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Casa de letrinhas – Metodologia ESSI de Alfabetização

Módulo Introdução - Aula 3

Os pilares da boa alfabetização: como formar bons leitores?

Em 2000 o National Reading Panel dos EUA elencou 5 pilares que devem sustentar
bons programas de alfabetização, sendo eles:
 Consciência fonológica, sobretudo consciência fonêmica;
 Instrução fônica sistemática;
 Fluência em leitura;
 Vocabulário e,
 Compreensão de textos.

Vou explicar cada um desses pilares a seguir:

A consciência fonológica refere-se a capacidade de perceber e manipular os segmentos


da fala: frases, palavras e fonemas, além da forma presente em rimas e aliterações
(Adams, 2006). Portanto, nessa grande área são desenvolvidas 4 habilidades, sendo
elas: consciência de rimas e aliteração, palavras e frases, sílabas e fonêmica. A
consciência fonêmica, um dos principais componentes da consciência fonológica,
refere-se ao conhecimento consciente das menores unidades da fala (fonemas) e a
capacidade de manipulação intencional dos sons das letras em uma palavra.
Segundo o PNA (2019) "a instrução fônica sistemática leva a criança a aprender as
relações entre as letras (grafemas) e os menores sons da fala (fonemas). “Fônica” é a
tradução do termo inglês phonics, criado para designar o conhecimento simplificado
de fonologia e fonética usado para ensinar a ler e a escrever. O ensino do
conhecimento fônico se mostra eficaz quando é explícito e sistemático (CARDOSO-
MARTINS; CORRÊA, 2008). Assim, as crianças aplicam na leitura de palavras, frases e
textos o que aprendem sobre as letras e os sons. Portanto, a instrução fônica
sistemática e explícita melhora significativamente o reconhecimento de palavras, a
ortografia e a fluência em leitura oral (MULDER et al., 2017; CARDOSO-MARTINS;
BATISTA, 2005).”
A fluência em leitura refere-se à habilidade de ler um texto com velocidade, precisão e
prosódia.
O vocabulário deve ser desenvolvido para garantir a sua aplicabilidade na leitura e
produção de textos.

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Por fim a compreensão de texto é o propósito da leitura, lemos para


compreender, mas ler não é compreender. Para compreender textos, é necessário
desenvolver diferentes habilidades e capacidades relacionadas à compreensão da
linguagem e ao código alfabético (MORAIS, 2013).
No Brasil, os apontamentos do National Reading Panel foram corroborados em
diversos documentos que o sucederam, a citar: a primeira versão do relatório -
“Alfabetização infantil: novos caminhos (2003)”; o documento da Academia Brasileira
de Ciências "Aprendizagem infantil uma abordagem da neurociência (2011)”; o "Plano
Nacional de Alfabetização - PNA (2019)” e mais recentemente o "Relatório Nacional de
Alfabetização Baseada em Evidência Científica (2021)”. Todos esses documentos têm
em comum a evolução do conhecimento gerado pela ciência cognitiva da leitura que
afirma que, a aprendizagem da leitura e escrita não é natural ou espontânea, ou seja,
ler não é natural como falar ou andar. Logo, a leitura e a escrita precisam ser
devidamente ensinadas de modo explícito e sistemático (Dehaene, 2011). A ciência
cognitiva da leitura tem mostrado que todas as crianças precisam aprender as mesmas
coisas para se tornarem leitores hábeis (Seidenberg, 2017). Um bom leitor é aquele
que identifica palavras com precisão, fluência e velocidade, dentro e fora de textos
(EHRI, 2014).
Em 1990, Hoover e Gough, postularam uma visão simples da leitura hábil como
produto dos fatores: RECONHECIMENTO DE PALAVRAS e COMPREENSÃO DA
LINGUAGEM (Leitura hábil = Reconhecimento de palavras X compreensão da
linguagem).
Em 2001, Hollis Scarborough ilustrou o processo do qual depende a compreensão de
textos, similar a teoria de Hoover e Gough. Essa ilustração é conhecida como “O
MODELO DE CORDAS”.
Para ser um leitor hábil, ou seja, ler um texto com compreensão é preciso adquirir
algumas habilidades distribuídas em duas partes principais:

1. Compreensão da linguagem, composta por conhecimento prévio de fatos e


acontecimentos, vocabulário prévio, estruturas da linguagem como
compreensão da sintaxe e semântica presente na língua, raciocínio verbal e
conhecimento prévio sobre o universo da escrita como consciência de
impressão (sentido e direção da escrita).

