Eletrotermofototerapia

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Eletrotermofototerapia

Prof. Altair Argentino Pereira Júnior

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof. Altair Argentino Pereira Júnior

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

P436e

Pereira Júnior, Altair Argentino

Eletrotermofototerapia. / Altair Argentino Pereira Júnior. – Indaial:


UNIASSELVI, 2019.

189 p.; il.

ISBN 978-85-515-0419-2

1. Fisioterapia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 612

Impresso por:
Apresentação
Olá, caro acadêmico! Seja muito bem-vindo à disciplina de
Eletrotermofototerapia. Esta disciplina tem por objetivo apresentar os
diferentes recursos eletrotermofototerápicos utilizados pelo fisioterapeuta,
seus efeitos fisiológicos, técnicas de aplicação, indicações e contraindicações.
Você já parou para pensar de onde vem a energia elétrica que utilizamos
a todo instante? As usinas hidroelétricas produzem milhões de megawatts
por hora (MWh) que são distribuídos até nossas residências. Podemos tomar
como exemplo a usina Itaipu Binacional, líder mundial em produção de
energia limpa e renovável, que só no ano de 2018 produziu 96,6 milhões de
MWh. É muita energia, não?

Diferentes motivos fazem com que nós usemos a eletricidade, seja para
o diagnóstico ou no tratamento de diferentes doenças. Na aplicabilidade dos
recursos da fisioterapia, a eletricidade é um agente terapêutico, mas também
contribui para promover outras formas de energia aplicadas à reabilitação.

Ao longo da história, a eletricidade esteve relacionada às ciências


médicas, como por exemplo: as descargas do peixe elétrico aplicadas a
tratamentos na Antiguidade, os estudos eletrofisiológicos em animais,
os tratamentos com descargas elétricas em pacientes com distúrbios
psiquiátricos, e chegando até a evolução dos dias atuais em que os aparelhos
possuem microprocessadores e inúmeras tecnologias que fazem o uso
adequado e confortável da eletricidade como recurso aplicado ao ser humano
que se beneficia em diferentes tipos de tratamentos.

Afim de compreender os mecanismos de ação dos recursos


eletrotermofototerápicos, neste Livro Didático, você irá aprender sobre
os aspectos físicos, fisiológicos, biofísicos e bioquímicos relacionados com
os agentes eletroterápicos. Também estudará o reparo dos tecidos desde
as unidades celulares, compreendendo ainda o processo de cicatrização
e o mecanismo de modulação da dor. Na sequência, estudará todos os
recursos eletrotermofototerápicos utilizados pelo fisioterapeuta em sua
prática profissional.

Bons estudos,

Prof. Altair Argentino Pereira Júnior


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS................................................. 1

TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA............................................. 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ELETRICIDADE........................................................................... 3
2.1 CORRENTES ELÉTRICAS............................................................................................................. 5
2.1.1 Corrente direta........................................................................................................................ 6
2.1.2 Correntes alternadas ............................................................................................................. 6
2.1.3 Corrente em pulso.................................................................................................................. 7
2.2 PULSO ELÉTRICO.......................................................................................................................... 8
2.2.1 Largura do pulso.................................................................................................................. 10
2.2.2 Salva ou rajada de pulsos.................................................................................................... 10
2.2.3 Tempo do pulso.................................................................................................................... 11
2.2.4 Rampas................................................................................................................................... 11
2.3 ELETROESTIMULADORES......................................................................................................... 12
2.4 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA.................................................................................................. 13
2.5 IMPEDÂNCIA................................................................................................................................ 14
3 ELETRODO.......................................................................................................................................... 15
3.1 POSICIONAMENTO DO ELETRODO...................................................................................... 18
3.1.1 Técnica bipolar e monopolar............................................................................................... 19
3.2 DENSIDADE DA CORRENTE.................................................................................................... 20
4 ONDAS................................................................................................................................................. 22
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 25
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 26

TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS, BIOFÍSICOS E BIOQUÍMICOS...................... 29


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 29
2 PROPRIEDADES DAS MEMBRANAS CELULARES................................................................ 29
2.1 ESTRUTURA E ORGANELAS CELULARES............................................................................ 30
2.2 MEIOS DE TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA CELULAR................................... 34
2.3 MECANISMOS DE TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA........................................ 35
2.3.1 Difusão................................................................................................................................... 36
2.3.2 Osmose................................................................................................................................... 37
2.3.3 Transporte ativo.................................................................................................................... 39
2.4 POTENCIAL DE MEMBRANA................................................................................................... 39
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 42

TÓPICO 3 — REPARO DOS TECIDOS............................................................................................ 45


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 45
2 RESPOSTA À LESÃO........................................................................................................................ 45
2.1 O PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO DOS TECIDOS MOLES................................................ 46
2.1.1 Resposta Inflamatória.......................................................................................................... 46
2.1.2 Fase Proliferativa.................................................................................................................. 48
2.1.3 Fase de Remodelamento...................................................................................................... 48
2.2 FATORES QUE INTERFEREM NEGATIVAMENTE NO PROCESSO DE
CICATRIZAÇÃO........................................................................................................................... 49
2.3 CICATRIZAÇÃO DOS TECIDOS MOLES................................................................................. 49
2.3.1 Cartilagem............................................................................................................................. 50
2.3.2 Ligamentos e tendões........................................................................................................... 50
2.3.3 Músculo.................................................................................................................................. 51
2.3.4 Nervo...................................................................................................................................... 51
2.4 DOR................................................................................................................................................. 51
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 54
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 58
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 59

UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS..................................................................................... 61

TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR.................................. 63


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 63
2 MECANISMO PERIFÉRICO E CENTRAL DA DOR.................................................................. 63
3 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA – TENS.................................... 66
3.1 TIPOS DE TENS............................................................................................................................. 67
3.1.1 Convencional......................................................................................................................... 68
3.1.2 Acupuntura............................................................................................................................ 68
3.1.3 Burst........................................................................................................................................ 68
3.1.4 Breve-intensa......................................................................................................................... 69
3.2 MODULAÇÃO DA TENS............................................................................................................ 69
3.3 COLOCAÇÃO DO ELETRODO.................................................................................................. 70
3.4 EFEITOS DA TENS........................................................................................................................ 71
3.5 FORMAS DE APLICAÇÃO.......................................................................................................... 71
3.6 CUIDADOS E PRECAUÇÕES..................................................................................................... 72
3.7 INDICAÇÕES................................................................................................................................. 72
3.8 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................... 72
4 CORRENTE INTERFERENCIAL..................................................................................................... 73
4.1 EFEITOS ......................................................................................................................................... 74
4.2 FORMAS DE APLICAÇÃO.......................................................................................................... 75
4.2.1 Método tetrapolar................................................................................................................. 75
4.2.2 Modo varredura.................................................................................................................... 77
4.2.3 Método bipolar...................................................................................................................... 77
4.3 A SELEÇÃO DA FREQUÊNCIA................................................................................................. 78
4.4 CUIDADOS E PRECAUÇÕES..................................................................................................... 80
4.5 INDICAÇÕES................................................................................................................................. 80
4.6 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................... 80
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 82
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 89

TÓPICO 2 — ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR............................................................. 91


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 91
2 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NEUROMUSCULAR (NMES).................................................... 91
3 CORRENTE RUSSA........................................................................................................................... 94
3.1 MODOS DE ESTIMULAÇÃO...................................................................................................... 97
3.2 COLOCAÇÃO DOS ELETRODOS.............................................................................................. 97
3.3 CONSIDERAÇÕES AO APLICAR A ELETROESTIMULAÇÃO MUSCULAR................... 98
3.4 INDICAÇÕES................................................................................................................................. 99
3.5 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................... 99
4 CORRENTE AUSSIE.......................................................................................................................... 99
4.1 MODALIDADES.......................................................................................................................... 100
4.2 PARÂMETROS............................................................................................................................. 100
4.3 FORMAS DE APLICAÇÃO........................................................................................................ 101
4.4 INDICAÇÕES............................................................................................................................... 101
4.5 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................. 101
5 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA FUNCIONAL (FES)..................................................................... 101
5.1 PARÂMETROS............................................................................................................................. 103
5.2 INDICAÇÕES............................................................................................................................... 103
5.3 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................. 103
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 105
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 106

TÓPICO 3 — CORRENTES POLARIZADAS................................................................................ 109


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 109
2 CORRENTE GALVÂNICA............................................................................................................. 109
2.1 EFEITOS FÍSICOS E FISIOLÓGICOS....................................................................................... 111
2.2 EFEITOS POLARES E INTERPOLARES.................................................................................. 112
2.3 TÉCNICA DE APLICAÇÃO ..................................................................................................... 112
2.3.1 Cuidados na aplicação....................................................................................................... 113
2.4 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................. 113
3 IONTOFORESE................................................................................................................................. 113
3.1 VANTAGENS DA IONTOFORESE........................................................................................... 115
3.2 DESVANTAGENS DA IONTOFORESE................................................................................... 115
3.3 SESSÃO DE TRATAMENTO E APLICAÇÃO......................................................................... 115
3.4 INDICAÇÕES DA IONTOFORESE.......................................................................................... 116
3.5 CONTRAINDICAÇÕES DA IONTOFORESE......................................................................... 116
4 CORRENTES DIADINÂMICAS................................................................................................... 117
4.1 FORMAS DE CORRENTES........................................................................................................ 117
4.1.1 Monofásica Fixa.................................................................................................................. 117
4.1.2 Difásica Fixa........................................................................................................................ 118
4.1.3 Curtos Períodos................................................................................................................... 118
4.1.4 Longos Períodos.................................................................................................................. 118
4.1.5 Ritmo Sincopado................................................................................................................. 119
4.2 EFEITOS FISIOLÓGICOS........................................................................................................... 119
4.3 TÉCNICA DE APLICAÇÃO...................................................................................................... 119
4.3.1 Tempo de aplicação............................................................................................................ 120
4.4 INDICAÇÕES............................................................................................................................... 120
4.5 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................. 121
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 122
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 123

UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA................................................................. 125

TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA....................................................................................... 127


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 127
2 ULTRASSOM TERAPÊUTICO...................................................................................................... 127
3 CARACTERÍSTICAS DA PROPAGAÇÃO DA ONDA SONORA........................................ 129
3.1 REFLEXÃO................................................................................................................................... 130
3.2 REFRAÇÃO.................................................................................................................................. 130
3.3 ATENUAÇÃO.............................................................................................................................. 131
3.4 ABSORÇÃO.................................................................................................................................. 131
4 PROFUNDIDADE DE AÇÃO DO ULTRASSOM TERAPÊUTICO....................................... 132
4.1 PROPRIEDADES DO FEIXE DE ULTRASSOM...................................................................... 132
4.2 FREQUÊNCIA DO UST.............................................................................................................. 133
4.3 MODO PULSADO E CONTÍNUO............................................................................................ 134
4.4 INTENSIDADE............................................................................................................................ 134
5 DURAÇÃO E FREQUÊNCIA DO TRATAMENTO................................................................... 135
6 EFEITOS TÉRMICOS...................................................................................................................... 136
7 EFEITOS NÃO TÉRMICOS........................................................................................................... 137
8 MODALIDADES.............................................................................................................................. 138
9 EFEITOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS.......................................................................... 138
10 MEIO DE ACOPLAMENTO DO UST........................................................................................ 140
11 TÉCNICAS DE APLICAÇÃO....................................................................................................... 141
11.1 CONTATO DIRETO.................................................................................................................. 141
11.2 TÉCNICA SUBAQUÁTICA..................................................................................................... 141
11.3 SONOFORESE OU FONOFORESE......................................................................................... 142
12 CUIDADOS E PRECAUÇÕES..................................................................................................... 142
13 INDICAÇÕES.................................................................................................................................. 143
14 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................... 143
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 145
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 146

TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS............................................................................................. 149


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 149
2 TRANSFERÊNCIA DE CALOR..................................................................................................... 149
3 ONDAS CURTAS............................................................................................................................. 150
3.1 PRODUÇÃO DO CALOR.......................................................................................................... 150
3.2 DIATERMIA POR ONDAS CURTAS, PULSADAS E CONTÍNUAS................................... 151
3.3 ELETRODOS................................................................................................................................ 152
3.3.1 Placas metálicas flexíveis................................................................................................... 152
3.3.2 Discos metálicos rígidos.................................................................................................... 153
3.4 DOSE.............................................................................................................................................. 154
3.5 AJUSTE DA SINTONIA.............................................................................................................. 154
3.6 FORMAS DE APLICAÇÃO........................................................................................................ 155
3.6.1 Contraplanar....................................................................................................................... 155
3.6.2 Longitudinal........................................................................................................................ 155
3.6.3 Coplanar............................................................................................................................... 156
3.7 CUIDADOS AO OPERAR O APARELHO DE OC................................................................. 156
3.8 CUIDADOS E PRECAUÇÕES................................................................................................... 157
3.9 INDICAÇÕES............................................................................................................................... 157
3.10 CONTRAINDICAÇÕES........................................................................................................... 157
4 CRIOTERAPIA.................................................................................................................................. 158
4.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS........................................................................................................... 158
4.1.1 Temperatura corporal........................................................................................................ 159
4.1.2 Redução de edema.............................................................................................................. 159
4.1.3 Efeitos circulatórios............................................................................................................ 159
4.1.4 Efeito analgésico................................................................................................................. 160
4.1.5 Efeito na inflamação........................................................................................................... 160
4.2 FORMAS DE APLICAÇÃO........................................................................................................ 160
4.2.1 Bolsas de gelo...................................................................................................................... 160
4.2.3 Panqueca de gelo................................................................................................................ 161
4.2.4 Imersão no gelo................................................................................................................... 162
4.2.5 Spray..................................................................................................................................... 162
4.2.6 Tratamento criocinético..................................................................................................... 162
4.2.7 Criomassagem..................................................................................................................... 162
4.2.8 Banho de contraste............................................................................................................. 163
4.2.9 Protocolo RICE e PRICE.................................................................................................... 163
4.2.10 Bolsas de gelo instantâneo............................................................................................... 164
4.3 INDICAÇÕES............................................................................................................................... 164
4.4 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................. 165
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 166
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 167

TÓPICO 3 — AGENTES LUMINOSOS.......................................................................................... 169


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 169
2 PROPRIEDADES FÍSICAS............................................................................................................. 169
3 EFEITOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS.......................................................................... 170
3.1 EFEITOS NO REPARO DE TENDÕES..................................................................................... 171
3.2 EFEITOS NO TECIDO CUTÂNEO........................................................................................... 171
3.3 EFEITOS NO REPARO ÓSSEO.................................................................................................. 172
3.4 EFEITOS NO TECIDO NERVOSO............................................................................................ 172
3.5 OUTROS EFEITOS....................................................................................................................... 172
4 MODALIDADES.............................................................................................................................. 173
4.1 FORMAS DE APLICAÇÃO........................................................................................................ 174
4.2 PARÂMETROS............................................................................................................................. 174
4.3 CUIDADOS E PRECAUÇÕES................................................................................................... 175
4.4 INDICAÇÕES............................................................................................................................... 176
4.5 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................. 176
5 INFRAVERMELHO.......................................................................................................................... 176
5.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS........................................................................ 177
5.2 CUIDADOS NA APLICAÇÃO.................................................................................................. 177
5.3 INDICAÇÕES............................................................................................................................... 178
5.4 CONTRAINDICAÇÕES............................................................................................................. 178
5.5 CALOR ÚMIDO........................................................................................................................... 179
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 180
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 184
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 185

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 187
UNIDADE 1 —

PROPRIEDADES DOS
AGENTES ELÉTRICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer as propriedades físicas da eletricidade;

• aprender os diferentes tipos de correntes elétricas, bem como os de ondas


aplicadas utilizados com fins terapêuticos;

• estudar os efeitos fisiológicos, biofísicos, bioquímicos e a ação celular;

• compreender o processo de reparo tecidual, fases da inflamação e


mecanismo de modulação da dor.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

TÓPICO 2 - PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS, BIOFÍSICOS E BIOQUÍMICOS

TÓPICO 3 - REPARO DOS TECIDOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À
ELETROTERMOFOTOTERAPIA

1INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste primeiro tópico da Unidade 1 do livro de
Eletrotermofototerapia falaremos de uma maneira bem abrangente a respeito
das características dos recursos eletrotermofototerápicos para após aprender sua
aplicabilidade prática.

O fisioterapeuta dispõe de vários agentes físicos, cada qual, reagindo de


maneira característica a nível celular, no reparo de diferentes lesões.

O êxito no tratamento dar-se-á quando o profissional entender as


diferentes formas de energia disponíveis no âmbito terapêutico, assim como
correlacionar efeitos fisiológicos produzidos pelo recurso com a natureza da
lesão e a fase em que a mesma se encontra. A partir de agora vamos dar início a
este processo de aprendizagem.

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ELETRICIDADE


A eletroestimulação é chamada de transcutânea, pois os eletrodos
utilizados no paciente com finalidades analgésica e de estimulação funcional, são
colocados ou dispostos sobre a pele.

Para entender a Eletricidade você deve compreender que a matéria é feita


de átomos, com o átomo sendo a menor partícula de um elemento que pode ser
identificada como sendo daquele elemento. O átomo é feito de um núcleo central
carregado positivamente (constituído de prótons carregados + e nêutrons sem
carga), com partículas carregadas negativamente (elétrons) (KITCHEN, 2003).

Os circuitos elétricos precisam de um suprimento de potência para


conduzir os elétrons em torno dos condutores. Uma fonte de potência tem um
terminal positivo e um negativo, e a fonte força os elétrons para fora de seu terminal
negativo (KITCHEN, 2003). A corrente elétrica pode ser definida como um fluxo
ordenado de partículas portadoras de carga elétrica ou o deslocamento de cargas
dentro de um condutor, quando existir uma diferença de potencial elétrico entre
as extremidades. O fluxo ordenado é a passagem de elétrons do polo negativo
(cátodo) com elevada concentração de elétrons, para o polo positivo (ânodo), área
de baixa concentração de elétrons. Este é o sentido real da corrente elétrica.

3
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

É importante entender que, quando falamos de movimento de carga


elétrica no interior do organismo, não são os elétrons que se movem,
mas sim os eletrólitos dissolvidos na água e nos tecidos. Essas agitações
moleculares, geradoras de energias no tecido, são conhecidas por
movimento Browniano (AGNE, 2005, p. 42).

FIGURA 1 - CORRENTE ELÉTRICA

FONTE: O autor

A interação entre as cargas elétricas tem sido aplicada em algumas


correntes elétricas, pois as cargas opostas se atraem e as cargas iguais se repelem.

FIGURA 2 - CARGAS ELÉTRICAS

FONTE: O autor

Assim, a eletricidade é uma força criada por um desequilíbrio no número de


elétrons entre dois pontos. Essa força é conhecida como eletromagnética, diferença
de potencial ou voltagem, e cria uma situação na qual os elétrons se movimentam
numa tentativa de equilibrar as cargas, criando assim, uma corrente elétrica.

Outros aspectos físicos devem ser considerados ao utilizar as correntes


elétricas para a reabilitação, entre estes destacam-se:

• Resistência: que é considerada a maior ou menor dificuldade ou oposição à


passagem dos elétrons no interior de um condutor. Por exemplo: a pele de
um paciente oferece resistência à passagem da corrente elétrica. É medida em
ohms, sendo representada pela letra R. O ohm é definido como a resistência de
um corpo de modo que uma diferença de potencial de 1 volt através do corpo
resulte em uma corrente de 1 ampère através dele (KITCHEN, 2003).

4
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

FIGURA 3 - RESISTÊNCIA

FONTE: O autor

• Intensidade: o fluxo de elétrons que atravessa um condutor num determinado


espaço de tempo é denominado de intensidade. Usamos esta intensidade ao
aplicar a corrente elétrica no paciente, pois a intensidade é expressa em ampère
(A). No entanto, na Eletroterapia usamos uma intensidade muito baixa e a
chamamos de miliamperagem ou microamperagem (mA), pois os eletrodos
estão aplicados diretamente na pele dos pacientes, de forma transcutânea. Este
parâmetro se mantém inalterável e ainda que mude a resistência, a voltagem
manter-se-á adaptando ao circuito.
• Voltagem: pode ser chamada de diferença de potencial (ddp), sendo responsável
pelo fluxo de elétrons e seu deslocamento dentro do campo elétrico. Sua
unidade de medida é o Volt (V) (CISNEROS; SALGADO, 2006). Por exemplo: a
voltagem especificada que encontramos em alguns aparelhos de Eletroterapia
de 100 a 240 V.

2.1 CORRENTES ELÉTRICAS


As correntes elétricas aplicadas com fins terapêuticos apresentam
propriedades elétricas específicas que são empregadas na prática clínica para
a reabilitação dos pacientes. No entanto, as respostas terapêuticas obtidas
dependem da escolha da corrente, da maneira de como a corrente elétrica é
aplicada e modulada e das características biológicas dos pacientes entre outros
fatores que interferem na resposta ao tratamento.

A eletroterapia empregada via transcutânea poderá promover


distintos efeitos nos tecidos que receberão sua energia, mas, para
que isso aconteça, essa energia deverá estar previamente identificada
em parâmetros primários como a forma do pulso elétrico, a taxa de
repetição (frequência) e a intensidade ou amplitude de carga (AGNE,
2013 p. 24).

As correntes elétricas aplicadas com fins terapêuticos ainda podem ser


classificadas de diferentes maneiras, de acordo com Agne (2013):

• segundo os efeitos fisiológicos gerados no organismo;


• através da frequência de repetição dos pulsos elétricos;
• segundo a forma do pulso elétrico aplicado.

5
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

As correntes elétricas ainda podem ser subdivididas em contínuas e


alternadas, dependendo do percurso do fluxo de elétrons, ou ainda corrente de
pulso, que foi modificada para produzir efeitos específicos. Quando usados os
termos alternada e direta, ocorre fluxo ininterrupto de elétrons; e quando em
pulso, indica que o fluxo de elétrons é interrompido.

O fluxo elétrico possui propriedades como a amplitude e duração. A


distância que o pulso alcança representa a amplitude da onda. A distância
necessária para completar a forma representa a duração do pulso.

2.1.1 Corrente direta


É o fluxo ordenado de elétrons sempre em uma mesma direção. Apesar de
diferenças de voltagem ou amperagem, o fluxo de corrente permanece em uma
direção só. Em fisioterapia, o termo “galvânica” é utilizado para descrever um
tipo de corrente direta ininterrupta.

FIGURA 4 - CORRENTE DIRETA

FONTE: O autor

2.1.2 Correntes alternadas


A direção e a magnitude do fluxo se invertem, embora possa a magnitude
não ser a mesma nas duas direções. Diferentemente da corrente direta, a corrente
alternada não possui polo positivo e negativo verdadeiros. Sendo assim, os
elétrons se movem para frente e para trás, entre os dois eletrodos que se tornam
polos positivos e negativos. Um exemplo desta corrente é a eletricidade usadas
em nossas casas.

6
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

A amplitude, ou valor de pico de uma corrente elétrica alternada, está


relacionada à distância máxima que a onda atinge acima ou abaixo do valor de
referência. O valor de pico é medido a partir do pico do lado positivo do valor
de referência até o pico do lado negativo. A duração do ciclo de uma corrente
alternada é calculada a partir do ponto de origem no valor de referência até o
ponto em que ele acaba, representando a quantidade de tempo necessária para
completar um ciclo completo, número de ciclos ou pulsos por segundo (cps/pps).
É o número de vezes que repete uma cadência em 1s, medido em hertz (Hz). Por
exemplo: uma corrente com frequência de 150Hz muda sua direção de fluxo 150
vezes por segundo; já uma corrente de 3 mega-hertz (MHz) altera sua direção 3
milhões de vezes por segundo (STARKEY, 2001).

Estes valores de 150 hertz podem ser observados em correntes de baixa


frequência, como o TENS e FES. Já os valores de milhões de hertz, classificados
como alta frequência, vimos no ultrassom.

FIGURA 5 - CORRENTE ALTERNADA

FONTE: O autor

2.1.3 Corrente em pulso


Possuem fluxos unidirecionais (monofásicas) ou bidirecionais (as
chamadas bifásicas) de elétrons que são interrompidos por períodos discretos de
fluxo sem corrente. A sua unidade é a fase, sendo esta um corte individual de um
pulso que se origina acima ou abaixo do valor de referência, por um período de
tempo. Os pulsos monofásicos apresentam apenas uma fase para um único pulso e
o fluxo de corrente é unidirecional.

7
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

FIGURA 6 - CORRENTE MONOFÁSICA

FONTE: O autor

Os pulsos bifásicos consistem de duas fases, cada uma delas ocorrendo


nos lados opostos do valor de referência. A fase do início do pulso é a primeira
área que aparece acima ou abaixo do valor de referência, e a fase de término
ocorre do lado oposto (STARKEY, 2001).

FIGURA 7 - CORRENTE BIFÁSICA

FONTE: O autor

As formas de pulsos das correntes elétricas variam na prática de acordo


com cada corrente elétrica empregada na reabilitação. Esta forma de pulso
está relacionada com a intensidade aplicada e a largura do pulso elétrico. Um
impulso (pulso) elétrico é uma descarga de corrente durante um tempo. Podem
ser quadrados, retangulares, senoidais etc. Ainda classificados como simétricos
ou assimétricos, balanceados ou desbalanceados.

2.2 PULSO ELÉTRICO


A carga produzida por um gerador elétrico é dependente da duração e
amplitude do pulso. Assim, a relação existente entre a intensidade e a duração
de um pulso determina a carga total descarregada no corpo. Então, ao aumentar
a amplitude e ou a duração, aumenta-se a descarga total do pulso (STARKEY,
2001). Entre os parâmetros do pulso, tem-se a duração, a intensidade, a forma, e
quando aplicado de forma repetida, a frequência.

8
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

• A duração relaciona-se com o tempo entre a fase inicial até a fase final, incluindo o
intervalo intrapulso. A unidade de medida é expressa em ms e nos equipamentos
microprocessados, em μs. Ex: 500 (μs), 0,5 ms. Ex: TENS – 1 a 300 (μs).
• A intensidade se relaciona com a amplitude da corrente elétrica, sendo expressa
em miliampere.
• A forma do pulso utilizada na prática clínica varia bastante, os mais utilizados
são quadrados, retangulares, senoidais, exponenciais.
• A frequência do pulso depende da duração do impulso e da pausa entre eles.
É expressa em Hz, sendo alguma vezes encontradas em pulso por segundo
(pps) ou ciclo por segundo (cps). Se a corrente em pulso está sendo aplicada, a
frequência é geralmente medida pelo número de pulsos por segundo (pps); já a
frequência do ciclo de uma corrente alternada é medida pelo número de ciclos
por segundo (cps) ou hertz (STARKEY, 2001).

As formas de pulso elétrico podem ser ainda classificadas:

• Quanto à forma da onda:


◦ o triangular;
◦ o senoidal;
◦ o exponencial;
◦ o retangular.

• Quanto à direção:
◦ o unidirecionais;
◦ o bidirecionais.

• Quanto à simetria:
◦ o simétrico;
◦ o assimétrico;
◦ o balanceado;
◦ o desbalanceado.

FIGURA 8 - CLASSIFICAÇÃO DOS PULSOS ELÉTRICOS

FONTE: O autor

9
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

2.2.1 Largura do pulso


É o tempo de duração de cada um dos pulsos, sendo geralmente expressa
em segundos (ms), (μs). É medida a partir do momento que o pulso deixa o ponto
zero e volta a encontrá-lo. Nos aparelhos, geralmente encontramos a largura do
pulso identificada como a letra (T).

Ao contrário da corrente contínua, a corrente pulsada possui períodos em


que a corrente não flui. Sendo assim, a duração do tempo entre a conclusão de um
pulso e o início do pulso seguinte é chamada de intervalo interpulso. Quando em
conjunto, a duração do pulso e o intervalo interpulso formam o período de pulso,
tempo decorrido entre o início de um pulso e o começo do pulso seguinte. Já o
intervalo de pulso é o tempo que transcorre entre dois pulsos ou conjunto de pulsos.

2.2.2 Salva ou rajada de pulsos


A Salva, ou rajada de pulsos elétricos, pode ser definida como o conjunto
de impulsos que se repetem num determinado tempo. O estímulo Burst é um
exemplo clássico de uma salva, onde os impulsos se repetem por uma média de
duas a seis vezes por segundo. Um conjunto de duas ou mais salvas formam um
trem de pulso, como, por exemplo, ocorre na Corrente russa (Figura 9).

FIGURA 9 - SALVA OU RAJADA DE IMPULSOS

FONTE: Nelson, Hayes e Currier (2003, p. 72)

10
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

2.2.3 Tempo do pulso


Há um tempo necessário para a elevação do pulso elétrico, até o momento
em que este atinge seu pico. À medida que os pulsos se elevam, ocorre a
despolarização neuronal. Quando a elevação do pulso ocorre de forma lenta,
pode o nervo se acomodar e não ocorrer o potencial de ação. Se isso ocorrer, ao
invés do pulso se elevar ele cai, chegando a seu pico zero (STARKEY, 2001).

Os pulsos ainda apresentam sequências que podem ser considerados


padrões individuais de formas, frequências de ondas entre si, o que varia de
acordo com a corrente elétrica aplicada ao paciente. A elevação ou queda formam
rampas de amplitude, e elas causam um aumento da contração muscular, pois
recrutam unidades motoras. À medida que a intensidade continua a subir, mais
unidades motoras são recrutadas. O paciente pode relatar desconforto caso a
elevação seja rápida, e para evitar tal situação é recomendável que o aumento da
intensidade da corrente seja gradual (STARKEY, 2001).

2.2.4 Rampas
Alguns tipos de correntes elétricas, como a Corrente Russa e a Estimulação
Elétrica Funcional (o FES), têm a particularidade de formar rampas durante
a modulação de seus parâmetros. Estabelecendo a rampa, a carga do pulso
elétrico vai aumentar gradativamente dentro de um determinado período de
tempo, normalmente variando de 1 a 5 segundos, permitindo então um aumento
progressivo da contração muscular. Tal modulação é chamada de rampa de subida.
Muitos estimuladores também permitem uma rampa de descida, resultando em
uma diminuição gradual da carga da fase até o fim do tempo ON (NELSON;
HAYES; CURRIER, 2003).

FIGURA 10 - MODULAÇÃO EM RAMPAS


Monofásica
Rampa de subida Rampa de descida

Bifásica
Bifásico Simétrico
Amplitude (mA)

CA modulada no tempo

Tempo (s)

FONTE: Nelson; Hayes; Currier (2003, p. 72)

11
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

2.3 ELETROESTIMULADORES
Provavelmente você deve estar perguntando: por que é tão importante
estabelecer essa relação da Física com a Eletroterapia? Pois bem, para aplicar de
forma segura e eficiente os recursos elétricos é necessário um amplo conhecimento
dos aspectos, físicos, biofísicos e fisiológicos que os eletroestimuladores produzem
no tratamento dos pacientes.

Outro aspecto a se levar em consideração na aplicação dos


eletroestimuladores é a fonte geradora de energia, isto é, se são através de bateria
ou de energia elétrica. Essa diferença de fonte geradora os caracteriza como
portáteis e estacionários.

Cada aparelho possui um número de canais específicos, que levará a


corrente já configurada até a pele do paciente. Desta forma, teremos a aplicação
de diferentes modalidades de corrente elétrica como Interferencial, Corrente
russa, Diadinâmicas etc.

Alguns equipamentos operam com mais canais, como a Corrente


Interferencial, em que a colocação (disposição dos eletrodos) pode ser tetrapolar.
Já outros, conseguem ser modulados apenas com um canal. Todas essas
particularidades se correlacionam com a área da lesão e o objetivo proposto,
como por exemplo a eletroestimulação neuromuscular transcutânea.

FIGURA 11 - CANAIS DE APLICAÇÃO

FONTE: O autor
Os controles empregados nos aparelhos atuais são na sua maioria de forma
digital, o que proporciona valores mais precisos e confiáveis para a aplicação dos
parâmetros do eletroestimulador, e, em geral, cada aparelho possui múltiplas
correntes que poderão ser escolhidas conforme o objetivo de tratamento. Existem
ainda aparelhos que possuem protocolos específicos para determinadas lesões
ou fases da dor, como, por exemplo, reabilitação de pós-operatório do ligamento
cruzado anterior, dor crônica ou aguda, aumento da força muscular, controle da
espasticidade entre outros. Como são aparelhos microprocessados podem ainda
armazenar dados do paciente, finalizar o tempo de aplicação com apito sonoro e
ainda detectar erros de operação.

12
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

Os aparelhos analógicos possuem como vantagem a simples forma de


ajuste através dos botões. No entanto, podem ser menos seguros se o manuseio
não ocorrer de forma adequada ou ainda se os botões não estiverem zerados no
início da aplicação, o que poderá ocasionar descarga elétrica no paciente.

Observe ainda que os fios que conectam os eletrodos aos canais de


aplicação são finos quando comparados aos fios da rede elétrica, e isto está
relacionado à resistência a passagem da corrente elétrica ao paciente, pois a
intensidade da corrente elétrica que chega à pele do paciente é muito baixa,
expressa em mA ou μA.

FIGURA 12 - FIOS DE CONEXÃO

FONTE: O autor

2.4 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA


O organismo humano, ou os materiais, podem ser classificados de acordo
com sua capacidade de conduzir a corrente elétrica. Alguns materiais podem
ser isolantes elétricos como vidro, isopor, cerâmica; outros podem ser bons
condutores de eletricidade como os metais, cobre, ferro, ouro.

Quando nos referimos ao organismo, podemos dizer que se trata de


um condutor de segunda ordem ou semicondutor, isso ocorre em
função dos íons presentes nas dissoluções e dispersões coloidais, que
transmitirão parcialmente a energia aplicada. Quando comparados
com os condutores de primeira ordem (fios, eletrodos), que apresentam
uma excelente condutividade elétrica e admite grande intensidade,
estes semicondutores ao contrário, não admitem elevada intensidade
elétrica, já que a passagem da corrente apresenta manifestações de
trocas físicas e/ou químicas, pois os íons serão transportadores de
energia. Por isso é fácil entender porque os eletroestimuladores devem
ter sua intensidade inferior a 120 mA. (AGNE, 2013 p. 35).

13
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

No organismo humano existem diferentes composições teciduais


com variação na concentração de líquidos, e isso influencia diretamente no
comportamento da corrente elétrica, ofertando maior ou menor resistência à
passagem desta. A capacidade tecidual em conduzir a corrente elétrica está
relacionada com seu conteúdo de água, consequentemente tecidos bem hidratados
possuem melhor capacidade de condução elétrica e, por conseguinte, facilitam as
ações biofísicas e fisiológicas da corrente elétrica aplicada.

FIGURA 13 - CONDUTIVIDADE ELÉTRICA CORPORAL

FONTE: O autor

A condutividade elétrica dos tecidos depende também do seu estado


funcional em determinado momento. Assim, as células nos estados inflamatórios
aumentam seu volume e diminuem a secção das uniões intercelulares, o que
aumenta a resistência elétrica. Você deve levar em consideração esses quadros
inflamatórios na prática clínica, de forma a avaliar os aspectos clínicos do paciente
ao escolher o tipo de corrente elétrica.

2.5 IMPEDÂNCIA
Quando se aplica a corrente elétrica, observa-se que a R da pele constitui
uma importante barreira à passagem. Isso ocorre, como visto antes, pelo teor de
água da pele que está sendo estimulada. Se a pele estiver seca ou desidratada,
por exemplo, será preciso que em primeiro lugar seja reduzida essa impedância.
Fatores como tipo de eletrodos, condições teciduais e temperatura da pele podem
constituir fatores de resistência à passagem da corrente elétrica. Caro acadêmico,
existem algumas formas de reduzir a impedância, observe o quadro a seguir:

14
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

QUADRO 1 - FORMAS DE REDUZIR A IMPEDÂNCIA

• Colocar gel condutor nos eletrodos de silicone ou água nos eletrodos de


esponja.
• Limpar de forma adequada a pele do paciente, tirando a oleosidade e as
células mortas.
• Aquecer previamente a área com compressas úmidas e quentes.
• Realizar a tricotomia dos pelos da área de tratamento para aumentar o
tamanho da superfície do eletrodo.
• Saturar as esponjas com solução salina comercial.
• Utilizar uma corrente elétrica que promova vasodilatação prévia.
FONTE: O autor

É importante destacar que as correntes elétricas possuem diferentes níveis


de frequência que se relacionam com a resistência dos tecidos. A frequência deve
ser suficiente para atingir os tecidos e provocar estímulos adequados.

3 ELETRODO
Os eletrodos são amplamente utilizados na eletroterapia para administrar
o fluxo de elétrons produzidos pelos eletroestimuladores aos tecidos biológicos
dos pacientes.

O tamanho dos eletrodos é inversamente proporcional à densidade da


corrente. Quanto menor o tamanho do eletrodo, maior é a densidade da corrente.
Desta forma, os eletrodos menores precisam de menos corrente para estimular
os tecidos. Por isso, deve ser sempre levado em consideração o tamanho do
eletrodo escolhido e a área a ser tratada. Outro fator que deve ser considerado
é a distância entre os eletrodos, pois quanto maior a distância entre eletrodos,
menor a densidade da corrente transmitida aos tecidos biológicos. Entretanto,
se estiverem muito próximos, os efeitos da corrente serão localizados na área da
pele entre eles (CISNEROS; SALGADO, 2006).

Podemos concluir que manipulando o tamanho dos eletrodos e a forma de


aplicação destes, diferentes efeitos fisiológicos adequados poderão ser alcançados
durante o processo de reabilitação.

Os eletrodos são chamados de eletrodos de contato, pois são aplicados


diretamente sobre as camadas da pele. Como citado anteriormente, utilizamos
meios de contato, como por exemplo o gel condutor para realizar a aplicação do
eletrodo na pele. Os eletrodos apresentam variedades de tamanho e formatos e
deverão ser escolhidos de acordo com os objetivos propostos para a reabilitação.

Na prática clínica existem alguns tipos de eletrodo, dentre os quais,


destacam-se:

15
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

• metálicos revestidos com esponja umedecida;


• os impregnados com partículas de carbono;
• eletrodos autoadesivos.

E ainda existem alguns eletrodos intracavitários, utilizados na reabilitação


uroginecológica.

FIGURA 14 - ELETRODOS IMPREGNADOS COM PARTÍCULAS DE CARBONO

FONTE: O autor

Os eletrodos têm sido impregnados com partículas de carbono, pois este


material é biocompatível e pode ser misturado a outros materiais como o silicone
ou a borracha sintética. Desta maneira, podem ser utilizados na fabricação dos
eletrodos para produzir uma estrutura flexível e durável.

FIGURA 15 - ELETRODOS DO TIPO METÁLICO REVESTIDO COM ESPONJA

FONTE: O autor

16
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

FIGURA 16 - ELETRODO AUTOADESIVO

FONTE: O autor

Sequência para colocação de eletrodos:

1) Conecte o orifício dos eletrodos (silicone ou autoadesivos) no cabo de saída que


está ligado ao eletroestimulador, cuide para não deixar nenhuma área metálica
descoberta que possa ficar em contato com a pele do paciente, isso ocasiona
risco de lesões.
2) Nos eletrodos de silicone, passe uma camada de gel adequada e de maneira
uniforme, cobrindo todas as áreas do eletrodo.
3) A pele do paciente deve estar limpa e sem pelos que possam ocasionar impedâncias.
4) Prenda o eletrodo com fitas adesivas ou faixa elástica de forma firme.
5) Após a utilização, remova os eletrodos, lave com água e sabão neutro, seque
em seguida. Não puxe os eletrodos autoadesivos na hora de desconectar pelo
cabo, pois ocasiona rompimento do fio.

A respeito do uso de eletrodos autoadesivos, Agne (2013) apresenta


algumas vantagens e desvantagens que serão apresentadas a seguir:

QUADRO 2 - VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS ELETRODOS AUTOADESIVOS

Vantagens Desvantagens
• São práticos e fáceis de adaptar.
• São mais caros.
• O uso é individual.
• Duram pouco.
• São mais higiênicos.
• Não podem ser limpos.
• Se adaptam em diferentes estruturas anatômicas.
• Devem ser guardados em local
• Não necessitam da aplicação do gel condutor.
apropriado.
• Raramente necessitam de fitas ou faixas de
• Não podem ser usados sobre pelos.
fixação.
• Não suportam grande intensidade de
• Não se deslocam durante a contração muscular.
carga.
• Possuem diferentes tamanhos e formatos.
• São de uso exclusivo e individual (essa
• Podem ser fixados em locais difíceis como a face,
é a recomendação).
mãos e pés.

