Planejamento e Controle Financeiro

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PLANEJAMENTO E

CONTROLE FINANCEIRO

Autoria: Maurício Euclides de Melo

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci

Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz


Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa: Uniasselvi


Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

M528p

Melo, Maurício Euclides de


Planejamento e controle financeiro. / Maurício Euclides de Melo
– Indaial: UNIASSELVI, 2018.

157 p.; il.

ISBN 978-85-53158-28-7

1.Planejamento financeiro – Brasil. 2.Controle financeiro –


Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 657.72
Maurício Euclides de Melo

O professor Maurício Euclides de Melo é


bacharel em Administração de Empresas pela
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
(2002), com especialização em Gestão Pública pela
Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB
(2011) e mestrado em Administração pela Escola Superior
de Administração e Gerência, ESAG - UDESC (2012). Atuou
na área de Recursos Humanos, em importantes empresas
regionais, como a RBS TV - Santa Catarina, Shopping
Itaguaçu e a Cia. de Gás de Santa Catarina (SCGás). Na
área de gestão organizacional, no cargo de administrador,
atuou no Departamento Nacional de Infraestrutura e
Transportes (DNIT) e Advocacia Geral da União (AGU).
Atualmente, exerce suas atividades como Coordenador de
Negócios, na SCPar - SC Participações e Parcerias S/A,
empresa estadual responsável pelo estabelecimento de
participações acionárias em empresas do setor público e
privado, assim como pela gestão de empreendimentos
portuários delegados ao Estado de Santa Catarina,
como o Porto de Imbituba e São Francisco do Sul.
Para conhecer melhor o autor acesse o Currículo
Lattes, disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/
buscatextual/visualizacv.do?id=K4441698P6>.
Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................... 07

CAPÍTULO 1
Princípios de Administração Financeira..............................09

CAPÍTULO 2
Demonstração de Resultados..............................................35

CAPÍTULO 3
Alavancagem Financeira e Operacional..............................61

CAPÍTULO 4
Fluxo de Caixa Para Pequenos Negócios...........................81

CAPÍTULO 5
Negociação com Bancos, Credores e Devedores...........115

CAPÍTULO 6
Novas Moedas: Riscos e Oportunidades Para
Pequenas Empresas.............................................................137
APRESENTAÇÃO
Manter a saúde financeira de uma empresa, assim como na sua vida
pessoal, é essencial para que se tenha sucesso no alcance dos seus objetivos.
Ao avaliar o plano de negócios de uma empresa, por exemplo, um dos capítulos
mais discutidos pelos investidores é o de finanças, no qual se verifica o retorno
do investimento, a necessidade de capital, os custos de operação e outros
indicadores financeiros do negócio. No dia a dia, é essencial que se tenha capital
suficiente para cumprir com as obrigações com fornecedores, por exemplo, que
esse dinheiro seja apenas o suficiente, pois ele possui valor no tempo, e capital
parado perde valor.

Para quem atua em micro e pequenas empresas, conhecer o setor de finanças


é tão essencial como conhecer o negócio em que se está empreendendo. Muitos
empreendedores possuem um dom, um talento específico para um determinado
produto ou serviço, conseguem vender e atingir um mercado, mas muitos não
compreendem como funcionam as finanças e acabam por encerrar o seu negócio
sem entender onde falharam.

Para cada tipo de negócio existe uma área de concentração dos estudos de
administração financeira que impacta mais no seu empreendimento. Por exemplo,
ter noção de capital de giro é muito importante para quem trabalha no comércio
tradicional, já para quem atua em empresas inovadoras, que possuem uma curva
de crescimento exponencial, conhecer a demonstração de resultados, o fluxo de
caixa e a alavancagem pode ser essencial para fazer avaliação do seu negócio e
trazer mais investidores.

Assim, nesta disciplina, vamos analisar as finanças na ótica dos pequenos


negócios, seja para aqueles que são e se manterão tradicionalmente pequenos,
seja para aqueles que começam pequenos, mas que tendem a expandir e a
tornarem-se grandes no futuro. Trabalharemos os princípios da administração
financeira, as demonstrações dos resultados, a alavancagem financeira e
operacional, o fluxo de caixa voltado a pequenos negócios, a negociação com
bancos, credores e devedores, e também trabalharemos as novas moedas, seus
riscos e oportunidades. Esperamos que você tenha se interessado pelo tema e
compreendido sua importância.

Bons estudos!
C APÍTULO 1
Princípios de Administração
Financeira

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Compreender os principais conceitos de administração financeira.

 Identificar as principais rotinas financeiras.

 Debater com outros administradores os principais conceitos de administração


financeira.

 Organizar as atividades inerentes à rotina financeira de uma micro ou pequena


empresa.
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

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Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

ContextualiZação
Em empresas grandes, a área de finanças é vista pelos demais
departamentos com um misto de admiração e frustração. Isso ocorre, pois, a
área de finanças é uma engrenagem fundamental para a qual são bombeadas
as receitas e integralização de capital, e de onde saem os recursos para os
investimentos e custeio da empresa. Se ela não possui recursos, todo o restante
da empresa perde a sua função. Assim, quando os projetos da companhia
ocorrem conforme o planejado, a área de finanças é vista como um braço amigo,
aquele que suporta a operação e fornece o capital necessário, contudo, quando é
necessário contingenciar recursos, o departamento financeiro acaba frustrando as
intenções dos demais departamentos.

Como em pequenos negócios não há essa formalidade e burocracia de áreas,


departamentos e processos, a tomada de decisão é muito ágil e rápida. No entanto,
é necessário muito conhecimento e disciplina por parte dos empreendedores, para
avaliar, como, quando e onde gastar o seu escasso recurso financeiro. Empresas
pequenas, geralmente, não possuem um departamento financeiro formal, mas,
ainda assim, ele é um componente da empresa, tão essencial quanto em grandes
corporações. Por ser, às vezes, invisível aos olhos do empreendedor entusiasta,
as decisões de investimento podem não contemplar a relação de risco e retorno
adequada, trazendo prejuízos reiterados e inviabilizando negócios.

Neste primeiro capítulo, começaremos a desenhar a área financeira, seus


conceitos e principais funções em uma organização, independentemente do seu
tamanho. Este capítulo é essencial para o entendimento de toda a disciplina, pois
você compreenderá o propósito do estudo das finanças para as micro e pequenas
empresas.

Finanças e Empresas
Para iniciarmos nossos estudos em planejamento e controle financeiro, cabe
conceituar o termo finanças, de um modo geral. Gitman (2002, p. 4) define finanças
como a arte de gerir o dinheiro, para o autor “a área de finanças preocupa-se
com os processos, as instituições, os mercados e os instrumentos associados à
transferência de dinheiro entre indivíduos, empresas e órgãos governamentais”,
ou seja, a área de finanças engloba todas as áreas ligadas à gestão de dinheiro,
assim, temos desde os processos cotidianos de contas a pagar e a receber, como
as transações no mercado financeiro, os sistemas bancários, entre outras áreas.
O termo finanças é amplo e pode ser usado tanto para empresas quanto para as
finanças pessoais.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Para você que está cursando esta disciplina, é interessante perceber que
o conhecimento e a habilitação profissional na área de finanças podem ofertar
oportunidades para a sua carreira. Gitman (2002) divide estas oportunidades em
duas grandes áreas: serviços financeiros e administração financeira.

Gitman (2002, • Serviços financeiros: está focado em desenvolver e entregar serviços


p. 4) cita que as de assessoramento e produtos financeiros a pessoas, corporações
tarefas comumente e governo. Nesta área se inserem oportunidades de carreira em
desempenhadas serviços bancários, assessoramento em investimentos, finanças
pelo gestor
pessoais, imóveis e seguro.
financeiro envolvem:
“planejamento,
concessão de • Administração financeira: está ligada ao papel do gestor financeiro
crédito a clientes, das companhias, sejam elas grandes, pequenas, ligadas ao setor
avaliação de financeiro ou não (a grande maioria não é), públicas ou privadas,
projetos de com ou sem fins lucrativos. Gitman (2002, p. 4) cita que as tarefas
investimentos, e
comumente desempenhadas pelo gestor financeiro envolvem:
captação de fundos
para financiar as “planejamento, concessão de crédito a clientes, avaliação de projetos
operações da de investimentos, e captação de fundos para financiar as operações
empresa”. da empresa”.

Percebe-se que o administrador financeiro possui um papel em qualquer


tipo de empresa, basta que ela tenha recursos para serem geridos. Assim, em
empresas que possuem poucos colaboradores, nas quais o cargo de gestor
financeiro é acumulado com outros, seja no administrativo, vendas ou operações,
é essencial entender o papel e a função das finanças na organização, para que
haja uma disciplina na gestão financeira do empreendimento.

O papel do gestor financeiro de uma organização é influenciado por diversos


fatores, como o tamanho da organização, o faturamento e a modalidade jurídica
adotada. Para uma melhor compreensão deste último fator, especificaremos as
três modalidades jurídicas mais comumente adotadas pelas organizações.

Modalidades Jurídicas de OrganiZação


de Empresas
Gitman (2002) afirma que as modalidades jurídicas mais comumente
adotadas pelas organizações podem ser elencadas em firma individual, sociedade
por cotas e sociedade por ações.

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Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

a) Firmas Individuais

Segundo Gitman (2002), uma firma individual é um tipo de empresa que tem
uma única pessoa como proprietária. Trata-se de uma micro ou pequena empresa,
por vezes ligada a algum tipo de profissional liberal, como arquiteto, advogado, ou
então ao comércio varejista, de serviços e construção civil. Uma característica é
que o proprietário possui responsabilidade ilimitada, e seu patrimônio pessoal, e
não somente o capital integralizado na empresa, pode ser utilizado para quitar
dívidas junto aos credores.

No ano de 2008, a partir da sanção da Lei Complementar n°


128/2008, o Brasil passou a contar com um tipo específico de
firma individual, o Microempreendedor Individual - MEI. O intuito da
implantação desta modalidade de personalidade jurídica é tirar da
informalidade milhares de empreendedores. Veja no portal do MEI os
pré-requisitos e benefícios ofertados a estes microempreendedores.

Fonte: Disponível em: <http://www.portaldoempreendedor.


gov.br/>. Acesso em: 8 jan. 2018.

b) Sociedade por Cotas

Segundo Gitman (2002), uma sociedade por cotas necessita de dois ou


mais proprietários que atuem em conjunto para obtenção de lucro, explorando
alguma atividade econômica. Por este pré-requisito, as sociedades por cotas
costumam ser adotadas por organizações maiores. Segundo o autor, empresas
do ramo securitário, financeiro e imobiliário costumam adotar esta forma jurídica.
Um contrato de associação ou acordo de acionistas costuma ser os documentos
que regram este tipo de sociedade, sendo cada um dos sócios responsável,
ilimitadamente, por todas as dívidas da companhia. O conceito ora apresentado
está de acordo com a realidade norte-americana, mas, no Brasil, existe uma
variação da sociedade por cotas, a sociedade limitada. Na sociedade limitada,
os sócios respondem somente até o montante do capital social da companhia
(BRASIL, 2011).

c) Sociedade por ações

A sociedade por ações é a forma mais complexa de organização, e por


isso costuma ser adotada por grandes corporações. Uma sociedade por ações,

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

como define Gitman (2002, p. 6) é um “ente artificial criado por lei”. A definição de
ente artificial pode soar estranha, mas ela faz sentido quando você desdobra o
conhecimento de sociedade por ações. As chamadas S/A são capazes de contratar
e adquirir bens em seu nome, de ajuizarem ações e serem também acionadas na
justiça. A responsabilidade nesse tipo de sociedade é limitada e seus proprietários
segregam o risco de ter seu patrimônio pessoal afetado diretamente por ações
realizadas em nome da companhia.

Os proprietários de uma S/A são seus acionistas, que possuem ações


(ordinárias ou preferenciais) de uma companhia. De modo muito resumido,
podemos dizer que as ações ordinárias possuem poder de votar nas assembleias,
elegendo o conselho de administração e algumas matérias relevantes quanto ao
futuro da companhia. As preferências, como o próprio nome já diz, no recebimento
de dividendos, partem do lucro da companhia destinado a remunerar o capital
investido.

Existem pelo menos duas figuras que distinguem as S/A das outras
formas jurídicas: os acionistas e o conselho de administração. Os proprietários
não realizam diretamente a gestão do seu empreendimento, em vez disso,
eles elegem um conselho de administração que, segundo Gitman (2002) é a
autoridade máxima na gestão da empresa, definindo a sua política geral. O
conselho de administração, por sua vez, seleciona o presidente ou CEO (chief
executive officer) que comandará a empresa em suas atividades diárias. Veja
na figura a seguir, como existe uma diferença entre os acionistas, conselho de
administração e presidente. No próprio organograma, fica clara a diferenciação
da gestão do dia a dia da organização com os acionistas e seus representantes,
isso ocorre para que o conselho possa ser independente, e garantir o interesse
dos acionistas, monitorando e fiscalizando a gestão realizada pelo presidente.
Este precisa ter em mente que não é o proprietário da companhia e não pode
conduzi-la para o interesse próprio, precisa maximizar o retorno do acionista, o
que pode significar, em certas ocasiões, assumir determinados riscos que por sua
própria avaliação não o faria. Por exemplo, para uma companhia que já possui
um produto bem estabelecido no mercado, que rende um faturamento razoável
para manter as contas da empresa em dia, garantindo uma boa remuneração ao
seu presidente, este tenderia a não descapitalizar a empresa para investir em
novos produtos, arriscando a saúde financeira da companhia, mas poderia estar
deixando passar uma oportunidade de maximizar o retorno ao acionista. Assim, o
presidente responde às políticas determinadas pelo conselho de administração,
representantes dos interesses dos acionistas.

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Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Figura 1 – Estrutura de uma sociedade por ações


Acionistas

elegem o
conselho de
administração Proprietários
que contrata o

Presidente
(CEO) Administradores

Vice- Vice- Vice- Vice- Vice-


presidente presidente presidente presidente presidente
de recursos de de finanças de de sistemas
de
humanos operações (CFO) marketing informação

Tesoureiro Controller

Gerente Gerente de Gerente de Gerente de Gerente de


de gastos crédito operações assuntos contabilidade
de capital de câmbio fiscais de custos

Gerente de
planejamento Gerente Gerente Gerente de Gerente de
financeiro de caixa do fundo contabilidade contabilidade
e captação de pensão gerencial financeira
de fundos

Fonte: Gitman (2002, p. 7).

Toda essa governança diferenciada traz consigo um custo e uma burocracia,


fazendo com que ela seja vantajosa para apenas um determinado número de
organizações.

O Quadro 1 aborda as vantagens e as desvantagens de adoção de


determinada modalidade jurídica para cada tipo de organização.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Quadro 1 – Pontos fortes e fracos das modalidades


jurídicas mais comuns da organização

Sociedade por Sociedade por


Firma Individual
cotas ações
-Proprietário recebe -Pode captar mais -Os proprietários
todos os lucros recursos que as têm responsabili-
(e assume todos os firmas individuais. dade limitada, o que
prejuízos). -Poder de endivida- garante que não
-Custo baixo de mento ampliado podem perder mais
organização. com a existência do que investem.
-Lucro incluído e de mais sócios. -Pode alcançar porte
tributado na -Maior disponibili- substancial com a
Pontos declaração de dade de poder venda de ações.
fortes rendimento de de gestão. -As participações
pessoa física do -Lucro incluído e (ações) são facil-
proprietário. tributado na mente transferíveis.
-Independência. declaração de -Duração longa.
-Sigilo. rendimento de -Pode contratar
-Facilidade de pessoa física dos administradores
dissolução. sócios. profissionais.
-Tem acesso mais
fácil a financiamento.
- O proprietário tem -Se o modelo -Impostos geralmente
responsabilidade adotado for o de mais altos, pois o lu-
ilimitada, todo o seu sociedade ilimita- cro é tributado.
patrimônio pessoal da, os proprietários - Custo mais eleva-
pode ser utilizado podem ter respons- do de organização
para pagar dívidas abilidade não limit- que as outras mo-
da empresa. adas e podem ser dalidades.
-O poder limitado de obrigados a saldar - Sujeita à maior
captação de recur- as dívidas de outros regulamentação
Pontos sos tende a restrin- sócios. governamental.
fracos gir o crescimento. -A sociedade é dis- - Não oferece sigilo,
- O proprietário pre- solvida quando um porque os acionistas
cisa ser um gestor dos sócios morre. precisam receber
eclético. -É difícil liquidar ou demonstrações
-É difícil oferecer car- transferir a partici- financeiras.
reiras de longo prazo pação de um sócio.
aos funcionários.
-Não tem continui-
dade com a morte
do proprietário.

Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 5).

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Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Muito se fala em micro e pequena empresa, mas você sabe


classificar a empresa de acordo com o porte? Qual o critério
utilizado? Conhecer estas informações é muito importante na hora de
verificar os encargos tributários e contratar financiamentos. Conheça
um pouco mais sobre o enquadramento de empresas de acordo com
o porte, acessando o site: <https://goo.gl/4D1Nm3>.

Você deve estar pensando que os tipos mais complexos de organização


de empresas nem devem fazer sentido para pequenos negócios, correto? Nem
sempre. Isso depende da sua estratégia para a sua empresa. Lembre-se de que
determinadas empresas nascem pequenas e tornam-se grandes em um espaço de
tempo relativamente pequeno. Empresas da área de tecnologia ou inovação, por
exemplo, costumam ter uma curva de crescimento exponencial, e mesmo quando
ainda são pequenas, às vezes, precisam adotar a forma de sociedade por ações
para receber aporte financeiro de fundos de investimentos. Esta necessidade se
faz para que a empresa possa ter mais transparência perante os seus investidores
e ao mercado. Mesmo pequenos negócios em áreas tradicionais, como varejo e
alimentação, por exemplo, podem ter um crescimento exponencial, e, de novo,
tudo depende da estratégia adotada para o futuro do, hoje, pequeno negócio.

A Função de Administração
Financeira
Quando falamos em pequenas empresas tendemos a pensar em estruturas
pequenas e enxutas, com pouca hierarquia e poucos departamentos. Isso é sim
verdade, mas não podemos pensar que uma pequena empresa bem-sucedida não
terá as funções inerentes a uma organização comum. Assim, em uma pequena
empresa teremos também funções organizacionais que são melhor identificadas
em grandes corporações. A função financeira, segundo Antonik (2016), é uma
atividade que pertence à profissão de administrador, e não ao economista e
contador, apesar de relacionar-se intimamente com conceitos econômicos e
contábeis, como podemos verificar na Figura a seguir.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Figura 2 – Administração e suas relações

ADMINISTRAÇÃO
FINANCEIRA

MACROECONOMIA
Política econômica e MICROECONOMIA
FERRAMENTAS
monetária, indicadores Níveis de preços,
Matemática financeira,
econômicos. tendências, riscos,
comercial, serviços
Atividade econômica, juros, inflação
bancários, custos
nível de emprego, Mercado, marketing.
crescimento global.

CONTABILIDADE
Reconhecimento
da receita na
venda do produto
Regime de caixa
Regime contábil

Fonte: Antonik (2016, p. 3).

Gitman (2002) afirma que a função de administração financeira pode ser


estudada de acordo com a sua relação com a teoria econômica e contabilidade,
por exemplo.

a) Estrutura da função financeira

Gitman (2002) destaca que o porte da empresa é determinante para


definirmos como a função financeira será estruturada em uma organização.
Em micro e pequenas empresas, segundo Antonik (2016), o proprietário acaba
assumindo boa parte das funções financeiras, podendo adotar uma contabilidade
terceirizada.

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Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Figura 3 – Organograma empresarial

EMPRESÁRIO,
PROPRIETÁRIO

DIRETOR GERAL

Diretor Diretor de Diretor de


Administrativo Marketing Operações
e Financeiro e Comercial

Fonte: Antonik (2016, p. 5).

À medida em que a empresa vai crescendo, podemos ver Tesoureiro, principal


departamentos e pessoas especializadas nas atividades descritas na gestor financeiro de
Figura 2. Segundo Gitman (2002), em empresas médias e grandes uma companhia,
responsável pela
temos a figura do tesoureiro, principal gestor financeiro de uma
gestão de caixa,
companhia, responsável pela gestão de caixa, captação de fundos, captação de fundos,
decisões sobre investimento, gestão do caixa, gerenciamento das decisões sobre
atividades de crédito e o planejamento financeiro. O tesoureiro se investimento,
relaciona diretamente com o Controller, que executa atividades gestão do caixa,
contábeis, como a contabilidade gerencial, gerenciamento fiscal, gerenciamento das
atividades de crédito
contabilidade financeira e de custos.
e o planejamento
financeiro.
b) Relação com a teoria econômica
As funções do
As funções do administrador financeiro, segundo Gitman (2002), administrador
estão intimamente relacionadas com a teoria econômica, pois é através financeiro, segundo
dela que o administrador financeiro consegue obter informações que o Gitman (2002),
auxiliam nas projeções futuras, no seu planejamento. Por exemplo, as estão intimamente
informações oriundas do ambiente macroeconômico, como as taxas relacionadas com a
teoria econômica,
de juros, os níveis de preços e a inflação, são importantes variáveis
pois é através dela
para compor as projeções futuras de fluxo de caixa, influenciando que o administrador
em parâmetros como reajustes de preços dos produtos vendidos e financeiro consegue
reajuste salarial dos empregados. Gitman (2002, p. 9) afirma que um obter informações
que o auxiliam nas
projeções futuras, no
seu planejamento.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

princípio econômico muito utilizado na área de finanças é a análise marginal, “o


princípio de que uma decisão financeira somente deve ser tomada quando os
benefícios adicionais superarem os custos adicionais”.

Vamos usar um exemplo bastante simples para ilustrar uma análise marginal.
Suponha que você tenha uma padaria, e pretenda lançar um pão sem glúten
caseiro, para aproveitar esse nicho de alimentação saudável e obter receitas
acessórias com produtos de terceiros. Para isso, é preciso locar uma máquina
nova, treinar funcionários, ter uma parte da cozinha totalmente esterilizada de
farinha de trigo e outros produtos que contenham glúten. Resumindo, os dados
utilizados na análise são os seguintes (dados completamente fictícios).

Quadro 2 – Exemplo de Análise Marginal


+ Receita com venda de pães com glúten: R$ 4.500,00
+ Receitas acessórias com produtos de terceiros sem glúten: R$ 4.500,00
- Produtividade mensal do espaço agora dedicado a alimentos sem glúten: R$ 3.000,00.
(1) Total de benefícios marginais: R$ 6.000.00
Custos Marginais
- Custo mensal de uma máquina para pão sem glúten: R$ 2.000,00.
- Custo mensal da matéria-prima (farinha especial): R$ 1.000,00.
- Treinamento do funcionário especializado em alimentos sem glúten: R$ 1.000,00.
(2) Total de custos marginais: R$ 4.000,00.
Benefício Líquido (1 – 2): R$ 2.000,00
Fonte: O autor.

No caso fictício acima, o empreendedor desta padaria estaria fazendo um bom


negócio se diversificasse seus produtos com opções sem glúten. Veja que estudos
de mercado são importantes para posicionar produtos novos, apontando a aceitação
e a demanda destas, de onde é possível extrair dados mais confiáveis quanto as
projeções de vendas. O papel do administrador financeiro é o de interpretar estes
dados e realizar as devidas análises, apontando seus custos e benefícios.

c) Relação com a contabilidade

Distinguir a atividade financeira da contabilidade, principalmente em micro


e pequenas empresas, não é tarefa das mais fáceis, como corroboram Antonik
(2016) e Gitman (2002). Isto porque a atividade financeira e contábil, muitas vezes,
se sobrepõe, com o tesoureiro executando a atividade financeira e o contador
registrando os fatos. Essa pequena diferenciação nos papéis de cada função é a
base para distingui-las. Gitman (2002) afirma que existem duas distinções básicas
nas funções de administração financeira e contabilidade: uma está relacionada
com a ênfase no fluxo de caixa, e a outra, à tomada de decisões.

20
Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

d) Ênfase em fluxo de caixa

Segundo Gitman (2002, p. 06) “a função primordial do contador é produzir


dados para a mensuração do desempenho da empresa, avaliando sua posição
financeira, e para o pagamento de impostos”. Assim, o contador prepara as
demonstrações financeiras com base em certos princípios predeterminados
e geralmente aceitos, reconhecendo receitas no momento da
O administrador
venda (independente do pagamento) e reconhecem as despesas
financeiro se
quando realizadas. A esse enfoque é dado o nome de regime por preocupa com o
competências. Já o administrador financeiro se preocupa com o fluxo fluxo de caixa,
de caixa, o resultado de entradas e saídas, assim mantém a solvência o resultado de
da empresa, garantindo que as entradas sejam suficientes para cobrir entradas e saídas,
as obrigações do período, restando um saldo de caixa positivo. A esse assim mantém
a solvência da
enfoque é denominado regime de caixa.
empresa, garantindo
que as entradas
Exemplo de diferença dos enfoques de competência e caixa: em sejam suficientes
dezembro de 2017, a padaria Pães e Sabores Ltda., especializada em para cobrir as
panetones, iniciou suas operações e vendeu 2.000 panetones a um obrigações do
período.
supermercado, por um valor total de R$ 1.000,00. Para tanto, teve um
custo de R$ 800,00. O supermercado acordou em pagá-los em 15 de
janeiro de 2018.

Tabela 1 – Diferença entre os regimes de caixa e competência


Visão contábil Visão financeira (regime de fluxo
(regime de competência) de caixa)
Padaria Pães e Sabores Padaria Pães e Sabores
(Demonstrações do resultado do (Demonstrações do fluxo de caixa do
exercício encerrado em 31/12/2017. exercício encerrado em 31/12/2017.
Receita de venda R$ 1.000,00 Entrada de caixa: R$ 0,00
Menos: custos: R$ 800,00 Menos: Saída de caixa: R$ 800,00
Lucro líquido: R$ 200,00 Saldo de caixa: - R$ 800,00

Fonte: O autor.

Assim, em um sentido contábil, a operação da padaria em 2017 foi rentável,


porém em termos de fluxo de caixa, ela foi um desastre, pois teve que pagar
R$ 800,00 em custos de fabricação com a promessa de obter um retorno de R$
200,00 em seu fluxo de caixa, no ano seguinte. Essa operação a descoberto exige
do tesoureiro habilidade em negociar com fornecedores, gerir capital de giro etc.

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PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

- Tomada de decisões: segundo Gitman (2002), a segunda diferença básica


entre finanças e contabilidade está na questão do uso das informações. Os
contadores têm por missão coletar e apresentar dados financeiros, com o intuito
de evidenciar a situação patrimonial da empresa, produzindo peças contábeis,
como o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultados do Exercício
(DRE). Já o administrador financeiro preocupa-se com o fluxo de caixa da
companhia, com os financiamentos e decisões de investimento, ponderando
o risco tomado e o potencial de retorno financeiro. Assim, as informações
contábeis são elementos da tomada de decisão do administrador financeiro,
mas não devem ser as únicas variáveis.

Atividade de Estudos:

1) Empresas pequenas, com pequeno número de funcionários não


precisam ter funções financeiras?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

OBJetivo da Empresa
Se alguém te perguntasse, qual o objetivo de uma empresa, o que você
responderia? Lucro? Essa talvez seja a resposta mais recorrente, ao menos é
a medida de desempenho de uma organização que é mais conhecida. Antonik
(2016, p. 5) afirma que “o lucro é a razão última de qualquer negócio estabelecido
em uma economia de mercado”. No entanto, o autor também faz uma importante
ponderação, afirmando que acima do lucro está a maximização da riqueza ao
acionista. Você deve estar se perguntando se o lucro e a riqueza não seriam
sinônimos em uma perspectiva empresarial. Sem dúvida que a riqueza de um
proprietário de uma empresa tem muito a ver com a lucratividade ou potencial de
lucratividade de uma companhia, mas a perseguição do lucro a qualquer custo não
deve ser o objetivo de uma empresa, não se ela quiser ser duradoura. O lucro tem
um conceito de curto prazo, se pensarmos em um horizonte contábil, resume-se a

22
Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

um exercício, um ano. O lucro como único objetivo pode fazer com que a empresa
se destrua no longo prazo. Vou exemplificar para melhorar a compreensão. Um
dono de restaurante que sacrifique a qualidade da comida, sempre utilizando de
alimentos de origem duvidosa, e com mão de obra mal qualificada,
A maximização
com o intuito de melhorar sua margem de lucratividade, tenderá a da riqueza, por
fechar suas portas num futuro não muito longínquo. “A maximização outro lado, contém
da riqueza, por outro lado, contém uma visão de longo prazo, pois se uma visão de
preocupa com a qualidade do produto ou serviço, com a satisfação do longo prazo, pois
cliente e sua fidelização” (ANTONIK, 2016, p. 6). Uma empresa que se preocupa com
a qualidade do
tenha por objetivo maximizar a riqueza do seu proprietário tem uma
produto ou serviço,
visão mais estratégica, posiciona-se perante os concorrentes de forma com a satisfação
consistente e oferece valor ao seu cliente. do cliente e sua
fidelização.

Atividade de Estudos:

1) A empresa deve buscar o lucro ou maximizar a riqueza?


____________________________________________________
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Administração Financeira em Micro e


Pequenas Empresas
Ao longo deste capítulo estamos procurando apresentar os conceitos de
finanças empresariais, destacando as peculiaridades que se aplicam às micro e
pequenas empresas. Você já deve ter uma noção, mas é importante ressaltar que
as micro e pequenas empresas correspondem a 20% do Produto Interno Bruto do
Brasil - PIB - e significam 89% do total de empresas existentes, gerando 60% dos
empregos, segundo dados do SEBRAE (2010 apud ANTONIK, 2016). Assim, se
você já é um micro ou pequeno empresário, está pensando em montar um negócio
próprio, ou pretende ser um dos R$ 56,4 milhões de empregados em micro e

23
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

pequenas empresas, saiba que o mercado é bastante grande e concorrido, mas


que há sim muitas oportunidades. O quadro a seguir traz um mapeamento das
micro e pequenas empresas por setores da economia, dividido por regiões.

Quadro 3 – Mapeamento das micro e pequenas empresas do Brasil


Construção Optantes
Região Total Comércio Serviço
Civil pelo Simples
Centro-Oeste 437.424 244.265 314.139 63.972 448.219
Nordeste 884.980 551.125 1.040.396 122.874 1.048.113
Norte 204.840 128.624 230.437 31.243 271.827
Sudeste 3.038.613 1.483.694 250.861 428.487 2.776.052
Sul 1.406.617 715.850 115.760 250.747 1.093.952
Brasil 5.972.474 3.123.558 1.951.593 897.323 5.638.163
Percentual 100% 52% 33% 15% 94%
Fonte: Antonik (2016, p. 14).

O quadro traz uma informação importante que se refere à tributação das


empresas, 94% delas optam pelo regime de tributação denominado simples, que
como o próprio nome já afirma, é um regime tributário simplificado, que cobra
muitos impostos em uma única alíquota. Antonik (2016) traz um quadro bastante
elucidativo, que compara os regimes tributários passíveis de serem adotados por
empresas no país, variando conforme o seu porte, conforme o faturamento.

Quadro 4 – Regimes tributários no Brasil

Regime Quem pode


Como funciona Muito importante
Tributário adotar

Empresas com poucos


Uma série de tributos
funcionários e faturamen-
é paga em uma úni-
Pequenas e mé- to alto podem ter uma con-
ca declaração sim-
dias empresas tribuição previdenciária
plificada. Uma única
Simples com faturamento desproporcional. Em-
alíquota sobre o fatu-
anual de até R$ presas que compram de
ramento, sendo maior
3.6 milhões. optantes pelo Simples re-
quanto mais a empre-
cebem menos crédito de
sa faturar.
ICMS.

As alíquotas incidem
Empresas com sobre o faturamento Se a empresa tiver pou-
Lucro
faturamento anu- total, a partir de per- co lucro, pode ser mais
Presum-
al menor do que centuais predeter- vantajoso optar pelo lu-
ido
R$ 48 milhões minados conforme a cro real.
atividade executada.

24
Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Todas as empre- IR e outros são cal-


Em caso de lucro alto,
sas. Obrigatório culados com base no
outras formas de tribu-
Lucro para empresas lucro. Além disso, PIS
tação podem ser mais
Real com faturamen- e COFINS podem ser
vantajosas. O cálculo do
to maior do que deduzidos com a uti-
lucro real é complexo.
R$ 48 milhões. lização de créditos.

A determinação das
Os indicados
bases de cálculo de Importante ter um en-
pela Receita Fed-
Lucro IRPJ e CSLL é sem- quadramento adequa-
eral e o próprio
arbitrado pre a do lucro presu- do perante a Receita
contribuinte. Me-
mido, com acréscimo Federal.
diante condições.
de 20%.

