   o   ato 
sexual, com o natural atrito que será imposto ao 
seu uso? Os poros aumentarão de tamanho, por 
esgarçamento?   Assim,   é   necessário   que   a 
“ camisinha”   também   seja   capaz   de   manter   o 
95 tamanho   de   seus   poros   dentro   dos   valores 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         16

seguros durante e após o trabalho que realizará. 

Vários cientistas de renome internacional 
afirmam   que   a  “ camisinha”   não   oferece 
segurança total para evitar as DST, e entre eles  100
podemos   citar   a   Dra.   Susan   C.   Weller,   Dr. 
Richard   Smith,   Dr.   Robert   C.   Noble   e   o   Dr. 
Leopoldo Salmaso. Condensando os diferentes 
argumentos e pontos de vista, podemos resumir 
que as declarações mais comuns dos cientistas  105
são   as   de   que   os   poros   das  “ camisinhas”   são 
muito   maiores   do   que   os   microrganismos 
patogênicos,   o   uso   dos   preservativos   pode 
apenas diminuir a chance de contração de uma 
DST,   e   a   sua   utilização   rotineira   apenas  110
consegue,   na   melhor   hipótese,   retardar   o 
contágio, mas não acabar com ele.

Sem embargo, a melhor maneira de evitar 
as doenças sexualmente transmissíveis é não ter  115
promiscuidade,   ou   seja,   possuir   um   único 
parceiro   sexual,   saudável   e   também   não 
promíscuo.
17       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

1
120 CANCRO MOLE

1.1  Outras Denominações

Cancro   venéreo   simples,   cancróide, 


125 “ cavalo” .

1.2  Agente Causador

Bactéria Haemophilus ducreyi.
130
1.3  Manifestações Clínicas

A primeira manifestação ocorre cerca de 5 
dias (período que pode variar de 2 a 12 dias) 
135 após   o   contágio   da   bactéria   causadora:  surge 
ferida   (úlcera)   bastante   dolorosa   no   local 
infectado, arredondada e de forma irregular, de 
base mole e avermelhada, com fundo purulento, 
freqüentemente   em   multiplicidade   (várias 
140 feridas).

Tais úlceras são muito contagiosas e auto­
inoculáveis,   ou   seja,   o   próprio   indivíduo   se 
autocontamina   ao   tocar   na   ferida   e,   após,   em 
145 outras  partes   do corpo.   São locais   comuns  de 
infecção   a   genitália   externa,   prepúcio,   sulco 
bálano­prepucial,   frênulo,   grandes   lábios, 
clitóris, ânus, e não raramente os lábios da boca, 
a própria boca, língua e garganta.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         18

150

Figura 1.3.1 —  Cancro mole em pênis. Lesões 
múltiplas   ulceradas.  (Fonte:   Brasil/Ministério 
da Saúde, 1999) 155

Figura   1.3.2   —   Cancro   mole.   Úlceras   no 


prepúcio e na face interna da coxa. O pênis, ao 
encostar   na   coxa,   inoculou   a   bactéria 
Haemophilus   ducreyi  nessa   região.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999) 165
19       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Figura 1.3.3 —  Cancro mole em vulva. (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
170
Junto   com   as   úlceras,   aparece   íngua   na 
virilha   (em   geral,   de   um   só   lado),   que   é   um 
inchaço   bastante   doloroso   em   50%   dos   casos 
(Figura 1.3.4).
175

Figura 1.3.4 —  Cancro mole. Úlcera em pênis e 
adenopatia inguinal supurada em orifício único. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
180
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         20

Este   gânglio,   bastante   intumescido, 


muitas vezes vem a supurar, ou seja, surge nele 
um orifício que se abre, na virilha, por onde sai 
pus,   dando   origem   ao   chamado   bubão.   Notar 
que   a   fístula   por   onde   sai   pus   do   bubão  185
apresenta   orifício   único   no   cancro   mole, 
diferentemente   do   lifogranuloma   venéreo,   que 
apresenta várias fístulas em forma de bocal de 
regador de jardim, por onde também sai pus.
190
As   lesões   podem   ser   infeccionadas   por 
outros   microrganismos.   Não   são   raras   as 
contaminações simultâneas ou em seqüência de 
cancro   mole   e   cancro   duro   (fase   primária   da 
sífilis): ao cancro misto denomina­se cancro de  195
Rollet (Figura 1.3.5).

Figura   1.3.5   —   Cancro   de   Rollet.   Infecção 


conjunta por cancro duro (sífilis) e cancro mole.  200
Lesões apresentam características de ambas as 
doenças.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da   Saúde, 
1999)
21       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Veja a seguir como diferenciar  o cancro 
205 mole do cancro duro (sífilis):

CARACTERÍSTICAS CANCRO CANCRO


DA DOENÇA MOLE DURO

210 INCUBAÇÃO 2 A 12 DIAS 10 A 90 DIAS


NÚMERO DE LESÕES MÚLTIPLAS ÚLCERA ÚNICA
CONTORNO DA LESÃO IRREGULAR REGULAR
BASE DA LESÃO MOLE DURA
DOR NA LESÃO DOLOROSA INDOLOR
215 PUS NA LESÃO COM PUS LIMPO, SEM PUS
ÍNGUAS NA VIRILHA INFLAMADAS NÃO INFLAMADAS

1.4  Portadores assintomáticos
220
Existem,   sendo   considerável   sua 
percentagem, em especial mulheres. Tratam­se 
de   pessoas   aparentemente   saudáveis,   sem 
manifestações clínicas que, assim, acabam por 
225 disseminar   de   maneira   vasta   a   doença   para 
outras pessoas.

1.5  Diagnóstico

230 O médico ouvirá a história relatada pelo 
paciente, bem como analisará as manifestações 
clínicas presentes.

O   material   purulento   da   lesão   pode 


235 fornecer ao microscópio a observação simples 
da bactéria causadora.

Outros   métodos   podem   ser   adotados, 


Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         22

como intradermorreação, cultura ou biópsia.
240
1.6  Tratamento

Deve   ser   prescrito   exclusivamente   pelo 


médico,   sendo   através   do   uso   de   antibióticos 
específicos.   Os   resultados   são   excelentes,  245
obtendo­se   a   cura   da   doença   em   apenas   dez 
dias.

1.7  Prevenção
250
A prevenção é feita evitando­se o contato 
de pele com a bactéria.

Devido ao alto grau infeccioso da bactéria 
Haemophilus   ducreyi,   o   contato   da   lesão   por  255
mãos   e   unhas   pode   transmitir   a   doença   para 
outras partes do corpo da própria pessoa ou de 
seu   parceiro,   por   exemplo   durante   as   carícias 
que normalmente acompanham o ato sexual.
260
Higienização   minuciosa   dos   órgãos 
genitais e de todo o corpo, com água e sabonete, 
imediatamente   após   a   relação   sexual,   pode 
colaborar   para   evitar   a   contaminação; 
entretanto, esta prática muito dificilmente será  265
capaz de evitar a infecção.

Nas   relações   sexuais,   o   preservativo 


masculino   não   oferece   proteção   total   para   a 
23       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

270 doença,   cujos   principais   motivos   estão 


elencados na “ Introdução”  deste livro.

Não   ter   promiscuidade,   possuindo  assim 


um   único   parceiro   sexual   sadio,   também   não 
275 promíscuo, é a garantia mais segura.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         24

2
CANDIDÍASE

2.1  Outras Denominações
280
Cândida;   monília;   monilíase;   leucorréia; 
"sapinho"  quando   manifesta­se   na   boca   de 
recém­nascidos; etc.

2.2  Agente Causador 285

Fungo   de   nome   científico  Candida 


albicans.   Antigamente,   este   fungo   era 
denominado  Monilia   albicans,   termo 
atualmente   obsoleto,   mas   que   pode   ainda  290
aparecer   como   resultado   apresentado   em 
exames de alguns laboratórios.

Este fungo está muitas vezes presente na 
boca e no trato digestivo de homens e mulheres.  295
Também   encontra­se   geralmente   presente   na 
vagina   em   pequeno   número,   fazendo   parte   da 
flora microbiana local, nada causando de mal. 
Entretanto,   quando   o   equilíbrio   químico   ou 
biológico   do   meio   vaginal   é   alterado,   pode  300
haver uma proliferação exagerada destes seres 
microscópicos,   levando   ao   quadro   da   doença 
candidíase.   Este   equilíbrio   pode   ser   alterado 
pela   ingestão   de   antibióticos,   que   eliminam 
bactérias   da   vagina   e   permitem   a   franca  305
multiplicação   de  Candida   albicans.   Muitos 
25       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

outros   fatores   podem   favorecer   a   proliferação 


destes fungos, como a gravidez, onde há uma 
mudança dos níveis hormonais, e a diabetes não 
310 tratada,   que   aumenta   o   açúcar   disponível   no 
meio vaginal e na urina.

2.3  Manifestações Clínicas

315 Na   mulher,   a   grande   proliferação   de 


Candida   albicans  provocará   um   corrimento 
vaginal   esbranquiçado   e   grosso,   com   grumos, 
semelhante   a   leite   coalhado,   geralmente   sem 
odor, com intensa coceira local.
320

Figura 2.3.1 —  Candidíase. Secreção branca e 
grumosa   em   vagina.  (Fonte:   Brasil/Ministério 
da Saúde, 1999)
325
Freqüentemente,   além   do   corrimento 
vaginal, apresenta­se um quadro onde vulva e 
vagina   mostram­se   avermelhadas   e   inchadas 
(com edemas).
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         26

Candida   albicans  pode   espalhar­se   por  330


coxas   e   nádegas,   originando   pústulas.   Estas 
lesões   podem   aparecer   na   região   anal, 
decorrentes   da   transmissão   pelo   coito   anal   ou 
por práticas homossexuais.
335
No   homem,   a   presença   de  Candida 
albicans  é   normalmente   assintomática.   Em 
alguns casos, entretanto, o fungo pode chegar a 
causar   vermelhidão   do   prepúcio   e   da   glande, 
bem   como   edemas   leves   e   pequenas     lesões  340
avermelhadas   em   forma   de   pontos, 
acompanhadas de coceira.

Figura   2.3.2   —   Candidíase.   Eritema   e   placas  345


grumosas   brancas   em   glande   e   prepúcio. 
Balanopostite   fúngica   em   parceiro   de   uma 
paciente com candidíase vulvovaginal. Fatores 
ligados   à   higiene   pessoal   influenciam   casos 
como este. (Fonte: Brasil/Ministério da Saúde,  350
1999)
27       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Este fungo pode proliferar­se de maneira 
anormal   na   boca,   causando   aspecto 
355 esbranquiçado   na   língua.   A   candidíase,   em 
adultos,   pode   revelar   um   quadro   de   baixa 
imunidade do organismo.

A infecção por Candida albicans é muito 
360 comum na boca de recém­nascidos, que contam 
com baixa imunidade de seu sistema de defesa 
ainda em formação. Até 6 meses de idade pode 
ser   considerado   normal   o   aparecimento   de 
"sapinho";   após   esta   idade,   a   manifestação   do 
365 fungo pode denunciar um sistema imunológico 
deficiente   no   bebê,   muitas   vezes   causado   por 
amamentação   insuficiente.   No   bebê,  Candida 
albicans  faz   surgir   na   boca  da  criança   pontos 
brancos   semelhantes   a   queijo,   escamosos, 
370 cobrindo lábios, gengivas, bochechas internas e 
língua.  Ao   se   cutucar   nestes   pontos,   forma­se 
uma área vermelha que pode inflamar e sangrar. 
A dor causada à criança faz com que esta perca 
a   vontade   de   alimentar­se,   o   que   pode 
375 comprometer a nutrição do bebê. Os bicos do 
seio   da   mãe   serão   certamente   contaminados 
pelo   fungo   e   poderão   apresentar   coceira, 
ardência,   vermelhidão,   sensibilidade, 
escamação e rachaduras. Todo este quadro, no 
380 bebê e na mãe, felizmente é fácil e rapidamente 
curável   com   a   adoção   de   medidas   simples   a 
serem prescritas pelo seu médico, cujas linhas 
gerais estão relatadas no item 2.6 em seu quarto 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         28

parágrafo.
385
2.4  Diagnóstico

O   diagnóstico   é   feito   pelo   relato   do 


paciente   ao   médico,   conjuntamente   com   a 
presença   das   manifestações   clínicas   descritas,  390
confirmado   pelo   exame   microscópico   das 
secreções   onde   se   possa   visualizar   o   fungo 
Candida albicans.

O   exame   de   Papanicolaou   também   é  395


diagnóstico.

No   bebê,   o   popular  “ sapinho”  é 


facilmente identificável pelo médico através dos 
sintomas clínicos já descritos.  400

2.5  Portadores Assintomáticos

Como  Candida   albicans  é   considerada 


parte natural da flora gastrintestinal e vaginal,  405
poderíamos   dizer   que   praticamente   todos   nós 
somos   portadores   assintomáticos   do   fungo! 
Muitas literaturas chegam mesmo a afirmar que 
a   candidíase   não   pode   ser   considerada   uma 
doença   sexualmente   transmissível,   nestes  410
termos. 

Obviamente,   conforme   já   explicado, 


quando   há   uma   proliferação   anormal   deste 
29       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

415 fungo, pelas diversas razões citadas, surgem as 
enfermidades   decorrentes,   que   necessitam   de 
tratamento médico urgente.

2.6  Tratamento
420
O   tratamento   é   à   base   de   remédios 
antimicóticos,   específicos   para  Candida 
albicans,   entre   eles   antibióticos   e   pomadas,   a 
serem   prescritos   exclusivamente   pelo   seu 
425 médico:   não   utilize   medicamentos   sem 
indicação   médica,   pois   você   poderá   estar 
colocando a sua vida em risco. Os tratamentos 
são   relativamente   simples   e   oferecem 
normalmente   rápida   reversão   dos   quadros 
430 clínicos.

Lembre­se   que   o   seu   parceiro   sexual 


também   deve   ser   tratado,   pois   senão   você   se 
recontaminará continuamente, nunca obtendo a 
435 cura final.

Ainda, é importante lembrar que, além do 
tratamento   local   da   infecção   pela   candidíase, 
deve­se corrigir a causa que levou à proliferação 
440 do fungo, a fim de evitar as recidivas.

Na boca do bebê, a infecção por Candida 
albicans,   conhecida   popularmente   como 
“ sapinho” ,   é   facilmente   tratável,   com 
445 medicamento   que   somente   pode   ser   prescrito 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         30

pelo   médico.   Normalmente,   o   remédio   é 


pingado com um conta­gotas na boca do bebê. 
Ao   mesmo   tempo,   a   fim   de   evitar   a 
recontaminação do bebê, a mãe também deve se 
tratar   com   medicação   a   ser   prescrita   pelo  450
médico, curando ou evitando o aparecimento da 
doença no bico de seus seios. Adicionalmente, 
seu   médico   poderá   receitar   um   analgésico,   de 
acordo com a idade e peso de seu filho, a fim de 
diminuir   a   dor   do   lactente   e   tornar   sua  455
amamentação mais confortável. Atenção, muito 
cuidado: você não deve tentar raspar ou tirar o 
“ sapinho”   da boca do bebê, pois ele certamente 
ficará   machucado   e   com   áreas   inflamadas, 
talvez   em   carne   viva   e   sangrando:   não   tome  460
nenhuma   iniciativa,   limitando­se   a   cumprir 
estritamente   as   ordens   médicas.   Lembre­se 
também  que,  no  aparecimento   de  “ sapinho” ,  a 
recomendação   é   procurar   seu   médico   com 
urgência, que poderá receitar o medicamento e  465
tratamento   adequado   para   cada   caso;   sob 
hipótese   alguma   realize   tratamento   do 
“ sapinho”  infantil sem orientação médica.

2.7  Prevenção 470

Leia,   no   Capítulo   4  "Corrimentos 


Vaginais",   o   item   4.7  "Prevenção",   pois   os 
procedimentos   ali   descritos,   que   devem   ser 
adotados,   são   exatamente   os   mesmos   para   se  475
evitar a candidíase.
31       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Ainda,   conhecendo­se   as   causas   da 


candidíase,   previne­se   com   relativa   facilidade 
esta doença, conforme relataremos a seguir.
480
A   mulher   (ou   homem)   diabética 
descompensada   poderá   facilitar   a   proliferação 
de  Candida   albicans  nas   cavidades   de   seu 
corpo, e por isto deve realizar o tratamento de 
485 diabete   estritamente   pelas   diretivas   traçadas 
pelo seu médico.

O   desbalanceamento   hormonal   do   corpo 


da  mulher, por  inúmeras  causas,  muitas   vezes 
490 desencadeado   por   situações   psicológicas   de 
estresse,   ansiedade   ou   depressão,   pode 
favorecer a multiplicação do fungo causador da 
candidíase:   se   necessário,   procure   apoio 
psicológico ou psiquiátrico.
495
Pílulas   anticoncepcionais   podem   trazer 
desbalanceamento   hormonal   ao   corpo   da 
mulher,   causando   candidíase:   somente   tome 
estas pílulas sob prescrição e orientação médica.
500
Alimentação   deficiente   em   vitaminas   e 
sais   minerais   causa   ineficiência   do   sistema 
imunológico,   e   a   conseqüente   proliferação   do 
fungo.   Assim,   alimente­se   bem,   incluindo 
505 diariamente   frutas   e   verduras   em   sua 
alimentação.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         32

O excesso de ingestão de doces e açúcar 
pode levar a uma multiplicação desenfreada de 
Candida albicans  nas cavidades do seu corpo,  510
especialmente   na   vagina:   corrija   sua 
alimentação!

Exercícios   físicos   comprovadamente 


melhoram o sistema imunológico: previna­se da  515
candidíase e de muitas outras doenças fazendo 
exercícios   todos   os   dias.   Apenas   tome   a 
precaução de uma minuciosa avaliação médica, 
antes de iniciar­se nos exercícios, a fim de que o 
seu   médico   verifique   se   nada   impede   a   sua  520
prática   esportiva   desejada,   pois   existem 
inúmeras   doenças   insuspeitadas   ou 
assintomáticas, principalmente do coração, que 
podem   inclusive   colocar   a   sua   vida   em   risco 
com a prática de exercícios. 525

O   exame   de   Papanicolaou,   realizado   a 


cada   6   ou   12   meses,   conforme   orientação 
pessoal de seu ginecologista, é perfeito para a 
detecção precoce ou diagnóstico da candidíase. 530

Relativamente   ao  “ sapinho”   da   boca   do 


bebê, lembre­se que uma alimentação adequada 
da mãe, saudável, variada e completa, fornecerá 
um aleitamento à criança rico em vitaminas e  535
sais   minerais,   e   sem   dúvida   isto   contribuirá 
enormemente   para   o   tratamento   ou   prevenção 
do  “ sapinho”   no   nenê.   A   ingestão   de 
33       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

antibióticos, pela mãe, ou pela própria criança, 
540 poderá   fazer   surgir  Candida  albicans  na  boca 
do   bebê,   pois   os   antibióticos   alteram   a   flora 
normal do corpo. Evitar o excesso de açúcar na 
alimentação   da   mãe   pode   contribuir   para   a 
prevenção   do   aparecimento   de  “ sapinho”   no 
545 bebê, uma vez que o fungo prolifera no açúcar. 
Após as mamadas, a mãe deve higienizar o bico 
de   seus   seios,   podendo   usar   inclusive   água 
oxigenada;   os   seios   devem   ser   secos   e   ter 
aeração por algum tempo. O “ sapinho”  também 
550 pode ser contraído pela criança por chupetas e 
bicos   de   mamadeiras   não   higienizados 
adequadamente;   muitas   vezes,   estes   objetos 
caem   no   chão   e   são   recolocados   na   boca   do 
bebê, o que causa a infecção por esta ou outras 
555 doenças: sempre que caírem no chão, chupetas e 
bicos   de   mamadeiras   devem   ser   lavados   com 
água   e   sabão   e,   ainda,   bem   enxaguados 
posteriormente em água corrente, a fim de que 
não   sobrem   quaisquer   resíduos   saponáceos; 
560 quando   fora   de   casa,   pela   impossibilidade   de 
efetuar   a   limpeza,   uma   boa   idéia   é   a   mãe 
carregar   consigo  algumas  chupetas   e  bicos   de 
mamadeira   sobressalentes   previamente 
higienizados.
565
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         34

3
CONDILOMA ACUMINADO

3.1  Outras Denominações 570

HPV,   verruga   venérea,  “ crista   de   galo” , 


“ couve­flor” , “ jacaré” , “ jacaré de crista” , etc.

3.2  Agente Causador 575

Papilloma virus, com mais de 100 tipos 
diferentes de vírus, denominados coletivamente 
de   HPVs   (Human   Papilloma   Viruses  —  
tradução:   Vírus   do   Papilloma   Humano);  580
comumente se refere aos vírus denominando­os 
simplesmente   de   HPV;   algumas   literaturas 
chamam   de  Papova   virus,   referindo­se   aos 
mesmos   agentes.   Vamos   esclarecer   estas 
nomenclaturas: em biologia, o  Papilloma virus  585
é   um   vírus   classificado   sob   o   Gênero 
Papillomavirus,   que   se   insere   na   Família 
Papovavirus,   a   qual   abriga   também   um   outro 
Gênero   de   vírus,   denominado  Polyomavirus, 
que causam outras doenças ao homem. 590

Papilloma virus, em seus inúmeros tipos, 
tem diferentes potenciais oncogênicos (ou seja, 
capacidade   de   provocar   o   surgimento   de 
câncer), a saber: 595

1. Baixo risco oncogênico: tipos 6, 11, 42, 43 e 
35       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

44;

600 2. Risco oncogênico intermediário ou alto: tipos 
16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 
68.

3.3  Manifestações Clínicas
605
Verrugas   que   aparecem   visivelmente   no 
pênis   (sulco   bálano­prepucial,   glande)   ou   na 
área púbica e, na mulher, nos lábios vaginais ou 
na   área   púbica;   as   mesmas   verrugas   também 
610 podem aparecer no ânus. A infecção por HPV 
normalmente   ocorre   em   mais   de   uma   área 
genital.

Figura 3.3.1 —  Condiloma acuminado. Lesões 
vegetantes   verrucosas   em   pênis,   multifocais, 
com   aparência   de  “ crista   de   galo”   ou  “ couve­
620 flor” . (Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         36

Figura 3.3.2 —  Condiloma acuminado. Lesões 
vegetantes em vulva.  (Fonte: Brasil/Ministério 
da Saúde, 1999) 625

Figura 3.3.3 —  Condiloma acuminado. Lesões 
vegetantes   em   borda   anal.  (Fonte:  630
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
37       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Figura   3.3.4   —   Condiloma   acuminado. 


Condilomatose   em   vulva.   Condiloma   gigante 
635 em   vulva,   o   qual,   apesar   de   muito   grande, 
estava   pediculado   no   períneo.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

As   verrugas   podem   aparecer   de   três   a 


640 quatro   semanas   após   o   contágio   pelo   vírus 
Papilloma.   As   papilas   podem   coalescer, 
ganhando   o   aspecto   de  "couve­flor". 
Normalmente,   as   verrugas   não   são   dolorosas, 
podendo, às vezes, apresentar coceira; no caso 
645 de   má   higiene,   a   umidade   local   poderá   trazer 
odor   desagradável.  As   mulheres,   em   especial, 
devem   ficar   atentas   a   leves   coceiras,   dor   na 
relação   sexual   ou   corrimentos,   que   também 
podem   ser   sintomas,   entre   outras   doenças,   de 
650 HPV,   embora,   na   maior   parte   das   vezes,   a 
infecção   por   este   vírus   costume   ser 
assintomática.

Acredita­se   que   os   diferentes   tipos   de 


Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         38

HPV causem verrugas em partes específicas do  655
corpo. São manifestações de HPV o surgimento 
de papilas ou verrugas em diversos locais, como 
mãos, pés, boca e até mesmo nas cordas vocais. 
Muitas   vezes,   parece   haver   afinidade   do   tipo 
específico   de   HPV   com   o   tecido   infectado:  660
estudos tem afirmado que as verrugas de mãos e 
pés,   por   exemplo,   não   seriam   capazes   de 
contaminar os órgãos genitais (são necessárias, 
ainda,   mais   pesquisas   para   obtermos   certeza 
total   desta   afirmação);   a   manifestação   das  665
verrugas   orais,   entretanto,   pode   infectar   os 
órgãos genitais e vice­versa.

Manifestações   não   visíveis   podem 


ocorrer,   escondidas,   interiormente   na   uretra  670
masculina   ou   feminina,   ou   até   mesmo   na 
bexiga.   Como   conseqüências   destes   casos, 
podem ocorrer os sintomas de vontade de urinar 
com   freqüência,   micção   em   jatos   ou   em 
descarga ou sangramentos. 675

O HPV também pode ocultar­se no reto 
(parte final do intestino que antecede o ânus), 
com o surgimento de verrugas internas.
680
Na mulher, o HPV também pode causar 
verrugas no interior do canal vaginal ou no colo 
do útero. No útero, a infecção por HPV, se não 
descoberto   e   tratado   precocemente,   poderá 
conduzir a câncer uterino. Estudos afirmam que  685
39       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

98% dos cânceres de colo de útero são causados 
por HPV. Podemos dizer que o câncer de colo 
de   útero,   nestes   casos,   é   de   fato   uma   doença 
progressiva, onde temos, nos primeiros estágios, 
690 apenas   alterações   celulares,   que   vão,   porém, 
gradativamente,   realizando   uma   evolução   que 
certamente se converterá em câncer; felizmente, 
o HPV é uma doença curável em 90% dos casos 
detectados   nos   estágios   inicias   da   doença   e, 
695 assim   diagnosticado   e   tratado,   impedirá   o 
surgimento de câncer: isto pode ser facilmente 
prevenido,   bastando   a   mulher   realizar   o   seu 
exame   ginecológico   Papanicolaou   uma   vez   a 
cada 6 meses.
700
Assim como o câncer de colo de útero, o 
HPV também pode causar o câncer de reto.

O   HPV   também   pode   apresentar­se   sob 


705 dimensões microscópicas, não visíveis portanto 
a   olho   nú,   no   pênis,   vulva,   vagina,   colo   do 
útero, ânus, reto, boca, etc., o que normalmente 
traz nenhuma manifestação clínica visível.

710 3.4  Diagnóstico

O médico pode reconhecer visualmente as 
verrugas   causadas   pelo  Papilloma   virus.  Caso 
estas verrugas sejam muito pequenas ou lisas, 
715 ou   mesmo   com   a   finalidade   de   realizar   um 
exame   mais   apurado,   o   profissional   de   saúde 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         40

pode   borrifar   vinagre   (ácido   acético)   sobre   a 


genitália e região púbica e anal, uma vez que o 
vinagre   faz   com   que   eventuais   verrugas   não 
facilmente visíveis a olho nú se destaquem com  720
clareza, pois as mesmas tornam­se brancas: este 
procedimento   normalmente   é   realizado 
conjuntamente  com  aparelhos  ou  câmeras  que 
podem   ampliar   a   imagem   da   área   examinada, 
como   o   tradicional  colposcópio,   que   permite  725
uma ampliação da imagem de 10 a 40 vezes, ou 
com modernas câmeras, programas e monitores 
de vídeo em computação. O vinagre faz também 
com   que   outras   alterações   de   pele,   não 
necessariamente   causadas   por   HPV,   sejam  730
destacadas, e, por isso, outros exames adicionais 
podem  ser  solicitados, por  suspeitas  de  outras 
possíveis doenças sexualmente transmissíveis.

No   homem,   o   exame   de   peniscopia   de  735


rotina pode detectar o HPV caso haja verrugas 
visíveis. Na presença de alterações da pele que 
causem dúvida sobre a infecção por HPV, pode 
ser   realizada   biópsia   ou,   preferivelmente,   o 
método   mais   moderno   da   atualidade,  740
denominado  Captura   Híbrida,   que   não   causa 
dor   e   é   muito   simples:   com   auxílio   de   uma 
pequena escova, é colhido amostras de secreção 
ou da elevação de pele da região afetada, e a 
escova é então colocada em um vidro contendo  745
líqüido   especial   e   enviada   para   análise 
laboratorial,   que   fornecerá   o   diagnóstico 
41       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

preciso.   A  Captura   Híbrida   é   um   exame   tão 


perfeito   que   consegue   diagnosticar   a   presença 
750 de   HPV   mesmo   antes   de   haver   qualquer 
manifestação clínica!

Na   mulher,    a   investigação   pelo   HPV  é 


um   dos   principais   alvos   do   exame 
755 Papanicolaou,   conhecido   popularmente   pelo 
nome simplificado de Papanicolau, exame este 
criado   nos   E.U.A.   pelo   grego   Dr.   George 
Papanicolaou   em   1940,   e   que,   desde   a   sua 
criação, reduziu em 70% as mortes por câncer 
760 de colo do útero! Toda mulher deve realizar o 
exame Papanicolaou uma vez a cada 6 meses; 
em muitos casos, de acordo com sua saúde, seus 
hábitos   e   estilos   de   vida,   é   possível   que   seu 
médico   lhe   prescreva   um   exame   anual   único 
765 como   sendo   suficiente.  Na   parte   visual   do 
exame, o médico, lançando mão de um espéculo 
vaginal,   que   é   um   instrumento   utilizado   para 
afastar as paredes internas da vagina, usa então 
um colposcópio para examinar o colo do útero: 
770 as   imagens   assim   obtidas   possuem   grande 
aumento,   possibilitando   a   detecção   de 
alterações   invisíveis   a   olho   nú.   Caso   sejam 
detectados   problemas,   o   médico   pode   realizar 
biópsia do colo do útero: é retirado um pequeno 
775 fragmento, procedimento praticamente indolor, 
e   o   material   coletado   é   enviado   para   o 
laboratório   realizar   seu   exame 
anatomopatológico, que finalmente fornecerá os 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         42

resultados.   No   caso   específico   de   HPV, 


dispomos   atualmente   do   moderníssimo   exame  780
de Captura Híbrida, já explicado no parágrafo 
anterior,   que   é   extremamente   simples   e   não 
causa dor: na mulher, após abrir a vagina com o 
espéculo,   o   médico,   com   auxílio   de   uma 
pequena escova, coleta amostras de secreção do  785
colo do útero, da vagina ou da vulva; a escova é 
colocada em um recipiente com líqüido especial 
e enviada para análise no laboratório. A Captura 
Híbrida é o único exame que pode dizer se a 
infecção por HPV existe ou não, sendo capaz de  790
detectar   a   presença   do   vírus  Papilloma  antes 
mesmo de haver qualquer manifestação clínica!

Figura   3.4.1   —   Fotografia   do   Dr.   George 


Papanicolaou (1883­1962).
43       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

3.5  Portadores Assintomáticos

800 Existe   grande   número   de   portadores 


assintomáticos, homens e mulheres. Conforme 
já explicado, o HPV pode estar presente na pele 
apenas microscopicamente, ou seja, totalmente 
invisível a olho nú.
805
Os   portadores   assintomáticos   são   os 
grandes propagadores da moléstia causada pelo 
Papilloma virus.

810 3.6  Tratamento

Consiste, basicamente, na  eliminação das 
verrugas,   o   que   somente   pode   ser   prescrito   e 
realizado por médico. O médico lançará mão de 
815 aparelhos físicos próprios para a eliminação de 
verrugas,   ou  então   usará   substâncias   químicas 
apropriadas   para   o   feito,   a   seu   exclusivo 
critério, de acordo com cada caso. Para clareza, 
reafirmamos: a eliminação de verrugas do HPV 
820 somente   pode   ser   prescrita   e   executada   por 
médico,   sob   risco   de   se   provocar   graves 
conseqüências   à   própria   saúde,   inclusive   com 
risco de vida.

