Aleitedebarros, Thalita Brena Souza Miranda

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AS TERRITORIALIDADES PRESENTES NA REGIÃO AMAZÔNICA:

UMA ANÁLISE SOBRE A POLÍTICA DE MERCADO IMOBILIÁRIO E


USO DO SOLO NA ORLA DE BELÉM /PA.

Thalita Brena Souza Miranda


Universidade da Amazônia.
[email protected]

Rodrigo Luciano Macedo Machado


Universidade Federal do Pará.
[email protected]

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar as territorialidades presentes no espaço geográfico
amazônico, a partir do processo de intervenção urbana, política de mercado, e uso do solo na
Avenida Pedro Álvares Cabral, próximo à orla de Belém/PA. A importância do estudo consiste em
fazer uma discussão sobre as transformações socioeconômicas ocorridas com a reestruturação
urbana na área. Discutiu-se o levantamento de dados através de entrevistas com os órgãos
responsáveis pela liberação das obras na área. Foi abordada a atuação do Estado capitalista no
processo da produção do espaço urbano.Dessa maneira, serão analisadas as formas que o mercado
imobiliário utiliza para expandir seus empreendimentos, e a (re) produção do capital imobiliário
em Belém, buscando compreender as articulações feitas por esses agentes imobiliários no eixo da
Avenida Pedro Álvares Cabral.

Palavras-Chave: Espaço Urbano. Capital imobiliário. Empreendimentos.

GT-1: Reestruturação urbana e econômica na produção do espaço: agentes e processos.

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1. Introdução.

Um dos intuitos de estudo das ciências humanas, e principalmente da geografia é


compreender como o processo do modo capitalista de produção vem contribuindo na produção do
espaço urbano. Nas últimas décadas, este fenômeno adquiriuuma importante e ativa função dentro
da economia do modo capitalista de produção, sendo principalmente o espaço urbano,
fundamentado como valor de uso e valor de troca, na exploração de lucros fundiários e
imobiliários.
Este artigo consiste em analisar as transformações, a partir da política de mercado
imobiliário, e uso do solo na Avenida Pedro Álvares Cabral, inserida na orla de Belém/PA.
Sobre os objetivos do estudo, consiste em analisar as transformações das Políticas
Territoriais do Mercado Imobiliário e os impactos socioeconômicos da apropriação do solo na
cidade de Belém, Estado do Pará. Analisar tambémas transformações socioespaciais dos
Empreendimentos Imobiliários na Avenida Pedro Alvares Cabral. No entanto, é importante
ressaltar que foi feito um recorte tendo como referência o ano de 2010 a 2018, com o objetivo de
compreender as formas de reestruturaçãoimobiliária neste período, através da construção dos
condomínios de luxo ao longo da área em questão, próximo à orla de Belém, e por quais motivos
esses agentes com seu mercado imobiliário formal nos últimos anos passou a se concentrar no
eixo da Avenida, pois, esse processo que vem ocorrendo através do mercado imobiliário no eixo
da Avenida Pedro Álvares está despertando novas formas na produção do espaço urbano.
A contribuição teórica está voltada para a leitura de livros, artigos científicos, teses sobre a
temática estudada, pertencentes a autores especialistas, além das pesquisas nos sites das
incorporadoras e construtoras com objetivo de investigar quais as estratégias utilizadas por esses
agentes do capital privado. As pesquisas foram realizadas na área de execução de tais
empreendimentos, e também dedados secundários oriundos de pesquisas já realizadas na época da
entrega da obra/finalização dos empreendimentos.

A pesquisa qualitativa se constitui na coleta de informações no local correspondente ao


fenômeno. Neste sentido, para obter autenticidade na pesquisa, foi de extrema importância à
capacidade de articular a teoria e a pesquisa empírica. Esta modalidade auxiliou na percepção que

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os atores sociais obtêm sobre as mudanças no espaço geográfico. A pesquisa empírica, que é
representada a partir de visitas ao espaço estudado que primeiramente foi de observação.