Fonte: Adaptado de Antonik (2016, p. 16).

Veja no site da Receita Federal quem pode se enquadrar no


regime de lucro arbitrado e como isso ocorre. Acesse: <http://www.
receita.fazenda.gov.br/publico/perguntao/dipj2012/CapituloXIV-
LucroArbitrado2012.pdf>.

Segundo Antonik (2016), o regime tributário do Simples não é uma decisão


tão elementar de ser tomada. Ele engloba oito tributos (IRPJ, PIS, COFINS, CSLL,
INSS patronal, IPI das industrias, ISS dos prestadores de serviço e ICMS). As
alíquotas do tributo podem ter uma variação de 4% a 22,45%, dependendo do
setor de atuação (comércio, indústria ou serviços).

A partir de primeiro de janeiro de 2015 passou a vigorar a


Lei Complementar 147/2014, incluindo 140 novas categorias
de empresas ao Super Simples, podendo alcançar até 450 mil
empreendimentos no Brasil.

25
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Segundo Antonik (2016), uma informação importante com relação ao regime


tributário do Simples, é que as alíquotas de contribuição incidem sobre o faturamento
da empresa. Essa questão é relevante, pois faturamento não é o mesmo que lucro,
e dependendo do arranjo financeiro da companhia, sua margem de lucro pode ser
pequena, e uma alíquota incidindo sobre o faturamento poderá ser pior do que
uma que incida diretamente sobre o lucro. Por exemplo, empresas que tenham um
faturamento alto, com margens de lucro pequenas, e poucos empregados, podem
ter uma oneração maior com o INSS embutido no regime tributário do Simples
(alíquota única), do que pagar separadamente INSS e impostos sobre lucro.

Conforme afirma Antonik (2016), em resumo, as principais vantagens do


regime tributário do Simples são as seguintes:

1. Tributação com alíquotas mais brandas e progressivas.


2. Recolhimento unificado em uma única Guia, que pode abranger tributos
estaduais e municipais.
3. Cálculo simplificado sobre uma base única (receita bruta mensal).
4. Dispensa obrigatoriedade da escrituração comercial para fins do fisco,
sob algumas condições de guarda e armazenamento.
5. Dispensa a empresa de contribuir para o sistema S (Sesi, Senai, Sesc,
Senac e Sebrae), assim como das contribuições de salário educação e
contribuição sindical patronal.
6. Dispensa a empresa de sujeitar-se à retenção na fonte de tributos e
contribuições para órgãos da administração federal.
7. Isenção de tributação sobre os rendimentos que forem destinados aos
sócios, exceto quando se tratar de pró-labore, aluguéis e serviços prestados.

Antonik (2016) destaca a importância de um assessoramento técnico com


um contador especializado, de modo que se possa planejar corretamente o
enquadramento tributário da empresa.

Discorremos um pouco sobre as micro e pequenas empresas e sua tributação


para introduzir as principais funções financeiras realizadas nestas organizações.
A primeira destas funções corresponde justamente ao planejamento, do qual o
planejamento tributário abordado anteriormente é um importante componente. As
demais atividades correspondem à função de investimento e administração de
capital de giro. Vamos ver com mais detalhes cada uma delas nos tópicos a seguir.

a) Função Planejamento

Antonik (2016) afirma que as micro e pequenas empresas são aquelas


que mais sofrem com a falta de profissionalização por uma falta de cultura na

26
Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

educação em gestão. Saiba, portanto, que você que está cursando esta pós-
graduação está a alguns passos à frente. Em pesquisa realizada pelo Sebrae
(2016), podemos perceber que 25% dos micro e pequenos empresários alegaram
problemas de gestão como um dos motivos determinantes para o fechamento das
empresas. Se levarmos em consideração que impostos, custos, despesas, juros,
vendas, demanda e concorrência podem ser objeto de um prévio planejamento,
e elas correspondem a 50% dos motivos alegados como determinantes para o
fechamento das micro e pequenas empresas. Podemos inferir que problemas
de gestão e planejamento de forma ampla, correspondem a 75% dos motivos
determinantes para o fechamento de empresas. Para quem vai montar um negócio
próprio, é uma informação bastante relevante e quem deixar de considerá-la tem
grandes chances de estar nesta estatística nos próximos anos, afinal, apesar de
estar em queda, a taxa de mortalidade de empresas no Brasil ainda é alta, 23,4%
das empresas criadas há dois anos, em 2012, fecharam as portas. Este índice,
em 2008, era de 45.8%.

Figura 4 – Motivos determinantes para fechamento de empresas no Brasil

Fonte: Sebrae (2016, p. 7).

Planejar a empresa é averiguar a demanda para o produto ou serviço, compor


os custos, formar o preço de venda, compreender os públicos de interesse,
definir objetivos de curto, médio e longo prazo, averiguar a viabilidade financeira,
enquadramento tributário adequado, fazer orçamentos, simulações, atribuir usos e
elencar as fontes dos recursos, ou seja, o planejamento de uma empresa sempre
irá convergir para o planejamento financeiro, para um orçamento, uma planilha, um
fluxo de caixa projetado. Somente com este se poderá definir os investimentos a
serem realizados. A função investimento, aliás, é o próximo tópico a ser estudado.

27
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

b) Função Investimento

Segundo Antonik (2006), a função de investimento também pode ser


compreendida como a administração da estrutura de ativos de uma empresa.
Assim, quando uma empresa decide investir, ela está disponibilizando recursos
para a conta do ativo, seja disponibilizando recursos no caixa, estoques ou
no patrimônio da companhia, por exemplo, com o intuito de que estes rendam
benefícios econômicos futuros.

Se você não teve contato com termos técnicos da contabilidade,


ou precisa recordar, vale o seguinte lembrete dos conceitos de ativo,
passivo e patrimônio líquido:

a) Ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de


eventos passados e do qual se espera que resultem futuros
benefícios econômicos para a entidade.

b) Passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de


eventos já ocorridos, cuja liquidação se espera que resulte em
saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos.

c) Patrimônio Líquido é o valor residual dos ativos da entidade


depois de deduzidos todos os seus passivos.

Fonte: Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC 00 (2011, p. 16).

O investimento é o passo seguinte ao planejamento de uma estratégia


organizacional, pois definindo-se os objetivos, as metas a serem alcançadas,
realizam-se os investimentos na empresa para que esta possa
É importante
compreender gerar um retorno financeiro, um benefício futuro. Veremos com mais
que a gestão de detalhes a análise de investimentos quando trabalharmos a gestão de
investimentos é fluxo de caixa no Capítulo 4. É importante compreender que a gestão
uma função de de investimentos é uma função de administração financeira que
administração será capaz de suportar a operação da empresa, gerando benefícios
financeira que será
futuros. Um item essencial para suportar a operação da empresa,
capaz de suportar
a operação da principalmente em seu ciclo operacional, é o investimento em capital
empresa, gerando de giro. Tópico que detalharemos a seguir.
benefícios futuros.

28
Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

c) Função Administração do Capital de Giro

Antes de falarmos de capital de giro, é importante resgatarmos um conceito


contábil de Ativo e Passivo Circulante. Segundo Gitman (2002), Ativos Circulantes
e Passivos Circulantes são, respectivamente, bens e direitos a receber no curto
prazo e, obrigações, também de curto prazo. Estes grupos de Ativos e Passivos
fornecem uma imagem do funcionamento da empresa no dia a dia, da sua
operação. Essa afirmação fica mais evidente quando esmiuçamos os itens que
compõem cada conta. Assim, no grupo de Ativos Circulantes temos: estoques,
contas a receber, caixa e aplicações financeiras de curto prazo. Já no grupo de
Passivos Circulantes temos: contas a pagar, despesas a pagar e instituições
financeiras a pagar. Isto faz com que a administração financeira de curto prazo
seja uma das atividades mais intensas do administrador financeiro.

Gitman (2002) afirma que o Ativo Circulante, também chamado de capital


de giro, é uma proporção dos investimentos realizados na empresa que circula,
ou seja, que gira, para que a empresa possa produzir ou prestar o seu serviço,
pagar suas obrigações e receber a receita. Em uma situação ideal, até certo ponto
utópica para a maioria das empresas, a necessidade de capital de giro seria zero,
pois se contrataria fornecedores a prazo e se receberia à vista ou até mesmo
antecipado. A necessidade de capital de giro varia de empresa para empresa, e
o setor de atividade é relevante para essa definição. Por exemplo, empresas que
trabalham com produção, geralmente precisam de estoque e recebem as vendas
a prazo, então precisam de um capital para poder girar a produção, entregar o
produto e manter suas atividades em operação até receber o pagamento do seu
cliente. Parte da receita é injetada novamente como capital de giro e, assim, o
ciclo recomeça. Empresas que trabalham prestando serviço podem ter uma
necessidade de capital de giro menor, pois não se utilizam de estoque e muitas
recebem logo após a realização do serviço. Caso o recebimento seja a prazo já
configuramos uma necessidade de capital de giro maior. Empresas que trabalham
por projetos, como construtoras, precisam ter uma boa estratégia de capital de
giro, pois a preparação do produto é longa, os custos são elevados e a venda
depende da situação do mercado quando o produto estiver disponível.

Antonik (2016) traz um gráfico bastante interessante, que ajuda a


compreender a importância do capital de giro em uma organização. Na Figura
5, temos o ciclo operacional de uma companhia que inicia suas atividades no dia
zero e recebe a sua primeira receita 150 dias após. A todo esse ciclo é dado o
nome de ciclo operacional.

29
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Figura 5 – Ciclos operacionais e financeiros

PMV (15 dias)

Termina a
Iniciada a fabricação
fabricação
Recebe
PMV duplicata
Entrada de PMF (40 dias)
PMC (65 dias) (150 dias)
MP no estoque
PME (30 dias)
0 dias 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias 150 dias
PTE (85 dias)

Ciclo econômico (85 dias)

PMPF (30 dias) Venda de produto


acabado (85 dias)

PMPF CC (120 dias)


Compra de
MP a crédito Desembolso Recebimento do
(30 dias) cliente (150 dias)

CC - ciclo de caixa - financeiro (120 dias)


MP - matéria -prima
PMV - período médio de venda (15 dias)
Legenda:

PTE - período total de estoque (85 dias)


PMF - período médio de fabricação (40 dias)
PME - período médio de estoque de matéria-prima (30 dias)
PMC - período médio de cobrança de duplicatas (65 dias)
PMPF - período médio de pagamento de fornecedor (30 dias)

Fonte: Antonik (2016, p. 23).

Vamos imaginar que a companhia citada seja uma fábrica de móveis para
o varejo que está iniciando suas atividades. No dia zero a empresa recebe a
matéria-prima para a fabricação dos móveis (madeiras, parafusos, fixadores, lixa,
tinta, fitas, puxadores, acabamentos, dentre outros), os quais deixa estocados
durante trinta dias até finalizar sua linha de montagem e treinar funcionários. O
pagamento negociado com os fornecedores é realizado a prazo, em 30 dias a
contar do recebimento. Após esse período, inicia a fabricação, que leva mais 40
dias para concluir. Com o produto acabado, leva 15 dias até fechar a venda dos
móveis a uma grande rede varejista, a qual negocia um prazo de 65 dias para o
pagamento, ou seja, a empresa começou a ter custos no dia 30, quando pagou
seus fornecedores e despesas internas (funcionários, aluguel etc.), terminou o
produto no dia 70 e só recebeu no dia 150. O ciclo que compreende o período

30
Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

médio de estoque (PME), o período médio de fabricação (PMF), o período médio


de venda e cobrança (PMV e PMC), descontado do prazo médio de pagamento
de fornecedores (PMPF), é conhecido como ciclo de caixa. Assim temos:

Quadro 5 – Fórmula do ciclo de caixa


Ciclo de Caixa: PME+PMF+PMV+PMC – PMPF = 30 + 40 + 15 + 65 – 30 = 120 dias
Fonte: Antonik (2016, p. 24).

Vamos imaginar que uma empresa possua uma necessidade anual de


capital de giro de R$ 180.000,00 para um ciclo de caixa de 120 dias e que ela
possua apenas custos variáveis, ou seja, todos estes custos são proporcionais
aos produtos vendidos e podem ser a esse atribuídos/repassados. Se a empresa
consegue reduzir esse ciclo em 30 dias, ou seja, alterando o ciclo de caixa para
90 dias, negociando melhor com fornecedores, ou então antecipando seus
recebimentos, ou um pouco de cada, ela tem uma economia de R$ 45.000.00,
pois a necessidade de capital de giro para 90 dias passaria para R$ 135.000,00.
O exemplo acima é hipotético e sempre haverá custos fixos que precisam ser
considerados, gerando um resultado que não é diretamente proporcional, mas
sem dúvida o ganho com a redução do ciclo de caixa será significativo. Isso
demonstra a importância da administração do capital de giro em pequenos
negócios, ele pode ser uma das chaves do sucesso da organização.

Atividades de Estudos:

1) Qual o papel do planejamento na administração financeira?


______________________________________________
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_____________________________________________

2) O que é capital de giro?


____________________________________________________
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31
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Algumas ConsideraçÕes
Este capítulo teve a intenção de ser uma introdução ao planejamento e
controle financeiros aplicados a pequenos negócios. Iniciamos resgatando uma
visão ampla da área financeira e suas principais aplicações, como a área de
serviços financeiros e a administração financeira. Embora distintas, estas áreas
se correlacionam, pois, a administração financeira interna das empresas se
relaciona com instituições financeiras, seja para aplicar suas receitas, seja para
tomar financiamento para executar suas atividades.

Fizemos, também, um apanhado sobre as formas de constituição de


empresas, seus níveis de risco e responsabilidade dos acionistas, de modo
que você pudesse ter uma noção dos custos de estruturação das empresas e
facilidade para obter financiamentos, por exemplo.

Após essa noção geral, adentramos mais especificamente na estrutura do


campo de estudos de finanças e sua correlação com os campos de estudos da
contabilidade e economia, assimilando as suas semelhanças e divergências.

Partimos então para a compreensão dos objetivos da empresa, que é a


maximização da riqueza dos acionistas a longo prazo em detrimento da busca
única pelo lucro a curto prazo. A partir daí, aprofundamos nossos estudos
financeiros nas micro e pequenas empresas, iniciando por uma visão geral destas,
incluindo o planejamento tributário.

Por fim, finalizamos com as principais funções exercidas pelo administrador


financeiro em pequenas companhias, que são as funções de planejamento,
investimento e de administração do capital de giro.

No próximo capítulo, adentraremos um pouco no estudo da contabilidade,


especificamente nas Demonstrações do Resultado do Exercício (DRE), mas com
uma visão aplicada à área de finanças, com a identificação de indicadores que
ajudarão a monitorar o desempenho e a saúde financeira da empresa.

32
Capítulo 1 PRINCÍPIOS DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

ReFerÊncias
ANTONIK, L. R. Empreendedorismo: gestão financeira para micro e pequenas
empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

BRASIL. Economia e emprego. Diferenças entre tipos de empresas. 2011.


Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2011/11/diferencas-
entre-tipos-de-empresas>. Acesso em: 20 dez. 2017.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento conceitual


básico (R1) para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. 2011.
Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/
Pronunciamento?Id=80>. Acesso em: 3 jan. 2018.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São Paulo:


Harbra, 2002.

SEBRAE. Apresentação dos relatórios de sobrevivência das empresas no


Brasil. 2016. Disponível em: <https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/
Anexos/sobrevivencia-das-empresas-no-brasil-102016.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2018.

33
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

34
C APÍTULO 2
Demonstração de Resultados

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Definir as demonstrações de resultado de uma empresa.

 Localizar os indicadores financeiros de desempenho da micro e pequena


empresa.

 Examinar uma demonstração de resultados do exercício.

 Avaliar o impacto das receitas, despesas, custos e investimentos no resultado


do exercício.
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

36
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

ContextualiZação
Você já ouviu falar nessa expressão: o poder de uma nação está diretamente
relacionado à estabilidade de suas instituições? Esta expressão está presente
no trabalho de North (2003 apud ANTONIK, 2016). Douglas Cecil North é um
economista americano que desenvolveu uma teoria sobre o amadurecimento das
instituições, a qual fazia referência à correlação entre o grau de amadurecimento
das instituições de determinados países ao seu nível de desenvolvimento
econômico e social. A partir deste trabalho, ficou evidente que quanto mais uma
nação possuía um alto grau de amadurecimento institucional (leia-se baixos níveis
de corrupção, leis que não se alteram facilmente, consenso no judiciário quanto à
interpretação destas, funcionários públicos capacitados, serviço público eficiente
etc.) maior era o grau de desenvolvimento de uma nação, ou seja, menores eram
os seus níveis de pobreza e maior a sua renda per capita, educação, sensação
de segurança etc. North (2008 apud ANTONIK, 2016, p. 107) afirma que “as
instituições podem ser interpretadas como sendo as regras de um certo jogo,
que determinam o que os jogadores podem fazer”. Aqui entra muito o conceito
de normativas em um sentido amplo, que engloba não só as instruções de um
modo geral, como leis, decretos, resoluções, assim como os próprios entes que
os elaboram e fiscalizam.

As empresas fazem parte deste arcabouço institucional e são um espelho


da maturidade de um país. Assim, em países nos quais há uma estabilidade na
legislação, no judiciário, as empresas possuem uma competitividade mais justa,
haja vista que a regra é igual para todos e todos são igualmente fiscalizados e
obrigados perante a lei. Assim, se uma empresa possui um bom desempenho,
este tenderá a estar relacionado a uma gestão mais eficiente dos seus recursos ou
no diferencial de seu produto, em vez de estar relacionado a um enquadramento
tributário diferenciado e específico que não está acessível a todos, por exemplo.

A contabilidade, como já vimos no Capítulo 1, possui duas grandes funções,


demonstrar a situação patrimonial e o resultado da empresa, apurando os tributos
a serem recolhidos com base neste desempenho. Assim, no meio empresarial,
a contabilidade exerce um importante papel como instituição. Neste capítulo
exploraremos com mais detalhes o papel da contabilidade em uma organização,
entenderemos o seu papel quanto à Demonstração dos Resultados do Exercício
e compreenderemos a sua função enquanto instituição, como regra do jogo da
gestão de uma empresa.

37
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

ContaBilidade Gerencial
O papel de um instituto contábil sólido é importante no ambiente empresarial
para que se possa ter transparência na gestão das empresas e uma certeza de
que estas estão agindo conforme as regras do jogo. Entretanto, esse papel contábil
é também importante para o sucesso do próprio negócio. Verificamos que uma
das funções de um administrador financeiro é o planejamento financeiro, como
recorda Antonik (2016). Este planejamento visa estabelecer uma previsão de uma
situação futura desejada para o empreendimento, elencando os custos, despesas
e receitas necessários para o alcance deste objetivo. Em termos financeiros, o
planejamento se traduz em um orçamento, uma planilha que permite simular as
operações financeiras da companhia no curto, médio e longo prazo. No entanto,
de nada adianta planejar se o empreendedor não acompanhar o desempenho da
sua companhia. Essa é uma parte fundamental do processo de planejamento:
a mensuração e controle dos resultados. A partir disso, o empreendedor poderá
ajustar a sua mira para atingir o alvo. Utilizando-se de mecanismos de controle, é
possível rever o planejamento inicial com vistas a alcançar o objetivo.

Lembre-se de que o planejamento é um exercício de prever situações futuras,


que estão sujeitas a todos os tipos de mudança. Por exemplo, às vezes, a demanda
estimada para determinado produto poderá variar, e você necessitará ajustar os
preços para atingir seu objetivo, seja para manter a rentabilidade ou livrar-se de
um estoque excedente. Antonik (2016) divide o planejamento empresarial em três
fases: planejamento, apuração dos resultados e análise de desempenho, como
podemos verificar na figura a seguir. Esse ciclo é contínuo, pois a
Com uma instituição análise de desempenho permite comparar a nossa meta traçada com
de normas e regras aquela executada e, assim, ajustar novamente nosso planejamento
contábeis fortes, para chegar mais próximo do alvo. Caso esta meta tenha sido
as empresas
atingida, pode-se, então, traçar metas mais desafiadoras e melhorar
contam com uma
ferramenta que dá ainda mais o desempenho da empresa. Financeiramente, a aferição
credibilidade na destas metas utiliza de ferramentas contábeis, hoje harmonizadas de
apuração de seus acordo com regras internacionais.
resultados, sabendo
que estes são Na relação entre a necessidade de um instituto contábil sólido
medidos através de
e a apuração do desempenho da empresa, ressaltamos: com uma
um critério padrão,
podendo, então, instituição de normas e regras contábeis fortes, as empresas contam
agir para realizar com uma ferramenta que dá credibilidade na apuração de seus
mudanças na gestão resultados, sabendo que estes são medidos através de um critério
da companhia que padrão, podendo, então, agir para realizar mudanças na gestão
resulta em dados de da companhia que resulta em dados de entrada diferentes, que
entrada diferentes,
proporcionem resultados distintos.
que proporcionem
resultados distintos.

38
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

Imagine que você tem por objetivo perder peso, por exemplo, e que sua
balança não é confiável, pois dependendo da condição climática pode pesar dois
quilos a mais ou a menos. Assim, por mais que você modifique sua alimentação,
não saberá exatamente se está diminuindo ou aumentando o seu peso. A
contabilidade é como se fosse uma balança, precisa ser confiável e estável, de
modo que as empresas possam aferir seu resultado, sabendo que ao aplicarem
seus esforços em determinada ação que o altere, este será corretamente
identificado pelas demonstrações contábeis.

Figura 6 – Fases do planejamento empresarial


Planejamento

Apuração
de resultados

Análise de
desempenho

Fonte: Antonik (2016, p. 111).

No próximo tópico, iremos identificar os principais relatórios contábeis que


devem ser compreendidos e utilizados por empreendedores que atuam nas micro
e pequenas empresas.

DemonstraçÕes de Resultado
AtravÉs da ContaBilidade
Evidenciar o resultado de uma determinada empresa não é tarefa simples.
Como já abordamos, para termos um resultado confiável, é preciso adotar
normas e critérios amplamente aceitos, assim, tanto o empreendedor quanto
outras pessoas e entidades interessadas na empresa poderão ter certeza de
que a empresa está traçando um caminho virtuoso ou necessita de ajustes em
sua rota para melhorar o desempenho. A utilização deste arcabouço de normas
exige profissionais capacitados e dedicados, mas o empreendedor deverá saber
ler e interpretar o resultado destes relatórios contábeis, de modo que possa ter a
exata noção do caminho que estão tomando as finanças da sua empresa. Antonik
(2016) afirma que as peças fundamentais para análise de desempenho de uma
organização são as seguintes:

39
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

a) Demonstrações do Resultado do Exercício (DRE)

Segundo Segundo Gitman (2002), a demonstração de resultados segue


Gitman (2002), a a lógica do regime de competência para projetar o lucro/prejuízo e
demonstração de reflete a posição financeira geral da companhia.
resultados segue a
lógica do regime de
competência para Como o próprio nome define, a Demonstração do Resultado do
projetar o lucro/ Exercício - DRE - é um dos instrumentos mais comumente utilizados
prejuízo e reflete a quando falamos em aferir o desempenho de uma empresa.
posição financeira
geral da companhia. Antonik (2016) afirma que este instrumento também pode ser
conhecido como demonstração de lucros e perdas, pois uma das suas
funções principais é demonstrar o lucro ou prejuízo aferido em um determinado
exercício (período de tempo geralmente coincidente com o calendário civil, de
1 de janeiro a 31 de dezembro). Este instrumento é baseado no conceito de
competência, ou seja, para a DRE, o importante é o fato gerador do lançamento
contábil, independente de este ter uma contrapartida imediata que represente
uma entrada ou saída no caixa da companhia. Utilizaremos o Quadro 6, que traz
uma DRE da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., explorando as principais
contas que compõem este demonstrativo.

Quadro 6 – Demonstração do Resultado do Exercício


NIW Produtos Florestais Ltda.
Demonstrações de Resultado do Exercício, 31 de dezembro de 2012 (R$)
2012
Receita operacional líquida (1) R$ 257.772,46
Custo da mercadoria vendida (2) R$ 149.508,03
Margem Bruta R$ 108.264,43
Salários e benefícios R$ 58.464,25
Despesas de comercialização R$ 16.994,70
Outras despesas R$ 12.098,76
Despesas operacionais (3) R$ 87.557,72
Depreciação (4) R$ 7.850,84
Total das despesas operacionais R$ 95.408,56
Lucro operacional R$ 12.855,87
Despesas financeiras (5) R$ 4.413,59
Lucro líquido do exercício R$ 8.442,28
Fonte: Tracy (2007 apud ANTONIK, 2016, p. 113).

40
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

• Receita Operacional Líquida (1): na receita operacional líquida


temos aquilo que a empresa realmente recebeu pelas suas vendas,
descontados os tributos incidentes sobre a venda, e eventuais descontos
ou abatimentos realizados.

• Custo da Mercadoria Vendida (2): no custo da mercadoria vendida,


teríamos os custos diretamente relacionados à fabricação do produto,
como mão de obra aplicada diretamente na produção, o valor da
matéria-prima, gastos gerais relacionados à produção, exemplo, aluguel
da unidade fabril, energia elétrica da unidade fabril, manutenção do
maquinário etc. Lembre-se de que o custo aqui apurado refere-se às
mercadorias efetivamente vendidas, então deve-se somar o estoque
inicial e descontar o estoque final, pois, se a mercadoria está no estoque,
não foi vendida. Importante salientar que estes custos não se misturam
com outras despesas administrativas, e mão de obra não relacionada
à produção. Aqui temos uma conta específica para apurar o custo da
mercadoria vendida.

• Despesas Operacionais (3): na conta do Custo das Mercadorias


Vendidas temos a apuração direta do custo daquilo que é fabricado
e efetivamente vendido, mas quando falamos em resultado de uma
empresa, esse processo fabril é gerenciado e possui, portanto, uma
administração, e nem todos empregados da empresa trabalham na
sua linha de produção, muitos trabalham na área de vendas, na área
administrativa, recursos humanos etc. Assim, nas despesas operacionais,
temos englobado o montante de despesas relacionadas diretamente à
operação da companhia. Não confunda operação da companhia com
processo de fabricação.

• Depreciação (4): a depreciação também é considerada uma despesa


operacional, mas convém tratarmos dela em separado, dada a sua
complexidade. Muitos dos custos e despesas referentes à confecção dos
produtos e operação da companhia são adquiridos e consumidos num
curto espaço de tempo. Utilizaremos como exemplo a compra de papel e
tinta para impressão de documentos na empresa NIW Produtos Florestais.
Eles se referem a despesas operacionais e são totalmente consumidos
à medida que os documentos são impressos, o que não ocorre com um
maquinário adquirido para corte de madeiras, por exemplo. Vamos supor
que este maquinário possua um valor de R$ 100.000,00, e sua vida útil
esteja estimada em 5 anos (60 meses). No ano da aquisição é lançado
na contabilidade o valor de aquisição da máquina, um desembolso de
caixa, mas a cada ano da vida útil da máquina, é possível lançar um valor
referente a 1/5 do seu custo de aquisição como despesa de depreciação

41
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

(os lançamentos mensais correspondem a 1/60 do valor de aquisição


do bem). Assim, anualmente, durante cinco anos, a empresa lança uma
despesa de R$ 20.000,00 referente à depreciação deste bem, que é
utilizada como abatimento da base de cálculo do imposto a pagar para
aquelas empresas que se utilizam do regime tributário de lucro real.

Na figura a seguir, Antonik (2016) cita um exemplo do passo a passo do


lançamento de uma despesa a ser depreciada.

Figura 7 – Bens depreciáveis

1º passo 2º passo 3º passo

Bens de alto valor com vida útil controlada pela Receita

Todos os meses
Compra de Contador lança o contador
máquina por a compra no lança 1/60
R$ 6.000,00 imobilizado na despesa
(R$100,000)

Bens de baixo valor, sem vida útil controlada pela Receita

Compra de O contador
material de lança a compra
Nada
escritório por diretamente
R$82,00 no resultado

Fonte: Antonik (2016, p. 116).

Quem define a duração de um bem para fins de depreciação é


a Receita Federal, através do Regulamento do Imposto de Renda
– RIR. Para compreender melhor como os bens são depreciados,
verifique a Subseção II – Depreciação de Bens do Ativo Imobilizado
do RIR, acessando o site: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/d3000.htm>.

42
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

• Despesa Financeira (5): a despesa financeira, segundo Antonik


(2016), refere-se aquelas despesas realizadas com atividades que
não estão relacionadas à atividade da empresa, mas sim na aquisição
de capital e também em investimentos realizados pela empresa em
produtos financeiros. Vejamos, por exemplo, uma empresa que toma
um empréstimo para o capital de giro. Esta companhia arcará com
custos de juros e encargos sobre esta dívida, que podem ser bastante
representativos para o resultado da empresa. Outro exemplo pode ser
a aplicação financeira da sobra de caixa da companhia. Essa receita
auferida também deve ser contabilizada em separado. Assim, poderemos
saber e diferenciar as receitas e os custos de produção e operação,
vinculados à atividade empresarial exercida pela companhia, daqueles
custos e receitas oriundas da atividade da companhia junto ao mercado
financeiro. Uma empresa que possui uma receita financeira alta e um
receita operacional baixa, não está executando bem a atividade para a
qual foi criada, apesar de poder estar sendo lucrativa.

Como pudemos verificar no quadro anterior, a NIW Produtos Florestais Ltda.


apurou um lucro líquido do exercício no valor de R$ 8.442,28 e, para chegar neste
valor, foram subtraídas da receita operacional líquida, o custo das mercadorias
vendidas, as despesas operacionais, a depreciação e as despesas financeiras.
Veja que o lucro bruto corresponde a R$ 12.855,87, praticamente 50% superior ao
lucro líquido, o que significa dizer que se não houvesse despesas financeiras, a
empresa teria um lucro um tanto quanto mais elevado.

b) Balanço Patrimonial (BP)

Segundo Gitman (2002), o Balanço Patrimonial representa


Segundo Gitman
uma posição financeira da empresa em uma determinada data, que (2002), o Balanço
geralmente coincide com o final do calendário civil, 31 de dezembro. Patrimonial
Ele iguala os Ativos (bens e direitos), com a soma de financiamentos representa uma
realizados com terceiros e de seus proprietários (sócios). A figura a posição financeira
seguir demonstra uma síntese de um Balanço Patrimonial, separado da empresa em uma
determinada data,
em duas semiesferas, representando que o lado do Ativo deve ter
que geralmente
igual contrapartida com a soma do Passivo e do Patrimônio Líquido. coincide com o final
Gitman (2002) ensina que o Balanço Patrimonial deve segregar as do calendário civil,
contas conforme a sua liquidez, ou seja, a rapidez com a qual se pode 31 de dezembro.
transformar os Ativos em entrada de caixa, e os Passivos, em saída
de caixa. Temos uma primeira separação no balanço a ser assim apresentada:
Ativos e Passivos de curto prazo e Ativos e Passivos de longo prazo. Os Ativos
e Passivos com liquidez prevista para serem realizadas em até um ano, são
denominados de Ativos e Passivos Circulantes ou Ativos e Passivos Correntes,
como afirma Antonik (2016).

43
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Os demais Ativos e Passivos são considerados de longo prazo, com


realização superior a um ano. Os Ativos se denominam realizáveis no longo prazo
e os Passivos, exigíveis a longo prazo. Assim, na conta dos Ativos, o caixa é o
ativo mais líquido, e representa as disponibilidades em dinheiro da companhia e é
sempre a primeira conta a ser descrita no Balanço Patrimonial. Na sequência, são
descritas as contas de Ativo em ordem decrescente de liquidez.

Figura 8 – Balanço Patrimonial - Síntese

• Ativo Passivo • Passivo


Ativo Circulante
Circulante Passivo Não
Circulante
Ativo não (Realizável a
Circulante Longo Prazo)

Capital
(Realizável Social
a longo Reservas
Prazo e de Capital
Permanente) Reservas
de Lucro • Patrimônio
Líquido

Fonte: Adaptado de Gitman (2002).

Podemos verificar no quadro a seguir, que os Ativos permanentes


imobilizados, como o próprio nome já diz, são os menos líquidos e, portanto,
os últimos listados. Assim ocorre no Passivo, os empréstimos de longo prazo
representam as dívidas que mais demorarão a serem exigidas, portanto, são as
últimas a serem listadas, em detrimento das contas a pagar, que apresentam as
dívidas com fornecedores que devem ser logo quitados.