825 O   HPV   é   considerado   uma   doença 


crônica,   algumas   vezes   sem   cura.   Mesmo 
depois que as verrugas são tratadas e removidas, 
a pessoa ainda pode estar infectada pelo HPV. 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         44

Existem,   porém,   casos   em   que   as   verrugas 


regridem   no   crescimento.   Ainda,   após   o  830
tratamento   e   remoção   das   papilas,   é   estimado 
que,   em   70%   a   90%   das   pessoas,   a   infecção 
pelo  Papilloma   virus  é   transitória,   isto   é,   o 
corpo humano consegue eliminar o vírus por si 
mesmo, dentro de aproximadamente dois anos,  835
conforme tem sido demonstrado por pesquisas 
científicas.

Após obtido sucesso na cura, infelizmente 
são   muito   comuns   os   casos   de   re­infecção,  840
provavelmente pelo não tratamento do parceiro 
sexual:   o   tratamento   completo   do   casal   é 
indispensável   para   a   cura   perfeita.   A 
promiscuidade   também   pode   ser   a   causa   de 
nova contaminação, bem como o descuido com  845
hábitos higiênicos básicos.

Relativamente ao câncer de útero causado 
por HPV, como já dissemos, o índice de cura, 
com tratamentos adequados, é de cerca de 90%  850
para os casos em que o HPV é detectado nas 
fases   iniciais   da   doença:   o   exame   semestral 
Papanicolaou   é   condição   básica   para   o 
diagnóstico   precoce   de   HPV.  Ainda,   é 
reconhecido   e   provado   que   o   tabagismo,  855
associado   ao   HPV,   certamente   levará   ao 
aparecimento de câncer de colo de útero: caso já 
tenha sido diagnosticada com  Papilloma virus, 
deixe de fumar imediatamente.
45       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

860 Alimentação saudável e exercícios físicos 
melhoram   a   imunidade   do   organismo,   e   são 
auxiliares   imprescindíveis   no   tratamento   de 
HPV.   Respeite   os   horários   de   dormir,   e 
abandone vícios como drogas, álcool e tabaco, 
865 que causam baixa grave do sistema imune; não 
tome medicamentos sem indicação médica, pois 
muitos diminuem a resposta imunológica de seu 
organismo. Lembre­se também de praticar sua 
religião ou filosofia de vida.
870
3.7  Prevenção

Os   números   da   infecção   por   HPV 


assustam!   As   pesquisas   mais   favoráveis 
875 contabilizam   de   20%   a   40%   de   homens   e 
mulheres   adultos   infectados   por   HPV.   Outros 
levantamentos chegam a afirmar que ao menos 
50%   de   homens   e   mulheres   em   idade 
sexualmente   ativa   estão   contaminados   pelo 
880 Papilloma   virus.   Alguns   consultórios 
ginecológicos relataram, recentemente, em São 
Paulo,   capital,   que   a   média   de   infecção   por 
HPV,   em   suas   pacientes,   é   de   cerca   de   80%! 
Pesquisas tem demonstrado que, ao 50 anos de 
885 idade,   ao   menos   80%   das   mulheres   terá 
contraído o HPV uma vez ao menos em suas 
vidas!   No   nordeste   brasileiro   verifica­se   uma 
das maiores incidências mundiais de câncer do 
colo   do   útero:   40.000   mulheres   desenvolvem 
890 por   ano   a   neoplasia.   Os   portadores 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         46

assintomáticos   são   provavelmente   os   grandes 


transmissores   do  Papilloma   virus.   Alguns 
hospitais públicos tem relatado que a média de 
pacientes   que   realizam   o   exame   de 
Papanicolaou   e   não   vão   depois   buscar   o  895
resultado varia de 20% a 30%, expondo assim 
muitas   mulheres   portadoras   do   HPV   ao 
desenvolvimento   de   câncer,   por   pura   falta   de 
tratamento nos estágios iniciais!
900
Alguns estudos afirmam que o Papilloma 
virus  tem   sobrevida,   por   algum   espaço   de 
tempo,   fora   do  corpo   humano,   em   superfícies 
não   perfeitamente   higienizadas.   Por   isto,   o 
contato   com   objetos   ou   superfícies  905
contaminadas com HPV pode ser um meio de 
transmissão. Em motéis, onde muitas vezes há 
grande   e   ininterrupto   trânsito   de   casais   que 
realizam relações sexuais, e se sucedem quase 
instantaneamente   na   ocupação   dos   quartos,  910
deve­se   tomar   muito   cuidado   com   a 
higienização de móveis e objetos de uso comum 
e   constante,   como   colchões,   lençóis, 
travesseiros,   fronhas,   toalhas,   piscinas, 
banheiras,   torneiras,   maçanetas   de   portas,  915
elementos   do   sanitário   e   banheiro,   etc.:   todos 
estes   objetos   são   potenciais   transmissores   do 
HPV caso abriguem o vírus em algum ponto de 
suas   superfícies.   O   uso   comum   de   toalhas   ou 
roupas íntimas é um péssimo hábito higiênico,  920
que pode trazer a infecção pelo Papilloma virus. 
47       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Saunas,   banheiros   públicos,   etc.,   também   são 


considerados   meios   de   transmissão   por   HPV, 
caso   apresentem   pontos   de   superfície 
925 contaminados disponíveis ao toque humano.

Os   carinhos   entre   o   casal,   que 


normalmente   precedem   a   relação   sexual, 
provavelmente transmitirão o HPV caso um dos 
930 parceiros   seja   portador,   pois   mãos   e   unhas 
contaminados   são   potenciais   transmissores;   a 
auto­inoculação,   também   por   mãos   e   unhas, 
espalhando   a   doença   para   outras   regiões   do 
corpo, é muito freqüente.
935
Como já foi dito anteriormente, no sexo 
oral pode haver transmissão de HPV, da boca 
para a genitália ou vice­versa, existindo casos 
de infecção, além da própria boca, das cordas 
940 vocais inclusive.

Os casos de HPV na região do ânus são 
muito   freqüentes,   especialmente   entre 
homossexuais, mesmo quando não há relatos de 
945 penetração.   Além   das   verrugas   externas, 
lembramos   mais   uma   vez   que   o   HPV   pode 
causar   internamente   o   câncer   de   reto   (porção 
final do intestino).

950 No ato sexual, o uso de  “ camisinha”   não 


oferece segurança total, tanto pelos motivos já 
elencados   na  “ Introdução”   deste   livro   como 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         48

também   por   não   impedir   o   contato   das   áreas 


púbicas   dos   parceiros,   que   podem   apresentar 
áreas infectadas, capazes de transmitir o HPV,  955
que é muito infeccioso. 

Relativamente ao comportamento sexual, 
não   ter   promiscuidade,   possuindo   assim   um 
parceiro   saudável   único,   também   não  960
promíscuo,   é   o   único   meio   100%   seguro   de 
evitar a contaminação.

É   essencial   manter­se   boa   alimentação, 


completa e nutritiva, realizar exercícios físicos  965
regularmente e respeitar os horários de sono, o 
que   fará   com   que   seu   sistema   imunológico 
mantenha­se   em   excelente   estado,   dando 
condições   ao   seu   organismo   de   evitar   a 
contaminação pelo  Papilloma virus  ou mesmo  970
eliminá­lo: muitas pessoas contraem o HPV e se 
curam   dele   sem   saber   que   um   dia   estiveram 
contaminadas. Drogas, álcool e cigarros causam 
depleção   do   sistema   imune,   e   devem   ser 
suprimidos;   muitos   medicamentos   também  975
causam   prejuízo   ao   sistema   de   defesa   de   seu 
organismo,   e   por   isto   você   não   deve   ingerir 
remédios sem prescrição médica. Não esqueça 
de sua espiritualidade: pratique sua religião ou 
filosofia de vida. 980

Vários países estão desenvolvendo vacina 
contra   o   HPV,   e   o   Brasil,   em   especial,   está 
49       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

muito adiantado nesta pesquisa. Em nosso país, 
985 a vacina já está inclusive em fase final de testes, 
e   poderá   estar   à   disposição   do   público   a 
qualquer   momento.   A   vacina   será 
intramuscular, prometendo ser eficaz contra os 
tipos mais comuns de Papilloma virus: 6, 11, 16 
990 e 18.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         50

4
CORRIMENTOS VAGINAIS

4.1  Outras Denominações 995

Leucorréia; vaginite; vaginose; etc.

Ao   pé   da   letra,   leucorréia   significa 


corrimento   branco:   como   nem   todos   os  1000
corrimentos vaginais tem esta cor, não é correto 
o   seu   uso   para   definir   todos   os   corrimentos 
vaginais, mas apenas os que apresentam a cor 
esbranquiçada.   Neste   livro   são   abordados   os 
diferentes tipos de corrimentos. 1005

Vaginite,   literalmente,   significa 


inflamação da vagina, muitas vezes causada por 
irritação   ou   alergia   a   certos   materiais   ou 
substâncias   químicas,   ou   por   infecção   de  1010
microrganismos dos tecidos vaginais; vaginose 
se refere ao acometimento de moléstia à vagina, 
com ou sem lesão de seus tecidos constituintes. 
O uso popular destes termos nem sempre reflete 
a   situação   real   dos  corrimentos,   uma   vez   que  1015
nem   todos   eles   resultam   em   vaginite   ou 
vaginose.

Inúmeras são as causas dos corrimentos, 
bem como suas diversas conseqüências. 1020
51       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

4. Agente Causador

Os   corrimentos   vaginais   que   não   tem 


1025 origem   patológica,   ou   seja,   não   são   causados 
por   doenças,   e   são   considerados   normais, 
decorrem   apenas   de   flutuações   dos   níveis 
hormonais da mulher.

1030 Os   corrimentos   patológicos   podem   ser 


causados   por   doenças   sexualmente 
transmissíveis, como nos casos de candidíase e 
tricomoníase: leia, neste livro, os Capítulos 2 e 
16,   respectivamente,   para   conhecer   estas 
1035 patologias.

Outras   causas   para   os   corrimentos 


anormais   são:   infestações   por   vermes,   como 
oxiúros,   estrongilóides   e   outros   (ocorrências 
1040 mais   comuns   em   crianças);   infecção   por 
microrganismos   diversos,   como   fungos,   vírus, 
bactérias   e   protozoários,   e;   câncer, 
especialmente   em   mulheres   idosas   ou   que   já 
passaram   pela   menopausa,   havendo   mais   de 
1045 doze tipos diferentes de neoplasias que podem 
acometer os órgãos  genitais  femininos,  o que, 
ao   mesmo   tempo,   é   facilmente   prevenido   e 
diagnosticado   através   do   exame   semestral 
feminino de Papanicolaou.
1050
A   bactéria  Gardnerella   vaginalis 
(antigamente   denominada  Corynebacterium 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         52

vaginale  e   também  Heamophilus   vaginalis  —  


termos que ainda podem aparecer nos resultados 
expedidos   por   alguns   laboratórios   clínicos)   é  1055
uma das causas da vaginose bacteriana.

Figura 4.2.1 —  Vaginose bacteriana. Volumosa 
secreção homogênea em intróito vaginal. Vulva  1060
sem   hiperemia.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da 
Saúde, 1999)

Bacilos   de   Doderlein   podem   provocar 


sintomas   iguais   aos   da   candidíase,   mas   o  1065
tratamento   do   corrimento   gerado   por   estes 
bacilos é diferente.

Corrimento   vaginal   também   pode   ser 


originado por vaginite atrófica, por queda nos  1070
53       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

níveis   hormonais,   por   ocasião   do   parto, 


amamentação ou menopausa.

Outras   causas   não   comuns   podem 


1075 provocar   corrimentos   anormais:   a  presença   de 
corpos   estranhos   no   meio   vaginal   (crianças 
podem inserir objetos) pode causar irritação das 
mucosas e, em decorrência, a hipersecreção de 
muco;   a   ingestão   de   drogas;   medicamentos 
1080 tomados sem orientação médica; diabetes; etc.

Vaginites   irritantes,   provocando 


corrimentos,   podem   ter   como   causa   o   uso   de 
determinados   cremes   lubrificantes   no   ato 
1085 sexual,   certos   espermaticidas,  "camisinha", 
diafragma,   ou   até   mesmo   por   alguns 
absorventes internos ou externos. 

Corrimentos oriundos de vaginite alérgica 
1090 podem   ser   resultado   do   contato   com   os   itens 
citados   no   parágrafo   anterior,   bem   como,   em 
algumas mulheres, por calcinhas de nylon, lycra 
ou   outros   tipos   de   tecidos   sintéticos,   meias­
calças, jeans, roupas muito apertadas, etc.
1095
O uso de chuveirinho como ducha vaginal 
pode   provocar   vaginite   ou   vaginose   e, 
conseqüentemente,   corrimentos:   nunca   realize 
este procedimento sem prescrição médica.
1100
As   inflamações   da   genitália   externa 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         54

(vulva),   denominadas   de   vulvites,   podem 


originar   corrimentos,   tendo   como   causas 
freqüentes, em algumas mulheres: perfumes ou 
desodorantes   íntimos;   papel   higiênico  1105
perfumado ou colorido; determinados tipos de 
sabonetes;   mesmo   não   aplicados   diretamente 
sobre   a   vulva,   alguns   tipos   de   xampus, 
condicionadores   e   cremes   para   cabelos;   os 
produtos de limpeza utilizados para a lavagem  1110
de roupa, como determinados tipos de sabão em 
pó, sabão em pedra e amaciantes de roupa; etc.

As   inflamações   do   colo   do   útero, 


denominadas   de   cervicites,   com   inúmeras  1115
causas,   podem   originar   corrimentos   que 
ganharão   saída   pela   vagina.  As   causas   mais 
freqüentes   das   cervicites   são   a   infecção   por 
herpes,   clamídia,   gonorréia   e   muitas   outras 
infecções bacterianas. O uso de contraceptivos  1120
orais   (popularmente   chamados   de  "pílulas"), 
bem   como   a   gravidez,   podem   levar   a 
inflamações   do   colo   do   útero.   Cervicites 
crônicas   podem   surgir   após   o   parto. 
Sensibilidade a materiais e substâncias químicas  1125
diversas   também   pode   resultar,   em   algumas 
mulheres,   em   cervicites:   espermaticidas,   látex 
das camisinhas, tampões vaginais, etc.

Pólipos, que são crescimentos tumorais de  1130
tecidos, freqüentemente são causas de secreções 
mucosas   e,   até   mesmo,   de   hemorragias, 
55       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

verificadas   após   relações   sexuais,   atividades 


físicas intensas, etc., constituindo­se, assim, em 
1135 mais uma causa para corrimentos exteriorizados 
pela vagina. 

4.3  Manifestações Clínicas

1140 Os corrimentos vaginais que não possuem 
uma   doença   como   causa,   são   considerados 
processos   fisiológicos   decorrentes,   muitas 
vezes, apenas da variação dos níveis hormonais 
femininos.   Nestes   casos,   podemos   considerar 
1145 estes   corrimentos   como   normais.   No   ciclo 
menstrual há períodos onde ocorre naturalmente 
um aumento da secreção de muco pelo colo do 
útero: em algumas mulheres, mas não em todas, 
chega a haver, neste caso, corrimento vaginal, 
1150 no   período   pouco   antes   ou   pouco   depois   da 
menstruação,   o   que   pode   ser   considerado 
normal.  Em   quantidade,   o   corrimento 
considerado fisiológico é de pouca abundância, 
de   cor   transparente   a   ligeiramente 
1155 esbranquiçado,   ausente   de   quaisquer   outros 
sintomas,   ou   seja,   sem   dor,   sem   coceira,   sem 
ardência, etc. Este corrimento não é patológico 
e não necessita de cuidados médicos; entretanto, 
como   regra   básica,   havendo   corrimento   a 
1160 melhor   coisa   a   fazer   é   procurar   seu 
ginecologista   com   urgência,   a   fim   de   sanar 
qualquer   dúvida.  É   preciso   acrescentar   que 
estresse e estados emocionais alterados podem 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         56

contribuir para a ocorrência desta hipersecreção 
de muco, e a persistência, por longos períodos,  1165
destes   corrimentos,   pode   deixar   o   corpo 
predisposto a doenças.

Já os corrimentos de origem patológica, e 
portanto   anormais,   dão,   em   grande   parte   das  1170
vezes, embora nem sempre, sinais claros de que 
alguma   coisa   está   errada,   de   acordo   com   sua 
causa:   corrimento   abundante;   cores   diversas, 
como vermelho, amarelo, verde ou escuro; odor 
desagradável   e   fétido;   dor;   ardência;   coceira;  1175
vermelhidão da genitália; vontade de urinar com 
freqüência.

Entretanto, como foi dito, nem sempre um 
corrimento patológico pode estar revestido das  1180
características   acima:   ele   pode   ser   pouco 
abundante,   discreto,   sem   coloração,   odor   ou 
outros   sintomas.   Como   regra   básica,   havendo 
corrimento é aconselhável você consultar o seu 
ginecologista com urgência. 1185

O   corrimento   vaginal   causado   pela 


bactéria  Gardnerella   vaginalis  normalmente 
apresenta­se   homogêneo   com   aspecto 
amarelado ou acizentado, bolhas esparsas e odor  1190
fétido.   O   desagradável   cheiro   aparece 
principalmente   durante   as   relações   sexuais   ou 
na   menstruação.   O   corrimento   causado   por 
Gardnerella  pode   ser   confundido,   por   sua 
57       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

1195 semelhança, com o da tricomoníase (patologia 
descrita no Capítulo 16 deste livro). A bactéria 
causadora   não   invade   a   parede   da   vagina, 
apresentando, por vezes, além do corrimento e 
mau cheiro, apenas uma leve coceira, o que faz 
1200 a mulher não dar atenção à infecção. O parceiro 
sexual   masculino   pode   estar   infectado,   mas 
quase   nunca   apresentará   qualquer   sintoma 
clínico;   alguns   homens,   entretanto,   podem 
apresentar   balanite,   ou   seja,   inflamação   da 
1205 glande e, também, do prepúcio, ou uretrite, que 
é   a   inflamação   da   uretra,   a   qual   pode   ser 
assintomática   ou,   mais   raramente,   causar 
coceira   ou   sensação   de   queimação   no   ato   de 
urinar.   A   contaminação   por  Gardnerella  no 
1210 homem   pode,   em   casos   raros,   provocar   um 
corrimento   uretral.   Sabendo   que   sua   parceira 
possui   a   bactéria,   o   homem,   ainda   que   sem 
sintomas, deve procurar tratamento médico com 
urgência,   a   fim   de   evitar   que   a   infecção   se 
1215 espalhe   para   seu   aparelho   genital   e   urinário 
internamente   e   venha   a   causar   graves 
complicações. Na mulher, a falta de tratamento 
à infecção por Gardnerella vaginalis pode levar 
também   a   sérias   complicações,   como 
1220 endometrite,   salpingite   e   até   mesmo   à 
infertilidade.

4.4  Diagnóstico

1225 É   indispensável   a   consulta   com   um 


Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         58

médico   ginecologista.   Isto   se   deve   ao   fato   de 


que,   muitas   vezes,   exames   laboratoriais 
negativos   não   são   indicativos   de   que   há 
ausência   de   problemas.   No   exame   clínico,   o 
médico inicialmente faz perguntas à paciente, e  1230
as   respostas   obtidas   são   muito   importantes. 
Além   disto,   o   ginecologista   pode   solicitar   o 
exame   Papanicolaou   ou   outros   exames   de 
laboratório.
1235
O corrimento vaginal cuja causa seja pela 
bactéria  Gardnerella   vaginalis  pode   ser 
diagnosticado no próprio consultório de alguns 
ginecologistas,   através   de   exame   próprio   para 
esta finalidade. 1240

4.5  Portadores Assintomáticos

No homem, é assintomática a presença de 
muitas espécies de microrganismos capazes de  1245
causar   corrimentos   vaginais   em   sua   parceira 
sexual, e, por isto, esta pode vir a infectar­se por 
estes micróbios através das relações sexuais. 

Muitas   doenças   sexualmente  1250


transmissíveis   são   capazes   de   provocar 
corrimentos vaginais, ao mesmo tempo em que 
podem   ser   assintomáticas   no   homem.   Os 
portadores   assintomáticos   são   os   grandes 
propagadores   destas   doenças,   especialmente  1255
quando são promíscuos.
59       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

A  infecção   por  Gardnerella   vaginalis  é 


muitas vezes assintomática na mulher, e quase 
sempre desprovida de sintomas no homem.
1260
A   partir   do   nosso   nascimento,   temos 
contato   com   inúmeros   germes,   como   fungos, 
vírus, bactérias, etc., muitos dos quais não nos 
causam  doenças,  se alojando em nossa pele  e 
1265 cavidades   do   corpo,   como   boca,   intestinos, 
uretra,   vagina,   etc.   Estes   microrganismos 
constituem a nossa chamada  flora microbiana 
normal, com a qual conviveremos pelo resto de 
nossas vidas, num estabelecimento perfeito de 
1270 combate eficaz de nosso sistema imunológico, 
que   impede   a   proliferação   exagerada   destes 
seres, e também pela competição, existente no 
micro­habitat   ocupado,   por   estes   micróbios 
entre   si;   muitos   destes   microrganismos   são 
1275 extremamente   importantes   para   a   nossa 
sobrevivência,   como   a   nossa  flora   intestinal, 
cujo desequilíbrio pode provocar, por exemplo, 
diarréia. A literatura científica desde há muito 
tempo tem afirmado que a presença de várias 
1280 espécies de microrganismos na vagina é um fato 
natural,   não   decorrente,   necessariamente,   de 
contágio por relação sexual. Reconhece­se uma 
certa   flora   natural   no   meio   vaginal,   com   a 
presença   inclusive   de  Gardnerella   vaginalis  e 
1285 bacilos   de   Doderlein.   Havendo   ruptura   do 
equilíbrio   existente   entre   os   microrganismos, 
seja pela contração de uma nova infecção, ou 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         60

pelo uso de medicamentos, como antibióticos, 
ou por outras causas, como gravidez, estresse, 
depressão, ou mesmo, ainda, por uma mínima  1290
alteração   física   ou   química   do   meio   vaginal, 
como a simples presença de esperma na vagina, 
poderá   suceder   a   prevalência   e   aumento   de 
número   de   um   determinado   microrganismo, 
como   no   caso   de  Gardnerella,   e   a   grande  1295
proliferação de uma espécie de micróbio vem a 
manifestar   uma   doença   específica   decorrente. 
As   células   vaginas,   por   ação   dos   hormônios 
femininos, produzem glicogênio: os bacilos de 
Doderlein alimentam­se deste glicogênio e, em  1300
contrapartida,   produzem   ácido   lático,   o   que 
aumenta   a   acidez   da   vagina,   impedindo   o 
estabelecimento e proliferação, no meio vaginal, 
de   outras   bactérias   causadoras   de   doenças. 
Entretanto,   havendo   desequilíbrio   na   flora  1305
vaginal, pode haver um excesso de bacilos de 
Doderlein, originando corrimentos. 

4.6  Tratamento
1310
O tratamento dos corrimentos vaginais é 
decorrência   da   identificação   perfeita   de   sua 
causa. Por isto, o diagnóstico clínico, conduzido 
pelo médico ginecologista, é essencial.
1315
Felizmente,   dispomos   atualmente   de   um 
grande rol de medicamentos para tratar e curar 
os   corrimentos   patológicos,   mas   que   somente 
61       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

podem ser usados sob prescrição médica.
1320
Nos   corrimentos   não   patológicos, 
medidas   simples   podem   fazer   com   que   eles 
cessem, sendo necessário apenas, muitas vezes, 
que a mulher esteja atenta à causa recente que 
1325 os   originou.   Estresse,   depressão,   excesso   de 
trabalho,   ansiedade,   etc.,   podem   provocar 
alterações   hormonais,   e   a   correção   destes 
estados psicológicos trará de volta o equilíbrio 
de seu organismo: nestes casos, se necessário, 
1330 não hesite  em procurar auxílio psicológico ou 
psiquiátrico.

Como   estamos   dizendo,   para   muitos 


casos,   basta   a   mulher   estar   atenta   à   causa 
1335 recente   que   originou   o   corrimento   vaginal   e 
talvez possa assim saná­lo. Verifique o que pode 
ter causado o problema: deixe de usar calcinhas 
de materiais sintéticos, dando preferência às de 
algodão;   o  mesmo   vale   para   calças,   toalhas   e 
1340 outras   roupas;   alguns   tipos   de   roupas   jeans, 
talvez   pela   química   usada   na   coloração   do 
tecido em sua fabricação, podem causar vulvites 
em   algumas   mulheres;   não   utilize   roupas 
apertadas demais, que provocam o surgimento 
1345 de   suor   e   umidade   locais,   além   de   impedir   a 
ventilação   da   vulva   e   vagina,   levando   a   uma 
fermentação   do   muco   natural,   que   poderá 
favorecer   a   proliferação   indevida   ou   a 
instalação   oportunista   de   fungos   e   bactérias, 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         62

com os seus conseqüentes corrimentos; roupas  1350
apertadas   promovem   suor   e   umidade,   e   a 
reunião   de   pequeníssimos   restos   de   fezes   do 
ânus   com   micróbios   da   flora   vaginal   poderá 
trazer   vaginites   ou   vaginoses:   por   isto,   use 
preferencialmente roupas soltas, leves e frescas;  1355
deixe de usar alguns tipos de desodorantes ou 
perfumes íntimos; deixe de usar papel higiênico 
colorido   ou   perfumado;   use   sabonete   comum, 
não hidratante, ou neutro, para lavar seus órgãos 
genitais externos. 1360

Havendo corrimentos vaginais, o melhor 
que você tem a fazer é procurar auxílio médico 
com urgência, a fim de identificar sua causa.
1365
A   cura   da   infecção   por  Gardnerella 
vaginalis  é   obtida   com   a   administração   de 
antibiótico   específico,   a   ser   prescrito 
exclusivamente   pelo   médico.     O   tratamento 
simultâneo de ambos os parceiros é essencial, a  1370
fim   de   evitar   uma   nova   contaminação   por 
aquele que já ficou curado após seu tratamento.

Sempre   que   a   mulher   se   tratar 


clinicamente de corrimento vaginal, o parceiro  1375
sexual   deve   fazer   o   mesmo   simultaneamente, 
pois   em   caso   contrário   quem   se   curou   se 
recontaminará novamente pelo seu par que não 
se tratou: lembre­se de que, no homem, é muitas 
vezes assintomática a presença de germes e de  1380
63       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

muitas doenças sexualmente transmissíveis. 

4.7  Prevenção

1385 Nas   relações   sexuais,   a  "camisinha"  não 


oferece   proteção   total   para   as   doenças 
sexualmente transmissíveis (leia a  "Introdução" 
deste   livro   para   conhecer   os   motivos),   e   isto 
pode   ser   estendido   no   que   concerne   aos 
1390 microrganismos   causadores   de   corrimentos 
vaginais patológicos. A segurança de 100%, no 
tocante ao ato sexual, somente pode ser obtida 
com a não promiscuidade, possuindo­se assim 
um   parceiro   saudável   único,   também   não 
1395 promíscuo.

Evite roupas muito apertadas. Suas roupas 
devem ser soltas e leves, permitindo a aeração 
de   sua   vulva.   Se   possível,   ao   invés   de   calça, 
1400 prefira usar saia: talvez este tipo de vestimenta 
seja o mais adequado para a saúde dos órgãos 
genitais femininos, uma vez que facilitam a sua 
ventilação.

1405 Evite   calcinhas   confeccionadas   com 


tecidos   sintéticos:   prefira   as   de   algodão. 
Calcinhas   devem   ser   lavadas   exclusivamente 
com sabão de coco ou neutro (nunca lave com 
sabonete,   água   sanitária   ou   amaciante   de 
1410 roupas),   e   secadas   em   local   arejado, 
preferencialmente   ao   sol   (nunca   seque   suas 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         64

calcinhas no banheiro ou em locais abafados). 
Deve   ser   evitado   ficar   por   longo   período   de 
tempo com um biquini molhado.
1415
O   sabonete   hidratante   pode   trazer 
problemas para algumas mulheres: se for o seu 
caso,   na   higiene   pessoal,   use   o   sabonete 
hidratante, se desejar, em todo o corpo, mas na 
região   genital   lave­se   somente   com   sabonete  1420
comum   ou   neutro;   preste   atenção   se   o 
escorrimento   proveniente   do   sabonete 
hidratante da lavagem de outras partes do corpo 
sobre   os   genitais   é   suficiente   para   lhe   trazer 
problemas pois, neste caso, talvez você tenha de  1425
lavar­se inteiramente com sabonete neutro. Não 
exagere na lavagem de sua genitália, o que pode 
provocar   ressecamento   da   pele   e   rachaduras, 
abrindo   caminho   para   a   instalação   de   germes 
patogênicos. Lembre­se de que a aplicação de  1430
desodorante ou perfume íntimo pode lhe trazer 
problemas, e por isto evite as marcas ou tipos 
que   lhe   trouxerem   irritações   de   pele   ou 
corrimentos;   pode   ser   melhor,   talvez,   para 
algumas mulheres, nunca utilizar estes produtos. 1435

Se  você   pretender   realizar   depilação   em 


alguma clínica  de estética ou salão de beleza, 
cheque antes as condições de higiene do local, 
bem   como   exija   a   utilização   de   materiais  1440
descartáveis,   lembrando­se   que   cera   de 
depilação   também   deve   ser   descartável;   a 
65       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

higiene da genitália, com água e sabonete, deve 
ser feita antes e depois da depilação.
1445
Durante   o   seu   período   de   menstruação, 
troque   o   absorvente   quantas   vezes   forem 
necessárias, de acordo com o fluxo apresentado, 
no mínimo três vezes; a higienização da vulva 
1450 deve   ser   feita   em   cada   troca   de   absorvente; 
absorventes   internos   podem   ser   usados,   mas 
deve­se trocá­los regularmente; absorventes do 
tipo  "24   horas"  podem   trazer   problemas   para 
algumas   mulheres,   na   medida   em   que 
1455 impermeabilizam e impedem a transpiração da 
genitália,   possibilitando   a   instalação   ou 
proliferação   de   fungos   e   bactérias,   e   por   isto 
pode ser necessário evitar o seu uso.

1460 Não   use   o   chuveirinho   do   bidê   ou   do 


chuveiro para lavagem interna da vagina, pois 
isto poderá lhe trazer uma vaginite ou vaginose: 
ducha   vaginal   somente   deve   ser   aplicada   sob 
estrita orientação médica.
1465
Lubrificantes   para   a   relação   sexual,   em 
geral, são positivos para preservar a integridade 
do   tecido   vaginal   e   evitar   contaminações   por 
germes;   em   alguns   poucos   casos,   entretanto, 
1470 podem surgir  irritações  da vagina  ou alergias: 
cesse   o   uso   do   lubrificante   e   busque   auxílio 
médico.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         66

O   látex   da  "camisinha"  pode   originar 


corrimento   vaginal   por   motivo   alérgico   em  1475
algumas   mulheres:   procure   seu   médico   para 
saber   se   esta   é   a   causa   de   seu   corrimento 
vaginal.

Espermaticidas   podem   trazer   alergia   e  1480


corrimento   para   algumas   mulheres:   deixe   de 
usar o produto e busque auxílio médico.

A simples presença de esperma na vagina 
pode   alterar   seu   equilíbrio   químico   e   trazer  1485
corrimento   para   algumas   mulheres:   caso   isto 
aconteça com você, procure seu médico, pois o 
problema é facilmente corrigível.

Uma boa aeração de seus órgãos genitais  1490
pode   colaborar   para   mantê­los   higienizados   e 
saudáveis:   dormir   sem   calcinha   pode   ser   uma 
boa oportunidade para isto; neste caso, apenas 
certifique­se   de   que   seu   pijama   ou   roupa   de 
dormir estejam perfeitamente limpos, o mesmo  1495
valendo para seus lençóis e colchão.

