ILLICH, Ivan. Cap. 1. Por Que Devemos Desistalar A Escola.
ILLICH, Ivan. Cap. 1. Por Que Devemos Desistalar A Escola.
ILLICH, Ivan. Cap. 1. Por Que Devemos Desistalar A Escola.
Faculdade de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
PPGEMP
Educação Universal em Perspectiva Pós-Colonial
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i m p o t ê n c i a psíquica; três d i m e n s õ e s de u m processo de degrada- N ã o apenas a educação, mas t a m b é m a p r ó p r i a realidade social
ção global e miséria modernizada. Explicarei como este processo tornou-se escolarizada. D á quase na mesma escolarizar pobres e r i -
de degradação se acelera quando necessidades n ã o materiais são cos nas mesmas d e p e n d ê n c i a s . O gasto anual por aluno seja numa
transformadas em demanda por mercadorias; quando saúde, edu- favela ou em rico subúrbio de qualquer cidade dos Estados Unidos
cação, mobilidade pessoal, bem-estar, r e c u p e r a ç ã o psicológica são está na mesma p r o p o r ç ã o , sendo, às vezes, favorável às favelas1.
definidos como resultados de serviços ou "tratamentos". Faço isso Pobres e ricos dependem igualmente de escolas e hospitais que
porque tenho a impressão de que a maioria das pesquisas realizadas dirigem suas vidas, formam sua visão de mundo e definem para eles
atualmente sobre o futuro tendem a pleitear maior incremento na 0 que é legítimo e o que n ã o é. O medicar-se a si p r ó p r i o é consi-
institucionalização de valores e porque acho que devemos definir derado irresponsabilidade; o aprender por si p r ó p r i o é olhado com
condições que permitam acontecer exatamente o contrário. Neces- desconfiança; a organização comunitária, quando n ã o é financiada
sitamos de pesquisas sobre a possibilidade de usar a tecnologia para por aqueles que estão no poder, é tida como forma de agressão ou
criar instituições que sirvam à interação pessoal, criativa e a u t ó n o - subversão. A confiança no tratamento institucional torna suspeita
ma e que façam emergir valores n ã o passíveis de controle substan- toda e qualquer realização independente. O progressivo subdesen-
cial pelos tecnocratas. Necessitamos de pesquisas que se oponham volvimento da autoconfiança e da confiança na comunidade é mais
à futurologia em voga. acentuado em Westchester do que no Nordeste do Brasil. E m toda
Desejo levantar uma questão de ordem geral, isto é, a definição parte, n ã o apenas a educação, mas a sociedade como u m todo pre-
comum de natureza humana e a natureza das modernas instituições cisa ser "desescolarizada".
que caracterizam nossa m u n d i v i d ê n c i a e linguagem. Para isso, es- Departamentos de bem-estar reivindicam u m m o n o p ó l i o pro-
colhi a escola como paradigma. E só abordarei indiretamente outras fissional, político e financeiro sobre a imaginação social, estabele-
instituições burocráticas do Estado: a família-consumidora, o parti- cendo p a d r õ e s para o que é proveitoso e o que é possível. Este mo-
do, o exército, a Igreja, os meios de c o m u n i c a ç ã o . Minha análise do n o p ó l i o está na raiz da m o d e r n i z a ç ã o da pobreza. Qualquer simples
secreto currículo escolar p o d e r á evidenciar que a educação pública necessidade, para a qual foi encontrada resposta institucional, per-
tiraria proveito da desescolarização da sociedade; da mesma forma mite a invenção de nova classe de pobres e nova definição de po-
que a vida familiar, a política, a segurança, a fé e as comunicações breza. N o México, h á dez anos, era normal nascer e morrer em sua
tirariam proveito de processo análogo. p r ó p r i a casa e ser enterrado pelos amigos. Apenas os cuidados pela
C o m e ç o minha análise, neste primeiro ensaio, tentando mos- alma eram assumidos pela igreja institucional. Agora, começar ou
trar o que a desescolarização de uma sociedade escolarizada poderia terminar a vida em casa é sinal de pobreza ou de especial privilégio.
significar. Neste contexto será mais fácil compreender minha esco- Agonia e morte passaram à a d m i n i s t r a ç ã o institucional de médicos
lha dos cinco aspectos específicos pertinentes a este processo dos e agências funerárias.
quais tratarei nos capítulos subsequentes.
1 JACKSON, Penrose B. Trends in Elementar/ and Secondary Education Ex-
penditures: Central City and Suburban Comparisons 1965 a 1968, U.S. Office
of Education, Office of Program and Planning Evaluation, junho 1969.
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Tendo uma sociedade transformado as necessidades básicas com u m m é d i c o que lhes providencia u m leito no hospital e que custa
em demandas por mercadorias cientificamente produzidas, defi- sessenta dólares por dia - o equivalente ao ganho de três meses para
ne-se a pobreza por p a d r õ e s que os tecnocratas podem mudar a a maioria das pessoas no mundo. Mas este cuidado somente os torna
bel-prazer. A pobreza se aplica àqueles que ficaram a q u é m de algum dependentes de mais atenções; torna-os progressivamente mais inca-
ideal de consumo propagandizado. N o México, pobres são os que pazes de organizar suas próprias vidas, a partir de suas experiências e
n ã o frequentaram três anos de escola; em Nova York, os que n ã o recursos, dentro de suas próprias comunidades.
frequentaram doze anos. Os pobres, nos Estados Unidos, melhor do que n i n g u é m , po-
Os pobres sempre foram socialmente impotentes. A crescente dem falar sobre a situação que ameaça todos os pobres do m u n -
confiança nos cuidados institucionais adiciona nova d i m e n s ã o à sua do que se moderniza. Estão descobrindo que nenhuma quantia de
impotência: i m p o t ê n c i a psicológica, incapacidade de defender-se. dólares pode remover a inerente destrutividade das instituições de
Os camponeses dos altos Andes são explorados pelos donos da ter- bem-estar, uma vez que as hierarquias profissionais dessas institui-
ra e pelos negociantes; e, uma vez estabelecidos em Lima, passam ções convenceram a sociedade de que seu trabalho é moralmente
a depender t a m b é m de chefes políticos e são desqualificados por necessário. Os pobres dos bairros urbanos dos Estados Unidos po-
causa da falta de escolarização. A pobreza moderna combina a falta dem demonstrar, por experiência própria, a falácia sobre a qual está
de poder sobre as circunstâncias com a perda de força pessoal. Esta construída a legislação social numa sociedade "escolarizada".
m o d e r n i z a ç ã o da pobreza é u m f e n ó m e n o universal e está na raiz U m magistrado da Corte Suprema, William O. Douglas, obser-
do subdesenvolvimento c o n t e m p o r â n e o . Manifesta-se, obviamente, vou que "a única maneira de estabelecer uma instituição é finan-
de formas diferentes nos países ricos e pobres. ciando-a". O corolário que se segue t a m b é m é verdadeiro. Somente
É mais fortemente sentida nas cidades norte-americanas. E m tirando os dólares das instituições que atualmente cuidam da saúde,
nenhum outro lugar a pobreza é objeto de cuidados mais dispendio- educação e bem-estar, pode ser sustado o progressivo empobreci-
sos. E m parte nenhuma t a m b é m o tratamento da pobreza produz mento que resulta de seus destrutivos efeitos colaterais.