Quadro 7 – Balanço Patrimonial


NIW Produtos Florestais Ltda.
Balanço Patrimonial, 31 de dezembro de 2012 (R$)
2011 2012 Diferenças
Caixa R$ 30.695,41 R$ 51.550,75 R$ 20.855,34
Duplicatas a receber R$ 12.024,27 R$ 13.131,95 R$ 1.107,68
Estoques R$ 19.870,70 R$22.124,45 R$ 2.208,30
Despesas pré-pagas R$ 5.757,28 R$ 5.404,68 -R$ 352,60
Total dos ativos correntes R$ 67.767,78 R$92.211,83

44
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

Imobilizado R$ 68.367,17 R$ 79.121,80 R$ 10.754,63


Depreciação acumulada -R$ 14.782,44 -R$ 22.633,27 -R$ 7.850,84
Imobilizado líquido R$ 53.584,73 R$ 56.488,53
Total dos ativos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35
Passivo
Contas a pagar R$ 25.282,44 R$ 23.074,14 -R$ 2.208,30
Despesas provisionadas R$ 5.943,95 R$ 7.199,03 R$ 1.255,08
Empréstimos de curto prazo R$ 8.826,13 R$ 17.652,25 R$ 8.826,13
Total dos passivos correntes R$ 40.052,52 R$ 47.925,42
Empréstimos de longo prazo R$ 26.478,38 R$ 35.304,50 R$ 8.826,13
Capital social MB R$ 44.130,63 R$ 46.337,16 R$ 2.206,53
Lucros retidos R$ 10.691,00 R$ 19.133,27 R$ 8.442,28
Patrimônio Líquido R$ 54.821,62 R$ 65.470,43
Total dos passivos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35

Passivo
Contas a pagar R$ 25.282,44 R$ 23.074,14 -R$ 2.208,30
Despesas provisionadas R$ 5.943,95 R$ 7.199,03 R$ 1.255,08
Empréstimos de curto prazo R$ 8.826,13 R$ 17.652,25 R$ 8.826,13
Total dos passivos correntes R$ 40.052,52 R$ 47.925,42
Empréstimos de longo prazo R$ 26.478,38 R$ 35.304,50 R$ 8.826,13
Capital social R$ 44.130,63 R$46.337,16 R$ 2.206,53
Lucros retidos R$ 10.691,00 R$ 19.133,27 R$ 8.442,28
Patrimônio Líquido R$ 54.821,62 R$ 65.470,43
Total dos passivos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35
Fonte: Tracy (2007) apud Antonik (2016, p. 119).

No Patrimônio Líquido, segundo Gitman (2002, p. 38), ficam “os direitos dos
proprietários da empresa, portanto, contém as contas de capital social, reservas
de capital, e reservas de lucro, por exemplo”. No caso da empresa NIW Produtos
Florestais Ltda., o Patrimônio Líquido é composto pelas contas de
Segundo
capital social e lucros retidos. Gitman (2002), a
demonstração de
Com a DRE e o Balanço Patrimonial em mãos, o administrador fluxos de caixa
financeiro possui ferramentas importantes para começar a elaborar representa o resumo
a demonstração do Fluxo de caixa, que também se apoia em outros das entradas e
saídas de dinheiro
relatórios financeiros gerenciais.
em uma companhia,
em um determinado
c) Demonstrações do Fluxo de Caixa (DFC) período, sempre
de acordo com o
Segundo Gitman (2002), a demonstração de fluxos de caixa momento exato
representa o resumo das entradas e saídas de dinheiro em uma em que ocorrem,
companhia, em um determinado período, sempre de acordo com ou seja, o regime
adotado é o regime
o momento exato em que ocorrem, ou seja, o regime adotado é o
de caixa.
regime de caixa.

45
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Vamos explorar o exemplo da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., que nos
apresenta uma DRE, já apresentada acima (Quadro 6), um Balanço Patrimonial
(Quadro 7) para montarmos um demonstrativo do fluxo de caixa (Quadro 10). Para
compreender o conceito destes três instrumentos, nós iremos transitar entre esses,
portanto, fique atento para não se perder quando mencionarmos um determinado
quadro, ele pode não ser o quadro que está na sequência. Vamos partir das contas
da DRE para montarmos a nossa demonstração de fluxo de caixa.

• Receita Operacional Líquida: você já verificou que a nossa DRE


traz uma Receita Operacional Líquida no montante de R$ 257.772,46.
Antonik (2016) nos lembra que nem todas as receitas ali mencionadas,
estão disponíveis no caixa da companhia. No quadro anterior, pudemos
verificar que temos a conta duplicatas a receber, no valor de R$
13.131,95, ou seja, parte das vendas realizadas, da receita do ano de
2012, não foi recebida. Isso não é sinônimo de inadimplência, mas, sim,
da estratégia de venda da empresa, que foi a de conceder um prazo
para pagamento de seus clientes. Veja que assim como você sempre
procura comprar de seus fornecedores a prazo para melhorar o seu ciclo
de caixa, como vimos no Capítulo 1, os seus clientes também tenderão
a comprar mercadorias a prazo. Podemos apurar que faltou R$ 1.107,68
no caixa da companhia. Ao aferir Balanço Patrimonial (Quadro 7) a conta
Duplicatas a Receber, que no ano de 2011 era de R$ 12.024,27, teve
uma majoração para R$ 13.131,95, ano de 2012. Antonik (2016) afirma
que a empresa está financiando os clientes em R$ 1.107,68 no ano de
2012. Assim, a empresa deixou de obter este montante em caixa devido
a sua estratégia de venda, mas em termos contábeis, no regime de
competência, esse valor ajuda a empresa a obter um lucro maior, pois
está presente na conta de receita operacional líquida.

• Custo da Mercadoria Vendida (2): quando falamos em Caixa, na


demonstração do Resultado do Exercício (Quadro 6), podemos verificar
que a empresa teve uma despesa contabilizada de R$ 149.508,03 como
Custo das Mercadorias Vendidas, mas na verdade o desembolso de
caixa foi na ordem de R$ 4.462,05, isto porque tivemos um aumento no
valor dos estoques, de R$ 19.870,70 (2011) para R$ 22.124,45 (2012), e
uma diminuição no contas a pagar de R$ 2.208,30, de 2011 para 2012,
isto significa que a empresa ficou devendo menos de um ano para o
outro. Somando-se a diferença do valor dos estoques (R$ 2.253,75) mais
a diferença em contas a pagar, temos um excedente de desembolso de
caixa no total R$ 4.462,05.

• Despesas Operacionais (3): como afirma Antonik (2016, p. 115), quando


transpomos estas despesas operacionais para ótica de um fluxo de

46
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

caixa, temos que ter o cuidado de observar que “algumas despesas são
pagas depois de incorridas, pois quando compramos insumos ou outros
bens necessários à produção ou à prestação de serviços negociamos
um prazo com os fornecedores”. Isso pode ocorrer também com os
salários dos funcionários, pois algumas empresas pagam a remuneração
de seus colaboradores no quinto dia útil do mês seguinte ao mês
trabalhado. Os salários são contabilizados no mês a que se referem,
mas o desembolso de caixa ocorre no mês subsequente. Pode ocorrer
também o inverso, algumas despesas operacionais podem incorrer
antecipadamente, como o pagamento de um sinal para um pedido de
mobiliário para área administrativa. Essa informação pode ser difícil de
encontrar nos relatórios contábeis, devendo haver registros específicos
de todas despesas incorridas na empresa. No caso da NIW Produtos
Florestais, foi possível verificar em outros relatórios gerenciais que, do
valor contabilizado de R$ 87.557,72 em 2012, R$ 916,15 ficou para ser
pago em 2013, ou seja, do valor de R$ 23.074,14, de Contas a Pagar,
existente no Balanço Patrimonial (quadro 7), R$ 916,15 são referentes a
despesas operacionais.

• Depreciação: ainda, como despesa operacional, temos a depreciação,


que teve uma variação, entre 2011 e 2012, de R$ 7.850,84, como
demonstrado no Quadro 8. Esse valor é acrescido ao fluxo de caixa, pois
ele está descontando a nossa base de receitas, contudo ele é um valor
meramente contábil e não há efetivamente um desembolso de dinheiro
para pagar a depreciação.

Quadro 8 – Imobilizado e Depreciação

Itens do balanço 2011 2012 Diferença


Imobilizado R$ 68.367.17 R$ 79.121,80 R$ 10.754,63
Depreciação -R$ 14.782,44 -R$ 22.633,17 R$ 7.850,84
Acumulada
Fonte: Antonik (2016, p. 117).

• Despesas Financeiras: algumas das despesas financeiras também


podem ocorrer em períodos distintos daqueles contabilizados na DRE.
Assim, Antonik (2016) aponta que a empresa registrou R$ 4.413,59 em
despesas financeiras, como juros de financiamento, por exemplo, que
ocorreram no ano de 2012. Destes valores realizados, verificou-se que
R$ 111,65 não foram efetivamente pagos no ano, sendo originados no
mês de dezembro de 2012 e com pagamento previsto para janeiro de
2013.

47
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

O Quadro 9 traz um resumo das diferenças entre a DRE 2011 e 2012, dos
quais podemos destacar os itens que compõem o cômputo do fluxo de caixa
mencionado acima. Entram nesta conta, a margem bruta (R$ 5.569,73, que são
as variações das contas Receita Operacional Líquida e Custo da Mercadoria
Vendida), o total das despesas operacionais, acrescentando a depreciação e as
despesas financeiras.

Quadro 9 – Comparativo entre regime de Caixa e Competência

NIW Produtos Florestais Ltda


Demonstrações de Resultado do Exercício, 31 de dezembro de 2012 (R$)
2012 Diferenças
Receita operacional líquida (1) R$ 257.772,46 -R$ 1.107,68
Custo da mercadoria vendida (2) R$ 149.508,03 -R$ 4.462,05
Margem Bruta R$ 108.264,43 -R$ 5.569,73
Salários e benefícios R$ 58.464,25
Despesas de comercialização R$ 16.994,70
Outras despesas R$ 12.098,76
Despesas operacionais (3) R$87.557,72 R$ 916,15
Depreciação (4) R$ 7.850,84 R$ 7.850,84
Total das despesas operacionais R$ 95.408,56 R$ 8.766,99
Lucro operacional R$ 12.855,87
Despesas financeiras (5) R$ 4.413,59 R$ 111,65
Lucro líquido do exercício R$ 8.442,28
Diferença entre regime competência
R$ 3.308,91
e caixa (2)
Fluxo de caixa gerado pelas atividades
R$ 11.751,19
operacionais (1)
(1) Lucro líquido do exercício + Fluxo de caixa líquido (R$8.442,28 +
R$3.308,91 = R$11.751,19)
(2) Diferença entre regime competência e caixa = -R$5.569,73 + R$8.766,99 +
R$ 111.65 = R$ 3.308,91

Fonte: Adaptado de Tracy (2007 apud ANTONIK, 2016, p. 113).

48
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

Assim, temos que o Fluxo de Caixa Líquido é a soma do lucro Assim, temos que
o Fluxo de Caixa
líquido com a diferença das apurações entre o regime de caixa e as
Líquido é a soma
competências das contas: Margem Bruta, Despesas Operacionais do lucro líquido com
(Somada a Depreciação) e Despesas Financeiras. a diferença das
apurações entre o
Outra forma de demonstrar o fluxo de caixa seria realizar um regime de caixa e
quadro com as variáveis de fluxo de caixa das atividades operacionais, as competências
das contas: Margem
de investimento e financiamento. Esse demonstrativo de fluxo de caixa
Bruta, Despesas
é mais completo e traz informações até agora não abordadas, como as Operacionais
atividades de investimento e financiamento. (Somada a
Depreciação)
e Despesas
Financeiras.

Quadro 10 – Demonstração de Fluxo de Caixa

NIW Produtos Florestais Ltda.


Demonstrações de fluxo de Caixa, 31 de dezembro de 2012 (R $)
Composição Cálculo final Cálculo do
do Fluxo de do Fluxo Saldo de
Caixa específico Caixa Total
Lucro líquido do exercício
Aumento em duplicatas a
-R$ 1.107,68
receber

Aumento em estoques -R$ 2.833,63

Redução em despesas
R$ 352,60
pré-pagas
Depreciação R$ 7.850,84
Fluxo de caixa
das atividades Redução no Contas a
-R$ 2.208,30
operacionais Pagar
Aumento de despesas
R$ 1.255,08
provisionadas

Subtotal do Fluxo Opera-


R$ 3.308,91
cional

Lucro líquido do exercício R$ 8.442,28

Total de Fluxo Operacional R$ 11.751,19

Fluxo de caixa
das atividades de Aumento no imobilizado -R$ 10.754,63
investimento

49
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Aumento em empréstimo
R$ 8.826,13
de curto prazo

Fluxo de caixa Aumento em empréstimos R$ 8.826,13


das atividades de de longo prazo
financiamento Aumento de capital R$ 2.206,53

Total do Fluxo de Finan-


R$ 19.858,79
ciamento

Aumento no caixa
R$ 20.855,34
durante o ano

Caixa no início
R$ 30.695,41
do ano
Caixa no final
R$ 51.550,75
do ano

Fonte: Tracy (2007 apud ANTONIK, 2016, p. 121).

Com base no demonstrativo de fluxo de caixa, o empreendedor conhecerá


a sua disponibilidade financeira imediata, mas precisa ficar atento que muitos
destes recursos possuem usos destinados. Discutiremos detalhadamente sobre o
fluxo de caixa no Capítulo 4, no qual abordaremos também o fluxo de caixa livre.

Atividades de Estudos:

1) A empresa pode confiar apenas no Balanço Patrimonial e na DRE


para elaborar sua demonstração de fluxo de caixa?
____________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2) Explique a diferença entre custo das mercadorias vendidas e


despesas operacionais.
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

50
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

Índices Financeiros
Os índices financeiros são uma importante ferramenta para analisar o
desempenho de uma organização. Gitman (2002) afirma que os índices financeiros
medem duas categorias basicamente: o risco e o retorno. Assim, através do
Balanço Patrimonial e da DRE podemos calcular o risco financeiro atrelado a uma
determinada empresa, assim como o retorno que oferece ao acionista ou ao seu
proprietário. Estes índices são também muito utilizados por instituições bancárias,
para determinar a taxa de juros de um financiamento, por exemplo. Para empresas
que possuem um risco maior, as taxas de juros são maiores, haja vista que o
risco de inadimplemento das parcelas de um financiamento são maiores. Do
mesmo modo, potenciais investidores em empresas, além de averiguar o risco,
também analisarão o retorno ofertado, para ver se estão compatíveis e aceitáveis.
Esses são motivos bastante importantes para que você tenha uma contabilidade
confiável, de modo a não distorcer essas informações e passar uma mensagem
errada da sua situação financeira da companhia. Neste capítulo, trabalharemos
quatro grupos de conceitos de índices:

- Índices de liquidez.
- Índices de atividade.
- Índice de endividamento.
- Índice de rentabilidade.

Para tanto, faremos referência ao Balanço Patrimonial e à DRE da empresa


NIW Produtos Florestais Ltda., já apresentadas anteriormente.

a) Índice de liquidez

O índice de liquidez,
O índice de liquidez, segundo Gitman (2002), mede a capacidade segundo Gitman
da empresa cumprir obrigações de curto prazo a medida em que elas (2002), mede a
ocorrem. Esse índice é considerado a solvência geral da empresa. capacidade da
Uma liquidez baixa costuma indicar que uma dificuldade financeira empresa cumprir
de caixa se avizinha e pode trazer problemas de fluxo de caixa. Os obrigações de curto
prazo a medida em
índices de liquidez comumente utilizados são:
que elas ocorrem.

• Índice de liquidez corrente: segundo Gitman (2002), mede a


capacidade da empresa de saldar suas obrigações de curto prazo. A
fórmula do índice de liquidez corrente é a seguinte:

Ativo Circulante
Índice de Liquidez Corrente =
Passivo Circulante

51
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Como o próprio nome do índice já indica, ele refere-se ao Ativo e Passivo


Circulante/Corrente, aqueles de curto prazo. No caso da NIW Produtos Florestais
Ltda., a conta seria a seguinte:

R$ 92.211,83
= 1,92
R$ 47.925,42

Temos um número, agora temos que interpretá-lo. Aqui é que mora o perigo,
pois não existe uma ciência exata na interpretação destes índices. Em geral,
quanto mais alto for o índice, mais líquida a empresa é. Gitman (2002) afirma
que a aceitação de índices de liquidez menores está relacionada à previsibilidade
dos fluxos de caixa. Assim, em empresas que possuem contratos de longo prazo
firmes, ou demandas que não variam muito, conseguem ter um fluxo de entradas
de caixa previsíveis e podem lidar com Passivo Circulante mais próximo do Ativo
Circulante. São exemplos destas empresas as concessionárias de serviço público.

Empresas que atuam no mercado de inovação, por exemplo, devem ter um


índice de liquidez alto, de modo que possam lidar com o declínio da demanda
por um produto e consigam se reposicionar no mercado com atualizações ou
outros produtos, por exemplo. Não conhecemos muito do setor
Segundo Gitman
(2002), este índice específico no qual a NIW trabalha, mas se for extração de madeira
é uma variável do de reflorestamento, uma indústria com alta previsibilidade, um índice
índice de liquidez próximo a dois pode ser bastante aceitável.
corrente, a sua
diferença é que o • Índice de liquidez seca: segundo Gitman (2002), este índice é
índice de liquidez
uma variável do índice de liquidez corrente, a sua diferença é que o
seca subtrai o
estoque, por este índice de liquidez seca subtrai o estoque, por este ser o Ativo menos
ser o Ativo menos líquido do grupo de contas do Ativo Circulante. Isto ocorre, pois, o
líquido do grupo estoque pode conter produtos inacabados (difíceis de vender) e por
de contas do Ativo ele ser vendido a prazo, tornando-se de imediato contas a receber e
Circulante. não caixa. A fórmula do índice de liquidez seca é a seguinte:

Ativo Circulante - Estoques


Índice de Liquidez seca =
Passivo Circulante

Como o próprio nome do índice já indica, ele refere-se ao Ativo e Passivo


Circulante/Corrente, aqueles de curto prazo. No caso da NIW Produtos Florestais
Ltda., a conta seria a seguinte:

R$ 92.211,83 – R$ 22.124,45
= 1,46
R$ 47.925,42

52
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

Assim como na interpretação do índice de liquidez corrente, a interpretação


do índice de liquidez seca depende do setor de atividade. Gitman (2002, p.
46) afirma que um índice de liquidez seca de pelo menos 1 é ocasionalmente
recomendado. Para escolher entre um e outro índice, cabe uma interpretação do
quão facilmente o estoque de uma empresa pode se tornar caixa. Se o estoque
for mais líquido, opta-se pelo índice de liquidez corrente, se for menos líquido,
pelo índice de liquidez seca.

b) Índices de atividade
Os índices de
Os índices de atividade, segundo Gitman (2002, p. 47) “medem atividade, segundo
a velocidade com que as várias contas são convertidas em vendas ou Gitman (2002,
caixa – entradas ou saídas”. Ainda que a liquidez tenha a capacidade p. 47) “medem a
velocidade com que
em indicar a facilidade com que Ativos e Passivos se tornam entradas
as várias contas
ou saída de caixa, nos índices de atividade estamos lidando com são convertidas em
questões relacionadas diretamente à operação da companhia, como o vendas ou caixa –
giro do estoque e giro total do ativo. entradas ou saídas”.

• Giro do estoque: esse índice é importante, pois mede a liquidez do


estoque de uma empresa, podendo ser usado para determinar o índice
de liquidez a ser utilizado (corrente ou seco).

Custo das Mercadorias Vendidas


Giro de estoques =
Estoque

Veja que neste índice buscamos informações de dois demonstrativos


contábeis distintos, o Custo das Mercadorias Vendidas (DRE) e Estoque (Balanço
Patrimonial).

R$ 149.508,03
= 6,76
R$ 22.124,45

A interpretação deste índice, segundo Gitman (2002) deve ser comparado


a valores de outras empresas do mesmo setor, ou então, com o giro da mesma
empresa em períodos distintos. No caso da NIW Produtos Florestais Ltda., o seu
estoque girou 6,76 vezes durante o ano de 2012. Um supermercado, por exemplo,
tende a ter um giro de estoque muito mais alto, enquanto um estaleiro que fabrica
embarcações poderá ter um giro menor, tudo depende do setor e modelo de
negócio da empresa.

• Giro do ativo total: o giro do ativo total indica a eficiência que a empresa
possui para utilizar seus ativos e transformá-los em vendas. O cálculo do
giro de ativo total é feito da seguinte forma:
53
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Vendas
Giro do ativo total =
Ativo total

Novamente vamos buscar informações na DRE e Balanço Patrimonial.

R$ 257.772,46
= 1,73
R$ 148.700,35

Podemos dizer, então, que o ativo total da empresa girou 1,73 vezes em 2012.
Quanto maior o giro do ativo total, mais eficiente é a empresa em transformar
seus ativos em vendas. No caso da NIW Produtos Florestais Ltda., girar quase
duas vezes o ativo total em um ano é um bom resultado.

c) Índice de endividamento

O índice de O índice de endividamento, segundo Gitman (2002, p. 49) “indica


endividamento, o volume de dinheiro de terceiros usado para gerar lucros”, ou seja,
segundo Gitman o quanto de capital a empresa buscou junto a bancos e outras fontes
(2002, p. 49) “indica de recursos externas à companhia, para financiar a sua operação.
o volume de dinheiro Esse índice é importante para ser analisado pelos sócios, pois,
de terceiros usado
antes da distribuição de lucros aos acionistas, é necessário quitar
para gerar lucros”.
as obrigações com credores. Para instituições financeiras, analisar o
endividamento de uma empresa está relacionado à capacidade de pagamento do
financiamento e também ao risco a que estas estão tomando em fornecer crédito.
São basicamente dois indicadores: o índice de endividamento geral e o índice de
cobertura de juros.

• Índice de endividamento geral: o índice de endividamento geral mede


a proporção dos ativos de uma empresa que é financiada por capital de
terceiros. Seu cálculo é realizado da seguinte forma:

Passivo Exigível Total


Índice de endividamento geral =
Ativo total

R$ 17.652,25 + R$ 35.304,50
= 36%
R$ 148.700,35

Podemos verificar que a empresa possui um financiamento de 36% dos


ativos com capital de terceiros, quanto mais alto for este índice, maior será o seu

54
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

grau de endividamento, e mais elevada a sua alavancagem financeira. Veremos


com maiores detalhes a alavancagem financeira no Capítulo 3.

• Índice de cobertura de juros: esse índice também pode ser conhecido


como índice de cobertura do serviço da dívida, isto porque ele reflete a
capacidade da empresa em saldar os juros previstos em contratos de
financiamentos. O seu cálculo é feito da seguinte forma:

Lucro antes de juros e imposto de renda


Índice de cobertura de juros =
Juros

Essas informações constam na DRE, que no caso da NIW Produtos Florestais


Ltda., refere-se ao lucro operacional dividido pelas despesas financeiras, que
nesse caso específico está referindo-se somente aos juros. Então temos:

R$ 12.855,87
= 2,91
R$ 4.413,59

Gitman (2002) afirma que um índice de cobertura de juros entre 3 e 5,


preferencialmente mais próximo a este, é o recomentado. Ainda assim, podemos
dizer que o lucro operacional da NIW Produtos Florestais Ltda. poderia reduzir até
66% [(2,91 – 1,0) / 4,50] e a empresa ainda poderia pagar os R$ 4.413,59 de juros.

d) Índices de rentabilidade

A rentabilidade da empresa, leia-se, a lucratividade, é um dos fatores


A rentabilidade da
que mais preocupa seus proprietários e também é um dos primeiros itens empresa, leia-se,
a serem analisados pelos interessados em investir em uma empresa, a lucratividade,
pois mede o retorno financeiro do empreendimento. Assim, diversos itens é um dos fatores
podem ser retirados de uma DRE e Balanço Patrimonial, com vistas a que mais preocupa
aferir a rentabilidade das companhias. Aqui abordaremos a margem de seus proprietários e
também é um dos
lucro bruto e líquido e o retorno do ativo total.
primeiros itens a
serem analisados
• Margem de lucro bruto: esse índice, conforme explica pelos interessados
Gitman (2002, p. 52), “mede a porcentagem de cada unidade em investir em uma
monetária de vendas que resta após o pagamento do custo empresa, pois mede
o retorno financeiro
dos produtos vendidos”. Quanto maior a margem de lucro
do empreendimento.
bruto, menor será o custo dos produtos vendidos. O cálculo
da margem de lucro bruto é assim calculado:

55
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Lucro bruto
Margem de lucro bruto =
Receita de vendas

Para calcularmos a margem de lucro bruto da NIW produtos florestais Ltda.,


iremos consultar a DRE, e teremos a seguinte equação:

R$ 108.264,43
= 42%
R$ 257.772,46

Assim, temos que a empresa NIW produtos florestais Ltda. apresenta uma
margem de lucro bruto de 42%, que pode ser comparada a outras empresas do
mesmo setor, ou mesmo na evolução anual.

• Margem de lucro líquido: esse índice, conforme explica Gitman (2004),


mede a proporção de cada unidade monetária de vendas que sobra após
o pagamento de todos custos e despesas, inclusive juros, impostos e
dividendos. Assim como a margem de lucro bruto, quanto maior, melhor.
O cálculo desta margem é assim realizado:

Lucro líquido
Margem de lucro líquido =
Receita de vendas

Para a Margem de Lucro Líquido consultaremos apenas a DRE da empresa


NIW Produtos Florestais Ltda., que nos fornecerá a seguinte equação:

R$ 8.442,28
= 3,3%
R$ 257.772,46

Assim, temos que a margem de lucro líquido da empresa NIW Produtos


Florestais Ltda. é de 3,3%. Gitman (2002, p. 54) afirma que “uma boa margem de
lucro líquido varia consideravelmente de setor para setor”, sendo que uma margem
de 10% poderia ser considerada baixa no caso de uma joalheria, mas 1% poderia
ser considerado uma boa margem para um supermercado. Essas variações podem
estar relacionadas ao risco do negócio e ao giro do estoque, por exemplo.

• Retorno do ativo total: o retorno do ativo total, segundo Gitman (2002)


mede o modo como a administração da companhia transformou em lucros
os ativos disponíveis. Desta forma, quanto mais alto for o retorno do ativo,
melhor a empresa terá desempenhado a sua função em transformar ativos
em lucros. A forma de cálculo do retorno do ativo total é a seguinte:

56
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

Lucro líquido
Retorno do ativo total =
Ativo total

Assim, para esse índice, buscaremos informações na DRE e Balanço


Patrimonial da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., que nos remeterá à
seguinte equação:

R$ 8.442,28
= 5,7%
R$ 148.700,35

Isso quer dizer que para cada real investido em ativos na companhia, ela
retornou 5,7 centavos. Para termos uma análise mais criteriosa, é importante
compararmos este retorno com outras empresas do mesmo setor, ou mesmo
verificar a evolução deste índice ano após ano.

Atividade de Estudos:

1) Analise o Balanço Patrimonial a seguir:

Quadro 11– Balanço Patrimonial da Companhia das


Letras ABC, 31 de dezembro de 2017
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Passivo Circulante

Caixa R$ 260.100,00 Fornecedores R$ 60.700,00


Clientes R$ 650.000,00 Impostos a pagar R$ 51.800,00
Bancos R$ 200.100,00 Total do circulante R$ 112.500,00
Aplicações
R$ 350.000,00
financeiras
Estoques R$ 394.000,00 Exigível a longo prazo
Total do Empréstimos de longo
R$1.854.200,00 R$ 12.000,00
Circulante prazo
Total Exigível a Longo
R$ 12.000,00
Prazo
Realizável a Longo
Prazo
Créditos judiciais R$ 20.000,00 Patrimônio Líquido R$ 160.000,00

57
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Total do Realizável
R$ 20.000,00 Capital Social R$ 4.700,00
a longo prazo
Lucros acumulados R$ 1.800.000,00
ATIVO PERMA- Total do Patrimônio
R$ 1.964.700,00
NENTE Líquido
Máquinas e equi-
R$ 20.000,00
pamentos
Veículos R$ 50.000,00
Móveis e utensílios R$ 27.000,00
Instalações R$ 70.000,00
Equipamentos de
R$ 48.000,00
computação
Total Permanente R$ 215.000,00

Total do ativo R$ 2.089.200,00 Total do Passivo R$ 2.089.200,00

Considerando o balanço da empresa fictícia, companhia das Letras


ABC, encerrado em 31 de dezembro de 2017, e de posse das
informações de que a receita de vendas do ano corresponde a R$
3.000.000,00, lucro líquido R$ 100.000,00, calcule:

a) o índice de liquidez corrente;


b) o giro total do ativo;
c) a margem de lucro líquido;
d) o retorno total do ativo.
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58
Capítulo 2 DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

Algumas ConsideraçÕes
Neste capítulo entramos em alguns temas que são essenciais para o
administrador financeiro, mas que geralmente são terceirizados e pouco acessados
pelo proprietário de pequenas empresas: os relatórios contábeis. Por mais que as
pequenas empresas não sejam obrigadas, em sua maioria, a publicar tais relatórios,
como a DRE, Balanço Patrimonial e Demonstrativo do Fluxo de Caixa, é importante
que os gestores financeiros os utilizem como ferramenta gerencial.

A elaboração desses relatórios deve ser incumbência de profissionais


competentes e capacitados, haja vista que o padrão dos lançamentos segue
inúmeras regras como você pode perceber, desde a ordem da apresentação das
contas de um balanço até a determinação do percentual de depreciação de um
determinado bem.

Os dados apresentados na DRE e Balanço Patrimonial não apenas nos


permitirá apurar a lucratividade da empresa corretamente, como nos fornecerá
informações essenciais para apurar a Demonstração do Fluxo de Caixa da
empresa e também inúmeros índices financeiros.

Esses índices financeiros nos auxiliam a mensurar o resultado da companhia,


além do lucro apurado na DRE. A partir da utilização de índices, podemos verificar
como a empresa gira o seu estoque, o risco e sua capacidade de endividamento e
como ela transforma seus ativos em lucro, por exemplo.

Desse modo, fica claro como a contabilidade pode ser uma ferramenta de gestão
importante para o alinhamento da estratégia financeira de um empreendimento.
A partir desses relatórios, podemos planejar metas futuras e corrigir traçados, de
modo que o objetivo de longo prazo da empresa seja alcançado.

No próximo capítulo, exploraremos a alavancagem financeira e operacional


das empresas, entrando em temas como o impacto do financiamento para o
resultado financeiro das organizações. Até mais!

ReFerÊncias
ANTONIK, L. R. Empreendedorismo: gestão financeira para micro e pequenas
empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. 7. ed. São Paulo: Har-


bra, 2002.

59
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

60
C APÍTULO 3
Alavancagem Financeira e Operacional

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Definir o conceito de alavancagem financeira e operacional.

 Identificar o uso mais adequado de cada tipo de alavancagem.

 Aplicar alavancagem financeira para financiar as contas próprias.

 Selecionar opções de alavancagem operacional para financiar as vendas


a clientes.
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

62
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

ContextualiZação
Não sei se você já fez uso de ferramentas de administração na sua vida
pessoal, como uma planilha de orçamento para controlar suas finanças ou para
fazer um planejamento de férias, por exemplo. Poder aplicar estes conhecimentos
na vida pessoal, com certeza é uma das vantagens de se conhecer essa área de
estudos mais profundamente. Quando lidamos com pequenos negócios, às vezes,
fazemos o inverso, trazemos nossas práticas pessoais para dentro da companhia,
sem analisar tecnicamente as consequências que isso traz para o negócio.

Para alguns empresários, lidar com temas como dívida ou financiamento é


muito difícil. Algumas pessoas possuem a cultura de que dívidas e financiamento
são ruins para a empresa e o ideal seria ter uma estrutura de capital totalmente
próprio. Na vida pessoal isso pode ser sim uma verdade, uma vez que, para a
grande maioria, a fonte de recursos ou suas receitas são provenientes de um
trabalho assalariado, com rendimento fixo mensal, e as suas despesas são
realizadas com itens, também em sua maioria, que não representam uma relação
direta com o incremento de recursos. Além disso, existe o risco deste trabalho
assalariado esgotar-se e suas dívidas permanecerem. No entanto, quando falamos
de empresas, as dívidas a serem realizadas estão ou devem estar ligadas a sua
fonte de receitas, direta ou indiretamente. Assim, se eu financio algo para minha
empresa, estou fazendo isto com o intuito de gerar receitas e trabalhar com o
capital de terceiros, podendo representar um retorno maior, uma vez que o capital
próprio é escasso, e, portanto, tem um custo elevado. Antonik (2016) afirma que
financiar faz parte do cotidiano das empresas, e existem muitas oportunidades
a custo baixo para empreendedores. Quando falamos de financiamento em
empresas, estamos também falando de alavancagem financeira.