FONTE: Adaptado de Agne (2013)

17
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

3.1 POSICIONAMENTO DO ELETRODO


Ao posicionar o eletrodo você deverá estar atento ao local de tratamento e
sua relação anátomo-fisiológica com a lesão, a intensidade de aplicação da corrente
elétrica, o tipo de tecido estimulado e a escolha do eletrodo adequado. “Existem
alguns mitos para a colocação dos eletrodos autoadesivos, especialmente quanto a
direção do cabo de conexão. Estes cabos poderão ficar em qualquer direção, pois a
densidade da energia do eletrodo deve ser homogênea” (AGNE, 2013 p. 38).

Algumas áreas do corpo conduzem melhor a corrente elétrica que outras.


Estes pontos de estimulação são chamados de pontos motores e são os que melhor
conduzem a corrente elétrica por exigirem menos correntes para produzir os efeitos
excitatórios desejados, como a contração muscular e sensações dolorosas. Os pontos
motores são áreas do músculo próximas à superfície da pele nos quais nervos e
vasos sanguíneos penetram na camada de fibras musculares, possuindo assim, baixa
resistência e facilitando a contração muscular mais forte com menor intensidade
necessária de corrente elétrica. Muitas aplicações podem ser planejadas estimulando
esses pontos motores, como, por exemplo, a estimulação elétrica funcional de um
músculo em pacientes com músculos enfraquecidos pelo desuso.

FIGURA 17 - PONTOS MOTORES

FONTE: <https://www.bioset.com.br/Conteudo/Template/img/biblioteca/tema%2015.jpg>.
Acesso em: 28 jun. 2019.

18
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

E
IMPORTANT

Não devem ser confundidos os pontos motores com os pontos-gatilho.

Os pontos-gatilho estão relacionados com as áreas de dor patológicas, bastantes


sensíveis e localizados em músculos e outros tecidos moles como tendões e fasciais.
Quando uma área de ponto-gatilho é estimulada dispara uma dor que pode se irradiar para
um outro local ou ser referida.

A proximidade entre os eletrodos é outro fator que deverá ser


considerado durante a aplicação dos tratamentos, pois cria circuitos elétricos
entre os eletrodos para que se estabeleça um campo elétrico. Sendo assim,
quando aumentamos a distância entre os eletrodos em uma mesma superfície
da pele, a profundidade que a corrente pode atingir nos tecidos biológicos
será maior (Figura 18A). No entanto se os eletrodos ficam muitos próximos a
corrente flui mais superficial (Figura 18B).

FIGURA 18 - RELAÇÃO DA DISTÂNCIA ELETRODO E PROFUNDIDADE DE APLICAÇÃO

FONTE: O autor

3.1.1 Técnica bipolar e monopolar


Ao optar pela técnica de aplicação bipolar é feito o uso de eletrodos de
tamanhos iguais ou quase iguais. Estes são posicionados na área de tratamento,
a densidade da corrente é igual se um dos eletrodos ficar posicionado sobre um
ponto motor, como descrito anteriormente, os efeitos sensoriais poderão ser
maiores. Esta técnica pode ser útil no tratamento de pontos-gatilho.
19
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

Nas aplicações do tipo monopolar podem ser usados dois tipos de


eletrodos. Um deles é chamado de eletrodo ativo, localizado diretamente sobre
o ponto que se deseja tratar, e um outro eletrodo serve como dispersivo, preso em
local distante ao eletrodo ativo. Neste caso, a densidade maior da corrente fica
no eletrodo menor. Observa-se ainda que se a distância entre eletrodos é maior, a
corrente pode atingir maior profundidade.

NOTA

Quando usados eletrodos de tamanhos diferentes na mesma aplicação, a


dose deverá sempre ser considerada pelo eletrodo menor, o eletrodo ativo. Pois sendo
menor o eletrodo, maior a densidade da corrente.

A técnica tetrapolar envolve o uso de dois pares de eletrodos, cada um


destes sai do seu próprio canal. Esta técnica pode ser usada quando se deseja
atingir uma maior área, como, por exemplo, ao usarmos a corrente interferencial
ou estimularmos agonistas e antagonistas, ou ainda nas técnicas de estimulação
neural transcutânea.

3.2 DENSIDADE DA CORRENTE


A densidade da corrente elétrica se relaciona com seus efeitos fisiológicos
e com a quantidade de corrente elétrica que passa por área unitária dos eletrodos,
sendo que a densidade da corrente é inversamente proporcional ao tamanho do
eletrodo. Por exemplo: ao aplicar uma corrente elétrica de 50 V em um eletrodo
de 10 cm², a densidade da corrente será de 5 V por cm², no entanto se a área de
superfície do eletrodo for reduzida para 5 cm², a densidade da corrente ficará em
10 V por cm².

FIGURA 19 - DENSIDADE DA CORRENTE

5 V/cm² 10 V/cm²

FONTE: Adaptado de Starkey (2001)

20
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

Caro acadêmico, sabendo que a densidade da corrente elétrica possui


estreita relação com o eletrodo, você deve estar se perguntando se as correntes
elétricas percorrem linhas retas em direção ao eletrodo oposto. Bom, em alguns
casos isso pode acontecer, pois os elétrons seguem a via de menor resistência, e a
amperagem e voltagem devem ser adequada para vencer a resistência dos tecidos
do corpo humano.

Pense em uma situação clínica na qual o fisioterapeuta aplica eletrodos


na região anterior e posterior da articulação do ombro. Inicialmente parece que
a corrente poderia atravessar seguindo em direção ao eletrodo oposto, como
apresentado na letra A da figura seguinte. No entanto, a corrente elétrica não
possui voltagem, amperagem e potência para vencer tamanha resistência. Desta
maneira, em várias aplicações, a corrente segue pela periferia em direção ao
eletrodo oposto, sendo conduzida por vasos sanguíneos e nervos periféricos
(letra B da figura seguinte).

Sabendo disso, você deverá sempre avaliar os tecidos em que serão


aplicadas as correntes elétricas, sua integridade, função, área a ser estimulada e a
resistência tecidual oferecida a passagem da corrente.

FIGURA 20 - VIA DE MENOR RESISTÊNCIA

FONTE: Starkey (2001, p. 200)

Prezado acadêmico, considere que a frequência aplicada nas correntes


elétricas é bastante variável. Na eletroterapia, possuímos correntes de baixa
frequência, citamos por exemplo o TENS e FES, e outras já com média frequência,
como a corrente russa. Desta forma, os tecidos oferecem menor resistência às
frequências mais elevadas e maior resistência às frequências mais baixas. Este é o
motivo pelo qual algumas correntes são utilizadas, como Russa e Interferencial,
quando se deseja atingir tecidos mais profundos com os mesmos resultados e
fazer o uso de intensidades de aplicação mais altas que o FES. Desta maneira,
fica claro que ao aumentar a frequência, podemos diminuir a barreira cutânea
imposta pela pele do paciente, tendo então menos impedância.

21
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

Alguns outros fatores ainda devem ser levados em consideração durante


a aplicação das correntes elétricas, como pode ser observado na figura a seguir:

FIGURA 21 - FATORES RELACIONADOS A APLICAÇÃO DAS CORRENTES ELÉTRICAS

FONTE: O autor

4 ONDAS
Prezado acadêmico, agora você vai conhecer um pouco mais sobre a ondas
e sua relação com a fisioterapia. Interessante, certo? Na fisioterapia possuímos
recursos que propagam ondas sonoras, o Ultrassom, e recursos que propagam
ondas eletromagnéticas como o Ondas Curtas. Esses recursos serão discutidos
detalhadamente nas próximas unidades.

Neste momento é importante que você conheça a distinção entre as ondas.


De acordo com Cutnell e Johnson (2016), existem duas características comuns a
todas as ondas:

• Uma onda é uma perturbação que se propaga.


• Uma onda transporta energia de um local para outro.

Vamos considerar esses dois tipos de ondas, e um bom exemplo para


compreender como estas se propagam é uma mola. Pense numa mola se
deslocando para cima e para baixo. Durante este movimento ela forma uma onda
transversal, e este movimento acontece em direção perpendicular. Desta maneira
possui vibrações perpendiculares à direção da propagação. Por exemplo: as
ondas eletromagnéticas emitidas por ondas curtas, ondas de rádio, ondas de luz.

22
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À ELETROTERMOFOTOTERAPIA

FIGURA 22 - ONDA TRANSVERSAL

FONTE: O autor

Agora, pense na mola sendo puxada em linha reta para frente e empurrada
de volta a seu ponto inicial. Neste momento seguimos a forma de uma onda
longitudinal. Podemos concluir, assim, que uma onda longitudinal é aquela na
qual a perturbação ocorre paralela à linha de propagação da onda, ou seja, as
vibrações coincidem com a propagação como observado ao aplicarmos o aparelho
de ultrassom. Uma onda sonora é uma onda longitudinal.

FIGURA 23 - ONDA LONGITUDINAL

FONTE: O autor

Cada ciclo de uma onda sonora inclui uma condensação, uma rarefação e
a frequência, como relatado anteriormente. Esta é o número de ciclos por segundo
que passam por um dado local. Por exemplo, se o diafragma presente no cabeçote
do Ultrassom vibrar para a frente e para trás descrevendo um movimento
harmônico simples a uma frequência de 1 MHz, então 1 milhão condensações
são geradas a cada segundo, formando assim uma onda sonora cuja frequência
também é de 1 MHz. Experimentos mostraram que uma pessoa jovem saudável
escuta todas as frequências de som de aproximadamente 20 até 20.000 Hz (20
kHz), sendo assim, as vibrações do ultrassom não são audíveis por humanos
(CUTNELL; JOHNSON, 2016).

23
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

DICAS

Leia o artigo Influência da impedância e relutância em recursos


eletroterapêuticos utilizados em tratamentos fisioterapêuticos de Patrik Nepomuceno,
Claudia Betina Rei e Luciana Cezimbra Weis, disponível no endereço: https://online.unisc.
br/seer/index.php/cinergis/article/download/10460/7146.

24
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A eletroestimulação é chamada de transcutânea, pois os eletrodos são aplicados


na pele do paciente.

• Existem vários conceitos físicos que precisam ser entendidos de forma clara
antes de aplicar os recursos elétricos.

• As respostas terapêuticas obtidas dependem da escolha da corrente, da maneira


como são aplicadas, das características biológicas dos pacientes entre outros
fatores que interferem na resposta ao tratamento.

• As correntes elétricas ainda podem ser divididas em diretas e alternadas,


dependendo do percurso do fluxo de elétrons. Ou ainda corrente de pulso, que
foi modificada para produzir efeitos específicos.

• Um impulso (pulso) elétrico é uma descarga de corrente durante um tempo.


Seus parâmetros são: duração, intensidade, forma, e quando aplicado
repetidamente, frequência.

• O organismo humano, ou os materiais, podem ser classificados de acordo com


sua capacidade de conduzir a corrente elétrica.

• A resistência da pele constitui uma barreira importante na passagem da


corrente elétrica.

• O tamanho dos eletrodos é inversamente proporcional à densidade da corrente.

• Os pontos motores são áreas do músculo próximas a superfície da pele,


facilitando a contração muscular mais forte com menor intensidade necessária
de corrente elétrica.

• Existe uma relação entre a proximidade dos eletrodos e a profundidade da


corrente.

• A densidade da corrente elétrica se relaciona com seus efeitos fisiológicos e com


a quantidade de corrente elétrica que passa por área unitária dos eletrodos.

• As ondas são transversais e longitudinais, propagam-se e transportam energia.

25
AUTOATIVIDADE

1 São diferentes os motivos pelos quais utilizamos as correntes elétricas sobre


um ser vivo, seja na busca de resoluções de um quadro patológico ou até
mesmo na investigação do funcionamento celular. A definição de corrente
elétrica é:

a) ( ) A força impulsora que induz os elétrons a deslocarem de uma zona


com excesso a outra com déficit.
b) ( ) O fluxo de elétrons entre os extremos de um condutor de forma
ordenada quando submetidos a uma diferença de potencial.
c) ( ) A maior ou menor dificuldade ou oposição a passagem dos elétrons no
interior de um condutor.
d) ( ) Uma perturbação que se propaga através de um meio, que se transmite
em forma de movimento ondulatório a uma velocidade constante,
característica deste meio.
e) ( ) A força mecânica que induz elétrons através de polos opostos.

2 Os corpos ou materiais podem ser classificados quanto ao seu comportamento


elétrico, segundo permitam ou não seu o transporte de carga elétrica. São
tecidos bons condutores de corrente elétrica:

a) ( ) Osso, gordura, pele seca.


b) ( ) Osso, coração, neurônios.
c) ( ) Músculo, sangue, linfa.
d) ( ) Gordura, tendões, osso.
e) ( ) Fígado, linfa, periósteo.

3 Denomina-se onda uma perturbação que se propaga através de um meio


que se transmite em forma de movimento ondulatório a uma velocidade
constante, característica deste meio. Sobre as ondas leia as afirmações a
seguir:

I- A onda mecânica precisa de um meio natural para se propagar (não se


propaga no vácuo).
II- A onda eletromagnética não necessita de um meio natural para se
propagar.
III- As ondas transversais possuem vibrações perpendiculares à direção da
propagação.
IV- As ondas longitudinais às vibrações coincidem com a direção de
propagação.

26
A alternativa que apresenta as sentenças CORRETAS é:
a) ( ) I, II apenas.
b) ( ) I, II, III apenas.
c) ( ) I, II, III, IV.
d) ( ) II, IV apenas.
e) ( ) III, IV apenas.

4 A Impedância é a resistência da pele que constitui o maior obstáculo


à passagem das correntes de baixa frequência empregadas na
eletroestimulação. Com base nesta definição, leia as afirmações a seguir:

I- A impedância não varia de acordo com a espessura da pele e quantidade


de gordura no local em que está sendo realizada a eletroestimulação.
II- A aplicação de gel condutor é necessária para reduzir a impedância e
consequentemente melhorar a condução elétrica.
III- O uso de uma corrente Diadinâmica do tipo difásica ajuda a reduzir a
impedância devido seus efeitos vasculares.
IV- Quanto menor o aporte sanguíneo no local, menor a impedância oferecida
pela pele.

É CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) I, II apenas.
b) ( ) I, II, III apenas.
c) ( ) I, II, III, IV.
d) ( ) II, IV apenas.
e) ( ) II, III apenas.

27
28
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS,
BIOFÍSICOS E BIOQUÍMICOS

1INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Como já é de seu conhecimento, nosso corpo
é formado por trilhões de células que trabalham de maneira integrada
desempenhando inúmeras funções. As células são as menores estruturas dos
tecidos biológicos e seu conjunto forma os tecidos do corpo humano, que
formam órgãos e todos os sistemas do corpo.

Quando pensamos na reabilitação das lesões, devemos ter em mente


que ela se dá nas estruturas microscópicas para que se tenha um resultado
macroscópico, que se manifesta com a melhora ou cura de determinada lesão.

Ao empregarmos os recursos fisioterapêuticos, em especial os agentes


eletrotermofototerápicos, buscamos diferentes respostas sobre os tecidos
biológicos, que podem ser: para promover analgesia, auxiliar a cicatrização,
melhorar o metabolismo ou estimular um músculo entre outros objetivos.

Para isso, é necessário compreender os mecanismos fisiológicos, biofísicos


e bioquímicos relacionados com as células do corpo humano. Neste momento,
vamos falar um pouco sobre as células, suas organelas, funções, meios de
transporte e potenciais celulares.

2 PROPRIEDADES DAS MEMBRANAS CELULARES


Assim como os equipamentos utilizados na fisioterapia precisam de
uma fonte de energia para funcionar, as células vivas dependem da atividade
elétrica para sua existência e os tecidos formados por elas apresentam
propriedades elétricas.

No tópico anterior vimos que nosso organismo possui tecidos com


capacidade de condução elétrica. A capacidade tecidual em conduzir a corrente
elétrica está relacionada com seu conteúdo de água e o estado funcional de
cada tecido.

[…] A principal diferença entre a eletricidade nos tecidos biológicos


e a eletricidade nos equipamentos é que as células e tecidos usam
átomos com carga, ou íons, para o movimento das cargas, enquanto os
sistemas elétricos e eletrônicos usam elétrons (KITCHEN, 2003 p. 65).

29
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

Podemos constatar então que as células vivas possuem atividade elétrica


para sua existência, e os tecidos formados por elas, como osso e fáscia, exibem
uma grande variedade de propriedades elétricas (KITCHEN, 2011). Aspectos
físicos relacionados com a eletricidade, como já visto, são aplicados às células e ao
seu mecanismo de regulação. As células apresentam propriedades físicas como
a impedância, resistência, volt, que no caso das células é medido em milivolt
(por exemplo 1 mv = 1/1000 volt). Os íons podem ter permeabilidade através da
membrana por meio de gradiente elétrico, ou seja, a sua carga elétrica interfere
no seu movimento e regulação celular. Existe ainda um fluxo de eletrólitos e
uma agitação de moléculas chamado de movimento browniano, um movimento
aleatório de partículas microscópicas. As substâncias iônicas quando submetidas
a uma diferença de potencial elétrico, induzem ao deslocamento iônico, sendo
que íons com a mesma carga se repelem e íons de carga oposta se atraem (os
íons negativos chamados ânions e os íons positivos cátions se atraem). Aí reside
o princípio da utilização de correntes elétricas polarizadas que ainda serão
discutidas neste Livro Didático.

No organismo, a célula é a menor unidade estrutural e funcional que


executa uma inúmera variedade de processos vitais. As células possuem potenciais
de membrana e potenciais de ação. Estes potenciais, por sua vez, são conduzidos
por diferenças de potenciais elétricos, regulando assim as diferentes ações
celulares, como por exemplo a contração de um músculo estriado esquelético.

2.1 ESTRUTURA E ORGANELAS CELULARES


As células contêm seu envoltório denominado de membrana celular.
Esta estrutura fina que envolve cada célula é composta por lipídeos e proteínas.
A membrana celular divide a célula em dois meios: o interno (intracelular) e o
externo (extracelular). Se uma célula possui dois meios, as substâncias precisam
atravessar esta membrana, então, através da célula, ocorrem vários mecanismos
de transporte. Sabendo disso, devemos pensar que ao aplicarmos os recursos
eletrotermofototerapêuticos, os efeitos físicos promovem mudanças a nível celular,
respostas bioquímicas e fisiológicas, que envolvem alteração da permeabilidade
celular, mudanças nutricionais e no aporte de oxigênio acontecem, e estes são
alguns dos efeitos que contribuem para o reparo de diferentes tipos de lesões.

30
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS, BIOFÍSICOS E BIOQUÍMICOS

FIGURA 24 - MEMBRANA CELULAR

FONTE: <https://smart.servier.com/smart_image/cell-membrane-16/>. Acesso em: 21 out. 2019.

No interior das células existem várias organelas com funções específicas,


o citoplasma e um núcleo celular. O núcleo geralmente se encontra centralizado
na célula e abriga o material genético da célula. Você já deve ter ouvido falar
no DNA (ácido desoxirribonucleico). Esta estrutura tem importante função de
síntese proteica e replicação celular (SHERWOOD, 2011).

O citoplasma é uma parte situada no interior da célula que contém


várias organelas e um citoesqueleto. O citoesqueleto é um emaranhado de
fibras proteicas e microtúbulos que se localiza no citosol. O citoesqueleto tem
três elementos distintos: microtúbulos, microfilamentos (actina) e filamentos
intermediários. Quando se observa um músculo estriado esquelético contraindo,
percebe-se que seus filamentos proteicos, actina e a miosina, são responsáveis pela
contração muscular, pois participam da organização do citoesqueleto e utilizam
energia proveniente da hidrólise do trifosfato de adenosina (ATP) (FOX, 2007;
SHERWOOD, 2011). Desta maneira, quando aplicamos determinados recursos
elétricos na busca de resposta do conjunto neuromuscular (como por exemplo
a corrente russa e FES), interferimos nesse mecanismo de miodeslizamento
dos filamentos contráteis do músculo esquelético e na organização celular, e
consequentemente no seu metabolismo energético.

FIGURA 25 - MICROTÚBULO

FONTE: <https://smart.servier.com/smart_image/microtubule/>. Acesso em: 21 out. 2019.

A porção solúvel do citoplasma é chamada de citosol, este é como se fosse


um “gel” pelo qual ocorrem inúmeras reações bioquímicas. Sherwood (2011)
destaca que o citosol participa no metabolismo intermediário de componentes
como açúcares, ácidos graxos e aminoácidos, atua na síntese de proteínas para

31
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

seu próprio uso, e armazena nutrientes em excesso não utilizados para a formação
de ATP. O laser utilizado na fisioterapia é um exemplo de estímulo que atua na
produção de ATP, bem como na normalização do equilíbrio energético celular.

O Retículo Endoplasmático (RE — dividido em rugoso e liso), desempenha


funções específicas: o RE rugoso possui ribossomos acoplados em sua superfície
externa, este sintetiza proteínas que irão atuar dentro da própria célula ou ainda
na construção de membranas celulares. Já o RE liso não contém ribossomos e assim
não faz síntese proteica. No entanto, desempenha importante papel no despacho
de moléculas a serem transportadas (SHERWOOD, 2011). Nas células do tecido
muscular temos o RE liso conhecido como retículo sarcoplasmático, que você já
deve ter ouvido falar quando estudou os mecanismos de contração do músculo
estriado esquelético. Esta organela armazena cálcio no seu interior, utilizado no
mecanismo de contração muscular. Podemos destacar que as alterações celulares
relacionadas com esta organela celular podem interferir no adequado processo
de contração muscular, participando da formação de contraturas musculares.
O Ultrassom terapêutico, por seus efeitos térmicos e atérmicos, pode ocasionar
um micromassagem, vasodilatação, aumento no aporte de oxigênio tecidual,
auxiliando a normalizar esta situação clínica.

E
IMPORTANT

As contraturas musculares acontecem em diferentes músculos, e estão


relacionadas à falha adequada no mecanismo contrátil, impedindo um relaxamento
muscular adequado após uma contração.

FIGURA 26 - RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO RUGOSO E LISO

FONTE <https://smart.servier.com/smart_image/endoplasmic-reticulum-4/>. Acesso em: 21 out. 2019.

32
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS, BIOFÍSICOS E BIOQUÍMICOS

Associado ao Reticulo Endoplasmático, o Complexo de Golgi se assemelha


à uma pilha de sacos achatados envolvidos por membrana. Esta organela possui
uma função de modificar proteínas brutas que vieram do RE rugoso e ainda
separar diferentes tipos de produtos de acordo com a sua função específica, e
dão origem aos lisossomos (ALMEIDA; PIRES, 2014). Os Lisossomos contêm
enzimas digestivas que podem atuar em diferentes substâncias orgânicas, fazem
digestão por endocitose, ou seja, levam para o meio interno o material que está
extracelular, e ainda removem organelas desgastadas (DE ROBERTIS; HIB, 2017).
Em processos inflamatórios e traumáticos, podem ocorrer lesões secundárias. As
enzimas lisossomais atuam destruindo restos celulares, mas podem aumentar a
área da lesão por destruição e fagocitose de outras células. Uma das formas de
intervenção nesta fase é a aplicação da crioterapia, evitando, assim, um aumento
na área da lesão por redução do metabolismo local, dor, edema e hemorragia,
reduzindo assim a área de lesão secundária.

FIGURA 27 - COMPLEXO DE GOLGI

FONTE: <https://smart.servier.com/smart_image/golgi-apparatus-3/>. Acesso em: 21 out. 2019.

As mitocôndrias são estruturas celulares bastante conhecidas e você já


deve ter ouvido falar dessa organela que tem uma função essencial na produção
de ATP, fornecendo energia no nosso organismo por meio da respiração celular.
As mitocôndrias estão presentes em toda as células do corpo, possuem duas
membranas — uma externa e outra interna —, formando dois compartimentos:
o espaço intermembranoso e a matriz mitocondrial (SHERWOOD, 2011; DE
ROBERTIS; HIB, 2017).

É importante lembrar que os processos celulares para a produção do ATP


ocorrem em três estágios: inicialmente a glicólise no citosol, após o ciclo de Krebs,
na matriz mitocondrial e, por último, a fosforilação oxidativa na membrana
interna das mitocôndrias.

Ao aplicar diferentes recursos da fisioterapia, algumas substâncias


sofrem o transporte através da membrana celular e contribuem para a produção
de ATP. As microcorrentes, bastante utilizadas na área dermatofuncional e para
cicatrização de tecidos, atuam a nível celular normalizando a atividade da célula
após a lesão, Agne (2013 p. 89) relata que:

33
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

A adição externa de microcorrente irá aumentar a produção de ATP


(300 a 500%), a síntese de proteínas, a oxigenação, a troca iônica, a
absorção de nutrientes a eliminação de catabólitos residuais (estimula
a drenagem linfática) e ainda pode neutralizar a polaridade oscilante
de células deficientes.

Alguns estudos ainda apontam o uso do laser como recurso importante


atuando na cadeia de transporte de elétrons, levando a um aumento da síntese
de ATP e a uma redução do pH intracelular. Estas ações ajudam a restaurar
as propriedades teciduais por meio da formação do ATP e ação da ATPase
(STARKEY, 2001).

FIGURA 28 - MITOCÔNDRIA

FONTE: <https://smart.servier.com/smart_image/mitochondria-12/>. Acesso em: 21 out. 2019.

2.2 MEIOS DE TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA CELULAR


Prezado acadêmico, agora que você conheceu a função das organelas
celulares e algumas relações destas com a eletrotermoterapia, vamos voltar nossa
atenção para as membranas das células do corpo humano. Estas membranas
possuem uma fina camada de 6 a 10 nm de espessura sendo constituída por
lipídios, proteínas e carboidratos. A sua estrutura básica da membrana plasmática
é semelhante à de outras membranas da célula.

As membranas celulares são formadas por uma bicamada lipídica.


Os lipídeos mais abundantes são os fosfolipídios. Uma extremidade de um
fosfolipídio tem uma região com carga elétrica ou região polar (eletricamente
carregada) enquanto o restante da molécula, composto de duas longas cadeias
de ácido graxo, é apolar; a extremidade polar é considerada hidrofílica (interage
com moléculas de água), enquanto a extremidade não polar é hidrofóbica. A
membrana plasmática também tem colesterol, que contribui para a fluidez e
estabilidade da membrana (WIDMAIER; RAFF; STRANG; 2017; DE ROBERTIS;
HIB, 2017).

As proteínas que estão na membrana celular são classificadas como


proteínas integrais e proteínas periféricas de membrana.

34
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS, BIOFÍSICOS E BIOQUÍMICOS

Entre as funções das membranas celulares, pode-se destacar:

• atuar como uma barreira mecânica;


• regular a passagem de substâncias entre o meio interno e externo;
• controlar a entrada de nutrientes e a saída de produtos excretórios;
• mantém as diferenças de concentração iônica dentro e fora da célula (regulação
da atividade elétrica);
• detectar mensageiros químicos que chegam a sua superfície;
• conectar células formando tecidos e órgãos.

O percentual de proteínas e lipídeos de cada membrana celular pode


variar de acordo com a função da célula. Por exemplo, a bainha de mielina, que
reveste os axônios, possui maior percentual de gordura; já a membrana interna
da mitocôndria possui maior percentual de proteínas. Enquanto a bicamada
lipídica desenvolve a parte estrutural da membrana, as proteínas desempenham
inúmeras funções celulares, podendo atuar como receptores na superfície da
membrana, como proteínas de reconhecimento, de transporte, junção, ancoragem
e enzimas (CISNEROS; SALGADO, 2006; SHERWOOD, 2011; OLIVEIRA, 2014).

FIGURA 29 - BICAMADA LIPÍDICA DA MEMBRANA CELULAR

Proteínas integrais Molécula de


Proteína transportadora
fosfolipídio

Bicamada
lipídica

Proteína
periférica

FONTE: Adaptado de <https://smart.servier.com/smart_image/cell-membrane-16/>.


Acesso em: 21 out. 2019.

2.3 MECANISMOS DE TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA


Como você já percebeu, a estrutura da membrana é muito bem elaborada
e possui várias funções. A membrana plasmática é seletivamente permeável, e
o tamanho da substância e sua solubilidade determinam se as substâncias vão
atravessar a membrana celular. As partículas que são solúveis em lipídios, como
por exemplo o O2 e CO2, passam facilmente pela membrana. No entanto, outras
partículas como íons, Sódio (Na+) e Potássio (K+), e a glicose têm baixa solubilidade
lipídica e precisam de meios especiais para transpor as membranas celulares.

35
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

2.3.1 Difusão
As partículas estão em movimento, pois possuem uma energia cinética,
e a difusão é um movimento aleatório. Devido ao movimento ser aleatório, as
moléculas colidem umas com as outras e fluem em diferentes direções. Podemos
lembrar que quando submetidas a um campo elétrico ocorrem mudanças de
direção. Por exemplo: quando aplicado ondas curtas, as moléculas se agitam e
são atraídas e repelidas pelos eletrodos, o que ocasiona colisão e calor.

Quando uma molécula atravessa a membrana de forma aleatória,


chamamos de difusão simples. A difusão é um movimento sem gasto de energia,
ou seja, não usa o ATP, e ocorre a favor de gradientes de concentração que
abordaremos logo em seguida. De acordo com Cisneros e Salgado (2006 p. 4), “a
liberdade de movimento é máxima em meio gasoso, diminui no meio líquido e é
mínima em sólido”. Isso explica a boa relação entre os recursos fisioterapêuticos
com os tecidos bem hidratados e vascularizados, facilitando assim seus efeitos
fisiológicos e bioquímicos. Um exemplo que pode ser observado é a difusão dos
gases O2 e CO2 entre a membrana pulmonar e os capilares sanguíneos.

FIGURA 30 - DIFUSÃO SIMPLES

FONTE: O autor

É importante destacar aqui a Lei de Fick para a difusão, pois diferentes


fatores interferem na taxa de difusão, como:

• o gradiente de concentração da substância;


• o a área da superfície da membrana celular;
• o a lipossolubilidade da substância;
• o o peso molecular da substância;
• o a distância na qual pode ocorrer a difusão.

Os íons Na+ e K+ têm baixa lipossolubilidade, então se difundem


através de canais de membrana. Estes canais iônicos fazem seletividade iônica
pelo diâmetro e carga. Os íons que podem atravessar a membrana se movem
passivamente através do seu gradiente elétrico.

36
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS, BIOFÍSICOS E BIOQUÍMICOS

Na difusão facilitada ocorre um transporte passivo, mediado por


transportadores específicos (proteínas). Um exemplo clássico é o transporte de
glicose para dentro das células, pois ela está em maior concentração no sangue e
é transportada para ser armazenada dentro das células.

FIGURA 31 - DIFUSÃO FACILITADA

FONTE: O autor

2.3.2 Osmose
Osmose é a passagem da água através da membrana. Nosso organismo
contém uma grande concentração de água, podendo chegar a 60% da composição
do corpo. Como possuímos diferentes tecidos, alguns são mais irrigados,
vascularizados que outros, este é um fator a ser considerado na aplicação
das correntes elétricas e escolha do local de aplicação. Oliveira (2014) destaca
que a água possui propriedades físico-químicas importantes que interferem
nos mecanismos biológicos, entre elas: o alto calor específico, que regula os
mecanismos térmicos do corpo humano; grande poder de dissolução permitindo
uma série de reações químicas celulares, por isso a água é chamada de solvente
universal; grande tensão superficial por sua ligação molecular das pontes de
hidrogênio ao oxigênio (H2O); e, por fim, a polaridade existente nas ligações
químicas, permitindo dissolver substância polares.

Você deve ainda compreender que, como já mencionado, a água é um


solvente universal e a diferença de concentração da água se deve aos solutos que
estão presentes neste meio. Você pode imaginar um copo de água (solvente),
cheio de sal (soluto): ao misturar água e sal, o sal se distribui na água. Se
houver muitas partículas de soluto no meio, a solução está mais concentrada
(hipertônica), no entanto, se existirem poucos solutos, denominamos hipotônica
(menos concentrada). Assim, a osmose ocorre quando a água vai do meio menos
concentrado para o mais concentrado.

37
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

FIGURA 32 - TIPOS DE SOLUÇÃO

FONTE: O autor

A pressão osmótica é definida por Cisneros e Salgado (2006, p. 6), “como


a pressão que é necessário exercer para impedir a osmose de água pura para
a solução quando estas estão separadas por uma membrana impermeável ao
soluto”. Sua unidade de medida pode ser cmH2O ou mmHg.

Relacionado à pressão osmótica, que tem a tendência de puxar a água para


dentro das soluções, existe a pressão hidrostática, que é a pressão exercida por
um líquido que pode ser a pressão do líquido dentro das células, o que empurra
o líquido para o meio extracelular (SHERWOOD, 2011). Quando pensamos no
equilíbrio entre as pressões de um líquido, ainda temos a pressão oncótica. Esta
pressão está no plasma sanguíneo e as proteínas plasmáticas atuam de maneira a
deixar a água dentro do vaso sanguíneo, evitando o extravasamento para o espaço
intersticial, o que denominamos de edema, situação clínica bastante comum que
pode ser tratada com os recursos fisioterapêuticos como a crioterapia, ultrassom
e determinados tipos de correntes elétricas.

FIGURA 33 - EQUILÍBRIO ENTRE AS PRESSÕES DE UM LÍQUIDO

FONTE: O autor

38
TÓPICO 2 — PRINCÍPIOS FISIOLÓGICOS, BIOFÍSICOS E BIOQUÍMICOS

2.3.3 Transporte ativo


O transporte ativo utiliza energia para mover uma substância contra
seu gradiente de concentração através de uma membrana. Neste sistema
ocorre a ligação de uma substância ao transportador na membrana. Em geral,
estes transportadores são chamados de bombas e são conhecidos dois meios
de acoplamento da energia aos transportadores: transporte ativo primário, a
ATPase catalisa o ATP (fosforilação), nas quais ocorre o movimento de íons, sódio
e potássio através das membranas plasmáticas pela bomba de Na+/K+ contra
os gradientes de concentração. Já no transporte ativo secundário é utilizada
energia química armazenada no gradiente de concentração de outra molécula,
(o transportador não usa ATP). Um exemplo é a associação do transporte de Na+
junto com glicose e aminoácidos, chamado de simporte ou cotransporte. Ainda
podemos destacar a existência de mecanismo de antiporter ou contra-transporte
(WIDMAIER; RAFF; STRANG, 2017).

FIGURA 34 - TIPOS DE TRANSPORTE

FONTE: O autor

2.4 POTENCIAL DE MEMBRANA


Os potenciais de membrana, como o nome diz, ocorrem nas membranas
das células do corpo humano, sendo a base da comunicação intercelular. Como
abordado anteriormente, as células possuem alguns transportadores que são
denominadas bombas iônicas. Entre os tipos de bombas iônicas da membrana
está a bomba de Na+ e K+, os potenciais de membrana ocorrem por diferenças
de concentração e permeabilidade dos íons. No entanto, algumas células
especializadas como nervos e músculos podem ocasionar potenciais de ação,
ocorre então mudanças rápidas dos potenciais de membrana.

A bomba de Na+ e K+ mantém as concentrações iônicas de Na+ e K+


entre os dois lados da membrana celular, transposta para fora três íons Na+
para dentro dois íons K+. Isso faz com que a membrana fique numa situação
de eletronegatividade interna. Associado a isso, existe um fluxo iônico de K+
maior para o lado externo da célula que de Na+ para dentro, isso se relaciona a
maior permeabilidade nos canais de K+. Assim, a membrana fica eletronegativa
internamente. O excesso de cargas elétricas positivas fora da célula e o excesso de

39
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

cargas elétricas negativas intracelulares se aproximam da membrana plasmática.


No entanto, existe uma grande quantidade de íons dentro e fora das células. Em
geral, os potenciais de repouso de uma célula ficam entre -40 mV e -80 mV.

Os potenciais de ação são mudanças do potencial de membrana, ocorrendo


em graus variados. A transmissão de sinais elétricos na membrana faz com que
ocorra a excitabilidade (neurônios e células musculares). Quando a membrana
se encontra em repouso é dita polarizada; é chamada de despolarizada quando
ocorrem mudanças de permeabilidade e a membrana começa a ser menos
negativa, ou seja, se aproxima de valores positivos (+35mV) após a membrana ser
despolarizada. Esta retorna ao valor de repouso e isso é chamado de repolarização.
Ela ainda pode se tornar hiperpolarizada quando o potencial é mais negativo do
que o nível de repouso.

No repouso, que é a primeira fase, a membrana está polarizada,


eletronegativa internamente. Um estímulo faz com que a membrana fique
permeável e ocorre uma abertura dos canais de Na+ e o influxo destes íons para o
meio interno da célula, despolarizando a célula e tornando seu interior positivo.
Quando atinge o valor positivo (+35 mV), os canais de sódio se fecham. Em
seguida, os canais de K+ se abrem e o resultante fluxo elevado de K+ para fora da
célula repolariza a membrana.

FIGURA 35 - POTENCIAL DE AÇÃO

FONTE: O autor

DICAS

Leia o artigo Potencial de ação: do estímulo à adaptação neural disponível no


link: http://www.scielo.br/pdf/fm/v24n3/18.pdf.

40
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As células vivas possuem atividade elétrica para sua existência e permeabilidade


seletiva.

• Existem várias organelas celulares com funções específicas e que elas mantêm
a homeostasia das células.

• As substâncias atravessam a membrana celular por diferentes formas de


transporte (difusão simples, difusão facilitada, transporte ativo, por canais).

• Osmose é a passagem da água através da membrana.

• A concentração de substâncias na célula pode deixar o meio mais hipertônico


ou hipotônico.

• As células possuem canais de membrana para passagem de íons específicos


que contribuem para formação dos potenciais de ação.

• As células possuem potenciais de membrana em repouso (eletronegatividade),


que se modificam formando potenciais de ação.

• Os potenciais de ação são mudanças do potencial de membrana, ocorrendo em


graus variados.

41
AUTOATIVIDADE

1 Em relação aos canais presentes na membrana celular e a troca iônica,


assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os canais de Sódio estão permanentemente abertos, desta maneira o


fluxo deste íon é constante.
b) ( ) Os canais de Sódio se abrem na fase de despolarização e se fecham
na repolarização, o excesso de íons Sódio é bombeado pela bomba de
sódio e potássio.
c) ( ) Os canais de potássio se abrem mais que o normal na fase de
despolarização da célula.
d) ( ) Na etapa de repouso existe uma grande concentração de Sódio
intracelular o que deixa a célula eletronegativa internamente.
e) ( ) Os canais de Cálcio se abrem na fase de despolarização da membrana.

2 A comunicação entre os neurônios, células integrantes do Sistema Nervoso,


é realizada através da transmissão sináptica de potenciais de ação ao longo
das vias nervosas. Em relação aos potenciais de membrana e de ação,
assinale as afirmativas CORRETAS.

I- A propagação do potencial de ação ocorre porque a célula sofre


despolarização.
II- Na repolarização ocorre a entrada de Sódio (Na+) no interior da célula.
III- A bomba de Na+ K+ está presente em todas as células do corpo e é
responsável pela manutenção das diferentes concentrações de sódio e
potássio entre as faces da membrana celular.
IV- A bomba Na+ K + contribui com a geração do potencial de repouso por
permitir o efluxo de 3 íons K+ e o influxo de 2 íons Na+ na membrana celular.
V- Quando o neurônio está em repouso, o potencial de membrana permanece
constante.

É CORRETO apenas:
a) ( ) I, II, IV apenas.
b) ( ) I, II, III apenas.
c) ( ) I, III, IV apenas.
d) ( ) II, IV, V apenas.
e) ( ) I, III, V apenas.

3 Todas as células vivas possuem membranas celulares. Esta estrutura


controla a entrada e saída de substâncias entre os dois lados da célula.
Sobre os mecanismos de transporte através da membrana celular, observe
as afirmativas a seguir:

42
I- No transporte passivo ocorre difusão através de um gradiente de
concentração.
II- A osmose é a difusão da água a favor de seu gradiente de concentração.
III- O transporte ativo primário é realizado sem gasto de energia.
IV- A bomba de sódio-potássio é um mecanismo com gasto de energia para o
transporte iônico.

É CORRETO apenas:
a) ( ) I, II.
b) ( ) II, III.
c) ( ) I, II, IV.
d) ( ) III, IV.
e) ( ) I, IV.

4 A célula é a menor unidade do organismo e seu conjunto forma tecidos


específicos. Sabe-se que cada célula possui organelas com funções essenciais
e dentre elas se destaca a função da mitocôndria que é:

a) ( ) Síntese de proteínas.
b) ( ) Respiração celular.
c) ( ) Digestão.
d) ( ) Transporte de nutrientes.
e) ( ) Sustentação.

