2.1 - Manuel Bandeira - A Versificacao em Lingua Portuguesa
2.1 - Manuel Bandeira - A Versificacao em Lingua Portuguesa
2.1 - Manuel Bandeira - A Versificacao em Lingua Portuguesa
. DELTA
LARo·ussE
... BmLIOTECA
DA
. J\.D. U. U•
. I
..... ..,_
.
'
.. ·-'~,
.;._
TOMo· VI
. ,;,.·:.,
'·
' .
0 'verso e seus apoios ritmicos. - 0 verso Artur Az;evedo rimou, para ef~ito jotosq,.
e a unidade dtmica do discur~o poetico. Para a palavra lampada com a palavra estampa, com·
salientar o ritmo se tern valido os poetas, rtos pletando a rima com a palavra atona da, que .
varios idiomas, de recursos formais como sejam come<;a o verso seguinte, para cuja medida ·
os acentos de intensidade, os ,v'alores de sHabas concorre:
(quantidade), as\ rfmas, a a-Iiteraftio~ o encadea-
mento, o paralelismo, o acr6stico, ·. o 'n4mero Mandowme o senhor vigario
Q.ue lhe comprasse uma Hl.mpa'da
fixo de sHapas. Estudaremos aqui os que tern Para alumiar a estampa
sido utiliz;ados · em nosso idioma, a come<;ar Da senhora do Rosario.
pela rima. '
Manuel Bandeira utilizou·se desse tipo de
A rima. ..,---' Rima e a igualdak:Ie ou semelhan<;a rima em "Vulgivaga" e "Can<;ao das lagrimas
de sons na termina<;ao das! palavras: asa, casa;
asa, cada. N a rima asa, casa ha paridade completa de Pierrot", Carnaval. Poetas brasileiros con•
de sons a partir da vagal tonica; na rima asa, temporaneos (Geir Campos, Cassiano Ricardo
cada a paridade e s6 das. vogais: as rimas do. e outros), sem duvida por influencia de Louis
primeiro tipo se, chamam consoantes, as do se- Aragon, que foi 0 primeiro a usa-lo na poesia
gundo toantes. · francesa, ·tem•no introduz;ido nos seus poemas,
mas faz;endo a ou as vogais atonas pertencer
Na lingua francesa costumavam os poetas
rimar tambt!m a consoante. anterior a' vogal ao verso da rima e nao ao seguinte:
tonica: e a chamada rima com consoante de ••• seu campanario
apoio·. Houve urn poeta brasil~iro que empregou de idea~ ladril~o,
intencionalmente esse tipo de rima - Goulart entre · o azul do ar e o
de Andrade. Seu exemplo nao foi seguido. . chao que palm~lho.
(Geir Ca!Jlpos, "0 .sino", Arquip~lago.)
Admite-se entre as rimas consoantes a de
vagal aberta com vagal fechada: bela, estrela.
· Tanto poetas brasileiros como portugueses rimam
Pode arima ser feita entre. a palavra final
como consoantes duas palavras que tern na de urn verso e a palavra onde cai a primeira
silaba tonica um ditongo, outra uma vagal pausa do verso seguinte. E a rima interior, que
fechada ou aberta: beijo, d.esejo~ beijo, Tejo foi muito praticada pelos romanticos em quadras
(Florbela. Espan~a). Poetas brasileiros tern pra- de versos 'decassllabos: -
ticado. tal rima com palavtas agudas·: 'azuis, luz
(Alberto de Oliveira, Poesias, l~J. s~rie; G<trnier, Dorme, que eu velo, sedutora imagem,
Grata miragem que no ermo vi; . ·'.·
1912, pag. 209). Poetas portugueses rimam os Dorme .;..__ Imposslvel - qtie encontrei na vida!
• ditongos nasais tie e em: caes, q.lguensr (Antonio · Dorme, querida; que eu .nao volta aqui! :._.