As vias fluviais presente nas cidades amazônicas representam uma característica de


fundamental importância para a configuração do espaço, e das áreas centrais da cidade,
impulsionando o desenvolvimento urbano, pois auxiliam nos meios para transportes das pessoas,
mercadorias contribuindo para a movimentação da economia local, e também construindo uma forte
relação mercadológica com o rio. A dinâmica econômica contribuiu para o desenvolvimento e
configuração do espaço urbano da cidade de Belém. No caso de Belém, o dinamismo econômico
existente, e que definiu a centralidade do atual núcleo histórico da cidade, é atribuído, em grande
parte, ao contato com a mais importante via de transporte nos primeiros momentos de sua história
(TRINDADE, 2006).

O desenvolvimento econômico na cidade de Belém vivenciou períodos diferenciados, pois até


1960, a dinâmica econômica local da cidade era definida pela rede hidrográfica, que auxiliou
fortemente a movimentação e o desenvolvimento de algumas atividades econômicas como a
Borracha, propiciando vantagens a partir de um caráter dentrítico1 que provocou exemplos positivos
na organização espacial urbana. O contato com as vias fluviais passou a ser o elemento de maior
importância no sentido de definir não só as áreas centrais, mas também as centralidades
(TRINDADE, 2006). Neste sentido passamos a compreender a grande importância que as vias
fluviais possuem para Belém e todas as cidades amazônicas, e o quanto contribuiu para a organização
e desenvolvimento interno das cidades.

1
A rede dentrítica consiste no sistema comercial a partir do regime hidrográfico fluvial.

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2. A Organização do Espaço Urbano e os Modeladores do Espaço.

O acelerado desenvolvimento urbano brasileiro está atrelado ao crescimento industrial, e


esta realidade é um reflexo da transição que se constitui em um processo histórico baseado em um
país agrário exportador, para um país urbano industrial, portanto o Brasil criou condições internas
para o aumento de seu potencial econômico com base no capitalismo industrial. Neste sentido o
país se insere em uma dinâmica de desenvolvimento de produção industrial a nível mundial, no
entanto considerado um processo de desenvolvimento industrial tardio.

A urbanização brasileira apresentou um intenso movimento de transformações no espaço


geográfico de suas cidades que criou condições adversas, sobretudo, no interior de suas
metrópoles, mediante a um sistema capitalista industrial. Além disso, as formas espaciais
resultantes desse processo marcam o campo de lutas representado pelas cidades, cidades
consideradas como espaços privilegiados para a luta de classes. Diante desse contexto, as
metrópoles enfrentam muitos problemas, pois a cidade também é receptáculo dos fluxos
migratórios de origem camponesa ou urbana, tornam-se inchadas, caóticas e congestionadas,
principalmente quando as políticas urbanas não acompanham a sua evolução, e estimulam grandes
transformações na dinâmica espacial das cidades nos dias atuais. No entanto, o desenvolvimento
social, e suas necessidades, não acompanham o desenvolvimento urbano, e a forma de
organização espacial estabelecida pelo fenômeno urbano. Este processo provoca intensas
mudanças na vida cotidiana da população nas cidades brasileiras, estimulando buscar novas
formas de sobrevivência, no que diz respeito às novas relações estabelecidas.

Em referência à organização do espaço urbano, ela constitui-se em um conjunto de


diferentes usos do solo que podem ser analisados a partir de processos e formas espaciais, na
medida em que agentes sociais promovem e tornam-se modeladores do espaço, provocando o
espaço urbano fragmentado. Este conjunto de distintos usos da terra pode ser analisado de um
modo em consenso ou em conflito. Tais usos são promovidos por diferentes modeladores do
espaço, o que Roberto Lobato Corrêa chama de agentes sociais, que são responsáveis por práticas
espaciais, dotadas de interesses e estratégias que geram conflitos entre eles, e que refletem na
produção e organização espacial da cidade, pois, a cidade é tida como um espaço urbano

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organizado e articulado refletindo em um campo de lutas da sociedade. Entre os agentes
modeladores do espaço urbano, estão presentes: O Estado, os proprietários fundiários, promotores
imobiliários, os proprietários dos meios de produção, entre outros. A partir de cada função e ação
de tais agentes modeladores, ocorre à produção de áreas como: áreas residenciais, áreas
industriais, áreas comerciais, de serviços, entre outras, formando a organização do espaço. Eis o
que é espaço urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de
símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais
aparente, materializada nas formas espaciais (CORRÊA, 1989). A partir deste contexto, cabe
ressaltar que os agentes sociais estão presentes em cada formação socioespacial da produção do
espaço urbano, materializando os processos sociais em um ambiente construído no que diz
respeito à rede urbana. Cada agente modelador possui seu papel no processo de produção do
espaço urbano, criando estratégias e práticas espaciais às atividades que os caracterizam.

