Miíase

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Berne, miíase ou bicheira é uma infecção parasitária causada por

larvas de várias espécies de moscas que invadem a pele ou os


orifícios naturais, como olhos, nariz e ouvidos.

Miíase (berne ou bicheira) é uma palavra de origem grega (myia =


“mosca” + sufixo iasys = “moléstia”) que designa uma infestação
parasitária causada por larvas de várias espécies de moscas que
invadem o tecido cutâneo ou orifícios naturais (olhos, nariz, ouvidos,
vagina etc.) do organismo de animais vertebrados de sangue quente,
incluindo os seres humanos.

A doença, portanto, é uma zoodermatose. Dependendo do tipo de


mosca que deposita os ovos, quando eclodem, as larvas penetram
através da pele íntegra e utilizam o tecido saudável como recurso
alimentar para seu desenvolvimento. Chamadas de larvas biontófagas,
nas infestações mais extensas elas chegam a comprometer as
condições de saúde do hospedeiro. Já as denominadas larvas
necrobiontófagas proliferam somente em tecidos mortos, necrosados,
ou em matéria orgânica em decomposição. No passado, estas últimas
foram consideradas até úteis, uma vez que devoram o material em
putrefação das feridas.

Moscas têm predileção por ambientes úmidos e de clima quente. Seu


ciclo de vida possui quatro fases: ovo, larva, pupa e mosca adulta.
Além de doenças de pele, como o berne e a bicheira, trabalho
divulgado pela Fapesp revelou que cerca de 30% dos micro-
organismos encontrados nas moscas-varejeiras são capazes de causar
doenças nos seres humanos.

 
Classificação do berne

O berne pode ser classificado em primário e secundário, segundo a


forma como os ovos são depositados nos novos hospedeiros.

 
Miíase primária

Na miíase primária, ou furunculoide, especialmente as fêmeas das


moscas Dermatobia hominis — conhecidas popularmente como
moscas-varejeiras ou moscas-berneiras — e mais raramente as
moscas Calletroga americana, depositam seus ovos diretamente na
pele íntegra de pessoas e animais ou, então, no corpo de insetos que se
alimentam de sangue, que passam a servir de vetores para disseminar
a infestação.

As moscas-varejeiras têm maior tamanho, duas asas grandes e corpo


azul ou verde metálico. Em contato com o calor da pele de uma pessoa
ou animal, de 12 a 24 horas depois os ovos eclodem e surgem larvas
minúsculas, que darão continuidade ao ciclo evolutivo do inseto.
Assim que se veem livres, elas invadem o tecido subcutâneo do
hospedeiro através da abertura do folículo piloso ou de uma pequena
escoriação na pele.

O termo berne (nome científico dermatobiose) designa a lesão nodular


semelhante a um furúnculo, com um pequeno orifício no centro de
onde flui uma secreção amarelada ou sanguinolenta. É por esse
orifício que a larva da mosca consegue respirar.

Bernes podem aparecer em qualquer região do corpo humano, mas as


áreas mais afetadas são as pernas, os braços e o couro cabeludo. As
larvas permanecem sob a pele, valendo-se do tecido subcutâneo como
fonte de alimentação. Caso não sejam extraídas, depois de
aproximadamente 50 dias elas atingem a maturidade e caem no solo,
onde dão andamento ao ciclo evolutivo até se tornarem insetos
adultos.

Miíase secundária

Na miíase secundária, os ovos – mais de 200, 300 de cada vez – são


depositados em feridas abertas ou em mucosas e cavidades ulceradas
(como fossas e seios nasais, condutos auditivos, globos oculares) de
hospedeiros vivos. Causada pelas moscas Cochliomyia
hominivorax, Callitroga macelaria e espécies do gênero Lucilia,
assim que os ovos eclodem as larvas se instalam no ferimento e
passam a alimentar-se com o tecido vivo ou necrosado que encontram
no local.

Existem diferentes tipos de miíase secundária, popularmente


conhecida como bicheira. Merecem destaque a forma cutânea, quando
as larvas podem ser vistas na superfície de feridas na pele; e a
cavitária, quando grandes quantidades de larvas habitam orifícios
como ânus, vagina, nariz etc.