. Nobre, "Males de Anto, ". S6). . · ("A Judia", de Tomas RibFiro)
sas, valorosas, dilatando, devastando, libertando
daquelas magistrais estrofes. Tambem sao .de .
usar com grande cautela as rimas chamadas
ricas ou raras, 0 oposto das rimas pobres ou
triviais, e que soam as ve.zes tao·afetadamente.
Os · versos que nao rimam sao chamados
brancos ou so1tos; as ·que estao fora da medida,
· quebradas·.
Ha quatro modos principa:s de dispor as rimas:
empare1hadas, cruzadas, enla~adas e misturadas.
Rimas emparelhadas sao as que se sucedem duas
a duas, como . no "Minuete" de Gon<;alves.
Crespo:
Espa~oso e" o sal.iio: jarras a cada canto
·Admira•se o Javor do teto de pau-santo.
Cadeiras de espaldar com fulvas pregarias;
Um enon:ne sofa; largas t"apefarias.
3240
VERSIFICA<;;:AO ~M lrNGUA PORTUGU~SA 3241
·-----~ -··----------
_____.
3Z42 - 'LfNGUA E LITERATURA
a esse efeito ritmico se da em frances o n001e Pode ainda levar mais de uma pausa interior ·
enjambement, para tradu<;:ao do qual propos Said (7\[/io sei, nem. vi, era).
Ali o voca. bulo cava!gamento. Na estrqfe 60 do
Canto V de Os Lusiadas ocorr~m tres belos
0 mesmo se passa com os hexassilabos e os
exemplos de enjambement:· heptassilabos. £stes, redondilhas maiores, sao 0
metro da preferencia popular. Exemplos de uns
Desfez-se a nuvem negra c c'u~ sonora e de outros:
Bramido .muito lange o mar soou,
Eu, levantando as maos ao santo cora Sumiu-se o sol esp1endido
Dos Anjos, que tiio longe nos guiou, 'Nas .·vag as rumorosas. ( 6 slla:bas)
· A· Deus pedi que removesse as duros
Casas que Adamastor contou futuros. .Ate nas f1on:s se encontra
A diferen~a da sorte:
· A nomenclatura dos versos regulares, como Umas enfeitam a vida,
Outras enfeitam a morte. (Redondilhas)
foram praticados em' nossa lingua ate o advento.
da poesia modernista, se faz medi;).nte prefixos Os octossilabos foram raros antes de Castilho.
gregos, de&igna:tivos dos numerais de 1 'ate 12 : . £ste est:reveu: "0 metro de oito silabas, pode-se
monossHabos; dissHabos, trissHabos, tetrasstlabos dizer que ainda nao e usado em "POrtugues."
. VERSIFICA<;.A.O EM LfNGUA PORTUGU~SA - 3243
Acrescentando: " ... quando mais e melhor -culti- Encontramo-lo de vez ein quando em Camoes:
vado, a julgarmo-lo pelos seus elementos, e pelo Posta que todos Etiopes eram; Doce repouso .de
que os franceses dele tem chegado a fazer, pode minha lembranfa. Tambem em Antonio Ferreira
vir ainda a ser muito apreciado". 0 vatidnio e Sa de Mit:anda. Outra variedade de decassilabo
e 0 que traz pausa na segunda e na setima si.-
realizou-se. Os poetas .parnasianos serviram-se
labas (A ferrea, precipitada bigorna). Conde-
dele com freqiiencia, nunca deixando, porem, nou,a Castilho e ta:lvez por isso nao tenha sido
de fazer cesura na quarta silaba. . · ·
usada pelos nossos romanticos, parnasianos e
Por que me vens com o mesmo riso,
simbolistas: Hoje sao muito encontradi~os em
Por que me vens com a mesma voz nossa poesia esses e outros decas~ilabos corientes
Lembrar aque!e paralso . •. ? na poesia francesa, como os que levam pausa na
("Requiescat", de Bilac} quinta e na oitava silabas, ou ainda .na quinta
e na setima:
No entanto ja Castilho registrava outias pau-
sas: na segunda silaba ·(Morrer e sem ao meu 0 sonho passou. Traz magoado o rim,
encanto) ; na terceira e na sexta . (7'erno amor Magoada .a cabet;a exposta ahumidade.