No que concerne à região Amazônia, e a nova forma de organização espacial criada pela
rede urbana na região, a partir de 1960 ocorre grandes transformações neste período,
impulsionando uma nova configuração econômica na região. Com este cenário na região, o
processo de desenvolvimento e urbanização que intensifica a exploração, o Estado do Pará como
exemplo, dispõe de uma urbanização que era relacionada unicamente ao rio em um determinado
período, e com o processo mais recente, e a chegada dos grandes projetos provocou a abertura de
estradas, trazendo grandes modificações com a nova dinâmica sem perder a identidade ribeirinha
na região. É importante ressaltar que a urbanização no Estado do Pará ocasionou o surgimento de
várias cidades, no entanto, este processo e a ocupação se dá de forma diferenciada na região. A
rede urbana que se encontrava em uma dinâmica dependente das vias fluviais, se constitui a partir
de uma funcionalidade construída desde o período colonial e de exploração na região que estão
relacionados às atividades econômicas que contribuíram significativamente para a dinâmica
espacial deste período. Com o intenso processo de desenvolvimento na região, há o surgimento de
uma nova configuração no que se refere à rede urbana amazônica.

Com relação ao desenvolvimento do espaço urbano de Belém do Pará, o bairro comercial


belenense, dava vida às outras atividades presentes que se desenvolviam no centro. O centro
comercial representado pelo bairro do comércio apresentava um forte movimento durante o

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período diurno a partir das atividades desenvolvidas nesta área, promovendo a formação da rede
urbana e estabelecendo uma centralidade na cidade, além disso, dando abertura para as outras
áreas assumirem o papel de bairros residenciais. Deste modo, a urbanização da cidade, a partir da
década de 1960, houve o surgimento acentuado de inúmeros arranha céus e edifícios próximos a
Baía do Guajará consolidando a verticalidade presente no núcleo central de Belém. Paralelo ao
surgimento de edifícios aos arredores do bairro do comércio há a aparição de bairros residenciais
nobres, como o bairro de Nazaré, ocupado pela classe média Belenense, e a terceira área formada
por bairros pobres, caracterizando a periferia. Segundo Penteado (1968), a organização do espaço
urbano de Belém a partir da centralidade, e os bairros da periferia estabelecem nitidamente os
distintos setores, notados através da paisagem que possuem seus elementos funcionais. O centro
permite reconhecer áreas bastante definidas a partir da evolução da cidade. O centro comercial é
caracterizado por várias funções comerciais bastante expressivas ao ponto de se tornarem setores
bem individualizados, sejam os serviços relacionados às proximidades ao porto, serviços de
importação e exportação, serviço de repartições públicas, setor atacadista, entre outras. Neste
sentido, é possível afirmar que há a presença da pequena indústria no centro comercial Belenense.
É interessante ser ressaltado, que este processo contribui significativamente para o
desenvolvimento da capital paraense e sua organização espacial urbana de Belém.

Figura 1 - Empreendimentos imobiliários. Área representada na imagem. Fonte: Google Earth, 05 de Maio, 2019.

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Nesta pesquisa, onde se trata da orla da cidade de Belém, se constituem em uma área onde
a reestruturação urbana intensificou-se de forma significativa neste espaço, representando certa
“territorialidade” marcada pelo processo de mercado imobiliário a partir do uso do solo, presente
na orla Belenense, baseado nos padrões das cidades litorâneas existentes pelo Brasil. Neste
sentido, este estudo propõe analisar as transformações ocorridas no espaço geográfico através do
uso na Avenida Pedro Álvares Cabral, próximo à orla de Belém/PA. Sobretudo, analisar as
transformações socioespacias e ambientais que surgem a partir deste processo.

