A Leitura em Voz Alta

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A LEITURA EM VOZ ALTA

CONTRIBUTOS DA LEITURA EM VOZ ALTA PARA A APRENDIZAGEM DA LEITURA


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CATARINA COTRIM CORADINHO
ISEC LISBOA | INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS
Escola de Educação - Novembro de 2020.

A leitura em voz alta assume um papel determinante na aprendizagem da leitura, traduzindo-se numa
fonte de conhecimento e contribuindo para uma leitura proficiente.

Estratégias de leitura mediada pelo professor, a pares e em coro foi possível compreender que, no grupo
de alunos onde foram implementadas, as mesmas contribuíram significativamente para que estes
desenvolvessem o gosto pela leitura, estabelecessem relações com o professor e entre os pares,
compreendessem a importância da partilha com o outro e conhecessem diferentes tipologias textuais.

Os momentos de leitura em voz alta contribuíram para o aumento da autoestima e/ou autoconfiança dos
alunos, para o aumento do seu léxico e para que fossem verificadas melhorias nas suas leituras
individuais. Assistiram-se ainda a melhorias ao nível da dicção, da colocação da voz e da fluência nas
leituras feitas pelos alunos.

A linguagem é crucial para a vida em sociedade, uma vez que é ela que nos permite comunicar com os
outros, compreendê-los, adquirir novos conhecimentos, transmitir informações, compreender o mundo
que nos rodeia, bem como desenvolvermo-nos enquanto seres humanos.
A linguagem é adquirida nos primeiros anos de vida, de forma espontânea, dada a capacidade inata do ser
humano para o efeito. No entanto, cabe ao adulto promover experiências e ambientes estimulantes para a
aquisição e desenvolvimento da mesma, nos quais as crianças devem ter a possibilidade de contatar com o
outro e de partilhar as suas experiências, uma vez que “é através da interação verbal, que implica saber
ouvir falar e falar, que as crianças se tornam comunicadores fluentes e falantes competentes na sua língua
materna.” (Sim-Sim et al., 2008, p. 33).
A competência de ler implica converter o código escrito nos fonemas dessa língua e que implica ter a
noção de que tudo o que está representado pelo código escrito pode ser descodificado e dito oralmente e
vice-versa.
LER: verbo ler, verbo proveniente do latim lego que significa, segundo o Dicionário Priberam (2020),
reunir, juntar, colher, interpretar ou decifrar através do reconhecimento de um código.

A leitura, atualmente, apresenta-se como uma das aprendizagens mais importantes que fazemos ao longo
da vida, um instrumento de conhecimento transversal a todas as disciplinas e um dos maiores e mais
complexos desafios pelos quais as crianças passam no início do período escolar obrigatório.
Por meio da leitura que o ser humano pode adquirir novos conhecimentos, atingir o sucesso escolar,
profissional, a liberdade e a ascensão social. Além disto, é também a leitura que nos possibilita a escolha
de itinerários para viajar, ler recados ou aceder à cultura, sendo esta considerada por muitos uma fonte de
prazer e a base de quase todas as atividades que se realizam na escola. Apesar de existirem, atualmente,
diversos meios disponíveis para a aquisição de conhecimentos, o nosso sistema educativo continua a dar
especial importância às fontes escritas.

Fatores que influenciam o processo de aquisição da leitura:


1) Fatores intrínsecos: Fatores relacionados ao sujeito, nomeadamente as suas capacidades
cognitivas, a sua personalidade e a sua motivação;
2) Fatores extrínsecos: Fatores externos ao sujeito, tais como os hábitos dos indivíduos que os
rodeiam, as oportunidades que lhe são dadas pelo meio, o contexto familiar em que vive;
3) Fatores relacionados com o contexto educativo, tais como, as relações de confiança e segurança
estabelecidas com o professor e com os colegas.

A leitura é uma competência fundamental que deve ser trabalhada desde cedo. Contudo, é uma
competência que não surge de forma espontânea, que exige treino e cujas dificuldades traduzem-se em
problemas de comportamento, de autoestima e de insucesso escolar que podem comprometer o sucesso do
aluno.
Competências inerentes à aprendizagem da leitura

Segundo Esteves (2013), algumas competências inerentes à aprendizagem da leitura que se encontram
extremamente relacionadas, sendo elas a consciência fonológica e o domínio do princípio alfabético.

Consciência fonológica:

Quanto maior o nível de consciência fonológica da criança, maior será o seu sucesso e menos dificuldades
terá na aprendizagem da leitura. Antes da compreensão do nosso sistema alfabético, as crianças devem
entender que os sons associados às letras são os sons da fala.

 CF: Capacidade de explicitamente identificar e manipular as unidades do oral.