("Rondo de Colombina''. de Manuel Bandeira.)
que me faz feliz); Machado de Assis empregou-
-as todas ein "Mosca azul", "Flor da mocidade" 0 metro de onze silabas, chamado de arte
e outros poemas. maior, as vezes leva pausa na segunda, na quinta
Dos metros de nove sllabas mais usual e o e na oitava silabas e entao pode oferecer .um
que leva pausa na terceira e na sexta silaba, ritmo energico, pelo que foi preferido por Gon-
como· o praticou a nosso Gon~alves Dias na so- ~alves Dias em alguns de seus poemas indianistq.s
berba maldi~ao do velho tupi de "I,Juca~Pirama": de fei~ao epica :
--~!'
:;,it'LJ._. 1
Tu choraste em present;a da morte? Siio rudos, severos, cobertos de gloria,
'Na presen1=a de estranhos choraste? ]a prelios incitam, ja. cantam vit6ria.
'Nao descende o cobarde do forte: ("I-Juca Pirama")
Pois choraste, meu filho nao es!
As vezes pode levar pausa apenas na quinta Estrofac;ao~ - 0 discurso poetico ora se apre·
silaba e entao o efeito ~. ao contrario, de e;x:trem.1 senta em forma corrida, ora distribu1do em
do~ura: · grupos de versos, que se denominam estrofes,
est3ncias, ·cobra ou talho (poesia trovadoresca)
· Ail hcf quantos a1tos· que eu parti chorando e copla (can<roes populares). Coii,lposi~oes hi
Deste meu · saudoso, carinho~o lar! em que um certo numero de versos sao repetidos
·!< depois de cada estrofe: e o refrao, refrem ou
0 nome alexandrino dado ao metro de doze estribilho.
sllabas deriva ·do Roman ·d'Alexandre le Grand,
come~ado no seculo XII por Lambert ·Licors e As estrofes pod'em ser simples, isto e, fqrmadas
terminado no seculo seguinte por Alexandre de de versos da mesma mediqa; compostas, onde ,
.Bernay. ·. 86 · penetrou em nossa lingua pelos certos versos maiores se compoem com outros
meados do seculo XIX. Castro .Alves usou-o em menores; e livres, onde se admitem versos de
seus poemas "Poesia e mendicidade",' ·"A Boa qualquer medida.
Vista", "Pelas sombras", "0 tonel das danaides", Nas estrofes compostas o verso .maior ·e nor-
"Immensis orbibus anguis", "Deusa incruenta" mative, e o seu numero de sHabas impoe o do
e "No monte". -Usou-o, porem, como.o praticam verso menor. Assim, ao heptassllabo se associa
OS poetas de lingua espanhola, tsto e, como com- o de tres ou quatro sllabas; ao decassllabo, o
pasta de dais versos .de seis silabas, mas sein hexassilabo; ao hendecassHabo, o pentassilabo;
atender . a exigencia de nao. terminar 0 primeiro ao alexandrine, os de oito, seis ou quatro silabas.
hemistiquio em palavra esdruxula e quando ter- Segundo as estrofes se compoem de dais,.
minar em palavra grave, come~ar o ~gundo tres, quatro, cinco, seis, oito ou dei versos, re~
hemistiquio por vagal (Era uma tarde triste, cebem respectivamente as denomina':;Oes de dis~
mas Umpida e serena). Os nossos parnasianos ticos, tercetos ou tristicos, quadras au quartetos,
.obedeceram estritamente a li~ao dos classicos quintilhas, sextilhas, oitavas e decimas. As, ¢stl;"o;
franceses · na maneira de cesurar o alexandrine. fes de sete e nove versos nao.tem nome especial
Todavia, classicos e parnasianos nem sempre fa- 0 poema de um s6 verso se denqmina mon6st~co .