tanta dependência, angústia, frustração e ulteriores demandas. E em Devemos ter isto em mente quando avaliamos os programas de
parte nenhuma ficou t ã o evidente que a pobreza - uma vez mo- ajuda federal. Para ilustrar, de 1965 a 1968 foram gastos nas escolas
dernizada - tornou-se imune a u m simples tratamento em dólares. dos Estados Unidos mais de três bilhões de dólares para compensar
Requer uma revolução institucional. as desvantagens que afetavam a seis milhões de crianças. Conheci-
do como Título Um (Title One), foi o programa c o m p e n s a t ó r i o em
Hoje em dia, nos Estados Unidos, os negros e mesmo os m i -
educação mais caro que j á se realizou em qualquer parte do m u n -
grantes podem aspirar a u m nível de atendimento profissional i n i -
do, ainda que n ã o se conseguisse perceber significativa melhoria na
maginável h á duas gerações passadas, o que parece ridículo à maioria
aprendizagem dessas crianças "em desvantagem". Comparadas com
das pessoas do Terceiro Mundo. Por exemplo, os pobres, nos Estados
seus colegas, provindos de famílias de renda m é d i a , permaneceram
Unidos, podem contar com u m funcionário que providencia a volta
mais atrasados ainda. Como se isso fosse pouco, durante a execução
de seus filhos "gazeteiros" à escola até que tenham dezessete anos, ou
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do programa, profissionais descobriram mais dez milhões de crian- Poderia ser verdade t a m b é m que o dinheiro fosse gasto i n -
ças que estavam em condições e c o n ó m i c a s e educacionais desvanta- competentemente. Mas nenhuma incompetência, por mais crassa,
josas. Existem agora mais razões para solicitar mais verbas federais. pode competir com a i n c o m p e t ê n c i a do p r ó p r i o sistema escolar. As
Esse total fracasso no incremento da educação dos pobres, ape- escolas, por sua p r ó p r i a estrutura, o p õ e m - s e à c o n c e n t r a ç ã o de p r i -
sar das atenções bem dispendiosas, pode ser explicado de três formas: vilégios naqueles que estão, de outra forma, em desvantagem. Cur-
a) três bilhões de dólares são insuficientes para melhorar o rículos especiais, classes separadas ou aulas mais longas constituem
rendimento, em quantidade mensurável, de seis m i l h õ e s de mais discriminação, a u m custo mais elevado.
crianças; ou Os contribuintes fiscais ainda n ã o se acostumaram a permi-
b) o dinheiro foi incompetentemente gasto: eram necessários, tir que desapareçam três bilhões de dólares na Saúde, E d u c a ç ã o e
e teriam resolvido o caso, diferentes currículos, melhor admi- Bem-Estar - como é o caso do Pentágono. A atual A d m i n i s t r a ç ã o
nistração, ulterior concentração das verbas sobre a criança po- pode crer que vai arcar com a ira dos educadores. Os americanos da
bre e mais pesquisas; ou classe m é d i a nada perdem se o programa é extinto. Os pais pobres
c) a desvantagem educacional n ã o pode ser sanada confiando acham que eles perdem, e desejam, inclusive, u m controle das ver-
na educação ministrada nas escolas. bas destinadas a seus filhos. Maneira lógica de cortar o o r ç a m e n t o
A primeira forma é verdadeira na medida em que este dinheiro e - esperamos - aumentar os benefícios é o sistema de bolsas de
tiver sido aplicado pelo o r ç a m e n t o escolar. O dinheiro, na realidade, estudo, da forma como foi proposto por M i l t o n Friedman e outros.
foi para as escolas que p o s s u í a m mais crianças "em desvantagem", Seriam destinadas verbas ao beneficiário que poderia comprar à
mas n ã o era gasto com as crianças pobres como tal. Essas crian- vontade sua parte de escolarização. Se tais créditos fossem limitados
ças para as quais foi destinado o dinheiro eram apenas metade dos a compras pertinentes a u m currículo escolar, tenderiam a garantir
componentes das escolas que tiveram seus orçamentos aumentados maior igualdade de atendimento, mas n ã o fomentariam, com isso, a
pelos subsídios federais. O dinheiro foi gasto, portanto, com inspe- igualdade das necessidades sociais.
tores, ensino e seleção vocacional, bem como com educação. Todas É óbvio que mesmo com escolas de igual qualidade, uma crian-
essas funções diluem-se inextricavelmente em instalações, currícu- ça pobre raras vezes poderia nivelar-se a uma criança rica. Mesmo
los, professores, administradores e outros componentes-chave des- frequentando idênticas escolas e c o m e ç a n d o na mesma idade, as
sas escolas e, portanto, de seus o r ç a m e n t o s . crianças pobres n ã o t ê m a maioria das oportunidades educacionais
Essas verbas extras fizeram com que as escolas provessem des- que naturalmente uma criança da classe m é d i a possui. Essas vanta-
proporcionalmente as necessidades das crianças relativamente mais gens vão desde a conversação e livros em casa até as viagens de férias
ricas que t a m b é m estavam "em desvantagem" por terem que fre- e uma diferente idiossincrasia; isto vale para as crianças que gozam
quentar a escola em companhia dos pobres. N o m á x i m o uma pe- disso, tanto na escola como fora dela. O estudante pobre geralmente
quena fração de cada dólar destinado a remediar as desvantagens ficará em desvantagem porquanto depende da escola para progredir
educacionais de uma criança pobre podia atingi-la através do orça- ou aprender. Os pobres necessitam de verbas para poderem apren-
mento escolar.
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der, n ã o para se certificarem, pelo tratamento, de suas pretensas de- te mais elevadas do que nos países ricos, mas esses investimentos
ficiências desproporcionais. são totalmente insuficientes para atender a maioria, nem mesmo
Isto vale para nações pobres e ricas, mas naquelas aparece de para possibilitar quatro anos de frequência escolar. Fidel Castro fala
maneira diferente. A pobreza modernizada, nos países pobres, afe- como se intencionasse caminhar para a desescolarização quando
ta mais pessoas e de forma mais visível, mas t a m b é m - ao menos promete que, por volta de 1980, Cuba estará em condições de acabar
até agora - de maneira mais superficial. Dois terços das crianças com sua Universidade, uma vez que toda a vida em Cuba será uma
na América Latina abandonam a escola antes de concluírem o grau experiência educacional. A o nível da escola p r i m á r i a e secundária,
fundamental, mas esses "desertores" nem por isso se arranjam t ã o p o r é m , Cuba - como qualquer outro país latino-americano - age
mal, como aconteceria nos Estados Unidos. como se a passagem por u m p e r í o d o definido como "idade escolar"
Poucos países permanecem vítimas da clássica pobreza que fosse u m objetivo inquestionável para todos, retardado apenas por
era estável e dificilmente vencível. A maioria dos países da A m é r i - uma carência t e m p o r á r i a de recursos.