A investigação deste tema será desenvolvida especificamente na área dos 28 km da


Avenida Pedro Álvares Cabral, onde concentra parte da orla de Belém, área que compreende os
alguns dos empreendimentos imobiliários pesquisados na área em questão.

3. Os Grandes Empreendimentos Imobiliários na Avenida Pedro Álvares Cabral.

A cidade de Belém vem passando nos últimos por transformações a partir do processo de
expansão urbana, tendo como uma das áreas principais desse processo, a Avenida Pedro Álvares
Cabral. Ao passar por esta área, próximo a orla de Belém, notadamente observam-se os arranha-
céus que estão sendo construídos. Um eixo da avenida concentra boa parte dos 28 km da orla de
Belém, banhados pela Baía do Guajará e pelo Rio Guamá, tornando-se um espaço almejado por
grandes construtorasdo capital privado da cidade.De acordo com essa expansão, é observada uma
mudança na organização espacial na área, principalmente com a chegada de tais empreendimentos
no local. Nos últimos anos, a configuração espacial da Avenida vem ocorrendo mudanças
estimuladas pela chegada dos empreendimentos privados, tendo como principal destaque o
mercado imobiliário.

Nos anos 2000foram construídos, entre outros, os edifícios Premium, MirageBay e


Crystal Bay, das construtoras Premium e Cyrella,projetados para a orla da Baía do Guajará.
Empreendimentos imobiliários seguindo o modelo de condomínio de luxo localizado na Avenida,
próximo à orla de Belém. A partir da chegada desses empreendimentos, políticas públicas de
expansãobusca o aumento de investimentos na área através do setor econômico, de comércio, e
serviços, contribuindo para a implantação dos empreendimentos no eixo da Avenida. O capital

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imobiliário vem acompanhando o processo de expansão urbana na área. Neste sentido, houve uma
proliferação desses condomínios ao longo da Avenida.

Esses agentes são responsáveis pelas construções de uma nova forma de morar oferecido
pelo capital imobiliário formal, na construção de condomínios de luxo. Em Belém, esse modelo de
moradia vem sendo realizado principalmente nas áreas de expansão urbana da cidade. Com a
chegada desses condomínios, ocorreram mudanças na economia da área que alteram, não somente,
a dinâmica social dos moradores desses enclaves, como também dos moradores extramuros.

Os condomíniosmaterializados pelos agentes imobiliários no espaço urbano começaram a


obter um novo valor de uso e um novo modo de habitar imposto na sociedade contemporânea.
Esses enclaves fortificados na Avenida Pedro Álvares Cabral são espaços fechados onde só entram
moradores, convidados e trabalhadores que apenas prestam serviços para esses
empreendimentos.O discurso criado pelos agentes imobiliários (Incorporadores e Construtoras)
para atrair seus compradores é ofertando, principalmente, à exclusividade e mercadoria segurança
do “bem viver” entre outras comodidades.

Diante desse contexto, é interessante ser ressaltado a participação do Estado capitalista,


através da sua extensão de poder, do municipal, estadual e federal que assume uma postura por
meio de planos e projetos que prevalece o domínio do espaço ao interesse do capital. O modo
capitalista de produção acaba desempenhando múltiplos papeis na produção do espaço urbano,
oferecendo condições de produção por diversos agentes que desse modo capitalista, destacando-se
o mercado imobiliário, como mostra Rodrigues (2012).

Os instrumentos constantes no Estatuto da cidade, que regulamentam os artigos


182 e 183 da constituição Federal, não são aplicáveis diretamente na segregação
socioespacial, decorrente dos loteamentos murados e dos condomínios fechados. A
função social da cidade é um principio no qual esta é produzida por todos e que
deverá atender aos interesses da maioria. Um princípio que não faz parte, ainda, do
imaginário social. A função social da propriedade urbana conta com instrumentos
aplicáveis quando a propriedade é não utilizada ou subutilizada. Esses
instrumentos não são aplicáveis quando se trata de apropriação privada do espaço
público e/ou espaços coletivos encerrados intramuros. Verifica-se, assim, a
fragilidade da legislação de uso do solo e dos princípios da função social da cidade
e da propriedade constantes da Constituição Federal, para conter o processo de
acumulação por despossessão. A segregação socioespacial resultante de
loteamentos murados e condomínios fechados é forma e conteúdo de reafirmação
da propriedade da terra urbana. (RODRIGUES apud VASCONCELOS;
CORRÊA; PINTAUDI, 2013 p.159).

