2.1 - Manuel Bandeira - A Versificacao em Lingua Portuguesa

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ENCICLOPEDIA

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RIO DE JANEI:R.O - BRASIL
TRADU<;A.O,_ ADAPTAyA.O E AMPI,.IA<;A.O DA D~TIMA EDI<;A.O DA

ENCYCLOPEDIE LAROUSSE MtTHODIQUE

pat PAUL Auct

LIBRAIRIE LAROUSSE - PARIS

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DIRE~Tos DE TRADm;:Xq PARA A LiNGUA PORruc;uESA ADQUIRIDOs PELA ·Em'r6RA DELTA S. A.
. A SoClETE E.NcYct.oPEDIQUE UNIVERSELLE# EM 1960
VERSIFICA<;AO EM LINGUA PORTUGU~S~ - ,3239

Poen;a-objeto de Fernand Leger para ''Liberte", de Paul Ehiard (Paris, 1953). ,

A VERSI FICA<;AO EM LINGUA PORTUGUESA

0 verso. e seus apoios r1tmicos. - A rima. - A aliterac;ao. - 0 encadea-


ine~to. - 0 paralelismo. ---'-- 0 acr6stico. --'- 0 numero fixo de silabas .. -
A estrofa~lio. - Os poemas de forma fixa. - 0 verso livre.

0 'verso e seus apoios ritmicos. - 0 verso Artur Az;evedo rimou, para ef~ito jotosq,.
e a unidade dtmica do discur~o poetico. Para a palavra lampada com a palavra estampa, com·
salientar o ritmo se tern valido os poetas, rtos pletando a rima com a palavra atona da, que .
varios idiomas, de recursos formais como sejam come<;a o verso seguinte, para cuja medida ·
os acentos de intensidade, os ,v'alores de sHabas concorre:
(quantidade), as\ rfmas, a a-Iiteraftio~ o encadea-
mento, o paralelismo, o acr6stico, ·. o 'n4mero Mandowme o senhor vigario
Q.ue lhe comprasse uma Hl.mpa'da
fixo de sHapas. Estudaremos aqui os que tern Para alumiar a estampa
sido utiliz;ados · em nosso idioma, a come<;ar Da senhora do Rosario.
pela rima. '
Manuel Bandeira utilizou·se desse tipo de
A rima. ..,---' Rima e a igualdak:Ie ou semelhan<;a rima em "Vulgivaga" e "Can<;ao das lagrimas
de sons na termina<;ao das! palavras: asa, casa;
asa, cada. N a rima asa, casa ha paridade completa de Pierrot", Carnaval. Poetas brasileiros con•
de sons a partir da vagal tonica; na rima asa, temporaneos (Geir Campos, Cassiano Ricardo
cada a paridade e s6 das. vogais: as rimas do. e outros), sem duvida por influencia de Louis
primeiro tipo se, chamam consoantes, as do se- Aragon, que foi 0 primeiro a usa-lo na poesia
gundo toantes. · francesa, ·tem•no introduz;ido nos seus poemas,
mas faz;endo a ou as vogais atonas pertencer
Na lingua francesa costumavam os poetas
rimar tambt!m a consoante. anterior a' vogal ao verso da rima e nao ao seguinte:
tonica: e a chamada rima com consoante de ••• seu campanario
apoio·. Houve urn poeta brasil~iro que empregou de idea~ ladril~o,
intencionalmente esse tipo de rima - Goulart entre · o azul do ar e o
de Andrade. Seu exemplo nao foi seguido. . chao que palm~lho.
(Geir Ca!Jlpos, "0 .sino", Arquip~lago.)
Admite-se entre as rimas consoantes a de
vagal aberta com vagal fechada: bela, estrela.
· Tanto poetas brasileiros como portugueses rimam
Pode arima ser feita entre. a palavra final
como consoantes duas palavras que tern na de urn verso e a palavra onde cai a primeira
silaba tonica um ditongo, outra uma vagal pausa do verso seguinte. E a rima interior, que
fechada ou aberta: beijo, d.esejo~ beijo, Tejo foi muito praticada pelos romanticos em quadras
(Florbela. Espan~a). Poetas brasileiros tern pra- de versos 'decassllabos: -
ticado. tal rima com palavtas agudas·: 'azuis, luz
(Alberto de Oliveira, Poesias, l~J. s~rie; G<trnier, Dorme, que eu velo, sedutora imagem,
Grata miragem que no ermo vi; . ·'.·
1912, pag. 209). Poetas portugueses rimam os Dorme .;..__ Imposslvel - qtie encontrei na vida!
• ditongos nasais tie e em: caes, q.lguensr (Antonio · Dorme, querida; que eu .nao volta aqui! :._.
. Nobre, "Males de Anto, ". S6). . · ("A Judia", de Tomas RibFiro)
sas, valorosas, dilatando, devastando, libertando
daquelas magistrais estrofes. Tambem sao .de .
usar com grande cautela as rimas chamadas
ricas ou raras, 0 oposto das rimas pobres ou
triviais, e que soam as ve.zes tao·afetadamente.
Os · versos que nao rimam sao chamados
brancos ou so1tos; as ·que estao fora da medida,
· quebradas·.
Ha quatro modos principa:s de dispor as rimas:
empare1hadas, cruzadas, enla~adas e misturadas.
Rimas emparelhadas sao as que se sucedem duas
a duas, como . no "Minuete" de Gon<;alves.
Crespo:
Espa~oso e" o sal.iio: jarras a cada canto
·Admira•se o Javor do teto de pau-santo.
Cadeiras de espaldar com fulvas pregarias;
Um enon:ne sofa; largas t"apefarias.

Rimas cruzadas sao as que, em ve.z de se.


sucederem em parelhas, se alternam. N uma
quadra, por exemplo, 0 primeiro verso rima.
com o terceiro, e o segundo .com o quarto:
'Na rua, d direita, porqwi es a minha dama,
A minha. musa e o meu pend.iio.
Mas d minha esquerda na cama,
Do !ado do meu coraf.iio.
("Henl.ldica", de D~estaldo de Pennafort.)
Nas rimas enlafadas, rimam ·em· par~lha dois
Pagina de rosto do "Tratado de Metrificar,;ao" de A. F. versos entre dois outros tambem .rimados:
. C~stilho, Lisboa, :1858.
Vai-se a primeira pomba despertada..
V ai-se outra ma.is. . . Ma.is outra. . . E enfim dezenas
De pombas viio•se dos pombais apenas
Ha outros exemplos esporadicos de rima in- Raia, sangu1nea e fresca, a madrugada.
terior; assim, da palavra · firial de urn· verso ("As pombas", de Raimundo· Correia.)
com palavra anterior do mesmo verso: Maravtlha Rimas misturadas sao aquelas em que a su-
·de milhares de brilhos vidrilhos ("Notumo de cessao e livre, como ne&tes versos de Alma em
Bela Hori.zonte", de Mario de Andrade); Onico Flor de Alberto de Oliveira:
e certo e ap~niis 0 deserto /. ~ue e
fruto do
Foi ... nem lembro hem que idade eu tinha.
mon6logo . absolute ("0 Rio da Duvida"; .0 Se quinze anos ou mais; ·
Arra.nha-ceu de Vid1-o, de Cassiano Ricardo). · Creio que s6 quinze anos . .• Foi ai fora
:Numa fazenda antiga,
Sao .chamadas pobres, e devem ser evitadas, Com o seu engenho e as alas
as rimas de palavras da mesma categor.ia gra- De, rusticas senzalas,
matical: adverbio com adverbio, ad jetivo com Seu extenso terreiro,
Seu campo :verde e verdes canaviais.
adjetivo, substantive com supstantivo, etc., so- Era . .. · 'Tam bern o rnes esquece agora.
bretudo nas .formas demasiad~. abundantes, como ·A infieJ .memoria mi.nha!
os adverbios em mente, os adjetivos em _ante Maio. . . junho. . . nao sei se julho diga,
]ulho ou agosto. Sei que havia o cheiro
ou ente, os substimtivos em ia ou eza, os verbos Do sassafras em flor;
no infinitive, no partidpio ·passad~, nos prete·
A notaf.5o das rimas se · fa.z com letras mi·
ritos imperfeitos e perfeitos, etc. Todavia, podem nusculas, sendo OS versos que rililam representa,dos
tais rimas admitir-se quando de palavras que . pela mesma letra. Assim, o esquema de duas
ernprestam for<;a de expressao ao contexte, como rimas .emparelhadas e aa; de uma. quadra com
se da nas duas primeiras oitavas de Os Lusiadas. rimas cru.zadas, abab; de outra com rimas enla<;a'
Nao procede, pais, a critica: de Antonio Feliciano das, abba;· dos versos de Alberto de Oliveira
de Castilho classificando ·de "imperdoaveis citados atras, abcdeefbcadfg.
desares'' as rimas assinalado;,: nav:gaP,os, esfor- A alitetas:ao. ~ No seu sentido ·geral, consiste
. fados, . edificaram, sublimaram;. gloriosas, vicio· a aliterafao em repetir um fonema em palavras