..ziam coincidir a pausa do sentido com a pausa
0 distico e multo empregado pe1o povci nos
· do h~mistiquio. Bilac e Guimaraens Passos, no seu
seus adagios (Agua mole em pedra. dura f 'Tanto-.
'Tratado ~e V ersifica~E.o, exemplificam como certo
o verso Dava-lhe a custo a sombra escassa e pe- bate ate que fura). Exemplos famosos sao ·as
quenina porqu~ a vagal final do primeiro hemis• de Guerra Junqueiro em ''A l.igrima" ..e o de
t1quio (o 'a de sombra) se .elide na vagal e inicial Castro Alves em "0 ton~l das. dan(\jdes". 0
do segundo hemist1quio; e como errado o. verso esquema das rimas e aa, bb, cc,
etc.
Dava-lhe a custo a somb;a fraca e pequenina, No poema em-·tercetos o esquema e aha, bcb,
por nao haver elisao. No .entanto a maneira na· cdc, ded, e assim por diante, sendo ad lihitum
tural de leJ:" ambos OS versOS e fazendo duas cf numero deles, mas a ultima estrofe deve ser
pausas interiores, a primeita em custo, a segunda uma quadra. Se, por exemplo, o ultimo ter~eto
em escassa e fraca. ~ss~ ritmo ternario, sem houver sido ded, a quadra obedecera aci esquema
aten<;ao a cesura mediana,, :e outros, como o efef. Tal e o tipo classico de. tercetos, que era.
quaternario ( 3 + 3 + 3) e os: de . corte irregular muito empregado para as elegias, epistolas e
sao correntes na moderna poesia de lingua por- eclogas. Os tercetos dos sonetos. apresentam di;
tuguesa. Exemplos de Ribeiro Couto: versas disposi<roes de rimas: aha, bah; aab, .ccb;·
abc, abc; e outras.
0 o1har nevoento. • • o passo len to. . . sonolento ..• N as quadras as rimas se dispoem das s.eguintes.
E em meio tique1e desalinho. pitoresco. . • '
maneiras: abcb,- ·abab, abba. Os versos -podem
Pe!os caminhos !e'vando fO!has de cores . . .
As caricias delicadissimas da essencia . . . ter todos a mesma medida, ou os impares uma.
e os pares outra, ou ainda os tres prim~iros
Neles nao h3. a elisao mediana, mas o ritmo uma e o quarto outra. Exemplo do primeiro tipo~
e 0 m~smo que resulta da leitura natural dos a quadra popular. Do segundo:
, versos seguintes de Francisca JUlia, onde existe
a elisao: bebrufada na.s aguas de um rega.to
· A flor dizia. em vao
A Corrente, onde bela se mira.va. . ..
Siio ~squeletos que de bragos levantados . ..
"Ai, niio me deixes, niio!"
E · senta·se. Com poe as roupa.s. Olha. em tomo ... ('~Nao me. deixes!", de G. Dias.)
o
6 Natureza., Ma.e perfida.! tu, que cria.s. • • ·
'Ta.nto a.'Qorto, que se tra.nsforma e se renova. . .•
Exemplo do terceiro tipo:
Da-se o nome de versifica':;ao poUmetrica aquela
'J\[o a.r sossegado um sino ca.nta.,'
em que se inisturain dois ou mais metros. A Um sino canta. no a.r sonibrio.
misttira de decassllabos com hexassilabos se da Palida, Venus se levanta... •. -~.