43
44
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

REPARO DOS TECIDOS

1INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Neste tópico vamos abordar o modo de reparo dos
tecidos, às respostas as lesões, inflamações, modulações da dor, tipos de lesões.
Como você estudou no tópico anterior, nosso corpo é formado por um grande
número de células com funções específicas, que se unem e formam os tecidos.

Para entender de forma adequada a resposta dos recursos


eletrotermofototerápicos é preciso compreender como ocorrem os mecanismos
de lesão e o processo de reparo dos danos teciduais. Lembre-se de que estamos
tratando unidades microscópicas sempre, e estas vão influenciar no resultado
final da terapia proposta

Para o fisioterapeuta, entender o processo de cicatrização tecidual e


reorganização celular é fundamental. Então, não aceleramos a cicatrização,
mas através da aplicação dos recursos adequados favorecemos a regulação do
ambiente e das diferentes funções celulares.

2 RESPOSTA À LESÃO
Imagine como o corpo reage quando você ou um paciente sofre um trauma.
Inicialmente acontece um dano tecidual decorrente do evento lesivo associado
à força que desencadeou o trauma, que podemos denominar de lesão primária.
No entanto, seu organismo continua reagindo ao trauma, ocasionando um dano
secundário com morte de células, redução do aporte de oxigênio aumentando a
área de lesão. As células lesionadas liberam substâncias químicas, e até mesmo seu
lisossomos iniciam um processo de fagocitose, que resulta em aumento do dano
local. Todo esse processo inicial contribui para a lesão inflamatória, chamada de
lesão secundária.

As lesões secundárias podem ser classificadas de acordo com Dutton


(2010) em:

45
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

• Agudas: este tipo de lesão ocorre quando há um trauma direto nos tecidos
musculoesqueléticos. Exemplo: as entorses e distensões tratadas em clínicas de
fisioterapia.
• Crônicas: as lesões crônicas são distinguidas das agudas pelo tipo de trauma.
O tempo da resposta inflamatória e as diferenças histopatológicas, como, por
exemplo, as bursites e tendinosas.
• Agudas sobre crônicas: quando um tecido já lesionado ou cicatrizado sofre um
novo trauma local.

2.1 O PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO DOS TECIDOS MOLES


A fisioterapia tem função de auxiliar no processo de cicatrização
juntamente com as respostas fisiológicas do organismo na busca pelo reparo da
lesão. A cicatrização ocorre em fases que se sobrepõem, pois acontece de forma
contínua. Envolve fases de resposta inflamatória, seguida da proliferação e
finaliza com a remodelação. A seguir discutiremos cada uma destas fases.

2.1.1 Resposta Inflamatória


Assim que os tecidos sofrem a lesão, o organismo já se prepara para dar
início a seu reparo. A reação fisiológica normal do corpo é a resposta inflamatória.
Nesta fase, tem-se uma lesão aguda e os sistemas de defesa do organismo entram
em ação como se fossem soldados para combater o agente lesivo. Associado a
este processo, o metabolismo se altera e os mediadores químicos são liberados e
iniciam a resposta inflamatória, caracterizada pelos sinais da inflamação.

FIGURA 36 - SINAIS DA INFLAMAÇÃO

FONTE: O autor

46
TÓPICO 3 — REPARO DOS TECIDOS

No mecanismo de defesa ocorre a produção de exsudação tecidual e a


liberação de norepinefrina que promove vasoconstrição local. O fluxo sanguíneo
reduz e ocasiona hipóxia tecidual. O período inicial de vasoconstrição é curto e
dura entre 5 e 10 minutos, seguido por um período de vasodilatação. A liberação
dos mediadores químicos histamina, leucotrienos e citocinas participam da
reação inicial e, por conseguinte, da formação do edema.

A histamina foi liberada pelos mastócitos e atua ocasionando um aumento


da permeabilidade da célula, contribuindo para formar o edema. Como citamos
no tópico anterior, a formação de edema tem relação com as alterações de pressão
hidrostática, que forçam a saída de líquido dos capilares para o espaço intersticial,
e oncótica, que atrai fluido para os capilares, pós-trauma. À medida que o edema
aumenta o reparo dos tecidos fica mais comprometido devido a compressão local
e interrupção do fluxo sanguíneo, levando a mais hipóxia tecidual.

Os leucotrienos e as prostaglandinas aumentam a permeabilidade local


e são responsáveis pela marginação dos leucócitos que migram para a parede
celular. Na sequência, os leucócitos sofrem a diapedese (movimento para fora
dos pequenos vasos) e se direcionam para o local da lesão. As citocinas enviam
sinais e ajudam a atrair fagócitos para o local da inflamação.

A resposta vascular à lesão envolve vasoconstrição inicial seguida de


vasodilatação. A lesão do vaso sanguíneo rompe o tecido endotelial, ocorre a
deposição das plaquetas formando um tampão. Para a formação do coágulo ocorre
a conversão do fibrinogênio em fibrina. Este processo se desencadeia pela ação
da tromboplastina que converte a protrombina em trombina, o que ocasiona a
conversão do fibrinogênio em fibrina. A rede de fibrina ao redor da área danificada
bloqueia o fornecimento de sangue para a área lesionada (PRENTICE, 2012).

A inflamação crônica está relacionada a quando a resposta aguda não


funcionou de forma adequada, eliminando o agente agressor e recuperando o
tecido. Em geral, ocorrem por microtraumas de repetição. “[…] com o emprego
dos recursos terapêuticos podemos influenciar a duração e a magnitude da
resposta inflamatória e impedir seus efeitos indesejáveis” (STARKEY, 2001 p. 13).

FIGURA 37 - RESPOSTA INFLAMATÓRIA

FONTE: O autor

47
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

2.1.2 Fase Proliferativa


O segundo estágio da cicatrização tecidual se sobrepõe à fase de
inflamação. Nesta fase, ocorre a remoção de restos de células, o desenvolvimento
da cicatriz e reparo do tecido lesionado. Não existe uma resposta clara
da transição entre a fase inflamatória e proliferativa. Sabe-se que ocorre o
crescimento de novos capilares, aumento da síntese de fibroblastos e maior
atividade dos macrófagos e dos mastócitos. Nesse momento, o tecido começa
a ganhar mais resistência e forma a cicatriz (fibroplasia). Os sinais e sintomas
inflamatórios iniciais começam a diminuir pelo aumento da vascularização. O
local da lesão recebe nutrientes e oxigênio que auxiliam no seu reparo. Neste
estágio temos a presença do tecido de granulação e mudanças do colágeno do
tipo III, que começa a ser substituído pelo tipo I, que suporta maior resistência
tênsil. A medida que a força tênsil aumenta, o número de fibroblastos começa a
reduzir sinalizando o início da fase de maturação.

2.1.3 Fase de Remodelamento


Esta fase de cicatrização é a mais longa, podendo se estender de meses
a anos. O tecido cicatricial será ordenado, acontecendo realinhamento e
remodelação do colágeno. É importante ressaltar que a cicatriz sofre forças
de tensão que modificam a deposição e o alinhamento do colágeno. O tecido
adquire o seu funcionamento normal. No entanto, Dutton (2010 p. 137) relata
que “os desequilíbrios na síntese e na degradação do colágeno durante a fase
de cicatrização podem resultar na formação de cicatrizes hipertróficas ou na
formação de queloides nas lesões superficiais.”

Podemos constatar que o processo de reabilitação através dos recursos


eletrotermofototerápicos contribui de maneira a propiciar ao paciente condições
estáveis para cicatrização e para que a melhora da lesão ocorra, restaurando a função
de forma progressiva para que as atividades de vida diária sejam livres de dor.

FIGURA 38 - FASES DO PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO


Inflamatória Proliferativa Remodelamento

lesão 4 dias 6 semanas Anos (1 a 3)

FONTE: O autor

48
TÓPICO 3 — REPARO DOS TECIDOS

2.2 FATORES QUE INTERFEREM NEGATIVAMENTE NO


PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO
Existem algumas condições clínicas que podem comprometer a boa
evolução do processo cicatricial podendo retardar a cicatrização ou dificultar as
fases do processo cicatricial. A extensão da lesão e as respostas inflamatórias estão
relacionadas com a cicatrização. Os traumas de repetição por esforços repetitivos,
ou mesmo macrotraumas, podem ocasionar alterações funcionais.

Como citado anteriormente, o edema é uma situação clínica que pode


complicar o processo de cicatrização, pois este ocasiona pressão dificultando
a oxigenação e nutrição tecidual adequada. Se na área da lesão tiver baixo
suprimento vascular, também a cicatrização se compromete, pois poderá impedir
um fornecimento de células para fagocitose e de fibroblastos para iniciar o
processo de cicatrização.

Se os tecidos tiverem distantes um dos outros devido ao trauma, a lesão


poderá demorar mais tempo para cicatrizar, pois suas bordas estarão afastadas,
tendo que cicatrizar por intenção secundária.

A presença de espasmo muscular resulta em isquemia e baixa oxigenação


para as células, o que compromete a cicatrização. Se os tecidos forem infectados
por bactérias, poderá gerar excesso de tecido de granulação, ocasionando
cicatrizes grandes. Os queloides e cicatrizes hipertróficas, devido ao excesso de
proliferação de colágeno, podem deixar a cicatriz com aspecto irregular e aderida.

Outros aspectos relacionados com a idade, estado nutricional e aspectos


clínicos de saúde geral, interferem nas fases do processo de cicatrização, como
por exemplo no caso da presença de diabetes.

2.3 CICATRIZAÇÃO DOS TECIDOS MOLES


Os diferentes tecidos do corpo humano reagem de maneira específica
durante o processo de reparo após a lesão, pois a sua proliferação celular obedece
à especificidade do tecido. Definimos como tecidos moles todos os tecidos do
corpo humano, exceto o tecido ósseo que é compacto. Entre os tecidos moles
destacamos: o epitelial (que reveste a pele), os vasos sanguíneos, órgãos ocos,
glândulas e outras estruturas anatômicas; o tecido conjuntivo (presente em
tendões, ligamentos e cartilagem), que promove sustentação, fornece resistência
e nutrição, no qual encontramos colágeno e fibras elásticas; o tecido muscular
(dividido em músculo estriado esquelético, cardíaco e músculo liso), formado
por várias fibras com capacidade contrátil e que possui grande concentração de
proteínas (actina e miosina); o tecido nervoso (dividido em sistema nervosos
central e periférico) formado por neurônios e neuroglias. Os neurônios são células
especializadas que conduzem os impulsos neurais ao longo dos seus axônios até
a junção com o neurônio seguinte, fazem assim sinapses neuronais que podem
49
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

ser divididas em sinapses químicas e elétricas (lembrando que os neurônios são


células excitáveis e realizam potenciais de ação ocasionando alterações de tensão
elétrica, resultando em despolarização da célula neuronal).

Agora vamos destacar alguns tipos de tecidos e sua capacidade de


cicatrização:

2.3.1 Cartilagem
O tecido cartilaginoso tem baixo potencial de cicatrização. As células
denominadas condrócitos são responsáveis pela manutenção da matriz de
cartilagem. A resposta de reparo da cartilagem articular varia com o tipo e
extensão da lesão. Existe ainda a relação se o dano foi apenas na cartilagem ou se
afetou o osso subcondral. Em geral, quando o dano é apenas cartilaginoso, não
cicatriza e pode entrar em degeneração cartilaginosa (osteoartrose). No entanto,
quando afetado o osso subcondral, possui maior possibilidade de reparo devido
o suprimento sanguíneo (DUTTON, 2010; PRENTICE, 2012).

2.3.2 Ligamentos e tendões


A cicatrização destas estruturas é bastante complexa e podemos destacar,
por exemplo, as lesões do ligamento cruzado anterior (LCA — que em geral
evoluem de ruptura parcial para total, devido a ausência de cicatrização) ou
ainda, as lesões de tendão calcâneo (que também têm curso de recuperação lenta
e em grande parte evoluem para ruptura total).

De acordo com Dutton (2010), estes tecidos cicatrizam seguindo as


seguintes fases:

• Fase hemorrágica: após a ruptura ocorre sangramento e forma o coágulo


sanguíneo. Migram leucócitos e linfócitos para a área e inicial a resposta
inflamatória.
• Fase inflamatória: os macrófagos migram para fagocitar o tecido necrótico e
secretam fatores de crescimento para induzir o reparo do tecido por atração de
fibroblastos, síntese de colágeno e outras proteínas.
• Fase proliferação: os fibroblastos são células especializadas e a sua organela,
o retículo endoplasmático, produz colágeno que contribui para proliferar a
cicatriz e unir as suas extremidades.
• Fase remodelamento e maturação: ocorre remodelamento e orientação das
pontes de colágeno, a ação dos fibroblastos começam a diminuir. O tecido
cicatrizado continua seu processo de amadurecimento que pode perdurar de
meses a anos.

50
TÓPICO 3 — REPARO DOS TECIDOS

2.3.3 Músculo
A cicatrização do tecido muscular envolve várias etapas assim como a
dos demais tecidos: ocorre hemorragia inicial, seguida de edema, fagocitose.
Após alguns dias, migração de fibroblastos, e pela ação das células satélites do
tecido muscular estimulam a formação de miofibrilas (PRENTICE, 2012). Porém,
a cicatrização deste tecido depende da extensão de suas lesões e do número de
fibras rompidas. Por exemplo: em distensões de grau III que envolvam grande
ruptura de fibras, o tempo de reparo é longo e pode resultar em perda de força e
deformidades musculares.

2.3.4 Nervo
As células nervosas são especializadas e não tem capacidade de
regeneração após a sua morte. No entanto, quando ocorre uma lesão em um nervo
periférico, sem destruição do corpo neuronal, a fibra poderá se regenerar. As
lesões neurais podem ser divididas em neuropraxia, axonotmese e neurotmese.
Após a lesão pode ocorrer um processo regenerativo de crescimento axonal. As
células de Schwann participam estimulando o crescimento, formam nova mielina
em volta do axônio que poderá inervar outras estruturas distais (STARKEY, 2001;
PRENTICE, 2012).

Os recursos terapêuticos empregados no reparo dos tecidos moles


desempenham funções específicas em diferentes fases do reparo das lesões,
auxiliam na manutenção de um ambiente adequado para a cicatrização, podem
promover redução do edema, controlar da dor, estimular a vascularização e a
oxigenação dos tecidos, favorecendo assim a evolução do curso cicatricial.

2.4 DOR
A dor é uma experiência sensorial desagradável, mas necessária, pois
funciona como um mecanismo de alerta para o corpo humano. Sempre que
ocorrer algum dano nos tecidos, este sinaliza com a presença da dor. Falamos no
início deste tópico que a lesão pode ser primária, pelo trauma local, e secundária
pela reação química que ocorre. Os estímulos nocivos que desencadeiam a dor
irritam o nociceptores, que são as terminações neuronais livres de neurônios
aferentes de pequeno diâmetro com pouca ou nenhuma mielinização, sensíveis a
estímulos mecânicos e químicos (WIDMAIER, RAFF, STRANG, 2017).

Após a lesão, as fibras aferentes A-delta e C conduzem os estímulos


em direção do encéfalo. As fibras A-delta transmitem a dor rápida ou aguda,
localizam-se na pele. As fibras do tipo C, por sua vez, estão na pele e em tecidos
mais profundos, como ligamentos e músculos, e transmitem a dor lenta ou crônica
para o corno dorsal da medula (PRENTICE, 2012).

51
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

Durante a resposta da lesão tecidual são liberadas substâncias químicas


das células danificada como a bradicinina, histamina, citocinas e prostaglandinas,
substância P. Estas substâncias ocasionam irritação dos nociceptores, que
transformam os estímulos de dor em potenciais de ação. A substância P é liberada
nas sinapses neuronais, influenciando na transmissão da dor ao longo do neurônio
e direcionando para o corno posterior da medula espinhal. As vias ascendentes
seguem pela medula espinhal. A medula possui várias camadas chamadas
de lâminas, que estão relacionadas com a transmissão da dor. Em seguida, o
estímulo de dor avança para os tratos (conjunto de neurônios), seguindo para
o sistema nervoso central. Estes tratos são denominados neoespinotalâmico e
paleoespinotalâmico, seguindo por vias aferentes para o tálamo (percepção da
dor) e córtex somatossensorial, onde a dor é discriminada e localizada.

Interconexões do tálamo e da formação reticular com o hipotálamo e


o sistema límbico causam as respostas comportamentais e emocionais
que acompanham a experiência dolorosa. O sistema límbico parece ser
especialmente importante na percepção dos aspectos desagradáveis
da dor (SHERWOOD, 2011 p.192).

FIGURA 39 - VIAS DE CONDUÇÃO DA DOR

FONTE: O autor

52
TÓPICO 3 — REPARO DOS TECIDOS

No entanto, os mecanismos fisiológicos de controle da dor ainda precisam


ser esclarecidos. Sabe-se que o organismo utiliza algumas formas de controlar os
impulsos de dor. Existem algumas teorias de controle da dor, entre estas estão:

• Teorias das Comportas - as informações de dor chegam à medula espinhal


pelas fibras A-delta e C na substância gelatinosa, o mesmo local em que
atividades das fibras táteis A-beta também se encontram, fechando assim a
comporta de dor, não deixando a informação álgica chegar ao sistema nervoso
central (SNC).
• Controle de dor pelo Trajeto Descendente - os estímulos descendentes na
medula inibem os estímulos de dor ascendentes trazidos pelas fibras A-delta
e C, associado ainda a liberação de substâncias neurotransmissoras no corno
dorsal.
• Liberação de beta-endorfina - a medida que os estímulos de dor trafegam
em direção ao SNC pelas fibras A-delta e C, ocorre a liberação de substâncias
analgésicas como a Beta-endorfina bloqueando a dor.

Entre os recursos fisioterapêuticos destinados ao tratamento da dor são


bastante utilizados. Podemos fazer uso de recursos que atuam na comporta da
dor, como por exemplo as correntes elétricas que serão abordadas nas próximas
unidades de ensino.

53
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

LEITURA COMPLEMENTAR

ULTRASSOM TERAPÊUTICO NO MECANISMO DE CICATRIZAÇÃO:


UMA REVISÃO

Tiago Petrucci de Freitas


Luciana Sperb de Freitas
Emilio Luiz Streck

Resumo: as aplicações terapêuticas do ultrassom no campo da Fisioterapia


produzem uma gama de efeitos biológicos que dependem exclusivamente dos
parâmetros utilizados no aparelho de ultrassom. Quando utilizamos o ultrassom
na forma mecânica podemos observar efeitos celulares presentes sem a transmissão
de calor, com a utilização do ultrassom na forma de ondas contínuas temos o
predomínio da atuação do calor na condição terapêutica. O presente trabalho tem
como finalidade elucidar e desmistificar a utilização do ultrassom na Fisioterapia,
pois na prática clínica vários estudos têm demonstrado que os mecanismos de
utilização do ultrassom terapêutico ainda são por vezes não compreendidos
pela sociedade e até mesmo por profissionais da área da saúde, mesmo que sua
descoberta tenha acontecido em meados de 1880, e em 1927 já era identificado
como um campo gerador de mudanças permanentes nos sistemas biológicos.

Introdução

O ultrassom (US) teve sua descoberta em 1880, quando o casal Pierre


e Marie Curie descobriu o efeito piezoelétrico através da aplicação de uma
corrente elétrica senoidal sobre um cristal de quartzo colocado entre duas
placas metálicas; estes cientistas constataram a geração de uma vibração de alta
frequência. Langevin, Tournier e Howeck construíram pela primeira vez, em
1917, em Paris, um aparelho piezoelétrico que, embora tivesse utilidade para a
Marinha, apresentava aplicações no campo da biologia, observando-se que sob
a ação dos ultra-sons que emitia, morriam pequenos peixes depois de grandes
convulsões. Em 1927, Wood e Loomis identificaram que o aparelho poderia
produzir mudanças duradoras em sistemas biológicos, através da absorção de
energia ultra-sônica, levando os tecidos ao aquecimento, o que tem sido usado
até os dias atuais. Mais recentemente esse efeito benéfico tem sido estendido
também a propriedade de o aparelho produzir efeito não térmicos, facilitando
a cicatrização muscular, epitelial, diminuição de processos inflamatórios
entre outros benefícios, o que vem provocando nos pesquisadores estudos
incessantes, tendo como finalidade a verificação da sua eficácia nos diversos
processos teciduais. Para obtermos os máximos dos benefícios, são necessários
o controle de parâmetros próprios do aparelho, como a frequência, intensidade,
duração do tratamento, tipo de cabeçote a ser utilizado, área de tratamento
e, principalmente, a calibragem do aparelho. Na Fisioterapia a terapia ultra-
sônica é definida pelas oscilações de ondas cinéticas ou mecânicas produzidas
pelo transdutor vibratório, que aplicado sobre a pele atravessa e penetra no

54
TÓPICO 3 — REPARO DOS TECIDOS

organismo em diferentes profundidades, dependendo da frequência, que varia


de 0,75 a 3,0 MHz, sendo utilizado no tratamento de pequenas lesões musculares,
acelerando o processo de cicatrização muscular e epitelial.

Efeitos biológicos do ultrassom: os efeitos do ultrassom dependem de


muitos fatores físicos e biológicos, tais como a intensidade, tempo de exposição,
estrutura espacial e temporal do campo ultra-sônico e estado fisiológico do objeto.
Este grande número de variáveis complica a compreensão exata do mecanismo
de ação do ultrassom na interação com os tecidos biológicos [...].

Térmico: é decorrente da absorção das ondas ultra-sônicas pelo tecido que


se transforma em calor. A vibração celular e de suas partículas provoca um atrito
entre elas, produzindo assim o efeito térmico. A produção de calor é maior nas
áreas limítrofe músculo/osso. No US com feixe contínuo, prevalece o efeito térmico,
o que não ocorre com o feixe ultra-sônico pulsátil ou intermitente, promovendo
ação analgésica, antiinflamatória ou antiespasmódica na zona tratada. Melhora a
circulação do local e região, promovendo uma leve hiperemia. [...]

Não Térmico ou Mecânico: as ondas ultra-sônicas, ao penetrarem no


tecido, provocam vibrações sobre os mesmo em nível celular (micromassagem),
acelerando a velocidade de difusão de íons através da membrana celular e
o intercâmbio de fluidos, favorecendo o processo de difusão e melhorando
o metabolismo celular. O potencial da membrana é alterado, produzindo a
sua despolarização. Além disso, regula o desequilíbrio, auxilia a liberação de
aderências, pela separação das fibras colágenas. Com o aumento das trocas
e da vasodilatação, teremos mais anticorpos, leucócitos e eletrólitos na área, o
que concorrerá para uma maior defesa, além de aumentar consideravelmente o
retorno venoso e linfático, facilitando a absorção de edemas. O US age através dos
fatores mecânicos e térmicos, que provocam uma série de reações químicas que
aceleram as reações e aumentam a condutibilidade das ações, como a liberação de
substâncias vasodilatadoras, facilitando a dispersão dos líquidos e a desagregação
de moléculas complexas. [...] O ultrassom pode provocar a formação de bolhas
ou cavidades micrométricas nos líquidos contendo gás, causada por pressões
negativas no tecido durante a rarefação. Esta formação de bolhas pode quebrar
ligações moleculares entre o gás e o tecido (cavitação transitória). O colapso
das bolhas libera energia que pode também quebrar ligações. Radicais livres
produzidos durante a quebra de ligações podem levar a reação de oxidação.
Portanto, trata-se de um efeito destrutivo ou danoso, constituindo uma lesão
celular provocada por força excessiva de tração e compressão das ondas do
ultrassom. Se for evitado um campo de ondas estacionárias e se forem utilizadas
baixas intensidades durante a terapia, será improvável a ocorrência desta
cavitação temporária.

Técnicas de aplicação: o ultrassom utiliza como meio de condução


transdutor-paciente a água, gel, emulsão, óleos ou medicamentos em forma de
gel. A manipulação do cabeçote deve ser de maneira lenta, com movimentos
curtos e uniformes, circulares ou em formato de oito, sempre com cuidado com

55
UNIDADE 1 — PROPRIEDADES DOS AGENTES ELÉTRICOS

as proeminências ósseas, pois o contato com as mesmas pode gerar forças de


cavitação que são a energia armazenada em uma cavidade, promovendo um
estado de pressão, temperatura mais elevada, ou concentrando energia em zonas
vizinhas. Observar um tempo máximo de quinze minutos de aplicação da técnica.

Sonoforese é uma técnica de aplicação ultrassônica também conhecida


como Fonoforese ou ultrafonorese, que é a capacidade de transporte por via
cutânea de medicamentos trasndérmicos facilitando a penetração dos mesmos
de uso tópico.

Terapia Ultrassônica e a lesão muscula: a terapia por ultrassom de


forma mecânica influência a atividade das células, plaquetas, mastócitos,
macrófagos e neutrófilos envolvidos na fase inflamatória do processo de
regeneração tecidual, acelerando o processo de cicatrização. As ondas ultra-
sônicas produzem o aumento da permeabilidade da membrana e das plaquetas
facilitando a liberação de serotonina. Os mastócitos terão o rompimento de sua
membrana celular em resposta ao aumento dos níveis de cálcio intracelular,
liberando histamina. A capacidade de efetuar o transporte de cálcio através
das membranas celulares, segundo mensageiro, pode exercer efeito profundo
na atividade celular, aumentando a síntese e secreção dos fatores de lesão
pelas células envolvidas no processo de cicatrização. Na fase de proliferação
ou granulação, que inicia aproximadamente três dias após a lesão, no período
em que as células são expostas a níveis terapêuticos de Ultra- som a motilidade
dos fibroblastos estará aumentada, não tendo comprovação na literatura sobre
a ação desta terapia no estímulo da atividade dos fibroblastos. Outro efeito está
relacionado ao aumento da velocidade de angiogênese e aumento na secreção de
colágeno presentes nesta fase [...]. O tratamento com US térmico fornece melhor
resistência tênsil e elasticidade do colágeno maduro, quando o tratamento é
realizado desde o processo inflamatório até a fase de remodelagem no processo
cicatricial. Nikolaou (1987) admitem que após a lesão provocada por esforço, a
cicatrização da lesão muscular sete dias após apresentava inflamação reduzida
e a fibrose por colágeno mais avançada. Os achados desse estudo demonstram
que a recuperação funcional do músculo ocorre 48 horas após, a despeito da
inflamação e cicatrização. Os efeitos do ultrassom dependem de muitos fatores
físicos e biológicos. Experimentos realizados com o ultrassom demonstram que a
interação com os tecidos biológicos provoca alterações fisiológicas que podem ser
benéficas ou provocar danos.

Terapia Ultrassônica e a lesão epitelial: a comunidade médica e científica


tem estudado de modo exaustivo, a prevenção e cicatrização das feridas
cutâneas. Nos dias atuais seria impossível referenciar todas as substâncias
orgânicas e inorgânicas e procedimentos que foram empregados durante os
séculos. Mesmo em épocas modernas, a busca do melhor agente cicatrizador tem
continuado a confundir médico e a classe dos cientistas. Sabe-se que na derme,
os fibroblastos são responsáveis por regular o tecido epitelial e interagem com
os constituintes da matriz extracelular, tais como, o colágeno, o tecido fibroso
e os proteoglicanos através de uma integração perfeita. As ondas ultrassônicas

56
TÓPICO 3 — REPARO DOS TECIDOS

ao penetrarem no tecido provocam vibrações sobre os tecidos incididos a nível


celular (micromassagem), acelerando a velocidade de difusão de íons através da
membrana celular, acelerando o intercâmbio de fluidos, favorecendo o processo
de difusão e melhorando o metabolismo celular.

Fase Inflamatória: as forças geradas pelas correntes acústicas alteram a


permeabilidade da membrana da plaqueta, levando à liberação de serotonina.
Isso inclui a liberação de histamina dos mastócitos e, muito importante, fatores
liberados dos macrófagos. [...].

Fase Proliferativa: inicia três dias após a lesão [...].

Fase de Remodelamento: podem durar meses ou anos, dependendo do


tecido envolvido e da natureza da lesão [...].

Conclusão

A terapia ultrassônica sem dúvida pode causar bioefeitos a curto e a longo-


prazo desde que os tempos de cicatrização tanto muscular como epitelial possam
ser respeitados. O bom manejo do aparelho requer não só a prática, mas também o
conhecimento do funcionamento embasado nos fatores biológicos, conhecimento
e entendimento das fases da lesão e principalmente do funcionamento físico do
aparelho de ultrassom [...].

FONTE: <http://www.acm.org.br/revista/pdf/artigos/854.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2019.

57
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As lesões são classificadas em primárias e secundárias.

• A cicatrização envolve fases de resposta inflamatória seguida da proliferação,


e finaliza com a remodelação.

• Os mediadores químicos são liberados e iniciam a resposta inflamatória,


caracterizada pelos sinais da inflamação.

• Existem alguns fatores que podem dificultar a resposta do processo de


cicatrização.

• Os tecidos do corpo respondem de maneira diferenciada a cicatrização.

• A dor é uma experiência sensorial desagradável, mas necessária, pois funciona


como um mecanismo de alerta para o corpo humano.

• Os mecanismos de condução e resposta da dor são específicos para dor aguda


e crônica.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

58
AUTOATIVIDADE

1 Enumere a sequência de eventos corretos que acontece na resposta vascular


da inflamação aguda:

( ) O aumento da permeabilidade vascular leva ao extravasamento de


exudato para o interstício (edema).
( ) Vasoconstrição das arteríolas por alguns minutos.
( ) Aumento da permeabilidade da microvasculatura, causando o aumento
na viscosidade sanguínea (estase).
( ) Vasodilatação, causando calor e eritema.
( ) Marginação leucocitária devido a estase - os leucócitos aderem ao
endotélio, e após pouco tempo migram através da parede vascular para o
tecido intersticial.

A alternativa que apresenta a sequência CORRETA é:


a) ( ) 2, 4, 5, 1, 3.
b) ( ) 5, 1, 3, 2, 4.
c) ( ) 4, 3, 2, 5, 1.
d) ( ) 1, 2, 4, 3, 5.
e) ( ) 3, 5, 2, 4, 1.

2 A dor é um mecanismo importante de alarme para o organismo quando


alguma situação ocasiona dano aos tecidos. Em relação Fisioterapia e dor,
marque verdadeiro (V) ou falso (F).

( ) No Brasil, as afecções do aparelho locomotor são as causas mais frequentes


de dor, sendo as lombalgias uma das principais causas de dor.
( ) A Teoria das Comportas nega a existência de um receptor específico para dor.
( ) O corno anterior da substância cinzenta da medula espinhal contém
interneurônios que interferem no processamento das informações
sensitivas, inibindo ou facilitando a transmissão dos potenciais veiculados
pelos aferentes primários para os sistemas de projeção suprassegmentares.
( ) Os receptores nociceptivos são representados por terminações nervosas
livres presentes nas fibras mielínicas finas A-delta e amielínicas C.
( ) A atividade dos receptores nociceptivos das fibras C é modulada pela
ação de substâncias químicas, denominadas algogênicas, liberadas em
elevada concentração no ambiente tecidual em decorrência de processos
inflamatórios, traumáticos e/ou isquêmicos.

A alternativa que apresenta a sequência CORRETA é:


a) ( ) V, F, F, V, V.
b) ( ) F, F, V, V, F.
c) ( ) F, V, F, V, V.
d) ( ) V, V, F, V, F.
e) ( ) V, F, F, F, V.
59
3 São os mais diferentes tipos de lesões que o fisioterapeuta atende em sua
prática clínica. Cada tecido responde de acordo com as suas características
na fase de reparo. Sobre o reparo dos tecidos, é CORRETO afirmar:

I- A reação fisiológica normal do corpo após um trauma é a resposta


inflamatória.
II- Quando o trauma é articular, o reparo ocorre de maneira rápida pela
ótima vascularização deste tecido.
III- A histamina é um mediador químico liberado pelos mastócitos e que
aumenta a permeabilidade celular.
IV- As células lesionadas liberam substâncias químicas que contribuem para
a lesão inflamatória, chamada de lesão secundária.

É CORRETO apenas:
a) ( ) I, II.
b) ( ) II, III.
c) ( ) I, III, IV.
d) ( ) II, IV.
e) ( ) I, III.

60
UNIDADE 2 —

CORRENTES ELÉTRICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o uso das correntes elétricas usadas para analgesia;

• aprender as diferentes correntes empregadas para a estimulação


muscular;

• estudar as correntes polarizadas e seus efeitos;

• compreender as formas de aplicação, indicações e contraindicações dos


recursos fisioterápicos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 - ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

TÓPICO 2 - ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR

TÓPICO 3 - CORRENTES POLARIZADAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

61
62
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O


CONTROLE DA DOR

1INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Vamos iniciar esta nova unidade abordando as
correntes elétricas e iniciaremos nossos estudos sobre os recursos utilizados para
controle da dor. Você deve lembrar que ao final da Unidade 1 foi destacado o
mecanismo fisiológico da dor. Agora, vamos especificar mais detalhadamente
os aspectos relacionados ao mecanismo da dor e seu controle mediado pela
estimulação elétrica.

A presença de dor é uma das principais queixas na prática diária do


fisioterapeuta, são diferentes os motivos que ocasionam dor no organismo, no
entanto sabemos que esta sensação é uma importante forma de alerta do corpo.

A dor é umas das primeiras manifestações de lesão tecidual. Ela é subjetiva,


pois varia de indivíduo para indivíduo em relação a sua percepção e seu tipo.
As queixas são diferenciadas, bem como os relatos dos tipos de dor que podem
ser em queimação, fisgada, pontadas entre outras formas. Essa manifestação
é multidimensional, pois envolve aspectos motores, sensitivos, emocionais e
afetivos, e inclui um sistema amplo de recepção, interpretação e respostas.

Atualmente, inúmeros estudos procuram alcançar respostas para o


controle da dor, e na fisioterapia, o uso da corrente elétrica têm sido uma
importante forma de tratar e controlar as respostas álgicas.

2 MECANISMO PERIFÉRICO E CENTRAL DA DOR


Para entender o mecanismo de analgesia mediado pela estimulação
elétrica neuromuscular transcutânea, é importante compreender que esta provoca
estímulos táteis na pele. A estimulação transcutânea, que significa através da
pele, implica em aplicar uma corrente elétrica com intensidade adequada para
ocasionar despolarização dos nervos sensoriais, motores e de dor e, portanto,
promover analgesia.

A pele humana é um órgão bastante extenso e possui inúmeros receptores


sensoriais, estes captam informações e direcionam via sistema nervoso periférico
até o sistema nervoso central. A percepção da dor está associada com os

63
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

nociceptores, receptores específicos para dor, o nível de ativação destas estruturas


se relaciona com a intensidade da dor, bem como, as respostas emocionais de
cada indivíduo frente aos estímulos álgicos.

Os nociceptores são geralmente terminações nervosas livres embebidas


nos tecidos, com variações na densidade desses receptores em
diferentes tecidos. As terminações nervosas livres são simplesmente
terminações nervosas sem qualquer estrutura acessória associada,
diferente do que se encontra nas outras terminações nervosas
sensitivas. As terminações nervosas livres têm um limiar de ativação
relativamente alto e são sensíveis a estímulos que potencialmente
lesam os tecidos, como estímulos mecânicos, térmicos, elétricos e
químicos (KITCHEN, 2003, p.149).

FIGURA 1 - NOCICEPTORES

FONTE: O autor

Após serem estimulados, os nociceptores se ligam a fibras neurais que


possuem um pequeno diâmetro e partem via aferente em direção da medula
espinhal. É como se fosse um grande circuito elétrico que conecta e transfere de
maneira rápida e eficaz a informação da dor.

As fibras condutoras da dor se dividem em mielinizadas e não


mielinizadas, sendo responsáveis pela condução da dor rápida e lenta ou aguda e
crônica. Observa-se que um mesmo paciente pode apresentar estágios diferentes
de dor em áreas distintas do corpo. Por exemplo, pode apresentar uma artrose
com dor crônica e uma tendinite com dor aguda. Desta maneira, destaca-se a
importância da avaliação da dor e prescrição da modalidade da TENS com
parâmetros adequados para a analgesia.

64
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

Em sequência, os estímulos ocasionados pela TENS seguem para a medula


espinhal se a transmissão ocorrer através das fibras A-delta. De forma predominante,
o sinal de dor conduzido pelas fibras A-delta e C será inibido e não segue sua via
ascendente pelo trato espinotalâmicos para o tálamo (AGNE, 2013).

Conforme abordado ao final da Unidade 1, o efeito da TENS acontece


conforme a Teoria das Comportas, bloqueando a transmissão do sinal de dor na
substância gelatinosa, no corno posterior da medula espinhal. Na medula espinhal
a liberação de neurotransmissores ocasiona o fechamento da comporta de dor, e
assim um estímulo não doloroso pode bloquear a transmissão do impulso álgico
e ocasionar analgesia.

FIGURA 2 - TEORIAS DAS COMPORTAS DE DOR

FONTE: O autor

Quando pensamos em eletroanalgesia, logo imaginamos a ação de uma


corrente elétrica sendo utilizada no controle da dor. No entanto, a dor envolve
uma série de reações no organismo, o que leva a repercussões mais extensas.
Por exemplo: um trauma musculoesquelético ocasiona dor. A presença de dor
inibe o movimento, pois o indivíduo tenta reduzir ao máximo seus movimentos
na tentativa de se proteger da dor, isso leva a um espasmo muscular protetor,
levando à redução do aporte sanguíneo, e, por conseguinte, diminui a nutrição
das células e oxigenação tecidual. Além desses efeitos é comum com o passar dos
dias a presença de edema, hipotrofia muscular, redução da força muscular e da
amplitude de movimento articular.
65
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

FIGURA 3 - CICLO DA DOR

FONTE: O autor

3 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA –


TENS
O uso da TENS na prática diária do fisioterapeuta é algo bastante comum.
É uma técnica para promover analgesia de forma simples e não invasiva. Assim
como outras modalidades de recursos fisioterápicos, a TENS é aplicada via
transcutânea na pele (que deve estar intacta) por meio de eletrodos de contato.

A comporta de dor se abre mediante estímulos nocivos, permitindo que


a informação siga para o sistema nervoso central e seja percebida. No entanto, esta
comporta de dor pode se fechar ao receber estímulos de ordem tátil.

Como a TENS é aplicada sobre a pele, esta provoca estímulos táteis.


Lembrando que as fibras A-beta são ativadas por estímulos táteis e fazem aferência
na medula espinhal. Assim, o estímulo provocado pela TENS pode promover o
fechamento da "comporta de dor", para as fibras A-delta e C, resultando em menor
informação nociva atingindo o cérebro, e redução na sensação de dor a nível local.
O uso da TENS também estimula a inibição da substância gelatinosa através da
liberação de GABA (ácido gama aminobutírico), que fecharia a comporta de dor
(KITCHEN, 2003; AGNE, 2013).

Os mecanismos extrassegmentares estão relacionados com a atividade da


TENS nos aferentes de pequeno diâmetro, pois produz analgesia extrassegmentar
através da ativação de estruturas que formam as vias descendentes de inibição da
dor, ocasionando a liberação de opiáceos endógenos (endorfinas), importantes na
regulação fisiológica normal da dor (KITCHEN, 2003; AGNE, 2013).

66
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

A estimulação elétrica de baixa frequência (inferior a 10 Hz) está


relacionada com o mecanismo de liberação de endorfinas, como é o caso da TENS
do tipo Burst. Já as frequências mais elevadas, por exemplo 120 Hz, associam-se
à sensação de parestesia, como no tipo convencional, sendo este indicado para
dor aguda.

Pode-se constatar que a aplicação da TENS possui mecanismos diferentes


de analgesia, de acordo com seus parâmetros de aplicação. No entanto, são
escassos os estudos que estipulam com exatidão valores de pulsos e frequências
exatas para a aplicação. Assim, alguns autores dividem a estimulação TENS em
baixa e alta frequência de aplicação (STARKEY, 2001), ou nos tipos Convencional,
Breve-intenso, Acupuntura e Burst (KITCHEN, 2003; AGNE, 2013).

Mesmo que alguns tipos da TENS proporcionem contrações musculares,


o objetivo principal deste recurso é ocasionar analgesia, pois promove a redução
da dor por estimular a sua condução e a percepção dos impulsos das pequenas
fibras de dor para o SNC. Ainda afeta grandes fibras motoras interferindo em
reações de proteção muscular, espasmos, o que colabora com a redução do ciclo
de dor – espasmo – dor, proporcionando maior alívio da condição álgica do
paciente (STARKEY, 2001).

A TENS é uma técnica de aplicação não invasiva que não proporciona


interação com medicamentos, de fácil aplicação, não causa dependência, podendo
ser utilizada mesmo a longo prazo. Quando aplicado com os parâmetros corretos,
os efeitos da TENS surgem de forma rápida, beneficiando os pacientes.