3240
VERSIFICA<;;:AO ~M lrNGUA PORTUGU~SA 3241

seguidas, proxtmas, au distantes mas simetri- 0 anel do 1:11eu amigo


camente dispostas. Em sentido restrito, e, na Perdi-o so lo verde. pinho
. E chor' eu, bela!
poesia, a identidade da consoante inicial, ou da
silaba inicial, de duas au mais palavras num · 0 anel do meu amado
verso. Neste sentido definiu-a Pedro Henriquez- Ferdi-o so lo verde ramo
E chor' eu, bela!
Urena como "rima ao · contrario - rima dos
c<Jme~os das palavras 1 em que basta a igualdade Perdi-o so lo verde pinho;
dos · sonidos iniciais ou, em certas ocasioes, o Por en chor'eu, d_ona virgo,
regulado contraste entre eles". A alitera~ao tern E chor' eu, bela! ·
quase sempre efeito 'de harmonia imitativa: . Perdi-o so lo verde ram.o;
Por en chor'eu, dona d'algo,
E. as curvas harpas de ouro acompanhando, E chor' eu, bela!
'T1bios flautins finissimos gritavam;
Cr6talos claros de metal cantavam. Nessa cantiga ha, de estrofe a estrofe, re·
("A tenta~ao de Xen6crates", de Ol~vo Bilac.) peti~ao de ideia, ~inonimia de. voca.hulos ( amigo'
amado; pinho, ramo; dona virgo, dona d'algo).
0 mais longo exemplo de alitera~ao em lingua A par desse paralelismo, ocorre tambem o en-
portuguesa e o _de Cruz e Souza em "Violoes cadeamento pela repeti~ao· dos versos "Perdi-o.
·que choram ... '' (Far6is): so lo verde pinho" e "Perdi-o so lo verde ramo,"
razao por que receberam as cantigas medievais
Vo:~<es veladas, veludosas vo:~<es, desse tipo o ·nome de paraleHsticas encade~das.
V olupias dos violoes, vo:~<es veladas,
Vagam nos velhos vortices velo:~<es 0 acrostico. - No acr6stico as letras iniciais
Dos ventos, vivas, vas, vulcani:~<adas. dos versos formam um nome de pesscia ou. coisa:
reside na escrita e nao e percebido pelo ouv:do.
A alitera~ao da vagal tonica tern o nome de Exemplo : . · ~. .
eco: a alitcr?-~ao de Bilac, citada atras, e um
b9m ~xemplo de eco das vogais tonicas i e a. Maria, tens no teu vulto
A graqa da ave e da flor.
0 encadeamento. - Consiste o encadeamento Ren~o-te ·mais do que amor
em. repetir de verso a verso. fQnemas, palavras, lmenso: rendo-te culto,"
Ah! como a miie do Senhor.
frases e ate um verso inteiro. Foi recurso ritmi·
co. muit1ssimo usado na poesia medieval e e 0 nuniero fix$) de silabas. - A COlltagem
frequente na poesia moderna. em versos livres. das silabas no verso (metro) difere da contagei"n
Exemplos · colhldos ·em Augusto frederica gramatical: o · poeta pode elidir uma vagal na
Schmidt: vagal seguinte dentro de uma palavra, au da
silaba final de uma paiavra para a silaba inicial
No entanto este motivo escondido existe. da palavra seguinte. ·A primeira figura se chama
Nao veio, esta tristeza, da saudade da que e sempre a
. Ausente sinerese; a segunda, sinalefa. Assim, em "pieda-~
Nem da sua gra~a desaparecicla . .i. (repeti<;:ao de fo- de" as silabas .gramaticais sao. quatro; mas 0
nema) metrificador, elidindo a vagal i na vagal e, pode
reduzir as silabas da palavra a tres: pie-da-de.
Pensei em mortos que morreram entre indifere~tes. No membra de frase ·~entre estas" conta o
Pensei nas ve1has mulheres... (repeti<;:ao de palavra} gramatico quatro silabas; o poeta, porem, elide
o e final de "entre" no e inicial de ".estas" e
Olho o ceu e enfim descanso.
01110 0 ceu e as estrelas frias. cohta s6 tn~s silabas. A elisao pode atingir mais
Olho o ceu. alto e enorme e descanso. de duas vogais, como na frase "quero a estrela",.
Olh<Y o ceu frio e simples. . . (repeti<;:ao de -frase) cujas silabas metricas sao quatro: que-roaes-tre
. to
-la. Umas vogais sao mais duras de elidir que
No prindpio foi urn balan~o continuo e vagaroso. outras: as elisoes violentas como a-tea-go-ra. (ate
Depois foi descendo uma sombra: indistinta, agora), a-teeu (ate eu) comunica~ ao verso
.Um grande leito surgiu e l~nq6isbrancos como espuma. certa for~a escultural, ao passo que as hiatos,
isto e, a nao elisao das vogais, lhes confere
No prindpio foi urn b~lan<;:o continuo e vagaroso. certa suavidade' musical mel6dica. · A escolha
Depois tudo cessou. (repeti<;:ao de verso)
da elisao. oU: do hiato depende da natureza do
Os dais primeiros exemplos sao do poema verso e do gosto do poeta. Nao se admitem,
"Tristeza desconhecida"; o terceiro, do poema porem, as sinalefas . de duas vogais atonas, 0
"Pescanso"; o quarto, do poema "Genese I" que tornara o verso demasiado frouxo: no
{Canto da 'N.oite.) . poema · p6stumo de Gori<;:alves Dias intitulado
"No jardim" · o verso '"De Inglaterra a prin.- .
6 paralelismo. - Paralelismo e repeti~ao de cesa, e um septissilabo frouxo, porque obriga
ideias, sinonimia de vocabulos. Cantiga de amigo ao hiato do e no i, au do a no a. · .
de Pero· Gon~alves de Porto Carreiro, trovador Se a ultima palavra do verso for paroxitona:,
portugues 'do tempo de Afonso III. ~. grave se chama ele; se ox:ltona~ agudo; se pro... ~.

