Poesia Trovadoresca
Poesia Trovadoresca
Poesia Trovadoresca
Morabes: designao dada s populaes crists que viveram em territrio dominado por Muulmanos, embora conservando a maior parte das suas tradies e crenas.
Para alm desta tese para explicar a origem das cantigas de amigo, h tambm outras teorias, a saber: a tese folclrica (fruto da poesia criada pelo povo com um carcter espontneo, annimo, primitivo, popular, afastado da cultura dominante); tese etnogrfica (adequada ao ritmo do trabalho); tese latino-medieval (influncia da literatura latina produzida na Idade Mdia) e a tese litrgica (originada da poesia religiosa, em estreita ligao com a cultura dominante).
Menestrel
Segrel
Atafinda ou at-finda
Coblas capdenals
Repetio da mesma palavra ou grupo de palavras no incio do mesmo verso em estrofes sucessivas (pode incluir a finda). O primeiro verso de uma estrofe retoma uma palavra do ltimo verso da estrofe antecedente (se a cantiga for de refro, estar no refro). O mesmo esquema rimtico se repete de duas em duas, segundo o modelo I-II, III-IV. As rimas mudam de estrofe para estrofe. A mesma srie de rimas em todas as estrofes. Prova de virtuosismo formal que consistia na repetio vocabular simtrica em que a palavra repetida poderia estar no incio, no interior ou no final do verso, mas que a disposio escolhida para a primeira estrofe tinha de ser a mesma em todas as estrofes; e a palavra repetida podia ser diferente de estrofe para estrofe. Processo potico que consiste em completar a ideia de um verso no verso seguinte, no coincidindo, portanto, a pausa mtrica com a pausa sinttica. Estrofe curta (geralmente constituda por trs versos) que serve de remate e em que o poeta sintetiza o assunto da composio. Traduzido letra: deixa-toma. o procedimento formal necessrio para a cantiga paralelstica perfeita. Consiste no seguinte: o 2 verso da 1 estrofe repete-se no 1 verso da estrofe alternada ao longo de toda a cantiga. A definio feita a partir do dobre: a nica distino que, no mozdobre, a palavra repetida aparece em formas diversas (coincide s vezes com a rima derivada).
Dobre
Encavalgamento ou transporte
Finda
Leixa-prm
Mozdobre ou mordobre
Verso inserido no corpo da estrofe que no rimava com nenhum dos Palavra perduda ou verso outros da mesma estrofe (prova de mestria). perdudo Palavra-rima Utilizao da mesma palavra em posio de rima (confunde-se s vezes com o dobre). O paralelismo constitui uma das caractersticas estruturais da lrica galego-portuguesa, consistindo na repetio simtrica de palavras, estruturas rtmico-mtricas ou contedos semnticos.
Paralelismo
Acontece quando o esquema do leixa-prm no se repete rigorosamente. Uso do leixa-prm. Repetio de figuras de retrica; repetio, por outras palavras, daquilo que se disse na primeira estrofe. O paralelismo conceptual recusa a repetio do leixa-prm ou a simples variao sinonmica. Repetio de uma determinada construo sinttica e rtmica. O poeta podia obter a variao mediante trs processos: - substituio da palavra rimante por um sinnimo; - transposio das palavras (alterao da ordem); - repetio do conceito mediante a negao do conceito oposto.
Repetio (no mesmo lugar) de palavras, expresses ou versos inteiros, na cantiga, quer siga ou no o leixa-prm. Pode ocorrer tambm o paralelismo verbal com substituio Paralelismo verbal, literal sinonmica (embora formalmente diferente, semanticamente igual). ou de palavra O paralelismo verbal arrasta consigo uma certa monotonia evitada se recorrerem variao (que pressupe uma certa progresso no pensamento). Emprego de formas diversas da mesma palavra em posio de rima (confunde-se, s vezes, com o mozdobre). Repetir a mesma palavra dando-lhe significaes diferentes (confunde-se s vezes com o dobre).
Rima derivada
Rima equvoca
Bailada ou bailia
Subgnero das cantigas de amigo, composta para ser cantada e danada, caracterizada pelo grande investimento formal no seu carcter musical, para o qual concorrem sobretudo o paralelismo e o refro. uma variedade de cantiga de amigo Em que o mar, e por extenso um rio (frequente sinnimo combinatrio de mar), constituem o elemento essencial, pois so a causa da separao e o meio para o reencontro dos apaixonados: a presena de ondas, ou de barcos que chegam, s mais uma achega ao conjunto. A fria do mar ou a mar inesperada funcionam em certas ocasies como smbolos de isolamento da mulher. Todas as cantigas de amigo que se podem adscrever a este gnero apresentam estribilho e tm carcter paralelstico: em geral so de temtica simples: a mulher lamenta-se, diante das suas irms ou da me, da ausncia do amado. O carcter arcaizante ou popular deste tipo de cantigas no deixa lugar a dvidas. Para compreender plenamente o contedo das barcarolas, necessrio recordar que Gonzalo Correas inclui no seu Vocabulrio um refro La que del bao viene, bien sabe lo que quiere, que explicado com toda a brevidade: juntarse com el varn. O simbolismo oculto sob o motivo da gua (seja ela fonte, rio, mar ou lago) no seno o da fecundidade, ligado portanto de forma inseparvel figura da mulher. A frequente presena de ermidas, ou as aluses a romarias, neste tipo de cantigas, serve para reforar esta mesma ideia, em que o mar se transforma em paixo amorosa e as margens no so mais do que o lugar do encontro. Do mesmo modo, frequente que o motivo deslize para outras variedades, em que se recorre a smbolos no menos claros, como o cervo e a lavagem das roupas. Subgnero das cantigas de amigo que se distingue pela referncia a romarias ou santurios. No se trata, contudo, de composies de temtica religiosa, j que, frequentemente, a peregrinao ou a capela so pretexto ou cenrio do desenvolvimento da temtica amorosa e profana. Cantiga de origem provenal, geralmente iniciada pela fala do cavaleiro que declara o seu amor a uma pastora. Este gnero, entre ns, adquiriu algumas caractersticas das cantigas de amigo ambiente rstico, simplicidade da donzela , pelo que se integram, habitualmente, neste gnero de composies trovadorescas.