 CF: Consciência de que a fala pode ser dividida em unidades menores e que estas podem ser
discriminadas e manipuladas;
 Capacidade que os falantes têm de refletir e analisar a estrutura fonológica da sua fala e sobre os
sons da fala.
 CF: A consciência fonológica divide-se em três tipos: 1) na consciência silábica, i.e., a
consciência de que as palavras se dividem em sílabas (ba.na.na); 2) na consciência intrassilábica,
i.e., a consciência de que existem vários sons dentro da mesma sílaba; e, ainda, 3) na consciência
fonêmica, i.e., a última fase da consciência fonêmica que se prende com a capacidade de
manipular os sons da fala. 4) consciência da palavra: consciência da fronteira de palavra, i.e., a
consciência do início e do fim de cada palavra (os/olhos evitando a junção “zolhos) é uma
expressão da sua consciência fonológica.
 “o treino precoce da consciência fonológica é determinante para a formação de
melhores leitores, mas o aumento de competências leitoras também propicia um
melhor desenvolvimento da consciência fonológica”. (Correia, 2010)

Atividades lúdicas envolvendo CF: descobrir palavras que rimem entre si, jogos de
separação e contagem de sílabas ou jogos de combinações, nos quais as crianças devem
encontrar pares de palavras que comecem ou terminem com a mesma sílaba ou com o
mesmo som.

Domínio do princípio alfabético:

Compreensão de que na escrita alfabética todas as palavras são representadas por símbolos visuais a que
chamamos de letras e que estas codificam os grafemas.
O domínio do princípio alfabético é imprescindível à aprendizagem da leitura, uma vez que para que a
criança comece a ler tem de compreender que as letras representam aproximadamente fonemas e para isso
tem de ter consciência de que a linguagem falada pode ser descrita como uma sequência de fonemas,
unidades fonológicas que correspondem a certos padrões articulatórios.
Após adquirir o princípio alfabético, a criança deixa de pensar que as palavras são como desenhos e passa
a compreender que as mesmas funcionam como um código: o código escrito, no qual cada palavra é
representada por letras que juntas formam sílabas e que estas juntas formam as palavras.
Ao adquirirem o princípio alfabético, as crianças compreendem a importância de cada letra, que se a
mesma mudar de posição forma uma nova palavra com um novo som e significado e que as letras podem
mudar de valor em função da sua posição na palavra, que as diferentes letras podem representar diferentes
sons, que as diferentes letras podem representar o mesmo som ou que duas letras podem representar
apenas um som.

Processos cognitivos implicados na leitura

Ler envolve dois processos cognitivos distintos: a decodificação e a compreensão. São processos
distintos, porém relacionados e interdependentes.

Decodificação (processo cognitivo de nível inferior): capacidade que possibilita o reconhecimento das
palavras, como o processo segundo o qual se extrai suficiente informação das palavras, através da
ativação do léxico mental, permitindo que a informação semântica se torne consciente. Exige treino e a
aprendizagem da discriminação e identificação das letras isoladas ou em grupo.
Compreensão: extração da ideia do texto. É imprescindível que o leitor tenha conhecimentos prévios
sobre o mesmo, que seja capaz de extrair a informação do texto, armazená-la pelo tempo necessário à sua
compreensão e que consiga fazer a ligação entre a informação essencial e a que lhe é proporcionada pelo
texto.

Operações mentais envolvidas para a compreensão:


1) analisar visualmente a palavra;
2) identificar a palavra através da sua análise, comparando-a com outras palavras armazenadas no seu
léxico mental;
3) ativar a unidade de significado.
4) armazenar a informação do texto e relacioná-la com os seus conhecimentos prévios para que lhe possa
atribuir significado e, consequentemente, adquirir novos conhecimentos.

Problemas na compreensão da leitura: défices na decodificação, problemas de memória e de autoestima,


pouco interesse pela tarefa, pobreza de vocabulário, poucos conhecimentos prévios, etc..

Modelos teóricos de leitura - como os leitores realizam a sua leitura?


1. Modelos ascendentes - bottom-up - utilizados numa fase inicial de aprendizagem da leitura; leitura
parte da percepção das letras para as palavras e das palavras para as frases. Partem de processos
psicológicos primários (como o reconhecer e juntar letras) e terminam em processos cognitivos de
ordem superior (como a produção de sentido). Envolvem a decodificação e a compreensão da
linguagem oral, uma vez que quem lê ouve aquilo que decodificou com o intuito de compreender o
significado veiculado no texto.

2. Modelos descendentes - top-down - ler é compreender, ou seja, ler é a construção ativa de significado
a partir da mensagem escrita, o que põe em relevo o papel desempenhado pelo conhecimento geral
do leitor para a compreensão do texto. A leitura envolve processos de identificação de significados;
antecipações com base em predições léxico-semânticas e sintáticas; e, por fim, a verificação das
hipóteses produzidas. O leitor começa por observar a página; seleciona os índices gráficos em função
do seu estilo cognitivo e dos seus conhecimentos e armazena-os na memória a curto prazo; relaciona
os índices gráficos com os índices de antecipação e guarda-os também na sua memória a curto prazo
formando uma imagem composta pelo que vê e pelo que espera ver; pesquisa na memória a longo
prazo os índices grafofonológicos, sintáticos e semânticos relacionados com a imagem recolhida;
elabora uma predição e, caso seja bem sucedida, envia-a para a memória a longo prazo e testa-a de
modo a compreender sua aceitação face ao contexto, caso seja mal sucedida volta a testar os índices,
a imagem perceptiva e a reformulá-los. O processo de leitura é orientado pelos conhecimentos
prévios do leitor, i.e., pelos processos cognitivos de ordem superior, o que poderá implicar que este
modelo de leitura não se poderá aplicar em fases iniciais de aprendizagem.