ca Latina atingiram o ponto de arrancada (take-off) para o desen- A dupla decepção da intensa escolaridade, como se verifica nos
volvimento e c o n ó m i c o e consumo competitivo, e, portanto, para a Estados Unidos - e como é prometida na A m é r i c a Latina - com-
pobreza modernizada; seus habitantes aprenderam a pensar como plementa-se uma à outra. Os norte-americanos pobres estão sendo
ricos e viver como pobres. Suas leis prescrevem seis ou dez anos desmantelados pelos doze anos de escolaridade cuja falta estigmati-
México e no Brasil, o cidadão m é d i o define a educação adequada Nem na A m é r i c a do Norte nem na A m é r i c a Latina o b t ê m os pobres
a igualdade através da escolarização obrigatória. Mas em ambas as
pelos p a d r õ e s norte-americanos, mesmo que a possibilidade de
regiões a simples existência de escolas desencoraja e incapacita os
conseguir escolaridade t ã o prolongada fique restrita a uma pequena
pobres de assumirem o controle da p r ó p r i a aprendizagem. E m todo
minoria. Nesses países a maioria já está amarrada à escola, isto é,
o mundo a escola tem u m efeito antieducacional sobre a sociedade:
está escolarizada n u m sentido de inferioridade para com os mais
reconhece-se a escola como a instituição especializada em educa-
escolarizados. Seu fanatismo pela escola possibilita serem explora-
ção. Os fracassos da escola são tidos, pela maioria, como prova de
dos duplamente: por u m lado, permite uma crescente aplicação de
que a educação é tarefa muito dispendiosa, muito complexa, sempre
verbas públicas para a educação de uns poucos; e por outro, permite
misteriosa e muitas vezes quase impossível.
uma crescente aceitação de controle social.
A escola se apropria de dinheiro das pessoas e da boa von-
Paradoxalmente, a convicção de que a escolarização universal
tade disponível, para e n t ã o desencorajar outras instituições a que
é absolutamente necessária, m a n t é m - s e mais firmemente nos paí-
assumam tarefas educativas. O trabalho, o lazer, a política, a vida na
ses em que menos pessoas foram e serão servidas por escolas. Na
cidade e mesmo a vida familiar dependem da escola, p o r causa dos
A m é r i c a Latina a maioria dos pais e crianças ainda podem tomar hábitos e conhecimentos que p r e s s u p õ e m , em vez de converte-
diferentes rumos em relação à educação. As somas governamentais rem-se nos meios de educação. E ainda, tanto as escolas como as
investidas nas escolas e professores podem ser proporcionalmen- outras instituições que dela dependem atingem custos vultosos.
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Nos Estados Unidos o custo per capita da escolarização subiu 10%, podem oferecer a seus filhos educação em estabelecimentos
quase tanto quanto o atendimento médico. Mas a intensificação do particulares e conseguir que se beneficiem das verbas de fundações.
atendimento, tanto escolar quanto médico, andou a passos com o de- E, além disso, o b t ê m dez vezes a quantia per capita do erário públi-
clínio de resultados. Os gastos médicos com pessoas acima de 45 anos co se fizermos a c o m p a r a ç ã o com a m é d i a per capita gasta com os
duplicaram várias vezes n u m período de 40 anos, ao passo que a es- filhos dos 10% mais pobres. As principais causas são que as crianças
perança de vida aumentou apenas 3%. O aumento de gastos escolares ricas permanecem mais anos na escola, que u m ano numa univer-
produziu resultados mais estranhos ainda; caso contrário n ã o teria sidade é desproporcionalmente mais caro do que u m ano no secun-
ocorrido ao Presidente Nixon prometer, nesta primavera, que toda dário e que a maioria das universidades particulares depende - ao
criança teria, em breve, o "direito de ler", antes de deixar a escola. menos indiretamente - do dinheiro arrecadado pelos impostos.
Nos Estados Unidos seriam necessários 80 bilhões de dólares A escolarização obrigatória polariza inevitavelmente uma so-
para assegurar o que os educadores chamam de igual tratamento para ciedade; e t a m b é m hierarquiza as n a ç õ e s do m u n d o de acordo com
todos, na escola primária e secundária. Isto é mais que o dobro dos u m sistema internacional de castas. Países cuja dignidade educacio-
36 bilhões que são gastos agora. As projeções de custos, feitas, inde- nal é determinada pela m é d i a de anos-aula de seus habitantes estão
pendentemente, pelo Departamento de Saúde, Educação e Bem-Es- sendo classificados em castas, classificação que está intimamente
tar e pela Universidade da Flórida indicam que para 1974 as cifras relacionada com o produto nacional bruto e é muito mais dolorosa
correspondentes serão de 107 bilhões contra 45 bilhões projetados que esta última.
agora; e estas cifras omitem totalmente os vultosos custos do que se O paradoxo das escolas é evidente; quanto maiores os gastos,
chama "Educação Superior" para a qual a demanda cresce ainda mais maior sua destrutividade dentro e fora de casa. Este paradoxo deve
rapidamente. Os Estados Unidos que em 1969 gastaram perto de 80 tornar-se assunto público. Admite-se geralmente, agora, que o am-
bilhões de dólares no esquema de "defesa", incluindo a m a n u t e n ç ã o biente físico será em breve d e s t r u í d o pela poluição bioquímica, a
das tropas no Vietnã, são, evidentemente, pobres demais para ofere- n ã o ser que invertamos as tendências atuais de p r o d u ç ã o de bens
cer igualdade de escolarização. O comité presidencial para o estudo físicos. Dever-se-ia reconhecer t a m b é m que a vida social e pessoal
das finanças escolares deveria perguntar n ã o como aguentar ou dar está a m e a ç a d a igualmente pela poluição Saúde, E d u c a ç ã o e Bem-es-
u m jeito nestes custos crescentes, mas como evitá-los. tar, o inevitável subproduto do consumo obrigatório e competitivo
A escolarização obrigatória, igual para todos, deve ser reco- de bem-estar.
nhecida como impraticável, ao menos economicamente. Na A m é r i - A escalada das escolas é t ã o destrutiva quanto a escalada ar-
ca Latina, a quantia de n u m e r á r i o público, gasta com cada estudante mamentista, apenas que menos visível. Em toda parte do mundo os
de grau universitário, é 350 e 1.500 vezes a quantia gasta com u m ci- custos escolares aumentaram mais rapidamente que as matrículas e
d a d ã o m é d i o (isto é, o cidadão que está na faixa i n t e r m é d i a entre os que o produto nacional bruto; em toda parte os gastos escolares per-
mais pobres e os mais ricos). Nos Estados Unidos, a discrepância é manecem sempre mais a q u é m das expectativas dos pais, mestres e
menor, mas a d i s c r i m i n a ç ã o é mais refinada. Os pais mais ricos, uns alunos. E m toda parte esta situação desencoraja tanto a motivação
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quanto o financiamento de u m plano em grande escala para a apren- impor os ditames de seus educadores por meio de inspetores bem
dizagem n ã o escolar. Os Estados Unidos estão provando ao mundo intencionados e de exigências empregatícias; mais ou menos como
que nenhum país pode ser suficientemente rico para manter u m sis- o fizeram os reis espanhóis que i m p u n h a m os ditames de seus teó-
tema escolar que satisfaça as demandas que este mesmo sistema cria logos pelos conquistadores e pela Inquisição.