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Segundo Corrêa (1999), ao fazer uma análise em relação à atuação do Estado nas cidades
capitalistas brasileiras, aponta algumas questões importante a respeito do mesmo, para o autor a
primeira analise refere-se ao fato do Estado:

Atuar diretamente como grande industrial, consumidor de espaços e de localização


especificas, proprietário fundiário e promotor imobiliário, sem deixar de ser
também um agente de regulação do uso do solo e o alvo dos chamados
movimentos sociais urbanos (CORRÊA, 1999, p.24).

Percebe-se que o Estado é apenas mais um agente responsável pela produção e


reprodução do espaço social, sua ação na produção desses espaços será comandada por agentes
responsáveis pelo capital privado. Segundo Corrêa (1999), além do Estado ser caracterizado como
produtor do espaço urbano é também, responsável pela implantação de serviços públicos, como
sistema viário, água, esgoto, calçamento, parques, iluminação pública, coleta de lixo, entre outras
atividades.

De acordo com avanço da discursão sobre o papel do Estado é verificado certa


complexidade quando se trata da produção do espaço urbano, pois, hora o Estado age como agente
produtor do espaço social, hora age de forma contrária, exercendo a função de segregador, no
entanto sua ação vai prevalecer aos interesses de determinados grupos. Devido algumas
legislações que,

[...] garante à municipalidade de muitos poderes sobre o espaço urbano, poderes


que advêm, ao que parece, de uma longa tradição reforçada pelo fato de que, numa
economia cada vez mais monopolistas, os setores fundiário e imobiliário, menos
concentrados, constituem-se em fértil campo de atuação para as elites locais.
(CORRÊA, 1999, p.26).

O Estado se mostra conveniente com o processo de segregação socioespacial, deixando


que espaços públicos façam parte dos intramuros dos condomínios fechados, transferindo não
apenas os espaços públicos para os agentes imobiliários, mas, também a segurança que é
obrigação do Estado constitucionalmente.

423
3.1 Empreendimentos Imobiliários: Base de dados levantados in loco.

O surgimento dos empreendimentos imobiliários ao longo da Avenida Pedro Alvares


Cabral, na cidade de Belém, trazem sérias implicações e transformações socioeconômicas, e
ambientais, causando impactos negativos para a comunidade do entorno desses empreendimentos,
promovendo o processo de desterritorialização, na medida em que há uma quebra de vínculos, com
relação à sociedade que habita há anos, nesse espaço urbano. O processo promove modificações que
se constitui como um reflexo da política de mercado, a partir do valor do uso da terra na orla de
Belém, e também contribui para reconfiguração urbana na área, provocando profundas mudanças
socioeconômicasà margem desta área.

Ao longo da área estudada foram identificados vários empreendimentos materializados por


diferentes agentes imobiliários (incorporadores e construtoras) nos trechos da Avenida, como é
possível observar na tabela 1:

Tabela 1- Empreendimentos realizados pelos incorporadores e construtores na Avenida Pedro


Álvares Cabral
Construtora e
Incorporadora Condomínio Características do Condomínio

CYRELA Brazil Mandarim Vendas a partir


Apartamento 50 - 124m² 1 - 3 quartos de 768.665,00
Reality Belém

CYRELA Brazil MirageBay Apartamento 225 -552m² 4 quartos Vendas a partir


de 3.059.254,00
Reality

VIVAREAL City Bay Apartamento 302m² 4 quartos Vendas a partir


Quadra Engenharia de 2.000.000

VILLAGE Ed. Village Apartamento 265m² 5 quartos Vendas a partir


Crystal Bay. de 2.500.000

AQUARIUS Aquarius Tower Apartamento 444m² 5 suítes Vendas a partir


TOWER de 3.000.000
Síntese
Tabela feita pela autora, a partir de dados fornecidos pelas Construtoras, 2019.