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2. Reconhecimento de palavras, composto por consciência fonológica,


decodificação de palavras e reconhecimento automático de palavras.

Em geral, as habilidades da compreensão da linguagem não necessitam de instrução


explícita e sistemática, como conhecimento de mundo, conhecimento morfossintático,
raciocínio verbal e familiaridade com livros e outros materiais impressos e resultam
na “Compreensão da linguagem”.
No entanto, outras habilidades exigem ensino explícito, como desenvolvimento da
consciência fonológica, sobretudo a consciência fonêmica e a decodificação de
palavras – da qual resulta o reconhecimento automático de palavras e fazem parte
do “Reconhecimento de Palavras”.
Essas habilidades vão-se unindo gradualmente como fios numa corda, e assim a leitura
se torna cada vez mais proficiente (conforme ilustração da Figura 1). Com a
automatização das habilidades de reconhecimento de palavras é liberado espaço na
memória para os processos de compreensão. Um leitor hábil tem uma execução
fluente da leitura e coordenação de reconhecimento de palavras e compreensão de
textos (PNA, 2019).
Um erro grave na formação de um leitor é negligenciar um dos fatores da
equação (Leitura hábil = Reconhecimento de palavras X compreensão da linguagem).
Se um dos fatores for zero o produto dessa equação será zero. E tem sido comum a
falta de instrução ou ausência total quanto ao reconhecimento de palavras. Assim, ao
invés de leitores hábeis que compreendem textos formam-se leitores incapazes de
compreender textos, porque simplesmente não aprenderem a ler adequadamente e
não se tornam, assim, bons leitores.

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Figura 1: Modelo de cordas – Reading Rope – Scarborough, 2001.


Fonte da imagem: Dyslexiaida.org

Pode-se afirmar que diante das habilidades necessárias para se formar um leitor
fluente qual método de alfabetização se assemelha quanto aos objetivos a serem
desenvolvidos? O método fônico. Portanto, esse é o método superior que garantirá o
acesso à leitura pela rota fonológica. Através do conhecimento das partes da palavra,
as letras e os seus sons, a manipulação desses sons, a associação dos sons aos
grafemas que o leitor terá a condição de fazer a decodificação de uma palavra e
posteriormente ao se tornar cada vez mais próximo da leitura, conseguirá automatizar
a leitura tornando as palavras mais facilmente e prontamente reconhecidas,
contribuindo com a fluência em leitura. O leitor hábil foi capaz de decodificar bem uma
palavra inicialmente, a partir desse primeiro contato ai foi capaz de guardá-la na sua
memória (forma ortográfica, fonológica e significado) e então compreender o que leu.
E nas próximas aulas você terá acesso aos conteúdos e materiais que conduzirão a
criança para uma leitura hábil, formando assim, um bom leitor.

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REFERÊNCIAS

CARDOSO-MARTINS, C.; BATISTA, A. C. E. O conhecimento do nome das letras e o


desenvolvimento da escrita: evidência de crianças falantes do português. Psicologia:
Reflexão e Crítica, v. 18(3), 330-336, 2005.

CARDOSO-MARTINS, C.; CORRÊA, M. F. 2008. O desenvolvimento da escrita nos anos


pré-escolares: questões acerca do estágio silábico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.
24(3), p. 279-286.

S. Dehaene, 2011. Os neurônios da leitura. Penso.

W. Hoover; P. B. Gough. 1990. The simple view of reading. Reading and Writing (2),
127-160.

MORAIS, J. 2013. Criar leitores: para professores e educadores. Barueri: Manole.

PNA - Política Nacional de Alfabetização/Secretaria de Alfabetização. 2019. Brasília :


MEC, SEALF, 2019.54 p.

RENABE, 2020. Relatório Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências [recurso


eletrônico] / organizado por Ministério da Educação – MEC ; coordenado por
Secretaria de Alfabetização - Sealf. – Brasília, DF : MEC/Sealf.

H. S. Scarborough. 2001. Connecting early language and literacy to later reading


disabilities: vidence, theory, and practice. In: NEUMAN, S. B.; DICKINSON, D. K. (Ed.).,
Handbook of early literacy research (pp. 97- 110). New York: Guilford Press.

M. Seidenberg, 2017. Language at the Speed of Sight: How We Read, Why So Many
Can't, and What Can Be Done About It. Basic Books; Reprint edição (6 março 2018)

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