Caso   necessite   usar   hotéis   de   asseio 


duvidoso,   leve   consigo   roupas   de   cama   e 
toalhas limpas de sua própria casa. 1500

Não   se   esqueça   que   algumas   situações 


podem   ser   causa   de   corrimentos:   pílulas 
anticoncepcionais,   gestação,   diabetes,   etc. 
67       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

1505 Procure seu médico ginecologista sem demora.

Quem deve gostar de você, em primeiro 
lugar, é você mesma. Por isto, preserve o seu 
bem   estar,   abstendo­se   de   reações   como   ira, 
1510 raiva   ou   nervoso,   que   podem   alterar   o   seu 
equilíbrio   hormonal.   Situações   de   estresse, 
ansiedade,   depressão   ou   desânimo   devem   ser 
superadas   com   a   inteligência;   caso   necessite, 
procure   o   auxílio   clínico   de   psicólogo   ou 
1515 psiquiatra.   Talvez   caiba   aqui,   adicionalmente, 
um ditado: "Por mais inquietante que se revele a 
estrada da vida aos teus olhos, não olvides que o 
trabalho   será   o   verdadeiro   instrumento   de   tua 
libertação —  Napoleon Hill".
1520
Sua saúde é o seu bem mais valioso.  A 
fim   de   manter   o   equilíbrio   perfeito   de   seu 
organismo, que trará como conseqüência o seu 
equilíbrio   hormonal,   realize   alimentação 
1525 saudável e suficiente para a realização de suas 
atividades   diárias.   Evite   alimentos   com 
conservantes   artificiais.   Abuse   das   frutas   e 
verduras, preferencialmente na parte da manhã e 
tarde (algumas frutas são um pouco indigestas 
1530 para se comer à noite). Evite frituras, prefira os 
cozidos   e   assados.   Faça   bom   café   da   manhã, 
coma   quantidade   razoável   de   alimentos   no 
almoço,   suficiente   para   ter   energia   para   suas 
atividades   diárias,   e   na   janta   não   ingira 
1535 alimentos   em   demasia,   a   fim   de   não 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         68

sobrecarregar   o   seu   organismo   na   hora   de 


dormir.   Não  "belisque"  guloseimas   entre   as 
refeições:   um  lanche  leve  no  meio da  tarde  é 
preferível. Faça exercícios físicos regularmente, 
e beba água em abundância, de duas a três horas  1540
após as refeições. Faça sua última refeição ao 
menos três horas  antes de dormir, unicamente 
com   comidas   leves,   de   fácil   digestão   e   sem 
exagero   na   quantidade.   Durma   de   sete   a   oito 
horas por dia; deite­se, no máximo, às 22:00 h,  1545
pois cada hora dormida antes da meia­noite vale 
por   duas   das   dormidas   após,   cientificamente 
comprovado.   São medidas  muito   simples,  que 
manterão o seu organismo regulado  como um 
relógio   e   com   suas   defesas   naturais   ao   ponto  1550
máximo,   evitando   o   contágio   de   muitas 
doenças!   Lembre­se   também   de   praticar   sua 
religião ou filosofia de vida!

A   realização   semestral   do   exame  1555


Papanicolaou   é   indispensável   à   saúde   da 
mulher, e, naturalmente, para a prevenção dos 
corrimentos vaginais. Entretanto, na presença de 
corrimento vaginal, de qualquer tipo, a qualquer 
tempo, deve­se procurar o médico ginecologista  1560
com urgência.
69       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

5
FITIRÍASE

1565 5.1  Outras Denominações

Piolho   pubiano,   pediculose   do   púbis, 


"chato",  "lêndeas"  (popular,   mas   o   correto   é 
chamar de lêndeas aos ovos do piolho).
1570
5.2  Agente Causador

Phitirus   pubis,   um   inseto     hematófago 


(que   alimenta­se   de   sangue)   de   2   mm   de 
1575 tamanho,   classificado   em   biologia   na   Ordem 
Mallophaga. Este piolho não possui asas, tem 
corpo chato, antenas curtas, cabeça larga, peças 
bucais   adaptadas   para   morder   e   tarso   (última 
parte   de   cada   pata)   com   garra   serrilhada   para 
1580 prender­se   firmemente   em   seu   único 
hospedeiro, o homem.

O curto ciclo de vida (apenas 1 mês) deste 
inseto possui 5 estágios: ovo, três fases de ninfa 
1585 e adulto. Cada ovo é depositado pela fêmea em 
um   casulo   que   fica   firmemente   aderido   a   um 
pelo humano: a eclosão se verificará entre 5 a 
10 dias. Na primeira fase de ninfa, a primeira 
refeição com sangue será feita em no máximo 
1590 24 h. Em mais 8 ou 9 dias,  Phitirus pubis  terá 
passado por mais duas fases de ninfa e chegará 
finalmente ao estágio adulto; após cerca de 10 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         70

horas, macho e fêmea iniciarão a cópula, que se 
repetirá   até   o   fim   de   suas   vidas,   ou   seja, 
aproximadamente mais 10 ou 15 dias. A fêmea  1595
depositará em pêlos humanos cerca de 4 ovos 
por dia.

5.3  Manifestações Clínicas
1600
O   principal   sintoma   clínico   é   a   intensa 
coceira nos locais em que  Phitirus pubis  esteja 
presente.

O ato de coçar poderá lesionar a pele e  1605
acarretar   infecções   secundárias   por   bactérias, 
complicando o quadro clínico.

Estes piolhos causam prúrido em torno do 
pênis,   da   vagina   e   do   ânus.   Embora   ocorra  1610
comumente   nas   regiões   genital   e   anal,   é 
bastante   freqüente   a   sua   infestação   em 
quaisquer outras áreas do corpo possuidoras de 
pêlos,   como   axilas,   barba,   sobrancelhas   ou 
cílios dos olhos: muitas vezes, pelo prúrido nas  1615
regiões ciliares dos olhos, o oftalmologista é o 
primeiro médico procurado pelo paciente!

5.4  Diagnóstico
1620
O   relato   do   paciente   em   apresentar 
intenso   prúrido   nas   regiões   pilosas   afetadas 
levará o médico a desconfiar da fitiríase.
71       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Os excrementos de Phitirus pubis deixam 
1625 manchas castanho­escuras que podem aparecer 
nas áreas de infestação, como pênis, vagina ou 
ânus;   normalmente   estas   manchas   ficam 
impregnadas nas roupas íntimas.

1630 Embora   difíceis   de   encontrar,   estes 


piolhos podem ser vistos a olho nú, aparecendo 
como   pintas   azuladas   sobre   a   pele,   mas   o 
auxílio   de   uma   lupa   permitirá   ao   médico 
reconhecer   com   bastante   clareza   o   inseto, 
1635 fechando   o   diagnóstico.   As   lêndeas   também 
podem   ser   vistas   com   uma   boa   lente, 
aparecendo   como   diminutos   glóbulos   branco­
acizentados, na base dos pêlos.

1640 5.5  Portadores Assintomáticos

Inexistem,   pois   a   característica 


hematófaga   de  Phitirus   pubis  conduzirá 
inexoravelmente   ao   rápido   aparecimento   das 
1645 incomodáveis manifestações clínicas.

Dar   irrelevância   aos   desagradáveis 


sintomas,   deixando   de   buscar   tratamento 
imediato,   fará   com   que   o  portador   displicente 
1650 transmita o inseto para outras pessoas.

5.6  Tratamento

O   tratamento   é   feito   com   o   uso   de 


Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         72

sabonetes,   cremes   ou   loções   (de   uso   externo)  1655


destinados   exclusivamente   para   a   eliminação 
desta   infestação,   mas   que   somente   podem   ser 
utilizados sob prescrição médica.

O   médico   também   dispõem,   na  1660


atualidade,   de   remédios   orais   para   eliminar 
Phitirus pubis.

Não   use   medicamentos   externos   ou 


internos   sem   prescrição   médica.   A   cura   da  1665
fitiríase   é   relativamente   simples,   mas   deve 
obrigatoriamente ser conduzida por um médico.

Medidas   adicionais   devem   ser   adotadas 


concomitantemente   ao   tratamento:   tendo   em  1670
vista a semelhança desta infestação com a sarna, 
realize as mesmas ações descritas no Capítulo 
14, item 14.6.

5.7  Prevenção 1675

Tendo   em   vista   a   similaridade   da 


infestação da fitiríase com a sarna, adote, como 
medidas   preventivas,   as   mesmas   relatadas   no 
Capítulo 15, item 15.7. 1680
73       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

6
GONORRÉIA

6.1  Outras Denominações
1685
Blenorragia,   uretrite   gonocócica,  "gota 
matinal",  "pingadeira",  "fogagem", 
"esquentamento", etc.

1690 6.2  Agente Causador

Bactéria Neisseria gonorrhoeae. 

Este   ser   microscópico   Gram­negativo, 


1695 também chamado de gonococo, possui a forma 
de um coco ovóide, lembrando o desenho de um 
rim,   dispondo­se   aos   pares,   pelo   que   são 
classificados   como   diplococos,   com   os 
elementos se defrontado pela face mais plana, 
1700 ganhando o aspecto de um grão de café.

É uma bactéria aeróbia, muito sensível a 
condições   ambientais   adversas,   o   que   torna   a 
sua sobrivência muito difícil ou inviável fora do 
1705 corpo   humano,   sendo   inclusive   bastante 
exigente nos meios de cultivo laboratoriais para 
fins de pesquisa.

6.3  Manifestações Clínicas
1710
Após  2  a  5  dias  do contágio  surgem  os 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         74

primeiros   sintomas   que,   porém,   podem   tardar 


até 15 dias.

No   homem,   a   infecção,   inicialmente,  1715


provocará   sensação   de   coceira   em   seu   canal 
uretral.   Pode   ocorrer   vontade   freqüente   de 
urinar, mesmo com a bexiga já vazia. A micção, 
quando   existir,   poderá   ser   dolorosa   e   difícil, 
expelindo­se a urina em gotas. Surgirá ardência  1720
e odor ao urinar, sintomas clássicos da doença. 

Figura   6.3.1   —   Gonorréia.   Secreção   uretral 


amarela­esverdeada   em   pênis.  (Fonte:  1725
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

A  principal   característica   da   gonorréia   é 


secreção purulenta que sai pelo canal uretral, de 
cor amarelada, esverdeada ou escura (cor escura  1730
denota a presença de sangue), com forte odor e 
algumas   vezes   abundante   (Figura   6.3.1).   O 
orifício   do   pênis   pode   ficar   hiperemiado 
(congestão sanguínea localizada) e edemaciado 
75       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

1735 (com   edema).   Todo   o   quadro   de   sintomas 


descrito pode ser acompanhado de febre baixa.

Figura 6.3.2 —  Gonorréia. Uretrite gonocócica 
1740 aguda   e   balanopostite.   Secreção   uretral: 
pronunciado   edema   de   prepúcio   com   intenso 
acúmulo   de   secreção   entre   ele   e   a   glande. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

Figura   6.3.3   —   Gonorréia.   Infecção   uretral 


aguda em mulher. Secreção uretral amarelada. A 
paciente   também   apresenta   vaginite.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         76

Na   mulher,   se   houver   infecção   de   seu  1750


canal   uretral   (Figura   6.3.3),   ocorrerão   os 
mesmos   sintomas   acima   descritos   para   o 
homem   e,   se   houver   infecção   da   vagina, 
corrimento vaginal de forte odor fétido, algumas 
vezes intenso (Figura 6.3.4 e 6.3.5). 1755

Figura   6.3.4   —   Gonorréia.   Cervicite   e 


vulvovaginite.   Secreção   purulenta   abundante  1760
em vulva.  (Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 
1999)

Entretanto,   é   muito   comum   o   sexo 


feminino   possuir   sintomas   bastante   atenuados,  1765
que passam despercebidos, ou mesmo ausência 
de   sintomas.   Muitas   vezes,   a   infecção   está 
oculta,   sem   manifestações   externas,   porém 
progredindo internamente, com inflamação das 
glândulas   para­uretrais   e   do   colo   do   útero,  1770
podendo   atingir   as   trompas,   ovários   e   até 
mesmo causar esterilidade (impossibilidade  de 
77       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

gerar   filhos),   pela   falta   de   tratamento.   Nestes 


casos   de   infecção   do   útero   e   trompas, 
1775 certamente   haverá   fortes   dores   de   barriga 
durante o ato sexual, o que pode ser um sinal da 
doença.   Se   houver   rompimento   das   trompas 
pelo   acúmulo   de   pus,   haverá   a   infecção   da 
cavidade abdominal (espaço entre os intestinos), 
1780 o   que   poderá   colocar   a   vida   da   paciente   em 
risco:   são   complicações   bastante   graves   que 
somente   ocorrerão   pela   ausência   ou 
inadequação de tratamento.

1785

Figura   6.3.5   —   Gonorréia.   Endocervicite 


purulenta.   Intensa   secreção   purulenta   sai   do 
canal   endocervical.  (Fonte:   Brasil/Ministério 
1790 da Saúde, 1999)
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         78

Figura 6.3.6 —  Gonorréia. Bartholinite aguda. 
Abscesso   em   grande   lábio   direito   de   vulva,  1795
causado   pela   obstrução   das   glândulas   de 
Bartholin   devido   à   infecção   por   gonococos. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

No sexo feminino, a blenorragia também  1800
pode   causar   inchaço   nos   órgãos   sexuais 
externos,   com   muita   dor.   Os   inchamentos 
ocorrem rapidamente, até chegar a sair pus de 
forte cheiro. Após a eliminação do pus, a dor 
diminui consideravelmente, porém não houve a  1805
cura:   os   inchaços   voltarão,   com   agravamento 
ainda maior.

Relativamente   aos   órgãos   genitais 


masculinos,   a   falta   de   tratamento,   ou   o  1810
tratamento   inadequado,   ocasionará   a 
propagação   da   infecção   internamente:   serão 
afetados   a   próstata,   vesícula   seminal, 
epidídimos (Figura 6.3.7) e testículos, dentro de 
79       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

1815 um   quadro   que   se   mostrará   inicialmente   com 


impotência, seguido de diminuição de número 
de espermatozóides, podendo chegar finalmente 
à infertilidade.

Figura   6.3.7   —   Gonorréia   complicada. 


Epididimite. Edema em testículo: bolsa escrotal 
com   volume   aumentado.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
1825
Na   mulher,   o   quadro   de   manifestações 
clínicas discretas ou ausência de sintomas pode 
trazer   complicações,   pois   deixará   de   haver   a 
procura   de   ajuda   médica:   por   isto   é   muito 
1830 importante   a   mulher   estar   bastante   atenta   a 
qualquer   mudança   em   seu   corpo,   dando   a 
máxima   relevância   a   qualquer   sinal   de 
anormalidade que venha a surgir relativamente 
a   seus   órgãos   genitais,   procurando   o   seu 
1835 ginecologista   na   ocorrência   de   qualquer 
manifestação,   ainda   que   aparentemente 
pequena; o exame de Papanicolaou realizado a 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         80

cada   6   meses   (embora   seja   um   período   de 


tempo insuficiente para evitar as complicações 
da   blenorragia)   constitui   importante   meio  1840
diagnóstico a esta e outras doenças sexualmente 
transmissíveis.

A   gonorréia   também   pode   ocorrer   na 


região anal, no reto. Neste caso, na mulher, a  1845
infecção   pode   se   instalar   por   contato   com   as 
secreções vaginais contaminadas. O coito anal 
com   pessoa   portadora   da   blenorragia   pode 
também provocar a gonorréia ano­retal tanto no 
homem como na mulher. A infecção anal trará  1850
os seguintes sintomas: coceira e ardência anais, 
área em torno do ânus hiperemiada e em carne 
viva,   pus,   evacuação   dolorosa,   algumas   vezes 
sangue nas fezes e constante vontade de evacuar 
sem sucesso (este último sintoma é chamado de  1855
tenesmo).

A relação sexual oral com o portador de 
Neisseria   gonorrhoeae  provocará   o 
aparecimento   da   amigdalite   ou   faringite  1860
gonocócica. A infecção destas áreas costuma ser 
assintomática,   mas   às   vezes   surge   dor   de 
garganta ou desconforto durante a deglutição.

A  conjuntivite   gonocócica   também   pode  1865


ocorrer,   caso   os   olhos   tenham   contato   com   a 
bactéria   (Figura   6.3.8).   A   esclerótica   (parte 
branco   dos   olhos)   é   afetada.   Esta   infecção 
81       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

ocular pode levar à cegueira, se não tratada.
1870

Figura   6.3.8   —   Gonorréia   extragenital. 


Conjuntivite   gonocócica.   Intensa   secreção 
conjuntival purulenta. (Fonte: Brasil/Ministério 
1875 da Saúde, 1999)

Existem   muitas   outras   infecções,   em 


diferentes partes do corpo, de forma rara, que 
podem ser causadas por Neisseria gonorrhoeae 
1880 quando a bactéria é levada para outras regiões 
do organismo pela corrente sanguínea, a saber: 
articulações   (artrite,   Figuras   6.3.9   e   6.3.10), 
ossos, fígado, coração (endocardite), meninges 
do sistema nervoso central (meningite), etc.
1885
A   rara   disseminação   do   gonococo   pela 
corrente   sanguínea   pode   causar   a   infecção   de 
diversas   articulações   do   corpo,   provocando 
edema   local   e   tornado­as   extremamente 
1890 sensíveis   e   dolorosas,   impedindo   seus 
movimentos.   Ocorrendo   esta   incomum 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         82

propagação   pelo   sangue,   poderá   haver   o 


surgimento de manchas vermelhas na pele, com 
pus,   acompanhado   dos   sintomas   de   mal   estar 
generalizado   e   febre.   Denominaremos   de  1895
síndrome da artritedermatite a dor que caminha 
pelas articulações.

Figura 6.3.9 —  Gonorréia extragenital. Artrite 
gonocócica   em   dedo   médio.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

Se   o   revestimento   do   fígado   for  1905


extraordinariamente   atingido   por  Neisseria 
gonorrhoeae, causando a perihepatite, ocorrerá 
dor que pode ser confundida com a doença da 
vesícula biliar. 
1910
83       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Figura 6.3.10 —  Gonorréia extragenital. Artrite 
gonocócica   em   joelho:   extração   de   líqüido 
1915 amarelado.   Admite­se   que  Neisseria 
gonorrhoeae  seja   o   agente   etiológico   mais 
freqüente   em   casos   de   artrite   infecciosa   em 
adultos   jovens   sexualmente   ativos.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
1920
Uma forma bastante grave da blenorragia, 
que   ocorre   pela   disseminação   da   bactéria   no 
corpo   humano   de   maneira   ampla   através   da 
corrente   sanguínea,   e   que   pode   ser   fatal,   é   a 
1925 septicemia, felizmente rara.

Como   o   gonococo   não   ultrapassa   a 


barreira   placentária,   a   gonorréia   não   é 
transmitida   para   o   filho   durante   a   gestação. 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         84

Entretanto,   a   mãe   deve   noticiar   urgente   ao  1930


médico   caso   esteja   grávida   e   tenha   gonorréia, 
para   que   tratamento   e   medidas   de   segurança 
possam ser rapidamente adotados.

A   mãe   portadora   de   blenorragia   pode  1935


transmitir   o   gonococo   aos   olhos   do   bebê   no 
momento do parto, quando a criança vem à luz 
pelo canal vaginal, uma vez que o nenê entrará 
em contato com os fluidos presentes na vagina. 
A  chamada   oftalmia   gonocócica   pode   levar   o  1940
bebê à cegueira, se não tratada. Atualmente, em 
nossos hospitais, é rotina, após o nascimento, o 
médico   pingar   colírio   de   nitrato   de   prata   nos 
olhos de qualquer recém­nascido, o que previne 
esta   doença:   mesmo   assim,   após   o   parto,  1945
consulte seu médico para saber se esta medida 
foi ou não adotada. Não utilize medicamentos 
sem prescrição médica.

6.4  Diagnóstico 1950

O   médico   ouvirá   o   relato   do   paciente, 


cujo   histórico   e   sintomas   apresentados 
permitirão   o   diagnóstico   da   doença,   às   vezes 
com   alguma   facilidade,   tendo   em   vista   as  1955
manifestações clínicas esperadas para a doença. 
É   indispensável   o   diagnóstico   diferencial 
excludente   de   outras   moléstias   semelhantes:   a 
critério médico, poderão ser solicitados exames 
de laboratório confirmatórios. 1960
85       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Para   o   exame   laboratorial,  Neisseria 


Gonorrhoeae  é   facilmente   encontrável   no   pus 
das inflamações gonocócicas ainda não tratadas, 
podendo,   porém,   ser   difícil   encontrar   o 
1965 gonococo   nas   secreções   purulentas   das 
inflamações   e   abscessos   crônicos   ou   no 
sedimento   urinário.   Os   diplococos   somente 
serão   considerados   gonococos   se   puderem 
serem vistos no interior de células humanas ou 
1970 se pesquisa posterior demonstrar este fato com 
as bactérias extracelulares pesquisadas.

Em   90%   dos   homens   infectados, 


Neisseria   gonorrhoeae  pode   ser   vista   ao 
1975 microscópio   por   amostra   de   sua   secreção 
uretral.   Em   cerca   de   60%   das   mulheres 
infectadas,   a   bactéria   poderá   ser   vista 
microscopicamente em amostra de secreção do 
colo do útero.
1980
Caso   o   gonococo   não   possa   ser 
visualizado   ao   microscópio,   poderá   ser   feita 
laboratorialmente   cultura   da   bactéria   por 
amostras de secreção do doente.
1985
O   exame   do   reto   (porção   final   do 
intestino)   com   o   anoscópio   (tubo   de 
visualização) revelará ao médico a presença de 
muco e pus nas paredes do reto.
1990
Como   uma   doença   sexualmente 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         86

transmissível   quase   nunca   está   sozinha,   o 


médico   provavelmente   pedirá   também,   ao 
paciente,   exame   para   detecção   de   sífilis.   No 
caso   da   Figura   6.4.1,   simultaneamente   à  1995
presença de secreção gonorréica, havia cancro 
duro (sífilis) visível no pênis, fato que pode não 
necessariamente ocorrer, mesmo na presença de 
infecção pelas duas doenças.
2000

Figura   6.4.1   —   Gonorréia   e   sífilis.   Secreção 


purulenta   gonocócica   uretral   em   pênis, 
simultânea   à   presença   de   cancro   duro   no 
prepúcio.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da   Saúde,  2005
1999)

No   caso   da   Figura   6.4.2,   temos 


simultaneamente   à   gonorréia   a   infecção   por 
clamídia   (uretrite   não   gonocócica   ou   UNG),  2010
situação nada rara entre as doenças sexualmente 
transmissíveis;   a   dupla   contaminação   somente 
pode   ser   diagnosticada   por   exames 
laboratoriais.
87       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

2015

Figura   6.4.2   —   Gonorréia   e   uretrite   não 


gonocócica   por   clamídia.   Secreção   uretral   em 
pênis.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da   Saúde,  
2020 1999)

Figura   6.4.3   —   Gonorréia   e   clamídia   juntas. 


2025 Endocervicite   purulenta:   ectrópio   visto   à 
colposcopia.   Notar   muco   cervical   turvo   junto, 
com grande eversão (mucosa endocervical que 
se   exterioriza   para   a   ectocérvix).  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         88

Na   Figura   6.4.3,   mais   um   caso   de  2030


infecção   simultânea   por   gonorréia   e   clamídia, 
desta   vez   na   mulher,   em   útero,   com   imagem 
produzida através de colposcópio.

6.5  Portadores Assintomáticos 2035

Entre   os   homens,   estima­se   que   apenas 


5%   dos   portadores   de   blenorragia   não 
apresentem sintomas.
2040
Já no sexo feminino, estima­se que mais 
de   40%   das   mulheres   com   gonorréia   sejam 
portadoras   assintomáticas!   É   um   número 
bastante alto para uma doença tão perigosa: a 
blenorragia traz sérias complicações quando não  2045
tratada,   podendo   inclusive   ser   fatal.   Muitas 
vezes,   os   corrimentos   que   a   mulher   apresenta 
são   tidos   como   de   pouca   importância   pelo 
próprio   sexo   feminino,   e   o   sinal   dado   pela 
presença   da   bactéria   gonocócica   é   ignorado.  2050
Mais   uma   vez,   repetimos:   na   presença   de 
qualquer   corrimento,   procure   o   seu 
ginecologista   com   urgência,   para   apurar   a 
verdadeira causa.
2055
Homens   e   mulheres   portadores 
assintomáticos de Neisseria gonorrhoeae são os 
grandes disseminadores da doença.

Como se vê na estatística, o número maior  2060
89       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

de   infectados   sem   sintomas   está   no   sexo 


feminino: na maior parte das vezes é a mulher 
quem passa a doença para seu parceiro, e muitas 
vezes ela imagina que o seu par foi infiel... a 
2065 manifestação da doença no homem revelará, nos 
casos   onde   ele   não   teve   relação   sexual   com 
outras mulheres, a gonorréia sem sintomas que 
a mulher já possuía!

2070 6.6  Tratamento

Felizmente,   a   blenorragia   tem   cura 


relativamente fácil em nossos dias, se cumprido 
com   rigor   o   tratamento   a   ser   prescrito   pelo 
2075 médico.

A  bactéria   será   eliminada   do   organismo 


com   a   utilização   de   antibióticos   específicos, 
sendo que alguns são capazes de trazer a cura 
2080 por dose única, e outros exigem tratamento de 
uma   semana:   estes   medicamentos   somente 
podem   ser   prescritos   pelo   médico.  A  infecção 
por  Clamydia  normalmente   acompanha   a 
gonorréia,   e   é   de   difícil   diagnóstico:   por   isto, 
2085 provavelmente   o   médico   utilizará   de   maneira 
simultânea   antibióticos   também   para   esta 
doença, igualmente disponíveis para tratamento 
em   dose   única   ou   de   uma   semana.   Não   use 
medicamentos sem prescrição médica.
2090
Concluído   o   tratamento,   e   havendo 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         90

persistência   dos   sintomas,   o   médico   solicitará 


exame   laboratorial   de   cultura,   a   partir   de 
amostras dos locais doentes. Algumas vezes, ao 
final do tratamento, ocorre alguma infecção por  2095
microrganismos   não   sensíveis   aos   antibióticos 
usados,   quadro   chamado   de   uretrite   pós­
gonocócica; muitas vezes é a simples presença 
de  Clamydia,   que   exigirá   então   tratamento 
adicional.   A   existência   de   sintomas   após   a  2100
conclusão do tratamento também pode ser um 
sinal   de   que   o  paciente   não   seguiu   à   risca   as 
prescrições médicas, sobretudo no respeito aos 
horários de ingestão dos medicamentos.
2105
Tendo em vista a gravidade da gonorréia, 
a   automedicação   poderá   causar   uma   cura 
incompleta,   com   a   bactéria  Neisseria 
gonorrhoeae  se   disseminando   interiormente 
para   outros   órgãos,   tornando   mais   difícil   o  2110
tratamento   posterior,   colocando   inclusive   em 
risco   a   vida   do   paciente:   nunca   utilize 
medicamentos sem prescrição médica.

Mesmo   nos   extraordinários   casos   de  2115


disseminação   da   bactéria   pela   corrente 
sanguínea,   quando   o   gonococo   pode   atingir 
pele,   articulações   ou   algum   órgão   do   corpo 
humano,   a   doença   é   tratável   com   cura,   sendo 
raros os casos letais. Entretanto, a recuperação  2120
das   articulações   ou   do   coração   atingido   será 
lenta.   Nos   casos   de   infecção   sanguínea,   o 
91       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

médico   escolherá   preferencialmente   os 


antibióticos   intravenosos,   e   o   tratamento 
2125 normalmente   será   conduzido   com   o   paciente 
internado.

6.7  Prevenção

2130 No   sexo   feminino,   pela   presença   de 


manifestações clínicas discretas ou mesmo por 
causa da ausência destas, muitas vezes o único 
meio pelo qual a mulher toma conhecimento da 
presença   da   blenorragia   em   si   mesma   é   pela 
2135 notícia da doença em seu parceiro sexual: por 
isto,   é   extremamente   importante   o   homem 
comunicar   rapidamente   à   sua   companheira   o 
fato de ter contraído gonorréia.

2140 Meninas   que   ainda   não   atingiram   a 


puberdade  não   possuem   resistência  à  infecção 
pelo   gonococo   na   vulva   ou   vagina,   e   podem 
contrair   a   doença   por   contato   com   objetos 
infectados,   como   toalhas   ou   privadas. 
2145 Entretanto, a hipótese de abuso sexual deve ser 
considerada.

Muitas   vezes   afirma­se,   no   meio 


científico,  que  o adulto  não  contrai  a bactéria 
2150 gonocócica   através   de  toalhas,   roupas,   lençóis 
ou privadas contaminadas, tendo em vista que 
possuímos   um   sistema   de   defesa   capaz   de 
eliminar uma pequena contaminação deste tipo, 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         92

aliado ao fato de que a bactéria não tem uma 
grande   sobrevida   fora   do   corpo   humano   sem  2155
condições   ambientais   favoráveis.   Entretanto, 
pensamos   que   é   prudente   evitar   o   contágio 
também   através   destes   objetos,   pois   nada 
impede   que   uma   pessoa   esteja 
momentaneamente com as defesas de seu corpo  2160
diminuídas,   por   estresse,   depressão   ou   um 
estado debilitado qualquer.

  Lavagem minuciosa dos órgãos genitais, 
após   o   coito,   com   água   e   sabonete,   é  2165
recomendável, embora não ofereça garantia de 
evitar a doença. Homem e mulher devem urinar 
imediatamente   após   a   relação   sexual,   o   que 
facilita a expulsão de qualquer microrganismo 
que   possa   ter   adentrado   no   canal   uretral;  2170
entretanto, esta prática também não garante que 
se  conseguirá  evitar  a infecção  da  uretra   pelo 
gonococo.

O   preservativo   sexual   masculino   não  2175


oferece   proteção   total   para   a   doença:   leia   a 
"Introdução"  deste   livro   para   conhecer   os 
principais motivos.

O meio 100% seguro para evitar contrair  2180
a   gonorréia   é   não   ter   promiscuidade,   ou   seja, 
possuir   um   único   parceiro   sexual,   que   seja 
saudável e também não promíscuo.
93       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

7
2185 GRANULOMA INGUINAL

7.1  Outras Denominações

Donovanose,   granuloma   venéreo, 


2190 granuloma   contagioso,   granuloma   tropical, 
úlcera venéreo­crônica, úlcera serpiginosa, etc.

7.2  Agente Causador

2195 A   bactéria   causadora   foi   descrita   pela 


primeira vez em 1913, pelos brasileiros Aragão 
e   Vianna:  Calymmatobacterium   granulomatis, 
nome   oficial   do   microrganismo,   que   deve   ser 
preferencialmente usado a outras denominações.
2200
Mais tarde, outros pesquisadores  usaram 
diferentes denominações para a mesma bactéria: 
Encapsulatus   inguinalis,   por   Bergey  et   al 
(1923);  Klebsiella granulomatis, por Bergey  et 
2205 al  (1925),   e;  Donovania   granulomatis,   por 
Anderson et al (1944).

Pertence à Família  Brucellaceae,  Gênero 


Calymmatobacterium,  onde   todas   as   espécies 
2210 são patógenos humanos.

É   uma   bactéria   anaeróbica   facultativa, 


Gram­negativa,   em   forma   de   bastonete, 
capsulada,   sem   flagelo.   Pode   ser   cultivada 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         94

laboratorialmente  em  meio  de  gema   fresca  de  2215


ovo.

O   microrganismo   é   normalmente 
transmitido pelo ato sexual, e pode se instalar na 
região   inguinal,   coxas,   órgãos   sexuais,   ânus,  2220
nádegas,   boca,   gengivas,   faringe   e   face.   Pode 
ocorrer em outras partes do corpo, e até mesmo 
em órgãos internos.

O granuloma venéreo é uma doença auto­ 2225
inoculável,   isto   é,   o   próprio   indivíduo   pode 
provocar contaminações em outras partes de seu 
corpo, por exemplo ao tocar as áreas doentes e 
coçar   áreas   de   pele   saudáveis.   Por   isto,   há 
relatos da doença nas axilas, parede abdominal,  2230
couro cabeludo, etc.