pelo simples fato de existir; porque u m sistema escolar bem-sucedido H á dois séculos os Estados Unidos lideraram u m movimento
escolariza pais e alunos para o supremo valor de u m sistema escolar mundial para acabar com o m o n o p ó l i o de uma Igreja única. Ago-
mais amplo cujo custo aumenta desproporcionalmente quando graus ra precisamos abolir constitucionalmente o m o n o p ó l i o da escola e,
mais elevados estão em demanda e se tomam mais escassos. com isso, de u m sistema que legalmente combine preconceito com
Em vez de dizer que a igualdade escolar é temporariamente discriminação. O primeiro artigo dos Direitos (bill ofrights) de uma
impraticável, devemos reconhecer que ela é, por princípio, economi- sociedade moderna e humanística corresponderia à primeira emenda
camente absurda e que tentá-la é castração intelectual, polarização à Constituição dos Estados Unidos: "O Estado n ã o fará leis para regu-
e destruição da credibilidade no sistema político que a promove. A lamentar a educação". N ã o haverá obrigatoriedade ritual para todos.
ideologia da obrigatoriedade escolar n ã o aceita limites lógicos. A Casa Para isto, precisamos de uma lei que proíba toda discrimina-
Branca deu ótimo exemplo disso. O Dr. Hutschnecker, o "psiquiatra" ção na contratação empregatícia, nas eleições, na a d m i s s ã o a cen-
que tratou Nixon antes que fosse declarado idóneo para a candida- tros de aprendizagem baseados na prévia frequência a determinado
tura, recomendou ao Presidente que todas as crianças entre seis e curso. Isto n ã o excluiria a aplicação de testes de qualificação para o
oito anos fossem examinadas por psiquiatras para se descobrir as que exercício de algum papel ou função, mas eliminaria a absurda dis-
tinham tendências destrutivas e estas deveriam receber tratamento. criminação atual em favor das pessoas que obtiveram determinada
Se necessário, deveriam ser reeducadas em instituições especializa- habilidade às custas de maiores somas do erário público, ou - caso
das. Esta r e c o m e n d a ç ã o o Presidente mandou-a ao Departamento de bastante semelhante - que conseguiram u m diploma que n ã o tem
Saúde, Educação e Bem-estar para ser apreciada. Realmente, campos relação nenhuma com qualquer emprego ou trabalho concreto. So-
de concentração preventivos para pré-delinquentes seria u m lógico mente resguardando as pessoas de serem desqualificadas por qual-
aperfeiçoamento do sistema escolar. quer coisa em sua carreira escolar, pode a abolição constitucional da
realizável, mas confundi-la com obrigatoriedade escolar é confun- A escolaridade n ã o promove nem a aprendizagem e nem a
dir salvação com Igreja. A escola tornou-se a religião universal do justiça, porque os educadores insistem em embrulhar a instrução
proletariado modernizado, e faz promessas férteis de salvação aos com diplomas. Misturam-se, na escola, aprendizagem e atribuição
pobres da era tecnológica. O Estado-nação adotou-a, moldando to- de funções sociais. Aprender significa adquirir nova habilidade ou
dos os cidadãos n u m currículo hierarquizado, à base de diplomas c o m p r e e n s ã o , enquanto que a p r o m o ç ã o depende da opinião for-
sucessivos, algo parecido com os ritos de iniciação e p r o m o ç õ e s mada de outros. A aprendizagem é, muitas vezes, resultado de ins-
hieráticas de outrora. O Estado moderno assumiu a obrigação de trução, ao passo que a escolha para uma função ou categoria no
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mercado de trabalho depende, sempre mais, do n ú m e r o de anos de O sistema escolar repousa ainda sobre uma segunda grande
frequência à escola. ilusão, de que a maioria do que se aprende é resultado do ensino. O
Instrução é a escolha de circunstâncias que facilitam a aprendi- ensino, é verdade, pode contribuir para determinadas espécies de
zagem. A atribuição das funções exige uma série de condições que o aprendizagem sob certas circunstâncias. Mas a maioria das pessoas
candidato deve preencher se quiser atingir o posto. A escola forne- adquire a maior parte de seus conhecimentos fora da escola; na es-
ce instrução, mas n ã o aprendizagem para essas funções. Isto n ã o é cola, apenas enquanto esta se tornou, em alguns países ricos, u m l u -
nem razoável, nem libertador. N ã o é razoável porque n ã o vincula as gar de confinamento durante u m p e r í o d o sempre maior de sua vida.
qualidades relevantes ou competências com as funções, mas apenas A maior parte da aprendizagem ocorre casualmente e, mesmo,
o processo pelo qual se supõe sejam tais qualidades adquiridas. N ã o a maior parte da aprendizagem intencional n ã o é resultado de uma
é libertador ou educacional porque a escola reserva a instrução para instrução programada. As crianças normais aprendem sua primeira
aqueles cujos passos na aprendizagem se ajustam a medidas previa- língua casualmente, ainda que mais rapidamente quando seus pais se
mente aprovadas de controle social. interessam. A maioria das pessoas que aprendem bem outra língua
O currículo sempre foi usado para consignar u m posto social. conseguem-no por causa de circunstâncias especiais e n ã o de apren-
Às vezes podia ser pré-natal: o karma lhe determina uma casta e a dizagem sequencial. Vão passar algum tempo com seus avós, viajam
linhagem o insere na aristocracia. Podia tomar t a m b é m a forma de ou se enamoram de u m estrangeiro. A fluência na leitura é t a m b é m ,
u m ritual, de uma sequência hierarquizada de ordenações sacras; ou quase sempre, resultado dessas atividades extracurriculares. A maio-
consistia numa sucessão de feitos na guerra ou caça; e posteriormente ria das pessoas que lê muito e com prazer crê que aprendeu isso na
podia até depender de uma série escalonada de favores do príncipe. escola; quando conscientizadas, facilmente abandonam esta ilusão.