Sem tratamento, à medida que a infestação progride, os vermes


devoram os tecidos até atingirem os ossos. A doença é comum em
pessoas que vivem em condições precárias de higiene e saúde,
principalmente indivíduos com deficiências mentais ou transtornos
psiquiátricos que dificultem a busca e acesso a serviços de saúde.
O pé do diabético é um fator de risco para esse tipo de problema, que
nos casos em que resulta em infecção, pode ser mortal.

Embora pouco frequente, existe também um tipo de miíase humana,


chamada acidental ou pseudomiíase, cuja transmissão se dá pela
ingestão de líquidos ou alimentos contaminados com ovos ou larvas
dessas moscas. Após o consumos, os parasitas vão se alojar em órgãos
internos, especialmente no trato urinário e nos intestinos.

 
Sintomas de berne

Os sintomas variam de intensidade conforme e localização e o


tamanho da infestação, mas em geral incluem:

 Coceira;
 Dor;
 Sensação de movimento sob a pele;
 Queimação ou fisgada na área da lesão.

 
Diagnóstico de berne

 
Tanto na miíase primária quanto na secundária, o diagnóstico é
basicamente clínico e leva em conta os sinais e sintomas da doença,
que não é contagiosa. Em grande parte dos casos, é possível enxergar
a larva do berne quando ela aflora para respirar. Nas formas
secundárias, as larvas são visíveis na superfície atingida. Esses são
achados importantes para definir o diagnóstico.

É importante esclarecer o diagnóstico diferencial


com furúnculos, terçol, otites, rinites, abcessos ou lesões provocadas
pela presença de corpos estranhos, que podem ter aspecto semelhante.

 
Tratamento do berne

O tratamento da miíase primária consiste na retirada mecânica da


larva. Para tanto, fechar a abertura por onde ela respira com uma
camada grossa de vaselina, esmalte de unha, ou cobri-la com
esparadrapo (em alguns lugares, é comum usarem toucinho defumado
para atrair a larva) força a saída da larva, que pode então ser retirada
com uma pinça.

Mesmo com essas manobras, em alguns casos é necessário alargar o


orifício cirurgicamente para extrair a larva totalmente e evitar que
parte dele permaneça sob a pele, o que pode facilitar infecções. Para
evitar esse mesmo risco, especialistas também desaconselham
comprimir o local com os dedos para expulsar o parasita.

A extração mecânica das larvas intactas com pinça é também uma das
condutas prescritas para o tratamento da miíase secundária. No
entanto, a conduta vai depender da extensão e profundidade da ferida,
já que estruturas importantes do corpo (vasos, músculos, ligamentos)
podem estar sendo destruídas pela voracidade da larvas.

Em qualquer caso, a indicação do antiparasitário Ivermectina em dose


única, por via oral, que provoca paralisação e morte das larvas, mesmo
das regiões mais profundas, garante melhor resultado na retirada dos
vermes.
Tanto na forma primária quanto na secundária, o tratamento da miíase
visa a prevenir a reinfecção por larvas e as infecções bacterianas
secundárias. O local da lesão deve ser mantido limpo e coberto por
curativos que devem ser trocados todos os dias, de acordo com
orientação médica.

 
Recomendações para evitar berne

Bernes podem ocorrer em praticamente todo o território brasileiro, em


virtude das condições climáticas favoráveis à proliferação de insetos.
Sua frequência é maior nas zonas rurais.

A prevenção está diretamente associada ao combate às moscas


vetores, aos cuidados com a higiene pessoal, do ambiente e à
implantação do saneamento básico adequado. Algumas orientações
ajudam a prevenir:

 Use roupas que cubram a maior parte do corpo e passe repelente


naquelas que permanecerem expostas;
 Lave as mãos com frequência, especialmente antes das
refeições, depois de usar o banheiro, depois de lidar com terra,
plantas e adubos orgânicos;
 Coloque telas nas janelas e mosquiteiros ao redor das camas;
 Passe ferro quente nas roupas que foram colocadas no varal para
secar para eliminar quaisquer possibilidade de ovos terem sido
implantados nas peças ;
 Procure um médico tão logo surja a suspeita da infestação;
 Sob nenhum pretexto recorra à automedicação;
 Mantenha o lixo doméstico em sacos resistentes e bem
fechados;
 Evite a exposição de ferimentos que possam atrair o ataque de
moscas;
 Tome a vacina contra o tétano se ainda não foi imunizado.

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