Possui   baixa   incidência   em   países   de 


clima temperado, e maior prevalência nos países 
subtropicais e tropicais. 2235

Algumas  pesquisas  afirmam  que  haveria 


maior   ocorrência   de   casos   da   doença   na   raça 
negra.
2240
7.3  Manifestações Clínicas

O período de incubação da donovanose é 
variável,   podendo   os   primeiros   sintomas 
ocorrerem em 3 a 180 dias. 2245
95       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Geralmente,   após   cerca   de   30   dias   do 


contágio,   no   local   infectado   pela   bactéria 
surgem   uma   ou   várias   pequenas   elevações   da 
pele   ou   mucosa.   Estas   elevações   possuem   o 
2250 aspecto de caroços ou grânulos. Não há dor, e a 
evolução   fará   surgir   uma   ferida   avermelhada, 
com   aspecto   de   couve­flor   e   que   também, 
normalmente,   não   dói,   mas   sangra   com 
facilidade (Figuras 7.3.1 e 7.3.2). Poderá haver 
2255 mais   de   uma   lesão,   bem   como   a   união   de 
úlceras   próximas,   dando   origem   a   uma   única 
úlcera   maior.   As   lesões   emanam   odor 
desagradável.

Figura   7.3.1   —   Granuloma   inguinal.   Úlceras 


em   vulva   e   períneo.  (Fonte:   Brasil/Ministério 
da Saúde, 1999)

2265 As   lesões   ulcerovegetantes   são   as 


manifestações   mais   comuns   da   doença,   onde 
encontramos abundante tecido de granulação no 
fundo da lesão, que ultrapassa seu contorno.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         96

Figura   7.3.2   —   Granuloma   inguinal.   Úlceras  2270


em pênis.  (Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 
1999)

De   menor   ocorrência   são   as   chamadas 


lesões vegetantes, pequenas e bem delimitadas,  2275
sem secreções.

As   feridas   ulcerosas   de   grandes 


dimensões tem bordas planas ou hipertróficas, 
secreção   em   abundância   e   crescimento   por  2280
expansão, através da auto­inoculação.

O   desenvolvimento   das   lesões   é   muito 


lento.   Há   pacientes   que   procuram   auxílio 
médico somente após anos com a doença (veja  2285
os casos das Figuras 7.3.3 e 7.3.4). Entretanto, 
esta  displicência  em  procurar  tratamento  pode 
trazer   graves   complicações.   Podem   ocorrer 
desde   deformidades   genitais   a   elefantíase 
(intumescência   volumosa   e   dura   da   pele   e   do  2290
tecido adiposo) do pênis, sacro escrotal ou dos 
97       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

órgãos sexuais femininos externos; na infecção 
anal, estenose (estreitamento do ânus).

2295

Figura   7.3.3   —   Granuloma   inguinal.   Úlceras 


em vulva, períneo e região ao redor do ânus. As 
extensas   lesões   foram   resultado   de   longa 
2300 evolução da doença não tratada. Paciente teve a 
moléstia     identificada   no   momento   em   que 
chegou à maternidade, já em trabalho de parto 
expulsivo. Havia feito cinco consultas de pré­
natal,   sem   receber   orientação   ou   tratamento. 
2305 (Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

A doença não tratada poderá ainda gerar 
infecções secundárias. Em alguns casos, poderá 
até mesmo haver a formação de câncer.
2310
Outros   microrganismos   costumam 
infectar   as   úlceras   do   granuloma   venéreo, 
podendo haver complicação do quadro clínico.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         98

Figura   7.3.4   —   Granuloma   inguinal.   Extensa  2315


úlcera em pênis. Notar a seriedade da destruição 
dos tecidos. Lesão resultante de longa evolução 
da   doença   sem   tratamento.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
2320
As   manifestações   de   elefantíase   são 
verificadas quase sempre após a ocorrência de 
formas ulcerativas, por alterações linfáticas.

A   donovanose,   se   não   tratada,   pode  2325


espalhar­se   interiormente   no   corpo   humano, 
atingindo   articulações,   ossos,   fígado,   baço   e 
pulmões. Nestes casos, ocorrerá febre, anemia e 
perda de peso.
2330
7.4  Diagnóstico

O   médico   ouvirá   o   relato   do   paciente, 


bem   como   examinará   as   lesões:   nódulos 
vermelhos e brilhantes  caracterizam a  doença.  2335
Exames   laboratoriais   confirmatórios   poderão 
99       Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

ser solicitados.

A   bactéria   poderá   ser   encontrada   em 


2340 amostras   colhidas   a   partir   das   bordas   dos 
nódulos.

Ao   microscópio,  Calymmatobacterium 
granulomatis  deverá   ser   visto   no   interior   de 
2345 grandes fagócitos mononucleares (macrófagos) 
coloridos por Giemsa ou Wright.

7.5  Portadores Assintomáticos

2350 Existem,   principalmente   no   sexo 


feminino.   Os   portadores   assintomáticos   são 
grandes propagadores da doença.

7.6  Tratamento
2355
O tratamento é feito à base de antibiótico 
específico,   ao   qual  Calymmatobacterium 
granulomatis  seja sensível, medicação esta que 
somente pode ser prescrita pelo médico. Nunca 
2360 utilize remédios sem prescrição médica.

Com o tratamento, a cura virá de forma 
lenta,   e   haverá   cicatrização.   A   resposta   aos 
antibióticos é evidente após 7 dias, e a cura total 
2365 se dá entre 21 e 35 dias. Em alguns casos mais 
severos,   as   seqüelas   deixadas   podem   exigir 
correção cirúrgica local.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         100

A   garantia   da   cura   se   dará   pelo 


monitoramento   médico   por   6   meses   após   a 
finalização do tratamento. 2370

Ainda   que   assintomático,   o   parceiro 


sexual deverá submeter­se a exames para saber 
se é portador da doença e, se necessário, deve 
tratar­se simultaneamente com seu par, a fim de  2375
que não haja recontaminação mútua após a cura.

7.7  Prevenção

Higienização   minuciosa,   com   água   e  2380


sabonete,   logo   após   a   relação   sexual,   pode 
colaborar com a prevenção, mas lembre­se de 
que   esta   medida,   por   si   só,   não   é   de   forma 
alguma garantia de que a doença será evitada.
2385
A "camisinha"  não oferece proteção total 
contra a doença: leia a “In trodução”  deste livro 
para conhecer os motivos.

Relativamente ao ato sexual, o único meio  2390
100% seguro de evitar o granuloma inguinal é 
não ter promiscuidade, possuindo assim apenas 
um  único  parceiro sexual,  saudável  e também 
não promíscuo.
101      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

2395 8
HEPATITE TIPO A

8.1  Outras Denominações
2400
HAV.

8.2  Agente Causador

2405 Vírus   HAV   (Hepatitis   A   Virus), 


pertencente   à   Família  Picornaviridae,   Gênero 
Hepatovirus.   É   um   RNA   vírus,   ou   seja,   a 
informação para gerar novos vírus está gravada 
em seu RNA.
2410
A   hepatite   A   tem   um   período   de 
incubação de 14 a 42 dias, onde se verifica a 
reprodução do vírus HAV no fígado. Os vírus 
são   encontrados   especialmente   nas   fezes   do 
2415 paciente,   por   onde   são   eliminados   2   semanas 
antes dos primeiros sintomas e 1 semana após. 
No   sangue,   HAV   poderá   ser   encontrado   por 
apenas 5 a 7 dias; na saliva o vírus existirá em 
concentrações muito baixas.
2420
O   vírus   causador   da   hepatite  A  se   aloja 
principalmente   no   fígado,   mas   também   se 
encontrará no estômago e intestinos. No fígado, 
os vírus HAV invadem os hepatócitos (células 
2425 do fígado) para se reproduzir. A inflamação do 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         102

fígado   ocorre   porque   o   sistema   imunológico 


humano   passa   a   destruir   os   hepatócitos   que 
estão   infectados   pelos   vírus,   numa   tentativa 
natural de eliminar os invasores HAV: com isto, 
as   próprias   células   do   fígado   são   também  2430
mortas, surgindo a hepatite.

Como os principais meios de transmissão 
da   doença   se   dão   pelas   vias   oro­fecal   e   por 
águas   contaminadas,   sua   prevalência   está   em  2435
países pobres, onde grassam a ausência de água 
tratada e esgotos, bem como a falta de hábitos 
higiênicos básicos na população.

8.3  Manifestações Clínicas 2440

A maior parte dos infectados tem ausência 
de   manifestações   clínicas,   ou   apresenta 
sintomas   inespecíficos   semelhantemente   a   um 
quadro gripal. 2445

Muitas pessoas só vem a saber que um dia 
tiveram hepatite A por exames de sangue, que 
acusam   anticorpos   IgG   contra   a   doença, 
imunoglobulinas estas que passarão a integrar o  2450
sistema   de   defesa   do   organismo   e   prevenirão 
nova infecção por toda a vida.

Quando   aparecem,   os   sintomas   mais 


comuns são a icterícia, onde os olhos e a pele  2455
ficam amarelados, fadiga, dor abdominal, perda 
103      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

de   apetite,   náusea,   diarréia,   febre,   dores 


musculares e  articulares. Urina escura  (cor de 
chá   mate)   é   também   um   sinal   da   doença. 
2460 Algumas vezes, também aparece dor no próprio 
fígado. Em alguns casos, pode haver redução do 
fluxo biliar, ocasionando fezes claras.

Os   fumantes   apresentam,   tipicamente, 


2465 aversão ao tabaco.

Muitos infectados queixam­se de tonturas, 
e, com base neste relato, não é raro iniciar­se 
tratamento   indevido   e   errôneo   para   labirintite 
2470 (inflamação do labirinto do ouvido, que não tem 
nenhuma   relação   com   a   hepatite,   mas   cujo 
principal sintoma é a tontura mas no sentido de 
desequilíbrio)!  A  tontura   a   que   o   paciente   se 
refere,   no   caso   da   hepatite   A,   não   é 
2475 desequilíbrio,   mas   sim   uma   intensa   falta   de 
energia, onde o indivíduo mal tem forças para 
ficar em pé.

A   icterícia,   sintoma   muito   comum   dos 


2480 cinco   tipos   de   hepatites   virais,   bem   como   de 
outras doenças do fígado, como cálculos biliares 
e hepatite alcoólica, é causada pela elevação da 
taxa   sanguínea   de   bilirrubina,   que   passa   a   ter 
sua excreção comprometida pelo fígado, órgão 
2485 que   normalmente   expele   este   pigmento   no 
intestino através da bile. A urina escura, outro 
sintoma comum das hepatites virais e de outras 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         104

doenças   do   fígado,   também   é   resultado   deste 


acúmulo sanguíneo indevido de bilirrubina, que 
passa   a   ter   seu   excesso   eliminado   pelos   rins,  2490
originando   assim   a   urina   escurecida.  As   fezes 
claras são resultado da ausência de bilirrubina 
no intestino.

Manifestações   sistêmicas   são   incomuns,  2495


mas   podem   ocorrer:   nefrite   (inflamação   dos 
rins),   meningoencefalite   (inflamação   das 
membranas   que   envolvem   o   sistema 
cerebrospinal, bem como do próprio encéfalo), 
crioglobulinemia   (agregação   de   proteínas   do  2500
sangue,   sob   temperaturas   baixas,   causando 
dores nas juntas, hematomas e fraqueza ou, em 
outros casos, comprometendo quaisquer órgãos 
ou sistemas do organismo, como pele, nervos, 
rins   ou   o   próprio   fígado,   etc.)   e   vasculite  2505
leucocitoclástica (doença que acomete pequenos 
vasos —  vênulas pós­capilares —  mediada por 
imunocomplexos,   com   manifestações   clínicas 
de lesões purpúricas palpáveis mais comuns nas 
extremidades inferiores).  2510

Uma forma bastante rara da hepatite A é o 
tipo   fulminante,   onde   ocorre   falência   total   do 
fígado,   que   pode   ser   fatal   ao   indivíduo, 
exigindo   internação   hospitalar   e   tratamento  2515
especial   urgente.   Entre   os   sintomas   principais 
estão   a   sonolência,   confusão   mental,   fala   e 
movimentos   lentos,   caracterizando   assim   a 
105      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

encefalopatia   hepática   (decorrente   de   acúmulo 


2520 de substâncias  tóxicas  no sangue, que deixam 
de ser metabolizadas pelo fígado, toxinas estas 
que vem então a afetar o cérebro) resultando em 
comprometimento   da   função   cerebral   e   que 
pode  facilmente   ser  diagnosticada  com  exame 
2525 de eletroencefalograma. Podem ocorrer também 
sangramentos,   ascite   (acúmulo   de   líqüidos   na 
cavidade abdominal) e dificuldade em respirar. 
Felizmente, a hepatite A fulminante ocorre em 
menos de 1% dos casos.
2530
8.4  Diagnóstico

O   relato   do   paciente,   com   as   possíveis 


manifestações clínicas, é muito importante para 
2535 o médico.

É necessário também afastar a hipótese de 
outras   afecções   do   fígado   que   provocam 
sintomas   semelhantes,   como   por   exemplo   a 
2540 hepatite alcoólica, que causa icterícia.

A   confirmação   da   doença   é   feita   por 


exame   laboratorial   que   detecta   a   presença   de 
anticorpos contra o vírus HAV: imunoglobulinas 
2545 Anti   HAV   IgM   surgem   na   fase   aguda   da 
doença,   e   Anti   HAV   IgG   após   a   cura   (que 
estarão, a partir de então, sempre presentes no 
corpo   do   paciente,   por   toda   a   sua   vida, 
prevenindo   de   maneira  eficaz   novas   infecções 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         106

pelo mesmo tipo de vírus). 2550

Ainda, por exame de laboratório, poderá 
ser verificado, durante a fase aguda da doença, 
elevações de AST (aspartato aminotransferase) 
e   de   ALT   (alanina   aminotransferase),   quadro  2555
que   poderá   levar   até   6   meses   para   atingir   a 
normalização.  AST  e  ALT  são   marcadores   de 
lesão celular.

8.5  Portadores Assintomáticos 2560

Constituem a maioria dos infectados, que 
são potenciais transmissores da doença, por vias 
diferentes,   de   acordo   com   a   fase   da   doença, 
conforme já explicado no item 9.2. 2565

8.6  Tratamento

Em   apenas   20%   dos   casos   a 


hospitalização do doente é necessária. Ela está  2570
indicada   quando   houver   desidratação   do 
paciente,   em   decorrência   dos   vômitos,   ou 
quando as manifestações clínicas mostrarem­se 
muito acentuadas ou de forma grave, bem como 
para   idosos   e   portadores   de   outras   moléstias  2575
sérias concomitantes.

Como a doença nunca se tornará crônica, 
e   o   corpo   obtém   a   cura   por   si   mesmo,   o 
tratamento   a   ser   prescrito   pelo   médico  2580
107      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

objetivará apenas o suporte do doente.

Normalmente,   a   recuperação   total   do 


paciente se dará em 21 dias; em alguns casos, 
2585 poderão ocorrer surtos leves da doença por até 6 
meses. 

Os   medicamentos   cuja   principal   via 


metabólica seja o fígado estão contra­indicados 
2590 e deverão ser suspensos pelo médico.

Devem ser evitados alimentos que causem 
trabalho   adicional   ao   fígado,   como   leite, 
gorduras e frituras. Tendo em vista que alguns 
2595 trabalhos   desempenhados   pelo  fígado  somente 
são realizados quando a pessoa descansa,  e este 
órgão encontra­se temporariamente debilitado, o 
repouso   é   recomendado   durante   todo   o 
tratamento. Álcool e cigarros estão severamente 
2600 contra­indicados e proibidos ao doente.

Deve   ser   recomendada   dieta   rica   em 


açúcar ao paciente, visto que uma das funções 
principais do fígado é manter constante a taxa 
2605 sanguínea de açúcar, tarefa que poderá não estar 
sendo   desempenhada   adequadamente   até   a 
recuperação final do indivíduo.

Extremo   cuidado   deve   ser   adotado   no 


2610 convívio   do   doente   com   seus   familiares,   na 
mesma residência. O portador da hepatite A e 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         108

todos os seus familiares devem adotar hábitos 
higiênicos pessoais rígidos, entre eles a lavagem 
de mãos com água e sabonete SEMPRE antes 
de   comer.   Copos,   pratos   e   talheres   do   doente  2615
devem ser usados somente por este, e separados 
durante a lavagem dos demais utensílios de uso 
do resto da família, e guardados separadamente; 
a   lavagem   destes   objetos   deve   ser   feita   com 
água   e   sabão.   O   mesmo   cuidado   deve   ser  2620
adotado com as roupas do doente, que devem 
ser   lavadas   e   guardadas   em   separado   das   dos 
demais   familiares,   em   especial   suas   roupas 
íntimas.   Se   possível,   deve   ser   buscada   qual   a 
fonte   da   infecção   do   primeiro   doente:   água  2625
contaminada?   Falta   de   higiene?   E,   assim, 
corrigir   o   problema   para   que   os   demais 
familiares não sejam contaminados.

Imunoglobulinas   específicas,   aplicadas  2630


via   intramuscular,   na   concentração   de   0,02 
ml/kg, em até 2 semanas após a exposição ao 
vírus   HAV,   ou   preventivamente,   antes   da 
contaminação, oferece uma proteção estatística 
da   ordem   de   85%,   e   está   recomendada   para  2635
aquele que teve relação sexual com o doente ou 
familiares   que   convivem   com   o   portador   da 
hepatite   A   sob   o   mesmo   teto.   A   proteção 
permanece por 3 a 6 meses.
2640
A internação hospitalar é obrigatória nos 
casos   de   hepatite   fulminante   que,   sem 
109      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

tratamento   intensivo   em   clínica   ou   hospital 


especializado,   tem   índice   de   mortalidade   da 
2645 ordem   de   80%.   O   suporte   hospitalar   lançará 
mão de medicação adequada, exercerá controle 
hidroeletrolítico,   cardiorespiratório   e   de 
sangramentos, bem como fornecerá alimentação 
diferenciada necessária ao restabelecimento do 
2650 doente,   evitando,   entre   outros   alimentos,   a 
ingestão   de   proteínas.   Em   alguns   casos,   a 
medicina atual se vê obrigada a lançar mão de 
transplante hepático.

2655 8.7  Prevenção

Tendo em vista que o vírus da hepatite A é 
eliminado principalmente pelas fezes da pessoa 
doente, a principal forma de contaminação se dá 
2660 pelo contato oral com estas fezes. Obviamente, 
este contato se dá por vias indiretas, por maus 
hábitos   higiênicos   do   portador,   por   exemplo 
através   da   não   lavagem   de   mãos   com   água   e 
sabonete após sua higienização pós­defecatória: 
2665 através   de   seu   toque,   poderá   contaminar 
superfícies   de   objetos   e   alimentos;   ao   ingerir 
alimentos   assim   contaminados,   uma   pessoa 
saudável contrairá a hepatite A.

2670 Água contaminada também pode ser um 
potencial   meio   transmissor.   Falta   de   água 
tratada pela cidade e ausência ou má estrutura 
do sistema de esgotos são fortes facilitadores à 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         110

existência da doença.
2675
Aquele que prepara a comida deve sempre 
lavar   as   mãos   com   água   e   sabonete   antes   de 
iniciar   seu   trabalho.   Os   alimentos   devem 
também sempre ser lavados, merecendo cuidado 
redobrado   aqueles   que   serão   ingeridos   crus,  2680
como verduras, legumes e frutas. Também, por 
tudo isto, pense duas vezes antes de resolver se 
alimentar em restaurantes de asseio duvidoso.

Como   o   sangue   da   pessoa   doente   não  2685


abriga   o  vírus  por   mais   do  que   5  a   7  dias,   a 
contaminação   parenteral   por   HAV   é 
relativamente rara.

A saliva do portador de hepatite A possui  2690
baixa   concentração   de   vírus.   Alguns   estudos 
chegam   a   afirmar   que   o   adulto   saudável   não 
contrairia o vírus pelo contato com a saliva do 
doente.   Entretanto,   caso   se   esteja 
momentaneamente   com   as   defesas   do   corpo  2695
diminuídas, por estresse, depressão, doença ou 
má  alimentação, existe sim  a possibilidade  de 
contração   da   doença   por   saliva   contaminada: 
são meios para isto o beijo,  o uso comum de 
copos   ou   talheres   sem   lavagem   com   água   e  2700
sabão,   o   mesmo   valendo   para   bocais   de 
garrafas, latinhas de refrigerantes, etc.

Estatísticas   mostram   que   entre   homens 


111      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

2705 homossexuais   a   prevalência   da   doença   é   de 


30%; já entre os heterossexuais, a taxa cai para 
12%.

A   administração   de   imunoglobulinas 
2710 específicas   oferecerá   proteção   à   doença   com 
eficácia de 85% para aqueles que se expuseram 
ao   vírus   HAV,   desde   que   não   haja   decorrido 
mais de 2 semanas.

2715 Existe   vacina   para   a   hepatite  A,   que   se 


constitui   num   excelente   preventivo   à   doença: 
feita   à   base   de   vírus   inativados,   aplicada   em 
duas ou três doses oferece proteção estatística 
da ordem de 94%  por  até 20 anos vindouros. 
2720 Após a vacinação, pode haver dor no local da 
injeção, dor de cabeça e febre. Todos deveriam 
ser   vacinados,   mas   alguns   grupos   tem 
preferência,   como   as   comunidades   onde   a 
doença é endêmica, crianças (especialmente as 
2725 que passam o dia em escolas ou creches), bem 
como   as   pessoas   que   já   apresentam   outras 
doenças   crônicas   do   fígado.   Caso   deseje 
vacinar­se, consulte antes seu médico, fazendo­
o somente sob sua prescrição.
2730
No   que   concerne   ao   ato   sexual,   a 
"camisinha"  não oferece proteção total contra a 
doença:   leia   a  "Introdução"  deste   livro   para 
conhecer os principais motivos.
2735
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         112

Práticas   de   sexo   anal   são,   obviamente, 


muito facilitadoras para o contágio da hepatite 
A, visto que o vírus HAV, na pessoa infectada, é 
encontrado no intestino.
2740
Como   a   principal   via   de   contágio   da 
doença   é   oro­fecal,   práticas   de   sexo   oro­anal 
são fortes transmissores da doença a partir da 
pessoa infectada.
2745
Não   ter   promiscuidade,   possuindo  assim 
um  único  parceiro sexual,  saudável  e também 
não promíscuo, pode ser um meio excelente de 
evitar o contágio pelo sexo, mas lembre­se que 
mesmo   assim   seu   companheiro   (ou   você  2750
mesmo) pode contrair a hepatite A por inúmeras 
outras vias, já citadas.
113      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

9
HEPATITE TIPO B
2755
9.1  Outras Denominações

HBV.

2760 9.2  Agente Causador

Vírus   HBV   (Hepatitis   B   Virus),   com 


tamanho de 42 nm de diâmetro, pertencente à 
Família  Hepadnaviridae,   Gênero 
2765 Orthohepadnavirus;   outras   espécies   deste 
Gênero causam hepatite em esquilos terrestres e 
marmotas nos Estados Unidos e Canadá; ainda 
na   mesma   Família,   outros   vírus   do   Gênero 
Avihepadnavirus causam hepatite em patos.
2770
O   HBV   é   um   DNA  vírus,   ou   seja,   sua 
reprodução ocorre pela replicação de seu DNA 
no   interior   de   células   hospedeiras.   Após   a 
infecção,  o  vírus  HBV  se  instalará  no  fígado: 
2775 ali, o DNA viral fará os hepatócitos (células do 
fígado) produzirem novos vírus. Os hepatócitos 
infectados   possuirão   em   sua   superfície   uma 
parte do vírus, em especial o antígeno HBcAg, 
que   é   reconhecido   pelo   sistema   imunológico 
2780 humano, o qual desencadeará um ataque direto 
aos   hepatócitos,   principalmente   através   dos 
linfócitos   T   citotóxicos,   a   fim   de   eliminar   os 
vírus infectantes: está iniciado assim o processo 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         114

de inflamação do fígado (hepatite). Notar que é 
o   próprio   corpo   que   ataca   o   fígado:   a  2785
inflamação   deste   órgão   não   é   gerada 
diretamente pelos vírus, mas sim pela ação do 
sistema imunológico sobre os hepatócitos.

As   únicas   vias   de   transmissão   do   vírus  2790


são   por   contato   com   o   sangue   ou   fluidos 
corporais   (saliva,   sêmen,   secreções   vaginais, 
etc.) da pessoa infectada. Assim, são meios de 
transmissão:   parto   (infecção   do  recém­nascido 
pela mãe portadora da doença); relação sexual;  2795
seringas   e   agulhas   contaminadas;   brocas   e 
ferramentas   de   dentistas   não   esterilizadas; 
transfusões   sanguíneas   com   sangue   infectado; 
lâminas   de   barbear   contaminadas;   alicates   e 
cortadores de unhas contaminados; etc. 2800

Mais de 90% dos indivíduos maiores de 5 
anos de idade que adquirem a hepatite B obtém 
cura total. Entretanto, cerca de 6% desenvolvem 
a forma crônica da doença; destes, 25% tornam­ 2805
se casos fatais.

Estima­se que aproximadamente 50% da 
população   da   Terra   já   contraiu   a   hepatite   B, 
porém não de maneira uniforme no globo:  há  2810
maior   prevalência   nos   países   pobres,   onde   os 
maiores   infectados   são   os   recém­nascidos,   no 
momento   do   parto,   bem   como   as   crianças, 
sendo   também   as   vias   parenteral   e   sexual   as 
115      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

2815 grandes difusoras da doença; já nos países ricos 
há   menor   incidência   da   moléstia,   que   ocorre 
quase   exclusivamente   em   adultos,   onde   o 
principal meio infectante é a via sexual.

2820 A  doença   alastra­se,   no   mundo,   com   50 


milhões   de   novos   casos   anuais.   Atualmente, 
estima­se   que   cerca   de   350   milhões   de 
indivíduos são portadores  crônicos da doença: 
nestes casos, as complicações decorrentes como 
2825 cirrose   e   carcinoma   hepatocelular   são 
responsáveis por cerca de 500.000 a 1.200.000 
mortes por ano.

15% da população brasileira já contraiu o 
2830 vírus HBV.

9.3  Manifestações Clínicas

Quando   a   quantidade   de   hepatócitos 


2835 infectados é pequena e a resposta imunológica 
do   corpo   humano   é   eficaz,   a   hepatite   B   será 
curada  sem  a presença  de  sintomas   (30%  dos 
casos).

2840 Porém,   se   for   grande   a   quantidade   de 


células   do   fígado   que   foram   infectadas   pelo 
HBV,   o   ataque   do   sistema   imune   aos 
hepatócitos   fará   surgir   os   sintomas   (70%   dos 
casos).
2845
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         116

Pode   demorar   semanas   para   surgir 


sintomas (quando ocorrem), período no qual o 
portador já é um transmissor da doença.

São manifestações clínicas de hepatite B,  2850
que podem ou não ocorrer: inicialmente, fadiga, 
mal estar e dores articulares; a evolução poderá 
trazer falta de apetite, náuseas, dor no fígado e 
icterícia   (onde   as   conjuntivas   oculares   ficam 
amarelas,  cor  que  também pode  se  manifestar  2855
na   pele).   Uma   vez   ocorridas,   estas 
manifestações   deixarão   de   existir   em   30  a   90 
dias. Entretanto, mesmo após a normalização do 
organismo constatada por exames laboratoriais, 
alguns indivíduos poderão apresentar fadiga. 2860

Uma   resposta   imunológica   exagerada 


poderá   provocar   destruição   maciça   dos 
hepatócitos,   levando   a   um   raro   quadro   de 
hepatite   fulminante   (cerca   de   1%   dos   casos),  2865
muito   grave   e   que   pode   ser   fatal.   As 
manifestações   clínicas   que   mais   sugerem   a 
ocorrência de hepatite fulminante são de ordem 
neurológica,   como   sonolência   e   confusão 
mental,   fala   e   movimentos   lentos,  2870
caracterizando   assim   a   encefalopatia   hepática 
(decorrente de acúmulo de substâncias tóxicas 
no   sangue,   que   deixam   de   ser   metabolizadas 
pelo fígado, substâncias estas que vem então a 
afetar   o   cérebro),   que   resulta   em  2875
comprometimento   da   função   cerebral   e   que 
117      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

pode  facilmente   ser  diagnosticada  com  exame 


de   eletroencefalograma.   Pode   também   haver 
sangramentos,   ascite   (acúmulo   de   líqüido   na 
2880 cavidade abdominal) e dificuldade em respirar. 
A  hepatite   B  responde   por   50%   dos  casos   de 
hepatite fulminante.

Quando   o   organismo   humano   não 


2885 consegue eliminar os vírus HBV e a inflamação 
do   fígado   permanece   por   mais   de   6   meses,   a 
chance   de   cura   total   espontânea   passa   a   ser 
muito pequena, e a doença é então classificada 
como hepatite crônica. Mais uma vez, a maioria 
2890 dos   pacientes   é   também   assintomática   nesta 
ocorrência;   se   houverem   sintomas,   os   mais 
comuns serão fadiga, falta de apetite e perda de 
peso; manifestações clínicas mais raras incluem 
poliarterite   nodosa,   pericardite,   miocardite, 
2895 edema   angioneurótico,   derrame   pleural, 
pneumonia   atípica,   púrpura   de   Henoch­
Schölein,   neuropatia   periférica,   mielite 
transversa, glomerulonefrite, pancreatite, artrite 
e artralgias.
2900
A mãe portadora do vírus pode transmiti­
lo   à   criança   no   momento   do   parto.   Recém­
nascidos   são   incapazes   de   manifestar   uma 
defesa   eficiente   ao   HBV,   acarretando   uma 
2905 grande proliferação viral em seu corpo. Ocorre, 
então, em 90% destes casos, que o organismo 
do bebê apresentará uma tolerância relativa aos 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         118

vírus, fazendo manifestar um quadro de hepatite 
crônica leve permanente.
2910
Crianças   de   1   a   5   anos   de   idade   que 
contraem  o  HBV possuem   risco   estatístico  de 
30%   para   desenvolver   hepatite   crônica;   em 
adultos   com   sistema   imune   deprimido   esta 
chance é de 50%. 2915

Num   quadro   muito   parecido   com   a 


infecção   de   recém­nascidos,   há   pessoas   que 
possuem   sistema   imunológico   relativamente 
tolerante   ao   vírus,   o   que   provoca   uma  2920
eliminação muito pequena de hepatócitos, quase 
nula.   Estes   indivíduos   possuem   hepatite 
crônica, mas são classificados como portadores 
sãos.  A   quantidade   de   HBV   circulante   no 
sangue é pequena. Nestes casos, o surgimento  2925
de complicações decorrentes da doença possui 
risco   muito   baixo.   O   portador   são   é   um 
transmissor da hepatite B.

Denominaremos de hepatite crônica ativa  2930
quando   há   eliminação   crônica   das   células   do 
fígado. A destruição constante dos hepatócitos 
poderá acarretar o surgimento de cicratizes no 
fígado,   originando   a   cirrose.   Daqueles   que 
desenvolverem   cirrose,   50%   serão   acometidos  2935
de  câncer  no fígado  (hepatocarcinoma), muito 
embora   este   câncer   não   seja   dependente   da 
cirrose, podendo ocorrer antes mesmo desta.
119      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Na hepatite B crônica, o risco estatístico 
2940 anual do surgimento de hepatocarcinoma é de: 
0,06% a 0,3% em portadores sãos: 0,5% a 0,8% 
na   hepatite   crônica   ativa,   e:   1,5%   a   6,6%   na 
cirrose.

2945 A   ingestão   de   bebidas   alcoólicas   ou   a 


infecção simultânea por hepatites A, C, D ou E 
agravam enormemente a evolução da doença.

9.4  Diagnóstico
2950
O   relato   do   paciente   ao   médico   é   de 
grande   importância,   que   levará   em   conta   os 
sintomas apresentados, fatos ocorridos passíveis 
de trazer a infecção, etc.
2955
É necessário também afastar a hipótese de 
outras   afecções   do   fígado   que   provocam 
sintomas   semelhantes,   como   por   exemplo   a 
hepatite alcoólica, que causa icterícia.
2960
Testes laboratoriais são necessários para a 
identificação   perfeita   da   doença.   Exames 
sorológicos podem detectar a infecção por HBV. 
Concomitantemente, deve­se também pesquisar 
2965 os marcadores de lesão celular AST (aspartato 
aminotransferase)   e   ALT   (alanina 
aminotransferase).