A escolaridade universal visava a separar a atribuição de funções da Mas o fato de grande parte da aprendizagem parecer dar-se
história pessoal individual. Visava a dar a cada u m igual oportunida- ocasionalmente e ser u m subproduto de alguma outra atividade,
de para qualquer emprego. Ainda hoje em dia h á pessoas que erro- definida como trabalho ou lazer, n ã o significa que a aprendizagem
neamente crêem que a escola faz depender a confiança pública das planejada n ã o se beneficie da i n s t r u ç ã o planejada e que ambas n ã o
realizações relevantes da aprendizagem. Contudo, ao invés de igualar necessitem de aperfeiçoamento. O aluno, fortemente motivado, que
as oportunidades, o sistema escolar monopolizou sua distribuição. se defronta com a tarefa de adquirir nova e complexa habilidade
Para separar competência de currículo, as investigações sobre o pode beneficiar-se muito da disciplina, atualmente associada com
histórico da escolaridade de uma pessoa deveriam ser proibidas, da o mestre do passado que ensinava a ler hebraico, catecismo ou a
mesma forma como o são sobre credo político, frequência à igreja, l i - tabuada. A escola tornou este tipo de ensino desusado e desacredi-
nhagem, hábitos sexuais ou background racial. Leis devem ser promul- tado, ainda que haja muitas aptidões que u m estudante motivado e
gadas que proíbam a discriminação baseada na escolaridade prévia. com capacidade normal possa assimilar em poucos meses, se ensi-
Obviamente, as leis n ã o podem acabar com os preconceitos contra os nado nesta maneira tradicional. Isto se aplica tanto para aprender
não escolarizados, nem pretendem forçar alguém a casar-se com u m uma segunda ou terceira língua, como para ler ou escrever; para
autodidata, mas podem desencorajar a discriminação injustificada. aprender as linguagens especiais da álgebra, p r o g r a m a ç ã o em com-
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putadores, análise química, bem como para aprender habilidades Já agora, poderia ser providenciado u m sistema de crédito
manuais para ser relojoeiro, encanador, eletricista, técnico de televi- educacional em todo e qualquer centro de capacitação, com quan
são; ou t a m b é m dançar, dirigir carro e mergulhar. tias limitadas, para pessoas de todas as idades, e n ã o apenas para os
Em certos casos, a admissão a u m programa de aprendizagem pobres. Eu imagino este crédito sob a forma de u m passaporte edu-
que vise determinada habilidade pode pressupor c o m p e t ê n c i a em cacional ou uma "carteira edu-crédito" ("edu-credit card"), entregue
outra habilidade, mas n ã o deverá jamais depender do processo pelo a cada cidadão ao nascer. Para favorecer os pobres que provavel-
qual tais habilidades pressupostas foram adquiridas. Consertar u m mente n ã o usariam cedo seus subsídios anuais, poderia haver uma
aparelho de televisão pressupõe saber ler e alguma matemática; cláusula dispondo que haveria certas vantagens para os usuários
mergulhar exige saber nadar; dirigir carro, bem pouco de ambos. tardios dos "direitos" acumulados. Esses créditos v ã o permitir que
O progresso na aprendizagem de habilidades é mensurável. N ã o a maioria das pessoas adquiram as habilidades mais demandadas
é difícil precisar quais os melhores recursos necessários, em tempo e quando quiserem, melhor, mais rapidamente, com menor custo e
material, para u m adulto médio motivado. O custo de ensinar uma com menos efeitos colaterais indesejáveis do que na escola.
segunda língua da Europa Ocidental, atingindo u m nível elevado Já n ã o faltarão por muito tempo professores potenciais de
de fluência, fica entre quatrocentos a seiscentos dólares nos Estados habilidades porque, por u m lado, a demanda por uma habilidade
Unidos; para uma língua oriental o tempo de instrução necessário se desenvolve com sua prática dentro de uma comunidade e, por
p o d e r á ser o dobro. Isto seria ainda muito pouco, comparado com o outro, uma pessoa exercendo determinada habilidade t a m b é m po-
custo de doze anos de escola na cidade de Nova York (condição para deria ensiná-la. Mas, atualmente, os que exercem habilidades que
admitir u m trabalhador ao Departamento de Saúde) - quase quinze
estão em demanda e que exigem u m professor humano são desen-
m i l dólares. N ã o h á dúvida de que tanto o professor como o tipógrafo
corajados a partilharem essas habilidades com outros. Isso é feito
e o farmacêutico protegem seu comércio mediante a ilusão pública de
por professores que monopolizam os registros de ensino ou por
que seu treinamento é muito caro.
sindicatos que protegem seus interesses de classe. Centros de habi-
As escolas t ê m o direito sobre a maioria dos fundos educacio-
lidades que fossem julgados pelos fregueses n ã o pelas pessoas que
nais. O treinamento intensivo que custa menos que a escolariza-
empregam ou pelo processo usado, mas pelos resultados, abririam
ção correspondente é privilégio dos suficientemente ricos para
insuspeitas oportunidades de trabalho, muitas vezes até mesmo
dispensar a escola e daqueles que são enviados pelo exército ou
para aqueles considerados, agora, inimpregáveis. N ã o h á razão para
grandes firmas para se formarem no seu campo de trabalho. N u m
que tais centros n ã o possam estar no p r ó p r i o local de trabalho, onde
programa de gradativa desescolarização da e d u c a ç ã o nos Estados
o empregador e sua força de trabalho fornecessem instrução, bem
Unidos, haverá, no início, uma l i m i t a ç ã o dos recursos disponíveis
como empregos, para aqueles que escolhessem usar seus créditos
para o treinamento intensivo. Mas, posteriormente, n i n g u é m teria
educacionais desta maneira.
obstáculos para, em qualquer é p o c a de sua vida, escolher u m tipo
de i n s t r u ç ã o entre centenas de habilidades possíveis, às custas do Surgiu, em 1956, a necessidade de ensinar rapidamente espa-
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tros de religião na Arquidiocese de Nova York para que pudessem Se abrirmos o "mercado", as oportunidades de aprendizagem-
comunicar-se com os porto-riquenhos. M e u amigo Gerry Morris -treino podem ser vastamente multiplicadas. Isso depende de conju-
anunciou por uma rádio espanhola que precisava de pessoas do gar o professor certo com o aluno certo quando bem motivado por
Harlem que falassem espanhol. N o dia seguinte havia uma fila de um programa inteligente, sem o constrangimento de u m currículo.
aproximadamente duzentos adolescentes diante de seu escritório e A instrução livre e competitiva é uma blasfémia subversiva
ele escolheu quarenta e oito - muitos dos quais haviam abandona- para o educador ortodoxo. Dissocia a aquisição de habilidades da
do a escola antes de concluírem o curso fundamental obrigatório educação "humana" que as escolas associam intimamente e por isso
(school ãropouts). Treinou-os no uso do Manual de Espanhol pu- favorece uma aprendizagem n ã o licenciada, bem como u m ensino
blicado pelo Instituto de Serviço aos Estrangeiros (FSI) dos Estados n ã o licenciado, por motivos inexprimíveis.
Unidos e indicado para uso de linguistas com treinamento superior, Está em voga atualmente uma proposição que parece, à primei-
e dentro de uma semana estavam funcionando - cada u m cuidando ra vista, ser muito ajuizada. Foi elaborada por Christopher Jencks,
de quatro nova-iorquinos que desejavam aprender a língua. E m seis do Center for the Study of Public Policy, e endossada pelo Office o f
meses a missão estava realizada. O Cardeal Spellman p ô d e anunciar Economic Opportunity. Advoga que os "direitos" educacionais ou
que havia 127 p a r ó q u i a s em que ao menos três membros do staff os subsídios educacionais sejam entregues aos pais ou alunos para
sabiam comunicar-se em espanhol. N e n h u m programa escolar teria que os gastem nas escolas de sua escolha. Esses direitos individuais
obtido esses resultados. poderiam significar importante passo na direção certa. Precisamos
Os instrutores tornam-se escassos por causa da crença no va- de uma garantia para o direito de cada cidadão à parte igual dos
lor dos registros. O certificado constitui uma forma de manipula- recursos educacionais oriundos dos impostos, o direito de fiscalizar
ção mercadológica e é plausível apenas a uma mente escolarizada. esta parte, o direito de mover uma ação quando negada. É uma for-
A maioria dos professores de artes e comércio são menos hábeis, ma de garantia contra a taxação regressiva.