Existe também a alavancagem operacional, que se dá dentro da própria


empresa. É uma espécie de financiamento interno da companhia, na qual ela lida
com a venda de seus produtos e serviços e seus custos, de modo a gerar um
saldo positivo, um ponto de equilíbrio a partir de uma quantidade de produtos
vendidos que é capaz de cobrir sua operação.

Neste capítulo, abordaremos os conceitos detalhados de alavancagem


financeira e operacional, seus usos e aplicações, de modo que você possa
identificar e utilizar essa ferramenta na gestão financeira de pequenos negócios.

63
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Introdução À Alavacagem Financeira


e Operacional
Gitman (2002, p. 434) afirma que a alavancagem “é o produto do uso de
ativos ou fundos a custo fixo para multiplicar retornos para os proprietários
da empresa”. Para isso, Antonik (2016) afirma que existem duas frentes: a
alavancagem operacional e financeira. Gitman (2002) afirma que, de um modo
geral, a alavancagem aumenta o risco de uma empresa. Isto ocorre, pois, a
alavancagem pressupõe uma ausência de recursos da companhia para quitar os
seus compromissos. Isso significa dizer que a empresa não possuirá recursos
disponíveis imediatos em caixa para cobrir sua operação. Se eu financio uma
máquina na minha empresa, contando com o recebimento de vendas que
realizei a prazo, eu tenho o risco de não receber as vendas e não poder quitar o
financiamento. No entanto, esse risco é controlável pela empresa. E isso, segundo
Gitman (2002), é interessante, pois o retorno também pode ser positivo. Além de
o custo de capital de terceiros poder ser menor do que o custo do capital próprio,
ele pode ser deduzido como despesa financeira, e aumentar a lucratividade
da empresa. Essa equação melhora a relação de risco e retorno, ou seja, uma
empresa alavancada traz um retorno maior do que uma empresa não alavancada,
mas também traz consigo um certo grau de risco.

Custo do capital próprio: Segundo Gitman (2002), pode


ser definido pela taxa mínima de retorno exigida no negócio pelos
proprietários.

Gitman (2002, p. 434) diz que “em virtude do seu efeito sobre o valor,
o administrador financeiro deve saber como medir e avaliar a alavancagem,
particularmente ao tomar decisões sobre a estrutura de capital da empresa”. Quando
se fala em estrutura de capital, está se falando sobre o montante de capital próprio
e de terceiros que será utilizado na companhia para financiar suas operações.

Segundo Gitman (2002), a estrutura de capital é uma das áreas mais


complexas no tocante à tomada de decisões financeiras da empresa, pois
possui implicações diretas no custo do capital, seja ele próprio ou de terceiros.
Vamos explicar melhor: como você pode se atentar ao conceito técnico sobre o
capital próprio, este apresenta um custo, ao contrário do que muitos empresários
pensam. Se você é o proprietário da empresa e colocar seu capital, e não pagar

64
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

juros para ninguém, como é que esse dinheiro terá custo? Você pode ser o dono
do dinheiro, mas está aplicando no negócio para receber um retorno sobre ele,
correto? Então, o custo deste dinheiro está relacionado às oportunidades que
você deixa de usufruir para aplicar no projeto. Assim, se tiver uma oportunidade
de aplicar R$ 100.000,00 no seu negócio - no qual eu arriscar esse capital com
os contratos de financiamento que irei realizar, com dívidas trabalhistas, além
de todas as incertezas presentes no mercado, como aceitação do produto,
variação da demanda, obsolescência etc. - é comum que espere receber mais
do que receberia se aplicasse o mesmo montante em um investimento financeiro
com histórico de rendimento e garantido por um fundo garantidor de crédito do
governo. Assim, se este investimento conservador render uma taxa de juros média
de 10% a.a., espera-se que o negócio, pelo risco associado a ele, renda mais.
Assim, poderia dizer que o custo do capital próprio seria o equivalente a 10%
a.a., pois se está deixando de aplicar recursos neste rendimento garantido para
arriscar no meu negócio. Segundo Gitman (2002) o capital próprio é representado
no Balanço Patrimonial pelo Patrimônio Líquido, no qual ficam concentrados os
valores das ações, capital ordinário, e lucros retidos.

Já o capital de terceiros, pode ser representado pelo passivo exigível a longo


prazo, no qual se concentram as dívidas da empresa com terceiros que financiam
a operação da companhia, como empréstimos para capital de giro, por exemplo. A
figura a seguir ilustra como podemos identificar a estrutura de capital da empresa
no Balanço Patrimonial.

Figura 9 – Estrutura de Capital da empresa

Balanço patrimonial

Passivo circulante Capital


de dívida
(emprestado
Exigível de longo prazo de terceiros)

Estrutura
Ativo
Patrimônio líquido de capital
Ações preferenciais Patrimônio total
líquido (capital
Capital ordinário
próprio)
Ações ordináriais
Lucros retidos

Fonte: Gitman (2002, p. 445).

65
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

A alavancagem de uma empresa, como corroboram Gitman (2002) e Antonik


(2016), são importantes indicadores a serem verificados no momento de se discutir
a estrutura de capital de uma empresa, existem três tipos básicos de alavancagem:

• Alavancagem operacional: refere-se à utilização de custos fixos para


compor as vendas, de modo que estes possam aumentar a lucratividade
da empresa.
• Alavancagem financeira: refere-se à relação de financiamento através
do uso de capital de terceiros, para aumentar a lucratividade da empresa.
• Alavancagem total: é a conjugação dos dois tipos de alavancagem
acima elencadas, que pode a aumentar o retorno do capital investido
para o proprietário da companhia.

Neste capítulo, nós vamos detalhar cada um dos tipos de alavancagem


mencionadas, mas antes, vamos entender o conceito de ponto de equilíbrio, para
facilitar a compreensão destes.

Análise do Ponto de EquilíBrio


Assim, segundo A análise do ponto de equilíbrio, segundo Gitman (2002), também
Gitman (2002, pode ser denominada análise de custo-volume-lucro. Isto porque ela é
p. 434), o ponto utilizada para identificar o nível de operações necessárias para pagar
de equilíbrio todo o custo operacional da empresa e averiguar o retorno obtido
operacional com determinados níveis de venda. Assim, segundo Gitman (2002, p.
“consiste no nível de
434), o ponto de equilíbrio operacional “consiste no nível de vendas
vendas necessário
para cobrir todos os necessário para cobrir todos os custos operacionais. Neste ponto, o
custos operacionais. lucro antes dos juros e imposto de renda é igual a R$ 0,00.

Quadro 12 – Alavancagem total

Receita de Operacional líquida


(-) custo da mercadoria vendida
Alavancagem (=) lucro bruto
Operacional (-) despesas operacionais
(=) lucro antes dos juros e do imposto de Alavancagem
renda e da contribuição social (LAJIR) Total
(-) despesas financeiras
(=) lucro antes do imposto de renda e da
Alavancagem contribuição social
Financeira (-) imposto de renda e contribuição social
(=) lucro após o imposto de renda e a con-
tribuição social
Fonte: Adaptado de Antonik (2016, p. 93).

66
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

Segundo Antonik (2016), para calcular o ponto de equilíbrio, é necessário


que façamos uma decomposição dos custos fixos e variáveis da empresa. O
custo fixo é aquele que ocorre em função do tempo e não guardam diretamente
uma proporção com as vendas. Assim, independente de haver ou não vendas,
estes custos são incorridos, como aluguel das instalações, despesas de salários
da área administrativa etc. Já os custos variáveis decorrem das vendas, como
comissão de vendedores, matéria-prima etc.

O Quadro 11 trouxe um resumo de uma DRE com os componentes da


alavancagem total (operacional e financeira). Quando tratamos de ponto de equilíbrio
operacional, temos um enfoque na alavancagem operacional, e vamos, agora,
representá-la algebricamente, para que você possa compreender como é calculada.

Então, segundo Gitman (2002), transformando os componentes do Quadro


11 de forma algébrica temos as seguintes variáveis:

P = Preço unitário de venda;


Q = Número de unidades vendidas;
CF = Custo operacional fixo por período;
CV = Custo operacional variável por período.

Assim, para obtermos uma fórmula para determinar o lucro operacional (lucro
antes de juros e imposto de renda) temos a seguinte equação:

Lucro Operacional = (P X Q) – CF – (CV XQ)


De forma simplificada a equação pode ser resumida em:
Lucro Operacional = Q X (P – CV) - CF

Se o ponto de equilíbrio ocorre a partir do momento em que o lucro operacional


da empresa se iguala a zero, podemos então determinar a quantidade mínima
necessária de produtos a serem vendidos para atingirmos o ponto de equilíbrio.
Deste modo, de acordo com Gitman (2002), a fórmula para o ponto de equilíbrio
é a seguinte:

CF
Q=
P - CV

Onde a quantidade “Q” passa a ser o ponto de equilíbrio da empresa.

Para melhor compreender, vamos nos utilizar de um exemplo trazido por


Gitman (2002), de uma pequena loja de pôster, a qual possui R$ 2.500,00 de custo
fixo e vende cada unidade a R$ 10,00 e seu custo operacional variável é R$ 5,00
por unidade vendida. Assim, temos o seguinte ponto de equilíbrio para a loja citada.

67
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

CF R$ 2.500,00
Q = = = 500 unidades
P - CV R$ 10 - 5

Figura 9 – Alavancagem operacional, custos e análise de ponte de equilíbrio

Representação
Item algébrica

Receita de vendas (P x Q)
Menos: custos operacionais fixos - CF
Alavancagem operacional Menos: custos operacionais variáveis - (CV X Q)
Lucro antes de juros e imposto de renda Laji

Fonte: Gitman (2002, p. 435).

Assim, se quisermos ter uma melhor visualização do ponto de equilíbrio da


nossa empresa de pôsteres, poderemos então representar as variáveis acima
através de um gráfico.

Pelo gráfico, podemos verificar que as linhas de receita de vendas e


custo operacional total se cruzam em 500 unidades de vendas, este ponto de
cruzamento é o ponto de equilíbrio operacional, e a partir deste momento a
empresa passa a cobrir todas as suas despesas operacionais e fornecer um lucro
operacional e essa relação segue crescente, veja que para a venda de 1.000
unidades, eu possuo um custo de aproximadamente R$ 7.500,00 e uma receita
de R$ 10.000,00.

Figura 10 – Análise do ponto de equilíbrio operacional

Fonte: (Gitman 2004, p. 436).

68
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

O ponto de equilíbrio é sensível, além da quantidade de produtos vendidos,


a variações no custo operacional fixo, ao preço de venda por unidade e ao custo
operacional variável por unidade.

O Quadro 13 sintetiza cada os efeitos do aumento das variáveis que


compõem a fórmula do cálculo do ponto de equilíbrio. O efeito da diminuição das
variáveis seria o inverso do exemplificado no referido quadro.

Quadro 13 – Sensibilidade do ponto de equilíbrio operacional


a aumento das variáveis fundamentais

Efeito sobre o ponto de equilíbrio


Aumento da variável
operacional
Custo operacional Fixo (CF) Aumento
Preço de venda por unidade (P) Redução
Custo operacional variável por unidade
Aumento
(CV)
Fonte: Gitman (2002, p. 437).

Atividades de Estudos:

1) Verifique o efeito do ponto de equilíbrio, simulando as seguintes


variáveis da nossa loja de pôsteres:

a) Custo fixo de R$ 2.500,00, preço de venda por unidade de R$


12,50 e custo variável por unidade de R$ 5,00.
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b) Custo fixo de R$ 2.500,00, preço de venda por unidade de R$


10,00 e custo variável por unidade de R$ 7,50.
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69
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

c) Custo fixo de R$ 3.000,00, preço de venda por unidade de R$


12,50 e custo variável por unidade de R$ 7,50.
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Alavancagem Operacional
Segundo Gitman (2002), a alavancagem operacional ocorre quando temos
custos fixos presentes na estrutura de resultados da empresa. Isto significa
dizer que quando temos a possibilidade de utilizar custos fixos para aumentar
a rentabilidade do LAJIR da empresa, temos demonstrada a existência de uma
alavancagem operacional. Segundo Gitman (2002, p. 437) “podemos
“Podemos definir definir alavancagem operacional como a possibilidade de uso dos
alavancagem
custos operacionais fixos para ampliar os efeitos de variações de
operacional como
a possibilidade de vendas sobre o lucro da empresa antes de juros e imposto de renda
uso dos custos (LAJIR)”.
operacionais fixos
para ampliar os Para termos uma melhor compreensão da alavancagem
efeitos de variações operacional, nada melhor do que nos utilizarmos de um exemplo.
de vendas sobre o
Para facilitar, vamos recorrer ao exemplo da nossa loja de pôsteres,
lucro da empresa
antes de juros e já mencionada por Gitman (2002). Lembrando então das premissas
imposto de renda iniciais da nossa loja: Preço de venda (P) = R$ 10,00; Custo
(LAJIR)”. operacional variável (CV) = R$ 5,00 por unidade; Custo operacional
fixo (CF) = R$ 2.500,00. Com este conjunto de variáveis, a figura a
seguir (gráfico da alavancagem operacional) demonstra que para uma quantidade
de 1.000 unidades vendidas, nós conseguimos um LAJIR de R$ 2.500,00 e
para uma quantidade de 1.500,00 unidades, este LAJIR cresce 100%, ou seja,
passa a ser de R$ 5.000,00. A utilização do gráfico é muito interessante, pois nos
proporciona a visualização de múltiplos cenários em único instrumento.

70
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

Figura 11 – Alavancagem operacional

Fonte: Gitman (2002, p. 438).

Assim, também podemos perceber que, se utilizarmos a base de É importante


1.000 unidades vendidas como parâmetro, haverá uma redução de 50% entender que a
de unidades vendidas, passando para 500 unidades, e chegaremos a alavancagem
um LAJIR de zero, ou seja, uma redução de 50% na quantidade de operacional atua
unidades vendidas diminui em 100% o LAJIR, enquanto que um nas duas direções,
permitindo tanto
aumento de 50% gera um LAJIR 100% maior. É importante entender
um aumento da
que a alavancagem operacional atua nas duas direções, permitindo rentabilidade quanto
tanto um aumento da rentabilidade quanto a sua diminuição. a sua diminuição.

Nosso conhecimento sobre cada tema evolui na medida em que


aumentamos nossa base de pesquisa. Com este intuito, verifique
o artigo Análise do Ponto de Equilíbrio e Alavancagem Operacional
como Ferramentas de Gestão - disponível nos anais do 2º Congresso
UFSC sobre Controladoria e Finanças de vendas. Este artigo revê a
teoria sobre o ponto de equilíbrio e alavancagem operacional e foco
no suporte à decisão que estas ferramentas de análise proporcionam,
como a continuidade ou a descontinuidade de produtos e impactos
resultantes da volatilidade do mercado. Acesse: <http://dvl.ccn.ufsc.
br/congresso/anais/2CCF/20080810175743.pdf>.

71
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Figura 12 – LAJIR em diversos níveis de venda

Fonte: Gitman (2002, p. 439).

Antonik (2016) ressalta a importância de o administrador financeiro manter


uma planilha com os custos fixos e variáveis sempre atualizada, pois pode ser uma
essencial ferramenta de decisão. Veja o exemplo no qual uma empresa possui
um custo fixo de R$ 20.000,00, os quais já estão sendo pagos na integralidade
pelas unidades produzidas atualmente, a um preço de R$ 8,00. O custo variável
corresponde a R$ 5,00. Esta operação fornece um lucro de R$ 15.000,00 para
empresa. Caso alguém faça uma oferta de adquirir 5.000 produtos dessa empresa,
mas com um desconto de 25%, ou seja, por um preço de R$ 6,00 a unidade.

O quadro a seguir demonstra, do ponto de vista financeiro, a viabilidade de


aceitar tal proposta.

Quadro 14 – Simulação de venda


Unidades vendidas (1) 5.000
Preço de venda unitário (2) R$ 6,00
Receita R$ 30.000,00
Custo fixo R$ 0,00
Custo variável unitário (3) R$ 5,00
Custo variável (1x3) ': R$ 25.000,00
LAJIR R$ 5.000,00

Fonte: Adaptado de Antonik (2016, p. 99).

72
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

É importante salientar que a ferramenta de simulação de venda baseada


na alavancagem operacional é apenas uma das variáveis a serem utilizadas no
momento de decisão deste tipo de operação de venda, fatores como política de
posicionamento de preço da empresa devem ser levados em consideração também.

Atividade de Estudos:

1) Considere a seguinte situação: uma empresa possui um custo fixo


de R$ 20.000,00, os quais já estão sendo pagos na integralidade
pelas unidades produzidas atualmente, a um preço de R$ 8,00.
O custo variável corresponde a R$ 5,00. Esta operação fornece
um lucro de R$ 15.000,00 para empresa. Caso alguém faça uma
oferta de adquirir 5.000 produtos dessa empresa, mas com um
desconto de 50%, ou seja, por um preço de R$ 4,00 a unidade,
qual o resultado poderia ser obtido?
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Grau de Alavancagem Operacional


Segundo Gitman (2002), o grau de alavancagem operacional (GAO) é
a representação numérica da alavancagem de uma empresa, um importante
indicador a ser monitorado pelos administradores financeiros. Para obter o GAO,
utilizamos a seguinte equação:

Variação Percentual do LAJIR


GAO =
Variação Percentual das Vendas

73
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Segundo Gitman (2002, p. 438), “sempre que a variação percentual do LAJIR


resultante de uma variação percentual nas vendas é maior do que a variação
percentual das vendas, ocorre alavancagem operacional”.

Assim, para os exemplos hipotéticos utilizados nas figuras 10 e 11, nos quais
houve variação na quantidade de produtos vendidos, temos o seguinte grau de
alavancagem.

+ 100%
Caso 1 – GAO = =2
+ 50%

- 100%
Caso 2 – GAO = =2
- 50%

Como temos um resultado maior que 1, fica evidente que tanto no caso 1,
quanto no caso 2, há uma importante alavancagem operacional.

Gitman (2002) traz uma fórmula mais direta para compreendermos e


calcularmos o GAO com maior facilidade, que seria a seguinte:

GAO no nível de Q X (P – CV)

referência Q = Q X (P – CV) - CF

Onde temos:

Q = Quantidade de produtos vendidos;


P = Preço do produto vendido;
CV = Custo variável por unidade vendida;
CF = Custo fixo.

Assim, usando os exemplos de Gitman (2002), no qual Q = 1.000; P = 10,00;


CV = R$ 5,00 e CF = R$ 2.500,00, temos a seguinte equação:

GAO no nível de 1.000 X (R$ 10,00 – R$ 5,00)


=2
referência 1.000 = 1.000 X (R$ 10,00 – R$ 5,00) – R$ 2.500,00

74
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

A empresa pode gerenciar o custo operacional jogando custos que são fixos
para variáveis e vice e versa. Por exemplo, se deixarmos de pagar um vendedor
apenas através de comissão e implantarmos um salário fixo com uma variável
perante as vendas, estamos deixando de ter um percentual do custo variável direto
sobre as vendas, e aumentando nosso custo fixo. O mesmo pode ocorrer em um
contrato de aluguel, o qual pode ser alterado para refletir um modelo híbrido, uma
parte fixa e uma parte variável conforme as vendas.

Gitman (2002) traz uma simulação, na qual a nossa empresa de pôsteres


resolve implementar um salário fixo para seus vendedores, em detrimento ao
salário variável que é praticado atualmente. Isto impacta numa redução R$ 0,50
no custo variável por unidade vendida e incorre num aumento de R$ 500,00 nos
custos fixos. Então passamos a ter:

Q = 1.000; P =10,00; CV = R$ 4,50 e CF = R$ 3.000,00.

Apesar das variações, o LAJIR continuou no mesmo patamar, R$ 2.500,00.


No entanto, averiguando o GAO, tivemos uma elevação de 10%, veja:

1.000 X (R$ 10,00 – R$ 4,50) R$ 5.500,00


GAO no nível de
= = 2,2
referência 1.000 = 1.000 X (R$ 10,00 – R$ 4,50) –
R$ 2.500,00
R$ 3.000,00

Isso demonstra que, quanto maior a quantidade de custos fixos


com relação a custos operacionais variáveis, maior será o grau de Isso demonstra
alavancagem operacional. Uma empresa com custos fixos elevados que, quanto maior
possui também um risco maior, haja vista que possuirá um grande a quantidade de
custos fixos com
número de contas a pagar independente de sua produção e venda. O
relação a custos
modelo de negócios deste tipo de empresa requer receitas recorrentes operacionais
e em grandes volumes. Custos fixos elevados também dificultam a variáveis, maior
empresa em momentos de sazonalidade de mercado ou em crises será o grau de
financeiras, pois a reestruturação pode ser custosa, como no caso de alavancagem
demissão de colaboradores, que, em geral, possuem um regime de operacional.
trabalho por tempo indeterminado, requerendo indenizações.

75
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Atividade de Estudos:

1) Vamos continuar explorando nosso comércio de pôsteres, mas


agora vamos supor que a decisão da empresa seja a de diminuir
o aluguel fixo, e passar a ter uma parcela do aluguel variável
conforme as vendas, isto diminuirá o custo fixo de R$ 2.500,00,
para R$ 1.500,00, e o custo variável passará a ser de R$ 6,00,
ante os R$ 5,00 praticados anteriormente. O preço do produto
continuará a R$ 10,00, com 1.000 unidades vendidas por período.
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Alavancagem Financeira
Assaf e Martins (1989 apud ANTONIK, 2016) afirmam que a alavancagem
financeira ocorre quando a empresa toma recursos de terceiros a um custo Z e
aplica estes recursos na empresa com um rendimento a uma taxa X. Claramente,
para esta operação ser vantajosa, Z deve ser menor que X, de uma forma
razoável. A diferença entre essas taxas se refletirá no patrimônio líquido da
empresa, aumentando-o ou diminuindo-o.

Gitman (2002, p. 440) afirma que “a alavancagem financeira resulta na


presença de custos financeiros fixos na estrutura de resultado da empresa”. Assim,
tomando capital de terceiros, a empresa alavanca seu resultado. Assim, para
aquelas empresas que se utilizam da tributação via lucro real, temos o abatimento
do custo de capital de terceiros da base de cálculo do lucro líquido, reduzindo
o valor de imposto de renda a pagar. Antonik (2016) afirma que para aquelas
empresas que utilizam lucro presumido, ou então optam pelo regime simplificado
de tributação, essa vantagem de alavancagem não se dá de forma tão direta.
Ainda assim, utilizar-se de recursos de terceiros pode ser uma vantagem pelo
escasso capital próprio, deixando-o disponível para outros investimentos.

76
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

Veja o apanhado que Ferreira Filho et al. (2010) traz sobre o uso de
fontes de recurso no momento de se criar um novo negócio. O artigo é
interessante, pois foca nas micro e pequenas empresas, principalmente
na questão da consciência do empreendedor em analisar e comparar
o custo e o retorno de cada tipo de capital aportado. Importante atentar
também para os dados relacionados ao acesso ao financiamento de
micro e pequenas empresas no Brasil. Boa leitura. Acesse: <http://www.
imb.go.gov.br/pub/conj/conj18/artigo07.pdf>.

Voltando às empresas que apuram seu resultado através do lucro real, é


importante compreendermos como a apuração do grau de alavancagem financeira
é realizada, para entendermos o seu efeito sobre o resultado da empresa.

Grau de Alavancagem Financeira


O grau de alavancagem pode ser calculado pela divisão da taxa de
remuneração de capital próprio (TRCP) pela taxa de remuneração do Ativo (TRA).

TRCP
GAF =
TRA

A taxa de remuneração do capital próprio pode ser entendida como o retorno


financeiro pelo qual os proprietários da empresa são remunerados pelo capital
integralizado na companhia, ele é medido dividindo-se a diferença entre o lucro
líquido e as despesas financeiras pelo patrimônio líquido. A taxa de remuneração do
ativo, ou retorno sobre o ativo total, mede como a empresa transforma seus ativos
em lucratividade, e sua forma de cálculo foi vista no Capítulo 2, e é o resultado da
divisão entre o lucro líquido e o ativo total. Assim, para melhor exemplificar, temos:

Lucro líquido – Despesas Financeiras


TRCP =
Patrimônio Líquido

Lucro Líquido
TRA =
Ativo Total

Vamos agora nos apropriar de um caso apresentado por Antonik (2016),


para melhor exemplificar a alavancagem financeira.

77
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Suponha que a empresa fictícia SKF gerou um lucro líquido de R$ 160.000,00


através de seus ativos que somam um total de R$ 1.000.000,00. Numa primeira
hipótese, imaginemos que ela tenha obtido este lucro no ano de 2017 sem utilizar-
se de nenhum capital de terceiros, e nenhuma outra dívida há no passivo desta
companhia, portanto, o seu patrimônio líquido é também de R$ 1.000.000,00.
Lembrando que este caso é hipotético, apenas para compreendermos a teoria.

R$ 160.000,00 – R$ 0, 00 (L.L. – D.F.)


TRCP= = 16%
R$ 1.000.000,00 (P.L.)

R$ 160.000,00 (L.L.)
TRA = 16%
R$ 1.000.000,00 (A.T.)

Como podemos ver, se aplicarmos a fórmula do grau de alavancagem


financeira, teremos uma alavancagem financeira nula.

TRCP 16%
GAF = = = 1
TRA 16%

Contudo, se a empresa toma um empréstimo de R$ 600.000,00, ou seja, 60%


do seu ativo é financiado por terceiros, ou seja, a empresa possui um passivo total
e R$ 600.000,00. Este financiamento possui um custo médio de capital na ordem
de R$ 13% ao ano, ou seja, ele custa para empresa R$ 78.000,00. Agora, vamos
realizar um novo cálculo e verificar o grau de alavancagem financeira da companhia.

R$ 160.000,00 – R$ 78.000, 00 (L.L. – D.F.)


TRCP= = 20,57%
R$ 1.000.000,00 (P.L.)

R$ 160.000,00 (L.L.)
TRA = 16%
R$ 1.000.000,00 (A.T.)

Já verificamos que a taxa de remuneração do capital próprio foi maior,


resultado da alavancagem financeira, mas agora vamos saber qual é o grau desta
alavancagem financeira.

TRCP 20,5%
GAF = = = 1,28 ou 28 %
TRA 16%

78
Capítulo 3 ALAVANCAGEM FINANCEIRA E OPERACIONAL

Isto significa dizer que, na situação anterior, na qual não havia nenhuma
alavancagem financeira, os proprietários da empresa possuíam um retorno de
R$ 16% sobre o seu capital próprio, que era de R$ 1.000.000,00. Agora, com a
alavancagem, os proprietários investem menos (R$ 400.000,00) e obtém um retorno
maior R$ 20,5%. Assim, ainda restam R$ 600.000,00 na conta dos proprietários
para serem utilizados em outros projetos ou investimentos financeiros.

Atividade de Estudos:

1) Como vimos anteriormente, empresas que não utilizam o regime


tributário do Lucro Real não possuem a mesma vantagem direta
em alavancar seu negócio financeiramente. Por quê?
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Alavancagem Total
Gitman (2002) afirma que a alavancagem total é um reflexo da alavancagem
operacional e financeira, ou seja, a alavancagem total é uma combinação dos
dois tipos de alavancagem. Assim, se a empresa possui um grau elevado de
alavancagem operacional e financeira, também terá um alto grau de alavancagem
total, isto também ocorre no inverso, se os graus de alavancagem financeira e
operacional forem baixos, a alavancagem total também será baixa.

Assim, vejamos, se numa mesma empresa possuímos um grau de


alavancagem operacional de 2,2 e um grau de alavancagem financeira de 1,28, por
exemplo, a empresa terá um grau de alavancagem total de 2,86. Para chegarmos a
esse resultado, utilizamos a fórmula do grau de alavancagem total (GAT).

GAT = GAO X GAF

A alavancagem total é um indicador importante de como a empresa se financia


para poder realizar suas operações. Uma empresa muito alavancada, possui
um risco elevado, e deve apresentar um retorno atraente para o proprietário ou
investidores, uma vez que o seu capital para honrar os compromissos assumidos

79
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

pode não estar no caixa da empresa, ou, se está no caixa, possui um passivo a
ser quitado com terceiros.

Algumas ConsideraçÕes
Neste capítulo, começamos a conhecer ferramentas importantes no
planejamento da concepção da estrutura de capital da empresa. Iniciamos
compreendendo o que é estrutura de capital da empresa, e onde localizar
a estrutura de capital próprio e de terceiros nas demonstrações contábeis,
especificamente o balanço patrimonial.

Uma vez identificada esta estrutura, passamos a discutir a existência do


custo de capital próprio, que mais à frente neste mesmo capítulo foi retomada
para comparar com o custo do capital de terceiros.

Começamos nossas abordagens sobre alavancagem discutindo o ponto de


equilíbrio, para entender qual a quantidade mínima de mercadorias vendidas que
iguala o lucro antes dos impostos a zero, ou seja, uma quantidade de mercadorias
vendidas que sustenta o dia a dia da empresa, sem ofertar retorno algum ao
proprietário. Passamos então para o grau de alavancagem operacional, o qual
identifica a partir de um indicador numérico, o quanto a empresa está se alavancando
com base nas vendas realizadas, e percebemos que este grau de alavancagem
possui uma relação direta com a variação dos custos fixos e variáveis da empresa.

O segundo tipo de alavancagem que exploramos foi a alavancagem financeira,


que se utiliza do capital de terceiros para majorar o retorno aos proprietários da
empresa, e seu grau de alavancagem reflete o impacto do financiamento no lucro
líquido da companhia.

Por fim, trabalhamos o conceito de alavancagem total, o qual reflete a


conjugação da alavancagem financeira e operacional da empresa.

No próximo capítulo vamos explorar a construção e a administração de fluxo


de caixa voltado a pequenas empresas, passando por estudos de viabilidade
econômico-financeira.

ReFerÊncias
ANTONIK, L.R. Empreendedorismo: gestão financeira para micro e pequenas
empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

GITMAN, L.J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São Paulo: Har-


bra, 2002.

80
C APÍTULO 4
Fluxo de Caixa Para Pequenos
Negócios

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Nomear as etapas de construção de um fluxo de caixa.

 Conhecer os indicadores financeiros de viabilidade de um fluxo de caixa, como


Valor Presente Líquido, Taxa Interna de Retorno e Payback.

 Esquematizar um fluxo de caixa de um projeto ou negócio.

 Analisar a viabilidade econômico-financeira de um projeto ou negócio.


PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

82
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

ContextualiZação
Vamos começar contextualizando este capítulo com uma afirmação de Gitman
(2002, p. 84): “o fluxo de caixa, o sangue da empresa, é o tema de preocupação
básica do administrador financeiro”. Esta afirmação tem um impacto forte na
expressão: “o sangue da empresa”. No corpo humano, o sangue leva nutrientes,
células de defesa, oxigênio e outros elementos essenciais para a sobrevivência.
Assim, na empresa, o fluxo de caixa afeta toda a organização. Por mais que a
empresa possua um balanço lucrativo, se a equação do fluxo de caixa não estiver
bem resolvida, a empresa acaba deixando de operar, entrando em falência em
seus vários órgãos; a produção para, sem produção as vendas deixam de ocorrer,
sem vendas o capital de giro falta, os salários atrasam, os credores acionam a
empresa na justiça e aí o processo de quebra já está em andamento.

O fluxo de caixa se faz importante para os pequenos negócios devido ao


acompanhamento do funcionamento do dia a dia da empresa. Controlar as
entradas e saídas de caixa é fundamental para monitorar a liquidez da empresa,
a sua capacidade de honrar compromissos firmados e se redirecionar em caso de
alguma eventualidade. Existe um equilíbrio entre aquisição de ativos, compra de
matérias-primas, capacidade de produção, vendas e recebimento destas, para que
a empresa não tenha um mal funcionamento, que é identificado sobretudo no caixa.

Outro aspecto que requer muita atenção dos administradores financeiros


são as projeções de fluxos de caixa. Estas são utilizadas para o planejamento
da companhia como um todo ou para um projeto específico, e a partir destas
projeções é que são verificados indicadores de viabilidade e rentabilidade do
negócio ou projeto.

Neste capítulo, vamos compreender aspectos do fluxo de caixa operacional


e do fluxo de caixa livre, suas etapas de construção e apresentação, assim
como iremos nos concentrar em indicadores de viabilidade econômico-
financeira de projetos.