É preciso muito cuidado na interpretação 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         120

dos   resultados   sorológicos,   a   fim   de   evitar  2970


diagnósticos   errôneos:   não   é   raro   ocorrer   a 
qualificação de um indíviduo como portador de 
hepatite B quando, na verdade, ele apenas foi 
vacinado contra o HBV! Para   evitar 
interpretação   errônea   dos   resultados  2975
sorológicos,   vamos   compreender   o   que   são 
antígenos   e   anticorpos.   Antígenos   são 
substâncias ou agentes infectantes, como vírus e 
bactérias,   capazes   de   provocar   uma   reação   de 
defesa do organismo humano; já os anticorpos  2980
são   exatamente   os   próprios   agentes   de   defesa 
criados   pelo   corpo   humano,   originados   em 
resposta   à   presença   desses   antígenos   com   a 
finalidade   de   eliminá­los,   bem   como   prevenir 
infecções futuras idênticas. 2985

No vírus HBV encontramos três antígenos 
(partes do vírus) capazes de provocar a reação 
imunológica do organismo humano de produção 
de anticorpos específicos, sendo estes antígenos  2990
(com   exceção   de   HBcAg)   e   seus   respectivos 
anticorpos   detectáveis   por   exames   de   sangue 
adequados:

Antígeno   HBsAg  (abreviatura   do   inglês  2995


Hepatitis   B  Surface Antigen)  —  Antígeno   da 
região   superficial   do   vírus,   isto   é,   proteína 
encontrada na superfície do envoltório viral. No 
exame   de   sangue,   sua   presença   indica   que   a 
pessoa   está   infectada   pelo   vírus   HBV.   O  3000
121      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

indivíduo   que   possui   este   antígeno   é   um 


transmissor   da   doença.   É   detectado   durante   a 
hepatite B aguda ou crônica. Já a ausência de 
HBsAg indica que o indivíduo pesquisado não 
3005 possui hepatite B;

Anticorpo Anti­HBs (ou HBsAb, abreviatura 
do inglês Hepatitis B Surface Antibody) —  Sua 
detecção   é   geralmente   interpretada   como   um 
3010 marcador   de   que   o   corpo   está   produzindo 
imunização  contra a doença, e que o paciente 
está então em recuperação. Ainda, sua presença 
também   é   uma   prova   de   que   o   indivíduo 
vacinado  produziu os anticorpos necessários à 
3015 prevenção da hepatite B, e que portanto a vacina 
foi bem sucedida;

Antígeno   HBcAg  (abreviatura   do   inglês 


Hepatitis   B   Core   Antigen)  —   Antígeno   da 
3020 região   central   do   vírus,   isto   é,   proteína 
localizada   no   invólucro   interno,   situado   este 
logo abaixo do envoltório viral.  Este invólucro 
interno,   chamado   em   inglês   de  core   particle, 
encerra, finalmente, dentro de si, o DNA viral e 
3025 a   enzima   DNA   polimerase.   Notar   que   o 
antígeno HBcAg não é detectável por exames 
de sangue, mas pode ser encontrado a partir de 
células provenientes de biópsia do fígado;

3030 Anticorpo  Anti­HBc   IgM   (ou   HBcAb   IgM, 


abreviatura   do   inglês  Hepatis   B   Core 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         122

Antibody   Immune  Globulin   M)  —  Aparecerá 


durante a infecção aguda ou recente pelo vírus 
HBV,   e   estará   presente   por   cerca   de   6   meses 
apenas; 3035

Anticorpo   Anti­HBc   IgG   (ou   HBcAb   IgG, 


abreviatura   do   inglês  Hepatis   B   Core 
Antibody Immune Globulin G) —  Persistirá por 
toda a vida do indivíduo infectado uma vez pelo  3040
vírus   HBV,   ou   seja,   inclusive   após   a   cura   da 
doença.   Sua   presença   indica,   assim,   que   o 
indivíduo   tem   no   momento   ou   já   teve   no 
passado   a   infecção   por   hepatite   B.  Associado 
aos outros marcadores, podemos afirmar que o  3045
portador   de   anticorpos  Anti­HBc   IgG   e  Anti­
HBs   teve   infecção   anterior   pela   hepatite   B   e 
curou­se,   ganhando,   em   adição,   prevenção   a 
infecções futuras pelo vírus HBV; já a presença 
de   anticorpos   Anti­HBc   IgG   e   de   antígenos  3050
HBsAg nos revela o quadro apresentado pelos 
portadores crônicos da hepatite B;

Antígeno   HBeAg  (abreviatura   do   inglês 


Hepatitis   B   E   Antigen)  —   Está   geralmente  3055
presente, de forma transitória, na fase aguda da 
doença.   É   detectável   quando   o  vírus  HBV  da 
cepa   denominada  "selvagem"  está   em 
reprodução   ativa,   sendo   ao   mesmo   tempo   um 
sinal   de   que   o   indivíduo   infectado   apresenta  3060
altos níveis de HBV e grande probabilidade de 
danos ao fígado. HBeAg está também presente 
123      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

na hepatite B crônica ativa causada pelo HBV 
"selvagem". Entretanto,  existe também o vírus 
3065 HBV da cepa denominada  "mutante", que não 
produz   o   antígeno   HBeAg,   de   forma   que 
mesmo num resultado de exame de sangue onde 
se verifica a ausência de HBeAg mas a presença 
de DNA de HBV deve se considerar que o vírus 
3070 está em franca replicação;

Anticorpo Anti­HBe (ou HBeAb, abreviatura 
do   inglês  Hepatitis   B   E   Antibody)  —  
Produzidos temporariamente durante a infecção 
3075 aguda ou de forma persistente durante ou após 
uma   grande   replicação   do   vírus   HBV.  A 
presença de Anti­HBe é geralmente interpretada 
como um bom sinal,  e indica  um  prognóstico 
favorável.   Ainda,   em   um   paciente   infectado 
3080 com a cepa  "selvagem"  do vírus HBV, quando 
chega  a  desaparecer  o antígeno  HBeAg e  seu 
exame   de   sangue   passa   então   a   mostrar   a 
presença   apenas   de   anticorpos   Anti­HBe 
(mudança conhecida como soroconversão), este 
3085 resultado,   quer   seja   obtido   espontaneamente, 
quer seja pela bem sucedida administração de 
terapia antiviral, é interpretado como um ótimo 
prognosticador,   concluindo­se   que   há   então 
baixos níveis de HBV. Já no indivíduo infectado 
3090 pela   cepa  "mutante"  do   vírus   HBV,   os 
anticorpos   Anti­HBe   estão   presentes   quer   o 
HBV esteja ou não se multiplicando. Por isto, 
exame que detecte a presença de DNA HBV é 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         124

necessário   para   saber   se   está   havendo   ou   não 


replicação viral. 3095

Os chamados portadores sãos de hepatite 
crônica possuirão baixos níveis de AST e ALT, 
devido à relativa tolerância de seus organismos 
ao HBV. 3100

Já   os   indivíduos   que   possuem   hepatite 


crônica   ativa,   nos   períodos   de   atividade   da 
doença,   denominados  flares,   apresentarão 
elevação de AST e ALT. 3105

PCR (Polimerase Chain Reaction) é um 
exame   laboratorial   que   permite   saber   a 
quantidade de vírus circulante no sangue.
3110
9.5  Portadores Assintomáticos

Cerca de 30% das pessoas que contraem 
hepatite   B   são   assintomáticas,   do   começo   ao 
fim da doença. 3115

Nos   indivíduos   que   ficarão   curados,   a 


permanência   do   vírus   HBV   em   seus 
organismos, desde o contágio até a cura, variará 
de 42 a 180 dias, período em que o portador,  3120
com   ou   sem   sintomas,   poderá   transmitir   a 
doença para outras pessoas; estes prazos citados 
são   estatísticos,   e   somente   exame   de   sangue 
especializado pode informar se um determinado 
125      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

3125 indivíduo está ou não livre do vírus.

Os chamados portadores sãos de hepatite 
crônica,   que   não   apresentam   sintomas,   mas 
possuem o vírus HBV de forma permanente em 
3130 seus organismos, são transmissores da doença.

Os   indivíduos   portadores   de   hepatite 


crônica ativa são transmissores da virose. 

3135 9.6  Tratamento

Dispomos,   atualmente,   de   excelentes 


medicamentos   destinados   ao   tratamento   da 
hepatite B, que podem ser utilizados, entretanto, 
3140 apenas sob prescrição médica.

Nos   casos   de   hepatite   crônica,   os 


remédios   objetivam   conseguir:   a   supressão   da 
multiplicação   do   vírus   HBV;   a   soroconversão 
3145 de HBeAg para Anti­HBe; a ausência de DNA 
HBV no exame sanguíneo;  a  normalização dos 
níveis dos marcardores de lesão celular ALT e 
AST;   melhorar   e   garantir   a   saúde   celular   dos 
hepatócitos   (células   do   fígado),   atrasando   ou 
3150 parando   o   surgimento   de   lesão   hepática, 
evitando   assim   sua   evolução   para   cirrose   ou 
carcinoma hepatocelular.

Exames que fazem a contagem  do vírus 
3155 no sangue, como o PCR, são muito importantes 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         126

para avaliar a posição atual da doença.

Biópsia   hepática,   por   vezes,   faz­se 


necessária,   buscando­se,   entre   outras   ações, 
detectar   o   antígeno   HBcAg,   bem   como   a  3160
presença   de   atividade   necroinflamatória, 
obtendo assim uma posição atual da doença e 
qual o seu prognóstico.

Como   já   foi   dito,   a   hepatite   fulminante  3165


ocorre   em   apenas   1%   dos   casos   e,   sem 
tratamento   intensivo   em   clínica   ou   hospital 
especializado,   tem   índice   de   mortalidade   da 
ordem   de   80%.   O   suporte   hospitalar   lançará 
mão de medicação adequada, exercerá controle  3170
hidroeletrolítico,   cardiorespiratório   e   de 
sangramentos, bem como fornecerá alimentação 
diferenciada necessária ao restabelecimento do 
doente,   evitando,   entre   outros   alimentos,   a 
ingestão   de   proteínas.   Em   alguns   casos,   a  3175
medicina atual se vê obrigada a lançar mão de 
transplante hepático.  

9.7  Prevenção
3180
Evitar o contato com o sangue e fluidos 
corporais da pessoa infectada pelo vírus HBV, 
como saliva, sêmen, secreções vaginais, etc.  A 
transmissão ocorre após o contato destes fluidos 
ou do sangue com os olhos, boca, ou pela sua  3185
penetração   em   cortes   ou   feridas   expostas   na 
127      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

pele, bem como pelo ato sexual. 

Nos   bancos   de   sangue   e   hospitais,   a 


3190 investigação   de   hepatite   B   por   exames   em 
sangue doado pode evitar a contaminação por 
transfusão sanguínea aos receptores.

Lembre­se   que   as   principais   vias   de 


3195 transmissão   são:   transfusões   sanguíneas   com 
sangue   contaminado;   compartilhamento   ou 
reutilização   de   seringas   e   agulhas   (meio 
freqüente   de   transmissão   entre   usuários   de 
drogas); negligência do serviço de enfermagem 
3200 hospitalar no manuseio de seringas,  agulhas  e 
materiais com risco de infecção; acidentes com 
agulhas em hospitais; brocas e ferramentas de 
dentistas   não   esterilizadas;   parto   (infecção   do 
recém­nascido pela mãe portadora da doença) e 
3205 através do ato sexual.

Para aqueles que se expuseram de forma 
acidental   ao   vírus   HBV,   como   muitas   vezes 
ocorre no ambiente hospitalar, a administração 
3210 de   anticorpos   (imunoglobulinas)   contra   a 
hepatite   B   é   um   excelente   meio   de   evitar   a 
infecção.

No   recém­nascido,   a   administração   de 


3215 imunoglobulinas   contra   a   hepatite   B 
simultanemante à aplicação da vacina contra o 
HBV, fornece uma proteção estatística de 70% 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         128

contra   o   surgimento   de   hepatite   crônica   no 


lactente.
3220
Felizmente, dispomos de vacina contra a 
hepatite B. Ela normalmente é aplicada em uma 
série   de   três   ou   quatro   injeções.   Quando   um 
indivíduo   vacinado   é   exposto   ao   vírus,   ainda 
assim deve tomar a precaução de realizar exame  3225
de sangue para saber a quantidade de anticorpos 
que possui contra o vírus da hepatite B e, se a 
concentração   for   baixa,   deve   tomar   nova 
vacinação. Somente não devem ser vacinados os 
indivíduos que tem histórico de reação alérgica  3230
grave   ao   fermento   de   pão.  A  vacina   deve   ser 
administrada   preferencialmente   aos   portadores 
de  cirrose,  aos indivíduos que se  submetem  a 
diálise,   àqueles   que   apresentam   notada 
deficiência do sistema imunológico, ao parceiro  3235
sexual   do   indivíduo   sabidamente   portador   do 
vírus   HBV  (neste   caso,   antes   do  primeiro   ato 
sexual, o casal deve obrigatoriamente procurar 
avaliação   e   orientação   médica),   a   todos   os 
profissionais   da   saúde   que   trabalham   em  3240
clínicas   ou   ambiente   hospitalar,   dentistas, 
empregados   de   necrotérios,   bem   como   a 
qualquer indivíduo que possuir maior chance de 
contágio pelo vírus HBV, pelas mais diferentes 
razões, como por exemplo viagens a países de  3245
grande   disseminação   da   doença,   usuários   de 
drogas ou com hábitos sexuais promíscuos, etc. 
A vacinação é obrigatória nos recém­nascidos. 
129      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

A   vacina   contra   a   hepatite   B   deveria   ser 


3250 estendida   à   toda   população   do   país.   Somente 
tome a vacina sob prescrição médica.

Relativamente   ao   ato   sexual,   o   uso   de 


"camisinha"  não oferece proteção total contra a 
3255 doença:   leia   a  "Introdução"  deste   livro   para 
conhecer os motivos.

O   único   meio   100%   seguro   de   evitar   o 


contágio pelo HBV através do ato sexual é não 
3260 ter promiscuidade, ou seja, manter relações com 
um   único   parceiro,   saudável   e   também   não 
promíscuo.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         130

10
HEPATITES C, D e E
3265
São   hepatites   virais.   Tendo   em   vista   a 
similaridade do quadro clínico apresentado nos 
casos de hepatite, já descritos para as hepatites 
A e B, bem como das medidas preventivas para 
evitá­las,   vamos   analisar,   a   seguir,   apenas   de  3270
maneira breve, as hepatites dos tipos C, D e E. 
Entretanto, nossa curta descrição não significa, 
de   forma   alguma,   que   estas   doenças   ocorrem 
com menos freqüência do que as hepatites A e 
B,   nem   também   que   são   menos   graves.   Não  3275
dispomos ainda de vacinas contra as hepatites 
C, D e E.

HEPATITE   C:  causada   pelo   vírus   HCV   (do 


inglês  Hepatitis C Virus). É transmissível pelo  3280
sangue e fluidos corporais. Cerca de 80% das 
pessoas   que   contraem   o   vírus   HCV   não 
apresentam   sintomas.   Quando   ocorrem,   as 
principais   manifestações   clínicas   são   icterícia, 
fadiga,   urina   escura,   dor   abdominal,   perda   de  3285
apetite e náusea. A diagnose pode ser feita por 
exame   de   sangue,   onde   se   busca   anticorpos 
Anti­HCV,   bem   como   a   presença   ou  ausência 
do vírus (HCV RNA) e o seu título sanguíneo 
(quantidade   de   vírus).    A  hepatite   do   tipo   C  3290
pode levar o indivíduo a possuir esta doença em 
sua forma crônica em 75% dos casos; também 
131      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

existem  portadores sãos crônicos  da virose. A 


hepatite C pode ser causa de cirrose e câncer do 
3295 fígado.   A   ingestão   de   álcool   agrava 
enormemente   a   doença,   causando   grande 
malefício  ao  fígado.  Atualmente,   dispomos de 
bons   medicamentos   para   tratar   o   portador   da 
hepatite   C.   Para   evitar   o   contágio   pelo   vírus 
3300 HCV,   adote   as   mesmas   medidas   descritas   no 
item 9.7 do Capítulo 9. 

HEPATITE   D:  causada   pelo   vírus   HDV   (do 


inglês  Hepatitis D Virus). É transmissível pelo 
3305 sangue   e   fluidos   corporais.   Os   principais 
sintomas   são   icterícia,   fadiga,   dor   abdominal, 
perda   de   apetite,   náusea,   vômitos,   dores 
articulares, urina escura (de cor semelhante à do 
chá mate). Parece ocorrer apenas como uma co­
3310 infecção   simultânea   com   o   vírus   HBV, 
agravando   ainda   mais   o   quadro   clínico   do 
portador da hepatite B: sua presença aumenta as 
chances   de   falência   aguda   do   fígado   em   até 
20%.   Ocorrendo   super­infecção   pelo   vírus 
3315 HDV, pode surgir hepatite D crônica. Acredita­
se   que   o   maior   risco   de   cirrose   está   nos 
pacientes que estão infectados simultaneamente 
por   HBV   e   HDV   em   suas   formas   crônicas. 
Dispomos na atualidade de bons medicamentos 
3320 para tratar o doente. Para evitar o contágio pelo 
vírus HCV, adote as mesmas medidas descritas 
no item 9.7 do Capítulo 9.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         132

HEPATITE   E:  causada   pelo   vírus   HEV   (do 


inglês  Hepatitis   E   Virus).   As   manifestações  3325
clínicas   são   icterícia,   fadiga,   dor   abdominal, 
perda de apetite, náusea, vômito e urina escura 
(semelhante à cor do chá mate). Sua principal 
via  de  transmissão é oro­fecal, sendo  por isto 
normalmente   adquirida   pela   ingestão   de  3330
alimentos   ou   água   contaminada.  A  hepatite   E 
não   se   torna   crônica.   Devido   à   grande 
similaridade com a hepatite A, leia os itens 8.6 e 
8.7 do Capítulo 8.
133      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

3335 11
HERPES GENITAL

11.1  Agente Causador

3340 Human   herpesvirus,   classificado   na 


Família  Herpesviridae,   Subfamília 
Alphaherpesvirinae, Gênero Simplexvirus.

O   vírus   simples   da   herpes   é   mais 


3345 conhecido por HSV (do inglês  Herpes Simplex 
Virus),   em   dois   tipos:   1   e   2,   denominados 
respectivamente HSV­1 e HSV­2.

Ambos   os   tipos   de   vírus   podem   causar 


3350 tanto   a   herpes   oro­labial   como   a   ano­genital. 
Entretanto, o HSV­1 está relacionado, na maior 
parte dos casos, à herpes oro­labial, enquanto o 
HSV­2 ocorre com maior freqüência nos casos 
de herpes genital.
3355
Os vírus da herpes normalmente infectam 
mucosas do corpo, e então se estabelecem, num 
estado   de   latência,   em   determinada   região   do 
sistema   nervoso.   HSV­1   parece   ter 
3360 "preferência"  em   estabelecer­se   no   gânglio 
trigêmeo,   um   conjunto   de   nervos   na   base   do 
crânio,   próximo   do   ouvido,   a   partir   de   onde 
pode   provocar   manifestações   oro­labiais.   Já 
HSV­2   usualmente   faz   sua   residência   no 
3365 gânglio sacro, na base da espinha, a partir de 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         134

onde   pode   provocar   manifestações   clínicas   na 


área genital.

Há relatos científicos que afirmam que a 
infecção   anterior   por   HSV­1   parece   promover  3370
defesa ao indivíduo no sentido de impedir que 
ele   se   infecte   pelo   HSV­2,   e   vice­versa; 
entretanto,   esta   proteção   não   é   total,   e   a 
infecção   pelo   outro   tipo   do   vírus   que   não   se 
possuía pode ocorrer. Vários trabalhos afirmam  3375
que muitas pessoas não contraem o HSV­2 em 
sua   área   genital   simplesmente   porque   elas   já 
possuíam o HSV­1 oralmente (seu corpo produz 
imunidade   contra   novas   infecções   pelo   vírus 
HSV);   estudos   científicos   contabilizam   que   a  3380
proteção   é   conferida   em   ao   menos   40%   dos 
casos quando a primeira infecção foi por HSV­1 
e   a   segunda   por   HSV­2.  Algumas   vezes,   esta 
presença   de   anticorpos   contra   o   HSV   do 
primeiro   tipo,   se   não   consegue   impedir   a  3385
infecção   pelo   segundo   tipo,   parece   fazer   com 
que as recorrências dos surtos das lesões deste 
sejam mais atenuadas e breves. Estudos também 
afirmam   que   a   infecção   oral   por   HSV­1   pode 
diminuir   o   risco   de   contaminação   genital   por  3390
HSV­1.

Por   ocorrer   mais   comumente   na   área 


genital   e   por   causar   mais   episódios   de 
recorrência,   muitas   pessoas   imaginam   que   o  3395
vírus HSV­2 é "pior" do que o HSV­1, o que não 
135      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

encontra amparo científico. O vírus HSV­1 pode 
causar herpes ocular, uma infecção muito séria 
que   pode   levar   à   cegueira.   Em   casos   muito 
3400 raros, o HSV­1 pode difundir­se para o cérebro, 
causando encefalite, uma perigosa infecção que 
pode levar à morte. Estima­se ainda que o HSV­
1 seja responsável por no mínimo um terço das 
infecções neo­natais por herpes.
3405
Para   ambos   os   tipos   de   vírus,   cerca   de 
dois terços dos portadores não tem sintomas, ou 
as   manifestações   clínicas   são   por   demais 
discretas e passam despercebidas.
3410
Nos Estados Unidos da América, estima­
se   que   ao   menos   80   milhões   de   pessoas   são 
portadoras do vírus HSV.

3415 11.2  Manifestações Clínicas

A   maior   parte   dos   indivíduos   que 


adquirem a doença é assintomática ou apresenta 
sinais clínicos e sintomas bastante discretos.
3420
Quando ocorrem, cerca de 4 a 7 dias após 
o contágio, as principais manifestações clínicas 
são sensação de  "formigueiro", prúrido e dores 
na região de inoculação do vírus. Surge então 
3425 uma   pequena   placa   avermelhada,   com   o 
aparecimento de uma ou mais bolhas, pequenas 
e dolorosas, em torno da boca, e/ou lábios, e/ou 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         136

órgãos genitais e/ou ânus (de acordo, portanto, 
com o local onde o vírus tenha se estabelecido) 
(Figuras 11.2.1 e 11.2.2). 3430

Figura   11.2.1   —   Herpes   genital.   Lesões 


vesiculosas   típicas   em   pênis.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999) 3435

Figura   11.2.2   —   Herpes   genital.   Lesões 


vesiculosas   típicas   em   períneo.  (Fonte:  3440
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
137      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

As   bolhas   posteriormente   se   quebram, 


originando úlceras (feridas) maiores pela fusão 
3445 de várias lesões, por vezes bastante dolorosas, 
muitas vezes se cobrindo de crostas, que podem 
levar de 2 a 4 semanas para sarar; por fim, as 
lesões   cicatrizam   espontaneamente.   Se   a 
infecção ocorrer na área genital, os gânglios da 
3450 virilha podem aumentar um pouco de tamanho e 
tornarem­se sensíveis ao tato.

Figura 11.2.3 —  Herpes genital. Extensa vulvite 
3455 herpética. Primeira manifestação, muito intensa, 
com   lesões   que   tomaram   praticamente   toda   a 
região   genital,   provocando   intensa   dor   e 
retenção   urinária,   causando   impedimento   até 
para a deambulação.  (Fonte: Brasil/Ministério 
3460 da Saúde, 1999)
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         138

O   primeiro   surto   normalmente   é   o  mais 


intenso (Figura 11.2.3), doloroso e prolongado, 
às   vezes   acompanhado   de   febre   e   mal­estar 
geral.  Tipicamente,   após   algumas   semanas   ou 
meses, voltam a surgir as bolhas, repetindo­se o  3465
quadro   clínico   inicial,   porém   normalmente   de 
forma menos severa e com mais curta duração 
do   que   da   primeira   vez.   Estes   episódios   de 
erupções   ulcerosas   e   cicatrizações   ocorrem, 
para muitas pessoas, cerca de 4 a 6 vezes por  3470
ano.   A   recorrência   dos   surtos   de   erupções 
ulcerosas   é   mais   freqüente   na   infecção   por 
HSV­2 do que por HSV­1. Embora a infecção 
permaneça no corpo indefinidamente, o número 
de ocorrências das manifestações clínicas com  3475
bolhas   tende   a   decair   espontaneamente   após 
alguns   anos,   por   razões   ainda   não   totalmente 
esclarecidas.

Figura   11.2.4   —   Herpes   genital.   Exulceração 


em   pênis.   Lesões   com   bordas   hipermiadas. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
139      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Na área genital, as lesões podem ocorrer 
3485 em   qualquer   parte   do   pênis,   inclusive   no 
prepúcio.   Na   mulher,   as   úlceras   podem   se 
manifestar na vulva, no interior da vagina ou no 
colo do útero. As lesões também podem ocorrer 
no   ânus   ou   no   reto.   Em   qualquer   caso,   as 
3490 recorrências   dos   surtos   de   bolhas   podem   se 
expandir   para   além   da   área   ano­genital, 
atingindo a virilha, coxas ou nádegas.

3495 Figura 11.2.5 —  Herpes genital. Exulcerações 


em   face   interna   de   pequenos   lábios   de   vulva. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

Também pode ocorrer infecção nas mãos, 
3500 especialmente no leito das unhas, bem como em 
outras  partes do corpo, como a superfície dos 
olhos.

De   maneira  muito   rara,   a  meningite  por 


3505 herpes pode ocorrer: seus sintomas são vômitos, 
dor de cabeça e rigidez da nuca.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         140

Caso   a   medula   espinhal   seja   atingida, 


pode haver debilidade nas pernas.

Também bastante rara é a propagação do  3510
vírus   pela   corrente   sanguínea,   atingindo   as 
articulações, a pele, os pulmões e o fígado; esta 
infecção   pode   ocorrer   principalmente   em 
indivíduos   que   possuem   sistema   imunológico 
deficiente ou em recém­nascidos.  3515

11.3  Diagnóstico

O relato do paciente ao médico é muito 
importante para colaborar com o diagnóstico da  3520
doença.   É   possível   que   o   médico   até   mesmo 
identifique a herpes ao examinar visualmente as 
lesões.   Algumas   vezes,   porém,   pode   haver 
infecção   secundária   nas   feridas   abertas, 
dificultando   o   diagnóstico.   Assim,   exames  3525
laboratoriais   são   indispensáveis   para   a   correta 
identificação   da   doença,   tendo   em   vista   a 
multiplicidade   de   agentes   infecciosos   que 
podem   levar   ao   aparecimento   de   ulcerações 
genitais. 3530

Existem  kits  laboratoriais   simples,   de 


forma   que   o  médico   pode   realizar   um   teste   e 
obter o resultado em seu próprio consultório em 
cerca   de   dez   minutos.   Caso   o   médico   julgue  3535
necessário,   ele   poderá   enviar   amostras   para 
cultura   em   laboratório   adequado,   e   obter 
141      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

resultados em poucos dias. O teste Western Blot 
e   o   exame   Papanicolaou   são   também   meios 
3540 eficientes de diagnosticar a doença. 

A distinção entre os tipos de vírus, HSV­1 
ou   HSV­2,   é   fundamental,   cujo   resultado 
influenciará o prognóstico e conselho médicos. 
3545 Os  exames   laboratoriais   devem,   assim,  buscar 
esta perfeita identificação.

Em   diferentes   tipos   de   exames   pode 


ocorrer   falso­positivo   ou   falso­negativo, 
3550 exigindo, algumas vezes, testes confirmatórios.

Embora   o   exame   PCR   (do   inglês 


Polymerase Chain Reaction) para a detecção de 
HSV  DNA  seja   altamente   sensitivo,   as   regras 
3555 para diagnose da doença com este exame não 
estão   ainda   bem   definidas;   contudo,   alguns 
laboratórios disponibilizam o teste, que pode ser 
usado para detecção de HSV no fluido espinhal 
para   o   diagnóstico   da   infecção   do   sistema 
3560 nervoso central.

Para o diagnóstico diferencial em relação 
ao cancro mole, é importante lembrar que neste 
as úlceras não desaparecem sem tratamento, ao 
3565 contrário da herpes, onde as feridas comumente 
saram e voltam a aparecer tempos depois.

11.4  Portadores Assintomáticos
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         142

Ao   menos   cerca   de   dois   terços   dos 


indivíduos   que   estão   infectados   pelo   vírus  3570
simples da herpes não apresentam sintomas, ou 
as   manifestações   clínicas   são   muito   discretas, 
dificultando o reconhecimento da doença.

Os   portadores   assintomáticos   são   os  3575


grandes transmissores da doença.

11.5  Tratamento

Exclusivamente a critério médico, drogas  3580
antivirais   podem   ser   receitadas,   especialmente 
na   primeira   manifestação   clínica   da   doença; 
porém, na atualidade, nenhum destes remédios 
ainda   mostrou­se   capaz   de   eliminar   em 
definitivo o vírus HSV do organismo. 3585

Algumas   vezes,   os   antivirais   específicos 


são   usados   de   forma   esporádica,   somente 
quando ocorrem os sintomas da doença, a fim 
de melhorar ou diminuir a duração das lesões;  3590
outras vezes, os remédios são usados de forma 
contínua, como terapia supressiva, para prevenir 
o   ressurgimento   dos   episódios 
sintomatológicos:   nos   pacientes   que   tem 
recorrências cerca de 6 vezes por ano, a terapia  3595
supressiva   pode   reduzir   os   episódios   clínicos 
em   até   70%,   havendo   inclusive   pacientes   que 
chegam a apresentar nenhuma erupção ulcerosa 
num   ano.   Entretanto,   o   tratamento   supressivo 
143      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

3600 nunca deverá ser totalmente contínuo, e mesmo 
este   deve   ser   descontinuado   em   determinado 
momento   para,   talvez,   ter   novo   início, 
exclusivamente a critério médico em cada caso.

3605 A   terapia   antiviral   normalmente   não   é 


prescrita para pacientes que nunca apresentam 
manifestações clínicas da doença.

Tratamento   tópico,   ou   seja,   com 


3610 medicamentos aplicados sobre as áreas afetadas, 
mostra benefícios clínicos mínimos.

O portador de herpes genital deve ter em 
mente   que,   durante   as   manifestações 
3615 temporárias das lesões, maior cuidado deve ser 
adotado  com a higiene local,  uma  vez que as 
úlceras expostas podem ser um canal de entrada 
para outras infecções e doenças.

3620 A   herpes   genital,   na   maior   parte   das 


vezes,   limitando­se   apenas   ao   surgimento   e 
desaparecimento   das   lesões,   em   intervalos   de 
tempos   diversos,   não   tem   maiores 
conseqüências   à   saúde   do   indivíduo;   o 
3625 surgimento   de   câncer,   dentro   das   pesquisas 
científicas   atuais,   tem   sido   descartado, 
acreditando­se que o HSV­2 seja apenas um co­
fator   no   câncer   cervical   uterino,   e   não   um 
agente etiológico primário. Assim, a ansiedade 
3630 de   alguns   portadores   é   injustificada,   visto 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         144

normalmente não haver gravidade na doença em 
si: muito pelo contrário, esta indevida posição 
mental negativa perante a moléstia apenas serve 
para   deprimir   o   sistema   imunológico, 
facilitando a recorrência dos episódios clínicos  3635
de manifestação do vírus.