Antes de iniciar a aplicação da TENS, o fisioterapeuta deve avaliar a


presença de dor, sua localização mais exata possível, verificar se a dor é irradiada,
qual o movimento que desencadeia a dor, observar se esta se manifesta em
repouso ou apenas no movimento, qual o tipo de dor, há quanto tempo o paciente
relata os sintomas, entre outros aspectos de avaliação da dor.

Podem ser aplicadas formas de mensurar a dor antes da aplicação da


TENS por meio de escala visual analógica ou questionários específicos de dor,
com a finalidade de acompanhar as respostas da dor do paciente tratado com a
eletroestimulação.

3.1 TIPOS DE TENS


Existem alguns tipos de TENS utilizados na prática profissional do
fisioterapeuta. A escolha do tipo pode variar de acordo com o quadro clínico
apresentado pelo paciente, a fase da dor e as respostas obtidas diante do
tratamento aplicado. A seguir, vamos ver alguns tipos utilizados.

67
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

3.1.1 Convencional
Neste tipo ocorre uma cadeia de pulsos de alta frequência, baixa amplitude,
curta duração e ininterrupta. Utilizado em pacientes com dor aguda, como por
exemplo em um pós-operatório do ligamento cruzado anterior. O mecanismo de
bloqueio da dor é periférico de transmissão pela estimulação de fibras de grande
diâmetro, como na Teoria da Comporta. Ocasiona parestesia forte, porém
confortável e sem contração muscular, o efeito é sensorial.

As fibras A-beta de grande diâmetro são estimuladas provocando a


inibição das fibras A-delta e C na medula (substância gelatinosa), bloqueando a
transmissão do impulso de dor, ou seja, a comporta é fechada (STARKEY, 2001).

Nesta modalidade, a percepção do estímulo elétrico pode reduzir com o


passar do tempo, o que é conhecido como acomodação da pele à corrente elétrica,
sendo que o uso de modulações pode auxiliar a evitar este processo. É recomendado
um tempo de aplicação de 30 a 60 minutos, podendo ser aplicado mais vezes ao dia.
Os eletrodos devem se posicionar ao redor ou sobre o ponto de dor.

3.1.2 Acupuntura
Neste modo de aplicação, as frequências ficam inferiores a 10 Hz e a
largura de pulso maior que 200 ms. As contrações podem ser visíveis, pois
estimulam fibras nervosas sensoriais e motoras. O estímulo sensorial aferente,
nociceptivo, ocorre por estimular as fibras A-delta e C, ativando o mecanismo de
analgesia mediado por opiáceos, a sensação é de parestesia forte, não devendo
ser desconfortável para o paciente. Em geral, aplicado uma vez ao dia.

A TENS de baixa frequência estimula a hipófise a liberar substâncias


químicas que ativam a produção de endorfinas, que ocasionam redução da
dor crônica e melhora do metabolismo local. Assim, este tipo da TENS atua no
tratamento da dor crônica (STARKEY, 2001).

3.1.3 Burst
No modo Burst é usado uma frequência mais alta de pulsos individuais
(de 40 a 150 Hz), que são distribuídos em “trens de pulso” de baixa frequência,
repetindo de 1 a 5 vezes por segundo, de forma a diminuir a impedância e tornar
os estímulos mais eficazes dando maior conforto ao paciente durante a aplicação.
A frequência dos trens de pulso é inferior a 10 Hz, ficando em geral de 1 a 4
Hz. Portanto, ativa o alívio da dor pelos dois mecanismos citados anteriormente.
A largura do pulso é alta, em geral maior que 200 ms. As aplicações são de 30

68
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

a 45 minutos, ocasionado efeito motor. Conforme abordado na Unidade 1, os


pontos motores podem ser estimulados neste tipo de aplicação, sendo bastante
indicada para o tratamento de quadro álgicos crônicos. Sua analgesia pode estar
relacionada com a liberação de opiáceos e endorfina.

3.1.4 Breve-intensa
Seu estímulo também é proporcionado por uma cadeia ininterrupta de
pulsos. A frequência e largura do pulso seriam elevadas, por exemplo: frequência
de 150 Hz e pulsos de longa duração superior a 200 ms. A intensidade deve ser
alta e o tempo de aplicação em torno de 15 minutos.

Neste tipo, a estimulação provocada é bastante intensa, o que ocasiona


ativação de mecanismo neurais de origem ascendente, dando a consciência da
dor. Ao passar pelo mesencéfalo, estimula a liberação de opiáceos endógenos
nos núcleos da rafe, sendo ativado o mecanismo descendente de supressão da
dor no qual os opiáceos inibem a liberação da substância P, bloqueando assim a
transmissão da dor (STARKEY, 2001).

3.2 MODULAÇÃO DA TENS


O fato de modular a corrente elétrica aplicada pode ser útil para se evitar
efeitos de acomodação, evitando a adaptação dos nervos ao estímulo promovido
pela corrente aplicada. Em alguns aparelhos podem ser moduladas as frequências,
larguras do pulso, amplitude do pulso, ou ainda, modular duas variáveis em
conjunto. Temos então as modulações:

• Variação da intensidade e frequência – VIF.


• Variação da frequência de pulso – VFP.
• Variação da largura do pulso – VLP.
• Variação da largura e da frequência do pulso – VPF.

Prezado acadêmico, nos quadros seguintes você poderá entender um


pouco mais dos parâmetros aplicados em cada tipo da TENS, porém não deve
esquecer que as aplicações devem ser feitas de acordo com a avaliação de cada
caso. As respostas dos pacientes aos parâmetros aplicados devem ser avaliadas a
cada sessão de tratamento, pois o tempo de analgesia ocasionado pela TENS vai
variar de indivíduo para indivíduo.

69
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

QUADRO 1 - PARÂMETROS DA TENS

TENS Convencional Acupuntura Burst Breve-intensa


Pulso Baixo Alto Alto Alto
Frequência Alta Baixa Baixa Alta
Tempo (m) 30’ a 60’ 30’ 30’ a 45’ 15’
Sensorial,
Estímulo Motor, contração Motor, contração Motor, contração
Formigamento
Mecanismo Comportas Opiáceos Opiáceos Opiáceos

FONTE: O autor

QUADRO 2 - EXEMPLOS DE PARÂMETROS

TENS Convencional Acupuntura Burst Breve-intensa


Pulso (T) 50 230 230 250
Frequência (Hz) 130 4 6 150

FONTE: O autor

3.3 COLOCAÇÃO DO ELETRODO


A colocação do eletrodo ao aplicar a TENS por vezes gera dúvidas
nos profissionais. No entanto, deve-se usar da lógica para determinar a forma
adequada de posicionar os eletrodos. As técnicas de colocação são variadas, mas
é fundamental observar o local exato que o paciente sente dor — possível através
de uma boa avaliação. O profissional ainda deve relacionar a presença da dor e
sua relação anatomofisiológica com a lesão. Podem ser colocados eletrodos direto
no ponto de dor, em pontos de estimulação, nos dermátomos correspondentes,
no nível da raiz nervosa e ao longo de seu trajeto. Se aplicar eletrodos de forma
longitudinal, transversal ou cruzada, os resultados não se alteram desde que o
local da dor seja sempre avaliado com precisão.

É importante salientar que a escolha do tamanho do eletrodo tem relação


com a resistência da corrente e a área de tratamento, como explicado na Unidade
1. Deve-se observar também que o número de canais aplicados e de eletrodos
estão relacionados com a área de dor, por exemplo: pode ser aplicado um canal
com dois eletrodos em uma pequena área ou até mesmo um maior número de
canais e eletrodos numa superfície maior de tratamento.

Ainda serão obtidas melhores respostas ao aplicar a TENS, se o trajeto


neural dos nervos que estão relacionados com a área álgica puder ser estimulado.
Como por exemplo, nas lesões das mãos ou pés que conseguimos atingir o trajeto
do nervo correspondente a área lesionada. Não devem ser colocados eletrodos
nos pontos com alteração sensorial, pois não é possível determinar a intensidade
correta da corrente.

70
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

Desta maneira, alguns critérios devem ser observados quanto ao


posicionamento dos eletrodos:

• o local selecionado deve permitir que a estimulação seja facilmente direcionada


do Sistema Nervoso Periférico ao Sistema Nervoso Central;
• a região precisa ser condutiva ao posicionamento do eletrodo. Isso elimina maior
parte das proeminências ósseas e áreas primariamente cobertas por pelos;
• a área selecionada deve estar anatômica e/ou fisiologicamente relacionada à
fonte de dor.

E
IMPORTANT

Ao aplicar a TENS, deve-se observar que o alívio da dor não deve ser apenas
na hora do tratamento, deve se prolongar o maior tempo possível após a sessão. É
importante solicitar ao paciente que observe quanto tempo após a terapia permaneceu
sem sintomatologia de dor.

3.4 EFEITOS DA TENS


Os efeitos principais da TENS são para ocasionar analgesia em diferentes
situações que desencadeiam dor aguda ou crônica no paciente. Têm sido usados
em diferentes patologias com finalidade analgésica. A medida que a dor diminui,
alguns efeitos secundários podem estar presentes, como por exemplo a melhora
da ADM e força muscular.

3.5 FORMAS DE APLICAÇÃO


Ao aplicar a TENS a pele deve estar íntegra e com a sensibilidade
preservada. Se no local de aplicação houver alteração sensorial ou ainda
ferimentos abertos, pode se tentar aplicar ao longo do trajeto nervoso que inerva
esta área correspondente. É possível aplicar sobre a medula espinhal e no trajeto
neural dos segmentos que se relacionam ao processo de dor, como por exemplo
nos casos de ciatalgia.

Quando a dor for em uma grande área, devem ser usados aparelhos de
dois canais aplicando quatro eletrodos ou eletrodos de tamanho grande que
atinjam a área a ser tratada.

71
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

O fisioterapeuta ainda pode localizar um ponto mais sensível a aplicação


da TENS usando a técnica da ponta do dedo. Um eletrodo fica fixo na pele do
paciente, e o outro é segurado pelo terapeuta em sua mão em contato com a pele do
paciente. Coloca-se gel de contato na pele, aumenta-se lentamente a intensidade
do aparelho e desliza-se a ponta do dedo na pele até ter a percepção do aumento
da parestesia no local, sendo este um ponto mais efetivo à passagem da corrente.

3.6 CUIDADOS E PRECAUÇÕES


• Sempre observar o tipo de dor e o local de aplicação.
• A pele do paciente deve estar limpa e sem ferimentos no local de aplicação.
• Verifique as contraindicações do paciente.
• Teste a sensibilidade.
• Ajuste os parâmetros desejados antes da aplicação.
• Conecte de forma adequada os pinos dos cabos dentro dos eletrodos.
• Aumente a intensidade de forma gradual, questionando o paciente sobre a sua
sensação.
• O paciente não deverá sentir dor ou desconforto na aplicação.
• Observe reações alérgicas à fita ou gel de contato.
• Ao final da sessão, diminua a intensidade, caso o aparelho seja analógico,
desligue o aparelho, retire os eletrodos e limpe a pele do paciente.

3.7 INDICAÇÕES
• Alívio da dor aguda.
• Dor decorrente de pós-operatório.
• Dor obstétrica.
• Disfunção temporomandibular.
• Neuralgia do trigêmeo.
• Dor musculoesquelética.
• Alívio da dor crônica.
• Dor lombar.
• Dor articular, artrite reumatoide, artrose.
• Coto e dor fantasma.
• Dor neurálgica.
• Distrofia simpático-reflexa.
• Lesão de nervos periféricos.
• Dor em pacientes oncológicos.

3.8 CONTRAINDICAÇÕES
• Dor não diagnosticada.
• Paciente usuário de marca-passos.
• Doença cardíaca, em especial no tórax.
• Epilepsia.

72
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

• Gestação: primeiro trimestre.


• Não aplique sobre o seio carotídeo, sobre pele danificada, sobre pele disestésica,
internamente (boca).
• Não aplicar na região anterior do pescoço por causa de laringoespasmo devido
contração do músculo laríngeo.
• Não aplicar dois recursos terapêuticos ao mesmo tempo (TENS/Infravermelho
e TENS/gelo).

4 CORRENTE INTERFERENCIAL
A corrente interferencial (CI) é uma modalidade de média frequência
criada na década de 1950, geralmente aplicada com sua frequência portadora de
4000 Hz. Esta sofre interferência de uma frequência moduladora. Estes canais se
combinam e resultam na interferência que proporciona uma corrente de baixa
frequência dentro do alcance biológico dos tecidos, não ultrapassando 150 Hz e
sendo tolerável ao paciente.

Seu princípio físico se fundamenta em que, ao utilizar campos elétricos


cruzados e sobrepostos de dois circuitos elétricos de média frequência produzida
em dois circuitos distintos, favorece a excitação máxima, porém, de baixa
frequência não se produz exatamente na área próxima aos eletrodos transcutâneos
se não em certa distância e profundidade do corpo (AGNE, 2013, p. 126).

Podemos deduzir que se temos duas correntes sinusoidais de média


frequência que se encontram, isso gera uma interferência. Uma corrente é
normalmente de frequência fixa, por exemplo 4000 Hz (f1), e a outra corrente é
ajustável, por exemplo 4100 Hz (f2). Assim, a resultante é chamada de interferência
ou modulação de amplitude e frequência (AMF). A modulação gera uma corrente
de baixa frequência, neste caso, 100 Hz.

A AMF ou frequência de batida é tradicionalmente considerada como


sendo o componente efetivo da IC, simulando as correntes de baixa frequência e
criando a estimulação diferencial dos tecidos.

No aparelho, seleciona-se uma AMF de 100 Hz e automaticamente o canal


2 do eletroestimulador libera uma frequência de 4100 Hz (f2). No canal, um está
com frequência de 4000 Hz (f1), sendo assim, o valor de AMF é liberado e somado
à frequência portadora no canal 2 (figura seguinte).

É importante destacar que ao ocasionar a interferência de duas correntes,


a resultante vai ocorrer a 45 graus do quadrante formado pelos eletrodos (AGNE,
2013). Assim, alguns aparelhos, para promover melhor ação da CI, possuem um
vetor que promove um deslocamento dinâmico da corrente, denominado varredura.

73
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

FIGURA 4 - MODULAÇÃO DE AMPLITUDE E FREQUÊNCIA (AMF)

FONTE: O autor

Na CI ocorre a superposição das duas correntes alternadas, o que


chamamos de interferência. No local que estas correntes se encontram, surge uma
nova corrente alternada de média frequência com amplitude modulada.

FIGURA 5 - AMPLITUDE DE MODULAÇÃO DE FREQUÊNCIA

FONTE: <https://manualzz.com/doc/5915901/endophasys> Acesso: 23 jul. 2019.

Em geral, observam-se regulagens de AMF para o tratamento da dor,


variando de 1 a 130 Hz. Esta variação ocorre de acordo com a fase da dor, sendo
as frequências mais baixas para dor crônica e as mais altas para dor aguda.

4.1 EFEITOS
Os mecanismos de analgesia da CI estão baseados na teoria da "comporta
da dor"; no aumento da circulação; supressão descendente da dor; bloqueio
fisiológico da condução nervosa; efeito placebo (KITCHEN, 2003). Ao aplicar
as frequências mais baixas (10 - 25 Hz) a nível motor, pode ocorrer ativação de
fibras A-delta e C, ou seja, mecanismo central, liberando opioides endógenos. No
entanto, ao aplicar frequências mais elevadas (80 - 120 Hz), ocasionando estímulo
sensorial, ativa a comporta de dor, efeitos semelhantes ao encontrado na TENS.

74
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

4.2 FORMAS DE APLICAÇÃO


Antes de aplicar a corrente interferencial, alguns parâmetros devem ser
selecionados:

• o método de aplicação (bipolar ou tetrapolar);


• a frequência portadora;
• a frequência moduladora (AMF);
• o delta AMF;
• programas Slope e Sweep.

A corrente interferencial pode ser produzida aplicando as duas correntes


de média frequência através de quatro eletrodos (método tetrapolar), de modo
que essas se cruzem dentro dos tecidos (em geral, as aplicações tetrapolares
atingem uma área maior de ação). Na aplicação bipolar ocorre a mescla das
correntes no próprio aparelho antes de chegar à pele do paciente, o que assegura
que a modulação é cem por cento (este modo é aplicado em áreas menores).
Não existem diferenças no efeito fisiológico entre as técnicas de aplicação. A
intensidade da corrente deve produzir uma sensação forte, porém confortável,
lembrando que o incremento da intensidade deve ser feito de forma lenta.

4.2.1 Método tetrapolar


Nesta forma de aplicação serão utilizados quatro eletrodos e dois canais
que ficarão ao redor da área de dor. Cada canal emite correntes alternadas de
média frequência que ainda não foram moduladas. Ao se cruzarem sobre a pele
do paciente ocorre a interferência e uma nova frequência é ocasionada.

FIGURA 6 - MÉTODO TETRAPOLAR

Esquema polar da profundidade


de modulação (m) - técnica de 4 polos
com superposição perpendicular
FONTE: <https://manualzz.com/doc/5915901/endophasys>. Acesso: 23 jul. 2019.

75
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

Na forma tetrapolar, o fisioterapeuta ainda pode optar por deixar a


interferência ocorrer de maneira fixa ou em varredura, caso o eletroestimulador
tenha esta opção de escolha.

Após a avaliação do local da dor e sua área de acometimento, pode-se


determinar qual a melhor forma de aplicação. Se o local da dor for mais preciso,
pode-se optar pela técnica de interferência fixa, na qual a ação máxima se dá a
45 graus entre os dois eletrodos de canais diferentes, assemelha-se a um trevo
de quatro folhas, o que significa 100% de ação neste local. A medida que a
interferência se afasta deste ângulo, seus efeitos tendem a diminuir.

FIGURA 7 - AÇÃO DE 45 GRAUS

FONTE: O autor

De acordo com Agne (2013), alguns passos podem ser seguidos para se
obter sucesso nesta aplicação:

• localizar com exatidão o local da dor e marca-lo com uma caneta;


• higienizar a pele do paciente;
• colocar os eletrodos de modo que o local identificado de dor fique exatamente
entre os dois eletrodos de canais distintos, a 45 graus;
• selecionar o programa tetrapolar com interferência fixa ou estática;
• determinar o tempo de tratamento, ao menos 25 minutos;
• acionar o start e aumentar a intensidade dos canais de forma lenta e perguntar
ao paciente a sensação da corrente;
• observar se o local de emissão da corrente está sobre a área de dor, sendo que o
paciente deve relatar sensação de pressão sobre a área de maneira forte, porém
que não seja desconfortável.

76
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

4.2.2 Modo varredura


Este modo tem sido escolhido quando existe a dificuldade em avaliar com
precisão o local da dor. Neste modo tetrapolar, o vetor interferencial de varredura
gira ou rastreia 45 graus, para frente e para trás, entre os eletrodos que estão
posicionados na pele do paciente, atingindo assim, uma área maior de ação da CI.
Os efeitos serão percebidos nos quatro quadrantes formados pelos quatro eletrodos.

FIGURA 8 - TETRAPOLAR COM VARREDURA

FONTE: O autor

De acordo com Agne (2013), alguns passos podem ser seguidos para se
obter sucesso nesta aplicação:

• localizar o local da lesão, que algumas vezes nem sempre é onde a dor se
manifesta;
• higienizar a pele do paciente e colocar os eletrodos atingindo a maior área a ser
tratada;
• selecionar o programa tetrapolar com varredura;
• determinar o tempo de tratamento, ao menos 30 minutos;
• acionar o start e aumentar a intensidade dos canais de forma lenta e perguntar
ao paciente a sensação da corrente;
• o paciente deve relatar sensação de pressão sobre a área de maneira forte,
porém que não seja desconfortável.

4.2.3 Método bipolar


Neste método a interferência já vem pronta do aparelho e não acontece nos
tecidos, como no método tetrapolar. Na forma bipolar, a mistura das correntes é
mais precisa e sua ação ocorre entre os eletrodos, que devem se posicionar um
de frente para o outro. Esta forma de aplicação atinge uma área menor de ação,
no entanto alguns aparelhos permitem que sejam utilizados mais de um canal
emitindo a forma bipolar.
77
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

FIGURA 9 - FORMA BIPOLAR

FONTE: O autor

4.3 A SELEÇÃO DA FREQUÊNCIA


Os aparelhos possuem frequências portadoras de 2000 Hz (2 kHz), 4000
Hz (4 kHz) e, em alguns dispositivos, 8000 Hz (8 kHz).

A frequência moduladora deverá variar formando um espectro,


selecionado um delta AMF. O delta AMF corresponde no máximo a 50% da AMF.
Este se soma a AMF, o que altera a AMF ao longo do tempo, fazendo oscilar
a frequência, evitando a acomodação ao estímulo. Desta maneira, a frequência
pode oscilar na unidade de tempo, por exemplo: em 6:6 s, 1:5:1s, 1:1s, o que forma
um slope, tipo de onda que poderá ser triangular, trapezoidal e quadrada.

“[…] promover a variação da frequência é o mecanismo que


habitualmente recorremos para evitar a acomodação, muito mais
especificamente na terapia interferencial, quando esta alternância de
frequência é denominada espectro de frequência (AGNE, 2013, p. 136).

Alguns aparelhos apresentam o programa Sweep e Slope, a função destes


é evitar a acomodação do estímulo. O programa Sweep possibilita a variação da
frequência, já o Slope a maneira como a frequência vai variar (AGNE, 2013).

FIGURA 10 - SLOPE

FONTE: O autor

Podemos exemplificar da seguinte maneira: se escolhemos AMF 20 Hz


e mais um espectro de 10 Hz (delta AMF), a corrente começa com um AMF
de 20 Hz e passa sucessivamente por todas as frequências até chegar a 30 Hz,
depois diminui até 20 Hz. Este processo se repete de forma automática durante
o tratamento.

78
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

Sempre ocorrerá uma variação do espectro de frequência associado ao


Slope: 6:6 triangular (fase aguda), 1:5:1 trapezoidal (fase subaguda), 1:1 quadrada
(fase crônica).

Em geral, na fase aguda de uma lesão, como em um pós-operatório


recente, a frequência terapêutica oscila entre 90 e 150 Hz e a seleção deve ser do
espectro triangular (6:6). Ao selecionar a AMF de 90 Hz e um delta AMF de 30
Hz, as frequências oscilam entre 90 a 120 Hz (90 + 30) e retornam a 90 Hz. Este
processo vai acontecer durante todo o tempo de aplicação.

FIGURA 11 - FORMA TRIANGULAR

FONTE: O autor

Na fase subaguda de uma lesão, a frequência terapêutica oscila entre 40 e


80 Hz e a seleção deve ser do espectro triangular (1:5:1). Ao selecionar a AMF de
60 Hz e um delta AMF de 20 Hz, as frequências oscilam entre 60 a 80 Hz (60 + 20) e
retornam a 60 Hz. Este processo vai acontecer durante todo o tempo de aplicação.

FIGURA 12 - FORMA TRAPEZOIDAL

FONTE: O autor

Na fase crônica de uma lesão, a frequência terapêutica oscila entre 10 e 30


Hz e a seleção deve ser do espectro quadrado (1:1). Ao selecionar a AMF de 20
Hz e um delta AMF de 10 Hz, as frequências oscilam entre 20 a 30 Hz (20 + 10) e
retornam a 20 Hz. Este processo vai acontecer durante todo o tempo de aplicação.

79
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

FIGURA 13 - FORMA QUADRADA

FONTE: O autor

4.4 CUIDADOS E PRECAUÇÕES


• sempre higienizar a pele antes da aplicação e se necessário retirar o excesso
de pelos;
• definir o local da dor e demarcar para aplicar os eletrodos;
• selecionar todos parâmetros de acordo com a avaliação do paciente e após
iniciar a terapia;
• aumentar a intensidade de forma adequada e explicar ao paciente a sensação
ocasionada na pele;
• caso ocorra acomodação mesmo com o ajuste do Slope e delta AMF, a intensidade
deve ser elevada.

4.5 INDICAÇÕES
• síndrome do túnel do carpo;
• epicondilite;
• dor lombar e cervical;
• fascite plantar;
• entorse;
• dor articular;
• trigger points;
• espasmo muscular;
• contratura muscular;
• edemas;
• processos inflamatórios.

4.6 CONTRAINDICAÇÕES
• pacientes nos quais pode ocorrer a movimentação de um trombo, alastramento
de infecção ou de células cancerígenas, ou hemorragia;
• marca-passos;
• no abdômen durante a gestação;

80
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

• na parede torácica em pacientes com problemas cardíacos;


• alteração sensorial;
• aplicação transtorácica;
• insuficiência circulatória;
• não aplicar simultaneamente a CI com o infravermelho ou crioterapia.

81
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

LEITURA COMPLEMENTAR

Marcelo Baptista Dohner


Jordana Peres Bauer
Tiago Sebastiá Pavão

RESUMO

Justificativa e objetivos: a dor lombar crônica possui incidência de


70% na população induzindo a limitações significativas. Como tratamento, a
fisioterapia destaca-se com ampla variedade de técnicas, onde para o alívio da
dor a eletroterapia é uma ferramenta aliada. O objetivo deste estudo foi comparar
os efeitos analgésicos da estimulação elétrica transcutânea e da corrente
interferencial em pacientes com lombalgia crônica.

Métodos: ensaio clínico randômico realizado entre agosto de 2013 e maio


de 2014 na clínica escola de fisioterapia da Ulbra - Torres, com pacientes com dor
lombar crônica. Os pacientes foram divididos em dois grupos: grupo intervenção
(GI), recebendo tratamento através da corrente interferencial e grupo controle
(GC), realizando tratamento através da estimulação elétrica transcutânea. Foi
realizada avaliação inicial com a escala analógica visual, Questionário de Oswestry
e Questionário de Incapacidade Roland Morris. Atendidos por cinco semanas,
duas vezes na semana, totalizando 10 intervenções, ao final eram reavaliados e
após um mês submetidos a um follow-up com escala analógica visual.

Resultados: participaram do estudo 28 pacientes, sendo 14 no GI e 14 no


GC. A amostra foi homogênea intragrupos para gênero, idade, cor e média de
tempo de dor. Encontrou-se melhora significativa em ambos os grupos na dor
pela escala analógica visual e funcionalidade pelos questionários de Oswestry e
de Incapacidade Roland Morris da avaliação inicial para a final (p<0,05).

Conclusão: houve resultados positivos na redução da dor lombar crônica


com aplicação tanto com estimulação elétrica transcutânea quanto com corrente
interferencial, não havendo diferença significativa entre as correntes transcutâneas.
Descritores: Dor lombar, Fisioterapia, Estimulação elétrica transcutânea.

INTRODUÇÃO

A dor lombar crônica (DLC) é um dos problemas mais comuns nos


países desenvolvidos. Estima-se que mais de 70% dos adultos têm pelo menos
um episódio de dor lombar (DL) durante sua vida, causando frequente limitação
física em indivíduos com menos de 45 anos. A incapacidade funcional e a
cronicidade relacionadas a essa doença são fenômenos complexos e multifatoriais,
associados a elevados custos sociais e de saúde. Frequentemente, a DLC não
decorre de doenças específicas, mas sim de um conjunto de causas como doenças
inflamatórias, degenerativas, neoplásicas, defeitos congênitos e por influência de
fatores sociodemográficos, comportamentais e atividades cotidianas.
82
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

Na reeducação do paciente quanto aos fatores de risco das afecções


vertebrais, a fisioterapia e a terapia farmacológica são os alicerces para o
tratamento da dor na coluna. Na fisioterapia, a eletroterapia pode ser útil para
diminuir os sintomas desses pacientes. Além da terapia manual e dos exercícios,
os métodos de eletroterapia são bastante utilizados na prática clínica para
redução da dor. Dentre eles, os mais conhecidos são a estimulação elétrica
neural transcutânea (TENS) e a corrente interferencial. A corrente interferencial
é uma corrente de média frequência que produz baixa impedância para a pele
permitindo uma penetração mais profunda no tecido, sendo assim considerada
eficaz para reduzir imediatamente a dor. Já na estimulação elétrica com a
TENS, os impulsos elétricos variam em intensidade e frequência ao estimular
o nervo no percurso da medula espinhal, bloqueando a transmissão da dor e
sendo utilizada para o alívio da dor musculoesquelética, incluindo DL baixa de
qualquer etiologia. Para investigar o sugestivo efeito analgésico das correntes
são utilizadas escalas como a escala analógica visual (EAV) que quantifica a
intensidade da dor no paciente e os questionários de Roland Morris (RMDQ)
e Oswestry que averiguam a funcionalidade dos pacientes com DLC, todas de
extrema importância para a credibilidade da pesquisa. Apesar de os estudos
prévios apontarem a eletroterapia como um recurso favorável na redução da dor
de pacientes com DLC, existem dúvidas sobre qual das correntes é mais efetiva.
O objetivo deste estudo foi comparar os efeitos analgésicos da TENS e da corrente
interferencial em pacientes com lombalgia crônica.

MÉTODOS

Estudo do tipo ensaio clínico randômico, elaborado de acordo com as


Diretrizes e Normas Regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos.
A coleta de dados ocorreu no período de agosto de 2013 a maio de 2014 na
clínica escola de fisioterapia da ULBRA – Campus Torres. Os indivíduos que
constituíram a amostra foram convidados a participar do estudo e orientados sobre
os objetivos, a metodologia e a forma de aplicação. O Termo de Consentimento
Livre Esclarecido foi assinado por todos os pacientes elegíveis com DLC.

A amostra foi constituída por pacientes com DL igual ou acima de 5 na


EAV por período maior que três meses, que não estivessem realizando nenhum
outro tipo de tratamento farmacológico ou físico no momento do estudo, com
idade superior a 18 anos e com dor inespecífica. Os critérios de exclusão foram
pacientes que durante o estudo estavam fazendo uso de fármaco analgésico,
mulheres nos primeiros três meses de gestação, com história prévia de cirurgia
na região lombar baixa, pacientes diagnosticados clinicamente com doenças
reumáticas, com sinais de radiculopatia e irradiação de dor para membros
inferiores, que faltaram a duas sessões consecutivas ou a três sessões alternadas,
com qualquer disfunção cognitiva ou incapacidade de responder questionários
e com contraindicações a eletroterapia (cardiopatas portadores de marca-passo).
Todos os pacientes realizaram a mesma avaliação inicial com o pesquisador e foram
avaliados com a EAV, Questionário de Oswestry e RMDQ, onde cada paciente fez
o preenchimento conforme seus sintomas. Após a avaliação inicial, os pacientes

83
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

foram divididos em dois grupos, de forma aleatória em grupo intervenção (GI),


recebendo o tratamento através da corrente interferencial e grupo controle (GC),
realizando tratamento através da TENS. O GC recebeu a intervenção através da
aplicação da TENS no modo acupuntura com o paciente em decúbito ventral,
com dois canais e eletrodos (10x10cm) posicionados de forma a cercar a área de
dor, fechando o circuito da dor, utilizando gel e fita para fixação, com ajuste de
frequência de 20Hz e uma largura de pulso de 100 pulsos por segundo (pps),
com um tempo de aplicação de 30 minutos e a intensidade conforme a tolerância
de cada paciente. Os procedimentos adotados foram realizados duas vezes na
semana em um período de cinco semanas, totalizando 10 intervenções. O GI
recebeu a intervenção através da aplicação da corrente interferencial na forma
tetrapolar com o paciente em decúbito ventral. Os eletrodos (5x10 cm) foram
posicionados de forma a fechar o circuito da dor estando dispostos na lombar
sobre o ponto central da dor, utilizando gel e fita para fixação. Foi utilizada uma
frequência portadora de 4000Hz, com uma amplitude modulada de frequência
(AMF) de 20Hz, ΔAMF de 10Hz e inclinação de 1/1 durante 30 minutos e a
intensidade conforme a tolerância de cada paciente.

Quanto à limpeza dos materiais utilizados, depois de removidos os


eletrodos do paciente foi realizada limpeza com papel toalha na área da aplicação
removendo o excesso do gel. Na sequência, os eletrodos foram lavados em água
corrente e secos com papel toalha. Esse procedimento foi realizado sempre após
o atendimento individual de cada paciente. Ao final do protocolo de intervenção
(após as cinco semanas de intervenção) os pacientes foram reavaliados com a
EAV e os questionários de Oswestry e RMDQ. Após 30 dias dessa reavaliação
os pacientes foram submetidos a uma avaliação de follow-up onde foi aplicada
a EAV para verificar a manutenção da analgesia tardia do tratamento proposto.

Cálculo da amostra e randomização

Utilizou-se o programa estatístico EPI-INFO®, versão 7.0 para calcular


o tamanho da amostra. Após a revisão da literatura, observou-se prevalência
de aproximadamente 70% de DL na população. Sabendo que a população do
município é de cerca de 40.000 e utilizando um poder de força para o estudo de
80%, um nível de confiabilidade de 95% e um poder de efeito de 40, chegou-se
ao número estimado de 20 sujeitos para cada grupo do estudo. Acreditando que
as perdas e recusas ficaram em torno de 50%, chegou-se ao número final de 30
sujeitos para cada grupo do estudo.

Análise estatística

Utilizamos o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 17.0
como banco de dados e pacote estatístico. Os dados foram duplamente digitados
a fim de evitar erros de digitação e expressos em média e desvio padrão.
Após, foram analisados estatisticamente pelos testes paramétricos t de Student
pareado para análise dentro de cada grupo do início ao fim do tratamento e
teste t de Student não pareado para análise das variáveis entre os grupos. Para

84
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

as variáveis não paramétricas foram utilizados os testes de Wilcoxon e Mann-


Whitney, respectivamente, para dentro de cada grupo e entre os grupos. O nível
de significância estabelecido para o teste estatístico foi de p0,05. Este estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição sob o nº 319.672.

RESULTADOS

Da amostragem inicial, 28 pacientes concluíram todas as fases do estudo,


sendo 14 em cada grupo. Destes, 22 eram do gênero feminino. A média de idade
foi de 61,93 anos. O tempo de evolução da dor foi em média de 8,11 anos. A
tabela 1 representa a caracterização da amostra por grupos. Os grupos foram
homogêneos quanto a gênero, idade, cor da pele, ocupação e tempo de dor. [...]
Na avaliação inicial todos os sujeitos se enquadravam em moderado e grave e, ao
final do tratamento, 26 sujeitos apresentavam escores considerados como pouco
acometidos, 13 em cada grupo. [...]. Ambos os grupos apresentaram melhora
significativa nos escores funcionais, porém não houve diferença entre eles tanto
na avaliação inicial quanto na final. Verifica-se que o escore inicial do Oswestry
Disability Index foi de 17,64±4,36 para o GC e 16,21±2,86 para o GI. Na avaliação
final houve redução para 6,50±4,35 e 3,93±0,27, respectivamente.

Quanto aos escores verificados no questionário Roland Morris, o grupo


controle apresentava 13,64±4,45 pontos, reduzindo para 5,43±2,60 (p=0,0001).
Já o grupo intervenção reduziu o escore de Roland Morris de 12,64±3,00 para
3,79±2,74 (p=0,0001). Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa
entre os grupos ao final da intervenção. [Foi] observada redução significativa
comparando avaliação inicial e final em ambos os grupos, com manutenção da
analgesia alcançada no período de follow-up. Não foi encontrada diferença entre
os dois grupos.

DISCUSSÃO

A amostra foi homogênea intragrupos em gênero (p=0,65), idade


(p=0,40), cor e média de tempo de dor (p=0,64). Analisaram-se também os efeitos
das correntes eletroterapêuticas na qualidade de vida e funcionalidade, pois
a literatura demonstra que essas questões são afetadas no paciente com DLC.
Estudos demonstraram que a aplicação da corrente interferencial e da TENS no
tratamento da dor do paciente com lombalgia representa uma forma de intervenção
viável, significativamente eficaz e bem tolerada pelos pacientes. Encontraram-se
outras intervenções fisioterapêuticas realizadas como forma de tratamento nessa
doença como aplicação de laser, ondas curtas, correntes diadinâmicas de Bernard,
eletroacupuntura e outros recursos cinesioterapêuticos.

Observou-se que ainda não existe um consenso sobre o melhor tipo de


intervenção para o paciente com lombalgia, nem para a duração do tratamento
e para sua frequência, havendo na literatura uma grande variável quanto a essas
informações. A pesquisa realizada analisou grupos homogêneos, fato que não
tem sido comum em outros estudos e que pode ter interferido nos resultados.

85
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

Foram encontradas divergências no que diz respeito às características das


amostras sugerindo uma justificativa para não haver um consenso de parâmetros
no tratamento. Outros autores encontraram dificuldade devido às conclusões
divergentes pela utilização de vários parâmetros e aparelhos nessa prática.

Os presentes resultados corroboraram os de Faccil et al. que demonstraram


eficácia do tratamento tanto com corrente interferencial quanto com TENS, não
havendo diferença estatística significativa entre eles. O efeito benéfico de ambas
as correntes também foi reconhecido em uma revisão. Nesses dois estudos
os parâmetros das estimulações elétricas foram semelhantes. Essa analgesia
também pode ser interpretada como um aumento no limiar da dor e a TENS
convencional pode ser responsável por esse efeito, uma vez que interfere na
transmissão das sensações dolorosas para os níveis supraespinhais. A TENS e a
corrente interferencial com baixa frequência de estímulo podem atingir analgesia
via liberação de opioides endógenos.

Outro estudo utilizou eletroacupuntura e corrente interferencial, composto


de 10 sessões, não havendo alterações significativas na forma de aplicabilidade das
técnicas utilizadas. Porém, ambas foram benéficas no tratamento, assemelhando-
se ao resultado encontrado no presente estudo. Este resultado é confirmado por
outros estudos, divergindo apenas no número de sessões em um estudo que foi
de oito sessões. Estudo com amostra composta por gestantes com DL divididas
em quatro grupos (controle, exercícios, fármaco analgésico e TENS) demonstrou
que o grupo tratado com a TENS sobressaiu-se como forma de tratamento mais
eficaz15. Contradizendo a esse achado, outro estudo relatou que os exercícios
foram uma forma de tratamento de grande eficácia e efeito duradouro,
caracterizando e sugerindo o uso de ambos os tratamentos viáveis24.

Estudos utilizando TENS, ondas curtas, corrente interferencial, Core


training e exercícios relataram que quando houve associação da eletroterapia
com o exercício o resultado obtido foi ainda mais satisfatório. Autores ressaltaram
a aplicabilidade de um programa de exercícios como ferramenta benéfica e de
grande eficácia para tratar a dor e restabelecer a função do indivíduo. Outro estudo
defendeu amplamente o uso da eletroterapia com resultados positivos, pois
ocorreu a redução significativa da DL dos pacientes submetidos ao tratamento.
Uma revisão sistemática recente refere e confirma o efeito analgésico gerado pela
TENS, porém salienta que seus resultados comparados a outras modalidades
ainda requerem novos estudos. Buchmuller et al. usaram como ferramenta em
seu estudo a TENS em um grupo e o outro grupo recebeu tratamento placebo,
onde o período de aplicação da técnica foi de três meses.

O resultado encontrado foi satisfatório já na sexta semana de intervenção


e ao final dos três meses o resultado apenas tinha se mantido, assemelhando-
se com o presente estudo, onde ao final do tratamento (cinco semanas) a dor
havia sido reduzida pela metade, ou seja, estatisticamente significativo e no
follow-up (após um mês) o resultado se manteve. Quando utilizados exercícios
terapêuticos, verificou-se melhora favorável da capacidade funcional e redução

86
TÓPICO 1 — ATIVIDADE ELÉTRICA PARA O CONTROLE DA DOR

da dor dos pacientes com DLC no mesmo período em questão. Observou-se na


literatura, de forma evidente, a importância da aplicação de um programa de
exercícios associados aos tratamentos em questão, para maior eficácia e qualidade
do protocolo a ser aplicado.

CONCLUSÃO

O presente estudo apontou resultados positivos na redução da DLC com


aplicação tanto com TENS quanto com corrente interferencial, não havendo
diferença significativa entre as correntes transcutâneas. Quando analisados
desfechos secundários pode ser observado através de relatos dos pacientes que
o efeito analgésico das correntes se manteve a partir do terceiro atendimento.
A TENS foi de fácil aplicação e é uma forma de tratamento bem tolerada, não
requerendo cooperação do paciente o que facilita quando levada em conta a
limitação causada pela dor no paciente. Quanto ao follow-up, o resultado obtido
superou expectativas e foi de extrema importância para a credibilidade do
tratamento proposto, sugerindo ainda que esse tipo de população seja submetido
a tal protocolo em tempos alternados, para uma melhor qualidade de vida.