Fluxos de Caixa da Empresa


Se representarmos um fluxo de caixa esquematicamente, podemos verificar
a sua complexa dinâmica. A Figura 14 tem justamente esse objetivo, ilustrar de
forma esquemática as suas diversas entradas e saídas. Gitman (2002) observa
que os saldos de caixa e as aplicações financeiras de curto prazo, dado a liquidez
deste último, devem ser considerados equivalentes para fins de computo das
reservas de liquidez de uma empresa. Assim, existem três grandes divisões
quanto aos fluxos de caixa de uma empresa:

83
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

• Fluxos Operacionais: são estradas e saídas que estão relacionadas à


produção de bens e serviços e à venda destes.
• Fluxos de Investimento: estes fluxos estão relacionados à compra e à
venda de ativos imobilizados, assim como em participação da empresa
em outras companhias.
• Fluxos de Financiamento: referem-se às operações de captação de
financiamentos ou capital próprio.

Quando combinados, esses três tipos de fluxo de caixa afetam os saldos de


caixa de uma companhia em determinado momento.

O quadro a seguir aponta exemplos de classificações das entradas de caixa,


que serão as fontes de recursos, e das saídas, aplicações dos recursos.

Quadro 15 – Entradas e saídas de caixa

Entradas (fontes) Saída (aplicações)


- Redução de qualquer ativo
- Aumento de qualquer passivo - Aumento de qualquer ativo
- Redução de qualquer passivo
- Lucro líquido depois do imposto de
renda - Prejuízo líquido

- Depreciação e outras despesas não - Pagamento de dividendos


desembolsadas
- Recompra ou cancelamento de ações
- Venda de ações

Fonte: Gitman (2002, p. 87).

Se você possui um mercado de bairro, e o seu saldo de contas a pagar


aumentasse R$ 1.000,00, devido a prazo concedido na aquisição de matérias-
primas, por exemplo, durante um ano, podemos considerar que houve uma
entrada de caixa, uma vez que houve o aumento do passivo, dívida, e você
não pagou/desembolsou recursos, mas adquiriu um item do ativo. Se o estoque
de produtos disponíveis para a venda desta empresa subisse R$ 2.500,00, a
variação seria equivalente a uma saída de caixa, uma vez que recursos estão
sendo aplicados, imobilizados neste ativo, está ocorrendo um aumento do ativo.

Importante salientar que estamos falando em regime de caixa, e não de


competência, e como vimos no Capítulo 2, um elemento que permite a construção
do demonstrativo do fluxo de caixa são as diferenças entre o regime de caixa e
a competência, assim, se temos um recurso que entra no ativo pelo regime de
competência, como uma dívida a ser paga, desembolsada lá na frente, temos

84
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

um saldo de caixa positivo, e se temos uma saída de recursos para aumentar um


ativo, temos uma saída de caixa. Um exemplo, para ser mais claro: digamos que
você tem R$ 10.000,00 para fazer uma viagem, do qual R$ 5.000,00 são para
passagens aéreas e hospedagem, R$ 3.000,00 para alimentação e R$ 2.000,00
para compras. Se você resolve parcelar a hospedagem e a passagem aérea em
10x sem juros, você tem um valor de R$ 5.000,00 como uma entrada de caixa, a
qual você poderá utilizar para aumentar a sua cota de compras ou fazer refeições
em restaurantes melhores, por exemplo. Quando você utiliza os R$ 2.000,00 para
comprar um smartphone à vista, por exemplo, você está aumentando seu ativo,
mas está tendo uma saída de caixa.

Figura 13 – Fluxos de Caixa da Empresa


(1) Fluxos operacionais (2) Fluxos de investimentos
Pagamento
provisionado
Mão-de-obra Salários

Pagamento
de compras Compras
Matérias- Contas a crédito
Vendas Ativo Fixo
primas a pagar

Depreciação

Produto Despesas
em processo Participação
gerais

Produto
Compras
acabado
Vendas

Despesas
operacionais Caixa
(incluindo e títulos
depreciação e juros) negociáveis (3) Fluxos de financiamento

Empréstimo
Pagamento Exigível
Restituição (curto e
Imposto de renda
longo prazo)
Restituição

Vendas à vista Venda de ações


Vendas
Recompra de ações
Patrimônio
Pagamento de dividendos em dinheiro

Contas a receber Cobrança de vendas a crédito

Fonte: Gitman (2002, p. 87).

Antonik (2016) e Gitman (2002) fazem algumas observações importantes na


montagem do fluxo de caixa, as quais elencamos a seguir:

85
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

• A redução do saldo de um ativo não circulante, é uma entrada de caixa, pois


o recurso que estava preso a este ativo é liberado para outra finalidade.
Já, por outro lado, o aumento de um ativo não circulante é uma saída de
caixa, uma vez que um volume maior de recursos está se prendendo a
este. Perceba que a conta caixa é um ativo, mas quando tratamos de fluxo
de caixa, temos que a considerar em separado, como o esquema da figura
anterior, pois é nesta conta em que entram e saem os recursos.
• A depreciação é uma despesa que não ocorre de fato, pois não é
desembolsada. Contudo, ela permite uma dedução da base de cálculo
para fins de tributação do imposto de renda, devendo ser adicionada
ao lucro líquido para gerar o fluxo de caixa gerado pelas operações da
companhia. Perceba então, que uma empresa pode ter prejuízo líquido,
mas pode ter um fluxo de caixa positivo das operações, quando a
depreciação, por exemplo, supera o prejuízo líquido do período.
• Na elaboração do fluxo de caixa deve-se estar atento para incluir apenas
as variações brutas dos ativos permanentes, e não as líquidas, uma vez
que a depreciação é tratada como uma entrada de caixa em separado, e
procedendo desta maneira, evita-se uma contagem dupla deste item.

Atividade de Estudos:

1) Em 2017, a Empresa Copy & Paste Soluções gráficas teve um


aumento no seu ativo permanente de R$ 10.000,00 e seu saldo
de contas a pagar aumentou R$ 2.000,00. Podemos afirmar que,
na demonstração de fluxo de caixa houve:

a) Uma saída de caixa de R$ 12.000,00;


b) Uma entrada de caixa de R$ 10.000,00;
c) Uma saída de caixa de R$ 8.000,00;
d) Uma entrada de caixa de R$ 2.000,00.

86
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Fluxo de Caixa Operacional (0,5 Pg)


Segundo Gitman (2002), o Fluxo de Caixa Operacional (FCO) é
O autor destaca
aquele gerado pelas atividades operacionais, como venda de produtos que existem
ou prestação de serviços, de uma companhia. O autor destaca que diversas formas de
existem diversas formas de representar o fluxo de caixa operacional representar o fluxo
das empresas, e somarmos o lucro líquido depois do Imposto de de caixa operacional
Renda à depreciação é uma delas. das empresas, e
somarmos o lucro
líquido depois do
FCO = Lajir – Imposto de Renda + Depreciação Imposto de Renda à
depreciação é uma
Se buscarmos no Quadro 16 (DRE da Niw Produtos Florestais delas.
Ltda.), poderemos calcular o fluxo operacional da companhia, aplicando
a fórmula anterior.

FCO = R$ 8.442,28 – R$ 1.266,34 + R$ 7.850,84 = R$ 16.293,12

Quadro 16 – DRE NIW Produtos Florestais Ltda.


NIW Produtos Florestais Ltda.
DREl, 31 de dezembro de 2012 (R$)
2012
Receita operacional líquida R$ 257.772,46
Custo da mercadoria vendida R$ 149.508,03
Margem Bruta R$ 108.264,43
Salários e benefícios R$ 58.464,25
Despesas de comercialização R$ 16.994,70
Outras despesas R$ 12.098,76
Despesas operacionais R$ 87.557,72
Depreciação R$ 7.850,84
Total das despesas operacionais R$ 95.408,56
Lucro operacional R$ 12.855,87
Despesas financeiras R$ 4.413,59
Lucro líquido Antes do IR (LAJIR) R$ 8.442,28
Imposto de Renda R$ 1.266,34
Lucro Líquido depois do IR R$ 7.175,94
Fonte: Adaptado de Tracy (2007 apud ANTONIK, 2016, p. 114).

Assim, podemos afirmar que a operação da NIW Produtos florestais Ltda.


gerou um fluxo de caixa de R$ R$ 16.293,12.

87
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Fluxo de Caixa Livre


O fluxo de caixa livre representa o montante de capital com
O fluxo de caixa
liquidez imediata, que pode ser destinado aos fornecedores de capital
livre representa
o montante de da empresa, ou seja aos proprietários, que forneceram capital próprio,
capital com liquidez e aos credores de financiamento, que forneceram capital de terceiros.
imediata, que pode Este montante de capital está disponível, segundo Gitman (2002,
ser destinado p. 91), “após a cobertura de todas as necessidades operacionais e
aos fornecedores o pagamento de investimentos em ativos permanentes e ativos
de capital da
circulantes da empresa”. Assim, o Fluxo de Caixa Livre (FCL) pode ser
empresa, ou seja
aos proprietários, calculado pela seguinte equação:
que forneceram
capital próprio, e FCL = FCO – Investimentos em ativos permanentes líquidos
aos credores de (IAPL) – Investimentos em ativos circulantes líquidos (IACL).
financiamento, que
forneceram capital
O investimento em ativos permanentes líquidos é calculado pela
de terceiros.
variação em ativos permanentes líquidos + a depreciação.

Quadro 17 – Balanço Patrimonial Niw Produtos Florestais Ltda.

NIW Produtos Florestais Ltda.


Balanço Patrimonial, 31 de dezembro de 2012 (R$)
2011 2012 Diferenças
Caixa R$ 30.695,41 R$ 51.550,75 R$ 20.855,34
Duplicatas a receber R$ 12.024,27 R$ 13.131,95 R$ 1.107,68
Estoques R$ 19.870,70 R$22.124,45 R$ 2.208,30
Despesas pré-pagas R$ 5.757,28 R$ 5.404,68 -R$ 352,60
Total dos ativos correntes R$ 67.767,78 R$92.211,83
Imobilizado R$ 68.367,17 R$ 79.121,80 R$ 10.754,63
Depreciação acumulada -R$ 14.782,44 -R$ 22.633,27 -R$ 7.850,84
Imobilizado líquido R$ 53.584,73 R$ 56.488,53
Total dos ativos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35

Passivo
Contas a pagar R$ 25.282,44 R$ 23.074,14 -R$ 2.208,30
Despesas provisionadas R$ 5.943,95 R$ 7.199,03 R$ 1.255,08
Empréstimos de curto prazo R$ 8.826,13 R$ 17.652,25 R$ 8.826,13
Total dos passivos correntes R$ 40.052,52 R$ 47.925,42
Empréstimos de longo prazo R$ 26.478,38 R$ 35.304,50 R$ 8.826,13
Capital social R$ 44.130,63 R$46.337,16 R$ 2.206,53
Lucros retidos R$ 10.691,00 R$ 19.133,27 R$ 8.442,28
Patrimônio Líquido R$ 54.821,62 R$ 65.470,43
Total dos passivos R$ 121.352,52 R$ 148.700,35
Fonte: Tracy (2007 apud ANTONIK 2016, p. 119).

88
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

No caso da empresa NIW Produtos Florestais Ltda., em ativos permanentes


líquidos, temos uma variação do ano de 2011 para 2012 de R$ 2.903,80 (R$
53.584,73 – R$ 56.488,53) e uma depreciação acumulada em 2012 de R$
7.850,84. Assim, temos que os investimentos em ativos permanentes líquidos
foram de R$ 10.754,63 ou:

IAPL = R$ 2.903.80 + 7.850,84 = R$ 10.754,63

Gitman (2002) faz uma importante ressalva, afirmando que caso essa
variação aponte um resultado negativo, significa então que temos uma entrada de
caixa, uma vez que a empresa vendeu mais ativos permanentes do que acumulou
neste mesmo período.

Quanto ao investimento em ativo circulante líquido (IACL), este é calculado


pela diferença das variações de ativos circulantes e passivos circulantes
espontâneos. Por passivo circulante espontâneo, entende-se a soma das contas
a pagar (fornecedores) com demais despesas a pagar, mas é importante ressaltar,
que os financiamentos de curto prazo não fazem parte desta equação, uma vez
que eles representam um dos grupos de financiadores que possuem direitos sobre
o fluxo de caixa livre (FCL), como comentamos no início deste tópico. Assim, a
equação do IACL é a seguinte:

IACL = Variação de ativos circulantes – Variação dos passivos circulantes


(Contas a pagar “fornecedores” + Despesas a pagar).

Analisando o balanço da Niw Produtos Florestais Ltda., percebemos que


houve uma variação de ativos circulantes (correntes) no valor de R$ 24.444,05
(R$ 92.211,83 – R$ 67.767,78) e uma variação negativa de R$ 953,22 na variação
dos passivos circulantes espontâneos - contas a pagar e despesas provisionadas
[(23.074,14 + 7.199,03) - (R$ 25.282,44 +5.943,95)], assim temos um IACL de R$
25.397.27, ou seja:

IACL = R$ 24.444,05 – (-R$ 953,22) = R$ 25.397.27

Assim, para calcularmos o FCL:

R$ 16.293,12 – R$ 10.754,63 – R$ 25.397,27 = - R$ 19.858,80.

Assim, podemos afirmar que a NIW Produtos Florestais gerou um caixa livre
negativo para os acionistas no montante de - R$ 19.858,80. Esta saída de caixa
se deve ao alto valor investido em ativos circulantes líquidos: R$ 25.397.27.

89
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Atividade de Estudos:

1) Dado a DRE e balanço patrimonial da Companhia das Letras ABC,


de 31 de dezembro de 2017, calcule o fluxo de caixa operacional.

DRE da Companhia Letras ABC,


31 de Dezembro de 2017
Receita operacional líquida R$ 30.000.000,00
Custo da mercadoria vendida R$ 17.250.000,00
Margem bruta R$ 12.750.000,00
Salários e benefícios R$ 6.900.000,00
Despesas de comercialização R$ 1.955.000,00
Outras despesas R$ 1.380.000,00
Despesas Operacionais R$ 10.235.000,00
Depreciação R$ 908.500,00
Total das despesas operacionais R$ 11.143.500,00
Lucro Antes dos Juros e Imp. (LAJIR) R$ 1.606.500,00
Despesas Financeiras (juros) R$ 517.500,00
Imposto de Renda R$ 163.350,00
Lucro líquido do exercício R$ 925.650,00

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90
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Orçamento de Caixa
O orçamento de
O orçamento de caixa de uma empresa é um instrumento de caixa de uma
planejamento, segundo Gitman (2002), muito utilizado para prever as empresa é um
entradas e as saídas de caixa, utilizado para planejamento de curto instrumento de
prazo, mas que também pode ser utilizado como uma forma de estimar planejamento,
o valor de uma empresa e a sua viabilidade econômico-financeira. segundo Gitman
(2002), muito
utilizado para
Vamos, agora, abordar as etapas necessárias para a construção prever as entradas
de um orçamento de caixa, que são: mensuração da previsão de e as saídas de
vendas, preparação do orçamento de caixa e o cálculo do fluxo líquido caixa, utilizado
de caixa, saldo final, financiamentos e saldo excedente de caixa. para planejamento
de curto prazo,
mas que também
a) Previsão de vendas
pode ser utilizado
como uma forma
Segundo Gitman (2002) a previsão de vendas é um ingrediente de estimar o valor
básico do planejamento de caixa da empresa. Esta afirmação é muito de uma empresa
importante, pois é a partir de uma previsão de vendas bem realizada e a sua viabilidade
econômico-
que a empresa poderá estabelecer seu faturamento e sua necessidade
financeira.
de produção, por exemplo. A partir daí também é possível estabelecer
o nível de custos e despesas necessárias para operar a empresa. Quanto maior
for a fidelidade dos dados de vendas apurados, melhor será o orçamento de caixa
da companhia, e o proprietário terá uma maior certeza do resultado que poderá
ser apurado. Segundo Gitman (2002) é possível realizar uma previsão de vendas
baseada em dados externos, internos ou em uma combinação dos dois.

• Previsão interna: este tipo de previsão se baseia na experiência da equipe


interna de vendas da empresa, por exemplo, através de estimativas de
funcionários que lidam diariamente ofertando os produtos ou serviços
ao cliente. Estes colaboradores costumam ter uma boa percepção das
variações do mercado no curto prazo. Os dados colhidos da equipe de
vendas podem ser organizados e ajustados por um gerente que tenha uma
visão mais ampla do mercado de modo a torná-los mais confiáveis.

• Previsão externa: as previsões externas buscam comparar o histórico


de vendas da empresa com indicadores de atividade econômica, como o
Produto Interno Bruto, desenvolvimento do mercado imobiliário, índices
de empregabilidade, renda per capta, dentre outros. Gitman (2002) afirma
que o nível de vendas de uma empresa costuma guardar uma relação
estreita com o andamento da economia, assim se a previsão de atividade
econômica tende para um crescimento, as vendas da empresa tenderão
a seguir essa previsão, e o contrário também é verdadeiro.

91
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Com vistas a ajustar essas previsões, as empresas costumam combinar estes


dois tipos de previsões, pois, por vezes, elas podem ser conflitantes. Por exemplo,
mesmo que uma crise econômica esteja em andamento, com dados de PIB e
empregabilidade em baixa, algumas empresas podem ter um volume crescente de
vendas, pois cada empresa enxerga o momento de crise de um modo diferente,
algumas se destacam e acabam concentrando as vendas para consumidores
menos sujeitos aos efeitos da crise. Assim, a equipe interna da empresa, que
conhece bem o seu tipo de cliente, pode ajustar os dados da previsão externa.

b) Preparação do orçamento de caixa

Gitman (2002) afirma que o orçamento de caixa possui dois componentes


básicos, que são os recebimentos ou receitas previstas e os pagamentos
realizados. Contudo, cada recebimento pode ter origens diversas, assim como os
pagamentos, que costumam ser bem mais volumosos. Nós iremos explorar estes
dois componentes básicos com mais detalhes a seguir.

• Recebimentos: como comentamos, o recebimento pode ter origens


diversas, como:

- Vendas previstas: este montante de vendas é apenas uma linha de


caráter informativo, como comenta Gitman (2002), uma vez que ela serve
de base de cálculo para o percentual de vendas à vista, e o percentual de
vendas a prazo que serão recebidas nos períodos subsequentes.
- Vendas à vista: representam aquelas vendas realizadas e pagas dentro
do mesmo período.
- Recebimentos de contas a receber: neste montante temos uma entrada
de caixa referente às vendas a prazo, que entrarão no referido período.
- Outros recebimentos: são recebimentos de outras fontes distintas das
vendas realizadas pela empresa, pode ser uma receita financeira, a venda
de um ativo, o recebimento de algum crédito tributário etc.
- Total dos recebimentos: aqui temos uma conta que totaliza todas as
entradas de caixa do orçamento.

Vejamos no quadro a seguir um exemplo de como os recebimentos podem


ser demonstrados em um orçamento de caixa.

92
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Quadro 18 – Quadro de recebimentos projetados


Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Vendas Previstas R$ 100,00 R$ 200,00 R$ 400,00 R$ 300,00 R$ 200,00

Vendas à vista R$ 20,00 R$ 40,00 R$ 80,00 R$ 60,00 R$ 40,00


Recebimentos de contas R$ 50,00 R$ 130,00 R$ 260,00 R$ 270,00
a receber
Outros Recebimentos R$ 30,00
Total de Recebimentos R$ 120,00 R$ 290,00 R$ 610,00 R$ 620,00 R$ 540,00

Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 96).

Perceba que da venda realizada, apenas uma parte é recebida à vista, 20%,
50% recebido em um mês e 30% e 50% em dois meses.

• Pagamentos: os pagamentos representam saídas de caixa da empresa


e podem ser realizados para usos diversos, segundo Gitman (2002), os
mais recorrentes são:
- Compras: aqui são alocadas as compras realizadas em função dos
produtos fabricados ou serviços prestados, eles podem ter uma relação
proporcional com a vendas previstas, por exemplo. Na construção de um
fluxo de caixa, o valor das compras é segregado em compras à vista e
compras a prazo, e essa linha assume um caráter apenas informativo,
estando às compras efetivamente realizadas nas linhas correspondentes
às modalidades à vista e a prazo.
- Pagamento de aluguel: muitas das unidades de empresas são alugadas,
e não próprias, então a despesa de aluguel é um item de despesa
recorrente nos orçamentos de caixa das empresas.
- Salários e vencimentos: aqui entram os pagamentos previstos para
serem realizados em função da mão de obra da empresa, incluindo as
despesas de remuneração variável com as vendas.
- Pagamento de impostos: aqui entram todos os impostos que são pagos,
como encargos sobre remuneração, faturamento, imposto de renda etc.
- Gastos com ativos permanentes: são gastos realizados com
manutenção ou aquisição de ativo permanente.
- Pagamentos de juros: as despesas com financiamentos são segregadas,
para melhor apurar as despesas financeiras da empresa.
- Amortização de empréstimos: o valor da parcela referente ao principal
de um financiamento, ou seja, sem os juros, deve ser apresentada
separadamente.

O Quadro 19 traz um exemplo de como podem ser demonstrados os


pagamentos projetados em um orçamento de caixa.

93
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Quadro 19 – Quadro de pagamentos projetos


Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Compras R$ 70,00 R$ 140,00 R$ 280,00 R$ 210,00 R$ 140,00

Compras à vista R$ 7,00 R$ 14,00 R$ 28,00 R$ 21,00 R$ 14,00


Pagamento de fornecedores (a prazo) R$ 49,00 R$ 112,00 R$ 224,00 R$ 203,00
Pagamento de aluguel R$ 5,00 R$ 5,00 R$ 5,00
Salários e Vencimentos 48,00 38,00 28,00
Pagamento de impostos 10,00 20,00 44,80 33,80 22,80
Gastos com ativos permanentes 130,00
Pagamento de juros 10,00
Amortização de empréstimos 20,00
Total dos Pagamentos R$ 17,00 R$ 83,00 R$ 237,80 R$ 451,80 R$ 302,80

Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 97).

Perceba que, assim como os recebimentos, as compras são realizadas a


prazo, neste caso com o pagamento de 10% à vista, 70% em um mês e 20% em
dois meses.

c) Fluxo líquido de caixa, saldo final, financiamento ou saldo excedente

Os quadros anteriores alimentarão um orçamento de caixa sintético, o qual


resume as entradas e saídas de caixa de uma companhia, expondo o saldo de
caixa, quando positivo, ou a necessidade de financiamento, quando negativo.
Assim, ao subtrair o total de recebimentos dos pagamentos executados, temos
um fluxo líquido de caixa do período apurado. No entanto, precisamos lembrar
que, exceto se for o primeiro mês de operação, a empresa já possui um histórico
de caixa, e ele traz um saldo anterior, ao qual denominamos saldo inicial de caixa.
O fluxo líquido de caixa precisa somar esse saldo inicial para então obter o saldo
final de caixa. A empresa normalmente estipula um saldo mínimo de caixa para
cobrir eventualidades, este saldo mínimo precisa estar sempre disponível em
caixa, como uma espécie de fundo de reserva. Assim, do saldo final de caixa,
extraímos o valor correspondente ao saldo mínimo desejado pela empresa e
temos um resultado. Se este resultado for positivo, temos um saldo excedente
de caixa, que pode ser aplicado em títulos de curto prazo, se for negativo, existe
a necessidade de um financiamento de curto prazo. O quadro a seguir resume a
demonstração de um orçamento de caixa.

94
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Quadro 20 – Orçamento de caixa consolidado


Outubro Novembro Dezembro
Total de recebimentos R$ 210,00 R$ 320,00 R$ 340,00
Menos: total dos pagamentos R$ 213,00 R$ 418,00 R$ 305,00
Fluxo líquido de caixa -R$ 3,00 -R$ 98,00 R$ 35,00
Mais: saldo inicial de caixa R$ 50,00 R$ 47,00 -R$ 51,00
Saldo final de caixa R$ 47,00 -R$ 51,00 -R$ 16,00
Menos: Saldo mínimo de caixa R$ 25,00 R$ 25,00 R$ 25,00
Financiamentos exigido -R$ 76,00 -R$ 41,00
Saldo excedente de caixa R$ 22,00
Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 98).

Perceba que as informações de um período alimentam os períodos


subsequentes, como o saldo inicial de caixa, que é obtido através do saldo final
de caixa do período anterior.

Atividade de Estudos:

1) De toda elaboração de um orçamento de caixa, por que a previsão


de vendas é a etapa mais fundamental?
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95
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Valor do DinHeiro no Tempo


Quando trabalhamos com fluxo de caixa, nós distribuímos as entradas e
saídas de recursos conforme ocorrem, por um determinado período de tempo.
Estamos sempre trabalhando para aperfeiçoar o nosso ciclo de caixa, recebendo
valores à vista e postergando pagamentos. Além de melhorar nossa necessidade
de capital de giro, esse exercício também se baseia em um conceito que se
denomina em valor do dinheiro no tempo. Gitman (2002) afirma que os
administradores financeiros estão sempre se defrontando com oportunidades de
obter taxas de retorno favoráveis à empresa através de investimentos em projetos
ou mesmo em aplicações financeiras tradicionais como a renda fixa, por exemplo.
Quando analisadas estas oportunidades, é sempre levado em consideração que
um real hoje vale mais que um real a ser recebido em qualquer data futura. Isto
ocorre porque um real na sua mão na data de hoje é líquido e você pode aplicar
em qualquer oportunidade que aparecer. Já se você tiver a promessa de receber
um real daqui a dois dias você já perde as oportunidades de investimento que
estão disponíveis hoje e amanhã, além de não ter a certeza de que vai receber
e em quais condições o mercado estará quando receber. Digamos que você está
planejando comprar um carro. Você tem R$ 100.000,00 para receber daqui a duas
semanas. Hoje o valor do carro está R$ 90.000,00. Quando você receber esse
valor o carro sofrerá um reajuste de 10%. Será que valeria a pena pagar juros de
R$ 2.000,00 para adiantar esse valor em uma semana e comprar o carro no preço
atual? Se o uso desse recurso ia ser totalmente destinado para a aquisição do
veículo, em uma semana você teria o saldo de R$ 1.000,00. Se pagar os juros,
ainda te sobram R$ 8.000,00. Essa é uma situação bastante específica, mas ajuda
a compreender que o dinheiro hoje vale mais do que em qualquer data futura.

São basicamente dois conceitos que nos ajudam a compreender o impacto


do valor do dinheiro do tempo em fluxos de caixa empresariais: valor futuro e valor
presente.

O valor futuro é de mais fácil compreensão, pois muitos de nós já estamos


familiarizados com o conceito devido a nossas finanças pessoais. O valor futuro
nada mais é do que a quantia final de uma aplicação, ou série de aplicações,
capitalizada a uma determinada taxa de juros, a ser obtida em uma data futura.
Seria, por exemplo, o saldo final da sua aplicação financeira daqui a dez anos.

Já o valor presente é uma conta que não estamos habituados a fazer no


nosso dia a dia, e ele representa o valor atual de uma série de aplicações que
estão projetadas para acontecer em datas futuras. Como vimos, um real hoje
vale mais do que um real amanhã, portanto, para calcular o valor presente,
precisamos fazer uma capitalização inversa, descontando os valores futuros a
uma determinada taxa.

96
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Gitman (2002, p. 130) afirma que “as técnicas de valor futuro Gitman (2002, p.
medem os fluxos de caixa no final da vida de um projeto” e as 130) afirma que “as
técnicas de valor
técnicas de valor presente, no início (data zero)”.
futuro medem os
fluxos de caixa no
final da vida de
um projeto” e as
técnicas de valor
presente, no início
(data zero)”.

Figura 14 – Composição do Cálculo de Valor Futuro e Valor Presente

Valor composto

Valor
futuro

-$ 10.000 $ 3.000 $ 5.000 $ 4.000 $ 3.000 $ 2.000

0 1 2 3 4 5

Final do ano

Valor
presente

Desconto

Fonte: Gitman (2002, p. 131).

As oportunidades de investimento, sejam em projetos, sejam em aplicações


financeiras, possuem prazos distintos, assim como desembolsos e fluxo de
recebimentos variados. Para comparar o valor agregado ao seu investimento,
segundo Gitman (2002), você deve compará-los a valor presente, ou seja, quanto
este investimento vale na data zero.

Vamos aprofundar um pouco mais os conceitos de valor futuro e valor


presente para fixar melhor estes conceitos.

97
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Vamos entrar agora em conceitos de matemática financeira.


Se você não conhece ou recorda bem destes conceitos básicos,
acesse o link a seguir para revisar o conteúdo: <https://secure.upf.br/
pdf/2008IdoJoseSchneider.pdf>.

a) Valor futuro

Como você viu, valor futuro corresponde ao saldo final de uma aplicação,
de um investimento. Assim, utilizamos o conceito de juros compostos para
capitalizarmos um montante inicial (valor presente) em um determinado período, e
assim, obtermos o valor futuro. A fórmula do valor futuro é a seguinte:

VFn = VP x (1 + i)n

Onde:

VFn = Valor futuro no final do período n


VP = principal inicial ou valor presente
I = Taxa de juros por período (anual, mensal, diária etc.)
n = número de períodos (anos, meses, dias etc.)

Vamos supor que você faça uma aplicação de R$ 800,00 do seu saldo de
excedente de caixa do ano de 2017 em uma renda fixa que rende 6% ao ano. Em
cinco anos, qual seria o seu rendimento? Vamos calcular.

VF5 = R$ 800,00 x (1 + 0,06)5 = R$ 800 x (1,338) = R$ 1.070,40

Esquematicamente, podemos verificar o valor futuro da aplicação em 5 anos,


através da figura 17.

98
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Figura 15 – Cálculo do Valor Futuro

VF₅ = $ 1.070,40

VP= $ 800

0 1 2 3 4 5
Final do ano

Fonte: Gitman (2002, p. 132).

Atualmente, estas fórmulas são pouco utilizadas de forma manual, mas sim
através de planilhas eletrônicas, como o Microsoft Excel. Gitman (2002) ilustra
como o cálculo pode ser feito através desta ferramenta.

Figura 16 – Exemplo do cálculo de valor futuro em Planilha Eletrônica


A B
1 VALOR FUTURO DE UMA QUANTIA INDIVIDUAL
2 Valor presente $ 800
3 Taxa de juros, % ao ano composta anualmente 6%
4 Número de anos 5
5 Valor futuro $ 1.070,58
O conteúdo da célula B5 é = VF (B3,B4,0,-B2,0).
Um sinal negativo antecede B2 porque o valor presente é
uma saída de caixa (um depósito feito por Jane Farber).
Fonte: Gitman (2004, p. 136).

A Figura 17 ilustra os diversos valores futuros que podem ser obtidos ao


aplicarmos R$ 1,00 a diferentes taxas e períodos.

Figura 17 – Relação de valor futuro com as variáveis de períodos e taxas

Fonte: Gitman (2002, p. 137).

99
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Assim, como você pode ver na Figura 16, um valor de R$ 1,00 assume
diferentes valores futuros quando variamos as suas taxas e períodos de
capitalização.

Quando tratamos de administração financeira e investimentos, muitas vezes


temos depósitos periódicos e iguais, que renderão ao final de um período (n), um
determinado montante, que somado ao valor presente, nos dará o valor futuro. A
esse tipo de fluxo de caixa de investimento damos o nome de anuidades, apesar
de ela poder ser representada em períodos menores, como meses ou até mesmo
dias. Vamos utilizar a base anual para fixarmos o conceito. Vamos utilizar também,
para melhor compreensão, o conceito de anuidade ordinária, que é aquela
depositada ao final de cada ano, e que rende juros a partir do ano seguinte da sua
aplicação. Assim, para um período de 5 anos, o primeiro depósito rende quatro
anos de juros, do final do ano 1 até o final do ano 5, e o último não rende juros.

O cálculo do valor futuro de um fluxo de caixa de anuidades pode ser


identificado na Figura a seguir.

Figura 18 – Valor futuro de anuidades


$ 1.311
1.225
1.145
1.070
1.000
$ 5.751 Valor futuro
$ 1.000 $ 1.000 $ 1.000 $ 1.000 $ 1.000

0 1 2 3 4 5
Final do ano

Fonte: Gitman (2002, p. 138).

Você pode perceber claramente que é feito um cálculo separado de valor


futuro para cada anuidade e elas são somadas ao final para verificar o valor futuro
total. Assim, a fórmula do valor futuro total pode ser deduzida da seguinte forma.