·-----~ -··----------
_____.
3Z42 - 'LfNGUA E LITERATURA

paroxitona, esdrU.xuh Contam-se as silabas (tambem stY diz quadrissHabo), pentassilabos


metricas ate a ultima vogal tonica do. verso. (redondi!ha menor), hexassHabo ·(redondilha me•
Damos abaixo quatro versos de Artur Azevedo, nor ou her6ico quebrada, heptassllabo (redan·
grafando em italico as silabas contadas: di!ha maior ou simplesmente redondi!ha}·, oc:tos•
sHabo, eneassilabo e dodecassilabo (alexandrino).
C~s-tu-mam-a-go-ra os-H;ricos Foram raros. os exemplos de metros mais· longos
Ver-sos-fa-zer-nes-te es-ti-lo: (Bilac escreveu ·em versos de 14 silabas o seu
"'fu;es<is-to ews'ou-a-9ui;!o, · soneto ··cantilena") .
'fwes·as-sa-da ewas-stm.
Os metros de uma, duas e tres silabas nao
Tal sistema de contagem, tambem usado no comportam senao uma pausa. Mario de Andrade
idioma frances, foi introduzido em nossa lingua usou com frequencia o primeiro no poema
por Antonio Feliciano de Castilho no seu Tra- "Dan<;:as":
tado de Metrificar;a.o Portuguesa. Antes dele, que bra
contavam-se tOdas as silabas do' verso grave, nao queima
se contava a ultima do yerso esdruxulo, e COO' rein a
siderava-se incomplete o verso agudo, pdo que dan~a
contava corrio d:uas a ultima silaba metrica. Des- sangue
tarte, os versos de. Artur Azevedo citados acima . go$ma .••
sao chamados heptassilabos (de sete si1abas)
Exemplo notavel de dissilabos e o po~ma
&egundo o sistema de · Castilho, hoje prevale-
cente, e octossllabos (de oito silabas) segundo ''A valsa" de Casimiro de .Abreu:
o sistema antigo, ·que ainda ·prevalece na lingua 'fu, ontem,
espanhola, .e que em nosso' idioma pretendeu 'Na dan~a.·
·:restaurar o professor M. Said Ali. Advirta-se Q.ue cansa,
que se trata de mera questao de nome, que nao Voava.s ...
afeta a estrutura do verso. ·
N a satira de Gon<;:alves Dias "A certa auto-
Chama-se cesura a pausa intencional prati-
ridade" (Obras P6stumas) OS ultimos dezenove
c:;ada) no interior do verso. As duas partes, nero versos sao trissilabos:
sempre iguais, em que fica ·o verso dividido pela
cesura se da o nome de hemistiquios. A cesura Realmente,
funciona como, apoio ritmico na estrutura do . Coronel, ••
verso longo. Exemplos em decassilabo, hendecas- 'fens uma alma·
Bem cruel. ..
silabo e dodecassilabo:
. Sete anos d'e. pasto;l fac6 servia (Cam5es) "
Os metros de quatro -silabas podem lev~r pausa
'fange o sino, tanjge numa vo_z de. chOro (Vicente de interior na primeira. (Murchcinyse as · f!Ores),
Car-Valho) na segunda (Entao brincando) ·ou na terceira
As maos da minha Maelsobre a minha cabe~a ( Olegario (Salome vinha). ·
· ' Mariano) . A redondilha. ~enor (cinco silabas) ·pode levar
pausa interior em qualquer das quatro primeiras
· A pausa · final do versp pode recair em pa- silabas~ ·
lavra que deixa incompld:o 9 sentido da frase, Trepida batia
o qual se vai completar na pdmeira ou primeiras A gota no vidro,
palavras do verso seguin,te. Para a primeira s1> Escorrendo logo,
E sem cair, tremu!a.
laba tonica deste e .entao transferida a pausa, e -1 .

a esse efeito ritmico se da em frances o n001e Pode ainda levar mais de uma pausa interior ·
enjambement, para tradu<;:ao do qual propos Said (7\[/io sei, nem. vi, era).
Ali o voca. bulo cava!gamento. Na estrqfe 60 do
Canto V de Os Lusiadas ocorr~m tres belos
0 mesmo se passa com os hexassilabos e os
exemplos de enjambement:· heptassilabos. £stes, redondilhas maiores, sao 0
metro da preferencia popular. Exemplos de uns
Desfez-se a nuvem negra c c'u~ sonora e de outros:
Bramido .muito lange o mar soou,
Eu, levantando as maos ao santo cora Sumiu-se o sol esp1endido
Dos Anjos, que tiio longe nos guiou, 'Nas .·vag as rumorosas. ( 6 slla:bas)
· A· Deus pedi que removesse as duros
Casas que Adamastor contou futuros. .Ate nas f1on:s se encontra
A diferen~a da sorte:
· A nomenclatura dos versos regulares, como Umas enfeitam a vida,
Outras enfeitam a morte. (Redondilhas)
foram praticados em' nossa lingua ate o advento.
da poesia modernista, se faz medi;).nte prefixos Os octossilabos foram raros antes de Castilho.
gregos, de&igna:tivos dos numerais de 1 'ate 12 : . £ste est:reveu: "0 metro de oito silabas, pode-se
monossHabos; dissHabos, trissHabos, tetrasstlabos dizer que ainda nao e usado em "POrtugues."
. VERSIFICA<;.A.O EM LfNGUA PORTUGU~SA - 3243

Acrescentando: " ... quando mais e melhor -culti- Encontramo-lo de vez ein quando em Camoes:
vado, a julgarmo-lo pelos seus elementos, e pelo Posta que todos Etiopes eram; Doce repouso .de
que os franceses dele tem chegado a fazer, pode minha lembranfa. Tambem em Antonio Ferreira
vir ainda a ser muito apreciado". 0 vatidnio e Sa de Mit:anda. Outra variedade de decassilabo
e 0 que traz pausa na segunda e na setima si.-
realizou-se. Os poetas .parnasianos serviram-se
labas (A ferrea, precipitada bigorna). Conde-
dele com freqiiencia, nunca deixando, porem, nou,a Castilho e ta:lvez por isso nao tenha sido
de fazer cesura na quarta silaba. . · ·
usada pelos nossos romanticos, parnasianos e
Por que me vens com o mesmo riso,
simbolistas: Hoje sao muito encontradi~os em
Por que me vens com a mesma voz nossa poesia esses e outros decas~ilabos corientes
Lembrar aque!e paralso . •. ? na poesia francesa, como os que levam pausa na
("Requiescat", de Bilac} quinta e na oitava silabas, ou ainda .na quinta
e na setima:
No entanto ja Castilho registrava outias pau-
sas: na segunda silaba ·(Morrer e sem ao meu 0 sonho passou. Traz magoado o rim,
encanto) ; na terceira e na sexta . (7'erno amor Magoada .a cabet;a exposta ahumidade.
("Rondo de Colombina''. de Manuel Bandeira.)
que me faz feliz); Machado de Assis empregou-
-as todas ein "Mosca azul", "Flor da mocidade" 0 metro de onze silabas, chamado de arte
e outros poemas. maior, as vezes leva pausa na segunda, na quinta
Dos metros de nove sllabas mais usual e o e na oitava silabas e entao pode oferecer .um
que leva pausa na terceira e na sexta silaba, ritmo energico, pelo que foi preferido por Gon-
como· o praticou a nosso Gon~alves Dias na so- ~alves Dias em alguns de seus poemas indianistq.s
berba maldi~ao do velho tupi de "I,Juca~Pirama": de fei~ao epica :
--~!'
:;,it'LJ._. 1
Tu choraste em present;a da morte? Siio rudos, severos, cobertos de gloria,
'Na presen1=a de estranhos choraste? ]a prelios incitam, ja. cantam vit6ria.
'Nao descende o cobarde do forte: ("I-Juca Pirama")
Pois choraste, meu filho nao es!