FONTE: <http://www.scielo.br/pdf/rdor/v16n1/pt_1806-0013-rdor-16-01-0027.pdf>. Acesso em:


14 nov.

87
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existe um mecanismo periférico e central da dor que estão integrados.

• O estímulo provocado pela TENS pode promover o fechamento da comporta


de dor promovendo analgesia.

• Os mecanismos extrassegmentares da TENS estão relacionados à ativação de


estruturas que formam as vias descendentes de inibição da dor, ocasionando a
liberação de opiáceos endógenos.

• A TENS se divide em baixa e alta frequência de aplicação ou nos tipos


convencional, breve-intenso, acupuntura e burst.

• Ao aplicar a TENS, os eletrodos se posicionam direto no ponto de dor, em


pontos de estimulação, nos dermátomos correspondentes, no nível da raiz
nervosa e ao longo de seu trajeto.

• Os efeitos principais da TENS são para ocasionar analgesia em diferentes


situações que desencadeiam dor aguda ou crônica no paciente.

• A corrente interferencial é uma modalidade de média frequência que produz


baixa impedância para a pele, permitindo uma penetração mais profunda no
tecido.

• Ao aplicar o interferencial, existe uma corrente portadora e uma moduladora


que se cruzam formando uma resultante.

• A interferência de duas correntes, a resultante vai ocorrer a 45 graus do


quadrante formado pelos eletrodos.

• As formas de aplicação podem ser bipolares, tetrapolares e tetrapolares com


varredura.

• Alguns aparelhos apresentam o programa Sweep e Slope, a função destes é


evitar a acomodação do estímulo.

88
AUTOATIVIDADE

1 A Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) é uma técnica de


analgesia aplicada em uma variedade de frequências, intensidades e
duração de pulso. Ela altera a percepção da dor por meio do uso de uma
corrente elétrica. Essa corrente tem intensidade suficiente para provocar
a despolarização dos nervos sensoriais e motores, fazendo o paciente ter
uma sensação de formigamento. Assinale a alternativa que corresponde
aos parâmetros usados na aplicação do TENS Convencional:

a) ( ) Amplitude – estímulo forte e confortável, largura do pulso inferior a


200 ms, frequência do pulso 75 – 150 Hz.
b) ( ) Amplitude – ajuste para promover tremor muscular, largura do pulso
inferior a 200 – 250 ms, frequência do pulso inferior a 10 Hz (1 – 4 Hz).
c) ( ) Amplitude – estímulo forte e tolerável, largura do pulso 200 ms,
frequência do pulso, maior regulagem para o aparelho (Alta).
d) ( ) Amplitude – contração muscular, largura do pulso 200 - 250 ms,
frequência do pulso 1 a 5 Hz.
e) ( ) Amplitude – estímulo forte e tolerável, largura do pulso 400 ms,
frequência do pulso 150 a 200 Hz.

2 A estimulação neuromuscular transcutânea que produz analgesia com


estimulação de baixa frequência é mediada pelo mecanismo:

a) ( ) de portão.
b) ( ) da substância P.
c) ( ) de opioides endógenos.
d) ( ) de interferência periférica.
e) ( ) de modulação central.

3 Atualmente, a corrente interferencial vem sendo uma modalidade


eletroterapêutica utilizada por fisioterapeutas para reabilitação de
diferentes lesões do aparelho locomotor. Sobre a corrente interferencial,
verifique as sentenças:

I- É uma corrente de média frequência 2000 – 4000 Hz.


II- Na forma de aplicação tetrapolar são aplicados quatro eletrodos, e a
interferência é ocasionada no interior do aparelho.
III- Entre seus efeitos fisiológicos está a diminuição da dor por estimulação
das fibras mielínicas de grosso calibre, segundo a teoria do portão.
IV- Está indicada para tratamento de processos dolorosos agudos, subagudos
e crônicos.

89
É CORRETO o que se afirma em:
a) ( ) I, II apenas.
b) ( ) I, III, IV apenas.
c) ( ) I, III apenas.
d) ( ) II, III, IV apenas.
e) ( ) II, IV apenas.

4 A Corrente Interferencial é um dos recursos eletroterápicos disponíveis


para realizar analgesia em pacientes em diferentes disfunções
musculoesqueléticas que desencadeiam o processo álgico. Assinale a
alternativa que apresenta os parâmetros CORRETOS do Interferencial
usado para o tratamento da dor crônica:

a) ( ) AMF 90, delta AMF 30, 6:6, forma triangular.


b) ( ) AMF 60, delta AMF, 30, 1:5:1:5 forma trapezoidal.
c) ( ) AMF 30, delta AMF 15, 1:1, forma quadrada.
d) ( ) AMF 100, delta AMF 30, 6:6, forma retangular.
e) ( ) AMF 90, delta AMF 35, 6:6, forma trapezoidal.

90
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR

1INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, ao longo da história, os efeitos da eletricidade sobre
a estimulação muscular foram estudados com a finalidade de restaurar ou
melhorar o desempenho do movimento humano. Nos dias atuais, os recursos
fisioterápicos têm sido aplicados com grande sucesso para se obter movimentos
funcionais ou para produzir a contração muscular, podendo ser aplicados ao
músculo durante diferentes movimentos.

A estimulação elétrica muscular é aplicada com diferentes objetivos, de acordo


com o eletroestimulador escolhido e com os efeitos físicos e fisiológicos desejados.

Na literatura encontramos dois tipos de nomenclatura para descrever a


utilização da estimulação elétrica muscular: ao aplicar a estimulação elétrica com
objetivos funcionais denominamos de FES; quando utilizamos em pacientes
sadios com controle muscular, chamamos de estimulação neuromuscular NMES
— do inglês Neuromuscular Electrical Stimulation.

Deve-se lembrar que ao promover a estimulação elétrica visando a


contração muscular, são recrutadas as unidades motoras inervadas pelo mesmo
motoneurônio, e que a resposta deste conjunto neuromuscular é essencial para
que se alcancem bons resultados.

2 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NEUROMUSCULAR (NMES)


O termo Estimulação Elétrica Neuromuscular (NMES) tem sido o mais
apropriado quando se refere ao fortalecimento muscular por meio de correntes
elétricas. Para que ocorra fortalecimento muscular, devem ser recrutadas as
unidades motoras e fibras musculares por meio de estímulos apropriados
(AGNE, 2013).

De acordo com Baker (2003), existem seis categorias principais de


programas de tratamento que utilizam a NMES:

• aumentar a força ou manter a massa muscular durante ou após períodos de


inatividade forçada;
• manter ou ganhar amplitude de movimento (ADM);
• reeducar e facilitar o controle motor voluntário;
91
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

• reduzir temporariamente os efeitos da espasticidade;


• fornecer suporte ortótico;
• reduzir a formação de edema.

As aplicações são realizadas por meio de eletrodos de superfície. Assim,


os nervos sensoriais da pele sempre receberão a maior concentração de corrente
elétrica e alguns nervos sensoriais serão invariavelmente ativados antes que se
consiga a excitação do neurônio motor, o que pode ocasionar desconforto na
aplicação (BAKER, 2003).

É preciso destacar que para atingir os efeitos desejados devem ser


analisadas os tipos de fibras musculares, padrões normais de recrutamento de
fibras musculares e o modo como esses são revertidos quando se usa a estimulação
elétrica (KITCHEN, 2003). Uma vez aplicada, a NMES provoca excitação dos
nervos periféricos e recruta as unidades motoras, promovendo a contração
muscular. Esse processo ocorre devido a despolarização dos motoneurônios e
das fibras nervosas aferentes desencadeando um potencial de ação.

O número de unidades motoras estimuladas pode variar de acordo com o


tamanho e o local de aplicação do eletrodo e com a amplitude da corrente, sendo
que, quanto maior a intensidade, maior a força produzida. No entanto, deve-se ter
cuidado com a intensidade aplicada a fim de não ocasionar desconforto ao paciente.

Na Unidade 1 deste Livro Didático você aprendeu sobre os pontos motores,


destacamos que a estimulação deste ponto por meio da NMES permite maior
ativação e contração muscular, em especial por recrutar as unidades motoras de
forma sincrônica.

As fibras do músculo estriado esquelético são classificadas de acordo com


a intensidade e duração de contração. Sendo que os músculos são formados por
fibras musculares do tipo I (oxidativas de contração lenta), tipo IIa (oxidativas de
contração rápida) e tipo IIb (glicolíticas de contração rápida).

As fibras de contração rápida têm maior atividade da enzima miosina


ATPase e usam mecanismo de produção de energia predominantemente anaeróbio,
ocasionando contração de alta intensidade e curta duração em comparação com
as fibras lentas, que usam mecanismo com predomínio aeróbio para produção
de energia, pois possuem maior densidade mitocondrial e também mantém seus
períodos de contração por mais tempo, ou seja, resistem mais à fadiga. Em média,
o tempo de piso de tensão das fibras rápidas é de 20 a 40 ms, e para as fibras lentas
de 60 a 100 ms (SHERWOOD, 2011).

92
TÓPICO 2 — ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR

QUADRO 3 - TIPOS DE FIBRAS DO MÚSCULO ESQUELÉTICO

TIPO DE FIBRA
Oxidativas lentas Oxidativas rápidas Glicolíticas rápidas
Característica
(tipo I) (tipo IIa) (tipo IIx)
Atividade de miosina
Baixa Alta Alta
ATPase
Velocidade de
Lenta Rápida Rápida
contração
Resistência à fadiga Alta Intermediária Baixa
Capacidade de
Alta Alta Baixa
fosforilação oxidativa
Enzimas para glicólise
Baixa Intermediária Alta
aeróbia
Mitocôndrias Muitas Muitas Poucas
Capilares Muitas Muitas Poucas
Conteúdo de
Alto Alto Baixo
mioglobina
Cor da fibra Vermelha Vermelha Branca
Conteúdo de
Baixo Intermediário Alto
glicogênio

FONTE: Sherwood (2011, p. 280)

Durante a contração muscular ocorre inicialmente a ativação dos nervos


motores de pequeno diâmetro do tipo I. No entanto estes não geram muita
força, mas são capazes de se manterem contraídos por mais tempo. Os estímulos
elétricos ativam os nervos motores de grande diâmetro tipo II a se contraírem
antes do tipo I, aumentando o vigor da contração. No movimento voluntário
ocorre a ativação inicial das fibras do tipo I, no entanto à medida que o esforço
aumenta são recrutadas fibras do tipo II (STARKEY, 2001; AGNE, 2013).

Sabendo que os músculos possuem composições distintas, ao utilizar


um aparelho para eletroestimulação, é necessário analisar o tipo de músculo
estimulado em relação às suas características, a fim de selecionar os parâmetros
adequados da corrente elétrica.

A eletroestimulação aplicada sobre a fibra muscular objetiva proporcionar a


recuperação funcional de um músculo ou aumentar o trofismo e a força muscular.

Observam-se que as contrações ocasionadas pela NMES proporcionam


aumento do fluxo sanguíneo local, proporcionando assim maior oxigenação e
nutrição para os músculos estimulados melhorando o metabolismo muscular.

Em um contexto geral, a maior indicação das correntes para


eletroestimulação são as situações para ocasionar melhora na condição muscular
após períodos de imobilização ou quando os movimentos do paciente foram

93
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

limitados por alguma condição clínica. A literatura relata que períodos longos
de imobilização acarretam hipotrofia muscular e modificam as propriedades
do músculo estriado esquelético do tecido conjuntivo. Entretanto, o uso da
Estimulação Elétrica Neuromuscular pode estimular propriedades mecânicas
dos músculos durante períodos de imobilismo, facilitando assim o retorno
às atividades de vida diária em tempo menor (ABDALLA; BERTONCELLO;
CARVALHO, 2009).

Prezado acadêmico, você deve lembrar que na Unidade 1 falamos sobre


as membranas celulares e sua capacidade de excitabilidade formando potenciais
de ação. Os músculos são inervados por motoneurônios e a estimulação elétrica
promove um aumento da excitabilidade neuromuscular, ativando as unidades
motoras para contração. As correntes são aplicadas por eletrodos transcutâneos,
e por meio de trens de pulso estimulam o músculo para ocasionar a contração.

Quando nos referimos às correntes de média frequência (como por


exemplo: a corrente russa), devemos lembrar que esta é modulada em baixa
frequência para ativar a contração muscular de maneira mais confortável.

Nos dias atuais existem vários aparelhos de diferentes marcas e modelos


utilizados para proporcionar a estimulação muscular, estes têm sido utilizados
para reabilitação e no campo dos tratamentos dermatofuncionais.

No entanto, ao escolher a corrente elétrica deverá ser avaliado o estado


funcional do músculo, observando:

• o estado geral do paciente;


• o estado em que se encontra o tecido muscular e nervoso;
• a seleção de valores adequados de intensidade e largura de pulso;
• a frequência de repetição;
• a força, volume e consistência muscular;
• a presença de dor.

3 CORRENTE RUSSA
A Corrente Russa faz parte das correntes que realizam eletroestimulação
neuromuscular, sendo uma corrente que possui alguns parâmetros pré-
estabelecidos pelo eletroestimulador e outros que serão selecionados pelo
fisioterapeuta. Esta corrente é constituída de uma frequência média (2500 Hz)
bifásica, simétrica, despolarizada e interrompida, sendo modulada em baixas
frequências que variam de 5 a 100 Hz, de acordo com o eletroestimulador.

94
TÓPICO 2 — ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR

FIGURA 14 - PARÂMETROS DO PULSO ELÉTRICO

I (A)

2500 Hz
400 us
I max

t (s)

ampliado
FONTE: <https://pdfslide.net/documents/6-corrente-russa-manual-do-aparelho-bioset.html>.
Acesso: 26 jul. 2019

Sendo uma corrente despolarizada, apresenta a vantagem de ser mais


agradável que as demais, pois a alta frequência de seus pulsos diminui a resistência
da pele, permitindo assim atingir tecidos mais profundos e fibras musculares
específicas, de acordo com a frequência de modulação.

NTE
INTERESSA

Corrente Russa: este recurso foi proposto pelo fisiologista Yakov Kots, em 1976,
nas Olimpíadas de Montreal, quando o médico russo obteve ganhos de força de 30 a 40% em
atletas de elite ao utilizar a corrente elétrica, ficando assim conhecida como Corrente Russa.

Durante a aplicação da Corrente Russa não deverá ocorrer a presença de


dor, porém os estímulos devem ser suficientes para ocasionar a ativação muscular
proporcionando contrações musculares. A escolha adequada dos parâmetros
de aplicação deve levar em consideração o tipo de fibra muscular a ser ativada
(brancas, vermelhas).

Durante a aplicação, a corrente deve sempre ser modulada em baixa


frequência. A modulação ideal é a frequência de pulso ajustada entre 30 e 50 Hz
para estimular fibras vermelhas (tônicas) ou do tipo I, e entre 50 e 80 Hz quando
se pretende estimular fibras brancas (fásicas) do tipo IIx (ROSA, 2018).

95
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

Em relação ao emprego da frequência da eletroestimulação, Agne (2013


p.182) classifica da seguinte maneira:

• 2 a 10 Hz - frequência de aquecimento muscular;


• 30 a 40 Hz - estimular fibras tônicas;
• 80 a 100 Hz - estimular fibras fásicas;
• 110 a 150 Hz - potencialização muscular.

Outro parâmetro importante é o ciclo de trabalho, normalmente entre 10 e


50%. Valores menores (10 a 20%) podem ser utilizados em músculos hipotrofiados,
e valores entre 40 e 50% em músculos íntegros (ROSA, 2018).

FIGURA 15 - CICLO DE TRABALHO

I (A) MODULADO EM 50%


* 50 Hz
I max

t (s)
50%
50% Off
On

* 50 Hz MODULADO EM 40%

I max

t (s)

40% 60%
On Off
FONTE: <https://pdfslide.net/documents/6-corrente-russa-manual-do-aparelho-bioset.html>.
Acesso: 26 jul 2019

Deverão ser ajustados:

• O tempo on: ajuste do período em que a corrente circula pelos eletrodos


durante cada ciclo de estimulação, tempo de sustentação (on) do pulso, que é
ajustável em segundos.
• O tempo off: ajuste do período em que a corrente não circula pelos eletrodos.
É o tempo de repouso (off) do pulso, que é ajustável segundos.

A escolha dos tempos on e off varia de acordo com as características de


cada músculo e deverão ser escolhidos após a avaliação do músculo evitando a
fadiga muscular, em especial em músculos enfraquecidos ou hipotróficos.

96
TÓPICO 2 — ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR

Outro parâmetro a ser selecionado são as rampas de subida e descida, em


alguns aparelhos denominados “rise” e “decay”. Ajuste do tempo de subida do
pulso, ou seja, o tempo para a contração muscular atingir máxima força. Tempos
mais longos produzem uma vagarosa e gradual contração. Tempos curtos
produzem rápidas contrações. Ajuste do tempo de descida do pulso, ou seja, o
tempo para a contração ir diminuindo da máxima contração ao repouso.

3.1 MODOS DE ESTIMULAÇÃO


Os modos de estimulação podem variar de acordo com o aparelho. Em
geral, são: modo sincronizado, recíproco, sequencial e contínuo:

• Sincronizado: faz com que todos os canais atuem simultaneamente obedecendo


aos tempos estabelecidos em on time e off time.
• Recíproco: atua alternando a saída de corrente entre os diferentes canais. Neste
modo, on time é igual a off time e é possível estimular músculos agonistas e
antagonistas.
• Sequencial: faz com os canais atuem sequencialmente. Você pode programar
apenas os canais que desejar estimular, ou seja, não é necessário colocar dose
em todos os canais para obter uma sequência. Neste modo, on time é igual a off
time, e é o mais utilizado para estímulo ao sistema linfático.
• Contínuo: fornece uma saída de corrente estável e constante em todos os canais.
Não permite ajuste de on time e off time, sendo utilizado para relaxamento
muscular ou para estímulo ao sistema linfático.

A eletroestimulação para fortalecimento muscular deve ter as seguintes


características:

• não provocar danos aos tecidos;


• não produzir queimaduras sob os eletrodos;
• ser sensitivamente suportável.

3.2 COLOCAÇÃO DOS ELETRODOS


São realizadas aplicações de maneira bipolar, colocando os eletrodos
em regiões proximais e distais de um músculo ou ativando um grupo muscular
específico. Deve-se estabelecer relação entre o tamanho do eletrodo escolhido e o
músculo a ser estimulado. Sempre observar se eletrodos de tamanho maior não
estão sobre músculos que não se deseja ativar.

Outra possibilidade de aplicação seria o estímulo de pontos motores


específicos de um determinado músculo, em geral estes se localizam ao longo
dos ventres musculares, podendo assim fazer uso de eletrodos menores, que
devem ser colocados sobre os pontos motores. No entanto, deve-se ressaltar que
eletrodos muito pequenos podem ocasionar maior densidade de corrente, o que
pode gerar um certo desconforto ao paciente.

97
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

As aplicações quadripolares são feitas com canais separados, sendo


utilizadas para grupos musculares maiores ou ativação de agonistas e antagonistas.
Ainda poderão ser utilizados eletrodos de mão do tipo caneta, fazendo o estímulo
no momento desejado para desencadear a contração muscular (KITCHEN, 2003).

3.3 CONSIDERAÇÕES AO APLICAR A


ELETROESTIMULAÇÃO MUSCULAR
Como não existem protocolos pré-estabelecidos na literatura para a
aplicação dos recursos fisioterápicos que ocasionam a eletroestimulação muscular,
cada indivíduo deve ser avaliado com a finalidade de elaborar uma conduta
(com parâmetros adequados do eletroestimulador) para o que se pretende
alcançar. É importante determinar a frequência de aplicação, o tipo de pulso,
as rampas de subida e descida, os tempos on e off, o modo de estimulação e o
tempo total de aplicação, devendo sempre se considerar as indicações, cuidados
e contraindicações ao aplicar o aparelho.

Destacam-se alguns itens ao aplicar a eletroestimulação:

• avaliar o paciente de forma global e o local específico que se pretende estimular;


• colocar o paciente em uma posição cômoda e confortável, higienizar a pele e
retirar excesso de pelos, se necessário;
• determinar os parâmetros da corrente elétrica;
• escolher a forma adequada de colocar os eletrodos e fixá-los na pele do paciente;
• explicar ao paciente as sensações provocadas pela corrente elétrica;
• iniciar o equipamento e incrementar a intensidade de forma lenta, sempre
observando o surgimento do estímulo e a contração muscular;
• observar as reações apresentadas pelo paciente durante a após a aplicação.

NOTA

A fadiga muscular é definida como uma incapacidade de manutenção da


produção de potência ou força durante contrações musculares repetidas (POWERS; HOWLEY,
2005). Esta é uma das principais causas de suspender o uso da eletroestimulação muscular.

98
TÓPICO 2 — ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR

3.4 INDICAÇÕES
• músculos enfraquecidos após período de imobilização prolongada;
• encurtamentos musculares;
• estimulação dos músculos sem ocasionar atrito muscular;
• estimulação do miodeslizamento quando a articulação estiver imobilizada;
• proporcionar estímulo dinâmico, associado ao exercício;
• treinar a propriocepção;
• estimulação do fluxo linfático e sanguíneo;
• melhoria da flacidez muscular.

3.5 CONTRAINDICAÇÕES
• não aplicar sobre região torácica e sobre os seios carotídeos;
• não aplicar em gestantes;
• não aplicar sobre próteses metálicas;
• evitar uso em sujeitos com doenças cardíacas como arritmias severas,
insuficiência cardíaca;
• alteração sensorial;
• pacientes com neoplasias ou infecções;
• não utilizar a corrente em pacientes com déficit de cognitivo;
• não utilizar quando a estimulação provocar dor;
• fadiga muscular prévia.

4 CORRENTE AUSSIE
A Corrente Aussie foi desenvolvida pelo professor PhD Alex Ward, da
Universidade de LaTrobe, em Melborne - Austrália, no ano de 2004. O nome
aussie é um termo coloquial em inglês para a palavra “australiano” (ROSA, 2018).

A Corrente Aussie é classificada como uma corrente alternada de média


frequência, 1000 Hz, modulada em Burst de curta duração (o que faz com que
a estimulação proporcionada seja mais eficiente em comparação às outras). A
corrente pode ser utilizada para a estimulação sensorial e motora.

Quanto à produção de força e ao desconforto relativo à Corrente Aussie,


foi considerada mais efetiva do que as correntes pulsadas monofásicas ou à
estimulação da Corrente Russa (WARD, OLIVER, BUCCELLA, 2006).

Esta corrente possui duas possibilidades de frequência: 1 kHz e 4 kHz, o


que permite seleção de acordo com o objetivo terapêutico, sendo:

• 1 kHz - para fortalecimento/tonificação muscular;


• 4 kHz - para drenagem linfática e analgesia.

99
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

Os parâmetros mais usuais desta corrente utilizam (1 KHz modulada em


BURSTS de 50 Hz, duração de Burst de 4 ms e intervalo interburst de 16 ms),
apresentando sensação confortável em sua aplicação.

FIGURA 16 - CORRENTE AUSSIE

FONTE: Adaptado de Ward, Oliver e Buccella (2006)

4.1 MODALIDADES
Para estimulação muscular (fortalecimento e tonificação) tem-se aplicado
os seguintes parâmetros: frequência portadora 1 kHz, duração do Bursts 2 ms,
frequência de modulação do Burst 50 Hz.

Para estimulação sensorial (analgesia e drenagem linfática), frequência


portadora 4 kHz, duração do Bursts 4 ms, frequência de modulação do Burst 10
Hz para drenagem. Já a escolha de 100 a 120 Hz para a analgesia de dor aguda,
sendo mediado pelo mecanismo das comportas e 20 Hz para dor crônica, mediado
pela liberação de endorfinas.

4.2 PARÂMETROS
Ao aplicar a Corrente Aussie devemos selecionar alguns parâmetros
específicos de acordo com os objetivos pretendidos.

Os aparelhos em geral apresentam modos de estimulação semelhantes ao


encontrados na Corrente Russa, que são: recíproco, sincronizado, sequencial e
contínuo. A frequência portadora deverá ser escolhida (1 kHz ou 4 kHz), duração
do Burst (2 ms ou 4 ms), frequência de modulação do Burst (10 Hz drenagem, 50
Hz estimulação muscular, 100 a 120 Hz analgesia), rampa de subida (rise), rampa
de descida (decay), tempo on, tempo off e tempo total de aplicação em minutos.

100
TÓPICO 2 — ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR

4.3 FORMAS DE APLICAÇÃO


A forma de aplicação pode variar de acordo com os objetivos que se
pretende alcançar, observe:

FIGURA 17 - FORMAS DE APLICAÇÃO

FONTE: O autor

4.4 INDICAÇÕES
• reabilitação de lesões traumáticas, ortopédicas e esportivas;
• prevenção e reabilitação de lesões agudas e crônicas;
• melhora da circulação sanguínea e linfática;
• aquecimento muscular;
• fortalecimento muscular;
• drenagem linfática;
• analgesia.

4.5 CONTRAINDICAÇÕES
• pacientes com neoplasias;
• pacientes com marcapassos;
• gestantes;
• região precordial;
• região anterior do pescoço;
• área dos seios carotídeos;
• alteração de cognitivo;
• pacientes com epilepsia;
• regiões com alteração sensorial;
• intolerância do paciente aos estímulos elétricos.

5 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA FUNCIONAL (FES)


A Estimulação Elétrica Funcional (FES) tem sido aplicada com o objetivo
de promover habilidades funcionais de músculos desprovidos de um controle
nervoso ou que apresente insuficiência em sua contração, sendo utilizada na
reabilitação de condições neurológicas e ortopédicas.
101
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

Como o próprio nome já indica, a FES é usada para ocasionar estimulação


funcional. Pode ser aplicada para proporcionar um estímulo de dorsiflexão do
pé, extensão dos dedos da mão ou até mesmo em aplicações mais amplas para
auxiliar o treino da marcha.

A FES provoca estímulos nos músculos e, para tal, o sistema nervoso


periférico deve ter sua via de conexão preservada de maneira a captar e conduzir
os estímulos elétricos. A estimulação funcional ocasiona despolarização do
nervo motor e uma resposta sincrônica nas unidades motoras do músculo
proporcionando uma contração eficiente.

FIGURA 18 - ESTIMULAÇÃO FUNCIONAL

FONTE: Adaptado de <https://smart.servier.com/smart_image/arm/> Acesso em: 22 out. 2019.

Desta maneira, uma das suas indicações é para pacientes que sofreram
lesões no sistema nervoso central, como forma de auxiliar na manutenção
muscular e melhorar da função e reabilitação.

Ao aplicar a FES devem ser considerados alguns aspectos:

• a musculatura deverá conservar o circuito de inervação motora entre medula


e o músculo mesmo que falte controle central. Assim, poderá se estimular
o músculo de maneira eficiente em pacientes com doenças que acometam o
neurônio motor inferior ou a junção moineural não responder bem à FES;
• se não há inervação entre medula e o músculo é impraticável a estimulação,
pois não haverá condução do pulso elétrico;
• observar se os pacientes não apresentam problemas cardíacos e outras
enfermidades metabólicas;
• bom nível intelectual do paciente;
• de acordo com Agne (2013), a FES ocasiona efeitos imediatos (inibição recíproca
e relaxamento do músculo espástico e estimulação sensorial de vias aferentes)
e tardios (agem na neuroplasticidade e são suscetíveis de modificar as
propriedades viscoelásticas musculares e favorecer a ação e o desenvolvimento
de unidades motoras de contração rápida).
102
TÓPICO 2 — ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA MUSCULAR

5.1 PARÂMETROS
Os parâmetros elétricos controlados na FES são a duração dos pulsos
(µs), a amplitude (V), a intensidade (A) e a frequência dos pulsos (Hz). Quando a
modulação da FES ocorre variando a amplitude, considera-se a estimulação como
modulada por amplitude de pulso (VAP), ao passo que quando controlada pela
duração do pulso, a estimulação é classificada como modulada por largura de
pulsos (VLP). Se faz necessário ainda determinar a rampa de subida, rampa de
descida, tempo on e tempo off.

Em geral são recomendadas as ondas bifásicas simétricas com duração


entre 200 e 400µs (300µs preferencial), sendo mais agradáveis para a aplicação
da FES. A frequência deve estar entre 20 e 50 Hz para proporcionar a contração
muscular, sendo que frequências muito baixas podem não promover a contração
muscular. No entanto, frequências muito altas podem ocasionar fadiga muscular.

Podemos determinar, por exemplo, para estimular fibras mistas de um


determinado músculo, uma frequência de 40 Hz; largura de pulso de 250 µs,
rampa de subida (rise) 5s; rampa de descida (decay) 5s; tempo on 10 s; tempo off
20s; tempo total de aplicação 20 minutos. A intensidade de terapia preconizada
para a FES é a estimulação motora ou acima do limiar motor.

5.2 INDICAÇÕES
• síndromes paralíticas;
• estimulação dos músculos para auxiliar na correção da postura;
• recuperação motora dos músculos após lesões ligamentares;
• melhorar o trofismo e a potência muscular;
• manter a ADM;
• reorganização do padrão motor;
• facilitação neuromuscular.

5.3 CONTRAINDICAÇÕES
• pacientes com osteoporose severa;
• calcificações para-articulares ativas;
• pele desvitalizada, por exemplo após radioterapia;
• alteração do cognitivo;
• espasticidade muito severa;
• epilepsia;
• seio carotídeo;
• pacientes com marca-passo,
• região torácica;
• região anterior do pescoço;
• período gestacional região do tronco e abdome.

103
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

DICAS

Leia na íntegra o artigo Análise comparativa do pico de força e controle motor


do músculo tibial anterior após cinesioterapia e estimulação neuromuscular, de Daziane
dos Santos Alves, Rodrigo Paschoal Prado, Allison Gustavo Braz, Euller Cunha Figueiredo
Machado e Franciane Assis Moraes, disponível no link: https://portalrevistas.ucb.br/index.
php/RBCM/article/view/7123.

104
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O termo Estimulação Elétrica Neuromuscular têm sido o mais apropriado


quando se refere ao fortalecimento muscular por meio de correntes elétricas.

• O número de unidades motoras estimuladas pode variar de acordo com o


tamanho e o local de aplicação do eletrodo e com a amplitude da corrente.

• As fibras do músculo estriado esquelético são classificadas de acordo com a


intensidade e duração de contração.

• A eletroestimulação aplicada sobre a fibra muscular objetiva proporcionar


a recuperação funcional de um músculo ou aumentar o trofismo e a força
muscular.

• Durante a aplicação da Corrente Russa, Aussie e FES não deverá ocorrer a


presença de dor.

• As correntes de média frequência como a Russa e Aussie reduzem o desconforto


durante a aplicação devido a menor impedância.

• A Corrente Russa e Aussie possuem alguns modos de estimulação.

• A Estimulação Elétrica Funcional tem sido aplicada com o objetivo de promover


habilidades funcionais de músculos desprovidos de um controle nervoso.

• Para aplicar a FES é necessário existir uma via de conexão entre o SNP e o SNC.

• A Corrente Aussie é classificada como média frequência e foi desenvolvida na


Austrália.

• A Corrente Aussie tem sido usada para analgesia, fortalecimento muscular e


drenagem linfática.

105
AUTOATIVIDADE

1 O modo de estimulação da Corrente Russa determina a forma de saída da


corrente dos canais durante a aplicação no paciente. Sua forma de escolha
deve estar de acordo com os objetivos da reabilitação. Sobre o modo
sincronizado, pode-se afirmar que:

a) ( ) É utilizado para relaxamento muscular.


b) ( ) É o mais utilizado para estímulo ao sistema linfático; porém, sugere
que seja empregado posteriormente à drenagem linfática manual.
c) ( ) Neste modo trabalha os músculos agonistas e antagonistas.
d) ( ) Faz com que todos os canais atuem simultaneamente, obedecendo aos
tempos estabelecidos em on time e off time.
e) ( ) A corrente russa permanece constante sem interrupções do tempo off.

2 Na década de 1970, trabalhos foram publicados dando conta de que uma


corrente interrompida de média frequência foi utilizada para prover maior
ganho de força muscular que aquela obtida através da contração muscular
voluntária. Esta forma de corrente foi denominada de Corrente Russa. A
respeito da Corrente Russa, observe as afirmativas e selecione as corretas:

I- A frequência de interrupção pode ser ajustada entre 0 a 1000 Hz.


II- Baixas frequências até 40 Hz se utilizam para as fibras tônicas.
III- Frequências altas (100 Hz) se utilizam para as fibras fásicas.
IV- O tempo de repouso em algumas modalidades de aplicação é o dobro do
tempo de contração.

É CORRETO o que se afirma apenas em:


a) ( ) I, II.
b) ( ) I, II, III.
c) ( ) I, III.
d) ( ) II, III, IV.
e) ( ) II, III.

3 A Estimulação Elétrica Neuromuscular é uma estratégia clínica bem


documentada por meio de pesquisas realizadas para aumento da
performance muscular. Entre estes recursos, o fisioterapeuta dispõe da
Corrente Aussie. Sobre esta corrente é CORRETO afirmar:

I- A Corrente Aussie possui duas possibilidades de frequência: 1 kHz e 4 kHz.


II- Possui indicações de fortalecimento muscular e analgesia, de acordo com
sua frequência de aplicação.
III- Independentemente da diminuição da capacidade sensorial pode ser
utilizada, pois tem boa aceitação pelo paciente.
IV- Seu uso é indicado em paciente com dor sem diagnóstico específico.

106
É CORRETO o que se afirma em:
a) ( ) I, II.
b) ( ) II, III.
c) ( ) I, III.
d) ( ) II, III, IV.
e) ( ) II, IV.

4 A Estimulação Elétrica Funcional (FES) atualmente está em plena


evolução e a investigação requer condições e circunstâncias para que a
torne praticável. Sobre a FES leia as afirmações a seguir:

I- A musculatura deverá conservar o circuito de inervação motora entre


medula e o músculo, mesmo que falte controle central.
II- Se não há inervação entre medula e o músculo é impraticável a estimulação.
III- É necessária a ausência de problemas cardíacos e outras enfermidades
metabólicas, pois as contrações podem ser amplas, sendo necessária uma
boa capacidade metabólica para executar o trabalho muscular.
IV- Lesões do neurônio motor inferior respondem bem a aplicação da FES.

É CORRETO o que se afirma apenas em:


a) ( ) I, II.
b) ( ) I, II, III.
c) ( ) I, II, III, IV.
d) ( ) II, IV.
e) ( ) III, IV.

107
108
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

CORRENTES POLARIZADAS

1 INTRODUÇÃO
O organismo humano é formado por inúmeras células vivas que constituem
tecidos biológicos. Contém uma grande concentração de líquidos corporais, que
possuem uma variedade incrível de substâncias nos meios intra e extracelulares.

O metabolismo celular sofre inúmeras variações durante a vida. Nas


situações em que ocorrem lesões teciduais, a atividade celular se modifica
significativamente em busca da reorganização celular e reconstituição tecidual.
Neste momento, a utilização das correntes elétricas polarizadas pode auxiliar
nos efeitos negativos ocasionados pelas lesões nos tecidos, proporcionando um
meio ideal para restaurar o equilíbrio das funções celulares, fornecendo melhores
condições ambientais para o processo da cura.

Os estudos da bioeletricidade foram iniciados pelo médico italiano Luigi


Galvani, no século XVIII. Em seus experimentos em patas de rãs foram relatadas
a ação da eletricidade, ocasionando um fluido elétrico que é transportado para os
músculos pelos nervos, o que foi denominado de galvanismo.

Algumas décadas depois, a corrente elétrica de baixa intensidade


foi utilizada para introdução transdermal de substâncias químicas, técnica
denominada de Iontoforese (técnica não invasiva que usa corrente elétrica para
prover uma maneira controlada de aumentar a transferência de fármacos ou
agentes cosméticos através da pele).

Desta forma, o uso destes recursos fisioterápicos se faz presente até os


dias atuais na prática do fisioterapeuta, que poderá utilizar dos efeitos polares
da corrente elétrica para o tratamento de diferentes condições clínicas, tanto no
campo da reabilitação quanto nos tratamentos dermatofuncionais.

2 CORRENTE GALVÂNICA
A Corrente Galvânica é caracterizada por uma corrente com fluxo
constante de elétrons em uma só direção. O fluxo da corrente não sofre
interrupção nem varia sua intensidade na unidade de tempo. Chamada também
de corrente contínua, direta, unidirecional ou corrente constante. Apresenta um
fluxo de corrente polar, porque mantém definida a polaridade durante o tempo
de aplicação, podendo ser chamada de monofásica ou monopolar (AGNE, 2013).

109
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

FIGURA 19 - CORRENTE GALVÂNICA

FONTE: O autor

Caro acadêmico, como já mencionado na Unidade I deste Livro Didático,


o organismo humano possui trilhões de células — estruturas vivas e altamente
organizadas —, que desempenham funções que mantém a homeostasia e o
estado dinâmico no ambiente interno. Nos líquidos corporais encontramos uma
variedade de substâncias iônicas, gases, proteínas, hormônios, e todas estas
desempenham papéis na regulação do organismo. Destaca-se ainda que os fluídos
corporais atravessam a membrana celular por vários mecanismos de transporte,
estas mudanças de concentração e permeabilidade celular determinam os
potenciais de membrana e potenciais de ação presentes nas células.

A Corrente Galvânica por ser unidirecional, com polaridade positiva e


negativa, pode promover a migração e o transporte de substâncias que, por sua
vez, podem ser dissociadas quimicamente ao serem submetidas a uma corrente
elétrica constante sem troca de polaridade, e superior as suas forças iônicas e
moleculares (MARTIN, 2013).

A aplicação ocorre através da pele com eletrodos denominados de ânodo


(polo positivo) e cátodo (polo negativo). Os eletrodos de polo positivo são
identificados com a cor vermelha e os de polo negativo, com a cor preta.

Deve ser observado que ânion e cátion derivam de ânodo e cátodo


respectivamente, pois o ânion tem polaridade oposta ao ânodo e o cátion oposta
ao cátodo:

• o ânodo (+) de carga positiva succiona elétrons da solução por falta no eletrodo;
• o cátodo (-) de carga negativa deposita elétrons na solução por excesso;
• os íons que são atraídos pelo ânodo (polo positivo) recebem o nome de ânions
com carga (-);
• os íons que são atraídos pelo cátodo (polo negativo) recebem o nome de cátions
com carga (+);
• o ânodo (+) repele os cátions de carga (+);
• o cátodo (-) repele os ânions de carga (-);

110
TÓPICO 3 — CORRENTES POLARIZADAS

FIGURA 20 - AÇÃO DA CORRENTE GALVÂNICA

FONTE: O autor

Quando os íons entram em contato direto com o eletrodo, os íons cedem


ou tomam elétrons, perdem cargas elétricas e mudam características físicas,
o que pode ser chamado de eletrólise. Quando colocados em movimento e
atraídos pelas proximidades do eletrodo, observa-se o fenômeno da eletroforese
(MARTIN, 2013). Desta maneira, usamos eletrodos sobre a pele, porém, separados
por uma esponja umedecida com água, com a função de evitar a eletrólise, mas
promovendo a concentração iônica ocasionando a eletroforese (AGNE, 2013).

ATENCAO

Os eletrodos de carbono ou metálicos devem ser revestidos com esponja e


umidificados com água ou soro fisiológico adequadamente. O uso de gel ou eletrodos
autoadesivos podem ocasionar queimaduras na pele.

2.1 EFEITOS FÍSICOS E FISIOLÓGICOS


• Efeitos Físicos:
◦ Efeito eletroforético por dissociação iônica, pois os íons se movimentam em
direção a polaridade oposta que os atrai.
◦ Efeito de hidrólise, pois ao se formarem novos compostos iônicos próximo
aos eletrodos a concentração aumenta, estes retornam para uma região
distante dos eletrodos para se dissolverem.
◦ Efeito de eletroosmose - ocorre um arraste de água, proteínas e de outras
substâncias devido a carga elétrica.
◦ Efeito eletroforético secundário - ocorre ao finalizar o tratamento, o
desequilíbrio elétrico provocado no organismo tende a se reorganizar em
busca do metabolismo basal.

111
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

• Efeitos fisiológicos:
◦ Alteração do metabolismo - ocasionada pelo movimento de íons, eletrólitos,
moléculas, mudanças de concentração de substâncias químicas e de água.
Ocasionando calor pela microvibração de partículas.
◦ Efeitos vasomotores - vasoconstrição e vasodilatação de acordo com a
polaridade.
◦ Aneletrotônus - ocorre no polo positivo promovendo depressão da
excitabilidade e analgesia.
◦ Cateletrotônus - ocorre no polo negativo promovendo aumento da
excitabilidade que facilita as atividades específicas do tecido nervoso.