VFAn = PMT X (FVFAi,n)

Onde:

VFAn = Valor Futuro para um período n


PMT = Montante depositado ao final de cada período
I = Taxa de juros para o período
n = Número do período

100
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

FVFAi,n = Fator de valor futuro da anuidade, que é calculado da seguinte


forma:
n
FVFA
= i,n ∑ (1 + i )
t =1
t −1

No qual o período (t), refere-se ao ano correspondente ao depósito efetuado.


Assim, o fator de valor futuro de uma anuidade corresponde ao somatório dos
fatores de valores futuros de cada anuidade, lembrando-se de que elas ocorrem no
final de cada período, por isso há o desconto de um período em cada fator (t – 1).

Para uma série de 5 depósitos anuais no valor de R$ 1.000,00 cada, a uma


taxa de juros de 7% ao ano, temos o seguinte cálculo:

VFAn = PMT X (FVFAi,n)


VFAn = R$ 1.000,00 X (1,311 + 1,225 +1,145 + 1,070 +1,000) = 5.750,74

Uma maneira mais eficiente de realizar este cálculo seria através de uma
planilha eletrônica, a qual podemos verificar exemplificada na Figura 19.

Figura 19 – Cálculo do valor futuro de uma anuidade em uma planilha eletrônica


A B
1 VALOR FUTURO DE UMA ANUIDADE ORDINÁRIA
2 Prestação anual $ 1.000
3 Taxa de juros, % ao ano composta anualmente 7%
4 Número de anos 5
5 Valor futuro de uma anuidade ordinária $ 5.750,74
O conteúdo da célula B5 é = VF (B3,B4,-B2).
Um sinal negativo antecede B2 porque o pagamento
anual é uma saída de caixa
Fonte: Gitman (2002, p. 142).

b) Valor presente

Gitman (2002, p. 137) afirma que o valor presente também conhecido como
desconto de fluxo de caixa, tem como objetivo responder pergunta: “se posso
obter i% aplicando meu dinheiro, qual é o máximo que estou disposto a pagar
agora pela oportunidade de receber VFn reais daqui a n períodos?”. Esse processo
é a lógica inversa de capitalização ou juros compostos, que vimos anteriormente,
no cálculo do valor futuro. Nós iremos descontar o fluxo de caixa a uma taxa (i),
que agora passa a ter o nome de taxa de desconto, ou outros sinônimos que você
verá na literatura, como custo de oportunidade, taxa mínima de atratividade, custo
de oportunidade e retorno exigido. A fórmula do valor presente é a seguinte:

101
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

VFn  1 
VP
= = VFn x  n 
(1 - i )
n
 (1 + i ) 

Onde:

VP = principal inicial ou valor presente


VFn = Valor futuro no final do período n
i = Taxa de juros por período (anual, mensal, diária etc.)
n = número de períodos (anos, meses, dias etc.)

Vamos exemplificar para facilitar a compreensão. Digamos que você receba


uma proposta para receber uma quantia de R$ 1.700,00 daqui a oito anos. O seu
custo de capital hoje é 8% ao ano. Quanto esse valor vale hoje? Para responder
a essa pergunta, precisamos aplicar a fórmula apresentada anteriormente para
descobrir o valor presente, e quanto será efetivamente o resultado desta operação.

R$ 1.700,00 R$ 1.700,00
VP = = = R$ 918,42
(1 + 0,08)8 1,851

Portanto, temos que o valor a receber de R$ 1.700,00, vale hoje, na verdade,


R$ 918,42. Isto porque você tem um custo de capital de 8% ao ano. Quando
trabalharmos a viabilidade econômico financeira, você compreenderá melhor este
conceito. Por hora cabe ressaltar que o valor de R$ 1.700,00 daqui a oito anos, a
um custo de capital de 8% ao ano, representa R$ 918,42 nos dias atuais, como
podemos verificar esquematicamente na Figura 20.

Figura 20 – Cálculo do valor presente


Final do ano
0 1 2 3 4 5 6 7 8

FV₈= $ 1.700

VP= $ 918,42

Fonte: Gitman (2002, p. 138).

O cálculo do valor presente também pode ser realizado através de planilhas


eletrônicas, e sua formatação básica pode ser verificada na Figura 21.

102
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Figura 21 – Exemplo de cálculo do valor presente em planilha eletrônica


A B
1 VALOR PRESENTE DE UMA QUANTIA INDIVIDUAL FUTURA
2 Valor futuro $ 1.700
3 Taxa de juros, % ao ano composta anualmente 8%
4 Número de anos 8
5 Valor presente $ 918,46
O conteúdo da célula B5 é = VF (B3,B4,0,B2).
Um sinal negativo antecede VP para transformar o valor
presente em uma quantia positiva.
Fonte: Gitman (2002, p. 139).

Assim como o valor futuro, o valor presente apresenta diferentes valores


quando descontadas a taxas distintas e em valores distintos, quanto maior o
custo de oportunidade, menores serão os valores presentes.

Figura 22 – Relação de valor presente com as variáveis de períodos e taxas

Fonte: Gitman (2002, p. 139).

Quando analisamos projetos de investimento, geralmente trabalhamos


com uma série de recebimentos futuros ao longo de algum número de períodos.
Gitman (2002) afirma que quando esta série de recebimentos possui o mesmo
valor, tem-se então uma anuidade. Uma anuidade ordinária é aquela que ocorre
no final de cada período, semelhante ao que vimos com o computo de anuidades
para valores futuros.

Na Figura 23, podemos verificar que para cada anuidade é feito um cálculo
de valor presente, sendo estas somadas ao final, mostrando o valor presente total
da série.

103
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Figura 23 – Valor presente de anuidades

Final do ano
0 1 2 3 4 5

$700 $700 $700 $700 $700

$ 648,20
599,90
555,80
514,50
476,70
Valor presente $ 2.795,10

Fonte: Gitman (2002, p. 143).

Assim, a fórmula de valor presente da anuidade pode ser demonstrada como


segue:

VPAn = PMT X (FVPAi,n)

Onde:

VPAn = Valor Presente para um período n


PMT = Montante a ser recebido ao final de cada período
i = Taxa de desconto para o período
n = Número do período
FVPAi,n = Fator de valor presente da anuidade, que é calculado da seguinte
forma:

n
1
FVPAi,n = ∑
(1 + i )
t
t =1

Vamos partir para um exemplo, de modo que possamos deixar claro o


conceito de valor presente para uma anuidade ordinária. Vamos supor que sua
empresa possua uma série de recebíveis no valor de R$ 700,00 por ano, a
ocorrerem ao final de cada período, num total de cinco anos. O seu custo de
oportunidade é 8%. Assim, ao aplicarmos a fórmula anterior temos:

VPAn = PMT X (FVPAi,n)


VPAn = R$ 700,00 X (0,680 + 0,735 + 0,793 + 0,857 + 0,925) = R$ 2794,90

Assim, para uma série de anuidades ordinárias de R$ 700,00, temos um


valor presente total de R$ 2.794,90.

104
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Um modo mais eficiente de calcularmos este valor presente para uma série
de anuidades ordinárias é a utilização de uma planilha eletrônica. A Figura 24
demonstra como este cálculo pode ser realizado na planilha.

Figura 24 – Planilha eletrônica para o cálculo do valor presente de uma anuidade


A B
1 VALOR PRESENTE DE UMA ANUIDADE ORDINÁRIA
2 Prestação anual $ 700
3 Taxa de juros, % ao ano composta anualmente 8%
4 Número de anos 5
5 Valor presente de uma anuidade ordinária $ 2.794,90
O conteúdo da célula B5 é = VF (B3,B4,-B2).
Um sinal negativo antecede B2 porque o pagamento
anual é uma saída de caixa.

Fonte: Gitman (2002, p. 144).

Indicadores de ViaBilidade de
ProJetos
Como já comentamos, na área de finanças, os administradores lidam com
diversas oportunidades de investimento e uma das atividades deste profissional
é a de selecionar projetos viáveis e que maximizem a riqueza do proprietário
da companhia. Para isso, existem pelo menos três técnicas de análise, que
são também indicadores da viabilidade de projetos: Período de Payback, Valor
Presente Líquido e Taxa Interna de retorno. Estas duas últimas técnicas, segundo
Gitman (2002), baseiam-se nos conceitos de valor do dinheiro no tempo.

Vamos utilizar um exemplo base, trazido por Gitman (2002, p. 338) para
ilustrar nossos conceitos a partir deste momento, o qual será adaptado para
nossa realidade brasileira. A empresa Copy & Paste Soluções Gráficas Ltda. está
analisando dois projetos de investimentos. O projeto A prevê um investimento
inicial de R$ 42.000,00, com fluxo de anuidade ordinária de recebíveis de R$
14.000,00 anuais durante 5 anos. O projeto B tem um investimento inicial de R$
45.000,00 com um recebimento de R$ 28.000,00 no primeiro ano, R$ 12.000,00
no segundo e uma sequência de anuidades de R$ 10.000,00 nos três anos
subsequentes, totalizando também cinco anos de recebimentos.

105
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Quadro 21 – Exemplo de fluxo de caixa de capital de projetos


Dados de gastos de capital da Copy & Paste Soluções Gráficas Ltda.
Projeto A Projeto B
Investimento Inicial R$ 42.000,00 R$ 45.000,00
Ano Entradas Operacionais de Caixa
1 R$ 14.000,00 R$ 28.000,00
2 R$ 14.000,00 R$ 12.000,00
3 R$ 14.000,00 R$ 10.000,00
4 R$ 14.000,00 R$ 10.000,00
5 R$ 14.000,00 R$ 10.000,00
Fonte: Adaptado de Gitman (2002, p. 338).

Graficamente, podemos representar os dois projetos de capital conforme a


Figura 26. A primeira seta representa uma saída de caixa, portanto seu sentido é
abaixo da linha de tempo, e as demais setas que representam a entrada de caixa
possuem sentido inverso, para cima, acima da linha de tempo. Vamos passar
agora para a discussão das técnicas de análise de investimentos, iniciando pelo
payback.

a) Payback

Segundo Gitman Segundo Gitman (2002, p. 339) o payback é “o tempo necessário


(2002, p. 339) o para que a empresa recupere seu investimento inicial em um projeto,
payback é “o tempo
calculado com suas entradas de caixa”.
necessário para que
a empresa recupere
seu investimento Quando tratamos de anuidades, o payback é calculado dividindo-
inicial em um se o investimento inicial pela entrada de caixa anual. Já em uma série
projeto, calculado mista, é preciso acumular as entradas de caixa período a período,
com suas entradas até que o saldo acumulado das entradas de caixa superou o valor do
de caixa”.
investimento inicial, no período em que isto ocorrer, temos o período
de payback. As decisões de investimento, referente à aceitação de um projeto são
as seguintes:

• Se o período de payback for igual ou abaixo do período aceitável pelos


proprietários da empresa, o projeto é aceitável.
• Se o período de payback for maior do que o período aceitável pelos
proprietários, o projeto é recusado.

Gitman (2002) destaca que o payback é visto como uma técnica não
sofisticada de análise de viabilidade e aceitação de projetos, uma vez que não
leva em consideração o valor do dinheiro no tempo.

106
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Você pode compreender um pouco mais sobre payback e


análise de investimentos acessando o link a seguir. Neste artigo, há
também uma informação que ajuda a utilizar o payback de forma
mais sofisticada, levando em conta o valor presente dos fluxos
de caixa. Acesse: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-92511992000300001>.

Figura 25 – Representação gráfica de Fluxo de Caixa de projetos de capital


Projeto A
$ 14.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000

0
1 2 3 4 5

$ 42.000

Final do ano
Projeto B
$ 28.000 $ 12.000 $ 10.000 $ 10.000 $ 10.000

0
1 2 3 4 5

$ 45.000
Final do ano

Fonte: Gitman (2002, p. 339).

Assim, calculando o payback do projeto, dividimos o investimento inicial (R$


42.000,00) pelas anuidades (R$ 14.000,00) e temos o período de payback em 3
anos.

No Projeto B, vamos acumulando as entradas de caixa e verificamos que


entre o ano 2 e o ano 3 temos o payback, pois no ano 2 temos um saldo acumulado
de R$ 40.000,00 e no ano 3, um saldo acumulado de R$ 50.000,00. Nesse caso,
o payback será em 2,5 anos. Assim, caso o período mínimo de recuperação do
investimento da empresa Copy & Paste Soluções Gráficas fosse de 2,7 anos, o
projeto B seria aceitável e o projeto A recusado.

107
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

b) Valor Presente Líquido

O valor presente líquido, como o próprio nome da técnica já indica, é


considerado uma técnica sofisticada de análise de investimento, pois considera
o valor do dinheiro no tempo. Essa técnica, segundo Gitman (2002), desconta o
fluxo de caixa do projeto a uma taxa estipulada, que assume, como já abordamos,
nomenclaturas distintas, como taxa de desconto, taxa mínima de atratividade,
custo de capital ou custo de oportunidade.

Segundo Gitman Segundo Gitman (2002, p. 342), Valor Presente Líquido (VPL)
(2002, p. 342), Valor “é obtido subtraindo-se o investimento inicial de um projeto (FC0), do
Presente Líquido
valor presente de suas entradas de caixa (FCt), descontadas a uma
(VPL) “é obtido
subtraindo-se o taxa igual ao custo de capital da empresa (K).”, ou seja:
investimento inicial
de um projeto (FC0), VPL = Valor presente das entradas de caixa – Investimento Inicial
do valor presente
de suas entradas
de caixa (FCt ),
n
FCt
descontadas a uma
=VLP ∑ (1 + K )
t =1
t
− FC0

taxa igual ao custo de n

capital da empresa = ∑ ( FC
t =1
t x FVPk ,t ) − FC0
(K)”.

Supondo que o custo de capital da empresa seja 10%, já podemos


calcular o VPL dos dois projetos de investimentos. O uso desta técnica requer
bastante atenção, e seu cálculo tradicional, aplicando a fórmula acima, pode ser
esquematizado na Figura 26.

Figura 26 – Cálculo de VPLs para o fluxo de caixa de capital


da empresa Copy & Paste Soluções Gráficas Ltda.
Projeto A Final do ano
0 1 2 3 4 5
-$ 42.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000

k=10%
53.071
VPLA= $ 11.071

Projeto B Final do ano


0 1 2 3 4 5
-$ 45.000 $ 28.000 $ 12.000 $ 10.000 $ 10.000 $ 10.000
k=10%
25.455
k=10%
9.917
k=10%
$ 55.924 7.513
k=10%
6.830
k=10%
6.209
VPLB= $ 10.924

Fonte: Gitman (2002, p. 345).

108
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Perceba que o somatório das entradas de caixa oriundas do projeto A é de


R$ 53.071,00, e todas elas foram descontadas ao custo de capital da empresa
(K), de 10%, o VPL do projeto A é de R$ 53.071 (FCt) – R$ 42.000,00 (FC0) =
R$ 11.071,00. Para o projeto B o esquema é ainda mais detalhado, já que cada
entrada de caixa precisa ser descontada individualmente, e somam o valor
presente total de R$ 55.924,00. O VPL do projeto B é de R$ 55.924 (FCt) – R$
45.000,00 (FC0) = R$ 10.924,00.

Os critérios de decisão quanto à tomada de decisão, utilizando-se a técnica


de análise de investimento VPL são as seguintes:

• Se o VPL for maior que zero, o projeto é aceitável.


• Se o VPL for menor que zero, o projeto é recusado.

Segundo Gitman (2002), quando o VPL é maior que zero, a empresa está
obtendo um retorno superior ao seu custo de capital, portanto, mantendo o valor
da empresa e gerando mais riqueza aos seus proprietários.

Uma forma mais usual de se calcular o VPL é utilizando-se de uma planilha


eletrônica, cálculo que pode ser demonstrado conforme a Figura 27.

Figura 27 – VPL através de planilha eletrônica


A B C
1 DETERMINAÇÃO DE VALOR PRESENTE LÍQUIDO
2 Custo de capital da empresa 10%
3 Fluxo de caixa no final do ano
Ano
4 Projeto A Projeto B
5 0 $ (42.000) $ (45.000)
6 1 $ 14.000 $ 28.000
7 2 $ 14.000 $ 12.000
8 3 $ 14.000 $ 10.000
9 4 $ 14.000 $ 10.000
10 5 $ 14.000 $ 10.000
11 VPL $ 11.071 $ 10.924
12 Escolha de projeto Projeto A
O conteúdo da célula B11 é = VPL ($C$2,B6:B10)+ B5.
Copie a célula B11 para a célula C11.
O conteúdo da célula C12 é SE (B11>C11,B4,C4)

Fonte: Gitman (2002, p. 346).

c) Taxa Interna de Retorno (TIR)

A taxa interna de retorno (TIR) é, segundo Gitman (2002), uma das técnicas
mais sofisticadas de orçamento de capital, e, também, uma das mais difíceis de

109
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

ser calculada. No entanto, o seu conceito é simples. A TIR é taxa


A TIR é taxa de
de desconto (K) que iguala o VPL a zero. O que significa um VPL
desconto (K) que
iguala o VPL a zero. igual a zero? Quando se tem uma taxa de desconto que iguala o
VPL a zero, significa dizer que essa taxa é o retorno que o projeto
em análise está proporcionando ao acionista. Essa taxa precisa ser comparada
ao custo de capital da empresa, ou melhor, a uma taxa mínima de atratividade.
Assim, a empresa pode determinar que para investir em um determinado projeto,
ela requer um determinado percentual acima do custo de capital da empresa,
esta seria então a taxa mínima de atratividade. Para uma TIR maior que a taxa
mínima de atratividade teríamos um projeto atraente, do contrário, não. A fórmula
de cálculo da TIR poderia ser expressa conforme a equação a seguir.

n
FCt
=$0 ∑ (1 + TIR )
t =1
t
− FC0

n
FCt
∑ (1 + TIR)
t =1
t
= FC0

Como você pode perceber, a TIR assume o valor de K (custo de capital),


igualando o VPL a zero. Assim, o cálculo manual da TIR é de extrema dificuldade,
devendo ser um cálculo de tentativa e erro, por sucessivas aproximações,
substituindo o valor de K na equação, até que tenhamos um VPL igual a zero.
Graças à evolução da tecnologia da informação podemos realizar este cálculo
através de uma planilha eletrônica, a qual pode ser verificada na Figura 28.

Figura 28 – Cálculo da TIR através de planilha eletrônica


A B C
1 DETERMINAÇÃO DE TAXA INTERNA DE RETORNO
2 Fluxo de caixa no final do ano
Ano
3 Projeto A Projeto B
4 0 $ (42.000) $ (45.000)
5 1 $ 14.000 $ 28.000
6 2 $ 14.000 $ 12.000
7 3 $ 14.000 $ 10.000
8 4 $ 14.000 $ 10.000
9 5 $ 14.000 $ 10.000
10 TIR 19,9% 21,70%
11 Escolha de projeto Projeto B
O conteúdo da célula B10 é = TIR (B4:B9).
Copie a célula B10 para a célula C10.
O conteúdo da célula C11 é SE (B10>C10,B3,C3).

Fonte: Gitman (2002, p. 347).

110
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

Transpondo os cálculos da TIR graficamente, podemos projetá-los conforme


a Figura 29.

Figura 29 – Cálculo de TIRs para Fluxos de Caixa de Capital


da empresa Copy & Paste Soluções Gráficas Ltda.
Projeto A Final do ano
0 1 2 3 4 5
-$ 42.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000 $ 14.000

TIR?
42.000
VPLA= $ 0 TIRA= 19,9%

Projeto B Final do ano


0 1 2 3 4 5
-$ 45.000 $ 28.000 $ 12.000 $ 10.000 $ 10.000 $ 10.000
TIR?
TIR?
TIR?
45.000
TIR?
TIR?

VPLB= $ 0 TIRB= 21,7%

Fonte: Gitman (2002, p. 347).

Perceba que, ainda que a empresa estipule dois pontos percentuais acima
do custo de capital da empresa, chegando a uma taxa mínima de atratividade de
12%, ambas as TIRs são bastante superiores, sendo a do projeto A: 19,9% e a
do projeto B: 21.7%. Se os dois projetos tiverem riscos semelhantes, podemos
afirmar que a escolha deve se dar pelo projeto B, uma vez que este apresenta
uma TIR maior.

Atividade de Estudos:

1) O Shopping Regional de Blumenau “Vale Encantado Mall”


(fictício) enfrenta dificuldades financeiras e a partir de maio de
2019 será adquirido por uma grande rede de Shopping Centers.
O Superintendente do Shopping gostaria de saber sobre a
viabilidade financeira de operar estacionamento pago no local
durante os primeiros quatro meses de 2019 (jan-abr), visando
sanar parte de suas dívidas atuais. Supondo que o investimento
inicial para o projeto é de R$ 250.000,00 e este gerará um fluxo
de anuidades ordinárias ao longo dos próximos quatro anos, no

111
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

valor de R$ 125.846,00. O custo de capital mensal desta empresa


é de 2,00%. Calcule, o Payback e VPL.
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Algumas ConsideraçÕes
Começamos o presente capítulo com uma revisão do conceito de fluxo de
caixa, verificando a sua importância para a gestão financeira de uma empresa,
uma vez que o fluxo de caixa demonstra todas as entradas e saídas de recursos
na organização.

Verificamos a diferença entre fluxos de investimentos e fluxos operacionais,


compreendendo como identificá-los e também como reconhecer uma operação que
significa uma entrada ou uma saída de caixa, através de comparações realizadas
tanto no balanço patrimonial como na demonstração de resultados do exercício.

Na sequência, entramos no conceito de fluxo de caixa livre (FCL), aquele que


está disponível para os fornecedores de capital a empresa (capital próprio e de
terceiros), e como calcular tal montante.

Estes conceitos iniciais forneceram suporte para que pudéssemos abordar


o orçamento de caixa, um instrumento muito importante para o planejamento
financeiro, pois permite elaborarmos uma previsão de entradas e saídas de caixa.
Neste tópico, compreendemos como elaborar um orçamento de caixa e quais são
seus principais itens.

112
Capítulo 4 FLUXO DE CAIXA PARA PEQUENOS NEGÓCIOS

O orçamento de caixa permite que façamos uma série de análises para


tomada de decisão, como as análises de viabilidade de um fluxo de caixa, porém,
antes, foi necessário compreendermos como o dinheiro assume um valor no
tempo, para então passarmos para o tópico de viabilidade econômico-financeira.

Uma vez assimilado o conceito de valor do dinheiro no tempo, passamos


para a análise de viabilidade econômica financeira de projetos, baseados em
orçamentos de caixa, previsões, para então podermos fundamentar a decisão de
aceitar ou não projetos e poder escolher projetos que maximizem a riqueza para o
acionista. As técnicas de análise de viabilidade exploradas foram: payback, valor
presente líquido e taxa interna de retorno.

Concluímos, assim, esse capítulo sobre fluxo de caixa para pequenos negócios.
Espero que você tenha aprendido a importância deste tema para o planejamento e
gestão das organizações, sejam elas pequenas, médias ou grandes.

No próximo capítulo entraremos em um assunto um pouco menos


matemático, mas com impacto direto sobre o fluxo de caixa das empresas, pois
tratará sobre a negociação com bancos, credores e devedores. Até lá!

ReFerÊncias
ANTONIK, L.R. Empreendedorismo: gestão financeira para micro e pequenas
empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

GITMAN, L.J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São Paulo: Harbra,


2002.

113
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

114
C APÍTULO 5
Negociação com Bancos, Credores
e Devedores

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Identificar os tipos de negociação que podem melhorar o desempenho das


micro e pequenas empresas.

 Conhecer técnicas de negociação com bancos, credores e devedores.

 Arrolar as diferenças nas técnicas de negociação com bancos, credores e


devedores.

 Selecionar a técnica adequada para cada tipo de negociação.

 Analisar os resultados potenciais da aplicação das técnicas e ferramentas de


negociação com bancos, credores e devedores.
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

116
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

ContextualiZação
Nesta disciplina, uma questão que vem sendo bastante reforçada até o
momento é a diferenciação entre os regimes de competência e caixa. Esta
diferenciação é importante não só didaticamente, para que você entenda os
regimes contábeis e financeiros, mas também por uma questão estratégica: o
lucro ocorre em um regime contábil, mas a efetiva disponibilização de dinheiro
para a empresa ocorre no regime de caixa. A empresa pode lucrar e não ter
liquidez, ao mesmo tempo em que pode ter prejuízo, mas ter dinheiro em caixa.

Até o momento, você tem mergulhado em temas bastante conectados a uma


administração financeira técnica, por vezes, se aproximando muito de aspectos
contábeis, com cálculos de indicadores baseados em balanço patrimonial e
na demonstração do resultado de exercício, por exemplo. Por vezes, também,
entramos em questões estritamente matemáticas, com o uso de fórmulas para
calcular capital de giro, endividamentos etc. Neste capítulo, vamos entrar em
aspectos mais voltados à gestão, mas com impactos diretamente no fluxo de
caixa da empresa. O tema central a ser estudado é a negociação com bancos,
credores e devedores.

Negociar com bancos, credores e devedores tem impacto diretamente no


fluxo de caixa da companhia, pois dívidas (seja com bancos ou credores) geram
juros e, na pior das hipóteses, execução de garantias e ações judiciais com custos
extras para ambas as partes.

A falta de pagamento dos nossos devedores deixa, evidentemente, um furo


em nosso fluxo de caixa. Ainda que tenhamos amarras na concessão de crédito,
como o uso de garantias, quando falamos em executar nossos devedores, assumir
tais direitos é algo que não é desejável, pois foge do dia a dia da empresa, existe
o custo de liquidação que está vinculado à liquidez desta etc. Além do fato de que,
quanto maiores são as garantias exigidas para venda de um produto ou serviço,
menor o mercado potencial.

Assim, ter habilidade na hora de fornecer e tomar crédito, assim como no


momento da negociação destas questões, tornará o fluxo de caixa da empresa
mais consistente, evitando situações financeiras delicadas no futuro.

117
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

CrÉdito
O crédito, como corroboram Maia (2007) e Antonik (2016) é fundamental
para toda a sociedade, uma vez que ele alavanca e multiplica a capacidade que
as empresas e os consumidores possuem de poder fazer negócios. Sem essa
ferramenta, as transações seriam limitadas à disponibilidade de recursos com
liquidez imediata, o que geraria um volume de negócios muito menor. Muitos
empresários até podem imaginar que não se utilizam de crédito, mas talvez
estejam se limitando a um conceito de crédito mais estreito, como o financiamento
bancário. Este conceito pode ser descrito por Schrickel (1995 apud MAIA, 2007,
p. 11) no qual ele define o crédito como “todo ato de vontade ou disposição de
alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um
terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente,
depois de decorrido o tempo estipulado”.

No entanto, segundo Antonik (2016, p. 47), “crédito está presente em todas


as políticas financeiras das empresas comerciais e industriais como ferramenta de
alavancagem de aquisições, aumento da capacidade de produção ou até simples
cobertura de furos de caixa”.

Assim, de forma Este conceito de crédito pode ser melhor compreendido por
bastante sintética,
Sandroni (1999 apud MAIA, 2007, p. 11): “crédito é a transação
podemos conceituar
crédito como o comercial em que um comprador recebe imediatamente um bem ou
ato de tomarmos serviço adquirido, mas só fará o pagamento depois de algum tempo
um serviço ou determinado”.
adquirirmos
um produto, Esse último conceito é mais amplo, e agrega também as simples
sem realizar o
transações comerciais nas quais há postergação de pagamento.
pagamento de
imediato. Assim, de forma bastante sintética, podemos conceituar crédito
como o ato de tomarmos um serviço ou adquirirmos um produto, sem
realizar o pagamento de imediato.
Se adquirimos uma
matéria-prima,
Se adquirimos uma matéria-prima, com promessa de pagamento
com promessa
de pagamento para daqui 30 dias, estamos tomando um crédito direto com nosso
para daqui 30 fornecedor, e este passa a ser nosso credor.
dias, estamos
tomando um crédito Em vez de financiarmos diretamente com o fornecedor,
direto com nosso poderíamos negociar um desconto sobre o valor de face das
fornecedor, e este mercadorias, pagando tudo à vista. Para isso, podemos utilizar nosso
passa a ser nosso
caixa, ou então pegar dinheiro emprestado com terceiros, como
credor.
as instituições financeiras, os bancos. Entretanto, para que essa
modalidade seja interessante, é importante que o percentual de desconto à vista
supere os juros que serão pagos pelo financiamento.

118
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

O crédito também está presente na política de vendas da empresa, e precisa


ser levado em consideração quando formamos o preço de venda de nossos
produtos ou serviços.

É preciso ter noção de que vender a prazo, muitas vezes, é a única forma de
tornar um negócio viável, mas ao mesmo tempo, entregar um produto ou serviço
agora para receber em períodos futuros traz consigo um risco de não recebimento.

Esse risco de não ingresso dos recursos no tempo devido abre uma lacuna no
fluxo de caixa da empresa, que precisa ser preenchida. Historicamente, é possível
calcular o percentual de inadimplência e, por consequência, o montante de recursos
que provavelmente deixarão de ingressar no caixa da empresa. Para cobrir esta
lacuna, a empresa pode tomar empréstimos ou transferir o risco da cobrança para
um terceiro, como ocorre nas vendas a prazo através do cartão de crédito.

Você sabia que cada forma de venda a prazo possui uma


série de vantagens e desvantagens? Conheça um pouco mais
pesquisando no SEBRAE através do link a seguir: <http://www.
sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-preco-e-a-influencia-na-
escolha-do-tipo-do-pagamento,224ad1eb00ad2410VgnVCM100000
b272010aRCRD>.

Assim, o custo financeiro de se financiar o cliente somado ao risco do não


ingresso destas receitas no caixa da empresa deve compor o preço de vendas a
prazo, conforme ilustra a Figura 30.

119
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Figura 30 – Formação do preço de venda

À vista • Preço de custo da mercadoria vendida à vista

• Custo financeiro ou juro do financiamento


Juros do cliente

Risco • Risco envolvido na atividade de financiamento


dos cliente

Preço de venda a prazo

Fonte: Antonik (2016, p. 53).

Antonik (2016) afirma que as micro e pequenas empresas são aquelas mais
propensas ao risco de crédito, e um dos motivos que mais impactam neste risco
refere-se à análise do crédito.

Antonik (2016) afirma que dada a importância do crédito, faz-se necessário


uma maior profissionalização e técnica na sua concessão. Não quer dizer que se
deve ter uma política de conceder mais ou menos crédito, mas adotar critérios
e correr riscos que tenham retornos proporcionais, sendo rigoroso na hora de
conceder créditos. Veja na Figura 31 como uma política de crédito errada pode ter
efeitos adversos sobre as vendas de uma empresa. Segundo Antonik (2016) são
três as regras básicas no momento da concessão do crédito:

• Verificar o histórico de pagamento do cliente: essa regra tem o intuito


de verificar se o cliente tem um histórico de inadimplemento, se é um
mal pagador. Isto é possível de aferir verificando o cadastro do cliente
em entidades que controlam este tipo de histórico, como Serasa, por
exemplo. Se há um histórico de atrasos de pagamentos, o que pode
fazer com que o cliente tenha uma atitude diferenciada na aquisição do
seu produto ou serviço?

120
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

Figura 31 – Políticas de Crédito

Política de
crédito “frouxa”,
cliente satisfeito

Tudo que é
bom dura Vendas
pouco disparam

Risco de crédito
aumenta
significativamente

Fonte: Antonik (2016, p. 48).

• Averiguar a capacidade de pagamento do cliente: este é um ponto


importante, pois caso o cliente não demonstre ter uma renda recorrente
e em um montante suficiente, como ele poderá quitar a dívida com a sua
empresa. Além de ter uma renda recorrente esta deverá ser capaz de
cobrir as necessidades básicas de sua subsistência, quitar outros débitos
que porventura o cliente tenha e ainda quitar as dívidas contraídas na
sua empresa.

• Avaliar a existência de risco sistêmico: Antonik (2016) afirma que este


tipo de avaliação é mais impactante para clientes com financiamento
de longo prazo, pois refere-se a questões da economia como um todo,
como recessões, inflação elevada, alta de juros etc. Assim, para compras
que se consolidarão no longo prazo, é preciso saber se o cliente terá
condições de arcar com os compromissos assumidos mesmo que a
economia tenha tomado rumos adversos no futuro.

A seguir vamos verificar com mais detalhes a análise de crédito.

Análise de CrÈdito
Maia (2007) afirma que para acreditar naqueles que demandam crédito são
necessários basicamente dois elementos: tempo e informação. Essa afirmação
se baseia na premissa de que só se pode confiar em quem se conhece. E para
conhecer alguém é necessário tempo e histórico de transações passadas.