. ~
de du~s quintilhas. Exemplo da primeira ea cada urn ·tern como verso inicial o ?Iltimo
seguinte esparsa d~:: Sa ·de Miranda: verso do soneto anterior, e 0 decimo quinto se
A vossa bu.la. de amor compoe dos v~rsos repetidos, os quais devem
e
'J\[iio per a toda a gente: formar um sentido; Geir Campos renovou entre
Perdoa a culpa somente, n6s .essa fa<;anha virtuosfstica~ mas. fugindo ao
A pe~a niio, nem a dor. esquema ortodoxo das rim as, quer di~er, rim an-
E a.ssi fa.z a.mor com e1a., do ·Iivremente e as. ve~es nao rimando.
~u.e com espera.nc;a. incertci
'I'ra.z 6 mar · e morte certa. Os poetas modernos, alias, tern tornado ern
Leandro, e Hero d janela, relac;ao a construc;ao do soneto italiano toda sorte
Asii qu.e de amor e de1a
Ma.is se a.braca. qu.e se a.perta..
de liberdades. Jorge de Lima, em seu Livro de
Sonetos, rima as ve.zes apenas dais versos quais-
Exemplo da segunda, do mesmo autor: quer OU nao rima nenhuns OU rima OS quartetos
Assi me tem repa.rtido . segundo o esquema abed I abed,. etc. Cassiano
Extremos qu.e rtiio entertdo; Ricardo rima, no soneto ..0 her6i triste'', apenas
l)e toda parte corrido, . OS ultimos versos dos quartetos e tercetos (luas,
De todas desa.corrido,
De rtenhu.ma me defendo. ·
ruas, duas, suas); em outro soneto ("Eva ma-
A ·vida esta maT· segu.ra., , i:utina") sustenta u~a rima unica nos versos
Eu tenho outro mor cuida.do: p~res dos quartetos, no segundo verso do pri-
~u.e mal em tanto estima.do meiro terceto e no primeiro verso do· segundo
~u.e nesta. desavenJiU.ra.
Me fa.z desaventu.rado!
quarteto. Outros poetas vao ao ponto de nao
guardar da forma do soneto italiano senao a
Poemas de forma fixa. - Os principais distribuic;ao em dois quartetos e dais tercetos :
poemas de forma fixacultivados etn nossa lingua sonetos (se ainda se podem chamar assim) em
sao o soneto, o rondo, o rondel, a balada, o canto versos livres. ·
real, 0 vilancete, a vil:Lnel•a, a sextina, 0 pantum 0 SOnetO ingles, I SQ ffiUitO recentemente intrO'
e, o hak~. · ·· duzido em. nossa lingua, compoe-se-de tn$,s quar- .
0 soneto apresenta duas variedades: 0 soneto tetos e urn dfstico. Obedece ao esquema ·'ttbab I
italiano e 0 soneto ingles. · cdcd I efef I \gg au abba I cddc. I effe I gg,
0. soneto italiq.J).p compoe-se. de dais quart~tos fixado par· l:)urrey ao tempo de Elisabet. 86
e . dais tercetos. · A "distrib~is;ao ,das . rimas e tern pais de comum com o.soneto italiano 0
muito variavel. No. soneto dassjco . os qua:i:t~tos numero de versos. No Ultimo d~s "Quatro soiietos
SaO construJ:dos sabre duas rimas; OS tercetos, de meditac;ao", de Vinidus de Morais, os versos
sabre duas ou tres .. Eis OS ' esquemas para OS estao agrupados como 0 sao OS de um soneto
quartetos: abba I abba; abab I abab. Para os italiano, mas na realidade constituem urn soneto
tercetos: cdc I dcd; cde I cde; ccd I eed; cdd I ingles: tr'es quartetos, com rima:s independentes,
dcd; cdc I dcd; cde I ede. E i considerado irregu- e urn distico. Como tal vanios transcreve-lo:
_laridade misturar os dois escjuemas de quarteto;
. por exemplo, · rimar num quarteto abba e no Apavorado acordo em tteva. 6 lua.r
outro biwb ou abab ou baba. ·Mais irregular ainda E como o espectro do meu. sonho em mim
E sem destino, e lo.uco, .so.u ·o mar
e nao rimar OS versos do segundo quarteto com Patetico, sonamb.ulo e. sem fim. .