Quaisquer   fatores   que   diminuam   a   ação 


do   sistema   imunológico   podem   favorecer   o 
desencadear das erupções esporádicas da herpes  3640
genital,   a   saber:   exposição   ao   sol   (raios 
ultravioleta); doenças diversas (resfriado, gripe, 
anemia, infecção, etc.); alimentação inadequada 
ou insuficiente (carente de proteínas, vitaminas, 
sais   minerais   ou   carboidratos);   desgaste   físico  3645
ou   mental;   problemas   emocionais   de   causas 
diversas   (trabalho,   estudo,   situação   financeira, 
família,   depressão,   estresse,   etc.);   alcoolismo; 
drogas;   uso   de   medicação   com   efeito 
imunossupressor; etc. 3650

Uma   dieta   capaz   de   mantê­lo   em   boa 


saúde   fortalecerá   seu   sistema   imunológico, 
combatendo assim a replicação viral: faça uma 
boa   alimentação,   em   quantidade   suficiente,  3655
variada e saudável. Caso não haja impedimento 
médico, faça exercícios regularmente, e procure 
manter boa qualidade de vida, física e mental. 
Fuja do excesso de serviço, e lembre­se que o 
lazer é indispensável para a manutenção de sua  3660
saúde!   E   como   anda   sua   espiritualidade? 
145      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Pratique sua religião ou filosofia de vida!

Estudos   afirmam   que   o   vírus   HSV 


3665 necessita de arginina (um aminoácido) para se 
replicar:   assim,   segundo   estas   pesquisas,   os 
portadores do herpes deveriam evitar alimentos 
que   são   ricos   em   arginina,   como   grãos   de 
cereais,   amêndoas,   castanhas,   amendoim, 
3670 laranja, uva passa, etc. Estas pesquisas também 
afirmam   que   outro   aminoácido,   a   lisina, 
compete   com   a   arginina   para   sua   absorção 
celular,  de  modo  que,  havendo  lisina  presente 
na   alimentação,   por   suprimir   a   arginina,   ela 
3675 acaba   impedindo   a   proliferação   do   HSV.   A 
lisina é encontrada em maior quantidade no leite 
e seus derivados (iogurtes, queijos, etc.), carne, 
peixe,   batata,   ovos,   etc.:   normalmente 
encontramos   lisina   e   arginina   no   mesmo 
3680 alimento   mas,   nestes   exemplos   citados,   temos 
uma   maior   taxa   de   lisina   do   que   arginina, 
obtendo assim a preferência de absorção celular 
pela   lisina.   Alguns   médicos   chegam   a 
recomendar a ingestão de suplemento alimentar 
3685 de   lisina   (em   cápsulas),   uma   vez   que   estudos 
parecem   demonstrar   que   há   melhora   da 
seriedade   dos   surtos   de   erupções,   ao   mesmo 
tempo em que parecem serem impedidos novos 
surtos: testes com utilização de lisina e placebo 
3690 revelaram que o grupo que ingeriu placebo teve 
o dobro de surtos de erupções do que as pessoas 
que   ingeriram   lisina,   e   ainda   que   as   erupções 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         146

saravam   mais   rápido   no   grupo   que   consumiu 


lisina.  Aconselhe­se   com   seu   médico   sobre   a 
utilização   de   lisina;   não   use   este   ou   qualquer  3695
outro   suplemento   alimentar   sem   prescrição 
médica. Não modifique a sua alimentação sem 
orientação médica.

Pela   semelhança   dos   sintomas   com  3700


manifestações alérgicas, muitas pessoas lançam 
mãos   de   pomadas   ou   cremes   à   base   de 
corticóides   que   não   deveriam   ser   aplicados 
sobre   o   herpes,   agravando   sobremaneira   o 
quadro clínico e a recorrência das lesões; o uso  3705
de antibióticos também não tem nenhuma ação 
sobre   o   vírus,   uma   vez   que   esta   classe   de 
remédios   age   exclusivamente   sobre   bactérias. 
Nunca   use   medicamentos   sem   prescrição 
médica.   Procure   um   médico   com   urgência  3710
sempre que notar qualquer anormalidade em seu 
organismo.

A   mulher   grávida   portadora   do   HSV 


poderá   transmitir   este   vírus   ao   recém­nascido  3715
no momento do parto; caso a doença tenha sido 
adquirida próxima ao momento do parto, o risco 
é ainda maior. Como a transmissão da infecção 
ao nenê é potencialmente fatal, a cesariana está 
indicada para o nascimento da criança quando a  3720
mãe é portadora de herpes; entretanto, mesmo a 
cesariana   não   elimina   totalmente   o   risco   de 
transmissão do HSV ao bebê. O médico lançará 
147      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

mão de medicação específica para toda criança 
3725 que   apresentar   evidências   de   ter   adquirido 
herpes   neonatal.   Por   tudo   isto,   caso   esteja 
grávida, comunique com urgência ao médico o 
fato de você ou seu marido possuir herpes oral 
ou genital.
3730
11.6  Prevenção

O beijo social é transmissor do vírus HSV 
a partir do indivíduo infectado. Assim, um beijo 
3735 fraternal em um amigo, parente ou criança pode 
transmitir a doença, se um destes indivíduos for 
portador   do   vírus.   Muitos   dos   portadores   do 
vírus HSV­1 adquiriram a herpes oral enquanto 
eram   crianças.   Na   infância,   nosso   sistema 
3740 imunológico não é ainda tão eficiente quanto o 
de   um   adulto:   apesar   do   beijo   ser   uma   linda 
demonstração de carinho e amor, não beije seu 
filho   caso   você   não   tenha   feito   ainda   teste 
laboratorial de herpes (lembre­se que a maioria 
3745 dos   portadores   da   doença   é   assintomática),   e 
tampouco   deixe   parentes   ou   amigos   beijarem, 
pois eles também podem possuir a doença sem 
o saber.

3750 Relativamente ao ato sexual, o sexo oral, 
oro­anal,   anal   e   coito   tradicional   são   meios 
comuns de transmissão da doença. As carícias 
que   normalmente   acompanham   o   ato   sexual 
também   podem   transmitir   o  vírus,   a   partir   do 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         148

contato   direto   e   indireto   de   mãos   com   os  3755


genitais e outras áreas contaminadas. O  beijo e 
todo contato oral é transmissor do vírus HSV a 
partir do indivíduo infectado.

Higienização minuciosa após o ato sexual  3760
pode colaborar para evitar a infecção, mas esta 
prática   dificilmente   será   capaz   de   impedir   a 
contaminação   pelo   HSV,   não   se   constituindo 
como um meio eficaz de evitar a doença.
3765
Seu parceiro sexual pode ser portador da 
doença sem o saber (portador assintomático) e 
pode   transmitir   o   vírus   HSV   para   você 
inconscientemente.
3770
A "camisinha"  não oferece proteção total 
para esta doença, tanto pelos motivos elencados 
na  "Introdução"  deste  livro  como   também   por 
poder haver áreas infectadas não cobertas pelo 
preservativo e capazes de transmitir o HSV. 3775

A única maneira de não se infectar pelo 
HSV   com   100%   de   segurança   é   não   ter 
promiscuidade,   ou   seja,   possuir   um   único 
parceiro sexual, saudável e não promíscuo. 3780
149      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

12
LINFOGRANULOMA VENÉREO

3785 12.1  Outras Denominações

LGV   (forma   que   costumeiramente   se 


adotou para abreviar  linfogranuloma venéreo), 
linfogranuloma   inguinal,   linfogranulomatose, 
3790 doença   de   Nicolas­Favre,   clamídia,   quarta 
moléstia, "mula", etc.

12.2  Agente Causador

3795 Bactéria  Chlamydia   trachomatis,   Gram­


negativa, parasita intracelular obrigatório.

Foram   relatados   15   sorotipos   diferentes 


para   o   microrganismo.   Infecta   membranas 
3800 mucosas   como   a   conjuntiva   ocular,   garganta, 
reto, uretra, cerviz uterina, etc.

Três   sorotipos   são   causadores   do 


linfogranuloma venéreo: L1, L2 ou L3.
3805
12.3  Manifestações Clínicas

Os   primeiros   sinais   ocorrem   em   3   a   12 


dias   após   a   infecção   inicial,   mas   podem 
3810 demorar até um mês para aparecer.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         150

Uma bolha cheia de líqüido, semelhante à 
herpes genital, ocorre algumas vezes no local da 
inoculação   da   bactéria.   Esta   vesícula   indolor 
transforma­se   numa   úlcera   genital   auto­ 3815
limitada,   que   pode   pode   passar   despercebida 
pelo   indivíduo.   Quando   o   paciente   procura 
cuidado   médico,   muitas   vezes   esta   úlcera   já 
desapareceu,   mesmo   sem   nenhum   tratamento 
(Figura 12.3.1). 3820

Figura   12.3.1   —   Linfogranuloma   venéreo. 


Úlcera   em   pênis   no   sulco   bálano­prepucial   (a 
área branca no pênis não é LGV, mas vitiligo).  3825
Bubão   inguinal.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da 
Saúde, 1999)

Finalmente,   surgirá   a   manifestação 


característica da doença: uma íngua na virilha,  3830
que   é   uma   adenite   inflamatória,   também 
chamada   de   bubão   (Figura   12.3.2).   Embora   a 
inflamação   destes   gânglios   da   virilha   possa 
ocorrer   dos   dois   lados,   esta   linfodenopatia 
151      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

3835 inguinal ocorre mais comumente de um lado só, 
ou seja, de forma unilateral. A pele que recobre 
a   área   inflamada   torna­se   avermelhada   e 
apresenta   temperatura   maior.   A  inflamação   é 
bastante dolorosa. Na ausência de tratamento, o 
3840 bubão   se   rompe   em   orifícios   múltiplos,   por 
onde sai pus semelhante ao bocal de um regador 
de jardim. Notar que na adenite do cancro mole 
a  pus  sai  por   um   orifício   único,  permitindo   a 
diferenciação entre estas doenças.
3845

Figura   12.3.2   —   Linfogranuloma   venéreo. 


Grande   adenopatia   inguinal.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
3850
  Na mulher, a formação de íngua em sua 
virilha indica que a infecção inicial ocorreu na 
vulva ou vagina, seguindo o trajeto dos vasos 
linfáticos. De acordo com o local de inoculação 
3855 da   bactéria,   se   na   genitália   externa   ou   em 
regiões   mais   profundas   da   vagina,   diferentes 
gânglios   podem   ser   atingidos,   como   os 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         152

linfonodos inguinais superficiais, os linfonodos 
pélvicos, os linfonodos localizados entre o reto 
e a artéria ilíaca interna e os linfonodos ilíacos. 3860

A presença da infecção pode trazer outros 
sinais   no   organismo,   como   febre,   náuseas, 
vômitos,   dores   articulares,   mal­estar, 
prostração,   falta   de   apetite,   etc.   São  3865
manifestações raras da doença a meningite e a 
meningoencefalite.

A   contaminação   por  Chlamydia 


trachomatis  através   do   coito   anal   ou   pelos  3870
gânglios periretais pode ocasionar a infecção na 
porção   final   do   intestino,   com   inflamação   do 
reto,   tecidos   linfáticos   periretais   ou   perianais 
resultando   em   estreitamento   do   reto   (estenose 
retal,   que   pode   evoluir   para   obstrução   do  3875
intestino)   e   fístulas.  A  infecção   do   reto   pode 
produzir secreções purulentas com manchas de 
sangue.

A   inoculação   da   bactéria   por   contato  3880


orogenital   pode   causar   glossite   ulcerativa 
difusa, e conseqüente linfodenopatia regional.

Sem   tratamento,   vasos   linfáticos   podem 


ficar   obstruídos,   causando   grande   inchaço  3885
(elefantíase) dos órgãos genitais externos, como 
testículo e vulva (Figura 12.3.3).
153      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

3890 Figura   12.3.3   —   Linfogranuloma   venéreo. 


Elefantíase genital: edema e fístulas em vulva. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

Pela   severidade   da   infecção   e   por 


3895 ausência de tratamento, pode haver surgimento 
de câncer.

12.4  Diagnóstico

3900 O relato do paciente ao médico é muito 
importante.   Será   necessário   fazer­se   o 
diagnóstico   diferencial,   excluindo   outras 
doenças   que   causam   úlcera   genital   ou 
linfodenopatia.   Algumas   vezes,   o   médico 
3905 conseguirá   fechar   o   diagnóstico   mesmo   sem 
exames de laboratório.

Há   vários   exames   laboratoriais 


disponíveis,   com   características   e 
3910 potencialidades   diferentes,   que   por   vezes 
necessitam   ser   aplicados   de   maneira 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         154

complementar entre si, entre os quais podemos 
citar   o   de   antígeno   de   Frei, 
microimunofluorescência,   ELISA,   testes   de 
cultura, etc. 3915

12.5  Portadores Assintomáticos

Clamídias   podem   causar   diversas 


doenças,   de   acordo   com   o   sorotipo   presente.  3920
Pesquisas apontam que, entre os portadores de 
Chlamydia  trachomatis,  75%   das   mulheres     e 
25%   dos   homens   não   apresentam   sintomas. 
Quando   ocorrem,   as   manifestações   clínicas 
podem ser discretas e passar despercebidas.  3925

Relativamente   ao   linfogranuloma 
venéreo, no período de incubação da moléstia, 
onde inexistem sintomas, o portador da infecção 
pode transmitir a doença; ainda, enquanto não  3930
houver   a   cura   completa,   o   linfogranuloma 
venéreo pode ser transmitido.

13.6  Tratamento
3935
O   tratamento   é   feito   com   antibiótico 
específico ao qual a bactéria é sensível, a  ser 
prescrito exclusivamente pelo médico.

Com   a   medicação,   evita­se   danos   aos  3940


tecidos atingidos, resultando apenas cicatrizes, e 
a cura total da doença é obtida.
155      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Os bubões podem requerer aspiração com 
agulha   grossa   através   da   pele   intacta;   não   se 
3945 deve   abrir   o bubão  com   bisturi   pois,   além   de 
uma cicatrização posterior muito lenta, o corte 
poderia   acarretar   disseminação   da   doença   no 
organismo.

3950 Alguns   casos   complicados   de   estenose 


retal podem requerer cirurgia.

Mesmo   após   a   cura,   tratamentos 


complementares   poderão   ser   adotados   para 
3955 tratar complicações, como a elefantíase.

12.7  Prevenção

Sua   principal   via   de   transmissão   é   pelo 


3960 ato sexual.

Clamídias   podem   causar   infecções   em 


membranas mucosas, e por isto mãos e boca que 
tiveram contato com áreas contaminadas podem 
3965 disseminar a doença para várias partes do corpo, 
como por exemplo olhos, garganta, pênis, vulva 
e ânus.

Higienização minuciosa após o coito pode 
3970 colaborar para evitar a doença, mas dificilmente 
será capaz de impedir a infecção.

A "camisinha"  não oferece proteção total 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         156

para   esta   doença,   tanto   pelos   motivos   já 


descritos   na  "Introdução"  deste   livro   como  3975
também   pelo   fato   de   que   pode   haver   áreas 
infectadas não cobertas pelo preservativo e que 
podem transmitir o LGV.

A única maneira de não se infectar pelo  3980
linfogranuloma   venéreo   com   100%   de 
segurança   é   não   ter   promiscuidade,   ou   seja, 
possuir   um   único   parceiro   sexual,   saudável   e 
também não promíscuo.
157      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

3985 13
MOLUSCO CONTAGIOSO

13.1  Outras Denominações

3990 MC (abreviatura de molusco contagioso).

13.2  Agente Causador

Molluscum contagiosum virus, um DNA 
3995 vírus   da   Família  Poxviridae,   Sub­família 
Chordopoxvirinae  (que   infecta   vertebrados), 
Gênero  Molluscipoxvirinae.  A   Sub­família 
Entomopoxvirinae  possui   representantes   que 
infectam invertebrados.
4000
Existem 4 tipos conhecidos de Molluscum 
contagiosum virus, denominados de I, II, III e 
IV. O tipo I é responsável por no mínimo 75% 
dos   casos   registrados   da   doença   no   mundo, 
4005 especialmente   em   crianças.   Já   o   tipo   II   é 
comumente   encontrado   em   pacientes   com 
sistema   imunológico   mais   severamente 
deprimido.

4010 O   vírus   se   replica   no   citoplasma   das 


células infectadas da epiderme humana.

No interior de uma pápula do MC há um 
material   esbranquiçado,   revelado   quando   o 
4015 médico extrai o nódulo.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         158

Em adultos, é mais comum a transmissão 
da   doença   pela   via   sexual;   áreas   de   pele   fina 
parecem ser as mais afetadas; indivíduos com o 
sistema  imunológico  deprimido, por  quaisquer 
motivos,   também   são   alvos   do   molusco  4020
contagioso.

Entretanto, o maior número de casos da 
doença é verificado entre as crianças em idade 
escolar, mormente entre 3 e 16 anos. A criança  4025
adquire a moléstia simplesmente por encostar a 
sua   pele   na   de   outro   colega   doente,   como 
conseqüência  natural  das  brincadeiras  infantis. 
Na   infância,   o   sistema   imunológico   humano 
ainda não está  totalmente desenvolvido, e por  4030
isto é muito grande a facilidade de contração do 
MC nesta fase.

Muitas   vezes,   mesmo   sem   tratamento, 


especialmente em pessoas saudáveis e de bom  4035
sistema   imunológico,   as   lesões   do   molusco 
contagioso   involuem   e   desaparecem   com   ou 
sem cicatrizes em média em até dois meses, ou, 
no mais tardar, entre seis meses e quatro anos; 
apesar disto, o correto é procurar auxílio médico  4040
rapidamente, pois a presença das pápulas pode 
transmitir   a   doença   para   outras   pessoas,   e   o 
procedimento   médico   padrão   adotado,   em 
nossos dias, tem sido a extração das “ bolinhas”  
do molusco contagioso. 4045
159      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

O   MC   não   é   considerado   um   problema 


sério de saúde, uma vez que sua presença causa 
apenas um problema estético e, em decorrência, 
4050 algumas   vezes,   no   máximo,   problemas 
psicológicos.   Entretanto,   a   dificuldade   de   sua 
cura   pode   ser   um   sinal   de   um   sistema 
imunológico debilitado.

4055 13.3  Manifestações Clínicas

Entre   14   e   90   dias   após   o   contágio, 


surgem   elevações   de   pele,   pequenas,   com 
aspecto de  "bolinhas", apenas como pontos ou 
4060 com tamanho de até 5 mm, da cor da pele ou 
róseas   ou   peroladas,   translúcidas,   com   uma 
depressão   central   ("umbigo")   e   base 
discretamente eritematosa. Normalmente, estas 
pápulas apresentam­se isoladas, espalhadas pela 
4065 área   afetada,   podendo   ser   nódulos   únicos   ou 
múltiplos.

Figura 13.3.1 —  Molusco contagioso em pele 
4070 do rosto. Pápulas.

As   lesões   causadas   por  Molluscum 


contagiosum   virus  não   costumam   causar 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         160

coceira,   embora   possa   haver   pequeno   prúrido 


em   alguns   casos.   Os   nódulos   são   também  4075
indolores.

Em   crianças,   as   lesões   atingem 


normalmente a face, pálpebras, pescoço, tronco, 
axilas,   raízes   dos   membros,   braços,   mãos,  4080
pernas, mas podem ocorrer em qualquer parte 
do corpo, como ao redor ou no interior da boca, 
nos lábios e na língua. Em alguns casos, há uma 
grande   e   rápida   disseminação,   provocando   o 
surgimento de centenas de "bolinhas". 4085

Em   adultos,   normalmente   a   localização 


das pápulas do molusco contagioso se verifica 
no púbis, nos órgãos genitais ou no ânus, o que 
revela provável transmissão sexual da doença.  4090
Rosto e abdômen também podem ser atingidos, 
bem como qualquer outra parte do corpo.

Em indivíduos adultos com sistema imune 
deficiente,   parece   haver   manifestação   do  4095
molusco   contagioso   prevalentemente   no   rosto, 
pescoço   e   tronco,   embora   a   ocorrência   da 
infecção   nestes   locais   não   indique 
obrigatoriamente   que   o   sistema   imunológico 
esteja debilitado. Ainda,   quando   o   adulto  4100
afetado   apresenta   sistema   imunológico 
deprimido, pode surgir um elevado número de 
pápulas, inclusive com tamanhos "gigantes", de 
até 15 mm de diâmetro.
161      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

4105 13.4  Diagnóstico

O   aspecto   das   pápulas   do   molusco 


contagioso é bastante característico, o que torna 
o   seu   diagnóstico   relativamente   simples. 
4110 Entretanto, em alguns casos, faz­se necessário o 
diagnóstico   diferencial   com   muitas   outras 
doenças de sintomas semelhantes: por exemplo, 
o MC pode ser confundido com o HPV, ou vice­
versa.
4115
Havendo   necessidade,   o   médico   poderá 
solicitar exame de biópsia para confirmação da 
doença.

4120 16.5  Portadores Assintomáticos

Por ser um vírus de grande disseminação, 
acredita­se que muitas pessoas sejam portadores 
assintomáticos.
4125
13.6  Tratamento

O   tratamento   é   simples,   consistindo 


apenas   na   eliminação   das   lesões   por   métodos 
4130 físicos ou químicos, através de diversas técnicas 
e   medicamentos   disponíveis   na   atualidade,   o 
que somente pode ser prescrito e realizado por 
médico. A extração de uma pápula causada pelo 
Molluscum   contagiosum   virus  revela   a   massa 
4135 esbranquiçada   que   havia   em   seu   interior,   rica 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         162

em vírus.

Deve­se buscar tratamento médico assim 
que surgem as primeiras lesões, a fim de evitar 
sua disseminação generalizada. 4140

Como   a   doença   é   auto­inoculável,   o 


indivíduo pode espalhar a doença para diversas 
partes do corpo pelo toque ou ato de coçar, o 
que  é  mais  um  motivo  para  se  buscar  auxílio  4145
médico com a máxima rapidez possível.

O parceiro sexual do indivíduo acometido 
pelo   molusco   contagioso   deve   submeter­se 
também   a   exame   médico   e,   havendo  4150
necessidade, tratar­se também, a fim de evitar 
nova contaminação de seu par.

É   comum   a   doença   acometer   famílias 


inteiras, pela facilidade de transmissão do vírus.  4155
Por   isto,   roupas   da   pessoa   doente   devem   ser 
lavadas   em   separado,   com   água   fervente   ou 
passadas a ferro quente.

Após o tratamento inicial bem sucedido, o  4160
paciente   terá   de   retornar   ao   médico   algumas 
vezes   para   ser   reexaminado,   em   intervalos   de 
tempo definidos, por alguns meses, para se ter 
certeza da cura.
4165
Uma   grande   disseminação   corpórea   do 
163      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

molusco   contagioso   ou   dificuldade   de   curá­lo 


pode   ser   um   sinal   de   sistema   imunológico 
debilitado. Entre as causas que podem deprimir 
4170 nosso   sistema   imune   estão   o   excesso   de 
trabalho,   estresse,   problemas   financeiros, 
problemas emocionais, má alimentação, horário 
de   dormir   não   respeitado,   falta   de   exercícios 
físicos regulares, cigarros, álcool, drogas, certos 
4175 medicamentos, ausência de religião ou filosofia 
de vida, etc. Desta forma, a correção das causas 
pode ter um grande efeito positivo para obter­se 
a cura da doença, o que deve obrigatoriamente 
fazer parte do tratamento.
4180
13.7  Prevenção

O   meio   mais   comum   de   transmissão   é 


pelo contato direto com pessoas infectadas, uma 
4185 vez que o vírus do MC se transmite de pele para 
pele. Assim, ao se encostar em uma pessoa com 
esta enfermidade, pode­se contrair o vírus.

Ao   fazer   a   barba,   o   portador   pode 


4190 transmitir o vírus para outras partes do rosto.

Piscinas tem sido suspeitas de serem um 
meio   de   transmissão   do  Molluscum 
contagiosum   virus,   o   que   carece   de   estudos 
4195 comprobatórios. De qualquer forma, caso tenha 
a doença, não utilize piscinas até terminar o seu 
tratamento e o médico lhe assegure que não há 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         164

mais possibilidade de transmissão do vírus.

Nunca use toalhas ou roupas de colegas,  4200
que   podem   transmitir   a   doença   a   partir   da 
pessoa infectada.

Coito   comum,   oral   ou   anal   podem 


transmitir a doença, bem como as carícias que  4205
normalmente   antecedem   a   cópula,   através   do 
contato das mãos com regiões infectadas.

A "camisinha" não oferece proteção  total 
contra a doença, tanto pelos motivos já descritos  4210
na  "Introdução"  deste  livro  como   também   por 
não   impedir   o   contato   da   pele   com   áreas 
adjacentes infectadas.

Relativamente   ao   ato   sexual,   a   única  4215


maneira   segura   de   não   contrair   esta   doença   é 
não   ter   promiscuidade,   ou   seja,   possuir   um 
único   parceiro,   saudável   e   também   não 
promíscuo.
4220
Mantenha seu sistema imunológico sadio 
comendo   frutas   e   verduras.   Procure   adotar 
hábitos   de   vida   corretos,   com   horários 
reservados para se alimentar e dormir. Fuja do 
excesso   de   serviço   profissional   e   pratique  4225
exercícios   físicos   regularmente, 
preferencialmente em ambientes naturais, onde 
você   certamente   se   afastará   de   qualquer 
165      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

estresse. Abandone o vício do cigarro, álcool ou 
4230 drogas;   se   preciso,   procure   ajuda   médica, 
psiquiátrica   ou   de   instituições   especializadas 
nestas   áreas.   Caso   haja   problemas   emocionais 
ou   psicológicos,   não   hesite   em   procurar   um 
psicólogo ou psiquiatra. E a sua espiritualidade, 
4235 como anda? Não deixe de seguir e praticar sua 
religião ou filosofia de vida!
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         166

14
SARNA

14.1  Outras Denominações 4240

Escabiose.

14.2  Agente Causador
4245
Ácaro Sarcoptes scabiei, um aracnídeo de 
tamanho   quase   microscópico:   o   macho   mede 
0,2 mm e a fêmea cerca de 0,4 mm. Infestando a 
pele do ser humano, alimenta­se de queratina, 
proteína   constituinte   da   camada   superficial   da  4250
pele.

O   macho   acarino   realiza   cópula   com   a 


fêmea   na   camada   córnea   da   pele   humana, 
morrendo pouco tempo após. A fêmea, que vive  4255
cerca de 30 dias, cava galerias de 0,5 mm por 
dia   em   nossa   epiderme,   nos   quais   túneis 
deposita de 2 a 3 ovos. Após 10 dias, os ovos 
eclodem, dando origem a ninfas, reiniciando o 
ciclo reprodutivo de Sarcoptes scabiei. 4260

A  fêmea   não   pode   retroceder   pelo   túnel 


que escava, devido à disposição natural de suas 
patas e às espículas que possui em seu dorso. 
Dessa   forma,   ela   aloja­se   no   final   da   galeria,  4265
onde   podemos   visualizar,   a   olho   nu,   uma 
proeminência vesiculosa na pele humana.
167      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Algumas   variedades   deste   artrópode 


também molestam cães, gatos, porcos e outros 
4270 mamíferos. Estas espécies acarinas que afligem 
animais podem provocar manifestações clínicas 
no ser humano, mas a doença não se estabelece 
no homem, desaparecendo após alguns dias.

4275 14.3  Manifestações Clínicas

Após   a   infestação   inicial,   os   sintomas 


podem levar de uma a seis semanas para surgir.

4280 A   coceira   intensa   é   um   dos   principais 


atributos   desta   doença:   bastante   severa   e 
incômoda,   parece   se   agravar   no   período 
noturno,   quando   o   corpo   humano   está   mais 
aquecido.
4285
As manifestações clínicas da sarna são o 
resultado   da  ação   do   ácaro   na   pele   humana: 
surgem túneis, abertos pela fêmea de Sarcoptes 
scabiei,   caracterizados   visualmente   por 
4290 elevações   cutâneas   sinuosas  de  cor  acizentada 
(no interior dos quais a fêmea deposita os seus 
ovos) bem como por vesículas com tamanho da 
cabeça   de   um   alfinete,   na   extremidade   dos 
túneis,   onde   se   hospeda   a   fêmea   acarina.  As 
4295 lesões   descritas   podem   localizar­se   nas   mais 
diversas   partes   do   corpo,   sem   preferências, 
como por exemplo: na palma das mãos (um dos 
primeiros locais mais comumente contagiados) 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         168

ou na planta dos pés, entre os dedos das mãos 
ou   dos   pés,   nos   punhos,   nos   cotovelos,   nas  4300
axilas,   nos   seios,   em   volta   do   umbigo,   nas 
nádegas,   na   bolsa  escrotal   ("saco"  masculino), 
no pênis, na genitália feminina, etc; na criança, 
muitas   vezes   as   lesões   aparecem   também   no 
pescoço, na face e no couro cabeludo. Não há  4305
local específico para a infestação por Sarcoptes 
scabiei, surgindo as lesões onde ele se instalou.

O   resultado   da   migração   do   aracnídeo 


pelos   túneis   abertos   na   epiderme   provoca  4310
manifestações   reacionais,   dando   origem   a 
pequenas   pápulas   urticarióides,   às   vezes   com 
vesículas,   causando   muito   prúrido   (coceira). 
Normalmente, o comichão agrava­se no período 
noturno,   impedindo   o   sono   perfeito,   causando  4315
assim grande excitabilidade nervosa.

Por ser uma doença altamente contagiosa, 
a   própria   pessoa   dissemina   a   sarna   para 
diferentes partes de seu corpo pelo ato de coçar.  4320
Ao coçar­se, muitas vezes, faz­se lacerações na 
pele,   e   as   lesões   da   escabiose   são   então 
infectadas   por   bactérias,   produzindo   úlceras, 
agravando o quadro clínico cutâneo.
4325
14.4  Diagnóstico

O   médico   poderá   diagnosticar   a   doença 


pelo   relato   do   paciente   e   pela   presença   dos 
169      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

4330 sintomas da sarna.

A identificação de Sarcoptes scabiei pode 
ser feita laboratorialmente com o auxílio de um 
microscópio,   a   partir   de  material   colhido   por 
4335 raspagem clínica da pele (a ser feita unicamente 
pelo   médico   ou   profissional   da   saúde 
especializado)   em   algum   local   lesionado   pelo 
ácaro: procura­se pelo próprio aracnídeo ou por 
seus   ovos.   Os   aracnídeos   podem   também   ser 
4340 vistos com o auxílio de uma boa lupa! 

Entretanto,   muitas   vezes   torna­se   difícil 


ou infrutífera esta pesquisa microscópica, o que 
não   exclui   o   diagnóstico   de   sarna.  Assim,   o 
4345 médico identificará a presença da escabiose pela 
presença   das   lesões   típicas   provocadas   pelo 
ácaro,   bem   como   pelo   importante   relato   dos 
sintomas do paciente; quando a pessoa infectada 
revela que pessoas próximas, como parentes e 
4350 amigos,   estão   com   as   mesmas   manifestações 
clínicas, a certeza é quase total da presença da 
sarna, uma vez que ela é de altíssimo poder de 
contágio,   freqüentemente   acometendo   famílias 
inteiras.
4355
Apesar   do   aspecto   comum   das   lesões, 
alguns casos podem ter o seu diagnóstico mais 
difícil: há pessoas que se excedem nos cuidados 
com   sua   higiene   pessoal,   e   por   isto   podem 
4360 apresentar   lesões   muito   minúsculas, 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         170

dificultando   a   identificação   da   presença   da 


escabiose;   idosos   podem   também   apresentar 
lesões   mínimas   de   pele,   difíceis   de   serem 
diagnosticadas   como   sarna;   crianças, 
especialmente as que se encontram em fase de  4365
amamentação, podem apresentar lesões de pele 
com eczemas e urticárias, formando um quadro 
clínico   bastante   diferente   do   padrão   da   sarna, 
confundindo o diagnóstico.
4370
Denomina­se   escabiose   crostosa   a   uma 
forma   muito   severa   da   sarna,   manifestada   em 
idosos, em pessoas que possuem má nutrição ou 
deficiências em seu sistema imunológico. 
4375
14.5  Portadores Assintomáticos

Uma   infestação   inicial   por   poucos 


espécimes   de  Sarcoptes   scabiei,   disseminados 
pelo corpo do paciente, pode fazer com que este  4380
seja   um   portador   assintomático   temporário, 
cujas   primeiras   manifestações   clínicas   podem 
demorar para surgir, em alguns casos, mais de 
40   dias.   Obviamente,   esta   pessoa   infestada, 
ainda   sem   sintomas,   poderá,   nesse   ínterim,  4385
passar o ácaro para outros indivíduos.