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Para atender a necessidade dos moradores intramuros, outros empreendimentos de bens e
serviços, foram instalados próximo aos condomínios.Os empreendimentos como supermercados,
farmácias, entre outros são responsáveis por atender as necessidades dos moradores dos
condomínios fechados que tinham que se deslocar até o centro da cidade para realizar compras de
mercadorias em geral. Os empreendimentos citados não vêm suprindo apenas os moradores
intramuros, moradores que estão do lado de fora desses enclaves “fortificados” também são
consumidores desses espaços. O novo valor de uso e o novo estilo de morar, produzido pelo capital
imobiliário promovem alterações no espaço, além de criar um novo padrão de segregação
socioespacial, delimitando espaços “seguros” como destaca Rodrigues (2012).

A execução desses empreendimentos imobiliários é preocupar-se essencialmente com as


relações da política mercadológica de grandes construtoras e o lucro trazido a partir desse
processo. A presença dos empreendimentos evidencia que ocorreu uma reestruturação do espaço
físico, não atentando para os riscos ambientais inaceitáveis, por executarem obras próximas ao rio,
com a comunidade residente entorno aos empreendimentos, e as possíveis mudanças
socioambientais que a população sofrerá a partir dessa nova dinâmica implantada. A imagem
abaixo é possível observar a proximidade do Empreendimento com orla de Belém:

Figura 2 – Condomínio MirageBay. Fonte: Google Earth, 20 de Maio, 2019.

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O capital imobiliário vem acompanhando o processo de expansão urbana ao longo da
Avenida Pedro Álvares Cabral. Ocorrendo um aumento desses empreendimentos no eixo da
rodovia, esse processo vem sendo realizado por agentes imobiliários através de um “discurso
utilizado para vender esta mercadoria terra, edificações, equipamentos e meios de consumo
coletivo e áreas verdes é o da segurança e da qualidade de vida intramuros” (RODRIGUES, 2013
p. 148), neste sentido, houve uma proliferação desses condomínios fechados Avenida Pedro
Álvares Cabral.

Figura 3 - Condomínio Aquarius Tower. Fonte: Google Earth, 20 de Maio, 2019.

O novo valor de uso e o novo estilo de morar, produzido pelo capital imobiliário
promovem alterações no espaço, além de criar um novo padrão de segregação socioespacial,
delimitando espaços “seguros” como destaca Rodrigues (2012).

Um novo modo de habitar, pago pelos compradores aos empreendedores


imobiliários, com a ilusão de que ele atende á sua necessidade de segurança. A
“nova forma de morar” – o isolamento em lugares fechados onde só entram
moradores, seus conhecidos, e os trabalhadores que exercem suas atividades
intramuros – demonstra o novo tipo de segregação socioespacial. (RODRIGUES
apud VASCONCELOS; CORRÊA; PINTAUDI, 2013 p. 160)

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Com o crescimento dos Empreendimentos Imobiliários na área em questão, Além do
shopping Center, próximo ao Bairro, outros empreendimentos foram construídos próximos aos
condomínios. Os empreendimentos como Supermercados, Concessionárias, farmácias, entre
outros, são responsáveis em atender as necessidades dos moradores dos condomínios.

Figura 4 - Ponto turístico: Ver o Rio. Fonte: Google Earth, 06 de Junho, 2019.

Dentre o surgimento de outros empreendimentos, nos dias atuais, percebemos que a


intervenção urbana a partir da execução dos empreendimentos imobiliários, atenta para produção
do espaço, a parir do embelezamento de áreas de lazer próximas à orla da cidade. Diante desse
contexto, é interessante destacar que este processo de intervenção urbana na área, ocasiona uma
profunda reconfiguração também no espaço físico e aumentam os riscos.
A reestruturação na orla de Belém, área próxima a alguns dos empreendimentos
imobiliários exemplificados neste trabalho, foi planejada com o intuito de promover uma forte

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característica turística que se assemelha as orlas presentes em muitas cidades no Brasil. E, também
proporcionar uma forte projeção turística sem a preocupação com o fato de interferir de algum
modo nas relações de organização espacial da comunidade residente, sobretudo com o risco de
provocar implicações socioambientais na orla, pois é evidente a falta de política pública nos
bairros que estão localizados no entorno desta área, que não acompanhou de fato o
desenvolvimento urbano do espaço. Como exemplo a falta de segurança é uma das dificuldades
enfrentadas pelos frequentadores deste lugar.