"QU:alquer outra composi~ao d~turparia esta me-


dida", lecionou Castilho. Nao se pode dizer tal
.... ·do eneassilabo acentuado na . quarta silaba, tao
· ' 'magistralmente empregado no poema "Plenilunio"
de Raimun'do Correia: · '

Alem nos ares, . tremulame:nte,


. Qye visao branca das puvens sai?
Luz entre as fran1=as, fria e silente;
Assim .nos ares, tremu!amente,
Balao aceso, subindo vfi . ..

Temos que se podem construir eneassllabos com


pausa na segunda e na. quinta silabas ('N.ao sei
nem preciso saber nada) ou somente na quinta
('N.ao imaginei coisa nenhuma): tudo depende
da habilidade e gosto do poeta.
0 metr~ de dez silabas, chamado verso- h,er6ico
porque foi preferido 'para os, poemas epicos, ou
ainda italiano, porque da Itilia o trouxe Sa de
Miranda para Portugal, leva · ordinariamente
, pausa na sexta silaba (Vai-se a primeira pomba
despertada), ou entao na quarta e na oitava
(Ora {direis) ouvir estrelas! Certo). Todavia,
aparece aqui e ali na poesia italiana, misturado
aos versos desse tipo, outro com pausa na quarta
e na setima sllaba· (Ma se conoscer 1a prima
radice, Dante). Tal verso ja era conhecido na ·
peninsula iberica sob o nome de ga_ita galega.

P3.gina de rosto do "Tratado de V~rsifica~~o" de Olavo


Bilac e Guimaraens Passos (Rio- de Jarieiro, 1905)-.
3244 LINGUA E LITERATtJRA

As vezes pode levar pausa apenas na quinta Estrofac;ao~ - 0 discurso poetico ora se apre·
silaba e entao o efeito ~. ao contrario, de e;x:trem.1 senta em forma corrida, ora distribu1do em
do~ura: · grupos de versos, que se denominam estrofes,
est3ncias, ·cobra ou talho (poesia trovadoresca)
· Ail hcf quantos a1tos· que eu parti chorando e copla (can<roes populares). Coii,lposi~oes hi
Deste meu · saudoso, carinho~o lar! em que um certo numero de versos sao repetidos
·!< depois de cada estrofe: e o refrao, refrem ou
0 nome alexandrino dado ao metro de doze estribilho.
sllabas deriva ·do Roman ·d'Alexandre le Grand,
come~ado no seculo XII por Lambert ·Licors e As estrofes pod'em ser simples, isto e, fqrmadas
terminado no seculo seguinte por Alexandre de de versos da mesma mediqa; compostas, onde ,
.Bernay. ·. 86 · penetrou em nossa lingua pelos certos versos maiores se compoem com outros
meados do seculo XIX. Castro .Alves usou-o em menores; e livres, onde se admitem versos de
seus poemas "Poesia e mendicidade",' ·"A Boa qualquer medida.
Vista", "Pelas sombras", "0 tonel das danaides", Nas estrofes compostas o verso .maior ·e nor-
"Immensis orbibus anguis", "Deusa incruenta" mative, e o seu numero de sHabas impoe o do
e "No monte". -Usou-o, porem, como.o praticam verso menor. Assim, ao heptassllabo se associa
OS poetas de lingua espanhola, tsto e, como com- o de tres ou quatro sllabas; ao decassllabo, o
pasta de dais versos .de seis silabas, mas sein hexassilabo; ao hendecassHabo, o pentassilabo;
atender . a exigencia de nao. terminar 0 primeiro ao alexandrine, os de oito, seis ou quatro silabas.
hemistiquio em palavra esdruxula e quando ter- Segundo as estrofes se compoem de dais,.
minar em palavra grave, come~ar o ~gundo tres, quatro, cinco, seis, oito ou dei versos, re~
hemistiquio por vagal (Era uma tarde triste, cebem respectivamente as denomina':;Oes de dis~
mas Umpida e serena). Os nossos parnasianos ticos, tercetos ou tristicos, quadras au quartetos,
.obedeceram estritamente a li~ao dos classicos quintilhas, sextilhas, oitavas e decimas. As, ¢stl;"o;
franceses · na maneira de cesurar o alexandrine. fes de sete e nove versos nao.tem nome especial
Todavia, classicos e parnasianos nem sempre fa- 0 poema de um s6 verso se denqmina mon6st~co .
..ziam coincidir a pausa do sentido com a pausa
0 distico e multo empregado pe1o povci nos
· do h~mistiquio. Bilac e Guimaraens Passos, no seu
seus adagios (Agua mole em pedra. dura f 'Tanto-.
'Tratado ~e V ersifica~E.o, exemplificam como certo
o verso Dava-lhe a custo a sombra escassa e pe- bate ate que fura). Exemplos famosos sao ·as
quenina porqu~ a vagal final do primeiro hemis• de Guerra Junqueiro em ''A l.igrima" ..e o de
t1quio (o 'a de sombra) se .elide na vagal e inicial Castro Alves em "0 ton~l das. dan(\jdes". 0
do segundo hemist1quio; e como errado o. verso esquema das rimas e aa, bb, cc,
etc.
Dava-lhe a custo a somb;a fraca e pequenina, No poema em-·tercetos o esquema e aha, bcb,
por nao haver elisao. No .entanto a maneira na· cdc, ded, e assim por diante, sendo ad lihitum
tural de leJ:" ambos OS versOS e fazendo duas cf numero deles, mas a ultima estrofe deve ser
pausas interiores, a primeita em custo, a segunda uma quadra. Se, por exemplo, o ultimo ter~eto
em escassa e fraca. ~ss~ ritmo ternario, sem houver sido ded, a quadra obedecera aci esquema
aten<;ao a cesura mediana,, :e outros, como o efef. Tal e o tipo classico de. tercetos, que era.
quaternario ( 3 + 3 + 3) e os: de . corte irregular muito empregado para as elegias, epistolas e
sao correntes na moderna poesia de lingua por- eclogas. Os tercetos dos sonetos. apresentam di;
tuguesa. Exemplos de Ribeiro Couto: versas disposi<roes de rimas: aha, bah; aab, .ccb;·
abc, abc; e outras.
0 o1har nevoento. • • o passo len to. . . sonolento ..• N as quadras as rimas se dispoem das s.eguintes.
E em meio tique1e desalinho. pitoresco. . • '
maneiras: abcb,- ·abab, abba. Os versos -podem
Pe!os caminhos !e'vando fO!has de cores . . .
As caricias delicadissimas da essencia . . . ter todos a mesma medida, ou os impares uma.
e os pares outra, ou ainda os tres prim~iros
Neles nao h3. a elisao mediana, mas o ritmo uma e o quarto outra. Exemplo do primeiro tipo~
e 0 m~smo que resulta da leitura natural dos a quadra popular. Do segundo:
, versos seguintes de Francisca JUlia, onde existe
a elisao: bebrufada na.s aguas de um rega.to
· A flor dizia. em vao
A Corrente, onde bela se mira.va. . ..
Siio ~squeletos que de bragos levantados . ..
"Ai, niio me deixes, niio!"
E · senta·se. Com poe as roupa.s. Olha. em tomo ... ('~Nao me. deixes!", de G. Dias.)
o
6 Natureza., Ma.e perfida.! tu, que cria.s. • • ·
'Ta.nto a.'Qorto, que se tra.nsforma e se renova. . .•
Exemplo do terceiro tipo:
Da-se o nome de versifica':;ao poUmetrica aquela
'J\[o a.r sossegado um sino ca.nta.,'
em que se inisturain dois ou mais metros. A Um sino canta. no a.r sonibrio.
misttira de decassllabos com hexassilabos se da Palida, Venus se levanta... •. -~.

a . denomina':;ao de silva. . ~ue frio!