menos inventivos e menos comunicativos que os melhores artesãos A proposição de Jencks começa, p o r é m , com uma declaração
e comerciantes. A maioria dos professores de espanhol e francês que sinistra, de que os conservadores, liberais e radicais, todos se quei-
lecionam no s e c u n d á r i o n ã o falam a língua t ã o bem quanto seus xaram, em uma época ou outra, que o sistema educacional america-
alunos o fariam depois de meio ano de adequado treinamento. Ex- no dá muito pouco incentivo aos educadores profissionais para que
periências feitas por Angel Quintero, em Porto Rico, mostram que eles possam fornecer à maioria das crianças uma e d u c a ç ã o de alta
muitos adolescentes, se tiverem incentivos adequados, programas qualidade. A proposição condena a si própria ao advogar subsídios
e acesso a instrumentos, são muito mais eficientes para introduzir educacionais que deverão ser gastos em escolarização.
seus colegas nas explorações científicas das plantas, estrelas, m a t é r i a É o mesmo que dar a u m coxo u m par de muletas e recomen-
e na descoberta de como e por que u m motor ou rádio funciona do dar-lhe que só as use amarradas uma na outra. Como a proposição
que a maioria dos professores escolares. para subsídios educacionais se apresenta agora, ela favorece o jogo,
n ã o só dos educadores profissionais, mas t a m b é m dos racistas, dos
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promotores de escolas religiosas e de outros, cujos interesses são so- estar dissociada da frequência obrigatória. Tanto a aprendizagem de
cialmente segregacionistas. Enfim, restringir os "direitos" educacio- habilidades quanto a educação do senso inventivo e criativo podem
nais para uso exclusivo nas escolas favorece o jogo de todos os que ser favorecidos por disposições institucionais, mas são de natureza
querem continuar vivendo numa sociedade em que o progresso so- diversa e muitas vezes oposta.
cial está vinculado n ã o a u m comprovado conhecimento, mas a uma A maior parte das habilidades são adquiridas e aperfeiçoadas
genealogia de aprendizagem pela qual se s u p õ e seja este adquirido. por exercícios práticos, porque implica o d o m í n i o de u m proceder
Esta discriminação em favor das escolas que predomina nas expla- definido e previsto. O ensino de habilidades pode basear-se, por isso,
nações de Jencks pelo refinanciamento educacional pode desacredi- na simulação de circunstâncias em que será usada. Mas a educação do
tar u m dos princípios mais necessários para a reforma do ensino: a uso das habilidades criativas e inventivas não pode basear-se em exer-
devolução ao educando ou ao seu tutor mais p r ó x i m o da iniciativa e cícios práticos. A educação pode ser o resultado de uma instrução,
responsabilidade financeira pela sua aprendizagem. mas de u m tipo de instrução totalmente distinto de treino prático.
A desescolarização da sociedade implica u m reconhecimen- Deriva de uma relação entre colegas que já possuem algumas das cha-
to da dupla natureza da aprendizagem. Insistir apenas na instru- ves que d ã o acesso à informação memorizada e acumulada na e pela
ção prática seria u m desastre; igual ênfase deve ser posta em outras comunidade. Baseia-se no esforço crítico de todos os que usam estas
espécies de aprendizagem. Se as escolas são "o lugar errado" para m e m ó r i a s criativamente. Baseia-se na surpresa da pergunta inespera-
se aprender uma habilidade, são "o lugar mais errado" ainda para se da que abre novas portas para o pesquisador e seu colega.
obter educação. A escola realiza mal ambas as tarefas; em parte por- O instrutor de habilidades se apoia n u m conjunto de circuns-
que n ã o sabe distinguir as duas. A escola é ineficiente no ensino de tâncias que permitem ao aprendiz desenvolver respostas-padrão. A
habilidades, principalmente, porque é curricular. Na maioria das es- função do orientador educacional ou do mestre está em ajudar a que
colas, u m programa que vise a fomentar uma habilidade está sempre os aprendizes façam este encontro para que a aprendizagem possa
vinculado a outra tarefa que é irrelevante. A história está ligada ao ocorrer. Junta algumas pessoas com outras, partindo de suas próprias
progresso na matemática; e a assistência às aulas, ao direito de usar questões n ã o resolvidas. No m á x i m o , ajuda o aluno a formular sua
o campo de jogos. perplexidade, pois somente uma clara formulação do problema lhe
A escola é ainda menos eficiente na concatenação das circuns- dará a possibilidade de encontrar seu companheiro, levado como ele,
tâncias que incentivam o uso franco e explorador das habilidades neste momento, a investigar o mesmo assunto no mesmo contexto.
adquiridas, para o qual reservo o termo "educação liberal". A p r i n - Reunir colegas para fins educacionais parece, à primeira vista,
cipal razão disso é que a escola obrigatória e a escolarização tor- mais difícil que encontrar instrutores de habilidades e parceiros de
nam-se u m fim em si mesmo: uma estada forçada na companhia um jogo. Uma das razões é o profundo medo que a escola implantou
de professores, que paga o duvidoso privilégio de poder continuar em n ó s , u m medo que nos torna severos. A troca n ã o autorizada de
nessa companhia. Assim como o ensino de habilidades deve ser l i - habilidades - mesmo de habilidades indesejadas - é mais viável e
berto de cerceamentos curriculares, assim deve a educação liberal por isso parece menos perigosa do que a ilimitada oportunidade de
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reunir pessoas que compartilham u m interesse que para elas, neste geralmente fracassam porque estão presos a currículos, estruturas
momento, é social, intelectual e emocionalmente importante. de curso e a d m i n i s t r a ç ã o burocrática. Nas escolas, inclusive nas
O professor brasileiro Paulo Freire descobriu que qualquer universidades, gasta-se a maioria dos recursos tentando comprar o
pessoa adulta pode começar a ler em questão de 40 horas, se as p r i - tempo e a motivação de u m n ú m e r o limitado de pessoas para que
meiras palavras que decifrar estiverem carregadas de significado elas assumam determinados problemas e os resolvam segundo u m
para ela. Paulo Freire faz com que os "alfabetizadores" se desloquem programa ritualmente definido. A mais radical alternativa para a es-
para algum lugarejo e descubram palavras que traduzam assuntos cola seria uma rede ou u m sistema de serviços que desse a cada ho-
importantes e atuais, como sejam, o acesso a u m açude ou as dívi- mem a mesma oportunidade de partilhar seus interesses com outros
das para com o p a t r ã o . À noite os moradores se r e ú n e m para dis- motivados pelos mesmos interesses.