Barcarola ou marinha
De romaria
Pastorela
Com dilogo da donzela com a me, amigas, irm, natureza personificada. Acontece quando o esquema do leixa-prm no se repete rigorosamente. Estruturada em dsticos monrrimos seguidos de refro de um verso com rima diferente. O paralelismo associa-se ao processo de encadeamento das estrofes chamado leixa-prem. Esta tcnica potica concretizava-se do seguinte modo: o 1 dstico (estrofe-base) emparelhava com o 2 (estrofe responsria), que reproduzia o primeiro com variao apenas da palavra rimante; o 3 dstico retomava o segundo verso do 1 dstico (leixa-prem), acrescentandolhe um verso novo que desenvolvia a ideia contida no verso repetido; o 4 dstico retomava o segundo verso do 3 dstico com variao; a progresso do pensamento verificava-se, deste modo, sempre no segundo verso das estrofes mpares, culminando na penltima estrofe.
(in A Lrica Galego-Portuguesa, Elsa Gonalves, Col. Textos Literrios, Ed. Comunicao, 1983)
as tradies das festas primaveris, as danas, as peregrinaes ou as romarias estavam enraizadas na alma popular; a demora na faina martima, a ausncia dos namorados ao servio do Rei ou na guerra contra Muulmanos, provocavam saudades nas donzelas; o amor puro ou a paixo arrebatadora, as traies ou os cimes, deram origem a uma poesia marcadamente afectiva.
As cantigas de amigo revelam belos quadros sentimentais da donzela, frequentemente emoldurados pela Natureza.
Cantigas de amigo: amor natural e espontneo, obsesso amorosa, ternura, saudade, sofrimento, angstia;... Natureza: personificada, confidente ou tradutora do estado de esprito: alegre, alterosa; a Natureza anmica que possibilita uma intimidade espontnea com a donzela: as "ondas do mar de Vigo", as "avelaneiras", as "flores do verde pino"; manifestao do sentimentalismo e da psicologia feminina; expresso do amor natural e espontneo, da obsesso amorosa ou da ternura., da saudade, do sofrimento da angstia; seduo e indcio do erotismo feminino; personificao da Natureza, confidente ou tradutora do estado de esprito da donzela.
Nas cantigas de amigo as representaes emocionais adquirem encanto e magia graas s modulaes fnicas, carga simblica e arte paralelstica.
So diversos os sentimentos e reaes psicolgicas da donzela: o amor tranquilo e capaz de provocar a alegria de um sorriso; a agitao perante uma verdadeira paixo; a ansiedade e a angstia porque o amigo no d notcias; as saudades e a tristeza pela ausncia do amado; os cimes ou as promessas de vingana pela infidelidade do amigo...
Os fonemas e os signos lingusticos, em geral, oferecem-nos interpretaes da realidade. A modulao dos timbres voclicos e dos restantes fonemas podem sugerir estados de alma: o sofrimento, a tristeza e a melancolia podem ser expressos pelos fonemas fechados e nasais; as ondas do mar ou as ondas (emoes e instabilidade) do corao da donzela podem ser traduzidos pelas labiais... Os recursos paralelsticos oferecem no s ritmo e musicalidade mas tambm uma progresso de sentido e do estado emotivo. Ao jogo paralelstico submete-se toda a versificao e a retrica. Os smbolos so constantes na poesia trovadoresca:
Cabelos
Cervo
Flores Fonte
Luz
Camisa
Primeira pea da roupa interior do homem e da mulher; substituto simblico do corpo. Lavar camisas prefigura o banho nupcial e simboliza a expectativa ntima da moa. Lavar camisas (ou cabelo) em gua uma manifestao da sensualidade feminina.
Lais
Pranto Teno
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Perfia
Ren
Reserva
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como essencialmente daquela que ele quer amar e servir; e viver no contnuo temor (recear, temer, pavor, medo) de que uma imprudncia verbal sua ou um excesso de curiosidade alheia possa desvendar senhora que ela a destinatria do canto, ateando com isso a sua ira e a sua vingana. (TAVANI: 1990, 124-125) Indicador da prudncia e do discernimento que devem presidir relao do amor. Entendimento, juzo, razo, senso. Integra semanticamente a mesura, a sabedoria, a razon e a perfia. A senhor surge como suserana a quem o amador serve, prestando-lhe vassalagem amorosa. A senhor cheia de formosura, tipo ideal de mulher, com bondade, lealdade e perfeio; possuidora de honra (prez), tem sabedoria, grande valor e boas maneiras; capaz de falar mui bem e rir melhor...
Senhor
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dos outros gneros, pelo que se trata de uma forma de fazer. O pblico destas cantigas de seguir teria de ser conhecedor das originais que foram parodiadas, caso contrrio no entenderia a intertextualidade entre ambas. Servents Composio que reflecte a influncia provenal (sirvents ou serventois ou sirvents provenal) e que serve para exprimir ideias morais ou a stira pessoal, literria, poltica ou social. Teno de briga Disputa entre dois trovadores que, em verso, confrontam as suas opinies sobre determinado assunto.
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