1' .' ....

. ~

VE~SIFICA<;A.O EM LINGUA PORTUGU~SA 3245

A quintilha classica, como foi praticada por A inftincia, pressen.timentos. ,


Sa de. Miranda, obedece a um dos dais esquemas Leva a morte a. cada instante
Uma esperanc;a perdida,. .
.abaab e abbab: Sonhar, presse:ntir, pensar • .•
. E nisto se esvai a. vida.
Os santos de longas terras ("In'failcia,. mocidade, -velhice", de Francisco
Sempr~ foram mais buscados. Otaviano.)
Os da nossa estiio cansados.
Busquemos santos das se~as Exemplo do segundo:
~ue estiio mais desocupados.
.Uma tarde cor de rosa .••
Uma vila assim modesta,
Escrever com louvaminhas, Assim "tristonha como esta . .•
1\Ciio e minha profissiio; . De pescadores,. tarnbem • ••
'Tirar un~as · ao leao . Sabre a- plantcie arenosa •
Para pci-las nas galinhas, Por onde o ]ordao deriva,
Outros o fac;a.m, que eu niio. Pousa a sombra evocativa
Das montanhas de Siquem . ..
·. Outros esquemas: ababa, abbaa, aabab. E ainda, (Vicente de Carvalho)
deixanda 0 primeiro verso salta: abcbc ou abccb.
Os romanticos cultiyaram esse tipo de oitava,
. A sextilha .antiga era de uma: s6 rima nos mas deixando sem rima o pritneiro e o quinto
segundo, quarto e sexto versos (abcbdb). Assim
verso. (Casimiro de Abreu, "Meus oito anos").
compas Gont;a.Ives Dias as suas Sextilhas de Frei
Antao. ·A sextilha moderna usa outros esquemas, Exemplo do terceiro:
com duas rimas (ababab. abbaab, abbaba) ou
~uando o sol queima. as estra.das,
tres (aabccb, podendo os versos em b ser de E nas vdrzeas a.brasadas . · <-

metro menor que os versos em a, e sendo. de Do vento. as. quentes lufadas


ordina-;ria a grave e b agudo) . Os ramanticos Erguem nove los de p6:
cultivaram muito a sextilha do tipo desta de Como e doce em meio as
canas
Sob um teto de lia.nas, ·
Casimiro de Abreu: Das ondas nas espadancls
Banhar•se despida e s6! . . -.
Eu 111asci alent dos mares ("Na fonte"; de .C<tstro Alves.)
Os meus laies;
Meus a.mores ficam' ld! Exemplo , do quarto;
- Onde canta nos retiros \
Seus suspiros, Entiio repeti ao povo:
SetfS suspiros 0 sabia! - Desperta do· sono. teu!.
Sansao! derroca as cdluna.s!
A estrofe de sete versos foi muito usada na Q.uebra os ,ferros, Prometeu!
V esuvio CUrlJO - niio pares,
poesia trovadoresca e a distribuic;ao das ·rimas fgnea coma solta a.os ares,.
era habitualmente abbacca. ; Em lavas inunda os mares,
'"Pedro Iva" de Alvares : de Azevedo esta Mergulha o gladio no ceu!
escrito em . decassilabos, sal\(b 0 setimo verso, ("Pedro Ivo", de Castro Alves.)
que e her6ico quebrada~ rimando segundo 0
esquema · aabcbbc. Em ";Pequenino inorto" de Tipo espeti'!-1 de oitava e o triole• .forma me•
Vicente de Carvalho OS versos sao hendecassila- dieval, hoje s6 empregada na poesia ligeira, ·e
bos, salvo 0 ultimo, que e .pentassilabo, e rimam na qual o primeiro verso .se repete como quarto,
e- 0 pri.meiro e 0 segundo como setimo e oitavo.
abacbac.
Na ..Ultima: ca~ do beco" de Manuel Ban· Exemplo:
deira, .escrita em redondilhas, r:mam apenas o As cantigas que tu cantas
segundo e 0 setimo verso. Fogenvme as magoas antigas .•.
A oitava apresenta .urn tipo invariavel,· a cha,• Sao tiio alegres e tanta.s
As cantiga.s que tt.t canta.s!
mada her6ica. e outro vari~vel, a lirica. Minha.s tristezas espantas
A oitava her6ica, assim denominada por. ser Qom tuas velhas cantigas:
a usual nos poemas epicos, compoe·se de decas- As_cantigas que tu .cantas
silabos, que obedecem ao seguinte esquema de FogeT!l•me as magoas antigas.
· (Valentim Magalhaes)
rimas: abababcc, como se pode verificar em
.qualquer estrofe de Os Lusiad'as. A· estr:ofe de nove versos, pouco U$ada, pode
··A oitava llrica admite grande variedade. Pode ser definida como uma quadra e uma quintilha
ser a simples. j\lstaposi~ao de duas quadras; justaposta. Na cantiga. de amor de Airas. Nunes
ababcdcd ou abbacddc. Tern, porem, mais ·uni• que come<;:a pelo verso "Amor. faz. a mim amar
<lade nos esquemas abbcaddc, aaabcccb, abcbdddb. tal senhor" a distribui<;a() das rimas e ababcddcd.
Exemplo do primeiro tipo: No poema "Visio" emprega Machado de Assis
o esquema aabcdbcdb. -
A velhice tem mgilias, A estrofe de d~z versos, a d~cima, e ;,~. jus-
Luta. em graves · pensamentos;
.(\ mocidade tem sonhos, · ta posi<;ao de i.Im~ quadra e uma sextilha,. ou '
.. 3246 -·LINGUA E LITERATURA