2.2 EFEITOS POLARES E INTERPOLARES


No polo positivo (ânodo), observam-se: sedação, vasoconstrição,
desidratante reduz o pH, analgesia, atração do oxigênio, anaforese (rejeição dos
íons positivos), reação ácida.

Em processos agudos de lesão, para bloquear a reação exagerada da


inflamação, é indicado o uso do eletrodo positivo sobre o foco inflamatório
(AGNE, 2013).

No polo negativo (cátodo), observam-se: efeito estimulante, irritante,


vasodilatação, liquefator de proteínas, hidratante, causador de sangramento,
aumenta o pH, reação alcalina.

Em processos de lesão crônica, na presença de edema endurecido, o


polo negativo poderá ser aplicado na área devido seus efeitos fisiológicos, o que
favorece o intercâmbio de substâncias e eliminação do edema (AGNE, 2013).

Os efeitos interpolares são efeitos que se manifestam entre os polos (efeito


vasomotor e trófico), manifestando hiperemia e promovendo alívio da dor.

2.3 TÉCNICA DE APLICAÇÃO


Geralmente, os eletrodos são colocados diretamente sobre a área a ser
tratada. No início do tratamento sempre deve-se identificar a polaridade e os
efeitos que se pretende ao aplicar a Corrente Galvânica.

• Método longitudinal: um colocado na porção proximal e outro distal.


• Método transversal: transarticular, um colocado de frente para o outro.
• Método indireto: usa-se água como meio de transmissão, banheiras, cubas
plásticas ou cerâmica.

Os eletrodos mais adequados são os de metais, geralmente de aço


inoxidável, e devem sempre ser revestidos por um tecido ou esponja umedecida.

112
TÓPICO 3 — CORRENTES POLARIZADAS

Lembrando que quanto maior o eletrodo, menor a densidade elétrica que nele
se estabelece. Porém, quanto maior o eletrodo, maior a superfície de entrada
da corrente.

De acordo com Agne (2013), o tempo de aplicação da Corrente Galvânica


não está bem definido. Existem controvérsias na literatura, mas em geral,
acredita-se que um tempo de quinze minutos proporciona os efeitos desejados.
No entanto, sempre deverão ser avaliadas as condições do paciente antes de
empregar a técnica.

2.3.1 Cuidados na aplicação


• explicar as sensações para o paciente;
• colocar esponjas adequadas para evitar o contato direto do eletrodo com a pele;
• não cruzar os cabos;
• não aplicar em áreas com perda de sensibilidade;
• aumentar a intensidade da corrente de forma gradual até ocasionar os efeitos
de formigamento;
• usar eletrodos de tamanho para efeitos aneletrotônus e cateletrotônus;
• usam-se eletrodos de tamanhos diferentes para ocasionar efeitos galvânicos ou
polares somente sob um eletrodo;
• não aplicar na pele lesionada;
• não deixar partes metálicas em contato com a pele;
• cuidar com área de proeminências ósseas.

2.4 CONTRAINDICAÇÕES
• pacientes usuárias de DIU;
• pacientes portadores de marca-passo cardíaco ou outros dispositivos eletrônicos;
• gestantes;
• locais com feridas abertas e pele lesionada;
• dermatites;
• osteossínteses metálicas, pinos, placas, hastes;
• trombose venosa profunda;
• câncer;
• áreas de alteração sensorial.

3 IONTOFORESE
A Iontoforese é um fenômeno físico que se caracteriza pela introdução
de medicamentos no tecido através da pele íntegra, com auxílio da Corrente
Galvânica com fins terapêuticos, podendo ser aplicados fármacos ou cosméticos.
Os íons penetram na pele por repulsão do polo do mesmo sinal ou atração do
polo oposto.
113
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

Esta técnica foi descrita por LeDuc, que em seu experimento utilizou dois
coelhos unidos entre si por eletrodos embebidos com água. Para fechar o circuito,
aplicou num coelho o ânodo e no outro o cátodo. No ânodo adicionou estricnina;
ao cátodo, solução com cianureto. Ao fazer passar a corrente, em poucos instantes
o coelho que foi aplicado o ânodo (polo +), morre com sintomas característicos
de envenenamento por estricnina. Enquanto, o outro morre com sintomas
característicos de envenenamento por cianureto (AGNE, 2013).

De acordo com Rosa (2018), a introdução de substâncias ativas através da


pele em direção ao tecido subcutâneo possui três rotas potenciais:

• o folículo piloso e as glândulas sebáceas associadas;


• ductos sudoríparos;
• através do próprio estrato córneo, entre seus apêndices e falhas (rota intercelular).

Quando a substância é depositada na esponja que reveste o eletrodo, esta


será mantida ou repelida, de acordo com sua polaridade iônica. Assim:

• cátodo (-) íon (-) = íon se introduz no organismo;


• ânodo (+) íon (+) = íon se introduz no organismo;
• cátodo (-) íon (+) = íon se mantém na esponja e pode reacionar eletroliticamente
com o eletrodo até perder sua composição e propriedades iniciais;
• ânodo (+) íon (-) = íon se mantém na esponja e pode reacionar eletroliticamente
com o eletrodo até perder sua composição e propriedades iniciais.

FIGURA 21 – IONTOFORESE

FONTE: Adaptado de <https://smart.servier.com/smart_image/arm/>. Acesso em: 22 out. 2019.

O fato de a Iontoforese ser uma técnica não invasiva, que usa a corrente
elétrica para promover a ação de substâncias no corpo com objetivos terapêuticos
por meio de uma corrente direta, ocasiona efeitos diversos, de acordo com o
princípio ativo da substância aplicada ao eletrodo.

114
TÓPICO 3 — CORRENTES POLARIZADAS

3.1 VANTAGENS DA IONTOFORESE


• Não apresenta agressões ao sistema digestório.
• ocasiona efeito local, seu efeito geral vai depender do fármaco utilizado e da
quantidade aplicada.
• sua aplicação é indolor.
• aproveitam-se outros efeitos da corrente galvânica.
• podem ser feitas várias aplicações.
• trata-se de um regime terapêutico simplificado, tendo boa aceitação dos pacientes.

3.2 DESVANTAGENS DA IONTOFORESE


• Não se pode ou não se deve aplicar qualquer tipo de medicamento.
• não se sabe (ou não é fácil saber) dose exata.
• deve-se evitar medicamentos de potente efeito geral.

NOTA

A principal precaução que se deve observar é evitar a queimadura ocasionada


pela aplicação da Corrente Galvânica, sendo esta causada pelo excesso de corrente elétrica
ou pelo posicionamento incorreto dos eletrodos. Geralmente, as lesões químicas se devem
pela passagem da corrente elétrica e não da ação do fármaco aplicado (AGNE, 2013).

3.3 SESSÃO DE TRATAMENTO E APLICAÇÃO


O tempo de duração da sessão depende da quantidade de medicamentos
que se pretende introduzir, deve-se considerar a agressividade do fármaco e sua
concentração. É muito importante observar os primeiros cinco minutos de ação
da corrente elétrica e os relatos do paciente, geralmente a hipersensibilidade
à Corrente Galvânica associada a erupções acontecem neste período inicial de
aplicação. A frequência das sessões também depende dos efeitos da medicação,
da quantidade introduzida, da tolerância do paciente, determinando assim o
número de sessões por semana.

O ideal é fazer o uso de soluções eletrolíticas. Os medicamentos deverão


ter forma de soluções aquosas para penetração no organismo. É fundamental
conhecer a carga dos íons para aplicar de acordo com a polaridade do eletrodo. O
eletrodo ativo será o portador do medicamento, e o eletrodo indiferente, o neutro,
que terá uma substância à base de água. Deverá sempre observar o tamanho dos
eletrodos nas aplicações.

115
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

3.4 INDICAÇÕES DA IONTOFORESE


As indicações da Iontoforese estão relacionadas com as propriedades dos
medicamentos que incluem:

• analgesia local;
• lesões inflamatórias locais;
• vasodilatador;
• vasoconstritor;
• relaxante muscular;
• neurotrófico local;
• cicatrizante;
• antisséptico;
• trombolítico;
• ante edematoso;
• peeling;
• rejuvenescimento cutâneo.

3.5 CONTRAINDICAÇÕES DA IONTOFORESE


• não aplicar sobre a pele ferida;
• não aplicar sobre epífises ósseas;
• alergia ou intolerância ao medicamento aplicado;
• não aplicar sobre osteossíntese metálica;
• não aplicar em paciente com tumores;
• não realizar em gestantes em qualquer idade gestacional;
• não aplicar em área cardíaca;
• não aplicar em usuários de marca-passo;
• não aplicar em áreas de alteração da sensibilidade;
• não aplicar em patologias circulatórias tipo flebite, trombose.

DICAS

Como a Iontoforese envolve aplicação de medicamentos, é importante que


o fisioterapeuta tenha a prescrição médica do fármaco a ser utilizado ou que se atente
à Resolução COFFITO nº 380, de 3 de novembro de 2010 (https://www.coffito.gov.br/
nsite/?p=6670) e ao Acórdão nº 611, de 1º de abril de 2017 – normatização da utilização e/
ou indicação de substâncias de livre prescrição pelo fisioterapeuta (https://www.coffito.gov.
br/nsite/?p=6670).

116
TÓPICO 3 — CORRENTES POLARIZADAS

4 CORRENTES DIADINÂMICAS
As Correntes Diadinâmicas de Bernard (CDB) foram desenvolvidas
na França no início da década de 1950 por Pierre Bernard e estão associadas a
uma corrente contínua de base. Elas podem até duplicar o índice de reabsorção
tecidual devido a sua capacidade de causar hiperemia (GUIRRO; GUIRRO, 2002).

As Correntes Diadinâmicas possuem modo de aplicação continuada,


formada por impulsos sinusoidais de 10 ms, com polaridade e repouso de 10 ms ou 0
ms, com frequência de base de 50 a 100 Hz, respectivamente. Podem ser aplicadas
em modulações distintas ou combinadas. Segundo sua natureza, pertencem ao
grupo das correntes Gâlvano-Farádicas (AGNE, 2013; MARTIN, 2013).

Esta modalidade de eletroterapia ocasiona intensos efeitos analgésicos e


hiperemiantes, atuando sobre nervos e sobre a musculatura através de processos
elétricos e químicos. Conforme observado por Carvalho et al. (2005), que concluiu
que a aplicação de Correntes Diadinâmicas de Bernard pode promover analgesia
em pacientes com dor lombar.

4.1 FORMAS DE CORRENTES


As Correntes Diadinâmicas possuem modulações específicas de acordo
com a frequência de aplicação ocasionando diferentes efeitos fisiológicos. São em
número de cinco:

4.1.1 Monofásica Fixa


É constituída de semiondas senoidais com frequência de 50 Hz, com
impulsos de 10 ms e repouso de 10 ms. Provoca uma sensação de fibrilação. Tem
efeitos de acelerar o metabolismo e analgésico. Está indicada para estimular o tecido
conjuntivo acelerando seu metabolismo (AGNE, 2005; GUIRRO; GUIRRO, 2002)

FIGURA 22 – MONOFÁSICA FIXA

FONTE: O autor

117
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

4.1.2 Difásica Fixa


É constituída de semiondas senoidais com frequência de 100 Hz, com
impulsos de 10 ms de duração, sem intervalos de tempo (sem repouso) entre eles.
É indicada para tratamento precedendo outras modalidades de correntes para
induzir a elevação do limiar de excitação das fibras nervosas sensitivas e, dessa
forma proporcionar analgesia temporária. É indicada como corrente preparatória
da área, promove efeitos analgésicos, vasomotores e de tonificação (AGNE, 2005;
GUIRRO; GUIRRO, 2002).

FIGURA 23 – DIFÁSICA FIXA

FONTE: O autor

4.1.3 Curtos Períodos


Esta corrente é constituída por uma fase difásica e uma monofásica que se
alternam de 1 em 1 segundo. Vai apresentar sensações distintas nos períodos em
que alterna entre as fases de 50 e 100 Hz. Possui efeitos de analgesia e estimula o
trofismo (AGNE, 2005; GUIRRO; GUIRRO, 2002).

FIGURA 24 – CURTOS PERÍODOS

FONTE: O autor

4.1.4 Longos Períodos


Nesta corrente se tem a constituição de uma fase monofásica de 10 segundos
e uma fase monofásica da mesma duração. As fases se alternam de modo gradual.
Ao atingir seu valor máximo, representa uma onda difásica. Ocasiona sensação
de vibração no período monofásico e cócega ou formigamento no difásico. Possui
efeito de analgesia persistente (AGNE, 2005; GUIRRO; GUIRRO, 2002).

118
TÓPICO 3 — CORRENTES POLARIZADAS

FIGURA 25 – LONGOS PERÍODOS

FONTE: O autor

4.1.5 Ritmo Sincopado


Esta corrente nada mais é do que a própria corrente monofásica com trens de
pulso de 1s, intercalando com período de repouso de mesma duração. Proporciona
sensação de contração muscular. Possui efeitos de aumentar o tônus e o trofismo,
além de fortalecer a musculatura (AGNE, 2005; GUIRRO; GUIRRO, 2002).

FIGURA 26 – RITMO SINCOPADO

FONTE: O autor

4.2 EFEITOS FISIOLÓGICOS


Conforme Martin (2013), são classificados em três os efeitos fisiológicos
principais:

• efeito devido seu componente galvânico, pois possui efeito sobre a circulação,
sobre as reações eletrolíticas e dos líquidos do organismo, e sobre o sistema
nervoso de acordo com a sua polaridade;
• por seu componente de impulso para estimulação nervosa sensitiva;
• por seu componente antálgico motor e outros efeitos sobre os músculos.

4.3 TÉCNICA DE APLICAÇÃO


A técnica de aplicação é bipolar, com dois eletrodos de tamanhos iguais,
com o objetivo de distribuir uniformemente a corrente pela superfície do segmento
a ser tratado. Deve-se ainda:

119
UNIDADE 2 — CORRENTES ELÉTRICAS

• orientar o paciente sobre os efeitos e sensações das Correntes Diadinâmicas;


• posicionar o paciente em posição confortável;
• retirar objetos metálicos do local de aplicação e orientar o paciente a não tocar
nos eletrodos;
• limpar e secar a pele na região a ser aplicada;
• cuidar da limpeza e umidificação das esponjas para conduzir uniformemente o
estímulo elétrico;
• posicionar adequadamente os eletrodos sobre o local de estimulação;
• inverter a polaridade, se necessário;
• a intensidade da corrente é individual e necessita atenção com a tolerância do
paciente para que ele não sinta dor e para que não haja contração muscular
permanente.
• depende do tipo de sensação que a corrente provocar no paciente, sendo que,
como regra, ao aumentar a intensidade base, a sensação não deverá passar de
um formigamento;
• se o paciente relatar agulhada, ardência, queimação ou dor, a intensidade
poderá está alta, os eletrodos colocados de maneira irregular à pele, partes
metálicas em contato com a pele ou má saturação das esponjas.

4.3.1 Tempo de aplicação


Varia de 30 segundos a 6 minutos. A duração do tratamento deve se
limitar a poucos minutos dado que, num determinado tempo considerado longo,
as Correntes Diadinâmicas têm a particularidade de reduzir ou até suprimir seu
efeito terapêutico.

Em geral, usa-se no máximo 4 minutos para cada tipo de corrente e


quando for necessária mais que uma forma, nunca ultrapassar 12 minutos totais.

4.4 INDICAÇÕES
De acordo com o tipo da corrente e sua frequência, as Correntes
Diadinâmicas possuem diferentes indicações de uso:

QUADRO 4 - INDICAÇÕES DAS CORRENTES DIADINÂMICAS

Corrente Frequência Indicação


Tonificação do tecido conjuntivo, flacidez, estrias,
MF 50 Hz
acelera o metabolismo.
DF 100 Hz Vasodilatação, analgesia, transtornos circulatórios.
CP 50 Hz e 100 Hz Analgesia, estimula trofismo.
LP 50 Hz e 50 Hz Dores de diferentes origens e alterações tróficas.
RS 50 Hz Períodos pós-imobilização, atrofias, uso estético.

FONTE: O autor

120
TÓPICO 3 — CORRENTES POLARIZADAS

4.5 CONTRAINDICAÇÕES
As contraindicações seguem as mesmas já mencionadas para o uso da
Corrente Galvânica por serem um grupo de correntes galvânicas.

DICAS

Leia o artigo Iontoforese como recurso fisioterapêutico, de Andrielli Abreu


Albino, Jeniffer Manfrini, Jéssica Janaína Persuhn, Simoní Pauli e Altair Argentino Pereira
Junior, disponível no endereço: https://www.efdeportes.com/efd204/iontoforese-como-
recurso-fisioterapeutico.htm.

121
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os estudos da bioeletricidade foram iniciados pelo médico italiano Luigi


Galvani no século XVIII.

• A Corrente Galvânica é caracterizada por uma corrente com fluxo constante de


elétrons em uma só direção.

• A aplicação da Corrente Galvânica ocorre através da pele com eletrodos que


serão denominados de ânodo (polo positivo) e cátodo (polo negativo).

• A Corrente Galvânica ocasiona efeitos fisiológicos, polares e interpolares.

• A Iontoforese é um fenômeno físico que se caracteriza pela introdução de


medicamentos no tecido através da pele íntegra, com auxílio da Corrente
Galvânica.

• A Iontoforese usa a corrente elétrica para promover a ação de substâncias no


corpo com objetivos terapêuticos e estéticos.

• As Correntes Diadinâmicas possuem uma forma de aplicação continuada,


formada por impulsos sinusoidais.

• As Correntes Diadinâmicas possuem modulações específicas de acordo com a


frequência de aplicação ocasionando diferentes efeitos fisiológicos.

• Toda aplicação de corrente polarizada deve ser feita com cuidado respeitando
as precauções, indicações e contraindicações.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

122
AUTOATIVIDADE

1 A Corrente Galvânica é uma corrente com fluxo constante de elétrons em uma


só direção. O fluxo da corrente não sofre interrupção nem varia sua intensidade
na unidade de tempo. Sobre a Corrente Galvânica é CORRETO afirmar:

I- É uma corrente dita polar porque mantém definida a polaridade durante o


tempo de aplicação.
II- Uma corrente que se pode utilizar para facilitar a permeação de princípios
ativos que tenham polaridades definidas, chamados de ativos ionizáveis.
Esta técnica é conhecida como Fonoforese.
III- Possui efeito vasomotor e a aplicação da corrente determina o aparecimento
de hiperemia.
IV- Como se trata de uma corrente apolar, seu tempo de aplicação pode ser
longo.

A alternativa que apresenta as sentenças CORRETAS é:


a) ( ) I, II, V.
b) ( ) I, II, III.
c) ( ) I, III.
d) ( ) II, III, IV, V.
e) ( ) II, III, IV.

2 As Correntes Diadinâmicas são correntes alternadas, retificadas em ondas


completas ou semiondas e foram desenvolvidas por Pierre Bernard. A
respeito das Correntes Diadinâmicas, observe as afirmativas e selecione
as CORRETAS:

I- São correntes de impulsos de média frequência, basicamente duas 50 e 100 Hz


aplicadas em modulações distintas ou combinadas entre ambas frequências.
II- Produzem intensos efeitos analgésicos e hiperemiantes.
III- O tempo mínimo de aplicação é 10 minutos, pois provoca sensações
agradáveis no paciente.
IV- O incremento da irrigação sanguínea sob a ação do tratamento é uma das
causas dos seus efeitos antiexudativos e antiflogísticos.

É CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) I, II apenas.
b) ( ) II, III apenas.
c) ( ) I, III apenas.
d) ( ) II, III, IV apenas.
e) ( ) II, IV apenas.

123
3 As Correntes Diadinâmicas (Bernard) estão compostas por várias formas
de corrente, todas elas surgidas de uma corrente alternada sinusoidal
bifásica rítmica. A Corrente Diadinâmica dita como preparatória é:

a) ( ) Difásica fixa.
b) ( ) Monofásica fixa.
c) ( ) Ritmo sincopado.
d) ( ) Curtos períodos.
e) ( ) Longos períodos.

124
UNIDADE 3 —

TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você será capaz de:

• conhecer os efeitos fisiológicos decorrentes da utilização do ultrassom


terapêutico;

• aprender a ação dos agentes térmicos aplicados à reabilitação;

• estudar os agentes fototerápicos utilizados na fisioterapia;

• compreender as formas de aplicação, indicações e contraindicações dos


recursos fisioterápicos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um
deles, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – MODALIDADE SONORA

TÓPICO 2 – AGENTES TÉRMICOS

TÓPICO 3 – AGENTES LUMINOSOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

125
126
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

MODALIDADE SONORA

1INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste tópico abordaremos o ultrassom terapêutico
(UST). Você deve lembrar que na Unidade 1 deste Livro Didático foram descritas
as diferenças entre os tipos de ondas existentes e sua aplicação na fisioterapia,
dentre elas destacou-se o tipo de onda mecânica, a qual possui uma forma de
propagação longitudinal. Esse tipo de onda é encontrado ao aplicar o ultrassom
nos tecidos moles.

O ultrassom tem sido utilizado amplamente nas ciências da saúde, seja como
um método de diagnóstico clínico ou para fins terapêuticos. Na reabilitação, o uso
do UST na prática clínica do fisioterapeuta é recomendado devido a seus inúmeros
benefícios nos diferentes tipos de lesões musculoesqueléticas, promovendo alívio da
dor, diminuição da inflamação e estímulo à regeneração tecidual.

A onda sonora é inaudível ao ouvido humano devido a sua alta frequência,


e possui um grande potencial de provocar efeitos térmicos e não térmicos nos
tecidos, induzindo, assim, vários efeitos fisiológicos, bioquímicos e biofísicos nas
células, como as mudanças nos gradientes de concentração iônico, estimulando a
atividade celular e a síntese de proteínas.

Por seus mais diversos efeitos, esse recurso é um grande aliado no


tratamento de diferentes patologias que acometem o ser humano. Nesta
unidade, você aprenderá as formas de utilização, seus efeitos, as modalidades de
aplicação, intensidade e frequência das ondas sonoras transferidas aos tecidos,
suas indicações, cuidados e contraindicações. Bons estudos!

2 ULTRASSOM TERAPÊUTICO
O UST é gerado a partir de um transdutor. Um transdutor é um dispositivo
que transforma uma forma de energia em outra. O transdutor mais comumente
usado em ultrassom transforma a energia elétrica em energia mecânica usando
o efeito piezoelétrico (KITCHEN, 2003). No campo terapêutico, denominamos
ultrassom (US) “as oscilações cinéticas ou mecânicas produzidas por um
transdutor vibratório que se aplica sobre a pele, atravessando-a e penetrando no
organismo em diferentes profundidades” (AGNE, 2013, p. 319).

127
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

No interior do transdutor existe um cristal piezoelétrico, este possui a


propriedade de se alterar de espessura, ocasionando compressões periódicas que
se propagam em movimentos ondulatórios quando a voltagem é aplicada a ele,
ocorrendo assim a emissão de ondas mecânicas e longitudinais, ou seja, a direção
de propagação é a mesma que a direção de vibração, como discutidos na Unidade
1 deste livro (Figura 1). À medida que a voltagem chega ao transdutor, pode
ser aplicada de forma contínua, o que é denominado ultrassom contínuo, ou de
forma pulsada, chamado ultrassom no modo pulsado.

FIGURA 1 – TRANSDUTOR DO ULTRASSOM

Transdutor do US

A direção de
propagação é a
Propagação
mesma que a direção da onda
de vibração

Cristal Piezoelétrico
Cabo de corrente elétrica

FONTE: O autor

As ondas sonoras não são audíveis à faixa de audição humana, que se


situa em 20 Hz e 20.000 Hz, por isso é denominado ultrassom. A velocidade de
propagação do som no ar se situa na faixa de 340 m/s e na água a 1450 m/s, uma
onda ultrassônica de 1,5 MHz na água ou no tecido mole tem uma velocidade
de 1500 m/s, e, consequentemente, um comprimento de onda de somente 1
milímetro (KITCHEN, 2003). Quando os tecidos irradiados possuem velocidade
de propagação muito diferente da ideal para a propagação do US, este pode sofrer
reflexão e não ocorrer a propagação ideal para ocasionar seus efeitos fisiológicos.

Segundo Agne (2013), no ano de 1880, os irmãos Pierre e Marie Currie


descobriram as emissões das ondas ultrassônicas ao aplicar uma corrente
elétrica sobre um material que sofria variações nas suas dimensões físicas
quando submetidos a um campo elétrico, provocando ondas ultrassônicas com
diferentes frequências predefinidas; este é colocado entre duas placas metálicas,
e, atualmente, tem-se utilizados materiais como zirconato titanato de chumbo e
titanato de bário para se conseguir tal efeito. Em geral, as frequências utilizadas
para tratamento fisioterápico estão entre 0,7 a 3MHz.

No interior do transdutor, ou cabeçote, encontra-se o material que irá gerar


a onda ultrassônica e este sempre é menor que a área metálica do cabeçote. O
tamanho deste é conhecido como ERA – Effective Radiating Area –, ou seja, a área
efetiva de radiação da onda emitida. Sendo assim, o fisioterapeuta deve estar atento
ao tamanho da ERA do seu aparelho ao iniciar a terapia com o US, observando
128
TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA

a informação dada pelo fabricante do aparelho. Vale ressaltar que a intensidade


de emissão do US não é homogênea em toda a ERA, ou seja, seu ponto central
emite maior intensidade e esse aspecto deve ser levado em consideração para que,
durante a aplicação, seja realizada a rotação do cabeçote do US em várias posições,
evitando, assim, a simetria de rotação e picos de intensidade (Figura 2).

FIGURA 2 – PICOS DE INTENSIDADE DO UST

FONTE: O autor

À medida que a corrente elétrica age sobre o cristal presente no cabeçote


do ultrassom, provoca ondas mecânicas idênticas às sonoras que se propagam
através do tecido, ocasionando os efeitos fisiológicos, bioquímicos e biofísicos.
Essas ondas elásticas longitudinais causam compressão e rarefação, ou expansão do
meio à metade da distância de um comprimento de onda. O meio é a substância
de contato utilizada: gel, água e os tecidos do corpo nos quais se propaga o
ultrassom (AGNE, 2013).

Os tecidos do corpo humano possuem características específicas, com


meio de condução de diferentes densidades. Falamos de impedância na Unidade
1 deste livro. O UST, ao ser emitido, pode encontrar resistência ou facilidade
de passagens pelos tecidos do corpo humano. De acordo com Agne (2013), a
impedância se relaciona com o produto da densidade do meio e a velocidade de
transmissão do US nesse meio.

3 CARACTERÍSTICAS DA PROPAGAÇÃO DA ONDA


SONORA
À medida que a onda ultrassônica se propaga pode atingir interfaces
teciduais e sofrer reflexão, refração, atenuação e absorção. A onda ocasiona um
movimento de partículas causando uma perturbação no meio em que se propaga,
sendo assim, à medida que o UST se propaga, sua onda pode sofrer mudanças em
seu comportamento, facilitando a ação terapêutica ou até mesmo efeitos indesejados.
129
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

3.1 REFLEXÃO
A reflexão é o retorno da onda a partir da superfície do segundo meio,
sendo o ângulo de reflexão igual ao ângulo de incidência. Este processo ocorre
quando a impedância acústica dos meios é diferente e pode estar relacionado
à produção de calor ao aplicar o US. Observa-se esse efeito de reflexão entre
músculo e tecido ósseo (Figura 3).

A quantidade de reflexão depende:

• da diferença de densidade de um meio para o outro (impedância);


• da frequência: se aumenta a frequência, aumenta a reflexão;
• da espessura da interface dos tecidos;
• do ângulo de incidência da onda do UST.

OBS.: aplicar o UST sem inclinar o cabeçote, pois ocasiona refração e


reflexão das ondas ultrassônicas.

FIGURA 3 – REFLEXÃO DA ONDA ULTRASSÔNICA

FONTE: O autor

3.2 REFRAÇÃO
A onda do US sofre um desvio ao passar de um tecido para o outro. A
onda penetra em um tecido com um ângulo de incidência e sai deste com outro
ângulo. Levando isso em consideração, é sempre adequado observar os diferentes
tecidos que estão sobrepostos ao aplicar o UST (Figura 4).

130
TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA

FIGURA 4 – REFRAÇÃO DA ONDA ULTRASSÔNICA

Ondas
incidentes

Ondas
refratadas

FONTE: O autor

3.3 ATENUAÇÃO
A amplitude e a intensidade diminuem à medida que o UST passa por
diferentes meios de propagação. Isso ocorre pela perda de energia através da
divergência e absorção da onda. Também a atenuação é diretamente proporcional
à frequência, e depende dos tecidos que atravessa. De acordo com Agne (2013),
a atenuação e perda de energia estão relacionadas a dois fatores importantes: a
absorção e a reflexão da onda (Figura 5).

FIGURA 5 – ATENUAÇÃO DA ONDA ULTRASSÔNICA

FONTE: O autor

3.4 ABSORÇÃO
À medida que o UST penetra nos tecidos, estes podem absorver a
energia da onda ultrassônica, especialmente os tecidos ricos em proteínas e mais
hidratados. A maior parte dos tecidos do corpo humano possui impedâncias
acústicas semelhantes, com exceção do osso e cavidades com ar. No entanto,
a intensidade da onda ultrassônica diminui conforme penetra nos tecidos. A
absorção depende da frequência utilizada, sendo maior a absorção quanto mais
alta for a frequência (Figura 6).
131
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

FIGURA 6 – ABSORÇÃO DA ONDA ULTRASSÔNICA

FONTE: O autor

4 PROFUNDIDADE DE AÇÃO DO ULTRASSOM


TERAPÊUTICO
Os fatores físicos que a onda ultrassônica sofre, citados anteriormente,
interferem na profundidade do UST. Fica clara a existência de uma relação entre
frequência, absorção, atenuação e profundidade de penetração nos tecidos. Sendo assim,
a intensidade do ultrassom vai diminuindo devido à atenuação, pois vai perdendo sua
propriedade de penetração devido à capacidade de absorção dos tecidos. A distância em
que isso ocorre é chamada de profundidade média. A maior profundidade que se pode
esperar para os efeitos terapêuticos se conhece como profundidade de penetração. À
medida que ocorre a absorção, pode-se perceber o aumento da temperatura no local de
aplicação, que está relacionado com a intensidade, coeficiente de absorção dos tecidos,
perfusão da velocidade de aplicação sobre a área e tempo de aplicação.

ATENCAO

Ao aplicar o ultrassom a uma frequência de saída de 1 MHz poderá afetar


tecidos localizados abaixo de 5 cm de profundidade; já o ultrassom de 3 MHz é mais eficaz
para alcançar tecidos localizados a até 2 cm de profundidade. Dessa maneira, a escolha da
frequência deve sempre levar em consideração a profundidade dos tecidos que se pretende
tratar e as demais interfaces teciduais.

4.1 PROPRIEDADES DO FEIXE DE ULTRASSOM


Prezado acadêmico, você deve ter observado que o UST provoca uma série
de estímulos físicos ao ser aplicado. Estes são complexos e difíceis de mensurar,
especialmente porque a onda incide em diferentes tecidos do corpo, por exemplo,
pele, tecido subcutâneo, fáscia, músculo etc. e cada um desses apresenta aspectos
132
TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA

biológicos próprios. Dessa forma, à medida que o feixe do UST se propaga, sofre
modificações, o feixe converge nos primeiros centímetros tornando mais estreito.
O campo próximo é chamado de zona de Fresnel, local de maior absorção e efeito.
Após esse campo, forma-se uma outra área, mais cônica, chamada de campo de
Fraunhofer, neste local a ação terapêutica é reduzida, pois a intensidade diminui
com o aumento da distância (Figura 7).

FIGURA 7 – ZONA DE FRESNEL E FRAUNHOFER

FONTE: O autor

4.2 FREQUÊNCIA DO UST


Os equipamentos de UST utilizados na fisioterapia podem ter apenas uma
frequência, ou ambas, 1 MHz e 3 MHz. Antes de aplicar o recurso no paciente
deve ser selecionada a frequência da onda. A frequência está relacionada com
absorção e a atenuação do feixe, de forma que a maior frequência o UST será
absorvido mais rápido (3 MHz) nos tecidos mais superficiais. A profundidade
de penetração é inversamente proporcional à frequência. Aceita-se que o UST
de 1 MHz pode atingir em torno de 5 cm e o de 3 MHz em torno de 3 cm abaixo
da pele. Então, pode-se correlacionar que, para o tratamento de estruturas mais
superficiais, usa-se 3 MHz de frequência e estruturas mais profundas 1 MHz.

Algumas variáveis são dependentes da frequência:

• À medida que aumenta a frequência, diminui o comprimento de onda.


• Se aumenta a frequência, aumenta a colimação do feixe (paralelismo).
• Se aumenta a frequência, diminui a profundidade de penetração.
• Quando aumenta a frequência, aumenta a temperatura tissular.
• Se aumenta a frequência, aumenta a taxa de absorção do UST.

Deve-se lembrar que a onda ultrassônica pode sofrer atenuação à medida


que se propaga pelos tecidos, sendo assim, a maior profundidade que se pode
esperar para os efeitos terapêuticos se conhece como profundidade de penetração.

133
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

4.3 MODO PULSADO E CONTÍNUO


Os modos de aplicação do ultrassom podem ser de forma contínua
e pulsada. Na forma contínua, a emissão de onda se mantém durante todo o
período de aplicação, sem a existência de pausas, já no modo pulsado, esta fica
ligada por um tempo, desligada por um tempo e assim por diante. De acordo
com o fabricante dos aparelhos, os pulsos podem se apresentar dos seguintes
modos: 2:8, sendo descrito como 2 ms ligado, 8 ms desligado, como uma razão
de 1:4, comprimento de pulso de 2 ms ou como uma taxa de ciclo de 20%. Alguns
aparelhos já apresentam em forma de ciclo, por exemplo, 20% e 50%. A potência
do UST é expressa em Watts e, em alguns aparelhos, o ultrassom contínuo,
sem interrupção da energia sônica, pode chegar à intensidade de 3 W/cm2. Já o
ultrassom no modo pulsátil, a intensidade máxima pode chegar a 5 W/cm2.

De acordo com Kitchen (2003), existem dois mecanismos que se destacam


ao aplicar a terapia ultrassônica, estes são: o calor e a cavitação. A cavitação é
a atividade das bolhas dentro de um campo ultrassônico. A pressão oscilante
pode fazer com que as bolhas cresçam e oscilem. A presença de calor e a maior
possibilidade de gerar cavitação nos tecidos moles fica aumentada na medida em
que se aumenta a intensidade do ciclo “tempo on”. Já no modo pulsado diminui
a quantidade de energia, pois esta é interrompida periodicamente por uma fase
“off”, o que permite menor efeito térmico e percepção de calor.

4.4 INTENSIDADE
A energia utilizada em uma onda de ultrassom é caracterizada pela
intensidade. Essa é a energia aplicada a uma determinada área na unidade de
tempo, nos aparelhos é expressa em Watts/cm² (KITCHEN, 2003).

Conforme o objetivo do tratamento, seleciona-se a intensidade do UST. Para


que seja perceptível o calor no local, em geral, de 2 a 3 minutos após a aplicação no
modo contínuo, já é perceptível o aumento da temperatura local, lembrando que o
paciente não deve sentir desconforto durante a aplicação da técnica.

FIGURA 8 – INTENSIDADE

FONTE: Adaptado de Agne (2013)

134
TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA

Ao aplicar-se o modo pulsado, sempre deve-se observar o regime de pulso


utilizado no tratamento. Conforme a escolha do pulso, a intensidade final que o
paciente irá receber será menor que a selecionada no aparelho. Por exemplo, se
escolhermos o modo pulsado numa relação on/off de 1:5, em uma intensidade de
1 W/cm2, a resultante final será 0,2 W/cm2.

Em alguns aparelhos no modo pulsado, encontra-se o duty-cicle (ciclo de


trabalho), utilizado em condições agudas, com a finalidade de minimizar o efeito
térmico do UST. Ao utilizar o duty-cicle, teremos pulso e pausa, com uma relação
proporcional 2:8 ou 1:9, ou em percentual 5%, 10%, 20% e 50%. Se utilizarmos um
pulso de 10 ms a 100 Hz, logo teremos, na proporção de 2:8, 2 ms ligado e 8 ms
desligado, assim como, se utilizar o percentual de 10%, teremos 1 ms de tempo on
e 9 ms de tempo off (Figura 9).

O duty-cicle permite incrementar a dose do UST e atingir melhor


profundidade nos tecidos, sem proporcionar o efeito térmico, sendo indicado em
fases agudas e mais profundas (AGNE, 2013).

FIGURA 9 – ULTRASSOM PULSADO

FONTE: O autor

5 DURAÇÃO E FREQUÊNCIA DO TRATAMENTO


A duração varia de acordo com os objetivos do tratamento e a condição
clínica de cada paciente que se deseja realizar a recuperação funcional. Ao aplicar
o UST, deve-se considerar a ERA do transdutor e a área de aplicação do UST
em cm² na pele do paciente que será aplicado. A área a ser tratada deve ser
dividida pelo tamanho da ERA do cabeçote. Deve-se lembrar de verificar a ERA
no próprio aparelho ou no manual de instrução. A frequência do tratamento varia
de acordo com os efeitos desejados que se pretende alcançar e, em geral, podem
ser realizadas sessões diariamente nas condições agudas, como em pacientes com
pós-operatório. Já nas condições crônicas, pode-se aplicar diariamente ou em dias
alternados (Figura 10).
135
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

FIGURA 10 – ÁREA DE RADIAÇÃO EFETIVA

FONTE: O autor

E
IMPORTANT

Por exemplo: uma área a ser tratada por ultrassom tem 10 cm² de comprimento
e 5 cm² de largura. Supondo que a ERA do cabeçote tenha 5 cm², qual seria a duração
calculada para o tratamento nessa área?

• Área da região = comprimento × largura = 10 x 5 = 50 cm².


• ERA = 5 cm².
• Duração = área da região/ ERA = 50/5 = 10 minutos de tratamento nessa área.

6 EFEITOS TÉRMICOS
Quando o UST provoca efeitos térmicos, pode-se observar os efeitos de
aumento do metabolismo celular, vasodilatação, aumenta sua extensibilidade
das estruturas ricas em colágeno, reduz a rigidez articular e o espasmo muscular,
e promove analgesia. Os efeitos terapêuticos ocorrem a uma temperatura entre 40
e 45 ºC, que devem ser mantidas por pelo menos cinco minutos. O aquecimento
rápido ocorre de forma mais marcante no UST aplicado na forma contínua, já
que, quando se usa o modo pulsado, o aquecimento total ocorre num período
menor, em especial se a fase de repouso for longa.

A presença de calor ao aplicar o UST é perceptível nos tecidos que estão


abaixo do transdutor. Quando aplicado de maneira adequada, movimentando
o cabeçote, o aquecimento será brando. Um aquecimento indesejável, contudo,
poderá ocorrer se não houver movimento do cabeçote ou se a intensidade for
muito alta. O excesso de calor ou desconforto é um indicativo para redução da
intensidade aplicada ou mudança no modo de aplicação.

Ainda deve-se destacar que, na existência de ondas estacionárias, a


presença de calor pode ser mais evidente. Esse tipo de onda resulta do encontro
de uma onda emitida e uma onda refletida, devido à impedância acústica nas

136
TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA

interfaces, tais como entre o osso e o tecido mole ou entre tecido mole e ar.
Pelo fato dessas ondas se sobreporem, a intensidade local será maior e os vasos
sanguíneos que estiverem nesta área terão suas células agregadas, impedindo o
fluxo de oxigênio para as extremidades. Ondas estacionárias podem ser evitadas
pelo movimento do transdutor durante o tratamento (Figura 11).

FIGURA 11 – ONDAS ESTACIONÁRIAS

FONTE: O autor

7 EFEITOS NÃO TÉRMICOS


A energia ultrassônica oferecida de forma pulsada leva a dois eventos
específicos, denominados cavitação e correnteza acústica, que produzem os
chamados efeitos não térmicos ou mecânicos do ultrassom (PEREIRA, 2017).

A cavitação consiste na formação de bolhas de gás que se expandem e


comprimem devido a alterações de pressão produzidas pelo ultrassom nos
fluidos dos tecidos (PRENTICE, 2012).

O colapso dessas bolhas libera energia, que pode romper as ligações


moleculares, provocando a produção de radicais livres H ou OH, altamente
reativos e, como consequência, causar mudanças químicas chamado de cavitação
transitória ou instável. A cavitação instável é um efeito não desejado do ultrassom,
quando aplicado em intensidades não ideais, elevadas a ponto de danificar
tecidos ou outras estruturas da área (PEREIRA, 2017). Esta também pode ser
formada pelo excesso de ondas estacionárias, que se formam quando colidem
com interfaces formando ondas reflexivas e parte destas ondas interagem com as
ondas incidentes.