121
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Analisar crédito, como vimos na breve explanação de Antonik (2016), é fazer


uma previsão sobre situações futuras. Situações futuras da economia, situações
futuras do pagador. Segundo Maia (2007, p. 18) “análise de crédito é uma
atividade que tem por objetivo prever a capacidade e a vontade de um devedor
honrar suas dívidas no momento em que se tornem exigíveis”.

Segundo Maia (2007, p. 18) a qualidade da análise de crédito é dependente da


capacidade do profissional avaliador e da “suficiência, integridade e consistência
das informações sobre o crédito”.

Os Cs do CrÉdito
Antonik (2016) afirma que a empresa pode usar como apoio ao processo
decisório para concessão de crédito ao cliente uma ferramenta de análise
denominada os Cs do crédito. Se analisarmos a concessão de crédito a pessoa
física, temos 5 Cs, quando falamos em crédito a pessoa jurídica, segundo Maia
(2007), adicionamos um sexto C.

• Caráter: o primeiro C a ser analisado é o caráter. Essa análise se baseia na


premissa de que, segundo Maia (2007, p. 19), “as pessoas são diferentes
e agem diferentemente diante das diversas situações”. Esse C tem uma
importância muito grande na análise, e ele mensura o comprometimento do
indivíduo em quitar o crédito assumido. Ele pode contrariar muitas premis-
sas objetivas, como a renda do cliente, por exemplo. Muitas vezes, bons
pagadores possuem rendas mínimas, mas um compromisso ético de não
atrasar suas contas, ao passo que pessoas com alto rendimento podem
deliberadamente deixar de pagar suas contas. Este fator é intrínseco de
cada pessoa. Como Antonik (2016) e Maia (2007) corroboram, a análise
de caráter leva em conta o histórico do pagador e sua pontualidade no pa-
gamento de dívidas pregressas, sendo um indicador de que ele tenderá a
honrar pagamentos futuros, porém, por óbvio, não é garantia de que isso de
fato ocorrerá, por isso a necessidade de uma análise sistêmica.

122
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

O Caráter é um ponto fundamental para a concessão de


microcrédito, crédito de pequena monta emprestado a pessoas de
baixa renda e microempreendedores formais e informais. Esse
tipo de crédito possui baixa inadimplência, apesar das pessoas
terem baixa renda e muitos tomadores deste tipo de empréstimos
não possuírem as formalidades necessárias para conseguir
crédito de forma tradicional. Conheça mais do trabalho iniciado por
Muhammad Ynus, ganhador do prêmio Nobel de Economia, no link
<https://revistas.pucsp.br/index.php/pensamentorealidade/article/
download/31679/22480>.

• Capacidade: a capacidade refere-se à condição que o tomador de crédito


terá para honrar a sua dívida contraída. Assim, conforme menciona
Maia (2007), não basta o cliente ter a vontade, o anseio em pagar as
suas contas no momento em que são exigidas, é necessário também ter
condições financeiras de fazê-lo. A empresa que concede crédito deve ter
isto em mente, é preciso analisar cuidadosamente a saúde financeira do
tomador de crédito, seja pessoa física ou jurídica.

• Capital: a análise do capital é determinante para a capacidade de


pagamento e devido a sua importância é destacado como um C específico
a ser analisado. Blatt (1999 apud MAIA 2007, p. 20) define capital como
“ a fonte de receita e renda do cliente, ou seja, quais as origens de
seus recursos, sua frequência e consistência”. Aqui é feita uma análise
especifica sobre o capital que o tomador de crédito possui para pagar o
que está sendo financiado. Ele reflete diretamente sobre a capacidade
de pagamento. Schrickel (1997 apud MAIA, 2007) afirma que na análise
do capital verifica-se como o cliente transforma seu negócio em um
rendimento capaz de saldar compromissos futuros.

Para a pessoa física, pode-se analisar o montante de rendimentos e o


seu comprometimento com outras dívidas, assim como a estabilidade deste
rendimento. Para pessoas jurídicas, a saúde financeira da empresa pode
ser verificada através da análise de indicadores do balanço patrimonial e
demonstração do resultado do exercício, como índices de liquidez, índice geral de
endividamento, retorno sobre o ativo etc.

123
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

• Condições: as condições estão relacionadas às variáveis que não são


controladas por quem concede e por quem toma o empréstimo, mas que
são capazes de afetar o negócio entre as partes no futuro. Por exemplo,
neste quesito são avaliados, segundo Antonik (2016, p. 54) “questões am-
bientais, como de fenômenos naturais, caráter geral da economia, como
inflação, nível de emprego e níveis de atividade da indústria ao qual o
cliente pertence”. Maia (2007) afirma que avaliar as condições micro e
macroeconômicas que permeiam a concessão de crédito ajuda a mensu-
rar o risco do negócio. Assim, caso os demais Cs sejam favoráveis, uma
condição econômica adversa pode elevar muito o risco de se obter o crédi-
to de volta. Um exemplo disso são as variações cambiais. Por mais que
o cliente possua caráter, capacidade e capital para quitar as dívidas, se a
concessão de crédito envolver importações, sem um seguro cambial, por
exemplo, o risco de crédito aumenta consideravelmente, pois a flutuação
do câmbio desfavorável ao negócio do cliente pode ruir com a sua capaci-
dade de pagamento.

• Colateral: Collateral é o termo em inglês utilizado para garantia acessória,


segundo Maia (2007). Segundo a autora, ela é utilizada para comprom-
eter o tomador de empréstimo tanto moral, quanto patrimonialmente. A
garantia pode inibir a inadimplência devido ao temor de que a concedente
do crédito venha a tomar posse dos bens vinculados à operação. Antonik
(2016) afirma que esta análise é bastante útil, porém nem todas operações
de crédito são viáveis de se obter uma garantia, no varejo em geral não é
comum a utilização de garantias para pagamentos de créditos.

• Conglomerado: o conglomerado refere-se especificamente à concessão


de crédito a pessoas jurídicas, pois, segundo Maia (2007), está relaciona-
da à análise das empresas pertencentes a um mesmo grupo econômico.
Segundo Maia (2007), as empresas tendem a seguir a mesma política e
diretrizes da empresa controladora ou seu acionista majoritário de forma
que as questões relacionadas ao caráter e à capacidade devem seguir um
mesmo padrão.

124
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

Atividade de Estudos:

1) Por que, mesmo que o cliente tenha caráter, a empresa deve


fazer uma análise conjunta de todos os Cs do crédito?
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InadimplÊncia
Segundo Maia (2007), inadimplência trata-se de uma quebra de contrato, de
uma falta de pagamento de um crédito contratado, acordado, que foi exigido no
tempo programado e não foi quitado pelo tomador. A regra é o pagamento na
data acordada, mas a exceção ocorre e deve ser bem analisada e contabilizada
pelo fornecedor do crédito. Maia (2007) afirma que o adimplemento, o pagamento
das dívidas, possui inclusive uma função social, haja vista que permitem uma
recirculação de dinheiro, de crédito, de capital. À medida que as taxas de
inadimplência caem, os juros acompanham, permitindo uma maior concessão de
crédito e aumento do consumo, por consequência a economia melhora, gerando
mais renda, mais riqueza para a nação.

Maia (2007) utiliza o código civil para demonstrar que existem dois tipos
de inadimplência. A absoluta, que ocorre quando obrigação que deixou de ser
cumprida e não pode ser realizada de forma útil ao credor. Para este tipo de
inadimplência há previsão de pagamento de juros e atualização monetária e ainda
há possibilidade de responsabilizar o devedor por danos morais.

Já o inadimplemento relativo ocorre quando há o cumprimento imperfeito da


obrigação, como o pagamento fora da data combinada. Nesse caso, pode haver
a cobrança de mora, uma multa pelo fato de não se cumprir integralmente o
combinado em contrato.

125
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Negociação com Credores


A empresa pode também chegar a uma situação de inadimplência, e para
isso minimizar essa situação, que se for estendida por muito tempo pode ser a
causa de fechamento da empresa, é importante realizar três ações, segundo o
Sebrae (2016a): compreender a natureza da dívida, entender o motivo da falta de
recursos e negociar a dívida, conforme podemos verificar na Figura 32.

Figura 32 – Passo a passo para sair da inadimplência

Entender a Entender o
natureza da motivo da falta Negociar
dívida de recursos a dívida
(inadimplência

Fonte: Sebrae (2016 a, p. 5).

a) Entendendo a natureza da dívida

Segundo Sebrae (2016a), entender a natureza das dívidas de uma empresa


ajuda no planejamento das necessidades de capital de terceiros. Assim,
segregando cada tipo de dívida que a empresa tem, é possível saber se a dívida
afeta as operações diárias ou então os planejamentos de expansão, dependendo
da natureza da dívida, já se saberá o quão grave é a situação. Segundo Sebrae
(2016a), são três os grandes grupos de dívidas de uma empresa:

1) Dívidas de investimento.
2) Dívidas de capital de giro.
3) Dívidas para cobrir fluxos de caixas negativos.

• Dívidas de investimento

Este grupo de dívidas é normalmente realizado para expansão dos negócios,


e tem consigo uma intenção de aumento da produção e por consequência receita.
Sebrae (2016a) afirma que este tipo de financiamento normalmente é realizado
com base um planejamento e quanto melhor for este planejamento maiores são
as chances de que os pagamentos desta dívida sejam realizados conforme o
contrato.

126
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

O Sebrae (2016a) afirma que em pequenas empresas, nas quais a pessoa


física do sócio por vezes se confunde com a pessoa jurídica (negócio), alguns
financiamentos são tomados pela empresa para fins pessoais, o que acaba
sobrecarregando o fluxo de caixa da firma, trazendo inadimplência. É de fundamental
importância que a empresa não se confunda com a pessoa física do proprietário.

• Dívidas de Capital de Giro

Segundo o Sebrae (2016a), quando há um incremento nas vendas, é comum


as empresas necessitarem de um capital de giro maior para poder comprar
matérias-primas, contratar empregados, pagar energia etc. Essa necessidade
pode vir também da concessão de um prazo maior para o pagamento dos clientes.

O recurso para cobrir esse capital de giro excedente pode vir de


financiamentos com instituições bancárias ou da negociação direta com
fornecedores, estendendo-se o prazo de pagamento ou até mesmo pagando as
compras em parcelas.

É preciso calcular se a margem de lucro adicionada pelo aumento de vendas


cobre os custos de aquisição de capital de giro adicional, para saber se a operação
está compensando.

• Dívidas para cobrir fluxos de caixas negativos

De acordo com o Sebrae (2016a), a empresa pode ter necessidade de


contratar empréstimos visando cobrir fluxos de caixa negativos, que podem ter
três causas distintas:

− Descasamento da necessidade de capital de giro com o capital de giro


disponível.
− Imprevistos.
− Operação deficitária.

O primeiro caso, do descasamento entre a necessidade de capital de giro e o


capital de giro disponível ocorre quando a empresa não supre a necessidade e a
consequência é um fluxo de caixa deficitário.

O segundo caso refere-se aos imprevistos, como um acidente com


transportes, crise econômica, dentre outras. Cabe ressaltar que alguns dos
imprevistos podem ser previsíveis e podem ser evitados com a contratação de
seguros. Dependendo do impacto deste fluxo negativo, a economia gerada com a
não aquisição de um seguro pode não compensar.

127
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

O terceiro caso é a operação deficitária, ou seja, mesmo não havendo


imprevistos e com o capital de giro adequado, a empresa não gera resultado e,
pior, gera déficit. Assim, é necessária uma profunda revisão no modelo de negócio
da empresa, pois suas premissas não geram resultados e a empresa pode estar
perto de fechar suas portas.

b) Entendendo o motivo da inadimplência

O Sebrae (2016a) alerta para a necessidade de as empresas entenderem


quais são os motivos exatos que estão ocasionando as dívidas. Os motivos
estão relacionados à natureza da dívida, mas devem ser expressados em uma
demonstração de resultados do exercício, ou então em um fluxo de caixa, por um
determinado período. Veja o exemplo a seguir de um projeto de operação de um
estacionamento por um período de 5 meses. Veja que o problema deste fluxo de
caixa está no tamanho do investimento a ser realizado e no período, ele não é
capaz de ser amortizado durante os quatro meses de operação. Um período mais
prolongado para amortizar esta dívida poderia resolver o problema, assim como um
financiamento, que reduziria a base de cálculo dos desembolsos sobre o lucro.

Tabela 2 – Fluxo de caixa auxiliar

Fonte: O autor.

128
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

Segundo o Sebrae (2016a), outros problemas podem ficar evidentes, como a


dificuldade de suportar os juros, deficiências operacionais etc.

c) Negociando a dívida

Segundo o Sebrae (2016a), uma vez que a dívida se faz presente, e que já
foram revistos os processos operacionais da empresa, de modo que ela possa
ampliar seu desempenho, é chegada a hora de renegociar a dívida com seus
credores.

Um passo importante é a preparação de uma projeção de fluxo de caixa,


que demonstrará a capacidade de pagamento da dívida renegociada, assim como
a dificuldade em adimplir a dívida como ela está contratada originalmente. Isso
dará confiança ao credor de que a negociação realizada surtirá efeito e que sua
empresa está de fato passando por dificuldades, e o seu problema está nos Cs de
Capacidade e Capital e não no C de Caráter, ou seja, você quer pagar a dívida,
mas não consegue.

O Sebrae (2016a) afirma que outros valores além do saldo de caixa disponível
ao longo dos períodos podem ser levantados com o intuito de ajudar a amortizar a
dívida, como a venda de alguns ativos, como veículos, máquinas e equipamentos,
imóveis. Contudo é necessário realizar uma análise para que a venda destes
ativos não impacte em fluxos de caixa futuros, ou seja, para que esta venda não
prejudique as operações da empresa.

Importante que o empresário tenha domínio sobre as taxas de juros, prazos


e valores de parcela que são possíveis de serem negociados. O Sebrae (2016a)
alerta para o fato de que este passo se trata de uma negociação, então é
importante ter uma margem de segurança nos valores propostos, uma vez que o
credor também poderá barganhar por valores maiores.

O Sebrae (2016a, p. 11) traz algumas sugestões importantes para o momento


da negociação com o credor, que são:

• não encare o credor como um adversário, mas sim como um


parceiro na busca de uma solução para o problema de ambos;
• seja verdadeiro, é a melhor forma de transmitir credibilidade;
• conheça profundamente seu negócio, só assim o credor
acreditará que você pode gerar os recursos necessários;
• evite o envolvimento pessoal na discussão, estamos tratando
de negócios;
• defina seus limites na negociação;
• lembre-se esta é uma negociação onde ambas as partes
podem ganhar juntas.

129
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Um tipo de credor específico e que é mubbbito experiente e capacitado no


momento da negociação são os bancos, para os quais traremos uma abordagem
de negociação específica.

NegociaçÂo com Bancos


Sebrae (2018) afirma que não existem financiamentos específicos com o
intuito de substituir as dívidas atuais da empresa por dívidas mais baratas. No
entanto, existe sempre a possibilidade de renegociação, seja alterando a taxas de
juros ou o prazo e valor das parcelas.

Cabe sempre observar os passos da renegociação das dívidas elencadas no


item anterior, para identificar quais as condições de pagamento que podem ser
absorvidas pela empresa.

Sebrae (2018, p. 1) afirma que “quando a empresa estiver com o nome


registrado nos cadastros de restrição ao crédito é necessário, primeiro, retirar o
nome das entidades de controle cadastral do crédito, tais como Serasa, SPC e
Cadin, e só depois partir para um empréstimo”.

Caso haja a necessidade de que um empréstimo novo seja realizado, sem


que a empresa quite financiamentos existentes, por motivos de aumento de capital
de giro, por exemplo, é preciso que a empresa tenha margem operacional para
absorver esta dívida, caso contrário a empresa ficará com fluxos de caixa negativos
e a situação financeira da empresa se deteriorará, podendo levá-la à falência.

Para determinados casos pode ser interessante quitar as dívidas anteriores


por meio de recursos próprios, para então partir para um novo financiamento.
Todas estas análises devem ser feitas utilizando-se de um fluxo de caixa auxiliar,
para que as devidas simulações de impacto da dívida possam ser realizadas.

Tenha em mente que bancos são um tipo de credor especializado em


cobrança, e que em determinados empréstimos exigem garantias acessórias que
podem ser executadas caso as negociações não surtam efeitos.

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Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

Atividade de Estudos:

1) Por que é importante utilizar-se de uma planilha de fluxo de caixa


para negociar a dívida da empresa com bancos e credores?
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Negociação com Devedores


Assim como negociar com os credores, a negociação com os clientes requer
um planejamento, de modo que tenhamos uma maior eficácia no retorno das
receitas perdidas.

Já abordamos uma etapa importante e preventiva, que é a análise de crédito,


mas agora vamos abordar como negociar com os devedores da empresa, pois,
mesmo para empresas que adotem uma política de crédito bastante restritiva,
o risco da inadimplência é algo a ser considerado e é preciso estar preparado
para agir quando ele ocorrer. O Sebrae (2016b) traz um passo a passo para a
negociação com os devedores, que envolve:

a) Controle contínuo dos seus devedores

Ter um acompanhamento dedicado à inadimplência auxilia o empreendedor


a conhecer o perfil dos clientes com este comportamento e também auxilia a
saber o montante das dívidas e o quanto elas estão impactando no seu fluxo de
caixa. Estas informações serão de grande ajuda também no momento de se rever
a política de crédito da empresa, pois ajustes podem ser necessários no prazo de
pagamento, ou então na análise cadastral dos clientes.

b) Negociação de um plano de liquidação

É preciso ter um plano de liquidação para quando houver algum atraso, assim
alertas podem ser emitidos para corrigir lapsos daqueles clientes que tenham

131
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Caráter, Capacidade e Capital, mas que porventura esqueceram de efetuar o


pagamento em dia. Assim, segundo o Sebrae (2016b, p. 2) os seguintes passos
podem ser utilizados para evitar atrasos e inadimplência:

• Contate o cliente assim que for diagnosticada a dívida,


perguntando-lhe o motivo do atraso e negociando uma nova
data para o pagamento.
• Anote: o motivo do atraso, nome e cargo das pessoas
contatadas, nova data negociada.
• Peça que o devedor lhe envie, via fax/e-mail, solicitação de
novo prazo de pagamento, indicando o motivo do atraso. Tente
obter um cheque pré-datado com o novo vencimento.
• Se o seu cliente não puder pagar de uma só vez o débito,
procure negociar um novo plano de liquidação da dívida,
ponderando a aplicação de juros.

A ação rápida do empresário poderá evitar maiores impactos desta ausência


de receita no fluxo de caixa do negócio, para isso é importante que setor de finanças
tenha um procedimento de cobrança padrão, um manual que lhe orientará o que
fazer quando identificar um atraso ou um inadimplemento mais grave. O Sebrae
(2016b) traz um exemplo de plano de ação de cobrança composto de 8 etapas:

Etapa 1: envio de carta registrada com identificação de recebimento. Esta carta


comunica o devedor para honrar a dívida dentro de um curto período de tempo
(uma ou duas semanas), caso não ocorra situações mais graves poderão ser
acionadas, como medidas de cobrança extrajudicial ou até mesmo judicial.

Etapa 2: encerrar o fornecimento ao cliente devedor. Pode-se também contatar o


fiador para comunicar a situação de inadimplemento do cliente.

Etapa 3: caso nenhuma das ações das etapas anteriores tenham tido sucesso,
e não se estabeleceu um plano de negociação, a divulgação do débito junto ao
mercado pode pressionar o devedor a entrar em contato e estabelecer este canal.
Isto pode ocorrer junto a órgãos especializados de proteção de crédito, por exemplo.

Etapa 4: estabelecer um contato direto com o devedor, presencialmente, de modo


que este possa iniciar um processo de negociação.

Etapa 5: acionar a assessoria jurídica para que estabeleça um processo


de negociação administrativa do débito e informando que caso não ocorra,
medidas extrajudiciais e judiciais serão acionadas. Apesar de já informado via
correspondência, o contato de uma assessoria jurídica já demonstrará ao devedor
que um processo jurídico está sendo montado.

Etapa 6: realizar cobrança extrajudicial via cartório de protestos.

132
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

Etapa 7: realizar a execução do colateral (garantia) e executar o fiador, quando houver.

Etapa 8: realizar outras ações judiciais de cobrança, pedidos de concordata etc.

O Sebrae (2016b) afirma que é importante estabelecer um prazo hábil para


cada etapa, com o intuito de que o devedor possa fazer contato e estabelecer um
canal de negociação da dívida, evitando medidas mais drásticas e recuperando
um cliente em potencial.

Em alguns casos, a ausência de garantia ou fiador fará com que o


empresário seja mais propenso a aceitar acordos mais brandos, com a retomada
de mercadorias, ou parte destas, ou ainda abrindo mão de juros ou até mesmo
parte da dívida.

Atividade de Estudos:

1) Qual a importância do controle contínuo dos devedores para o


planejamento financeiro da empresa.
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Algumas ConsideraçÕes
Neste capítulo entramos em um assunto diferente de todos vistos até aqui
na nossa disciplina de planejamento e controle financeiro: inadimplência e
negociação.

Começamos entendendo o conceito de crédito, para o qual buscamos


sempre utilizar aquele conceito mais ampliado que não seja um sinônimo direto
de financiamento bancário, pois podemos também nos financiar com clientes
(recebendo pagamentos antecipados) ou fornecedores (postergando pagamentos).
Aqui o conceito utilizado para crédito foi aquele relacionado a receber um produto

133
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

ou serviço referente a uma negociação sem dar a contrapartida em recursos


devida, de forma imediata. Quando falamos em nos financiarmos com clientes,
o conceito é o de receber o recurso, sem entregar a contrapartida em produtos e
serviços.

Verificamos que a política de crédito influencia o volume de vendas, mas traz


consigo um risco de não recebimento dos recursos, ou seja, pode ocorrer de não
termos os recursos previstos na data planejada, e isto precisa estar embutido na
precificação das vendas a prazo, esse custo financeiro de fornecer crédito aos
clientes precisa ser computado no preço de venda.

Para reduzirmos os riscos com as vendas realizadas a prazo é preciso


realizar uma análise criteriosa do tomador deste benefício. Basicamente, deve-se
analisar os 6 Cs do crédito: Caráter, Capacidade, Capital, Condições, Colateral e
Conglomerado.

Toda essa análise é uma forma de prevenir a inadimplência, um


descumprimento do contrato no tocante a desconformidade entre a necessidade
de pagamento dos valores contratados na data acordada.

Cabe destacar que a inadimplência pode atingir tanto os clientes quanto


a empresa, e quando ocorre dentro de casa é importante entender a natureza
da dívida, entender o motivo da falta de recursos e negociar a dívida, tanto com
credores tradicionais quanto com os bancos, que são um tipo de credor específico
e especializado, para o qual é preciso estar preparado para negociar, utilizando-
se de estimativas para demonstrar a falta de capacidade e capital para suportar a
dívida atual e como ela poderia ser melhor absorvida em uma renegociação.

Por fim, verificamos a necessidade de negociar com devedores, identificando


a necessidade de um plano de cobrança bem estabelecido, que permita uma
notificação de ações com reforço de cobrança de forma gradual, indo de uma
simples notificação a uma execução judicial, sem perder de vista as oportunidades
de construção de acordos amigáveis ao longo do caminho.

No próximo capítulo, abordaremos um tema bastante novo, que é o uso de


moedas virtuais em pequenos negócios, conhecendo as oportunidades e também
os riscos presentes neste modelo de negócio.

134
Capítulo 5 NEGOCIAÇÃO COM BANCOS, CREDORES E DEVEDORES

ReFerÊncias
ANTONIK, L. R. Empreendedorismo: gestão financeira para micro e pequenas
empresas. São Paulo: Elsevier, 2016.

MAIA, A. S. R. Inadimplência e recuperação de créditos. Universidade Federal


do Rio Grande do Sul, Escola de Administração, programa de Pós-Graduação em
Administração, Londrina, 2007.

SEBRAE. Renegocie o pagamento de empréstimos. 2018. Disponível em:


<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/renegocie-o-pagamento-de-
emprestimos,7a2d6354c2985410VgnVCM1000003b74010aRCRD>. Acesso em:
15 fev. 2018.

SEBRAE. Entendendo e Negociando suas Dívidas. 2016a. Disponível em: <http://


www.bibliotecas.sebrae.com.br/bis/download.zhtml?t=D&uid=e291c76f4ae01365
35c0b57fd1f379f3>. Acesso em: 15 fev. 2018.

SEBRAE. Política de Cobrança e controle da inadimplência. 2016b. Disponível


em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/politica-de-cobranca-e-
controle-da-inadimplencia,91ac438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD>.
Acesso em: 15 fev. 2017.

135
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

136
C APÍTULO 6
Novas Moedas: Riscos e Oportunidades
Para Pequenas Empresas

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer o conceito de moedas.

 Identificar novas moedas que podem ser aplicadas a micro e pequenos negócios.

 Avaliar os benefícios do uso de novas moedas para micro e pequenas empresas.

 Analisar os riscos advindos do uso de novas moedas.


PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

138
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

ContextualiZação
Como vimos no Capítulo 1, a área de finanças se entrelaça com diversas
outras áreas de estudos, sendo a área de economia e contabilidade aquelas
com afinidades mais tradicionais e presentes na maioria das bibliografias que
trabalham sobre o tema. Ao longo da nossa disciplina fomos tratando a área
de finanças como uma instituição, que precisa demonstrar certa tradição nas
suas ações, de modo que possam se medir os resultados da companhia com
confiabilidade e solidez. Estes preceitos são muito importantes para a gestão da
empresa e podemos dizer que eles são fundamentos do estudo de finanças.

Se você já praticou algum treinamento sistematizado para algum tipo de


esporte, como futebol, vôlei ou tênis, sabe que os treinos iniciam com a prática
dos fundamentos, aqueles movimentos que são essenciais para movimentos e
jogadas mais elaboradas. Assim, trabalhamos o planejamento financeiro nesta
disciplina, iniciamos com fundamentos e agora no final compreenderemos temas
mais ousados. É nesse contexto que entramos no campo das novas moedas e sua
aplicação em pequenos negócios. Esse tema pertence à área de finanças, mas
pode ser também uma sobreposição com a área de marketing, por exemplo. Só
por este fator, podemos afirmar que estamos cruzando as fronteiras tradicionais
do estudo de finanças. Vamos dar um passo ainda maior quando tratarmos sobre
moedas virtuais, pois entraremos no campo da tecnologia da informação e como
o uso de moedas não reguladas pode impactar nos pequenos negócios.

A moeda tradicional é a base das negociações entre empresas e seus


consumidores e para compreendermos como o uso de novas moedas pode afetar
os pequenos negócios, vamos iniciar nossos estudos com um resgate sobre o
surgimento desse veículo de transação comercial tradicional. Bons estudos!

Origem e Evolução do DinHeiro


A moeda, como hoje a conhecemos, é o resultado de uma longa evolução. No
início, não havia moeda, as pessoas produziam coisas somente para o seu próprio
sustento, como arroz, feijão e outras mercadorias. Até chegarmos na moeda que
conhecemos, a sociedade passou por um longo processo de desenvolvimento e
evolução, conforme é apresentado a seguir.

139
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

a) Escambo

O Banco Central do Brasil (s.d.) afirma que a moeda tradicional, que


utilizamos hoje no nosso cotidiano, é fruto de uma longa evolução. No início da
nossa sociedade organizada utilizava-se o escambo, troca de mercadorias, que
não possuíam uma equivalência de valor. As trocas se davam pelo excedente de
produtos que cada indivíduo ou família produzia ou extraía. Por exemplo, para
quem pescasse mais peixes do que o necessário para sua alimentação poderia
trocar por arroz ou feijão. O Banco Central do Brasil (s.d.) afirma que algumas
mercadorias passaram a ser mais procuradas do que outras e estas passaram
então a ter uma função de moeda, seria a moeda-mercadoria. Exemplos de
moeda-mercadoria: gado, sal, café, entre outros.

Uma curiosidade interessante é que estas moedas deixaram suas referências


na origem de algumas palavras até hoje utilizadas quando nos referimos a
dinheiro. Segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), o salário tem origem na moeda
mercadoria sal, que era trocada por serviços prestados na Roma Antiga. Pecúnio
(dinheiro) e pecúlio (riqueza acumulada) são derivados do latim pecus, que se
refere ao gado. Já a palavra capital, deriva do latim capta, que significa cabeça,
em referência às cabeças de gado.

Com o passar do tempo, segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), os


volumes de negócios passaram a ficar maiores e então a moeda-mercadoria
passou a trazer alguns inconvenientes, como o fato de ser perecível, dificultando
o acúmulo de riquezas.

b) Metal

A partir do momento em que o homem descobriu o metal, este passou a


utilizá-lo nas suas aplicações cotidianas, como a forja de armas e utensílios
domésticos. Segundo o Banco Central do Brasil (s.d., p. 1), por satisfazer os
padrões de “entesouramento, divisibilidade, raridade, facilidade de transporte
e beleza, o metal se elegeu como principal padrão de valor”. Então, o metal
começou a ser trocado sobre as mais variadas formas, como joias, in natura, na
forma de utensílios etc.

Para uma transação comercial, utilizando-se os metais em formatos variados,


era necessária uma aferição, uma comprovação do grau de pureza e do peso de
material dado em troca, para então atribuir o seu valor.

Uma nova evolução ocorreu com a padronização da forma de apresentação


do metal, com um peso específico e uma marca indicativa de valor que permitia
identificar também quem havia emitido esse metal-moeda.

140
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

No início, as moedas tiveram formas de réplica de utensílios, como faca


e chave, por exemplo, estas eram encontradas no Oriente Médio. O talento,
segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), era uma moeda de cobre, que possuía o
formato de pele de animal, com circulação na Grécia e em Chipre.

c) Moeda tradicional

Segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), a moeda nos formatos mais


próximos dos que circulam atualmente só foram surgir a partir de século VII a.c.
Eram pequenos objetos de metal, com peso e valor padronizados, identificando o
emissor, que garantiria o valor da moeda.

Na Grécia, eram produzidas moedas de prata, e na Lídia um lingote oval com


ouro e prata, que era denominado eletro.

Na época, o processo de cunhagem de uma moeda era totalmente manual


e arcaico, fazendo com que as moedas não tivessem uma padronização na sua
forma.

Até o século XIX, as moedas eram cunhadas em materiais preciosos, como


ouro e prata, seu valor equivalia e era intrínseco. Assim, segundo o Banco Central
do Brasil (s.d., p. 2) “uma moeda na qual haviam sido utilizados vinte gramas de
ouro, era trocada por mercadorias deste mesmo valor”.

Ao final do século XIX, as moedas passaram a ser cunhadas de outros


metais, e seus valores passaram a representar o valor determinado em sua face,
não guardando mais referência ao material em que era produzida.

d) Moeda de papel

Segundo o Banco Central do Brasil (s.d.), na Idade Média, era Com o passar do
comum as pessoas armazenarem suas riquezas com ourives e este, tempo, os governos
como forma de garantia, lhes atribuía um recibo. Este recibo passou, assumiram o
então, a circular como forma de pagamento e passaram a exercer controle de emissão
a função de moeda. No país, segundo o Banco Central do Brasil de cédulas e
moedas para coibir
(s.d.), os primeiros bilhetes que foram negociados foram emitidos
a falsificação e
pelo Banco do Brasil, em 1810, e possuíam grafados à mão o seu garantindo o poder
valor comercial, assim como as conhecidas folhas de cheques. Com de pagamento. Os
o passar do tempo, os governos assumiram o controle de emissão Bancos Centrais
de cédulas e moedas para coibir a falsificação e garantindo o poder assumem este papel
de pagamento. Os Bancos Centrais assumem este papel na imensa na imensa maioria
das nações.
maioria das nações.

141
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

e) Sistema Monetário

O sistema monetário, segundo o Banco Central do Brasil (s.d., p. 3), refere-


se à forma de organização das moedas de um determinado país: “o conjunto de
cédulas e moedas utilizadas por um país forma o seu sistema monetário”. Existe
uma regulação própria que rege este sistema e ele é baseado em uma legislação
específica.

Conheça maiores detalhes do sistema monetário atual do país,


acessando o link: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9069.
htm>.

O Banco Central do Brasil afirma que praticamente todas as nações utilizam-


se como menor unidade divisional da moeda o centésimo, no qual a menor
unidade monetária em circulação equivale a um centésimo da sua unidade de
valor. Assim, no Brasil, a unidade monetária corresponde ao real, e a menor
unidade em circulação é a moeda de um centavo, correspondente a um centésimo
do valor de um real.