de du~s quintilhas. Exemplo da primeira ea cada urn ·tern como verso inicial o ?Iltimo
seguinte esparsa d~:: Sa ·de Miranda: verso do soneto anterior, e 0 decimo quinto se
A vossa bu.la. de amor compoe dos v~rsos repetidos, os quais devem
e
'J\[iio per a toda a gente: formar um sentido; Geir Campos renovou entre
Perdoa a culpa somente, n6s .essa fa<;anha virtuosfstica~ mas. fugindo ao
A pe~a niio, nem a dor. esquema ortodoxo das rim as, quer di~er, rim an-
E a.ssi fa.z a.mor com e1a., do ·Iivremente e as. ve~es nao rimando.
~u.e com espera.nc;a. incertci
'I'ra.z 6 mar · e morte certa. Os poetas modernos, alias, tern tornado ern
Leandro, e Hero d janela, relac;ao a construc;ao do soneto italiano toda sorte
Asii qu.e de amor e de1a
Ma.is se a.braca. qu.e se a.perta..
de liberdades. Jorge de Lima, em seu Livro de
Sonetos, rima as ve.zes apenas dais versos quais-
Exemplo da segunda, do mesmo autor: quer OU nao rima nenhuns OU rima OS quartetos
Assi me tem repa.rtido . segundo o esquema abed I abed,. etc. Cassiano
Extremos qu.e rtiio entertdo; Ricardo rima, no soneto ..0 her6i triste'', apenas
l)e toda parte corrido, . OS ultimos versos dos quartetos e tercetos (luas,
De todas desa.corrido,
De rtenhu.ma me defendo. ·
ruas, duas, suas); em outro soneto ("Eva ma-
A ·vida esta maT· segu.ra., , i:utina") sustenta u~a rima unica nos versos
Eu tenho outro mor cuida.do: p~res dos quartetos, no segundo verso do pri-
~u.e mal em tanto estima.do meiro terceto e no primeiro verso do· segundo
~u.e nesta. desavenJiU.ra.
Me fa.z desaventu.rado!
quarteto. Outros poetas vao ao ponto de nao
guardar da forma do soneto italiano senao a
Poemas de forma fixa. - Os principais distribuic;ao em dois quartetos e dais tercetos :
poemas de forma fixacultivados etn nossa lingua sonetos (se ainda se podem chamar assim) em
sao o soneto, o rondo, o rondel, a balada, o canto versos livres. ·
real, 0 vilancete, a vil:Lnel•a, a sextina, 0 pantum 0 SOnetO ingles, I SQ ffiUitO recentemente intrO'
e, o hak~. · ·· duzido em. nossa lingua, compoe-se-de tn$,s quar- .
0 soneto apresenta duas variedades: 0 soneto tetos e urn dfstico. Obedece ao esquema ·'ttbab I
italiano e 0 soneto ingles. · cdcd I efef I \gg au abba I cddc. I effe I gg,
0. soneto italiq.J).p compoe-se. de dais quart~tos fixado par· l:)urrey ao tempo de Elisabet. 86
e . dais tercetos. · A "distrib~is;ao ,das . rimas e tern pais de comum com o.soneto italiano 0
muito variavel. No. soneto dassjco . os qua:i:t~tos numero de versos. No Ultimo d~s "Quatro soiietos
SaO construJ:dos sabre duas rimas; OS tercetos, de meditac;ao", de Vinidus de Morais, os versos
sabre duas ou tres .. Eis OS ' esquemas para OS estao agrupados como 0 sao OS de um soneto
quartetos: abba I abba; abab I abab. Para os italiano, mas na realidade constituem urn soneto
tercetos: cdc I dcd; cde I cde; ccd I eed; cdd I ingles: tr'es quartetos, com rima:s independentes,
dcd; cdc I dcd; cde I ede. E i considerado irregu- e urn distico. Como tal vanios transcreve-lo:
_laridade misturar os dois escjuemas de quarteto;
. por exemplo, · rimar num quarteto abba e no Apavorado acordo em tteva. 6 lua.r
outro biwb ou abab ou baba. ·Mais irregular ainda E como o espectro do meu. sonho em mim
E sem destino, e lo.uco, .so.u ·o mar
e nao rimar OS versos do segundo quarteto com Patetico, sonamb.ulo e. sem fim. .
os do primeiro (abab lcdcd). 0 esquema que
parece comunicar ao soneto maior unidade e Des~d da noite, env.olto em sono; e os bra.~os
harmonia formais e abba 1 abba 1 cdc -1 aca. Como 1mas, · atra.io o firma.mento
Exemplo .de Bocage: · Enqu.anto os bruxos, ve1hos e deva.ssos,
Assovia.m. de mim na voz do vento.
Sabre estas dura.s, cavernosa.s' fraga.s,
~u.e o ma.rinho furor vai carcomendo, Sou o mar! sou o mar! meu corpo informe
Me estiio negra.s paix5es n'a.lma fervendo, Sem dimensao e sem razllo me leva
Como fervem no pego as crespa.s vagas. Para o silencio onde o Silencio dorme
· R.a.ziio feroz, o cora.c;iio me inda.gas, Enorme. E como o mar dimtro da treva
De meu.s erros a. sombra. esclarecendo,
E vas nele (a.i de mim!) palpando e vendo Num con~ta.nte a.rremesso largo e aflito
De a.guda.s a11sias venenosas chagas. Eu. me espeda.c;o em viio contra. o infinito.
Cege a. meus males, su.rdo a. teu. reclamo,
a
. Mil objetos de horror co ideia eu corro, . 0 rondo, forma franc~a. e
urn poema de
Solto gemidos, lagrimas derramo. quin~e versos, distribuidos em tres estrofes, se-
Raziio, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me. nao. amar: eu ardo, eu. amo; .
gundo ci esquema aabba I I
aabC aabbaC, a
Dizes-me que sossegue: eu peno, ·eu m?rro. maiuscula C representando as palavras iniciais
da priineira estrofe repetidas como estribilho e
Da-se o nome de coroa de. sonetos a umil ultimo verso . da segund~ e
da terceira estrofe.
serie de quinze, em que, .a partir do segundo, Exemplo de Goulart de·· AP.drade:
VERSIFICA<;;A.O EM. LINGUA· PORTUGU~SA - 3247-
La, Jcmge. entre aroores eu vejo, Venceu-me ,logo um vivo anelo,
'I'ao v&rio como o teu desejo •• o ~ueimou-me · logo um fogo atroz: .
Saindo branco de um ca.sal; E tada a longa, noite velo,
0 fumo, em' Ia11guida espiral, Pensando em ve'lo e ouvi-1o a s6s.
Mado como um leve adejo. 'Triste, sentada no escabelo,
So com a aurora adormeci • .•
Sonho, e no ·sonho, · hav.eis-,.de ·"tre>lo?
Dize, sera em vii~· que almejo, Inda o meu pajem me \in'ri!
Ottvindo a mitsica do beijo;
Viv·er ·contigo um sonho real,
Seguindo a ama-lo com de;velo,
U, Jcmge? Por noite velha; um ana ap6s,
'T ermina enfim .o meu flagelo,
Se ardes por mim, se eu te desejo Felizes fomos ambos n6s. , . :•
(Ve tu que esplendido bpsqttejo!) . Como isto foi, nem sei dize-lo! ·
Foge do mundo ao torvo mal, "No colo seu desfaleci . .. ·
Rosa, vem para o meu rosa!, E, ·alta manha:, no •seu murzelo;
~ue d'a invernia eu, te protejo, 0 pajern foge, e inda sOTri. • ,·
Lei, lov.ge, •• ·
Dias depois, ·'do pa}em b-ela;
A palavra r.ood:O designa tambem um genera ]unto ao solar vnde eu o ~uvi,
Ao go!pe horrfvel do cute!o
de poemas, com estribilho, e de numero de versos
Rola a cabe~a, e inda sorri . •.
e estrofac;ao variaveis. As 59 primeir(ls compo-
si~5es da G!ama de ·Silva Alvarenga sao rondos A palavra balada designa . ainda outro genero
desse tipo. . de composi<;:ao sem forma fixa e onde se narram
0 rondel e um poema de ·treze versos, distri- sucessos tradicionais 0 u lendarios (leia-se p<.U"a
buidos em tres estrofes, segundo o esquema exemplo a adm:iravel "Simples balada" de Joao
ABba I a.bAB I .a.bba.A, as niaiusculas represen- Ribeiro). . .
tando os versos que sao repetidos como estribilho. e
0 cant9 real . urn poema , composto · de 60
Exetpplo de Biiac, com ligeira variante (ABab I versos,~1distribuidos segundo o ·esquema a.babccd•
baaB J ababA): dedE I ababccddedE I ababccddBdE j~babccddedE
I ababccddedE I ddedE, a maiuscula E represen~
Sabre as ondas oscila o batel doce!mente • •. tando o estribilho. A ultima ·istrofe denomina-se
Sopra o vento a gemer.:. 'Treme: enfunada a vela . •• oferta ou envio. Exemplo da autoda de Goulart
Na ag:t!Ul dara do mar, P4Ssam iremulamente de Andrade, intitulado "Canto real. da noite":
Aureos tra~os de. luz, brilhando esparsos nela.
' •C .1. I