14.6  Tratamento

Trata­se   a   escabiose   com   medicamentos  4390


específicos, utilizados sob a forma de sabonetes, 
171      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

cremes   ou   loções,   aplicados   sobre   as   áreas 


afetadas,   ou   no   corpo   inteiro,   que   porém   não 
devem ser usados, sob nenhuma hipótese, sem 
4395 prescrição   médica,   pois   há   contra­indicações 
diversas,   como   por   exemplo   para   mulheres 
grávidas  ou para  pessoas  alérgicas,  sendo  que 
membros de uma mesma família poderão ter de 
se tratar com medicações diferentes. Procure um 
4400 médico   para   receber   prescrição   correta   de 
tratamento e medicamentos para o seu caso.

Também   existem   medicamentos 


específicos para tratamento via oral, na forma 
4405 de   comprimido   a   ser   tomado   em   dose   única; 
nestes casos, pode ser necessária a repetição do 
tratamento   após   1   semana;   estes   remédios 
somente   podem   ser   usados   sob   prescrição 
médica.   Pode,   ainda,   a   critério   médico,   ser 
4410 associado   o   tratamento   oral   ao   externo.  Para 
diminuir os desagradáveis sintomas de coceira, 
o médico poderá receitar, paralelamente, cremes 
à   base   de   corticosteróides.   Nunca   utilize 
qualquer   tipo   de   medicamento   sem   prescrição 
4415 médica.

Qualquer pessoa que adquiriu sarna deve 
receber tratamento rapidamente, visto ser uma 
doença   altamente   contagiosa.  Seu   parceiro 
4420 sexual   ou   familiares   devem   igualmente   tratar­
se, mesmo que ainda não apresentem quaisquer 
sintomas   da   doenças,   a   fim   de   evitar   nova 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         172

infestação, muitas vezes recorrente em pessoas 
que   já   obtiveram   a   cura   e   se   trataram 
isoladamente. 4425

Muitas   vezes,   o   médico   opta   por 


tratamento com loções que podem ser aplicadas 
no   corpo   inteiro,   visto   poder   haver   infestação 
ainda   assintomática   em   diferentes   áreas.   Há  4430
alguns tipos de loções especiais que devem ser 
aplicadas   após   o   banho,   deixando­se   sua 
permanência no corpo por cerca de oito horas, 
ou no período do sono noturno. Decorrido este 
tempo, deve­se banhar novamente, limpando o  4435
corpo da loção curativa, e vestir­se com roupas 
limpas. Normalmente, a aplicação da loção deve 
ser   repetida   após   sete   a   dez   dias.   Mulheres 
grávidas, para não colocar em risco a saúde do 
bebê   em   formação,   e   crianças,   talvez   não  4440
poderão   fazer   uso   destas   loções,   ou   deverão 
usar   loções   medicamentosas   menos   potentes, 
também a serem prescritas exclusivamente pelo 
médico. Há loções com modos de aplicação e 
tempo   de   permanência   no   corpo   totalmente  4445
diferentes   do   exemplo   que   citamos:   siga   as 
orientações de seu médico, que as prescreveu, 
em como usá­las. Nunca utilize medicamentos 
sem prescrição médica.
4450
Após o tratamento, a sensação de coceira 
característica da sarna pode permanecer por até 
três   semanas,   mas   isto   não   significa   que   a 
173      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

pessoa   ainda   está   infestada   por  Sarcoptes 


4455 scabiei.   Seu   médico   poderá   lhe   receitar 
medicação   específica   para   diminuir   estes 
sintomas.   Porém,   de   24   a   48   horas   após   o 
tratamento, não devem aparecer novas áreas de 
erupção   na   pele   e,  se   tal   ocorrer,   procure   seu 
4460 médico com urgência.

Todas   as   roupas   da   pessoa   infestada 


devem ser lavadas  separadamente das  de seus 
familiares. A lavagem deve ser feita com água 
4465 quente ou, na falta desta, as roupas devem ser 
passadas   com   ferro   quente.  As   roupas   dos 
demais   membros   da   família   também   devem 
sofrer este tratamento esterilizador, mesmo que 
as pessoas não apresentem sintomas da sarna.
4470
Sob   as   unhas   do   portador   de   sarna 
certamente   existirão   ovos   ou   ácaros, 
provenientes do ato de coçar: deve­se manter as 
unhas curtas, e lavar com muito cuidado estas 
4475 regiões   dos   dedos   com   sabonetes   apropriados 
para a escabiose.

14.7  Prevenção

4480 O   corpo   humano   não   é   capaz   de 


desenvolver   imunidade   ao   ácaro   causador   da 
sarna, e quem já pegou uma vez poderá contrair 
novamente.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         174

Não   existem   pessoas   que   sejam  4485


predispostas   à   escabiose.    Ainda,   o   aracnídeo 
não   faz   distinção   entre   as   classes   sociais. 
Entretanto,   muitas   vezes   a   sua   infestação   está 
diretamente ligada às más condições de higiene 
comumente   verificadas   nas   famílias   menos  4490
favorecidas economicamente.

Medidas   básicas   de   higiene   são   muito 


importantes   para   evitar   a   infestação   por 
Sarcoptes scabiei: nunca use toalha ou roupas  4495
de outra pessoa, mesmo que seja de sua família; 
cada   membro   da   família   deve   ter   seu   próprio 
conjunto de roupas, toalhas, lençóis, cobertores, 
etc.;   se   alguém   adquiriu   sarna,   todos   os   seus 
familiares também terão de se tratar, mesmo que  4500
ainda   não   tenham   sintomas.  Estima­se   que   o 
ácaro,   fora   do   corpo   humano,   ou   seus   ovos, 
sejam   capazes   de   sobreviver   nos   tecidos   de 
roupas por até uma semana: por isto, torna­se 
indispensável   sua   perfeita   higiene,   através   de  4505
lavagem com água quente ou obrigatoriamente 
por passagem de ferro quente em cada peça de 
roupa,   o   que   garantirá   a   sua   perfeita 
esterilização   relativamente   ao   aracnídeo 
Sarcoptes scabiei. 4510

Rápidos   apertos   de   mão   dificilmente 


serão capazes de passar a sarna. A sarna provém 
do   convívio   interpessoal   próximo,   que 
normalmente ocorre entre familiares. 4515
175      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Ainda,   saiba   que   em   corporações, 


instituições populosas ou aglomerados humanos 
de   qualquer   natureza,   onde   inúmeras   pessoas 
convivem juntas, dificilmente deixará de haver 
4520 a presença de escabiose, uma vez que os maus 
hábitos higiênicos de poucos ou mesmo de um 
só indivíduo podem levar à infestação de muitos 
companheiros,   pois   estima­se   que  Sarcoptes 
scabiei  ou seus ovos  sobrevivam cerca de uma 
4525 semana   fora   do   corpo   humano   em   poltronas, 
camas   e   roupas,   alguns   destes   artigos   muitas 
vezes   de   uso   comum   pelos   membros 
comunitários   ou   corporativos:   daí   a 
necessidade,   nessas   instituições   que   abrigam 
4530 muitas   pessoas,   de   medidas   higiênicas 
redobradas, a começar pela disponibilização de 
roupas   individuais   para   cada   membro,   que 
voltam exatamente para seu próprio dono após a 
lavagem,   bem   como   o   uso   obrigatório   de 
4535 máquinas   esterilizadoras   adequadas   para   lidar 
com grande volume  de roupas comuns ou, na 
falta destas, passar as roupas com ferro quente; 
poltronas e cadeiras de uso comum deverão ser 
higienizados com produtos comuns de limpeza 
4540 diariamente   (em   alguns   tipos   de   instituições, 
como   por   exemplo   as   muito   populosas,   esta 
higienização dos assentos terá de ser realizada 
várias vezes num mesmo dia).

4545 Evite aglomerações ou multidões, onde as 
pessoas   se   encostam   continuamente   ou   se 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         176

apertam.   Evite   também   o   contato   íntimo   com 


pessoas de hábitos higiênicos duvidosos.

Portadores   displicentes,   que   não   buscam  4550


tratamento, podem provocar largo contágio em 
seu meio de convívio: esteja atento à saúde de 
seus familiares ou amigos próximos, reparando 
em especial se ocorre, em determinada pessoa, o 
ato de se coçar com freqüência. 4555

A  "camisinha"  não   será   suficiente   para 


evitar   a   escabiose:   o   portador   de   sarna 
transmitirá com toda a certeza o ácaro para seu 
parceiro  sexual,  porque  inevitavelmente  várias  4560
partes   de   seu   corpo   estarão   infestadas,   e   os 
carinhos   e   contatos   íntimos   permitirão   o 
contágio   do   parceiro   em   diferentes   áreas 
corporais.  Roupas   de   cama   também   não 
escaparão   da   infestação   trazida   pelo   portador,  4565
durante   o   ato   sexual,   sendo   assim   mais   uma 
fonte de contágio.

Os ácaros causadores da sarna em animais 
domésticos são diferentes da variedade acarina  4570
humana. Se você tiver contato com estes ácaros, 
eles poderão penetrar sob a sua pele, e causar a 
sensação de coceira e irritação. Estes ácaros dos 
animais, entretanto, não sobrevivem no homem 
mais do que alguns dias, e você não necessitará  4575
de medicamentos para eliminá­los. Porém, nos 
bichinhos de estimação os ácaros sobreviverão e 
177      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

se reproduzirão continuamente, e o melhor que 
você   tem   a   fazer   é   tratar   seu   bichano   com 
4580 urgência.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         178

15
SÍFILIS

15.1  Outras Denominações
4585
Lues,   cancro   duro,   cancro   sifilítico, 
sifiloma, etc.

15.2  Agente Causador
4590
Bactéria  Treponema   pallidum,   uma 
espiroqueta, ou seja, que tem forma de espiral.

O nome  sífilis  foi proposto pela primeira 


vez em 1530 em um poema escrito pelo médico  4595
e poeta italiano Girolamo Fracastoro (em latim, 
Hieronymus   Fracastorius)   (1478   ­   1553), 
também   filósofo,   matemático,   astrônomo, 
geógrafo e botânico. Na Universidade de Pádua, 
Fracastoro foi colega do astrônomo Copérnico.  4600
Em   1546,   Fracastoro   escreveu   a   primeira 
discussão conhecida  do fenômeno de infecção 
contagiosa   da   sífilis,   um   marco   na   história, 
levantando a hipótese de que a doença poderia 
ser transmitida por partículas pequeninas, idéia  4605
que não foi aceita à época,  mas somente cerca 
de 300 anos depois, com os postulados de Louis 
Pasteur e Robert Koch.

O   microrganismo   causador   da   sífilis   foi  4610


descoberto em 3 de março de 1905 por Erich 
179      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Hoffman   e   Fritz   Schaudin   em   Berlim, 


Alemanha.   O   nome   dado   à   bactéria,   naquela 
ocasião,   foi  Spirocheta   pallida  e,   mais   tarde, 
4615 mudado para o atual Treponema pallidum.

A  bactéria   pode   penetrar   no   organismo 


humano   através   da   pele   e   de   membranas 
mucosas.   Algumas   horas   depois   da   infecção 
4620 inicial,   o  Treponema   pallidum  chega   aos 
gânglios linfáticos; a partir daí, a espiroqueta se 
difunde   por   todo   o   organismo   através   da 
corrente sanguínea. Sua transmissão se dá mais 
comumente   pelo   ato   sexual.   O   beijo   pode 
4625 transmitir   a   doença   a   partir   da   pessoa 
contaminada.

Na gravidez, a lues pode infectar um feto, 
acarretando   defeitos   congênitos   e   muitos 
4630 problemas à criança, havendo o sério risco de 
ocorrer   até   mesmo   aborto,   natimorto   ou 
nascimento   com   morte   posterior   da   criança. 
Estatísticas   mostram   que   70%   dos   bebês   tem 
chance   de   contrair   a   doença   quando   a   mãe   é 
4635 portadora   de   sífilis,   bem   como   a   lues   é   fatal 
para 40% das crianças que recebem tratamento 
inadequado. 

A sífilis é considerada uma doença muito 
4640 perigosa pelo fato de sua sintomatologia inicial 
ser pouco exuberante: há grande probabilidade 
do indivíduo acometido por sífilis não procurar 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         180

auxílio médico nos estágios iniciais da doença, 
visto   as   manifestações   clínicas   iniciais 
desaparecerem   mesmo   sem   tratamento,  4645
ocultando a doença que se espalha por todo o 
organismo,   de   modo   que,   quando   o   paciente 
procura ajuda médica, já em estágios avançados 
da doença, ainda que seja capaz de obter­se a 
cura,   não   se   pode   evitar,   às   vezes,   suas  4650
gravíssimas seqüelas.

No   Brasil,   estatísticas   do   Ministério   da 


Saúde dão conta de que 50 mil grávidas por ano 
são portadoras de sífilis! Por falta de tratamento  4655
adequado, cerca de 14 mil crianças morrem por 
ano   no   Brasil   por   sífilis!   São   números 
impressionantes,   que   infelizmente   revelam   o 
grau de pobreza e desinformação de uma grande 
parte   da   população   brasileira   que,   como  4660
noticiado   diariamente   pela   nossa   imprensa, 
sofre também na atualidade (ano de 2006) com 
o   péssimo   atendimento   hospitalar   da   rede 
pública   de   saúde.   Estimativas   do   próprio 
Ministério   da   Saúde   dão   conta   de   que   seria  4665
necessária a realização de 25 milhões de testes 
de sífilis no Brasil por ano, mas que, por razões 
diversas, apenas cerca de 6 milhões de exames 
são   realizados   anualmente;   o   custo   de   cada 
teste, a partir de exame de sangue, é de apenas  4670
cerca de R$ 0,10, caso os kits necessários sejam 
adquiridos em grandes lotes. Sem embargo, será 
impossível erradicar a sífilis do Brasil caso não 
181      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

haja melhora da condição  sócio­econômica da 
4675 população,   bem   como   educação   escolar   plena 
para todos, informação farta a ser divulgada em 
todos   os   meios   de   comunicação,   além   de 
hospitais   que   atendam   a   população   com 
dignidade.
4680
15.3  Manifestações Clínicas

Sem tratamento, a sífilis passa por várias 
fases, com presença ou ausência de sintomas em 
4685 determinados   momentos.   Para   melhor 
compreensão,   a   evolução   da   doença   pode   ser 
dividida em estágios. Classificamos a lues em 
três estágios, a seguir descritos.

4690 Primeiro Estágio

Também   é   denominado   de  Sífilis 


Recente.   Vai   da   infecção   inicial   pela 
espiroqueta até o final do 1.° ano. Dividiremos 
4695 o Primeiro Estágio em duas fases: Primária e 
Secundária, a seguir descritas.

A  Fase   Primária  tem   início   com   o 


contágio da bactéria, quando, no local do corpo 
4700 onde   houve   a   penetração   de  Treponema 
pallidum,  surge   em   cerca   de   10   a   90   dias   (a 
média   é   de   21   a   28   dias)   o   chamado  cancro 
duro ou sifiloma (Figuras 15.3.1 e 15.3.2), uma 
ferida   indolor,   arredondada,   de   bordas 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         182

endurecidas, com fundo limpo (sem pus), porém  4705
repleta de espiroquetas transmissoras da doença.

Figura 15.3.1 —  Sífilis. Cancro duro em pênis. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999) 4710

Figura 15.3.2 —  Sífilis. Cancro duro em pênis. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999) 4715
183      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Na mulher que contrai a sífilis, o cancro 
duro   pode   ocorrer   na   parede   ou   fundo   da 
vagina, vulva ou em regiões adjacentes como o 
períneo (Figura 15.3.3).
4720

Figura   15.3.3   —   Sífilis.   Cancro   duro   em 


períneo na mulher. (Fonte: Brasil/Ministério da 
Saúde, 1999)
4725
Veja a seguir como diferenciar  o cancro 
mole   (outra   doença,   descrita   neste   livro)   do 
cancro duro (Fase Primária da sífilis):
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         184

CARACTERÍSTICAS CANCRO CANCRO


DA DOENÇA MOLE DURO 4730

INCUBAÇÃO 2 A 12 DIAS 10 A 90 DIAS


NÚMERO DE LESÕES MÚLTIPLAS ÚLCERA ÚNICA
CONTORNO DA LESÃO IRREGULAR REGULAR
BASE DA LESÃO MOLE DURA 4735
DOR NA LESÃO DOLOROSA INDOLOR
PUS NA LESÃO COM PUS LIMPO, SEM PUS
ÍNGUAS NA VIRILHA INFLAMADAS NÃO INFLAMADAS

4740
Saiba   que   existe   a   possibilidade   de 
ocorrerem   simultaneamente   as   duas   doenças, 
cancro mole e cancro duro: a este cancro misto 
resultante   denominamos  cancro   de   Rollet 
(Figura 15.3.4). 4745

Figura   15.3.4   —   Cancro   de   Rollet.   Infecção 


conjunta por cancro duro (sífilis) e cancro mole. 
Lesões apresentam características de ambas as  4750
doenças.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da   Saúde, 
1999)

O   cancro   duro   aparece   no   local   de 


inoculação   da   bactéria,   que   pode   ocorrer   nas  4755
185      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

mais   diversas   partes   do   corpo,   como   por 


exemplo: pênis, glande, sulco bálano­prepucial 
(região abaixo da glande), escroto, uretra, vulva, 
vagina,   colo   do   útero,   ânus,   reto,   mamilos, 
4760 conjuntivas, boca, lábios, língua, garganta, nos 
dedos,   ponta   do   dedo,   etc.   Mais   comumente 
surge   apenas   uma   ferida,   mas   podem   ocorrer 
várias.     O   sifiloma   começa   com   uma   zona 
vermelha   pequena   e   saliente,   que   logo   se 
4765 transformará numa úlcera indolor. Embora não 
sangre,   se   tocada   a   ferida   pode   liberar   um 
líqüido   claro   altamente   infeccioso.  Apesar   de 
ser   uma   úlcera   de   aspecto   muito   feio,   o 
indivíduo desinformado sobre a lues pode não 
4770 imaginar que trata­se apenas do início de uma 
séria   doença,   e   tomar   iniciativa   própria   de 
passar alguma  "pomada"  no intuito de curar a 
ferida: o cancro duro desaparece em cerca de 30 
ou 60 dias por si mesmo, sem deixar cicatriz, 
4775 mesmo que não se adote nenhum medicamento, 
de modo que a pessoa infectada acredita então 
que  a  "pomada"  que   passou  curou   sua  úlcera; 
porém, o cancro duro é apenas a fase primária 
da sífilis, e o seu desaparecimento não significa 
4780 que houve cura da doença, mas sim o contrário, 
ou seja, foi um sinal do estabelecimento inicial 
da doença.

Nesta fase, também poderão surgir ínguas 
4785 indolores nas regiões próximas ao cancro duro. 
Ínguas   são   gânglios   linfáticos   aumentados, 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         186

também chamados de adenites satélites.

Caso houvesse procura de auxílio médico 
nesta fase, o cancro duro seria curado em menos  4790
da   metade   do   tempo   e,   mais   importante, 
podería­se   obter   a   cura   total   da   doença,   num 
momento   em   que   a   sífilis   ainda   não   causou 
nenhum   dano   permanente   ao   organismo, 
evitando­se   assim   suas   gravíssimas   seqüelas,  4795
que serão descritas mais adiante. Desta forma, 
lembre­se   sempre   de   procurar   auxílio   médico 
com   urgência   sempre   que   notar   qualquer 
anormalidade   em   seu   organismo,   mesmo   que 
pareça não haver gravidade. 4800

Denominamos   de  Fase   Secundária  o 


período   em   que   surgem   erupções   de   pele, 
chamadas   de  roséolas   sifilíticas.   Cerca   de   60 
dias   após   o   aparecimento   do   cancro   duro   e,  4805
algumas   vezes,   ainda   em   sua   presença 
simultânea, surgem manchas róseas ou escuras, 
de   maneira   localizada   (Figura   15.3.5)   ou   em 
todo   o   corpo   do   indivíduo   (Figura   15.3.7), 
inclusive nas palmas das mãos e plantas dos pés  4810
(Figura 15.3.6), manchas estas que não coçam e 
não   doem:   estas   roséolas   sifilíticas   podem 
descamar   ou   se   tornar   papulosas,   bem   como 
assumir   aspectos   incomuns,   em   especial   na 
genitália. As erupções de pele sifilíticas podem  4815
ser muito brandas, e passar despercebidas.
187      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

4820 Figura   15.3.5   —   Sífilis.   Roséolas   em   boca   e 


face. (Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

4825 Figura 15.3.6 —  Sífilis. Roséolas na palma da 


mão e planta  do pé.  (Fonte:  Brasil/Ministério 
da Saúde, 1999)
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         188

Figura   15.3.7  —   Sífilis.  Roséolas  em  pele  do  4830


tronco. Manifestação algo branda; há casos em 
que esta sintomatologia é mais agressiva, com 
manchas   bem   pronunciadas.  (Fonte: 
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)
4835
As   roséolas   são   abundantes   em 
Treponema   pallidum,   e   podem   transmitir   a 
doença.

Simultaneamente   ao   aparecimento   das  4840


roséolas,   pode   ocorrer   queda   de   cabelos   de 
forma irregular (alopécia) (Figura 15.3.8).
189      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Figura   15.3.8   —   Sífilis.   Alopécia.   Sinal   de 


Fournier:   rarefação   do   terço   distal   de 
sobrancelha.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da 
Saúde, 1999)
4850
Outros sintomas que podem acompanhar 
as   erupções   de   pele   sifilíticas   são   febre, 
gânglios   linfáticos   inchados,   dor   de   cabeça, 
dores musculares, fadiga e perda de peso.
4855
As   roséolas   sifilíticas   desaparecerão 
espontaneamente,   mesmo   sem   tratamento:   as 
manchas   poderão   ser   interpretadas,   pelo 
indivíduo   não   esclarecido,   como   alguma   leve 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         190

alergia   ou   irritação   de   pele   não   importante,  4860


fazendo com que a pessoa não sinta necessidade 
de   procurar   auxílio   médico.   Mais   uma   vez, 
pode­se perder assim a chance de curar a sífilis 
em   sua   fase   inicial.   O   desaparecimento   das 
roséolas   não   significa   que   houve   cura   da  4865
doença:   a   espiroqueta   continua   se   difundindo 
pelo   organismo,   e   levará   às   gravíssimas 
conseqüências tardias da doença. A intervenção 
médica,   neste   momento,   além   de   fazer 
desaparecer   de   maneira   mais   rápida   o   quadro  4870
clínico, traria a cura da doença, evitando suas 
futuras  e graves  seqüelas.  Procure  sempre um 
médico quando notar qualquer anormalidade em 
seu organismo.
4875
Queda   de   pelos   também   pode   ocorrer, 
muitas   vezes   em   tufos,   com   aparência   de 
"roídos por traças".

Podem surgir condilomas planos (Figura  4880
15.3.9),   que   são   lesões   papulosas.   Neste 
condilomas   pode   ocorrer   junção   de   pele   a 
membranas   mucosas,   que   por   vezes   vem   a 
achatar­se.   Estas   saliências   ocorrem   no   pênis, 
nas bordas internas da vulva e dos lábios, bem  4885
como   em   regiões   úmidas   da   pele.  As   lesões 
podem adquirir cor rosa­escura ou cinza, e são 
altamente   infecciosas,   costumeiramente 
apresentando odor.
4890
191      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Figura   15.3.9   —   Sífilis.   Condiloma   plano   em 


pênis.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da   Saúde,  
4895 1999)

Figura   15.3.10   —   Sífilis.   Lesão   papulosa   em 


4900 lábio   superior.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da 
Saúde, 1999)
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         192

Como decorrência da sífilis, pode ocorrer 
inflamação do fígado, ocasionando icterícia, ou 
inflamação dos rins, fazendo com que a urina 
contenha proteínas. 4905

São sintomas também desta fase: gânglios 
linfáticos   inchados   em   todo   o  organismo,   que 
acometem cerca de 50% dos infectados; úlceras 
bucais,   afetando   cerca   de   80%   dos   sifilíticos;  4910
inflamação   dos   olhos   em   cerca   de   10%   dos 
doentes,   e,   em   alguns   casos,   visão   turva   em 
decorrência de inflamação do nervo óptico.

Alguns   poucos   casos,   ainda   nesta   etapa,  4915


podem   apresentar   meningite   sifilítica   aguda, 
cujos principais sinais são rigidez da nuca e dor 
de cabeça e, algumas vezes, surdez.

4920
Segundo Estágio

Também denominado de  Sífilis Latente. 
Vai do início do 2.° ano após o contágio até o 
final do 4.° ou 5.° ano. 4925

Após   o   desaparecimento   espontâneo   das 


roséolas sifilíticas, não surgirão mais sintomas 
da   doença   pelos   próximos   3   ou   4   anos.   É   a 
chamada "fase do silêncio". 4930
193      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Terceiro Estágio

4935 Também chamado de  Sífilis Tardia. Sua 


situação temporal ocorre a partir do final do 4.° 
ou 5.° ano após o contágio.

Nesta   fase   da   doença   não   tratada 


4940 manifestam­se   finalmente   suas   lesões   mais 
graves, muitas vezes irreversíveis, mesmo que o 
paciente inicie agora o tratamento e obtenha a 
cura   no   sentido   de   eliminar   o  Treponema 
pallidum.   As   graves   manifestações   clínicas 
4945 desta   fase   podem   atingir   qualquer   parte   do 
organismo,   e   as   mais   comuns   são   descritas   a 
seguir.

Como   conseqüência   da   lues,   em   vários 


4950 órgãos do corpo humano podem ocorrer gomas 
(produções   patológicas   sifilíticas   de   aspecto 
microscópico   característico),   que   crescem   e 
saram   lentamente,   restando   cicatrizes   (Figura 
15.3.11). Entre outros locais de incidência das 
4955 gomas sifilíticas, podemos citar: na pele, mais 
freqüentemente   no   couro   cabeludo,   parte 
superior   do   tronco   e   abaixo   dos   joelhos;   no 
sistema   ósteo­articular,   causando   artrites   e 
nódulos articulares, bem como dor profunda e 
4960 penetrante nos ossos quando estes são afetados, 
especialmente   à   noite;   no   sistema 
cardiovascular.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         194

Figura   15.3.11   —   Sífilis.   Gomas.  (Fonte:  4965


Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

Relativamente   ao   coração   e   aos   vasos 


sangüíneos,   a   sífilis   pode   acarretar   também 
aneurisma   (dilatação)   da   artéria   aorta,  4970
insuficiência   da   válvula   aórtica   e   estenose 
coronariana.   Estas   alterações   podem   acarretar 
desde dores no peito até insuficiência cardíaca 
ou mesmo a morte.
4975
Como lesões do sistema nervoso central, 
as   mais   freqüentes   são   demência,   paralisia 
geral,   lesão   medular   causando  tabes   dorsales 
(onde verifica­se falta de firmeza e dificuldade 
de   coordenar   movimentos   voluntários),  4980
formigamentos   e   dormências,   perda   das 
195      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

sensações   de   dor   profunda   e   de   temperatura, 


problemas urinários e cegueira gradual. Estima­
se   que   a   neurossífilis   atinja   cerca   de   5%   dos 
4985 doentes   não   tratados,   cujas   principais   classes 
são a sífilis meningovascular, a sífilis tábida e a 
sífilis   de   paresia,   que   serão   explicadas   em 
detalhes a seguir.

4990 A  sífilis   meningovascular   é   uma   forma 


crônica de meningite. Ela pode afetar o cérebro 
ou,   adicionalmente,   a   medula   espinhal.   Caso 
somente   o   cérebro   seja   molestado,   podemos 
citar   como   sintomas   fadiga,   falta   de 
4995 concentração,   dificuldade   para   dormir,   rigidez 
da   nuca,   dor   de   cabeça,   vertigem,   confusão 
mental, visão turva, convulsões, anomalias nas 
pupilas,   papiledema   (tumefação   do   nervo 
óptico), afasia (dificuldade em falar) e paralisia 
5000 de uma extremidade ou metade do corpo. Caso 
sejam afetados o cérebro e a medula espinhal, as 
manifestações clínicas são dificuldade crescente 
em   falar,   mastigar   e   engolir,   paralisia   que 
progride   de   forma   lenta   acompanhada   de 
5005 espasmos   musculares   (paralisia   espástica), 
fraqueza e atrofia muscular de ombro e braço, 
problemas   urinários,   compreendendo   desde 
incapacidade   de   esvaziamento   da   bexiga   até 
perda   de   controle   da   bexiga   (causada   por 
5010 inflamação de uma seção específica da medula 
espinhal)   acompanhada   de   paralisia   repentina, 
ao   mesmo   tempo   em   que   os   músculos 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         196

permanecem   relaxados,   fenômeno   que 


denominamos de paralisia flácida.
5015
A  sífilis   tábida   (tabes   dorsales)   é   uma 
doença   progressiva   da   medula   espinhal.   Entre 
os   primeiros   sinais,   está   uma   dor   pungente   e 
intensa   nas   pernas,   que   surge   e   desaparece. 
Ocorre falta de estabilidade ao andar, pisando­ 5020
se   com   força   e   pés   afastados.   São   também 
sintomas   tremores   em   partes   do   corpo,   como 
boca,   língua   e   mãos,   ocasionando   uma 
caligrafia trêmula e ilegível. No homem, surge 
impotência   sexual.   Manifestam­se   problemas  5025
urinários,   como   falta   da   sensação   de   bexiga 
cheia,   o   que   produz   acúmulo   de   urina   e 
favorecimento   de   infecções   do   trato   urinário, 
que   podem   inclusive   recorrer   com   freqüência. 
Acontecem   espasmos   dolorosos   em   vários  5030
órgãos do corpo, como laringe, bexiga  e reto, 
especialmente no estômago, causando vômitos. 
Como há perda da sensação de dor, articulações 
podem ficar lesionadas pelo esforço demasiado 
que   pode   recair   sobre   elas   ao   se   executar  5035
determinados   movimentos   e   trabalhos 
musculares.   Como   os   pés   perdem   a 
sensibilidade,   machucados   e   úlceras   podem 
sobrevir em suas plantas, por vezes de maneira 
grave caso não se tenha cuidados. 5040

A   sífilis   de   paresia   caracteriza­se   por 


demência   progressiva,   que   evolui   e   se   agrava 
197      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

lentamente.   Ela   também   é   conhecida   pela 


5045 expressão "paralisia do louco". Os sintomas são 
fadiga,   letargia,   dificuldade   de   concentração, 
falta   de   perspicácia,   dificuldade   para   falar, 
depressão,   dores   de   cabeça,   convulsões, 
paralisia   temporária   de   metade   do   corpo, 
5050 dificuldade   respiratória,   mudanças   de   humor, 
irritabilidade,   delírios   de   grandeza   e   perda   da 
memória.

Sífilis e Gravidez
5055
Quando   a   mãe   é   portadora   de   sífilis,   o 
Treponema pallidum pode contaminar a criança 
precocemente   através   da   placenta, 
especialmente se a bactéria é muito agressiva ou 
5060 apresenta­se   em   grande   número,   ocasionando 
aborto, natimorto ou morte da criança logo após 
o nascimento.

Mais comumente, a mãe sifilítica terá sua 
5065 doença   transmitida   à   criança   a   partir   da   18.ª 
semana   de   gestação,   e   a   criança   sobreviverá, 
mas nascerá com  sífilis congênita recente  ou 
sífilis congênita tardia.