[...] precisa-se pensar o desenvolvimento para a escala humana e o turismo para


beneficio de comunidades, ou do desenvolvimento local, significa adotar políticas
que criem oportunidades de trabalho e renda para a maioria, sem deixar de dar a
proteção social requerida, colocando o homem no centro do poder, promovendo
sua realização. Concretamente, espera-se que sejam programadas atividades de
revalorização do lugar e de crédito aos habitantes do lugar[...].

Nos dias de hoje, percebe-se que o forte aumento do Mercado Imobiliário, refletido na
produção do espaço urbano, não se faz presente, somente, nas áreas e bairros mais nobres das
cidades, mas, também em áreas consideradas periféricas, provocando contrastes na organização do
espaço. Hoje os terrenos dos bairros do Guamá, Jurunas, Terra-firme, Cidade Velha, Condor e
Cremação são alvo de especulação imobiliária, pois grandes construtoras visam vender a antiga
área de periferia como o espaço ideal, com a melhor vista arejamento e vias de acesso da cidade
(CHAVES, 2013). Neste sentindo, é possível observar que a política de Mercado utiliza várias
estratégias, em áreas distintas, para desenvolver seus interesses.

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ConsideraçõesFinais.

Analisou-se neste trabalho as transformações ocorridas a partir da intervenção urbana na


área da Avenida Pedro Álvares Cabral, próximo a orla de Belém Pará, onde foram executados uma
série de empreendimentos imobiliários. Constatou-se a ocorrência de uma reconfiguração urbana
na Avenida, provocando profundas mudanças estruturais e sociais à margem desta área, além dos
riscos ambientais.

O percurso teórico-metodológico deste trabalho abordou inicialmente o processo de


desenvolvimento urbano em caráter nacional, posteriormente dando ênfase na região amazônica,
uma discussão histórica, suas características peculiares, o processo de desenvolvimento e
ocupação na região e suas influências no Estado do Pará. Contextualizando essa discussão ao
processo de desenvolvimento urbano em Belém e região metropolitana, para entender as relações
existentes a partir do processo de urbanização.

Posteriormente buscou-se analisar as concepções a partir da Organização do Espaço


Urbano, e os Modeladores do Espaço, com o intuito de compreender quais as relações existentes
com o processo de desenvolvimento urbano. A partir dessas discussões pudemos apresentar os
Empreendimentos Imobiliários como uma intervenção urbana executados na área da Avenida
Pedro Álvares Cabral, que apresenta características relacionadas ao conceito de território na
medida em que possui relações de poder por parte do Estado, e de instituições privadas.

A partir deste contexto, é possível analisar o processo de (re) reprodução do capital


imobiliário ao longo do eixo da Avenida Pedro Álvares Cabral. Observou-se que esse agente tem
uma forte participação na produção e organização do espaço urbano. Através da construção de
enclaves fortificados que acabam alterando toda dinâmica dos indivíduos que estavam e estão
antes da chegada desses empreendimentos no local. O novo modelo de habitar, criado pelo capital
imobiliário está voltado para atender os interesses do mercado capitalista, atraindo principalmente
a população de classe media e alta para morar nesses novos empreendimentos imobiliários.

O Estado capitalista acaba dando suporte para esses novos empreendimentos instalados
ao longo da Avenida, principalmente na liberação de grandes áreas de terras para ocorrer

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amaterialização desses empreendimentos no local. Outro ponto que devemos destacar é ausência
do mesmo m relação à segurança. Devido essa ausência do Estado, o mercado imobiliário acaba
usando essa ausência para criar estratégias e atrair a população com maior poder aquisitivo que
buscam locais mais seguros para se “autosegregar” da violência urbana.