cutir essas palavras-chave. C o m e ç a m a perceber que cada palavra Para esclarecer, tomemos u m exemplo: como poderia funcio-
permanece no quadro-negro mesmo depois que o som dela haja nar u m encontro intelectual em Nova York. Qualquer pessoa, em
desaparecido. As letras continuam a revelar a realidade e a torná-la qualquer momento e por u m preço m í n i m o , poderia identificar-se
manejável como u m problema. Constatei muitas vezes como os par- em u m computador dando-lhe endereço, n ú m e r o de telefone e i n -
ticipantes dessas discussões cresciam em consciência social enquan- dicando o livro, artigo, filme ou gravação sobre os quais gostaria de
to aprendiam a ler e a escrever. Parecia que tomavam a realidade em discutir com u m parceiro qualquer. Dentro de poucos dias poderia
suas m ã o s quando escreviam-na no papel. receber pelo correio uma lista de outras pessoas que, recentemente,
Lembro-me de u m homem que se queixava do pouco peso do tomaram a mesma iniciativa. C o m esta lista poderia combinar, por
lápis: era difícil m a n e j á - l o porque n ã o pesava tanto quanto uma pá; telefone, u m encontro com pessoas que, a princípio, se tornariam
lembro-me t a m b é m de outro que no caminho para o trabalho parou conhecidas apenas pelo fato de terem procurado u m diálogo sobre
com seus companheiros e escreveu no chão, com a enxada, a palavra o mesmo assunto.
que haviam discutido: água. Congregar pessoas de acordo com seus interesses sobre deter-
Os "encontros educacionais" entre pessoas que foram devi- minado assunto é muitíssimo fácil. Permite a identificação simples-
damente escolarizadas é outro assunto, mas os que n ã o precisam mente à base do m ú t u o desejo de discutir uma afirmação feita por
dessa ajuda são minoria, mesmo dentre os leitores de jornais sé- uma terceira pessoa, e deixa a iniciativa de combinar o encontro
rios. A maioria n ã o p o d e r á e nem deverá reunir-se para discutir ao indivíduo. Levantam-se normalmente três objeções contra essa
u m slogan, uma palavra ou u m quadro. A ideia, p o r é m , é a mesma: minha sugestão, que ainda está em estruturação. V o u apresentá-las
p o d e r ã o reunir-se em torno a u m problema escolhido e definido não só para esclarecer a teoria subjacente à sugestão - porque elas
por eles mesmos. A aprendizagem criativa e pesquisadora requer ilustram a arraigada resistência à desescolarização da e d u c a ç ã o e à
que os participantes todos estejam igualmente perplexos perante os separação da aprendizagem do controle social - mas t a m b é m por-
mesmos termos ou problemas. Grandes universidades tentam inu- que podem ajudar a sugerir recursos existentes e que n ã o s ã o atual-
tilmente alcançar esta aprendizagem multiplicando os cursos; mas mente usados para fins de aprendizagem.
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A primeira objeção é: Por que a autoidentificação n ã o pode são de mundo, competência, experiência, ou outra característica?
ser baseada t a m b é m numa ideia ou n u m tema? Certamente, esses Novamente, n ã o haveria razões contrárias à possível ou efetiva i n -
termos subjetivos t a m b é m poderiam ser usados n u m sistema de trodução dessas restrições discriminatórias em algumas das muitas
computador. Os partidos políticos, as igrejas, sindicatos, clubes, as- Universidades - com ou sem paredes - que poderiam usar os en-
sociações de vizinhos e sociedades profissionais já organizaram suas contros-título como u m instrumento organizacional básico. Posso
atividades educacionais dessa maneira e, na realidade, atuam como imaginar u m sistema destinado a incentivar encontros de pessoas
escolas. Congregam pessoas para examinar certos "temas"; estes são interessadas em que o autor do livro escolhido esteja presente ou
tratados em cursos, seminários e currículos em que os presumíveis representado; ou u m sistema que garanta a presença de u m com-
"interesses comuns" estão previstos. Tais congressos temáticos são, petente orientador; ou u m sistema a que tenham acesso apenas os
por definição, professorizados (teacher-centered): requerem uma alunos inscritos em u m departamento ou matriculados em uma es-
presença autoritária que defina para os participantes o ponto inicial cola; ou ainda u m sistema que permita encontros apenas de pessoas
de sua discussão. que definiram sua posição básica em relação ao livro a ser debatido.
Em contrapartida, nos encontros por motivo de u m título de Poder-se-ia encontrar, para cada uma dessas restrições, vantagens
livro ou filme etc, na sua forma mais simples, deixa-se ao autor de- com fins específicos de aprendizagem. Mas temo que, as mais das
finir a linguagem especial, os termos e a estrutura em que se coloca vezes, o motivo real de propor tais restrições seja a desconfiança,
determinado problema ou acontecimento; e isto possibilita aos que oriunda da p r e s u n ç ã o de que as pessoas são ignorantes: os educa-
aceitam este ponto de partida identificarem-se uns aos outros. Reu- dores querem evitar que ignorantes se r e ú n a m com ignorantes em
nir, por exemplo, pessoas em torno à ideia de "revolução cultural" torno a u m texto que eles podem n ã o compreender e que eles lêem
leva, geralmente, à confusão ou à demagogia. Mas reunir interes- apenas porque estão interessados nele.
sados em ajudar-se mutuamente a entender determinado artigo de A terceira objeção: Por que n ã o dar, aos que procuram parceiros,
Mao, Marcuse, Freud ou Goodman está dentro da vasta tradição de assistência incidental que facilitará seus encontros - espaço, horário,
aprendizagem liberal, desde os Diálogos de Platão - que se baseiam material e proteção? Isto é feito atualmente pelas escolas com toda
em presumíveis afirmações de Sócrates - até os c o m e n t á r i o s de To- a ineficiência característica das grandes burocracias. Se deixarmos a
m á s de Aquino sobre as sentenças de Pedro Lombardo. A ideia de iniciativa das reuniões aos que procuram parceiros, as organizações
reunir-se em torno a u m título é, pois, totalmente diversa da teoria que n i n g u é m , hoje em dia, classifica de educacionais, provavelmen-
em que se baseou a criação dos clubes de seleção de livros (Great te farão isto bem melhor. Penso nos proprietários de restaurantes,
Books): em vez de basear-se na seleção de alguns professores de C h i - editores, serviços telefónicos, gerentes das seções de grandes firmas
cago, quaisquer duas pessoas podem escolher qualquer livro para comerciais, agentes de viagens que poderiam melhorar seus serviços
análise mais aprofundada. tomando seus recintos atrativos para reuniões educacionais.