No entanto, a cavitação estável é responsável pela liquefação de um gel


(tixotropia), melhorando a extensibilidade do tendão e talvez atuando sobre as
moléculas de gordura.

A cavitação estável leva a uma correnteza acústica que é mais marcante


ao redor das membranas celulares e suas organelas. A correnteza acústica é o
fluxo unidirecional de fluidos tissulares, principalmente ao redor das membranas
celulares. O fluxo de bolhas nas correntes acústicas provoca alterações na

137
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

permeabilidade da membrana celular e de suas taxas de difusão (PEREIRA, 2017).


Se a membrana não foi danificada, a resposta à cavitação e à correnteza pode ser
síntese de colágeno, secreção de agentes quimiotácteis, aumento da captação de
cálcio e atividade dos fibroblastos.

8 MODALIDADES
Existem dois modos de aplicação do UST. A escolha da modalidade está
relacionada ao tempo da lesão, profundidade e os efeitos desejados (Quadro 1).

QUADRO 1 – MODALIDADES DO UST

UST contínuo UST pulsado


As ondas são contínuas As ondas possuem pulsos
Sem modulação Pode ser modulado (16 Hz, 48 Hz, 100 Hz)
Efeitos térmicos Efeitos térmicos minimizados
Efeitos da diatermia Efeitos não térmicos (cavitação)

FONTE: O autor

A aplicação do UST no modo pulsado pode ser benéfica em casos clínicos


quando o calor causaria dor, em situações nas quais é necessária a redução da
velocidade da condução em fibras nervosas, para a regeneração tecidual associada
a processos inflamatórios agudos e subagudos, e se desejar um efeito não térmico.

Já no modo contínuo, além dos efeitos não térmicos, poderá ser


produzido calor local, aumento do fluxo sanguíneo e aumento do metabolismo,
sendo aplicado em fase crônica da lesão.

9 EFEITOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS


Os efeitos na diminuição da inflamação do UST são bem documentados
na literatura, sendo decorrentes de suas ações térmicas e não térmicas nos tecidos.
Como relatado na Unidade 1 deste livro, as três fases são:

• Inflamação.
• Proliferação/formação de tecido de granulação.
• Remodelamento.

Segundo Kitchen (2003), existem, atualmente, evidências mostrando que


a efetividade do UST depende da fase do reparo na qual é usado. No entanto, esse
é um dos principais efeitos deste recurso.

138
TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA

Na fase inflamatória, o UST participa interagindo com as células,


facilitando a permeabilidade da membrana e a resposta do organismo ao processo
inflamatório, influenciando em sua atividade, favorecendo o reparo dos tecidos.
Na fase proliferativa, ou de reparo, o UST mostrou um grande efeito estimulador
na proliferação dos fibroblastos, melhor deposição de colágeno na ferida, e pode
afetar a taxa de angiogênese. Sendo assim, o UST atua na inflamação, pois induz
mudanças fisiológicas como ativação de fibroblasto, colágeno e diminuição de
células inflamatórias por aceleração do metabolismo celular (OLSSON et al., 2008).

Outros efeitos terapêuticos têm sido evidenciados com o uso do UST,


como o aumento do fluxo sanguíneo, o que resulta em hiperemia no local de
aplicação. Pode-se observar também a presença do relaxamento muscular, fator
associado ao efeito térmico, o aumento da circulação sanguínea e retirada de
substâncias nocivas que causam irritabilidade tecidual, reduzindo a dor e tensão
muscular. Melhor permeabilidade de membrana e regeneração tecidual e alívio
do quadro álgico.

Entre os efeitos fisiológicos e terapêuticos térmicos, encontram-se:

• aceleração do metabolismo;
• alteração da velocidade de condução nervosa;
• aumento do fluxo sanguíneo e da extensibilidade de tecidos moles;
• redução ou controle da dor e do espasmo muscular;
• estimulação das fibras nervosas aferentes;
• aumento da permeabilidade das membranas;
• aumento da extensibilidade do colágeno e das propriedades viscoelásticas dos
tecidos conjuntivos;
• aumento da mobilidade articular;
• resolução de processos inflamatórios crônicos.

Efeitos fisiológicos e terapêuticos não térmicos:

• ativação do ciclo do cálcio e aumento do transporte dos íons de cálcio através


das membranas celulares;
• estimulação de moléculas sanguíneas;
• aumento da permeabilidade das membranas;
• degranulação dos mastócitos e liberação de histamina e agentes quimiotáxicos;
• aumenta a síntese e elasticidade de colágeno;
• aumenta a síntese de proteínas;
• aumenta a atividade enzimática das células;
• diminui a atividade elétrica dos tecidos;
• promove oscilação nos tecidos, movimento dos fluidos, alterações nos vasos
sanguíneos;
• regeneração tissular e reparação dos tecidos moles;
• síntese de proteínas;

139
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

• estimulação do calo ósseo;


• aumento da circulação tissular;
• diminuição de espasmos;
• normalização do tônus muscular;
• ação tixotrópica.

Deve-se estar atento aos parâmetros de utilização do UST, para que se


obtenha os melhores resultados (Figura 12).

FIGURA 12 – PARÂMETROS DE APLICAÇÃO DO UST

1 MHz
profundo

3 MHz
superficial

Ultrassom

Pulsado Ciclo de
trabalho Dosimetria
ULTRASSOM 1 MHz 3 MHz Contínuo • 16 Hz (Duty-clice, (w/cm²)
• 48 Hz 5%; 10%)
• 100 Hz

FONTE: O autor

10 MEIO DE ACOPLAMENTO DO UST


O ultrassom não tem a capacidade de ultrapassar a interface ar/tecido, pois
a onda não se propaga no vácuo. Dessa maneira, é necessário o uso de um meio
de contato, para passagem das ondas até o tecido tratado. O agente acoplador
deve ter boa viscosidade para agir como um lubrificante à medida que o cabeçote
é movimentado sobre a pele do paciente. Em geral, são utilizados óleos, cremes e
géis, dos quais existe uma grande variedade. O gel acoplador deve ser estéril, não
ser rapidamente absorvido pela pele, ter propriedades químicas próprias para
o uso do UST permitindo boa propagação da onda e sem presença de bolhas de
ar. Sempre deve-se aplicar o agente de acoplamento antes de ligar o aparelho do
ultrassom, após ter o contato do cabeçote com a pele se aumenta a intensidade
do aparelho.

140
TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA

11 TÉCNICAS DE APLICAÇÃO
Ao usar o UST, deve ser analisado cada paciente e especificar a técnica
de aplicação direcionada para a necessidade do paciente. A seguir, serão
apresentadas algumas técnicas utilizadas.

11.1 CONTATO DIRETO


Este tipo de técnica é a mais aplicada pelos fisioterapeutas ao utilizarem
o UST. O transdutor durante o tratamento fica em contato direto com a pele do
paciente. Sabe-se que o ar reflete quase por completo a onda ultrassônica, portanto,
é absolutamente necessário assegurar-se da aplicação de um meio altamente
condutor entre o cabeçote e a pele (gel de contato ou alguma pomada). Deve-se
movimentar o cabeçote de forma contínua e uniforme, os movimentos podem ser
no sentido horário e anti-horário, sempre de forma lenta e curta (Figura 13).

FIGURA 13 – TÉCNICA DE CONTATO DIRETO

FONTE: O autor

11.2 TÉCNICA SUBAQUÁTICA


Nesta técnica é feita a imersão do transdutor e do segmento a ser aplicado
o ultrassom, sendo uma técnica indicada para tratar regiões irregulares ou de
menor área como mãos e pés. O transdutor fica submerso a uma distância média
de 2 cm da pele do paciente, podendo até mesmo encostar (Figura 14).

141
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

FIGURA 14 – TÉCNICA SUBAQUÁTICA

FONTE: O autor

ATENCAO

A técnica acoplamento misto, ou almofada de água, é usada para tratar regiões


irregulares, regiões com proeminências ósseas. Coloca-se soro fisiológico ou água fervida no
interior de um balão ou luva cirúrgica. A seguir, coloca-se gel entre o balão e a região, e entre
o balão e o US. Deve-se aumentar a dose em 30% devido à resistência imposta pelo látex.

11.3 SONOFORESE OU FONOFORESE


Nesta modalidade, utiliza-se o UST para aplicar medicações tópicas.
O UST pode aumentar a penetração transcutânea, podendo chegar a 4 - 5 cm
de profundidade. A pele deve estar limpa, sadia e hidratada. Pode-se aquecer
previamente a pele para dilatar poros e melhorar a indução da medicação. São
usados geralmente anestésicos e anti-inflamatórios não esteroides.

12 CUIDADOS E PRECAUÇÕES
Ao aplicar o UST, alguns cuidados e precauções devem ser observados,
como relata Pereira (2017). Além do extremo cuidado e da atenção com relação
às indicações e contraindicações do uso do UST, o fisioterapeuta deve observar:

• Deve-se ter bastante cuidado quando usá-lo sobre implantes metálicos. Nesse
tipo de aplicação está indicado o uso do US pulsado; sempre manter o cabeçote
em movimento, evitando ondas estacionárias.
• Observar sempre a sensibilidade do paciente antes de aplicar.
142
TÓPICO 1 — MODALIDADE SONORA

• Evitar aplicar sobre as placas de crescimento ósseo.


• Deve-se ter cuidado ao aplicar o ultrassom sobre região abdominal em
mulheres durante o período fértil ou imediatamente após a menstruação;
sempre verificar a existência de gravidez nas pacientes.
• Manipular o aparelho sempre de forma correta, ajustando os parâmetros para
cada paciente.
• Avaliar e reavaliar os pacientes que fazem uso do UST e ouvir sempre os
feedbacks do paciente.
• Os sintomas podem piorar após os primeiros dois tratamentos, em razão de
aumento da inflamação na área. Se esses sintomas não melhorarem depois do
terceiro ou do quarto tratamento, o uso da modalidade deve ser interrompido.
• Deve-se efetuar a limpeza correta do aparelho antes e após o uso.

13 INDICAÇÕES
• Traumas agudos do tecido mole.
• Espasmo muscular.
• Rigidez articular.
• Reparo de tendões.
• Reparo de tecido celular subcutâneo.
• Bursite subacromial.
• Capsulites.
• Tendinites do supraespinhoso.
• Epicondilites.
• Periartrite escapuloumeral.
• Cicatrização de feridas.
• Úlceras de decúbito (pulsado e a 3 MHz).

14 CONTRAINDICAÇÕES
• Útero durante a gestação.
• Gônadas.
• Tumores/lesões malignas.
• Trombose venosa profunda.
• Áreas isquêmicas.
• Infecções agudas.
• Olhos.
• Hemofílicos sem a reposição do fator.
• Medula espinhal, em seguida a uma laminectomia.
• Grandes nervos subcutâneos e craniais.
• Crânio.
• Áreas anestésicas.

143
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

DICAS

Leia na íntegra o artigo Efeito da terapia ultrassônica de baixa intensidade em


cultura celular de fibroblastos, de Priscila Daniele de Oliveira, Deise A. A. Pires Oliveira, Cintia
Cristina Martinago, Regina Célia Poli Frederico, Cristina Pacheco Soares, Rodrigo Franco de
Oliveira, publicado na revista Fisioterapia e Pesquisa. Disponível no link: http://www.scielo.
br/pdf/fp/v22n2/2316-9117-fp-22-02-00112.pdf.

144
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O UST é gerado a partir de um transdutor, que é um dispositivo que transforma


uma forma de energia em outra.

• No interior do transdutor, ou cabeçote, encontra-se o material que irá gerar


a onda ultrassônica e este sempre é menor que a área metálica do cabeçote,
conhecido como ERA.

• À medida que a onda ultrassônica se propaga pode atingir interfaces teciduais


e sofrer reflexão, refração, atenuação e absorção.

• À medida que o feixe do UST se propaga sofre modificações, formando um


campo próximo chamado de zona de Fresnel e uma outra área, mais cônica,
chamada de campo de Fraunhofer.

• A frequência está relacionada com absorção e a atenuação do feixe, de forma


que a maior frequência, o UST, será absorvido mais rápido.

• Os modos de aplicação do ultrassom podem ser de forma contínua e pulsada.

• A intensidade do UST é a energia aplicada a uma determinada área na unidade


de tempo, nos aparelhos é expressa em Watts/cm².

• Ao aplicar o UST, deve-se considerar a ERA do transdutor e a área de aplicação


do UST em cm² na pele do paciente que será aplicado.

• O UST proporciona efeitos fisiológicos e terapêuticos térmicos e não térmico.

• Diferentes técnicas de aplicação, indicações, contraindicações e cuidados ao


aplicar o UST.

145
AUTOATIVIDADE

1 O ultrassom terapêutico (UST) é um recurso amplamente utilizado na


fisioterapia, sendo empregado na reabilitação das mais variadas patologias,
tanto nos processos agudos como crônicos. Sua popularização é graças aos
seus efeitos benéficos que foram e continuam sendo comprovados. Sobre o
UST, analise as sentenças a seguir:

I- Diminui a síntese de proteínas.


II- O cristal presente no cabeçote contrai sobre a influência de uma corrente
elétrica em uma determinada direção e expandem-se quando a corrente
elétrica for revertida.
III- A atenuação da onda ultrassônica ocorre quando ela é refletida.
IV- A profundidade de penetração é inversamente proporcional à frequência,
sendo 1 MHz profundo e 3 MHz superficial.

É CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) I e II.
b) ( ) I, III e IV.
c) ( ) I e III.
d) ( ) II, III e IV.
e) ( ) II e IV.

2 O ultrassom terapêutico (UST) é um recurso comumente aplicado nos


distúrbios do sistema musculoesquelético, como na aceleração do reparo
tecidual de lesões musculares. Sobre a modalidade de tratamento que
utiliza o UST, é correto afirmar:

I- O ultrassom é uma energia eletromagnética que depende da colisão


molecular para transmissão.
II- A variação de frequência para o ultrassom terapêutico é de 1 a 3 MHz.
III- Quanto menor a frequência, maior a profundidade de penetração nos
tecidos biológicos.
IV- A profundidade de penetração da onda ultrassônica nos tecidos é
determinada pela intensidade.

É CORRETO o que se afirma apenas em:


a) ( ) I e IV.
b) ( ) II e III.
c) ( ) I e III.
d) ( ) I e II.
e) ( ) I, III e IV.

146
3 O tecido muscular é o mais afetado nos traumas do esporte e as lesões são,
muitas vezes, ocasionadas por mecanismos de impacto direto, podendo
ser tratadas pelo US pulsado. Com relação ao US pulsado, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) A modulação em amplitude é fixa em 100 Hz.


b) ( ) É indicado quando calor produzir dor.
c) ( ) A frequência de aplicação deve ser fixa em 3 MHz.
d) ( ) É indicado em processos inflamatórios crônicos.
e) ( ) Produz efeitos térmicos.

4 No uso do US, a formação de bolhas em um meio líquido resultante de


alterações de pressão produzidas por este recurso é chamada de:

a) ( ) Agitação acústica.
b) ( ) Refração.
c) ( ) Cavitação.
d) ( ) Colimação.
e) ( ) Tixotropia.

147
148
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

AGENTES TÉRMICOS

1INTRODUÇÃO
Os usos de recursos térmicos, como forma de tratamento, têm sido
utilizados ao longo dos séculos, desde os tempos antigos, quando os egípcios,
os romanos, os gregos e outros povos da Antiguidade os utilizavam para fins
terapêuticos aplicados a vários tipos de doenças e problemas musculares.

A termoterapia é a utilização de agentes térmicos com objetivos


fisioterapêuticos. Essa modalidade é utilizada com objetivos de ocasionar o
aumento ou a diminuição da temperatura dos tecidos biológicos. Pode ser
dividida em: hipertermoterapia (uso do calor como terapia) e hipotermoterapia
(uso do frio como terapia), também conhecido como crioterapia ou terapia por
meio de recursos que resfriam a área.

A utilização desses recursos tem acompanhado a rotina do profissional há


anos, mais precisamente na época da Pré-história, sem nem mesmo a Fisioterapia
ser ciência e/ou profissão.

2 TRANSFERÊNCIA DE CALOR
Existem algumas formas de transferência de calor entre os tecidos
corporais. O calor pode ser transferido para o corpo dos indivíduos como nos
casos da aplicação da hipertermoterapia ou retirados do corpo através de recursos
que ocasionam hipotermoterapia (PEREIRA, 2017).

• Condução: a energia térmica é transferida de uma região mais quente para


outra mais fria, através do contato direto de suas superfícies de contato. O
banho de parafina e as compressas quentes são exemplos de condução.
• Convecção: a energia térmica é transferida através da circulação de líquidos e
gases entre o corpo que está liberando a energia térmica e o que está recebendo.
• Conversão: é a transformação de energia mecânica ou eletromagnética em
energia térmica, pela passagem nos tecidos do corpo (ultrassom, ondas curtas e
micro-ondas); ou mesmo através da irradiação eletromagnética, como no caso
da radiação infravermelha.

149
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

3 ONDAS CURTAS
A diatermia por Ondas Curtas (OC) é um recurso aplicado para a
recuperação funcional dos pacientes há muitos anos. Essa forma de calor
ocorre por conversão, atingindo tecidos mais profundos e ricos em água
(STARKEY, 2001).

De acordo com Kitchen (2003), as OC são as radiações não ionizantes da


porção de frequência de rádio do espectro eletromagnético (EM). Têm sido usadas
pelos fisioterapeutas para a recuperação funcional dos pacientes por enviar calor e
"energia" para os tecidos situados profundamente.

Diatermia é um método de tratamento no qual se eleva a temperatura


tissular através da aplicação de um recurso externo, neste caso, a aplicação
de ondas eletromagnéticas emitidas pelas OC. Dessa maneira, ao aplicar OC,
acontece uma produção de calor por conversão de energia eletromagnética em
energia térmica.

São radiações eletromagnéticas cujo valor no espectro eletromagnético


varia quanto à frequência, (de 10 a 100 MHz) e, por serem faixas
de ondas mais curtas, usadas na diatermia terapêutica, são assim
chamadas também na prática clínica (ondas curtas). A frequência mais
usada é 27,12 MHz, com um comprimento de onda de 11 m (PEREIRA,
2017, p. 30).

As OC ocasionam um campo elétrico nos tecidos, este campo elétrico é


estabelecido na presença de cargas elétricas. O organismo é um condutor elétrico,
como apontado na Unidade 1 deste Livro Didático, o que favorece os movimentos
das cargas elétricas. Dessa forma, tanto os campos elétricos como magnéticos
podem ser produzidos no ser humano, pois, durante a aplicação das OC, o
paciente torna-se parte do circuito estabelecido entre o aparelho e o organismo.

3.1 PRODUÇÃO DO CALOR


Nos diferentes tecidos corporais existem muitas partículas iônicas, e
inúmeras proteínas que respondem à ação das OC. Os tecidos vivos têm três
características moleculares na condutividade da energia eletromagnética:
moléculas carregadas, moléculas dipolares e moléculas apolares.

As moléculas dipolares encontradas nos tecidos vivos consistem


principalmente em água e algumas proteínas. As moléculas quando expostas ao
campo eletromagnético, sofrem atração e repulsão, o que ocasiona calor devido
ao atrito molecular, estas moléculas giram à medida que o campo elétrico oscila
(Figura 15).

150
TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS

FIGURA 15 – MOLÉCULAS DIPOLARES

FONTE: O autor

Os tecidos do corpo que possuem alto teor iônico, por exemplo, o sangue,
tornam-se os melhores condutores da diatermia por ondas curtas. No entanto,
tecidos como o adiposo, que apresenta moléculas não polares, se tornam maus
condutores ao campo elétrico proporcionado pelas OC.

ATENCAO

Sabendo desse efeito, o fisioterapeuta deve estar atento à presença de suor ou


metais na área de aplicação, pois estes poderão ser expostos a uma grande carga térmica,
o que pode ser suficiente para causar queimaduras.

Outros efeitos biofísicos devem ser considerados ao aplicar as OC,


entre estes destacam-se o efeito Joule, no qual a energia elétrica atravessa um
condutor, neste caso, os tecidos do corpo, e parte dessa energia é transformada
em calor; o fenômeno de d´Ansorval comprova que não há contração muscular
na passagem de corrente elétrica de alta frequência; a experiência de Schliephack
comprova que o uso de eletrodos muito próximos à superfície da pele promovia
aquecimento somente nos tecidos superficiais, e, quando se afastavam dos
eletrodos da superfície da pele, as linhas de força eram alinhadas e produzia-se
um calor profundo; na ausência de fenômenos eletrolíticos não é evidenciada a
quebra de moléculas (eletrólise) na passagem das correntes de energia elétrica; no
campo eletromagnético, segundo a lei de Faraday, todo campo elétrico gera um
campo magnético e vice-versa (PEREIRA 2017).

3.2 DIATERMIA POR ONDAS CURTAS, PULSADAS E CONTÍNUAS


Em geral existem duas modalidades de aplicação das OC: a energia
eletromagnética pode ser aplicada em disparos, conhecida como OC pulsada ou
de maneira contínua, sem interrupções, as características físicas das OCP e OC

151
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

são idênticas, sendo a única diferença o fato de o campo ser interrompido ou


pulsado (KITCHEN, 2003). Na forma pulsada, em alguns momentos não ocorre a
emissão da onda, sendo assim, o calor é pouco perceptível. São emitidos disparos
de energia eletromagnética a intervalos pré-programados de tempo minimizando
o efeito térmico. Nesse caso, proporciona aos tecidos uma carga de energia na
forma de campo eletromagnético sem que os tecidos precisem tolerar uma carga
térmica, auxiliando, assim, no transporte através da membrana celular, atividade
enzimática, controle da dor, do edema e auxilia a cicatrização e regeneração dos
tecidos moles (KITCHEN, 2003).

No modo OC pulsado, tem-se uma frequência de repetição do pulso,


duração do pulso e pico de potência do pulso, permitindo que sejam emitidos
disparos de oscilações com frequência variável nas extensões de tempo em
µs, com incrementos em µs. Por exemplo, pode-se estipular de acordo com o
equipamento uma frequência de 50 a 800 Hz, nas extensões de tempo de 100 a 400
µs, com incrementos de 10 µs. Existem ainda alguns aparelhos que podem emitir
OC pulsadas, percorrendo uma série de frequências de forma automática.

Na forma de aplicação de OC contínua, não existindo pausas, produz um


aquecimento detectável nos tecidos profundos, isso é denominado diatermia de
nível térmico. O calor produzido é proporcional à densidade de energia aplicada
e o maior aquecimento ocorre em tecidos com maior condutividade. Entre os
efeitos das OC contínuas, observam-se: aumento do fluxo sanguíneo, auxiliam
na resolução da inflamação, aumentam a extensibilidade do tecido colagenoso
profundo, reduzem a rigidez articular, provocam analgesia e relaxam os músculos.

3.3 ELETRODOS
Os eletrodos são utilizados para conectar o paciente ao circuito elétrico do
gerador de alta frequência, por meio de um aplicador condensador (mais usado
na prática clínica) ou de uma bobina de indução (PRENTICE, 2012).

3.3.1 Placas metálicas flexíveis


São eletrodos maleáveis de metal, revestidos com uma espessa camada
de borracha, estes são, geralmente, colocados embaixo ou em torno da parte do
corpo que requer tratamento. Materiais como o feltro, ou toalhas dobradas, são
usados para assegurar que seja mantido espaço suficiente entre o eletrodo e o
paciente (cerca de 2 a 4 cm), evitando, assim, o risco de aquecimento e a ineficácia
da diatermia. Podem ser encontrados em tamanhos diferentes a serem utilizados,
dependendo da área de tratamento. A distância entre os dois eletrodos deve ser no
mínimo igual à medida da sua área, a fim de garantir a profundidade da diatermia,
e a região a ser tratada deve estar centrada entre os dois eletrodos (Figura 16).

152
TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS

FIGURA 16 – PLACAS METÁLICAS FLEXÍVEIS

FONTE: O autor

3.3.2 Discos metálicos rígidos


São placas com espaço aéreo, chamadas de Schliephake, isto é, são eletrodos
metálicos redondos, incluídos numa cobertura de plástico transparente ou vidro.
Nesse caso, não é necessário a utilização de toalhas para afastar a placa da pele, pois
a própria cobertura de plástico se encarrega de manter esse espaço. O aparelho de
OC tem braços ajustáveis para posicionar os eletrodos perto da parte do corpo que
precisa de tratamento. Vale lembrar que, com estes eletrodos, também devemos
respeitar a distância mínima entre eles a fim de alcançarmos a profundidade desejada.
A tendência atual é a utilização deste tipo de eletrodo (Figura 17).

FIGURA 17 – ELETRODOS DISCOS METÁLICOS RÍGIDOS

FONTE: O autor

3.3.3 Eletrodos de aplicação indutiva (Tambor)


Consiste de um único eletrodo, feito em forma de tambor, cujo interior
contém uma bobina indutiva. O tambor é aplicado próximo ao local a ser tratado,
de forma que a bobina fique paralela à superfície da pele. Nesse caso, o paciente
não faz parte diretamente do circuito, ele receberá a energia eletromagnética

153
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

pela indução da bobina. A energia eletromagnética alcançará os tecidos do


corpo do indivíduo e formará correntes secundárias, chamadas, também, de
correntes parasitas, que levarão ao aquecimento do tecido, exposto ao campo
eletromagnético (Figura 18).

FIGURA 18 – ELETRODOS DISCOS METÁLICOS RÍGIDOS

FONTE: Adaptado de <https://smart.servier.com/wp-content/uploads/2016/10/Bras-680x86.png>.


Acesso em: 25 nov. 2019.

3.4 DOSE
Em geral, na prática clínica, é utilizada a sensação subjetiva do paciente
com relação à percepção do calor, a escala de Schliephake pode ser utilizada para
se basear com relação à sensação térmica. Para pacientes na fase subaguda, o
calor deve ser leve, e na fase crônica, o calor deve ser mais perceptível.

NOTA

Escala de Schliephake:

I- Calor muito débil = calor imperceptível, abaixo do limiar de sensibilidade de aquecimento.


II- Calor débil = imediatamente perceptível, é o início da sensação de aquecimento.
III- Calor médio = sensação mais clara do calor, é um calor agradável.
IV- Calor forte = no limite da tolerância, é um calor desconfortável.

3.5 AJUSTE DA SINTONIA


Para que ocorra um funcionamento adequado, os aparelhos de OC devem
estar sintonizados, isto é, ajustar a sintonia do circuito paciente/equipamento.
Nos equipamentos de diatermia por ondas curtas, devido à heterogeneidade dos
tecidos, tem que haver sintonização e o ajuste da impedância do conjunto. Esse
processo é feito através do botão de sintonia, em alguns aparelhos chamados
de tuning, é importante fazer a melhor sintonização possível para obter maior
rendimento do aparelho. O ideal é que se tenha a maior quantidade de leds acesos
154
TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS

(luzes). É importante que o fisioterapeuta esteja sempre observando a sintonia e a


sensação de calor provocada. Alguns aparelhos apresentam a sintonia automática,
com um gráfico de barras em segmentos indicando o percentual de sintonia.

3.6 FORMAS DE APLICAÇÃO


Existem algumas formas de aplicação do OC e a escolha da técnica
vai estar relacionada ao tecido que se pretende tratar os efeitos fisiológicos
desejados. Sempre seguir os cuidados e precauções ao aplicar o recurso
terapêutico (AGNE, 2005).

Durante a aplicação, o aparelho gera um amplo campo de radiação


eletromagnético ao redor dos cabos e eletrodos, o que obriga que outros aparelhos
de eletroterapia estejam limitados a uma distância de 3 metros, salvo se a unidade
de ondas curtas e seu entorno estejam protegidas por uma jaula metálica chamada
de jaula ou gaiola de Faraday (LOW; REED, 2001; KITCHEN, 2003).

3.6.1 Contraplanar
Nesta técnica, um eletrodo está localizado medial e outro lateral, ou um
anterior e outro posterior. Os eletrodos estão em faces anatômicas opostas, porém,
na mesma direção. Essa técnica costuma ser utilizada quando se deseja atingir
estruturas mais superficiais, por exemplo, ligamento colateral do joelho (Figura 19).

FIGURA 19 – APLICAÇÃO CONTRAPLANAR

FONTE: Adaptado de <https://smart.servier.com/wp-content/uploads/2016/10/Bras-680x86.png>.


Acesso em: 25 nov. 2019.

3.6.2 Longitudinal
Os eletrodos são colocados nas extremidades dos membros, de modo que os
tecidos fiquem na mesma linha de força, ou seja, em paralelo. Por exemplo, um eletrodo
colocado sobre a coxa com o paciente sentado e o outro embaixo do pé (Figura 20).

155
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

FIGURA 20 – APLICAÇÃO LONGITUDINAL

FONTE: Adaptado de <https://smart.servier.com/wp-content/uploads/2016/10/Pompe_pied_2-


439x680.png>. Acesso em: 25 nov. 2019.

3.6.3 Coplanar
Os eletrodos permanecem em um mesmo plano, esta técnica é bastante
usada, e considerada mais superficial, como os eletrodos estão em série, deve-se
cuidar com a resistência oferecida pelo tecido adiposo. O campo eletromagnético
se forma no caminho de menor resistência. Por exemplo, aplicações na coluna
vertebral. Não posicionar os eletrodos com muita proximidade, evitando assim a
concentração do campo apenas entre os eletrodos (Figura 21).

FIGURA 21 – TÉCNICA COPLANAR

FONTE: Adaptado de <https://smart.servier.com/wp-content/uploads/2016/10/Bras-680x86.png>.


Acesso em: 25 nov. 2019.

3.7 CUIDADOS AO OPERAR O APARELHO DE OC


• Não cruzar os cabos do aparelho.
• Permanecer em torno de um metro de distância dos eletrodos.
• Sempre utilizar macas, escada e cadeiras de madeira.
• Não deixar o paciente só ou dormir durante o tratamento.
• Não deixar o paciente mexer no aparelho e cabos.
• Retirar pessoas próximas ao aparelho.
• Não ligar outros equipamentos de baixa ou média frequência na mesma sala.
• Não aplicar em pacientes com suor ou roupas suadas.
• Retirar objetos de metais dos pacientes.
156
TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS

3.8 CUIDADOS E PRECAUÇÕES


• Com a sensibilidade.
• Com a sintonia.
• Com os obesos.
• Com crianças e idosos.
• Com os testículos.
• Com os cabos e eletrodos.
• Com materiais metálicos.
• Com o tempo e a dose.
• Com a pele úmida (queimaduras).
• Com a distância, inclinação e uniformidade dos eletrodos.
• Com mesas, cadeiras metálicas (isolar).
• Não cruzar os cabos.
• Não aproximar demasiadamente os cabos (mínimo de 10 cm).
• Não colocar os cabos diretamente sobre a pele do paciente.
• Interromper o tratamento ao primeiro sinal de vertigem, cefaleia, hipotensão,
salivação ou mal-estar.
• Úlceras sujeitas a hemorragias.
• Áreas hemorrágicas.
• Áreas expostas a raios X, antes de 15 dias após a exposição.

3.9 INDICAÇÕES
• Algias em geral.
• Processos crônicos.
• Relaxamento muscular.
• Regeneração e cicatrização tecidual.
• Reabsorção de hematomas.
• Aumento da ADM.
• Doenças inflamatórias crônicas.

3.10 CONTRAINDICAÇÕES
• Marcapassos implantados (o campo eletromagnético poderá interferir caso a
blindagem elétrica seja suficiente).
• Metal nos tecidos ou fixadores externos (o metal concentra o campo magnético).
• Sensação térmica comprometida (podem ocorrer queimaduras e escaldaduras).
• Pacientes que não cooperam (ex.: não cooperação de fundo físico, em decorrência
de distúrbios do movimento ou de fundo mental em proveniência de alguma
incapacitação ou da idade).
• Gestação.
• Áreas hemorrágicas (mulher em períodos menstruais deve ser avisada da
possibilidade de aumento do fluxo, se a pelve for irradiada).
• Tecido isquêmico.

157
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

• Tumores malignos (as células cancerosas se proliferam com o aquecimento, e


que a temperatura nos tumores tende a se elevar).
• Mal de Pott (tuberculose óssea).
• Trombose venosa recente.
• Pirexia do paciente.
• Estados infecciosos.
• Áreas da pele afetadas por aplicações de radiograma.
• Circulação comprometida.
• Hemorragias.
• Feridas abertas (a umidade é um meio propício à proliferação bacteriana, bem
como a sua proliferação).
• Lesão cardiovascular.
• Lentes de contato.
• Recém-nascidos até a idade de crescimento ósseo (pode atrasar o respectivo
crescimento).

4 CRIOTERAPIA
A hipotermoterapia, bastante conhecida como a crioterapia, que
proporciona o resfriamento dos tecidos com fins terapêuticos, tem sido utilizada
desde os tempos antigos, quando Hipócrates já utilizava o frio antes de realizar
uma cirurgia.

Entende por crioterapia um conjunto de procedimentos terapêuticos


baseados na ação do frio sobre o organismo. É o tratamento através do gelo, água
gelada, produtos químicos de resfriamento, ou seja, a aplicação terapêutica de
qualquer substância que tire o calor do corpo ou que diminui a temperatura corporal.

A aplicação de frio é bastante difundida, em especial, quando pensamos


em um trauma agudo. Na área da reabilitação esportiva é muito comum observar
a aplicação de técnicas relacionadas com a crioterapia na recuperação funcional
de atletas. Entretanto, na área clínica também se utiliza amplamente as aplicações
do frio em diferentes tipos de patologias ortopédicas, traumáticas e neurológicas.

4.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS


A aplicação da crioterapia exerce efeitos fisiológicos locais relacionados às
mudanças de temperaturas e hemodinâmicas. Em geral, observa-se vasoconstrição
e redução do fluxo sanguíneo, diminuição do metabolismo local, redução do
processo inflamatório e resíduos celulares, analgesia, espasmos musculares e
contribui para o reparo tecidual (PRENTICE, 2012).

158
TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS

4.1.1 Temperatura corporal


Este é um dos primeiros efeitos perceptíveis ao aplicar a crioterapia.
Passados alguns minutos, a temperatura começa a elevar-se devido às respostas
de produção de calor pelo organismo, podendo até mesmo alcançar alguns graus
acima da temperatura da técnica de crioterapia. Os tecidos mais profundos
resfriam mais lentamente, pois este acontece por condução. No entanto, o tempo
de recuperação total da temperatura superficial pode levar de 1 a 2 horas após o
término da aplicação do frio. Sendo assim, em algumas situações clínicas, como
pós-operatórios, pode-se indicar o uso de crioterapia de duas em duas horas.

A resposta da pele ao frio varia de acordo com o tempo de aplicação,


sendo sensação de frio de 0 a 3 minutos, queimação e leve dor de 2 a 7 minutos,
relativo entorpecimento cutâneo de 5 a 12 minutos (PRENTICE, 2012).

4.1.2 Redução de edema


A redução do edema que acompanha a aplicação da crioterapia após uma
lesão aguda pode ser atribuída à vasoconstrição imediata das arteríolas e vênulas, o
que reduz a circulação para a área e assim diminui o extravasamento de fluido para o
interstício. Esse efeito é aumentado pela redução no metabolismo celular e substâncias
vasoativas, como a histamina, que também estão associadas com o resfriamento.

4.1.3 Efeitos circulatórios


Os efeitos da crioterapia sobre os vasos sanguíneos são bastantes discutidos
na literatura científica. Na resposta vascular inicial ocorre vasoconstrição, ou
seja, diminuição do diâmetro dos vasos sanguíneos, redução do fluxo de sangue
no local de aplicação e redução de substâncias vasodilatadoras. A mudança da
temperatura dos tecidos reduz o metabolismo celular, e, consequentemente,
da quantidade de oxigênio e de nutrientes trocados entre os tecidos e capilares
sanguíneos. Pela redução do metabolismo local, existe a necessidade de manter o
aporte de oxigênio na área tratada, desta maneira, pode-se observar a hiperemia
local na tentativa de fornecer oxigênio às células.

Alguns estudos indicam uma vasodilatação em resposta à vasoconstrição


inicial, sendo esta uma ação reflexa ou, ainda, um aumento de temperatura
tecidual e a vasodilatação, por respostas profundas, provavelmente de músculos
esqueléticos acionados.

159
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

4.1.4 Efeito analgésico


A ação da crioterapia afeta a percepção da transmissão do estímulo de
dor. Nas Unidades 1 e 2 deste Livro Didático, foi abordado o mecanismo de
transmissão da dor. A crioterapia atua inibindo a condução nervosa periférica,
por conseguinte a percepção de dor central será reduzida e ocorrerá um aumento
no limiar de dor. Além disso, o frio libera endorfinas, reduz o edema e diminui
o metabolismo local, o que atua principalmente na dor causada pela compressão
dos nervos ou de outras estruturas do local da lesão.

4.1.5 Efeito na inflamação


Após um trauma, o organismo, na tentativa de reorganizar a lesão, inicia
uma resposta inflamatória para que ocorra o reparo dos tecidos. A crioterapia
reduz os principais sinais inflamatórios: calor, vermelhidão, edema e dor,
atuando nesse processo por reduzir o metabolismo local, o consumo de oxigênio
pelas células, modificar o mecanismo de hipóxia secundária, reduz a liberação
de histamina, além disso, diminui a formação do edema e o extravasamento de
líquidos pelas células.

4.2 FORMAS DE APLICAÇÃO


Existem várias técnicas de aplicação da crioterapia no paciente. A escolha
da técnica depende da avaliação realizada, do local de aplicação, dos efeitos
desejados, indicações e das manifestações clínicas apresentadas pelo paciente.

4.2.1 Bolsas de gelo


Nesta técnica, faz-se a aplicação do gelo sobre o local que se deseja tratar.
São aplicadas, em geral, por 20 minutos, no entanto, a velocidade de resfriamento
inicial é rápida, mas diminui à medida que o tempo passa e ocorre a perda de calor,
isso significa que a temperatura da pele está geralmente acima da temperatura de
derretimento do gelo e fica geralmente na região entre 5 e 10 °C (KITCHEN, 2003).

Existem algumas bolsas nas quais são feitas uma mistura de água e pedras
de gelo em seu interior, e outras que possuem um gel (termogel), que podem ser
colocadas no congelador antes de serem aplicadas. Deve-se ter cuidado ao aplicar
a bolsa de gel, pois a temperatura pode estar muito baixa e causar queimaduras na
pele, deve-se usar uma toalha fina e úmida, ou papel toalha, para proteger a pele
do paciente (Figura 22).

160
TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS

FIGURA 22 – BOLSA DE GELO

FONTE: O autor

4.2.2 Toalhas com gelo


Nesta técnica ocorre um resfriamento mais superficial, pois são utilizadas
toalhas com gelo. As toalhas são colocadas em um mingau de flocos de gelo e
água, torcidas e aplicadas no corpo. Em geral, as toalhas precisam ser trocadas
com maior frequência devido à perda de temperatura para o ambiente. Pode ser
aplicada por 20 minutos.

4.2.3 Panqueca de gelo


Utiliza-se uma toalha grande molhada e gelo moído (ou pedras de gelo),
dobra-se a toalha em forma de panqueca e aplica-se diretamente na região a ser
tratada, por 20 a 30 minutos. Esta técnica é bastante utilizada pela facilidade de
aplicação (Figura 23).

FIGURA 23 – PANQUECAS DE GELO

FONTE: O autor

161
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

4.2.4 Imersão no gelo


Nesta técnica é utilizado um recipiente, bacia plástica, para colocar o gelo
e a água. Em seguida, o paciente fará a imersão do segmento a ser tratado. É
utilizada para o tratamento de extremidades. Pode provocar desconforto em sua
aplicação, pois o paciente fica exposto ao frio. O tratamento pode durar de 10 a 20
minutos, aproximadamente.

4.2.5 Spray
O resfriamento evaporativo (spray vasocongelante) é realizado
aplicando-se na pele, a uma distância de 20 a 30 cm, com movimentos de vai e
vem por 3 a 6s para evitar queimaduras da pele, até conseguir efeito analgésico.
Existem várias marcas no mercado utilizadas para alívio rápido da dor, é também
bastante observado sua aplicação durante atividades esportivas, possuem uma
válvula dispensadora especial que direciona o fluxo para a zona a ser tratada.

Sua aplicação é feita de forma tópica em situações clínicas, como dor


lombar, espasmos, torcicolos, pontos gatilho, entorse, antes de alongamentos,
distensões e estiramentos musculares.