Costuma-se aplicar os maiores valores em cédulas e os menores valores


em moedas. A tendência é de que as necessidades diárias dos estabelecimentos
comerciais, sobretudo os pequenos negócios, sejam mais volumosas em moedas,
haja vista que estas possuem uma durabilidade muito maior do que as cédulas. Assim,
para pequenos negócios, as moedas em metal representam uma unidade monetária
bastante importante na operação financeira do caixa dos comércios em geral.

f) Moeda Bancária - Cheques

Existe uma moeda denominada moeda bancária, também denominada


de moeda escritural, os tradicionais cheques aos quais estamos habituados a
conviver no comércio. Esta moeda corresponde, segundo o Banco Central do
Brasil (s.d.), a depósitos à vista e substituem as cédulas e as moedas. Apesar
de costumeiros, os cheques pré-datados são uma inovação não reconhecida
pelos bancos, apesar de ser frequente a sua menção em disputas com órgãos de
proteção ao crédito. Na essência, o cheque equivale a um depósito à vista.

Os bancos, geralmente, fornecem folhas de cheques aos seus correntistas


de modo que estes possam emiti-los nos valores desejados para realizar

142
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

pagamentos que serão compensados, confrontando o saldo de conta com o valor


escriturado no cheque.

O Banco Central do Brasil (s.d.) afirma que os cheques possuem como


vantagens a facilidade de movimentar grandes quantias, sem a necessidade de
saques de valores em espécie, economizando tempo e evitando furtos de valores.

O uso do cheque pode cair em descrédito devido às garantias de existência de


fundos para quitar a promessa de compra ou saque na conta corrente do emissor,
seria o temor pelo conhecido cheque sem fundos. Para o Banco Central do Brasil
(s.d., p. 4) “os benefícios propiciados pelo uso do cheque só são possíveis onde
leis rigorosas punem os emitentes de cheques sem fundos, amparando, assim,
sua circulação”.

g) Cartões de crédito e débito

Um outro substituto das moedas em cédulas são cartões de plástico, emitidos


por instituições financeiras, bancos e estabelecimentos comerciais. Estes cartões
possuem uma sequência numérica que identificam o pagador, e através de uma
senha, ou código de verificação é possível que seus proprietários possam realizar
compras ou pagamentos, e assumindo um compromisso com o pagamento deste
valor em data futura, junto à instituição que emite o cartão, ou seja, o comerciante
recebe o dinheiro em um curto espaço de tempo, em um ou dois dias, e o cliente
possuirá um prazo para pagar que pode variar de alguns dias a até mais de um
mês, normalmente.

O comerciante paga um pequeno percentual pela utilização deste serviço e


o cliente poderá pagar anuidade pelo uso do cartão. Alguns emissores fornecem
descontos progressivos para alguns clientes em função dos volumes de transação
realizados no cartão de crédito. Um dos maiores benefícios do uso do cartão de
crédito é a possibilidade de realizar transações diretamente pela internet. Cartões
de débito possuem uma funcionalidade parecida com os cartões de crédito e sua
diferença principal é que o valor é diretamente debitado da conta corrente do
usuário, o que diminui alguns riscos para o lojista e a entidade emissora do cartão,
neste caso, normalmente os bancos tradicionais. Segundo o Banco Central do
Brasil (s.d.), existem algumas variáveis de cartões de débito, como os smartcard,
que são cartões pré-pagos, no qual você paga uma fatura que adiciona crédito ao
cartão e ele vai sendo consumido como se fosse um cartão de débito vinculado a
uma conta corrente em um banco. Existem também os cartões pré-pagos a serem
utilizados em viagens internacionais, nos quais são creditados valores na moeda
corrente do país ao qual o viajante se destina.O Banco Central do Brasil (s.d., p.
5) afirma que:

143
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

[...] o dinheiro, seja em que forma se apresente, não vale por


si, mas pelas mercadorias e serviços que pode comprar. É
uma espécie de título que dá a sua portadora faculdade de
se considerar credor da sociedade e de usufruir, por meio do
poder de compra, de todas as conquistas do homem moderno.

Assim, a evolução do dinheiro tradicional, na forma que o conhecemos


na sua essência, evoluiu conforme a nossa abordagem até aqui. No entanto,
atualmente estamos vivenciando uma nova etapa, uma quebra de paradigma com
o surgimento de novas moedas, as quais abordaremos a seguir.

h) Novas Moedas

Academicamente, ainda estamos tão habituados ao nosso sistema financeiro


tradicional, que existe pouca literatura disponível sobre novas moedas e moedas
virtuais. Talvez pela sua dificuldade em reconhecê-las como moedas, ou talvez
seja pela novidade do tema. Não conseguimos saber com precisão. Para
compreendermos este tema, realizamos pesquisas em artigos científicos recentes
e publicações de profissionais especializados na área, assim como em entidades
internacionais e intergovernamentais de prevenção a fraudes no sistema
financeiro.

Para Barreto (2017), quando falamos em moedas virtuais, não


necessariamente estamos falando de algo essencialmente novo. Por exemplo, um
programa de pontuação no cartão de crédito pode ser considerado uma moeda
virtual. Um programa de milhagem de companhias aéreas também, assim como
um simples cupom de desconto.

Segundo a Financial Segundo a Financial ActionTask Force - FATF (2014) a moeda


ActionTask Force- virtual é uma representação digital de um valor que pode ser
FATF (2014) a negociado no universo virtual. A moeda virtual funciona como um
moeda virtual é uma meio de troca; e/ou uma unidade de conta; e/ou uma loja câmbio, mas
representação digital não tem status de moeda legal. Quando a moeda virtual é ofertada
de um valor que
a um determinado credor, é considerado uma oferta de pagamento
pode ser negociado
no universo virtual. válida. Uma outra característica é de que as moedas virtuais não são
emitidas e nem garantidas por qualquer instituição governamental.
Esta validade das moedas virtuais ocorre por um consenso admitido entre os
usuários deste tipo de moeda.

A moeda virtual se distingue da moeda tradicional, do dinheiro real, mas em


alguns casos pode ser convertida neste, ou seja, em alguns casos pode-se trocar
moeda virtual por dinheiro real.

144
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

A FATF (2014) alerta para a distinção da moeda virtual do chamado e-money,


que é uma representação digital da moeda tradicional utilizada para transferir
dados eletronicamente denominados em moeda tradicional.

Assim, podemos verificar alguns elementos novos na moeda virtual, um deles


é a ausência de um controle de emissão e circulação por parte de uma entidade
controladora do sistema financeiro nacional, ou seja, nas moedas virtuais não
existe um banco central dando garantias de que aquela moeda virtual poderá
ser aceita em determinadas transações nem a sua equivalência de valor e muito
menos a sua autenticidade.

A FATF - Financial ActionTask Force -, ou força tarefa de ação


financeira, numa tradução literal é um órgão intergovernamental
criado em 1989 pelos ministros de seus estados membros, dos
quais o Brasil é um destes. Os objetivos da FATF é estabelecer
padrões e promover a implementação efetiva de medidas legais,
regulamentares e operacionais para combater lavagem de dinheiro,
o financiamento do terrorismo e outras ameaças relacionadas à
integridade do sistema financeiro internacional. Conheça mais sobre
o trabalho realizado pela FATF, através do link: <http://www.fatf-gafi.
org/home/>.

Segundo a FATF (2014), há dois tipos básicos de moedas virtuais, aquelas


conversíveis e aquelas não conversíveis:

• Moedas virtuais conversíveis: este tipo de moeda corresponde àquelas


para as quais há um mercado ativo, ou seja, alguém que oferta dinheiro
real e outra pessoa que aceita vender a moeda. Veja que, como não há
uma regulação, uma obrigação de venda, o mercado deve ser recíproco,
deve existir tanto pessoas desejando a compra da moeda quanto
pessoas aceitando vendê-las. Um exemplo bastante recente deste tipo
de moeda virtual conversível é o bitcoin, o qual vamos explorar mais à
frente com maiores detalhes.

• Moedas virtuais não conversíveis: estas moedas foram criadas para


serem utilizadas em ambientes específicos, em comunidades virtuais
definidas. Assim, não há permissão pelo emissor para a conversão
destas moedas em dinheiro real, e caso isso ocorra é comum a previsão

145
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

de punições para quem realizou a venda. FATF (2014) alerta que mesmo
que algumas moedas virtuais não sejam conversíveis, é comum que
ocorra a existência de uma espécie de mercado paralelo, no qual estas
moedas são transacionadas. Este é um caso típico dos programas de
milhagens de companhias aéreas, nos quais há um ambiente específico
para aquisição e acumulação de pontos (milhas), os quais podem ser
trocados por passagens aéreas ou então por produtos específicos em
redes comerciais parceiras.

Ainda segundo o FATF (2014), as moedas virtuais podem ser centralizadas


ou não centralizadas.

As moedas virtuais não conversíveis são todas centralizadas: isto ocorre pela
sua definição, pois existe um emissor central que estabelece regras que as tornam
não conversíveis. Em contrapartida, as moedas virtuais conversíveis podem ser
tanto centralizadas ou descentralizadas.

• Moedas virtuais centralizadas: as moedas virtuais centralizadas


possuem uma única autoridade de administração, isto é, um terceiro que
coordena todo o sistema. Um administrador emite a moeda, estabelece
as regras para seu uso, mantém um livro-razão de pagamento central e
tem autoridade para retirar a moeda de circulação. A taxa de câmbio de
uma moeda virtual conversível pode ser flutuante, ou seja, determinada
pela oferta e demanda do mercado para a moeda virtual - ou vinculada
- ou seja, fixada pelo administrador em um valor fixo medido em moeda
real. Atualmente, a maioria das transações de pagamentos em moeda
virtual envolvem moedas virtuais centralizadas. Exemplos: reservas de
bilhetes aéreos com pontos de milhagem, reserva de hotel ou pagamento
de combustível com pontos do cartão de crédito.

• Moedas virtuais descentralizadas: estes são tipos específicos de


moedas virtuais não tão usuais nas transações comerciais. As moedas
virtuais descentralizadas são distribuídas ponto a ponto e baseadas
em programas matemáticos que não possuem autoridade central de
administração e nenhum monitoramento ou supervisão central. Um
exemplo deste tipo de moeda é o bitcoin.

146
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

Quando se fala em moedas virtuais, ou moedas digitais,


especificamente as criptomoedas (bitcoin, por exemplo), você poderá
se deparar com o termo peer-to-peer, ou ponto-a-ponto, esta é
uma arquitetura de rede de computadores na qual há comunicação
direta entre dois computadores, sem a necessidade de um servidor
central, e tanto um ponto quanto outro da rede enviam e recebem
informações.

O Quadro 22 resume a taxonomia adotada pela FATF (2014) para conceituar


as moedas virtuais.

Quadro 22 – Taxonomia de moedas virtuais

Centralizada Descentralizada
Possui administrador central, comer-
Usuários (não administrador);
cialização; existe terceiro que valida
não existe terceiro que valida
as operações; pode ser
as operações; pode ser trocado
Conversível
por moeda fiduciária.
trocado por moeda real.

Exemplo: Bitcoin.
Exemplo: Second Life Linden Dollars.

Administrador centralizado não con-


versível, existe terceiro que valida
Não as operações; não pode ser trocado
por moeda real. Não existe.
Conversível
Exemplo: Programas de pontos de
companhias aéreas.

Fonte: Adaptado de FATF (2014, p. 8).

Taxonomia: taxonomia é uma ciência de classificação. Esse


termo vem das ciências naturais, onde existe uma constante busca por
classificação, descrição e catalogação de espécies de seres vivos.

147
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

i) Exemplos de Moeda Virtual

Segundo Barreto (2017), temos uma diversidade de tipos de moedas virtuais


e pelas suas características podemos classificá-las conforme suas propriedades
de conversibilidade e centralização.

Uma característica intrínseca das moedas virtuais, como o FATF (2014)


descreve, é o fato de não serem emitidas por um agente governamental e serem
aceitas em um ambiente virtual como um tipo de pagamento válido. Barreto (2017)
traz alguns exemplos de moedas virtuais, as quais vamos descrever com mais
detalhes:

• Moedas virtuais vinculadas a jogos eletrônicos

Este tipo de moeda virtual é bastante conhecido do público jovem e com


afinidade com a tecnologia - jogos eletrônicos para ser mais preciso. Uma moeda
muito citada em periódicos científicos é o Second Life Linden Dollars. Second
Life é uma plataforma virtual em terceira dimensão na qual os jogadores simulam
diversos aspectos da sua vida em um ambiente virtual e utilizam uma moeda
virtual, Second Life Linden Dollars, para realizar transações unicamente nesta
plataforma. O Second Life Linden Dollars possui um equivalente em moeda real
e pode ser convertido pelo usuário do programa. No entanto, essa não é uma
regra para moedas virtuais vinculadas a jogos eletrônicos. Segundo a FATF
(2014), as moedas podem ser não conversíveis, como a World of Warcraft Gold.
Uma característica destas moedas é a de centralização, pois são emitidas e
controladas por um único administrador, geralmente o fabricante do referido
software computacional.

Esse tipo de moeda pode ser adquirido diretamente pelos usuários dos
jogos eletrônicos na plataforma ou ser recebido por recompensa em atividades
exercidas dentro do próprio jogo. A conversibilidade auxilia no atrativo para
compra da moeda, pois o usuário poderá revertê-la em moeda real caso desista
de utilizá-los na plataforma virtual, contudo, há sempre uma taxa de câmbio na
conversão, tanto para compra, quanto para venda.

• Programas de recompensa ou fidelidade

Mariotto (2015, p. 39) afirma que “os Programas de Fidelidade são esquemas
estruturados pelas empresas permitindo a concessão de benefícios de forma
sistemática ao cliente”. Os benefícios identificáveis pelo usuário dos programas
de fidelidade são os descontos ou prêmios, mas também existem as sensações
de status, participação de um grupo social, agradecimento e reciprocidade.

148
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

Quando se fala em moeda virtual, um dos tipos de programa de fidelidade


utilizados como exemplo por Barreto (2017) são os programas de milhas aéreas.
Esse tipo de programa de fidelidade surgiu junto às companhias de aviação, que
premiam seus usuários pela fidelidade em voar sempre com a mesma companhia
aérea. Assim, ao conquistar determinada quantidade de milhas, que pode variar
conforme a distância viajada e/ou o valor das passagens adquiridas, o usuário
poderá resgatar passagens aéreas ou trocar este valor equivalente por produtos
ofertados em lojas parceiras. Com o passar do tempo, as empresas emissoras
de cartão de crédito passaram a firmar parcerias com as companhias aéreas,
e utilizaram sistema de pontuação que pode ser convertido em milhas dos
programas parceiros, visando também fidelizar e estimular o uso de seu produto.
De forma mais recente, variados programas de fidelidade passaram a firmar
parcerias e a intercambiar milhas, como redes de postos de combustível, grupos
hoteleiros e grandes redes de varejo. Surgiram também programas de pontuação
independentes, que fazem aquisição de passagens aéreas diretamente, sem
vinculação com uma companhia específica, sendo que alguns destes permitem
transferir pontos em programas de milhagens vinculados a companhias aéreas.

“A recompensa é um fator importante dentro de um programa de fidelidade. O


programa que conduz o cliente mais frequentemente ao resgate de recompensas
aumenta sua atratividade” (NUNES; DRÈZE, 2006 apud MARIOTTO, 2015, p. 41).
Dowling e Uncles (1997 apud MARIOTTO, 2015) categorizaram as recompensas
em diretas e indiretas. As diretas referem-se àquelas que têm relação com o
produto comercializado. Assim, uma cafeteria que possui programa de fidelidade
que permite ao cliente acumular a quantidade de cafés que ele consome no
mês, gerando um café bônus para cada dez consumidos, está fornecendo uma
recompensa direta. Já para programas que fornecem outros tipos de resgates,
como aqueles não relacionados ao produto ofertado pela empresa, fornecem
recompensas indiretas, como é o caso de uma rede de postos de combustíveis
que fornece ingressos de espetáculos quando o cliente atingir um determinado
volume de abastecimentos. Dowling e Uncles (1997 apud MARIOTTO, 2015),
afirmam que os benefícios diretos costumam gerar uma fidelidade maior do cliente
com a marca.

Mariotto (2015) ainda afirma que as recompensas podem ser imediatas, em


que o cliente tem acesso ao benefício no momento da compra, ou ainda a prazo,
quando é preciso um decurso de tempo para que o cliente possa ter direito ao
benefício. O Quadro 23 ilustra estes tipos de recompensa.

149
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Quadro 23 – Esquemas de tipos recompensa


Prazo para a Recompensa

Imediata A prazo

Promoções de Clubes de Cias Aéreas


Marca/Vendas do para frequent-flyers,
Apoia diretamente Fabricante Cupons e Tokens
à proposta de
valor do produto Exemplo: Promoções Exemplos: Programa
de preço, descontos "Tudo Azul" da Cia Aérea
Azul
Tipo de
Recompensa

Competições e Programas multiprodutos


Outros tipos de
Loterias
recompensa Exemplos: Multiplus,
indireta
Exemplo: "raspadinhas" Smiles, Netpoints, Dotz,
FlyBuys na Austrália.

Fonte: Downling e Uncles (1997 apud MARIOTTO 2015, p. 42).

Estes programas de Estes programas de fidelidade possuem como característica


fidelidade possuem
principal o fato de serem centralizados, ou seja, possuírem um único
como característica
principal o fato de administrador que controla suas regras e não permitirem a conversão
serem centralizados, direta em moeda real, mas em contrapartida, são aceitos como forma
ou seja, possuírem de pagamento válida em uma variedade de lojas e serviços.
um único
administrador que Geralmente há algum tipo de punição para quem efetuar a
controla suas regras
venda deste tipo de moeda virtual em um mercado paralelo, mas
e não permitirem a
conversão direta em que é bastante ativo e de certa maneira, formalizado. A questão aqui
moeda real, mas em é ausência do Estado na garantia e regulação desta moeda virtual,
contrapartida, são portanto, para que haja uma punição do usuário, existe a necessidade
aceitos como forma de mover processos administrativos ou judiciais, embasados
de pagamento válida em provas etc. que movimentaria uma atividade organizada de
em uma variedade
fiscalização privada dos atos e registros de transações comerciais
de lojas e serviços.
entre particulares, o que pode até eventualmente ser realizado, mas
de forma mais exemplar do que rotineira, haja vista o tamanho deste mercado e a
existência de um mercado paralelo relativamente estruturado.

• Criptomoedas

FATF (2014) afirma que criptomoeda refere-se a uma moeda virtual


conversível descentralizada baseada em matemática que é protegida pela
criptografia. Esta moeda virtual incorpora princípios de criptografia para
implementar uma economia de informação distribuída, descentralizada e segura.
A criptomoeda confia em chaves públicas e privadas para transferir valor de
uma pessoa (pessoa física ou jurídica) para outra, e deve ser criptograficamente
assinada cada vez que é transferida.

150
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

Quando falamos em criptomoedas, estamos entrando em um mundo


completamente novo, numa moeda verdadeiramente virtual. Ela é totalmente
conversível, contudo, descentralizada. Não existe um único emissor, pois as
transações realizadas são verificadas de forma desfragmentada, utilizando-se
uma rede ponto a ponto, ou seja, sem passar por um servidor centralizado, com o
crivo de seu emissor.

Segundo Boff e Ferreira (2015), em 2009, um artigo formulado por um autor


ou grupo de autores, não se sabe ao certo, deu origem ao conceito de Bitcoin.
Neste paper, foi introduzida a ideia de uma tecnologia de rede ponto a ponto para
ser a base de um sistema monetário eletrônico, através dos quais duas partes
realizariam transações sem a necessidade de uma terceira para conceder a
validade da transação. De imediato, este artigo desalojou o Estado e uma série
de instituições financeiras intermediárias para dar segurança e credibilidade à
transação, reduzindo seus custos.

A arquitetura do Bitcoin é complexa se pensarmos enquanto estrutura de um


sistema financeiro, mas os usuários geralmente não se atêm a isso no dia a dia
quando falamos em transações financeiras tradicionais, que envolve um sistema
financeiro, cartões de crédito, sistemas de compensação e taxas de administração
e operação embutidas.

De fato, o sistema de Bitcoin é muito inovador e um exemplo disto é o fato de


que ele é gerado automaticamente e segundo o FATF (2014, p. 5) “está limitado
a 21 milhões de bitcoins (mas cada unidade poderia ser dividida em partes
menores), que deverá ser atingido até 2140. Em 2 de abril de 2014, havia mais
de 12 milhões e meio de bitcoins, com um valor total de pouco mais de US $ 5,5
bilhões, com base na taxa média de câmbio nessa data”.

Segundo Boff e Ferreira (2015), esta questão de ser autolimitado simula uma
escassez e aproxima o bitcoin ao comércio de metais preciosos, como o ouro.

A lógica por trás do bitcoin está na rede de computadores realizada ponto a


ponto, sem a necessidade de um servidor central que armazene e gerencie todas
as informações. Essa rede funciona como um mosaico, no qual cada informação
está em um ponto da rede, fragmentada, e existe um determinado código que
pode juntar, buscar, cada fragmento da rede em pontos distintos para montar a
informação necessária. É como se para formar a palavra “dinheiro” eu tivesse que
buscar cada letra em 7 computadores diferentes, cada um armazenaria uma letra,
e tivesse um código que me informasse em quais endereços de computadores eu
poderia buscar cada letra e qual a sequência a ser utilizada. Deste modo, todos os
usuários da rede poderiam acessar a palavra, pois ela estaria acessível a todos,
mas de fato, nenhum dos usuários a teria por completo, nenhum seria dono da
palavra inteira, somente de uma parte.

151
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

Nessa lógica, cada transação é verificada por um grupo de usuários


denominados de mineradores, os quais atribuem a cada transação um código
que pode ser verificado por todos os usuários do sistema. Estes mineradores
recebem uma quantidade de bitcoins por cada transação realizada, mas esta
não é descontada da transação comercial realizada, e sim da emissão de novos
bitcoins, ao menos até se emitirem todos os 21 milhões de bitcoins.

Boff e Ferreira (2015) trazem um exemplo bastante elucidativo, que nos


permite verificar a diferença entre uma transação realizada com moeda real e outra
realizada com bitcoins. Os autores citam como exemplo a compra de um simples
café em uma padaria, a qual poderia ser realizada com um cartão de crédito.
Nessa transação tão tradicional para o nosso dia a dia, apenas visualizamos o
lançamento de um débito a ser quitado em data futura, no vencimento da próxima
fatura do cartão, e para o vendedor, fica o registro lançado junto à administradora
do cartão com a promessa de pagamento em alguns dias úteis, se tudo correr
conforme a normalidade. Para começarmos a destrinchar o que está por trás
desta operação é preciso esclarecer que o cliente pagou R$ 5,00 e o proprietário
da padaria recebeu R$ 4,75, haja vista que a administradora do cartão cobra 5%
referente aos custos de administração, que envolve checar e avaliar a veracidade
do crédito lançado na fatura do cliente. Fora isso, temos o fato de o cliente e
o proprietário da padaria estarem vinculados a um banco, cobrando e exigindo
taxas e cadastros diversos. Outro fator relevante nesta transação é que uma série
de instituições (públicas e privadas) possuem acesso às transações realizadas.
Se a mesma compra fosse realizada com bitcoins, bastaria que o proprietário e o
cliente possuíssem um aplicativo instalado no smartphone, o qual faria a leitura de
um código no aparelho do cliente, desbloqueando o acesso à quantia de bitcoins
referente ao café Esta operação seria disponibilizada publicamente, mas sem
revelar o cliente e o comprador, para ser validada pelos mineradores, que até
em uma hora fariam a validação da transação e transfeririam os bitcoins para a
carteira virtual do proprietário, sem a necessidade de qualquer intermediário.

Atividades de Estudos:

1) O uso de moedas virtuais vem se expandindo nos últimos


anos, qual a principal inovação que a diferencia das moedas
tradicionais? Explique.
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152
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

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2) Qual as diferenças entre uma moeda virtual como milhas de


programas de fidelidade e uma criptomoeda?
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j) Vantagens do uso de moedas virtuais

Barreto (2017) afirma que o uso de moedas virtuais podem trazer inúmeras
vantagens, sendo que aquelas relacionadas à redução e, em alguns casos, a
eliminação dos custos de transação entre os intermediários que fornecem e
verificam a veracidade das transações é uma delas. Essas vantagens estão mais
presentes com relação às criptomoedas, pois possuem claramente este propósito,
o de fornecer anonimato nas transações e realizá-las com uma verificação de
veracidade colaborativa.

Para as moedas vinculadas a jogos eletrônicos e programas de fidelidade,


esta vantagem é parcial, uma vez que as transações realizadas possuem uma
identificação por parte do administrador central. Algumas destas moedas, como
as vinculadas a jogos eletrônicos, podem cobrar uma taxa de administração,
explorando um filão do sistema financeiro tradicional. Para a empresa, esta é uma
vantagem, já para os usuários, uma desvantagem. A fidelização do cliente nos
programas de recompensa é outra vantagem adicional.

Usar uma moeda virtual também elimina a necessidade de transporte de


numerários e reduz o tempo de efetivação da transação. O armazenamento e
transporte de valores é hoje uma preocupação tanto dos comércios quanto das
empresas transportadoras, uma vez que existe uma crescente criminalização que
atua, em pequena escala, furtando estabelecimentos comerciais e, em grande
escala, com assaltos a veículos de transporte de valores.

153
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

A emissão de cédulas tradicionais possui um custo de impressão, além de


que a emissão de dinheiro adicional gera inflação. Ao disponibilizar mais recursos
em circulação há maior demanda pelo consumo e a demanda elevada aumentam
os preços, gerando então a inflação. No caso das criptomoedas, o risco de gerar
inflação é nulo, já que elas não estão atreladas a um sistema financeiro tradicional.

Uma outra questão que pode ser vantajosa na aceitação de moedas


eletrônicas é o fato de se tratar de uma inovação, e pode ter um apelo comercial
se o negócio em questão tiver ligado a um público inovador e com afinidade
tecnológica. Segundo Boff e Ferreira (2015), mais de 82 mil comerciantes no mundo
já aceitam o Bitcoin como forma de pagamento. Se levarmos em consideração
as parcerias com programas de recompensa, o número de estabelecimentos
comerciais que utilizam moedas virtuais pode crescer exponencialmente.

Há, no entanto, uma série de riscos que precisam ser levados em


consideração na utilização destas novas moedas.

k) Riscos do uso de moedas virtuais

As características das moedas virtuais também falam muito no momento


de ponderar os seus riscos. As moedas virtuais centralizadas, que via de regra
não são conversíveis, salvo algumas exceções, dependem da atuação de seus
emissores, seus administradores, para continuarem circulando e permanecerem
ativas. Assim, quanto mais difundido e sólido o administrador da moeda virtual,
melhor será a sua aceitação. O inverso também é verdadeiro, quanto mais restrito
e frágil o administrador, menor será a sua aceitação e menor serão as chances
de aplicação comercial da moeda. Isto é decorrente do fato de a moeda possuir
uma representação de valor somente dentre os seus usuários, pois para todos
os efeitos as moedas virtuais não existem como moeda real, e segundo Barreto
(2017), elas possuem um escopo de uso limitado a um contexto específico, ou
seja, não podem ser utilizadas como meio de pagamento em qualquer tipo de
produto. Moedas virtuais vinculadas a jogos eletrônicos possuem um uso mais
restrito, já os programas de recompensas podem ter uma aplicação mais ampla,
mas de qualquer modo, sempre limitada às parcerias preestabelecidas pelos
programas, e nas condições especificadas.

Segundo Barreto (2017), outro risco das moedas virtuais é a baixa preocupação
com segurança, uma vez que não possuem protocolos de segurança específicos.

Mariotto (2015) afirma que existe uma dificuldade em especificar o retorno


que os programas de fidelização trazem para as empresas que o utilizam, uma
vez que o custo é certo, mas o retorno pode ser dissolvido junto a outros esforços

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Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

de vendas, como campanhas de publicidade, descontos, dentre outros. Mariotto


(2015) afirma que os programas de fidelidade com recompensas podem ser
percebidos como um entrave para o cliente, uma vez que este precisa exercer
cadastros complexos, e pode ter dificuldades em resgatar seus prêmios, como no
caso de acessar voos concorridos com pontuações razoáveis.

Já as moedas virtuais descentralizadas e conversíveis são tecnologias mais


transparentes, contudo são relativamente novas e complexas de se entender,
além de não serem reguladas e supervisionadas por autoridade monetária. O seu
uso e valor como moeda depende também da aceitação de seus usuários, o que
por si só deixa todo o sistema vulnerável a uma eventual crise de confiança e uma
rejeição de seu uso.

A FATF (2014) ainda alerta para o risco de usos ilícitos da moeda, como
lavagem de dinheiro ou financiamento de organizações criminosas, dada a
dificuldade em rastrear os proprietários e as transações correspondentes.

Os riscos de uso de moedas virtuais para atividades ilícitas ou


que possam lesar seus usuários têm inflamado o discurso de quem
defende a sua regulamentação. Ouça o trecho do programa da rádio
da Câmara Federal que expõe este dilema (clique em baixar áudio):
<https://goo.gl/bV8K6F>.

Algumas ConsideraçÕes
No presente capítulo fizemos um resgate histórico da evolução do dinheiro,
da moeda, nas transações comerciais. Começamos abordando a técnica mais
rudimentar de troca de mercadorias: o escambo. Ficou claro desde o início das
trocas de mercadorias que algumas mercadorias possuíam mais valor do que
outras e a tendência em se concentrar em algumas, como o sal, o gado e o café,
por exemplo.

Com o tempo, o metal foi substituindo as demais mercadorias nas trocas


comercias até serem cunhadas as primeiras moedas, que tinham o valor do
material que eram forjadas. Com o tempo, as moedas passaram a ter o valor
que era impresso em suas faces, em vez de o valor do produto do que eram
produzidas. A partir daí para a emissão de cédulas em papel era uma questão

155
PLANEJAMENTO E CONTROLE FINANCEIRO

de tempo e então surgiu a necessidade de centralizar o emissor, de modo que


se garantisse a autenticidade das cédulas e garantissem o poder de pagamento
destas. As modalidades de pagamento evoluíram, mas o papel centralizador do
sistema financeiro permaneceu vinculado ao Banco Central do Brasil.

Com o avançar da tecnologia, novas moedas foram surgindo, algumas como


forma de rentabilizar operações, como as moedas virtuais vinculadas a programas
eletrônicos (vide alguns jogos virtuais), seja como forma de fidelizar clientes, como
os programas de recompensas de empresas comerciais (companhias aéreas,
companhias de cartão de crédito, redes de varejo etc.) ou ainda com uma forma
diretamente alternativa ao uso do dinheiro tradicional, como as criptomoedas.

Verificamos que estas moedas se diferenciam em diversos aspectos, mas de


forma bastante relevante foi possível destacar dois: a centralização da emissão e
a validação e sua conversão em moeda real.

As moedas centralizadas (moedas vinculadas a programas eletrônicos


e pontos de programas de recompensas) podem ou não ser conversíveis em
moedas reais e as descentralizadas são plenamente conversíveis, como as
criptomoedas (bitcoin).

Os benefícios do uso de moedas digitais incluem a diminuição dos custos


de transação, maior confidencialidade das operações, dispensa do transporte
e armazenamento de valores em espécie, reduzindo assaltos e a criminalidade
violenta.

Já os riscos incluem a necessidade de aceitação da moeda, possibilidade de


uso ilícito e aplicação geralmente vinculada a um escopo específico.

O debate pela necessidade de regulação está ganhando força e pode


aumentar ainda mais na medida em que as moedas virtuais se demonstrarem
como uma ameaça real de substituição da moeda real.

Chegamos ao fim de mais um capítulo. Espero que você tenha aproveitado a


oportunidade para conhecer um pouco da história de evolução das moedas, dos
tempos mais remotos aos tempos atuais, incluindo as novas moedas virtuais, suas
vantagens e desvantagens. Um grande abraço e até uma próxima oportunidade.

156
Capítulo 6 NOVAS MOEDAS: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA
PEQUENAS EMPRESAS

ReFerÊncias
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Origem e evolução do dinheiro. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/htms/origevol.asp>. Acesso em: 20 fev. 2018.

BARRETO, Luciano Porto. Moedas virtuais e digitais. Citações em documentos:


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FATF. Virtual currencies key definitions and potential AML/CFT Risks.


2014. Disponível em: <http://www.fatfgafi.org/publications/methodsandtrends/
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MARIOTTO, Tomás. Fidelidade ao cartão de crédito em troca de milhas


aéreas: um estudo empírico no mercado brasileiro. 2015. Disponível em: <http://
bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/15069>. Acesso em: 22 mar. 2018.

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