A segunda objeção: por que n ã o incluir na identificação dos Em u m primeiro encontro, digamos, em u m café, os parceiros
que procuram parceiros informações sobre idade, antecedentes, v i - poderiam identificar-se colocando o livro em discussão p r ó x i m o a
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suas xícaras. As pessoas que tomaram a iniciativa desses encontros to a e d u c a ç ã o formal, ministrada nas escolas. Radical alternati-
logo a p r e n d e r ã o quais itens abordar para encontrar as pessoas que va para uma sociedade desescolarizada exige n ã o apenas novos e
procuravam. O risco de que a discussão autoescolhida com u m ou formais mecanismos para a aquisição formal de habilidades e sua
mais estranhos possa levar à perda de tempo, desilusão ou mesmo aplicação educacional, mas implica novo enfoque da e d u c a ç ã o i n -
a enfado é, certamente, menor que o mesmo risco assumido por cidental ou informal.
u m candidato à escola. U m encontro arranjado pelo computador A educação incidental n ã o pode mais voltar às formas que a
para discutir u m artigo que apareceu numa revista nacional, man- aprendizagem teve nos povoados ou nas cidades medievais. A so-
tido n u m café da Quarta Avenida, n ã o obrigará a nenhum dos par- ciedade tradicional era mais parecida a u m conjunto de círculos
ticipantes a ficar na companhia de seus novos conhecidos por mais concêntricos de estruturas significativas, ao passo que o homem
tempo do que leva para tomar uma xícara de café, nem estará obri- moderno precisa aprender a encontrar sentido em muitas estrutu-
gado a encontrar-se com qualquer u m deles uma segunda vez. H á ras às quais está ligado apenas marginalmente. Nos povoados, a l i n -
grandes oportunidades de que isso ajudará a descerrar a opacidade guagem, a arquitetura, o trabalho, a religião e os costumes familiares
da vida em uma cidade moderna, a fazer novas amizades, a realizar eram coerentes e se explicavam e se reforçavam mutuamente. Cres-
trabalhos autoescolhidos e fazer leituras críticas. (É inegável o fato cer n u m deles implicava crescimento nos outros. Mesmo o apren-
de que o FBI poderia fazer u m registro das leituras e encontros das dizado especializado era subproduto de atividades especializadas,
pessoas; que isto ainda preocupe a alguém em 1970 é divertido para como fazer sapatos ou cantar salmos. Se u m aprendiz jamais chegasse
u m homem livre que, quer queira quer não, contribui com sua parte a mestre ou perito, contribuía para fazer sapatos ou para solenizar
para afogar os bisbilhoteiros nas mesquinharias que ficam coletando.) os serviços religiosos. A educação n ã o competia em tempo com o
Tanto o intercâmbio de habilidades quanto o encontro de par- trabalho e nem com o lazer. Quase toda a educação era complexa,
ceiros baseiam-se na pressuposição de que educação para todos sig- durava a vida toda e n ã o era planejada.
nifica educação por todos. N ã o é o recrutamento para instituições es- A sociedade c o n t e m p o r â n e a é o resultado de projetos cons-
pecializadas que leva a uma cultura popular, mas, sim, a mobilização cientes e neles devem ser projetadas oportunidades educacionais.
de toda a população. O direito igual de cada pessoa de exercer sua Nossa confiança na i n s t r u ç ã o especializada e de tempo integral pela
competência para aprender e instruir-se é, atualmente, pré-esvazia- escola tende a diminuir; temos que achar outras maneiras de apren-
do pelos professores com certificado. Por sua vez, a competência do der e ensinar: a qualidade educacional de todas as instituições deve-
professor é restringida ao que é permitido fazer na escola. E mais, rá aumentar novamente. Este p r o g n ó s t i c o é, no entanto, muito am-
trabalho e lazer estão alienados u m do outro enquanto efeito: supõe-se bíguo. Pode significar que os homens da era moderna serão sempre
que tanto o expectador quanto o trabalhador cheguem ao local de tra- mais vítimas de u m real processo de instrução e m a n i p u l a ç ã o total,
balho prontinhos para ajustar-se a uma rotina preparada para eles. uma vez privados da mais leve pretensão de i n d e p e n d ê n c i a crítica
A a d a p t a ç ã o , na forma usada nos projetos de produtos; a ins- que as escolas liberais agora ministram para, ao menos, alguns de
t r u ç ã o e a publicidade molda-os para suas funções t ã o bem quan- seus alunos. Pode significar t a m b é m que os homens v ã o escudar-se
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menos atrás de certificados obtidos em escolas, ganhando coragem giões sem o sobrenatural e religiões sem deuses, mas nenhuma que não
para "responder à altura" e desse modo controlar e instruir as insti- subdivida o mundo em coisas, tempos e pessoas que são sagrados e ou-
tuições de que participam. Para assegurar isto devemos aprender a tros que, consequentemente, são profanos. A constatação de Durkheim
medir o valor social do trabalho e do lazer pela permuta educacio- pode ser aplicada à sociologia de educação, pois a escola é, também,
nal que eles ensejam. Participação efetiva na política de uma rua, de numa perspectiva bem semelhante, absolutamente divisória.
u m lugar de trabalho, de uma biblioteca, de u m programa noticioso A simples existência da escolaridade obrigatória divide qualquer
ou de u m hospital é, portanto, a melhor medida para avaliar seu sociedade em dois campos: certos períodos de tempo, processos, ser-
nível como instituição educacional. viços e profissões são "académicos" ou "pedagógicos", outros não. O
o
Recentemente, falei a u m grupo de alunos do 2 grau que es- poder de a escola dividir a realidade social n ã o tem limites: a educa-
tavam organizando u m movimento de resistência contra a obriga- ção torna-se "não do mundo" e o mundo torna-se "não educativo".
toriedade de terem que ingressar na série seguinte. Seu lema era: A partir de Bonhoeffer, os teólogos c o n t e m p o r â n e o s chamaram
"participação, mas n ã o simulação". Estavam decepcionados porque a atenção para a confusão hoje existente entre a mensagem bíblica
isto fora interpretado como exigência para menos e n ã o para mais e a religião institucionalizada. Apelam para a experiência quando
educação. Lembrei- me da resistência que Karl Marx o p ô s a u m item dizem que a liberdade cristã e a fé, geralmente, tiram proveito da se-
do programa Gotha que - h á cem anos - queria proibir o trabalho cularização. Suas afirmações, evidentemente, soam blasfemas para
de crianças. O p ô s - s e porque achava que a educação dos jovens s ó certos eclesiásticos. Sem dúvida, o processo educacional se benefi-
podia dar-se no trabalho. Se o melhor fruto do trabalho humano for ciará da desescolarização da sociedade, mesmo que esta exigência
a educação que dele p r o v é m e a oportunidade que dá ao homem de soe para muitos escolarizantes como traição ao Iluminismo. Mas é o
iniciar a educação de outros, e n t ã o a alienação da sociedade moder- p r ó p r i o Iluminismo que está sendo extinguido nas escolas.
na no sentido pedagógico é ainda pior que sua alienação económica. A secularização da fé cristã depende da dedicação que a ela
O maior obstáculo para chegar a uma sociedade que realmente t ê m os cristãos enraizados na Igreja. De forma algo semelhante, a
eduque foi muito bem definido por u m amigo meu, negro, em C h i - desescolarização da educação depende da liderança dos que foram
cago. Disse-me que nossa imaginação estava "totalmente escolariza- criados nas escolas. N ã o podem servir-se do currículo como álibi
da". Permitimos que o Estado ausculte as deficiências educacionais para a tarefa: cada u m de n ó s permanece responsável pelo que foi
universais de seus cidadãos e crie uma repartição especializada para feito dele, mesmo que nada mais possa fazer do que aceitar sua res-
tratá-las. Partilhamos, portanto, da ilusão de que é possível distin- ponsabilidade e servir como advertência aos outros.
guir entre o que é educação necessária para os outros e o que n ã o é;
exatamente como as gerações passadas que faziam leis para definir
o que era sagrado e o que era profano.
Durkheim dizia que o fato de se dividir a realidade social em dois
campos foi a verdadeira essência da religião antiga. Há, dizia ele, reli-
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