4.2.6 Tratamento criocinético


Combina uso do gelo com exercícios (gelo e alongamento). Ocasiona a
analgesia do segmento, e então se inicia os exercícios para aumento da amplitude
de movimento. Deve-se respeitar a presença de dor durante o exercício. Pode-se
ir alternando aplicações de gelo por 12 a 20 minutos, seguidos de exercícios de
alongamento por 5 minutos, na sequência, aplica-se o gelo, novamente, por 5 a
10 minutos, após, repete-se o exercício e assim vai alternando (PRENTICE, 2012).

4.2.7 Criomassagem
Utilizam-se pedras de gelo, ou pacotinhos com gelo, e uma toalha ou luva
para o fisioterapeuta segurar gelo. Em geral, essa técnica é normalmente feita
sobre uma área pequena, como um ventre muscular ou pontos gatilhos (trigger
points) (PRENTICE, 2012). Também pode ser aplicada com o objetivo de estimular
as respostas neuromusculares em músculos paréticos, aplicando de forma breve e
repetida (tapping) (Figura 24).

162
TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS

FIGURA 24 – TÉCNICA DE CRIOMASSAGEM

FONTE: O autor

4.2.8 Banho de contraste


O banho de contraste é uma técnica que promove alternância entre
dilatação e constrição dos vasos sanguíneos por meio do uso intercalado de
modalidades de calor e frio, respectivamente. Essa técnica objetiva os efeitos
vasomotores que o uso dessas duas modalidades (quente e fria) oferecem por
meio dos impactos na circulação sanguínea (PEREIRA, 2017).

Tem indicação para lesões subagudas ou crônicas e contraindicação nas


lesões agudas. A técnica de tratamento deve começar mergulhando-se o local
atingido em água quente, por um tempo de 3 ou 5 minutos. Em seguida, e sem
descanso, passa-se para a água gelada, por 1 ou 3 minutos. Em cada sessão, essa
técnica pode ser alternada 3 vezes, sendo que o tempo total da aplicação da técnica
do banho de contraste é de 20 a 30 minutos (Figura 25).

FIGURA 25 - BANHO DE CONTRASTE

FONTE: O autor

4.2.9 Protocolo RICE e PRICE


Estes protocolos são utilizados de maneira universal nas lesões agudas
nos esportes, no protocolo RICE são utilizados: repouso, gelo, compressão e
elevação, e no protocolo PRICE – proteção, repouso, gelo, compressão e elevação
(PRENTICE, 2012).

163
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

O repouso após uma lesão aguda é bastante importante nos dias iniciais,
este deve estar associado ao uso da crioterapia devido a seus efeitos fisiológicos
e terapêuticos já discutidos, juntamente à compressão, que aumenta a pressão
externa nos capilares, e elevação, que diminui a pressão hidrostática capilar do
segmento, reduzindo o edema, a dor, as lesões secundárias e a área de lesão. A
proteção deve ser realizada de maneira que se reduza a exigência da área lesada.

4.2.10 Bolsas de gelo instantâneo


Nesta técnica, as bolsas de gelo instantâneo contêm cápsulas de nitrato de
amônio (NH4NO3) e água. Quando essas cápsulas se partem, essas substâncias
reagem, realizando uma reação endotérmica, pois produzem uma sensação de
frio, isto é, o sistema absorve calor. Ela é ativada de forma instantânea através de
um leve soco, e mantém a duração de 20 minutos após ativada (Figura 26).

FIGURA 26 – BOLSAS DE GELO INSTANTÂNEO

FONTE: O autor

4.3 INDICAÇÕES
• Dores musculoesqueléticas traumáticas e/ou inflamatórias.
• Lesões agudas, subagudas e crônicas.
• Redução do edema.
• Relaxamento muscular.
• Processos inflamatórios.
• Espasmos musculares.
• Queimaduras de 1º e 2º graus.
• Espasticidades por distúrbios do SNC.
• Artrite reumatoide e osteoartrites.
• Pós-operatórios.

164
TÓPICO 2 — AGENTES TÉRMICOS

4.4 CONTRAINDICAÇÕES
• Cuidados com hipertensos não controlados.
• Feridas abertas.
• Doença de Raynauld.
• Alteração de sensibilidade.
• Neuropatias.
• Cuidar com o trajeto de nervos periféricos.
• Insuficiência cardíaca.
• Portadores de angeítes.
• Hipersensibilidade ao frio.

DICAS

Leia na íntegra o artigo intitulado Eficácia analgésica da associação da


crioterapia e da estimulação elétrica nervosa transcutânea, de Dalvania Alves da Silva,
Geísa Ferreira Gomes Peixoto, Karilane Maria Silvino Rodrigues e Vanessa Ximenes Farias,
publicado na revista Br J Pain.
Disponível no link: http://www.scielo.br/pdf/brjp/v1n3/pt_1806-0013-brjp-01-03-0274.pdf.

165
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A termoterapia é um método terapêutico no qual se utiliza agentes térmicos


com objetivos fisioterapêuticos.

• Existem formas de transferência térmica: condução, convecção e conversão.

• Diatermia é um método de tratamento no qual se eleva a temperatura tissular.

• Na diatermia por OC acontece uma produção de calor por conversão de energia


eletromagnética em energia térmica.

• Existem duas modalidades de OC: a forma contínua e pulsada.

• A aplicação das OC pode ser de forma indutiva ou capacitativa.

• A crioterapia é um conjunto de procedimentos terapêuticos baseados na ação


do frio sobre o organismo.

• A aplicação da crioterapia exerce efeitos fisiológicos locais relacionados às


mudanças de temperaturas e hemodinâmicas.

• A ação da crioterapia proporciona efeitos na redução da temperatura corporal,


edema, circulatório, analgésico e anti-inflamatório.

• A escolha da técnica de crioterapia depende da avaliação realizada, do local


de aplicação, dos efeitos desejados, indicações e das manifestações clínicas
apresentadas pelo paciente.

166
AUTOATIVIDADE

1 Um jovem, sexo masculino, 18 anos, praticante de corrida três vezes por


semana, com duração de 1 hora, sofreu entorse de tornozelo em inversão
durante a prática da atividade física. Diante dessa situação, no momento
após a lesão, a conduta indicada seria:

a) ( ) Termoterapia para ocasionar vasoconstrição e aumentar o


extravasamento celular.
b) ( ) Alongamentos de tríceps sural e fibulares.
c) ( ) Deslizamento com cubos de gelo por 5 minutos sobre a área afetada.
d) ( ) Aplicação de gelo local por 30 minutos a cada duas horas.
e) ( ) Enfaixamento da região com ataduras.

2 A crioterapia é uma técnica em que se utiliza o frio, com a finalidade de


absorver calor do tecido corporal em que está sendo aplicado. Sobre a
crioterapia, é correto afirmar:

a) ( ) Não devemos realizar compressão e elevação ao aplicar gelo.


b) ( ) Aplicamos o gelo em fase aguda, pois este aumenta o metabolismo e
promove o extravasamento celular.
c) ( ) O ciclo dor-espasmo-dor melhora a mobilidade após a lesão.
d) ( ) Ao aplicarmos gelo, devemos observar o local da lesão, profundidade,
tamanho, estágio e a escolha da melhor técnica.
e) ( ) As pontas ventrais da medula espinhal (sensitivas) funcionam como
portões para controlar a entrada da dor.

3 A Diatermia por Ondas Curtas é a radiação não ionizante da porção de


frequência de rádio do espectro eletromagnético, sendo utilizada para
produzir calor nos tecidos corporais. A respeito desse recurso, é correto
afirmar:

I- Usar forma pulsada nos processos inflamatórios subagudos.


II- A forma pulsada diminui a vascularização.
III- Pacientes com osteossíntese metálica podem usar OC.
IV- Os cabos não devem se cruzar ou se encostar.

É correto apenas:
a) ( ) I e II.
b) ( ) I, II e III.
c) ( ) II e IV.
d) ( ) I e IV.
e) ( ) I, III e IV.

167
4 A terapia de Ondas Curtas (OC) envolve o acoplamento de uma energia
eletromagnética de alta frequência aos tecidos, para tratar uma grande
extensão de condições músculo esqueléticas. O recurso vem sendo
empregado sob duas formas: a terapia por ondas pulsadas e por ondas
contínuas. Com base na terapia por OC, é correto afirmar que:

a) ( ) Apesar de as unidades de OC produzirem tanto um campo elétrico


como magnético no tecido, sua proporção será diferente de acordo
com o modo de aplicação, o tipo de eletrodo em uso e a frequência
portadora.
b) ( ) A energia do campo elétrico concentra-se nos tecidos com maior
condutividade. Aceita-se que tecidos como músculo e sangue são
pouco condutores de corrente, pois não têm habilidade de absorver
tanta energia e dissipam o calor resultante menos eficientemente.
c) ( ) Tecidos ricos em gordura têm uma constante dielétrica alta e alta
condutividade. Aquecem pela boa vascularização e pôr termo regulação.
d) ( ) O modo pulsado das OC reduz o depósito de colágenos e fibrinas
e sua orientação, aumenta a viscosidade do líquido sinovial, e,
consequentemente, diminui a rigidez articular, melhorando a função.
e) ( ) Através do calor gerado, ocasionando vasoconstrição aumenta a
viscosidade do sangue, facilitando o fluxo sanguíneo.

168
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

AGENTES LUMINOSOS

1INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, o laser é um acrônimo que significa light amplification
of stimulated emissions of radiation (ou amplificação da luz por estimulação da
emissão de radiação).

Os estudos com o laser iniciaram com Albert Einstein que, em 1917, expôs
o Princípio Físico da Emissão Estimulada. Após, surgiram várias pesquisas sobre o
desenvolvimento do laser, no entanto, em 1960, Theodore Maiman apresentou
o primeiro Maser (microwawe amplification by stimulated emission for radiation), no
qual o autor conseguiu, pela primeira vez, a emissão estimulada de radiação pela
excitação do rubi. Posteriormente, surgiram os estudos de Javan, Bennett e Herriot
que apresentaram o laser de He-Ne, Johnson desenvolveu o laser de Nd:YAG e
em 1964, Patel e colaboradores apresentaram o laser de Dióxido de Carbono.

Desde então o uso do laser se difundiu em diferentes áreas da saúde,


pois tem sido utilizado em procedimentos cirúrgicos, remoção de tatuagens e
na fisioterapia como meio terapêutico para o tratamento de diferentes tipos de
lesões profundas e superficiais.

O laser utilizado na fisioterapia é uma forma de radiação não ionizante,


altamente concentrada, que, em contato com os diferentes tecidos, resulta, de
acordo com o tipo do laser, em efeitos fisiológicos e terapêuticos.

2 PROPRIEDADES FÍSICAS
Ao aplicar o laser nos pacientes, a quantidade de energia absorvida
dependerá da quantidade e da distribuição espacial de estruturas absorventes que
variam de pessoa para pessoa, alguns aspectos estão relacionados, por exemplo, o
estado nutricional do paciente, sendo assim, o laser ao ser emitido poderá sofrer
reflexão, refração, absorção e transmissão.

De acordo com Kitchen (2003), algumas características são bem marcantes


com relação à radiação gerada pelos aparelhos de laser terapêutico em comparação
a outras fontes similares de luz, estas são:

169
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

• Monocromaticidade: a luz produzida por um laser é de "cor única", sendo a maior


parte da radiação emitida pelo dispositivo de tratamento agrupado em torno de um
único comprimento de onda com uma largura de banda muito estreita.
• Colimação: na luz laser, os raios de luz ou fótons produzidos pelos aparelhos
de laser são para todos os propósitos práticos paralelos, quase sem divergência
da radiação emitida com a distância.
• Coerência: a luz emitida pelos aparelhos laser também apresenta a mesma
fase, de modo que junto às duas propriedades únicas já descritas, a luz laser se
propaga de forma uniforme e em paralelo (Figura 27).

FIGURA 27 – PROPRIEDADES DO LASER

FONTE: O autor

O laser de baixa intensidade tem a propriedade de estimular a membrana


plasmática e as membranas mitocondriais, induzindo a célula à biomodulação, ou
seja, estimulando o estado de normalização da região afetada. Esse tipo de terapia
passou a ser chamado de laserterapia (PINHEIRO; ALMEIDA; SOARES, 2016).

3 EFEITOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS


Ao aplicar o laser terapêutico com a irradiação no espectro infravermelho,
ocorre um estímulo dos canais da membrana plasmática, resultando em
mudanças na permeabilidade da membrana, temperatura e gradiente de pressão.
Tanto a luz visível quanto a infravermelha podem ser absorvidas por diferentes
componentes da cadeia respiratória celular, como os cromóforos na citocromo-C-
oxidase ou porfirinas, o que resulta na produção de espécies reativas de oxigênio
ou radicais superóxido (PINHEIRO; ALMEIDA; SOARES, 2016).

A radiação emitida pelos lasers em baixa potência tem demonstrado


efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e cicatrizantes, sendo, por isso, bastante
utilizada na fisioterapia com a finalidade de auxiliar no processo de reparo
tecidual (Figura 28).

170
TÓPICO 3 — AGENTES LUMINOSOS

FIGURA 28 – EFEITOS DO LASER NO REPARO

FONTE: O autor

3.1 EFEITOS NO REPARO DE TENDÕES


Os tendões são estruturas que unem os músculos ao tecido ósseo. É composto
por tecido conjuntivo denso, composto de fibras colágenas paralelas inseridas
dentro de uma matriz extracelular, transmite as forças das fibras musculares para o
osso permitindo o movimento. Os tendões são propensos a lesões agudas e crônicas,
além de sujeitos a movimentos repetidos e degeneração com o tempo. Estudos em
animais concluíram que o laser de baixa potência, 670 nm, produziu diminuição de
dor e edema, em animais com tendão calcâneo traumatizado, e tal ação foi dose-
dependente (BERTOLINI et al., 2008). Nesse sentido, Oliveira (2006) afirma que a
terapia a laser de baixa intensidade é efetiva na melhora da organização das fibras
colágenas do tendão calcâneo submetido à lesão parcial.

3.2 EFEITOS NO TECIDO CUTÂNEO


Este efeito é bastante popular da laserterapia entre os fisioterapeutas no
tratamento de vários tipos de feridas. O tratamento de vários tipos de ulcerações
crônicas foi a primeira aplicação para o laser de baixa intensidade a ser realizada em
humanos no final da década de 1960 e início da década de 1970 (KITCHEN, 2003).

A pele é um dos maiores órgãos do corpo humano, correspondendo a 16%


do peso corporal, e representa a interface do organismo com o ambiente externo.
Na Unidade 1 deste Livro falamos das fases de reparo da lesão, sendo dividida em
três fases principais: fase inflamatória, fase proliferativa e fase de remodelamento.

A laserterapia de baixa potência, quando aplicada sobre feridas cutâneas,


é capaz de promover como principais efeitos fisiológicos resolução anti-
inflamatória, neoangiogênese, proliferação epitelial e de fibroblastos, síntese

171
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

e deposição de colágeno, revascularização e contração da ferida, este fato está


intimamente ligado à eleição de parâmetros como dose, tempo e comprimento de
onda (ANDRADE; CLARK; FERREIRA, 2014).

3.3 EFEITOS NO REPARO ÓSSEO


O osso é um tecido conjuntivo composto por 75% de fração inorgânica,
que corresponde aos minerais, principalmente cristais de hidroxiapatita, e 25%
de matéria orgânica, incluindo o colágeno e proteínas que são responsáveis pela
elasticidade óssea.

O laser terapêutico pode aumentar a área de tecido ósseo neoformado,


acelerando o processo de reparo ósseo após a indução do defeito em tíbias de
ratos (OLIVEIRA et al., 2011). A terapia laser de baixa potência mostrou resultado
positivo no processo de reparo ósseo de fratura na tíbia de ratos, aumentando a
força máxima suportada pelo grupo tratado com dose de 15 J/cm2 (LEO et al., 2012).

3.4 EFEITOS NO TECIDO NERVOSO


A recuperação das lesões nervosas tem sido uma das lesões tratadas com o
uso do laser. O tecido nervoso é dividido em central (encéfalo e medula espinhal)
e periférico (nervos e gânglios). No entanto, a regeneração das lesões do sistema
nervoso é bastante complexa e lenta. Pesquisas experimentais têm sido feitas na
busca de conhecer os efeitos do laser neste processo regenerativo, bem como sua
dose e tempo de aplicação.

O tratamento com laser de baixa intensidade parece exercer efeitos positivos


sobre a lesão medular a partir da diminuição do processo inflamatório, diminuição
de citocinas e quimiocinas, melhoria da distribuição de fibrocartilagem/elastina,
maior número e brotamento axonal, e, consequentemente, menor cavitação no
local da lesão, melhor potencial evocado somatossensorial e melhor recuperação
funcional (ABREU; NICOLAU, 2015). No entanto, Sene et al. (2013), ao utilizar o
laser AsGa (830 nm) de baixa intensidade, em diferentes doses, não promoveu
recuperação funcional no nervo fibular de ratos submetido a esmagamento.

3.5 OUTROS EFEITOS


A literatura aponta, ainda, inúmeros efeitos fisiológicos e terapêuticos
que podem ser obtidos com a terapia a laser, entre estes destacam-se:

• Resolução do processo inflamatório.


• Controle da dor.
• Estímulo à produção de ATP.

172
TÓPICO 3 — AGENTES LUMINOSOS

• Vasodilatação.
• Redução do edema.
• Regenerador tecidual.
• Estímulo ao trofismo local.
• Aumento da divisão celular.
• Melhora na oxigenação local.

4 MODALIDADES
De acordo com a composição do laser, teremos diferentes comprimentos
de onda, formas de emissão e percepção do feixe luminoso (Tabela 1):

TABELA 1 – TIPOS DE LASER

Tipo do laser Comprimento da onda Forma de emissão Percepção do feixe


HeNe 623,8 nm Contínua Visível
AlGalnP 660 nm (630 - 685) Contínua Visível
AsGa 904 nm Pulsada Não visível
AsGaAl 830 nm (780 - 870) Contínua Não visível

FONTE: O autor

O laser de baixa potência ou terapêutico tem sido muito utilizado para


fins terapêuticos e bioestimuladores nos tratamentos fisioterápicos, agindo
principalmente como aceleradores em processos cicatriciais. A radiação laser
não é invasiva na maioria dos comprimentos de onda utilizados com finalidade
terapêutica, sendo muito bem tolerada pelos tecidos. A caneta de aplicação
possui tipos e comprimentos de ondas preestabelecidos que devem ser ajustados
no aparelho antes do início da aplicação (Figura 29).

FIGURA 29 – CANETA DO LASER

FONTE: O autor

173
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

4.1 FORMAS DE APLICAÇÃO


Ao aplicar o laser de luz visível (HeNe; AlGaInP), esta pode ocorrer das
seguintes formas:

• Aplicação por pontos: consiste na irradiação de um determinado ponto sobre o


corpo do paciente, em geral são aplicados vários pontos na área a ser tratada.
Normalmente, cada ponto se distância 1 cm do outro.
• Aplicação por zona ou zonal: consiste na aplicação, de uma só vez, de uma
área maior do que um ponto. Para isso, utilizam-se recursos como fibra óptica
e lentes divergentes.
• Aplicação por varredura: consiste na aplicação na qual se movimenta, como
se fosse um pincel, a caneta aplicadora, fazendo com que o ponto iluminado
"varra" toda uma região.

Ao aplicar o laser de luz não visível (AsGa; AsGaAl), é adequado que seja
feito em contato com a pele, por pontos (Figura 30).

4.2 PARÂMETROS
Algumas dosagens orientativas:

• Efeito analgésico - 2 a 4 J/ cm2.


• Efeito antiinflamatório - 1 a 3 J / cm2.
• Efeito cicatrizante - 3 a 6 J / cm2.
• Efeito circulatório - 1 a 3 J / cm2.
• Agudo: doses baixas (1 a 3 J / cm2).
• Sub-agudo: doses médias (3 a 4 J / cm2).
• Crônico: doses altas (5 a 7 J / cm2).

Para saber o tempo de aplicação necessário a certa dose de radiação laser,


é preciso:

• Saber qual dose (J / cm2) deseja aplicar.


• Conhecer a potência de emissão utilizada.
• Conhecer o tamanho da área a ser irradiada.

No entanto, alguns aparelhos, à medida que é selecionada a dose,


estipulam os segundos de aplicação para cada ponto.

174
TÓPICO 3 — AGENTES LUMINOSOS

FIGURA 30 – APLICAÇÃO PONTUAL DO LASER

FONTE: O autor

4.3 CUIDADOS E PRECAUÇÕES


• Observar as respostas do organismo a terapia a laser, caso não ocorra mudanças
clínicas, o recurso poderá ser substituído.
• Cuidar com pacientes fazendo uso de corticosteroides.
• Paciente fazendo uso de drogas fotossensibilizantes.
• A irradiação em homens ou mulheres em fase produtiva.
• A irradiação sobre glândulas hipo ou hiperfuncionantes.
• Indivíduos de pele escura tem necessidade de doses maiores do que as aplicadas
em indivíduos de pele mais clara.
• Observar o estado nutricional dos indivíduos.
• Regiões do corpo em que a pele é mais espessa necessitam de doses mais
elevadas que regiões de epiderme menos espessa.
• Certifique-se de que ambos (paciente e terapeuta) estão sempre protegidos
com óculos específicos para cada tipo de laser (Figura 31).

FIGURA 31 – ÓCULOS DE PROTEÇÃO

FONTE: O autor

175
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

4.4 INDICAÇÕES
• Lesões do aparelho locomotor.
• Distúrbios da ATM.
• Tendinites.
• Pós-operatórios.
• Traumatismos musculares.
• Artrose.
• Lesões da pele.
• Úlceras.
• Neuralgias.

4.5 CONTRAINDICAÇÕES
• Irradiação sobre massas neoplásicas ou paciente portadores de neoplasias.
• Irradiação direta sobre a retina.
• Irradiação sobre focos de infecção bacteriana, principalmente agudos, sem
devido tratamento/acompanhamento com antibioticoterapia.
• Hemorragias.
• Útero grávido.
• Tireoide ou glândulas endócrinas.

5 INFRAVERMELHO
O uso da radiação infravermelha no tratamento de uma série de distúrbios
clínicos já possui longa data na história da fisioterapia, desde o início do século
XX. As lâmpadas de emissão no infravermelho são de uso tradicional na área
de fisioterapia, sendo utilizadas em tratamentos fototerápicos tanto de doenças
crônicas (artrites e tendinites) como em traumatismos (LOW; REED, 1995).

As radiações infravermelhas são aquelas cujos comprimentos de onda são


maiores que os da luz vermelha visível e se estendem até a região das micro-
ondas, ou seja, 760 nm a 1 mm. A radiação infravermelha tem um comprimento
de onda comparável ao tamanho dos átomos ou moléculas e desse modo pode
interagir com eles, dividindo energia cinética (calor). Seus geradores podem ser
não luminosos, que consistem em um fio de resistência em espiral que é enrolado
em torno de um material isolante de cerâmica, e os geradores luminosos emitem
radiações infravermelhas e visíveis (KITCHEN, 2003).

Ao ser aplicado o IV, os tecidos que possuem bom conteúdo de água


e proteínas absorvem fortemente o raio infravermelho. Para Pereira (2017), é
complexo e discutível determinar o padrão de penetração e absorção da radiação
na pele, pois isso dependerá de alguns fatores como: a estrutura, a vascularização,
a pigmentação da pele e do comprimento de onda da radiação.

176
TÓPICO 3 — AGENTES LUMINOSOS

A radiação IV constitui uma forma de aquecimento por conversão. Sua


penetração é bastante convertida, mas há um consenso de atingir 5 a 10 mm
abaixo da pele, produzindo efeitos em nível local e geral.

As fontes infravermelhas podem ser naturais (por exemplo, o sol) ou


artificiais. Um IV artificial é normalmente produzido passando-se uma
corrente elétrica através de um fio de resistência espiral. Os geradores
luminosos (ou aquecedores por radiação) consistem em um filamento
de tungstênio dentro de um bulbo de vidro que contém um gás inerte
a baixa pressão (KITCHEN, 2003, p. 270).

A dosagem está relacionada à quantidade de energia recebida pelo


paciente. Esta é medida pelos seguintes itens:

• Potência de emissão da lâmpada (watts).


• Distância lâmpada/pele.
• Tempo de tratamento.

O equipamento deve ser posicionado em ângulo reto com a área a ser


tratada, e mantenha uma distância entre 50 e 75 cm. A dose de aplicação é
percebida pela resposta do paciente a sensação de calor. O tempo de aplicação do
IV está entre 10 e 20 minutos, dependendo do tamanho e vascularidade da parte
a ser tratada, cronicidade da lesão, e natureza da lesão (Figura 32).

5.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS E TERAPÊUTICOS


• Vasodilatação cutânea, pois o calor gerado pela radiação gera a liberação de
substâncias vasodilatadoras, por exemplo, a histamina.
• Sudorese que ocorre decorrente do aquecimento prolongado e intenso.
• Aumento do metabolismo pois o aumento da temperatura cutânea promove
maior irrigação.
• Redução da viscosidade sanguínea.
• Aumento da extensibilidade de colágeno.
• Hiperemia.
• Redução da dor.
• Aumento na velocidade de condução nervosa.
• Redução de edemas em fase crônica.
• Auxilia no reparo cicatricial.

5.2 CUIDADOS NA APLICAÇÃO


Se for aplicada de forma inadequada, o IV pode ocasionar danos ao
indivíduo. Em aplicações por um período longo de tempo ou intensidade elevada,
é possível observar:

177
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

• Eritemas na pele.
• Pigmentação permanente.
• Formação de pápulas e bolhas.
• Edema.
• Queimaduras.
• Desidratação no local.
• Cuidar com os tecidos próximo à área de aplicação, como lençóis e roupas
usadas pelo paciente.
• O paciente deve estar em posição cômoda.
• A pele do paciente deve estar limpa e seca.
• Não fazer aplicação simultânea de IV e corrente elétrica.

5.3 INDICAÇÕES
• Relaxamento muscular.
• Analgesia.
• Pré-cinesioterapia.
• Alívio de dor crônica.
• Aumento da nutrição e oxigenação de tecidos superficiais.
• Inflamações cutâneas.

5.4 CONTRAINDICAÇÕES
• Áreas de alteração sensorial.
• Áreas isquêmicas.
• Inflamações agudas.
• Hemorragias.
• Isquemia por obstrução vascular.
• Tumores.
• Irritação térmica.
• Febre.
• Região dos olhos.
• Doenças e traumas agudos.
• Região testicular.

E
IMPORTANT

O controle da dose é realizado através da sensação subjetiva do paciente,


geralmente manifestando sensação agradável. Como o tempo é prolongado, recomenda-
se controle periódico pelo fisioterapeuta, prevenindo lesões da pele.

178
TÓPICO 3 — AGENTES LUMINOSOS

FIGURA 32 – INFRAVERMELHO

FONTE: O autor

5.5 CALOR ÚMIDO


Nesta forma de aplicação, o IV está associado a compressas (toalha úmida),
alguns autores relatam melhor tolerância do paciente ao calor úmido (Figura 33).

FIGURA 33 – CALOR ÚMIDO

FONTE: O autor

179
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

LEITURA COMPLEMENTAR

LASER DE BAIXA POTÊNCIA, NO ESPECTRO DE LUZ VERMELHA, EM


LESÃO NERVOSA PERIFÉRICA: REVISÃO SISTEMÁTICA

Juliana Sobral Antunes


Jhenifer karvat
Fernando Amâncio Aragão
Gladson Ricardo Flor Bertolini

Resumo: Os nervos periféricos são comumente acometidos por lesões. Dentre


as causas mais comuns, estão: traumas, estiramento, pinçamento, compressão
e esmagamento do tecido nervoso, que resulta em comprometimentos motores,
sensoriais e limitações funcionais. Existem diversas formas de tratamento, dentre
as abordagens terapêuticas não cirúrgicas, pode-se citar o laser de baixa potência,
o qual apresenta uma série de indicações, desempenhando ação analgésica, anti-
inflamatória e cicatrizante. Entretanto, há uma aparente carência na literatura
brasileira com relação ao efeito do laser da faixa de luz visível (luz vermelha) como
modalidade de tratamento para lesão nervosa periférica, bem como a falta de
revisões sistemáticas publicadas. Desta maneira, o objetivo deste estudo foi realizar
uma revisão sistemática sobre o laser de baixa potência, no espectro de luz vermelha
em lesão nervosa periférica. Para a realização deste estudo foram consultadas as
bases de dados Scielo, Lilacs e Google Acadêmico, com as seguintes palavras-chave:
Laser de baixa potência; Laser de baixa potência e Lesão nervosa periférica; Laser de
baixa potência 660 nm na lesão nervosa periférica e “Laser de 670 nm” “ciatalgia”.
Com isso, foram encontrados 20 estudos, mas, devido aos critérios de inclusão e
exclusão, foram selecionados apenas cinco. Após análise, concluímos que o laser
de baixa potência, no espectro de luz vermelha em lesão nervosa periférica em dois
dos cinco artigos inclusos, por meio de literatura nacional demonstrou melhorar o
processo de regeneração nervosa, porém os parâmetros utilizados são variados, o
que dificulta uma comparação entre os estudos.

Palavras-chave: Terapia a laser de baixa intensidade. Traumatismos dos nervos


periféricos. Regeneração nervosa.

INTRODUÇÃO

Os nervos periféricos são comumente lesionados, sendo que em membros


superiores o nervo mais lesionado é o nervo ulnar e em membros inferiores é o nervo
isquiático, acometendo predominantemente os homens em faixa etária produtiva.

Os acidentes com veículos automotores, traumas por arma de fogo e arma


branca, trações, estiramento, pinçamento, compressão e esmagamento do tecido
nervoso, são fatores etiológicos traumáticos comuns de Lesões Nervosas Periféricas

180
TÓPICO 3 — AGENTES LUMINOSOS

(LNP), que resultam em comprometimentos motores e sensoriais, como hipotrofias,


limitações da amplitude de movimento articular, encurtamentos musculares,
retrações teciduais, dor, edema, parestesias, áreas de hipoestesia ou anestesia,
limitações funcionais, entre outros.

Existem diversas formas de tratamento, porém tem-se dado atenção ao


desenvolvimento de abordagens terapêuticas não cirúrgicas, que auxiliem no
processo de regeneração nervosa e melhora funcional após LNP, e como exemplo
desse tipo de recurso, existe o laser de baixa potência.

O laser é um dispositivo que produz um feixe de radiação, o qual é


compreendido dentro de uma faixa de luz, que vai do invisível ao visível. Os
principais lasers são separados em duas categorias: os lasers de baixa potência
ou lasers terapêuticos e os lasers de alta potência ou lasers cirúrgicos. Os lasers
terapêuticos estão localizados dentro do espectro eletromagnético da faixa
vermelha até infravermelha, compreendendo comprimentos de onda que
vão de 330 a 1100 nm, sendo que, especificamente, os lasers da faixa vermelha
correspondem aos comprimentos de onda de 632 a 780 nm.

Os lasers de baixa potência apresentam uma série de indicações, podendo


ser usados isoladamente ou como coadjuvante de outros tratamentos, sempre
que se necessite de efeito biológico local, uma vez que são capazes de modular
as células do sistema imune, estimular a microcirculação, ativar a liberação de
endorfinas e estimular a proliferação e a migração celular, desempenhando ação
analgésica, anti-inflamatória e cicatrizante.

[...].

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização deste estudo foram consultadas as bases de dados:


Scielo, Lilacs e Google Acadêmico, com as seguintes palavras-chave: Laser de
baixa potência, Laser de baixa potência e Lesão nervosa periférica, Laser de baixa
potência 660nm na lesão nervosa periférica e “Laser de 670nm” “ciatalgia”. Para
serem inclusos, os estudos deveriam oferecer acesso na íntegra, sendo estudos
experimentais, publicados em revistas nacionais (em português ou inglês),
que utilizaram laser de baixa potência dentro da faixa vermelha do espectro
eletromagnético, em LNP. Foram excluídas as pesquisas que não utilizavam laser
na faixa estabelecida e de revistas internacionais. [...]

RESULTADOS E DISCUSSÃO

[...]

Após a realização da busca de referências, cinco estudos atenderam aos


critérios de inclusão. De maneira geral, foi utilizada uma amostra de 130 ratos
da linhagem Wistar, para avaliação do efeito do laser de baixa potência, espectro
de luz vermelha, aplicado sobre nervos periféricos lesionados, comparando com

181
UNIDADE 3 — TERMOTERAPIA E FOTOTERAPIA

grupos placebo ou com outra intervenção, sendo que dois estudos apresentaram
resultados positivos significativos e três estudos não demonstraram diferença
significativa em seus resultados.

É importante ressaltar que, apesar de a amostra ser semelhante, o modelo


de lesão nervosa realizada foi diferente em cada estudo, o que pode também ter
influenciado nos efeitos dos tratamentos aplicados, sendo que um dos estudos
realizou a lesão por pinçamento do nervo isquiático com pinça hemostática por
30 segundos; em outro foi utilizado um modelo de compressão por amarria do
nervo isquiático, com fio catgut 4.0, em quatro regiões distintas; em um terceiro
estudo, o modelo de lesão nervosa foi baseado na transecção do nervo isquiático;
em seguida, outro artigo utilizou um equipamento com carga de 5000 gramas,
para esmagar o nervo isquiático por 10 minutos, produzindo a lesão deste; e por
último uma pesquisa que realizou neurotmese no nervo isquiático e neurorrafia
deste. Destacando que os dois estudos que obtiveram resultados significativos
realizaram modelos de lesão do tipo axoniotmese, com uso de amarria ou então
com utilização de equipamento com carga.

Outro fator que deve ser ressaltado é o tempo de início do tratamento com
o laser de baixa potência, foi observado que Camargo, Costa e André, Reis et al. e
Silva-Couto et al. iniciaram o tratamento dos animais, após 24 horas da realização do
procedimento cirúrgico; Cunha et al. iniciaram 72 horas após cirurgia e, diferentemente
desses estudos, Barbosa et al. iniciaram o tratamento com laser imediatamente após o
procedimento cirúrgico. Considerando os tempos de início do tratamento, observa-se
que os estudos que obtiveram resultados significativos, iniciaram o tratamento com
laser 24 horas após a realização da cirurgia ou imediatamente.

Com relação ao comprimento de onda o estudo de Barbosa et al. e


Camargo, Costa e André, utilizaram laser de baixa potência com comprimento de
onda 660 nm e dose de 10 J/cm² e 632,8 nm com dose de 9 J/cm², respectivamente,
e obtiveram resultados significativos. Já os estudos que não obtiveram resultados
significativos, dois deles apresentaram comprimento de onda de 660 nm, porém
com doses diferentes, sendo o estudo de Reis et al. com dose de 4 J/cm² e Silva-
Couto et al. com uso de doses maiores (10, 60 e 120 J/cm²). Por último, Cunha et
al. utilizaram comprimento de onda de 670 nm, com doses de 2 J/cm² e 4 J/cm².

De acordo com as formas de avaliação utilizadas nestes estudos, três deles


avaliaram a regeneração da lesão por meio da melhora funcional dos animais e
observação da marcha dos mesmos, com uso do índice funcional do isquiático
(IFC), outro estudo também se baseou na avaliação da marcha, porém com uso
do teste de incapacidade funcional. No estudo de Silva-Couto et al., além da
análise funcional da marcha do animal, também realizaram análise histológica,
morfométrica e a zimografia do músculo sóleo.

No que se refere aos artigos que obtiveram resultados significativos,


Camargo, Costa e André relataram que o mesmo ocorreu no grupo controle,
revelando que a capacidade regenerativa do nervo permanece ativa, mesmo

182
TÓPICO 3 — AGENTES LUMINOSOS

na ausência de tratamento. Já em Barbosa et al., os resultados do grupo laser se


sobressaíram ao do grupo controle, sugerindo uma benéfica atuação do laser no
processo de regeneração nervosa. Nos demais estudos, o laser de baixa potência
não se mostrou eficaz, porém em Cunha et al. foi observado que com 4 J/cm², os
valores apresentaram efeito positivo e até 2 J/cm² apresentou relevância clínica,
apesar de não ter sido estatisticamente significativo.

Baseados em todos esses artigos, o uso da terapia a laser é um instrumento


que pode ser utilizado como tratamento em caso de LNP, apesar de ser necessária
a publicação de mais artigos sobre essa temática em revistas nacionais.

CONCLUSÃO

O laser de baixa potência, no espectro de luz vermelha em lesão nervosa


periférica em dois dos cinco artigos inclusos, por meio de literatura nacional
demonstrou melhorar o processo de regeneração nervosa, porém os parâmetros
utilizados são variados o que dificulta uma comparação entre os estudos.

FONTE: <https://www5.bahiana.edu.br/index.php/fisioterapia/article/download/489/406>.
Acesso em: 25 nov. 2019.

183
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os estudos com o laser iniciaram com Albert Einstein.

• O laser é monocromático, coerente e colimado.

• Os lasers se dividem em luz visível e invisível e possuem determinados


comprimentos de onda.

• A aplicação do laser pode ser pontual, por zonas ou varredura.

• O laser promove efeito analgésico, anti-inflamatório, cicatrizante, circulatório,


entre outros.

• Ao aplicar o laser, deve-se sempre usar óculos de proteção.

• Os tecidos que possuem bom conteúdo de água e proteínas absorvem


fortemente o raio infravermelho.

• A radiação IV constitui uma forma de aquecimento por conversão.

• Que o IV deve ser posicionado em ângulo reto com a área a ser tratada, e
mantenha uma distância entre 50 e 75 cm.

• Vasodilatação cutânea é um dos efeitos fisiológicos e terapêuticos do IV.

• Se for aplicada de forma inadequada, o IV pode ocasionar danos ao indivíduo.

CHAMADA

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184
AUTOATIVIDADE

1 Albert Einstein esboçou os princípios básicos da geração da radiação do


laser no início de 1900, desde então este recurso passou por inúmeros
estudos, atualmente tem sido usado em diferentes procedimentos médicos e
fisioterapêuticos. Sobre os efeitos do laser, assinale a alternativa CORRETA
que apresenta os efeitos bioelétricos:

a) ( ) Aumento na produção de ATP, melhora na eficiência na bomba de Na


e K contribui para normalizar a situação iônica na membrana celular.
b) ( ) A matéria orgânica tem estrutura material bioquímica, senão também uma
estrutura energética. A ação do laser restabelece o equilíbrio energético.
c) ( ) Estímulos a microcirculação, estímulo ao trofismo local e reparação.
d) ( ) Liberação de substâncias pré-formadas, histamina, serotonina,
bradicinina e modificações de reações enzimáticas.
e) ( ) Aumento no número de leucócitos e atividade fagocitária pela ação térmica.

2 O Laser (cuja sigla em inglês significa Light Amplification by Stimulated


Emission of Radiation, ou seja, Amplificação da Luz por Emissão Estimulada
de Radiação) é um dispositivo que produz radiação eletromagnética com
características muito especiais. As três principais características da emissão
do feixe de laser são:

a) ( ) Monocromaticidade, dispersão e coerência.


b) ( ) Monocromaticidade, colimação e coerência.
c) ( ) Unicromaticidade, dispersão e conversão
d) ( ) Monocromaticidade, incoerência e dispersão.
e) ( ) Multicromaticidade, condução e dispersão.

3 As radiações infravermelhas produzem alterações térmicas devido à


absorção da radiação, que leva a vibração molecular e, este movimento, por
sua vez, leva a alterações térmicas. A distância entre o infravermelho e a
pele durante a aplicação deve ser:

a) ( ) 5 cm a 20 cm.
b) ( ) 50 cm a 75 cm.
c) ( ) 100 cm a 150 cm.
d) ( ) Deve ser fixa em 80 cm.
e) ( ) 10 cm a 40 cm.

4 A radiação precisa ser absorvida para facilitar as mudanças dentro dos


tecidos do corpo e a absorção depende de: estrutura e tipo do tecido,
vascularidade, pigmentação e comprimento de onda. A penetração de
energia para dentro de um meio depende da intensidade da fonte de
infravermelho, e do comprimento de onda. Sobre a radiação infravermelha,
analise as sentenças a seguir:
185
I- Ocasiona aumento da sudorese.
II- O controle da dose é feito pela sensação subjetiva do paciente.
III- Pode ser usado em processos inflamatórios agudos.
IV- O calor atinge até 30 mm abaixo da pele.
V- De forma geral, pode produzir sedação e relaxamento.

É CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) I, II e V.
b) ( ) I, II e III.
c) ( ) I e III.
d) ( ) II, IV e V.
e) ( ) II, III e IV.

186
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