A mercadoria empreendimentos com fins residenciais de auto padrão, vendida como


segurança não é o único discurso criado pelo capital imobiliário. Vende-se o discurso da
exclusividade, do lazer e de empreendimentos de bens e serviços que se encontram mais próximos
dos condomínios. Dessa forma esses espaços acabam se tornando em locais valorizados,
ocorrendo principalmente à especulação imobiliária ao longo da Avenida. Dessa maneira, acaba
atraindo indivíduos com melhor padrão econômico e afastando grande parte da população de baixa
renda que ocupava esses espaços.

Nesse caso, os incorporadores e construtores responsáveis pela realização da propriedade


privada, acabam ocupando espaços públicos e coletivos, contribuindo para o surgimento da
desigualdade socioespacial, pois esses empreendimentos redefinem a dinâmica do espaço. Dessa
maneira, os agentes imobiliários ampliam sua renda, juros e lucros através da construção dos
condomínios que sempre oferecem aos seus usuários exclusividade, lazer e segurança contra os
indivíduos que vivem fora desse novo padrão de habitar.

Ainda se tratando do discurso usado pelos agentes responsáveis na construção dos


empreendimentos imobiliários, ofertando o novo modelo de morar, destacamos principalmente a
mercadoria segurança e a qualidade de vida intramuros. Esses incorporadores imobiliários se
utilizam de argumentos, que a desordem pública e a criminalidade encontram-se nos extramuros,
esta ligada ao outro, os indivíduos que habitam fora dos enclaves fortificados. Grupos que se
sentem ameaçados pela violência urbana e que podem pagar por esses espaços, se instalaram
nesses refúgios “seguros”, cercado por muros e portões de segurança, câmeras de vigilância, entre
outros serviços de segurança na tentativa de buscar formas de separação do outro, aquele que não
faz parte do intramuros.

Diante deste contexto, é importante ressaltar que a intervenção urbana a partir da


execução dos Empreendimentos imobiliários na Avenida Pedro Álvares Cabral, provoca
profundas transformações no espaço físico, e grandes alterações no âmbito socioespacial e

430
ambiental, na medida em que há mudanças vivenciadas pela população que reside ao entorno desta
área. E, os empreendimentos por se tratar de grandes obras próximas a orla, traz riscos
ambientaispara toda a população, a partir da utilização do solo próximo ao rio .

Percebemos que a execução dos Empreendimentos Imobiliários atentou em proporcionar uma forte
projeção sem a preocupação com o fato de interferir de algum modo nas relações de organização espacial
da área, sobretudo com o risco de provocar implicações socioambientais na área em questão, paralelo a
isso, é evidente que há uma forte contribuição do poder Estatal, pois sua ação privilegia os interesses de
grupos relacionados ao Mercado Imobiliário, se tornando produtor do espaço urbano, ao invés de produtor
do espaço social, pois se percebe em algumas áreas próximas, a falta de política pública, que não
acompanhou de fato o desenvolvimento urbano do espaço. Como exemplo a falta de segurança é uma das
dificuldades enfrentadas pelos frequentadores nestas proximidades.

Nos dias atuais esta cada vez mais evidente que as intervenções urbanas estão
caracterizadas por um conjunto de interesses, entre eles, políticos e econômicos que são
incentivados por instituições privadas, com a participação do Estado, criando estratégias e
convênios com o intuito de potencializar o desenvolvimento visando o lucro entre as instituições.
Muitos terrenos, na cidade de Belém como o Umarizal, onde está localizada parte da Avenida
Pedro Álvares Cabral, próximos a orla - as grandes construtoras fazem compras de terrenos-,
visando à especulação imobiliária, que estão dominando a orla de Belém.
Então, foi possível entender a partir desse estudo, que a ação do processo da Política de
Mercado Imobiliário, cresce cada vez mais, recebendo o incentivo do Estado Capitalista. E, a
partir da área em questão, percebe-se quea utilização do solo nas áreas analisadas que corresponde
a Avenida Pedro Álvares Cabral, próximo à orla de Belém, provocaproblemas sócio espaciais, e
traz riscos ambientais para toda a população.

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Referências:
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