os do primeiro (abab lcdcd). 0 esquema que
parece comunicar ao soneto maior unidade e Des~d da noite, env.olto em sono; e os bra.~os
harmonia formais e abba 1 abba 1 cdc -1 aca. Como 1mas, · atra.io o firma.mento
Exemplo .de Bocage: · Enqu.anto os bruxos, ve1hos e deva.ssos,
Assovia.m. de mim na voz do vento.
Sabre estas dura.s, cavernosa.s' fraga.s,
~u.e o ma.rinho furor vai carcomendo, Sou o mar! sou o mar! meu corpo informe
Me estiio negra.s paix5es n'a.lma fervendo, Sem dimensao e sem razllo me leva
Como fervem no pego as crespa.s vagas. Para o silencio onde o Silencio dorme
· R.a.ziio feroz, o cora.c;iio me inda.gas, Enorme. E como o mar dimtro da treva
De meu.s erros a. sombra. esclarecendo,
E vas nele (a.i de mim!) palpando e vendo Num con~ta.nte a.rremesso largo e aflito
De a.guda.s a11sias venenosas chagas. Eu. me espeda.c;o em viio contra. o infinito.
Cege a. meus males, su.rdo a. teu. reclamo,
a
. Mil objetos de horror co ideia eu corro, . 0 rondo, forma franc~a. e
urn poema de
Solto gemidos, lagrimas derramo. quin~e versos, distribuidos em tres estrofes, se-
Raziio, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me. nao. amar: eu ardo, eu. amo; .
gundo ci esquema aabba I I
aabC aabbaC, a
Dizes-me que sossegue: eu peno, ·eu m?rro. maiuscula C representando as palavras iniciais
da priineira estrofe repetidas como estribilho e
Da-se o nome de coroa de. sonetos a umil ultimo verso . da segund~ e
da terceira estrofe.
serie de quinze, em que, .a partir do segundo, Exemplo de Goulart de·· AP.drade:
VERSIFICA<;;A.O EM. LINGUA· PORTUGU~SA - 3247-
La, Jcmge. entre aroores eu vejo, Venceu-me ,logo um vivo anelo,
'I'ao v&rio como o teu desejo •• o ~ueimou-me · logo um fogo atroz: .
Saindo branco de um ca.sal; E tada a longa, noite velo,
0 fumo, em' Ia11guida espiral, Pensando em ve'lo e ouvi-1o a s6s.
Mado como um leve adejo. 'Triste, sentada no escabelo,
So com a aurora adormeci • .•
Sonho, e no ·sonho, · hav.eis-,.de ·"tre>lo?
Dize, sera em vii~· que almejo, Inda o meu pajem me \in'ri!
Ottvindo a mitsica do beijo;
Viv·er ·contigo um sonho real,
Seguindo a ama-lo com de;velo,
U, Jcmge? Por noite velha; um ana ap6s,
'T ermina enfim .o meu flagelo,
Se ardes por mim, se eu te desejo Felizes fomos ambos n6s. , . :•
(Ve tu que esplendido bpsqttejo!) . Como isto foi, nem sei dize-lo! ·
Foge do mundo ao torvo mal, "No colo seu desfaleci . .. ·
Rosa, vem para o meu rosa!, E, ·alta manha:, no •seu murzelo;
~ue d'a invernia eu, te protejo, 0 pajern foge, e inda sOTri. • ,·
Lei, lov.ge, •• ·
Dias depois, ·'do pa}em b-ela;
A palavra r.ood:O designa tambem um genera ]unto ao solar vnde eu o ~uvi,
Ao go!pe horrfvel do cute!o
de poemas, com estribilho, e de numero de versos
Rola a cabe~a, e inda sorri . •.