5070 A criança que apresentar sífilis congênita 
recente  manifestará   os   sintomas   rapidamente, 
dias   ou   meses   após   o   seu   nascimento;   suas 
lesões   são   ricas   em   espiroquetas   e   muito 
contagiosas. São manifestações clínicas comuns 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         198

desta infecção: nariz em sela (pela destruição do  5075
septo   nasal),   pele   enrugada,   unhas   dolorosas 
com   sulcos   e   frágeis,   retinite   hemorrágica, 
choro rouco (de som  "rachado"), crânio grande 
com líqüido, amolecimento dos ossos da calota 
craniana,   condiloma   plano   em   região   genital,  5080
testículos inflamados, líqüido na bolsa escrotal, 
fígado aumentado, baço aumentado, inflamação 
em   ossos   e   cartilagens,   deformidades   ósseas, 
pseudoparalisia, etc. (Figura 15.3.12).
5085

Figura   15.3.12   —   Sífilis   Congênita   Precoce. 


Recém­nascido   com   hepatoesplenomegalia, 
lesões   cutâneo­mucosas,   coriza 
serosanguinolenta   e   icterícia.  (Fonte:  5090
Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

A criança que apresentar sífilis congênita 
tardia manifestará os sintomas somente entre 3 
e 14 anos. As mesmas lesões ósteo­cutâneas já  5095
descritas   na   sífilis   congênita   recente   podem 
199      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

ocorrer,   e   ainda:   dentes   em   formato   de 


"bandeirinhas de São João", lesão ocular com a 
córnea apresentando o aspecto de vidro moído, 
5100 surdez,   derrame   articular,   epilepsia,   retardo 
mental, etc.

Por tudo isso, é indispensável que todas as 
mulheres   façam   exame   laboratorial   para   a 
5105 detecção de sífilis antes  e durante  a gravidez. 
Uma Portaria do Ministério da Saúde do Brasil 
de dezembro de 2004 determina que a gestante 
realize   três   exames   de   sífilis:   na   primeira 
consulta   do  pré­natal,   no  terceiro   trimestre   de 
5110 gravidez   e   na   admissão   para   o   parto;   não 
obstante,   estimativas   mostram   que,   por 
exemplo,   infelizmente,   por   razões   diversas,   o 
último   destes   exames   é   realizado   em   apenas 
30% dos partos no Brasil. Estes exames são um 
5115 direito   seu,   dos   quais   você   deve   exigir   sua 
realização no sistema público de saúde.

15.4  Diagnóstico

5120 A história de vida pregressa do paciente 
relatada   ao   médico   é   muito   importante,   pois 
aquele pode ser um portador atual de sífilis do 
segundo estágio, ou seja, da  "fase do silêncio", 
onde inexistem sintomas.
5125
Muitas   vezes,   o   médico   é   obrigado   a 
desconfiar   da   presença   de   sífilis   mesmo   sem 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         200

sintomas   momentâneos,   caso   o  paciente   tenha 


adquirido   outra   doença   sexualmente 
transmissível,   atualmente   ou   no   passado:  5130
dificilmente uma doença sexual está sozinha!

Havendo manifestações clínicas, é preciso 
que   o   médico   exclua   outras   doenças   que 
apresentam sintomas semelhantes. 5135

Caso   hajam   manifestações   da   sífilis 


recente,   o   médico   pode   colher   material   das 
lesões   e   visualizar   o  Treponema   pallidum 
diretamente   em   um   microscópio   de   campo  5140
escuro.   De   outra   forma,   vários   exames 
laboratoriais estão disponíveis para detecção da 
doença;   exames   que   detectam   a   produção   de 
anticorpos   somente   serão   eficientes   se 
realizados   após   14   ou   21   dias   do   contágio,  5145
tempo que o sistema imunológico humano leva 
para   reagir;   é   necessária   a   realização   de   pelo 
menos   dois   exames   de   tipos   diferentes   para 
obter certeza do diagnóstico. Entre estes testes, 
podemos citar: Wassermann, VDRL (do inglês  5150
Veneral   Disease   Research   Laboratory),  RPR 
(do inglês Rapid Plasma Reagin) FTA­ABS (do 
inglês  Fluorescent   Treponemal   Antibody 
Absorbed),   TP­PA   (do   inglês  Treponema 
pallidum   Particle   Agglutination),   etc.   A  5155
interpretação  do  resultado   de   exames  somente 
deve   ser   feita   pelo   médico,   pois   as 
nomenclaturas   adotadas   e   a   falta   de 
201      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

conhecimento   dos   títulos   de   anticorpos 


5160 apurados   podem   enganar   o   leigo   quanto   ao 
correto diagnóstico: termos como  "positivo"  ou 
"negativo"  podem não ser os mais importantes, 
mas sim a quantidade de anticorpos encontrada, 
que   serve   para   o   médico   verificar   qual   a 
5165 condição   atual   da   doença,   bem   como   sua 
evolução durante e após o tratamento.

A   sífilis   de   segundo   estágio   (ou   sífilis 


latente) pode ser diagnosticada com amostras de 
5170 sangue através de provas de anticorpos ou do 
líqüido espinhal (liquor).

No   terceiro   estágio   da   lues,   a   suspeita 


desta   doença   pode   ser   levantada   pelos   graves 
5175 sintomas   e   seqüelas   que   começam   a   ocorrer, 
podendo   seu   diagnóstico   ser   realizado   através 
de exames clínicos por pesquisa de anticorpos. 
Para   a   detecção   da   neurossífilis,   efetua­se 
punção lombar para pesquisa de anticorpos.
5180
15.5  Portadores Assintomáticos

Estima­se   que   um   terço   dos   homens 


infectados   pela   sífilis   e   cerca   de   metade   das 
5185 mulheres contaminadas pela lues desconhecem 
que tem a doença: isto se dá porque os sintomas 
iniciais   são   poucos   e   curam­se   sozinhos,   bem 
como porque foram provavelmente confundidos 
com   outras   doenças,   deixando­se   de   procurar 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         202

auxílio médico quando de suas ocorrências. 5190

Os   portadores   assintomáticos   são   os 


grandes propagadores da doença.

A dificuldade de reconhecimento da sífilis  5195
em suas fases iniciais torna esta moléstia uma 
das   mais   perigosas   entre   as   doenças 
sexualmente transmissíveis, o que só pode ser 
corrigido com educação e informação, por todos 
os   meios   de   comunicação,   para   toda   a  5200
população.

15.6  Tratamento

Em   nossos dias,   felizmente  a  sífilis   tem  5205


cura, através do uso de antibióticos específicos, 
mas   que   somente   podem   ser   prescritos   pelo 
médico.   Atenção:   somente   use   medicamentos 
sob prescrição médica.
5210
Como já dissemos, o tratamento nas fases 
iniciais   da   sífilis   evitará   as   graves 
conseqüências,   às   vezes   irreversíveis,   dos 
estágios avançados da doença.
5215
Cerca de 50% dos sifilíticos que recebem 
tratamento   no   estágio   primário   ou   secundário 
apresentam uma reação corpórea intensa, cerca 
de   duas   a   doze   horas   após   o   início   do 
tratamento,   denominada   de  reação   de   Jarish­ 5220
203      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Herxheimer, provavelmente como conseqüência 
da   eliminação   súbita   de   milhões   de 
espiroquetas, cujos principais sintomas são: dor 
de   cabeça,   sudação,   febre,   sensação   de   mal­
5225 estar,   arrepios   com   tremores,   bem   como 
agravamento   temporário   das   feridas   sifilíticas; 
em   raros   casos,   portadores   de   neurossífilis 
podem apresentar convulsões ou paralisia. Caso 
sinta­se   mal   após   o   início   do   tratamento, 
5230 procure   novamente   socorro   médico,   com 
urgência,  a fim de saber se trata­se  da reação 
descrita  acima   (e   receber  tratamento  para   ela) 
ou, mais grave, se aconteceu reação alérgica ao 
antibiótico   prescrito   indevidamente,   onde   se 
5235 corre inclusive risco de vida pela alergia.

Sob nenhuma hipótese deve­se praticar a 
automedicação,   que   pode   provocar   falsos 
resultados de exames laboratoriais, bem como a 
5240 não   obtenção   da   cura   total   da   doença, 
mascarando   a   lues,   que   continua   ativa   e   em 
expansão, acarretando inexoravelmente a vinda 
dos gravíssimos danos da sífilis tardia.

5245 O tratamento da sífilis em terceiro estágio 
é possível, sendo até mesmo capaz de se curar a 
doença.   Entretanto,   talvez   não   se   possa   evitar 
suas seqüelas e, o progresso de algumas destas 
graves   conseqüências,   mesmo   com   a   sífilis   já 
5250 curada, pode até mesmo levar à morte. Por tudo 
isto, lembre­se de procurar auxílio médico com 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         204

urgência   sempre   que   notar   qualquer 


anormalidade   em   seu   organismo,   por   mais 
insignificante   que   pareça;   não   se   esqueça 
também   que   a   prevenção   é   sempre   a   atitude  5255
mais inteligente.

O   portador   de   sífilis   deve   abster­se   de 


relações   sexuais   até   que   a   cura   tenha   sido 
obtida,   pois   pode   transmitir   a   doença   a   seu  5260
parceiro.

Exames regulares são necessários após o 
tratamento   da   sífilis   de   segundo   ou   terceiro 
estágio,   para   verificação.   Os   anticorpos   serão  5265
detectados   pelo   resto   da   vida   em   exames 
laboratoriais,   mas   não   significam 
necessariamente que o indivíduo é portador da 
doença:   o   título   de   anticorpos   definirá   se   a 
sífilis já foi curada ou não, visto a concentração  5270
de   anticorpos   baixar   espontaneamente   com   o 
passar dos anos nas pessoas que já obtiveram a 
cura.

O   tratamento   médico   da   mulher   grávida  5275


sifilítica consegue obter a cura da doença e, de 
acordo com a fase da gestação que a lues foi 
diagnosticada, bem como do tempo decorrido a 
que   o   feto   ficou   exposto   à   moléstia,   pode­se 
evitar as gravíssimas conseqüências da sífilis à  5280
criança em formação.
205      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

15.7  Prevenção

5285 Pela gravidade das conseqüências ao feto, 
todas   as   mulheres   devem   fazer   exame 
laboratorial   para   detecção   de   sífilis   antes   e 
durante a gravidez.

5290 Se você adquiriu sífilis, informe urgente 
ao  seu   parceiro   sexual  este   fato,  para   que   ele 
procure   auxílio   médico   para   saber   se   também 
possui a doença. Ainda, se você se curou e seu 
parceiro   não,   você   poderá   se   contaminar 
5295 novamente   com   a   espiroqueta,   contraindo 
novamente a lues: ambos os parceiros devem se 
tratar simultaneamente.

A   transfusão   de   sangue   contaminado 


5300 transmite a sífilis.

As carícias que normalmente precedem o 
ato sexual podem transmitir a lues, através do 
contato   das   mãos   com   áreas   do   corpo 
5305 contaminadas;  o beijo  e todo contato oral são 
transmissores   da   sífilis   a   partir   do   indivíduo 
infectado.

Coito   comum,   sexo   oral   e   anal   são   os 


5310 meios mais comuns de transmissão da doença. 

A "camisinha"  não oferece proteção total 
contra a sífilis, tanto pelas razões já descritas na 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         206

"Introdução"  deste livro como também por não 
evitar o contato de regiões de pele expostas com  5315
outras áreas do parceiro que podem ser capazes 
de transmitir o Treponema pallidum.

Relativamente   ao   ato   sexual,   a   única 


maneira   de   evitar   a   sífilis   com   100%   de  5320
segurança   é   não   ter   promiscuidade,   possuindo 
um   único   parceiro,   saudável   e   também   não 
promíscuo.
207      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

16
5325 TRICOMONÍASE

16.1  Outras Denominações

5330 Uretrite   não   gonocócica   (abreviatura 


UNG), uretrite ou vaginite ou vulvovaginite por 
Trichomonas.

5335 16.2  Agente Causador

Protozoário  Trichomonas   vaginalis.   Este 


microrganismo   unicelular   flagelado   é 
classificado biologicamente no Reino  Protista, 
5340 Filo  Protozoa,   Subfilo  Sarcomastigophora, 
Classe  Mastigophora,   Subclasse 
Zoomastigophorea, Ordem Trichomonadida.

O parasita responde pela notável cifra de 
5345 cerca de 20% das infecções vaginais.

16.3  Manifestações Clínicas

5350 O período de incubação da doença varia 
de 10 a 30 dias, porém, mais comumente, em 
cerca de duas semanas após o contágio, surge na 
mulher corrimento vaginal verde­amarelado ou 
esbranquiçado,   viscoso,   espumoso,   com   odor, 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         208

em alguns casos não muito abundante (Figura  5355
16.3.1). A vulva pode apresentar irritação e dor; 
esta   sintomatologia   inicial   pode   evoluir   para 
inflamação   da   vulva   e   da   pele   que   a   rodeia. 
Ocorre   também   aumento   da   freqüência   de 
micções e dor ao urinar. A relação sexual pode  5360
ser acompanhada de dor na genitália feminina.

5365
Figura   16.3.1   —   Tricomoníase.   Secreção 
branco­acizentada   exteriorizando­se   em   vulva. 
(Fonte: Brasil/Ministério da Saúde, 1999)

5370
209      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Figura   16.3.2   —   Tricomoníase.   Colposcopia 


5375 evidenciando   secreção   branca   com   grande 
quantidade   de   bolhas   e   epitélio   vaginal 
hiperemiado.  (Fonte:   Brasil/Ministério   da 
Saúde, 1999)

5380
No   homem,   a   tricomoníase   costuma   ser 
assintomática,   e   é   mais   difícil   de   ser 
diagnosticada   do   que   na   mulher.   Quando 
ocorrem,  as manifestações clínicas  são dor  ao 
5385 urinar,   necessidade   freqüente   de   micção   e 
emissão   de   secreção   espumosa   pela   uretra, 
ocorrendo   estes   sintomas   principalmente   pela 
manhã.   A   uretrite   pode   apresentar­se   com 
sintomas   muito   leves,   surgindo   umidade   no 
5390 orifício   peniano.   O   protozoário   pode   infectar, 
além   da   uretra,   a   bexiga,   a   próstata,   os 
epidídimos   e   os   testículos,   podendo   inclusive 
acarretar esterilidade.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         210

16.4  Diagnóstico 5395

O relato do paciente ao médico, com seu 
histórico,   é   muito   importante,   aliado   aos 
sintomas. O diagnóstico diferencial com outras 
doenças é indispensável. 5400

Na mulher, a confirmação da tricomoníase 
é bastante simples, podendo ser realizada pelo 
próprio médico em consultório, através de uma 
amostra   de   secreção   vaginal   observada   ao  5405
microscópio,   onde   se   pode   visualizar 
Trichomonas vaginalis.

No   homem,   pode   ser   realizada   pesquisa 


microscópica   pelo   protozoário   na   secreção  5410
presente no orifício peniano pela manhã, antes 
da primeira micção. Pode ser necessário enviar 
ao laboratório uma amostra desta secreção ou de 
urina para cultura, caso não tenha sido possível 
visualizar  Trichomonas   vaginalis  ao  5415
microscópio.

16.5  Portadores Assintomáticos

Tanto mulheres como homens podem ser  5420
portadores assintomáticos da tricomoníase.

Os   portadores   assintomáticos   são   os 


grandes propagadores da doença.
5425
211      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

16.6  Tratamento

O   tratamento   da   tricomoníase   é 
relativamente   simples,   com   medicamentos   a 
5430 serem prescritos exclusivamente pelo médico. A 
mulher normalmente é curada com dose única 
de   remédio   específico,   enquanto   o   tratamento 
masculino é realizado, de praxe, por sete dias, 
para obter­se certeza da cura.
5435
Ambos   os   parceiros   devem   ser   tratados, 
mesmo que não haja sintomas em um deles, a 
fim de evitar a recontaminação após a cura.

5440 Até   obter­se   a   cura,   para   evitar 


disseminação   da   doença   em   familiares,   as 
roupas   da   pessoa   contaminada   devem   ser 
lavadas   separadamente   das   demais   pessoas   da 
casa,   especialmente   suas   peças   íntimas   e 
5445 toalhas, bem como devem obrigatoriamente ser 
passadas a ferro quente ou fervidas. 

16.7  Prevenção

5450 A  via   sexual   é   o   meio   mais   comum   de 


transmissão da doença.

Trichomonas   vaginalis  pode   ser 


transmitido também através do uso comum de 
5455 peças íntimas ou toalhas. 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         212

Cuidado redobrado deve ser tomado com 
as   roupas   de   cama   em   hotéis   de   asseio 
duvidoso: talvez seja melhor você trazer de sua 
casa lençol, fronha e cobertor para uso no hotel. 5460

A  "camisinha"  não   oferece   segurança 


total para evitar a infestação por  Trichomonas 
vaginalis  pelos   motivos   descritos   na 
"Introdução" deste livro. 5465

A única maneira 100% segura de se evitar 
a   contaminação   sexual   com  Trichomonas 
vaginalis  é   não   ter   promiscuidade,   ou   seja, 
possuir   um   único   parceiro   sexual,   saudável   e  5470
também não promíscuo.
213      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

17
URETRITE NÃO GONOCÓCICA

5475
17.1  Outras Denominações

UNG   (abreviatura   de   Uretrite   Não 


Gonocócica),   uretrite,   clamídia   (quando   o 
5480 agente causador é Chlamydia trachomatis), etc.

17.2  Agentes Causadores

UNG   infecciosa:  bactérias   diversas, 


5485 como  Chlamydia   trachomatis,  Ureaplasma 
urealyticum,  Gardnerella   vaginalis,  Neisseria 
meningitidis,   etc.;   bactérias   intestinais,   como 
Escherichia   coli,  Enterobacter,  Proteus,   etc.; 
vírus,   como   HPV,   HSV,   etc.;     protozoários, 
5490 como  Trichomonas   vaginalis,   etc.,   e;   fungos 
como  Candida   albicans,  Torulopsis   glabrata, 
etc.

UNG   não   infecciosa:  medicamentos   de 


5495 uso   local,   manipulação   da   uretra   por 
procedimento   médico   ou   pelo   próprio 
indivíduo, etc.

Caso   a   uretrite   não   seja   decorrência   de 


5500 gonorréia (a gonorréia é causada pela bactéria 
Neisseria   gonorrhoeae),   mas   sim   por   um   ou 
vários dos agentes retro citados, a inflamação da 
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         214

uretra será então classificada como uma uretrite 
não gonocócica.
5505
Entre os germes causadores de UNG, os 
maiores   responsáveis   estatísticos   por   estas 
uretrites   são  Chlamydia   trachomatis  e 
Ureaplasma   urealyticum.  Chlamydia 
trachomatis  responde   por   cerca   de   50%   das  5510
uretrites masculinas  e a maioria das  infecções 
genitais com pus na mulher, e é uma bactéria 
parasita   intracelular   obrigatório,   ou   seja, 
somente é capaz de se reproduzir no interior das 
células. Já  Ureaplasma urealyticum  não dispõe  5515
de   uma   parede   celular   rígida   e   pode   se 
reproduzir fora de células.

As   uretrites   não   gonocócicas   também 


oferecem   grande   risco   de   contaminação   ao  5520
recém­nascido, caso a gestante seja portadora, 
com   sérias   conseqüências   à   criança   caso   não 
haja pronto tratamento.

17.3  Manifestações Clínicas 5525

Nas   uretrites   infecciosas,   os   sintomas 


serão   dados   de   acordo   com   o   microrganismo 
causador. Apesar da grande variedade de germes 
a   causar   uma   UNG,   podemos   afirmar   que   os  5530
sintomas são muito semelhantes, sendo possível 
descrevê­los de maneira genérica.
215      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

Mais   comumente,   a   sintomatologia 


5535 surgirá em cerca de 10 a 21 dias após a infecção 
inicial.   Porém,   de   acordo   com   o   germe 
causador,   o  início   dos   sintomas   também   pode 
variar de 4 a 28 dias.

5540 Uma   manifestação   clínica   comum   é   a 


presença,   geralmente   matinal,   de   secreção 
expelida   pelo   orifício   uretral   em   pequena 
quantidade, sem pus, com ou sem odor, incolor, 
translúcida,   denominada   popularmente   de 
5545 "gosminha"  ou  "agüinha";   porém,   de   acordo 
com o microrganismo infectante, o corrimento 
originado   pode   ser   purulento,   ter   cor 
esverdeada,   amarelada   ou   branca,   ou   possuir 
aspecto de água suja, às vezes com odor fétido.
5550
Em   alguns   casos,   o   orifício   uretral   do 
pênis pode amanhecer avermelhado e com seus 
bordos colados por secreções secas.

5555 Outra   sintomatologia   que   pode   surgir   é 


dor ou ardência na micção, bem como vontade 
freqüente   de   urinar   (mesmo   com   a   bexiga   já 
vazia).

5560 Além das secreções uretrais já descritas, a 
mulher   pode   apresentar   corrimentos   vaginais 
decorrentes do germe infectante: leia neste livro 
o capítulo sobre corrimentos vaginais.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         216

Na mulher, se o coito for acompanhado de  5565
dor abdominal,   a causa pode ser, entre outras 
doenças, uma UNG.

Muito   raramente   pode   ocorrer   febre   ou 


sensação   de   mal­estar,   o   que   provavelmente  5570
será   um   sinal   de   que   o   germe   causador   está 
provocando infecção em outros órgãos internos 
adicionalmente.

Pela   ausência   de   sintomas   claros,   uma  5575


uretrite   não   gonocócica   pode   seguir   durante 
anos   a   fio   contaminando   os   órgãos   genitais 
internos   e   urinários,   comprometendo­os,   sem 
que   o   portador   perceba.   A   ausência   de 
tratamento   de   uma   UNG   pode   trazer   sérias  5580
complicações,   pois   o   microrganismo   pode   se 
propagar   para   outros   órgãos,   como   próstata, 
epidídimos,   testículos   (causando   esterilidade), 
bexiga   (causando   cistite),   rins   (causando 
nefrite), vagina (causando vaginite), bem como  5585
problemas   ao   útero   (causando   cervicite), 
trompas   e   ovários   (causando   esterilidade), 
doença inflamatória pélvica, etc. Obviamente, a 
complicação destas infecções, de acordo com o 
órgão   atingido,   pode   até   mesmo   colocar   em  5590
risco a vida do indivíduo.

As   secreções   da   uma   uretrite   não 


gonocócica   podem   infectar,   por   contato, 
mucosas   e   diversos   órgãos   do   corpo,   como  5595
217      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

olhos,   garganta,   reto,   etc.,   causando   dor, 


inflamação e produção de secreções, muco ou 
pus nas regiões atingidas, por vezes com graves 
conseqüências caso não haja tratamento médico.
5600
17.4  Diagnóstico

O histórico relatado pelo paciente é muito 
importante.  Deve­se  afastar  a possibilidade  de 
5605 gonorréia,   pelos   seguintes   sintomas 
diferenciados,   opostos   aos   da   uretrites   não 
gonocócicas:   na   blenorragia   o   início   dos 
sintomas   ocorre   mais   comumente   em   até   oito 
dias, a ardência ao urinar é intensa, a secreção 
5610 normalmente   é   purulenta   e     por   vezes 
abundante.

Exame microscópico da secreção expelida 
pelo orifício uretral ou sua cultura laboratorial 
5615 são   meios   de   diagnosticar   as   uretrites   não 
gonocócicas. Exames de urina específicos para 
esta   detecção   também   podem   ser   solicitados 
pelo seu médico.

5620 17.5  Portadores Assintomáticos

Encontramos   o   maior   número   de 


portadores   assintomáticos   entre   as   mulheres. 
Corrimentos   leves   oriundos   de   uma   UNG 
5625 podem passar despercebidos.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         218

Muitos homens também possuem uretrites 
sem quaisquer sintomas, ou com manifestações 
clínicas   muito   discretas   que   dificilmente   são 
notadas. 5630

A  infecção   por  Chlamydia   trachomatis, 


sem   tratamento,   deixa   de   apresentar   seus 
sintomas iniciais em cerca de um mês para ao 
menos   60%   das   pessoas   infectadas   e,   no  5635
entanto, a bactéria continua se propagando para 
outros   órgãos   internos   do   aparelho   genital   e 
urinário, podendo trazer graves conseqüências.

Os   portadores   assintomáticos   são   os  5640


grandes   propagadores   de   uretrites   não 
gonocócicas.

17.6  Tratamento
5645
Felizmente,   dispomos   na   atualidade   de 
excelentes medicamentos para tratar as uretrites 
não   gonocócicas,   remédios   estes   que   somente 
podem   ser   usados   sob   prescrição   médica.  As 
medicações adotadas variam de acordo com o  5650
microrganismo causador da uretrite.

Nas   UNGs   causadas   por   bactérias,   em 


geral,   o   tratamento   dura   sete   dias.   Recidivas 
ocorrem   em   aproximadamente   20%   dos  5655
pacientes,   e   o   médico   instaura   então   novo 
período   de   medicação,   provavelmente   mais 
219      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

longo do que no tratamento anterior, lançando 
mão do mesmo ou de outro tipo de antibiótico. 
5660 Dependendo   da   bactéria   causadora,   existem 
antibióticos capazes de trazer a cura da uretrite 
em   dose   única.   Não   use   medicamentos   sem 
prescrição médica.

5665 Ambos os parceiros devem ser tratados, a 
fim de garantir que a cura não será seguida de 
nova infecção.

Pessoas em tratamento de uretrites devem 
5670 ter   suas   roupas   lavadas   em   separado   das   da 
família, sendo obrigatório que se ferva ou passe 
a   ferro   quente   cada   peça,   especialmente   as 
roupas íntimas e toalhas.

5675 17.7  Prevenção

Não manipule e não introduza objetos em 
sua uretra, pois poderá acarretar uma infecção 
ou uma UNG de origem mecânica. Não aplique 
5680 pomadas   em   sua   genitália   sem   orientação 
médica,   pois   poderá   surgir   uma   uretrite   por 
origem química.

As   relações   sexuais   são   a   via   mais 


5685 freqüente   de   transmissão   das   uretrites   não 
gonocócicas infecciosas.

Outras   práticas   sexuais   podem   gerar 


Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         220

uretrites.   Por   exemplo,   ao   se   praticar   o   sexo 


oral, expõem­se a genitália aos microrganismos  5690
existentes   na   cavidade   oral   do   parceiro,   que 
pode apresentar vários tipos de infecções, como 
dentes,   gengivas,   amígdalas,   garganta,   etc., 
germes estes potencialmente capazes de causar 
uma uretrite. No sexo anal, a genitália entra em  5695
contato   com   a   flora   natural   do   intestino   do 
parceiro:   a   uretra   acaba   sendo   uma   porta   de 
entrada para os inúmeros microrganismos que lá 
se encontram, o que poderá acarretar uma UNG.
5700
Deve ser lembrado que uma UNG genital 
pode   provocar   infecção   em   outras   partes   do 
organismo   caso   a   secreção   infectante   tenha 
contato   com   mucosas   ou   órgãos   diversos   do 
corpo, como olhos, boca, garganta, reto, etc.  5705

A  mulher   deve   fazer   a   limpeza   de   suas 


nádegas, após a defecação, no sentido da frente 
para   trás,   ou   seja,   o   papel   higiênico   deve   ser 
levado   no   sentido   para   onde   se   afasta   dos  5710
órgãos genitais: a prática inversa traz material 
fecal   para   contato   com   a   vulva,   podendo 
ocasionar infecções vaginais ou uma UNG pelo 
microrganismos carreados.
5715
Usar   calças   muito   apertadas, 
especialmente num país quente como o Brasil, 
pode   fazer   com   que   o   suor   proveniente   da 
região   anal   se   espalhe   até   atingir   a   vulva, 
221      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

5720 levando   microrganismos   da   flora   intestinal,   o 


que pode ocasionar infecções vaginais ou uma 
UNG.   É   preferível,   assim,   que   a   mulher   use 
sempre calças de modelos largos e frouxos ou 
vestidos.
5725
Não   se   deve   usar   roupas   íntimas   de 
colegas   sob   nenhuma   hipótese.   O   mesmo 
cuidado deve ser adotado com toalhas. 

5730 Muita atenção deve ser dada às roupas de 
cama de hotéis com asseio duvidoso: talvez seja 
melhor você trazer de sua casa fronha, lençol e 
cobertor para uso no hotel.

5735 Quando   um   dos   parceiros   for 


diagnosticado   portador   de   uma   UNG,   o   outro 
também   deve   obrigatoriamente   submeter­se   a 
avaliação   médica   e,   se   for   o   caso,   tratar­se 
simultaneamente; as relações sexuais devem ser 
5740 interrompidas até que a cura seja completa.

Urinar após o coito, lavar minuciosamente 
a   genitália   com   água   e   sabonete,   e   urinar 
novamente   após   esta   higienização   pode 
5745 colaborar   para   evitar   o   surgimento   de   uma 
uretrite;   porém,   estas   práticas   não   são 
suficientes   como   garantia   de   que   não   se 
adquirirá uma UNG.

5750 O   uso   de  "camisinha"  não   oferece 


Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         222

proteção   total   contra   as   uretrites   não 


gonocócicas   pelos   motivos   descritos   na 
"Introdução" deste livro.

Relativamente   ao   ato   sexual,   não   ter  5755


promiscuidade,   ou   seja,   possuir   um   único 
parceiro   sexual,     saudável   e   também   não 
promíscuo,   é   a   melhor   maneira   de   evitar   a 
infecção por uma UNG.
223      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

REFERÊNCIAS DE IMAGENS

BRASIL.   Ministério   da   Saúde.   Coordenação 


Nacional   de   DST   e   AIDS.   Secretaria   de 
Políticas   da   Saúde.   Ministério   da   Saúde. 
Esplanada   dos   Ministérios   –   Bloco   G   –  
Sobreloja   –   C.E.P.   70058­900   –   Brasília   ­ 
DF ­  Brasil.  Coordenador:  Pedro  Chequer. 
Doenças   Sexualmente   Transmissíveis   em 
Imagens.   Edição   eletrônica   em   formato 
PDF,   disponível   na   página   da   internet   no 
endereço http://aids.gov.br , 1999.
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         224

CONTATOS
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“ Devido ao elevado número de “ e­mails”
que eu possa eventualmente receber,
há a possibilidade de ficar impedido de 
responder à sua mensagem; entretanto, 
agradeço de coração seu amigável contato.”
(O Autor)
225      Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis

LIVROS DO BIÓLOGO BRASILEIRO
NILSON ANTONIO BRENA

“ A   Chuva   Ácida   e   os   seus   Efeitos   sobre   as   Florestas   —  


Apêndice: Conseqüências da Chuva Ácida à Saúde Humana”
1ª Edição ­ 2002
ISBN 978­85­902458­1­0 (ANTIGO ISBN 85­902458­1­0)

“Doe nças Sexualmente Transmissíveis (DST)”
1ª Edição ­ 2006
ISBN 978­85­902458­5­8 (ANTIGO ISBN 85­902458­5­3)

“Câncer : Sugestões de Pesquisas Científicas para sua Cura”
2ª Edição (Revista e Ampliada) ­ 2007
ISBN 978­85­902458­6­5

“ Como   Parar   de   Fumar:   Dois   Métodos   para   Abandonar   o 


Cigarro —  Apêndice: Conheça seu Aparelho Respiratório”
2ª Edição (Revista e Ampliada) ­ 2007
ISBN 978­85­902458­7­2

EDIÇÕES ANTERIORES

“ Como   Parar   de   Fumar:   Dois   Métodos   para   Abandonar   o 


Cigarro —  Apêndice: Conheça seu Aparelho Respiratório”
1ª Edição ­ 2004
ISBN 978­85­902458­3­4 (ANTIGO ISBN 85­902458­3­7)

“Câncer : Sugestões de Pesquisas Científicas para sua Cura”
1ª Edição ­ 2005
ISBN 978­85­902458­4­1 (ANTIGO ISBN 85­902458­4­5)
Nilson Antonio Brena                           Doenças Sexualmente Transmissíveis         226

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