Da espddua de marfim, magnifi~a e cheirosa,


La desponta o luar ••• 'Tu, palpitante e bela, . Onde coleia a curva, e a harmonia pagii, · ·
Canta! chega-te a mim! da-me ·essa boca ardente! Vibra na mocidade eterna e cor de rosa,
· Sobre as ondas. oscila o batel docemente ..• Como as nuvens do poente e as nevoas da manhii;
Sopra. o vento a gemer .• o 'Tremt enfu.na.da a vela. o. Da espci.dua, de onde emerge, a torre a!abastrina
De um colo escultura! - h6stia que se i!umina·
Com o ridente c!artio _de um sangue a borbulhar,
V ag<JS ~ms., ·parai! Curvo ceu transparente, Cai, de estranha sibila, im6vel, fito · o olrM
Nuvens de prata, o1wi!. . • du~a: do espafo a estrela,
"No misterio sem fim do amp!o espa~o. deserto;
Ou~a de baixo o oceano, ou~a o :Juar ,aJbente:
Pesado e de ve!udo, a refulgir pelo ar,. ·
Ela canta. • • e, embalado ao som do canto dela, 0 !argo manto real, suntuosamente aberto!
Sabre as onda.s oscila o batd docemente • ••
E o zainfe estel(Lr fulgura! A .misteriosa
e
A bala.da, forma francesa, um poema de 28 Cifra, em !inhas de !uz, bene[ica ou malsii,
versos, di~tribufdas segundo o esquema ababa.aC 0 destino desvenda. - E cada nebu!osa ·
0 hor6scopo de um pdria, a vida de um tita:!
I ababacaC I ababaC ·1 a.caC, . a maiuscula C Em signos o futuro ali se vaticina:
representando o esb:ibiiho. A quadra firial tern Guerra ou paz, riso ou dor; g!qria excelsa .e divina
muitas vez-es 0 sentido de ~edicat6ria .e leva 0 No •amor e · na conquista, eterno so!u~ar,
titulo oferta ou envio. Eis ~m exemplo, de Fi-. Luta penosa, anseio, e o md.rtfrio sem par,
Sem o alent a de um beijo e um cora~a:o hem perto . ..
linto de Almeida, corn ligeira variante no ultimo Isso .tud,o nos mostra, esp!endoroso; a af!ar,
verso das estrofes,. o qual, em vez de .ser o 0 largo manto real suntuosamente aberto!
mesmo verso repe'tido, estribilha apenas a palavra
E pela vastida:o, escura e veludosa,
da rima: · .Se desparze triunfal todo o escrfnio de Pa::
Ora em rlgia Coroa, ardendo vitoriosa,
. Par noite velha, no castelo, E onde a Perala fulge, entre sci.rdios, lou~a:;
Vasto solar dos meus avos, Ora em Lira do!ente a !uzir na surdina ·
Foi que eu ottvi, num ritorne!o. .Do . roxo . da ametista; ou na Aguia, em que domina
Do pajem loiro a doce voz. Altair, entre o'pala e beri!o, a brilhar;
Corri d ogiva para ve-lo, Ou em Sirio, rubim, carbunculo, Aquernar. , .
Vitra\s de par em par abri, . Luz que irrora, que inunda e estonteia decerto
E, ao ver brilhar o meu cahe!o. 0 sonhador ciudaz que tente , decifrar ·
:Sle .soniu--me, eu lhe sorri. 0 largo manto rea! suntuosamente aberto!
E o deliria da cBr! A bacanal faustosa Gozo cruel, ventura escassa,
Do biilho! Lividez de lanqa e de' iataga! Dono do meu ·e do teu ser,
Falor de luar, · orquestra~ao maravilhosa Amor - chama, e, depois, fumaqa· . ..
De lincurio, Castor, safira e Aldebara:!
Sorrisos de turquesa, hidr6fana e olivina,
Rubros ais de granada e piropo!. A argentina '.fanto ele qu"eimal E, por desgra~a,
Flor de Arcturus a rir! Glauco reverberar ~ueimado o que melhor houver,
De esn}eralda e Capela e Regulus! Um mar 0 fum 0 vem, a chama pass a • ..
Fu1gurante de fogo! Almo tesouro oferto
A humana vista, que se perde em comtemplar
0 largo manto real suntuosamenie aberto! Paixiio purissima ou devassa,
'Triste ou feliz, pena ou prazer,
Homem, tu corrertis numa ansia dolorosa. Amor - c-hama, e, depois, fumac;a . .•
Em p6s de uma fugaz, treda esperanqa, irma .
Da inquietante incerteza, e inda mais ·enganosa: ·A cada par que a aurora enlaqa,
e
Etemo e o teu sofrer, e a tua angustia va:! Como e pungente o enta.rdecer!
'Teras sempre. contigo a duvida ferin(l,
0 fumo vem, a chama passa •••
£tue te .beija e te punge, e te afaga e assassina!
Nunca vertis · consolo ao teu fundo penar,
'Balsamo a tua dor, sossego ao teu 1utar. Antes, todo ele egosto e graqa.
E. imoto, jazercis. de joelhos, descoberto, Amor, · fogueira linda a arder!
'No exta.se de l,'m faquir, mud.o, vendo a ondular Amor - chama, e, depo1s, fumaqa ...
-::- 0 ·zargo manto real, suntuosamente aberto!
Porquanto, .mal se satisfaqa,
OFERTA
(Como te poderei dizer? • •. )
'Noite, deusa da treva e do fulgor! Altar 0 fumo vem, a chama passa . ••
· Para onde o sonho vai, num suavissimo voar,
Do ergdstulo da 'Terra, erma e triste, lib~rto, A chama queima. 0 fumo emba~a.
Semelhas-te d Mulher, bela e fria, a passar, 'Tiio t.riste que e! Mas. . • tem. de ser . .•
0 largo . manto real suntuosamen te aberto! Amor? - - chama, e, depois, fumaqa:
)
0 fumo vem, a chama p_assa. :.
0 vilancete e ur,o. tipo especial da glosa, a
qual consiste no desdobramento de um ·mote em
·A sextina. compoe-se, de seis s~xtilhas e um
tantas estrofes vo!tas quantos s~o os versos do
mote. No vilancete o mote e um teredo, em terceto (en via ou remaie), todos sem rima, mas
que rimam o segundo e o terceiro versos; as a palavra final de. ta:tla yerso da primeira estrofe
voltas sao d;uas e' repetem esses versos. Exemplo se repete como palavq_ final;"- de cada verso das
de Camoes: demais estrofes e na seguinte" ord~Ul:

6 meu;s altos pensamentos, Estrofes: ABC ·o E F


£tucio altos que vo~ pu.sestes FAEBDC
E qua:o grande qu.eda destes! CFDABE
Como de mim vos i nao vinha
ECBFAD
Serdes firme num · esta.do DEACFB
(Pois o viver engMtado B D F E,C' A.
. Era o maior bem que ttnha), Envio: BDF'OuACE
Castelo desta alma rriinha,
£tuiio alto que vos pusestes Exemplo de Cam6es:
E qucio grande queda destes!
Foge-me pouco e pouco a curta vida,
Sabia qu.~ ereis de vento, V ai-se-me o br.eve tempo de ante os olhos,
Como quem vos viu fazer; E do viver me vai levando o gosto;
Inda asslm vos qu.'ria ter Choro ·pelo passado, ·mas os dias
Como ereis, sem .fulJdamento. Niio · se detem por isso. de seu curso;
· ~uem vos desfez num momenta? Passa-se, enfim, a idade e fica a pena.
Ai! quiio alto vos pusestes
E quiio grande queda destes!
~ue maneira tiio aspera de pend,
A vilanela, forma francesa, e uma variedade ~ue. nunca um passo deu tiia longa vida
Fora de trabalhoso e triste curso!
da composis:ao em tercetos. Constr6i-se sabre Se no· processo meu estando os olhos,
duas rimas. 0 primeiro e 0 terceiro versos sao, 'Tiio cheios de trabalho vejo os dias
alternadamente, 0 ultimo verso -dos demais ter- . ~ue ja niio gosto nem do mesmo gosto.
cetos, e ambos juntos OS dois ultimos versos do
quarteto final. Como se pode ver em "Chama Os . prazeres, o canto, o Tiso e o gosto,
e fumo", de Manuel B:rndeira : A continuaqiio da grave pena
Mos levou, que ncio ponho, culpa aos dias:
Amor - chama, e, depois, fuma~a . ... e
A culpa do destino, porque a vida
Medita. no que vais fazer: Sempre i:elebrar.i os belos olhos,
0 fumo vem, ·a chama pass a . •. .Por mais qu.e do viver se alongue o curso.
VERSIFICA<;AO EM LINGUA PORTUGU~SA - 3Z49

Sigdm OS ceus 0 seu naturai curso, rimando OS versos extremos, e no segundo, a .


A toda gente deem tristeza ou gosto; palavra final com a primeira pausa :lnterior. Para
Fa~am, enfim, mudan~as; que meus olhos · exemp!o, esta sua defini~ao poetica do haicai:
Nunca. vera:o no mundo sena:o pena.
Nem descanso terei jci nesta vida Lava, escorre, agita
Para poder em ·paz passar os dias. A areia. E enfim, na bateia,
Fica uma pepita.
VO:o sucedendo OS .dias a outros diasi
Niio perde o temPo nada do ·seu curso, 0 verso livre. - Desde que o poeta ,pres•
Perde somente a curta e breve vida. cinde do apoiq ritmico forriecido pelo numeto
Foge-!he com~ sombra a idade e o gosto; fixo de silabas, penetra no do~inio do verso
Vai·se-lhe acrescentando magoa e pena,
livre, 0 qual, em sua extrema. liberagao, isto e,
De que siio tlistemunhas os meus olhos.
quando nao se socorre -de rienhum apoio ritmi•
Mas nu.nca da minha alma, c!aros olhos, co, poderia .confundir-se · com a prosa ritmica, ·
Vos podera:o tirar os !ongos dia.s, se nao houvesse nele a unidade formal interior,
Cres~a quanto qu.iser traba!ho e pena; aquila que de certo modo o isola no, contexto
· ~ue, pois para de trds na:o torna o cu.rso poetico. Tal liberac;ao existe, por exeinplo, neste
Dos anos, isto s6 terei por gosto, poema ("Mulher'·') de Murilo. Mendes:.
Para poder pa.ssar o mais da vida.
Mulher, o .mais terrivel e vivo dos espectros!
Can~a:o, ja t.ive vida,
jd meus o!hos . Porque te a!imentas de mim desde o prindpio?
Me deram algum gosto; .mas os dias, Em ti ·encontro todas as imagens . da cria~a:o:
Com seu ligeiro curso, magoa e pena. Es pdssaro e flor, som e onda variavel. •.

Belo exemplo moderno da · forma: mas sem E, mais que tudo, a nuvem que foge eternamente.
envio, e a ..Sextina da vespera", de .America Dormir, sonhar - que adianta, se · tu existes?
Fac6, .em Poesia Perdida. · Se fosses somerite forma! Es tambem ideia.
i 0 pantum, forma malaia, e- uma. cadeia de Ah! quando descera sabre milt! a grande paz em cruz ...
quadras, numerq ad ~ibitum, rimadas segundo
o esquema abab, sendo o segundo e quarto versos Todavia, raro e o poema em versos Hvres
onde 0 poeta nao lance mao do encadeamento
de. cada estrofe repetidos cpmo primeiro e ter· para mai-car o .ritmo. ·Quase toda a poesia de
ceiro da estrofe seguinte; na ultima estrofe 0 Augusto Frederico~ Schmidt e ritmada pela
segundo e 0 quarto versos sao 0 terceiro e 0 repeti~ao de palavras otrfrases de.:ye.rso a verso:
primeirq da pripleira estrofe, terminando pais
o poema com seu verso inicial. Em nossa poesia Ouvimos os sinos encherem a madrugada
existe um exemplo de pantum nas Sar~as de Ouvimos o mar bater em baixo nas pedras
Fogo, de Bilac, com ligeira\ variante: na estrofe Ouvimos a voz que nos, arrancara do sono ..•.
final o seu segundo vetso [ e um v_erso novo .e O!ho'· o ceu e enfim descanso!
nao 0 tel;'ceiro da 'prim¢ira estrofe·: Olho o ceu e as estrelas frias . ..
. ' .

~uando passa.ste ao dec!i'l;lat do dia, . Olho o ceu alto ~ enorme e descanso ..•
Soava na altura indefinido arpejo:
Pa!ido, o so! do ceu se ~espedia,
Olho o c.lti frio e simples e descanso.
Enviando d terra o i.!erradeiro beijo.

Soava na altura indefinidp arpejo . .. ' Algun~ poetas se servem nao .so do entadea·
Cantava perto u.m passaro, em segredo; mento e da alitera~ao, ma.' tambem da rima
E. enviando d terra o derradeiro beijo,_ para· acentuar .o ritmo da versifi~ac;ao livre. E
'Esbatia•se a luz pelo arvoredo. o caso de Adalgisa Nery:

Com olhos cor do ar,


Atirada na praia, coberta de conchas e espumas d.o mar,
C!arearam a extensiio dos !argos campos . . . Cirandei com as estre!as e ouvi os caramujos,
V{nha, entre nuvens, o lu.ar nascendo . . . Chamei com os bra~os
Fosforeavam na relva os piri!ampos- . .• Gaivotas que em. meu corpo vieram pousar.
E eu inda estava a tua imagem vendo.

Vinha, entre nu.vens, o lu.ar nascendo; Manuel BANDEIRA.


A terra toda em derredor dorm iii . ..
E eu inda estava a tua imagem vendo, BIBLIOGRAFIA - Antonio Feliciano de Castilho,
~uando passaste ,ao declinar 'do dia! · 'Tratado de Versifica<;iio Portuguesa. - Olavo Bilac
e Guimaraens Passos, 'Tratado de· V ersifica~a:o. -
0 haicai, forma japonesa, e
Utll poema de Osorio Duque-Estrada, A Arte de Fazer Versos. -
apenas tres versos, o primeiro e o terceiro de Mario de Alencar, Diciondrio das Rimas Portuguesas. ~.,.
--·Costa Lima, Dicionario de Rima.s para Uso. de
cinco silabas, o segundo de sete; nao hi rima. Portugueses e l)rasileiros. - M. Said Ali, Versifica<;iio ""'·
Todavia, Guilherme de Almeida· -os tem feito · Portugt~esa. - Murilo Araujo, A Arte do Poeta.

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