3. Modelos interativos: utilizados pelos leitores proficientes; no processo de leitura, estão envolvidos,
de um modo íntimo e interdependente, tanto as componentes dos modelos ascendentes (tais como a
identificação; o reconhecimento de letras e a sua tradução em sons), como as componentes dos
modelos descendentes (como são a compreensão, a formulação de hipóteses e as predições para
descobrir o significado). Portanto, leitura é o produto da utilização de várias estratégias (ascendentes
e descendentes) em interação. No entanto, estes modelos de leitura, fornecerem pouca informação
relativa ao uso da via fonológica e outras estratégias de apoio ao reconhecimento de palavras; só
poderem ser aplicados com bons leitores; não especificarem a importância e a influência das fontes
de conhecimento ortográfico, lexical, sintático e semântico, etc.

Modelos de aprendizagem da leitura

O modelo de Uta Frith identifica três etapas distintas na aprendizagem da leitura: logográfica, alfabética e
ortográfica.
1. Etapa logográfica decorre entre cerca dos 18 e 24 meses e é conhecida como uma etapa na qual a
criança reconhece a palavra tendo por base características como o contexto, a cor e a forma da
mesma, sem atentar à composição das letras que a formam. As crianças tratam as palavras como
se fossem desenhos.
2. Etapa alfabética: a criança aprende a fazer a decodificação grafo-fonológica e passa a decodificar
pseudopalavras e palavras novas. A criança segmenta as palavras nas letras que as compõe, que
associa cada letra ao som correspondente e que tem que perceber que os sons têm uma
determinada ordem em cada palavra.
3. Na etapa ortográfica, o leitor começa a ler fluentemente; a criança adquire consciência acerca do
modo como as letras podem ser combinadas para produzir distintos sons.

O modelo de Ehri divide a aprendizagem da leitura em quatro fases: pré-alfabética, alfabética


parcial, alfabética total e alfabética consolidada.
1. A fase pré-alfabética: período mais precoce da leitura, no qual os leitores não usam a relação
letra-som para ler, mas sim as características visuais das palavras.
2. A fase alfabética parcial: os aprendizes leem estabelecem relações entre apenas algumas das
letras da palavra e os seus sons.
3. Na fase alfabética total, os leitores conhecem e relacionam todas as correspondências entre as
letras, palavras e sons, conseguem descodificar e segmentar diversas palavras (mesmo as que
não lhes são familiares e as pseudopalavras), o que lhes permite que ler as palavras de forma
autónoma e aprender cada vez mais sobre a ortografia das palavras. É a fase mais eficiente da
leitura, na qual boa parte das palavras já são lidas por reconhecimento automatizado, pois a
ortografia das palavras já foi armazenada na memória.

Métodos de Ensino da Leitura

Dois métodos de ensino da leitura: os métodos fônicos ou sintéticos e os métodos globais


ou analíticos.
1. Métodos fônicos: partem dos signos e sons elementares e orientam-se para as regras que nos
permitem relacionar as letras aos sons.

2. Métodos sintéticos: consistem num ensino que parte da letra, passa para as sílabas, para as
palavras isoladas, segue para a frase e termina nos textos. Apresentam três tipos: o alfabético
(alfabético o aluno conhece e aprende as letras, depois forma sílabas juntando as consoantes e as
vogais e depois forma palavras e textos), o fônico (parte do som das letras, une-o com as vogais
e consoantes e pronuncia a sílaba formada) e o silábico (começa por aprender as sílabas para
formar as palavras, exigindo memorização).

A Fluência na Leitura

A fluência na leitura é uma competência que depende muito do treino, uma vez que os leitores adquirem a
fluência através da exposição repetida a uma palavra.
A fluência é fulcral, uma vez que permite que a criança esteja disponível para compreender o que lê ao ler
de modo rápido e preciso.

O que contribui para a compreensão do texto:


1. a precisão na decodificação das palavras;
2. a velocidade, i.e., a dimensão associada ao número de palavras corretamente lidas por minuto;
3. a prosódia, i.e., a dimensão relacionada com a expressividade e o ritmo da leitura.

A fluência é uma competência considerada crucial para a compreensão leitora.

Buescu, Morais, Rocha e Magalhães (2015) afirmam que, no final do 1.º ano de escolaridade, os alunos
devem ser capazes de “ler corretamente, por minuto, no mínimo 40 palavras de uma lista de
palavras de um texto apresentadas quase aleatoriamente.” (p. 45); bem como “ler um texto com
articulação e entoação razoavelmente corretas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 55
palavras por minuto.” (p. 45), com vista a tornarem-se leitores cada vez mais fluentes e a apropriarem-
se de um novo vocabulário ao serem confrontados com o mesmo.

Leitura fluente significa que o leitor é capaz de ler de forma precisa, a uma velocidade ajustada e com
uma prosódia apropriada. Quanto mais estimulado a ler, melhor será a fluência na leitura. Exige treino.

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