e estrofac;ao variaveis. As 59 primeir(ls compo-
si~5es da G!ama de ·Silva Alvarenga sao rondos A palavra balada designa . ainda outro genero
desse tipo. . de composi<;:ao sem forma fixa e onde se narram
0 rondel e um poema de ·treze versos, distri- sucessos tradicionais 0 u lendarios (leia-se p<.U"a
buidos em tres estrofes, segundo o esquema exemplo a adm:iravel "Simples balada" de Joao
ABba I a.bAB I .a.bba.A, as niaiusculas represen- Ribeiro). . .
tando os versos que sao repetidos como estribilho. e
0 cant9 real . urn poema , composto · de 60
Exetpplo de Biiac, com ligeira variante (ABab I versos,~1distribuidos segundo o ·esquema a.babccd•
baaB J ababA): dedE I ababccddedE I ababccddBdE j~babccddedE
I ababccddedE I ddedE, a maiuscula E represen~
Sabre as ondas oscila o batel doce!mente • •. tando o estribilho. A ultima ·istrofe denomina-se
Sopra o vento a gemer.:. 'Treme: enfunada a vela . •• oferta ou envio. Exemplo da autoda de Goulart
Na ag:t!Ul dara do mar, P4Ssam iremulamente de Andrade, intitulado "Canto real. da noite":
Aureos tra~os de. luz, brilhando esparsos nela.
' •C .1. I
Belo exemplo moderno da · forma: mas sem E, mais que tudo, a nuvem que foge eternamente.
envio, e a ..Sextina da vespera", de .America Dormir, sonhar - que adianta, se · tu existes?
Fac6, .em Poesia Perdida. · Se fosses somerite forma! Es tambem ideia.
i 0 pantum, forma malaia, e- uma. cadeia de Ah! quando descera sabre milt! a grande paz em cruz ...
quadras, numerq ad ~ibitum, rimadas segundo
o esquema abab, sendo o segundo e quarto versos Todavia, raro e o poema em versos Hvres
onde 0 poeta nao lance mao do encadeamento
de. cada estrofe repetidos cpmo primeiro e ter· para mai-car o .ritmo. ·Quase toda a poesia de
ceiro da estrofe seguinte; na ultima estrofe 0 Augusto Frederico~ Schmidt e ritmada pela
segundo e 0 quarto versos sao 0 terceiro e 0 repeti~ao de palavras otrfrases de.:ye.rso a verso:
primeirq da pripleira estrofe, terminando pais
o poema com seu verso inicial. Em nossa poesia Ouvimos os sinos encherem a madrugada
existe um exemplo de pantum nas Sar~as de Ouvimos o mar bater em baixo nas pedras
Fogo, de Bilac, com ligeira\ variante: na estrofe Ouvimos a voz que nos, arrancara do sono ..•.
final o seu segundo vetso [ e um v_erso novo .e O!ho'· o ceu e enfim descanso!
nao 0 tel;'ceiro da 'prim¢ira estrofe·: Olho o ceu e as estrelas frias . ..
. ' .
~uando passa.ste ao dec!i'l;lat do dia, . Olho o ceu alto ~ enorme e descanso ..•
Soava na altura indefinido arpejo:
Pa!ido, o so! do ceu se ~espedia,
Olho o c.lti frio e simples e descanso.
Enviando d terra o i.!erradeiro beijo.
Soava na altura indefinidp arpejo . .. ' Algun~ poetas se servem nao .so do entadea·
Cantava perto u.m passaro, em segredo; mento e da alitera~ao, ma.' tambem da rima
E. enviando d terra o derradeiro beijo,_ para· acentuar .o ritmo da versifi~ac;ao livre. E
'Esbatia•se a luz pelo arvoredo. o caso de Adalgisa Nery: